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INTRODUÇÃO No ano passado, uma polêmica envolvendo um dos apresentadores do jornal de maior audiência da TV brasileira teve grande repercussão em sites e blogs do país. O editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, durante visita de professores de Comunicação à redação do jornal, mencionou uma pesquisa realizada pela Rede Globo, que identificou o perfil do telespectador médio do telejornal. Segundo a pesquisa, esse telespectador tem dificuldades para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Em função disso, foi apelidado, por Bonner, de Homer Simpson, personagem dos Simpsons, uma das séries dos EUA de maior sucesso na televisão, em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento. De acordo com a apresentadora e editora-chefe do Jornal Hoje, Sandra Annenberg, o público do jornal das 13h15m, horário do almoço, é bem eclético, vai “desde criancinhas até aposentados, passando por donas de casa, mulheres ativas, que trabalham fora, executivos, pessoas que estão em um bandejão almoçando”1. “O Bom Dia Brasil é muito amplo – tem todas as informações da madrugada, mas tem formato de revista e tratamento diferente porque começa o dia do telespectador”2, diz o editor-chefe e apresentador Renato Machado. O Jornal da Globo é o último do dia. Antes de sair da TV Globo, Ana Paula Padrão, responsável pelo telejornal, apontava que: “temos por obrigação não só dar a notícia, mas dar a notícia mastigada, com análise, com furo, com reportagem especial, exclusiva, com muita informação”3. É nesse contexto de produção, distribuição e consumo de notícias que tal trabalho se desenvolverá. Segundo Marshall apud Carvalho (2006), a mídia jornalística inserida na indústria cultural e mercantilista passa a tratar a notícia não só como uma potência de conhecimentos e informação, mas também, e principalmente, como um produto de consumo, que deve ser aceito pelo público telespectador e pelos anunciantes publicitários. Este teórico define a mídia jornalística como produtora de um tipo de jornalismo transgênico, isto é, que 1<http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-5556-2-91025,00.html> acesso em 05/10/2007. 2 Idem. 3 Idem. 1 se modifica em função das leis de mercado, das novas tecnologias e do poderio econômico. E pode-se dizer, também, do público. A capacidade de integrar e articular vários gêneros discursivos espalhados pelos diversos tipos de programas oferecidos faz da TV o principal veículo de comunicação de massa do país. A alternância desses gêneros ocorre de tal forma que, para muitos telespectadores, é difícil identificar os limites entre realidade e ficção. O fim da barreira entre o real e o imaginário, que atinge toda a programação, inclusive as produções telejornalísticas, vai ocasionar a espetacularização. Com isso, a ordem é entreter e divertir para conquistar audiências cada vez maiores e, conseqüentemente, faturamento. Diante de tal realidade é estabelecido o foco de estudo desta pesquisa: a mídia jornalística televisiva, visto que nela ocorre o entrecruzamento de diversos gêneros discursivos, discursos e vozes, que se articulam de acordo com o público de cada telejornal. Para isso, desenvolveremos, no capítulo 1, o referencial teórico. Em um primeiro momento, será abordada a história do telejornalismo no Brasil, a fim de que se possa entender como os telejornais do país foram estruturando-se e modificando-se através do tempo. Logo em seguida, será realizado um levantamento histórico acerca da emissora responsável por veicular os telejornais analisados: a Rede Globo. Em um terceiro momento, a intenção é tentar desvendar os processos de produção das notícias através da história dos quatro principais telejornais da emissora: Bom Dia Brasil (BDB), Jornal Hoje (JH), Jornal Nacional (JN) e Jornal da Globo (JG). No capítulo 2, a intenção é discorrer acerca da Análise de Discurso Crítica, bem como dos estudos discursivos críticos desenvolvidos por Norman Fairclough (1989). O projeto de Fairclough (1989) investiga a importância da linguagem na vida social como mecanismo para sustentar e/ou transformar as relações de poder existentes. O seu foco são as práticas sociais e discursivas, que servirão de base para a busca da desnaturalização de ações ditas universais e naturais, introduzidas nas relações de dominância. Inserida na nova ordem socioeconômica, com uma linguagem peculiar, encontra-se o objeto de nosso estudo: a mídia telejornalística. No capítulo 3 será exposta a metodologia empregada, que se desenvolverá por meio de uma pesquisa qualitativa, descritiva, e explicativa. O corpus será delimitado: serão analisados o BDB, o JH, o JN e o JG do dia 04 de setembro de 2007, apenas. A base da metodologia utilizada vai se configurar no quadro tridimensional de análise desenvolvido por Norman Fairclough (1992), no qual três dimensões analíticas se inter-relacionam: o texto, a prática discursiva e a prática social. A proposta, então, será desenvolvida seguindo as três categorias trabalhadas nos estudos discursivos críticos, que se complementam: a descrição, a 2 interpretação e a explicação. No último capítulo, desenvolveremos a análise dos dados levantados na pesquisa. A princípio será feita uma análise geral das reportagens dos quatro principais telejornais da Rede Globo, de acordo com o tema e a duração. Logo em seguida, a análise se concentrará nas reportagens que mais se repetem no BDB, JH, JN e JG. Por último, a atenção é dada a algumas matérias que não se repetem nos jornais pesquisados de acordo com a editoria e o tempo de duração de cada uma. Pretende-se assim, através dos estudos discursivos críticos, analisar os quatro principais telejornais da Rede Globo: Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional e Jornal da Globo. 3 CAPÍTULO 1: REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 – História do Telejornalismo no Brasil No dia 18 de setembro de 1950 chegava ao Brasil a TV Tupi, canal 6 de São Paulo, primeira estação de TV do país. Dois dias depois, ia ao ar o seu primeiro telejornal: Imagens do Dia. Com locução em off, um texto em estilo radiofônico, pois o rádio era o modelo que se tinha na época. Entrava no ar entre as nove e meia e dez da noite, sem qualquer preocupação com a pontualidade. O formato era simples: Rui Resende era o locutor, produtor e redator das notícias, e algumas notas tinham imagens feitas em filme preto e branco, sem som. (PATERNOSTRO, 1999: 35). Na década de 50, o Brasil passava por importante processo de desenvolvimento econômico, social e político. A indústria nacional crescia intensamente, os centros urbanos se transformavam com atividades comerciais, financeiras, de serviços e de educação. Na política, Getúlio Vargas assumia a presidência, substituindo o general Eurico Gaspar Dutra. O ambiente era favorável ao desenvolvimento da TV e, conseqüentemente, à consolidação do telejornalismo brasileiro. Em janeiro de 1952, outro noticiário é criado pela TV Tupi: o Telenotícias Panair. No mesmo ano, na Tupi do Rio, surge o telejornal considerado o mais importante da década de 50: o Repórter Esso. Apresentado por Gontijo Teodoro, o jornal era feito de notícias nacionais e internacionais. Em 1953, ele começou a ser transmitido, também, pela TV Tupi de São Paulo. A precariedade na produção dos telejornais era grande, uma vez que tecnologias ligadas à TV mal chegavamao país, e a inexperiência dos primeiros profissionais – procedentes do rádio – era comum. Segundo Rezende (2000), os jornais eram feitos basicamente de notícias direto do estúdio, devido às dificuldades em se fazer coberturas externas. Em termos visuais, todos eram semelhantes: cortina de fundo, uma mesa e uma cartela com o nome do patrocinador. O Repórter Esso assimilava com propriedade as características marcantes dessa fase: “[...] a herança radiofônica e a subordinação total dos programas aos interesses e estratégias dos patrocinadores” (PRIOLLI apud REZENDE, 2000: 106). 