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CIÊNCIA POLÍTICA E 
TEORIA DO ESTADO
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. 
Diretor de EAD: Enzo Moreira
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato 
Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes
Coordenadora educacional: Pamela Marques
Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa
Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha
Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi 
 
Pedra, Caio Benevides.
Ciência Política e Teoria do Estado / Caio Benevides Pedra; Guilherme Ferreira Silva. – São 
Paulo: Cengage – 2020.
 Bibliografia.
 ISBN 9788522129652
 1. Direito 2. Silva, Guilherme Ferreira.
Grupo Ser Educacional
 Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro 
CEP: 50100-160, Recife - PE 
PABX: (81) 3413-4611 
E-mail: sereducacional@sereducacional.com
“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com 
isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns 
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também 
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o 
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino 
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, 
tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar 
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento 
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da 
democracia com a ampliação da escolaridade.
Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar 
as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no 
contexto da sociedade.”
Janguiê Diniz
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL
Autoria
Caio Benevides Pedra 
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Administração Pública pela 
Fundação João Pinheiro (FJP). Suas pesquisas são relacionadas ao acesso à cidadania pela população 
LGBT+ no Brasil. 
Bacharel em Direito e Especialista em Gestão de Instituições de Ensino Superior também pela UFMG. 
Autor dos livros CIDADANIA TRANS: o acesso à cidadania por travestis e transexuais no Brasil e DIREITOS 
LGBT+: a LGBTfobia estrutural, e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro, ambos lançados 
em 2020 pela Editora Appris. 
Membro do projeto de extensão Diverso UFMG, do Grupo de Pesquisa Estado, Gênero e Diversidade 
(EGEDI-FJP) e da Comissão de Diversidade Sexual da OAB/MG.
Guilherme Ferreira da Silva
Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 
Mestre em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), bolsista 
da CAPES. Especialista em Direito Público. 
Graduado em Direito pela PUC-Minas. Professor na Faculdade da Saúde e da Ecologia Humana (Faseh). 
Membro do Grupo de Pesquisa Lévinas e Alteridades. Orientador de iniciação científica. Bolsista 
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Produtor do podcast Papo 
Direto.
Advogado e professor colaborador de cursos de formação de servidores públicos pelo Instituto de 
Defesa da Cidadania e da Transparência (IDCT). Redator de questões de concursos na Fundação de 
Ensino de Contagem (Funec). Foi consultor técnico-legislativo na Consultoria Técnico-Legislativa do 
Estado de Minas Gerais.
SUMÁRIO
Prefácio .................................................................................................................................................8
UNIDADE 1 - Introdução e princípios básicos ..................................................................................9
Introdução ......................................................................................................................................................... 10
1 Introdução à Ciência Política e à Teoria do Estado ....................................................................................... 11
2 Teoria do Estado ............................................................................................................................................. 14
3 A Teoria do Estado e o Direito: a teoria monística, dualística e paralelística ............................................... 17
4 A sociedade: origem e seus elementos característicos ................................................................................ 19
5 Teorias sobre os fundamentos da sociedade: a interpretação organicista e mecanicista da sociedade ... 22
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................26
UNIDADE 2 - Estado e soberania ....................................................................................................27
Introdução ......................................................................................................................................................... 28
1 Estado e soberania: a visão dos clássicos do pensamento político ............................................................. 29
2 Montesquieu, os três poderes e as leis ......................................................................................................... 35
3 Regimes políticos............................................................................................................................................ 40
4 Formas de Estado ........................................................................................................................................... 44
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................54
UNIDADE 3 - O estado, sua evolução e a representação política .....................................................55
Introdução ......................................................................................................................................................... 56
1 Os tipos de Estados e a evolução histórica ................................................................................................... 57
2 O Estado e seus elementos constitutivos ...................................................................................................... 64
3 Modelos de democracia ................................................................................................................................ 68
4 Representação política ................................................................................................................................... 73
5 Alexis de Tocqueville e o regime democrático .............................................................................................. 76
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................92
UNIDADE 4 - Partidos políticos e Estado .........................................................................................83Destacar
40
os Ministros do STF (Judiciário) serão nomeados pelo Presidente da República (Executivo), 
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal (Legislativo);
art. 102, I, “a”:
compete ao STF (Judiciário) declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal 
ou estadual (Legislativo). (LENZA, 2019, p. 569-570).
Temos, portanto, as funções típicas de cada um dos três poderes, que justificam a existência 
de cada um destes órgãos, e as funções atípicas, que possuem uma natureza distinta daquela 
originariamente pensada para cada um dos três poderes.
Para ilustrar e não deixar dúvidas: o poder legislativo tem como função típica legislar e 
fiscalizar, contudo, ele também julgará o Presidente da República nos crimes de responsabilidade. 
Importante: essa função atípica está prevista na constituição e, exatamente por isso, é uma 
exceção legítima dada ao poder legislativo.
Atenção: O STF (na ADIn 135/PB) já manifestou que o judiciário e o legislativo também terão 
de exercer a função administrativa Contudo, tal atividade não é uma exceção às competências 
dos órgãos. Se a independência destes órgãos dá a eles a garantia de gerirem seu patrimônio e 
suas atividades internas, uma consequência é que eles terão de gerir os servidores públicos que 
lá trabalham, executar os contratos de compra e prestação de serviço, realizar licitações, dentre 
várias outras atividades consideradas administrativas. 
