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A compra e venda é uma relação puramente obrigacional. A propriedade é adquirida pela tradição ou registro. A alienação fiduciária é uma exceção, pois a simples celebração do negócio implica em propriedade, contudo, propriedade resolúvel, que se extinguirá com o cumprimento do contrato. A propriedade fiduciária serve para garantir o negócio. Art. 1.361 do C.C./02 – Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. § 1o Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro. § 2o Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa. § 3o A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária. Compra e venda × Leasing – Arrendamento mercantil Através do leasing (arrendamento mercantil) Sob o ponto de vista concreto o leasing não passa de um contrato de compra e venda de uso. No contrato de compra e venda um entrega a coisa e a outra paga. No leasing um paga o uso e o outro entrega a coisa para uso e não o domínio. Na prática, o arrendatário tem o uso e não a propriedade. Ao final surgem três possibilidades para o arrendatário a) Extinguir o contrato; b) Renovar o contrato; c) Direito de compra a coisa mediante o pagamento de um preço (VRG). O VRG é o cálculo do Valor Residual Garantido. Ocorre que, no Brasil, devido à extinção do contrato e a renovação não ser interessante para a instituição financeira, o arrendante dilui o VRG, transmudando a natureza do contrato de leasing em compra e venda a prazo. Este não é o entendimento do STJ. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATOS JURÍDICOS CUMULADA COM CANCELAMENTO DE REGISTRO PÚBLICO. VENDA DE BEM. ASCENDENTE A DESCENDENTE. INTERPOSTA PESSOA. NEGÓCIO JURÍDICO ANULÁVEL. PRAZO DECADENCIAL DE 2 (DOIS) ANOS PARA ANULAR O ATO. 1. Ação declaratória de nulidade de atos jurídicos cumulada com cancelamento de registro público, por meio da qual se objetiva a desconstituição de venda realizada entre ascendente e descendente, sem o consentimento dos demais descendentes, em nítida inobservância ao art. 496 do CC/02. 2. Ação ajuizada em 09/02/2006. Recurso especial concluso ao gabinete em 03/04/2017. Julgamento: CPC/73. 3. O propósito recursal é definir se a venda de ascendente a descendente, por meio de interposta pessoa, é ato jurídico nulo ou anulável, bem como se está fulminada pela decadência a pretensão dos recorridos de desconstituição do referido ato. 4. Nos termos do art. 496 do CC/02, é anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. 5. O STJ, ao interpretar a norma inserta no artigo 496 do CC/02, perfilhou o entendimento de que a alienação de bens de ascendente a descendente, sem o consentimento dos demais, é ato jurídico anulável, cujo reconhecimento reclama: (i) a iniciativa da parte interessada; (ii) a ocorrência do fato jurídico, qual seja, a venda inquinada de inválida; (iii) a existência de relação de ascendência e descendência entre vendedor e comprador; (iv) a falta de consentimento de outros descendentes; e (v) a comprovação de simulação com o objetivo de dissimular doação ou pagamento de preço inferior ao valor de mercado. Precedentes. 6. Quando ocorrida a venda direta, não pairam dúvidas acerca do prazo Documento: 1920942 - Inteiro Teor do Acórdão - Site A lei permite a cumulação de pedido de cobrança com o despejo quando houver inadimplemento do locatário. Ao invés de contestar, é direito do locatário e do fiador purgar a mora, depositando o valor devido, acrescido de multa, juros, custas e honorários advocatícios, evitando-se a extinção do contrato de locação. Caso se constate que o valor não foi integral, será concedido prazo de 10 dias para o locatário complementar. CONSIGNAÇÃO DE ALUGUEL E ACESSÓRIOS DA LOCAÇÃO Ação que tem por objetivo pagamento judicial dos aluguéis e acessórios, em caso de mora do locador. Após a citação o autor terá 24 horas para realizar o depósito. É possível que o réu além da contestação apresente reconvenção com pedido de despejo e cobrança dos aluguéis. O autor poderá complementar o depósito após a citação, acrescido de 10%, além de arcar com as custas e honorários advocatícios. Matérias arguidas na contestação: O réu poderá arguir as seguintes matérias na contestação: a) não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida; b) ter sido justa a recusa; c) não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do pagamento; d) não ter sido o depósito integral; O réu poderá levantar os valores depositados. REVISIONAL É cabível nas locações residenciais e não residenciais. Apesar da lei declarar que será processada pelo rito sumário, o CPC/2015 aboliu este rito, devendo ser adotado o procedimento comum. Na petição inicial deve ser indicado o valor pretendido que não poderá ser superior a 80%, se proposta pelo locador, nem inferior a 80% se proposta pelo locatário. É possível a execução da diferença entre o valor provisoriamente arbitrado e o definitivo nos próprios autos. A contestação deverá ser apresentada na audiência de instrução e julgamento. VI - Empréstimo 1. Introdução O significado da palavra empréstimo tem sentido diverso daquele usado vulgarmente. Popularmente empréstimo é entregar um objeto a alguém por um prazo mais ou menos determinado para posterior restituição. Nem sempre se busca neste contrato algum benefício, embora em alguns casos isso aconteça como, por exemplo no mútuo feneratício. Empréstimo: é gênero e não tem natureza onerosa. Pode ser para: a) Uso: Comodato (art. 579 a 585); b) Consumo: mútuo (art. 586 a 592). 2. Comodato Origem (Washington de Barros): Commodum datum Se dava a coisa para cômodo e proveito de quem a recebia. 