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FLORENCE NIGHTINGALE: O IMPACTO DE SUAS CONTRIBUIÇÕES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO DA ENFERMAGEM

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46 • Cultura de los Cuidados
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
FLORENCE NIGHTINGALE: THE IMPACT
OF HER CONTRIBUTIONS IN THE CON-
TEMPORARY WORLD OF NURSING 
SUMMARY
The role of caring is part of human existenceand is related to the woman´s image that hassought, through this practice, a form of sur-
vival that has evolved into broader areas such as
promotion and health maintenance. 
Objective: To reflect on the contributions of
Florence Nightingale for the care exercise in the
current days. 
Methodology: It is a reflective study with histori-
cal perspective, structured by themes, whose sour-
ces of data collection were journal articles, books,
and critical works approached in the Nursing
Academic Master. 
Results: Florence Nightingale became the charac-
ter that retracts the nursing profession through
their worldview, becoming a benchmark of life and
professional practice in this area of health. 
Conclusions: We found that her theoretical vision
contributed to the demystification of disparities
related to gender, favoring the exercise of the inte-
llectual capacity of women in society. She has
received this merit through her scientific knowled-
ge, giving an organized profile to the class. Her
care was recommended to the human being and
directly associated to his environment, expressions
FLORENCE NIGHTINGALE: O IMPACTO DE SUAS 
CONTRIBUIÇÕES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO 
DA ENFERMAGEM 
Anelise Miritz Borges1, Cristiele Berthold2, Katiuscia Milano Rosales de
Rodrigues3, Sonia Maria Könzgen Meincke4, Marilu Correa Soares5, 
Roxana Isabel Cardozo Gonzáles6
1Mestranda do Programa de Pós-graduação de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel). 
2 Aluna Especial do Programa de Pós-graduação de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel).
3Mestranda do Programa de Pós-graduação de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel). 
4 Doutora. Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). 
5Doutora. Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel). 
6 Doutora. Docente da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
 
of a holistic work, pre-announcing the definition
that includes the individual totality in the field of
nursing. 
Key words: nursing; history; health promotion.
FLORENCE NIGHTINGALE: EL IMPACTO
DE SUS CONTRIBUCIONES EN EL MUNDO
CONTEMPORÁNEO DE LA ENFERMERÍA
RESUMEN
El papel de la atención es parte de la existen-cia humana y se relaciona con la imagen dela mujer, que buscó, a través de esta prácti-
ca, una forma de supervivencia que se ha desarro-
llado en ámbitos más amplios, como la promoción
y el mantenimiento de la salud. 
Objetivo: Reflexionar sobre las contribuciones de
Florence Nightingale para el ejercicio del cuidado
en la actualidad. 
Metodología: Se trata de un estudio reflexivo con
perspectiva histórica, estructurada por temas,
cuyas fuentes de recolección de datos fueron artí-
culos de periodicos publicados, libros y obras de
crítica presentados en la Maestria Académica en
Enfermería. 
Resultados: Florence Nightingale se convirtió en
el personaje que representa a la profesión de enfer-
mería a través de su visión del mundo, convirtién-
dose en un punto de referencia de la vida y la prác-
tica profesional en esta área de la salud. 
Conclusiones: Se encontró que su visión teórica
contribuyó para la desmitificación de las disparida-
des relacionadas con el género, favoreciendo el
ejercicio de la capacidad intelectual de las mujeres
en la sociedad. Ella ha recibido esta distinción a
través de sus conocimientos científicos, dando un
carácter organizado a la clase de la Enfermería. Su
atención se recomendó a los seres humanos direc-
tamente vinculados a su entorno, las expresiones
de una obra integral, pre-anunciando una defini-
ción que incluye la totalidad de los individuos en
el ámbito de la enfermería.
Palabras claves: enfermería; historia; promoción
de la salud.
