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FACULDADE DE TECNOLOGIA AMBIENTAL SENAI MARIO AMATO GESTÃO EM CONTROLES AMBIENTAIS Aparecido José Galindo GESTÂO AMBIENTAL E OS ESPAÇOS PÚBLICOS NAS GRANDES CIDADES SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015 G158g Galindo, Aparecido José. Gestão ambiental e os espaços públicos nas grandes cidades / Aparecido José Galindo. - São Bernardo do Campo, 2015. xx p. : il. Monografia Apresentada no curso de pós graduação em Gestão de Controles Ambientais – Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental / SBC Orientador: Prof. Esp. Carlos Henrique Andrade de Oliveira Coordenador Técnico: Prof. Esp. Carlos Alberto Alves Santos 1. Urbanismo. 2. Meio Ambiente. 3. Lazer. I. Título. CDU 502.13 APARECIDO JOSÉ GALINDO ATA DE AVALIAÇÃO DE MONOGRAFIA Realizada hoje, dia ___/___/________, a entrega de monografia para avaliação sob título: Gestão Ambiental e os Espaços Públicos nas Grandes Cidades por Aparecido José Galindo, aluno do Curso de Pós Graduação em Gestão de Controles Ambientais, como requisito para a obtenção do título de Especialista em Gestão de Controles Ambientais sob a orientação do Prof. Esp. Carlos Henrique Andrade de Oliveira. Coordenação técnica do Prof. Esp. Carlos Alberto Alves Santos, nas dependências da Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental, na cidade de São Bernardo do Campo – SP. Banca Avaliadora: Orientador - Prof. Esp. Carlos Henrique Andrade de Oliveira __________________________ Coord. Técnico - Prof. Esp. Carlos Alberto Alves Santos ___________________________ Resultado da avaliação: ( ) Aprovado ( ) Reprovado Ciente: _____________________________________________________________ Aluno: Aparecido José Galindo GESTÃO AMBIENTAL E OS ESPAÇOS PÚBLICOS NAS GRANDES CIDADES Trabalho de conclusão de curso de pós- graduação lato sensu apresentado à Faculdade de Tecnologia SENAI Mário Amato para obtenção de formação no curso Gestão de Controles Ambientais. Orientador: Prof. Esp. Carlos Henrique Andrade de Oliveira São Bernardo do Campo, São Paulo 2015 DEDICATÓRIA À Cláudia de Oliveira Marques Galindo, minha esposa. RESUMO O presente trabalho visa analisar o processo de formação e utilização de espaços públicos urbanos, discutir e apresentar alternativas quanto à gestão ambiental para estes espaços nas grandes cidades, utilizando-se, como estudo de caso, uma área situada na cidade de São Bernardo do Campo – município que compõe a região metropolitana de São Paulo, Brasil. Nele são abordadas questões essenciais quanto ao uso e manutenção dessas áreas e a importância delas para o bom funcionamento do meio ambiente urbano. Além disso, aponta soluções para os problemas encontrados quanto ao uso e a recuperação da área pesquisada, demonstrando a importância desse espaço para a sadia convivência em comunidade. PALAVRAS CHAVE Urbanismo, Meio Ambiente, Lazer, Vida Comunitária ABSTRACT This study aims to analyze the process of formation and use of urban public spaces, discuss and propose alternatives regarding environmental management for these spaces in major cities , using as a case study, an area in the city of São Bernardo do Campo - municipality that make up the metropolitan region of São Paulo, Brazil . In it are addressed key issues regarding the use and maintenance of these areas and their importance to the proper functioning of the urban environment. Moreover, points out solutions to the problems encountered in the use and recovery of the surveyed area, demonstrating the importance of space for healthy living in the community. INDICE DE FIGURAS Figura 1: Área pesquisada e região em 2004 6 Figura 2: Área pesquisada e região em 2014 6 Figura 3: Campo III – Complexo de campos Jardim Embaré – SBC 16 Figura 4: Campo II – Complexo de campos Jardim Embaré – SBC 18 Figura 5: Campo I – Complexo de campos Jardim Embaré – SBC 19 Figura 6: Moradias irregulares – Núcleo I 20 Figura 7: Moradias irregulares – Núcleo II 21 Figura 8: Deposição irregular de resíduos 22 Figura 9: Local utilizado para queima de resíduos sólidos 22 Figura 10: Voçoroca aberta na encosta Sul 23 Figura 11: Alagamento da Av. Kennedy – SBC 24 Figura 12 : Planta das melhorias da área pesquisada 32 Figura 13: Aspecto da Praça Aldemir Moreira Santos – 2004 35 Figura 14: Aspecto da Praça Aldemir Moreira Santos – 2014 36 Figura 15: Praça Aldemir Moreira Santos – reinaugurada 37 SUMÁRIO Introdução 1 1. Delimitações do tema 2 1.1. Delimitação dá área objeto de estudo 2 1.2. Problemas e hipóteses 2 1.3. Objetivos 3 1.4. Justificativa 3 1.5. Procedimentos Metodológicos 4 2. As cidades 4 2.1 O meio ambiente urbano 5 3. Caracterização dos espaços públicos urbanos 7 3.1 Usos dos espaços públicos urbanos 8 3.2 Processos de degradação dos espaços públicos urbanos 8 3.3 Causas da degradação dos espaços públicos 9 3.4 Efeitos da degradação dos espaços 9 4. Perfil socioeconômico da região 10 4.1 Entrevistas com moradores 11 4.2 Conteúdo das entrevistas 12 4.3 Análise das entrevistas 14 5. O campo de várzea 15 5.1 O lazer e as práticas esportivas 17 5.2 A utilização do espaço 17 5.3 Os impactos ambientais 19 5.4 Moradias irregulares 20 5.5 Descarte irregular de resíduos sólidos 21 5.6 Erosões do solo 23 5.7 As voçorocas 24 5.8 Os alagamentos 24 5.9 Inadequações para o uso 25 6. Propostas para a reestruturação do espaço 26 6.1 Uso esportivo 26 6.2 Cultura e lazer 28 6.3 Recuperação ambiental da área 30 6.4 Planta da área com as melhorias sugeridas 31 6.5 Proposta para realocação da população local 33 7. Estudo de caso: Jardim das Orquídeas 34 8. Considerações Finais 37 9. Referências 39 1 Introdução As cidades são lugares onde a troca de vivências e experiências são uma de suas principais atrações - e em apenas uma caminhada é possível conhecer pessoas diferentes, de lugares e hábitos distintos, e isso representa uma de suas maiores riquezas. Mas, para que de fato aconteça esta troca, e para que as pessoas consigam conviver harmoniosamente, é necessário que existam espaços públicos que lhes sejam agradáveis - seja uma calçada, uma praça ou um recuo de uma rua, onde a vizinhança planta suas flores. É de vital importânciaque este lugar seja olhado com carinho e atenção, tanto pela população, quanto pelo poder público e a iniciativa privada. Com a evolução das cidades no decorrer do último século, ficou mais que provado que a qualidade de vida nos grandes centros urbanos não está relegada apenas a bons salários, educação, segurança e saúde de qualidade. Passa também por um ambiente urbano sadio. Que o que acontece da porta de casa para fora, é sim da conta de todos. As ruas, praças e áreas de lazer precisam da atenção de todos os moradores. No século dos shoppings centers, dos mega centros de compras, das academias e das ilusórias e muitas vezes frustradas fugas para os lugares paradisíacos, os espaços urbanos de uso público perdem a cada dia mais seu poder recreativo, esportivo e paisagístico. O abandono desses espaços, o preconceito com os seus usuários chega a ser comum e até aceitável por grande parte da população que acredita que visitar regularmente a pracinha do bairro ou o campo de futebol da vila seja coisas para usuários de drogas, vagabundos e criminosos. Com o tempo os valores se inverteram, e de onde antigamente surgiam as amizades duradouras, as lideranças comunitárias e as bandeiras de uma sociedade nascente, hoje brota tudo aquilo que é segundo essa mesma sociedade, motivo de medo e preconceitos. O trabalho trata de um desses espaços, onde o meio ambiente e os indivíduos que o frequentam dialogam entre si. A área objeto deste estudo vem sendo utilizada há décadas, basicamente movida pela vontade das pessoas que a visitam e de certa forma, pelo 2 esquecimento que o entorno, ao longo dos anos, lhe foi concedendo, mesmo que, por um esquecimento dissimulado quando, de tempos em tempos, mais um pedaço de terra foi sendo tomado para que outra atividade fosse realizada - principalmente a construção de condomínios fechados, torres de edifícios ou prédios educacionais. Mesmo assim, a área e seus frequentadores ainda sobrevivem em uma massa cada vez mais pesada de concreto que toma a cidade por todos os lados. 1. Delimitações do tema Espaços públicos urbanos e a sua utilização como locais voltados para práticas de lazer, cultura e cidadania. Assim como melhorias e conservação na perspectiva de que essas áreas possuam qualidade ambiental no seio das grandes cidades. 