2.1 Conceito É o negócio jurídico por meio do qual o comodante transfere gratuitamente ao comodatário a posse de um bem infungível, assumindo este a obrigação de restituição posterior. O comodato é empréstimo gratuito de coisa infungível para o uso. Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. O comodato tem como objeto, em regra, bem infungível. O contrato de comodato só se aperfeiçoa com a entrega para o uso. 3. Características do comodato a) Real: exige-se a tradição da coisa para aperfeiçoar o contrato. Enquanto não entregue não há que se falar em comodato; b)Unilateral: somente uma das partes assume obrigações. O comodatário assume o dever de guarda e conservação da coisa, bem como o dever de restituí-la no final do contrato. c)Gratuito: o comodatário não responde por contraprestação; d) Fiduciário: é baseado na confiança e lealdade; e) Temporário: o comodato não é transmitido aos herdeiros; f) Personalíssimo: É intuito personae. A morte do comodatário extingue o comodato. g) Não solene: como regra, o comodato pode ser verbal, mesmo quando se tratar de comodato de imóvel. Tratando-se de bens de tutelados, curatelados e administrados o contrato será solene, pois necessita de autorização judicial; O comodato poder ser provado quanto a sua existência pode ser feita por qualquer meio de prova admitida em direito. Obs.: Comodato com encargo/ comodato modal É o comodato gravado com ônus. Ex.: empresto geladeira se colocar apenas cerveja fabricada por mim. 4. Prazo do comodato O contrato de comodato é essencialmente temporário. Se o comodato não fixar algum prazo é doação. O C.C./02 estabeleceu que o prazo deve ser determinado ou determinável. Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessáriopara o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado. Sendo o prazo determinado, não é possível que o c euomodante requeira a restituição antes do tempo. Enquanto não advier o termo não pode pedir a coisa de volta. Quando o comodato não tem prazo determinado, entende-se que o prazo do comodato é aquele necessário para o uso da coisa. Ex.: Silvio Rodrigues diz que o comodato de um barco para pescaria é o tempo da pesca. O tempo do comodato do material agrícola é o tempo da colheita. A jurisprudência do STJ vem entendendo que, se o comodato é por tempo determinado a mora é ex re (dispensa notificação). Se o tempo é determinável a mora é ex personae (exige notificação). A reintegração de posse do comodante depende de constituição em mora (notificação) somente no caso de comodato por tempo determinável. Retomada do bem antes do prazo Somente é possível que o comodante recupere a posse direta do bem antes do prazo, desde que seja reconhecido pelo juiz a necessidade imprevista e urgente. O que é necessidade urgente e imprevista é cláusula aberta, cabendo ao juiz analisar o caso concreto. 5.Partes e objeto 5.1 Partes a) Comodante: quem empresta a coisa; b) Comodatário: beneficiário, ou seja, quem pega emprestada a coisa. Obs.: precisa ser proprietário? Não, pois não há transferência de domínio. O usufrutuário, superficiário, enfiteuta, locatário etc pode ceder em comodato. Basta que se trate de possuidor direto ou indireto, sendo dispensada a titularidade. Não pode dar em comodato: Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua guarda. Neste caso falta aos tutores, curadores e em geral os administradores de bens legitimidade. 5.2 Objeto O objeto do comodato tem que ser infungível, ou seja, não se aceita a substituição por outra da mesma natureza, qualidade e quantidade independente de valor. Isso se deve em razão da necessidade de se restituir o bem. O bem deve ser infungível e inconsumível, pois deve haver a restituição. Ex.: empréstimo de livro pelo professor aos alunos. Exceção: comodatum ad pompam vel ostentationem. Comodato de bens para ornamentação. Ex.: arranjo de flores. 6. Direitos e obrigações das partes. 6.1 Obrigações do comodatário 1)Conservar a coisa se sua fosse; Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. Na verdade ele deve cuidar da coisa melhor do que as coisas dele. Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior. Tanto é verdade que ele deve salvar primeiro a coisa em comodato e depois as suas, sob pena de responder pelo dano ainda que decorrente de caso fortuito e força maior. 2)Não alterar a finalidade da coisa; Caso não utilize adequadamente a coisa causando algum dano, deverá indenizar. 6.2 Obrigações do comodante a) Aguardar a data da restituição; b) Não embaraçar o uso c) Receber a coisa de volta, sob pena de caracterizar a mora do comodante; d) Ressarcir as despesas extraordinárias. 7. Despesas O comodatário responde pelas despesas ordinárias da coisa, sem direito de repetição (recobrar). Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada. Esse artigo se refere às despesas ordinárias de conservação do bem e não as extraordinárias. Em relação às despesas extraordinárias, o comodante terá direito ao ressarcimento, sob pena de enriquecimento ilícito. No âmbito das benfeitorias o comodatário só poderá reter o bem por benfeitorias necessárias. Não terá direito às indenizações por benfeitorias úteis e voluptuárias. O comodatário tem direito à retenção até que seja indenizado. 7. Extinção do contrato de comodato 7.1 Pelo decurso do prazo ou quando esgotada a finalidade da utilização. 7.2 Resolução ou resilição 7.3 Destruição total ou parcial do bem Se for parcial pode ser que ainda haja interesse no comodato. Se houver culpa do comodatário deverá indenizar as perdas e danos. 7.4 Morte das partes Falecendo o comodatário está extinto, pois é contrato intuitu personae. Entretanto, se foi em benefício deste poderá o contrato ser mantido. Ex.: empresto imóvel para morar com a esposa. Ex.: empresto trator para ajudar o vizinho na colheita e ele morre. A família não precisa devolver antes da colheita. Se a morte for do comodante os herdeiros terão que respeitar o prazo do comodato. 