RESUMO
Opapel de cuidar faz parte da existênciahumana e está relacionado à imagem damulher, que buscava, através dessa práxis,
uma forma de sobrevivência que evoluiu para
âmbitos mais abrangentes, como a promoção e
manutenção da saúde. 
Objetivo: Refletir sobre as contribuições de
Florence Nightingale para o exercício do cuidado
na atualidade. 
Metodologia: É um estudo reflexivo com perspec-
tiva histórica, estruturado por temáticas, cujas fon-
tes de obtenção dos dados foram artigos de perió-
dicos publicados, livros, e trabalhos críticos abor-
dados no Mestrado Acadêmico de Enfermagem. 
Resultados: Florence Nightingale passou a ser a
personagem que retrata a profissão de enfermagem
através da sua visão de mundo, tornando-se um
referencial de vida e de prática profissional para
esta área da saúde. 
Conclusões: Constatou-se que a sua visão teórica
contribuiu para a desmistificação de disparidades
relacionadas ao gênero, favorecendo o exercício da
capacidade intelectual da mulher na sociedade. Ela
recebeu esse mérito por meio de seu conhecimento
científico, conferindo um caráter organizado à
categoria. Seu cuidado era preconizado ao ser
humano e associado diretamente ao seu meio
ambiente, expressões de um trabalho holístico,
pré-anunciando a definição que contempla a totali-
dade do indivíduo no campo da enfermagem.
Descritores: enfermagem; história; promoção da
saúde. 
INTRODUÇÃO
A evolução histórica da enfermagem de acordo
com Terra et al. (2006), evidencia um percurso de
grandes conquistas para a classe. Trata-se de
questões associadas, durante o surgimento das pri-
Cultura de los Cuidados • 47
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
 
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1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
meiras civilizações no mundo, às causas sobrena-
turais e à crença de que as pessoas que possuíam o
poder de curar enfermidades eram responsáveis
pelo cuidado em saúde. Nesse processo, a religião
passou a ser alvo provedor do bem-estar das popu-
lações da época, fortalecendo concepções de que a
doença era causada por pecados e desprazeres aos
deuses. Muitas ações contribuíram, lentamente,
para a constituição da profissão de enfermagem,
formalizada no período da era cristã, com a pre-
sença das mulheres diaconisas.
O amor, o carinho e a preocupação com o bem-
estar do outro passaram a conduzir um trabalho em
saúde mais organizado, aproximando as ações da
enfermagem, em meados do século XIX, à lide-
rança e à definição de objetivos em sua prática,
fato que oportunizou a ascensão das mulheres na
sociedade, dado o exercício do seu trabalho honra-
do e de impacto social (TERRA et al., 2006).
Nessa perspectiva, no século XX, sob forte
influência de Florence Nightingale, a enfermagem
passou a refletir sobre a sua atuação, idealizando
princípios técnicos e educacionais à categoria, que
constituíram a enfermagem moderna (OLIVEIRA,
PAULA e FREITAS, 2007). Assim, Florence cons-
truiu seu legado científico a partir do contato que
manteve com os mendigos, andarilhos e aqueles
enfermos oriundos das guerras pertinentes à época.
Os cuidados de enfermagem passaram então, aos
poucos, a valorizar o indivíduo e o adequado
ambiente para a prestação dos cuidados em saúde,
integrando as práticas de cunho experiencial, lógi-
co e moral, à edificação da profissão de enferma-
gem (LEOPARDI, 2006). 
Assim, transformações econômicas, sociais e
políticas ocorridas na sociedade brasileira torna-
ram-se fatores determinantes para a importação de
tecnologias na construção e organização de
espaços assistenciais, como os hospitais, conside-
rando para tal, a abordagem dos problemas de
saúde, adequando-os gradativamente à sustentação
dos novos programas governamentais de saúde,
notadamente na saúde pública (BARREIRA,
2005). 