1.1. Delimitação da área objeto de estudo O espaço público estudado neste trabalho, de agora em diante denominado como o Campo dos 11 Unidos, está situado em uma região central da cidade de São Bernardo do Campo. Fica próximo a clubes de lazer, universidades e condomínios de alto padrão e também vizinho a uma área de moradia de baixa renda. Distante a 2,5 km do Paço Municipal da cidade, a área está encravada nas bordas do Jardim Calux e Jardim Embaré, localizada à Rua Maria Vitória de Jesus, contendo aproximadamente quatro hectares, e tem como divisas: . ao Norte: Rua Virgínia Lopes Tavares/Jardim Embaré; . a Leste: Rua Vitória Maria de Jesus/Faculdade Metodista de Medicina Veterinária; . a Oeste: Condomínio Parque dos Pássaros/ Clube Golden Ball; . ao Sul: Av. Dom Jaime de Barros Câmara/Clube Mesc. Endereço: Rua Maria Vitória de Jesus S/N Jardim Embaré – São Bernardo do Campo, São Paulo. 1.2. Problemas e hipóteses Atualmente a qualidade da área estudada para o convívio público no Jardim Embaré não alcança nem de longe os requisitos básicos para esta finalidade. Há um conjunto de problemas que comprometem o uso público, como: 3 falta de iluminação adequada, existência de moradias irregulares, há problemas de acessibilidade para pessoas com deficiência e o escoamento irregular da água pluvial. São exemplos do total descaso para com esse espaço. Não é possível a população ter qualidade de vida sem contar com o mínimo necessário: áreas de convivência de qualidade. Quando a população ocupa uma área, como uma praça ou um parque, as chances desse espaço se tornar um local de convivência sadia são maiores. Para isso, políticas e ações devem ser implantadas, através do poder público ou da iniciativa privada (através da adoção por empresas) e ONGs para que a população, não só as ocupe, como também, a cidadania possa ser promovida nesses lugares. Programas de ocupação de espaços públicos, como atividades culturais, educativas e de prática de esportes, são bem vindos para o uso satisfatório de um espaço público nas grandes cidades. 1.3. Objetivos . Geral Apontar soluções adequadas para resgate da qualidade de espaços públicos e para a apropriação destes pela população, como alternativas de lazer; Melhorar as condições atuais de equipamentos de lazer como praças, campos de futebol e outras áreas de convivência situadas no Jardim Embaré e seu entorno. . Específicos: Indicar os rumos e os princípios para desenvolver uma política de melhorias e prevenção de impactos ambientais para os espaços públicos no município de São Bernardo do Campo/SP; Propor soluções para os impactos socioambientais em áreas de uso público; Propor mecanismos para evitar a degradação de espaços de uso público. 1.4. Justificativa Os espaços públicos destinados à convivência social vêm sofrendo com o abandono por boa parte da população – que está continuamente deixando de utilizar estas áreas – e pelo poder público. Com isso, o simples ato de sair de casa torna-se algo que causa medo e pavor para muitas pessoas, que 4 passam a ver estes espaços como um local propício para crimes, como assaltos, assassinatos e uso de drogas lícitas e ilícitas. Para que essa realidade seja mudada é necessário buscar conhecer esses espaços, a forma como são ocupados atualmente e, também, buscar a aplicação de políticas que os revitalizem e os tornem utilizáveis – ações de importância singular para a melhoria ambiental e, por consequência, social de nossas grandes cidades. 1.5. Procedimentos Metodológicos ● Consulta de livros, artigos científicos; ● Pesquisa em sites especializados, utilização de banco de dados governamentais sobre a região; ● Pesquisa de campo; ● Pesquisa de imagens do local; ● Registro fotográfico; ● Observação; ● Entrevistas. 2. As cidades A cidade, por si só, é uma grande ingerência do homem sobre a natureza, como também uma de suas grandes conquistas. Denomina-se como conquista por que foi nas cidades que o homem conseguiu, durante toda a sua história, praticamente anular os efeitos nocivos da natureza sobre a sua existência. Foi para esta finalidade - a vida na cidade - que o homem criou e aperfeiçoou tecnologias que mudariam para sempre o seu relacionamento com o meio ambiente. A criação das redes de água, esgoto, energia elétrica, novas formas de construção. Tudo isso, levou a humanidade a pensar que estaria para sempre livre da, muitas vezes implacável, força da natureza. Porém, isolando-se em um espaço totalmente artificial, a humanidade se expôs a outros problemas existenciais que, no afã do avanço tecnológico, foram negligenciados, gerando poluição atmosférica, hídrica, do solo e a descaracterização total de áreas imensas, que antes eram importantes para a saúde ambiental desses locais. 5 Com o tempo, aqueles problemas que eram apenas locais, como a poluição de uma nascente e a deposição de lixo no solo, etc. se tornaram questões regionais e, por fim, globais. Mesmo com toda evolução das cidades, das tecnologias e dosbens de consumo duráveis e não duráveis, o lugar onde ela está inserida continua sendo parte de um sistema maior e complexo: o meio ambiente. Este, lembrado apenas durante as enchentes ou as ondas de calor, nevascas e outros fenômenos naturais, clama todos os dias por atenção e cuidados. 2.1. O meio ambiente urbano Num meio ambiente equilibrado, aqui representado por uma floresta, os impactos ambientais causados pelo homem de certa forma podem ser notados com maior facilidade: a retirada de árvores, queimadas, caça e pesca predatória, despejo de resíduos, contaminação dos recursos hídricos. Mas, e quanto às cidades? E no caso desse estudo, às metrópoles? Como perceber o desequilíbrio em um espaço totalmente modificado por séculos de exploração do meio ambiente? Quando um rio, que está poluído há décadas, torna-se uma avenida, quando um belo monte vira mais uma favela, uma várzea transforma-se em um distrito industrial. Será que esses impactos são vistos da mesma forma? Afinal, uma cidade conquistar novas empresas é resultado da luta de muitas administrações públicas, financiamentos privados, etc. A comunidade vê também a chegada de novas empresas como a possibilidade de crescimento profissional. O grande desafio da preservação e uso racional de áreas verdes em uma grande cidade é convencer os atores envolvidos quanto à importância desta área e de sua manutenção. Quais benefícios ela poderá trazer a população sendo mantida, na sua integridade como espaço voltado ao uso público. Vendo o abandono em que o Campo dos 11 Unidos se encontra, percebe-se que o caminho mais fácil para conseguir o apoio da população e a solução de um problema ambiental é passar um trator por cima e construir condomínios, sejam eles de alto poder aquisitivo ou de baixa renda. Na cultura ocidental, o concreto tem esse poder de criar a ilusão de que os problemas ambientais foram todos resolvidos, sendo que, na 6 verdade, ele apenas os mascara. Um rio canalizado continua poluído, mesmo que ninguém o veja, e uma área contaminada, continua da mesma forma, apesar de, às vezes, levarem décadas para que o resultado dessa negligência ambiental volte a aparecer. A seguir, para ilustrar o processo de transformação de áreas e espaços livres ao longo dos anos, são apresentadas imagens de satélite com do complexo de campos e áreas adjacentes do Jardim Embaré e sua evolução no último período de dez anos. Figura 1: Área pesquisada e região - 2004 Figura 2: Área pesquisada e região 2014 Através dessas imagens é possível acompanhar as principais mudanças que ocorreram na região, como por exemplo, o desaparecimento de uma grande área verde ao norte da área pesquisada e a sua substituição por um condomínio residencial. 7 A seguir, serão abordados os principais aspectos dos espaços públicos urbanos, como sua caracterização, seus diversos usos, processos de degradação, causas e efeitos. 