3. Mútuo: Consiste no empréstimo de bem fungível. 1. Conceito É um negócio jurídico por meio do qual o mutuante transfere propriedade de um bem fungível ao mutuário, que se obriga a restituir coisa do mesmo gênero, quantidade e qualidade. Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Ex.: pegar açúcar com o vizinho O comodato é empréstimo de uso (bens infungíveis) e o mútuo empréstimo de consumo (bens fungíveis). 2. Riscos da coisa emprestada O mutuante transfere a propriedade e aplica-se o princípio res perit domino, ou seja, a coisa perece para o dono. A coisa perecerá para o mutuário, visto que a coisa passa a ser sua. Ele terá que restituir outra da mesma espécie, qualidade e quantidade. 3. Características 1. Típico 2. Nominado 3. Real Se torna perfeito com a entrega do bem, não bastando a assinatura do contrato para o contrato ser considerado juridicamente existente. 4. Unilateral Após formado o contrato (entrega) somente o mutuário tem obrigações. 5. Gratuito ou oneroso É gratuito quando não é fixada remuneração ao mutuante e oneroso quando fixada (mútuo a juros). Orlando Gomes - a gratuidade não é da essência do contrato de mútuo, ao contrário do comodato. 6. Temporário Tem prazo determinado. 7. Não solene Não tem forma específica prevista na lei. 4. Prazo do mútuo: Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será: I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o consumo, como para semeadura; II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra coisa fungível. O inciso III é regra subsidiária, sendo declaro o prazo declarado pelo mutuante. Caso o mutuante determine um prazo exíguo pode caracterizar abuso de direito. 5. Partes e objeto 5.1 Mutuante: quem cede a coisa 5.2 Mutuário: quem recebe a coisa (tomador do empréstimo) Em relação ao objeto já foi mencionado que o mútuo é o empréstimo de bens fungíveis. Mútuo Feneratício é o empréstimo de dinheiro Obs.: Empréstimo de dinheiro por instituição financeira não se submete ao teto do Código Civil ou da Lei de Usura (Decreto 22.626/33). 6. Mútuo feito a menor o mútuo é negócio jurídico submetendo-se às regras de validade, dentre elas a capacidade civil. Apesar disso, admite o legislador o empréstimo feito à menor com algumas restrições: 6.1 Mútuo feito a menor sem autorização do representante legal não pode ser reavido (art. 588). Exceções (art. 589) Nessas situações, será possível exigir a restituição do menor. a) ratificação posterior do representante legal; b) empréstimo para comprar alimentos habituais quando o representante estava ausente; Não são apenas os alimentos naturais ou necessários, mas aqueles necessários para manter a condição sociais;c) se o menor tem bens adquiridos com seu trabalho; Não é possível ultrapassar os bens que ele possua. d) empréstimo reverteu em benefício do menor; O ônus da prova é do mutuante que deverá demonstrar que houve acréscimo de patrimônio do menor. MHD entende que se ficar demonstrado que beneficiou o representante legal do menor que poderia autorizar o empréstimo, também é exceção. e) se o menor obteve o empréstimo maliciosamente Não pode se premiar a má-fé. Ex.: menor oculta dolosamente a sua idade. 7. Garantia de restituição do mutuante Caso o mutuário sofra “notória mudança em sua situação econômica”, poderá o mutuante exigir garantia. Somente pode exigir garantia se o abalo no patrimônio for notório, de conhecimento geral. Não basta um desequilíbrio econômico momentâneo. É possível exigir uma garantia real (hipoteca, penhor ou anticrese) ou fidejussória (fiança). 8. Direitos e obrigações das partes Por ser contrato unilateral, apenas o mutuário tem obrigação de restituição daquilo que foi emprestado de mesma natureza, qualidade e quantidade. Obs.: eventualmente o mutuante pode ter algum dever de reparar danos do mutuário por vícios redibitórios desconhecidos. 9. Extinção 6.1 Extinção natural Normalmente se extingue com o advento do termo e restituição da coisa. 6.2 Extinção por inadimplemento 6.2.1 Resolução do contrato de mútuo Caso o mutuário não pague a dívida no vencimento, o contrato pode ser resolvido pelo mutuante, com direito às perdas e danos. 6.2.2 Resilição unilateral Manifestação de uma das partes colocando fim ao contrato 6.2.3 Resilição bilateral É o distrato. VII - Prestação de Serviço Art. 593 a 609 1. Introdução Como mencionado anteriormente, antigamente era chamado Locação de Serviço. A expressão atual é considerada mais adequada, pois o trabalho realizado pelo ser humano não pode ser considerado objeto, pois o ser humano não pode ser considerado objeto. 2. Conceito É o negócio jurídico por meio do qual o prestador se obriga a realizar uma atividade em benefício do tomador mediante uma remuneração. Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição. Qualquer atividade lícita, manual ou intelectual que não seja regulamentada por lei trabalhista ou especial. Prestação de serviço e relação de emprego Na prestação de serviço não há subordinação, ou seja, relação hierárquica entre tomador e prestador, como ocorre na relação trabalhista. A relação civilista é autônoma. Prestação de serviço e contrato de empreitada A empreitada há uma finalidade específica: realização de obra ou criação de algo novo. Pode ser a construção civil, uma criação técnica, artística ou artesanal. 3. Características 3.1 Típico 3.2 Nominado 3.3 Bilateral (atividade x remuneração) 3.4 Comutativo 3.4 Não solene 3.5 Personalíssimo/ intuitu personae (em regra) Art. 605. Nem aquele a quem os serviços são prestados, poderá transferir a outrem o direito aos serviços ajustados, nem o prestador de serviços, sem aprazimento da outra parte, dar substituto que os preste. É possível que o prestador de serviço seja substituído por outra pessoa desde que haja anuência do tomador. Obs.: na relação de emprego não é admitida a substituição. 