Convém destacar que o cuidado enquanto ação
social é arte, no momento em que se utiliza os con-
hecimentos de forma coerente e em prol da quali-
dade de vida de um indivíduo. Posto isso, torna-se
necessário compreender que a palavra “enfermei-
ro”, no latim, está intimamente conectada ao lega-
do repassadopor Florence, pois significa nutrix, ou
seja, aquele que nutre, encoraja e protege os que
necessitam de atenção para com a sua saúde
(TERRA et al., 2006).
A partir dessa constatação, afirma-se que
Florence é a precursora da enfermagem, pois ele-
vou o status dessa carreira, qualificando a assistên-
cia através de seus ensinamentos históricos e uni-
versais. Eles se baseavam no cuidado do outro e na
potencialização das forças subjetivas de cada pes-
soa, tornando-a uma teórica e uma referência cien-
tífica atual para a ação integral do trabalho em
saúde. Contudo, além de Florence, destacam-se as
iniciativas da enfermeira Anna Nery, que partici-
pou ativamente da Guerra do Paraguai, no século
XIX e em 1923, edificou a Escola de Enfermeiras
do Departamento Nacional de Saúde, no Brasil.
Assim como o trabalho de Wanda de Aguiar Horta,
na década de 1970, direcionado ao emprego da sis-
tematização das ações de enfermagem permeado
pelo método científico, colaborando para o aper-
feiçoamento da classe (KLETEMBERG et al.,
2010). 
Por conseguinte, objetiva-se, a partir deste
estudo, refletir sobre as contribuições de Florence
Nightingale para o exercício do cuidado na atuali-
dade.
CAMINHO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo reflexivo com perspecti-
va histórica cuja ideia surgiu mediante as aulas ins-
tigantes propostas pela Disciplina de Práticas de
Atenção, Ensino e Pesquisa em Enfermagem e
Saúde desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas/UFPel/ RS.
A construção do artigo foi realizada a partir de
pesquisa bibliográfica Gil (2007) em periódicos
publicados nas fontes de dados da Scielo
(Scientific Electronic Library Online), PubMed
(Publicações Médicas) e Lilacs (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), no
período de 2002 a 2010 através dos descritores
“Florence”, “Nightingale” e “Enfermagem”. Os
critérios de seleção foram conter os descritores,
estar escrito em língua portuguesa, espanhola ou
inglesa e ter resumo disponível. A seleção dos arti-
gos foi realizada a partir da leitura prévia dos resu-
Cultura de los Cuidados • 49
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
mos, selecionando aqueles trabalhos que corres-
pondiam ao tema, os quais constam nas referências
do presente estudo. Também foram utilizados
alguns livros direcionados a proposta do estudo e
artigos trabalhados no decorrer da disciplina. 
Posteriormente, foi conduzida a análise de con-
teúdo delineada por Minayo (2007), seguida da
ordenação e classificação dos dados em três temá-
ticas incorporadas no decorrer do texto, as quais
foram: A construção histórica da enfermagem,
Florence Nightingale: determinação em prol da
enfermagem e A contemporaneidade do cuidado e
o legado de Florence Nightingale. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA ENFER-
MAGEM
Os primeiros achados que fazem referência à
enfermagem foram encontrados na Bíblia, no
Antigo Testamento, instituindo o cuidado como
uma prática significativa da enfermagem, a qual
busca promover a saúde, o conforto e a prevenção
de doenças à população, desde os primórdios de
sua existência (NAUDERER e LIMA, 2005).
Nesse processo histórico, o cuidar passou a ser
desenvolvido como forma de sobrevivência, a fim
de manter a alimentação, a reprodução e a defesa
da espécie humana, ações estas vinculadas à ima-
gem da mulher, envolvida nos laços da maternida-
de, no cuidar dos recém-nascidos, dos idosos e dos
enfermos, de modo a garantir a manutenção da
vida (ZEFERINO et al., 2008). 
