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CARTOGRAFIA GERAL AULA 2 Prof. Ricardo Michael Pinheiro Silveira 2 CONVERSA INICIAL Fundamentos geodésicos e os sistemas de coordenadas A representação da Terra demandou, ao longo da história, cada vez mais acurácia. Para diversas finalidades, a atribuição de sistemas de coordenadas para indicar localidades e objetos do espaço geográfico sempre foi um desafio e, ao mesmo tempo, uma necessidade. A primeira questão envolvida é a representação matemática da forma da Terra, seguida das considerações acerca das distorções e de como transcrever, graficamente, para o plano bidimensional, uma superfície curva e, comumente, irregular. A evolução na determinação da forma da Terra, considerando-a como esfera, elipse ou geoide, favoreceu o tratamento geométrico e matemático aplicado na Cartografia. Os modelos geodésicos, assim, viabilizam as mensurações e a atribuição de coordenadas no plano tridimensional (espaço) e também no plano bidimensional (o mapa). TEMA 1 – A FORMA DA TERRA Há milênios, a determinação da forma da Terra (bem como sua posição no universo) é um axioma que perpassou sociedades e períodos históricos. Desde os gregos antigos já se concebia a forma esférica do planeta, a partir de observações empíricas e experimentos sustentados por regras matemáticas e astronômicas. As explorações e o avanço técnico-científico corroboraram essas ideias sequencialmente. Considerando as perspectivas da Terra esférica da Idade Antiga até o início da Era Medieval, destacam-se algumas concepções: Pitágoras (580-500 a.C.) e a Terra como sólido regular perfeito; Aristóteles (384-322 a.C.) e a circunferência de 63.000 km a 84.000 km; Arquimedes (287-212 a.C.) e a circunferência de 47.000 km a 63.000 km; Eratóstenes (235-195 a.C) e o experimento para a medição da circunferência; Posidônio (135-51 a.C) e a circunferência de 35.000 km a partir de observações astronômicas; Ptolomeu (100-178 d.C.) e a circunferência de 28.350 km; Yi Xing (683-727 d.C.), na China, que estimou a circunferência da Terra em 56.700 km com base em observações astronômicas. 3 A geodésia é a ciência responsável pelo estudo das dimensões e da forma da Terra. Com base nesses conhecimentos, sabe-se hoje que a superfície terrestre é irregular, devido ao relevo (superfície topográfica, com grandes variações), às variações gravitacionais da massa do planeta e ao próprio movimento de rotação. Na geodésia, portanto, considera-se três superfícies para representar a forma da Terra (Figura 1), que serão detalhadas adiante: a superfície topográfica, o geoide e o elipsoide. Em termos gerais, define-se a forma da Terra como geoide (superfície equipotencial do campo da gravidade), que tem uma superfície irregular e, portanto, não corresponde a uma esfera perfeita, cujo movimento de rotação provoca um achatamento nos polos. O geoide, em média, é coincidente com o valor médio do nível das águas do mar. Conforme o IBGE (2018), pelo fato de o geoide ser uma superfície com características físicas complexas, os cálculos para as medições (como coordenadas, ângulos, distâncias e áreas) sobre a superfície terrestre precisaram ser adequados a figuras geométricas definidas matematicamente. E, assim, a figura geométrica que mais se aproxima da forma real da Terra é uma elipse. Em função do movimento de rotação em torno de seu eixo, o raio equatorial da Terra possui cerca de 21 km a mais do que o tamanho do raio entre os polos do planeta, o que justifica esse leve achatamento. O denominado elipsoide de revolução, portanto, é definido pela rotação de uma elipse sobre o seu eixo menor. De acordo com Timbó (2001, p. 10), o elipsoide de revolução é, dentre todas as formas geométricas, a que permite maior precisão na representação da Terra, na qual “os mapas e cartas topográficas, o sistema GPS e a grande maioria dos sistemas e processos envolvidos em cartografia e navegação, trabalham sobre o modelo episódico terrestre. Esta é a forma padrão considerada pela geodésia para trabalhos de precisão”. Destaca-se que considerando as dimensões da Terra, tais superfícies são relativamente próximas e, vista do espaço, o planeta parece ser uma esfera perfeita. Pensando nas representações, mapas que tenham escalas muito pequenas (ou seja, 1:5.000.000 ou menores), a diferença entre o raio polar (6.357 km) e o raio equatorial (6.378 km) é imperceptível, o que viabiliza representar a Terra como