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Universidade Federal do Acre/Centro de Ciências Biológicas e da Natureza Curso: Engenharia Agronômica Disciplina: Meteorologia e Climatologia Responsável: Prof. Dr. Jorge W.de Sousa Unidade III-Temperatura do ar e do solo INTRODUÇÃO a) Temperatura do ar A temperatura do ar é um dos principais fatores que controla o crescimento das plantas e também a sua distribuição sobre a Terra. A aplicação de dados de temperatura do ar torna-se indispensável para a caracterização climática de uma área. As espécies possuem limites térmicos sob os quais, manifestam satisfatoriamente o seu potencial genético. Uma vez conhecida a temperatura do ar requerida por uma espécie vegetal, a escolha de uma área favorável pode ser feita. A temperatura do ar é um dos efeitos mais importantes da radiação solar. O aquecimento da atmosfera próxima à superfície terrestre ocorre principalmente por transporte de calor, a partir do aquecimento da superfície pelos raios solares. O transporte de calor sensível (H) na atmosfera se dá por dois processos: Condução Molecular Processo lento de troca de calor sensível (H) pelo contato entre as moléculas de ar, com extensão espacial limitada, ficando restrito à camada limite superficial. Difusão Turbulenta Processo rápido de troca de energia, em que parcelas de ar aquecidas pela superfície entram em movimento convectivo desordenado, transportando principalmente calor (H) e vapor (LE), para as camadas superiores da atmosfera. Fatores Determinantes da Temperatura do Ar Fatores Macroclimáticos: Relacionados à latitude, altitude, correntes oceânicas, continentalidade / oceanidade, massas de ar e frentes. Latitude: À medida que aumentamos a latitude, ou seja, nos afastamos do equador terrestre em direção aos pólos, a temperatura média anual do ar diminui, em decorrência da redução da incidência de radiação solar global. Altitude: Em média, à medida que se eleva 100m de altitude próximo da superfície terrestre (troposfera), ocorre uma redução na ordem de 0,65 ºC ou 6,5 oC/km, denominado de gradiente adiabático atmosférico, ou seja, redução da temperatura do ar por expansão do volume, sem que ocorra troca de energia com o meio, ou seja, no entorno. Massas de ar As massas de ar frias, oriundas da Antártica, proporcionam redução da temperatura do ar principalmente nos estados da região sul (RS, SC e PR) e eventualmente na Amazônia, fenômeno conhecido regionalmente como friagem. Fatores Topoclimáticos Relacionados ao relevo, mais especificamente à configuração e exposição do terreno, onde áreas localizadas no hemisfério sul voltadas para o norte recebem maior quantidade de radiação solar global. Fatores Microclimáticos Relacionados à cobertura do terreno. Variação da Temperatura do Ar A temperatura do ar varia basicamente em função da disponibilidade de radiação solar na superfície terrestre. O valor máximo diário da temperatura do ar ocorre normalmente de 2 a 3h após o pico de energia radiante, o que se deve ao fato da temperatura do ar ser medida a cerca de 1,5 a 2,0 m acima da superfície. Contudo, a variação diária normalmente observada da temperatura do ar pode sofrer variações, especialmente com a entrada de frentes frias ou dias nublados, quando a temperatura do ar praticamente não varia. Já a temperatura mínima diária ocorre por volta de 4horas. 