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Origem da vida e evolução dos vegetais Jeferson Dombroski – março de 2011 A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos de idade. Acredita-se que, antes da vida surgir na Terra, a atmosfera, fina, era composta por gases de nitrogênio, dióxido de carbono e vapor de água, liberados por uma infinidade de vulcões. Não havia oxigênio livre. Com o resfriamento da Terra, fatores, como luz ultravioleta e tempestades elétricas, propiciaram a redução das moléculas, com produção de aminoácidos e outras substâncias, formando o que foi denominado de “caldo primordial”. É possível que algumas dessas moléculas, por combinação aleatória, tenham originado macromoléculas. Em algum ponto surgiu a capacidade de reprodução. (Talvez um filamento de RNA que produzisse uma estrutura parecida a um ribossomo que fosse capaz de ligar as bases nitrogenadas usando como molde o seu próprio RNA, reproduzindo-se). Essa capacidade de uma molécula de gerar cópias de si mesmo é um evento fundamental na história da vida no planeta. Na verdade, pode ser considerado como o próprio início da vida, e nos leva à reflexão que a essência da vida está não só no funcionamento de um organismo, mas principalmente na sua capacidade para gerar descendentes. O próximo passo seria a síntese protéica, talvez de uma proteína que facilitasse a síntese do RNA (RNA polimerase), ou de RNA transportador. Tudo isso é mera especulação, e não existe nenhuma teoria que explique totalmente a origem dos primeiros organismos, mas um evento que é considerado fundamental no desenvolvimento da vida é o encapsulamento desse material genético/proteína, ou seja, a origem da membrana plasmática. A presença de uma membrana permite que substâncias necessárias sejam acumuladas e que substâncias tóxicas sejam eliminadas, protege o material genético e as proteínas e permite a formação de uma diferença de potencial eletroquímico (DDP). É a partir dessa DDP que é gerado a maior parte do ATP, a principal fonte de energia bioquímica, necessária para a execução dos processos metabólicos. Seja como for, à medida que evoluíram, as células foram se tornando mais complexas, adquirindo a capacidade de crescer, reproduzir-se e passar suas características para as gerações subseqüentes (hereditariedade), que são características de todos os seres vivos. Os primeiros organismos celulares devem ter sido semelhantes às nossas bactérias atuais (Figura 1), sendo organismos simples revestidos por uma membrana plasmática e contendo material genético na forma de DNA (ou RNA ?), juntamente com as proteínas mínimas necessárias para a execução de alguma atividades básicas de subsistência. Esses protistas devem ter sido seres heterotróficos, obtendo energia e esqueletos de carbono (moléculas que contém carbono, necessárias para a produção de todas as outras moléculas dos organismos, como os açúcares e aminoácidos) a partir do “caldo primordial”. À parte essas hipóteses, existem evidências de existência de vida na Terra datadas em cerca de 3,85 bilhões de anos (depósitos mistos de oxido ferroso e óxido férrico, que sugerem a presença de oxigênio na atmosfera, o qual se originou da fotossíntese), e fósseis de estromatólitos (Figura 3), alguns com cerca de 3,5 bilhões de anos, formados por diversos tipos de células pequenas, simples, semelhantes a bactérias, mas já com capacidade fotossintética, semelhante às cianobactérias atuais (Figura 4). Acredita-se que a fotossíntese surgiu cerca e 100 milhões de anos após a origem das bactérias. Figura 2 Esquema da estrutura de eubactéria atual (www.sparknotes.com/biology/microorganisms/monera/section1.html) Figura 3 Estromatólitos vivos (www.shorstmeyer.com/msj/geo130/atmsea.html) Figura 4 Cianobactéria – bactéria fotossintetizante no início da divisão celular. As membranas escuras são tilacóides (http://fig.cox.miami.edu/~cmallery/150/mitosis/cyanobacteria.tem.jpg) Figura 5 Cianobactéria Anabaena cylindrica . A fase fotoquímica da fotossíntese ocorre nos tilacóides. (Raven, Evert e Eichorn, 2001) A origem da fotossíntese proporcionou algumas alterações importantes na vida na Terra; 1. A obtenção de energia a partir da luz solar. Antes ocorria apenas pela respiração. 2. A produção de matéria orgânica a partir do CO2, usando a energia solar. Antes da fotossíntese, a matéria orgânica era produzida a partir da quimiossíntese (?) ou de forma abiótica. 