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HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE- DOENÇA Aula 1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÃO SOBRE A SAÚDE E A DOENÇA. Aspectos Históricos e concepção sobre a saúde e a doença. Seja bem-vindo à disciplina de Saúde Pública! Esta videoaula apresenta os aspectos históricos e as concepções fundamentais sobre saúde e doença. Faremos uma revisão dos modelos conceituais de saúde e trataremos da promoção da saúde e a sua importância para melhoria da qualidade de vida da comunidade. Desejamos a você bons estudos! Ponto de Partida A compreensão da saúde vai além da mera ausência de doença, sendo influenciada por diversos fatores políticos, sociais, ambientais e comportamentais que impactam os estados de adoecimento. Neste curso, exploraremos o conceito ampliado de saúde, abordando as suas diversas facetas ao longo da história e as diferentes concepções sobre o processo saúde-doença. Aproveitem o conteúdo e bons estudos! Vamos Começar! Pode parecer evidente afirmar que a saúde de uma pessoa está associada à ausência de doença. Embora essa perspectiva não seja completamente equivocada, o conceito de saúde pode ser ainda mais amplo, principalmente levando em consideração o que pode provocar o surgimento das doenças. Durante muito tempo, a saúde foi entendida simplesmente como o estado de ausência de doença. Considerada insatisfatória, essa definição foi substituída por outra, que engloba bem-estar físico, mental e social. Embora mais abrangente, o novo conceito não está livre de dificuldades, sobretudo quando se leva em conta a legitimidade dos movimentos que defendem a ‘saúde para todos’. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem- estar físico, mental e social. Essa definição é válida oficialmente até os dias de hoje e tem recebido, desde a sua formulação, críticas e reflexões de muitos profissionais, pesquisadores e outros protagonistas da área da saúde. Esses profissionais, de modo geral, classificam-na como utópica e não operacional, caracterizando-a mais como uma declaração do que propriamente como uma definição (NARVAI et al., 2008). A Constituição Federal do Brasil, 1988, em sua seção sobre saúde (Art. 196), define-a nos seguintes termos: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. A concepção de saúde estabelecida na Lei Orgânica de Saúde (LOS), nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, busca transcender aquela proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa definição é mais abrangente, pois explicita os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. Assumido o conceito da OMS, nenhum ser humano (ou população) será totalmente saudável ou totalmente doente. Ao longo de sua existência, viverá condições de saúde/doença, de acordo com as suas potencialidades, suas condições de vida e a sua interação com elas. A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece. Vamos tratar brevemente dos diferentes modelos explicativos do processo saúde-doença e do cuidado para entender como esse tema se faz presente desde a Antiguidade. Além disso, vamos nos reportar aos modelos para apontar diferentes concepções que se complementam, buscando indicar, sempre que possível, os avanços e as limitações explicativas referentes a cada um deles. Esse panorama histórico vai ajudá-lo a entender proximidades e disparidades com as concepções de saúde, doença e cuidado da atualidade. As abordagens conceituais sobre saúde propõem explicar a origem e a disseminação das doenças nas populações humanas. Ao longo da história, a busca humana por compreender os processos e os fatores determinantes do adoecimento e da mortalidade tem sido constante, visando retardá-los ou preveni-los pelo maior tempo possível. Conforme o conhecimento científico evolui, novas formas de explicação para esses fenômenos foram desenvolvidas. Podem-se destacar cinco principais modelos explicativos (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006): 1. modelo biomédico; 2. modelo processual; 3. modelo sistêmico; 4. modelo mágico-religioso; 5. modelo de determinação social da doença. Cada uma dessas concepções incorpora distintos conhecimentos científicos em diversas épocas históricas. A ideia de que era atribuição dos deuses determinar o estado de doença e cura nos seres humanos deu origem ao chamado modelo mágico-religioso. Esse modelo também é caracterizado pela associação entre pecado e doença, bem como redenção e cura. Platão, Aristóteles e Demócrito acreditavam que o homem era formado pelo corpo e pela alma e que, desse modo, a relação com o meio afetava o seu estado de saúde. Hipócrates postulou a existência dos humores (bile amarela, bile negra, fleuma e sangue) para explicar o desequilíbrio ao qual o homem estava sujeito (BARROS, 2002). Siga em Frente... Apesar de não ser predominante, o modelo mágico-religioso continua a influenciar a concepção contemporânea de saúde. Segmentos religiosos de diversas culturas preservam práticas voltadas para a proteção ou tratamento de doenças. No contexto brasileiro, é bastante frequente a presença de benzedeiras, cerimônias de cura, cirurgias espirituais, manipulação de energias, o uso de patuás ou amuletos, o cumprimento de promessas e uma variedade de rituais associados à preservação da saúde. O saber clínico, racionalizado e experimental, trouxe uma nova forma de compreender a saúde. Nesse contexto de grandes descobertas, Descartes propôs que o corpo e a mente deveriam ser estudados de forma separada, sendo o corpo analisado pela medicina e a mente estudada pela religião e pela filosofia. Esse modelo separatista de pensar o fenômeno do adoecimento foi fortalecido pelas descobertas de Pasteur e Virchow em seus trabalhos com micro-organismos (BARROS, 2002). O modelo biomédico tem como abordagem a patogenia e a terapêutica, classificando as doenças segundo a forma e o agente patogênico. Assim, pode-se caracterizar esse modelo como individual, curativo, centrado na figura do médico, fragmentado, especialista e hospitalocêntrico (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006). A medicalização da sociedade, marcada pelo consumo abusivo de tecnologias médicas (exames, intervenções, medicamentos), faz-se presente em todos os níveis de