2 No decorrer de um dia, as temperaturas do ar e do solo irão variar de acordo com a posição do Sol acima do horizonte, e no decorrer de um ano (aonde ocorre a mudança das estações), as temperaturas irão depender da declinação solar e das coordenadas geográficas do local. A temperatura do ar à superfície da terra apresenta tendência cíclica, com uma temperatura máxima e uma mínima durante o dia, conforme a figura 1 a seguir: Figura 1-Variação diária da radiação solar global, temperatura do ar e do solo em 20/01/2011 na latitude 23oS. A variação da radiação solar é o principal fator determinante da variação anual da temperatura do ar, portanto, A variação anual da temperatura do ar também segue a disponibilidade de energia na superfície, com valores máximos no verão e mínimos no inverno, conforme a Figura 2 abaixo: Figura 2: Padrões de variações sazonais da temperatura do ar nas latitudes baixas e médias (normais 1961-1990). Condições de céu claro proporcionam maiores temperaturas máximas do ar (Tmáx), devido a um maior percentual de radiação solar global que atinge a superfície terrestre. Caso contrário, sob condições de nebulosidade, a Tmáx é relativamente menor, porque parte da radiação não alcança a superfície da terra, sendo absorvida e refletida pelas nuvens. 3 Baixas temperatura do ar aumentam a probabilidade de danos nos vegetais tais como: -Alterações metabólicas no processo de germinação de algumas espécies vegetais, dificultando ou impedindo o desenvolvimento do embrião; -Formação de cristais de gelo nos tecidos de algumas espécies vegetais, sendo que temperaturas do ar inferiores a 5 oC, durante um período de 36 a 60h, podem ser letais para essas espécies; -Na maioria dos clones de seringueira os primeiros danos ocorrem quando a temperatura dos tecidos jovens atingem 0 oC a -1 oC, com danos letais a -3,0 oC. No entanto, aos quatro anos, já com porte elevado, as seringueiras suportam melhor as geadas. -O frio persistente geralmente provoca redução de crescimento, esta é a razão pela qual o verão é a estação do ano na qual as espécies vegetais cultivadas nas altas latitudes apresentam maior taxa de crescimento. Entretanto, temperaturas de 0-10oC por algumas semanas, podem apresentar efeito positivo, proporcionando a quebra da dormência de algumas espécies (macieira, pereira e pessegueiro). Altas temperaturas do ar podem provocar danos aos vegetais nas seguintes condições: -Quando associadas a ventos com baixa umidade relativa, induzem a uma maior perda de água por evapotranspiração; -Destruição das proteínas vegetais, inativação das enzimas e a conseqüente desintegração das membranas celulares; -Poderá ocorrer retração no crescimento quando a energia usada na respiração exceder à obtida na fotossíntese, uma vez que para algumas espécies, a fotossíntese apresenta decréscimo com temperatura do ar acima de 35oC; -Observações na China, concluem que temperaturas de 27-30oC são as mais adequadas à fotossíntese da seringueira e que sob temperatura ambiente superior a 40oC, a respiração excede a fotossíntese, resultando em diminuição na taxa de crescimento, sendo que para o fluxo de látex, o intervalo de 18 a 28 oC é o mais indicado; Cálculo da Temperatura média diária do ar com dados obtidos em estação meteorológica convencional: No Brasil, a temperatura média diária do ar estimada a partir de dados coletados em estação meteorológica convencional, denomina-se temperatura média diária ou compensada (Td), obtida de acordo com a seguinte expressão indicada pelo INMET: i)Td = 2.t 24TMG + t12TMG + tmáx + tmín, onde: 5 t24TMG = Temperatura do ar observada às 20h no Estado do Acre; t12TMG = Temperatura do ar observada às 08h local; tmáx = temperatura máxima diária observada; tmín = temperatura mínima diária observada; Valer ressaltar que a observação da temperatura máxima diária em estação convencional (não automatizada), deve ser realizada no horário 24TMG, enquanto a temperatura mínima diária observa-se no horário 12TMG. ii)Valores Extremos Tmed do ar = (Tmáx + Tmín) / 2 iii) Termógrafo Tmed do ar = (Tai) / 24 onde Tai é a temperatura do ar medida a cada intervalo de 1 hora e 24 é o total de observações feitas ao longo de um dia. 4 Exercício: determinar a temperatura média diária compensada do ar, aplicando a fórmula do Instituto Nacional de Meteorologia –INMET para Rio Branco nos dias 20 e 21/11/2008,com base nos dados