3.6 Instantâneo ou diferido 3.7 Prazo determinado ou indeterminado Obs.: limite temporal O contrato não pode ter prazo superior a 4 anos. 4. Objeto É uma atividade humana lícita material (manual) ou imaterial (intelectual). O objeto deve ser, em regra, determinado. Excepcionalmente, poderá ser indeterminado, mas não de forma ampla e irrestrita. Deve estar de acordo com as características relativas a sua condição. Ex.: contratar escritório de advocacia para cuidar de questões jurídicas da empresa. Vai fazer todo tipo de atividade ligada à advocacia, como fazer petição, pareceres, audiência. Claro que não vai fazer serviço contábil, por exemplo. 5. Forma Por ser contrato não solene, pode ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. Obs.: não alfabetizado Se uma das partes não for alfabetizada, pode ser assinada por outra pessoa em seu lugar e subscrito por duas testemunhas. Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando qualquer das partes não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas. 6. Retribuição A prestação de serviço é contrato bilateral e comutativo. A retribuição é também chamado de honorários, soldadas (CC/1916), preço ou salário. Obs.: apesar da expressão “salário” normalmente ser utilizado na relação de emprego o artigo 599 do CC/02 também faz uso dela. A doutrina critica dizendo houve atecnia. Obs.: Gratuidade O Código Civil não admite a prestação de serviços gratuitos, então o prestador sempre fará jus à remuneração. No silêncio das partes caberá ao Juiz fixar o valor de acordo com os costumes locais, levando em conta o tempo para realização do serviço e sua qualidade. 6.1 Compensação na ausência de habilitação (art. 606) Mesmo que o prestador não esteja habilitado para prestar o serviço deve receber alguma compensação, exceto se estivesse de má-fé. 7. Tempo de duração O contrato não pode ser fixado em prazo superior a 4 anos. Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não concluída a obra. A conclusão de obra o legislador quis se referir à atividade, pois obra se refere ao contrato de empreitada. Caso o contrato tenha cláusula com duração superior, somente esta deve ser considerada nula e não o instrumento inteiro. A intenção é evitar que as partes fiquem amarradas por tanto tempo o que traria enorme dificuldade financeira. Então, nada impede que, vencido o prazo, as partes renovem o contrato. Na contratação por prazo indeterminado, obviamente, não há limite. 7.1 Aviso prévio Caso o contrato não tenha termo final, as partes estão vinculadas por prazo indeterminado. Havendo intenção de uma das partes resilir unilateralmente o contrato, deverá comunicar previamente a outra. Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o contrato. Parágrafo único. Dar-se-á o aviso: I - com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado por tempo de um mês, ou mais; II - com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado por semana, ou quinzena; III - de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias. A falta de comunicação da parte acarreta no dever de pleitear as perdas e danos. 7.2 Contagem do tempo Não pode ser computado o tempo do contrato o período que, por culpa do prestador, não houve atividade. A contrário senso, o tempo que ele deixou de servir, sem culpa, deve ser computado. Isso não quer dizer que o prestador tem direito à retribuição do serviço. Se a retribuição não é global, mas por dia disponibilizado, a remuneração não é devida. Ex.: contrato “A” para ser consultor durante 6 meses pelo preço de R$10.000,00. Se ele vai para os EUA passear, esse tempo não pode ser computado. Entretanto, se ele ficou doente, o período deve ser computado. A remuneração somente será devida se o serviço foi efetivamente prestado. Obs.: é diferente da relação de emprego, pois o empregador assume os riscos da atividade e deve remunerar. 8. Extinção do contrato de trabalho a) Termo final b) Realização da atividade c) Aviso Prévio d) Inadimplemento e) Impossibilidade de continuação por caso fortuito ou força maior f) Morte 8.1 Direito à certificação Os contratantes têm direito de exigir declaração de quitação após a conclusão do contrato. 8.2 Indenização pela extinção antecipada No contrato por prazo indeterminado é possível resilição unilateraldesde que haja aviso prévio. Já nos contratos por prazo determinado a expectativa é que o termo seja respeitado, entretanto, deverá a parte inocente ser indenizado pelas perdas e danos. 9. Aliciamento de mão de obra Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. É quebra da boa-fé em razão de comportamento desleal. VIII - Empreitada Previsão legal: art. 610 a 626 1. Conceito Aqui encerra-se a tríade originada da concepção romana de locação, neste caso, locação de obra. É o negócio jurídico por meio do qual o empreiteiro/ empresário/ locador se obriga a realizar, pessoalmente ou por terceiros, obra certa para o dono da obra/ comitente/ locatário mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado. Obs.: ausência de subordinação Não é admitida subordinação das partes, pois seria caracterizada relação de emprego. 2. Objeto É a obra a ser executada e o preço a ser pago. Embora seja a mais frequente a atividade da construção civil, não está limitado a ela. O desenvolvimento de trabalho manual ou intelectual como a criação técnica (projeto científico), artística (redação de livro) ou artesanal (vaso de argila). Tanto é verdade que o §2º do art. 610 deixa claro não haver obrigatoriedade de executar o projeto ou fiscalizar a sua execução. § 2 o O contrato para elaboração de um projeto não implica a obrigação de executá-lo, ou de fiscalizar-lhe a execução. Subempreitada A subcontratação não é proibida, podendo ser limitada pela autonomia da vontade das partes. 