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CESUCA CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE DIREITO GABRIELLI DOS SANTOS MANASSI ANTUNES LARISSA BITENCOURT NEVES NATHALIE ALEXANDRIA FLORES BAPTISTA DIREITO PENAL I – A LEI PENAL E A TEORIA DO CRIME Trabalho Avaliativo 1 – Princípios Fundamentais Do Direito Gravataí, 26 de abril de 2025. Princípios Fundamentais do Direito Princípio Escolhido: Princípio da irretroatividade da Lei Penal mais severa – Com base no Artigo º, inciso XL, estabelece que a Lei Penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Caso Penal Escolhido: Agravo de Execução Penal, interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, nº 8000045-45.2025.8.21.0028/RS Trata-se de um homicídio qualificado na modalidade tentada (artigo 121. § 2º do Código Penal), praticado em 03/10/2012, o réu foi condenado a 8 anos de reclusão. O cumprimento da pena teve início em 05/06/2022, o apenado solicitou em juízo concessão do benefício de saídas temporárias, o Ministério Público solicitou o indeferimento, alegando o texto do artigo 122 § 2º, da Lei de Execução Penal. Porém o benefício foi concedido, observando o princípio da irretroatividade da Lei Penal, já que essa lei sofreu alteração em 11/04/2024, através da nova lei nº 14.843/2024. O Agravo, anexo a este trabalho, visa reformar a decisão da Vara Adjunta de Execuções Criminais da Comarca de Santa Rosa, vedando o direito as saídas temporárias do réu. Motivos Invocados para Aplicação ou Afastamento do Princípio: Os desembargadores, de forma unânime, entenderam que a nova Lei de Execução Penal é mais gravosa, afetando o direito do apenado, portanto, aplicaram o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa, mantendo o direito ao benefício, pois o crime foi cometido em 2012, antes da alteração que ocorreu com a nova lei publicada em 2024. Também fundamentaram a decisão com base no artigo 5º, inciso XL da Constituição e no artigo 2º do Código Penal. Opiniões sobre a Decisão: • Gabrielli – Concordo com a decisão, pois a aplicação da nova lei, sendo ela mais gravosa ao réu é improcedente, a lei não pode retroagir. E observando as datas do crime, e de alteração da lei, reparamos que a alteração da legislação ocorreu após o acometimento do crime. • Larissa – A decisão foi correta juridicamente, pois respeitou o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Apesar disso, entendo que há um receio legítimo em conceder saídas temporárias a quem já cometeu crimes graves, pois isso pode representar risco à sociedade. Ainda assim, a aplicação correta da lei deve prevalecer. • Natalie – Baseando-se no que aprendemos sobre irretroatividade da lei In Malam partem, concordo com a decisão tomada, pois a mesma o respeitou um dos princípios fundamentais da lei penal. Vale ressaltar ainda, que o crime foi cometido em meados de 2012, e a nova lei estabelecendo limites de saídas para crimes hediondos só entrou em vigor a partir de 2024, sendo assim a mesma não poderia ser aplicada no caso concreto desse julgamento. PODER JUDICIÁRIO ----------RS---------- Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 1ª Câmara Criminal Avenida Borges de Medeiros, 1565 - Porto Alegre/RS - CEP 90110-906 AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 8000045- 45.2025.8.21.0028/RS PROCESSO ORIGINÁRIO: Nº 8000045-45.2025.8.21.0028/RS TIPO DE AÇÃO: Homicídio qualificado (art. 121, § 2º) RELATOR: DESEMBARGADOR MARCELO LEMOS DORNELLES AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVADO: JOSEMAR DA SILVA RELATÓRIO Trata-se de Agravo em Execução interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL contra a decisão do Juízo da Vara Adjunta de Execuções Criminais da Comarca de Santa Rosa, que deferiu saídas temporárias ao sentenciado JOSEMAR DA SILVA. Em suas razões, em síntese, postula o recorrente a reforma da decisão que concedeu ao reeducando saídas temporárias, asseverando que a execução penal possui natureza preponderantemente processual, devendo suas normas ser aplicadas de imediato, conforme o princípio do tempus regit actum. Argumenta que a revogação da saída temporária, prevista na nova legislação, impede a concessão do benefício, pois a execução da pena não constitui direito https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 1 de 16 adquirido, estando sujeita a constante revisão jurisdicional. Ressalta que esta Corte já decidiu no sentido da aplicação imediata da vedação, conforme recente jurisprudência. Diante disso, requer o provimento do recurso, com a reforma da decisão recorrida e a revogação das saídas temporárias concedidas ao apenado. Recebido o recurso, foi determinada a instauração de instrumento apartado para o processamento da insurgência, com o traslado das peças necessárias. O agravado, por intermédio da Defensoria Pública do Estado, apresentou contrarrazões. Em juízo de retratação, a decisão recorrida foi mantida por seus próprios fundamentos. Subiram os autos a esta Corte, ocasião em que, promovida vista dos autos ao Ministério Público que oficia nesta instância, a eminente Procuradora de Justiça, Dr.