a seguir: Tabela 1: Temperatura diária do ar para Rio Branco nos dias 20 e 21/11/2008 (oC) Greenwich- Inglaterra (longitude o0) Hora Local (Rio Branco) longitude 67o48’W.G.) Greenwich- Inglaterra Hora Local (Rio Branco) Greenwich- Inglaterra Hora Local (Rio Branco) (Data/horário) T12TMG 8h T18TMG 14h T24TMG 20h 20/11/2008 24,2 28,6 25,6 21/11/2008 24,3 29,2 26,2 Tabela 2:Valores extremos (máxima e mínima) de temperatura diária do ar para Rio Branco dias 20 e 21/11/2008 (oC) Greenwich- Inglaterra (longitude o0) Hora Local (Rio Branco- (longitude 67o48’W.G.) (oC) Mínima Greenwich- Inglaterra (longitude o0) Hora Local (Rio Branco) (oC) Greenwich- Inglaterra (longitude o0) Hora Local (Rio Branco) (oC) Máxima (Data/horário) T12TMG 8h Menor valor indicado no termômetro de mínima de 20h do dia anterior a 08h do dia da medição T18TMG 14h Não utilizado para a determinaçã o das temperaturas extremas T24MG 20h Maior valor indicado no termômetro de máxima de 08h a 20h do dia da medição 20/11/2008 22,5 31,6 21/11/2008 22,4 31,8 Solução: Tmed (20/11/08)=2.T24TMG+ T12TMG+ TMáx+T Mín= 2.25,6+24,2+31,6+22,5= 25,9 5 5 Tmed (21/11/08)=2 T24TMG+ T12TMG+ TMáx+T Mín= 2.26,2+24,3+31,8+22,4= 26,1826,2 5 5 iv) Cálculo da Temperatura média diária do ar com dados obtidos em estação meteorológica automática: Tmed do ar = (Tai) / n Tai é a temperatura do ar medida a cada intervalo de tempo e n é o total de observações feitas ao longo de um dia Instrumental Meteorológico: Termômetro de máxima: termômetro de mercúrio (elemento sensor) instalado no interior do abrigo meteorológico na posição horizontal, com pequena inclinação. Possui um estrangulamento na base do capilar de tal forma que o mercúrio consiga transpor quando se dilata devido ao aumento da temperatura, mas não consegue retornar ao bulbo quando a temperatura diminui, assim a coluna de mercúrio permanece indicando a temperatura máxima. Como a temperatura máxima ocorre, em geral, entre 14:00 e 16:00 horas, a leitura é realizada no horário 24 TMG (20:00 h) Após a leitura o termômetro deve ser convenientemente preparado pelo operador, para promover o retorno do mercúrio ao bulbo, ao nível da temperatura ambiente. 5 Figura 3: termômetros de temperatura máxima (superior) e temperatura mínima do ar. Termômetro de mínima: tem como elemento sensor álcool, apresentando um pequeno bastão de vidro na coluna capilar, junto com o álcool. Quando o álcool se contrai com o abaixamento da temperatura, estando o bastão de vidro aderido no menisco (interface alcool-ar), este (o bastão) é arrastado na direção do bulbo do termômetro pelo efeito da tensão superficial. Quando o álcool se dilata pelo aumento da temperatura, o bastão permanece agora imóvel, marcando a menor temperatura ocorrida no período. Após a leitura realizada no horário 12TMG, o termômetro deverá ser inclinado com o bulbo para cima para que o bastão permaneça junto ao menisco. Mesmo procedimento deverá ser realizado na leitura das 18TMG, para assegurar que a leitura da mínima da próxima noite, não seja inviabilizada. A leitura da temperatura mínima deve ser feita, portanto, sempre no bastão de vidro no lado oposto ao bulbo do termômetro. Bateria de Geotermômetros: são termômetros de mercúrio, com a finalidade de medir a temperatura do solo nas profundidades de 2, 5, 10, 30, 50 e a 100 cm. Processos de dissipação de calor pelas plantas Radiação: a perda de calor por esse processo segue a lei de Stefan-Boltzmann. Este processo não e suficiente para dissipar o calor nas plantas. Condução: o ar não é um bom condutor de calor, este processo de transferência de energia tem um efeito praticamente desprezível na dissipação de calor pelas plantas. Convecção: dissipação de calor pela ação do vento. Durante o dia o vento resfria as folhas das plantas que possui uma tendência de aquecer mais que o ar. Durante a noite, o processo se inverte, ou