3. Caracterização dos espaços públicos urbanos Os espaços públicos estão presentes nas cidades desde a sua fundação, e passam, assim como todo espaço urbano, por transformações e adequações de acordo com a necessidade da população. Mas existem algumas características que precisam manter para continuar sendo um espaço de uso coletivo. Num sentido mais absoluto, podemos dizer: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade pela sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la. ( HERTZBERGER, 1999, p. 121). A principal diferença entre os espaços públicos e privados está ligada à liberdade de ir e vir em cada um deles. Nos espaços de uso público os frequentadores podem gozar de mais liberdade e anonimato, do que nos espaços de uso privado. Ao par que suas origens também são distintas na história das cidades. Os espaços públicos nascem da necessidade da convivência livre entre as pessoas de diversas origens e classes sociais e também para a preservação da história e da cultura de uma comunidade. As pracinhas que surgiram no entorno das igrejas, as associações de classe, os parques, os hortos florestais, são alguns exemplos a serem lembrados. O mesmo não pode ser afirmado sobre os espaços privados, que tem a sua origem envolvida com outros interesses, apesar do fator convivência está presente também neles. Mas os fatores que levam a construção de um Shopping Center são bem distintos da construção dos antigos coretos nas praças públicas. Na construção de um empreendimento como um centro comercial deste porte, é levado em consideração, muito mais o poder aquisitivo de seus futuros participantes do que a função que ele terá para a troca de experiências entre eles. Enquanto que o coreto foi pensado e construído para ser um local onde a vida particular e comunitária pudessem se encontrar. Não levando em conta para tal, que as pessoas que ali 8 viessem para assistir as apresentações culturais tivessem poder aquisitivo ou formação cultural distintas uma das outras. 3.1. Usos dos espaços públicos urbanos Quanto ao uso, os espaços urbanos podem ser utilizados para as mais diversas atividades, e a sua regulamentação cabe aos órgãos administrativos das cidades. As ruas invariavelmente são usadas para feiras públicas, eventos como festas do bairro, festas cívicas e outros acontecimentos. Os parques, com um objetivo voltado para a recreação dos moradores, e dotados de beleza paisagística, como construções e arborização, em sua utilização percebe-se a presença de regras mais rígidas, como a não entrada de animais, veículos e outros itens, cuja presença, de acordo com a administração possa causar danos ao meio ambiente local e ao descanso e lazer dos seus frequentadores. 3.2. Processos de degradação de espaços públicos urbanos O espaço urbano de utilização pública, tal como praças, quadras esportivas, campos de futebol, calçadas, áreas ajardinadas, etc., muitas vezes já nasce fadado ao fracasso em relação à sua função. Isso porque, naturalmente, os lugares cedidos para esses espaços são aqueles que foram preteridos para usos mais nobres como moradias, comércios, clubes, escolas e postos de saúde. Portanto, a degradação chega, no caso de cidades como São Bernardo do Campo, antes mesmo do espaço ser ocupado como área de interesse público. Não é incomum encontrar áreas de nascentes incrustadas no meio de parques e campos, e barrancos servindo como praças. No Jardim Calux, São Bernardo do Campo, foi entregue anos atrás, uma bela praça pública, com um pequeno inconveniente: metade da área destinada à praça está localizada em um terreno com inclinação acima dos níveis aceitáveis para um projeto dessa relevância. 9 De fato, em tal lugar torna-se impossível a fixação de bancos, playgrounds e outros equipamentos de lazer, além de ser inviável colocar uma toalha para um simples e relaxante piquenique. 3.3. Causas da degradação dos espaços públicos Considerando que o caso acima citado seja uma exceção àregra e que o espaço urbano nasça em um local adequado, diversas são as causas que o levam a um futuro desuso. Caso a área observada seja uma quadra poliesportiva (que tem esse nome graças à engenhosidade de seus usuários, por que normalmente conta com a demarcação de um campo de futebol de salão e duas barras de ferro servindo como gol), outros usos lhes são dados, como a prática de skate, improvisando barreiras removíveis para a realização das manobras. Com o uso, os materiais vão se deteriorando, como é o caso das barras de ferro que enferrujam e se desprendem do chão, sendo um risco para quem pratica esportes no local. A tinta, que antigamente marcou o chão, também se foi e as lajes de concreto do piso, com o tempo, levantam as suas laterais, oferecendo ainda um risco maior a seus usuários. Existem casos em que o espaço é usado corretamente, mas levando em conta que há mais de uma década nenhuma reforma foi realizada no local, além da pintura dos muros feita pelos próprios moradores do entorno, a conclusão é que o espaço de lazer de uso público carece principalmente de um programa de uso e ocupação e principalmente um cronograma de revitalização. 3.4. Efeitos da degradação dos espaços A quadra citada acima existe, assim como dezenas ou centenas delas sob as mesmas condições. Esta fica no Bairro Planalto, não muito distante da praça sobre um penhasco, descrita anteriormente. O espaço, largado à sua própria sorte (apesar de estar situado em área densamente habitada,) mantém-se praticamente vazio exceto aos domingos, no final da tarde. Existe uma praça em seu entorno, onde uma escultura de concreto armado serve de acento a usuários de drogas lícitas e ilícitas durante vinte e quatro horas. Algumas árvores, um muro de uma empresa. Eis o cenário. 10 A iluminação é precária, sendo que jogar futebol ali, à noite, exigiria coragem e uma visão extraordinária. Com o passar dos anos, a quadra foi se degradando. Apesar dos moradores do bairro exigir, ora sua reforma, ora sua destruição, nenhuma ação foi realizada no local. Com o boom imobiliário de São Bernardo do Campo, dezenas de torres de apartamento foram erguidas por todo o bairro. Porém, mesmo com o aumento de moradores a quadra continua vazia. Virou um lugar de pavor durante a noite, e um espaço a ser evitado durante o dia. Existe um ponto de ônibus na praça, mas as pessoas preferem andar um pouco mais e pegar o coletivo em outro ponto, virando o espaço, com o decorrer do tempo, uma zona fantasma em um bairro cada dia mais valorizado. O perfil social e econômico da população também pode influenciar na manutenção, mas a capacidade de mobilização e de intensidade de uso das áreas públicas tem maior influência na manutenção da qualidade destas áreas, como tratado a seguir. 4. Perfil socioeconômico da região A região do bairro Planalto, situada às margens da rodovia Anchieta, originou-se em meados do século passado, crescendo no entorno de algumas indústrias da família Fongaro, entre elas a Júpiter e a Entram - esta última uma indústria de meias. Hoje, o que se conhece como bairro Planalto é uma área de 3,7 km quadrados, com uma população de 29.366 habitantes, formado por diversas vilas, aqui citadas em ordem de fundação: Vila Washington (1949), Vila Júpiter (1950), Vila Planalto (1950), Jardim Beatriz (1953), Conjunto Raul Silva (1962), Vila São Francisco (1954), Vila Júpiter Nova (1955), Jardim Gagliardi (1960), Jardim Calux (1955/1963), Jardim Embaré, Conjunto Habitacional São Fernando, Vila Armando Bandioli, Jardim São Silvério. Foi levada em consideração a datação das licenças para os loteamentos, existindo casos de ocupação antes da data registrada. A região atualmente passa por uma grande valorização imobiliária, tornando-se um lugar densamente povoado, principalmente nos núcleos que correspondem a Vila Planalto, Vila Júpiter e Jardim Embaré. 11 A região tem uma forte presença da imigração nordestina e assim como toda a Região Metropolitana da Grande São Paulo, (RMGSP) tem recebido influência dos fluxos migratórios atuais e das últimas décadas. A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), publicada em 05/11/2014, mostra a situação atual dos imigrantes na RMGSP: Em 2000, a RMSP contava com 7,8 milhões de migrantes, que representavam 43,8% do total populacional, enquanto os não migrantes (aqueles que sempre residiram na região e os que migraram de um município para outro dentro da própria RMSP) correspondiam a 56,2%. Transcorridos 13 anos,o volume de migrantes diminuiu para 7,4 milhões de pessoas, respondendo por 36,9% da população regional. Fonte: Fundação Seade Esses dados ilustram alguns aspectos da vida social da região estudada, principalmente no núcleo favelado, próximo ao Jardim Calux, que pertence ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), cedido à COHAB e ao INOCOOP, que ainda carece de regularização dos terrenos ali ocupados de maneira irregular. Nessa área, situa-se a maior porcentagem de imigrantes nordestinos da região do Bairro Planalto. 