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AULA 1 - DIREITO TRIBUTÁRIO - PARTE GERAL I • Conhecer questões gerais e básicas em matéria de direito tributário; • Descrever e analisar o papel do Estado e sua relação com a origem e a justificação da tributação; • Entender quais são as fontes do direito tributário e como são aplicadas, interpretadas e integradas na normativa; • Classificar e interpretar os princípios que regem a matéria tributária e as limitações ao poder de tributar, para relacioná-los aos demais conteúdos e aplicá-los na prática profissional; • Entender, também, o funcionamento das isenções e imunidades tributárias CONTEXTUALIZANDO A APRENDIZAGEM O país, além de uma alta carga tributária, possui uma imensidão de normas, o que torna muito difícil sua compreensão. Em verdade, todos deveriam conhecer os temas que serão aqui apresentados, mas para você, futuro profissional, saber será imprescindível em seu cotidiano. Absorver o conhecimento para bem aplicá-lo é fundamental à boa administração de um negócio, de um patrimônio, da vida financeira de uma empresa, ou mesmo de qualquer cidadão. Você sabe como e por que a tributação surgiu, bem como sua evolução até os dias atuais? É capaz de compreender o papel das normas tributárias e da ciência do Direito Tributário? Pode definir como é dada vigência à norma tributária e, também, como ela se aplica, ou como é interpretada? Sabe quais são as limitações impostas ao poder de tributar? Estas são algumas perguntas que, ao final desta aula, você será capaz de responder. Assim, abordaremos, num primeiro momento, questões gerais de Direito Tributário. Iremos apresentar a relação entre o papel do Estado e a tributação como ferramenta necessária à consecução da promoção do bem-estar social e à efetivação dos direitos e garantias individuais e coletivos, a fim de compreendermos o porquê da existência e cobrança de tributos. Também analisaremos o papel do Direito Tributário e suas fontes. Em seguida, entenderemos como as normas passam a viger no ordenamento e como são realizadas sua interpretação e integração. Também pontuaremos os princípios norteadores e os limites que a Constituição impõe à atividade de instituição e cobrança do tributo, isto é, à invasão, por parte do Estado, na esfera patrimonial do cidadão. Ainda nesta temática, apresentaremos, também, as chamadas imunidades e vamos diferenciá-las das isenções, dois institutos igualmente importantes. Mapa mental panorâmico Para contextualizar e ajudá-lo(a) a obter uma visão panorâmica dos conteúdos que você estudará na Aula 1, bem como entender a inter- relação entre eles, é importante que se atente para o Mapa Mental, apresentado a seguir: DIREITO TRIBUTÁRIO - PARTE GERAL I 1 ESTADO E TRIBUTAÇÃO 1.1 O PAPEL DO DIREITO E A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 2 FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO 3 VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 3.1 VIGÊNCIA 3.2 APLICAÇÃO 3.3 INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 4 PRINCÍPIOS E LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR 4.1 LEGALIDADE 4.2 ISONOMIA 4.3 IRRETROATIVIDADE 4.4 ANTERIORIDADE ANUAL 4.5 ANTERIORIDADE NONAGESIMAL 4.6 VEDAÇÃO AO CONFISCO 4.7 LIBERDADE DE TRÁFEGO 4.8 IMUNIDADES 4.9 OUTRAS LIMITAÇÕES 5 ISENÇÕES E IMUNIDADES DIREITO TRIBUTÁRIO - PARTE GERAL I 1 ESTADO E TRIBUTAÇÃO Figura 1 – Noções acerca do Tributo Fonte Disponível: Acervo Pessoal. Você consegue compreender a importância que os tributos assumem na sociedade e o porquê de sua existência? Sabe quais seriam e como surgem as obrigações de pagá-los? Uma boa administração tributária é fundamental ao sucesso de um negócio, ou à saúde financeira do cidadão. Porém, devido à grande diversidade de tributos e leis existentes, torna-se difícil assimilar seu funcionamento, pelo que iniciamos o estudo da legislação e dos temas mais pertinentes em matéria tributária. Não obstante dediquemos um capítulo da Aula 2 à definição mais detalhada do que seja o tributo, podemos adiantar, em breves linhas, que ele representa uma prestação paga pelo cidadão devedor ao Estado credor; oriunda de uma relação estabelecida entre eles por meio da lei, que prevê as situações que darão ensejo à tributação (geralmente, alguma situação que gere riqueza, como a venda ou o recebimento de um imóvel, uma doação, uma venda qualquer, o ganho de algum capital). Também devemos esclarecer que esta prestação pecuniária é cobrada mesmo contra a vontade do particular e não constitui punição, como as multas. E, assim como o fato previsto em lei enseja o tributo, é a lei que institui sua existência e determina como, em que hipóteses e sob quais limites o Poder Público pode cobrá-lo. Vale lembrar que, embora utilizemos, no dia a dia, o termo “impostos”, a expressão tributo é muito mais ampla. As siglas sobre as quais ouvimos falar - como IPVA, ICMS, IPTU e muitas outras - fazem parte apenas de uma de muitas espécies de tributos, que veremos assim que concluída esta parte geral. Ao contrário do que geralmente pensamos, os tributos, ao menos em tese, não têm a função de enriquecer os governantes. Possuem, em verdade, a finalidade de custear a máquina pública, isto é, financiar as despesas do Estado, que necessita de fundos para desempenhar atividades em benefício da sociedade (sem os quais não é capaz de desempenhar seu papel de garantidor de direitos); e, também, para atuar de forma extrafiscal - isto é, de ir além e intervir, seja na economia, seja no comércio, nas condutas dos cidadãos, ou como “fator de redução das desigualdades sociais ou econômicas” (MACHADO SEGUNDO, 2019, p. 8). A própria Constituição Federal (BRASIL, 2019), em seus arts. 1° e 3°, destaca que o Estado Democrático e de Direito , pautado na lei e no social, tem como fundamentos a dignidade da pessoa humana, a cidadania, os valores do trabalho e da livre iniciativa; e também estabelece que, dentre os objetivos fundamentais da República, estão a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional; a erradicação da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem-estar de todos, sem discriminação. Isto sem contar todos os direitos e garantias individuais e coletivos elencados nos dispositivos seguintes do documento e outros previstos em lei. Embora se trate de tema transversal - isto é, questão ligada ao tema abordado, mas de forma indireta -, é muito importante refletirmos sobre o termo “desigualdade”, que nos leva à discussão sobre o que seria a verdadeira igualdade. Quando se fala em “igualdade de todos perante a lei”, trata-se de uma igualdade meramente formal, segundo a qual a lei deve conferir tratamento equânime aos indivíduos, visando subordinar todos ao seu crivo, independentemente de raça, cor, sexo, credo ou etnia. E não que pessoas diferentes serão tratadas sempre de forma igual. Os indivíduos são, essencialmente, desiguais e, por muitas vezes algumas desigualdades não são superadas quando submetidas a uma mesma lei, a qual poderá, inclusive, aumentá-las ainda mais (e esta não é, nem será, sua finalidade). Por isso, no Direito, fala-se também em igualdade material, o que tem por finalidade igualar os indivíduos e prezar pela consideração dos aspectos diferenciadores existentes na sociedade. Por meio do conceito de igualdade material, que guarda relação com a definição de igualdade dada por Aristóteles, são levadas em consideração as peculiaridades dos indivíduos, de forma que a lei deva estabelecer algumas distinções, devendo os iguais serem tratados igualmente, e os desiguais, desigualmente, de acordo com suas diferenças, pois há, na sociedade, indivíduos e grupos historicamente mais vulneráveis e que necessitem de um tratamento diferenciado. O objetivo da lei, de “redução das desigualdades”, existe porque, no país, as desigualdades são muito acentuadas, a ponto de retirarem, de muitas pessoas, a dignidade e as oportunidades que poucas têm. Muitas desigualdadesnão são opção, e, sim, uma triste realidade para muitos indivíduos, que não escolhem o padrão de vida que levam ou as condições em que se encontram. Ademais, a lei deve tratar desigualmente