seja, o vento aquece as folhas das plantas. Transpiração: é o principal processo de perda de calor pelas plantas (transpiração) consome energia, na forma de calor latente. Esta energia consumida torna-se a principal forma de dissipação de calor pelas plantas. Horas de frio requeridas por algumas espécies vegetais Algumas espécies vegetais de clima temperado, principalmente frutíferas (criófilas ou caducifólias), necessitam de um período de dormência fisiológica no inverno, durante o qual essas espécies não apresentam um crescimento vegetativo visível. Esse repouso é condicionado pelas condições climáticas, que atuam sobre os reguladores de crescimento. A temperatura do ar é fator reconhecidamente importante nesse balanço hormonal que condiciona essa fase de dormência. Após essa fase, ao sofrer os efeitos das baixas temperaturas, as plantas iniciam um novo ciclo vegetativo. O total acumulado das horas de baixa temperatura requeridos pelas plantas nessa fase de dormência é denominado como Número de Horas de Frio (NHF), ou seja, a quantidade, em horas, em que a temperatura do ar permanece abaixo de determinada temperatura critica para a planta. A temperatura crítica é aquela, abaixo da qual, a planta praticamente cessa seus processos fisiológicos. Assim, o NHF é necessário para essas espécies vegetais, o qual varia entre espécies e variedades, sendo portanto, um fator condicionante na adaptação climática dessas espécies. 6 O acompanhamento do NHF pode ser verificado por registros efetuados em termogramas, os quais são obtidos em estações climatológicas da rede nacional de observações meteorológicas de superfícies do INMET ou por registros por meio de estações automatizadas. b)Temperatura do solo: A temperatura do solo apresenta importância ecológica pelo papel que desempenha nas interações solo-planta, sendo fundamental na formação do próprio solo, influenciando na desintegração do material orgânico, no metabolismo e desenvolvimento de microorganismos que habitam o solo. No que se refere à germinação, a influência da temperatura do ar e do solo é maior nos períodos de semeadura-emergência e crescimento inicial, devido às acentuadas amplitudes térmicas diárias, principalmente próximo a superfície do solo. Na região oeste da América do Norte, observou-se que temperaturas do solo superiores a 54oC causam morte de plântulas de Coníferas. Segundo Bergamaschi e Guadagnin (1993), pelo fato da absorção e da perda de energia ocorrerem na superfície do solo, aliado à baixa velocidade de propagação do calor no interior do solo, as variações térmicas se limitam aos horizontes mais superficiais. Solo sem qualquer tipo de cobertura (solo desnudo) fica exposto às flutuações bruscas de temperatura e de umidade, com prejuízos ao próprio solo e ao estabelecimento das culturas, acarretando sérios problemas de manejo, principalmente, nas regiões tropicais e subtropicais (Bragagnolo e Mielniczuk, 1990). Por outro lado, solo com cobertura vegetada ou morta, dissipa a radiação solar por reflexão e absorve parte da energia incidente impedindo que esta atinja diretamente a superfície do solo, evitando maiores perdas de água por evaporação e elevação da temperatura aos níveis prejudiciais à germinação das sementes (Fancelli. 1985). O regime térmico diário de um solo é determinado pelo aquecimento da superfície pela radiação solar e transporte, por condução, de calor sensível para seu interior. Durante o dia, a superfície se aquece, gerando um fluxo de calorpara o interior. À Noite, o resfriamento da superfície, por emissão de radiação terrestre (ondas longas), inverte o sentido do fluxo, que agora passa a ser do interior do solo para a superfície. A variação da temperatura do solo ao longo do dia (temporal) e da profundidade (espacial) é estudada a partir da elaboração dos perfis de variação da temperatura, denominados de tautócronas, conforme