Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

ANGÚSTIA E A FENOMENOLOGIA
Introdução
Este trabalho visa apresentar a angústia aos olhos da psicologia fenomenológica, como também deve ser a abordagem fenomenológica ante a demandas clínicas providas da angústia.
Para a realização do trabalho foi utilizado artigos científicos disponibilidades na plataforma digital Scielo com a temática “Angústia e Fenomenologia”, com o intuito de encontrar possíveis terapias que tratavam a angústia nos indivíduos e o tratamento clínico destes.
A angústia é sentida como um aperto no peito, uma sensação de vazio inexplicável, uma ansiedade e uma implacável incerteza, trazendo uma irritabilidade e um desespero incomum.
Podemos dizer que todos nós em algum momento da vida sentimos este aperto no perto, seja por esperar notícias de um ente querido, seja por receber nota de prova, ou por motivos que não sabemos explicar, este sentimento está lá, presente em cada momento, o segredo é saber lidar com ele e entender que esta situação irá nos fazer “crescer”.
O sentimento de angústia nos possibilita a “mudar de fase”, isso se nós permitirmos sentir, pois muitas vezes evitamos situações com receio das emoções que sentiríamos, mas a angústia nos faz amadurecer. Segundo Abbagnano (1996), para Kierkgaard a angústia desperta o homem a vontade de ser livre, dando a sensação que não temos controle de nada e que o futuro é feito a partir de escolhas.
O Que é Angústia?
“A angústia é, dentre todos os sentimentos e modos da existência humana, aquele que pode reconduzir o homem ao encontro de sua totalidade como ser (…).” Heidegger.
Segundo o dicionário Michaelis, a palavra angústia vem do latim de angust que significa espaço estreito, apertado, está ligado a uma sensação interna de opressão ou grande aflição. Angústia é a sensação psicológica que se caracteriza pela sufocamento, um sentimento de aperto no peito, sensação de estrangulamento, sufocação, ansiedade, insegurança, falta de humor, aflição, e com ressentimentos aliados a alguma dor e um medo sem objetivo e não identificado. O filosofo Heidegger, via na angústia como a essência da existência do homem, onde o indivíduo vive em estado de insegurança existencial diante da vida, uma vez que esse sentimento é limitado ao ser humano, a angústia é o que faz o homem ultrapassar a barreira do ser e alcançar o existir, é o que permitiu o homem se entender, interpretar, compreender o seu eu interior e a busca por sentido. 
O autor Sillamy (1998), define a angústia como um medo sem objeto específico ou até mesmo um estado de excitação causado por pensamentos sobre o futuro, sinais ou representações de perigo físico ou ameaça psíquica.
No texto de Kierkegaard (2007) denominado de Conceito de Angústia, ele irá trazer que as mulheres são muito mais sujeitas à angústia do que os homens por serem mais sensíveis e está sensibilidade é um anúncio para a sensação de angústia.
...é no momento da concepção que o espírito está mais distante e, por isso mesmo, mas estreitamente se faz sentir a angústia; e é exatamente no seio dessa angústia que se forma o novo ser. Depois disso, no momento de nascer, a angústia atinge seu ponto máximo pela segunda vez na mulher; é nesse instante que o novo ser vem ao mundo. ... Contudo, a angústia continua a ser uma medida da grandeza humana e apenas entre os povos inferiores se constatam semelhanças com o parto fácil dos animais KIERKEGAARD, [1844] 2007, p. 86-87).
Hoje em dia existem diversas definições de angústias colocadas em práticas por meio da psicologia e da filosofia, podendo ser vista em trabalhos artísticos, tais como: poesia, músicas, cinemas, entre outros tratadas de suas variadas formas.
Angústia e Fenomenologia
Para a Psicologia, a angústia pode ser definida de várias maneiras, variando de acordo com os enfoques teóricos. 
O significado de fenomenologia é o estudo de um conjunto de fenômenos, e entender como estes irão se manifestar par o indivíduo, consiste em observar a essência das coisas e como se manifestam e como são percebidas no mundo. A experiência pessoal e subjetiva é o fundamento sobre qual o conhecimento é construído, e a ênfase do ponto de vista do sujeito afirmando a subjetividade e a relatividade do objeto.
	O foco da fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o modo como o conhecimento do mundo se dá e se realiza para cada pessoa, é antes de tudo, a visão do mundo que cada indivíduo tem. O objeto do método fenomenológico é aprender a essência das coisas e como elas irão se apresentar na consciência do indivíduo, é abstrair de crenças, as ideologias, os preconceitos e os pré-julgamentos, levando o paciente a entregar-se por inteiro, livre e sem distorções, é o retorno da intuição e a percepção da sua essência interna, o que irá fazê-lo mover em busca de seu equilíbrio, de seus objetivos.
Para a abordagem fenomenológica, a angústia irá despertar no homem o seu real interior, entrar em contato consigo mesmo e ressignificar essa sensação.
A angústia para Heidegger é capaz de tirar o sujeito do sentimento de miséria pessoal e levá-lo a buscar o seu próprio ser, sendo que é a partir da sensação de angústia que possibilitar a liberdade ao indivíduo, pois o homem está em contato consigo mesmo.