Com o surgimento do Cristianismo, a enferma-
gem foi fortemente influenciada pela supremacia
religiosa. O cuidar continuava como uma das
funções femininas, sendo, nesse período, realizado
pelas mulheres consagradas ou irmãs de caridade,
que eram mulheres solteiras (diaconisas), as vir-
gens e as viúvas, que prestavam cuidados sem
remuneração, em nível espiritual e protegiam a
integridade corporal, por meio de castidade e pure-
za (ALVES et al., 2005; ZEFERINO et al., 2008).
Neste enfoque, o cuidado passou então a evoluir no
plano assistencial, detendo-se aos corpos sofredo-
res e atingidos por enfermidades, dissociando
assim, o corpo do espírito (ZEFERINO et al.,
2008; KLETEMBERG et al., 2010).
Contudo, a falta de controle das doenças e as
condições de moradia em conglomerados incenti-
varam a Igreja Católica a criar e expandir as insti-
tuições de caridade onde era dispensado o cuidado
aos doentes (ALVES et al., 2005). Esses estabele-
cimentos são considerados os primeiros registros
do que, na contemporaneidade, viria a ser o hospi-
tal. Essas instituições não tinham como finalidade
a cura, eram apenas de assistência aos pobres e, de
certa forma, serviam como local de separação e
exclusão, uma vez que o enfermo era um potencial
disseminador de doenças e, como tal, precisava ser
isolado (MUSSI, 2005). 
O período do Renascimento provocou uma
revolta contra a preeminência da Igreja Católica,
quando foram dissolvidas ordens religiosas e o tra-
balho das mulheres consagradas e irmãs de carida-
de. O advento do Capitalismo e da Revolução
Industrial demarcou o início de uma fase de
decadência à enfermagem que perdurou do final do
século XVII até a metade do século XIX.
Sobrevém uma mudança no papel das mulheres na
sociedade, onde uma parcela vai trabalhar na
indústria e outra se resigna aos seus lares e à obe-
diência aos seus maridos. O cuidado aos doentes,
nos hospitais, é então deixado a cargo de mulheres
imorais, analfabetas, prostitutas, já que estas não
serviam para a indústria, o que se tornara um
momento difícil para a ascensão da enfermagem,
conhecido como "Anos Negros da Enfermagem"
trazido por Nauderer e Lima (2005, p.75), pois a
classe continuava a prestar serviços aos pobres, aos
doentes, sendo considerado um ofício servil, pouco
desejável, em virtude da excessiva carga horária,
da baixa remuneração e do estressante trabalho. 
As descobertas no campo da física e química,
no final do século XIX, vieram apurar os conheci-
mentos na medicina, auxiliando no diagnóstico e
tratamento de doenças (BACKES, 2000). A práti-
ca da enfermagem começa então a distanciar-se
dos valores morais e religiosos herdados do passa-
do e adota o modelo biomédico, valorizando o tec-
nicismo (TERRA et al., 2006). 
O cuidado, que era prestado como forma de
promoção e conservação da vida, fica em segundo
plano, e as práticas de enfermagem sintetizam a
alocação de técnicas que almejavam apenas o tra-
tamento da doença e a cura. Em contrapartida, a
enfermagem começa a distanciar-se de sua origem,
e o cuidado passa paulatinamente a restringir-se,
havendo um desaparecimento da vinculação entre
50 • Cultura de los Cuidados
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
o ser humano e o universo, o ambiente e o grupo
social (TERRA et al., 2006). A progressão do capi-
talismo necessitava do corpo como força de trabal-
ho, o novo hospital surge como uma instituição
disciplinadora desse ambiente desordenado, como
resposta às demandas de uma nova ordem social
(MUSSI, 2005). Atrelado a este processo, surge na
Modernidade, com a decadência da hegemonia
positivista como concepção científica, o avanço do
conhecimento na área da saúde, com conceitos
importantes vinculados a ação da enfermagem,
como, doença, saúde, ser humano e a própria
enfermagem, delineados também por Florence
Nightingale em sua caminhada, os quais são utili-
zados nos dias atuais (KLETEMBERG et al.,
2010). 