3. A produção de oxigênio na atmosfera, permitindo o surgimento da respiração aeróbia. A qual proporciona uma produção de ATPs muito maior do que a respiração anaeróbia. A maioria dos organismos atuais é dependente do oxigênio atmosférico (Figura 6) Figura 6 Evolução da concentração do oxigênio atmosférico e a evolução dos seres vivos (www.shorstmeyer.com/msj/geo130/atmsea.html) 4. A produção da camada de ozônio, que criou uma barreira à passagem de luz ultra-violeta, permitindo que os seres vivos pudessem sair de dentro da água e ocupar o ambiente terrestre. Várias teorias tentam explicar a evolução de procariotos em eucariotos (a origem do núcleo), que teria ocorrido entre 850 e 1,5 bilhões de anos atrás. (ver http://en.wikipedia.org/wiki/Cell_nucleus). Algumas dessas teorias são exemplificadas na Figura 9. A origem de mitocôndrias e cloroplastos tem sido explicada pela hipótese da endossimbiose, também exemplificada na Figura 9, letras e-g. Segundo essa hipótese, mitocôndrias teriam sido -proteobactérias (Figura 7 e Figura 9) que teriam sido incorporadas em archaeobactérias, e os cloroplastos teriam sido cianobactérias. De fato, existem vários seres unicelulares e multicelulares que carregam simbiontes internos, como o paramécio mostrado na Figura 10. Outros exemplos de endossimbiontes atuais podem ser vistos em http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB/Images/Subjects/EndosymbiosisE.html Figura 7 Genealogia de bactérias e a origem de mitocôndrias e cloroplastos. (www.steve.gb.com/science/photosynthesis.html) Figura 8 Origem das células eucarióticas segundo Robertson. Fonte: Cesar e Sezar, Figura 9 Hipóteses sobre a origem das células eucarióticas, redesenhadas de vários artigos científicos. a-d – O núcleo é formado antes da aquisição de mitocôndrias; e-g – as mitocôndrias são adquiridas pela célula procariótica antes da formação do núcleo .(http://www.nature.com/nature/journal/v440/n7084/full/nature04546.html) Figura 10 Paramecium bursaria com bactéria endossimbionte fotossintetizante (chlorela) (http://protist.i.hosei.ac.jp/PDB/Images/Ciliophora/Paramecium/bursaria/inde x.html) Todos os grupos de seres eucarióticos clorofilados (ou seja, que contém cloroplastos) são considerados algas ou plantas, sendo que as algas são organismos aquáticos, variando desde organismos unicelulares isolados, organismos unicelulares coloniais até organismos multicelulares complexos muito semelhantes às plantas. O primeiro passo na evolução das algas (Figura 11) foi a obtenção do cloroplasto por uma célula eucariótica, produzindo as algas unicelulares de vida isolada (ver exemplo na Figura 12). O passo seguinte na cadeia evolutiva foi o agrupamento dos organismos unicelulares em colônias, como as observadas na Figura 13 e na Figura 14. Figura 11 Filogenia de algas e plantas superiores. (Mol. Biol. Evol. 21(5):809- 818. 2004; http://mbe.oxfordjournals.org/cgi/content/full/21/5/809). Figura 12 Algas unicelulares (diatomáceas). (http://www.daviddarling.info/encyclopedia/D/diatom.html; http://www.priweb.org/ed/pgws/systems/energy_capture/capture.html;) Figura 13 Algas coloniais. À esquerda, Phaeoplaca, à direita, Bambosina. (http://www.britannica.com/eb/art-300/Unicellular-and-colonial-algae) Figura 14 Colônias de algas unicelulares.Filo Chlorophyta (Volvox) (http://www.esu.edu/~milewski/intro_biol_two/lab_8_protista/volvox.html) Continuando a linha evolutiva, aparecem organismos multicelulares, como as algas vermelhas (Figura 15), cujo arranjo das células começa a apresentar semelhanças à arquitetura das plantas superiores. A formação de estruturas que se assemelham a galhos ou folhas tem a função de melhorar a captura da luz e nutrientes, e a formação de estruturas semelhantes à raízes favorece a fixação no substrato. As algas mais evoluídas como Macrocystis também podem apresentar tecidos condutores de seiva elaborada (tubos crivados) comparáveis aos das plantas vasculares. Figura 15 Algas vermelhas (http://www.britannica.com/eb/art/print?id=89120&articleTypeId=0; http://www.ucmp.berkeley.edu/protista/rhodophyta.html) Figura 16 Algas pardas (feofíceas - Phaeophyta) http://taggart.glg.msu.edu/bot335/seaweed.htm; http://www.dipbot.unict.it/sistematica_es/Cystosei.html) Figura 17 Alga verde (clorofícea- Chlorophyta - http://taggart.glg.msu.edu/bot335/seaweed.htm) Ao conquistar o ambiente terrestre (surgimento das plantas – 400 milhões de anos atrás) ocorreram algumas modificações importantes. Dentro da água há maior dificuldade para obtenção de luz e de nutrientes minerais, mas não há problemas de absorção ou transporte de água. Assim, as plantas têm maior acesso à luz e aos nutrientes minerais, mas para obtê-los, precisam desenvolver estruturas e mecanismos para lidar com a absorção da água e a desidratação, pois o ar tem uma capacidade gigantesca para retirar água das superfícies úmidas. Para lidar com a desidratação surgiu a cutícula, uma camada impermeável de revestimento da epiderme, com a função de limitar a perda de água, porém com o problema de também impedir a absorção de CO2. Para absorver o CO2, foram mantidas aberturas na epiderme, denominadas de poros, as quais mantém contato com um espaço de ar interno do tecido fotossintetizante(Figura 21). Nas briófitas mais