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FERIDAS E COBERTURAS PROF. ENF. JOÃO VICTOR CASTRO Introdução A pele tem várias funções, como por exemplo: • proteger o organismo contra a ação de agentes externos (físicos, químicos e biológicos) • impedir a perda excessiva de líquidos • manter a temperatura corporal • sintetizar a vitamina D • agir como órgão dos sentidos Quando ocorre a descontinuidade do tecido epitelial, das mucosas ou de órgãos, as funções básicas de proteção da pele são comprometidas. A ferida resultante dessa descontinuidade pode ser causada por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica, trauma, e por fatores intrínsecos, como as produzidas por infecção. Os profissionais que prestam cuidado ao paciente devem estar capacitados para realizar uma avaliação efetiva das feridas. A cicatrização é um processo fisiológico e dinâmico que busca restaurar a continuidade dos tecidos. Conhecer a fisiopatologia da cicatrização e os fatores que podem acelerá-la ou retardá-la proporciona uma melhor avaliação e a escolha do tratamento mais adequado Características das feridas As feridas podem ser classificadas quanto à causa, ao conteúdo microbiano, ao tipo de cicatrização, ao grau de abertura e ao tempo de duração. Quanto à causa, as feridas podem ser: cirúrgicas, feridas provocadas intencionalmente, mediante: Incisão: quando não há perda de tecido e as bordas são geral- mente fechadas por sutura; Excisão: quando há remoção de uma área de pele (por exemplo, área doadora de enxerto); Punção: quando resultam de procedimentos terapêuticos diagnósticos (por exemplo, cateterismo cardíaco, punção de subclávia, biópsia, entre outros). • Traumáticas, feridas provocadas acidentalmente por agente: Mecânico: contenção, perfuração ou corte; Químico: iodo, cosméticos, ácido sulfúrico etc.; Físico: frio, calor ou radiação. • Ulcerativas, feridas escavadas, circunscritas na pele (formadas por necrose, sequestração do tecido), resultantes de traumatismo ou doenças relacionadas com o impedimento do suprimento sanguíneo. As úlceras de pele representam uma categoria de feridas que incluem úlceras por pressão, de estase venosa, arteriais e diabéticas. Quanto ao conteúdo microbiano, as feridas podem ser: Limpas, feridas em condições assépticas, sem micro- organismos; • Limpas contaminadas, feridas com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atendimento, sem contaminação significativa; • Contaminadas, feridas ocorridas com tempo maior que 6 horas entre o trauma e o atendimento, sem sinal de infecção; Infectadas, feridas com presença de agente infeccioso no local e com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo conter pus. Quanto ao tipo de cicatrização, as feridas podem ser: De cicatrização por primeira intenção, feridas fechadas cirurgicamente com requisitos de assepsia e sutura das bordas; nelas não há perda de tecidos e as bordas da pele e/ou seus componentes ficam justapostos; • De cicatrização por segunda intenção, feridas em que há perda de tecidos e as bordas da pele ficam distantes; nelas a cicatrização é mais lenta do que nas de primeira intenção; • De cicatrização por terceira intenção, feridas corrigidas cirurgicamente após a formação de tecido de granulação, ou para controle da infecção, a fim de que apresentem melhores resulta- dos funcionais e estéticos. Quanto ao grau de abertura, as feridas podem ser: • Abertas, feridas em que as bordas da pele estão afastadas; • Fechadas, feridas em que as bordas da pele estão justapostas. Fisiologia do processo cicatricial A pele, quando lesada, inicia imediatamente uma série de fases sobre- postas, denominada cicatrização. A cicatrização ocorre por meio de um processo dinâmico, interdependente, contínuo e complexo, cuja finalidade é restaurar os tecidos lesados. Este processo é composto pelas seguintes fases: inflamatória, proliferativa e de maturação. AVALIAÇÃO DA FERIDA Na classificação de diagnósticos de enfermagem da NANDA –I (2009- 2011), no domínio 11, denominado segurança e proteção, na classe 2, são apontados os seguintes diagnósticos a serem estabelecidos em