Figura 3 a seguir: -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0,0 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 14h13h 12h11h10h9h8h7h Temperatura do solo (oC) P ro fu nd id ad e - m Fatores Determinantes da Temperatura do Solo: O fluxo de calor no solo depende, basicamente, da sua condutividade térmica (Capacidade que o solo apresenta em transmitir energia térmica=cal/cm seg), de seu calor específico e de sua emissividade, os quais por sua vez dependem do tipo do solo. Além disso, essa variação é afetada pela interação com outros fatores, dentre eles: 7 Fatores Externos: Relacionados aos elementos meteorológicos: irradiância solar global, temperatura do ar, nebulosidade, chuva e vento. Fatores Intrínsecos: Relacionados ao tipo de solo, ao relevo e ao tipo de cobertura do terreno Tipo de Solo: Relacionado à textura, estrutura e teor de matéria orgânica do solo. Solos arenosos tendem a apresentar maiores amplitudes térmicas diárias nas camadas superficiais e menores em profundidade. Isso ocorre pelo fato dos solos arenosos terem maior porosidade, havendo um menor contato entre as partículas do solo, dificultando assim o processo de condução. Os solos argilosos, por sua vez, apresentam maior eficiência na condução de calor, tendo menor amplitude térmica diária. Relevo: Este é um fator topoclimático, que condiciona o terreno a diferentes exposições à radiação solar direta e, também, ao acúmulo de ar frio durante o inverno. Os terrenos de meia-encosta voltados para o norte (no hemisfério Sul) recebem mais energia do que os voltados para o sul. Já nas baixadas ocorre um maior acúmulo de ar frio durante o inverno, o que acaba condicionando redução da temperatura do solo também nessa área. Cobertura do Terreno Este é um fator microclimático. Solos sem cobertura (desnudos) ficam sujeitos a grandes variações térmicas diárias nas camadas superficiais. A cobertura com vegetação ou resíduos vegetais (mulch) modifica o balanço de radiação e de energia, pois a cobertura intercepta a radiação solar, impedindo que esta atinja o solo. Esse fator é importante no sistema de plantio direto e nos pomares, onde as plantas ficam bem espaçadas. Em períodos críticos (inverno) e em locais sujeitos a geadas, a cobertura do terreno é um fator agravante das geadas, pois impede que o solo armazene calor durante o dia e liberando-o para a superfície à noite. Variação Temporal da Temperatura do Solo Diária Varia com a profundidade. Nas camadas mais superficiais, varia de acordo com a incidência de radiação solar, tendo o valor máximo entre 12 e 14h. Em profundidades maiores, as máximas tendem a ocorrer mais tarde, assim como as mínimas. Anual Também segue a disponibilidade de energia na superfície, com valores máximos no verão e mínimos no inverno. Em profundidade, ocorre um pequeno atraso nos valores máximos e mínimos. Cálculo daTemperatura média diária do solo com dados obtidos em Estação Convencional: Tmed do Solo = (Ts12TMG + Ts18TMG + Ts24TMG) / 3 Cálculo da Temperatura média diária do solo com dados obtidos em Estação Automática: Tmed do Solo = (Tsi) / n Tsi é a temperatura do solo medida a cada intervalo de tempo programado e n é o total de observações feitas ao longo de um dia. Instrumental Meteorológico: Instrumentos para Medida da Temperatura do ar-Estação Convencional Os termômetros são utilizados em estações meteorológicas convencionais, onde ficam instalados dentro do abrigo meteorológico. Dois termômetros são destinados a medir as temperaturas máxima (Tmáx) e mínima (Tmín) e outros dois se destinam a medir a temperatura do bulbo seco (Ts) e do bulbo úmido (Tu), os quais constituem o conjunto psicrométrico, a ser utilizado na unidade de umidade do ar. O termógrafo possibilita o registro da variação da temperatura do ar ao longo do dia. Instrumentos para Medida da Temperatura do Solo-Estação Convencional