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AÇÃO PENAL Prof. Nestor Távora 1. CONCEITO Segundo Ada Pelegrini, a ação nada mais é do que um direito público e subjetivo constitucionalmente assegurado (art. 5°, XXXV, CF), de exigir do estado juiz a aplicação da lei ao caso concreto, para a solução da demanda penal. Para Ovídio Batista, o direito penal constitucionalmente assegurado é o da justa e adequada prestação jurisdicional num prazo razoável, e a ação é o que fazemos para obtê-lo. (Ação exercida – Fredie Didier). Nesse contexto, segundo Renato Montans, a ação em verdade é um poder jurídico de demandar na expectativa de obter o provimento jurisdicional. Obs.: para Jacinto Miranda Coutinho, o conceito tradicional de lide é inaplicável a esfera penal, já que acusação e defesa tem o mesmo interesse, qual seja, a justa e adequada prestação jurisdicional. CONCLUSÃO: percebe- se que o objeto do processo penal é a demanda (crise penal), caracterizada na imputação apresentada na inicial acusatória. 2. CONDIÇÕES DA AÇÃO 2.1 CONCEITO São as condições necessárias para o desenvolvimento regular da ação penal. 2.2 ESPÉCIES/MODALIDADES I- Condições genéricas da ação: são aquelas aplicáveis a toda e qualquer ação penal, quais sejam: LI P Legitimidade "ad causam" Interesse de agir Possibilidade jurídica do pedido Legitimidade “ad causam”: segundo Alfredo Buzaid, nada mais é do que a pertinência subjetiva da ação, delineando no polo ativo o titular do direito e no polo passivo o imputado. Obs.: TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO: na imputação de crime ambiental a pessoa jurídica, deve o ministério público também denunciar a pessoa física responsável pela ordem, em verdadeira dupla imputação. Mas recentemente, a primeira do STF, em acordão da relatoria da ministra Rosa Weber, quebrou a regra da dupla imputação, reconhecendo a condenação específica da PJ, mesmo sem detectar a pessoa física responsável pela ordem. Interesse de agir: é a necessidade de bater as portas do judiciário, utilizando um provimento adequado e almejando um resultado útil à situação do agente. Desdobramentos jurídicos: a) Interesse necessidade: segundo Eugênio Pacelli, a necessidade é presumida, já que a sanção penal pressupõe o devido processo legal, e a imposição jurisdicional. Obs.: a exceção ao interesse necessidade é encontrada no estatuto do índio, onde a sanção pode ser imposta pelo chefe tribal. b) Interesse adequação: nas ações de viés condenatório o interesse adequação não tem relevância, já que a ação penal tem um pedido genérico de aplicação de sanção e perfil único. ADVERTÊNCIA: vale lembrar que nas ações não condenatórias a adequação ganha destaque, notadamente na seleção entre o habeas corpus e o mandado de segurança já que o primeiro é inadequado quando inexistir risco, mesmo que remoto, a liberdade de locomoção. (Súmulas, 693, 694 e 695 do STF). c) Interesse utilidade: ele se caracteriza pela possibilidade de atendimento da pretensão acusatória com a esperança, mesmo que remota, da aplicação de sanção. Obs.: PRESCRIÇÃO VIRTUAL/HIPOTÉTICA/EM PERSPECTIVA: segundo a procuradoria geral de justiça do MP de SP, deve o promotor antes de oferecer a denúncia virtualizar qual será a provável pena aplicável numa futura sentença condenatória, se ele concluir que pela pena concreta ocorrerá prescrição retroativa (em face de verdadeira hipótese idealizada por ele) é sinal que a ação é inútil faltando interesse de agir e ao invés de denúncia deve ser requerido o arquivamento do inquérito. Contudo, por força da lei 12.234/10, alterando o §1° do art. 110 do CP, não é mais possível contar a prescrição retroativamente com base na pena aplicada na sentença entre a consumação do fato e o recebimento da denúncia. Ademais, com o avento da súmula 438 do STJ os tribunais superiores passaram a inadmitir a prescrição virtual, pois a especulação do ministério público não pode ser tolerada. Nada obstante, a nossa doutrina se insurgindo contra a jurisprudência e contra os processos inúteis continua defendendo a prescrição virtual, e o computo temporal para saber se o crime estará ou não prescrito seria do recebimento da denúncia a data da provável sentença condenatória. Possibilidade jurídica do pedido: deveremos trata-la primordialmente na análise do fato narrado na inicial, pois sendo ele atípico é sinal que a inicial deve ser rejeitada pela impossibilidade jurídica do pleito. Esta condição também se caracteriza quando o pedido estritamente considerado não encontra no ordenamento respaldo, como ocorre no pedido de prisão perpetua ou de pena de morte, ressalvada a hipótese de guerra declarada. Justa causa: é a necessidade de lastro probatório mínimo, dando sustentação a ação penal. Ação penal sem lastro é sinônimo de ação temerária. Obs.: DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA: a) Esfera penal: prevalece o entendimento de que a justa causa é uma quarta condição da ação. (Hélio Tornaghi). b) Esfera civil: prevalece o entendimento de que a justa causa não é tecnicamente uma condição da ação, e sim o requisito da própria construção da inicial. (Renato Montans). ADVERTÊNCIA: AUSÊNCIA DE QUALQUER DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO: 1° Situação: no momento da admissibilidade da inici al se as condições da ação não presentes ela deve ser rejeitada. (Art. 395, II, CPP). 