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1. Conceito de obrigações e seus elementos constitutivos O direito das obrigações tem por objeto determinadas relações jurídi- cas que alguns denominam direitos de crédito e outros chamam direitos pessoais ou obrigacionais. O vocábulo obrigação comporta vários sentidos. Na sua mais larga acepção, exprime qualquer espécie de vínculo ou de sujeição da pessoa, seja no campo religioso, moral ou jurídico. Em todos eles, o conceito de obri- gação é, na essência, o mesmo: a submissão a uma regra de conduta, cuja autoridade é reconhecida ou forçosamente se impõe. É nesse sentido que nos referimos a obrigações religiosas, morais, sociais etc. 1.1. Elementos subjetivos da obrigação O elemento subjetivo da obrigação ostenta a peculiaridade de ser duplo: um sujeito ativo ou credor, e um sujeito passivo ou devedor. O sujeito ativo é o credor da obrigação, aquele em favor de quem o devedor prometeu determinada prestação. Tem ele, como titular daquela, o direito de exigir o cumprimento desta. Os sujeitos da obrigação, tanto o ativo como o passivo, podem ser pessoa natural ou jurídica, de qualquer natureza, bem como as sociedades de fato. Devem ser, contudo, determinados ou, ao menos, determináveis. Só não podem ser absolutamente indetermináveis. Algumas vezes o sujeito da obrigação, ativo ou passivo, não é desde logo determinado. No entanto, a fonte da obrigação deve fornecer os elementos ou dados necessários para a sua determinação. Assim, por exemplo, no contrato de doação o donatário pode não ser desde logo determinado, mas deverá ser determinável no momento de seu cumprimento (quando se oferece, p. ex., um troféu ao vencedor de um concurso ou ao melhor aluno de uma classe etc.). Ocorre a indeterminação inicial e posterior determinação do sujeito, também, quando o ganhador na loteria apresenta o bilhete premiado; quando se promete recompensa a quem encontrar determinado objeto ou animal de estimação; e quando a unidade condominial é alienada, passando o adquiren- te, como novo proprietário, a responder pelo pagamento das despesas condo- miniais, que têm natureza propter rem, dentre outras inúmeras hipóteses. Qualquer pessoa, maior ou menor, capaz ou incapaz, casada ou solteira, tem qualidade para figurar no polo ativo da relação obrigacional, inexis- tindo, de um modo geral, restrição a esse respeito. Se não for capaz, será representada ou assistida por seu representante legal, dependendo ainda, em alguns casos, de autorização judicial. Também as pessoas jurídicas, de qualquer natureza, como dito inicial- mente, de direito público ou privado, de fins econômicos ou não, de exis- tência legal ou de fato (CPC, art. 12, VII), podem legitimamente figurar como sujeito ativo de um direito obrigacional. O sujeito ativo pode ser individual ou coletivo, conforme a obrigação seja simples ou solidária e conjunta. Pode a obrigação também existir em favor de pessoas ou entidades futuras, ou ainda não existentes, como nas- cituros e pessoas jurídicas em formação. Pode haver substituição de credor na cessão de crédito, sub-rogação, novação, estipulação em favor de terceiro. O devedor é o sujeito passivo da relação obrigacional, a pessoa sobre Disciplina: Direito Civil II- Obrigações Professor: Daniel Gameiro Aluna: Dionália Gomes de Moura Turma: 3A a qual recai o dever de cumprir a prestação convencionada. É dele que o credor tem o poder de exigir o adimplemento da prestação, destinada a satisfazer o seu interesse, por estar adstrito ao seu cumprimento. Pode o devedor ser, também, determinado ou determinável, como acontece frequentemente nas obrigações propter rem. É mutável em várias situações e hipóteses, especialmente na novação subjetiva por substituição de devedor (CC, art. 360, II). 