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Processo saúde-doença Talita Bischof Objetivos de Aprendizagem ● Contextualizar o processo saúde-doença. ● Demonstrar as teorias causais das doenças. ● Apresentar a importância da relação saúde, sociedade e cultura. ● Identificar os determinantes sociais que levam ao desenvolvimento da doença. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ● Concepções sobre a saúde e a doença; ● Multicausalidade; ● Relação saúde, sociedade e cultura. ● Determinação social da doença. 1 INTRODUÇÃO A disciplina de Organização dos Serviços de Saúde tem por objetivo proporcionar conhecimento histórico-científico, estimulando a formação de senso crítico sobre a Saúde Pública no Brasil. Disseminar informações acerca da estrutura organizacional do Sistema Único de Saúde e sua rede de atenção, baseado nas concepções do processo saúde-doença. A saúde é conceituada de uma maneira muito mais abrangente do que simplesmente estar doente. A definição de doença também é muito maior e pode nos ajudar a compreender sobre os conteúdos epidemiológicos que intercalam o processo saúde-doença. Com um olhar bastante crítico nessas questões, iniciaremos nossos estudos pela conceituação do processo saúde-doença. Vamos relacionar os conceitos de saúde e doença e relacionar essas concepções com a epidemiologia. Quando aprendemos sobre saúde e doença, necessitamos fazer a correlação com a epidemiologia para aprender as causas, os efeitos e as soluções. Na epidemiologia, podemos compreender a história dos estudos sobre saúde e doença. Também, é possível aprender sobre riscos e outros conceitos que são relevantes no processo saúde-doença nas populações. E por falar em aprender, cabe a nós atentar, nesta primeira unidade, para a importância do conceito de processo saúde-doença e como ele reflete na assistência à saúde. Logo ao final desta unidade espero que você se sinta mais preparado para o desafio de compreender todo o processo saúde-doença, conhecer as teorias causais e identificar os determinantes sociais que levam ao desenvolvimento da doença. 2 Concepções sobre a saúde e a doença. Desde o início da história do ser humano, as pessoas possuem a curiosidade em saber quais fatores podem interferir na saúde dos indivíduos, o que pode na verdade classificar se aquela pessoa é saudável. Portanto, os interesses do ser humano para entender o processo saúde-doença, e interceder sobre o mesmo, têm se deparado com a influência dos seguintes determinantes: físicos, naturais ou sociais, individuais ou coletivos. (ANDRADE, et al, 2017). E agora pensamos na seguinte questão: é possível estabelecer a conceituação de saúde e doença? Essas duas expressões são pelo menos muito individuais e pessoais. Elas variam de uma pessoa para outra, porque cada um pode, de acordo com suas experiências e vivências, terem as suas visões diferentes sobre saúde e doenças. Assim, os profissionais de saúde devem estar receptivos para as definições científicas de saúde e doença que são preparados por profissionais e órgãos de saúde, bem como a concepção dos não profissionais. Saúde foi conceituada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 1946, através da Carta de Declarações de Princípios, em que se conceituou que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de distúrbios ou doenças”. Essa definição perdura até os dias de hoje, porém, obteve, a partir de sua edição, muitas considerações e apontamentos de muitos profissionais e pesquisadoras da saúde. Essas pessoas intitulam esse conceito como sendo fantasioso. Realmente é ilusório uma pessoa encontrar-se em perfeito e total bem-estar físico, mental e social. (ANDRADE, et al, 2017). A saúde é silenciosa e geralmente não a compreendemos totalmente e na maioria dos casos, podemos reconhecê-la apenas quando estamos doentes. Observar o seu corpo é uma boa forma de garantir a sua saúde, pois não existe uma fronteira precisa entre saúde e doença, mas existe uma relação mútua entre as duas. Entre o estado normal e o estado patológico, os mesmos fatores em que os humanos podem viver (alimentação, água, ar, clima, 3 moradia, trabalho, tecnologia, família e relações sociais) podem causar doenças. Essa relação é dividida pelo estilo de vida humano, determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Essa detecção nos leva a pensar que o processo saúde-doença e de agravos à saúde é diferente entre as populações, indivíduos e classes. E que são diretamente afetados e recebem interferência pelo local onde existem sociedade. (VIANA, 2015). Acredita-se que é necessário para a saúde, que ela começa pela dimensão da existência, pois existe uma definição de normal ou patológico do que é considerado normal em uma pessoa pode não ser em outra. Desse modo, podemos inferir que o ser humano precisa se entender, ele precisa saber avaliar, mudar seu corpo e determinar os sinais de sua expressão. Esse processo só é viável do ponto de vista dos relacionamentos, porque os estados normais e patológicos só podem ser compreendidos por meio dos relacionamentos. Saúde é um processo que abrange todo um âmbito social, mental e físico do indivíduo. Eles atribuem a dimensão dinâmica reconhecendo o ser humano na perspectiva coletiva e humana, a partir de uma transformação saudável, tornando o cidadão protagonista de sua vida. (ANDRADE, et al, 2017). Dentro dessas definições são debatidas três circunstâncias: ● Bem-estar físico: quer dizer que não existem apenas os órgãos saudáveis, mas sim do geral, por inteiro. ● Bem-estar social: é a adequação das exigências ambientais, fundamentalmente as condições socioeconômicas, o lugar onde a pessoa vive, a distribuição da riqueza e as oportunidades disponibilizadas as pessoas; ● Bem-estar mental: as pessoas precisam se adaptar às condições de vida no meio em que vivem; compreensão, equilíbrio, tolerância e compreensão dos seres humanos; saúde mental refere-se à resposta psicológica que é adaptada por meio de uma boa adequação. A saúde se torna a habilidade que os humanos devem gastar para passar suas 4 vidas. Porém, é importante ressaltar que a vida não reconhece a reversibilidade, ela aceita reparar apenas. Cada vez que uma pessoa adoece, sua capacidade de enfrentar outros problemas de saúde diminui. FATOS E DADOS Em termos gerais, a saúde é parte integrante da qualidade de vida. Portanto, esta não é uma "mercadoria para troca", mas uma "mercadoria comum". Um bom direito social em que todos possam assegurar que todos gozem do exercício e da prática do direito à saúde a partir da aplicação e utilização de todos os recursos, conhecimentos e tecnologias disponíveis desenvolvidos pela sociedade neste domínio, sendo adaptados conforme às suas necessidades. Fonte: Portal da Educação. Com base nessa comparação entre saúde, doença e adoecimento, saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas conceitos vitais que requerem avaliação e mudança constantes. A doença é considerada falta de saúde, e essa doença causa adoecimento quando chega em contato com as pessoas, causa alterações das funções físicas e mentais. Pode ser provocada por fatores externos (externos, ambientais) ou internos (internos, biológicos). A doença não pode ser avaliada somente por mensurações fisiopatológicas, visto que o que determina a condição da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, por fim as concepções e sensações apresentadas pelo corpo que adoece. Segundo Evans e Stoddart (1990), doença nada mais é que uma estrutura relacionada ao sofrimento e ao mal, mas não corresponde completamente a ele. Condições clínicas semelhantes, que apresentam os mesmos parâmetros biológicos, prognósticos e implicações terapêuticas, 5 podem ter efeitos diferentes em pessoas diferentes, levando a diferentes sintomas e desconfortos, e diferentes compromissos com sua capacidade de agir em sociedade. Da visão do bem-estar pessoal e do desempenhoé possível encontrar indicadores de todo o país, como determinantes sociais, estado de saúde e cuidados de saúde. Link: http://dssbr.org/site/ REFERÊNCIAS ANDRADE, S. M. et al. Bases da Saúde Coletiva. 2ª ed. Londrina: EDUEL, 2017. ANDRADE, J. T. D., et al. Saúde e Cultura: diversidades terapêuticas e religiosas. Fortaleza: EdUECE, 2015. BARROS, José Augusto C. Pensando o processo Saúde-Doença: a que responde o modelo biomédico? Saúde Soc. [online], v. 11, n. 1, p. 67-84, 2002. BRÊTAS, A. C. P.; GAMBA, M. A. Enfermagem e saúde do adulto. Barueri: Manole, 2006 HORTA, M. S. Enfermagem em Saúde Coletiva – Teoria e Prática. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 46 http://dssbr.org/site/ ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Diminuindo diferenças: a prática das políticas sobre determinantes sociais da saúde: documento de discussão. Rio de Janeiro: OMS, 2011. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. ROCHA, A. A.; CESAR, C. L. G.; RIBEIRO, H. Saúde pública: bases conceituais. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2013. ROUQUAYROL, M. Z; GURGEL, M. C. Epidemiologia e Saúde. 