4 Na década de 60, a TV se consolida no Brasil, e o telejornalismo começa a avançar. Além da chegada do videoteipe, como recurso para registrar a inauguração de Brasília, segundo Lima apud Rezende (2000), começa uma fase de criatividade e expansão intelectual. A TV assume seu caráter comercial, e a disputa pelas verbas publicitárias dá início a uma briga pela audiência, presente até hoje. Em 1962, a TV Excelsior passa a exibir o Jornal de Vanguarda, que traz jornalistas como produtores e cronistas, como Villas-Bôas Correia, Millor Fernandes e Stanislaw Ponte Preta, para apresentar as notícias. Para complementar, trazia locutores como Luís Jatobá e Cid Moreira. A origem dos que trabalhavam nos telejornais começa a mudar. No Jornal de Vanguarda, grande parte desses novos profissionais vinha, agora, não mais do rádio, mas sim dos jornais impressos. “A qualidade jornalística desse noticiário causou um impacto enorme pela originalidade de sua estrutura e forma de apresentação distinta de todos os demais informativos [...]” (REZENDE, 2000: 107). O Golpe Militar de 1964 põe fim à fase de expansão do telejornalismo. Após o Ato Institucional n° 54, o Jornal de Vanguarda é extinto pela própria equipe. Os telejornais brasileiros passam a adotar o modelo norte-americano e dispensa-se a participação de jornalistas como apresentadores. Os noticiários voltam a ser conduzidos exclusivamente pelos locutores. Os avanços técnicos – “videoteipe, câmeras de estúdio mais ágeis, a lente zoom em substituição à torre de lentes” (REZENDE, 2000: 108) – e a mudança na linguagem atingiam principalmente as produções de entretenimento (novelas e shows de auditório). O telejornalismo e a produção das notícias permaneciam engessados devido às interferências políticas e à falta de estilo próprio. No entanto, em 1969/70, dois fatos vão dar início a uma nova fase no telejornalismo brasileiro: a criação do Jornal Nacional (JN), da Rede Globo, e o fim do Repórter Esso. Nessa mesma época, surge a Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações. “A Embratel interliga o Brasil através de linhas básicas de microondas – rotas – e adere ao consórcio internacional para utilização de satélites de telecomunicações – o Intelsat. Estava criada, então, a estrutura para as redes nacionais de televisão” (PATERNOSTRO, 1999: 31). No dia 1 de setembro de 1969, às 19h56m, entrava no ar o Jornal Nacional, produzido no Rio de Janeiro e transmitido simultaneamente, ao vivo, para São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. O JN torna-se o primeiro noticiário em rede 4 O Ato Institucional nº 5 (AI-5) foi decretado pelo presidente Artur da Costa e Silva no dia 13 de dezembro de 1968. O AI-5 foi um instrumento de poder que deu ao regime militar poderes absolutos, fechando o Congresso Nacional por quase um ano. 5 nacional da TV brasileira. O objetivo do telejornal de integrar os 56 milhões de brasileiros da época, na verdade, escondiam “interesses políticos e mercadológicos. Além de possuir um noticiário que lhe desse prestígio, a TV Globo queria competir com o Repórter Esso, da TV Tupi” (REZENDE, 2000: 109). O Jornal Nacional nascia como o exemplo do progresso tecnológico nas comunicações e como um novo modelo de se fazer telejornalismo, com planejamento e produção rigorosos. Segundo Paternostro (1999), ele foi o primeiro a apresentar reportagens em cores e internacionais via satélite no instante em que os fatos ocorriam. “Para manter o nível do noticiário na altura do avanço eletrônico que possibilita a formação da grande cadeia, as notícias e comentários serão escritos por redatores selecionados e não será permitida a improvisação [...]” (VEJA apud REZENDE, 2000: 110). A linguagem, a narrativa, o formato e a figura do repórter de vídeo seguiam os padrões dos telejornais norte-americanos. No entanto, uma crítica perseguiria o Jornal Nacional e a TV Globo por anos: a afinidade ideológica com o Regime Militar. Na continuidade do noticiário, revelava-se também, sem subterfúgios, a verdadeira face de quem exercia o poder no país. O primeiro videoteipe na estréia do Jornal Nacional exibiu o então ministro da Fazenda, Delfim Neto, transmitindo uma mensagem de otimismo, após sair de uma reunião com a Junta Militar. Logo no seu nascimento, ficava claro que a originalidade do Jornal Nacional residiria apenas na qualidade técnica, uma vez que o conteúdo estava sacrificado pela interferência da censura. (REZENDE, 2000: 110). Enquanto o JN começava a ganhar espaço, importância e, principalmente, audiência entre os telejornais do horário nobre, o Repórter Esso, com 17 anos de tradição, encerrava suas atividades no dia 31 de dezembro de 1970. O apresentador Gontijo Teodoro, assim como os slogans “o primeiro a dar as últimas” e “testemunha ocular da história” passavam, a partir desse dia, a fazer parte da memória do telejornalismo brasileiro, colocando fim a um modelo dominante na área, baseado no rádio e subordinado aos interesses dos patrocinadores. Ainda em 1970, a TV Bandeirantes, de São Paulo, cria o jornal Titulares da Notícia. A TV Tupi, tentando recuperar seu telejornalismo após o fim do Repórter Esso, leva ao ar o Rede Nacional de Notícias, transmitido ao vivo para várias capitais do país. Porém, é o telejornal A Hora da Notícia, da TV Cultura de São Paulo, uma emissora pública, que vai trazer um novo jeito de se fazer telejornalismo no Brasil. O noticiário da TV Cultura dava prioridade aos problemas das comunidades ao preferir o depoimento popular. Com ele, o telespectador começou a ganhar importância na TV, mas esse novo jornalismo não combinava com a velha política brasileira imposta pelos militares. 6 Mas os tempos não eram fáceis. As razões que levaram o programa à liderança de audiência, a prioridade ao depoimento popular, não se coadunavam com os interesses políticos dominantes no país. Tanto que em sua gestão como diretor do departamento de jornalismo da TV Cultura, substituindo Fernando Pacheco Jordão a partir de 1974, Wladmir Herzog praticou seus ideais de jornalismo por muito pouco tempo e assim mesmo teve de pagar com a própria vida, no ano seguinte, vítima da intolerância política. (REZENDE, 2000: 112) No final dos anos 70 a TV Bandeirantes reformula o telejornalístico Os Titulares da Notícia, que passa, também, a dar voz ao telespectador popular e inova ao valorizar o trabalho do repórter, que deixa de ser apenas um locutor responsável por narrar as informações e começa a fazer parte diretamente da cobertura dos acontecimentos. Requisitos como aparência e voz bonita eram suprimidos pela importante tarefa de divulgar as notícias. A década de 70 vai marcar, também, pelo desenvolvimento e apuro técnicos. A Rede Globo é a que mais se aproveita disso e se desenvolve nessa época. O aperfeiçoamento da qualidade das produções, o apuro formal e o planejamento primoroso não ficavam restritosao telejornalismo da emissora, mas sim, estendiam-se a toda sua programação. O chamado “padrão Globo de qualidade” é criado e passa a influenciar a TV brasileira. Claro que não foi a Globo que criou o telejornalismo, mas foi ela que eliminou o improviso, impôs uma duração rígida no noticiário, copidescou não só o texto como a entonação e o visual dos locutores, montou um cenário adequado, deu ritmo à notícia, articulando com excelente “timing” texto e imagem (pode ser que você não se lembre, mas com a Globo começamos a assistir a esta coisa quase impossível: os programas entrarem no ar na hora certa). (PIGNATARI apud REZENDE, 2000: 113-114) Em 1973 é criado o Fantástico – o Show da Vida, um programa que mistura jornalismo e entretenimento que muda a programação das noites de domingo. Paralelamente, os cuidados com o telejornalismo da TV Globo se intensificam, principalmente com o Jornal Nacional, demonstrando uma preocupação excessiva com a forma, mas nem tanto com o conteúdo. Para o então diretor-geral da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, boa aparência, voz firme e timbre bonito eram características que deveriam ser consideradas importantes para atrair o público feminino das telenovelas e evitar que “na passagem da novela para o Jornal Nacional essa grande faixa de audiência mudasse de canal” (REZENDE, 2000: 114). Seguindo essa linha de prioridades, Cid Moreira, profissional que havia se destacado no Jornal de Vanguarda, é escolhido para apresentar o JN e passa a ser o símbolo da filosofia do programa. “(...) a presença diária de Cid é um exemplo raro de neutralidade no 7 sentido de constância, homogeneidade e monotonia (i.e., um único tom, sempre o mesmo) que ele ‘imprime’ a qualquer notícia” (REZENDE, 2000: 114). Ao lado de nomes como Sérgio Chapelin, Marcos Hummel, Celso Freitas, Carlos Campbel e de todos os repórteres da casa, Cid Moreira se encaixava em um modelo que pretendia passar a imagem de objetividade e isenção na divulgação dos fatos para, assim, conquistar credibilidade. Todos os locutores do Jornal Nacional “tinham seu estilo próprio que se encaixava no ‘padrão global’. Conciliavam suas apresentações com a rigidez do cenário e um abundante uso de videoteipes e efeitos especiais” (REZENDE, 2000: 115). Segundo Lins da Silva apud Rezende (2000), o objetivo era construir um modelo de apresentação que fosse requintado e frio, pretensamente objetivo. Na TV Globo, entretanto, a excessiva preocupação formal não se estendia ao conteúdo. A mordaça imposta pela Ditadura Militar, associada à despolitização e à vontade em não querer se indispor com os militares, acabou afastando a emissora da realidade brasileira. Os telejornais da Globo se mantiveram distantes dos grandes fatos políticos nacionais, levados aos jornais mesmo na época da rigorosa censura do governo Médici. Sobre política, a televisão foi omissa ou, como querem os produtores de seus noticiários, obrigada a ficar omissa, reservando os seus horários mais nobres para a lacrimonisidade das telenovelas e o riso ‘non sense’ de seus shows milionários. (MAIA apud REZENDE, 2000: 115). O conteúdo permanecia pobre, também, devido à superficialidade no trato das notícias. A preocupação do Jornal Nacional era com a agilidade e com o perfil da audiência do programa. Parece ser importante dar ao telespectador que volta para casa depois de um dia inteiro de trabalho, um panorama breve do que aconteceu de mais significativo naquele dia [...] Este resultado é obtido transmitindo-se somente miniflashes das notícias selecionadas que para serem transmitidas devem obedecer a rigorosos critérios de clareza, rapidez e possibilidade de fácil absorção, de modo que se dê ao telespectador a ilusão de que foi ‘bem informado...’