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Solução de Consulta COSIT n 217_2015

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Solução de Consulta COSIT n 217/2015 – Incide Contribuição Previdenciária Patronal sobre bolsa de estudos pagas a médico residente.
Em Solução de Consulta publicada recentemente, a Coordenação-Geral de Tributação (COSIT) entendeu que a bolsa de estudos pagas a médico-residente integra a base de cálculo da Contribuição Social Previdenciária da Empresa.
Confira-se a ementa da Solução Consulta:
ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS EMENTA: Contribuição Patronal. Base de cálculo. Residência médica.
 A bolsa de estudos paga ou creditada ao médico-residente, participante do programa de que trata a Lei nº 6.932, de 1981, integra a base de cálculo da Contribuição Social Previdenciária da empresa.
 DISPOSITIVOS LEGAIS: Lei nº 8.212, de 1991, art. 12, inciso V, alíneas “g” e “h”, e art. 22, inciso III; Decreto nº 3.048, de 1999, art. 9º, inciso V, alíneas “j” e “l”, § 15, inciso X, e art. 201, incisos II e III, § 2º; Instrução Normativa RFB nº 971, de 2009, arts. 6º, inciso XXV; 9º, inciso XVIII, e 57, incisos I e II, e § 2º.
No caso concreto o Consulente é uma pessoa jurídica que presta serviços hospitalares e ambulatoriais. Afirmou também que possui um programa de residência médica e que os médicos-residentes participantes fazem jus ao recebimento de bolsa pelo regime especial de treinamento em serviço.
Na interpretação efetuada pela Consulente os médicos residentes são filiados como contribuintes individuais da Previdência Social. Afirmou também que a prestação de serviços não pode ser qualificada como relação de trabalho na medida em que é considerado como uma etapa da formação acadêmica do médico. Em abono a esse posicionamento transcreveu acórdãos do TST (Tribunal Superior do Trabalho) que consignaram que inexiste relação de trabalho e que deve ser enquadrado juridicamente como estágio. Por fim, destacou que a Municipalidade não exige o pagamento de ISS (Imposto sobre Serviços) sobre essa atividade.
À luz desses argumentos a Consulente questionou se estaria sujeita ao recolhimento da Contribuição Previdenciária Patronal na forma do inciso III do art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, sobre o pagamento da bolsa referida no caput do art. 4º da Lei nº 6.932, de 1981.[1: Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de:III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº 9.876, de 1999).][2: Art. 4o  Ao médico-residente é assegurado bolsa no valor de R$ 2.384,82 (dois mil, trezentos e oitenta e quatro reais e oitenta e dois centavos), em regime especial de treinamento em serviço de 60 (sessenta) horas semanais. (Redação dada pela Lei nº 12.514, de 2011)§ 1o  O médico-residente é filiado ao Regime Geral de Previdência Social - RGPS como contribuinte individual.       (Redação dada pela Lei nº 12.514, de 2011)]
A Receita Federal ao analisar a situação que lhe foi apresentada destacou as regras contidas na Lei nº 8.212 de 1991 que dispõe: i) A residência médica é considerada como modalidade de pós-graduação; ii) O médico-residente possui direito ao recebimento de uma bolsa no valor de R$ 2.384, 82; iii) O médico-residente é considerado como contribuinte individual da Previdência Social e iv) É devido pela empresa o pagamento contribuição de 20% das remunerações pagas aos contribuintes individuais que lhe prestem serviços.
Também ressaltou que o Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048 de 1999) no seu art. 9, § 15, inciso X inclui o médico-residente como segurado individual obrigatório. De igual modo, existe previsão expressa no art. 201 do aludido Regulamento. A Instrução Normativa RFB nº 971 de 2009 prevê expressamente que os valores pagos aos médicos-residentes integram a base de cálculo da Contribuição Previdenciária:[3: Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:   V - como contribuinte individual: (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999))§ 15.  Enquadram-se nas situações previstas nas alíneas "j" e "l" do inciso V do caput, entre outros:  X - o médico residente de que trata a Lei nº 6.932, de 7 de julho de 1981. (Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003)][4:    Art. 201. A contribuição a cargo da empresa, destinada à seguridade social, é de:   § 2º  Integra a remuneração para os fins do disposto nos incisos II e III do caput, a bolsa de estudos paga ou creditada ao médico-residente participante do programa de residência médica de que trata o art. 4º da Lei nº6.932, de 7 de julho de 1981, na redação dada pela Lei nº 10.405, de 9 de janeiro de 2002. (Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003)]
Art. 9º. Deve contribuir obrigatoriamente na qualidade de contribuinte individual: [...] 