8º ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. SANTOS, A. C. B. dos et al. Antropologia da saúde e da doença: contribuições para a construção de novas práticas em saúde. Revista NUFEN, v. 4, n. 2, p. 11-21, jul./dez., 2012. UCHÔA, E.; VIDAL, J. M. Antropologia médica: elementos conceituais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Cadernos de Saúde Pública, v. 10, n. 4, p. 497-504, 1994. VIANNA, L. A. C. Processo saúde-doença: módulo político gestor. 2015. Disponível em: https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_politico_gestor/ Unidade_6.pdf. Acesso em: 04 ago. 2019. 47social, o mais importante é a percepção pessoal da saúde. Existem muitos artigos sobre o processo saúde-doença, mas novas ferramentas de conhecimento para entender saúde e doença devem levar em conta a diferença entre doenças, estabelecido pelo sistema de assistência à saúde e a saúde, da mesma maneira que notada pelas pessoas. Deve incluir também a dimensão do bem-estar, um conceito mais amplo em que a contribuição para a saúde não é a única nem a mais importante. O sofrimento das pessoas, as suas famílias e grupos sociais não condizem necessariamente ao conceito de doença que direciona os prestadores de serviços da assistência, como os profissionais de saúde. SAIBA MAIS Segundo Brêtas e Gamba (2006), saúde e doença não são dois aspectos de uma mesma causa. Na verdade, se considerarmos sistemas de saúde como o SUS, verifica-se que as medidas voltadas para o diagnóstico e tratamento de doenças são apenas duas de suas atividades. Integração social, promovendo a igualdade são apontadas como ações de saúde. A compreensão da saúde como meio social relativamente autônomo em relação ao pensamento da doença, e essa nova compreensão da vida social, em especial o impacto do cotidiano, principalmente nos serviços de saúde, abre novas alternativas no processo saúde e doença. Fonte: Brêtas e Gambas, (2006). 6 MULTICAUSALIDADE Nos tempos antigos, a doença era considerada um castigo dos deuses e a saúde uma benção. Durante séculos, com o surgimento do monoteísmo, o castigo da doença e a benção da saúde passaram a ser responsabilidade de um único deus. No entanto, em 400 A.C, Hipócrates formulou o tratado "Os Ares e os Lugares", relacionando água, habitação e vento com saúde e doença. Séculos depois, a população passou a viver na coletividade e nasceu a teoria “miasmática toma lugar”. A teoria argumenta de que doenças se propagavam por meio da inalação de "gases" de animais e excrementos em deterioração, essa teoria durou até o século XIX. (VIANNA, 2015) Porém, no final do século XVIII, o paradigma de explicação das doenças humanas que prevalecia na Europa estava relacionado ao conceito de ambiente social dinâmico e, em primeiro lugar, enfatizava a determinação social do curso do processo saúde-doença. Com o advento da bacteriologia, o conceito de ontologia triunfou e suas vitórias conduziram a abdicação dos padrões sociais na elaboração e nas respostas aos problemas de saúde da população. (VIANNA, 2015) Nesse contexto, alguns autores apontam que há dois conceitos que marcaram e marcam o desenvolvimento da medicina. Conceitos ontológicos: [...] dirige os seus esforços na classificação dos processos de doença, na elaboração de um diagnóstico exato, procurando identificar os órgãos corporais que estão perturbados e que provocam os sintomas. É uma concepção redutora que explica os processos de doença na base de órgãos específicos perturbados. Assume que a doença é uma coisa em si própria, sem relação com a personalidade, a constituição física ou o modo de vida do paciente (VIANNA, 2015, p. 79). 7 Concepção fisiológica: [...] iniciada por Hipócrates, explica as origens das doenças a partir de um desequilíbrio entre as forças da natureza que estão dentro e fora da pessoa. [...] centra-se no paciente como um todo, e no seu ambiente, evitando ligar a doença a perturbações de órgãos corporais particulares. [...] defende que as doenças são “entidades” exteriores ao organismo, que o invadem para se localizarem em várias das suas partes (VIANNA, 2015, p. 79). Observamos que a partir dessas concepções de doença, nas diferentes épocas, os seres humanos pensavam em concepções totalmente opostas uma das outras. Em determinadas situações, a doença era causada por intervenções divinas e em outras por incomodações exteriores do corpo do indivíduo. No término do século XIX, a teoria microbiana era dominante, que afirmava que a doença poderia ser causada por microrganismos. Em primeiro lugar, a teoria levanta algumas polêmicas, mas atualmente é objeto de estudo de cursos nas áreas da saúde, como microbiologia e microbiologia clínica. (VIANNA, 2015) No momento, a multicausalidade é dominante e enfatiza as condições pessoais, ou seja, o próprio indivíduo. Como alternativa para sua superação, recomenda-se o esclarecimento das dimensões individual e coletiva do processo saúde-doença, finalizando, dessa maneira, com o centro único na pessoa. Surgiu então o movimento de medicina preventiva, que foi organizado em 1958 por Lever e Clark, no livro “Preventive Medicine for the Doctor in His Communit.” Esta publicação diz respeito à Tríade Ecológica, que determina o modelo de causalidade de doenças baseado na relação entre agentes, hospedeiros e meio-ambiente. (VIANNA, 2015) 8 Fonte: Próprio autor, 2020. A história natural da doença é o nome de uma série de processos interativos que incluem “os fatores que afetam os processos globais e o seu desenvolvimento, as inter-relações entre a suscetibilidade e o meio ambiente, que são as primeiras forças que geram estímulos patológicos no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, deve passar pela resposta humana ao estímulo, até que cause defeitos, invalidez, recuperação ou morte. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Então, a história natural da doença possui um avanço em dois períodos sucessivos: o período epidemiológico e o período patológico. No período epidemiológico, a atenção é voltada para as ligações sujeito- ambiente; ao período patológico a relevância são as alterações que ocorrem no organismo vivo. Engloba, consequentemente, duas competências relacionadas, contínuas e respectivamente individuais, que se complementam: o meio ambiente, onde acontecem as pré-condições, e o meio interno, o locus da doença, no local em que se aconteceria, de modo gradativo, uma sequência de alterações fisiológicas, histológicas e bioquímicas respectivas de uma certa doença. Alguns fatores são muito próximos. Determinam-se, de maneira imprecisa, entre as circunstâncias pré-patogênicas e as patologias evidentes. São antecedentes ao início das alterações ligadas a uma determinada doença, sem se equivocar-se com esta, e concomitantemente são intrínsecos ao organismo do sujeito. Em uma circunstância natural, na falta de provocação, em nenhum momento manifestam-se como doenças. No aparecimento desses fatores 9 intrínsecos que já existem anteriormente, os impulsos extrínsecos alteram-se em incentivos patogênicos. No meio das pré situações internas, mencionam-se os fatores hereditários, congênitos ou adquiridos em decorrência de mudanças naturais decorrentes de doenças passadas. Os incentivos extrínsecos, tais como a pobreza, precisam ser apontados como causas primárias. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). FATOS E DADOS A partir da identificação de momentos específicos da história natural da doença, diferentes níveis de intervenções em saúde foram estabelecidos. Portanto, alguns grupos requerem várias ações e serviços de diferentes naturezas e complexidades. Isso significa que as metas do sistema de saúde devem ser entendidas como a saúde da população e seus determinantes. Em outras palavras, seu processo saúde / doença visa criar gradativamente um melhor estado e nível de saúde para indivíduos e comunidades, atuando em conjunto e como um todo na prevenção primária, secundária e terciária para reduzir o risco de doenças, sequelas e morte. Fonte: Portal da educação. As reflexões de Rouquayrol e Gurgel (2018), no termo “história natural da doença”, o natural não pode e não deve ser entendido como uma declaração filosófica de fé, negando a sociedade e conferindo o privilégio ao natural. Na verdade, é inegável que na história da doença, a sociedade e o natural têm papéis e funções próprias. O homem se faz existente em cada uma dessas fases. É fornecedor das circunstâncias socioeconômicas que podem favorecer as falhas ecológicas susceptíveis a uns dos agentes justamente causadores de doenças. Concomitantemente,é o que mais sofre danos ou prejuízos na situação de acometimento à saúde por ele auxiliado. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). 