4.1. Entrevistas com moradores Para ilustrar e caracterizar a situação da área objeto de estudo, algumas entrevistas foram realizadas com moradores da região, oriundos do estado de Pernambuco, que residem ou que já residiram na região nas ultimas três décadas. As entrevistas foram realizadas em Novembro de 2014 na Vila Planalto, onde os entrevistados responderam perguntas sobre como, de acordo com a sua percepção, o bairro sofreu mudanças durante o tempo em que eles viveram nele, e como essas mudanças afetaram diretamente as suas vidas, nos mais diversos aspectos, em especial aquele que é concernente ao tema principal desse estudo. Os nomes verdadeiros estão disponibilizados nas Referências. 12 OBS: Os entrevistados liberaram a divulgação de suas identidades e do conteúdo das entrevistas. Entrevistado(a) I: Idade: 39 anos Época em que viveu no Bairro: 1991/1998 Reside atualmente: Fazenda da Juta – Zona Leste de São Paulo Entrevistado(a) II: Idade: 46 anos Época em que viveu no Bairro: 1987 até os dias atuais Entrevistado(a) III: Idade: 34 anos Época em que viveu no Bairro: 1996 até os dias atuais 4.2. Conteúdo das entrevistas Entrevista I Entrevistador: Quando você chegou ao Bairro Planalto? Entrevistado(a) I: Cheguei aqui em 1991, sai em 1998 Entrevistador: Como era a região Vila Planalto – Calux, quando você chegou? Entrevistado(a) I: Na época em que eu cheguei havia mais firma, depois foram embora pro interior, teve firma que faliu, inclusive meu primo faleceu e não recebeu os direitos trabalhistas. Entrevistador: Na época em que você chegou aqui quais eram os equipamentos de lazer que existiam, como você se divertia? Entrevistado(a) I: Haviam algumas praças, a gente ia no centro de São Bernardo, aqui mesmo haviam mais campos, as crianças brincavam na rua, no Calux tinha os barracos eu tinha muitos amigos que moravam lá, alguns já se foram, depois decidiram e dividiram os terrenos, os terrenos ficaram bem compridos. Agora está muito diferente. Entrevista II Entrevistador: Quando você chegou aqui noBairro? 13 Entrevistado(a) I: Cheguei aqui em 10/06/1987. Aqui no bairro quando eu cheguei haviam muitas empresas. Elas davam empregos para muitas pessoas. Só na IBF trabalhava 1.500 funcionários. Hoje já faz vinte anos que ela fechou. Só na Panex trabalhava 1.200, hoje só tem 300, a FRAM, a empresa FRAM está acabando de fechar esse ano e está indo para Minas Gerais. Tem a ISOPOR também, que saiu aqui do Planalto, hoje ela foi pra o interior, no terreno onde tinha a ISOPOR vai ser construído apartamento e uma firminha pequena lá também. E havia a ROLLS- ROYCE onde trabalha 2.000 e hoje tem 400 funcionários. Entrevistador: Quando você chegou qual era o seu divertimento no Bairro? O que seus amigos faziam? Entrevistado(a)II: Era diferente. Por que naquela época haviam quadras aqui, eles fecharam, havia campos de futebol eles acabaram com os campos de futebol e construíram a garagem da EMTU e hoje não tem mais nada de lazer no Planalto. Aqui tem duas quadrinhas, que para usar é aquela confusão. O lazer aqui no bairro está muito fraco. Entrevistador: Quanto ao Campo dos 11 Unidos, você chegou a jogar futebol lá, chegou a conhecer pessoas que iam lá? Entrevistado(a) II: Sim, cheguei a conhecer pessoas que jogavam lá, tinha um clube aqui do Planalto que jogava lá também. Que era também era um clube de bocha. Esse clube fechou. E aqui tinha um time de futebol que ia jogar lá no Calux. E tem vários troféus que foram ganhos que ficaram neste clube que hoje já não existe mais, está fechado. Entrevista III Entrevistador: Boa tarde. Entrevistado(a) III: Boa tarde. Faz 18 anos que eu moro aqui no Planalto e no Calux, conheci o Calux na época em que estava sendo feito o asfalto né, estava asfaltando as ruas, fazendo o esgoto e lá as ruas continuaram estreitas e apertadas o povo muito sofrido construíram suas casinhas com muito esforço e até hoje não tem a documentação por que aquele terreno é do estado, ninguém acha o dono e ninguém quer passar o terreno por que é particular e eles estão até hoje sem a documentação necessária. O Planalto eu conheci ele tinha muita indústrias e foram acabando, as indústrias, por que a população foi aumentando. Aqui na rua onde eu 14 moro tem, a dez anos construíram dez torres de prédio, ergueram mais quatro a quatro anos, tem varias torres que foram construídas ali na virada da Anchieta. E tudo sai aqui do Planalto, todos os carros passam por essa avenida, nela agora o trânsito é demais e o posto de saúde (UBS) continua do mesmo tamanho a população aumentou, as indústrias foram embora e áreas de lazer, eu mesmo não conheço nenhuma. Não tem uma calçada que dê para você fazer uma caminhada. A quadra que tem, que é da escola é fechada não é aberta ao público e as duas quadras que o meu filho joga bola não têm manutenção, desde que eu vivo aqui nunca vi fazerem uma manutenção, e é o único lugar onde se possa ir aos finais de semana. É um bairro com uma população tão grande e eu não vejo melhora nenhuma para o povo. Se você quer levar seu filho num parque para brincar em um escorregador você tem que ir no centro da cidade ou pegar um ônibus para Rudge Ramos. E é assim no Planalto, a gente vive aqui somente para trabalhar. Lazer aqui, dentro do bairro, não tem. 4.3. Análise das entrevistas As entrevistas acima foram realizadas na casa de uma das pessoas entrevistadas. Aos domingos, a família se reúne no pequeno espaço que foi construído nos fundos de uma garagem, onde dividem um quintal com mais duas famílias de imigrantes nordestinos. Ali passam a tarde inteira, conversando, sentados em um corredor que dá visibilidade para a rua. Este é o contato dessas pessoas com a cidade aos finais de semana. Seu lazer, além da conversa, se restringe a jogos de cartas e videogame. Segue trecho da entrevista que ilustre este aspecto da vida no bairro: Não tem uma calçada que dê para você fazer uma caminhada. A quadra que tem que é da escola é fechada não é aberta ao público e as duas quadras que o meu filho joga bola não têm manutenção, desde que eu vivo aqui nunca vi fazerem uma manutenção, e é o único lugar onde se possa ir aos finais de semana. (Entrevistado(a)III. 15 O descaso com os espaços de interesse comum no bairro, como notado no teor das entrevistas, leva a uma situação de exclusão. A pessoa se sente esquecida e colocada em uma situação em que os momentos de lazer, o descanso semanal é transformado em frustração. Quanto às condições do lazer na cidade, lê-se o seguinte trecho: Se você quer levar seu filho num parque para brincar em um escorregador você tem que ir ao centro da cidade ou pegar um ônibus para o Rudge Ramos. (Entrevistado(a)III) Portanto, fica aqui caracterizada a forma como são direcionados os espaços públicos não apenas no bairro Planalto e região, como também em outras partes da cidade. Os parques, que são bem cuidados, funcionam como santuários, aonde as pessoas vão de lugares distantes para admirar a paisagem, para sentirem-se acolhidas e ao mesmo tempo fugir das péssimas condições dos espaços públicos de seus bairros. Quanto à avaliação que o(a) morador(a) do bairro em questão faz das condições atuais de vida do local, lê-se: E é assim no Planalto, a gente vive aqui somente para trabalhar. Lazer aqui, dentro do bairro, não tem. (Entrevistado (a)III) Este é um sentimento com o qual boa parte da população é forçada a coexistir: Aqui é bom para trabalhar e não para viver! Porém, ter qualidade de vida, depende principalmente das ocupações as quais as pessoas dedicam seu tempo de ócio. Cidades sem espaços públicos adequados incitam e até obrigam a seus moradores ter uma vida sedentária, quando é sabido que esse estilo de vida não condiz em nada com aquilo que é indicado pelos especialistas em saúde. Fica aqui outra vez explícita a necessidade mais que urgente de que políticas públicas sejam implantadas no sentido tanto da criação, quanto da manutenção dos espaços públicos de uso comum. A seguir, o estudo abordará os aspectos relativos às características dos campos de várzea e sua importância para a integração da comunidade como espaços de lazer. 