XVIII - o médico-residente ou o residente em área profissional da saúde, contratados, respectivamente, na forma da Lei nº 6.932, de 1981, com a redação dada pela Lei nº 10.405, de 2002, e da Lei nº 11.129, de 9 de fevereiro de 2005; [...] Das Bases de Cálculo das Contribuições das Empresas em Geral 
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Art. 57. As bases de cálculo das contribuições sociais previdenciárias da empresa e do equiparado são as seguintes: I - o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestam serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou de acordo coletivo de trabalho ou de sentença normativa; II - o total das remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestam serviços; [...] 
§ 2º. Integra a remuneração, para fins do disposto no inciso II do caput, a bolsa de estudos paga ou creditada ao médico-residente ou ao residente em área profissional da saúde, participantes dos programas de que tratam, respectivamente, o art. 4º da Lei nº 6.932, de 1981, com a redação dada pela Lei nº 10.405, de 2002, e o art. 13 da Lei nº 11.129, de 2005.
Importante ressaltar que o posicionamento da Receita Federal acima destacado é também é o mesmo que prevalece nos julgados do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, conforme acórdão abaixo detalhado:
TRIBUTÁRIO E PREVIDENCIÁRIO. CONTRIBUIÇÃO. INCIDÊNCIA.
MÉDICO-RESIDENTE. VALORES RECEBIDOS A TÍTULO DE BOLSA DE ESTUDO. PRECEDENTE.
1. Tratam os autos de mandado de segurança coletivo movido pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul - Simers insurgindo-se contra a exigência de contribuição previdenciária dos médicos residentes nos termos da Lei n. 10.666/03. Recurso especial interposto pelo sindicato autor diante do acórdão proferido pelo TRF da 4ª Região, segundo o qual: O médico-residente é contribuinte individual (inciso X do § 15º do artigo 9º do Decreto 3.048/99. 2. A Lei n.º 10.666/03 não criou contribuição social nova (bis in idem). Ela extinguiu escala transitória de salário-base instituída pela Lei n.º 9.876/99, obrigando os médicos-residentes a contribuir com 20% daquilo que obtiverem como renda mensal, incluída a bolsa instituída pela Lei n.º 6.932/71.
Na via especial, alegam-se negativa de vigência dos artigos 1º, 4º, 5º, § 2º, da Lei n. 6.932/81, 21, 28, III, da Lei n. 8.212/91 e divergência jurisprudencial. Em suas razões, em síntese, sustenta que: a) a interpretação conferida à legislação que embasa a questão controvertida é de que a atividade desenvolvida pelo médico-residente é, em essência, educacional, e a bolsa percebida a tal título não dispõe de natureza remuneratória; desse modo, não há razão para que incida contribuição previdenciária ; b) o médico-residentenão se enquadra na condição de segurado obrigatório para fins previdenciários.
2. Quando do julgamento do REsp 760.653/PR, DJ de 05/12/2005, a Primeira Turma, por unanimidade, expressou entendimento de que é devida a contribuição previdenciária sobre os valores recebidos a título de bolsa de estudo pelos médicos-residentes, dado que prestam serviço autônomo remunerados, enquadrando-se, portanto, na qualidade de "contribuinte individual", conforme disposto na Lei n. 8.212/91.
3. Recurso especial não provido.
(REsp 963.602/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ 25/02/2008, p. 1)
Por fim, ressaltamos que em razão do disposto no art. 9º da Instrução Normativa RFB nº 1.396 de 2014 é vinculante aos demais contribuintes que se enquadram na mesma situação fática:
 Art. 9º A Solução de Consulta Cosit e a Solução de Divergência, a partir da data de sua publicação, têm efeito vinculante no âmbito da RFB, respaldam o sujeito passivo que as aplicar, independentemente de ser o consulente, desde que se enquadre na hipótese por elas abrangida, sem prejuízo de que a autoridade fiscal, em procedimento de fiscalização, verifique seu efetivo enquadramento. (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1434, de 30 de dezembro de 2013)

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