10 Ao descrever a história natural de uma determinada doença como uma descrição de sua evolução, desde sua origem no ambiente psicossocial biológico até seu aparecimento no desenvolvimento da suscetibilidade do paciente e subsequente desenvolvimento no corpo do paciente, deve haver um plano básico com características gerais, onde o plano deve ser ancorado e especificado. Este esquema geral arbitrário é apenas uma aproximação da realidade e não pretende ser uma descrição dela. (Figura 1). Nessa perspectiva, a história natural de uma doença nada mais é do que um diagrama que dá uma base a representação das diversas e diferentes doenças. A sua maior utilidade é apontar diferentes métodos de prevenção e controle, como base para entender a situação real e específica e colocar em prática as medidas preventivas. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Figura 1: História natural da doença. Fonte da imagem: ROUQUAYROL e GURGEL, 2018. 11 PERÍODO DE PRÉ-PATOGÊNESE O início período da história natural (designado por Leavell & Clark [1976] como período pré-patogênico) é a evolução das inter-relações das situações, envolvendo as condições sociais e ambientais de um lado e as condições suscetíveis do outro, até chegar a um aspecto propícia ao aparecimento da doença. Esta é também uma descrição dessa evolução. Como mencionado anteriormente, abrange a causa da doença, os fatores de suscetibilidade que estimulam o desenvolvimento da doença e a inter-relação entre outros fatores ambientais e as condições socioeconômicas e culturais que permitem a existência desses fatores. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). A figura 1 demonstra graficamente que no estágio inicial da doença (período pré-patogênese), várias situações, desde o menor risco até o maior risco, podem ocorrer, dependendo dos fatores existentes e da composição desses fatores. É um evento de baixa probabilidade para os ricos sofrerem de cólera, ou seja, para os que têm condições, a estrutura dos fatores de suscetibilidade à cólera apresenta o menor risco. Quanto à possibilidade de adquirir a doença, no outro caso extremo, por exemplo, os usuários de drogas injetáveis utilizam da mesma agulha, razão pela qual fatores patogênicos estruturados criaram uma circunstância de alto risco, propícia à obtenção da AIDS. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Seja no indivíduo ou no coletivo humano, as pré-condições que levam a ocorrência das doenças são tão inter-relacionadas e tão interdependentes em sua trama que juntas formam uma estrutura denominada por uma estrutura epidemiológica. Por meio da estrutura epidemiológica com funções sistêmicas, pode ser entendida como um conjunto de fatores relacionados à suscetibilidade e ao meio ambiente, abrangendo agentes etiológicos, que possuem organizações internas que definem suas interações e também são responsáveis pela formação de doenças. Na verdade, é um sistema epidemiológico. Cada vez que um dos componentes mudam, isso terá um impacto e afetará outros componentes, no processo o sistema buscará uma 12 nova estabilidade. Essa nova estabilidade trará mais ou menos a ocorrência de doenças, mudanças periódicas e suas características, mudanças em epidemias ou doenças endêmicas. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). San Martin (1981) enfatizou o sistema formado pelo meio ambiente, população, economia e cultura, e especificou este sistema epidemiológico-social. Segundo o autor, a qualidade e dinâmica do ambiente socioeconômico, métodos de produção e relações de produção, tipos de desenvolvimento econômico, velocidade de industrialização, desigualdade socioeconômica, concentração de riqueza, participação comunitária, responsabilidade individual e coletiva são componentes essenciais, os causadores do processo saúde-doença. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). O sistema pode ser entendido a partir das informações detalhadas dos fatores que o compõem: ● Fatores Sociais; ● Fatores ambientais e ● Fatores genéticos. Vamos entender cada um desses fatores e quais situações estão incluídas em cada um desses fatores. FATORES SOCIAIS: A pesquisa pré-patogênica que visa determinar a prevenção coletiva da doença deve considerar que a doença inicialmente flui do processo social, cresce por meio de relações ambientais e ecológicas desfavoráveis e por meio de aspectos físicos, químicos e biológicos de indivíduos suscetíveis. E o efeito direto de fatores psicológicos e suas condições genéticas ou somáticas são desfavoráveis. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Apropriadamente, as condições sociais das doenças consideradas no nível coletivo são tratadas a partir de duas perspectivas: 13 De acordo com um método de observação, o componente social do estágio pré-patogênico pode ser definido como a categoria restante: um conjunto de todos os fatores que não podem ser classificados como componentes genéticos ou agressores físicos, químicos e biológicos. Para um melhor entendimento, os fatores que compõem este componente social podem ser classificados em quatro tipos gerais, cujas fronteiras não devem ser definidas de forma clara ou precisa: Fatores socioeconômicos: Existem enormes diferenças de morbidade e mortalidade entre os grupos sociais. Grupos sociais com privilégios econômicos são menos afetados por fatores ambientais que causam ou estimulam a ocorrência de certos tipos de doenças, e a incidência dessas doenças em grupos economicamente desfavorecidos é extremamente elevada. Fatores sociopolíticos: A seguir estão alguns fatores políticos que devem ser considerados cuidadosamente ao analisar as condições pré-patogênese no nível social: meios legais; decisão política; saúde política; concordar em participar e valorizar a cidadania; participação da comunidade realizada de forma eficaz; transparência de ações e aquisição de informação. Fatores socioculturais: No contexto social, preconceitos e hábitos culturais, crenças, comportamentos e valores devem ser citados como cuidados eficazes que contribuem para a propagação e manutenção de doenças. Fatores psicossociais: Os fatores psicossociais atribuíveis às características pré-patogênicas incluem: marginalidade, falta de relações parentais estáveis, desligamento da cultura indígena, falta de apoio no ambiente social em que vivem, condições de trabalho severas ou estressantes, 14 promiscuidade, economia, Turbulência social ou pessoal, falta de cuidado materno durante a infância, falta generalizada de afeto, competição desenfreada, comportamento agressivo e desemprego no centro das grandes cidades. Esses fatores têm impacto direto na psicologia das pessoas, com complicações físicas e psicológicas prejudiciais. FATORES AMBIENTAIS: Para realizar uma análise epidemiológica da estrutura ambiental, é necessário compreender todos os fatores que mantêm a interação com os patógenos e populações suscetíveis, incluindo-os, e não se confundir com eles. Este termo é mais amplo do que no campo da ecologia, além de incluir o ambiente físico que acomoda e torna possível a vida autossustentável, e o ambiente biológico que abrange todas as coisas vivas, também inclui uma sociedade em constante evolução em um local de interação social, política, econômica e cultural. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Os agressores ambientais referem-se a agentes que podem contatar pessoas suscetíveis diretamente sem intervenção adicional. Em relação ao seu aparecimento ou existência, eles podem ser colocados em uma das seguintes categorias: a) Meios que existem no meio ambiente de forma costumeira de convivência com os humanos na natureza ou tradição; b) Agentes não usuais, e devido a novas situações, novos hábitos ou mudanças de estilo de vida, má gestão ou manipulação não qualificada de meios e recursos, o impacto das importações tornou-se aparente, em determinados eventos epidemiológicos; c) Vetores que explodem emcondições anormais severas, como distúrbios ecológicos, desastres naturais e tragédias. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). 15 Rouquayrol e Gurgel (2018) trazem que são os componentes do ambiente físico: condições geográficas, solo, clima, recursos hídricos e topografia, agentes químicos e agentes físicos. FATORES GENÉTICOS: Fatores genéticos podem determinar se as pessoas são mais ou menos sensíveis a doenças, embora essa ainda seja a fronteira da pesquisa genética. O fato é que, em termos de incidência de doenças, é óbvio que quando ocorrem fatores patogênicos externos, alguns deles são afetados e outros ainda são neutros. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). MULTIFATORIALIDADE: Ao considerar as condições para o início da doença em pessoas suscetíveis, é necessário lembrar que essas condições não são suficientes por si mesmas. Na verdade, o surto de uma doença depende da estrutura dos fatores de influência, de modo que as pessoas possam pensar na menor probabilidade ou na menor estrutura de risco, na maior probabilidade ou na maior estrutura de risco e na estrutura fatorial nisso. O risco varia entre dois extremos. Quanto mais organizado o fator, mais forte é o estímulo patológico. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). A estrutura dos reguladores de doenças (chamados de multifatorialidade) não é um simples resultado do paralelismo. A correlação de fatores é sinérgica, ou seja, dois fatores estruturais aumentam o risco de doença, ao invés de uma simples soma. Portanto, o estado patogênico final é o resultado da sinergia de vários fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, psicológicos, genéticos, biológicos, físicos e químicos. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). 16 PERÍODO DE PATOGÊNESE Segundo Rouquayrol e Gurgel (2018), a história natural da doença continua com sua implantação e evolução no homem. Este é o período da patogênese. Esse período começa com a ação inicial do patógeno sobre o doente. Os distúrbios bioquímicos continuam no nível celular, e os distúrbios funcionais continuam a se desenvolver até defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura. Colimon (1978) dividiu a patogênese em três estágios: estágio subclínico, estágio prodrômico e estágio clínico. Mausner & Bahn (1974) propuseram as seguintes fases: pré-sintomática, clínica e incapacidade. Leavel & Clark (1976) acreditavam que o estágio da patogênese está nos seguintes estágios: a interação entre o estímulo e o hospedeiro, a patogênese inicial, a doença inicial reconhecível e a doença tardia. Aqui quatro níveis de evolução serão considerados durante o período de patogênese: Interação estímulo-suscetível: Nesta fase, a doença ainda não se desenvolveu, mas existem todos os fatores necessários para a sua ocorrência. Alguns fatores atuam tornando o organismo suscetível aos efeitos subsequentes de outros patógenos. Por exemplo, a desnutrição é a causa da doença causada pelo Mycobacterium tuberculosis. A alta concentração de colesterol sérico pode causar o aparecimento de doenças coronárias; fatores genéticos reduzem a capacidade de defesa orgânica e abrem a porta para a infecção humana. Algumas doenças não ultrapassam dessa fase, por causa das respostas promovidas pelas defesas do organismo, são capazes até mesmo de retrocederem dessa fase. Alterações Nesta fase, a doença já foi implantada no organismo 17 bioquímicas, histológicas e fisiológicas: afetado. Embora não haja manifestação clínica, há alterações histológicas no nível subclínico de reconhecimento das características gerais. Essas mudanças não são percebidas. No entanto, mesmo nesta fase, a doença já está presente e pode ser detectada através de testes clínicos ou laboratoriais guiados. A linha imaginária que separa esse estágio do próximo é chamada de "campo de visão clínico". Abaixo dessa linha, todas as manifestações bioquímicas, fisiológicas e histológicas da doença antes das manifestações clínicas são processadas. Isso é chamado de período de incubação. Sinais e sintomas: Fora do campo de visão clínico, os sinais iniciais da doença ainda serão confusos, se tornarão claros e se transformarão em sintomas. É a chamada fase clínica, que se inicia quando o organismo afetado atinge uma alteração funcional crítica. O desenvolvimento da doença leva a resultados. A doença pode entrar em um período de cura, desenvolver-se de maneira crônica ou evoluir para deficiência ou morte. Cronicidade: O curso clínico da doença pode evoluir para um estado crônico, ou fazer com que o paciente atinja certo grau de incapacidade física em um tempo variável. Também pode causar danos e se tornar uma porta de entrada para novas doenças no futuro. Partindo de um estado crônico, a doença pode progredir para invalidez permanente ou óbito devido à incapacidade temporária de realizar determinadas atividades. Em alguns casos, pode ser curado. 18 FATOS E DADOS A epidemiologia é retratada como um plano para estudar os processos sociais de saúde-doença, analisar a distribuição da população e determinar doenças, agravos à saúde e eventos relacionados à saúde coletiva, propor medidas específicas de prevenção, controle ou eliminação de doenças e fornecer indicadores para embasar cientificamente os planos de ação em saúde, gestão e avaliação. Isto é, ao contrário das clínicas que estudam os processos de saúde-doença dos indivíduos, cuja finalidade é tratar e curar casos isolados, a epidemiologia enfoca a ocorrência de doença, morte, quaisquer outros problemas de saúde ou situações de risco. O processo é na comunidade ou em grupos da comunidade, o objetivo é propor algumas estratégias para melhorar a saúde das pessoas que compõem esta sociedade. Até o início do século XX, a pesquisa epidemiológica se concentrava principalmente nas doenças infecciosas, pois essas eram as principais causas de morbidade e morte na população. Desde meados do século XX, com a mudança das características epidemiológicas da maioria das populações, a pesquisa epidemiológica também se concentrou em outros tipos de doenças, lesões e eventos, como as doenças não transmissíveis (câncer, doenças circulatórias, como as respiratórias). Sistema); lesões e lesões causadas por causas externas (acidentes de trânsito, doenças e acidentes de trabalho, homicídio, envenenamento, etc.); desvio nutricional (desnutrição, anemia, obesidade, etc.) e fatores de risco para doença ou morte (tabagismo, Hipercolesterolemia, baixo peso ao nascer, etc.). Fonte: Portal Educação. 19 Relação saúde, sociedade e cultura. Você sabia que quando falamos em saúde, devemos incluir e compreender as realidades demográficas, epidemiológicas, sociais, políticas e culturais? Nesse caso, há uma relação entre saúde e sociedade, a partir da qual devemos considerar sobre o tema, família e relações sociais maiores. A cultura é uma série de valores, costumes, regras e leis que afetam todas as questões da vida e a saúde é considerada uma característica cultural. Existe uma relação próxima entre sociedade, cultura e saúde. Baseia-se em informações sobre demografia, epidemiologia, realidades sociais, políticas e culturais, podendo ser adotadas políticas públicas adaptadas. Saúde e sociedade são consideradas inseparáveis, dependendo de como entendemos como ocorrem saúde e doença. O processo saúde-doença depende da forma como o ser humano utiliza a natureza em seu trabalho em cada momento histórico e de certas relações sociais de produção. A saúde é um traço cultural: pensamos na saúde a partir do pensamento da sobrevivência, colha a vida e defende a vida. Porém, do ponto de vista cultural, a vida também está associada à felicidade, isto é, à veemência da vida, à qualidade de vida e a tudo que se relaciona à saúde. Vamos definir esses conceitos, para sua melhor compreensão. Saúde: definida pela própria biologia humana, pelo ambiente físico, social e econômico o qual a pessoa está submetida e pelo seu modo de viver, ou seja, por meio de hábitos alimentares e outrasatitudes que são capazes de serem positivas ou que causem algum prejuízo. Ser saudável pode melhorar a qualidade de vida. Sociedade: um grupo de pessoas que têm um objetivo, foco e costumes comuns e se influenciam para formar uma comunidade. Cultura: Esta é uma série de valores, costumes, regras e leis que afetam todas as questões da vida. 20 Portanto, em termos de modelos de atenção à saúde, existem diferentes formas de considerar a saúde e os processos de atenção à saúde. Quando queremos aprender saúde, sociedade e cultura, devemos entender que temos dois modelos de cuidar: modelo biomédico e modelo de determinação social. O modelo biomédico é derivado da avaliação de sistemas industriais, células e química, o poder dos médicos, do conhecimento fracionado e da severidade. Neste modelo, conhecimento e prática em saúde são centrados em profissionais médicos. O modelo de determinação social enfatiza a psicologia e a cultura, a atuação interdisciplinar e multiprofissional, a pessoa integral, a transparência e a humildade, a flexibilidade e o pensamento político crítico. Ao compreender esses modelos, fica mais fácil discutir a relação entre sociedade, cultura e saúde. Vamos comparar essas diferenças no quadro abaixo, para melhorar sua visão nesses aspectos. Modelo biomédico Modelo de determinação social Reconhecimento do conjunto industrial. Grupo da reforma sanitária. Verdade única. Verdade como método. Autoridade absoluta do médico. Reconhecimento da psicologia e cultura. Enaltecimento da aprendizagem fracionada. Reconhecimento do indivíduo por inteiro. Onipotência. Permeável e humilde. Severidade. Maleabilidade. Indiferença. Raciocínio crítico político. 