. (PEREIRA & MIRANDA apud REZENDE, 2000: 116) No início dos anos 80, com a anistia e a distensão política dos militares, a TV Tupi transforma o programa semanal Abertura em um espaço aberto às intervenções dos exilados que voltam ao Brasil, e também do cinegrafista Gláuber Rocha. Mas, com a falência e, conseqüentemente, com o fim das transmissões da Tupi, em agosto de 1980, o programa termina. Nesse mesmo mês, a Bandeirantes cria o Canal Livre, que seguia a linha do extinto Abertura, entrevistando personalidades que antes não tinham acesso à televisão. Mas nada disso ameaçava a supremacia do telejornalismo da Globo. Segundo Rezende 8 (2000), a estratégia de colocar o Jornal Nacional entre as novelas das sete e das oito – programas de maior audiência da TV – só aumentou a popularidade do telejornal. “Em 1979, o JN alcançava a prodigiosa marca de 79,9% da audiência nacional, o que correspondia a 11.985 mil televisores e 59.925 mil telespectadores ligados no noticiário”. (ÁVILA apud REZENDE, 2000: 117). Cada vez mais a emissora carioca investia em jornalismo, visto que essa área representava uma importante fonte de renda devido à publicidade. Telejornais como o Jornal Hoje, na hora do almoço, o Jornal da Globo, no fim da noite, (que antes recebeu nomes como Amanhã e Painel), e o Bom Dia São Paulo, no início da manhã, que seria o embrião para o Bom Dia Brasil, foram criados reforçando o departamento de jornalismo da Globo e, conseqüentemente, o departamento comercial. Ainda nos anos 70, a emissora cria o Globo Repórter, com linguagem de documentário e profundidade na abordagem de temas específicos; o Globo Rural, voltado para o homem do campo, com notícias agrícolas, dicas rurais, cotações agropecuárias e previsão do tempo; e o TV Mulher, programa feminino que tratava de temas que não se viam abertamente na TV: comportamento sexual, direitos e saúde da mulher. Teve entre seus apresentadores Marília Gabriela, Ney Gonçalves Dias, Ala Szerman, Marta Suplicy e Clodovil Hernandez, e apresentava compactos das telenovelas. Na década de 1980, vários programas de entrevistas e debates, seguindo a linha jornalística, surgem: Vox Populi, da TV Cultura, Encontro com a Imprensa, da Bandeirantes, Diário Nacional, da TV Record e Globo em Revista, da Rede Globo, este que durou pouco tempo. Em 1981, a Bandeirantes abre espaço na sua programação para uma série de programas jornalísticos. Toda essa revolução no modo de se fazer telejornalismo teve sucesso, em grande parte, devido ao sistema de redes consolidado nas décadas de 70 e 80. As emissoras criam a programação nacional – a mesma programação da emissora-sede, na mesma faixa de horário, para todas as outras que pertencem à sua rede. Esse sistema suprimiu muitas emissoras regionais, beneficiando a programação realizada pelas grandes redes no Rio de Janeiro e em São Paulo e ditando uma óptica carioca e paulista para todo território nacional. Mas esse era, enfim, o resultado da política de integração nacional pela televisão programado pelo governo militar, em associação com a burguesia nacional e o capital estrangeiro. Conseguia-se a unidade nacional pelas telenovelas e noticiários, ao mesmo tempo que a uniformidade cultural pouco a pouco afetava as manifestações regionais. (REZENDE, 2000: 119). 9 Com o começo da distensão política no governo do general Geisel, entre 1977 e 1979, e a partir do governo do presidente João Baptista Figueiredo, o jornalismo brasileiro, principalmente aquele praticado pela Globo, passa a ter que lutar com a censura interna, ou seja, com a autosencura de profissionais e empresas que não estavam acostumados com a liberdade jornalística.A TV Globo, já especialista na técnica, precisava conquistar qualidade também no conteúdo. Para Armando Nogueira apud Rezende (2000), então diretor da Central Globo de Telejornalismo (CGJ), o conteúdo era suprimido, devido à marcação da ditadura, em função de uma preocupação com a técnica e a estética dos noticiários. Os jornalistas voltaram a ocupar uma posição de destaque nos telejornais. Repórteres como Sérgio Mota Melo, Carlos Monforte, Glória Maria, Antônio Brito e Belisa Ribeiro ganharam destaque no vídeo. A participação de comentaristas especializados – Paulo Francis, Marco Antônio Rocha, Newton Carlos, Enio Pesce, Joelmir Beting – enriquecia os noticiários com análises e entrevistas. Locutores consagrados como Cid Moreira e Sérgio Chapelin passaram a dividir a responsabilidade na apresentação dos jornais com jornalistas como Celso Freitas, Leda Nagle e Marília Gabriela. Em 1980, com a concorrência pública para venda dos canais da TV Tupi – cassada pelo governo devido a problemas financeiros – duas novas redes de televisão se formaram: o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), do empresário, radialista e já conhecido apresentador da TV, Sílvio Santos; e a Rede Manchete, do grupo Bloch. Segundo Casoy apud Rezende (2000) o objetivo dos militares com as novas concessões era diminuir o poder político exercido pela Globo. A Rede Manchete traz idéias novas e audaciosas no telejornalismo e abre espaço para as produções independentes. O Jornal da Manchete é criado e prioriza o comentário e a análise dos fatos no horário nobre. O jornal consegue bons índices de audiência mesmo concorrendo com um dos maiores fenômenos de público da TV brasileira: a novela Roque Santeiro, da Globo. Em 1983, a nova emissora lança o Conexão Internacional, programa de entrevistas da produtora independente Intervídeo, comandado pelo apresentador Roberto D’Ávila, com direção de Walter Salles Júnior. Em setembro de 1988, o SBT levava ao ar o Telejornal Brasil (TJ Brasil), primeiro noticiário brasileiro que traz a figura do âncora – “o jornalista que dirige, apresenta e comenta as notícias do jornal” (PATERNOSTRO, 1999: 37) – modelo importado dos telejornais norte- americanos. O jornalista Bóris Casoy, já consagrado no jornalismo impresso – havia sido editor-chefe da Folha de São Paulo – torna-se apresentador e editor-chefe do TJ Brasil e 10 imprime sua marca fazendo entrevistas e emitindo comentários pessoais sobre os fatos noticiados. O SBT era, até então, considerado incapaz de produzir jornalismo de qualidade. Ao longo da década de 1980, vários telejornais foram criados sem sucesso: Cidade 4, 24 Horas, Noticentro, Últimas Notícias. Segundo Rezende (2000), além da cumplicidade de Sílvio Santos com o poder dominante – o SBT mantinha um quadro com o resumo da semana do presidente – havia um descomprometimento com a informação e a crítica explícito em uma entrevista à revista Imprensa: [...] meu jornalismo vai ser imparcial, vai só elogiar, e não vejo razão para alguém ficar aborrecido comigo por só receber elogios [...] É para descobrir no ser humano as qualidades que ele tem. Quando não houver possibilidades de apontar essas qualidades, ou apontar as suas obras, suas realizações, nós vamos apenas dar a notícia. (SQUIRRA apud REZENDE, 2000: 126). O TJ Brasil surge em uma época em que o SBT se torna vice-líder de audiência da TV brasileira e faz parte de um projeto cujo objetivo era atrair os formadores de opinião e mudar a imagem do canal, considerado essencialmente popular. A presença de Bóris Casoy como âncora ajuda na conquista de credibilidade e faz com que o jornal anule a deficiência de recursos técnicos da emissora, além de levar os outros canais a reformular o formato de seus telejornais. A figura do âncora começa a fazer parte de vários telejornais. Em agosto de 1988, o ex-repórter Carlos Nascimento assume esse papel e passa a comandar uma equipe dividida em editorias de economia, política, internacional e geral à frente do Jornal da Cultura, da TV Cultura de São Paulo. No Jornal da Bandeirantes quem exerce esse papel é a jornalista Marília Gabriela, que já havia se consagrado pelo programa de entrevistas Cara a Cara. Para não ficar de fora das mudanças e também não fugir do padrão supostamente criado e consagrado pela audiência, o Jornal Nacional insere regularmente no seu noticiário, no início de 1989, análises sobre determinados assuntos com a participação de comentaristas especializados, como Paulo Henrique Amorim, Joelmir Beting, Lillian Witte Fibe, Alexandre Garcia e Paulo Francis. “Eles contextualizavam e explicavam para os telespectadores, numa linguagem simples, as informações políticas e econômicas”. (MEMÓRIA GLOBO, 2004: 188). Mas nem por isso a TV Globo deixa de ser criticada por sua posição “extremamente” governista. O JN é considerado “uma extensão do Diário Oficial, que assume não apenas o noticiário acrítico como até uma euforia a favor do governo”. (DIMENSTEIN apud 11 REZENDE, 2000: 128). Paralelamente às constantes mudanças que ocorriam no telejornalismo brasileiro na década de 80, o país passava também por transformações políticas. A campanha das “Diretas já”, conduzida por uma frente pluripartidária, reivindicava o voto direto para presidente da República e lutava por um governo civil depois de mais de vinte anos de Regime Militar. Porém, as emissoras de televisão, com destaque para a TV Globo, preferiram o silêncio da não cobertura do movimento ao “clamor das multidões que lotavam as praças das grandes capitais brasileiras”. (MELO apud REZENDE, 2000: 124). Segundo Rezende (2000), o primeiro grande comício das diretas realizado na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1984, espelhou muito bem o boicote das emissoras ao evento. A TV Cultura era