situações de lesões físicas definidas como dano ou ferimento ao organismo: a) integridade da pele prejudicada; b) integridade tissular prejudicada; c) risco de integridade da pele prejudicada. Os princípios do conceito clínico são baseados no manejo local de feri-das estagnadas ou que não cicatrizam, a partir de desbridamento, manejo do exsudato e resolução do desequilíbrio bacteriano. A sistematização do tratamento de feridas ocorre por meio de ações simples que visam remover as barreiras que impedem a cicatrização. Essas barreiras são expressas na palavra TIME, onde cada letra significa uma barreira a ser removida da lesão. AVALIANDO A FERIDA • Localização; • Tempo; • Exsudato; • Odor; • Borda; • Tamanho; • Leito da ferida; • Pele ao redor; e, • Definindo o tipo de curativo e cobertura. T (Tecido inviável) Para o preparo da ferida, é necessário avaliar as condições do tecido. Se ele estiver inviável, necrótico ou deficiente, é recomendável realizar o desbridamento, que pode ser instrumental, autolítico, enzimático, mecânico ou biológico. O desbridamento tem a finalidade de remover o tecido desvitalizado, restaurar a base da ferida e da matriz extracelular e obter tecido viável no leito da ferida. I (Infecção ou inflamação) Trata-se aqui do tecido com alta conta gembacteriana ou inflamação prolongada, com número elevado de citocinas inflamatórias. Atividade das proteases e baixa atividade dos fatores de crescimento são prejudiciais para a cicatrização. Nessa situação, é necessário realizar a limpeza da ferida e avaliar as condições tópicas sistêmicas e o uso de anti-inflamatórios e antimicrobianos. M (Manutenção da umidade) Para que ocorra a cicatrização, é necessário o equilíbrio da umidade da ferida. Enquanto o leito da ferida ressecado ocasiona uma migração lenta das células epiteliais, o excesso de exsudato também é prejudicial, pois pode provocar maceração da margem e da pele perilesional. Nessas condições, é preciso estimular a migração das células epiteliais, para evitar ressecamento e maceração, e controlar o edema e o excesso de fluidos. E (Epitelização das bordas) É a situação em que, no processo de cicatrização, há progressão da cobertura epitelial a partir das bordas. Quando não há migração de queratinócitos, as células da ferida não respondem; há matriz extracelular, mas a atividade das proteases é anormal. Nesse caso, deve-se avaliar todo o processo, observando as causas e optando por uma das terapias corretivas, que poderá ser desbridamento do tecido morto, enxerto de pele no local, uso de agentes biológicos e terapias adjuntas. ASPECTOS RELEVANTES NO TRATAMENTO DE FERIDAS • Fatores individuais do paciente; • Recursos materiais e humanos; • Indicação, contra- indicação e custo; • Fornecimento de explicações claras sobre o tratamento; • Promoção da participação do paciente e/ou familiar no processo de tratamento; • Orientação para o paciente sobre a importância do acompanhamento com o(os) profissionais de vínculo na Unidade de Saúde; • Estimular o auto cuidado, quando possível. Avaliação das condições clínicas Todo paciente deve ser avaliado de forma ampla, uma vez que um paciente descompensado clinicamente terá um processo de cicatrização mais difícil. Apresentam-se a seguir os fatores a serem considerados: • Idade: é um dos aspectos sistêmicos mais importantes, um cofator de risco tanto para o surgimento de lesões, como para a sua manutenção, já que ela interfere no funcionamento de todos os sistemas fisiológicos corporais. A idade avançada está associada a uma sériede alterações nutricionais, metabólicas, vasculares e imunológicas e, muitas vezes, às doenças crônicas, que tornam o indivíduo mais suscetível ao trauma e à infecção. rados nesta avaliação. • Estado nutricional: as proteínas são fundamentais para todos os aspectos da cicatrização, desde a síntese de colágeno e a proliferação epidérmica, até a neovascularização. Destacam-se os seguintes nutrientes: • vitamina A: essencial à formação e manutenção da integridade do tecido epitelial; • vitaminas do complexo B: necessárias para a efetiva ligação cruzada entre as fibras colágenas, para