21 SAIBA MAIS Nas últimas três décadas, o setor de saúde coletiva do Brasil tem recebido atenção crescente das ciências sociais. A fusão de diferentes pontos de vista teóricos e métodos metodológicos familiares à sociologia da saúde e à antropologia médica, embora não familiares à base cognitiva das ciências naturais, revelou-se um processo irreversível. Portanto, é importante destacar que a complexidade das questões de saúde não pode ser vista apenas sob a perspectiva do modelo biomédico dominante.Esse fato necessita ser analisado, utilizando outras contribuições científicas como forma ampliada de pensar a integralidade do cuidado, buscando aliar conhecimentos biológicos, psicológicos, sociais, filosóficos e culturais para a compreensão do processo saúde-doença-cura. Em termos de acesso, eficácia e oferta de saúde, a diversidade sociocultural do Brasil é uma das mais relevantes. Isso significa uma ampla diversidade cultural de crenças e orientações religiosas, técnicas e rituais de cura são difundidos pela população brasileira. Essa rica expressão de nossa diversidade étnica, cultural e religiosa atraiu a atenção de pesquisadores em antropologia, sociologia, história e outros campos. Fonte: Andrade et al, 2015. A definição de Winslow citada por Leavell e Clark (Leavell & Clark, 1976): "Saúde pública é a ciência e a arte de organizar esforços comunitários organizados para prevenir doenças, prolongar a vida e desenvolver saúde e eficiência física e mental. Meio ambiente, comunidade, o controle de infecções, a organização de serviços médicos e auxiliares para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo de doenças e o aprimoramento dos mecanismos sociais, que garantirão que o padrão de vida de todos na comunidade seja adequado para a manutenção da saúde”. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). 22 Epidemiologia é a ciência que estabelece ou instrui e avalia métodos e processos de saúde pública para prevenir doenças. Por outro lado, a saúde pública pode ser inserida como tecnologia em uma técnica preventiva mais abrangente. Estas últimas, se definidas como tecnologias e meios para prevenir doenças, prolongar a vida, desenvolver saúde e eficiência física e mental, devem abranger também os itens preventivos da medicina individualizada. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). A prevenção é abrangente, inclui ações dos profissionais de saúde e mais do que isso. Estes são componentes importantes da ação preventiva: tomada de decisão técnica, ação direta e parte da ação educativa. De um modo geral, no que se refere à promoção da saúde, para a concretização de uma sociedade saudável, o sucesso da prevenção depende apenas em parte da atuação de especialistas. No coletivo, a ação preventiva deve começar no nível da estrutura socioeconômica. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). Segundo Rouquayrol e Gurgel (2018), a prevenção deve agir antes dos especialistas em saúde. Deve começar no nível da estrutura política e econômica. As ações dos especialistas só são eficazes depois de equilibrada a situação sócio-política e econômica. Para os profissionais de saúde, a prevenção com base no nível de consciência da comunidade relevante é muito importante. A prevenção é capaz de ser realizada na pré-patogênese e patogênese. Conhecer a história natural da doença ajuda a dominar as medidas preventivas necessárias. Se um dos princípios básicos da prevenção é cortar os vínculos, entender que os vínculos são essenciais para atingir os objetivos paralelos. É necessário compreender os diversos fatores relacionados aos patógenos, suscetibilidade e ambiente, e ao desenvolvimento da doença do doente. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). A prevenção primária ocorre pela interceptação de fatores pré-patogênicos que inclui: ● promoção da saúde e ● proteção específica. 23 A prevenção secundária tem sido realizada em indivíduos em estados de doença, incluindo: ● diagnóstico; ● tratamento precoce; ● restrição de deficiência. (Figura 2) A prevenção terciária inclui a prevenção da deficiência por meio de medidas voltadas para a reabilitação. Portanto, o processo de reeducação e reabilitação de pessoas com deficiência após acidentes ou sequelas de doenças é um exemplo de prevenção de terceiro nível. Figura 2: História natural e prevenção de doenças. Fonte da imagem: ROUQUAYROL e GURGEL, 2018. 24 PREVENÇÃO PRIMÁRIA PROMOÇÃO DA SAÚDE: Isso é feito por meio de medidas gerais. ● Habitação adequada. ● escola. ● Área de recreação. ● Alimentação saudável e correta. ● Educação em todos os níveis. ● Educação em saúde. ● Atividade física constante. ● Saneamento básico. PROTEÇÃO ESPECÍFICA: ● Imunização. ● Saúde do trabalhador. ● Higiene pessoal e da moradia. ● Proteção contra acidentes. ● Orientações genéticas. ● Contenção dos hospedeiros e reservatórios. ● Uso de preservativos e seringas descartáveis. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA DIAGNÓSTICO PRECOCE: ● Investigar para encontrar casos na comunidade. ● Exames pessoais regulares para detectar casos precocemente. ● Isolamento para prevenir a propagação de doenças. 25 ● Métodos de tratamento para prevenir a progressão da doença. LIMITAÇÃO DA INCAPACIDADE ● Evitar complicações no futuro. ● Prevenir sequelas. ● Conter o risco de transmissão da doença. PREVENÇÃO TERCIÁRIA. ● Reabilitação (prevenção da deficiência total). ● fisioterapia. ● Terapia ocupacional. ● Reabilitação do emprego. ● Diminuição da dependência familiar. ● Diminuição da dependência social. ● Melhora a qualidade de vida do indivíduo com sequela. Com base nos modelos assistenciais já vistos conseguimos abranger a concepção de promoção da saúde, que significa ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e fatores de risco, e o significado do tratamento adequado para o paciente após a instalação da doença. A promoção da saúde refere-se às ações realizadas sobre os determinantes sociais da saúde, visando afetar beneficamente a qualidade de vida das pessoas em sociedade. A promoção da saúde está diretamente relacionada à sociedade, pois para melhorar a saúde, além dessas sociedades, é necessário mudar profundamente o modelo econômico dessas sociedades. Fortalecer a política social, que é principalmente política pública. A promoção da saúde divide-se em duas questões importantes:comportamento pessoal e estilo de vida (muito próximos dos modelos de 26 prevenção de doenças) e prioridades de políticas públicas mais amplas e boa saúde. A promoção da saúde assenta em dois pilares: um pilar está relacionado com o comportamento diário e o outro está relacionado com o nosso meio ambiente. Como todos sabemos, ambos têm impacto significativo na vida e na saúde, ou seja, a saúde é vigorosamente afetada por esses fatores, proporcionando assim uma visão holística da pessoa como um todo, Porque a saúde é muito melhor do que nenhuma doença. Para realizar a promoção da saúde, é necessária uma série de políticas no campo da saúde. Essas mudanças são essenciais para que a sociedade atinja o objetivo de ter pessoas saudáveis. Além de levar uma vida produtiva em sociedade, também possui todo o potencial da qualidade de vida humana. Nossa cultura, nossa história e a maneira como vemos o mundo podem interferir nos relacionamentos, mas não os mudará. Quando os indivíduos enfrentam doenças, procuram recursos possíveis para manter a própria vida, independente do nível de conhecimento e plano de transmissão de informações, mostrar a influência das convicções religiosas, no acontecimento da doença e cura. Nos tempos antigos, a doença sempre foi conferida a forças externas, e sua explicação foi conferida a forças sobrenaturais, e envolveu a igreja e seus padres como intermediários para a recuperação. Durante o Renascimento, surgiram teorias da medicina buscando explicações sobre enfermidades nas condições de vida e o trabalho das pessoas. Atualmente, os processos de saúde e doença são entendidos como multifatoriais e multicausais. Olhando para este processo a partir desta nova perspectiva, as pessoas ficarão doentes e morrerão conforme com o jeito que vivem, este modo de vida é determinado socialmente, culturalmente e economicamente. Portanto, saúde, sociedade e cultura estão intimamente relacionadas, portanto, a partir dessa relação, ações de promoção da saúde vêm sendo realizadas. (UCHÔA; VIDAL, 1994). A sociedade é multicultural, formada por variados grupos sociais que se influenciam, não podemos dizer que eles têm a mesma cultura, porque podem 27 falar a mesma língua ou usar roupas semelhantes, mas a cultura é diferente. A diversidade cultural na sociedade exige que os profissionais de saúde prestem mais atenção e entendam a origem social e cultural das pessoas que trabalham com eles e que procuram auxílio. (UCHÔA; VIDAL, 1994). Essa bagagem cultural influencia de forma decisiva na manifestação da doença, na busca por tratamento e na relação entre as pessoas e os serviços de saúde, é importante compreender o campo sociocultural dos pacientes que prestamos atendimentos. (UCHÔA; VIDAL, 1994). Sobre os diferentes pontos de vista, o impacto na saúde e na doença depende da cultura do indivíduo, que difere entre profissionais e pacientes. Todo mundo fica doente de maneiras diferentes. No entanto, essas pessoas têm critérios comuns de diagnóstico de doenças. A história cultural e econômica de uma sociedade está relacionada à certeza social da doença, pois sempre avaliamos dados epidemiológicos e encontramos informações que explicam a causa nas variáveis sociais e demográficas das doenças. No Brasil, por exemplo, encontram-se algumas patologias que podem esclarecer o atraso no progresso do país: parasitas, desnutrição, febre amarela, etc. (UCHÔA; VIDAL, 1994). Por muito tempo, as intervenções terapêuticas não consideraram as informações sociais e culturais para intervenções preventivas e terapêuticas. Fatores sociais e culturais são vistos como anexos ao processo e ao ambiente considerados apenas dados biomédicos. (UCHÔA; VIDAL, 1994). Contrariamente a esta visão, hoje em dia os comportamentos preventivos ou de risco sofrem grande interferência cultural na escolha de medidas de prevenção, quanto ao uso de serviços de saúde. A maioria das sociedades possui um sistema de saúde hegemônico, que determina a direção política e cultural da capacidade de obter um consenso de saúde positivo. Esse sistema possui as seguintes características: Individualismo, Considera saúde-doença como uma mercadoria, dá muita atenção à biologia, a história da prática médica, a medicalização dos problemas, privilégio de drogas terapêuticas, incentivo do consumismo médico. 