a única a realizar a cobertura direta do comício. Enquanto isso, a Rede Globo deu a notícia no Jornal Nacional referindo-se à manifestação como se ela fizesse parte das comemorações dos 430ª aniversário da capital paulista e não tivesse conotação política. No livro comemorativo dos 35 anos do Jornal Nacional, a Globo contesta afirmações desse tipo dizendo que o repórter responsável pela cobertura fala sobre o objetivo do evento. A emissora afirma que o mal entendido teria sido provocado devido a chamada lida pelo apresentador do JN: A origem da confusão foi a escalada do Jornal Nacional. Nela, não há referência ao comício, mas apenas ao aniversário da cidade. “A cidade de São Paulo festeja os 430 anos de fundação”. A chamada da matéria, lida pelo apresentador Marcos Hummel, referia-se ao comício como um dos eventos comemorativos do aniversário da capital paulista. De fato, havia a relação entre a manifestação e o aniversário da cidade. O comício tinha sido marcado para o dia 25 de janeiro justamente porque, sendo aniversário da cidade, a participação popular seria facilitada. O locutor leu a chamada: “Festa em São Paulo. A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na praça da Sé”. E, em seguida, a reportagem de Ernesto Paglia relatou com todas as letras o objetivo político do evento: pedir eleições diretas para presidente da República. (MEMÓRIA GLOBO, 2004: 157). A questão é que as manifestações populares associadas às mobilizações dos próprios jornalistas e às pressões dos artistas vinculados à emissora carioca fizeram com que, não só a Globo, mas todas as outras redes de TV mudassem de postura com relação à Campanha das Diretas. Além disso, a não cobertura de um fato como esse poderia ocasionara perda de audiência e de faturamento por parte dos canais. Foi nessa época também que o jornalismo brasileiro se vê amordaçado novamente pela censura. Na véspera da votação da emenda Dante de Oliveira, que tratava do restabelecimento 12 de eleições diretas para presidente da República, o general João Baptista Figueiredo decretou a adoção de medidas de emergência5 no Distrito Federal e em dez municípios de Goiás. Foi determinada a censura prévia às emissoras de rádio e televisão, sendo proibida a transmissão ao vivo de qualquer informação sobre as medidas de emergência e sobre a votação da emenda à Constituição. “O governo argumentava que era sua responsabilidade manter a ordem e a soberania do Congresso Nacional para que este pudesse decidir livremente”. (MEMÓRIA GLOBO, 2004: 162). Após a não aprovação da emenda Dante de Oliveira, era a vez, agora, de as emissoras cobrirem o apoio popular à candidatura de Tancredo Neves na eleição indireta para presidente, via Colégio Eleitoral6. A festa da vitória de Tancredo Neves e, principalmente, as notícias sobre seu falecimento foram consideradas uma das maiores coberturas jornalísticas dessa fase da TV: A festa da vitória de Tancredo celebrada pelas câmeras de TV durou pouco. Um dia antes da posse, Tancredo adoeceu e nos 37 dias de agonia até sua morte, dia 21 de abril, a TV brasileira realizou talvez a mais intensa e extensa cobertura jornalística de sua história, com vários plantões ao vivo. A democracia voltava ao vídeo como espetáculo de festa, dor e esperança. (REZENDE, 2000: 125) Em 1989, outro acontecimento vai marcar a história do telejornalismo no Brasil: a primeira campanha presidencial depois de 29 anos sem eleição direta para presidente. A repercussão da montagem que o Jornal Nacional exibiu do último debate entre os candidatos à presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Fernando Collor de Mello, do Partido da Renovação Nacional (PRN), vai provocar mudanças no jornalismo da Rede Globo. Segundo o livro comemorativo dos 35 anos do Jornal Nacional (2004), a Globo apresentou duas edições do último debate, no dia seguinte à sua realização: uma no Jornal Hoje e outra no Jornal Nacional. O resumo do JN provocou grande polêmica. A Globo favoreceu o candidato do PRN tanto na seleção dos momentos como no tempo dado a cada candidato, já que Collor teve um minuto e meio a mais do que Lula. Esse episódio é relatado por Armando Nogueira, então diretor geral de telejornalismo da emissora, como um caso de ingerência política de setores ligados à candidatura Collor na Globo e, também, como um 5 As medidas incluíam a possibilidade de detenção de cidadãos em edifícios comuns, suspensão da liberdade de reunião e associação, além de intervenção em sindicatos e outras entidades de classe. 6 Instituição criada pelo Regime Militar, composta por deputados federais e senadores, que tinha como função selecionar o presidente da República. 13 caso de insubordinação do diretor de telejornais Alberico Souza Cruz: O episódio representou uma deslealdade de um escalão abaixo da minha direção. Eu tinha um diretor chamado Alberico Souza Cruz que, à minha revelia, juntamente com um editor chamado Ronald de Carvalho, deformou a edição que nós tínhamos exibido no jornal Hoje, versão inclusive aprovada por João Roberto Marinho. Ele telefonou para mim; eu não estava. Telefonou para Alice-Maria para dizer que tinha gostado muito da edição que saiu no Hoje. Então, quando a Alice me contou (eu cheguei do almoço), eu disse: ‘Então vamos reproduzir a edição do Hoje no Jornal Nacional’. Ela passou essa orientação para o Alberico. Eu reforcei para o Alberico. E o Alberico, à minha revelia, mandou fazer alterações, das quais eu só tomei conhecimento no ar. (NOGUEIRA apud MEMÓRIA GLOBO, 2004: 215) Alberico de Souza Cruz negou participação na edição do debate, mas, segundo Rezende (2000), admitiu que julgou correta a edição do Jornal Nacional, porque mostrava que tinha havido um debate em que um ganhou e outro perdeu. Após o caso, Armando Nogueira é afastado e substituído por Alberico Souza Cruz na direção da Central Globo de Jornalismo. Como novo diretor da CGJ, o objetivo de Alberico Souza Cruz é mudar o jornalismo de estúdio, praticado exaustivamente na emissora, por um jornalismo de rua, com entradas ao vivo e muita cobertura externa. Em 1991, durante a Guerra do Golfo, foi possível observar as mudanças. A emissora entrava ao vivo com seus repórteres e enviados especiais de várias partes do mundo. Pedro Bial trazia as informações de diversas capitais do oriente – Bagdá, Tel-Aviv e Riad – da Europa e dos Estados Unidos, Ernesto Paglia, Paulo Henrique Amorim e Rodolfo Gamberini. “[...] o trabalho desenvolvido mostrou que o potencial jornalístico e tecnológico da TV Globo se equiparava ao das grandes redes mundiais de televisão”. (REZENDE, 2000: 130). Ao mesmo tempo, o telejornalismo do SBT avançava. Nomes como Hermano Henning, que era da Globo, e Lilian Witte Fibe foram incorporados à equipe de jornalistas da rede. Em 1991, em uma tentativa de produzir um telejornal que tivesse mais a ver com a emissora, estréia o programa Aqui Agora. Com influências da linguagem radiofônica, o Aqui Agora, versão brasileira do original argentino Nuevediario, usava o recurso do plano- seqüência para dar mais realismo e suspense às histórias que narrava. Seus focos eram as reportagens policiais sobre acidentes graves, assassinatos e crimes em geral, além de fofocas do meio artístico e defesa do consumidor. O programa alcançou altos índices de audiência, mas não tinha o mesmo prestígio que o TJ Brasil, segunda fonte de renda do SBT. Após reação do jornalista Bóris Casoy contra medidas que pretendiam reformular o TJ, ocorre uma 14 cisão dentro do departamento de jornalismo e o TJ Brasil passa a vincular-se diretamente à direção da emissora. O momento agora, na década de 90, era de busca de credibilidade dentro do telejornalismo. Essa credibilidade era buscada na valorização do jornalista como apresentador de notícias, o que daria um fim à figura dos grandes locutores. Em 1996, o jornalismo da Globo, sob o comando de Evandro Carlos de Andrade, promove modificações no Jornal Nacional. Sai os apresentadores-locutores, Cid Moreira e Sérgio Chapelin, e entram os apresentadores-jornalistas William Bonner e Lilian Witte Fibe. De acordo com o crítico de TV Eugênio Bucci apud Rezende (2000), o JN ganhou movimento, rapidez e juventude com as mudanças. Porém, na sua essência, o telejornal continuava com a mesma estrutura melodramática, com direito a happy end e ao governismo de sempre, que ficou “menos solícito, menos oferecido, mais privatista e mais a favor da reeleição (do presidente Fernando Henrique Cardoso)”. (BUCCI apud REZENDE, 2000: 134). As outras redes também buscavam credibilidade. O Jornal da Bandeirantes ganhou o reforço do então correspondente da TV Globo, nos Estados Unidos, Paulo Henrique Amorim. Além de acumular as funções de editor, repórter e apresentador do telejornal, Amorim ganhou um programa semanal nas noites de domingo. Depois de nove anos à frente do TJ Brasil, Bóris Casoy deixa o SBT e estréia no Jornal da Record, em 1997, da Rede Record de São Paulo, emissora do bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal do Reino de Deus. Em outubro do mesmo ano, o jornalista lança o Passando a Limpo, um programa de entrevistas aos domingos, transmitido ao vivo a partir das 10 horas da noite. Mesmo com a uniformização dosconteúdos informativos – a seleção dos assuntos pelos telejornais de rede os deixavam muito semelhantes entre si – o telejornalismo dá um salto