a função linfocitária e a produção de anticorpos; • vitamina C: essencial para a hidroxilação da lisina e da prolina no processo de síntese de colágeno. É importante, também, para a produção de fibroblastos e para a integridade capilar; • oligoelementos, como zinco, ferro, cobre e manganês: necessários para a formação do colágeno; • água: o mais importante nutriente; corresponde a cerca de 55% do peso corporal e compõe todas as atividades celulares e funções fisiológicas. • Imobilidade: é um fator que limita e reduz a cicatrização da ferida, por diminuir o aporte sanguíneo e aumentar o risco de isquemia tecidual. Vascularização: a oxigenação e perfusão tissular são condições essenciais para a manutenção da integridade e sucesso na reparação tissular. Indivíduos portadores de insuficiência arterial ou venosa podem desenvolver ulcerações distais que tendem à cronificação. O tabagismo também é um componente importante na ocorrência da hipóxia, devido à ação vasoconstritora da nicotina. Condições sistêmicas: uma das mais importantes é o diabetes mellitus, que reduz a resposta inflamatória e aumenta o risco de infecção. Já a neuropatia diminui a percepção sensorial, aumentando o risco para o desenvolvimento de feridas. A insuficiência renal, por sua vez, interfere na manutenção da pressão arterial, no equilíbrio hidroeletrolítico e no processo de coagulação. Além dessas, existem outras condições sistêmicas, como as doenças reumatológica, hepática, neurológica, intestinal, hematológica, que, por mecanismos diretos ou indiretos, influenciam negativamente no processo de reparação tissular ou predispõem o indivíduo a riscos maiores de desenvolvimento de feridas. Cuidados na realização de curativos O curativo é um dos tratamentos utilizados para promover a cicatrização da ferida e proporcionar um meio adequado ao processo de cicatrização. Para ocorrer a reparação tecidual e a cicatrização, é funda- mental que o processo de limpeza seja realizado de modo adequado. Portanto, é necessário atenção e conhecimento dos profissionais de saúde para a escolha do curativo mais adequado às características de cada ferida. Entre os objetivos e cuidados, incluem-se: • proporcionar conforto e higiene ao paciente; • promover a cicatrização; • proteger a ferida para prevenir infecções; • tornar a ferida impermeável a bactérias; • manter a área limpa; • permitir a troca gasosa; • manter a umidade entre a ferida e o curativo para acelerar a epitelização; • diminuir a dor do paciente; • remover o excesso de exsudato, evitando maceração dos teci- dos próximos; • fornecer isolamento térmico da ferida; • realizar a remoção do curativo sem traumas; • fazer bom uso dos meios e recursos disponíveis. MATERIAIS PRINCIPAIS FINALIDADES DOS CURATIVOS • Manter Leito da ferida umedecido; • Remover o excesso de exsudação; • Permitir a troca gasosa; • Fornecer isolamento térmico; • Ser impermeável às bactérias; • Estar isento de partículas e tóxicos contaminadores de ferida; • Permitir a retirada sem provocar trauma; • Promove cicatrização. PRINCÍPIOS GERAIS PARA LIMPEZA E TROCA DE CURATIVO • Utilizar sempre material esterilizado; • Se as gazes estiverem aderidas na ferida, umedecê-las antes de retirá- las; • Se houver mais de uma ferida, iniciar pela menos contaminada; • Feridas em fase de granulação realizar a limpeza com soro fisiológico em jatos; • Realizar os curativos contaminados com S.F 0,9 % aquecido (T= ± 36,0° C); • A aplicação de ataduras deve ser realizada no sentido da circulação venosa, com o membro apoiado. COBERTURAS O QUE É: • Toda substância ou material aplicado sobre a ferida formando uma barreira física. QUANTO AO DESEMPENHO: • Passivas: protegem e cobrem; • Interativas: mantém o ambiente úmido facilitam a cicatrização; • Bioativas: estimulam a cicatrização. QUANTO AO DESEMPENHO: • Primárias: diretamente sobre a ferida; • Secundárias: colocadas sobre cobertura primária CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE COBERTURA • Aspectos da Ferida; • Localização da ferida; • Tamanho da ferida; • Profundidade da ferida; • Conforto do paciente; • Custo/Efetividade; • Mobilidade