1.2. Elementos objetivos ou material da obrigação. Objeto da obrigação é sempre uma conduta ou ato humano: dar, fazer ou não fazer ( dare, facere, praestare, dos romanos). E se chama prestação, que pode ser positiva (dar e fazer) ou negativa (não fazer). Objeto da relação obrigacional é, pois, a prestação debitória. É a ação ou omissão a que o devedor fica adstrito e que o credor tem o direito de exigir. Qualquer que seja a obrigação assumida pelo devedor, ela se subsumirá sempre a uma prestação: a) de dar, que pode ser de dar coisa certa ou incerta e consiste em entregá-la ou restituí-la(na compra e venda o vendedor se obriga a entregar a coisa, e o comprador, o preço; no comodato, o como- datário se obriga a restituir a coisa emprestada gratuitamente, sendo todas modalidades de obrigação de dar); ou b) de fazer, que pode ser infungível ou fungível e de emitir declaração de vontade; ou, ainda, c) de não fazer, a prestação(dar, fazer e não fazer) é o objeto imediato(próximo, direto) da obrigação. Na compra e venda, como vimos, o vendedor se obriga a entregar, que é modalidade de obrigação de dar, a coisa alienada. A obrigação de entregar(de dar coisa certa) constitui o objeto imediato da aludida obrigação. Para saber qual o objeto mediato(distante, indireto) da obrigação, basta indagar: dar, fazer ou não fazer o quê? No citado exemplo da compra e venda, se o vendedor se obrigou a entregar um veículo, este será o objeto mediato da obrigação, podendo ser também chamado de “objeto da prestação”. Objeto mediato ou objeto da prestação é, pois, na obrigação de dar, a própria coisa. Na de fazer, a obra ou serviço encomendado(obrigação do empreiteiro e do transportador. A prestação ou objeto imediato deve obedecer a certos requisitos, para que a obrigação se constitua validamente. Assim, deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Deve ser, também, economicamente apreci- ável. Como se verifica, tais requisitos não diferem dos exigidos para o ob- jeto da relação jurídica em geral. Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Quando o objeto jurídico da obrigação é imoral, os tribunais por vezes aplicam o princípio de direito de que ninguém pode valer-se da própria torpeza(nemo auditur propriam turpitudinem allegans). Ou então a parêmia in pari causa turpitudinis cessat repetitio, segundo a qual se ambas as partes, no contrato, agiram com torpeza, não pode qualquer delas pedir devo- lução da importância que pagou. Tais princípios são aplicados pelo legislador, por exemplo, no art. 150 do Código Civil, que reprime o dolo ou torpeza bilateral, e no art. 883, que nega direito à repetição do pagamento feito para obter fim ilícito, imoral, ou proibido por lei. Impedem eles que as pessoas participantes de um con- trato imoral sejam ouvidas em juízo. 1.3. Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação. O elemento imaterial é o vínculo estabelecido entre os contratantes. Teoria Unitária (monista) - O vínculo entre credor e devedor é um só. Este vínculo se compõe da relação de crédito e débito. A responsabilidade civil é tratada como uma sombra da obrigação, mas dela não faz parte. A responsabilidade civil é a conseqüência jurídica e patrimonial do descumprimento da obrigação. Teoria binária (dualista) – Esta teoria defende que a obrigação é formada por um duplo vínculo: Dever jurídico (Schuld; debitum); e Responsabilidade civil (Haftung; obrigatio). A teoria dualista foi desenvolvida na Alemanha por Brinz. Dever jurídico é o dever que o devedor tem de espontaneamente cumprir o objeto imediato da obrigação (dar, fazer ou não fazer). Não cumprindo este dever jurídico, surge a responsabilidade civil. A responsabilidade civil não está a parte mas passa à integrar o conceito de obrigação. A responsabilidade civil é conseqüência jurídica e patrimonial do descumprimento do dever jurídico. A responsabilidade civil nada mais é do que a possibilidade de se exercer uma pretensão em juízo, esta pretensão decorrente do dever jurídico violado está sujeita à prazo prescricional. O elemento espiritual consiste no vínculo jurídico da relação obrigacional que, segundo Carlos RobertoGonçalves, “é o liame existente entre o sujeito ativo e o sujeito passivo e que confere ao primeiro o direito de exigir do segundo o cumprimento da prestação.” O vínculo jurídico divide-se em dois elementos: a) débito ou vínculo