qualitativo, na segunda metade da década de 1990. O salto qualitativo dado pelo telejornalismo nos anos 90 é uma razoável demonstração disso: ele se libertou em muitos casos das amarras oficiais, expandiu seu universo temático, encontrou novas formas de tratamento e ganhou até sopros de independência em relação ao empresariado do setor, o que até há pouco tempo era um privilégio parcial de poucos jornais no país, ainda que uma prática relativamente comum nos EUA e na Europa. (HOINEFF apud REZENDE, 2000: 137). Esse aumento da qualidade do telejornalismo brasileiro também ganhava ecos na televisão por assinatura. No dia 15 de outubro de 1996, a Rede Globo lança o primeiro canal exclusivo de notícias, 24 horas no ar: a Globo News. Sob o slogan “a vida real em tempo real” (PATERNOSTRO, 1999: 43), o canal combina agilidade com aprofundamento da notícia, 15 tentando cobrir as limitações que as grades das emissoras abertas impõem. No começo, era comum a reapresentação dos noticiários da Globo – Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional, Fantástico, Globo Repórter. As produções eram realizadas por um grupo de 166 profissionais e toda a estrutura da Central Globo de Jornalismo, da qual a Globo News é uma divisão, foi aproveitada. O sinal do novo canal era distribuído apenas pelo sistema de TV a cabo Net-Multicanal, mas depois foi se estendendo aos demais assinantes, substituindo a CNN, o canal norte-americano pioneiro em programação exclusivamente jornalística. Velhos e novos formatos de programas eram experimentados na Globo News à medida que o canal crescia. O Em Cima da Hora é o noticiário de hora em hora que apresenta notícias do Brasil e do mundo, ao vivo. O Jornal das Dez é o Jornal Nacional do canal, porém, além de noticiar, ele comenta, explica e aprofunda os assuntos através de entrevistas e debates. Apresentado às 10 horas da noite, ele é o único telejornal da TV brasileira que vai ao ar todos os dias da semana. Outros jornalísticos também se destacam na grade da Globo News: Espaço Aberto, programa de entrevistas com temas específicos; Via Brasil, uma espécie de documentário e Conta Corrente, com informações sobre economia. Seguindo a experiência aberta pela Globo News, em novembro de 1996, a Rede Globo, juntamente com a Rede Brasil de Notícias (RBS), lançam o Canal Rural – primeiro veículo televisivo destinado exclusivamente ao universo agropecuário. Com investimentos que chegam aos 15 milhões de dólares, o canal traz técnicas de agricultura e novidades agrárias do ramo, além dos leilões transmitidos ao vivo. (REZENDE, 2000). O crescimento das TV’s por assinatura no país refletiu de forma direta na queda da audiência dos programas da televisão aberta. Para Bucci apud Rezende (2000), as alterações nos índices de audiência eram um fenômeno mundial causado pelas inúmeras opções de entretenimento e de informação proporcionadas pelas novas tecnologias. “Por levantamento em boletins do Ibope, a Folha de S. Paulo verificou um declínio progressivo de público da Globo de 1989 até 1994. O Jornal Nacional, por exemplo, teria perdido, nesse período, 23 pontos de audiência, caindo de 60 para 37”. (FOLHA DE S. PAULO apud REZENDE, 2000: 139). Fenômeno ou não, a queda da audiência do Jornal Nacional demonstrava sinais da modernidade, que não permitia mais que um único telejornal permanecesse eternamente com 70 pontos de audiência diante das opções de canais e programas que haviam sido abertas no decorrer das décadas de 80 e 90. Além disso, o modo de se fazer telejornalismo na Globo – acrítico e governista – deveria mudar. E mudou. 16 Acontece que o telejornalismo da Globo hoje atravessa a melhor fase de sua história (desde a abertura democrática). O Padrão Globo de Qualidade Jornalística (se é que existe) embora ainda esteja longe de satisfazer as novas necessidades de contextualização e continuidade, está no caminho certo para lá chegar. Matérias mais longas, mais esclarecimentos, mais reportagens (em lugar da controvérsia apenas), mais serviço público, mais defesa do consumidor, mais internacional, mais densidade, mais crítica [...] A verdade é que o Jornal Nacional mudou para melhor. Se, com isto, desfez-se daqueles telespectadores que não sabem onde fica a Bósnia e de Ruanda só querem as imagens macabras, é problema dos que apostam na desinformação. (DINES apud REZENDE, 2000: 140) Um fato marcou essa mudança na linha editorial do JN: a reportagem sobre tortura policial em Diadema, na Grande São Paulo. As imagens de um cinegrafista amador, de acordo com Rezende (2000: 140), quebravam de vez “toda a rigorosa assepsia visual estabelecida durante anos” na Globo. Para José Marques de Melo apud Rezende (2000: 141), ao evidenciar esse retrato do cotidiano das camadas mais pobres da população, a emissora demonstrava “sinais de vitalidade”, libertava-se do estigma de rede oficialista e atendia “aos anseios da sociedade civil”. As mudanças no jornalismo, porém, não permaneceriam por muito tempo, pelo menos no Jornal Nacional. Em 1998, Lilian Witte Fibe, que dividia a bancada com William Bonner, deixa o JN devido ao “seu baixo grau de empatia junto à audiência e sua insatisfação com a linha editorial do telejornal, mais afeita a uma concepção amena de jornalismo”. (CAMACHO, SANCHES e LEITE apud REZENDE, 2000: 142). A jornalista Fátima Bernardes é escalada para apresentar o JN ao lado do marido, Bonner. O “jornal família” voltado para a família brasileira trocava as notícias mais importantes por “reportagens lacrimosas, curiosidades do mundo animal, ou intermináveis inventários sobre a vida de celebridades”. (VEJA apud REZENDE, 2000: 142). Ao mesmo tempo, o telejornalismo das outras emissoras também sofria modificações. O SBT, após tirar do ar o Telejornal Brasil, em dezembro de 1997, cria uma espécie de joint venture7 com a rede de TV norte-americana CBS e lança o Jornal do SBT – Telenotícias CBS, que veiculava um noticiário nacional, sob o comando do jornalista Hermano Henning, e um internacional, transmitido diretamente de Miami pelo casal de apresentadores Eliakim Araújo e Leila Cordeiro. Além disso, a emissora mantinha um informativo local, o Noticidade e os boletins Notícias de Última Hora. Em 1999, é o Jornal da Band, da Rede Bandeirantes, que sofre mudanças. Paulo Henrique Amorim é afastado do telejornal pela direção da emissora. Segundo o jornalista Tão 7 Tipo de associação entre empresas, não definitiva, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. 17 Gomes Pinto apud Rezende (2000: 143), Amorim havia cometido dois erros: querer enfrentar o Jornal Nacional e tentar fazer um jornalismo de “alta densidade na discussão de assuntos econômicos e políticos”. Meses depois de sua saída, Paulo Henrique Amorim vira âncora da TV Cultura de São Paulo. Depois de uma década, a de 90, em que oscilações na audiência levaram a experimentações nem sempre bem sucedidas, o telejornalismo brasileiro entra os anos 2000 com novos protagonistas na disputa pelo público. Em 2004, o Jornal Nacional completa 35 anos e se consolida cada vez mais como o primeiro no Ibope e no faturamento. Segundo Lima apud Veja (2004: 105), a média de audiência do JN de janeiro a agosto de 2004 é de 43 pontos – a maior desde 1997 – o que equivalem a 63% dos aparelhos ligados, ou 31 milhões de espectadoresa casa minuto. O programa tem o espaço publicitário mais caro da TV no país. Um comercial de 30 segundos custa de 250 mil a 350 mil reais. “Isso faz com que a Globo contabilize 2,6 milhões a cada vez que seus apresentadores dizem ‘boa noite’”. Devido à concorrência acirrada com a Rede Record, em fevereiro de 2006, o JN corta do telejornal seus três comentaristas. Arnaldo Jabor, que fazia crônicas políticas fica restrito ao Jornal da Globo. Franklin Martins, responsável pelas análises políticas passa a fazer suas intervenções no Jornal Hoje e também no Jornal da Globo. E Chico Caruso, responsável pelas charges, ganha um quadro no Fantástico, apenas. Segundo a Rede Globo8, as mudanças não têm a ver com o crescimento da concorrente, mas sim com o fato de o público do Jornal Nacional, muitas vezes, não entender que as análises são uma opinião dos colunistas e não do telejornal. A linguagem do programa ganha mais agilidade e torna-se mais coloquial. Na tentativa de restabelecer novamente seu departamento de jornalismo, o SBT começa a contratar jornalistas reconhecidos nacionalmente. Da Globo, a emissora de Sílvio Santos “rouba”, em 2005, uma de suas principais jornalistas: Ana Paula Padrão. Da Bandeirantes, em 2006, Carlos Nascimento – que já havia trocado a emissora carioca depois de anos à frente do Jornal Hoje. Ana Paula Padrão seria responsável por formar uma equipe que montaria o novo telejornal da rede, o SBT Brasil. Em meio a constantes mudanças de horário do jornal devido à queda da audiência, em 2006, a jornalista deixa o SBT Brasil e fica encarregada de produzir o SBT Realidade, programa com reportagens especiais, sobre comportamento, cultura e turismo, produzidas no Brasil e no exterior. Carlos Nascimento passa a comandar, junto com Cynthia Benini, o SBT Brasil, que ganhou um tom mais descontraído com a participação ao vivo de telespectadores, por telefone, e informação da hora certa. Passa também, a apresentar 8 <http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=3028> acesso em 12/10/2007 18 o Jornal do