São utilizados os geotermômetros, cujo elemento sensor é o mercúrio. Em geral, os materiais sensíveis empregados nos termômetros são mercúrio ou álcool, uma vez que essas substâncias não entram em ebulição 8 nem se congelam nas temperaturas ambientes. O mercúrio se congela a -39ºC e entra em ebulição a 357ºC, sendo empregado entre os limites de 0 a 100ºC (tmáx), enquanto o álcool é empregado para baixas temperaturas pois somente se congela a -114ºC e entra em ebulição a 78ºC (tmín). Precauções ao efetuar leituras da Temperatura do ar e do solo em Estação Convencional: -Os raios solares e as radiações caloríficas emitidas pelos edifícios, rochas, objetos, não devem atingir os termômetros, devendo-se por isso instalar os mesmos em abrigos meteorológicos; -O observador deve evitar o erro de paralaxe. Para tanto deve posicionar a visão ao nível da coluna; -O bulbo do termômetro não deve ser tocado; -O termômetro deve permanecer pelo menos 5 minutos no ambiente em que se deseja medir a temperatura; -Deve-se verificar se o aparelho apresenta erro instrumental, devendo-se proceder a correção instrumental, quando existir. Medida da Temperatura do ar e do solo -Estação Automática Pares termoelétricos: utilizam junções de dois metais diferentes. A diferença de temperatura entre as duas junções (uma no abrigo e outra numa temperatura de referência) gera uma força eletromotriz proporcional. Resistência elétrica (Termístores): constituídos de material semicondutor, com coeficiente térmico negativo (variação da resistência com a temperatura, ou seja maior a temperatura, menor a resistência), permitindo seu acoplamento a sistemas de aquisição de dados. Radiação infravermelha: baseia-se na detecção da radiação eletromagnética emitida pelos corpos (Stefan- Boltzman), Esse instrumento é utilizado para detecção da temperatura da superfície de um corpo. Coleta dos dados meteorológicos em Estação Automática A obtenção desses dados é realizada por um equipamento que realizada o monitoramento microclimático denominado Datalogger. Os sensores instalados dependem do interesse da coleta de dados: usualmente são monitorados a radiação global incidente e refletida (piranômetros), o saldo de radiação (saldo radiômetro), o fluxo de calor no solo (fluxímetro), temperatura e umidade relativa do ar (resistivo-capacitivo), temperatura e umidade do solo (termistor), temperaturas do ar de bulbos seco e úmido (psicrômetros de termopar com ventilação natural) e velocidade do vento (sinal de pulso), os quais são conectados a um sistema de aquisição automática. Através de um software (Exemplo: PC208W para ambiente Windows), realiza-se a programação para a leitura de todos sensores conectados ao sistema, com instruções específicas para cada tipo de sensor utilizado, via um editor específico com compilação. Os dados chegam à memória de entrada a cada 5 segundos, sendo posteriormente armazenados na memória intermediária as 60 leituras, sendo em seguida processada a média dessas leituras e enviadas para a memória final, a cada 5 minutos. Esses dados deverão ser transferidos posteriormente desse módulo de memória, via software PC208W, a cada 2 dias, e transferidos para um microcomputador. O padrão de comunicação desses dados é o ASCII (American Standard Code for Information Interchange) delimitado por vírgulas, sendo que o separador decimal é o ponto. Desta forma, o arquivo ASCII apresenta-se com colunas correspondendoaos valores oriundos dos aparelhos, a média de 60 leituras a cada 5 minutos. Na Figura abaixo mostramos um exemplo de arquivo ASCII, sendo apresentado um código identificador de dados na linha (100), o ano (1999), o dia juliano (282), a hora e minutos (630), e na seqüência os dados correspondendo à cada sensor em ordem pré-estabelecida pela programação na saída dos dados. 