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FACULDADE DE DIREITO DA SERRA REDE DOCTUM DE ENSINO CURSO DE DIREITO LORRAYNE AZEVEDO FROEDE AUTORIZAÇÕES DE SAIDA, REMISSÃO DA PENA, PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIMES PENAIS SERRA 2015 LORRAYNE AZEVEDO FROEDE AUTORIZAÇÕES DE SAIDA, REMISSÃO DA PENA, PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIMES PENAIS Trabalho apresentado à disciplina de Direito Penal II do Curso de Direito da Faculdade Doctum da Serra, ministrada pelo Prof. Luciano Costa Félix, como requisito para avaliação e obtenção de nota. SERRA 2015 Sumário 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 2 DAS AUTORIZAÇÕES DE SAÍDAS ......................................................................... 1 3 A REMIÇÃO ............................................................................................................ 3 4 PROGRESSÃO DE REGIME ................................................................................... 6 4.1 PROGRESSÃO DO REGIME FECHADO PARA O SEMIABERTO ................... 7 4.2 PROGRESSÃO DO REGIME SEMIABERTO PARA O ABERTO .................... 10 5 A REGRESSÃO DE REGIME ................................................................................ 12 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 16 4 1 INTRODUÇÃO A pena, como espécie de sanção penal, é resposta estatal consistente na privação ou restrição de um bem jurídico do autor do crime. A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Neste sentido, a Lei de Execução Penal, (LEP) dispõe de vários institutos destinados a cumprir as finalidades da pena, ou seja, a ressocialização, dentre elas, cita-se as autorizações de saída, a remissão, a progressão ou regressão da pena. A autorização de saída é gênero que comporta duas espécies: a permissão de saída e a saída temporária. A remição consiste no resgate da reprimenda por meio do trabalho ou estudo realizado pelo condenado que esteja em regime fechado ou semiaberto, à razão de um dia de pena por três dias de trabalho ou estudado. Tendo em vista a finalidade da pena, de integração ou reinserção social, o processo de execução deve ser dinâmico, sujeito a mutações ditadas pela resposta do condenado ao tratamento penitenciário. Assim ao dirigir-se a execução para a “forma progressiva”, ou seja, transferência do condenado de regime mais rigoroso a outro menos, quando demonstra condições de adaptação ao mais suave. Possibilita-se que conquiste a progressão quando dê sinais de modificação de comportamento depois de ter recibo orientação. Da mesma forma, o sistema de regressão de pena é a transferência do condenado de um regime prisional menos severo para um mais gravoso, em caso de sua não adaptação ao regime semiaberto ou aberto, demonstrando a inexistência de sua reintegração social. 1 2 DAS AUTORIZAÇÕES DE SAÍDAS Num cotidiano prisional haverá em certos momentos a necessidade do preso “sair” para um eventual evento fora do estabelecimento penal. Os artigos 120 e seguintes da Lei 7.210/84 dispõe sobre as autorizações de saída de presos condenados e provisórios. Conforme Santos (2015), a permissão de saída é dada em situações de emergência, quando o preso não pode esperar. A Lei de Execução Penal no art. 120 cita que os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios PODERÃO obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta. Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos: I - Falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão; II - Necessidade de tratamento médico. Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso (BRASIL, 1984). Perceba-se que o reeducando poderá, logo é uma opção do diretor do estabelecimento onde se encontra o preso, porém o preso deverá ser escoltado para tal evento, nesse contexto, muitos presos não saem por falta de uma escolta policial. Urge esclarecer que a permissão de saída será concedida pelo diretor do estabelecimento onde se encontra o preso e a permanência do preso fora do estabelecimento terá a duração necessária à finalidade da saída, conforme art. 121 da Lei 7.210/84. A permissão de saída – que não pode ser confundida com a saída temporária – não é um benefício ao preso: é uma obrigação do Estado. O Estado é obrigado a cuidar do preso. Ele é responsável pela vida, saúde e dignidade de quem está sob sua tutela. Se a pessoa já estiver condenada, o tempo em que ela permanece internada no hospital conta como tempo de pena cumprido. Se ainda não estiver condenado, o 2 tempo que ficar internada vai ser abatido da pena final se houver condenação (é o que chamamos de detração penal). Já a saída temporária e seus requisitos estão previstos nos arts. 122 a 124 da Lei 7.210/84. Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semiaberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I - Visita à família; II - Frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Parágrafo único. A ausência de vigilância direta não impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo condenado, quando assim determinar o juiz da execução. Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: I - Comportamento adequado; II - Cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano. Assim, os condenados que cumprem pena em regime semiaberto podem obter autorização para saída temporária do estabelecimento onde estão presos, sem escolta policial, para visitar a família, frequentar curso profissionalizante, de 2º grau ou superior, e participar em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Na saída temporária, o preso sai por até 7 dias consecutivos, até 4 vezes por ano. Mas repare que, para ter esse direito, além de ter bom comportamento e ter cumprido uma certa quantidade de sua pena (1/6 ou 1/4, dependendo do caso), ele também 3 precisa estar em regime semiaberto. O preso em regime fechado não tem direito de sair, e no regime aberto ele já está livre para sair durante o dia e, portanto, não precisa pedir autorização para fazê-lo. Por fim, o benefício será automaticamente revogado quando o condenado praticar fato definido como crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do cursoe a recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição no processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da demonstração do merecimento do condenado. 3 A REMIÇÃO A remição é benefício a que o condenado faz jus, desde que, em regra, esteja cumprindo a pena em regime fechado ou semiaberto, reduzindo-se sua pena em razão do trabalho ou do estudo. Almeida (2015) descreve a remição como um instituto que permite ao condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto: [...] descontar a cada 3 dias trabalhados, 1 dia no restante de sua pena ou, em se tratando de estudo, será remido 1 dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar (atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional) divididas, no mínimo, em 3 dias. De acordo com o art. 126, § 1º, da LEP, alterado pela Lei 12.433/2011, a contagem de prazo, para fins de remição, será feita da seguinte maneira: Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1º - A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. 4 § 2º - As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados. § 3º - Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem. § 4º - O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição. § 5º - O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação. § 6º - O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1º deste artigo. § 7º - O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar. § 8 - A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (BRASIL, 2011). O estudo, nos termos do art. 126, § 2º, LEP, já com as alterações promovidas pelo diploma legal acima referido, poderá ser desenvolvido de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância (tele presencial), sendo de rigor a certificação pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados. É perfeitamente possível a cumulação do trabalho e do estudo do preso para fins de remição (ex.: trabalho na parte da manhã e estudo à noite). Nesse caso, a cada 3 (três) dias trabalhados e de estudo cumulados, será o condenado recompensado com o abatimento de 2 (dois) dias de pena. Ainda, deve-se registrar que o preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a beneficiar-se com a remição (art. 126, § 4º, LEP). Ao preso que, durante o cumprimento da pena, concluir o ensino fundamental, médio ou superior, desde que haja certificado expedido pelo órgão competente, terá acrescido 1/3 (um terço) às horas de estudo que serão utilizadas para a remição (art. 126, § 6º, LEP). 5 Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar (art. 127, LEP). A regra em comento foi introduzida em nossa legislação especial pela Lei 12.433/2011, motivo pelo qual resta revogada, ainda que tacitamente, a Súmula Vinculante 9, do STF, que assim dispõe: “O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/84 foi recebido pela ordem constitucional vigente e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58”. Em suma, a Súmula em questão produzia o seguinte efeito: a prática de falta grave pelo condenado acarretava a perda de todos os dias remidos. Porém, como visto, com a alteração da redação do precitado art. 127, LEP, perdeu o sentido o enunciado, devendo-se aplicar a novel regulamentação da matéria. A remição, até o advento da Lei 12.433/2011, que, como dito, alterou sobremaneira o instituto em comento, somente era admissível aos condenados aos regimes fechado e semiaberto, visto que o trabalho é requisito indispensável à progressão ao regime aberto. No entanto, com a admissão do