evoluídas (musgos), surge uma evolução muito importante dos poros, que são os estômatos, os quais são poros com abertura controlável. Com o surgimento dos estômatos, as plantas terrestres foram capazes de manter o seu conteúdo de água, ou seja, tornaram-se seres homeohídricos. Figura 18Tecidos conutores (hadroma - hidróides e leptoma - leptóides) no musgo Dawsonia superba (Raven, 2001, p. 400) Algumas das principais características que proporcionaram a evolução das plantas e a sua adaptação a ambientes cada vez mais secos estão apresentadas na Figura 19. As plantas mais simples são as briófitas, hepáticas, antoceros e musgos, caracterizadas pela ausência de tecido vascular verdadeiro, ainda que os grupos mais evoluídos de briófitas (musgos Figura 20) possuam estruturas especializadas para transporte de água (hadroma) e seiva elaborada (leptoma) – ver Figura 18. A estrutura básica das briófitas é composta por estruturas de ancoragem (rizóides), que não têm função de absorção, parênquimas, que podem funcionar como reserva de água ou serem especializadas para a fotossíntese. A troca gasosa nos grupos mais simples ocorre através de poros (Figura 21), mas em briófitas mais evoluídas podem ser observados estômatos primitivos (Figura 22). Figura 19 Cladograma mostrando algumas características evolutivas entre algas verdes e briófitas. (Raven, 2001, p. 386) Essas plantas têm dificuldade para lidar com a desidratação, sendo encontradas apenas em ambientes sombreados e próximas à água, onde o ar é úmido. São também plantas pequenas, pois não possuem lignina, que dá resistência às paredes celulares das plantas traqueófitas. Com o aparecimento da lignina, as plantas puderam ganhar altura. Isso permite uma melhor competição pela luz e pelo CO2, mas também ocasionou o problema da dificuldade de transportar água por longas distâncias. Isso foi possível pela evolução do xilema, composto por células especializadas no transporte de água, lignificadas, alongadas e mortas quando maduras (Figura 23). Figura 20 Musgo - Sphagnum (Raven, 2001, p. 398) Figura 21 Esquema da estrutura de uma hepática - Marchantia (Raven 387). Figura 22 Estômato de musgo Funaria hygrometrica (Raven 2001, p. 404) Figura 23 Células de xilema. (Taiz e Zeiger, 1991) O grupo menos evoluído das traqueófitas é o das plantas vasculares sem sementes (Figura 24). São plantas maiores, que podem atingir até alguns metros de altura, como o xaxim, que é uma samambaia gigante, mas raramente passam de algumas dezenas de centímetros, pois não possuem crescimento secundário, que é o crescimento em espessura característico das árvores. Figura 24 Esquerda: Samambaia Polystichum acrostichoides (http://www.nathankramer.com/garden/plants/beds/fern_bed/ferns.htm); Direita: Ápices foliares da samambaia Matteuccia strutiopteris (Raven, 2001, p. 437) O próximo passo na cadeia evolutiva foi a produção de sementes, o que caracteriza as gimnospermas e angiospermas. As gimnospermas possuem sementes isoladas, produzidas em pinhas ou estróbilos (Figura 25), e as angiospermas produzem sementes no interior de frutos. Outra característica desses grupos é a existência de espécies que apresentam crescimento secundário (em espessura), permitindo que atinjam vários metros de altura (Figura 26) Figura 25 Estróbilos ovulados de Larix decidua (http://botit.botany.wisc.edu/courses/img/bot/401/Coniferophyta/Pinaceae/L arix/) Uma diferença importante entre gimnospermas e angiospermas é que as angiospermas possuem elementos de vaso, enquanto que as gimnospermas e as plantas vasculares sem sementes possuem apenas traqueídeos como elementos condutores de água (Figura 23). Os elementos de vaso são mais eficientes no transporte de água, permitindo a adaptação das plantas a ambientes mais quentes e com ar mais seco. Por outro lado, as gimnospermas são mais resistentes ao congelamento. Nas regiões mais frias do planeta não existem árvores, pois elas não resistem às temperaturas extremas. Nas regiões limítrofes existem apenas gimnospermas, que suportam o congelamento. Por outro lado, nas regiões tropicais as únicas árvores são angiospermas. A árvore gimnosperma mais próxima do equador é o pinheiro do Paraná (Figura 27). As angiospermas surgiram a cerca de 100 milhões de anos, e podem ser divididas em dois grandes grupos básicos, as monocotiledôneas e as dicotiledôneas. As características desses grupos serão discutidas oportunamente. Figura 26 SequoiaGeneral Sherman (Sequoiadendrum giganteum) uma das maiores árvores da Terra, com 80 metros de altura e peso de cerca de 2500 toneladas (http://www.its.caltech.edu/~liebling/news.html; http://www.bookofjoe.com/2006/07/08/index.html) Figura 27 Araucaria angustifolia, principal gimnosperma brasileira (http://www.rbma.org.br/anuario/mata_11_recursos_florestais.asp)
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