ª Karin Sohne Genz, exarou parecer pelo provimento do agravo em execução ministerial. Conclusos para julgamento. É o relatório. VOTO Atendidos os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal, notadamente por se revelar tempestivo, conheço do Agravo em Execução ministerial. Consoante observo do Relatório da Situação Processual Executória atualizado extraído do Sistema SEEU, o sentenciado JOSEMAR DA SILVA cumpre pena de 08 (oito) anos de reclusão, em razão da prática do crime de homicídio qualificado na modalidade tentada. https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 2 de 16 O cumprimento da pena teve início em 05/06/2022, cujo término está previsto para 20/08/2029. O reeducando postulou ao juízo executório a concessão de saídas temporárias e, instado a se manifestar, o Ministério Público requereu o indeferimento do pedido, em razão do óbice existente no art. 122, § 2º, da Lei de Execução Penal. Entretanto, o benefício lhe foi concedido, asseverando o juízo executório que a LEP se trata de norma de natureza mista e, por isso, as alterações legislativas não podem vir em prejuízo do apenado, já que possuem caráter de direito material. Contra essa decisão se insurge o Ministério Público através do presente recurso. Pois bem. Inicialmente, destaco que a Lei nº 14.843/2024, publicada em 11 de abril de 2024, alterou o art. 122 da Lei de Execução Penal e passou a restringir o benefício da saída temporária em determinadas situações, passando o dispositivo a ter a seguinte redação: Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: [...] § 2º Não terá direito à saída temporária de que trata o caput deste artigo ou a trabalho externo sem vigilância direta o condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo ou com violência ou grave ameaça contra pessoa. Como se observa, a nova lei vedou, de forma genérica, o benefício da saída temporária aos condenados que cumprem pena por crimes hediondos ou https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 3 de 16 cometidos com o emprego de violência ou grave ameaça contra pessoa. Registro, todavia, que a novel legislação não inova ao obstar a saída temporária para determinados delitos, apenas amplia o rol que havia sido já incluído no ordenamento jurídico pela redação conferida ao § 2º do art. 122 da Lei de Execução Penal pela Lei nº 13.964/2019, denominado Pacote Anticrime, que previa que "não terá direito à saída temporária a que se refere o caput deste artigo o condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo comresultado morte". Nesse sentido, saliento que os Tribunais Superiores, na análise daquele dispositivo, passaram a entender pela irretroatividade da vedação, justamente por se tratar de norma de conteúdo misto e, por isso, não pode vir em prejuízo dos sentenciados. De fato, consoante se infere da literalidade da norma, a Lei em comento implicou tratamento desfavorável àqueles que cumprem pena pela prática de crimes hediondos ou cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, vedando a estes sentenciados o direito à saída temporária. Da análise do texto legal, portanto, revela-se inegável que a nova redação do § 2º do art. 122 da Lei de Execução Penal traz carga material prejudicial ao apenado, já que extirpa a possibilidade de que, durante o regime semiaberto, possa ser agraciado com liberdade sem vigilância direta por certo período de tempo, havendo, por consequência, recrudescimento da forma de punir e da expiação da reprimenda imposta, com influência direta na sua liberdade de locomoção. A matéria regulada pelo dispositivo legal em comento, portanto, refere-se à forma de expiação da pena e possui evidente conteúdo de direito material. Dessa forma, tendo em vista se tratar de lex gravior, deve ser observado pelo julgador a irretroatividade da lei penal mais gravosa, razão pela qual a nova redação do art. 122, § 2º, da Lei de Execução Penal não poderá retroagir em prejuízo dos apenados que cumprem pena por fatos cometidos anteriormente à sua https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 4 de 16 vigência, em atenção à previsão constitucional