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20/11/2013 1 Carcinogênese María Sol Brassesco Annichini 2013 Curso Genética II Departamento de Biologia da FFCLRP-USP. Fase G1 Fase S Fase G2 Fase M Apoptose •Dano no DNA : Bloqueio no ciclo Reparo do DNA Mecanismos de vigilância : níveis intracelulares integridade arquitetural sinais externos Esquema geral do sistema de controle do ciclo celular Câncer Hipócrates (460-370 a. C.) Καρκινος = caranguejo Câncer → doenças caracterizadas pela proliferação celular descontrolada com natureza maligna (capaz de se disseminar no organismo). Brasil, mortalidade proporcional por grupos de causas definidas entre 1930 e 2004 Ministério da Saúde, 2004 ~15% Mutações Genoma estável Genoma instável A célula adquire as características neoplásicas através do acúmulo de mutações Célula normal Célula tumoral 20/11/2013 2 Uma em cada 105-1010 células Mutação do DNA Mutações de ponto e mutações cromossômicas Mutações em uma única base do DNA: Modificações químicas diretamente nas bases Erros ocorridos na replicação (pareamento incorreto de bases) Tipos de mutações de ponto: Transições (purina por purina ou pirimidina por pirimidina) Transversões (purina por pirimidina) Incorporação de formas tautomêricas Mutações que alteram a fase (quadro) de leitura Deleções ou Inserções de bases Mutações cromossômicas: ocorrem ao nível cromossômico: podem ser alterações numéricas ou estruturais. • Alterações estruturais: quebras cromossômicas e rearranjos (translocações, deleções, duplicações e inversões). • Alterações numéricas: envolvem mudanças no número cromossômico, denominadas euploidias e aneuploidias • Sítios frágeis (SF): regiões do genoma que apresentam quebras quando submetidas a determinadas condições • Muitos coincidem com os breakpoints “Pontos de quebra” dos cromossomos tumorais (cancer breakpoints) Locais onde a quebra é recorrente (considerando-se o mesmo tipo e/ou tipos diferentes de tumores) Os breakpoints correspondem a regiões dos cromossomos muito ricas em genes - 20 das 30 regiões cromossômicas mais ricas em genes são breakpoints David von Hansemann (1858-1920) Descreveu as primeiras alterações cromossômicas em células tumorais Theodore Boveri (1902 e 1914): mitose em ouriço do mar Os tumores malignos seriam o resultado de uma constituição cromossômica anormal causada por múltiplas mitoses multipolares As alterações cromossômicas são um aspecto da instabilidade genômica no câncer Previsões de T. Boveri confirmadas O desbalanço cromossômico numérico está na raiz do câncer As células tumorais originam-se de células normais Anormalidade cromossômicas são comuns nos tumores humanos Combinações específicas de genes promovem a transformação maligna das células Alguns cromossomos estimulam o crescimento (divisão) celular e podem ser amplificados durante a oncogênese Oncogenes, regiões homogeneamente coradas e double minutes Os cromossomos inibem o crescimento celular Genes supressores de tumor, deleção (perda de heterozigosidade) 20/11/2013 3 Susceptibilidade ao câncer através da herança de cromossomos Cânceres familiares Proliferação ilimitada requer a remoção de mecanismos de inibição da proliferação “Pontos de checagem” do ciclo celular são desregulados no câncer Os tumores se originam de uma única célula Origem clonal dos tumores Cromossomos apresentam fragilidade dependente da idade Encurtamento dos telômeros, crise e câncer Defeitos irreparáveis e persistentes nas células tumorais Células tumorais apresentam defeitos nos mecanismos de reparo • A taxa de mutação espontânea é baixa: 10-8/gene/célula Considerando a taxa de mutação espontânea, a chance de ocorrer transformação maligna é baixa 103 x 10-48 ou 1 x 10-45 Chance de acumular 6 mutações numa única célula do organismo = Ação de agentes mutagênicos e carcinogênicos aumenta a taxa de mutação, mas não o suficiente para explicar o acúmulo de mutações observadas