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Revista Terêncio, v. 01, n. 02, 2023 - a202302015 BIOCOMBUSTÍVEL VS. COMBUSTÃO: A DISPUTA PELA SUPREMACIA NO FUTURO DA MOBILIDADE Sustentabilidade versus eficácia: o conflito na escolha de combustíveis no mercado contemporâneo Anna Victória Pereira Pavan Larissa Bernardinelli Malacrida Mirela Soto Oliveira Curso de Engenharia Centro Universitário FEI Palavras-chave: sustentabilidade; biocombustíveis; motor a combustão A mobilidade, correlacionada ao meio ambiente e ao mercado, sempre foi palco de discussão. De início foi de preferência o combustível que tivesse maior eficiência, sendo um motor que funcionava com a queima de gases, idealizado pelo engenheiro Jean Joseph em 1858. Já August Otto, um físico e engenheiro, desenvolveu o primeiro motor a combustão pela queima de gasolina. Devido a essa evolução, os primeiros motores funcionavam em dois tempos, porém, logo depois os motores de quatro tempos surgiram. O primeiro é a admissão para misturar ar e gasolina no cilindro; o segundo é a compressão que comprime a mistura da primeira etapa; o terceiro é a combustão, onde a vela solta uma faísca que detona a mistura; por último, o quarto é a exaustão que libera os gases resultantes do processo. Graças ao sucesso desse método de transformação de energia térmica em mecânica, até hoje a grande maioria dos meios de transporte funciona com base desse mecanismo. A evolução desse método veio a fim de reduzir os impactos ambientais provocados pela queima em massa de combustíveis altamente poluentes como a gasolina e também graças à explosão do preço da gasolina. As grandes vantagens dos novos combustíveis desenvolvidos são o caráter renovável e a baixa taxa de poluição ambiental. Isso foi fator determinante para o investimento nessa área, já que a altíssima taxa de Revista Terêncio, v. 01, n. 02, 2023 - a202302015 poluição impulsionou o Protocolo de Quioto que obrigou os países membros a reduzir a emissão de GEE (Gases do Efeito Estufa). O primeiro biocombustível foi criado a partir de óleos vegetais em 1895, por Rudolf Diesel e Henry Ford. Hoje, os biocombustíveis mais usados são o etanol (produzido por meio de plantas e raízes, a principal no Brasil é a cana de açúcar) e o biodiesel (produzido a partir de oleaginosas, óleos residuais e gorduras animais). Levando o assunto para um lado mais técnico, a fórmula da gasolina (que se encaixa no combustível comum) é feita de dióxido de carbono e água (C8H18 ), enquanto o biocombustível se forma a partir de queima de elementos orgânicos e não fósseis. Comparando ambos os métodos, o biocombustível se desintegra mais facilmente e é funcional igual ao combustível “padrão”. Em questão de execução, são feitos para a mesma função, que se define por esquentar o motor para a mobilidade do veículo, porém acontecem de formas bem diferentes. Começando com a gasolina comum, o processo é feito em função da combustão que ocorre a partir da reação do combustível oxidando o oxigênio (ou o ar atmosférico), o que cria energia em forma de calor, causando a queima de dióxido de carbono no ar e afetando diretamente na qualidade do ar e dos seres de nele habitam. Já no biocombustível, por ser feito de biomassa o procedimento, o processo ocorre devido à extração de um óleo retirado de plantas, onde vai ser misturado com metanol e depois impelido por um catalisador, que é o produto que irá realizar a reação química dos dois elementos, o que agrega a não degradação do planeta. Ao fazermos uma comparação com os dois motores, só se vai reparar na falta de barulho no motor a biocombustível. Porém, o motor de biocombustível neutraliza a pegada de carbono, reduz gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera; além disso, os biocombustíveis são renováveis, têm grande diversidade de matéria-prima, ou seja, possuem um maior apelo ambiental. Ao passo que o motor a combustão tem uma flexibilidade de escolha, pelas variedades disponíveis no mercado, como gasolina, diesel, gás natural, entre outros, além de apresentar maior eficiência energética. Porém, assim como nem tudo