positivada no art. 5º, inciso XL, da Lei Maior1 e no art. 2º, parágrafo único, do Código Penal2. Não se pode, assim, dispensar tratamento mais severo aos condenados por aqueles delitos incluídos no rol da nova legislação, já que, até a sua entrada em vigor, poderiam fazer jus ao benefício da saída temporária. Trata-se, portanto, da aplicação do princípio conhecido pelo aforismo nullum crimen, nulla poena sine praevia lege3, que assegura a ultratividade da lei anterior, justamente por ser mais benéfica. Relembro que o respeito ao princípio da legalidade não é facultativo, sobretudo se a sua inobservância resultar na negativa de um direito executório que impacta diretamente na sua liberdade de locomoção, já que não é permitido ao julgador realizar a interpretação da norma em analogia in malam partem. Aliás, importante ressaltar que, analisando a alteração legislativa promovida pela Lei nº 14.843/2024, o Ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas Corpus nº 240.770/MG, passou a considerar a impossibilidade de retroação da limitação da saída temporária e do trabalho externo aos apenados que cumprem pena por crimes hediondo ou cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, em observância ao princípio da individualização da pena, que se estende à fase executória, já que, em se tratando de inovação legislativa mais gravosa, é necessária a incidência da norma vigente quando da prática do crime, cuja decisão foi assim ementada: HABEAS CORPUS. DECISÃO INDIVIDUAL DE MINISTRO DO STJ. SUBSTITUTIVO DE AGRAVO REGIMENTAL. MATÉRIA NÃO APRECIADA PELO ÓRGÃO APONTADO COMO COATOR. DUPLA SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INADEQUAÇÃO DA VIA. https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 5 de 16 EXECUÇÃO PENAL. SAÍDA TEMPORÁRIA E TRABALHO EXTERNO. ALTERAÇÃO LEGISLATIVA (LEI Nº 14.843, DE 2024). IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA (ARTS. 5º, INC. XL, DA CRFB E 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP). PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA NA FASE EXECUTÓRIA. ILEGALIDADE MANIFESTA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. CONCESSÃO DA ORDEM, DE OFÍCIO. (STF - HC: 240.770/MG, Relator: Ministro André Mendonla, Data de Publicação: 28/05/2024) Julgando situação semelhante, aliás, relativamente às alterações promovidas pela Lei nº 13.964/2019, o Pretório Excelso assim decidiu: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. INTERPOSIÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. DECISÃO AGRAVADA EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE. HIPÓTESE NÃO CONFIGURADORA DE COMBINAÇÃO DE LEIS. CRIMES COMUNS QUE FORAM PRATICADOS ANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI 13.964/2019 QUE, NO PONTO, É MAIS GRAVOSA AO RÉU. A SUA APLICAÇÃO OFENDERIA O PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA. SOBRE OS CRIMES COMUNS SOB EXAME DEVE INCIDIR A REGRA ENTÃO PREVISTA NA LEI 7.210/1984, E NÃO A NOVA LEGISLAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – A decisão ora atacada não merece reforma ou qualquer correção, pois os seus fundamentos harmonizam-se estritamente com a jurisprudência desta Suprema Corte. II – O recorrente está cumprindo pena por infração ao art. 33, caput, da Lei 11.343/2006, em 26/11/2010 (Ação Penal 0026101- 25.2010.8.24.0020) e ao art. 217-A, caput, do Código Penal – CP, em 21/10/2010 (Ação Penal 0003607- 35.2011.8.24.0020), tendo https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 6 de 16 contra si, anteriormente, apenas condenações transitadas em julgado por crimes comuns. III – As instâncias antecedentes lastrearam seu entendimento na impossibilidade de combinação de leis. Isso porque, por ser o recorrente reincidente não específico na prática de crime hediondo ou equiparado, entendeu por aplicar em seu favor, de maneira retroativa, a Lei 13.964/2019, norma mais benéfica, exigindo-se o cumprimento de 40% (quarenta por cento) para a progressão de regime. IV – De igual modo, a jurisprudência desta Suprema Corte também veda a combinação de leis – que se caracterizaria pela conjugação de aspectos favoráveis da lei anterior com aspectos favoráveis da lei posterior, de modo a buscar a aplicação mais favorável ao réu – por entender que representaria a criação de uma lex tertia, o que transformaria o juiz em legislador. Precedentes. V – In casu, não se trata da combinação de leis aplicáveis a uma mesma condenação, em concurso de crimes, mas de aplicação da lei penal para condenações diversas, ocorridas em momentos distintos. VI – Nesse contexto, os crimes comuns foram praticados antes da entrada em vigor da Lei 13.964/2019. Trata-se, pois, de novatio legis in pejus, de forma que a sua aplicação, no ponto, configuraria ofensa ao princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Por conseguinte, sobre os crimes comuns deve incidir a regra então prevista na Lei 7.210/1984, e não a nova legislação. VII – Agravo regimental do Ministério Público Estadual a que se nega provimento. (RHC nº 219.888-AgR/SC, Rel. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, j. 13/12/2022, p. 16/12/2022) O entendimento, inclusive, vem sendo adotado majoritariamente por este Órgão Fracionário, consoante precedente que ora trago à colação: AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA MINISTERIAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI Nº 14.843/2024. NORMA DE CARÁTER NITIDAMENTE https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 7 de 16 MATERIAL. NOVATIO LEGIS IN PEJUS. IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA. ART. 5º, INCISO XL, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA À FASE EXECUTÓRIA. INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES INSERTAS NO ART. 122, § 2º, DA LEP SOMENTE AOS CRIMES COMETIDOS EM SUA VIGÊNCIA. DECISÃO MANTIDA. 1. Com a entrada em vigor da Lei nº 14.843/2024, publicada em 11 de abril de 2024, o § 2º do art. 122 da Lei de Execução Penal passou a restringir o benefício da saída temporária em determinadas situações, sendo possível tão somente em casos nos quais não se tratem de condenados por crimes hediondos ou cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. A novel legislação não inova ao obstar a saída temporária para determinados delitos, apenas amplia o rol quehavia sido já incluído no ordenamento jurídico pelas alterações promovidas pela Lei nº 13.964/2019. Da análise do texto legal ora em vigência, revela-se inegável que a nova redação do § 2º do art. 122 da Lei de Execução Penal traz carga material prejudicial ao apenado, já que extirpa a possibilidade de que, durante o regime semiaberto, possa ser agraciado com liberdade sem vigilância direta por certo período de tempo, havendo, por consequência, recrudescimento da forma de punir e da expiação da reprimenda imposta, com influência direta na sua liberdade de locomoção, razão pela qual revela evidente conteúdo de direito material, de modo que, por se tratar de lex gravior, não poderá retroagir em prejuízo do sentenciado, em atenção à previsão positivada no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal e no art. 2º do Código Penal. O benefício da saída temporária, portanto, deve ser analisado à luz do sistema jurídico vigente ao tempo do fato praticado pelo reeducando. 2. No caso concreto, o agravado foi condenado, dentre outros, pelo crime de homicídio qualificado, https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 8 de 16 razão pela qual, por se tratar de delito hediondo, não faria jus às saídas temporárias pelo sistema jurídico ora vigente. Todavia, considerando que a prática do fato se deu em 27/11/2012, em momento anterior à vigência da Lei nº 14.843/2024, não poderá ser realizada a interpretação da norma em seu prejuízo, razão pela qual a decisão recorrida vai mantida. AGRAVO EM EXECUÇÃO MINISTERIAL DESPROVIDO. (Agravo de Execução Penal, Nº 80002752420248210028, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marcelo Lemos Dornelles, Julgado em: 26-09-2024) AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. ALTERAÇÃO LEGISLATIVA (LEI Nº 14.843 DE 2024) QUANTO AO ART. 122 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA NA EXECUÇÃO DA PENA (ART. 5º, XL, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). DECISÃO MANTIDA. A Lei nº 14.843/2024, que modificou o Art. 122, § 2º, da Lei de Execução Penal, estabelecendo a vedação do trabalho externo e saídas temporárias aos apenados condenados por crimes hediondos ou com violência e/ou grave ameaça à pessoa, insere-se no campo do direito material, razão pela qual é imperiosa a sua análise conforme a Constituição Federal. Neste contexto, imperativa a aplicação do Art. 5º, XL, da Constituição Federal, que prevê, como regra geral, que "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu". Neste contexto, correta a decisão que concedeu as saídas temporárias ao apenado. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL DESPROVIDO. (Agravo de Execução Penal, Nº 80003150620248210028, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Conrado Kurtz de Souza, Julgado em: 28-11-2024) Por consequência, pautado nestes fundamentos, entendo que o benefício da saída temporária deve ser analisado à luz do sistema jurídico https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 9 de 16 vigente ao tempo do fato praticado pelo acusado, já que se trata da análise do requisito objetivo relativo à benesse, não podendo ser realizada a integração em prejuízo do sentenciado. Em outras palavras, somente aos crimes hediondos ou praticados com violência ou grave ameaça praticados a partir de 11 de abril de 2024, data da vigência da Lei nº 14.843/2024, deverão sofrer a restrição estabelecida no art. 122, § 2º, da Lei de Execução Penal, com a redação conferida pela novel legislação. Assentadas tais premissas e ingressando no exame do caso concreto, constato que o sentenciado JOSEMAR DA SILVA foi condenado pelo crime de homicídio qualificado na modalidade tentada, razão pela qual, em tese, por se tratar de crime hediondo, não faria jus às saídas temporárias com base no dispositivo legal que regulamenta a matéria em vigência. Todavia, analisando o Relatório da Situação Processual Executória extraído do Sistema SEEU, constato que o crime foi praticado em 03/10/2012, razão pela qual, inexistindo à época a vedação ora existente, não poderá ser realizada a interpretação da norma em seu prejuízo, razão pela qual mantenho a decisão singular que lhe deferiu as saídas temporárias. Por tais fundamentos, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Agravo em Execução ministerial. Documento assinado eletronicamente por MARCELO LEMOS DORNELLES, Desembargador Relator, em 26/03/2025, às 19:13:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php? acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 20007722725v3 e o código CRC 291f83e6. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): MARCELO LEMOS DORNELLES Data e Hora: 26/03/2025, às 19:13:16 https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 10 de 16 1. CF, Art. 5º. [...] XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 2. CP, Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 3. "não há crime, nem pena, sem prévia lei" Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 1ª Câmara Criminal Avenida Borges de Medeiros, 1565 - Porto Alegre/RS - CEP 90110-906 AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 8000045- 45.2025.8.21.0028/RS PROCESSO ORIGINÁRIO: Nº 8000045-45.2025.8.21.0028/RS TIPO DE AÇÃO: Homicídio qualificado (art. 121, § 2º) RELATOR: DESEMBARGADOR MARCELO LEMOS DORNELLES AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVADO: JOSEMAR DA SILVA EMENTA EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO. RECURSO MINISTERIAL. SAÍDAS TEMPORÁRIAS. ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI Nº 14.843/2024. NORMA DE CARÁTER NITIDAMENTE MATERIAL. NOVATIO LEGIS IN PEJUS. IRRETROATIVIDADE DA LEI https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 11 de 16 PENAL MAIS GRAVOSA. ART. 5º, INCISO XL, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO PENAL. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS PENAS. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA À FASE EXECUTÓRIA. INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES INSERTAS NO ART. 122, § 2º, DA LEP SOMENTE AOS CRIMES COMETIDOS EM SUA VIGÊNCIA. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME: Agravo em execução interposto pelo Ministério Público contra decisão que concedeu ao sentenciado o benefício da saída temporária, mesmo após a alteração do art. 122, § 2º, da Lei de Execução Penal pela Lei nº 14.843/2024. A decisão impugnada considerou que a referida alteração legislativa não poderia retroagir em prejuízo do apenado, em razão de sua natureza mista e do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO: A questão em discussão consiste em determinar se a alteração legislativa promovida pela Lei nº 14.843/2024, que restringe o benefício da saída temporária, pode ser aplicada retroativamente a fatos praticados antes de sua vigência. III. RAZÕES DE DECIDIR: 1. A Lei nº 14.843/2024 alterou o art. 122 da Lei de Execução Penal, vedando a concessão de saída temporária a condenados por crimes hediondos ou cometidos com violência ou grave ameaça contra pessoa. https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 12 de 16 2. A novel legislação ampliou o rol de impedimentos já previstos anteriormente pela Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), que restringia a saída temporária apenas para condenados por crimes hediondos com resultado morte. 