no câncer Para uma célula tornar-se maligna, é necessário que acumule mutações, mas acumular mutações não é fácil... só considerando mutações de ponto Mecanismos que podem aumentar a chance de malignização Maior número de células mutadas, maior a chance de outra mutação “vantajosa” ocorrer Assim sucessivamente Câncer 1-Expansão clonal Mais frequente em tecidos que dividem mais, como medula óssea e epitélios Genes fundamentais para a manutenção da estabilidade genômica – quando inativados, aumentam a taxa geral de mutações Genes “mutadores” Eventos externos Químicos e físicos Eventos internos •Espécies reativas de O2 •Erros na duplicação •Alterações químicas espontâneas Genes alvo Genes de reparo DNApol Genes do ciclo celular p53 Outros genes •Supressores de tumor •Oncogenes •Angiogênese •Invasão •Metástase 2- O fenótipo mutador Fenótipo maligno Duas grandes categorias de genes podem ser mutadas no câncer : PROTO- ONCOGENES GENES SUPRESSORES DE TUMOR Genes que, quando mutados, são constitutivamente expressos, podendo resultar em proliferação descontrolada, inibição da apoptose e transformação neoplásica. A mutação nestes genes resulta em ganho de função (quantitativo ou qualitativo) Alteração em um único alelo já resulta em produto a mais - dominante Forma normal do oncogene (antes de sofrer mutação): proto-oncogene ONCOGENES 20/11/2013 4 Classes de proteínas que são codificadas por oncogenes Como os proto-oncogenes são mutados? 1) Amplificação gênica: são feitas muitas cópias de um gene Ex. : gene N-MYC Regiões homogeneamente coradas Double minutes fator de transcrição #2 Ex. : gene HER2 (ou HERBB2) Controle Positivo Receptor de fator de crescimento 2 – Translocações cromossômicas Ex. : BCR/ABL em leucemia mielóide crônica 2.a ) Produção de proteínas quiméricas 2.b) Transposição para uma região que é muito ativa transcricionalmente •IGH : muito expresso em linfócitos •C-MYC : fator de transcrição que estimula proliferação celular Ex. : C-MYC/IGH em linfoma de Burkit FGF4 FGF3 MTC CCND1 5’ 3’ quebra Lócus da ciclina – 11q13 D 3’ V 5’ CCND1 Rearranjo 3’ 5’ C J D V quebra Lócus da Ig – 14q32 20/11/2013 5 3 – Mutação de ponto Ex. : gene RAS EGFR RAS mutado Fatores de crescimento Genes que inibem o fenótipo neoplásico, geralmente envolvidos na inibição da divisão celular e ativação da apoptose. Quando são inativados ou perdidos, o crescimento descontrolado torna-se possível. Mutações nestes genes resultam em perda de função Os dois alelos precisam estar inativados para que haja contribuição para o processo tumoral - recessivo GENES SUPRESSORES DE TUMOR Hipótese de Knudson (“2 hits”) Retinoblastoma: Os dois eventos ocorrem nas células somáticas Retinoblastoma: tumor infantil de retina, raro e agressivo 2 eventos são necessários para desencadear o tumor Os dois alelos dos genes supressores de tumor devem ser inativados para contribuir para o processo tumoral 3% dos tumores em menores de 15 anos 1:1.000.000 nascimentos Genes zeladores (caretakers -proteção do genoma) Genes porteiros (gatekeepers - proliferação e sobrevida) Reparodo DNA Proteção do telômero Controle do ciclo celular Apoptose Estabilidade genômica Os genes supressores de tumor podem ser classificados em: Genes zeladores Quando mutados, não promovem a formação do tumor diretamente, mas resultam em instabilidade genética, aumentando a taxa geral de mutações Telomerase: mantêm a estabilidade dos telômeros no início do desenvolvimento Genes dos mecanismos de reparo : ausência da função provoca acúmulo de mutações. Ex. : BRCA, MLH1 Genes porteiros APC Câncer de cólon poliposo familial TP53 Câncer de mama Câncer de cólon não poliposo MSH2 Uma vez mutados, lideram a transformação neoplásica em determinado tipo celular • Qualquer gene envolvido no controle do crescimento celular: controle do ciclo celular, apoptose e diferenciação. RB Retinoblastoma 20/11/2013 6 Como os genes supressores de tumor são mutados? 