complexidade do sistema de saúde e nas diferentes classes sociais e, por vezes, tenta substituir a escuta qualificada e a avaliação clínica. Diante da ampliação do conceito de saúde e da compreensão de que fatores políticos, sociais, ambientais e comportamentais desempenham papéis significativos nos estados de adoecimento, a promoção de saúde emerge como uma abordagem que transcende os serviços assistenciais e compromete-se com a determinação da doença, sendo fundamentalmente intersetorial. Ao contrário do conceito de prevenção, a promoção da saúde não se limita a uma doença específica, mas busca aprimorar a saúde e o bem-estar geral da população (CZERINA, 2003). A noção de que a saúde está intrinsecamente ligada à qualidade de vida ganhou destaque durante a Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde, realizada no Canadá em 1986. Como resultado desse evento, a Carta de Ottawa foi concebida, exercendo impacto significativo na concepção e na regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. A definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula que as iniciativas de promoção da saúde englobam programas, políticas e atividades que devem ser duradouros, imparciais, abrangentes em suas estratégias, e alinhados aos princípios de capacitação individual e comunitária. Essas iniciativas também devem incorporar a participação popular nas etapas de planejamento,implementação e avaliação; adotar uma perspectiva holística da saúde, considerando os aspectos físicos, mentais, sociais e espirituais; e fomentar a colaboração intersetorial entre agências de diferentes setores relacionados (OMS, 1998). No Brasil, o tema de promoção da saúde, o conceito ampliado de saúde e os determinantes sociais estão contemplados na Constituição Federal de 1988, na Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/1990 e em vários outros documentos (BRASIL, 2010). Em 2006, foi lançada a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), que propõe a articulação sujeito/coletivo, público/privado e Estado/sociedade para a redução do risco e do dano no processo de adoecimento (BRASIL, 2010). Dessa forma, é possível afirmar que a promoção da saúde, como um componente essencial para a equidade, deve estar integrada à comunidade e à unidade de saúde, por meio de ações contextualizadas de acordo com as necessidades específicas do território. Vamos Exercitar? Ao longo da história, diferentes modelos de saúde e doença moldaram as concepções e práticas relacionadas ao cuidado. Na Antiguidade, o modelo mágico-religioso prevalecia. Nele, as causas das doenças eram atribuídas a elementos naturais e aos espíritos, sendo tratadas por líderes religiosos. Com a medicina hindu e chinesa, surgia o modelo holístico, baseado no equilíbrio entre elementos e humores no organismo. Na Grécia Antiga, Hipócrates introduziu o modelo empírico-racional, vinculando a saúde ao equilíbrio dos humores e propondo cuidados direcionados a compreender e restabelecer esse equilíbrio. No Renascimento, o modelo de medicina científica ocidental, também conhecido como biomédico, emergiu. Esse modelo, prevalente na atualidade, reduz a saúde a um funcionamento mecânico, enfocando a explicação da doença e um tratamento fragmentado. Na década de 1970, ganhou destaque o modelo sistêmico, concebendo o processo saúde-doença como um sistema dinâmico, contrapondo-se à visão fragmentada do modelo biomédico. Essa abordagem considera interações complexas no ecossistema e destaca a necessidade de um sistema de saúde abrangente. Esses modelos refletem a evolução do pensamento sobre saúde e doença, influenciados por contextos culturais, filosóficos e científicos. Cada abordagem oferece uma perspectiva única, destacando a complexidade na compreensão do cuidado em saúde ao longo da história. Saiba Mais A Carta de Ottawa estabelece os princípios e as diretrizes para a promoção da saúde em nível global. O seu principal objetivo é definir estratégias e ações para promover a saúde e prevenir doenças, indo além do tradicional foco na assistência médica. Segue o link de acesso para saber mais sobre o assunto. CARTA DE OTTAWA PRIMEIRA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE. Ottawa, novembro de 1986. O seguinte artigo oferece uma análise aprofundada sobre o modelo biomédico, que tradicionalmente orienta a nossa compreensão do processo saúde-doença. BARROS, J.A.C. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo biomédico. O seguinte estudo busca compreender como são abordados os conceitos e as ideias relacionados à saúde e à doença desenvolvidos hoje e ao longo da história, fundamentados na perspectiva epidemiológica e antropológica. CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA AO LONGO DA HISTÓRIA SOB O OLHAR EPIDEMIOLÓGICO E ANTROPOLÓGICO. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf https://www.scielo.br/j/sausoc/a/4CrdKWzRTnHdwBhHPtjYGWb/ https://www.scielo.br/j/sausoc/a/4CrdKWzRTnHdwBhHPtjYGWb/ https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/conceitos-saude-doenca.pdf https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/conceitos-saude-doenca.pdf https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/conceitos-saude-doenca.pdf Referências Bibliográficas ALMEIDA FILHO, N. D.; ROUQUAYROL, M. Z. Modelos de saúde e doença. In: ALMEIDA FILHO, N. D.; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. BARROS, J. A. C. Pensando o processo saúde doença: a que responde o modelo biomédico? Saúde e Sociedade, v. 11, n. 1, p. 67–84, 2002. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/sausoc/v11n1/08. Acesso em: 26 jan. 2024. CZERINA, D.; FREITAS, C. M. (Orgs). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. NARVAI, P. C. et al. Práticas de saúde pública. In: Saúde pública: bases conceituais. São Paulo: Atheneu, 2008, p. 269-297. OMS. Organização Mundial da Saúde. Carta de Ottawa. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE, 1., Ottawa, 1986. Anais… Ottawa: OMS, 1986. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf. Acesso em: 10 jan. 2024. PAIM, J.S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. Rouquayrol: epidemiologia & saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. SOLHA, R. K. T. Sistema único de saúde: componentes, diretrizes e políticas públicas. São Paulo: Érica, 2014. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf. WHO. World Health Organization. Health promotion evaluation: recommendations to policy-makers. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe, 1998. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/108116/1/E60706.pdf. Acesso em: 04 jan. 2024. Aula 2 HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS História Natural das Doenças Seja bem-vindo à disciplina de Saúde Pública! Você está convidado a participar de uma videoaula que vai explorar temas no campo da saúde e prevenção. Vamos aprofundar o nosso conhecimento? http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/108116/1/E60706.pdf. Ponto de Partida Nesta aula, vamos abordar as Fases da História Natural da Doença, bem como explorar os Fatores de Risco e Proteção. Adentraremos no universo dos elementos que impactam a probabilidade de doenças, examinando exemplos práticos. Aprenderemos a identificar e mitigar riscos, fortalecendo os fatores de proteção para promover o bem-estar geral. Além disso, discutiremos os Modelos de Leavell e Clark, apresentando um modelo conceitual que incorpora três níveis de prevenção (primário, secundário, terciário). Entenderemos como esse modelo amplia a nossa visão sobre saúde, indo além da mera abordagem da doença para incluir a promoção ativa da saúde. Estamos prestes a mergulhar em conceitos fundamentais que contribuirão significativamente para a compreensão e promoção da saúde em sua totalidade. Vamos Começar! A busca por explicações causais no processo saúde-doença conduziu à formulação da História Natural das Doenças, também conhecida como modelo processual dos fenômenos patológicos. Em 1976, Leavell e Clark consolidaram esse modelo ao definir a história natural da doença como o conjunto de processos interativos que desencadeiam o estímulo patológico no ambiente, passando pela resposta do organismo ao estímulo, até as alterações que resultam em defeito, invalidez, recuperação ou morte (LEAVELL; CLARK, 1976; APUD ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2002). O propósito do modelo é monitorar o processo saúde-doença em sua regularidade, considerando as inter-relações entre o agente causador da doença, o hospedeiro e o ambiente, bem como o desenvolvimento da doença. Essa sistematização contribui para a compreensão dos diferentes métodos de prevenção e controle de doenças. Siga em Frente... O sistema da história natural das doenças possui uma dimensão predominantemente qualitativa, dividindo o ciclo do processo saúde- doença em dois momentos sequenciais: o pré-patogênico e o patogênico. O primeiro, também conhecido como período epidemiológico, aborda a interação entre os fatores do agente, do hospedeiro e do meio ambiente. O segundo ocorre quando o indivíduo entra em contato com um estímulo externo, manifesta sinais e sintomas, e busca tratamento. O período pré-patogênico permite ações de promoção da saúdee proteção específica, enquanto o período patogênico abrange a prevenção secundária e terciária. A proposta de sistematização no modelo da História Natural das Doenças influenciou a estruturação do cuidado em diversos níveis de complexidade, considerando variações em termos de recursos e intervenções. Ao contemplar a perspectiva de evitar óbitos, esse modelo apresenta diversas oportunidades de prevenção e promoção da saúde, incluindo a interrupção da transmissão, a prevenção de casos e a promoção de uma vida com qualidade. Um modelo que descreve as fases que um processo saúde-doença pode percorrer desde o seu início até o desfecho, abrangendo diferentes estágios. As principais fases da História Natural da Doença são (ROUQUAYROL; GURGEL, 2018): Fase Pré-patogênica (ou Período Epidemiológico): ocorre a interação entre os fatores do agente causador da doença, do hospedeiro (indivíduo suscetível) e do ambiente. O objetivo é identificar e entender os elementos que podem levar ao surgimento de uma doença antes mesmo de ela se manifestar clinicamente. Ações de promoção da saúde e proteção específica são realizadas durante essa fase para prevenir o desenvolvimento da doença. Fase Patogênica: inicia quando o agente causador interage com um hospedeiro suscetível, resultando na manifestação de sinais e sintomas. O período patogênico pode ser subdividido em estágios, como o período de incubação, o período prodromal (início dos sintomas) e o período clínico (manifestação completa da doença). Durante essa fase, intervenções de prevenção secundária (diagnóstico precoce e tratamento) e prevenção terciária (reabilitação e prevenção de complicações) são realizadas. Fase de Resolução ou Desfecho: envolve o desfecho do processo saúde-doença, que pode incluir recuperação total, sequelas, invalidez, cronicidade ou óbito. Ações de reabilitação e prevenção de complicações são frequentemente implementadas nessa fase. É importante destacar que nem todos os processos saúde-doença seguem rigidamente essas fases. Esse modelo é uma ferramenta conceitual que ajuda a compreender e abordar a dinâmica de diferentes condições de saúde. Além disso, intervenções podem ser implementadas em várias fases para influenciar o curso da doença e melhorar os desfechos para os indivíduos e comunidades. O modelo de Leavell e Clark categoriza a prevenção em três níveis: primário, secundário e terciário. No nível primário, que sustenta a existência de uma prevenção primária, destaca-se a promoção da saúde como uma das estratégias. É relevante destacar que, nesse modelo, a ênfase central está na prevenção da doença. Portanto, o modelo aborda, na realidade, a doença e não a saúde. A promoção da saúde, mencionada, está relacionada à abordagem positiva da saúde e não ao oposto da doença. Prevenção primária refere-se às medidas adotadas para eliminar causas e fatores de risco relacionados a um problema de saúde, tanto em nível individual quanto populacional, antes que uma condição clínica se desenvolva. Inclui iniciativas de promoção da saúde e ações específicas de proteção, como imunização e orientações sobre atividade física para reduzir a probabilidade de desenvolvimento de certas condições, como a obesidade, por exemplo. Prevenção secundária envolve a identificação de um problema de saúde em estágio inicial, muitas