os desiguais, porque, conforme Hugo de Brito Machado Segundo (2019, p. 8), o desigual não é necessariamente ruim. A existência de certas desigualdades pode estimular o trabalho, o esforço, o empreendedorismo, a ousadia e a criatividade (algumas pessoas são aptas a certos ofícios e outras, a ofícios diferentes; e daí temos que algumas diferenças são necessárias). Outro argumento é que a supressão das desigualdades poderia implicar na criação de um Estado totalitário opressor das liberdades individuais e da dignidade humana, caso todos fossem tratados de uma forma somente; de tal forma que, certamente, alguns grupos de pessoas seriam prejudicados pela lei. Para exemplificarmos o que dissemos, quanto à igualdade aristotélica (modelo o qual defende que sejam iguais tratados de forma igual e, os desiguais, de forma desigual, devido às suas peculiaridades, diferenças e vulnerabilidades a ensejarem um tratamento mais diferenciado), vejamos a seguinte imagem: Figura 2: Igualdade não significa justiça Acesso em 19 de jul. 2019. Para o estudo desta disciplina, tenha em mãos sempre a Constituição Federal. Esta, principal norma brasileira, é o fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico e deve ser respeitada por todas as instituições, legislações, pessoas. Para nos referirmos a esse documento, e que será referenciado em praticamente todo este material didático, usaremos termos variados, como texto constitucional, lei maior, carta magna, carta constitucional, entre outros. Tenha em mãos, também, o Código Tributário Nacional, que, depois da Constituição, é o documento legislativo mais importante em matéria tributária. A utilização de ambos, além de outros dispositivos de lei mencionados ao longo das Aulas, será fundamental à compreensão da matéria. A tributação está intimamente ligada à história das civilizações e, segundo Baleeiro (apud COELHO, 2018), onde quer que se erga um poder político, surgirá também o poder de tributar. Os recursos necessários à manutenção da máquina pública podem ser obtidos de forma direta, como no caso da exploração de algumas atividades econômicas. Desde longa data, os governantes contavam com outras fontes de financiamento, como exploração de minas, colônias ou do exercício de outras atividades produtivas (como, por exemplo, a compra e a venda de matérias-primas). É o mesmo caso quando o Estado, atualmente, recebe por aluguéis, dividendos de empresas estatais, ou por royalties cobrados pela exploração de seu patrimônio (MACHADO SEGUNDO, 2019). Mas esses recursos não são suficientes. Assim, além da exploração de algumas atividades econômicas, são necessárias outras receitas, como os tributos, derivadas de seu poder de se impor sobre nós, particulares (BALEEIRO, 1987) e que constituem sua principal fonte de custeio. A maior parte de sua receita, antes originária, passa a ser aquela considerada “derivada” (por derivar de outrem), obtida a partir da atividade exercida pelos particulares, que geram suas riquezas, das quais parte é compulsoriamente transferida ao patrimônio público sob a forma de impostos, contribuições, taxas, multas etc. Vejamos o quadro a seguir: Quadro 1 – Receitas públicas Fonte Disponível em: ALEXANDRE (2017). Quanto à sua natureza, Navarro (2018, p. 28) afirma que “o poder de tributar é exercido pelo Estado por delegação do povo”, isto é, a partir da vontade da coletividade. Por meio de uma Assembleia Constituinte, a representar todo um povo de um mesmo território, é definida uma Constituição, que cria e estrutura o Estado; institui poderes e fixa as competências de cada ente, de cada Poder (por exemplo, via de regra, o Poder Legislativo legisla, ou elabora leis; o Executivo as aplica, isto é, administra; e o Judiciário as julga, no caso de controvérsias acerca das normas ou conflitos de interesses entre os sujeitos); também fixa as competências e limites de cada órgão; estatui os deveres, direitos e garantias e visa proteger a sociedade. E o exercício da tributação é fundamental para os interesses do Estado, pelo que se revela fundamental o dever de pagar tributos, que representam “uma contribuição necessária para que o Estado possa cumprir suas tarefas no interesse do proveitoso convívio de todos os cidadãos” (TIPKE; YAMASHITA, apud PAULSEN, 2018, p. 20). Como já explanado, a figura do tributo é antiga, mas, em princípio, como o Estado possuía importantes fontes de financiamento próprias, reservava a exigência da tributação apenas em face dos povos vencidos em guerras (naquele período, a “pilhagem”, ou saque dos povos vencidos era vista como fonte legítima de receita pública). E, por muito tempo, o poder (do Estado) de tributar, assim como o poder de punir, foi marcado por muito abuso e pouca justiça (COELHO, 2018). Segundo Paulsen (2018), esse poder, por envolver imposição, autoridade, deu ensejo a excessos e arbitrariedades e, até mesmo, à violência, constrangimentos e restrições a direitos. No Brasil Imperial, a alta carga tributária e a ausência de investimentos nos locais onde arrecadados os tributos foram causas de movimentos pela independência e de caráter separatista. À época da Inconfidência Mineira, com a queda tanto na extração do ouro, quanto na arrecadação de um tributo chamado “Quinto”, cidadãos passaram a ser perseguidos e chantageados com a “Derrama”, instituída de forma violenta - daí a Inconfidência, que resultou na morte de Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes. A Independência de 1822 e a Revolução Farroupilha também guardam relação com a abusividade de Portugal e, mesmo depois disso, a situação se repetiu, não mais entre colônia e império, mas entre províncias e o governo central (PAULSEN, 2018). Mas esse poder foi sendo limitado, assim como outros poderes, na medida em que, após uma longa e necessária evolução social, ganhou espaço a consciência de que o Estado - enquanto protetor, não predador e, também sujeito a erro, porquanto representado por seres humanos - deveria não apenas elaborar e efetivar as normas, mas também submeter-se a elas (MACHADO SEGUNDO, 2019). Os primeiros dados que temos sobre as origens das limitações ao poder de tributar são do século XII, em Portugal e, após, na Inglaterra, nos Estados Unidos e com a Declaração francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (PAULSEN, 2018). Trata-se, a tributação, de elemento vital para o Estado, mas sua contenção e delimitação são essenciais à sociedade; na medida em que os ideais, os princípios e os valores acima das normas humanas foram se incorporando aos sistemas jurídicos. No tópico destinado aos princípios, iremos nos deparar com termos como “capacidade contributiva”, “igualdade perante a lei”, “legalidade”, “tipicidade”, “vedação da cobrança de tributos de forma confiscatória”, “irretroatividade” etc., que representam limitações surgidas justamente como forma de garantir, por exemplo, que, em alguns casos, cada um possa contribuir de acordo com sua capacidade financeira; que a lei promova maior igualdade e reduza discriminações; que a lei, feita por representantes do povo, seja o norte para o Estado poder agir de forma legítima; que todos os critérios para instituir e cobrar tributos sejam definidos, de forma que o Estado não aja de forma completamente subjetiva sob pena de ser arbitrária, parcial, abusiva. Sobre isso, você estudará no tópico 4 desta Aula. Na contemporaneidade, para que se afaste a visão do tributo como abuso de poder, como imposição do mais forte sobre o mais fraco, é preciso que sua instituição e cobrança sejam legítimas, de modo que os cidadãos enxerguem o Estado como importante, eficaz, obediente às leis, garantidor e promotor dos direitos fundamentais. Vivemos, atualmente, uma grande crise institucionalizada por ausência de segurança e de confiançarecíproca não só entre as pessoas, mas entre essas e o Estado, concorda, Aluno(a)? Nas áreas fiscal e tributária, é quase consenso que o sistema não se afigura justo por uma série de motivos como a multiplicidade e complexidade das normas com sua linguagem obscura e suas constantes mudanças; a demora no julgamento das demandas tributárias; a visão da Fazenda Pública de que o cidadão, via de regra, deseja burlar suas obrigações tributárias, o que a leva a adotar posturas mais rígidas do que poderia; a elevada carga tributária; a forma como realizada a distribuição da carga fiscal; a burocracia; a má gestão das receitas e a corrupção e, desta forma, as normas passam a sofrer rejeição social. O cidadão fica reticente em cooperar financeiramente com um Estado que não o atende de forma eficiente. Mas é fundamental que se promova maior participação do cidadão, que voluntariamente aceite a pagar o tributo, crente em um sistema justo e nos benefícios da norma jurídica tributária à comunidade (SILVEIRA, 2018). 