estudo como fato gerador da remição, aos condenados que estejam cumprindo pena em regime aberto, também será possível o aproveitamento do benefício, desde que estudem. Cabe registrar que a Lei 12.245/2010 determinou a instalação de salas de aula nos estabelecimentos penais, destinadas a cursos do ensino básico e profissionalizante. Assim, será perfeitamente possível a implementação efetiva do estudo no interior do sistema carcerário brasileiro. A melhor interpretação que se deve dar à lei é aquela que mais favoreça a sociedade e o preso, e por aqui não é possível negar que a dedicação rotineira deste ao aprimoramento de sua cultura por meio do estudo contribui decisivamente para os destinos da execução, influenciando de forma positiva em sua readaptação ao convívio social. Aliás, não raras vezes o estudo acarretará melhores e mais sensíveis efeitos no presente e no futuro do preso, vale dizer, durante o período de encarceramento e no momento da reinserção social, do que o trabalho propriamente dito. Tanto quanto possível, em razão de seus inegáveis benefícios, o aprimoramento cultural por meio do estudo deve constituir um objetivo a ser alcançado na execução 6 penal, e um grande estímulo na busca deste ideal é a possibilidade de remir a pena privativa de liberdade pelo estudo. 4 PROGRESSÃO DE REGIME Nosso ordenamento jurídico adotou o regime de progressão de regime de acordo com o mérito do condenado, sendo assim deverá gradativamente passar de um regime mais rigoroso para um regime mais brando, desde que cumpridos todos os requisitos legais, sempre com a finalidade de proporcionar a ressocialização ao condenado. Insta salientar que é vedada a progressão por salto, ou seja, não é permitido que o condenado passe diretamente do regime fechado para o regime aberto, tal benefício deve ser concedido gradativamente, objetivando o incentivo do bom comportamento carcerário e o aumento da responsabilidade do condenado, criando competências morais gradativas para que seja reabilitado ao convívio em sociedade. Por força do artigo 112 e seus parágrafos da lei 7.210/84, toda decisão referente ao cumprimento da pena do condenado deverá ser fundamentada, sempre precedida da manifestação do Ministério Público e de seu defensor. Nesse sentido, cita-se: Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão (BRASIL,1984). É importante ressaltar que para as decisões sobre progressão e regressão da pena será competente o juiz da execução, conforme dispõe o artigo 66, inciso III, alínea “b” da lei 7.210/84. Sendo assim, contra decisão que conceder ou denegar a progressão ou a regressão caberá agravo em execução, sem efeito suspensivo, por força do artigo 197 da lei 7.210/84. No que diz a respeito ao prazo para interposição do agravo em execução o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento através da súmula de número 700, estabelecendo o prazo de 5 dias para sua interposição, contados a partir da decisão proferida. 7 Para que seja concedido o benefício da progressão de pena é necessário que o condenado cumpra vários requisitos taxativos e cumulativos, denominados requisitos objetivos e subjetivos. Nesse sentido, para cada regime há os seus requisitos taxativos e cumulativos. 4.1 PROGRESSÃO DO REGIME FECHADO PARA O SEMIABERTO Quando se fala em requisitos objetivos dispõe a respeito das condições gerais e requisitos subjetivos dispõe unicamente a respeito do condenado. O requisito objetivo é baseado no tempo de cumprimento da pena. Gonçalves (2010) cita que a LEP, em seu artigo 112, nos diz que para a passagem de um regime mais gravoso para um menos gravoso é necessário o cumprimento de um sexto da pena; no caso de crime hediondo, dois quintos da pena; se reincidente, três quintos da pena. Há uma importante pacificação referente a esse tema que não poderia deixar de ser ressaltada, que visou eliminar todas as divergências a respeito do limite da pena de trinta anos, onde parte da doutrina entendia que o cumprimento de um sexto incidiria sobre o limite máximo de pena, imposta pelo artigo 75 do Código Penal, e a outra parte entendia que deveria incidir sobre o total da pena imposta em juízo. Nesse passo, o colendo Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento através da Súmula de número 715, dispondo que a pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou o regime mais favorável de execução Súmula 715: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do código penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução (STF, 2015). Os requisitos subjetivos, que se trata do indivíduo, baseia-se no bom comportamento carcerário a ser comprovado pelo diretor do estabelecimento, por meio de atestado, conforme dispõe o artigo 112 da lei 7.210/84. 