28 A OMS incentiva a coordenação, o sistema de saúde do Brasil é focado em parteiras, planejamento familiar, rezadeira e reidratação oral etc. A desigualdade social é geralmente exposta no sistema médico das instituições médicas formais. Atualmente, embora os métodos de tratamento populares não sejam aceitos pela biomedicina, em comparação com o passado, as críticas tornam-se cada vez menores, pois os terapeutas que eram populares no passado estão proibidos de usar seus tratamentos. Então, podemos dizer que as práticas populares fazem parte do sistema alternativo de saúde que existe no país. (SANTOS et al., 2012) No Brasil multiplicaram-se as pesquisas em saúde, cultura e sociedade e, nos últimos dez anos, surgiu a antropologia das doenças da saúde para consolidar-se e ser um espaço de reflexão e formação acadêmica. Considerando que a saúde é um sistema social e cultural, incluindo crenças e hábitos, os profissionais de saúde passaram a formar conceitos menos preconceituosos sobre os hábitos populares de tratamento e direcionar um cuidado mais responsável às pessoas e suas famílias. (SANTOS et al., 2012) Determinação Social da Doença A maioria das doenças e desigualdades na saúde em todos os países se devem aos elementos que envolvem o nascimento, vida, trabalho e idade das pessoas. Esse conjunto é chamado de determinantes sociais da saúde. Segundo Leandro, os determinantes sociais de saúde são explicados como fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que induzem ao acontecimento de doenças e seus fatores de risco. Esse sistema se evidencia pela estruturação democrática em saúde dos determinantes sociais, do meio ambiente e políticos e da organização do sistema de saúde, que se guia na promoção de saúde para a organização nos diferentes níveis de atenção e a organização do sistema de saúde, 29 pretendendo as oportunidades de reestruturação do sistema público de saúde. (ROUQUAYROL e GURGEL, 2018). A saúde é quieta. Na maioria das vezes, só percebemos a quando estamos doentes. Ouvir o seu próprio corpo é uma boa maneira de garantir a saúde, porque não existe uma fronteira precisa entre saúde e doença, mas talvez a inter-relação entre eles é determinada por certos fatores que nos permitem viver, como comida, água, moradia, trabalho, relacionamentos, clima, condições sanitárias básicas, progresso tecnológico, etc. Essa relação recíproca é caracterizada pelo estilo de vida de cada pessoa relacionado a esses fatores. Alguns fatores são redundantes para alguns, enquanto outros são inexistentes, o que determina o processo saúde-doença que ocorre na maioria dos casos, as diferenças entre indivíduos, comunidades e populações são grandes. Nesse sentido, com a criação do Comitê Nacional dos Determinantes Sociais dos Problemas de Saúde (CNDSS) no Brasil, os determinantes sociais dos problemas de saúde em 2006 foram definidos como “fatores que afetam a sociedade, economia, cultura, etnia/raça, psicologia e comportamento, a ocorrência dos fatores de risco e de problemas de saúde nos habitantes”. REFLITA Hoje, com o avanço da tecnologia, nossa vida útil é mais longa. No entanto, também sofremos os efeitos nocivos das organizações capitalistas na vida de toda população mundial. Mesmo se melhorarmos nossos indicadores de saúde em geral, nossas vidas e mortes não serão equilibradas. Os pobres morrem mais do que os ricos, os jovens negros morrem mais do que os jovens brancos. Fonte: Leandro (2018). 30 Para um melhor entendimento, sabemos que algumas pessoas da população são mais saudáveis do que outras.Mas qual é o esclarecimento para isto? A resposta está nos determinantes sociais da saúde. Eles incluem as condições mais gerais (Socioeconômicas, culturais e ambientais) e relacionadas às suas condições pessoais de vida e trabalho, tais como habitação, saneamento, ambiente de trabalho, saúde e educação, abrangendo também o uso das redes sociais. Portanto, se não considerarmos a desigualdade das doenças segundo grupos de idade e as diferenças causadas por doenças específicas de cada gênero, e cruzarmos as informações de saúde sobre os determinantes sociais, a desigualdade gerada por suas condições sociais ficará óbvio, as diferenças ocasionadas no modo que as pessoas vivem e trabalham. Ao contrário da hereditariedade, sexo e idade, esta desigualdade é injusta e inaceitável. Portanto, eles são chamados de injustiças. Um exemplo real dessa situação, é a maior chance de uma criança morrer no Nordeste por desnutrição e desidratação se contrastada com a Região sul. Nesse sentido, você percebe que não estamos falando de saúde a partir de características pessoais, mas sim de fatores determinantes de saúde? Nessas circunstâncias, estamos falando de diferenças de moradia, estudos, condições de saneamento básico, acesso à saúde, etc. Essas diferenças afetarão diretamente a saúde da população. Agora, vamos dar outro exemplo: o cólera é causado pelo Vibrio cholerae, mas são os determinantes sociais que determinam o desenvolvimento da doença, permitindo que sejam expostos a essa fonte de infecção, como acesso a água contaminada e falta de saneamento básico. Isso explica por que certos grupos de indivíduos são mais suscetíveis à cólera do que outros. Portanto, a relação entre os determinantes sociais e seus determinantes é mais complicada do que a causalidade. O modelo Dahlgren e Whitehead nos ajuda a entender melhor os determinantes sociais da saúde. como mostrado na imagem 3, O modelo é 31 dividido em várias faixas, correspondendo a diferentes níveis de influência dos determinantes. A primeira faixa representa as características individuais, como sexo, idade, genética, e essas características afetarão nossa saúde. O nível superior é o estilo de vida pessoal. Obviamente, determina a saúde das pessoas porque é uma "escolha pessoal", mas na maioria dos casos, depende de fatores como informação, acesso a alimentos saudáveis e serviços de saúde adequados, publicidade, espaço de diversão, etc. O próximo nível enfatiza a influência da comunidade e das redes de apoio, ou seja, a relação de unidade e confiança entre as pessoas. Grupos, unem-se para se tornarem atores sociais e participantes ativos na tomada de decisões na vida social. Vemos que a saúde pessoal passa a fazer parte da comunidade. No próximo nível, estão as condições de vida e de trabalho, como abastecimento de alimentos e acesso a serviços básicos como saúde e educação, indicam que as pessoas em situação de desvantagem social correm riscos diferentes. Isso é causado por condições de moradia mais precárias, exposição a condições mais perigosas ou a pressão de trabalho é maior e é mais difícil obter serviços. Por fim, as condições socioeconômicas, culturais e ambientais dependem de políticas macroeconômicas e do mercado de trabalho, proteção ambiental, os fatores macroeconômicos são considerados no último nível. Promover uma cultura de paz e solidariedade com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável e reduzir as desigualdades sociais e econômicas, a violência, a degradação do meio ambiente e seu impacto na sociedade são responsabilidades do governo e dos políticos na maior parte do tempo. Podemos ver que a saúde vai muito além do âmbito da prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças. A análise dos determinantes sociais da saúde nos permite intervir para ampliar políticas públicas que possam reduzir a desigualdade e desenvolver políticas de saúde em uma direção mais equitativa. 