do paciente. Orientações para feridas abertas • Lavar a ferida com soro fisiológico morno em forma de jato. Utilizar torundas apenas para limpeza da pele circundante. Na presença de tecido desvitalizado, solicitar a avaliação da enfermeira para desbridamento. Colocar no leito da ferida (cobertura primária) gaze não aderente (atadura de rayon) ou gaze, ambas umedecidas com soro fisiológico. Após, utilizar, como cobertura secundária, gazes secas e fixá-las com adesivo microporoso hipoalergênico. Orientações para feridas infectadas • Limpar primeiramente a pele circundante e, após, a ferida, seguindo a mesma orientação do curativo em feridas abertas. • Organizar a unidade do paciente. • Desprezar material conforme rotina. • Retirar as luvas (quando forem utilizadas). • Higienizar as mãos. • Registrar o procedimento no prontuário, descrevendo a presença ou não de exsudado ou características, aspecto do leito da ferida, condições da pele, evolução da ferida e as reações do paciente à terapêutica. São vantagens do meio úmido: Evitar traumas; • Reduzir a dor; • Manter a temperatura; • Remover tecido necrótico; • Impedir a formação de esfacelos; • Estimular a formação de tecido viável; • Promover maior vascularização Desbridamento O desbridamento envolve a remoção de tecido não viável e de bactérias, para permitir a regeneração do tecido saudável subjacente. Durante o procedimento, é necessário evitar danos ao tecido de granulação. O desbridamento pode ser efetuado através de técnica cirúrgica, mecânica, enzimática ou autolítica. Cada procedimento possui vantagens, desvantagens e indicações para o seu uso. A combinação das técnicas pode ser o método mais eficaz. Para definir a melhor conduta, cada caso deve ser avaliado. Tipos de desbridamento: Desbridamento cirúrgico: remoção do tecido necrótico por meio de procedimento cirúrgico. Deve-se desbridar a ferida que apresentar necrose de coagulação (caracterizada pela presença de crosta preta ou es-cura) ou necrose de liquefação (caracterizada pela presença de tecido amarelo/esverdeado). O desbridamento só deve ser realizado por profissional qualificado da medicina ou da enfermagem. Técnica de square Técnica de square: utilização de lâmina de bisturi para realizar peque- nos quadradinhos (2 mm a 0,5 cm) no tecido necrótico, que posterior- mente podem ser delicadamente removidos da ferida, um a um, sem risco de comprometimento tecidual mais profundo. Esta técnica também pode ser utilizada para facilitar a penetração de substâncias desbridantes no tecido necrótico. Desbridamento enzimático: aplicação tópica de enzimas desbridantes diretamente no tecido necrótico. A escolha da enzima depende do tipo de tecido existente. Aplica-se somente nas áreas com tecido necrótico. Exemplo: papaína. Desbridamento autolítico ou autólise: utiliza as enzimas do próprio corpo para a destruição do tecido desvitalizado. A utilizaçãode coberturas primárias promove um meio úmido adequado, estimula a migração leucocitária e a ação das enzimas (proteases, colagenases) no leito da ferida sobre a necrose. O desbridamento autolítico está indicado para todos os tipos de necroses, inclusive para pacientes que não suportam ou têm contraindicação para utilização de outros tipos de desbridamento. No entanto, é considerado o método mais lento. CURATIVOS E COBERTURAS Tela de silicone Composição Composto por película de silicone suave unida a uma rede de poliamida elástica, transparente e atraumática. Ação Estrutura porosa permite ao exsudato passar para um curativo absorvente externo; Previne que o curativo fique aderido à ferida. Indicação e Benefício Feridas crônicas em geral, queimaduras, ulcerações, fixação de enxerto Minimiza risco de maceração das bordas da ferida. Contraindicação Não possui contraindicação. Aplicação e troca Remover o filme de proteção; Aplicar sobre a ferida mantendo alguns centímetros sobre a pele íntegra; Aplicar o curativo secundário estéril; Avaliação diária para troca de curativo; Presença de secreção - trocar curativo secundário e irrigar com SF morno; Presença de tecido de granulação - trocar o