8 Nesse atestado constará se o condenado cumpriu todas as regras disciplinares carcerárias, bem como seu histórico, demonstrando se possui mérito ou não de progredir de regime. É importante citar que a lei 10.792/03 alterou a redação do artigo 112 da lei 7.210/84, deixando de exigir parecer da Comissão Técnica de Classificação e exame criminológico para a progressão de regime. O Superior Tribunal de Justiça pacificou os questionamentos referentes à exigência do exame criminológico através da súmula de número 439, que permite a elaboração do exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada. No mesmo sentido, os Tribunais firmaram entendimento de que quando ocorrer de o condenado cumprir todos os requisitos (objetivos e subjetivos) para a progressão de regime e não tiver disponibilidade de estabelecimento penal no regime semiaberto, o condenado deverá ser colado em regime aberto, pois não poderá ser prejudicado aguardando no regime mais gravoso por falta de estrutura do Estado. Outro aspecto pacificado pelo colendo Supremo Tribunal Federal é a admissão da progressão de regime, ou a aplicação imediata de regime menos gravoso, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, através da Súmula de número 716. Súmula 716: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória (STF, 2015). Ainda através da Súmula de número 717, o Supremo Tribunal Federal entendeu que não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato do réu se encontrar em prisão especial. Referente à contagem do prazo de um sexto para fins de progressão, é importante citar que a finalidade demonstrada pelo Estado está sempre inspirada na motivação do bom comportamento, sendo assim quando o condenado comete alguma falta grave o prazo de contagem é interrompido, ou seja, inicia-se nova contagem. Segundo Gonçalves (2012, p.131) para os crimes contra a administração pública e os crimes hediondos, a aplicabilidade do benefício da progressão muda um pouco. 9 Nos crimes contra Administração Pública, por força do artigo 33, parágrafo 4º, do Código Penal, o condenado para ter o benefício da progressão de pena deverá reparar o dano causado ou devolver o produto do ilícito praticado com os devidos acréscimos legais. Referente aos crimes hediondos e assemelhados é importante citar que sempre houve grandes divergências, pois em sua redação primária do artigo 2º, parágrafo 1º da lei 8.072/90 estabelecia que a pena deveria ser cumprida integralmente no regime fechado. Porém, grande parte da doutrina entendia que tal texto de lei violava os princípios constitucionais da individualização da pena, disposta no artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal, e da humanização da pena, portanto, para esses a inconstitucionalidade era clara. Nesse sentido, em 23 de fevereiro de 2006, através do julgamento do Habeas Corpus de número 82.959, pelo Relator Ministro Marco Aurélio foi reconhecida a inconstitucionalidade da imposição do cumprimento de pena em regime integralmente fechado. Gonçalves (2012, p. 131) afirma que em razão dessa decisão foi aprovada a lei 11.464/07, que deu nova redação ao artigo 2º da lei 8.702/90, dispondo que para os delitos hediondos e assemelhados o regime inicial deverá ser sempre iniciado em regime fechado, independentemente da quantidade da pena, e a progressão do regime somente será concedida após o cumprimento de dois quintos da pena se primário, ou cumprimento de três quintos se reincidente. Art. 2º: Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça E indulto; II - Fiança. § 1o - A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. § 2o - A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente (BRASIL, 1990). 10 Vale salientar que a lei não descreve qual o tipo de reincidência, sendo assim há entendimento majoritário que qualquer que seja a reincidência do condenado, seja específica ou não, deverá cumprir três quintos para a progressão. Outra observação que não se pode deixar de fazer e que se faz oportuna neste momento é que o nosso direito penal veda a progressão em saltos, ou seja, não se pode progredir do regime fechado para o aberto, sem que se tenha passado pelo semiaberto. O contrário não é verdadeiro quando se fala de regressão, uma vez que é perfeitamente possível que o preso que se encontra em regime aberto regrida para o regime fechado, conforme art. 118 da LEP. 4.2 PROGRESSÃO DO REGIME SEMIABERTO PARA O ABERTO Segundo Gonçalves (2012, p. 130) o regime aberto,como dispõe o artigo 36 do Código Penal, baseia-se na autodisciplina e no senso de responsabilidade do condenado, ou seja, nesse regime serão criadas condições para que seja desenvolvido um caráter sociável e autossustentável ao condenado com a finalidade de reabilitação. No que tange a concessão do benefício da progressão para o regime aberto também são necessários cumprir requisitos objetivos e subjetivos dispostos no artigo 112 da lei 7.210/84, ou seja, será necessário cumprir um sexto do restante da pena e ter bons comportamentos carcerário, comprovado através atestado emitido pelo diretor do estabelecimento penal. Por força do princípio constitucional da vedação do trabalho forçado e do artigo 113 da lei 7.210/84, o ingresso do condenado em regime aberto pressupõe a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo juiz. Nesse passo, conforme dispõe o artigo 114 da lei 7.210/84, somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente e apresentar através de seus antecedentes, ou por exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se ao novo regime com disciplina e responsabilidade. 