SBT, jornalístico do fim da noite. Na busca pelo segundo lugar entre as redes abertas do Brasil – e querendo desbancar a Globo do primeiro – a Rede Record adota como norma reproduzir a estética da concorrente, do jornalismo ao entretenimento, e comprar profissionais da emissora carioca. Em janeiro de 2006, o Jornal da Record (JR) é totalmente reformulado. Após não concordar com o novo projeto de telejornal da emissora, o jornalista Bóris Casoy sai da Record e a apresentação do jornal fica a cargo de dois ex-globais: Celso Freitas e Adriana Araújo. Além dos apresentadores, a emissora paulista contrata vários profissionais da Globo, entre repórteres, editores e cinegrafistas. O novo JR é considerado um “clone” do JN. Mas não são só apresentadores que vão dar cara de Globo para o "Jornal da Record". O novo cenário é uma cópia do "JN", apesar de a emissora falar oficialmente que a "inspiração" veio de telejornais norte-americanos. Até a Redação ao fundo, que virou marca do "Jornal Nacional", estará no "JR". São poucas as mudanças, como a cor da bancada e a posição dos apresentadores. Dá até para brincar de procurar as diferenças (MATTOS, 2006) Em 2007, a Record consegue atingir o segundo lugar na audiência entre as TV’s abertas, desbancando o SBT. No dia 27 de setembro, a emissora estréia mais um projeto de expansão do seu jornalismo: a Record News, primeiro canal exclusivo de notícias 24 horas da TV aberta. O canal passou a ocupar o lugar da Rede Mulher, transmitida em São Paulo em UHF9. A medida provocou reações da Globo. Segundo Castro (2007), a rede estuda a possibilidade de abrir o sinal da Globo News para concorrer com a Record. 9 Ultra High Frequency. Tipo de frequência da TV aberta. 19 1.2 – História da Rede Globo A TV Globo foi ao ar no Rio, pela primeira vez, em 26 de Abril de 1965, pouco mais de um ano após o golpe militar. Criada pelo jornalista Roberto Marinho, que havia assumido a direção do jornal O Globo, em 1931, logo após a morte do pai, a primeira concessão de TV foi obtida em 1957 do presidente Juscelino Kubitscheck, cujo governo ele apoiava. A segunda, do presidente João Goulart, cujo governo ele ajudou a derrubar. Com uma programação popular – nomes como Chacrinha, Dercy Gonçalves, Raul Longras e Sílvio Santos faziam parte da sua grade – a expansão da TV Globo se efetiva quando Roberto Marinho assina um contrato de colaboração com o grupo norte-americano Time-Life e passa a receber aportes financeiros, que chegaram a um total de 5 milhões de dólares, além de pessoal especializado e equipamentos sofisticados. O acordo, na época, ia contra a lei brasileira na medida em que dava a uma empresa estrangeira interesses em uma empresa nacional de comunicações. Mas foi decisivo para que a Globo realizasse uma revolução técnica, gerencial e artística na televisão brasileira. A partir de 1966, a emissora carioca parte para a implantação do sistema de network, comprando ou contratando emissoras pelo país – as afiliadas – com o objetivo de expandir seu sinal. É nessa mesma época que se constitui a Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações. “A Embratel interliga o Brasil através de linhas básicas de microondas – rotas – e adere ao consórcio internacional para utilização de satélites de telecomunicações – o Intelsat. Estava criada, então, a estrutura para as redes nacionais de televisão” (PATERNOSTRO, 1999: 31). Nos primeiros oito meses de funcionamento, a Rede Globo era um fracasso. Grande parte das inovações inseridas na grade de programação e na forma de produção dos programas foi obtida graças à contratação de profissionais da TV Excelsior, de São Paulo, cuja concessão é cassada pelo Governo Militar em 1970. É nessa época que Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, são levados para a emissora e começam a construir o que seria chamado de “Padrão Globo de Qualidade”. Este padrão é estabelecido com a chamada "grade fixa", tanto na vertical (seqüência dos programas no dia), quanto na horizontal (respeito à seqüência ao longo dos dias da semana), em que o horário nobre é preenchido com duas novelas de boa qualidade, intercaladas por um telejornal curto e sintético, mais uma novela de boa qualidade (a das oito) e depois a linha de shows, filmes e jornalísticos como o Globo Repórter, sempre com bastante regularidade de horário e programação. 20 Foi seguindo esse estilo de produção que a TV Globo lançou, no dia 1 de setembro de 1969, o primeiro programa em rede nacional: o Jornal Nacional (JN). Produzido no Rio de Janeiro e transmitido simultaneamente, ao vivo, para São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Brasília, o JN foi o primeiro telejornal a apresentar reportagens em cores e internacionais via satélite no instante em que os fatos ocorriam. De acordo com Lins da Silva apud Carvalho (2006), o JN inaugurou um novo estilo de jornalismo na TV brasileira. Primeiro, por iniciar a era do jornal em rede, inédito no país. Depois por consolidar um modelo de tempo da notícia onde o fato imediato é valorizado e a obsessão pelo o que ocorre “agora” é tão grande que impede o aprofundamento de informações que ajudariam o espectador a localizar-se, sem a necessidade de assistir ao telejornal todos os dias, como se este fosse uma telenovela. Terceiro, porque com o objetivo de construir um modelo de apresentação “requintado e frio, pretensamente objetivo” (CARVALHO, 2006: 9), consagrou um estilo onde o locutor, formal edistante, interagia com a rigidez do cenário e com uma grande quantidade de videoteipes e efeitos especiais. Quarto, pela grande quantidade de assuntos abordados, com escritórios no exterior e repórteres em todos os Estados. E, finalmente, por “ter-se transformado no principal e, na maioria dos casos, único meio de informação dos brasileiros”. O “Padrão Globo de Qualidade” seria decisivo para a conquista da liderança da audiência, pois, no final da década de 1970, as duas grandes redes, Record e Tupi, enfrentavam uma enorme crise financeira e, com seus equipamentos sucateados, não tinham condições de competir com a tecnologia da Globo. Além disso, a emissora foi peça fundamental para os governos militares, principalmente os governos de Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1979), que tentavam uma política cultural de integração nacional. Tal política tinha na TV uma grande aliada nessa integração via unificação da linguagem, do consumo e, principalmente da ideologia. Em 1972, o então presidente Médici inaugurou a televisão em cores em um grande festival, dizendo: “Sinto-me feliz todas as noites quando assisto o noticiário. Por quê? Porque no noticiário da TV Globo o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz […] É como tomar um calmante após um dia de trabalho […]”. (MELLO apud ALVAREZ, 2007). Após investigações parlamentares, que concluiu que o acordo da Time-Life com a Globo era ilegal, a parceria foi dissolvida em 1969. Roberto Marinho ficou com o controle total da emissora, enquanto suas concorrentes – Tupi e Excelsior – continuaram em lento declínio. Em 1977, Walter Clark, naquela época o executivo mais bem pago da América Latina, é demitido. Clark foi substituído por Boni, então controlador de programação. Foi 21 nesse ano também que toda a programação da emissora passa a ser em cores. Animada com o sucesso do Jornal Nacional – em 1979 ele alcançava a marca de 79,9% da audiência nacional – a Globo começa a investir pesado no telejornalismo, sob uma perspectiva mercadológica, em busca de recursos publicitários. Em 1971, ela lança o Jornal Hoje, na hora do almoço. Em 1979, ano em que a rede comemorou o seu 14º aniversário, estreou o Jornal da Globo. Um noticiário de fim de noite com análises, grandes reportagens, séries e entrevistas de estúdio. Em 1973 é criado o Fantástico – o Show da Vida, um programa que mistura jornalismo e entretenimento veiculado nas noites de domingo. No mesmo ano surge o Globo Repórter que, pela linguagem do documentário, tratava de certos temas com profundidade, o que não era possível nos telejornais, especialmente no JN. Em 1977, a emissora cria um telejornal em um horário pouco convencional, no início da manhã, o Bom Dia São Paulo, que seria a semente para outros programas congêneres nas emissoras afiliadas à rede nos demais estados do país, com uma abordagem regional, e para o Bom Dia Brasil, em 1983. (REZENDE, 2000: 118). A década de 70 marcou também a hegemonia da Rede Globo na produção de telenovelas, que são vendidas atualmente para mais de 30 países. Novelas de inúmeros gêneros: comédias, românticas, atuais e de época, ambientadas no Rio de Janeiro, em São Paulo, no campo, no litoral, em todos os estados brasileiros e até no exterior. A Globo criou e definiu um modo narrativo que é seguido por ela e por outras emissoras até hoje: As narrativas são movidas por quatro oposições (de classe social, gênero, geração e região geográfica) agrupadas em torno das categorias genéricas de “tradicional” e “moderno”, categorias presentes na teoria social e no discurso político e cultural dos anos 50 e 60, e popularizadas pelas telenovelas. (HAMBURGER, 2003: 126) A fórmula de sucesso da emissora está fortemente ancorada nas novelas que sempre tiveram uma certa rigidez quanto ao horário de veiculação e roteiro: por volta das seis da tarde uma história simples; as sete uma comédia; e, no ápice, a novela das oito – que vai ao ar às 21 horas –, com um enredo mais intrigante e elaborado. No intervalo dessas atrações, outra coisa também é rígida. Entre a novela das seis e das sete, o noticiário local. E, enquanto aguarda o entretenimento principal, o telespectador assiste as notícias pelo Jornal Nacional. (SCANAVACHI e OLIVEIRA FILHA, 2007: 02). 