2° Situação: aferição incidental ao processo: a) Para Eugenio Pacelli, em posição minoritária, deve o juiz invocar o art. 267, VI, CPC, reconhecendo a carência da açã4o e a extinção do feito. b) Para a doutrina penal, deve ser aplicado, por analogia, o inciso II do art. 564 do CPP, reconhecendo-se assim a nulidade absoluta do processo. Neste caso temos dois desdobramentos jurídicos: o processo reconhecido como nulo pode ser refeito, desde que o vício seja sanado; e havendo impedimento lógico a demanda pode não ser reinaugurada, como ocorre com a impossibilidade jurídica do pedido. c) Teoria da asserção: segundo Alexandre Freitas Camara, as condições da ação devem ser aferidas no momento da admissibilidade da inicial, e se não estiverem presentes a petição será rejeitada (art. 395, II, CPP). Todavia, se o magistrado entender que as condições da ação estão presentes a inicial será recebida e no curso do processo aquilo que outrora era mera condição da ação será analisado no mérito do causa, cabendo ao juiz condenar ou absolver o réu. II- Condições especificas da ação penal (condições de procedibilidade): o nosso legislador por um critério de coerência legislativa poderá exigir condições específicas para o exercício da ação penal, que tem o status de uma condição especial para determinado tipo de delito. # CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE X CONDIÇÕES DE PROSSEGUIBILIDADE: as condições de procedibilidade se caracterizam como condições especiais da ação, previamente exigidas, e sem as quais a inicial deve ser rejeitada. Já as condições de prosseguibilidade se caracterizam como requisitos legais para que o processo já instaurado possa prosseguir. É o que ocorre com a resposta escrita a acusação no procedimento ordinário (arts. 396 e 396-A do CPP), e com a necessidade incidental da representação na lesão leve e na lesão culposa nos processo em curso quando do advento da lei dos juizados especiais (arts. 88 e 91 da Lei 9099/95). 3. MODALIDADES DE AÇÃO 3.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA De acordo com o art. 129, I, CF, e com o art. 257, I, CPP é aquela titularizada privativamente pelo MP, caracterizando a estruturação do sistema acusatório. Obs1: PROCESSO JUDICIALIFORME: era a possibilidade de juízes, e até delegados, exercerem a ação penal sem provocação do MP. Atualmente, resta concluir, que o instituto não foi recepcionado (revogado tacitamente), já que o artigo 26 do CPP é incompatível com o artigo 129,I da CF. Obs2: INICIAL ACUSATÓRIA: é a denúncia (art. 41, CPP). 3.1.1 PRÍNCIPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA 1) Obrigatoriedade/compulsoriedade: por ele o exercício da ação pública é dever funcional inerente a atividade do ministério público. Obs.: PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE MITIGADA/ PRINCÍPIO DA DISCRICIONARIDADE REGREDA: nomenclatura do Tourinho Filho. Ele se apresenta por intermédio do instituto da transação penal (art. 76, Lei 9099/95), inaugurando a justiça consensual no Brasil, e ao invés da denúncia como única via teremos a proposta de uma medida alternativa, que se for aceita impede a deflagração regular do processo. ADVERTÊNCIA: COLABORAÇÃO PREMIADA: a celebração do acordo de colaboração será homologada pelo juiz, sendo que, se o colaborador não é o líder da facção criminosa admite-se inclusive que a denúncia não seja oferecida, mitigando-se o princípio da obrigatoriedade. Some-se a isso o fato do colaborador se o primeiro a colaborar (art. 4°, § 4°, da Lei 12.850/ 013). 2) Indisponibilidade: o MP não poderá desistir da ação deflagrada. (Art. 42, CPP). Obs1: de acordo com o art. 576, CPP os recursos ministeriais são indisponíveis, já que o recurso é um desdobramento do direito de ação. (Scarance Fernandes). ADVERTÊNCIA: os recursos contudo são essencialmente voluntários, e o MP assim como a defesa apresentaram recurso se for estratégico. Obs2: POSTURA DO MP: de acordo com o direcionamento constitucional, nada impede que o promotor requeira a absolvição, recorra em favor do réu, e até mesmo que impetre habeas corpus, o que não significa desistência da ação. Obs3: PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE MITIGADA: segundo Tourinho Filho, ele se apresenta por meio do instituto da suspenção condicional do processo, permitindo a paralização do feito por um período de 2 a 4 anos e se todas as obrigações forem cumpridas ocorrerá a extinção da punibilidade. 