16 5. O campo de várzea Surgidos no final no século XIX no Brasil, os campos de futebol são espaços de uso público, que invariavelmente foram criados e mantidos por seus usuários. Comumente surgidos em uma área no entorno das periferias das grandes cidades, em terrenos, muitas vezes preteridos pela municipalidade e pelos agentes imobiliários. Ao seu redor, aos finais de semana, dezenas e até centenas de pessoas se reúnem para a prática de esportes, em sua grande maioria o futebol, mas existem casos, principalmente nos estados do Sul e do Sudeste do Brasil, da existência de campos de malha e bocha próximos a essas localidades. Os campos estão situados em sua grande maioria em várzeas ou áreas de nascentes, locais esses antigamente não muito utilizados para moradia, devido ao perigo de contrair doenças contagiosas por causa da insalubridade do terreno. A maioria desses espaços foi desaparecendo com o tempo, à medida que a cidade foi requisitando esses terrenos, antes sem valor econômico. Com a implantação da indústria automobilística e com a vinda de imigrantes para áreas antes inabitadas da cidade, outros campos foram surgindo.É dessa fase o Campo dos 11 Unidos, nascido na década de 1990, tendo resistido até os dias atuais a todas as pressões que tem sofrido, principalmente nos últimos anos, quando a periferia da cidade se encontra cada dia mais distante do centro e o valor dos terrenos da região tem crescido vertiginosamente. Nesse complexo de campos, três equipes do futebol amador de São Bernardo do Campo, mandam os seus jogos, são elas: E.C. Unidos, Brasília E.C. e Clube Atl. Mineiro. Na figura seguinte, o campo III, com o condomínio Parque dos Pássaros ao fundo. Figura 3: Campo III – Complexo de campos Jardim Embaré - SBC 17 5.1. O lazer e as práticas esportivas Os espaços destinados ao lazer nas grandes cidades são menores a cada dia, e estão ligados ao consumo, quase que em sua totalidade. Áreas de uso público gratuitas são raras e as que existiam foram concedidas para serem geridas pela privada, como é o caso do parque Cidade da Criança (também em São Bernardo), onde a entrada continua a ser gratuita, mas o alto preço cobrado nos serviços prestados desestimula a visita das classes menos favorecidas economicamente. Na região onde se encontra a área estudada a situação não é diferente. Todo o seu entorno está tomado por projetos que necessitam do mínimo de investimento financeiro para poder entrar e usufruir dos serviços ali encontrados. É o caso dos clubes Mesc e Golden Ball, onde a entrada é limitada a sócios. Quanto às praças e quadras abertas ao público, a situação é de penúria, sendo impossível praticar algum esporte nesses espaços sem o risco de escoriações se por ventura cair e entrar em contato com as placas de concreto que se levantam aqui e ali por falta de manutenção, recuperação e adequação desses lugares. Neste sentido, vale lembrar que a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 217, diz que: Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. Também nesse mesmo artigo, a Constituição deixa bem claro, que, § 3º - O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social. Cabe, portanto, à sociedade civil e aos demais poderes constituídos, fiscalizarem a aplicação da lei por parte do poder executivo. 5.2. A utilização do espaço A Prefeitura de São Bernardo do Campo utiliza dos campos para a realização do projeto Tigrinho. Esse projeto é realizado em parceria com o 18 São Bernardo Futebol Clube que atua na primeira divisão do futebol paulista e a Fábrica do Futuro (uma empresa da iniciativa privada que trabalha com ações socioeducativas, voltadas para o audiovisual). O projeto funciona durante a semana e abrange garotos em idade escolar. Durante os finais de semana, ocorrem jogos amistosos, torneios e campeonatos amadores. Ainda no espaço existem bares que funcionam em horário comercial e que vendem desde bebidas alcoólicas a lanches, salgados, miudezas em geral. O lugar também é utilizado para realização de festas, comemorações ligadas ao futebol. A área dos campos é cercada por um alambrado que a mantém fechada durante o período em que não ocorrem atividades. Mas todo o entorno é aberto e pode ser visitado a qualquer momento. Na figura a seguir, aspecto do campo I, com o condomínio Jardim dos Pássaros, ao fundo. Figura 4: Campo I – Complexo de campos Jardim Embaré - SBC A seguir, é apresentado aspecto do campo II, com a Faculdade Metodista de Medicina Veterinária ao fundo. 19 Figura 5: Campo II – Complexo de campos Jardim Embaré – SBC 5.3. Os impactos ambientais O terreno onde está situado o campo possui um recorte de terra em sua face sul, que pela composição de seu solo, observasse que contém uma grande massa de restos de construção, boa parte da área fica em um platô, área muito susceptível a desprendimentos de terra quando em épocas de chuva. O crescimento de vegetação rasteira também é comum assim como a presença de agentes contaminadores: ratos e baratas abundam por toda a área. A falta de locais para a deposição do lixo leva ao aumento desse risco. Para evitar alagamentos na área dos campos, os freqüentadores cavaram valas de drenagem que levam a água para fora da região. Essa água cai direto na Avenida Robert Kennedy causando inundações e deixando as vias desta avenida cobertas com o barro vermelho que é levado pelas enchentes. Durante a noite a falta de iluminação transforma a área num lugar muito procurado usuários de drogas licitas e ilícitas. A falta de banheiros, ou a quantidade insuficiente destes, desde que existem apenas os que estão dentro dos campos cercados e são permitidos apenas aos atletas, provocam um cheiro de urina comum nas áreas mais distantes e longe da vigilância dos frequentadores. 20 5.4. Moradias irregulares Dentro do espaço, existem dezenas de moradias, estando às mesmas situadas em dois blocos distintos. O núcleo maior está na parte em que o terreno faz divisa com a Faculdade Metodista de Medicina Veterinária, abarcando o total de quase vinte residências. As mesmas estão construídas em alvenaria (com tijolo e cimento) e cobertas com telha de fibrocimento, amianto e telhas de argila. As casas estão servidas por energia elétrica retirada de um poste, localizado ao final da Rua Oneda, sendo que esta ligação é irregular e ilegal e feita de maneira improvisada através de postes de madeira, o que aumenta os riscos. Neste bloco, além das moradias, existem bares e o galpão onde a prefeitura executa parte do Projeto Tigrinho. O outro núcleo habitacional está situado não na lateral do terreno, como o primeiro, mas sim em uma parte mais centralizada, entre os campos dois e um. Neste lugar há em torno de uma dezena de casas, construídas tanto em alvenaria, quanto com materiais como folhas de madeira, alumínio e até papelão. Existem também galpões que servem como bares. O abastecimento de água também é feito através de ligações clandestinas. Nas figuras seguintes, aspecto dos núcleos um e dois de moradias irregulares da área estudada. Figura 6: Moradias irregulares – Núcleo I 21 Figura 7: Moradias irregulares – Núcleo II 5.5. Descarte irregular de resíduos sólidos O lixo pode ser encontrado em todo o perímetro do espaço estudado. Uma prática comum é esse lixo ser reunido pelos moradores e usuários da área em montes para ser queimado. Várias pilhas de cinzas podem ser percebidas em locais diferentes. Também existe uma plataforma de ferro, como uma gaiola, que serve para as pessoas jogarem o lixo em cima, para que a prefeitura recolha, semanalmente. Além de ser uma solução incipiente - que o lixo cai no solo e é espalhado por cachorros e outros animais, quanto que visivelmente a coleta não é feita com a frequência necessária, o que fica claro na quantidade de lixo que fica espalhado nestelocal. Em visita à área, percebeu-se que os materiais espalhados não ficam resumidos ao lixo descartado pelas pessoas na rua, como embalagens de biscoitos, garrafas, bolsas plásticas e outros, como também é perceptível a presença de lixo comum às residências, como papel higiênico, restos de comida preparada nos lares como arroz, feijão etc. e também embalagens de produtos de limpeza e higiene pessoal. 22 Nas figuras a seguir, estão ilustradas as estruturas para deposição e a prática de queima de resíduos sólidos. Figura 8: Deposição de resíduos Figura 9: Local utilizado para queima de resíduos sólidos. 