uma esfera. Ou seja, quanto mais de perto olhamos, 4 mais irregularidades observamos na superfície; quanto mais afastados, maior será a percepção da esfericidade do planeta. Para reforçar os conceitos apresentados sobre a forma da Terra, observemos com atenção a ilustração da Figura 1. A superfície topográfica, nesse caso, representa o relevo, que é a forma física do planeta e pode variar desde os fundos oceânicos até as grandes cordilheiras, como a do Himalaia. O geoide é a superfície gravitacional, também com variações. E o elipsoide, por sua vez, é uma figura geométrica que se adequa às outras superfícies. Por ter propriedades constantes, os cálculos são facilitados se comparados à topografia ou ao geoide. Figura 1 – Modelos sobre a forma da Terra Fonte: elaborado com base em IBGE, 2018, p. 17. Como exemplificado, há variações entre as superfícies concebidas. A diferença entre o geoide e o elipsoide é chamada de ondulação geoidal. Esse é um ponto de partida para compreender a ideia da deformação nos produtos cartográficos, visto que cada ponto da Terra possui características topográficas e geoidais próprias. Em consequência, para diminuir as deformações, o 5 elipsoide de referência pode ser ajustado para melhor representar a superfície em determinada localidade. Isso é fundamental para estabelecer as coordenadas e disposição exata dos objetos mapeados. TEMA 2 – SISTEMAS GEODÉSICOS DE REFERÊNCIA A determinação das posições sobre a superfície terrestre requer que ela possa ser tratada matematicamente. Sendo o elipsoide de revolução a superfície que melhor se adequa a essa problemática, várias regiões do planeta possuem elipsoides com parâmetros ligeiramente diferentes para que sejam ajustadas localmente às especificidades de cada continente ou país. O objetivo é ter resultados mais precisos, por isso existem muitos elipsoides de referência. A questão colocada é: qual elipse melhor se ajusta às características de determinado local? Quais são as diferenças, nos produtos cartográficos, causadas pela adoção de distintos elipsoides de referência? Se considerássemos a superfície geoidal, o tratamento matemático seria muito difícil e complexo. Nesse sentido, um Sistema Geodésico de Referência viabiliza a localização espacial de qualquer feição sobre a superfície terrestre. Segundo Dalazoana (2001, p. 7), os Sistemas Geodésicos de Referência são definidos a partir da adoção de um elipsoide de referência, posicionado e orientado em relação à superfície terrestre. E, além disso, a autora cita que a evolução tecnológica propiciou o melhoramento dos diversos Sistemas Geodésicos de Referência existentes, tanto no aspecto de definição quanto no de realização do sistema. A relação entre um ponto no terreno e o elipsoide de referência é realizada por um Sistema Geodésico de Referência. Nesse contexto surge um conceito cartográfico importante, referente ao Datum geodésico. Segundo Timbó (2001, p. 12), um Datum é constituído por três elementos: escolha de um elipsoide de referência que representará a figura matemática da Terra; um ponto geodésico de origem (cujo critério para a escolha vincula-se à coincidência máxima entre a superfície do geoide e do elipsoide); e um azimute inicial para fixar o sistema de coordenadas na Terra e servir como marco inicial das medições de latitudes e longitudes. O Datumpode ser planimétrico (que marca a origem das coordenadas, também denominado Datum horizontal) ou altimétrico (origem das altitudes, 6 também chamado de Datum vertical). No Datum planimétrico é selecionado o elipsoide de referência que melhor se ajusta à região considerada. Os elipsoides podem ser geocêntricos, quando têm como referência o centro da Terra, ou topocêntricos, quando tomam como referência inicial um ponto específico de determinada localidade na superfície, como ilustrado pela Figura 2. Figura 2 – Elipsoides geocêntricos e topocêntricos Crédito: Magnon Oliveira. O Datum altimétrico, por sua vez, é adotado em função da rede de marégrafos com as medições contínuas que determinam o nível médio dos mares. A partir do marégrafo de referência são determinadas as altitudes. Assim como no sistema geodésico horizontal, cada país ou região define a referência que melhor se adequa às suas respectivas características do nível do mar (que, entre outros fatores, tem influência das marés). Enquanto o Datum horizontal é a referência para as coordenadas planimétricas, o Datum