100,1999,282,630,16.32,70.7,16.9,69.84,22.61,22.29,23.29,19.88,21.86,0.037,0.014,15.19,13.37,16.6,13.45,15 .37,13.49,13.85,12.49,14.84,10.6,14.1,11.57,1.108,1.933,-1.563,0.538,1.013,0.202,0.662,0.524 100,1999,282,635,16.48,70.3,17.22,68.6,22.6,22.35,23.28,19.84,21.87,0.037,0.014,15.33,13.47,16.66,13.17,15 .57,13.6,13.72,12.42,14.77,10.44,14.02,11.4,1.324,3.26,-0.262,0.493,0.852,0.208,0.687,0.571 100,1999,282,640,16.6,70.2,17.6,67.4,22.58,22.34,23.29,19.85,21.85,0.037,0.014,15.49,13.64,16.72,13.01,15. 71,13.72,13.39,12.25,14.57,10.06,13.81,11.13,1.522,4.634,1.048,0.45,0.654,0.256,0.704,0.626 100,1999,282,645,16.74,68.77,18.01,66.02,22.62,22.34,23.32,19.81,21.82,0.037,0.014,15.45,13.71,16.74,12.9 1,15.79,13.84,13.27,12.09,14.6,9.86,13.7,10.88,1.748,7.27,2.293,0.394,0.451,0.275,0.746,0.686 Figura 5: Arquivo ASCII contendo dados oriundos de um Datalogger 9 Grau-dia (GD): Um dos estudos pioneiros relacionando o clima às plantas foi realizado por Reamur em 1735 na Europa. Esse pesquisador observou que o somatório das temperaturas do ar durante o ciclo de qualquer planta era praticamente constante, em diferentes anos, assumindo que esse somatório térmico ou constante térmica expressava a quantidade de energia que uma espécie vegetal necessitava para atingir a maturidade. O modelo dos graus-dia (GD) baseia-se no fato de que a taxa de desenvolvimento de uma espécie está relacionada a temperatura do ambiente. Esse conceito pressupõe a existência de temperaturas basais inferior (Tb) e superior (TB), além das quais, a planta não se desenvolve e se o fizer, será a taxas muito reduzidas, admitindo que entre a temperaturas base inferior e a temperatura ótima a relação entre temperaturas do ar e desenvolvimento é praticamente linear, conforme a figura abaixo: Temperatura do ar e desenvolvimento de insetos: Os elementos meteorológicos: radiação solar, temperatura do ar e do solo, umidade do ar e do solo, luz, vento, também exercem influência na distribuição e população das pragas. É preciso lembrar que nenhum elemento meteorológico atua isoladamente e sim interagindo uns com os outros, porém em alguns casos tenta-se isolar esses efeitos, a fim de poder explicar por exemplo, as variações populacionais das pragas. A temperatura do ar afeta os insetos diretamente, influindo no seu desenvolvimento e seu comportamento e indiretamente, interferindo no crescimento vegetal, ou seja, na sua alimentação. A temperatura ótima de desenvolvimento para a maioria dos insetos tropicais, situa-se em torno de 23oC, correspondendo ao ponto de desenvolvimento mais acelerado e de maior número de descendentes. A 38 oC tem- se o limiar máximo e a 15 oC o mínimo. O conceito de graus-dia também pode ser aplicado ao desenvolvimento de insetos, visto que observações mostram que os insetos completam seu desenvolvimento mais rapidamente durante períodos quentes do que em períodos frios. Essas informações são relevantes na adoção do controle de pragas, especialmente o manejo integrado de pragas, no qual se aplica o sistema de unidades térmicas (GD), tanto às pragas, como aos inimigos naturais. Podemos calcular o GD diário (GDi) através da seguinte expressão: GDi=Tmedi – Tb Em que, Tmed é a temperatura média do ar, em oC, no dia i e Tb a temperatura basal inferior em oC, tabelada. Portanto, cada grau de temperatura acima da Tb teremos um GD. Dessa forma, a constante térmica de uma espécie de inseto, para que seja completado o ciclo, será dada pelo total de GDi acumulados ao longo da fase ou ciclo (dias): i=n Constante Térmica=∑ GDi i=1 Tabela 3: Influência da temperatura do ar sobre o ciclo de algumas pragas Cochonilha Broca-do-café Mosca-das-frutas Temp (oC) Ciclo (dias) Temp (oC) Ciclo (dias) Temp (oC) Ciclo (dias) 30 25 27 21 26 20 25 35 22 32 19 41 20 60 19 67 15 210 Aplicando-se o conceito dos graus-dia podemos determinar o número de gerações de uma praga, através da expressão: ∑GDi=(Tmedi – Tb) . C Em que, C é a duração do ciclo da praga (dias). 