22 Desde a sua criação, a TV Globo tratava de ganhar a audiência sob a filosofia de que ela era um hábito. Assim, não interessava ter apenas alguns programas bem colocados, era preciso tomar a liderança de audiência em qualquer horário para criar esse hábito. A comunicação da Globo envolve as chamadas para programas, aberturas e vinhetas, até campanhas de utilidade pública, boletins da programação e, claro, a programação visual que identifica e personaliza a imagem. A identidade visual é tão importante para a TV quanto é fundamental o espectador criar afeto pelo veículo, funcionando como elemento de personalização. Ela transmite ao telespectador todo o clima do veículo, de forma única e exclusiva, com intensidade suficiente para motivá-lo a permanecer fiel. O “modo de produção” de televisão imposto pela Globo é tido no Brasil como “modo natural” de a televisão existir. Tamanha é a eficácia dessa empresa que sua existência anômala, se confrontada inclusive com a limitada legislação vigente, não é sequer questionada. Mesmo sendo uma empresa montada inconstitucionalmente pelo capital estrangeiro. Mesmo concentrando, graças a favores e privilégios governamentais, impressionante poder tecnológico e econômico. Mesmo que atue, submetendo a cada minuto, o interesse social ao interesse privado-comercial. [...] Mesmo concentrando nas mãos de um único empresário um fantástico poder político, às custas da execução de um serviço público. (HERZ apud CARVALHO, 2006: 09). Atualmente, a Rede Globo de Televisão conta com uma mega estrutura. Cerca de 17 mil funcionários10, abrangência em 98,53% do território nacional, atingindo 5.482 municípios brasileiros e 99,47% da população11. Ela produz cerca de 90% de programas próprios e é a quarta maior rede de televisão privada do mundo, perdendo apenas para as gigantes norte- americanas: CBS, NBC e ABC. Ela é o centro de um império que abrange mais de quarenta empresas atuando em diversos setores da economia. Só a Rede Globo – que inclui 5 emissoras totalmente de sua propriedade e 121 emissoras afiliadas – tem uma receita anual estimada em 5 bilhões de reais12. A sede da Central Globo de Produção (CGP), inaugurada no Rio de Janeiro em outubro de 1995, ostenta hoje o título de maior centro de produção da América Latina. Lá, estão disponíveis infra-estrutura, tecnologia e processos de produção para realizar todos os programas da Rede Globo. A unidade ocupa 1,65 milhão de metros quadrados em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio – sendo 156 mil metros quadrados de área construída. 10 Dados extraídos da Revista Carta Capital – 28 de março de 2007, nº 437, p. 38. 11 Os dados foram extraídos da página institucional da Rede Globo: <http://redeglobo.globo.com/TVG/0,,9648,00.html> acesso em 25/10/2007 12 Dados extraídos da Revista Carta Capital – 28 de março de 2007, nº 437, p. 38. 23 1.3 – História dos Quatro Principais Telejornais da Rede Globo 1.3.1) BOM DIA BRASIL O Bom Dia Brasil (BDB) é o primeiro telejornal nacional do dia exibido pela Rede Globo no início das manhãs, às 7h15min, de segunda a sexta-feira. Apresentado por Renato Machado e Renata Vasconcellos, o programa possui quase 40 minutos de duração, sem os intervaloscomerciais, e traz comentários com a repercussão e análise dos fatos e por vezes entrevistas. O BDB nasceu no dia 3 de janeiro de 1983. Ele surgiu da idéia do Bom Dia São Paulo, um telejornal no início da manhã com abordagem regional. Foi apresentado inicialmente pelo editor-chefe Carlos Monforte e pela jornalista Leilane Neubarth. A proposta era ser um noticiário de 30 minutos, essencialmente político e econômico, transmitido diretamente do centro de onde são tomadas as decisões do país: Brasília. Em março de 1996, Renato Machado passa a fazer par com Leilane Neubart na apresentação do telejornal, que ganha o formato de tele-revista. Em outubro de 2001, o programa ganha um cenário descontraído, ambientado com sofás e mesa, no estilo de uma sala de estar, onde os apresentadores fazem comentários e entrevistas e conversam com os colunistas do jornal. Desde o começo, o BDB teve o cuidado de não repetir meramente as notícias do dia anterior, mas mostrar os fatos com atualidade e antecipação. Essa proposta, aliás, mantém-se até hoje, o que torna o Bom Dia Brasil um telejornal de furos e idéias, que sempre analisa as notícias através de entrevistas e dos comentaristas13. Em dezembro de 2002, Leilane Neubarth deixa o jornal e o Bom Dia Brasil passa a ser ancorado pelos jornalistas Renato Machado, que exerce a função de editor-chefe, e Renata Vasconcellos. Cláudia Bomtempo, que apresenta as notícias de Brasília e Mariana Godoy, que fica em São Paulo, são as apresentadoras e editoras responsáveis pela cobertura das duas praças. Também participam do telejornal, quase que diariamente, os colunistas Alexandre Garcia, com comentário político, Miriam Leitão, analisando a economia nacional e mundial, e Tadeu Schmidt, com as notícias de esporte. Quinzenalmente, a jornalista Sandra Moreira fala sobre gastronomia na coluna “Arte na Mesa”. O jornal também conta com a participação de Michelle Loreto, responsável pela previsão do tempo. 13 Extraído do vídeo “O Telejornal e a sua Linguagem”, trabalho do programa de pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, ministrado pela professora doutora em telejornalismo Soraya Maria Ferreira Vieira em 2003. 24 Atualmente, o Bom Dia Brasil tem uma média mensal no Ibope14 nacional de 8,08 pontos15. Sendo 49% do público formado por mulheres e 51% por homens. Desse total, 37% são das classes A e B e 36% da classe C16. A maioria dos telespectadores, 66%, tem mais de 35 anos. Uma das características do telejornal é a dinâmica. Isso o torna atrativo, com uma mistura de estilos que faz com que o telespectador que está acordando mantenha-se concentrado e interessado pelo programa17. 1.3.2) JORNAL HOJE O Jornal Hoje (JH) é o jornalístico do horário do almoço da Rede Globo. Apresentado pelos jornalistas Sandra Annenberg e Evaristo Costa, ele entra no ar às 13h15m logo após o Globo Esporte, o telejornal esportivo da rede. O JH tem duração média de 20 minutos, sem os intervalos comerciais, e é transmitido de segunda a sábado. O Jornal Hoje é um dos mais antigos telejornais da Globo. Entrou no ar pela primeira vez em 21 de abril de 1971. Léo Batista e Luís Jatobá foram os primeiros apresentadores do jornal que nasceu como uma revista diária, com matérias sobre arte, espetáculos e entrevistas. Inicialmente era restrito ao Rio de Janeiro, de onde herdou o horário do extinto Show da Cidade. Em 03 de junho de 1974, o Jornal Hoje passou a ser exibido em todo o território nacional. Telespectadores de todo o Brasil passaram a assistir a sessão de moda de Cristina Franco, a conhecer as previsões dos astrólogos para o dia, a aprender deliciosas receitas e a estar informados sobre os principais fatos do país e do mundo. Dono de um estilo inovador, segundo o site do telejornal18, o Hoje contava com as 14 Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística responsável por pesquisas em vários ramos, inclusive pela medição da audiência das TV’s no Brasil. 15 Cada ponto de ibope equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP 16 Para calcular o nível econômico das pessoas entrevistadas em pesquisas quantitativas é utilizado o CCEB (Critério de Classificação Econômica Brasil). Desenvolvido pela ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), o CCEB estima o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, mas não pretende classificar a população em classes sociais. A divisão de mercado proposta pelo estudo é exclusivamente de classes econômicas, segundo o poder de compra e não de acordo com a renda familiar. O CCEB separa os consumidores em classes econômicas A, B, C, D e E. A divisão é feita por meio de pontuação obtida pela posse de determinados bens e pelo grau de instrução do chefe de família, em pesquisa feita no domicílio por técnicos. Com mais de 30 pontos, a família está na classe A (tem renda média mensal familiar entre R$ 4.600,00 e R$ 7.700,00). Entre 17 e 24 pontos, cai para a B (tem renda média familiar maior que R$ 1.669,00). Entre 11 a 16 pontos, está na classe C (com renda mensal de R$ 927,00). Entre 6 a 10 pontos pertence à classe D (renda média familiar de R$ 424,00) e menos que 5 pontos está na classe E (com renda média familiar de R$ 207,00). 17 Extraído do vídeo “O Telejornal e a sua Linguagem”, trabalho do programa de pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero, ministrado pela professora doutora em telejornalismo Soraya Maria Ferreira Vieira em 2003. 18 <http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18510,00.html> acesso em 17/09/2007. 