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Aula 01 J. Leite - Introdução às obrigações

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Aula nº 01
Direito das Obrigações – 1ª Parte
Prof. José Leite de Souza Neto
1) Conceito
Obrigação é a relação jurídica de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio.
Essa prestação, para que possa ser cumprida pelo sujeito passivo, precisa ser:
Lícita
Possível 
Determinada ou determinável
Patrimonial (suscetível de estimação econômica)
Observe-se que são excluídos desta relação os deveres estranhos ao direito como aqueles do homem para com Deus, do homem para consigo mesmo e assim desprovidos de sanção legal. Ex. dever de gratidão, urbanidade, cortesia e de solidariedade, os quais são impostos pela lei moral e portanto escapam da incidência da lei civil.
A obrigação é transitória uma vez que a prestação prometida, quer por acordo ou por imposição judicial, em exaurindo a obrigação, o devedor fica liberado da referida ação e o credor por outro lado vê extinto o seu direito. Como tudo que no mundo existe, a obrigação nasce, vive e morre. Uma obrigação nunca é perpétua.
A obrigação é o vínculo que sujeita o devedor a uma determinada prestação em favor do credor, que tanto pode ser de dar, fazer ou não fazer alguma coisa. Ha de se observar que a obrigação sempre se contrapõe a uma solução (obligatio X solutio) pois enquanto a primeira liga, a segunda desata.
2) elementos constitutivos
A Obrigação constitui 3 (três) elementos essenciais, os quais: 
Elementos Subjetivos – Sujeitos da Relação Obrigacional: Esses, comparados ao código civil, são os sujeitos ativos e passivos. Chamamos no Direito das Obrigações de Sujeitos da Relação Obrigacional. Credor, sujeito ativo. Devedor, sujeito passivo. O Ativo é credor da prestação e devedor do preço. O Passivo é devedor da prestação e credor do preço. Devem ser determinados, ou pelo menos, determináveis. v.g. obrigações propter rem.
Elemento Objetivo - A prestação: É o coração da relação obrigacional. Nesse ponto, torna-se indispensável a não confusão da obrigação com o seu conteúdo. Explica-se: a prestação é dividida em dois tipos de objeto, o Direto ou imediato e o Indireto ou mediato. O Direto, é a própria atividade positiva (ação) ou negativa (omissão) do devedor. Frente a isso, cabe observar que, as prestações que constituem o objeto direto da obrigação, poderão ser: positivas (de dar, de fazer, e a primeira dividi-se em coisa certa e coisa incerta) e negativas (de não fazer). Segue o quadro abaixo para maior entendimento: (A partir do objeto Direto ou Imediato).
Como vimos acima, trata-se o objeto direto, da atitude do ser humano. Frente a isso, torna-se clara a compreensão do objeto indireto ou mediato da obrigação, qual seja, o objeto bem da vida. Por exemplo: Eu, José, faço um contrato de compra com o Otávio, tendo por objeto do contrato, a moto dele. No cumprimento da obrigação, o objeto direto ou imediato é eu ter a atitude de pagar o preço e ele a atitude de me entregar a moto, e o objeto indireto ou mediato é o bem da vida, ou seja, a moto. Entenderam? É casualmente freqüente erramos em classificar a moto como objeto direto, pois é ela que vemos e tocamos. Por isso, cuidado na classificação. O vinculo jurídico, (o dar, o fazer e não fazer), é o direto e imediato. O bem da vida é o indireto ou mediato.
Elemento Ideal – O vínculo Jurídico entre o Credor e Devedor: É o vínculo jurídico que liga, prende o devedor ao credor. É a relação pessoal originária do fato jurídico. É a responsabilidade civil que os une. Em CONTRATOS, costuma-se dizer que, ao assinar um contrato, veja, sinta um raio lazer unindo as duas partes. Literalmente, nós não vemos esse vínculo. Mas a Lei vê, e muito bem. Ela dita quando ele começa, quando é cumprido, descumprido e quando termina.
REITERANDO, Os elementos essenciais de uma relação jurídica obrigacional são:
Pessoal (SUBJETIVOS): ativo e passivo, ou seja, credor e devedor
Material (OBJETIVO): que é a prestação positiva ou negativa do devedor, sendo a atuação do sujeito passivo que consiste em dar, fazer ou não fazer alguma coisa
Credor do verbo credere, que quer dizer confiar, ter fé. O credor possui várias roupagens e substituto. O sujeito ativo pode ser individual como ocorre nas obrigações simples e coletivo como ocorre nas obrigações conjuntas e solidárias.
Numa relação obrigacional, não necessariamente credor e devedor têm identificação
estudar os títulos de créditos, herança cessão- casos em que o credor poderá ser substituído.
Ex. – cheque ao portador. O credor será aquele que, tendo a posse do título, apresenta-se ao sacado para o respectivo recebimento. Numa cambial em branco, aquele que preencher o saque; numa promessa de recompensa, o credor é aquele que, tendo prestado o serviço, reclama o pagamento.
Da mesma maneira, o devedor também possui diversas roupagens e como exemplo pode-se citar o condômino que ao alugar um apto de terceiro, tem a responsabilidade e obrigação de pagar as contribuições condominiais
3) Objeto
 