3. A análise do texto legal ora em vigência revela que a nova redação do § 2º do art. 122 da Lei de Execução Penal trazcarga material prejudicial ao apenado, já que extirpa a possibilidade de que, durante o regime semiaberto, possa ser agraciado com liberdade sem vigilância direta por certo período de tempo, havendo, por consequência, recrudescimento da forma de punir e da expiação da reprimenda imposta, com influência direta na sua liberdade de locomoção, razão pela qual revela evidente conteúdo de direito material, de modo que, por se tratar de lex gravior, não poderá retroagir em prejuízo do sentenciado, em atenção à previsão positivada no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal e no art. 2º do Código Penal. 4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal reconhece a natureza mista do dispositivo em questão, o que impede sua aplicação retroativa, em respeito ao princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. A vedação retroativa do benefício, aliás, fere o princípio da individualização da pena e o aforismo nullum crimen, nulla poena sine praevia lege, devendo a norma anterior mais benéfica ser aplicada aos fatos ocorridos antes da vigência da nova legislação, cujo benefício da saída temporária deverá ser analisado à luz do sistema jurídico vigente ao tempo do fato praticado pelo reeducando. https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 13 de 16 5. No caso concreto, o sentenciado cumpre pena por homicídio qualificado, delito que configura crime hediondo e praticado com violência e grave ameaça à pessoa e, por isso, não faria jus às saídas temporárias. Entretanto, a infração penal foi cometida antes da vigência da Lei nº 14.843/2024, razão pela qual a concessão das saídas temporárias se mostra adequada. Decisão mantida. IV. TESE E DISPOSITIVO DE JULGAMENTO: 1. A alteração legislativa promovida pela Lei nº 14.843/2024, que vedou a concessão de saída temporária a condenados por crimes hediondos ou cometidos com violência ou grave ameaça, não retroage para alcançar fatos anteriores à sua vigência. 2. O princípio da legalidade e da individualização da pena impede a aplicação de norma penal mais gravosa em prejuízo do apenado por fatos praticados sob a égide de legislação anterior mais benéfica. 3. O benefício da saída temporária deve ser analisado à luz da legislação vigente ao tempo do crime. AGRAVO EM EXECUÇÃO MINISTERIAL DESPROVIDO. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul decidiu, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao Agravo em Execução ministerial, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que integram o presente julgado. https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 14 de 16 Porto Alegre, 20 de março de 2025. Documento assinado eletronicamente por MARCELO LEMOS DORNELLES, Desembargador Relator, em 26/03/2025, às 19:13:16, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://eproc2g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php? acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 20007722726v4 e o código CRC 79cc388f. Informações adicionais da assinatura: Signatário (a): MARCELO LEMOS DORNELLES Data e Hora: 26/03/2025, às 19:13:16 Poder Judiciário TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 20/03/2025 AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 8000045- 45.2025.8.21.0028/RS RELATOR: DESEMBARGADOR MARCELO LEMOS DORNELLES PRESIDENTE: DESEMBARGADOR JOSE CONRADO KURTZ DE SOUZA PROCURADOR(A): SERGIO GUIMARAES BRITTO AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL AGRAVADO: JOSEMAR DA SILVA ADVOGADO(A): ANTONIO FLAVIO DE OLIVEIRA (DPE) ADVOGADO(A): NILTON LEONEL ARNECKE MARIA (DPE) https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 15 de 16 Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual do dia 20/03/2025, na sequência 114, disponibilizada no DE de 11/03/2025. Certifico que a 1ª Câmara Criminal, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão: A 1ª CÂMARA CRIMINAL DECIDIU, POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO EM EXECUÇÃO MINISTERIAL. RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR MARCELO LEMOS DORNELLES VOTANTE: DESEMBARGADOR MARCELO LEMOS DORNELLES VOTANTE: DESEMBARGADOR REGIS DE OLIVEIRA MONTENEGRO BARBOSA VOTANTE: DESEMBARGADOR MARCO AURELIO MARTINS XAVIER SILVIA RIBEIRO DEMARCO Coordenadora MANIFESTAÇÕES DOS MAGISTRADOS VOTANTES Acompanha o(a) Relator(a) - Gab. Des. Régis de Oliveira Montenegro Barbosa - Desembargador REGIS DE OLIVEIRA MONTENEGRO BARBOSA. Acompanho o(a) Relator(a) Acompanha o(a) Relator(a) - Gab. Des. Marco Aurélio Martins Xavier - Desembargador MARCO AURELIO MARTINS XAVIER. Acompanho o(a) Relator(a) https://www.tjrs.jus.br/novo/imprime-html-jurisprudencia 18/04/2025, 12:16 Página 16 de 16