25 crônicas de Rubem Braga, que relatavam as peculiaridades do cotidiano brasileiro. Trazia o jornalista e compositor Nelson Motta, que mostrava as novidades e as tendências de vários ritmos musicais. E dava espaço a Rubens Ewald Filho, que deixava o telespectador em dia com as produções exibidas nas telas do cinema. Pode-se dizer que a fórmula adotada no telejornal trouxe boas conseqüências. O olhar feminino sobre o noticiário, que teve como apresentadoras Sônia Maria, Ligia Maria e Márcia Mendes seria o ponto de partida para o TV Mulher. E o jeito novo de entrevistar, com a "invasão" à casa do artista, sugeriu quadros como os vistos no Vídeo Show, programa da Globo exibido logo após o JH que mostra os bastidores da TV. Foi também no Hoje que apareceram pela primeira vez repórteres sem gravata e com cabelos compridos. Longe dos tempos dos computadores e da tecnologia eletrônica, trabalhava-se muito na base do improviso. Dividido em editorias, o jornal era comandado por três apresentadores que ocupavam estúdios no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília. Mas repórteres de outras capitais começaram, também, a participar do Hoje. De acordo com a página na internet do JH19, as entrevistas, que se tornariam a marca do jornal, revelavam inquietações, êxitos, fracassos e planos das mais diversas personalidades do Brasil. O sofá de Leda Nagle, onde se sentaram nomes como Carlos Drummond de Andrade, Pelé, Caetano Veloso e Tom Jobim, transformou-se muitas vezes em divã. Em 1981, o Jornal Hoje ganhou um cenário diferente, com traços mais modernos e avançados. Um espaço reservado para matérias de turismo levava o telespectador a lugares pouco conhecidos e a paraísos ecológicos20. Pessoas famosas no país expunham seu lado engraçado e descontraído na coluna Gente. As entrevistas ganharam as ruas e Pedro Bial deixou os estúdios para ir ao encontro dos entrevistados. Em 1991, o telejornal, apresentado por Valéria Monteiro e Márcia Peltier, sofreu novas mudanças em seus cenários e em seu formato. Segundo seu editor-chefe na época, EdsonRibeiro, o jornal deveria ter 90% de notícias de atualidade, com repórteres ao vivo sempre que possível21. Ainda naquele ano, Cristina Franco passou a apresentar o quadro Você, no qual mostrava especialistas que falavam a respeito de beleza. Outra modificação foi a criação de um bloco de cultura, com Maurício Kubrusly trazendo os lançamentos de cinema e shows. A 19 <http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18512,00.html> acesso em 17/09/2007. 20 <http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18514,00.html> acesso em 17/09/2007. 21 < http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18516,00.html> aceso em 17/09/2007. 26 correspondente, Beth Lima, direto de Londres, fazia entrevistas com personalidades de diversos países. Segundo informações do site do jornal, durante toda sua trajetória, o Hoje acompanhou as grandes conquistas, as grandes tragédias e os principais fatos do Brasil e do mundo. Sob o comando de Willian Bonner, Fátima Bernardes e Mônica Waldvogel, registrou as transformações da economia e da política do país22. O jornal foi ganhando agilidade com mudanças tecnológicas, como a substituição do filme pelo vídeo. A geração via satélite trouxe a possibilidade de estar em todas as partes do planeta. E foi muitas vezes pressionado pelos acontecimentos. Por coberturas que começaram – e ainda começam com o jornal prestes a entrar no ar. Sandra Annenberg passou a apresentar o Jornal Hoje em 1998, ainda no Rio de Janeiro. Em 1999, o telejornal mudou de endereço e começou a ser transmitido dos novos estúdios da Rede Globo, em São Paulo. Com a transferência de Sandra Annenberg para Londres, como correspondente internacional, em outubro de 1999, Carlos Nascimento assumiu os postos de apresentador e editor-chefe. Em agosto de 2001, o Jornal Hoje saiu dos estúdios e passou a ser exibido direto da redação. Carlos Nascimento deixou o cargo de editor-chefe para se dedicar à função de âncora, junto com Carla Vilhena. Em janeiro de 2003, nova mudança: Carlos Nascimento e Sandra Annenberg passam a apresentar o telejornal juntos. O JH muda a linguagem e o conteúdo para resgatar sua vocação, que é de um telejornal-revista. Assim, voltam as entrevistas especiais, gravadas e ao vivo; os grandes temas de comportamento humano, social e ético ganham destaque, bem como as reportagens sobre arte e cultura em todo o Brasil; e a linguagem se torna cada vez mais coloquial23. Em fevereiro de 2004, nova mudança na apresentação do JH: Evaristo Costa, o "moço do tempo", passa a ser o par de Sandra Annenberg na bancada. Mas o formato não muda. O JH continua buscando uma forma de fazer revista na TV. Atualmente, o Jornal Hoje possui uma média mensal no Ibope de 14 pontos de audiência24. 1.3.3) JORNAL NACIONAL O Jornal Nacional (JN) é o telejornal do horário nobre da Rede Globo. Assistido 22 <http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18517,00.html> acesso em 17/09/2007. 23 <http://jornalhoje.globo.com/JHoje/0,19125,3065-p-18518,00.html> acesso em 17/09/2007. 24 < http://resumododia.wordpress.com/?s=%22Jornal+Hoje%22> acesso em 20/11/2007. 27 diariamente por 31 milhões de brasileiros, ele é apresentado pelo casal William Bonner e Fátima Bernardes. Levado ao ar às 20h15m, de segunda a sábado, com duração média de 35 minutos, sem os intervalos comerciais, ele mantém sintonizados nas suas notícias 68% dos televisores, por isso é considerado o jornal mais importante da emissora25. Dia 1 de setembro de 1969 ia ao ar, pela primeira vez, o primeiro programa em rede do país: o Jornal Nacional, que era gerado no Rio de Janeiro e retransmitido para todas as emissoras da rede. Hilton Gomes e Cid Moreira foram os primeiros apresentadores do telejornal. Segundo informações do site do jornal26, Hilton Gomes abriu a primeira edição do JN anunciando: “O Jornal Nacional, da Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o país”. Mais tarde, Cid Moreira encerraria assim: “[...] É o Brasil ao vivo aí na sua casa. Boa noite”. Em pouco tempo, o JN conseguiu se transformar no noticiário brasileiro mais assistido do país, alcançando altos índices de audiência. Em 1972, forma-se a dupla que por mais tempo apresentou o JN até hoje: Sérgio Chapelin, que substituiu Hilton Gomes, e Cid Moreira. Apenas nessa primeira fase, foram 11 anos consecutivos no ar. Em 1977, Glória Maria é a primeira repórter a entrar no ar, ao vivo. Mostrando o movimento de saída de carros do Rio de Janeiro no fim de semana, ela estréia os equipamentos portáteis de geração de imagens. No ano seguinte o Jornal Nacional promove mudanças com a utilização de novas tecnologias. O filme 16mm começa a ser substituído com a instalação da ENG (Eletronic News Gathering), que permite a edição eletrônica do vídeo-teipe. A edição em VT dá mais rapidez à operação do telejornalismo que, até então, perdia muito tempo com a revelação do filme. Cinco anos mais tarde, Celso Freitas assume a apresentação do JN, substituindo Chapelin na dupla com Cid Moreira. Mas em maio de 1989, Sérgio Chapelin retorna ao telejornal, refazendo a dupla com Cid Moreira. O Jornal Nacional estréia nova abertura e novo cenário. A logomarca JN deixa de ter moldura e passa a tomar todo o fundo do cenário. Em 1991, pela primeira vez na história uma guerra é transmitida ao vivo pela TV. O JN mostra, em tempo real, as imagens da Guerra do Golfo. Em 1994, o jornalístico global completa 25 anos. Pela primeira vez, uma cobertura de Copa do Mundo é ancorada ao vivo do país sede, os Estados Unidos. Carlos Nascimento apresentou as reportagens e informações sobre a seleção brasileira direto das cidades onde jogava a seleção. Dois anos depois, o diretor da Central Globo de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, promove uma grande mudança 25 Dados extraídos da revista Veja – 1 de setembro de 2004, edição 1869, p. 101. 26 <http://jornalnacional.globo.com/Jornalismo/JN/0,,3578,00.html> acesso em 17/09/2007 28 no Jornal Nacional: Cid Moreira e Sérgio Chapelin passam a bancada para William Bonner e Lillian Witte Fibe27. O ano de 1998 marca a chegada de Fátima Bernardes na apresentação do JN. Ela substitui Lillian Witte Fibe, que deixou o jornal por causa do seu baixo grau de empatia com o público e devido a sua insatisfação com linha editorial adotada pelo JN (CAMACHO, SANCHES e LEITE apud REZENDE, 2000: 142). Forma-se, então, com o marido Willian Bonner, a dupla que está no ar até hoje, dando uma cara de “jornal família” ao programa. Em 2000, o jornal sai do estúdio e passa a ser apresentado de dentro da redação. O telespectador pode ver a equipe envolvida na realização do jornalístico, tanto na abertura quanto no início e fim de cada bloco. Um conceito que, segundo o site do JN28, “leva para dentro da casa do público a própria redação do Jornal Nacional”. Em 2001, o JN é indicado para o Prêmio Emmy, o Oscar da TV mundial, com a cobertura dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Naquele dia, sete em cada dez famílias brasileiras estavam sintonizadas no Jornal Nacional. Também nesse ano, o programa conquista o Prêmio Esso de Jornalismo, na estréia da categoria telejornalismo, com o trabalho “Feira das Drogas”. É ainda o ano de estréia do site do jornal. Em 2002, na cobertura da Copa do Mundo, Fátima Bernardes apresenta o telejornal ao vivo da Coréia do Sul e do Japão, longe de cenários de TV e perto da seleção brasileira. Na cobertura das eleições de 2002, o JN promove, pela primeira vez na história, rodadas de entrevistas,
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