1.1 O PAPEL DO DIREITO E A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Neste contexto, como forma de organizar a sociedade e determinar os comportamentos desejados, sempre em evolução e atento às reivindicações da justiça e da igualdade (COELHO, 2018), o Direito, produzido pelo homem e para o próprio homem, revela-se fundamental para a definição de limitações, valores e outras normas, mais específicas, balanceando os interesses, direitos e deveres do Estado e dos cidadãos. No caso do direito tributário, seu objeto é o de “regular o relacionamento entre Estado e contribuinte, tendo em vista o pagamento e o recebimento do tributo” (COELHO, 2018, p. 26). O Direito é a organização das sociedades e das condutas humanas e, também: A ideia de Direito liga-se à ideia de conduta e de organização. O Direito valoriza, quali?ca, atribui consequências aos comportamentos em função da utilidade social sugerida pelos valores da sociedade a que serve. Para o Direito – instrumento de organização – a conduta é o momento de uma relação entre pessoas (relação intersubjetiva), e não o momento da relação entre pessoa e divindade ou sua consciência, seu foro íntimo. Seu problema especí?co é estabelecer a legalidade fornecedora dos critérios através dos quais é possível às pessoas produzirem, disporem e gozarem dos bens, dirimirem con?itos sociais e interpessoais, inibirem ações indesejáveis e punirem transgressões (COELHO, 2018, p. 5-6). Utilizaremos os termos “Fazenda Pública” e “Fisco” sempre que precisarmos fazer referência ao conjunto de órgãos públicos do Estado responsáveis pela determinação e pela arrecadação de tributos. Falamos em organização social, em definição de comportamentos, porque o Direito só existe porque há “intersubjetividade”, isto é, relação entre dois ou mais sujeitos. Estes sujeitos, essencialmente sociais, produzem, aplicam conhecimento, criam técnicas e instrumentos, mantêm relações e ordem afetiva ou comercial, financeira, e por aí adiante. Para quem leu ou se interessa pelo clássico “Robinson Crusoé” (Daniel Defoe, 1979), ou para quem assistiu ao filme “Náufrago” (2001), vale dizer que, deixando de lado outras inúmeras temáticas abordadas em ambas as obras, no caso dos personagens principais destas duas tramas - que ficam solitários em ilhas, sem outros sujeitos para estabelecerem uma conexão, ou algum tipo de relação - de nada valeria o Direito, pois sequer haveria “ intersubjetividade ”. Esta regulação social se dá por diversos meios, como costumes e, também, enunciados literais (leis, decretos, medidas provisórias, sentenças e contratos, por exemplo), por meio dos quais as normas se concretizam. Antes de estudá-los, devemos ter em mente que as normas descrevem um fato hipotético e determinam qual conduta deve ser tomada caso este fato venha a ocorrer. Assim também, disciplinam as consequências (como as sanções) para o não cumprimento desta conduta prescrita e, também, podem impor regras voltadas, inclusive, a outras normas, versando sobre sua elaboração, constituição, aplicação, exclusão (MACHADO SEGUNDO, 2019). 2 FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO Podemos conceituar fontes do direito tributário como pontos de onde se originam as normas jurídicas, isto é, as causas para sua criação e que são divididas em formais e materiais, sendo que estas representam os fatos do mundo real sobre os quais haverá a incidência tributária. São exemplos de fontes materiais: o patrimônio ou a renda de alguém ou alguma empresa; a propriedade de um veículo automotor, ou de um imóvel; a prestação de um serviço; transferências e movimentações financeiras; a circulação de mercadorias ou serviços; o cenário político etc. Já as fontes formais, exemplificadas no quadro abaixo, representam os meios pelos quais o direito tributário se expressa e que incidirá sobre as fontes materiais e são subdivididas em fontes formais primárias, ou principais (compostas de atos primários, a nível de lei; e, também, atos secundários ou infralegais, isto é, abaixo da lei na hierarquia de normas) e fontes formais secundárias (complementares): Quadro 2 – Fontes Formais Fonte: Acervo do autor. 3 VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Antes de adentrarmos nesse assunto, vamos abordar uma importante diferenciação entre os termos vigência, validade, eficácia e vigor de uma norma. VALIDADE a norma jurídica foi introduzida ou retirada do sistema pelo poder competente e com a observância do rito previsto pela Constituição. Significa que a norma é válida, que pertence ao ordenamento jurídico. Por exemplo, se somente o Senado pode suspender uma lei declarada inconstitucional, por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal, a suspensão da execução dessa lei só terá validade se feita pelo poder competente, que é o Senado. VIGÊNCIA relaciona-se à possibilidade de uma norma jurídica produzir efeitos. Ou seja, pode ou não ocorrer no mundo real. EFICÁCIA é a possibilidade de os efeitos da norma ocorrerem. VIGOR indica a força que a norma tem de vincular as pessoas. Quando a norma é válida (emanada de autoridade competente e com observância do rito correto) e se torna vigente (podendo produzir efeitos), ela ganha vigor, ou força, para obrigar. Quando uma lei diz “esta lei passa a vigorar 180 dias após sua publicação”, isto indica que a partir dessa data, ela passa a obrigar as pessoas (e, em alguns casos, poderá continuar em vigor mesmo sem ter ou perder a eficácia e a vigência; isto é, por vezes, ela produzirá efeitos antes ou depois de terminada sua vigência). A fim de ilustrarmos o que acabamos de afirmar (que uma norma pode produzir efeitos mesmo se não estiver mais vigente), iremos, mais adiante, estudar o “lançamento”, que é o procedimento por meio do qual uma autoridade fazendária (como um auditor fiscal) verifica a ocorrência de um fato tributável e apura tanto o montante de tributo a ser pago, quanto quem será o sujeito passivo, isto é, quem deverá pagar. Sobre isso, o art. 144 do CTN estipula que “O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada”. De acordo com o dispositivo, a lei aplicável no lançamento é a da ocorrência do fato gerador. Se uma pessoa auferiu renda em 2014, a lei aplicada é a de 2014, mesmo que em 2019 haja nova lei e o lançamento seja feito pela Receita Federal apenas neste ano. Ou seja, mesmo não estando mais vigente, a lei de 2014 ainda produz efeitos neste ato. Considerando isto, passemos a abordar vigência, aplicação, interpretação e integração da legislação tributária. 