3. Características 3.1 Típico 3.2 Nominado 3.3 Bilateral 3.4 Oneroso 3.5 Comutativo 3.6 Não solene 3.7 Trato sucessivo/ execução continuada Obs.: Prazo determinado Tem limitação temporal determinada. Não faz sentido ser por prazo indeterminado, pois a obra ou trabalho são determinados. Não precisa haver uma data, mas há termo. Ex.: Contrato construção de uma casa com previsão de término em 6 meses. Pode ser que nesses 6 meses ela não esteja concluída, mas o contrato é com prazo determinado. É possível que, por autonomia da vontade, as partes resolvam colocar específico para concluir a obra, havendo inadimplemento se isso não ocorrer. “Empreitada Instantânea” Não é possível, pois sempre há uma lapso temporal, ainda que de minutos ou um dia. 4. Modalidades 4.1 Empreitada de mão de obra/ de lavor É a que o empreiteiro entrega sua força de trabalho para realização da obra contratada. Os principais riscos são do dono da obra (res perit domino), exceto se houver culpa do empreiteiro. Ex.: uma chuva forte destrói obra praticamente concluída, o dono terá que arcar com todos os custos, inclusive para reconstrução. Ex.: empreiteiro deixa material perecível ao ar livre. Vale lembrar que, o empreiteiro perde o direito à remuneração caso ocorra a perda fortuita da coisa. Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor ( art. 610 ), se a coisa perecer antes de entregue, sem mora do dono nem culpa do empreiteiro, este perderá a retribuição, se não provar que a perda resultou de defeito dos materiais e que em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade. 4.2 Empreitada de materiais/ Empreitada mista É aquela que o empreiteiro se obriga a realizar a obra e entregar os materiais para realizá-la. Deve haver previsão específica neste caso, pois em regra a empreitada é de lavor. Os riscos, neste caso, correm por conta do empreiteiro. Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da entrega da obra, a contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua conta correrão os riscos. Só não haverá responsabilidade do empreiteiro se o dono da obra estiver em mora. 5. O Preço Pode ser fixado de duas formas: Remuneração global Abrange toda a atividade desenvolvida. Proporcional ao trabalho executado Art. 614. Se a obra constar de partes distintas, ou for de natureza das que se determinam por medida, o empreiteiro terá direito a que também se verifique por medida, ou segundo as partes em que se dividir, podendo exigir o pagamento na proporção da obra executada. § 1º Tudo o que se pagou presume-se verificado. § 2º O que se mediu presume-se verificado se, em trinta dias, a contar da medição, não forem denunciados os vícios ou defeitos pelo dono da obra ou por quem estiver incumbido da sua fiscalização. O pagamento feito acarreta na presunção de verificação pelo dono da obra. O ônus da prova de vícios será do dono da obra. Em regra o preço da empreitada é fixo não podendo variar. Art. 619. Salvo estipulação em contrário, o empreiteiro que se incumbir de executar uma obra, segundo plano aceito por quem a encomendou, não terá direito a exigir acréscimo no preço, ainda que sejam introduzidas modificações no projeto, a não ser que estas resultem de instruções escritas do dono da obra. Parágrafo único. Ainda que não tenha havido autorização escrita, o dono da obra é obrigado a pagar ao empreiteiro os aumentos e acréscimos, segundo o que for arbitrado, se, sempre presente à obra, por continuadas visitas, não podia ignorar o que se estava passando, e nunca protestou. Caso o dono da obra resolva alterar o projeto original, neste caso poderá haver mudança no preço. Nada impede que sejam feitos reajustes de acordo com os índices de mercado. Se houver variação de 1/10 do preço o dono da obra poderá pedir revisão. É aplicação da cláusula rebus sic stantibus. 6. Direitos e Deveres do Empreiteiro e do Dono da Obra 6.1 Remuneração O pagamento da empreitada se dá pelo “preço” certo ou proporcional, independente, ao menos em princípio, do tempo para conclusão. Se o prazo for superior ao previsto não haverá acréscimo, exceto se houver previsão no contrato. Não é admitido a empreitada gratuita, entretanto, isso não significa que o pagamento será em dinheiro, podendo ser realizada a contrapartida em outra espécie. 6.2 Aceitação O empreiteiro tem direito de obter a aceitação desde que a obra tenha sido realizada na forma prevista. Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza. Ou seja, se as regras previstas no contrato não forem observadas, obviamente, haverá inadimplemento, podendo o dono da obra rejeitá-la ou exigir abatimento no preço. Este último deve ser preferido em razão do princípio da conservação dos contratos. 6.3 Pagamento dos materiais e inutilizados Na empreitada de materiais o risco da inutilização dos materiais é do próprio empreiteiro que os fornece, exceto se houver culpa exclusiva do dono da obra. Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais que recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar. Essa regra só é aplicada à empreitada de materiais. Fiscalização da obra As atividades de direção, contratação e despedida da mão de obra caberá somente ao empreiteiro. A única fiscalização que o dono da obra pode realizar é em relação aos parâmetros constantes do projeto. Qualquer tipo de ingerência direta na atividade pode caracterizar vínculo empregatício. 