vezes quando ainda está subclínico, em um indivíduo ou na população. Essa abordagem facilita o diagnóstico precoce, o tratamento eficaz e a redução ou prevenção da disseminação do problema, minimizando os efeitos de longo prazo. Exemplos incluem programas de rastreamento e diagnóstico precoce. Prevenção terciária consiste em ações destinadas a reduzir os danos funcionais decorrentes de um problema agudo ou crônico em um indivíduo ou na população. Isso abrange atividades de reabilitação, como a prevenção de complicações associadas a certas condições, como diabetes ou a reabilitação de pacientes após um infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Prevenção quaternária, conforme definido pelo dicionário da World Organization of Family Doctors (WONCA), refere-se à identificação de indivíduos em risco de intervenções, diagnósticos e/ou tratamentos excessivos, visando protegê-los de intervenções médicas desnecessárias e sugerir alternativas eticamente aceitáveis. Vamos Exercitar? Vamos aprender sobre os fatores de risco e prevenção? Os fatores de risco e proteção são elementos que influenciam a probabilidade de ocorrência de determinados eventos, como o desenvolvimento de doenças ou a promoção da saúde. Eles desempenham papéis cruciais na compreensão e na intervenção em questões relacionadas ao bem-estar. Fatores de Risco: são características ou condições associadas ao aumento da probabilidade de ocorrerem eventos adversos. Exemplos incluem hábitos tabagistas, dieta inadequada, sedentarismo, exposição a substâncias tóxicas e predisposição genética. Identificar e mitigar fatores de risco é essencial para a prevenção de doenças e promoção da saúde. Fatores de Proteção: são elementos que reduzem a probabilidade de ocorrência de eventos adversos. Exemplos incluem alimentação saudável, prática regular de exercícios físicos, acesso adequado à educação e apoio social. Reforçar os fatores de proteção é fundamental para fortalecer a resiliência e o bem-estar geral. A compreensão desses fatores é fundamental para orientar estratégias de intervenção em saúde, visando a minimização dos riscos e o fortalecimento dos elementos que contribuem para uma vida saudável. A abordagem integrada considera tanto a redução de fatores de risco quanto o reforço de fatores de proteção, promovendo uma visão holística do cuidado e prevenção em saúde. Saiba Mais O objetivo do seguinte artigo é verificar a prevalência de fatores de risco e proteção para doenças crônicas em idosos rurais num município do RS. Fatores de risco e proteção para o desenvolvimento de doenças crônicas em população idosa rural do Rio Grande do Sul. Faça a leitura do texto de Paulo Sabroza, “Concepções de saúde e doença”, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (2004), e procure identificar como o autor aborda as dimensões da complexidade do processo saúde-doença. Leia o texto de Paulo Buss, “Promoção da saúde e qualidade de vida”, publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva (2000). Referências Bibliográficas ALMEIDA FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Modelos de saúde- doença: introdução à epidemiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Medci Ed., 2002. p. 27-64. CZERESNIA, D.; FREITAS, C.M. (Org.) Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2003. PAIM, J.S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. Rouquayrol: epidemiologia & saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. SOLHA, R. K. T. Sistema único de saúde: componentes, diretrizes e políticas públicas. São Paulo: Érica, 2014. Aula 3 https://www.scielo.br/j/rbgg/a/Lc6DxLh7nVrJS9SHPzVQpmK/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Fatores%20de%20risco%20considerados%3A%20h%C3%A1bito,hortali%C3%A7as%20e%20preven%C3%A7%C3%A3o%20de%20c%C3%A2ncer https://www.scielo.br/j/rbgg/a/Lc6DxLh7nVrJS9SHPzVQpmK/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Fatores%20de%20risco%20considerados%3A%20h%C3%A1bito,hortali%C3%A7as%20e%20preven%C3%A7%C3%A3o%20de%20c%C3%A2ncer https://www.scielo.br/j/rbgg/a/Lc6DxLh7nVrJS9SHPzVQpmK/?format=pdf&lang=pt#:~:text=Fatores%20de%20risco%20considerados%3A%20h%C3%A1bito,hortali%C3%A7as%20e%20preven%C3%A7%C3%A3o%20de%20c%C3%A2ncer http://www.abrasco.org.br/UserFiles/File/13%20CNS/%20SABROZA%20P%20ConcepcoesSaudeDoenca.pdf http://www.abrasco.org.br/UserFiles/File/13%20CNS/%20SABROZA%20P%20ConcepcoesSaudeDoenca.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v5n1/7087.pdf http://www.scielo.br/pdf/csc/v5n1/7087.pdf DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE- DOENÇA Determinação Social do Processo Saúde-Doença Seja bem-vindo à disciplina de Saúde Pública! O Modelo Social de Saúde propõe uma abordagemampla, reconhecendo que a saúde é determinada por fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais. Vamos explorar juntos como esses determinantes moldam a saúde e como podemos promover mudanças efetivas para o bem-estar das comunidades. Não perca esta oportunidade de aprofundar o seu entendimento sobre os determinantes sociais da saúde! Ponto de Partida Nesta videoaula, abordaremos a influência dos determinantes sociais na saúde, destacando a sua moldagem social pela epidemiologia. A evolução do conceito de saúde, de uma visão mecânica para uma compreensão abrangente pela OMS em 1948, é explorada, junto aos modelos de determinação social de Laframbroise, Tarlov e o brasileiro de Dahlgren e Whitehead. Analisa-se como vários determinantes sociais, como gradiente social, estresse, infância, rede social vs. exclusão social, trabalho vs. desemprego e suporte social, impactam diretamente na saúde, representando desafios na saúde coletiva. O destaque é para o Modelo Social de Saúde, indo além da visão biomédica, enfatizando os determinantes sociais na promoção da saúde. Vamos Começar! A saúde, a doença e o cuidado são determinados socialmente, variando conforme os tempos, os lugares e as culturas, o que implica dizer que a organização das ações e serviços de saúde e das redes de apoio social precisa ser planejada e gerida de acordo com as necessidades da população de um dado território (CRUZ, 2011). O processo saúde-doença é um conceito central da proposta de epidemiologia social, que procura caracterizar a saúde e a doença como componentes