vertical é a referência para os valores altimétricos. No âmbito nacional, o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) começou a ser estruturado na década de 1940 e é caracterizado pelo conjunto de estações (redes horizontais, verticais e tridimensionais) sob responsabilidade do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As redes geodésicas contemplam um “conjunto de informações planimétricas, altimétricas e gravimétricas referentes às estações do Sistema Geodésico Brasileiro - SGB utilizadas para 7 referência em atividades de posicionamento e às demais estações estabelecidas pelo IBGE para correção e verificação de imagens do território” (IBGE, 2019). O Brasil já teve três Data (plural de Datum) oficiais: Córrego Alegre (entre as décadas de 1950 e 1970), SAD-69 (de 1970 a 2005) e, atualmente, o SIRGAS. Dalazoana (2001) cita que entre o Córrego Alegre e o SAD-69 existiu um sistema de referência provisório chamado Astro Datum Chuá, no qual muitas cartas topográficas da época foram editadas. O Datum Córrego Alegre considerou como superfície de referência o Elipsoide Internacional de Hayford; o SAD69 teve como referência o Elipsoide de Referência Internacional 1967 e origem no vértice Chuá (MG). Ambos são topocêntricos. Já o SIRGAS (acrônimo de Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas) é geocêntrico e tem como referência o Elipsóide Geodetic Reference System 1980. Instituído oficialmente em 2005, o SIRGAS teve dez anos para a transição. Ou seja, nos últimos anos, todos os documentos cartográficos devem adotar como sistema de referência esse Datum. O referencial geocêntrico vem sendo adotado internacionalmente com o objetivo de padronizar os mapas e dados geoespaciais. Os aparelhos GPS (Sistema de Posicionamento Global) de todo o mundo, por exemplo, utilizam o Datum global WGS84 (geocêntrico) como referência, que possui parâmetros praticamente idênticos ao SIRGAS, Datum oficial do Brasil. O próprio Google Maps e Google Earth, muito populares para usuários que não são especialistas, também utilizam o WGS84 como sistema de referência. Timbó (2001, p. 12) cita que “no Datum global o elipsóide é fixado à Terra pelo Equador e meridiano de Greenwich (não necessita de Ponto Geodésico Origem nem de Azimute inicial)”. Referente ao Datum altimétrico, no Brasil, considera-se como referência o Marégrafo de Imbituba, localizado no estado de Santa Catarina. TEMA 3 – SISTEMA DE COORDENADAS GEOGRÁFICAS Atribuir uma localização precisa de pontos da superfície terrestre sempre foi um desafio e uma demanda para a Cartografia, mesmo muito antes de assim ser chamada. O estabelecimento de localizações depende da adoção de um modelo matemático de representação da Terra (esfera ou elipse, com um Datum geodésico) e de um sistema de coordenadas. 8 Considerando a superfície terrestre como curvilínea (elipsoidal ou esferoidal), o Sistema de Coordenadas Geográficas (também chamado de Geodésico) é o mais comum, principalmente para mapas de pequena escala. Nesse sistema, a base é a própria geometria (constante) e o eixo de rotação da Terra. Nas coordenadas geográficas, os pontos da superfície são localizados pela interseção de um meridiano com um paralelo. Segundo Anderson (1982, p. 32), as medidas básicas das coordenadas geográficas são feitas por meio de observações astronômicas que estabelecem a latitude e a longitude, visto que os polos são definidos como pontos de interseção entre o eixo de rotação da Terra e a superfície da esfera. Os meridianos são linhas imaginárias (círculos máximos) que circundam a Terra de norte a sul, de polo a polo, unindo-os. Os paralelos, por sua vez, são linhas imaginárias que circundam a Terra de leste para oeste. Como consequência, os paralelos e meridianos são definidos por suas dimensões de latitude e longitude, respectivamente (IBGE, 2018, p. 18), tal como ilustra a Figura 3. É importante destacar que as coordenadas geográficas utilizam unidades de medida em graus, por isso a referência esférica (360º) é fundamental para compreendê-la. O meridiano de origem é o de Greenwich (antigo observatório localizado no Reino Unido), sendo determinado por convenção como o inicial para as longitudes (0º) e também referência para determinação dos fusos horários em todo o mundo. O Meridiano de Greenwich efetua a divisão entre o oriente e o ocidente do globo terrestre, com valor de 180º para cada um. Entretanto, um meridiano com