1) Mutação pontual: alteração de uma ou poucas bases, resultando em perda ou diminuição da função 2) Deleção do gene: pequenas deleções cromossômicas, que não são visíveis ao microscópio 3) Metilação da região promotora: impede ligação do aparato basal de transcrição à região promotora Diferentes tumores carregam alterações cromossômicas recorrentes que os caracterizam Além da informação no DNA dos genes codificando proteínas, a informação genética pode residir em : 1) Genes codificando para RNA somente 2) Marcas químicas no DNA e em proteínas Epigenética Mecanismos que agem sobre o DNA modificando o seu estado, mas não alteram a sequência de bases; marcas químicas que podem ser herdadas com os cromossomos. Fatores de transcrição Metilação das citosinas na região promotora Hipometilação: genes que devem estar silenciados voltam a se expressar A metilação de C na região promotora impede a ligação dos fatores basais de transcrição Hipermetilação = Silenciamento gênico Não ocorre alteração da informação genética (mutação) O crescimento maligno é determinado por 6 alterações fisiológicas : Auto -suficiência em sinalização de crescimento Insensibilidade à sinalização anti-crescimento Evasão do processo apoptótico Angiogênese Potencial replicativo ilimitado Invasão tecidual e metástase - Imortalidade - Crescimento rápido - Interação anormal com as outras células Hipótese de Knudson (“2 hits”) Retinoblastoma esporádico : Os dois eventos ocorrem nas céls. somáticas Retinoblastoma herdado : 1 evento na célula germinativa 1 evento na célula somática Retinoblastoma : tumor infantil de retina, raro e agressivo 2 eventos são necessários para desencadear o tumor Os dois alelos dos genes supressores de tumor devem ser inativados para contribuir para o processo tumoral 20/11/2013 7 Câncer Esporádico Mutação linhagem Germinativa Tumores múltiplos Início precoce (5-10%) Mutação somática Gene normal Mutação somática Mutação somática Tumor único Início tardio (90-95%) Predisposição Hereditária ao Câncer Dr. Alfred G. Knudson A hipótese de Knudson pode explicar a predisposição herdada ao câncer (cânceres familiais) Doença Gene Polipose adenomatosa do cólon familial APC Câncer de cólon hereditário, não poliposo MSH2, MLH1 Câncer de mama e ovário BRCA1 Câncer de mama de início precoce BRCA2 Síndrome de Li Fraumeni TP53 Ataxia telangiectasia ATM Melanoma familial CDKN2A (p16) Características Clínicas das Síndromes de Predisposição hereditária ao Câncer: - Idade de início precoce. - Bilateralidade e/ou Multifocal. - Mais de um membro da família afetado. - Heredograma com padrão dominante -Responsáveis pela Síndrome de Predisposição ao Câncer Mama/Ovário Hereditária. Ex: Genes BRCA1 (17q21) e BRCA2 (13q12.3) 2 40 54 53 58 61 61 57 60 54 59 64 Br Br Ov 66 9 85 91 Ex: Genes MLH1 MSH2 MSH6 PMS2) -Responsáveis pela Síndrome de Predisposição ao Câncer de Colon não associado a Polipose Síndrome de Predisposição ao Câncer Mama/Ovário Hereditária. Síndrome de Predisposição ao Câncer de Colon não associado a Polipose Normativas para o Diagnóstico clínico: Câncer Esporádico Famílias com susceptibilidade genética para o câncer Síndromes de câncer hereditário Mutações genéticas Fatores Hereditários Fatores Ambientais Mutações em genes de reparo 20/11/2013 8 Resumindo... O câncer se desenvolve em múltiplos estágios Várias mutações (cromossômicas e pontuais) se acumulam durante a progressão tumoral Oncogenes e genes supressores de tumor são as maiores classes de genes mutados no câncer Alterações epigenéticas podem contribuir para o câncer • Griffiths AFJ, et al.. Introduction to genetic analysis. 10th ed. New York: W.H. Freeman and Co., 2012. • Lewin B. Genes IX. Sudbury USA: Jones and Bartlett Publishers, 2008. • Snustad & Simmons. Fundamentos de Genética. 6ta ed. Guanabara-Koogan Ed. 2013 Indicações de leitura
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