3.1 VIGÊNCIA Quanto à vigência, pode se dar no tempo ou no espaço. O Código Tributário Nacional (CTN), principal lei abaixo da Constituição Federal, determina, em seu art. 110, que a questão da vigência da legislação tributária será regulada pelas normas jurídicas em geral, como a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Essa estabelece,como regra geral, mesmo vigentes, que as leis novas ou suas correções entram em vigor 45 dias após sua publicação (no exterior, este prazo é de 90 dias, caso a lei lá seja admitida). Este período entre a publicação de uma lei e sua entrada em vigor é chamado “vacatio legis”. Algumas normas tributárias, no entanto, possuem prazos próprios e diferentes, conforme determinado pelo CTN em seus arts. 103 e 104, podendo entrar em vigor na data da publicação (exemplo: atos administrativos, como portarias e instruções normativas), 30 dias após (como decisões de órgãos singulares ou colegiados ), na data prevista em cada uma das normas (como convênios celebrados entre os entes federativos - União, Estados, Municípios e Distrito Federal), no primeiro dia do exercício seguinte ao que houver a publicação da norma (isto é, em 1° de janeiro do próximo ano, no caso, por exemplo, de normas referentes a impostos sobre patrimônio ou renda que não forem mais benéficas ao sujeito passivo, como as que instituam ou aumentem o imposto, ou definam novas hipóteses em que ele irá existir, ou extingam ou reduzam isenções concedidas, como define o art. 178 do mesmo Código). Quanto à vigência no espaço, isto é, no campo de incidência, a regra vigente é a da territorialidade, isto é, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal produzirão leis que alcançarão fatos ocorridos dentro de seus respectivos territórios; a não ser nas hipóteses do art. 102 do CTN, nas quais se admite a extraterritorialidade. São elas: se dois entes públicos celebrarem convênios prevendo a possibilidade de determinada lei de um atingir fatos ocorridos no território do outro (como convênios entre estados acerca do ICMS); se o próprio CTN ou outra lei geral editada pela União prever esta possibilidade; se, no plano internacional, o Brasil celebrar tratados com outros países sobre matéria tributária (o que é comum para se evitar o fenômeno da “bitributação”, isto é, de dois países, ou dois entes da mesma federação, tributarem uma mesma pessoa pelo mesmo fato). 3.2 APLICAÇÃO Devemos ter em mente que, para se aplicar uma norma geral, deve-se extrair seu sentido, objetivos e amplitude, fazendo-a incidir no caso particular, produzindo, assim, uma norma individual. Quanto à aplicação da norma tributária, o art. 105 do Código Tributário Nacional determina que, via de regra, ela não se aplica a fatos já passados, mas, sim, a acontecimentos futuros e, também, a acontecimentos pendentes, sendo esses aqueles que se iniciaram, mas não se concluíram (CAPARROZ, 2019). No entanto, há alguns casos nos quais a lei poderá se aplicar a fatos já passados. A lei poderá retroagir, isto é, aplicar-se a um fato passado, no caso de ser mais benéfica ao cidadão (por exemplo, quando uma norma posterior prevê uma sanção pecuniária menor que a anterior ao contribuinte que pratica uma infração tributária, ou quando entende que não é ilegal algo considerado infração pela lei anterior - neste caso, desde que o ato não tenha se realizado mediante fraude e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo). Também poderá ser aplicada a fato anterior em outras hipóteses, como, por exemplo, quando for meramente interpretativa (isto é, quando apenas explica algo incerto ou mal definido na lei anterior; sem criar novas obrigações, ou criar deveres, ou restringir direitos, mas apenas trazer mais clareza àquela norma); quando se refere a ato não definitivamente julgado (isto é, quando certo ato é discutido perante a administração, ou na justiça, e não há um posicionamento definitivo sobre aquele ato, nem mesmo em casos ou processos anteriores). Para mais informações, leia o artigo 106 do Código Tributário Nacional. 3.3 INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Leis de relevante impacto devem sempre indicar o período de vacatio legis; e algumas, de menor repercussão, podem entrar em vigor a partir da data de sua publicação (CAPARROZ, 2019). Seguimos com os temas interpretação e integração da legislação tributária. Sobre interpretar a lei, devemos ter em mente que, como o Direito é uma criação humana e voltado para a regulação das condutas, dos comportamentos e das relações entre as pessoas (físicas ou jurídicas, de direito privado ou de direito público); ele é um conjunto dotado de sentido. Algum motivo há para que exista determinada norma. E nem sempre ela se manifesta integralmente, devendo aquele que aplicar a lei (seja o governante, seja o juiz, seja o Poder Executivo, seja um operador do direito, um contador, administrador, gestor etc.) buscar seu significado. Trata-se, a interpretação, de uma atividade intelectual, que tem por objetivo reconhecer o sentido de algo e é fundamental à aplicação da norma, que é um comando geral, abstrato, a uma determinada situação da vida real, de um fato concreto. Assim, o CTN, em seus arts. 107 e seguintes, define os mecanismos para a interpretação da legislação tributária, com vistas à aplicação das regras postas no nosso ordenamento jurídico em cada um dos casos que vierem a surgir (CAPARROZ, 2019). Há uma área voltada apenas a investigar e coordenar os princípios científicos e as leis deles decorrentes, apurar o conteúdo, o sentido e os fins das normas jurídicas, isto é, destina-se a cuidar dos métodos de interpretação: a Hermenêutica Jurídica. É por meio dela que é realizado o estudo da sistematização dos procedimentos lógicos de interpretação, integração e aplicação do direito. A interpretação pode se dar pela análise da acepção literal das palavras do texto normativo; pela busca das circunstâncias nas quais a norma foi editada (como resultado de um processo histórico-cultural); indagando-se qual seria a intenção daquele que elaborou a lei; buscando descobrir a finalidade da lei e de cada um de seus dispositivos - como artigos , parágrafos , incisos , alíneas (o que chamamos de interpretação teleológica); ou, de forma sistematizada, realizando mais de um ou todos estes procedimentos e o que mais julgar necessário, entendendo que o Direito é um conjunto de normas interligadas e que, assim, uma norma deve ser entendida levando-se em conta as demais. Já quanto à integração, devemos ter em mente que as normas trazem, em seu texto, omissões, lacunas, ou expressões de múltiplo sentido, já que advindas de uma produção humana e, assim, passível de erro. Assim, nem sempre será possível a interpretação direta de uma norma, porque o aplicador do direito irá se deparar com essas questões. Daí a utilização dos critérios de integração, que nada mais são que instrumentos de interpretação de regras concretas. Havendo a possibilidade de se encontrar lacunas, omissões ou mais de um sentido em uma mesma norma, o art. 108 do CTN busca resolver a questão, trazendo alguns critérios para suprir estas questões. Inclusive, há uma hierarquia nas “ferramentas” às quais este artigo se refere, de forma que a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente e na ordem indicada (ou seja, uma, depois a outra - em caso negativo - e assim por diante, respeitando-se a ordem estabelecida em lei). São elas: analogia, princípios gerais de direito tributário, princípios gerais de direito público e equidade. A analogia pressupõe que haja uma regra semelhante, aplicada em outra matéria, mas que guarda identidade com o caso concreto, esse sem norma específica. Depois, temos os princípios gerais de direito tributário, utilizados para a integração da legislação no caso de a analogia não resolver o problema posto diante de uma omissão, lacuna ou falta de sentido exato da norma. Caso esses também não sejam suficientes, devem ser aplicados os princípios de direito público, como os elencados na Constituição, tais como princípio federativo, princípio republicano, indisponibilidade do interesse público, entre outros (CAPARROZ, 2019). Por fim, temos a equidade, que tem por finalidade aplicar a regra mais justa para o caso concreto, o que significa que elairá praticamente escolher, dentre as normas possíveis, a mais benéfica ao interessado. Contudo, em qualquer análise devemos privilegiar, sempre, os princípios constitucionais. Seja em nosso estudo, seja no cotidiano profissional, em que tivermos de observar o que determina a lei, devemos ver o que está disposto na Constituição Federal. Há também que se falar que o direito privado (que regula as relações entre particulares, como o Direito Empresarial, que estudaremos na Aula 5, e o Direito Civil, que regula muitos aspectos de nossas vidas) também é utilizado na interpretação das leis tributárias. No entanto, com certas restrições, pois, como determina o art. 109 do CTN, “os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários”. O mesmo ocorre quanto à lei tributária, que não poderá alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas do direito privado, utilizados de forma expressa ou implícita por outros diplomas, como a Constituição Federal, as Constituições dos Estados, as Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias, conforme a letra do artigo 110 do CTN. Essas normas que envolvem outras áreas do direito existem porque o Direito é um só e se divide por organização apenas didática. Assim, por vezes, uma área poderá ou deverá buscar conceito e institutos consagrados por outra. Seria impossível que o Direito inovasse, por exemplo, os conceitos de empréstimo e de compra e venda, já definido pelo direito civil. Mas necessitará deste conceito no momento em que estabelecer que o empréstimo e a compra e a venda serão tributados. O mesmo ocorre quando ela exigir a escrituração contábil, o que demandará o transplante (o empréstimo) de regras e conceitos da Contabilidade. Isso não quer dizer que a legislação tributária não possa dar efeitos jurídicos próprios a alguns casos, por exemplo: algo pode ser sigiloso na esfera privada (como o sigilo bancário, que protege duas partes contratantes), mas poderá haver quebra deste sigilo a pedido das autoridades fiscais, se assim a lei determinar. Outro exemplo importante é quando a lei tributária pode aplicar presunções. Por exemplo, valores creditados de uma conta bancária, para a Lei do Imposto de Renda, significa omissão de receita e pode sujeitar a pessoa às penalidades da lei, caso não comprove a origem dos recursos obtidos (CAPARROZ, 2019). Por fim, devemos ter em mente casos em que a lei deverá ser interpretada apenas literalmente (isto é, da forma como escrita, sem entrelinhas ou sentidos diferentes do que está disposto no texto), como nos casos do artigo 111 do CTN (os quais serão estudados em momento oportuno). Há também aqueles casos em que obrigatoriamente a interpretação será no sentido mais benéfico ao sujeito passivo (pessoa física ou jurídica), quando ele for acusado de alguma infração tributária (a saber, uma conduta contrária à legislação tributária, que não necessariamente será um crime, mas uma infração, como as de trânsito) e/ou quando sofrer alguma penalidade. Por exemplo, deverá ser interpretado da forma mais benéfica ao sujeito passivo como o fato é descrito na lei (a chamada “capitulação legal do fato”, como expresso no Código), sua origem, circunstâncias e efeitos, a capacidade de o autor ser considerado responsável pelo fato (imputabilidade), ou a de ser punido (punibilidade) e, também quanto à natureza da penalidade e sua intensidade (graduação). Em suma, nos casos em que o cidadão ou a empresa forem acusados de ter cometido uma infração tributária, a interpretação da lei será sempre da forma mais benéfica a eles. Devemos nos atentar para dois pontos importantes: o primeiro deles é o de que essas premissas não são taxativas, isto é, há outros instrumentos de integração da legislação, embora a questão seja dividida entre os estudiosos. O segundo é que nem sempre essas ferramentas de integração poderão ser utilizadas! Devemos nos atentar que o artigo 108 elenca, em quatro incisos (I, II, III, IV) quatro ferramentas. Mas, logo abaixo, pontua duas exceções, em parágrafos (geralmente, trazem alguma exceção ou algo importante a ser observado). E os dois parágrafos trazidos pelo art. 108 do CTN, quais sejam §1° e §2°, dizem que não poderá ser utilizada analogia caso sua utilização resulte em exigência de tributo não previsto em lei (porque todo tributo deve ser criado e autorizado por lei) e não poderá ser utilizada equidade quando seu emprego resultar em dispensa de pagamento de tributo devido (quando for devido um imposto, por exemplo, e, interpretando-se a lei, utilizando-se a equidade, a conclusão a que se chegar for a de que não será necessário pagar referido imposto). 4 PRINCÍPIOS E LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR Para se evitar abusos por parte do Estado, sua competência para instituir e cobrar tributos não é absoluta, de tal modo que a Constituição Federal, em seus arts. 150 a 152, impõe limites ao seu poder de criá-los, modificá-los e cobrá-los, considerados “princípios constitucionais do direito tributário”, cuja inobservância implica em violação da Constituição e do ordenamento jurídico (ANAN JR.; MARION, 2016, p. 113). 4.1 LEGALIDADE De acordo com este princípio, à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal é vedada a criação, a exigência e o aumento de tributos que não estejam previstos em Lei. Somente essa pode criar ou majorar (aumentar) tributos. Por exemplo, se o Poder Executivo Federal, por meio de um Decreto, Instrução Normativa, Portaria ou algum outro meio, criar novo tributo, estará violando o princípio da legalidade, pois não se estará observando a regra segundo a qual somente a Lei autoriza a criação ou o aumento de tributos (ANAN JR; MARION, 2016). Todavia, quase toda regra possui sua exceção e, neste caso, não é diferente. A legalidade tributária comporta algumas exceções, que estão previstas na própria Carta Magna. Vejamos. No artigo 153, §1°, a Constituição faculta (permite) ao Poder Executivo, desde que atendidos alguns requisitos, limites e condições, alterar as alíquotas de certos tributos - isto é, o percentual com que um tributo incide sobre o valor de algo tributado - independentemente de lei como o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto Sobre Importações de produtos estrangeiros (II) e Imposto Sobre Exportações (IE), os quais serão estudados na Aula 3. Mas em algumas hipóteses, apenas (e somente as alíquotas, vedada a alteração de outros componentes da tributação). É que, como veremos, tais impostos possuem a função não só de promover a arrecadação, como também regular e interferir no controle do domínio econômico. 4.2 ISONOMIA Segundo este princípio, é vedado instituir tratamento desigual entre os sujeitos que se encontrem em situações equivalentes. Todos aqueles que se enquadram em determinada regra, que estão posicionadas nos termos do que ela determina, devem ter o mesmo tratamento. Por exemplo, se a lei do Imposto Predial Territorial Urbano, ou Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, determina que pagará IPTU todo aquele que possuir propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel, construído ou não, localizado na zona urbana do Município, todos os possuidores de imóveis naquela zona deverão pagar tal imposto. Assim também, se a lei do Imposto de Renda determina que quem aufere renda deve pagá-lo, o imposto será devido independentemente de qual seja a origem desta renda. É óbvio que algumas desigualdades devem ser reguladas, como já tratamos. As pessoas e as situações não são as mesmas. O que a lei não pode permitir é que pessoas na mesma situação sejam tratadas diferentemente; não que pessoas em situações diferentes sejam tratadas iguais. 4.3 IRRETROATIVIDADE Por este princípio, alei não pode cobrar tributos sobre uma situação anterior, referentemente a um fato gerador ocorrido antes do início da vigência desta lei. Assim também, não pode aumentar tributos já criados, retroagindo a situações passadas. Ela só possuirá validade após ser-lhe dada vigência, isto é, quando ela existir, for válida e produzir seus efeitos. A lei, no entanto, poderá retroagir em alguns casos. Poderá ser aplicada a um fato anterior (passado), por exemplo, nos casos indicados no subtópico 3.2. Caso contrário, isto é, quando prejudicar o contribuinte (criando novo tributo, ou aumentando a alíquota de tributo já existente), ela só terá efeito para fatos geradores futuros. 4.4 ANTERIORIDADE ANUAL Por este princípio, os tributos, via de regra, não podem ser cobrados no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, para que o sujeito passivo (como o contribuinte) não seja pego de surpresa. Pois bem. Se foi criado ou majorado (aumentado) tributo em 2019, ele só valerá a partir de 1° de janeiro do ano seguinte (2020); exceto para os seguintes tributos, já elencados no subtópico 4.1 desta Aula: II, IE, IOF e IPI. Também não valerá para tributos que ainda estudaremos, denominados Empréstimo Compulsório, Cide Combustível e ICMS Combustível. O princípio, no entanto, admite exceções, descritas no seguinte quadro esquemático: Quadro 3 – Exceções à anterioridade Fonte Disponível em: ALEXANDRE (2017). 