valor de 50º, por exemplo, pode ser tanto no oriente quanto no ocidente. Para diferenciar, é feita a indicação com W (de west, oeste) ou E (de east, leste): 50ºW ou 50ºE. Outra opção é considerar os meridianos a leste (porção ocidental) com valores crescentes (positivos) que vão até +180º, enquanto a oeste (porção oriental) a atribuição de valores decrescentes (negativos) até o limite de -180º. Os paralelos, que determinam as latitudes, são círculos que cruzam os meridianos perpendicularmente, ou seja, em ângulos retos – o que possibilita atribuir coordenadas (eixo X e eixo Y). A denominada Linha do Equador, que é o paralelo de origem (0º), divide a Terra em dois hemisférios: Hemisfério Norte e Hemisfério Sul (observe a Figura 3). Mas, ao contrário dos meridianos, que são círculos máximos, os paralelos que se afastam do Equador (para norte e 9 para sul) diminuem constantemente até se transformarem, nos polos, em pontos com valor de 90º (IBGE, 1999). Observe a Figura 3, referente à latitude, para ter um exemplo gráfico desse conceito cartográfico. Os paralelos a norte recebem os valores positivos (0º a +90º) e os paralelos a sul do Equador têm os valores negativos (0º a -90º). Figura 3 – Latitude e longitude: coordenadas geográficas Fonte: IBGE, 2018, p. 18. Em resumo, conforme D’Alge (2003, p. 6), “a longitude de um lugar qualquer da superfície terrestre é a distância angular entre o lugar e o meridiano inicial ou de origem, contada sobre um plano paralelo ao equador”, enquanto que a “latitude é a distância angular entre o lugar e o plano do Equador, contada sobre o plano do meridiano que passa no lugar” (D’Alge, 2003, p. 6). Ressalta-se que, para o plano, um sistema de coordenadas cartesianas X e Y é usualmente aplicável. Com a determinação das latitudes, que podem ser norte (N, +) ou sul (S, -), com valores até 90º, e das longitudes, que podem ser leste (E, +) ou oeste (W, -), com valores até 180º, a interseção entre elas indica qualquer posição no planeta Terra. As coordenadas são apresentadas no formato de graus (º), minutos (‘) e segundos (“) e, comumente, também como graus decimais. Assim, uma longitude 50º13’10”O é equivalente a -50,2194. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) disponibiliza uma calculadora10 geográfica para facilitar esse cálculo e muitos outros relacionados à Cartografia (disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2020). TEMA 4 – SISTEMA DE COORDENADAS PLANAS Apesar da eficiência e aplicabilidade do Sistema de Coordenadas Geográficas, considera-se que esse não é um sistema conveniente para o cálculo de distância e áreas. As coordenadas geográficas têm grande utilidade, especialmente quando se trabalha com grandes regiões. Entretanto, não é um sistema cartesiano, o que dificulta efetuar medições. Ainda que a distância entre os paralelos seja praticamente constante (ou seja, um grau de latitude equivale a aproximadamente a mesma distância em todos os pontos), a distância entre os meridianos não é. A variação entre dois meridianos no Equador é de 111,3 km e diminui até o valor de 0 km nos polos, onde os meridianos convergem (Olaya, 2014). Assim, enquanto um arco de grau (1º) da latitude corresponde a aproximadamente 111,3 em qualquer local sobre a superfície terrestre, a longitude é variável. Na longitude 30º, por exemplo, 1º equivale a 96,5 km; na longitude 70º, o comprimento cai para 38,2 km; e assim progressivamente até o valor de zero nos polos. Nesse contexto, pensando no plano bidimensional, surgiram os sistemas de coordenadas planas. De acordo com Sampaio e Brandalize (2018, p. 15), “define-se um sistema de coordenadas planas como aquele empregado na determinação da posição bidimensional (2D) de pontos do terreno projetados em um plano horizontal, coincidente com o plano do papel (ou do mapa)”. Neste sistema, normalmente as unidades são representadas em metros, o que resolve o problema dos cálculos complexos da longitude em graus. Os sistemas de coordenadas planas cartesianas, como o próprio nome cita, são baseados na escolha de dois eixos perpendiculares (horizontal e vertical, X e Y), normalmente estabelecidos por alguns meridianos e paralelos terrestres, cuja interseção entre os eixos é chamada de origem. Além das unidades métricas (e não em graus), o eixo X é chamado Leste (E) e o eixo Y é chamado Norte (N). Timbó (2001, p. 19) ressalta que “as coordenadas planas estão estritamente associadas ao sistema de projeção do mapa, cada coordenada plana corresponde a uma coordenada geográfica que foi transformada pelas equações do sistema de projeção”. 