integrados de modo dinâmico nas condições concretas de vida das pessoas e dos diversos grupos sociais; cada situação de saúde específica, individual ou coletiva, é o resultado, em dado momento, de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. A ênfase, nesse caso, está no estudo da estrutura socioeconômica, a fim de explicar o processo saúde-doença de maneira histórica, mais abrangente, tornando a epidemiologia um dos instrumentos de transformação social (ROUQUAYROL, 1993) O conceito de saúde vem sofrendo mudanças, por ter sido definido como “estado de ausência de doenças”; foi redefinido em 1948, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, passando de uma visão mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-doença (CRUZ, 2011). Desde a década de 1970, há uma crescente preocupação em compreender os fatores que influenciam a saúde ou a perda dela. O modelo holístico de Laframbroise, originado no Canadá em 1976, propôs que o estilo de vida, as condutas de saúde, a biologia humana, o meio ambiente e a assistência sanitária constituem fatores determinantes da saúde (LAFRAMBROISE, 1976). No final da década de 1990, Tarlov introduziu um modelo que abrange cinco níveis de determinação social da doença, indo do nível individual ao coletivo (TARLOV, 1999): Biológico, físico e psíquico; Estilo de vida; Determinantes ambientais e comunitários (família, escola, emprego e outros); Determinantes ambientais físicos, climáticos e de contaminação ambiental; Estrutura macrossocial, política e percepção populacional. Segundo o autor, a assistência à saúde não é vista como determinante da saúde, mas sim como uma estratégia reparadora (TARLOV, 1999). Atualmente, o modelo de Dahlgren e Whitehead é o mais estudado no Brasil, estabelecendo níveis de determinantes que vão do individual ao macrossocial. Wilkinson e Marmot (2003) dividem os determinantes sociais em: Gradiente social: a expectativa de vida é menor e as doenças são mais comuns quanto mais baixa fora posição na escala social em cada sociedade. Estresse: circunstâncias estressantes fazem com que as pessoas se sintam preocupadas, ansiosas e inábeis para enfrentar tais problemas. Contínua ansiedade, insegurança e baixa autoestima, isolamento social e baixo controle sobre a vida têm poderosos efeitos sobre a saúde e podem levar a morte prematura. Infância: um bom início de vida é importante para o desenvolvimento nos anos seguintes da vida. A pobreza durante a gestação pode ter consequências para o desenvolvimento fetal devido à carência nutricional, estresse materno e inadequado cuidado pré-natal. Rede social x exclusão social: os desempregados, os de grupos étnicos minoritários, os subempregados, os deficientes físicos, os refugiados e os desabrigados tendem a viver em estresse constante e têm alto risco de morte prematura. Trabalho x desemprego: segurança no emprego melhora a saúde, o bem-estar e a satisfação. Altas taxas de desemprego causam mais doenças e mortes prematuras. Suporte social: relações de amizade, boas relações sociais e redes fortes de apoio em casa, no trabalho e na comunidade aumentam a saúde. Comportamentos ou escolhas pessoais: hábitos inadequados de saúde, muitas vezes influenciados pelo ambiente social. Os determinantes sociais são importantes para entender como a saúde é sensível ao ambiente social e funcionam como um elemento de justiça social, sendo assim um importante desafio da saúde coletiva. Siga em Frente... Diante das concepções teóricas, a compreensão da determinação social do adoecimento deve ser transformada em ações efetivas para melhorar a situação de saúde nas populações. Isso implica na necessidade de diminuir as disparidades sociais, mitigar a exposição a fatores de risco, reduzir a vulnerabilidade biológica e social de grupos específicos e, por meio da assistência, atenuar os danos ou consequências dos determinantes (CEBALLOS, 2015). O esquema de Dahlgren e Whitehead apresenta os diferentes níveis de determinação social, desde a camada mais externa, na qual visualizamos as condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais, até a mais proximal ao indivíduo, correspondendo aos fatores hereditários e outras características pessoais, como idade e sexo. O modelo de Dahlgren e Whitehead (Figura 1), ao incorporar os Determinantes Sociais de Saúde, organiza-se em diversas camadas, desde aquelas mais próximas dos determinantes individuais até as mais distantes, nas quais se encontram os macrodeterminantes. Na base do modelo estão os indivíduos, com as suas características individuais, como idade, sexo e fatores genéticos. Na camada imediatamente externa, destacam-se o comportamento e os estilos de vida individuais. A camada seguinte ressalta a influência das redes comunitárias e de apoio. No nível subsequente, são representados os fatores ligados às condições de vida e de trabalho, incluindo disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação. Por fim, no último nível, situam-se os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, exercendo significativa influência sobre as demais camadas (FIOCRUZ, 2008). Figura 1 | Modelo de determinação social de saúde proposto por Dahlgren e Whitehead. Fonte: DAHLGRE; WHITEHEAD apud SUCUPIRA et al., 2014. Esse modelo de determinação considera os diversos fatores que contribuem para a saúde dos indivíduos e das populações. Na camada mais externa da imagem, as condições socioeconômicas atuariam sobre a saúde da população de forma que os níveis de renda e de riqueza determinariam melhor ou pior saúde. O Modelo Social de Saúde é uma abordagem conceitual que vai além da visão tradicional centrada na medicina e nos cuidados clínicos para entender a saúde e a doença. Esse modelo reconhece que fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais desempenham um papel crucial na determinação do estado de saúde de uma população. Ao contrário do modelo biomédico, que se concentra principalmente nos aspectos biológicos e patológicos, o Modelo Social de Saúde destaca a importância dos determinantes sociais da saúde. Isso inclui fatores como condições socioeconômicas, educação, emprego, moradia, acesso a serviços de saúde e outros elementos que influenciam a qualidade de vida e as disparidades de saúde. O ModeloSocial de