FLORENCE NIGHTINGALE: 
DETERMINAÇÃO EM PROL DA ENFER-
MAGEM 
A enfermagem, ao longo dos tempos, foi
sofrendo influências significativas na sua consti-
tuição. Uma das personagens que se destacou e
permaneceu atuante nesse processo foi Florence
Nightingale, mulher determinada, que nasceu na
Itália, em Florença, no dia 12 de maio de 1820, tor-
nando-se precursora da enfermagem atual, pois se
preocupava com o bem-estar dos indivíduos, espe-
cialmente aqueles mais desprovidos de atenção à
saúde. Sua capacidade perspicaz se destacava, na
época, dada a influência intelectual de suafamília,
que a estimulava ao pensamento crítico e à edu-
cação, como requisitos para a ascensão social
(LEOPARDI, 2006).
Florence colaborou para a consolidação de
transformações sociais, na segunda metade do
século XIX, na Inglaterra, com sua presença em
campanhas de promoção à saúde e em conflitos,
como a guerra da Criméia em 1854, ações estas
que ressaltaram o valor ambientalista de sua teoria,
incorporando atitudes sanitaristas, administrativas
e epidemiológicas, que evidenciaram seu caráter
moderno de operacionalizar as práticas da pro-
fissão de enfermagem (LEOPARDI, 2006). Dentre
seus objetivos, Florence estava determinada a
potencializar as forças restauradoras que existiam
no ambiente onde o paciente estava inserido. A
manutenção da saúde estava associada ao equilí-
brio entre o ser humano e o ambiente que o circun-
dava, tornando o enfermeiro um sujeito que cola-
borava para promover a relação harmoniosa entre
o ser e o estar na sociedade (MACEDO et al.,
2008).
Na época, Florence já se preocupava com as
dimensões físicas, psicológicas e sociais do ser
humano, conferindo uma atenção humanitária e
holística, tão emergente nos dias atuais, assim
como atentava para o autocuidado, que era incenti-
vado pelas enfermeiras, sob um enfoque educativo
no processo de cuidar de si (LEOPARDI, 2006;
MACEDO et al., 2008). 
Convém destacar que, sob influência do caráter
ambientalista, Florence detinha-se aos elementos
físicos, como forma de obtenção de cura para
doenças e restauração das forças e energias do
paciente; dentre estes, a ventilação, a iluminação, a
limpeza do ambiente, o controle de calor, do odor,
dos ruídos e a alimentação eram especialmente
analisados, conferindo perspectivas preventivas e
curativas no cuidar em saúde (MACEDO et al.,
2008).
Nesse plano de ideias, expõe-se ainda o camin-
ho imperativo de Florence, no que tange à história
intelectual da enfermagem. Em meados de 1859,
ela escreveu o seu primeiro livro, denominado
Notas Sobre Enfermagem, seguido de várias outras
publicações, que expuseram suas percepções acer-
ca da saúde/doença e o ambiente. Em 1860,
Florence auxiliou na construção da Escola de
Enfermagem Nightingale, no Hospital Saint
Thomas, na Inglaterra, o que passou a valorizar a
categoria como profissão e concorreu para recon-
hecê-la mundialmente (LEOPARDI, 2006). 
Cultura de los Cuidados • 51
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
Desse modo, a constituição da enfermagem foi
sendo aprimorada, edificando saberes com essên-
cia no cuidado, como práxis em saúde; distinguin-
do, a cada dia, o trabalho da enfermeira das demais
profissões existentes. E esta evolução social da
enfermagem direcionou a organização das ações
centradas na atenção ao indivíduo, na sua relação
com o meio, bem como na adesão de instrumentos
que conferem maior responsabilidade e autonomia
à profissão (TAYLOR, LILLIS e LEMONE,
2007).