6.4 Inalterabilidade relativa do projeto Em regra, a obra deve seguir ao projeto realizado. Entretanto, é comum que pequenas alterações sejam realizadas. O empreiteiro deve seguir a risca o projeto original, cabendo ao dono da obra fazer pequenas alterações nele, desde que autorizadas pelo autor do projeto. As alterações não podem acarretar em aumento de custos ao empreiteiro. Essa regra é importante para garantia da segurança jurídica de ambas as partes. Obs.: motivos supervenientes ou de ordem técnica que acarretem onerosidade excessiva permitem a revisão do contrato. 7. Prazo de garantia O empreiteiro responde pelo prazo de 5 anos garantindoa solidez e segurança da obra. Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. Entretanto, após o aparecimento do vício o dono da obra deve ingressar com ação quanti minoris ou redibitória. Obs.: esse prazo é diferente do previsto no artigo 445. Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito. Obs.: não confundir esse prazo decadencial com o prazo prescricional para obtenção da indenização. STJ Prescreve em vinte anos a ação para obter, do construtor, indenização por defeitos da obra. Atenção! O prazo da súmula deve ser atualizado conforme o disposto no CC/02 que estabelece prazo prescricional de 3 anos para reparações civis (art. 206, §3º, V) e CDC (art. 27), caso a relação seja de consumo. Esse prazo deve ser contado da constatação do dano. Enunciado 181 III Jornada de D. Civil O prazo referido no artigo 618, parágrafo único, do Código Civil ("decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito") refere-se unicamente à garantia prevista no caput, sem prejuízo de poder o dono da obra, com base no mau cumprimento do contrato de empreitada, demandar perdas e danos. Responsabilidade do autor do projeto A responsabilidade do autor do projeto, se não houve participação na execução da obra, está limitada a eventuais defeitos do projeto. 8. Suspensão do contrato de empreitada Após o início, qualquer das partes pode suspender a execução da obra, entretanto, deverá indenizar o outro pelas perdas e danos. Art. 623. Mesmo após iniciada a construção, pode o dono da obra suspendê-la, desde que pague ao empreiteiro as despesas e lucros relativos aos serviços já feitos, mais indenização razoável, calculada em função do que ele teria ganho, se concluída a obra. Art. 624. Suspensa a execução da empreitada sem justa causa, responde o empreiteiro por perdas e danos. Assim, suspenso ou resilido o contrato por qualquer das partes, sem justa causa, responderá pelas perdas e danos. As hipóteses previstas no artigo 625 na verdade acarretarão na extinção do contrato e não na suspensão. Art. 625. Poderá o empreiteiro suspender a obra: I - por culpa do dono, ou por motivo de força maior; II - quando, no decorrer dos serviços, se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução, resultantes de causas geológicas ou hídricas, ou outras semelhantes, de modo que torne a empreitada excessivamente onerosa, e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço inerente ao projeto por ele elaborado, observados os preços; III - se as modificações exigidas pelo dono da obra, por seu vulto e natureza, forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que o dono se disponha a arcar com o acréscimo de preço. Quando há menção à “suspensão”, considera-se a hipótese da obra ser retomada pelas partes. 9. Extinção do contrato 9.1 Extinção ordinária Ocorre com a execução da obra 9.2 Resilição unilateral Visto anteriormente (art. 623, 624 e 625). 6.3 Morte do empreiteiro/ dissolução da pessoa jurídica Quando as características pessoais forem relevantes ao contrato. IX - Contrato de Depósito Previsão Legal art. 627 ao art. 652. 1. Conceito É o negócio jurídico por meio do qual o depositante transfere ao depositário a guarda de uma coisa móvel para que seja conservado e depois restituído. Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. 2. Características 2.1 Típico 2.2 Nominado 2.3 Unilateral ou bilateral É contrato tipicamente unilateral, pois somente o depositário possui obrigação. Entretanto, principalmente em contratos mercantis, pode ser bilateral. Obs.: quando nasce unilateral, mas, durante a execução o depositário passa a ter direito. Ex.: depósito gratuíto, mas durante a execução surge despesa para conservar a coisa. Ele passa a ter direito de retenção. 2.4 Gratuito ou oneroso Se for unilateral será gratuito, pois somente o depositante se beneficia. Já se for bilateral, ambas as partes terão benefícios patrimoniais. 2.5 Real Se torna perfeito e acabado com a entrega do bem. Obs.: Quanto à forma Em relação ao depósito voluntário, em regra, é formal, devendo ser escrito. Entretanto, o depósito necessário não é solene. A forma escrita é relevante para prova e não na validade do contrato. 3. Partes e objeto 3.1 Depositante Proprietário da coisa 3.2 Depositário Quem recebe a guarda da coisa. Objeto Somente coisas móveis. Depósito irregular É aquele em que a coisa depositada é um bem fungível ou consumível. Ex.: dinheiro (depósito bancário). Depósito x mútuo Em razão da semelhança, aplicam-se as mesmas regras. O depósito é feito no interesse do depositante ao passo que o mútuo no do depositário. Os fins econômicos são diferentes. Art. 645. O depósito de coisas fungíveis, em que o depositário se obrigue a restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade, regular-se-á pelo disposto acerca do mútuo. Ex.: depositar R$1.000,00 no banco. Não será, obviamente, restituída a mesma cédula, mas o valor depositado. Depósito x comodato No comodato, o comodatário recebe a coisa para a sua utilização, no depósito é apenas para custódia. Depósito x locação Na locação de coisa, o locatário também recebe a coisa para o uso, contudo, é oneroso. Em regra, o depositário não pode utilizar a coisa depositada, exceto se o contrato