11 Para melhor compreendermos a lógica envolvida no sistema de coordenadas plano cartesiano, temos como exemplo a Figura 4. Nela, a origem (O) é a referência para o afastamento dos pontos representados (P, no primeiro quadrante, e Q, no terceiro quadrante). O distanciamento horizontal corresponde à coordenada no eixo das abscissas (X), enquanto o distanciamento vertical é dado pela coordenada do eixo das ordenadas (Y). Figura 4 – Exemplo de sistema cartesiano para coordenadas planas Fonte: Sampaio e Brandalize (2018, p. 16). A origem, tal como consta no exemplo acima, normalmente tem coordenadas planas (0, 0), embora também possa ter valores diferentes, chamados de offsets. Além disso, a origem do sistema cartesiano pode assumir valores arbitrários, normalmente diferentes e maiores do que zero, para evitar que tenham valores de coordenadas negativas (Sampaio; Brandalize, 2018). Assim, no exemplo da Figura 4, se a origem fosse “10, 10” em vez de “0, 0”, o ponto P teria as coordenadas “16, 15” e o ponto Q teria “6, 5”. TEMA 5 – O SISTEMA DE COORDENADAS UTM Referente aos sistemas de coordenadas no plano cartesiano, o sistema UTM (Universal Transversa de Mercator) é o mais utilizado em todo o mundo. Nessa proposta, o elipsoide de revolução (modelo geodésico terrestre) é dividido em 60 fusos com uma amplitude de 6º de longitude (afinal, 60 x 6 = 12 360º). A Figura 5 ilustra um desses fusos e a Figura 6 faz uma comparação entre a aplicação de coordenadas geográficas e coordenadas UTM para um mesmo recorte geográfico (município de Curitiba). Assim, a quadrícula UTM possui um total de 60 fusos numerados a partir do antimeridiano de Greenwich (180ºW) de oeste para leste. O fuso UTM número 1 se situa entre as longitudes 180º e 174ºO e a numeração avança nessa sequência para leste. Em latitude, cada fuso se divide em 20 zonas, que variam desde 80ºS até 84ºN. São codificadas com letras de C a X (com exceção de I e O, devido à similaridade com os dígitos 1 e 0). Cada zona de latitude possui 8º, embora a zona X possua, excepcionalmente, 12º (Olaya, 2014). Figura 5 – Exemplo de sistema cartesiano para coordenadas planas Fonte: Sampaio e Brandalize, 2018, p. 40-41. Uma zona UTM é identificada por um número e uma letra. A partir delas, parte-se para a determinação das coordenadas, no sistema métrico, que expressam a distância entre o ponto e a origem da zona UTM – que é a interseção entre o meridiano central e a Linha do Equador. Tenha-se como exemplo o fuso 13, que se estende da longitude 102ºW a 108ºW. A origem desse fuso é o ponto de encontro entre 105ºW de longitude e a Linha do Equador (0º de latitude). Por esse motivo, no sistema UTM as coordenadas de um ponto não se expressam como coordenadas terrestres absolutas, mas de 13 acordo com cada uma das possíveis 60 zonas (ou fusos) em que nos encontremos. Figura 6 – Exemplo de uso das coordenadas geográficas e coordenadas UTM no município de Curitiba/PR Fonte: Dalazoana, 2001. Para evitar que o sistema de coordenadas contenha números negativos, foi arbitrado que a origem do eixo X (leste, convencionado como E) comece com o valor 500.000 metros e não zero. Isso evita que as áreas a leste do meridiano tenham coordenadas negativas, já que nenhuma zona possui extensão maior do que 1.000.000 metros. A extensão máxima nas áreas próximas da Linha do Equador, dentro de uma zona UTM, é de aproximadamente 668.000 metros. Seguindo a mesma lógica, no eixo Y (norte, convencionado como N), se a origem fosse o valor zero, o Hemisfério Sul teria sempre coordenadas negativas. Assim, arbitrou-se o valor de 1.000.000 de metros, que é superior ao valor possível dentro de uma zona UTM. Ressalta-se que para as zonas polares a aplicação do sistema UTM não é adequado, pois há muitas 14 distorções. Nesse caso, utiliza-se o sistema UPS (Universal Polar Stereographic) para mensurar coordenadas planas (Olaya, 2014). A Figura 5 exemplifica os conceitos apresentados sobre o sistema UTM, com os respectivos valores associados. Destaca-se a concepção sobre o meridiano central, sobre a amplitude de cada zona ou fuso e a origem para a atribuição de coordenadas com valor métrico. Em termos práticos, quando vemos um documento cartográfico que tenha as coordenadas UTM “675188E e 7187255N”, de nada adianta