É normal do ser humano a busca pela sensação de controle de seus atos, de sua vida e neste sentido, a angústia é vista como uma ameaça principalmente no sentimento de tranquilidade e de segurança, ao nos depararmos com alguma situação contraria a nossa normalidade, um perigo a nossa volta, ou à espreita de nossos entes queridos, nos sentimos abandonados no mundo, importantes na resolução dos problemas, não percebemos as vezes esses sentimentos pode nos fortalecer e nos ajudar a ser indivíduos melhores, é mediante a introspeção, ao acesso de nossa consciência que podemos entrar em contato no nos mesmo e entender essas sensações e não ter receio, medo delas.
Tratando a Angústia na Clínica Fenomenológica
Para Feijoo (2011), em um ambiente de clínica, o profissional da área precisa compreender que a angústia irá despertar duas situações: a primeira irá levar o paciente a ter consciência para o sentido já a segunda traz que a não percepção da situação por parte do paciente. Cabendo então ao profissional ser o mais preciso possível e atentar-se à descrição e as interpretações do paciente trazidas ao ambiente terapêutico. Portanto, se permite que fenômeno apareça como ele realmente é, possibilitando ao paciente o encontro do campo intencional em que o fenômeno se constituiu.
De acordo com Oliveira (2008) o sentimento de angústia irá trazer ao indivíduo um ser próprio, onde este ser irá emergir de uma situação restrita e o profissional além de oferecer a escuta irá ser capaz de dar a si mesmo com o outro. Quando o terapeuta facilita o processo de encontro do indivíduo consigo mesmo, faz com que este reconheça suas limitações, suas bases e não aquilo que foi posto a ele pela sociedade como certo, como limite pessoal.
É de suma importância levar em consideração as possibilidades existenciais deste indivíduo que está desabrigado, angustiado, pois será através destas possibilidades que ele conseguirá ressignificar suas vivências e isso cabe ao terapeuta o auxílio na busca pela mudança de pensamentos.
Segundo Figueiredo (1993) o psicólogo é um profissional de encontro, para ele o paciente ou cliente irá aproximar-se de sua existência por meio da relação e do vínculo entre terapeuta e paciente. Em resumo a clínica fenomenológica irá possibilitar que o indivíduo vá em busca daquilo que se encontra escondido dentre dele e da sua significação, para que assim este consiga compreender o significado verdadeiro da situação e desta maneira possibilitar o afastamento da ilusão e engano o qual estava enclausurado e da verdade que se mostra insuportável para ele. 
O terapeuta deve ser uma constante de atitude crítica para não nos deixar ser tido como um ajustador ou reparador do psiquismo dos pacientes.
Diante disto a angústia deixa de ser vista como uma experiência a ser simplesmente neutralizada ou abolida, constitui-se,ao contrário, como uma disposição afetiva fundamental para que novas experiências se abram e outras narrativas existenciais possam ser elaboradas.
Diante do exposto no texto, a angústia é, em geral, considerada uma condição patológica que deve ser “aliviada” por terapias ou medicamentos.
Nos artigos estudados, os casos tratados com a abordagem fenomenológica levam o indivíduo a entender os fatos e tornar-se consciente de suas potencialidades e limites, descobrindo meios de se adaptar as essas situações e lidar com elas no dia a dia.
Em uma sessão o terapeuta deve encorajar o cliente/paciente a mostrar seus sentimentos, o que está perturbando, a cauda de sua angústia, porém ao mesmo tempo deve levar o indivíduo a valorizar suas qualidades.
Em nosso estudo de caso, baseado no artigo Caso Vera: análise fenomenológico-existência de uma experiência “fracassada” ou dos dilemas e dos impasses dos psicoterapeutas iniciantes. Estudos e Pesquisas em Psicologia do autor Boris de 2008 retrata a historio dos atendimentos realizados com a paciente denominada Vera.
O caso Vera foi acompanhado por três anos, de 1989 a 1992 em uma Universidade de Fortaleza, pela clínica-escola de Psicologia. A então paciente não se aceitava, por ser pobre e homossexual, almejava uma vida diferente de tudo aquilo que até então lhe era familiar, porém seus desejos se limitavam apenas ao campo do pensamento, ela não lutava, não corria atrás de seus objetivos. Demonstrava ainda ter baixa autoestima, inveja a vida dos outros, julgando as melhores do que a dela, se desvalorizava e achava o mundo injusto. achava tudo injusto.
 Durante o processo de terapia Vera acreditava que ninguém estava fazendo nada para ajudá-la, nem os terapeutas, nem a família e nem os amigos, mostrava uma grande angústia existencial, o sofrimento mostrava-se real em sua mente e a depressão e ansiedade acabava fazendo o quadro piorar porque ela não conseguia traçar planos pra mudar sua situação.
Vera se angustiava pela demora das terapias, queria que o terapeuta receitasse uma pílula magica, que fizesse todos os seus problemas desaparecer como num passe de mágica.