A CONTEMPORANEIDADE DO CUIDADO E
O LEGADO DE FLORENCE NIGHTINGALE
O cuidado visa à construção e à conservação da
identidade humana. Ele não se resume simples-
mente a uma manifestação, mas é um conjunto
harmônico e interdependente, é uma expressão sig-
nificativa da essência humana, que contempla a
pessoa em sua unidade e totalidade
bio/psico/sócio/espiritual. Por essa razão, as pesso-
as, desde seu nascimento, necessitam do cuidado
para crescer, desenvolver-se, viver e morrer digna-
mente. Dessa forma, a enfermagem sempre se des-
tacou, e fundamentou os seus princípios, assim
como as suas crenças e valores, de forma empírica,
porém a evolução da ciência fez com que o enfer-
meiro refletisse acerca disso e questionasse sua
prática, desenvolvendo um corpo de conhecimen-
tos específico, passando a guiar suas ações cuidati-
vas nos processos de formação dos profissionais,
na pesquisa e no exercício da profissão (SOUZA,
2001). Florence Nightingale, em sua época, já
valorizava o conhecimento científico, bem como
conceitos acerca do meio ambiente, ventilação e
condições sanitárias, ressaltando a comunicação
verbal e não verbal como valiosos instrumentos de
cuidado (STAMM, 2002). 
Entretanto, se olharmos o cuidado do ponto de
vista do usuário do sistema de saúde, podemos
constatar que este não reclama da falta de conheci-
mento tecnológico no seu atendimento, mas sim da
falta de interesse e compromisso em torno de si e
do seu problema (MERHY, 1998). O trabalho em
saúde acaba perdendo seu significado de ajuda e
restauração do bem-estar, para tornar-se apenas
uma prestação de serviço mecânica e massificada,
esvaziada de valores humanos. Isto porque o pro-
fissional de saúde não empenha paixão naquilo que
faz, pois o tempo para o prazer de escutar um
paciente é substituído pelo aumento do número de
pessoas atendidas, acarretando o prejuízo da quali-
dade comprometida no seu trabalho (OLINISKI e
LACERDA, 2004). 
Que tipo de crise tecnológica e assistencial é
esta? Ao olharmos com atenção os processos de
trabalho, no conjunto das intervenções assisten-
ciais, identificamos que qualquer abordagem de
um profissional de saúde junto a um paciente pro-
duz-se através de um trabalho vivo em ato, no
encontro entre duas pessoas, no diálogo, sendo
criada uma responsabilização em torno do proble-
ma que vai ser enfrentado. Pois os pacientes bus-
cam nos trabalhadores de saúde o acolhimento,
responsabilização e vínculo (MERHY, 1998).
Podemos retroceder na história e, traçando um
paralelo entre a era pós-Nightingale e o momento
recente, o cuidado deixa de ter seu valor central e
a ênfase está no saber tecnicista, qual seja: o diag-
nóstico (STAMM, 2002). A lógica capitalista pri-
vilegia esse padrão, estimulando as pessoas a pro-
duzirem cada vez mais, consagrando a maior parte
do seu tempo ao trabalho, à produtividade, à com-
petitividade, não favorecendo sentimentos de reali-
zação e prazer no trabalho (OLINISKI e LACER-
DA, 2004). 
Após essa fase tecnicista, recentemente se faz
um resgate da essência da enfermagem, em que o
paciente passa a ser ouvido e respeitado no seu
todo. Um paradigma emergente na realidade brasi-
leira, que tem como base filosófica o cuidado ao
ser humano e sua inter-relação com o meio
ambiente, no contexto das próprias experiências de
vida, com foco na morte/renascimento, processos
de ser e viver de forma mais saudável possível que
estão presentes na construção do cuidado transdi-
mensional (STAMM, 2002). 