11 É de fácil visualização que o Estado oferece oportunidades para obtenções de benefícios ao condenado, incentivando assim o desenvolvimento do bom comportamento e o senso de responsabilidade. Vale ressaltar que os condenados com idade superior a setenta anos de idade, o condenado acometido de doença grave, a condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental e a condenada gestante poderão ser dispensadas do trabalho, por força do artigo 114, parágrafo único da lei 7.210/84. Nesses casos também se admitirá o recolhimento em residência particular. Em consonância com o artigo 115 e 116 da lei 7.210/84 o juiz da execução poderá a qualquer momento impor novas condições ao condenado, desde que fundamentada, precedido da manifestação do Ministério Público e de seu defensor. 12 5 A REGRESSÃO DE REGIME O modelo progressivo de cumprimento da pena permite que o apenado que adimpla determinados requisitos possa cumprir sua pena em regime cada vez menos gravoso. No entanto, o inverso também ocorre quando, presentes determinadas situações, passa o reeducando a cumprir sua pena em regime mais gravoso. Trata-se da regressão de regime. Silva (2014) diz que a regressão de regime consiste na transferência do reeducando de um regime de cumprimento de pena menos grave para outro mais grave. Assim dispõe o §2º do artigo 33 do Código Penal: Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. [...] "§2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso [...] (BRASIL, 1940). Nesta quadra, o art. 118 da LEP estabelece a possibilidade de se determinar a regressão do sentenciado, caso desenvolva condutas incompatíveis com a sua reinserção social. Estabelece o retro mencionado artigo que: Art. 118: A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: I – praticar fato definido como crime doloso ou falta grave; II – sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime (art. 111); § 1º O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido, previamente, o condenado (BRASIL, 1984). Segundo Gonçalves (2012, p. 132) a regressão de regime é disciplinada em sua maior parte pelo artigo 118 da lei 7.210/84, dispondo que a execução de pena privativa de 13 liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos quando o condenado: praticar fato definido como crime doloso, ou falta grave; ou sofrer condenação por crime anterior cuja pena somada ao restante da pena em execução torne incabível o regime. O inciso I do art. 118 da Lei nº 7.210/84 disciplinas que basta a simples prática de fato definido como crime doloso para determinar-se a regressão, ou seja, não é necessário que haja sentença condenatória transitada em julgado. No que tange as faltas graves, Gonçalves (2012) expressa que estas vem descritas no art. 50 da Lei de Execução Penal. Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I - Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - Fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; IV - Provocar acidente de trabalho; V - Descumprir, no regime aberto, as condições impostas; VI - Inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório (BRASIL, 1984). Disciplina o art. 111 da Lei de Execuções Penais que, havendo condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processo distinto, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição. 14 Como se observa, o inciso II do art. 118 da LEP encontra-se em perfeita harmonia com o teor do art. 111, pois o reeducando ao sofrer condenação, por crime anterior, deverá ter a sua pena somada para que se estabeleça o regime de cumprimento, devendo a pena mais grave ser cumprida primeiro, em respeito ao art. 76 do Código Penal. Marcão (2012, p. 31) leciona que: Se o réu vier a sofrer várias condenações com a imposição das respectivas penas no regime aberto, nada impede que em sede de execução se estabeleça regime mais rigoroso como decorrência do somatório das penas, observado que, se da operação resultar pena igual ou inferior a quatro anos, o regime será o aberto; se a pena for superior a quatro anos e não exceder a oito, o regime será o semiaberto, e, se for superior a oito, deverá começar o cumprimento em regime fechado. Em síntese, a pena em execução será