3) Indivisibilidade: segundo a doutrina majoritária a ação pública é indivisível já que o MP deve demandar todos aqueles que contribuíram para o delito e contra os quais exista justa causa. (Aspecto subjetivo do princípio da obrigatoriedade). Obs.: STF/STJ: PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE: para os tribunais superiores à ação pública é divisível por admitir desmembramento e complementação incidental, por meio do aditamento. Para a doutrina quando o aditamento da denúncia é realizado fortalecemos o entendimento de que todos devem ser processados, sendo mais adequado falarmos em indivisibilidade. 4) Intranscendência (ou pessoalidade): os efeitos da ação penal não poderão ultrapassar a figura do réu. Obs.: segundo Fernando Capez, deveremos elencar mais três princípio de regência da ação pública (princípios periféricos), quais sejam: 5) Autoritariedade: por ele a ação pública é titularizada por uma autoridade pública. 6) Oficialidade: por ele a ação pública será titularizada por um órgão oficial do Estado. ADVERTÊNCIA: para Hélio Tornaghi e Paganela Boshi, o mais adequado é falarmos em presentante do MP, já que o promotor corporifica a própria instituição. 7) Oficiosidade: como regra a ação pública deve ser exercida “ex officio”. 3.1.2 MODALIDADE DE AÇÃO PÚBLICA A) AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA: é aquela onde o interesse público é acentuado e a atividade persecutória independe da manifestação de vontade de terceiros. (Art. 100, CP). B) AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA: é aquela titularizada pelo MP, já que o interesse público também está presente, em menor intensidade, dependendo com tudo de uma prévia manifestação de vontade do legítimo interessado. Obs1: TELEOLOGIA (FINALIDADE): evitar o “Streptus Judici” (escândalo do processo). Obs2: DISCIPLINA NORMATIVA: para que o delito seja de ação pública condicionada é necessário referência expressa no tipo penal ou nas disposições gerais que regem aquele delito. (Art. 100, §1°, CP). 3.1.3 INSTITUTOS CONDICIONANTES - Representação: é o pedido e ao mesmo tempo a autorização que condiciona o início da persecução penal nas hipóteses legalmente exigidas. Obs.: percebe-se que sem representação não haverá ação, inquérito policial e nem mesmo lavratura de auto de flagrante. • Natureza jurídica: condição de procedibilidade. Vale dizer, é uma condição especial da ação. • Legitimidade: a) Destinatários: delegado, MP1 e juiz2. b) Ativa: ofendido (maior + capaz), ou representante legal. Obs1: A emancipação civil não tem reflexo na esfera penal e o emancipado representará por intermédio de um curador especial nomeado pelo juiz competente. Obs2: INÉRCIA DO REPRESENTANTE LEGAL: se o menor provoca o representante legal e ele se omite deixando transcorrer o prazo para a representação, existem duas posições quanto as consequências jurídicas: 1° posição: para Eugênio Pacelli e LFG, a omissão d o representante legal é fato gerador de decadência, ocasionando a extinção da punibilidade e o menor restaria desassistido. 2° posição: o entendimento prevalente é que a omiss ão do representante legal não impede a representação da vítima quando ele atingir dezoito anos, já que o prazo para representar não se inicia se o ofendido não possuía plena capacidade. ADVERTÊNCIA: não é necessário esperar a maioridade, já que pode ser nomeado antes 1 O MP poderá, a depender do conteúdo e da qualidade da representação, adotar uma das seguintes medidas: a) requisitar instauração de inquérito policial; b) instaurar PIC (procedimento investigativo criminal); c) oferecer denúncia se já existir justa causa, no prazo geral de 15 dias da provocação, já que o suspeito não está preso; e d) requerer o arquivamento da representação, ao entender que o fato é atípico, que inexistiu, e ainda se já estiver prescrito. 2 Tem duas alternativas: a) requisitar a instauração do inquérito policial (art. 5°, II, CPP); b) segundo a doutrina, e em homenagem ao sistema acusatório, é mais razoável que o juiz abra vistas ao MP, para que o promotor atue como entender adequado. disso um curador especial, que vai avaliar a conveniência da representação no caso concreto. (Art. 33, CPP). Obs3: MORTE OU AUSÊNCIA DA VÍTIMA: se a vítima falecer ou for declarada judicialmente ausente o direito de representar passa ai CADI. Obs4: PESSOA JURÍDICA: ela vai representar pelos indivíduos indicados no estatuto e se este é omisso a representação compete aos diretores ou aos sócios administradores. c) Prazo: 6 meses, contados do conhecimento da autoria do delito. A natureza jurídica é decadencial, ou seja, é um prazo fatal, não há suspensão, interrupção ou prorrogação. ADVERTÊNCIA: sendo a vítima menor o prazo para ela não se inicia enquanto não atingida a plena capacidade. Obs.: FORMA DE CONTAGEM: os institutos que influenciam no “jus puniendi” ou na liberdade do agente são regidos por prazos penais, como ocorre com a representação. (Art. 10, CP). Aula 6.2: 51:51
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