curativo secundário e se o curativo estiver limpo, manter, podendo permanecer até 7 dias sem retirar e lavá-lo. Tela de silicone Malha impregnada com parafina Composição Curativo estéril composto por gaze de algodão impregnada com parafina; Apresentação individual em cartela ou rolo. Ação Protege a lesão evitando a aderência e impedindo a desidratação do tecido de granulação. Indicação e Benefício Queimaduras e escaldaduras, áreas doadoras e receptoras de enxerto, lacerações e abrasões e úlceras de perna; Protege e possibilita a passagem de exsudato para a cobertura secundária, pode ser recortado para tamanho adequado. Contraindicação Não possui contraindicação. Aplicação e troca Aplicar o curativo sobre o leito da lesão; Ocluir com cobertura secundária estéril de gaze, compressa seca ou outro tipo de cobertura adequada; Trocar curativo secundário sempre que estiver saturado; Primário a cada 24hs em lesões infectadas; Primário a cada 48-72hs nas demais lesões; Nunca deixar a gaze parafinada secar no leito da ferida. Ácidos graxos essenciais (AGE) Composição Óleo vegetal composto por ácido linoléico, ácido caprílico, ácido cáprico, vitamina A, E e lecitina de soja. Ação Promove angiogênese, mantém meio úmido e acelera processo de granulação; Pode ser usado em qualquer período de cicatrização; Auxilia o desbridamento autolítico; Promove formação de película protetora quando aplicado em pele íntegra. Indicação e Benefício Tratamento de feridas abertas com ou sem infecção; Prevenção de úlceras por pressão. Contraindicação Não possui contraindicação, a não ser caso de hipersensibilidade. Aplicação e troca Aplicar em gaze estéril que entrará em contato direto com a lesão e umedecer com soro, seguido de curativo oclusivo com gaze estéril seca; O curativo deve ser trocado sempre que a cobertura secundária estiver saturada, ou em 24hs no máximo. Gel hidroativo Composição Gel transparente composto por água, carboximetilcelulose (CMC) e propilenoglicol (PPG). Ação Promove desbridamento autolítico; Mantém meio úmido ideal; Favorece angiogênese. Indicação e Benefício Contribui na remoção de tecidos de necrose, de coagulação, utilizar em feridas com pouco exsudato; Feridas limpas, superficiais como laceração e cortes; Áreas doadoras e receptoras de enxerto; Úlceras diabéticas, por pressão, úlceras em MMII (arteriais, venosas e mistas). Contraindicação Não utilizar em pele íntegra, incisões cirúrgicas fechadas, feridas com muito exsudato, feridas colonizadas por fungos. Aplicação e troca Aplicar o gel com espátula no local desejado; Ferida infectada e/ou com necrose trocar o curativo no máximo em 24hs; Necessita de cobertura secundária. Hidrocolóide Composição Placa: camada externa de poliuretano, camada interna de partículas hidroativas compostas por CMC, Gelatina e Pectina; Pasta: partículas hidrocolóides naturais. Ação Em contato com o exsudato forma gel hidrofílico que mantém o meio úmido; Estimula a angiogênese e desbridamento autolítico. Acelera processo de granulação tecidual. Indicação e Benefício Prevenção e tratamento de feridas abertas não infectadas; Úlceras por pressão não infectadas; Pouca ou moderada exsudação. Contraindicação Feridas infectadas, tecido desvitalizado e queimaduras de 3° grau; Aplicação e troca Na utilização da placa, aplicar segurando pelas bordas e pressionar as bordas massageando a placa; Na utilização da pasta, preencher depressões na ferida aplicando com auxílio de espátula; A placa pode permanecer até 7 dias. Sulfadiazina de prata Composição Sulfadiazina de prata 1% hidrofílico. Ação Exerce ação bactericida e bacteriostática residual pelas pequenas pequenas quantidade de prata iônica; Impermeável a fluídos e microrganismos. Indicação e Benefício Utilizada em queimaduras, lesões infectadas ou com tecido necrótico. Contraindicação Hipersensibilidade ao produto. Aplicação e troca Utilizar somente com indicação e prescrição médica; Aplicar camada fina do produto, colocar gaze de contato umedecida com SF 0,9% e cobrir com cobertura secundária estéril; Permanece no máximo 12hs ou quando saturar. *Cuidado: o uso indiscriminado de sulfadiazina