5.6. Erosões do solo 23 O terreno está situado em um platô, com declive acentuado e essa particularidade traz algumas implicações para o seu uso. Como em nenhum lugar existem quaisquer medidas para diminuir os impactos causados pelas chuvas, quando essas ocorrem, encontram um lugar sem estrutura para escoamento que ocasiona desde alagamentos a erosões por toda a área. Neste sentido, o espaço que mais sofre com a pressão pluvial é a lateral sul do terreno, que faz divisa com a Av. Dom Jaime de Barros Câmara. Neste lugar, o terreno tem um declive de cinco metros de altura, sendo que a maior parte da água que é drenada pela área é trazida a essa encosta devido a um dreno aberto dentro do terreno, que escoa a água dos campos três e dois. Foram realizadas melhorias nesse aspecto, mas, pelo caráter da obra, fica nítido que a iniciativa partiu dos moradores e visitantes, pois o dreno resulta de um cano de PVC com duzentas polegadas, sem grade para coibir a passagem de lixo e outros elementos obstruidores. Esse cano joga uma quantidade imensa de água no leito da Av. Dom Jaime, ocasionando o entupimento da rede fluvial e consequentemente a inundação da Av. Robert Kennedy, que está a cem metros da área. Nesta mesma face do terreno, existem duas grandes voçorocas, uma delas com mais de dez metros de largura, que desce do alto do terreno até a base, e toda essa terra já foi levada para o fundo do leito do Ribeirão dos Couros, que passa a poucos metros dali. Nas figuras a seguir, aspecto da voçoroca na encosta sul do terreno, junto a Av. Dom Jaime e alagamento da Av. Robert Kennedy em janeiro de 2012. Figura 10: Voçoroca aberta na encosta Sul 24 Figura 11: Alagamento da Av. Robert Kennedy - SBC 5.7. As voçorocas As voçorocas são processos erosivos causados principalmente pela falta de cobertura vegetal do solo e pela sua consequente exposição às chuvas. Isso ocasiona com o arrastamento de quantidades consideradas de solo das áreas afetadas e em casos mais graves, parte do subsolo. A figura 10 é um exemplo, grave de erosão, mostra que a estrutura do terreno está seriamente ameaçada e que, pela profundidade alcançada pela voçoroca, que esse é um problema que remonta alguns anos de existência da região ocasionando uma perda considerada de material. 5.8. Os alagamentos Os alagamentos, como retratado na figura 11, são problemas recorrentes nas grandes cidades brasileiras. Suas causas e origens possuem diversos fatores sendo os mais comuns o estreitamento dos canais de córregos e rios e a mudança drástica de seus cursos naturais. Agregando-se a essas causas a impermeabilização de ruas, quintais, praças e parques além da grande quantidade de lixo que não chega a ser coletado e que ficam jogados nas ruas, como móveis, carcaças de automóveis, etc. 25 Áreas desprotegidas, como a retratada na figura 10, também auxiliam nesse processo que chega a ser caótico, como nos mostra esse registro da Av. Robert Kennedy totalmente coberta de água. Isso por que a terra arrastada pela força das trovoadas de verão, entopem bueiros e, por conseguinte, os leitos dos cursos d’água, como o Ribeirão dos Couros. Os alagamentos trazem diversos males à população das grandes cidades como a piora na mobilidade desses espaços, perda de vidas, materiais e aumento das doenças transmissíveis por vetores ligados a esses desastres como a dengue e a leptospirose. 5.9. Inadequações para o uso Atualmente toda a área que corresponde ao Campo dos 11 Unidos, encontra-se, pode-se assim dizer, inadequada para o uso por apresentar características que trazem riscos aos seus moradores e visitantes. Além dos problemas já citados, existe a questão da inadequação do espaço para portadores de necessidades especiais, gestantes e idosos. Como não há rampas de acesso, calçamento e trilhas de caminhada, é praticamente impossível de uma pessoa nestas condições usufruir do espaço. Outros também são os fatores preocupantes, como a quantidade ínfima de banheiros para o número de visitantes e sua localização - lembrando que os sanitários estão dentro dos vestiários e é vedado o seu uso por pessoas que não sejam atletas. A falta de iluminação também restringe o uso do espaço, pois todas as suas atividades precisam ser realizadas durante o dia, para aproveitar a luminosidade solar. Também não existem espaços como quiosques ou áreas arborizadas, bancos e pontos de hidratação. Nas épocas de chuva, devido à incipiente drenagem da área os insetos são um grave problema aos frequentadores, pernilongos, moscas, mosquitos, abundam por todo o perímetro. No momento, a área é um grande problema para a região, pois ali os ratos e as baratas encontram abrigo e alimento. E é comum os passantes jogarem lixo e animais mortos. Todo esse material em decomposição ao ar livre atrai insetos e animais transmissores de doenças como a dengue, toxoplasmose e 26 verminoses, em locais onde as crianças, muito numerosas, costumam brincar entre os dejetos. Os espaços públicos nas grandes cidades, como os campos de várzea, têm uma função importante no bem estar da comunidade adjacente e no seu desenvolvimento no decorrer do seu processo histórico acompanhando o crescimento populacional e as mudanças sociais do local. Recuperar esses espaços adequando-os para as necessidades de esporte e lazer da população é uma forma de garantir avanços consideráveis em sua qualidade de vida. O capitulo seguinte abordará as propostas que visam implantar melhorias na área estudada. 6. Propostas para a reestruturação do espaço A reestruturação e recuperação da área em estudo são de interesse não só da população local, mas como de toda a comunidade. Os campos ali existentes são espaços de lazer e prática de esportes e a área em seu entorno oferece possibilidades para que outros projetos sejam implantados. Após uma rápida observação em seu entorno, fica evidente a importância, não só de sua existência, como espaço público de interesse coletivo, como também do ponto de vista ambiental, porque a cada dia são mais raros espaços com potenciais ambientais como o Campo dos 11 Unidos. Nas figuras 1 e 2 apresentadas no início deste estudo, ficaram claras as transformações da região nas últimas décadas, sendo aquele um dos únicos locais de uso coletivo que sobrou em toda a região. Devido ao seu grande potencial como área de lazer e de esportes, aliado aos aspectos paisagístico e cultural, a melhoria e a ampliação do seu uso são necessárias, demandando propostas que serão apresentadas a seguir, destacadas por tipo de uso ou função. 6.1. Uso esportivo Atualmente o local conta com três campos de futebol que necessitam de melhorias, como uma drenagem que seja mais eficiente, não permitindo que em épocas de chuva os campos fiquem alagados por diversos dias, impossibilitando o bom desempenho dos atletas que ali praticam o seu esporte favorito. Além de preservaros campos na sua integridade, outras propostas de melhorias são indicadas: 27 ● Acessos Os acessos são precários, tanto para quem se dirige ao local a pé ou de automóvel. Existe também o problema do local não oferecer nenhuma acessibilidade a portadores de deficiência física. Surge daí a necessidade de construir rampas de acesso e escadas de qualidade para toda a área, principalmente para os campos, para que essas pessoas possam não somente assistir os eventos esportivos, como também participar ativamente destes. ● Drenagem da área A falta de drenagem da área é um dos principais incômodos deste espaço. Existe dispositivo de drenagem, mas o mesmo foi realizado sem nenhuma preocupação técnica. Chega-se ao absurdo de jogar uma carga imensa de água em plena Av. Dom Jaime causando sérios transtornos para a região. Quando chove, os campos ficam em situação deplorável, impossibilitando que qualquer modalidade esportiva seja realizada com alguma qualidade. Além disso, o acumulo da água das chuvas traz uma nuvem de insetos que se soma ao lixo existente e que se encontra espalhado por toda a área, piorando ainda mais a situação que já é caótica em tempos de estiagem. ● Iluminação Sem iluminação noturna, a capacidade da área de receber público e realização de atividades fica restrita ao dia. A falta de iluminação noturna ocasiona também a prática de crimes, como pequenos furtos e usos de entorpecentes na região. As torres de iluminação devem, não só privilegiar as áreas onde são