32 Figura 3: Modelo de determinação social da doença proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Fonte: Relatório final da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (BRASIL, 2008). Concluindo, a partir da década de 1990, vários países restabeleceram metas relacionadas à melhoria da saúde. O objetivo de reduzir a morbidade e mortalidade é agora acompanhado por Criar condições sociais para garantir a saúde de todas as pessoas. REFLITA “Pela minoria o mundo é dominado, que vive do lucro, do povo explorado, e tem a sua vida, com luxo e mordomia. O pobre passa 33 fome, e não tem moradia. No mundo capital, é só exploração. Não sustente a burguesia, com sua escravidão. Desigualdade social, desigualdade social, desigualdade social.” Rebitantes “Se sonhamos com uma sociedade menos agressiva, menos injusta, menos violenta, mais humana, o nosso dever deve ser o de quem, dizendo não a qualquer possibilidade em face dos fatos, defende a capacidade do ser humano de avaliar, de comparar, de acolher, de decidir e, finalmente, de intervir no mundo.” (Freire, 2001, p. 323) ATIVIDADES DE AUTOESTUDO Questão 01. Considerando o tema trabalhado dos determinantes sociais de saúde, assinale a alternativa correta. a) O determinante social mais importante é enfocar apenas os fatores pessoais, sem considerar as questões da comunidade. b) A pesquisa voltada ao estudo sobre os determinantes sociais da saúde visa melhorar a saúde da população. c) A pesquisa sobre os determinantes sociais da saúde visa aumentar a desigualdade. d) Atualmente, os governantes não utilizam os determinantes sociais para planejar ações de saúde. e) A abordagem de apoiar os determinantes sociais significa entender o valor da saúde para a sociedade e reconhecer que ela não depende de ações que normalmente não estão relacionadas ao setor saúde. Justificativa: A alternativa B está correta, haja vista que o objeto de pesquisa dos determinantes sociais da saúde é determinar quais fatores existem na relação entre saúde e doença. Para fazer isso, é preciso observar a comunidade, não o indivíduo. A partir dessas constatações, ações foram 34 planejadas e gerenciadas para melhorar a saúde da população e, com isso, reduzir a desigualdade. Questão 02. Verifique as alternativas corretas para os conceitos de determinantes de saúde e de saúde: a) A saúde considerada livre de doenças está intimamente relacionada ao desenvolvimento da medicina porque se baseia em descobertas microbiológicas e na compreensão da causa, curso, diagnóstico e tratamento das doenças. b) De acordo com a VIII Conferência Nacional de Saúde, a saúde é “o estado de bem-estar físico, mental e social mais completo, não apenas a ausência de doença”. c) Os determinantes sociais da saúde podem ser definidos como informações relevantes sobre a saúde da população e o desempenho do sistema de saúde. d) O conceito de saúde sem a doença ainda é aceito pela população e pelos profissionais de saúde. e) Os determinantes sociais da saúde podem ser definidos como informações relevantes sobre a saúde da população e o desempenho do sistema de saúde. Justificativa: Letra A está correta, A saúde considerada livre de doenças está intimamente relacionada à história da medicina e da epidemiologia, mas hoje a maioria dos estudiosos não considera mais esse conceito como uma boa doença. Para conceituar a saúde de forma mais positiva, a OMS define “saúde é o estado mais completo de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença”. Os determinantes da saúde são fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos, psicológicos e comportamentais, que afetam a ocorrência de problemas de saúde na população e seus fatores de risco. 35 Indicadores de saúde são informações relacionadas à saúde da população e ao desempenho do sistema de saúde. Questão 3. “Uma nova compreensão de determinantes da saúde só poderá emergir, se houver um diálogo entre as ciências humanas e as ciências da vida. Este diálogo não poderia deixar de ser perturbadore incômodo, pois supõe que os pesquisadores de cada disciplina repensem os fundamentos de seus trabalhos, que aceitem trabalhar com outros métodos, que encarem horizontes temporais diferentes e, consequentemente, modifiquem a maneira de conceber os fenômenos que estudam.” Contandriopoulos (1998) Os conhecimentos multidisciplinares são utilizados para a compreensão do fenômeno saúde-doença, o qual perpassou por diferentes definições no decorrer histórico, desde aspectos mágicos à dicotomia advinda do “saudável e patológico”, bem como conceituações mais complexas envolvendo o determinismo sócio-ambiental-cultural. Considerando os diversos modelos explicativos do processo saúde-doença, assinale a alternativa que relaciona adequadamente o modelo a suas características definidoras: I. Modelo biomédico II. Modelo da história natural da doença. III. Modelo da determinação social da doença A. Esse modelo insere a perspectiva do processo de forma mais ampla, considerando os comportamentos culturais que possam relacionar-se à saúde de uma população. Considera, dessa forma, o perfil epidemiológico como fator importante. B. Apresenta uma compreensão do processo saúde e doença a partir das ciências biológicas. Uma caraterística desse modelo é aceitar a lógica linear do adoecimento e a absorção, pelo senso comum, de que a doença é causada por um agente patológico específico. 36 C. O processo saúde-doença ocorre devido à interação entre a tríade ecológica agente, hospedeiro e meio ambiente, apresentando, portanto, dois períodos sequenciados: o epidemiológico e o patológico. a) I-C; II-A; III-B b) I-C; II-B; III-A c) I-B; II-C; III-A d) I-B; II-A; III-C e) I-A; II-C; III-B Justificativa: A alternativa B está correta, já que o modelo biomédico é apresentado através da tríade ecológica, que envolve o agente, hospedeiro e o meio ambiente. O modelo da história natural da doença se caracteriza que o processo de adoecimento e a doença em si é causada por um determinado agente patológico. E o modelo da determinação social da doença considera os aspectos culturais, étnico-raciais, habitação, alimentação, sócio-econômico, que se relaciona com a saúde da população. Questão 04. A respeito dos Determinantes Sociais da Saúde (DSS), assinale a alternativa correta. a) Os Determinantes Sociais da Saúde são exclusivamente ligados ao setor da saúde. b) Os determinantes sociais levam em consideração, exclusivamente, o enfoque médico-biológico do processo de saúde e doença. c) O encontro do agente etiológico e do suscetível no meio ambiente é o fator determinante que explica todos os casos de doenças não transmissíveis na sociedade. d) Os Determinantes Sociais da Saúde não são promotores de iniquidade. e) Os Determinantes Sociais da Saúde envolvem as condições de vida e de trabalho dos indivíduos. 37 JUSTIFICATIVA: A alternativa E está correta, já que os determinantes sociais da saúde envolvem as condições de vida e de trabalho das pessoas, pois considera essas condições como primordiais no processo saúde-doença da população. Questão 05. Considerando o debate dos determinantes sociais da saúde, assinale a opção incorreta. a) Considera-se que os determinantes sociais mais importantes são aqueles que geram estratificação social, ou seja, determinantes estruturais como a distribuição de renda, a discriminação e a existência de estruturas políticas ou de governança que reforcem as iniquidades relativas ao poderio econômico. b) A implementação de ações sobre os determinantes sociais baseia-se em três temas mais amplos: 1) reduzir as iniquidades em saúde; 2) melhorar as condições de saúde e o bem-estar, promover o desenvolvimento e alcançar objetivos gerais no campo da saúde; 3) promover ações em uma série de prioridades sociais, para além do campo da saúde e que dependem de melhores níveis de igualdade em saúde. c) É recomendado que a implementação de abordagens ligadas aos determinantes sociais seja implementada tal como um “programa” que é executado. d) Como determinantes intermediários encontram-se as condições de vida, circunstâncias psicossociais, fatores comportamentais e/ou biológicos e o próprio sistema de saúde, que dão forma às condições de saúde dos indivíduos. e) Apoiar a abordagem dos determinantes sociais significa compreender o valor que a saúde tem para a sociedade e admitir que ela depende de ações que, muitas vezes, não têm relação com o setor saúde. 38 JUSTIFICATIVA: A alternativa C está incorreta. Qualquer abordagem ligada aos determinantes sociais não pode ser implementada tal como um “programa” que é executado; ela deve ser holística e incorporar a todos os setores da sociedade e as cinco dimensões principais dispostas pela Conferência Mundial de Determinantes Sociais (2011), descritas abaixo: 1. Governança para o enfrentamento das causas mais profundas das iniquidades em saúde: implementando ações sobre os determinantes sociais da saúde; 2. Promoção da participação: lideranças comunitárias para a ação sobre os determinantes sociais; 3. O papel do setor, incluindo os programas de saúde pública, na redução das iniquidades em saúde; 4. Ações globais sobre os determinantes sociais: alinhando prioridades e grupos de interesse; 5. Monitoramento do progresso: medir e analisar para informar as políticas sobre determinantes sociais mencionadas anteriormente. É recomendado que a implementação de abordagens ligadas aos determinantes sociais seja implementada tal como um “programa” que é executado. Questão 06. A expansão do conceito de saúde, com seus determinantes, e a crescente complexidade epidemiológica da situação das populações estimulam a diversidade de responsabilidade nos serviços de saúde. Sobre os Determinantes Sociais de Saúde, assinale a alternativa correta. a) Em geral, poucos são os fatores que exercem influência sobre a saúde das pessoas, e a presença desses fatores, mesmo que conjuntamente, não são capazes de determinar o estado de saúde da população. b) A relação entre os determinantes da saúde e o estado de saúde é simples e não envolve os níveis da sociedade, atingindo apenas o nível macroambiental. c) Existe uma ampla categoria de determinantes da saúde, desde os determinantes proximais ou micro determinantes, associados à características do nível individual, até os determinantes distais ou macrodeterminantes, associados à variáveis dos níveis de grupo e sociedade, isto é, populações. 