de prata pode causar citotoxidade e levar a resistência microbiana. Membranas ou Filmes semipermeáveis Composição Filme de poliuretano, transparente , semipermeável, aderente a superfícies secas. Ação Mantém ambiente úmido e favorável a cicatrização, permeabilidade seletiva; Impermeável a fluídos e microrganismos. Indicação e Benefício Lesões superficiais de queimadura; Fixação de catéteres; Escoriações; Incisões cirúrgicas; Permite visualização direta da ferida; Não requer cobertura secundária. Contraindicação Feridas com muito exsudato, infectadas e em caso de hipersensibilidade. Aplicação e troca A troca deve ser realizada quando a membrana perder sua transparência, ou em sinais de infecção; A membrana pode permanecer até 7 dias; Pode ser utilizado como curativo secundário. Escoriação Escoriação Fixação de cateter Úlcera venosa Fibras de Alginato de Cálcio Composição Sais de polímero natural, o ácido algínico derivado de algas marinhas; Apresentação em placa ou fita. Ação Promove hemostasia e a granulação, absorve exsudato, mantém leito umedecido e auxilia o desbridamento autolítico. Indicação e Benefício Feridas exsudativas com ou sem sangramento, cavitárias com ou sem infecção; Auxilia no desbridamento autolítico; Hemostático; Diminui exsudação e odor. Contraindicação Feridas superficiais com pouco exsudato, queimaduras. Aplicação e troca Irrigar o local com SF 0,9% morno em jato; Realizar desbridamento se necessário; Modelar o produto no interior da lesão umedecendo a o produto com SF 0,9% morno; Não ultrapassar as bordas da lesão; Cobertura secundária (tela de silicone, hidrocolóide); Troca a cada 24hs em feridas infectadas; Troca a cada 48hs em feridas exsudativas ou até saturar. Ferida oncológica Carvão Ativado com Prata Composição Carvão ativado impregnado com prata 0,15% envolto por película de nylon. Ação Filtra odor e possui ação bactericida e bacteriostática, diminui odor e exsudação. Indicação e Benefício Feridas infectadas ou colonizadas, exsudativas com ou sem necrose e odor. Contraindicação Feridas limpas e lesões por queimaduras, exposição óssea e de tendões. Aplicação e troca Colocar a cobertura sobre a ferida e ocluir com curativo secundário estéril; *Importante: a cobertura de carvão ativado não pode ser cortada. Trocar cobertura a cada 48 a 72hs dependendo da absorção, se ferida sem infecção a troca deverá ser feita de 3 a 7 dias; Trocar cobertura secundária sempre que estiver saturada; Requer curativo secundário. Papaína Composição Complexode enzimas proteolíticas; 10% - feridas com necrose; 6%- feridas com necrose de liquefação; 2%- utilizado em tecido de granulação; Apresenta-se em pó ou gel. Ação Desbridamento químico, ação bactericida e bacteriostática, acelera o processo cicatricial, promove granulação e epitelização. Indicação e Benefício Feridas abertas secas ou exsudativas, ferida colonizada ou infectada; tecido desvitalizado, necrótico, feridas com tecido de granulação. Contraindicação Contato com metais devido poder de oxidação, tempo prolongado de preparo devido a instabilidade da enzima. Aplicação e troca Aplicar no tecido necrosado fina camada de papaína ocluir com curativo secundário; A troca do curativo deve ser realizada no máximo a cada 24 hs de acordo com a saturação do curativo secundário. *A validade é conforme fabricante, deve-se manter na geladeira e não manipular com objetos metálicos. TIPO DE COBERTURA INDICAÇÕES CARACTERÍSTICAS Gaze + soro fisiológico Limpeza simples Não ideal para manter umidade Gaze vaselinada Feridas secas Mantém umidade, pouco absorvente Espumas de poliuretano Feridas exsudativas Alta absorção, conforto térmico Alginato de cálcio Exsudato abundante Estimula hemostasia Hidrocolóide Feridas limpas e pouco exsudativas Autoadesivo, mantém umidade, favorece autólise Hidrogel Feridas secas ou com necrose Hidrata, ideal para desbridamento Films de poliuretano (filme transparente) Prevenção de LPP, pequenas feridas Permite troca gasosa, visualização da ferida Carvão ativado com prata Feridas infectadas ou fétidas Controle de odor e infecção Colagenase Feridas com necrose Enzima que