Saúde enfatiza a necessidade de abordagens interdisciplinares e intervenções que vão além do âmbito puramente clínico. Ele destaca a importância de políticas públicas, educação, equidade social e justiça para melhorar as condições de saúde em comunidades e sociedades. Esse modelo busca promover a saúde não apenas tratando doenças, mas também abordando as causas subjacentes que afetam a saúde de forma mais ampla. Vamos Exercitar? A equipe de saúde em atuação no processo saúde doença. Ao oferecer assistência a indivíduos, famílias ou comunidades, é fundamental considerar quem são os usuários, como se apresentam em situações de necessidade de saúde, bem como os seus direitos, deveres, valores e prerrogativas. Reconhecendo a complexidade do ser humano, que é biopsicossocial e espiritual, é importante notar que uma única definição não pode abranger completamente a sua individualidade e singularidade. Profissionais de saúde adquirem conhecimento sobre a estrutura e função humanas por meio do estudo de diversas disciplinas, como anatomia, fisiologia, psicologia, sociologia, patologia, além de diferentes abordagens e interações profissionais com indivíduos, famílias e comunidades. O ambiente desempenha um papel significativo na vida das pessoas, influenciando-as de diversas maneiras. Por exemplo, uma família numerosa vivendo em um único cômodo provavelmente enfrentará conflitos e problemas que impactarão a sua saúde mental. Da mesma forma, habitar em um ambiente úmido e insalubre pode resultar em doenças, como bronquite, tuberculose, entre outras. Esses são apenas alguns exemplos das diversas maneiras pelas quais o ambiente pode afetar a saúde. Você já havia feito essa reflexão sobre a atuação do profissional no processo saúde doença? Saiba Mais A questão da qualidade de vida associa-se quase de forma imediata à saúde. Para além dos fatores médicos, existem outros que afetam ou influenciam de forma determinante a saúde dos indivíduos. Este artigo aborda os determinantes de saúde no Brasil. CARRAPATO, P.; CORREIA, P.; GARCIA, B. Determinante da saúde no Brasil: a procura da equidade na saúde. Saúde Soc. São Paulo, v.26, n.3, p.676-689, 2017. Este texto foi organizado a partir de um conjunto de conceitos sobre o processo saúde doença, questões históricas e o papel da equipe ao atuar no processo saúde doença. VIANNA, L. A. C. Determinantes Sociais de Saúde: processo saúde doença. https://www.scielo.br/j/sausoc/a/PyjhWH9gBP96Wqsr9M5TxJs/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/sausoc/a/PyjhWH9gBP96Wqsr9M5TxJs/?format=pdf&lang=pt https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/pab/7/unidades_conteudos/unidade05/unidade05.pdf No capítulo 2, do livro indicado a seguir, você terá acesso a um conteúdo muito valoroso sobre Epidemiologia, História Natural, Determinação Social, Prevenção de Doenças e Promoção da Saúde. ROUQUAYROL, M. Z.; GURGEL, M. Rouquayrol - Epidemiologia e saúde. MedBook Editora, 2017. E-book. ISBN 9786557830000. Referências Bibliográficas CEBALLOS, A. G. C. Modelos conceituais de saúde, determinação social do processo saúde e doença, promoção da saúde. Albanita Gomes da Costa Ceballos. – Recife: [s.n.], 2015. 20 p. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3332/1/2mod_conc_sa ude_2016.pdf. Acesso em: 07 jan. 2024. CRUZ, M.M. Concepção de saúde-doença e o cuidado em saúde. In: GONDIM, R.; GRABOIS, V.; MENDES JUNIOR, W.V. (org.). Qualificação dos Gestores do SUS. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz/ENSP/EAD; 2011. p.21-33. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/cfc-193774. Acesso em: 10 jan. 2024. COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE. Introdução. In: As causas sociais das iniqüidades em saúde no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008, pp. 17-21. ISBN: 978-85-7541-591-7. Disponível em: http://books.scielo.org/id/bwb4z/epub/comissao- 9788575415917.epub. Acesso em: 10 jan. 2024. SUCUPIRA, A. C. S. L. et al. Social Determinants of Health among children aged between 5 and 9 years within the urban area, Sobral, Ceará, Brazil. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 17, p. 160-177, 2014. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830000/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830000/ https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3332/1/2mod_conc_saude_2016.pdf https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/3332/1/2mod_conc_saude_2016.pdf https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/cfc-193774 http://books.scielo.org/id/bwb4z/epub/comissao-9788575415917.epub.%20Acesso http://books.scielo.org/id/bwb4z/epub/comissao-9788575415917.epub.%20Acesso TARLOV, A. R. Public policy frameworks for Improving population health. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 896, p. 281-293, 1999. WILKINSON, R.; MARMOT, M. (Eds.). Social determinants of health: the solid facts. 2. ed. Compenhagem: WHO, 2003. PAIM, J.S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. Rouquayrol: epidemiologia & saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. SOLHA, R. K. T. Sistema único de saúde: componentes, diretrizes e políticas públicas. São Paulo: Érica, 2014. Aula 4 EDUCAÇÃO EM SAÚDE Educação em Saúde Seja bem-vindo à disciplina de Saúde Pública! Ao explorar esta videolaula, você terá a chance de refletir sobre as abordagens pedagógicas, o processo educativo nas práticas de saúde e a educação em e para saúde e no contexto das ações da Saúde Pública. O nosso objetivo central será apresentar os conceitos fundamentais desses temas e contextualizá-los em situações que se relacionam com a sua rotina como profissional de saúde na Atenção Básica, desempenhando o papel de educador. Ponto de Partida Nesta videoaula, abordaremos a definição do Ministério da Saúde sobre educação em saúde como processo educativo para construir conhecimentos, visando a apropriação pela população. Destacaremos a importância das ações, envolvendo profissionais e gestores comprometidos com prevenção, e a população em busca de autonomia. Abordaremos a educação continuada e permanente no trabalho em saúde, explorando o termo "educação para a saúde" e contrastando com a educação popular em saúde. No cenário atual, enfatizaremos a necessidade de transição do modelo centrado na doença para um mais abrangente, priorizando a promoção e a prevenção. Destacaremos a importância da educação em saúde participativa para alcançar esse objetivo. Vamos Começar! O Ministério da Saúde define educação em saúde como: processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população [...]. Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades. As ações de educação em saúde abrangem três grupos de participantes prioritários: profissionais de saúde que reconhecem a importância da prevenção e promoção, além das práticas curativas; gestores que oferecem apoio a esses profissionais; e a população, que busca construir conhecimentos e ampliar a sua autonomia nos cuidados, tanto individualmente quanto de forma coletiva. A educação em saúde como processo político pedagógico requer o desenvolvimento de um pensar crítico e reflexivo, permitindo desvelar a realidade e propor ações transformadoras que levem o indivíduo à sua autonomia e emancipação como sujeito histórico e social, capaz de propor e opinar nas decisões de saúde para cuidar de si, de sua família e de sua coletividade (MACHADO, 2007). Para melhor compreensão faz-se necessário o entendimento da história da saúde pública no Brasil. A partir da década de 1940, ocorreu a expansão da medicina preventiva para algumas regiões do país com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Este apresentava estratégias de educação em saúde autoritárias, tecnicistas e biologicistas, em que as classes populares eramvistas e tratadas como passivas e incapazes de iniciativas próprias (VASCONCELOS, 2001). As ações do Estado se davam por meio das chamadas campanhas sanitárias. Temos duas modalidades de educação no trabalho em saúde: a educação continuada e a educação permanente. A educação continuada abrange as atividades educacionais realizadas após a conclusão da graduação, com uma duração predefinida e frequentemente utilizando metodologias tradicionais, como programas de pós-graduação. Já a educação permanente é estruturada com base nas necessidades do processo de trabalho e incorpora de maneira inclusiva a abordagem crítica no ambiente laboral. Siga em Frente... A educação permanente engloba iniciativas educativas fundamentadas na análise crítica do processo de trabalho em saúde. O seu objetivo principal é promover a transformação das práticas profissionais e da estrutura organizacional do trabalho. Isso é realizado considerando as necessidades de saúde individuais e populacionais, a reestruturação da gestão setorial e a ampliação das conexões entre a formação e o envolvimento no controle social em saúde (BRASIL, 2009). Educação para a saúde é um termo frequentemente utilizado nos serviços de saúde, implicando uma abordagem mais verticalizada dos métodos e práticas educativas. Essa abordagem lembra o conceito de "educação bancária" proposto por Paulo Freire (1987), sugerindo que os profissionais de saúde têm a responsabilidade de instruir uma população considerada como ignorante sobre as práticas necessárias para promover mudanças nos hábitos de vida, visando aprimorar a saúde tanto individual quanto coletiva. A abordagem da educação popular em saúde se diferencia da abordagem hegemônica da educação em saúde. Ela se organiza a partir da interação com diversos sujeitos no ambiente comunitário, dando destaque aos movimentos sociais locais. Essa abordagem compreende a saúde como uma prática social e global, orientada pelos interesses ético-políticos das classes populares. A educação popular em saúde se fundamenta no diálogo com os conhecimentos prévios dos usuários dos serviços de saúde, considerando seus saberes "populares", e na análise crítica da realidade. Ao analisarmos o panorama atual, torna-se evidente a urgência de complementar o modelo vigente de atenção assistencialista. Este, centrado na doença, excessivamente especializado e predominantemente hospitalar, precisa evoluir para um modelo mais abrangente. O novo modelo deve priorizar a promoção da saúde e a prevenção de agravos, incorporando a educação em saúde de maneira participativa e dialógica. Vamos Exercitar? No contexto brasileiro, destaca-se Paulo Freire como o representante mais notável da abordagem sociocultural (FREIRE, 1987). Nessa perspectiva, compreende-se que o ser humano não pode ser dissociado de seu contexto; ele é o protagonista de sua própria formação e evolução, envolvendo a reflexão contínua sobre a sua posição no mundo e a sua realidade. Essa conscientização é fundamental para o processo individual de construção de conhecimento ao longo da vida, estabelecendo uma relação intrínseca entre pensamento e prática. O objetivo é alcançar a consciência crítica, uma transferência do entendimento do mundo concreto e imediato para a percepção subjetiva da realidade, num processo de relações complexas e flexíveis ao longo da história. Saiba Mais O propósito deste caderno é apresentar os principais conceitos desses temas e trazer situações que os aproximam do seu dia a dia como profissional de saúde da Atenção Básica com o papel de educador. MAREGA, A. G. MACHADO; WANDERLEY, L. C. S. Educação Permanente em Saúde na ação das Equipes de Saúde da Família. Para saber mais sobre o tema apresentado nesta aula, leia a Portaria nº 198/GM/MS, de 13 de fevereiro de 2004, que instituiu a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. A Portaria nº 1.996/GM/MS dispõe sobre novas diretrizes e estratégias para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. Referências Bibliográficas https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/unidade09/unidade09.pdf https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/unidade09/unidade09.pdf http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/GM/GM-198.htm http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Portaria_1996-de_20_de_agostode-2007.pdf BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Câmara de Regulação do Trabalho em Saúde. Brasília: MS; 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009. FREIRE P. Pedagogia do oprimido. 