10 Tabela 4: Temperatura-base e exigência térmica de algumas pragas Praga Tem base-Tb (oC) Constante Térmica=∑ GDi (oC dia) Cochonilha 13 420 Broca-do-café 15 240 Mosca-das-frutas 13,5 250 Utilização do conceito de GD para insetos. Tabela 5: Dados normais de temperatura média do ar para Rio Branco-Acre (1987) Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Tmed 25,8 25,5 25,6 25,7 24,5 23,7 25,4 24,4 26,5 27,1 26,0 26,0 Exercício: 1)Determinar o número de gerações da broca-do-café (Tb=15oC e GD=240 (oC.d) ) no período janeiro- março/1987 em Rio Branco-Acre. Solução: Tabela 6: Tmed (oC), GDi=Tmed-Tb (oCd), n (dias), ∑ GD (oCd) e ∑GDac (oCd). Mês Tmed (oC) GDi=Tmed-Tb (oCd) n (dias) ∑ GD (oCd) ∑GDac (oCd) Jan 25,8 (25,8 – 15)=10,8 31 334,8 334,8 Fev 25,5 (25,5 – 15)=10,5 28 294,0 628,8 Mar 25,6 (25,6 – 15)=10,6 31 328,6 957,4 Até o dia 31 de março de 1987 acumulou-se 957,4 oC . d. Assim, o número de gerações será: C= ∑GD/(Tmedper – Tb)=240/(25,6 – 15)=240/10,6= 22,64 ou seja cerca de 23 dias. Assim, o número de gerações será: NG=P/C ou seja, NG=90dias/23=3,91 ou aproximadamente 4 gerações desse inseto Utilização do conceito de GD no planejamento do plantio/colheita das culturas agrícolas: Tabela 7:Valores de Constante Térmica e temperatura-base inferior (Tb) para algumas espécies: Cultura Variedade Período Tb (oC) ∑ GD (oC d) Arroz IAC4440 Semeadura- Maturação 12 1.990 Milho BR 201 Semeadura- Maturação 10 1.190 Soja UFV 1 Semeadura- Maturação 14 1.340 Essas informações são extremamente úteis, possibilitando o planejamento de plantios, colheitas, escolha de variedades e ainda o acompanhamento em tempo real do desenvolvimento da cultura Tabela 8:Dados normais de temperatura do ar para Rio Branco-Acre (1986) Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Tmed 25,2 25,0 25,3 25,3 25,2 23,3 22,9 24,5 24,5 25,4 25,8 25,9 Tabela 9:Dados normais de temperatura do ar para Rio Branco-Acre (1987) Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Tmed 25,8 25,5 25,6 25,7 24,5 23,7 25,4 24,4 26,5 27,1 26,0 26,0 Exercício: A semeadura do milho BR 201(Tb=10oC e GD=1.190 (oC.d) ) em Rio Branco-Acre, ocorreu em 20 de novembro de 1986. Qual será a data média prevista para a colheita? Solução: Tabela 10: Tmed (oC), GDi=Tmed-Tb (oCd), n (dias), ∑ GD (oCd) e ∑GDac (oCd). 11 Mês Tmed (oC) GDi=Tmed-Tb (oCd) n (dias) ∑ GD (oCd) ∑GDac (oCd) Nov 25,8 (25,8 – 10)=15,8 10 158 158 Dez 25,9 (25,9 – 10)=15,9 31 492,9 650,9 Jan 25,8 (25,8 – 10)=15,8 31 489,8 1.140,7 Fev 25,5 (25,5 – 10)=15,5 3,18 49,3 1190 Até o dia 31 de janeiro de 1987 acumulou-se 1.140,7 oCd, portanto restam 1.190 (oC.d) -1.140,7(oC.d)=49,3(oC.d), o que será alcançado no dia 03 de fevereiro de 1987 (49,3/15,5=3,18) Exercício: Caso fosse necessário colher em Rio Branco-Acre, soja UFV-1 (Tb=14oC e GD=1.340 (oC.d) após 15 de março de 1987, qual deveria ser a data da semeadura? Solução: Mês Tmed (oC) GDi=Tmed-Tb (oCd) n (dias) ∑ GD (oCd) ∑GDac (oCd) Mar/1987 25,6 (25,6 – 14)=11,6 15 174 174 Fev/1987 25,5 (25,5 – 14)=11,5 28 322 496 Jan/1987 25,8 (25,8 – 14)=11,8 31 365,8 861,8 Dez/1986 25,9 (25,9 – 14)=11,9 31 368,9 1.230,7 Nov/1986 25,8 (25,8 – 14)=11,8 9,3 109,3 1.340 Até o dia 31 de dezembro de 1986 acumulou-se 1.230,7 oCd, portanto restam 1.340 (oC.d) -1.230,7(oC.d)=109,3(oC.d),o que será alcançado após 109,3/11,89,3 dias de permanência da soja em campo no mês de novembro de 1986. Assim, a soja deverá ser plantada após o dia 21 de novembro de 1986. 7-BIBLIOGRAFIA ALBRECHT, J.M.F.; ALBUQUERQUE, M.C.L.F.; SILVA, V.S.M. influência da temperatura e do tipo de substrato na germinação de sementes de cerejeira, Revista Brasileira de Sementes, vol. 8, no 1, p. 49-55, 1986. Bergamaschi, H.; Guadagnin, M.R. Modelos de ajuste para médias de temperatura do solo, em diferentes profundidades. 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