39 d) A diversidade genética, a diferença biológica de sexo, a nutrição e dieta, o funcionamento dos sistemas orgânicos e os processos de maturação e envelhecimento são determinantes fundamentais da saúde, sobre os quais não é possível intervir, positivamente para promover e recuperar a saúde. e) A relação entre os determinantes da saúde e o estado de saúde é complexa, porém envolve, prioritariamente, o nível de microcelular. JUSTIFICATIVA: A alternativa C está correta, já que este item refere-se ao modelo de Dahlgren e Whitehead, Os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos que, evidentemente, exercem influência sobre seu potencial e suas condições de saúde. Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias e de apoio, cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social que, como vimos, é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo. No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços. Finalmente, no último nível estão situados os MACRODETERMINANTESrelacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas. Questão 07. A Epidemiologia tem a Teoria que diz que “a grande maioria das doenças advém de uma combinação de fatores que interagem entre si e acabam desempenhando importante papel na determinação das mesmas”. Estamos nos referindo à Teoria da: a) Plausibilidade 40 b) Suscetibilidade c) Temporalidade d) Determinalidade e) Multicausalidade JUSTIFICATIVA: A alternativa E está correta, já que o processo saúde-doença é uma expressão usada para fazer referência a todas as variáveis que envolvem a saúde e a doença de um indivíduo ou população e considera que ambas estão interligadas e são consequência dos mesmos fatores. De acordo com esse conceito, a determinação do estado de saúde de uma pessoa é um processo complexo que envolve diversos fatores. Diferentemente da teoria da unicausalidade, muito aceita no início do século XX, que considera como fator único de surgimento de doenças um agente etiológico - vírus, bactérias, protozoários -, o conceito de saúde-doença estuda os fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais e, com eles, pretende obter possíveis motivações para o surgimento de alguma enfermidade. O conceito de multicausalidade não exclui a presença de agentes etiológicos numa pessoa como fator de aparecimento de doenças. Ele vai além e leva em consideração o psicológico do paciente, seus conflitos familiares, seus recursos financeiros, nível de instrução, entre outros. Esses fatores, inclusive, não são estáveis; podem variar com o passar dos anos, de uma região para outra, de uma etnia para outra. Questão 08. A história clínica de muitas pessoas atendidas nos serviços de saúde revela condições de vida que afetam o bem-estar e a saúde. Considerando essa informação e com base nos determinantes sociais da saúde, assinale a alternativa correta. a) O processo saúde-doença deve ser entendido como a relação entre as condições biológicas e as psicológicas e exclui a necessidade de abordar o contexto social. 41 b) As condições de trabalho, a estrutura das redes sociais e comunitárias, o estilo de vida dos indivíduos, a idade, o sexo e aspectos hereditários são alguns dos fatores que exemplificam determinantes sociais da saúde. c) O impacto que a doença pode ter sobre a situação socioeconômica do indivíduo e da respectiva família compõe um contexto diferente do relativo à análise dos determinantes sociais da saúde. d) Políticas públicas de abrangência populacional, que promovem mudanças de hábitos, interferem apenas na saúde do indivíduo, sem qualquer importância para alterações nos determinantes sociais da saúde. e) Diminuir a exposição a riscos é a forma mais eficaz para alterar os determinantes sociais da saúde. JUSTIFICATIVA: A alternativa B está correta, já que as condições de trabalho, a estrutura das redes sociais e comunitárias, o estilo de vida dos indivíduos, a idade, o sexo e aspectos hereditários são alguns dos fatores que exemplificam determinantes sociais da saúde. Questão 09. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), Determinantes Sociais da Saúde são os seguintes fatores que influenciam a ocorrência de problemas de saúde: a) habitacionais, econômicos, ambientais, étnicos/raciais, psicológicos e educacionais. b) sociais, ambientais, culturais, étnicos/raciais, ergométricos e educacionais. c) sociais, econômicos, ambientais, étnicos/raciais, ergométricos e comportamentais. d) habitacionais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e educacionais. 42 e) sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais JUSTIFICATIVA: A alternativa E está correta, já que para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Questão 10. O processo saúde-doença é visto como dinâmico, multicausal e depende especialmente da conceituação de saúde e doença. Portanto, pode-se afirmar que o processo de saúde é afetado pelos seguintes fatores: a) As condições geográficas, ambientais e naturais do território. b) Condições socioeconômicas individuais e coletivas. c) Causa/agente etiológico. d) Hereditariedade e fatores genéticos. e) Todas as alternativas estão corretas. JUSTIFICATIVA: A alternativa E está correta, já que pode-se dizer que o processo de saúde é afetado pelos seguintes fatores: as condições geográficas, ambientais e naturais do território, a situação social e econômica dos indivíduos e da coletividade, os fatores genéticos e genéticos de etiologia. RESUMO Após a II Guerra Mundial ocorreram mudanças políticas estratégicas no cenário do mundo inteiro, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), que juntas traçaram uma nova 43 conceituação para o termo saúde: “saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas umas ausência de enfermidade.” Entre as décadas de 1970 e 1980, a saúde pública/saúde coletiva aumenta a sua finalidade e em consequência disso, os esclarecimentos das razões e causas do processo saúde-doença também são amplificadas, deixando o modelo biomédico, unicausal, em favorecimento do modelo multicausal como sendo um modelo esclarecedor da história natural da doença e da determinação social do processo saúde- doença. Na história natural da doença aceita-se a definição de saúde como uma base esclarecedora trazida pela tríade ecológica (agente, hospedeiro, meio ambiente), ao mesmo tempo que na determinação social do processo saúde-doença aceita-se um método mais dinâmico, complexo e com múltiplas dimensões que compreende as dimensões biológicas, psicológicas, socioculturais, econômicas, ambientais e políticas, com o intuito de detectar e reconhecer uma complicada inter-relação quando tratamos de saúde e doença de um indivíduo, de uma comunidade, de um grupo social ou da sociedade em si. 44 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Saúde e cultura: diversidades terapêuticas e religiosas. Autor: João Tadeu de Andrade; Márcio Luiz Mello; Violeta Maria de Siqueira Holanda. Editora: Editora da Universidade Estadual do Ceará – EdUECE Sinopse: O livro Saúde e cultura: diversidades terapêuticas e religiosas reúne dez artigos científicos que enfocam o tema, tomando como referência pesquisas realizadas nos últimos anos em diversas regiões do Brasil e analisando a bibliografia acadêmica produzida sobre ele por outros pesquisadores. Esses trabalhos foram apresentados e discutidos na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada em Natal (RN) de 3 a 6 de agosto de 2014, em Grupo de Trabalho (GT 74) organizado por três especialistas na matéria: Violeta Holanda (Unilab), João Tadeu de Andrade (Uece) e Márcio Luiz Mello (Fiocruz). Nos últimos anos essa discussão vem crescendo nos congressos de Antropologia e de Ciências Sociais e se multiplicando nos seminários e encontros científicos de religião, o que testemunha a relevância científica e social do tema e o seu interesse em várias áreas acadêmicas. Os trabalhos incluídos na seleção atestam a grande ligação existente entre religião e saúde e demonstram a importância da umbanda nessa área. Embora todas 45 as religiões e todas as denominações religiosas afro-brasileiras (candomblé, mina e outras) sejam também procuradas para resolver problemas de saúde, a atuação da umbanda na área de saúde é declarada abertamente e é muito valorizada, já que a cura é uma das principais funções de suas entidades espirituais – caboclos, preto-velhos. SITE Determinantes sociais da saúde No site "Determinantes Sociais da Saúde", você encontrará um observatório com diversas informações sobre as desigualdades em saúde. Ao navegar no menu à esquerda do portal, também