Dentro da prestação de serviços em saúde, no
que diz respeito à enfermagem, o que produzimos
não se pode quantificar, é um ato que se desfaz na
mesma hora em que é ofertado. Podemos medi-lo
de acordo com a satisfação de quem o recebe.
Porém o conceito de caridade e benevolência
repassado a esse tipo de serviço, e que lhe conferia
uma conotação de doação, vem tomando novos
rumos (MERHY, 1998). 
Outrossim, o cuidado deve ser compreendido
como produto e serviço nas suas múltiplas
52 • Cultura de los Cuidados
1er. Semestre 2010 • Año XIV - N.° 27
dimensões, relações e interações, ou seja, como um
sistema de produção de serviços personificado e
singular, na sua maneira de ser e existir na socie-
dade. O que exige um posicionamento diferencia-
do por parte do enfermeiro que, ao interagir e dia-
logar no seu campo de atuação, experimenta
evidências da complexidade do cuidado: seja nas
variadas expressões sociais, profissionais, familia-
res e individuais (BACKES et al., 2006). 
Em 2010, se completam 100 anos da morte de
Florence Nightingale, uma mulher que viveu à
frente de seu tempo, atuando tanto no contexto
hospitalar, quanto no político, social e ecológico.
Seus pressupostos se mantêm atuais e norteiam
enfermeiros por todo o mundo. Com ela, a enfer-
magem iniciou sua caminhada científica, conferin-
do caráter organizado à categoria, viabilizando a
construção da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE), além de preconizar o cuidado
ao ser humano e sua relação com o meio ambiente,
como focos da enfermagem. Expressões de um tra-
balho holístico, de certo modo, pré-anunciando a
definição que atualmente contempla a totalidade
do indivíduo,o Cuidado Transdisciplinar. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletirmos sobre o impacto desencadeado
pelo cuidado no seu processo evolutivo, percebe-
mos que o mesmo sofreu mudanças na sua cono-
tação, sendo desenvolvido nos primórdios, de
geração a geração, de modo empírico e como
forma de doação. Florence Nightingale, por sua
vez, incorporou valores essenciais para a pro-
moção da saúde, sob um olhar holístico, resgatan-
do o cuidado como uma ciência. Finalmente,
temos no cuidado muito mais que uma ação bene-
volente. Ele é uma ferramenta de trabalho que con-
fere autonomia ao enfermeiro e o difere como pro-
fissional de saúde, no momento em que percebe o
ser na sua heterogeneidade.
Nessa perspectiva, Florence Nightingale, com
sua teoria ambientalista, focou o sujeito na sua
integralidade, preocupando-se com o ambiente que
o circundava, além de valorizar hábitos de higiene,
registrando, assim, as primeiras notas epidemioló-
gicas de enfermagem. Ela reorganizou as ações da
profissão, de modo a elaborar a sua sistematização,
abordando conceitos, tais como ambiente, ilumi-
nação, aeração e alimentação, pressupostos signifi-
cativos para a história da enfermagem. Contribuiu,
assim, para a formação do conceito global que con-
templa o ser humano como um ser
bio/psico/social/espiritual. 
Portanto, o enfermeiro contemporâneo pode
fazer uma releitura do que é o cuidar, fundamentá-
lo no antigo e no novo contexto, alavancando o
empreendedorismo da profissão, com vistas a con-
quistar e explorar os espaços intercessores para
promover a mudança de paradigmas na enferma-
gem.
REFERÊNCIAS
- ALVES, M.D.S.; ORIÁ, M.O.B.; FRANCO, E.S.; COSTA,
M.S.; BARROSO, M.G.T. (2005) História da enfermagem
registrada nas artes plásticas: do século XVI ao século XX.
Texto Contexto Enferm. Florianópolis, out/dez 14(4): 513-9.
- BACKES, V.M.S. (2000) Estilos de pensamento e práxis na
enfermagem: a contribuição do estágio pré-profissional. Ijuí:
Unijuí, p.79.
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