O objeto da obrigação consiste em dar, fazer e não fazer alguma coisa, o que difere em muito do objeto do contrato, matéria que será estudada. Vejamos algumas diferenças:
a) objeto da obrigação é aquilo que o devedor se compromete a fornecer e aquilo que o credor tem direito de exigir, enquanto que objeto do contrato constituía operação que as partes visaram realizar.
b) objeto da obrigação é isolado, concreto e singular; o do contrato é idêntico em todas as estipulações da mesma espécie.
c) objeto da obrigação vem a ser específico e individualizado enquanto que o do contrato é mais amplo e mais genérico.
Assim mesmo,é de se dizer que o objeto da obrigação há de ser sempre possível, lícito e suscetível de estimação econômica.
Das Obrigações Naturais 
Denominam-se obrigações naturais aquelas que não conferem direito de exigir seu cumprimento, ou seja são desprovidas de ação.
Essas obrigações representam uma espécie incompleta de obrigações, posto que nelas não existe uma exigibilidade judicial, ou seja não são juridicamente exigíveis, mas se forem cumpridas espontaneamente, são tidas como válidas, de modo que uma vez efetuado o pagamento, não é possível pedir sua devolução (repetição em débito).
NO direito brasileiro, a disciplina das obrigações naturais encontra-se no art. 882 do código Civil, que determina: “não se pode repetir o que se pagou para solver divida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”.
Igualmente temos o art. 883, amparado pelo principio segundo o qual “a ninguém é dado valer-se da própria torpeza” (Nemo auditur propriam turpitudinem allegans), igualmente nega direito à repetição para quem efetua pagamento contrario à ordem pública e aos bons costumes ou para obter finalidade ilícita, imoral ou ilegal.
Exemplo perfeito de obrigação natural repousa no art. 814, segundo o qual as dívidas de jogo e aposta não obrigam o pagamento, mas tampouco pode o adimplente recobrar o que foi pago, a não ser na hipótese de dolo, ou do prejuízo recair sobre menor ou interdito.
Os efeitos da obrigação natural podem ser assim resumidos: seu devedor não pode ser compelido judicialmente a cumprir a obrigação, mas, se a realiza espontaneamente, efetua pagamento válido, não podendo mais recobrar o que pagou.
Das Obrigações Reais (“Propter Rem”)
São igualmente chamadas de obrigações reais, ou seja, são obrigações decorrentes da relação entre o devedor e a coisa.
Este tipo de obrigação é aquela em que o devedor por ser o titular de um direito sobre a coisa, fica sujeito a determinada prestação, que por sua vez não deriva de sua vontade, seja expressa ou tácita. Observe-se que o que faz o indivíduo ser devedor é a circunstância dele ser titular de um direito real.
Ex. art. 1297 e 1315 ambos do Código Civil.
É dese observar que nestas hipóteses, o devedor se libera da obrigação ao abrir mão de seus direitos sobre a coisa, o que quer dizer que o devedor se encontra vinculado a obrigação não por força de sua vontade, mas em decorrência de sua relação com o bem do qual é proprietário ou possuidor.
Havendo sucessão de direitos sobre o bem, o sucessor assume automaticamente as obrigações do sucedido ainda que não tenha conhecimento de sua existência. Note-se que a obrigação “propter rem” acompanha a coisa vinculada ao seu dono ou possuidor.
 
6) Fontes das Obrigações
A expressões fontes do direito e fontes das obrigações possuem praticamente o mesmo sentido e são meios pelos quais que se estabelecem as normas jurídicas. No entanto fontes do direito emergem os preceitos legais da vida social e fontes das obrigações emergem os preceitos reguladores das relações entre particulares , tendo por objeto determinada prestação.
Com as fontes do direito nasce os preceitos jurídicos (normas gerais e abstratas que disciplinam a vida social), enquanto que as fontes das obrigações, surgem relações concretas e particulares entre duas ou mais pessoas. Os chamados contratos.
4.1) fontes das obrigações no direito brasileiro
a) obrigações decorrente do contrato
b) obrigação por declaração unilateral de vontade
c) obrigações decorrentes de atos ilícitos
Em realidade, fontes das obrigações são aqueles atos ou fatos nos quais se encontram a origem da obrigação.
Exemplos:
contrato – é fonte no sentido de que a avença entre as partes faz gerar um liame entre elas, de modo que uma ou ambas se comprometem realizar uma prestação
b) delito – é fonte na medida que uma pessoa intencionalmente causa dano a outra, fica obrigada a reparar.
c) dever de assistência – prestar alimentos
De um modo geral, as obrigações são as que vinculam uma pessoa a outra através das declarações de vontade e da lei.
Existem outras fontes que se encontram interligadas as acima mencionadas. São elas o risco profissional que dá ensejo a responsabilidade civil de indenizar; obrigação de contribuir com impostos; obrigação de prestar alimentos e outros correlacionados
Positivas
Negativas
De dar
De Fazer
Coisa certa
Coisa Incerta
De não fazer

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