somada a (s) nova (s) reprimenda (s) imposta (s) e deste somatório chegar-se-á ao regime inicial para cumprimento de pena. Segundo o parágrafo 1º do art. 118 da LEP, o condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. Frustrar, no sentido empregado pelo dispositivo legal, equivale a não corresponder às expectativas da execução. Deste modo, qualquer ato atentatório as finalidades de efetivar as disposições da sentença condenatória e proporcionar condições para a harmônica inserção social do condenado, é motivo suficiente a regressão de regime. Sobre o não pagamento da pena de multa cumulativamente imposta (privativa de liberdade + multa), urge destacar que tal situação não mais vigora, pois com o advento da Lei nº 9.268 de 1º de abril de 1996, o inadimplemento passou a ser considerado como dívida ativa da Fazenda Pública,impossibilitando assim a conversão em pena de prisão como até então acontecia. Imediatamente após a promulgação da citada lei, o Supremo Tribunal Federal teve a oportunidade de examinar a questão, momento em que fixou o entendimento de que "com a nova redação do art. 51 do Código Penal, a pena de multa não mais pode ser convertida em pena de detenção, passando a ser considerada dívida de valor e executada como dívida ativa da Fazenda Pública" (STF, 2015). 15 Em observância aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, o legislador expressamente determinou em seu art. 118, § 2º da LEP que seja realizada audiência de justificação, oportunidade na qual o condenado apresentará a sua versão sobre os fatos. 16 6 CONCLUSÃO A saída temporária se funda na confiança e tem por objetivo a ressocialização do condenado, já que permite sua gradativa reintegração à comunidade. Diferentemente, a permissão de saída tem suas hipóteses elencadas em caso de falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão ou diante da necessidade de tratamento médico. Institutos como a remição pelo trabalho ou pelo estudo, filiam-se ao velho modelo da prisão corretiva (nascida no século XVIII), que tem como escopo a ressocialização do condenado. Esse velho paradigma de prisão não tem nada a ver com a prisão-jaula muito comum nos dias correntes. Hoje as prisões estão se convertendo em prisões- masmorras. O Estado brasileiro é um Estado criminoso nessa área. Os horrores das prisões brasileiras são muito superiores ao horror dos crimes. A lei da remissão de pena pelo estudo constitui uma luz para essa barbárie carcerária. Pelo exposto, é sabido que, no âmbito da execução penal, mais especificamente quando do cumprimento da pena imposta, o sistema brasileiro adotou o modelo inglês (ou progressivo), em que a pena é cumprida por etapas pelo condenado, visando sempre a ressocialização do apenado. Por todo o exposto, pode-se concluir que ordenamento jurídico possibilita a regressão de regime, caso o condenado não se adapte ao regime menos gravoso, demonstrando assim a inexistência de sua reintegração social; e que o referido instituto traz a definição legal e condutas ensejadoras de aplicação nos artigos 118 e 50, ambos da Lei nº 7.210/84, bem como que antes de decretar tal medida, deve-se proceder a prévia oitiva do condenado. Por fim, conclui-se que a regressão de regime é de suma importância, pois a aceitação de condutas desajustadas fragiliza a credibilidade dos institutos da prevenção e defesa social e ferem os escopos da execução penal trazidos no art. 1º da supramencionada legislação. 17 7 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Natália Droichi de. Remição de pena para condenados que estudam. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/remi%C3%A7%C3%A3o-de-pena-para- condenados-que-estudam>. Acesso em: 16 out. 2015. BRASIL. Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Dispõe sobre o Código Penal Brasileiro e dá outras providências. Brasília, DOU, 1940. _______. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília, DOU, 1984. _______. Lei 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Brasília, DOU, 1990. _______. Lei 12.433, de 29 de junho de 2011. Altera a Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. Brasília, DOU, 2011. GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal parte geral. São Paulo: Saraiva, 2012. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. São Paulo: Saraiva, 2012. SANTOS, Morgana. Preso provisório e falecimento do genitor. Disponível em: <http://www.forumjuridico.org/threads/preso-provisorio-e-falecimento-do-genitor.17415/>. Acesso em: 16 out. 2015. SILVA, Elisângela de Oliveira. Regressão de Regime. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,regressao-de-regime,49486.html>. Acesso em: 16 out. 2015. STF. Súmulas do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumul a_701_800>. Acesso em: 16 out. 2015.
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