contiver estipulação em contrário ou em decorrência da própria natureza do negócio (depósitos bancários). Bem fechado, lacrado, colado ou selado Se o bem foi entregue desta maneira deve ser restituído da mesma forma, exceto se houver alguma urgência e com base no interesse público que torne necessário a violação do lacre. Havendo excesso, será obrigado a indenizar o depositante. Perda da coisa Caso o depositário perca a coisa, em razão de caso fortuito ou força maior, mas recebe outra em seu lugar, deve entregar esta segunda coisa ao depositante. Art. 636. O depositário, que por força maior houver perdido a coisa depositada e recebido outra em seu lugar, é obrigado a entregar a segunda ao depositante, e ceder-lhe as ações que no caso tiver contra o terceiro responsável pela restituição da primeira. Ex.: Depositário recebe indenização do seguro. Deve entregar ao depositante. Da mesma forma se o herdeiro do depositário vender, de boa-fé, a terceiros, deve auxiliar o depositante na reivindicação da coisa. Art. 637. O herdeiro do depositário, que de boa-fé vendeu a coisa depositada, é obrigado a assistir o depositante na reivindicação, e a restituir ao comprador o preço recebido. 4. Espécies de depósito 4.1 Depósito Contratual/ Voluntário É negócio jurídico voluntário, já definido anteriormente. 4.2 Depósito Judicial É aquele que decorre de uma decisão judicial. Ex.: Decisão em ação de consignação em pagamento Ex.: Sequestro 4.3 Depósito necessário ou obrigatório 4.3.1 Depósito legal Aquele cuja obrigação está prevista na lei. Ex.: encontrar perdida (descoberta - art. 1.233 a 1.237 do CC) deve depositar na delegacia de polícia, sob pena de responder por apropriação indébita de coisa achada (art. 169, II, CP). 4.3.2 Depósito miserável Também decorre da lei, mas este decorre de uma situação aflitiva. Ex.: Inundação, incêndio, naufrágio. É possível provar a existência do depósito miserável por qualquer meio em razão da urgência da medida. Aplicam-se, subsidiariamente, ao depósito necessário as regras do depósito voluntário. Depósito de bagagens dos viajantes ou hóspedes (art. 649) É equiparado ao depósito legal. Essa modalidade é um tipo de contrato oneroso, pois o preço já está incluídono preço da hospedagem. Obs.: esta modalidade normalmente também é regulado pelo CDC. 5. Direito e obrigações das partes 5.1 Depositário O depositário tem o dever de guardar, conservar e devolver a coisa depositada e não há previsão de obrigação ao depositante. Nada impede que as partes realizem negócio bilateral, assumindo o depositante obrigação de remunerar o depositário. O depositário terá responsabilidade pelos danos decorrentes da má atuação, exceto os decorrentes de caso fortuito e força maior. Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. Frutos Os frutos que surgirem durante o depósito pertencem ao depositante, devendo ser restituídos juntamente com o bem principal. Acréscimos ou reparados Da mesma forma devem ser restituídos com a coisa principal, ressalvada a compensação. Ex.: colocar peça de segurança no veículo depositado. Lugar da restituição da coisa A coisa deve ser restituída no lugar onde está depositada, exceto se as partes estipularem diferente. As despesas da restituição são do depositante. Bem pertencente a terceiros Caso o bem depositado seja de terceiros, não pode o depositário restituí-lo sem o consentimento dele. Recusa de recebimento pelo depositante Caso o depositante se recuse a receber o bem, poderá o depositário fazer o depósito judicial. Pluralidade de depositantes Havendo mais de um depositante e a coisa for divisível, cada um será obrigado a restituir a sua respectiva parte. Entretanto, se houver solidariedade poderá ser exigido tudo de qualquer um deles. Obs.: a mesma regra deve ser utilizada se a coisa for indivisível (art. 260). Utilização da coisa O depositário não pode servir-se da coisa sem autorização expressa do depositante. Depósito realizado pelo depositário Não pode o depositário entregar a coisa depositada a outrem sem autorização expressa do depositante. Caso seja autorizado e proceda o depósito, responderá juntamente com o terceiro por eventuais danos causados. Despesas As despesas e prejuízos com a coisa serão suportadas pelo depositante a não ser que seja estipulado diferente no contrato. 6. Negativa de devolução da coisa depositada Não pode o depositário se negar a restituir o bem, ainda que tenha prazo estipulado e este ainda não tenha transcorrido. A contrato de depósito é baseado na confiança recíproca e o descumprimento é violação à cláusula da boa-fé objetiva. A recusa só é permitida nas hipótese previstas na lei. Art. 633. Ainda que o contrato fixe prazo à restituição, o depositário entregará o depósito logo que se lhe exija, salvo se tiver o direito de retenção a que se refere o art. 644 , se o objeto for judicialmente embargado, se sobre ele pender execução, notificada ao depositário, ou se houver motivo razoável de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida. Art. 634. No caso do artigo antecedente, última parte, o depositário, expondo o fundamento da suspeita, requererá que se recolha o objeto ao Depósito Público. a) direito de retenção Será visto adiante. b) embargo judicial do objeto depositado Quando há alguma medida judicial constritiva ou assecuratória. Ex.: arresto, sequestro, etc. c) execução pendente do objeto depositado Há a possibilidade de penhora do bem depositado. Após ciência do fato ao depositário, este não poderá devolvê-lo, mas colocar a disposição do Juízo. d) ocorrência de motivo razoável acerca da procedência lícita da coisa depositada Motivo razoável é conceito indeterminado, devendo ser preenchido no caso concreto. Ex.: suspeita da coisa ser objeto de contrabando. Obs.: Prisão Civil Art. 652. Seja o depósito voluntário ou necessário, o depositário que não o restituir quando exigido será compelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos. O Código Civil prevê a prisão por até 1 ano do depositário que se nega a restituir a coisa depositada. Súmula Vinculante 25 É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. 