promove desbridamento químico Curativos com prata Infecção ou risco de infecção Ação antimicrobiana potente Registro da evolução das feridas É responsabilidade da equipe de saúde proporcionar e manter um ambiente terapêutico para o paciente durante as 24 horas do dia, o que inclui garantir a qualidade e continuidade dos registros, devido a suas implicações assistenciais e legais. A descrição da ferida e das condutas adotadas qualifica a assistência ao paciente, permitindo um acompanhamento preciso da evolução da ferida por todos os membros da equipe de saúde. Ele também serve de parâmetro para propor novas condutas objetivando a cicatrização. Para planejar e prescrever a assistência ao paciente, é necessário avaliar diariamente e fazer um bom diagnóstico das características da ferida. Os registros devem traduzir o máximo de conhecimento sobre as condições de saúde do paciente, incluindo informações referentes tanto aos procedimentos quanto às necessidades e queixas dos mesmos. Os registros devem ter uma linguagem objetiva e mensurável, sendo fundamental que as informações permitam acompanhar a evolução das feridas. Assim, eles devem incluir: • Tipo de ferida – informar a causa da ferida: cirúrgica, traumática ou ulcerativa. Se for úlcera por pressão, classificar seu estágio de acordo com a Classificação por Estágios das Úlceras por Pressão. • Tempo de duração da ferida e sua origem - essa informação permite classificar a ferida em aguda ou crônica, bem como estabelecer se a origem foi comunitária ou hospitalar. Localização da ferida - descrever a região anatômica acometi- da, o que permite a localização precisa da ferida. Dimensão da ferida - medir os bordos da ferida, registrando altura, largura e profundidade, em centímetros, utilizando a régua descartável. • Tipo de tecido - descrever o tipo de tecido do leito da ferida, se existe infecção, como é o meio (umidade) e a epitelização dos bordos (TIME). • Características do exsudato - registrar o aspecto, a quantidade ou a ausência de exsudato. Pele perilesão - registrar o aspecto e as condições da pele perilesional. • Descrição do procedimento - descrever o aspecto do curativo, a técnica de limpeza e a cobertura escolhida para o leito da ferida e para a proteção dos bordos. • Previsão de troca do curativo - registrar a periodicidade da próxima troca e incluir na prescrição de enfermagem. • Dor ou queixas do paciente em relação ao procedimento - registrar se a analgesia prescrita está adequada, se está sendo possível realizar a limpeza da ferida com desconforto tolerável para o paciente, e demais queixas do paciente. VALORES (em média) DOS MATERIAIS • Gaze: R$ 1,26 a R$ 1,75; • Frasco soro SF0,9% 100ml: R$ 3,50 a R$ 3,67; • Atadura crepe: 10 cm: R$ 1,04 a R$ 3,09; 15 cm: R$ 1,78 a R$ 4,55; 20 cm: R$ 2,51 a R$ 5,23; • Micropore: R$ 3,79 a R$ 5,80; • Esparadrapo: R$ 2,50 a R$ 5,10. VALORES (em média) COBERTURA • Tela de silicone: R$ 273,13 a R$ 1.252,76 conforme a variação de tamanho e quantidade. • Malha impregnada com parafina: R$ 4,50 a unidade (R$ 120,00 a R$ 470,00 conforme a variação do tamanho e quantidade). • Ácidos graxos essenciais: R$ 13,49 a R$ 41,70 frasco de 200 mL. • Gel hidroativo: R$ 49,90 a R$ 65,91. • Curativo Hidrocoloide: R$ 12,37 a R$ 155,04, conforme a variação do tamanho da placa (10 X 10 cm, 15 X20 cm, 20 X 20 cm). VALORES (em média) COBERTURA • Sulfadizina de prata: R$ 10,67 a R$ 35,32 (tubo); • Membranas ou filmes semipermeáveis: (10 cm x 2 m) = R$98,91 • Fibras de alginato de cálcio: R$ 12,37 a R$ 229,14 conforme a variação de tamanho e quantidade. • Carvão ativado com prata: R$ 239,09 a R$ 669,41 conforme a variação de tamanho e quantidade. • Papaína: R$ 40,61 a R$ 55,15 conforme quantidade. • Seção de Terapia Hiberbárica: R$ 320,00 (em Uberaba). REFERÊNCIAS • GLENN, L. Feridas: Novas abordagens, manejo clínico e atlas em cores. 2. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2012. • JORGE, S.; DANTAS, S. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Editora Atheneu, 2003. • PRAZERES,S.J. Tratamento de Feridas: Teoria e Prática. Porto Alegre: Editora Moriá, 2009.