realizadas as práticas esportivas, como também todo o entorno. ● Banheiros e vestiários Quanto se pretende que um espaço seja utilizado pela população não se deve esquecer das condições mínimas de higiene que tal equipamento público necessita. A falta de banheiros leva a costumes que não são indicados para um lugar com a presença de um grande número de pessoas. A construção de banheiros e reforma dos vestiários é necessária para que a 28 população sinta-se convidada a participar dos eventos e também a visitar o local com regularidade. Além de preservar pela qualidade ambiental do espaço, evitando que urina e fezes fiquem espalhadas a céu aberto, como acontece atualmente. ● Construção de arquibancadas móveis ou permanentes A construção das arquibancadas seria viável, a principio, em ao menos um dos campos, aquele que neste trabalho foi tratado como campo dois, devido às características do corte do terreno. As arquibancadas seriam construídas aproveitando um declive natural no solo, que é usado pelos freqüentadores para assistirem aos jogos, sentados em pedras ou troncos de árvores ali colocados para este fim. 6.2. Cultura e lazer É reconhecidamente o futebol a matéria que uniu e manteve o terreno com as características atuais e não se deve esquecer esse quesito no momento de promover as melhorias necessárias na área. Por isso, manter os três campos é de vital importância, numa região em que áreas com estas características são cada dias mais raras e por ser o futebol, de longe, o esporte mas popular da região. Mas isso não significa que outras possibilidades de lazer não sejam viáveis. E aqui são propostas algumas iniciativas quanto à variação na oferta de lazer e cultura no espaço. ● Espaço Cultural A área que fica ao lado da EMEB Sadao Higuchi (que atualmente está ocupada por moradias irregulares do núcleo dois e despejo inadequado de lixo) é um local que pode ser utilizado para a construção de um complexo de prédios para a utilização pela comunidade e também pela escola, no qual diversas atividades podem ser desenvolvidas. Por ser uma área extensa, poderiam ser inseridos os seguintes equipamentos públicos de lazer e cultura. ● Cineclube 29 Espaço para a apresentação de filmes, de preferência de cunho educativo, produção nacional e projetos de audiovisuais, produzidos junto à comunidades local, existindo também aulas e vivências referentes à sétima arte. ● Biblioteca Instalação de biblioteca interativa, onde a população tenha a possibilidade não só ao acesso à leitura, como também a interatividade que hoje é inerente aos mais diversos processos de aprendizagem. Isso implicaria na disponibilização de um telecentro, modalidade já reconhecida por sua capacidade de oferecer gratuitamente os mais diversos serviços digitais. Salas de leitura, oficinas literárias, saraus, palestras e contação de histórias também são outros serviços que podem ser oferecidos no espaço da biblioteca. ● Playgrounds Implantação de equipamentos para que as crianças tenham um espaço adequado para o lazer. Nesse quesito, existe uma grande bibliografia sobre a importância do brincar para o desenvolvimento das crianças e a sua inserção na sociedade. Entre eles os mais importantes seriam os brinquedos educativos e as práticas recreativas. O local para a implantação desses equipamentos seria no entorno do centro cultural, ao lado da EMEB. ● Lanchonete Espaço com estrutura construída para alimentação dentro do complexo, com serviço de refeições, sucos, etc. ● Pistas de caminhada O espaço hoje tomado pelo núcleo um de moradias irregulares cederia espaço para a construção da pista de caminhada, que não se limitaria apenas àquele local, como também avançaria por toda a área, levando os esportistas a contornar quase toda a extensão do espaço. Neste lugar poderiam ficar os pontos de água e os equipamentos de ginástica voltados para a melhor idade. 30 ● Ciclovia Ao lado da pista de caminhada, e paralelo a esta, indica-se a construção de uma ciclovia, que levaria os atletas ou eventuais usuários a terem a possibilidade de não só poder passear de bicicleta no local com segurança para si e para os demais, como também o fato de terem um espaço para guardarem seus veículos. A ciclovia deverá dar acesso para todas as entradas e saídas da área, transformando-se assim em uma opção de locomoção para as pessoas que apenas utilizam a região para deslocamento. ● Rampa de acesso Construção de rampa de acesso junto à entrada do terreno, na esquina com a Rua Oneda, próximo ao playgound, centro cultural e vestiário três. ● Escada de acesso Construção de escada de acesso junto a Av. Dom Jaime, próximo a entrada do estacionamento da Faculdade de Medicina Veterinária, Metodista. 6.3. Recuperação ambiental da área ● Qualidade ambiental Elaboração de estudo para a verificação das verdadeiras condições ambientais do lugar. Considerando as evidências da grande quantidade de aterro no local, faz-se necessário pesquisas mais aprofundadas para averiguar a qualidade do solo e a sua possível contaminação. A partir dos resultados das amostras de solo recolhidas, devem ser adotadas as atitudes necessárias para corrigir possíveis eventualidades de contaminação. ● Manutenção das encostas Atualmente, as encostas estão em processo de erosão, principalmente as que fazem frente para a Av. Dom Jaime, sendo urgente a recuperação da área com estas iniciativas: ações para a prevenção e remediação de voçorocas, plantio de espécies indicadas para solos com esse relevo. Estas são 31 algumas alternativas a serem consideradas quando da recuperação da área além da construção de drenos, com dutos para o escoamento das águas pluviais no perfil de encostas do terreno. ● Plantio de árvores Em toda a área, as gramíneas são praticamente o único tipo de vegetação existente. Seguindo os projetos de pistas de caminhada e ciclovias, o plantio de árvores seria necessário para a melhoria do espaçoe a fixação de espécies nativas, de aves e animais. Deve ser dada preferência para o plantio de espécies nativas da região. 6.4. Planta da área com as melhorias sugeridas Legendas: I- Escada II- Drenos III- Dutos de escoamento IV- Vestiário I V- Vestiário II VI- Arquibancadas VII- Vestiário III VIII- Lanchonetes IX- Centro Cultural X- Play Ground XI- Rampa de acesso XII- Pista de caminhada XIII- Ciclovia 32 Figura 12: Planta das intervenções sugeridas Escala 0,01cm :100cm 33 6.5. Proposta para a realocação da população local ● Características das moradias irregulares São consideradas moradias irregulares as casas que não possuem registro oficial e que são fruto de invasão de áreas públicas e privadas. Comumente as moradias irregulares não gozam de esgotamento sanitário, rede elétrica e hídrica, e quando esses itens existem são conseguidos de maneira ilegal através de ligações clandestinas. As moradias irregulares situadas na área estudada possuem todas as características antes citadas. ● Fatores negativos das moradias irregulares A sua configuração mantém os moradores em situação de risco, por não oferecer segurança e o mínimo necessário em uma habitação. Vistos pela população circunvizinha como invasores e vagabundos, as pessoas que ali residem vivem sobre o risco de um incêndio ou contaminação, pelo fato de ainda não ter sido feito nenhum estudo sobre a qualidade do solo e o seu histórico de uso. Como se não bastassem elas mesmo serem vítimas dessas situações, as moradias irregulares dentro da área estudada causam transtornos ao uso da mesma e podem futuramente comprometer seriamente o seu funcionamento, pois é característica desse tipo de habitação crescer vertiginosamente em poucos anos, o que tomaria boa parte do terreno que deveria ser dedicado ao bem estar da população. O lixo produzido pelos moradores fica espalhado por toda a área. A iluminação é precária e corre o risco de haver um acidente com incêndio e perda de vidas. ● Realocação dos moradores Devido aos diversos fatores implicantes acima citados, os moradores devem ser realocados da área invadida. Essa ação evitaria acidentes, envolvendo os moradores, quanto a sinistros como incêndios ou contaminação, e também para evitaria que os núcleos habitacionais existentes cresçam ainda mais. Como a área já possui uma vocação para um espaço de uso público, não é viável sacrificar o bom funcionamento dos equipamentos para a permanência no local de 34 algumas dezenas de pessoas vivendo em situação econômica e social precárias. Alguns projetos de realocação de moradores de áreas invadidas já estão em andamento na cidade, o principal deles, na região do Bairro Alves Dias, conta com centenas de torres de apartamentos, construídos quase que inteiramente para pessoas que viviam em áreas de risco. Existem também outras iniciativas que podem ser estudadas, como o aluguel de casas na região, para que essas famílias não tenham a sua rotina tão drasticamente modificada. Sendo que elas trabalham e mantém os filhos estudando nas escolas da região. No caso essa seria uma medida paliativa, que poderia ser tomada em caráter temporário, até que os moradores pudessem se estruturarem melhor e que uma decisão final fosse tomada para cada caso. Lembrando também que estudos mais aprofundados devem ser realizados antes de ser tomada qualquer medida referente aos moradores da área. A seguir, será apresentado um bairro que obteve melhorias e intervenções de resgate da qualidade dos espaços públicos, como forma se ilustrar as propostas anteriormente indicadas. 