17ª Edição. São Paulo: Paz e Terra; 1987. MACHADO, M.F.A.S., MONTEIRO, E.M.L.M., QUEIROZ, D.T., VIEIRA, N.F.C., & Barroso, M.G.T. (2007). Integralidade, formação de saúde, educação em saúde e as propostas do SUS - uma revisão conceitual. Ciência & Saúde Coletiva, 12(2), 335-342. VASCONCELOS, E. M. Participação popular e educação nos primórdios da saúde pública brasileira. In: E. M. Vasconcelos (Org.). A saúde nas palavras e nos gestos: reflexões da Rede de Educação Popular nos Serviços de Saúde. São Paulo: Editora Hucitec, 2001. PAIM, J.S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde Coletiva: teoria e prática. 1. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2014. ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. Rouquayrol: epidemiologia & saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. SOLHA, R. K. T. Sistema único de saúde: componentes, diretrizes e políticas públicas. São Paulo: Érica, 2014. Encerramento da Unidade HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS E DETERMINAÇÃO SOCIAL DO PROCESSO SAÚDE- DOENÇA Videoaula de Encerramento Nesta aula, exploramos a evolução histórica das concepções sobre Saúde e Doença. Analisamos a História Natural das Doenças, desde a exposição a fatores de risco até o desfecho clínico. Em seguida estudamos sobre a Determinação Social do Processo Saúde- Doença, destacando como fatores sociais, econômicos e culturais impactam a saúde. Discutimos a Educação em Saúde, realçando o seu importante papel na promoção da saúde e prevenção de doenças, com ênfase em capacitar indivíduos e comunidades diante dos determinantes sociais. Compreendemos a complexidade e a importância de uma abordagem holística para a saúde. Ponto de Chegada Exploramos dois temas fundamentais: "História Natural das Doenças" e "Determinação Social do Processo Saúde-Doença". Iniciamos a nossa jornada com uma análise dos Aspectos Históricos e Concepções sobre a Saúde e a Doença, compreendendo a evolução desses conceitos ao longo do tempo. Em seguida, mergulhamos na História Natural das Doenças, examinando a progressão dos eventos desde a exposição a fatores de risco até o desfecho clínico. A segunda parte de nossa aula abordou a Determinação Social do Processo Saúde-Doença, destacando como os fatores sociais, econômicos, culturais e ambientais influenciam diretamente a saúde das populações. Analisamos a interação dinâmica entre esses determinantes, considerando o seu impacto nas condições de vida e no bem-estar. Por fim, dedicamos um espaço à Educação em Saúde, discutindo o seu papel crucial na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Exploraremos estratégias para capacitar indivíduos e comunidades, proporcionando autonomia e conscientização sobre os determinantes sociais que moldam o nosso estado de saúde. É Hora de Praticar! Imagine que na sua atuação como profissional da saúde, se deparando com famílias em que as mulheres carecem de instrução, estão em idade fértil e algumas encontram-se grávidas, como assegurar uma assistência adequada à mãe e ao bebê, considerando que não costumam realizar as suas consultas pré- natal? Reflita a. O que significa ter saúde? O que contribui para que as pessoas tenham saúde? b. O que significa estar doente? O que favorece o adoecimentodas pessoas? c. O que você faz quando adoece? O que significa para você ser cuidado? d. Como os trabalhadores de saúde interferem no processo saúde-doença das pessoas? Resolução do estudo de caso Temos na situação acima famílias em situação de vulnerabilidade, e as evidências mostram que esses grupos têm maior risco de adoecimento e de mortalidade. Elas não podem receber o mesmo tratamento dado a famílias com alto grau de instrução e de renda, ao contrário, devem receber maior atenção das equipes de saúde. Certamente essas famílias deveriam receber visitas domiciliares, em vez de a equipe aguardá-las nos serviços, bem como receber maior atenção da gestão, a qual deve ser responsável por articular ações intersetoriais que garantam a cidadania e o bem-estar dessas pessoas. Dê o play! Assimile A Lei 8080/90, também conhecida como Lei Orgânica da Saúde, é um marco na legislação brasileira que estabelece as diretrizes para a organização do Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre seus dispositivos, o Artigo 3º assume uma posição central ao abordar os determinantes sociais da saúde. O texto do Artigo 3º ressalta que os níveis de saúde de uma população refletem a estrutura social e econômica do país. A saúde é apresentada como um fenômeno complexo, influenciado por diversos fatores que vão além da assistência médica. Nesse contexto, a lei destaca explicitamente os determinantes e condicionantes que moldam a saúde da população. A alimentação, por exemplo, é apontada como um fator crucial para a saúde. A qualidade e a adequação da alimentação têm impactos diretos na prevenção de doenças e na promoção do bem-estar. Da mesma forma, a moradia e o saneamento básico são fundamentais para prevenir condições adversas à saúde, como doenças relacionadas à falta de infraestrutura adequada. O meio ambiente é considerado um determinante da saúde, reconhecendo que a qualidade do ambiente em que as pessoas vivem afeta diretamente o seu estado de saúde. A exposição a poluentes, a preservação dos recursos naturais e a mitigação dos riscos ambientais são, portanto, contempladas na legislação. Além disso, a Lei 8080/90 abrange aspectos relacionados ao trabalho, renda, educação, atividade física, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais. Essa abordagem ampla reflete a compreensão de que a saúde é resultante de uma multiplicidade de fatores inter-relacionados. Consequentemente, intervenções eficazes na promoção da saúde devem abordar não apenas a assistência médica, mas também as condições sociais que moldam o contexto de vida das pessoas. Em síntese, o Artigo 3º da Lei 8080/90 destaca a visão integrada da saúde, reconhecendo-a como um reflexo das condições sociais, econômicas e ambientais. Essa perspectiva embasa a atuação do SUS na promoção da saúde, reforçando a importância de políticas públicas que abordem os determinantes sociais para alcançar resultados significativos na melhoria da saúde da população brasileira. Determinantes Sociais de Saúde na Lei 8080/90. Fonte: Elaborado pela autora. Referências BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde. Câmara de Regulação do Trabalho em Saúde. Brasília: MS; 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2009.