O terapeuta deve mostrar que quando não tomamos a consciência de nossas ações, não usufruímos a liberdade dessa escolha não encontramos o um proposito em nossa vida, uma vez que nós fazemos as escolhas a liberdade pode ser mesmo perturbadora.
A terapia tem como premissa auxiliar o paciente/cliente a suporto o sofrimento e a apropriar de si mesmo e assim criar mecanismos, ou condições de conviver com suas dificuldades e a partir daí possibilitar a desconstrução desses sentimentos, emoções, preceitos, conceitos e assim reconstruir tudo novamente. O terapeuta deve compreender o modo que o indivíduo está no mundo, como este se relaciona consigo mesmo e com os outros.
Neste caso a psicoterapia fenomenológica irá propor que o terapeuta tenha uma atitude e atuação terapêutica norteadas pela compreensão do cliente/paciente, da situação a qual o paciente está relatando ou enfrentando e na relação específica e concreta de cada atendimento. 
No caso da Vera, podemos observar que o caminho a ser percorrido será longo e ardoroso para a obtenção de resultados satisfatório para ambas as partes, apesar de Vera demonstrar uma difícil aceitação a terapia, no sentido de entrar em contato consigo mesma de modo a perceber como vive, e o que está fazendo de maneira errada ao invés de olhar e invejar a vida dos outros.
Na abordagem fenomenológica a a doença é vista como modalizações do existir, o que significa as maneiras como alguém realiza o seu existir, e que se mostram naquele momento prejudicadas. 
Conclusão
Diante do exposto no texto, a angústia é, em geral, considerada uma condição patológica que deve ser eliminada, aliviada por meio de terapias ou medicamentos, visto que atualmente o bem-estar do indivíduo está cada vez mais dependente de saberes técnicos especializados. 
 Faz parte intrínseca do indivíduo a fuga de problemas, dificuldades e do desconforto proveniente da angústia, mergulhando no mundo impessoal das ocupações, da conversa, da curiosidade e da ambiguidade. Para a sociedade a angústia deve ser “curada” por especialistas competentes, medicamentos poderosos e milagrosos e combatida pelo envolvimento com as ocupações úteis. 
Porém não há um tratamento milagroso, um trabalho excelente até mesmo algum tipo de remédio ou droga milagrosa que será completamente eficaz no alivio instantâneo da de angústia, pois a busca incansável de um bom emprego, um bom relacionamento (intrapessoal ou interpessoal) ou até mesmo de medicações será é sempre um sintoma e nunca solução da sensação ou do fenômeno da angústia. 
Para Heidegger, o ser humano tem uma tendência a fuga, ao acobertamento de si, do seu eu próprio. Se esse encobrimento da angústia é uma das estruturas própria da existência, sua vigência histórica também é um traço de nossa cultura, na qual o que impera é a convicção de que o sofrimento deve ser abolido a qualquer preço. 
Bibliografia
Boris, G. D. J. B. 2008. Caso Vera: análise fenomenológico-existência de uma experiência “fracassada” ou dos dilemas e dos impasses dos psicoterapeutas iniciantes. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ. RJ, Ano 8, n. 2, 358-383.
Dantas, J. B.; Sá, R. N. & Carreteiro, T. C. O. C. 2009. A Patologização da angústia no mundo contemporâneo. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 61, n. 2.
Gomes, W. B. & Castro, T. G. 2010. Clínica Fenonenológica: Do Metodo de Pesquisa para a Prática Psicoterapêutica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, 81-93.
Evangelista, P. E. R. 2001. Algumas Reflexões Acerca da Psicoterapia Daseinsanalítica com Pacientes Psiquiátricos.
Feijoo, A. M. L. C. 2011. Clínica Daseinsanalítica: considerações preliminares. Rev. Abordagem Gestalt. Vol 17. n 1. Goiânia.
Ferreira, A. M. C. Culpa e Angústia em Heidegger. Salvador, 2002.
Figueiredo, L. (1993) Sob o signo da multiplicidade. Cadernos de Subjetividade / Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade do Programa. v. 1, no.1, 89-95. 
HEIDEGGER, M. Questions IV. Paris: Gallimard, 1976.
Kierkegaard, S. O conceito de angústia. São Paulo: Hemus, 2007. Publicado originalmente em 1984.
Oliveira, L. M. A Prática Clínica Daseimsanalítica: Especificidades. São Paulo, 2008.
Murta, C. 2011. A angústia tratada como um afeto. Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 23, n. 33, 359-375.
Péres, M. B. & Holanda, A. F. 2004. A noção de Angústia na prática clínica: Aproximações entre o Pensamento de Kierkegarrd e a Getal-Terapia. Estudos e pesquisas em psicologia. V. 3, n. 2 a. 6.
Ponte, C. R. S. 2013. Reflexões sobre a angústia em Rollo May. Rev. NYFEN (online), v. 5, n. 1, 57-63.
Sodelli, M. 2007. A Abordagem proibicionista em desconstrução; compreensão fenomenológica existencial do uso de drogas. Rev. Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Departamento de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 637-644.
8

Mais conteúdos dessa disciplina