espiritual, que une o devedor ao credor exigindo que aquele cumpra a obrigação; b) responsabilidade ou vínculo material, que confere ao credor o direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação. 2. Diferença conceitual entre obrigações, dever, ônus, e direito potestativo. O universo jurídico está cheio de jargões, ou seja, termos técnicos, usados para identificar diferentes institutos jurídicos. Dentre eles estão os seguintes termos: dever, obrigação, ônus e sujeição. São palavras comuns em contratos, aditamentos, notificações, petições iniciais, dentre outros. Acontece que por vezes, tanto os estudantes, como os operadores do direito e o público em geral, tem dificuldades em diferenciar os significados, e não raro acabam tratando como sinônimos. De modo claro e objetivo, esse texto pretende trazer a diferença entre os institutos: dever, obrigação, ônus e direito protestativo. • Dever É o comando imposto pelo direito objetivo, através do qual o sujeito deve observar determinada conduta, sob pena de sanção, trata-se de gênero do qual obrigação é espécie. • Obrigação É um termo restrito, aplicável à relação credor-devedor, seu objeto é a prestação, que via de regra é aplicável aos contratos. • Ônus É a exigência que o sujeito pratique determinada conduta sob pena de não alcançar um benefício, ou eventualmente suportar uma desvantagem. O ônus não é uma penitência, como muitos imaginam. Por exemplo, o ônus da prova ou o ônus de registrar a escritura de um imóvel, são formalidades presentes em determinadas circunstâncias jurídicas. • Direito Potestativo O estado de sujeição se opõe a um direito potestativo (aquele que não admite contestações), que pode ser exercido sem a concordância, ou mesmo contra a vontade da outra parte. Por exemplo, a revogação de um mandato ou demissão do emprego. 3. As fontes obrigações no Direito Civil brasileiro. A expressão fonte presta-se a indicar o fato jurídico que ensejou o vínculo jurídico obrigacional, portanto, para o presente caso temos como fontes: • O Contrato: Considerado como a principal fonte obrigacional. Consiste no negócio jurídico bilateral ou plurilateral que cria, modifica ou extingue relações jurídicas patrimoniais, típicas ou atípicas. • Os Atos unilaterais: Caracterizam-se como atos humanos lícitos em que uma declaração de vontade gera uma obrigação. • Os Atos ilícitos e abuso do direito: São aqueles que causam danos a outrem ensejando o dever de indenizar (artigo 127, C.C.) • Títulos de créditos: Compreende documento autônomo de natureza obrigacional privada com maior relevância para o direito empresarial. Sua disciplina encontra-se a partir do artigo 887, C.C. • Lei: São duas as correntes a respeito da lei como fonte de obrigações. A respeito disso, vejamos; Primeira corrente: Maria Helena Diniz e Washington de Barros Monteiro afirmam que a lei é a fonte primaria da obrigação, pois os vínculos obrigacionais são relações jurídicas. Ex.: Alimentos. Segunda corrente: Orlando Gomes e Fernando Noronha entendem que a lei sozinha não é fonte obrigacional, pois exige a presença de autonomia da vontade. A lei abstrata por si só não gera a obrigação, mas acompanhada de um fato jurídico passa a ser fonte obrigacional. Ex.: Elaboração de um título de crédito que nunca surge sozinho. Desta forma vimos que as obrigações são um vínculo jurídico pelo que o devedor compromete-se a realizar em favor do credor uma prestação de caráter econômico de dar, fazer ou não fazer. Distinguimos os direitos reais dos obrigacionais e ainda citamos os cinco fatos jurídicos que ensejam as obrigações. Referências GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil brasileiro 2 teoria geral das obrigações, 9ª edição 2012 https://direito.legal/direito-privado/obrigacoes-direitos-obrigacionais-e-fontes-das- obrigacoes/ https://direito.legal/direito-privado/direito-civil/distincao-entre-dever-obrigacao-onus-e- sujeicao/ https://isayamamoto.jusbrasil.com.br/artigos/431277716/direito-civil-elementos- constitutivos-da-obrigacao
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