7. Estudo de caso: Jardim das Orquídeas O Jardim das Orquídeas é um bairro do município de São Bernardo do Campo que dista algo em torno de 16 km do centro da cidade, e está inserido na região da represa Billings. O bairro sofria desde a sua fundação (início da década de 1980) com a falta de um espaço que atendesse os interesses da comunidade quanto a uma área de lazer. Durante muitos anos a Praça Aldemir Moreira Santos foi um local insípido para as funções de um espaço público de lazer. Ali havia muito mato, uma área de nascente que aflorava nas épocas chuvosas inundando boa parte da área, ficando impraticável o seu uso. Apesar da existência de alguns equipamentos de lazer como uma quadra de futebol, um mini-campo e uma pista de skate, a estrutura carecia das condições mínimas para o seu pleno funcionamento. A seguir, imagens de satélite, mostrando o perfil dá Praça Aldemir Moreira Santos e a sua evolução na última década: 35 Figura 13: Aspecto da Praça Aldemir Moreira Santos – 2004 Na parte superior da figura 13, ao fundo do terreno descampado, onde havia um campo de futebol vale ressaltar a existência de um córrego, que nas épocas de chuva, transbordava causando grandes transtornos aos moradores da região. Destaque também para a nascente, aqui facilmente percebida no centro da imagem, ao lado esquerdo da pista de skate. 36 Figura 14: Aspecto da Praça Aldemir Moreira Santos - 2014 A figura 14 demonstra aspectos da Praça Aldemir Moreira Santos na época de sua reinauguração, em Dezembro de 2014. Para que isso acontecesse, a comunidade, por meio das reuniões do Orçamento Participativo (OP), exigiu que a área fosse totalmente recuperada e reestruturada para o uso da população. Neste dia foram entregues à comunidade os seguintes equipamentos e estruturas: pistas de skate e de caminhada, área de convívio com bancos e playground, área de alongamento, reforma da quadra e implantação de alambrado, 37 iluminação, plantio de árvores e canteiro de flores. O espaço contempla uma área com mais de 2,5 ha, totalmente revitalizados. Conquistas como essa são fruto de uma luta intensa da comunidade pelos seus direitos e pelo lugar onde vive. É dever do poder público melhorar os mecanismos que levem a população a alcançar suas reinvidicações e cabe à comunidade contemplada zelar pelo bem público, para que, além de alcançar seus objetivos como área de lazer e recreação, sirva também de inspiração a outros bairros como uma alternativa contra a deterioração dos espaços públicos nas grandes cidades e para que toda população alcance a qualidade ambiental da qual o meio ambiente urbano tanto carece. A figura 15, mostra o dia em que a praça foi reinaugurada e entregue a população. Figura 15: Praça Aldemir Moreira Santos, reinaugurada 8. Conclusões Finais Os espaços públicos desempenham importantes funções nas grandes cidades, paisagístico, lazer, esportes e de convivência entre os mais diversos agentes da sociedade. Mas para que todas elas sejam satisfatoriamente alcançadas, é necessário que eles ofereçam conforto, segurança, qualidade ambiental, acessibilidade, etc. 38 No caso estudado neste trabalho, foi observado que em uma região carente de áreas de lazer, a única área existente não oferece condições mínimas para atender a população. Em uma sociedade onde o lazer e a cultura estão confinados em equipamentos pagos, mais do que nunca cabe ao poder público oferecer espaços gratuitos à população como alternativa. Melhorias na qualidade de vida da população têm reflexos em outros aspectos da vida nas grandes cidades, como diminuição da violência, com a ocupação por parte da população de áreas antes dominadas pelo tráfico de drogas. As áreas livres também são uma alternativa ao sedentarismo, com espaços para a prática de esportese exercícios, opções para a realização de eventos culturais, etc. Devido a isso, melhorias contínuas como a recuperação de equipamentos, iluminação, plantio de árvores, poda, limpeza e segurança devem ser aplicadas aos espaços urbanos de uso público. Essa sinergia entre população e espaço gera novos comportamentos, permitindo que esses locais sejam aproveitados em toda sua amplitude e que as cidades possam avançar como locais onde as pessoas não apenas existam umas em detrimento das outras, mas que convivam harmoniosamente. 39 9. Referências BAUMAN, Zygmunt, Confiança e medo na cidade / Zygmunt Bauman, tradução Eliana Aguiar. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. HERTZBERGER, Herman - Lições de Arquitetura, 1999 - Editora: MARTINS FONTES FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Ilustrado – Editora, Positivo Editora – 2008 PHILIPPI JR., Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet, Curso de Gestão Ambiental 2ª Ed. 2013, Editora: Manole. SERRANO, Célia. (org.) A educação pelas pedras - Ecoturismo e educação ambiental, São Paulo: Editora Cronos, 2000. SILVA, José Afonso da, Direito Ambiental Constitucional, São Paulo, Malheiros, 2010. Dicionário Brasileiro Globo – Gráfica Editora Amburg – São Paulo – 1993 Outras consultas http://www.cetesb.sp.gov.br/ acessado em 19/11/2013 18:00hs http://www.sosma.org.br/ acessado em 19/11/2013 18:30hs Revista Tempo Social - Revista de sociologia da USP - http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/ acessado em 19/11/2013 18:45hs URBE - Revista Brasileira de Gestão Urbana - www.pucpr.br/urbe acessado em 19/11/2013 18:50hs AGRIAMBI - Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental - Site: http://www.agriambi.com.br/ acessado em 19/11/2013 19:10hs http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10647364/artigo-217-da-constituicao-federal-de- 1988 acessado em 06/11/2014 as 15:22h00 https://www.google.com.br/maps/place/Jardim+Embar%C3%A9,+S%C3%A3o+Bern ardo+do+Campo+-+SP/@-23.707367,- 40 46.574343,1311m/data=!3m2!1e3!4b1!4m2!3m1!1s0x94ce43e81eca318f:0x762d554 8677fb59b acessado em 28/10/2014 as 22:00hs Fundação Seade: Fonte: http://www.seade.gov.br/migrantes-nordestinos-ainda-sao- maioria-na-regiao-metropolitana-de-sao-paulo/ acessado em 02/12/2014 as 18:00 Dados estatísticos sobre São Bernardo do Campo – IBGE - 2008 - http://www.saobernardo.sp.gov.br/SECRETARIAS/sp/geoportal/COMPENDIO/geogr afia.pdf acessado em 02/12/20014 as 16:37 Dados estatísticos de São Bernardo do Campo – IBGE 2010, pesquisado em: http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=354870&search=sao- paulo|sao-bernardo-do-campo|infogr%E1ficos:-dados-gerais-do-munic%EDpio acessado em 02/12/2014 as 16:40 Dados estatísticos sobre o Bairro Planalto – 2010, pesquisado em: http://www.saobernardo.sp.gov.br/dados1/arquivos/PerfilSocioEconomico/2012/PLA NALTO.pdf acessado em 02/12/2014, as 17:00hs http://www.saobernardo.sp.gov.br/comuns/pqt_container_r01.asp?srcpg=noticia_co mpleta&ref=11972&qt1=0 acessado em 22/01/2015 as 23:00 Figuras 1 e 2 Fonte: Google Maps, acessado em 28/10/2014, 16:00hs Entrevistas: Entrevistas realizadas no dia 30/11/2014. Áudio das entrevistas disponível em arquivo MP3. Entrevistado(a) I: Maria José Galindo Entrevistado(a) II: Luiz Carlos Galindo Entrevistado(a) III: Conceição Aparecida Galindo Obs: Todos os entrevistaram concordaram em terem os seus nomes divulgados neste trabalho.
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