4.5 ANTERIORIDADE NONAGESIMAL Temos também outro tipo de anterioridade, a chamada nonagesimal. De acordo com este princípio, os entes públicos devem observar o prazo de 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que criou, ou majorou o tributo, para poderem dar-lhe efeito. Você deve estar pensando, “se já há uma regra que determine que os efeitos da lei que crie ou majore tributo só se deem no ano seguinte, por que colocar esta regra de 90 dias?”. No entanto, devemos ter em mente que, a qualquer momento, pode ser editada alguma lei neste sentido. Assim, em 31 de dezembro de 2019 pode ser criada lei que institua ou aumente tributo. Neste caso, já em 1° de janeiro de 2020, os efeitos da lei já se produziriam e, neste caso, teria sido respeitada a regra da “anterioridade” do subtópico anterior, mas, ainda assim, o contribuinte seria pego de surpresa! Daí que, por vezes, considerando que o exercício financeiro esteja próximo do fim, devam ser observados mais 90 dias, para que a lei seja absorvida pelo ordenamento; produza seus efeitos; seja levada a conhecimento de todos e para que as pessoas possam se planejar financeiramente. Há tributos, denominados Contribuições para a Seguridade Social (e que ainda estudaremos), cujas leis que previrem sua instituição ou majoração deve passar a valer somente 90 (noventa) dias após sua publicação. São elas: contribuições feitas pelo empregador, pela empresa ou entidade a ela equiparada, e que incidem sobre a folha de pagamento, sobre a receita ou faturamento ou sobre o lucro; contribuições do trabalhador e dos demais segurados da previdência social (não incidindo sobre a previdência e pensão); contribuições sobre a receita de concursos de prognósticos (como Mega-Sena, Lotofácil etc.) e contribuições do importador de bens ou serviços do exterior ou equiparado (ANAN JR.; MARION. 2016). Assim também, esta regra possui exceções. Alguns tributos não precisam observar o prazo de 90 dias, tais como II, IE, IPI e IOF (os mesmos indicados no subtópico 4.1; também listados no subtópico anterior, 4.4), cujas alterações passam a valer de imediato. Há também os impostos que mais conhecemos, como IPVA, IPTU e o Imposto de Renda, cujas alterações passam a valer desde 1° de janeiro, independentemente de a lei ter sido editada pouco antes do fim do exercício financeiro anterior. Sobre as exceções a este princípio, podemos listar os seguintes tributos: Quadro 4 – Exceções à noventena Fonte Disponível em: ALEXANDRE (2017). 4.6 VEDAÇÃO AO CONFISCO Por este princípio, o tributo não pode ser excessivamente oneroso, nem ter efeito de “penalidade” para o cidadão (pois, para isto, já existem as multas, cuja finalidade é desestimular o não pagamento do tributo). E, ainda mesmo no caso das multas tributárias, essas não podem ter valor desproporcional, e, sim, razoável. Anan Jr. e Marion (2017, p. 117) ainda pontuam que o tributo “não pode ser antieconômico, de sorte que inviabilize as atividades econômicas que geram a riqueza e movem a economia, para não torná-la estatizada (própria do Estado). Trata-se do oposto, ele deve, sim, estimular, o setor privado”. Considerando nossa realidade atual, e essas considerações acima, você acredita que a elevada carga tributária brasileira tem viabilizado as atividades econômicas e estimulado o setor privado a gerar riquezas? Vamos além desse questionamento: considerando tudo isso, e outras questões, como o não enfrentamento da redução dos gastos públicos, a completa ausência de investimento expressivo em setores básicos (como saúde, educação e segurança) e os inúmeros esquemas de corrupção deflagrados em nosso país, nos quais representantes do povo tomaram para si valores dos cofres públicos, destinados ao nosso bem-estar e ao desenvolvimento social, é possível falar, atualmente, em justiça tributária como prevê a legislação!? 4.7 LIBERDADE DE TRÁFEGO Algumas operações entre Estados e Municípios, também denominadas operações interestaduais e intermunicipais, são tributadas, como no caso do ICMS. No entanto, os entes tributantes, embora possam tributar essas operações, não podem inibir ou limitar o tráfego de pessoas e mercadorias por meio do tributo, com o intuito de privilegiar ou proteger determinado território (ANAN JR; MARION, 2016). Nada impede a cobrança de pedágio para utilização das vias que são conservadas pelo poder público e exploradas por concessionárias como Autovias, AutoBan, MGO Rodovias, AB Nascente das Gerais, Concebra etc. Não se trata de limitar ou inibir o tráfego de pessoas e mercadorias, e, sim, de cobrança relacionada à conservação das estradas. 4.8 IMUNIDADES Quanto às imunidades, trataremos melhor no tópico 5, mas já adiantamos que também se trata de limitações impostas ao Poder Público, na medida em que a Constituição imuniza certas pessoas de serem tributadas. O que também não deve significar isenção ou não incidência tributária, conforme trataremos. 4.9 OUTRAS LIMITAÇÕES Devemos também saber, que a Constituição, além das limitações acima, impõe o seguinte: À União (ente público a nível federal), é vedado (proibido): • Instituir tributo que não seja uniforme (idêntico) em todo o território, ou que implique em distinção ou preferência em relação a um Estado ou Município, em detrimento de outro (é admitida apenas a concessão de incentivos fiscais para promover o desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país). Exemplo: Aqui, podemos pensar nas regiões Norte e Nordeste, nas quais o pagamento do Imposto de Renda é reduzido em até 75%, atendidas algumas exigências da lei (ANAN JR.; MARION, 2016). • Tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes. • Instituir isenções de tributos que sejam de competência dos outros entes da Federação. Também é vedado a esses outros entes (Estados, Distrito Federal e Municípios) estabelecer diferença entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino, evitando o que chamamos de “guerra fiscal” entre os entes da Federação. Como podemos perceber, todos esses princípios e limitações restringem o poder do Estado, que não poderá ser discriminatório, abusivo, nem surpreender o cidadão. Neste momento, aprofundaremos a questão das imunidades e iremos diferenciá-las das isenções; dois institutos muito importantes em Direito Tributário. 5 ISENÇÕESE IMUNIDADES Quando falamos em imunidades, dizemos que certas pessoas estão “imunes à tributação”, não podendo ser tributadas. A lei, por óbvio, não poderá atribuir incidência sobre aquilo que é imune. A Constituição elenca as hipóteses de imunidade no art. 150, inc. VI. Também dispõe sobre as exceções nos parágrafos 2°, 3° e 4°. Pela leitura destes dispositivos, resta-nos que à União, aos Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal, é vedado instituir impostos sobre: • Patrimônio, renda ou serviços uns dos outros (chamada imunidade recíproca). Um ente não pode tributar outro; só não se aplica esta imunidade quando houver atividades econômicas exercidas por empreendimentos privados, contraprestação, pagamento de preços ou tarifas pelos seus usuários; • Templos de qualquer culto: aquilo que estiver ligado a atividade religiosa, assim como os bens pertencentes às entidades religiosas utilizados com esta finalidade, não pode ser tributado (a não ser que haja fins comerciais); • Livros, jornais, periódicos e papel destinado à sua impressão: se a distribuição for gratuita, não haverá tributação, inclusive sobre o material, insumos, instrumentos ou equipamentos para sua confecção; • Quanto às entidades de educação e assistência social, a lei determina que não podem distribuir parcela de seu patrimônio ou rendas a qualquer título; devem aplicar integralmente seus recursos na manutenção de seus objetivos e devem manter escrituração de todas as suas receitas e despesas, observadas as formalidades que a lei determina para o registro em tais livros. Caso contrário, podem perder sua imunidade. Estudaremos, também, as chamadas contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico. Estas não podem incidir sobre as receitas de exportação, nem sobre entidades beneficentes de assistência social e que atendam aos requisitos da lei. Diferentemente das imunidades, são as chamadas isenções. Quanto a estas, há uma exclusão da tributação, ou seja, a dispensa do pagamento de tributos, não por meio da Carta Magna, mas por meio de lei infraconstitucional, abaixo da Constituição na hierarquia das normas (na área jurídica tratamos como exclusão da hipótese de incidência). Como exemplo, temos as isenções previstas no Regulamento do Imposto de Renda. Entre elas, constam: ajuda de custo destinada a atender às despesas com transporte, frete e locomoção do beneficiado e seus familiares, em caso de remoção de um município para outro; o ganho de capital auferido na alienação de bens e direitos de pequeno valor; a alimentação, o transporte e os uniformes ou vestimentas especiais de trabalho, fornecidos gratuitamente pelo empregador a seus empregados; os rendimentos auferidos em contas de depósitos de poupança; as diárias destinadas, exclusivamente, ao pagamento de despesas de alimentação e pousada, por serviço eventual realizado em município diferente do da sede de trabalho, inclusive no exterior; etc. E é o próprio poder público, competente para exigir tributo, que tem o poder de isentar. A União, por exemplo, não pode isentar tributos que sejam de competência dos Estados. Também não é o mesmo que não incidência. Neste caso, trata-se de fatos não abrangidos pela definição do que seja a hipótese de incidência tributária (não incide Imposto de Renda sobre quem não aufere renda, nem IPTU sobre quem não possui propriedade imóvel na zona urbana do Município, ou ICMS sobre quem não circula mercadoria, e assim por diante). Vamos agora tratar de uma das principais e poderosas ferramentas para seu progresso na disciplina: a AUTOAVALIAÇÃO. Buscar o autoconhecimento é uma poderosa ferramenta de transformação. Seja nos estudos, no exercício da profissão, na vida, quando você descobre suas potencialidades e entende quais habilidades deve trabalhar, os caminhos, objetivos e obstáculos ficam mais claros e, assim, mais fácil será avançar. Tendo encerrado o conteúdo desta primeira aula, é fundamental que você avalie seu aprendizado, antes de prosseguir com sua fixação no tópico a seguir (“Recapitulando”) e antes, também, de praticá-lo com a resolução das questões e com a realização das avaliações continuadas que propusemos. Apenas lembre-se de que você é o maior responsável pelo seu aprendizado e todo avanço dependerá de seu empenho. Nem sempre as perguntas ou as respostas serão fáceis, mas seja integralmente verdadeiro durante todo seu processo de aprimoramento; mentir para si mesmo tira o propósito do exercício e não vai levá-lo a lugar algum! Para isto, volte ao primeiro tópico, “Objetivos Específicos”, e reflita: foi possível cumpri-los? Feito isto, faça nova leitura do tópico “Contextualizando a aprendizagem”, do “Mapa mental panorâmico” e, principalmente, do conteúdo da aula, questionando a si mesmo: o que aprendi em cada um dos tópicos apresentados? Também frise para si mesmo todos os conceitos, regras e exceções apresentados e confira, no livro-texto, se suas respostas correspondem às informações apresentadas. Respondidas tais questões, reflita se há algum tema não compreendido em sua totalidade e o que poderia fazer para melhorar o estudo de determinado tema. Anote suas dúvidas e não hesite em solucioná-las, seja com o material posto à sua disposição na biblioteca virtual, seja por meio de contato direto com o professor responsável por monitorar a disciplina. Em seguida, utilize a biblioteca para localizar, nas obras indicadas no Guia da Disciplina, tanto as questões que restaram pendentes de aprofundamento, quanto os temas abordados e verifique como eles são expostos por cada um dos autores citados, muitos dos quais são grandes referências na matéria. O que aqui apresentamos trata-se de um mero roteiro para que possam adentrar em obras e estudos mais aprofundados e completos sobre o tema. Até porque, por questões didáticas, seria impossível reunirmos, neste material, todos os assuntos importantes e todas as definições, teorias, exemplos, regras e exceções. Assim, seja relativamente a esta aula, seja quanto aos demais conteúdos, procure sempre ir além! Uma vez cumpridos os passos acima, volte a se questionar de que forma cada um dos temas abordados será importante para seu aprendizado, qual sua relação com o curso escolhido e como, ou quando, necessitará utilizá-los na prática profissional. E, a cada final de ciclo, como a cada final de aula, se pergunte como progrediu desde a última reflexão; se existem oportunidades ou ações mais adequadas à sua evolução; se seus pontos fracos e fortes continuam os mesmos (buscando sempre melhorá-los); se teve sucesso nas estratégias de melhoria que criou e, se não, por que e como pode adaptá-las. Agora sim, você está pronto para rememorar os principais pontos da aula, fixá-los por meio de um mapa mental e com a resolução de exercícios relativos aos temas apresentados! Após essa aula, você é capaz de compreender algumas questões gerais de Direito Tributário? Consegue descrever e analisar o papel do Estado e a sua relação com a origem e a justificação dos tributos? Pode diferenciar as fontes do Direito Tributário e descrever como se dá a aplicação, a interpretação e a integração da legislação tributária? É capaz de classificar e interpretar os princípios que regem a matéria tributária e as limitações ao poder de tributar? Sabe, também, o que são e como se dão as isenções e imunidades tributárias? Caso você consiga responder a essas questões, parabéns! Você atingiu os objetivos específicos da Aula 1! Caso tenha dificuldade para responder alguma, ou algumas delas, aproveite para reler o conteúdo da aula, acessar o UNIARAXÁ virtual e interagir com seus colegas, tutor(a) e professor(a). Você não está sozinho nessa caminhada! Conte conosco! Chegou o momento de complementar seu conhecimento. Vá até seu Ambiente Virtual de Aprendizagem e acesse esta aula para assistir a Video Aula RECAPITULANDO Considerando que todos os passos anteriores foram devidamente cumpridos, vamos, agora, recordar os principais pontos abordados, para,enfim, continuar nosso aprendizado com as Aulas que se seguem. Nesta Aula, você viu que o Estado, para custear suas despesas e promover a satisfação das necessidades públicas, necessita de receitas; e que estas não compreendem somente aquelas derivadas da exploração direta de atividades econômicas, mas também receitas derivadas da geração de riquezas por terceiros: os tributos. Para a regulação das relações entre os sujeitos, neste caso o Estado e os particulares, é fundamental que sejam estabelecidos direitos, deveres e limites a ambas as partes. Daí o importante papel exercido pelo direito tributário. Este possui como fontes, ou pontos de partida para a criação das normas tributárias, os fatos do mundo real (fontes materiais) e o conjunto de normas que incidem sobre estes fatos (fontes formais), sendo as fontes formais divididas em primárias e secundárias, a depender do fato de serem considerados principais ou complementares. Sobre a aplicação, vigência, interpretação e integração da legislação tributária, vimos que a vigência se relaciona à possibilidade de uma norma jurídica produzir efeitos; o que está disciplinado no art. 110 do CTN e da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, de acordo com os quais, como regra geral, as leis e suas correções entram em vigor 45 dias após sua publicação - no exterior, este prazo é de 90 dias, caso a lei lá seja admitida. Vimos também que as leis importantes devem sempre indicar o período de vacatio legis; que, algumas, de menor repercussão, podem inclusive entrar em vigor a partir da data de sua publicação. Também aprendemos que algumas normas tributárias, no entanto, possuem prazos próprios e diferentes, conforme determinado pelo CTN em seus arts. 103 e 104: atos administrativos (como portarias e instruções normativas) entram em vigor na data de sua