6.2 Direito de retenção (Jus retentionis) É o direito potestativo do depositário negar a restituição do bem com objetivo de forçar o depositante cumprir uma prestação devida. Não há direito real, mas um direito pessoal exercido contra o depositante. Art. 644. O depositário poderá reter o depósito até que se lhe pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a que se refere o artigo anterior, provando imediatamente esses prejuízos ou essas despesas. O depositário terá direito à retenção nas seguintes situações: a) até que seja pago a retribuição devida; b) até que lhe seja restituído o valor das despesas realizadas; c) até que seja indenizado eventual prejuízo decorrente do depósito; Manifestação de vontade (bilateral ou unilateral). Obs.: Aviso prévio Se o contrato for por prazo indeterminado, a parte que pretender resilir precisa avisar com antecedência de 90 dias, sob pena de indenização. Dependendo do vulto do investimento, não será possível a resilição 4.2 Resolução Inadimplemento do contrato 4.3 Rescisão Invalidade do contrato (lesão ou estado de perigo). Obs.: pode ser sinônimo de resolução. Contrato por prazo indeterminado Aviso prévio de 90 dias Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente. Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente. Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do valor devido. Justa causa (culpa do agente) Ainda que o agente seja dispensado por justa causa fará jus a remuneração pelos serviços prestados, entretanto, não estará livre de indenizar o proponente pelas perdas e danos. Dispensa sem culpa O agente terá direito à remuneração devida, levando em conta os negócios pendentes, além de indenizações previstas em lei especial (Ex.: representação comercial). Art. 718. Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até então devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações previstas em lei especial. XIII - Corretagem 1. Conceito Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. O corretor tem a tarefa de aproximar as duas partes para que realizem determinado contrato. Partes Corretor Quem se obriga a obter um ou mais negócios para outra parte Comitente Quem contrata a intermediação do corretor Obs.: não confundir com o comitente do contrato de comissão. A atividade do corretor é obrigação de resultado, pois somente terá direito à remuneração se o negócio se concretizar. Corretagem e Mandato No contrato de mandato o mandatário realiza atos pelo mandante. Na corretagem há apenas aproximação das partes e não realização do ato. Corretagem e prestação de serviço O corretor não deixa de prestar serviço para o comitente, entretanto, o contrato de corretagem tem peculiaridades em relação ao de prestação de serviços. O corretor precisa ser profissional, além do corretor intermediar as partes e na prestação de serviços o prestador age em seu nome. Direitos e Deveres das partes Obrigação do corretor Art. 723. O corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio. Parágrafo único. Sob pena de responder por perdas e danos, o corretor prestaráao cliente todos os esclarecimentos acerca da segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência. Obrigação do Comitente A obrigação do comitente surgirá após a celebração do negócio pretendido. Remuneração A remuneração é denominada comissão, preço ou corretagem. É devida após a conclusão do negócio. É negócio oneroso, não sendo possível a estipulação de contrato gratuito. Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais. Art. 725. A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes. Caso o negócio tenha sido concretizado e, posteriormente, as partes se arrependerem a remuneração será devida de qualquer forma. Não é possível se confundir arrependimento com desistência, pois esta ocorre numa fase pré-contratual e aquele na fase contratual. Cláusula de exclusividade Se houver cláusula de exclusividade, será devida a remuneração, ainda que não haja intermediação do negócio, exceto se houver desídia do corretor. Art. 726. Iniciado e concluído o negócio diretamente entre as partes, nenhuma remuneração será devida ao corretor; mas se, por escrito, for ajustada a corretagem com exclusividade, terá o corretor direito à remuneração integral, ainda que realizado o negócio sem a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade. Caberá, neste caso, ao comitente demonstrar a desídia do corretor. Divisão da remuneração Art. 728. Se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais, salvo ajuste em contrário. Deve ser interpretado amplamente a expressão “salvo ajuste em contrário” para não dar margem a injustiça. O pagamento igualitário somente pode ser feito se não houver possibilidade de comprovar a divisão desigual de tarefas. 6. Extinção 6.1 Extinção normal Com a celebração do negócio jurídico. 6.2 Resilição unilateral ou bilateral XIV - Contrato de Transporte 1. Conceito Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. É o negócio jurídico por meio do qual o transportador ou condutor se compromete a levar pessoa ou coisa ao destino previamente convencionado, mediante remuneração. Trata-se de obrigação de resultado de levar pessoa ou coisa ao local de destino com segurança. Obs.: existem leis específicas regulamentando outros tipos de transporte: Terrestre: Decreto 952/93 Marítimo: art. 692 a 632 C. Comercial