ter os valores se não há a indicação da zona UTM. Há 60 lugares no mundo com essas coordenadas. Todavia, se vier a indicação “fuso 22 Sul”, por exemplo, o local pode ser encontrado. Portanto, para a utilização do Sistema de Coordenadas UTM é necessário conhecer o modelo da Terra (Datum), a zona (ou fuso UTM) e o Hemisfério da área de interesse, tal como consta referenciado na Figura 6. NA PRÁTICA Há diversas maneiras para compreender, na prática, a importância dos sistemas geodésicos e de coordenadas nos mapas. Atualmente, maior parte dos softwares de Geoprocessamento e dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) possibilitam a visualização e conversão de arquivos espaciais com distintos sistemas de referência (bem como de suas distorções). Nos mapas impressos, se determinado produto cartográfico não possui escala (seja numérica ou gráfica), mas contém grade de coordenadas, é possível estimar a escala só pelos valores entre quadrículas – principalmente com as coordenadas UTM. Outra maneira interessante de reforçar os conteúdos vinculados à atribuição de localização é definir as coordenadas (geográficas e UTM) para pontosde referência do seu cotidiano, como casa, local de trabalho e faculdade. Qual é a posição em relação à origem das coordenadas UTM, considerando o fuso em que vive? Qual é a posição em relação aos meridianos e paralelos, no caso das coordenadas geográficas? Aliás, com base nesses conhecimentos, é interessante refletir sobre a seguinte questão: há algum dia do ano, no seu município, em que os raios solares, ao meio-dia, atinjam a superfície perpendicularmente, sem que haja sombra? O conhecimento sobre a forma da Terra e as coordenadas (posição) pode dar essa resposta. 15 FINALIZANDO A forma da Terra pode ser definida como uma superfície irregular, devido às variações topográficas e gravitacionais (geoide) muito próximas ao formato de uma elipse, já que o movimento de rotação provoca achatamento da esfera nos polos. Tais irregularidades são um problema na hora de elaborar representações bidimensionais. Para solucionar parte dos problemas, considera-se que o elipsoide de revolução é a forma geométrica que mais se assemelha à forma real do planeta e é utilizada como referência para os sistemas geodésicos, que são a base para as representações cartográficas. Considerando que todos os produtos cartográficos no plano bidimensional possuem distorções, os sistemas geodésicos buscam ajustar o elipsoide de revolução (geocêntrico ou topocêntrico) de modo que seja o mais adequado possível à determinada região. Eis o Datum geodésico, que pode ser planimétrico e altimétrico. Com o modelo matemático da Terra definido é possível também atribuir coordenadas e, assim, localizar objetos do espaço geográfico. No sistema de coordenadas geográficas, os pontos da superfície são localizados pela interseção de um meridiano (longitude) com um paralelo (latitude). No sistema de coordenadas planas, pontos do terreno projetados em um plano horizontal. O sistema de coordenadas UTM é o mais comum, sendo caracterizado pela divisão do mundo em 60 fusos, com coordenadas métricas para cada um deles. 16 REFERÊNCIAS ANDERSON, P. S. Princípios de cartografía básica. São Paulo, 1982. D’ALGE, J. C. L. Cartografia para Geoprocessamento. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (Ed.). Introdução à Ciência da Geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2003. DALAZOANA, R. Implicações na Cartografia com a evolução do Sistema Geodésico Brasileiro e futura adoção do SIRGAS. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências Geodésicas. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Noções básicas de cartografia. Departamento de Cartografia. Rio de Janeiro, 1999. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Redes Geodésicas. Disponível em: . Acesso em: 23 abr. 2020. OLAYA, V. Sistemas de información geográfica. Create Space Independent Publishing Platform, 2014. OLIVEIRA, J. C. Conceitos de Cartografia. XIV Curso de uso escolar de Sensoriamento Remoto no estudo do meio ambiente. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2011. SAMPAIO, T. V. M.; BRANDALIZE, M. C. B. Cartografia geral, digital e temática. Curitiba: Universidade Federal do Paraná/Programa de Pós- Graduação em Ciências Geodésicas, 2018. TIMBÓ, M. A. Elementos de Cartografia. Departamento de Cartografia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2001.