publicação; decisões de órgãos singulares ou colegiados produzem efeitos normativos 30 dias após a data da sua publicação; convênios celebrados entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios entram em vigor na data neles prevista; no caso de normas referentes a impostos sobre patrimônio ou renda, entrarão em vigor no primeiro dia do exercício seguinte (em 1° de janeiro do ano seguinte) à publicação nos casos em que instituir ou majorar impostos, definir novas hipóteses em que ele irá incidir, ou extinguir ou reduzir isenções concedidas por prazo determinado e em função de algumas condições, como define o art. 178 deste mesmo Código (salvo se a norma for mais tributária ao cidadão, ao sujeito passivo). Vimos que, de acordo com a territorialidade, a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal produzirão leis que alcançarão fatos ocorridos dentro de seus respectivos territórios (o que comporta exceções, como o caso de convênios celebrados por dois entes, ou tratados entre Brasil e outro país, ou caso assim defina a lei. Também vimos que, para se aplicar uma norma, deve-se extrair, de uma norma geral, seu sentido, seus objetivos e sua amplitude, fazendo-a incidir no caso particular, produzindo uma norma individual e que, para isto, há métodos de interpretação e, também, de integração, caso a lei seja omissa, obscura ou dúbia (com aplicação de analogia, princípios gerais de direito tributário, outros princípios, equidade etc.). Quanto à aplicação da norma tributária, o art. 105 do Código Tributário Nacional determina que ela se aplica imediatamente a acontecimentos futuros e, também, a acontecimentos pendentes (sendo estes aqueles que se iniciaram, mas não se concluíram). Via de regra, portanto, a norma não se aplica a fatos já passados (CAPARROZ, 2019), a não ser quando seja mais benéfica ao sujeito passivo, quando for meramente interpretativa e outros casos. No que diz respeito aos princípios e limitações constitucionais referentes ao poder de tributar, vimos que a Constituição elenca alguns princípios a serem observados pelos entes da Federação (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), tais como: legalidade, isonomia, irretroatividade, anterioridade (anual e nonagesimal), proibição do confisco, liberdade de tráfego, imunidades e outras limitações, relativas a diferenciações e preferências não ligadas a incentivos fiscais destinados a promover o desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões). Ressalvadas as exceções que apresentamos, estes princípios devem ser seguidos pelos entes tributantes. Por fim, quanto às isenções e imunidades, pudemos observar que, quando falamos em imunidades, dizemos que certas pessoas estão “imunes à tributação”, não podendo os entes públicos instituir impostos sobre elas, o que é definido pela Constituição Federal no art. 150, inciso VI (que também apresenta exceções). Por sua vez, quanto às isenções, há uma exclusão da tributação, ou seja, a dispensa do pagamento de tributos, não por meio da Carta Magna, mas por meio de lei editada pelo próprio poder público competente para exigir tributo que tem o poder de isentar. Com isto, podemos partir para o próximo tópico, Direito tributário - Parte Geral II, em que continuaremos a tratar de assuntos gerais em matéria de direito tributário, antes de apresentarmos impostos em espécie, temas pontuais como planejamento tributário e processo tributário e de adentrarmos, também, ao direito empresarial e à legislação societária. REFERÊNCIAS ALEXANDRE, RICARDO. Direito tributário esquematizado. 11. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2017. ANAN JUNIOR, Pedro; MARION, José Carlos. Direito empresarial e tributário: para cursos de administração, contabilidade e economia. 2. ed. Campinas: Editora Alínea, 2016. BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1987. BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 5 de outubro de 1988: versão atualizada até a emenda n. 91/2016. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 fev. 2016. p. 1. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc91.htm. Acesso em: 30 abr. 2019. CAPARROZ, Roberto; LENZA, Pedro (coord.). Direito tributário esquematizado. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 16. ed., rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2018. MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. 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Acesso em: 06 jun. 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc91.htm. https://www.passeidireto.com/arquivo/65367585/silveira-henrique-suhadolnik-arbitragem-e-transacao-como-mecanismos-monografia-especializacao-usp-2017. Estado Democrático e de Direito Royalties Intersubjetividade Órgãos singulares ou colegiados Artigos Parágrafos Incisos Alíneas Exercício financeiro Estado Democrático e de Direito: O termo "Estado Democrático de Direito" surgiu na Grécia, de onde veio a ideia de democracia, de cidadania ativa. Para entendermos o que o termo significa, devemos saber, antes, o que dispõe nossa Constituição Federal, já em seu art. 1°, parágrafo único: "Todo o poder emana do povo, que o exerce pormeio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição". Veja que o documento, o qual estrutura toda a nossa ordem jurídica, já inicia deixando bem claro que vivemos em uma democracia, na qual nós escolhemos nossos representantes e na qual nós também exercemos nossa cidadania de forma direta, tomando algumas decisões. Ou seja, exercemos uma democracia tanto representativa quanto participativa. E, nos artigos seguintes, são elencados vários direitos e garantias tanto individuais quanto coletivas, sociais e políticas. Daí vem o conceito de Estado Democrático de Direito: trata-se de um Estado pautado na lei, na norma, que é criada pelo povo e para o povo (ou seja, a própria Constituição emanou da vontade popular, que é soberana); e que deve respeitar os direitos individuais, coletivos, sociais e políticos. Respeita os direitos humanos e os direitos e garantias fundamentais e, assim, preserva a dignidade da pessoa humana. Royaltie: Também estudaremos melhor sobre royalties ao analisarmos temas de direito empresarial, mas já podemos adiantar que "royalties", basicamente, são valores pagos ao proprietário de algo por alguém que o utiliza, explora ou comercializa. É uma porcentagem do lucro daquele que o paga. Por exemplo, quem adquiriu uma franquia deve pagar royalties à empresa franqueadora; aquele que explora petróleo deve pagar royalties do petróleo ao Governo; ou o músico que, ao fazer um show, por exemplo, toca uma canção composta por outra pessoa e arrecada dinheiro com este show, deve pagar royalties para o autor da música. Intersubjetividade: Qualidade de intersubjetivo, que ocorre ou se efetiva entre sujeitos humanos. O que pode se estabelecer ou ser estabelecido entre dois ou mais sujeitos. Comunicação de consciências individuais, de modos próprios de pensar e de enxergar o mundo, que se relacionam e se estabelecem de maneira recíproca (DICIONÁRIO, 2019). Órgãos Singulares ou Colegiados: Órgãos públicos admitem várias classificações e, uma delas, é quanto à composição. Se o órgão for composto por um único agente, é chamado singular (como a Presidência da República, uma diretoria, um juiz de primeira instância etc.). Já quando o órgão for constituído por mais de um agente, será considerado colegiado (a câmara ou a turma de julgamento de um tribunal, o Conselho Nacional de Justiça, as juntas administrativas de recursos, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais - CARF etc.). Art. 12. São brasileiros: §1º Aos portugueses com residência permanente no País, (...) I – natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, (...) Exercício financeiro: a grosso modo, é o período no qual ocorrem as operações contábeis e financeiras dos entes públicos, ou o período no qual deve vigorar a Lei Orçamentária Anual. No Brasil, o exercício financeiro tem duração de doze meses e coincide com o ano civil (de 1° de janeiro a 31 de dezembro), conforme disposto no art. 34 da Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964.