é perfeito, o biocombustível exige que seja feita uma plantação em alta escala com o fim de conseguir matéria-prima suficiente para a sua produção, portanto isso acarreta em alto índice de desmatamento para áreas de plantio, um avanço da monocultura de espécies vegetais e um esgotamento do solo utilizado. Já o motor a combustão emite gás carbônico (CO2) na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global e para o efeito estufa, além de não ser renovável. Revista Terêncio, v. 01, n. 02, 2023 - a202302015 Após realizar formulários sobre a substituição de carros a combustão e elétricos com alunos do Centro Universitário FEI, foi constatado que 66% dos entrevistados comprariam um carro elétrico, sendo os maiores motivos a praticidade e o combustível utilizado. Porém, o maior impedimento continua sendo o valor elevado do produto. Outra coisa que merece destaque são as sugestões dadas pelos entrevistados. Em favor dos carros elétricos destaca-se a diminuição da poluição sonora, já alguns argumentos contra são a falta de infraestrutura na cidade e a capacidade insuficiente da bateria. Entretanto, apesar das desavenças, quase 90% dos entrevistados acreditam no potencial dos biocombustíveis. Figura 1: Principais resultados das entrevistas Fonte: Autores Após essa vasta coleta de dados, foi realizada uma pesquisa com especialistas da área. Silvio Shizuo, William Maluf e Rafael Serralvo são professores de Engenharia Mecânica no Centro Universitário FEI e fizeram parte desta pesquisa. Inicialmente, foi visto que o Prof. Shizuo ressaltou os benefícios do biocombustível, como sua grande redução na pegada de carbono, sua dispensa no uso de aditivos importados e o aumento Revista Terêncio, v. 01, n. 02, 2023 - a202302015 no número de cetano (“faixa de potência"). Além disso, o Prof. Serralvo também destacou que eles diminuem a emissão de dióxido de carbono na atmosfera e que eles também movimentam a engenharia de desenvolvimento de produto, gerando novos empregos e tecnologias. Porém, William Maluf apresentou uma preocupação em relação à competição na produção de alimentos, o uso excessivo de terra e água, desmatamento e impactos ambientais negativos com a criação de monoculturas para produzir biomassa. Portanto, foi visto que o biocombustível tem grande potencial e eficiência energética, porém, seu processo produtivo tem que pertencer a uma grade sustentável para que seja avaliado, se nem toda forma de energia ecológica cumpre plenamente as premissas que se propõem. Em suma, é essencial reconhecer que o biocombustível tem seu grande valor de mercado, destacando seu potencial notável em se utilizar da sustentabilidade na sociedade e na mobilidade veicular como um todo. É uma forma de se desprender de combustíveis derivados de fósseis e também de gerar novos meios funcionais pela utilização da natureza, sem precisar danificá-la para isso. No entanto, não se pode ignorar os desafios que levam à reflexão de como o produto é vendido e exportado no ambiente comercial, como apontado por um dos professores comentados acima, o que se observa pelo uso excessivo de terra e água. Mesmo existindo alguns pontos de melhoria, o biocombustível é, por enquanto, a melhor e mais propensa fonte de abastecimento de veículos no futuro. Referências BRASIL ESCOLA. O que é biocombustível? Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/amp/o-que-e/geografia/o-que-e-biocombustivel.htm. Acesso em: 10 out. 2023. EMBRAPA. Biodiesel. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de- informacao- tecnologica/tematicas/agroenergia/biodiesel#:~:text=As%20principais%20matérias%2D primas%20para,residuais%20e%20de%20gorduras%20animais. Acesso em: 10 out. 2023. ENGRENARJR. Motor a combustão: uma invenção que transformou a humanidade. Disponível em: https://engrenarjr.com.br/blog/motor_a_combustao_uma_invencao_que_transformou_a _humanidade/. Acesso em: 05 out. 2023. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Cartilha Biodiesel. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf/cartilha_biodiesel.pdf. 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