É importante perceber que essas atividades serão unicamente no âmbito de cada um dos dois 
poderes mencionados e para a fiel execução das suas atividades finalísticas (típicas) e, portanto, 
trata-se apenas de meio necessário para seu funcionamento.
3 REGIMES POLÍTICOS
Os regimes políticos são formas de concretização de ideias de como se exercer o poder e 
tomar decisões no Estado. Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) explica que, apesar da falta 
de consenso entre terminologias, é possível dizer que o sistema político é normatizado pela 
Constituição do Estado e o regime é o modo efetivo como esse sistema é exercido. Logo, se a 
Constituição for inteiramente respeitada, o sistema político e o regime político serão equivalentes.
Esses regimes são conceituados de formas opostas entre os democráticos e os autoritários, 
sendo certo que essa classificação se dá gradualmente, a partir da análise de diversos instrumentos 
estatais de tomadas de decisão e exercício do político.
Cleisa Santos
Destacar
Cleisa Santos
Destacar
41
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
3.1 Regimes autoritários
Azambuja (2008) aborda aquilo que compreendemos como regime autoritário e como 
ditadura. Diversos outros autores, como Ferreira Filho (2015), Maluf (2009) e Ranieri (2019), 
dedicam-se pouco a falar do autoritarismo enquanto regime político porque, em alguma medida, 
sua antítese é o regime democrático.
Por sua vez, a democracia é um regime que poderá ser graduado, de forma que permite uma 
comparação entre regimes ou teoria de sistemas políticos, para concluirmos se o regime é mais 
ou menos democrático do que o comparado.
Dessa forma, um estado autoritário é aquele que tem menos instrumentos de decisão política 
considerados democráticos.
Podemos dizer que alguns regimes autoritários se instauram sob a justificativa de 
transitoriedade e por isso podem, a depender do caso concreto, ser chamados desta forma: 
regimes de transição.
De toda sorte, se a reflexão perpassa pelo debate atual de regimes de governo, bem como os 
tratados internacionais e os debates que focam nos direitos humanos, esses regimes autoritários, 
ainda que transitórios, seriam considerados reprováveis.
Podemos afirmar, portanto, que os regimes autoritários são aqueles em que há supressão ou 
redução de direitos fundamentais e de instrumentos democráticos que possibilitam à população 
participar da instância política do Estado. 
42
3.2 Regimes democráticos
Os regimes democráticos trouxeram uma complexidade maior na intervenção do Estado 
na vida dos indivíduos. Diferentemente do que propunha o liberalismo político, o Estado está 
presente de forma intensa na vida dos cidadãos mas, por outro lado, busca não restringir direitos 
individuais. Além disso, são exigidas dele intervenções para que os projetos de vida, múltiplos, 
possam ser exercidos. Há o crescimento da esfera pública e da participação popular, bem como 
um espaço de possibilidade de diálogo em que os cidadãos possam deliberar sobre a vida pública.
Depois da segunda guerra mundial, algumas Constituições, como a de Bonn (Alemanha – 
1948), a Constituição italiana de 1948, espanhola de 1978, a portuguesa de 1976 e a brasileira de 
1988, são exemplos de Estados que adotaram regimes democráticos que visam o reconhecimento 
da diversidade e do pluralismo social.
As Constituições passam a ter uma importância de destaque. Com um papel mais do que 
político, assumem a supremacia em um sistema jurídico que serve de contenção para abusos das 
demais esferas da sociedade, incluindo os poderes econômico e político.
Neste contexto, o legislativo tem seu papel reafirmado, pois é a instância na qual a vontade 
popular se manifesta. Contudo, o poder judiciário passa a ser o órgão constitucionalmente 
legitimado para ser o guardião do sistema jurídico e das instituições.
Os direitos humanos passam a integrar os princípios democráticos em seu rol na terceira 
onda geracional e, numa via de mão dupla, os Estados democráticos somente serão assim 
considerados se há um elevado grau de tutela aos direitos humanos. Assim, só podemos falar 
em um Estado democrático se a participação popular vier acompanhada de proteção efetiva aos 
direitos humanos.
3.3 Regimes totalitários 
Para Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015), o regime totalitário
“Apresenta-se marcado por uma ideologia oficial, um partido único, de massa, que controla toda a 
mobilização política e o poder concentrado em mãos de um pequeno grupo que não pode ser afastado 
do poder por meios institucionalizados e pacíficos.” (FERREIRA FILHO, 2015, p. 107).
Nina Ranieri (2019) anota que, filosoficamente, os Estados totalitários se opõem ao liberalismo, 
e no plano dos regimes políticos à democracia. Tal forma de organização política parte do 
pressuposto de que o Estado é eticamente superior aos indivíduos, razão pela qual se colocam de 
forma a suprimir a individualidade em nome do bem comum, com um único governante ou partido.
O Estado que adota tal regime não admite conceitos que estejam fora da máquina estatal 
43
e, por isso, aniquilam a subjetividade e a identidade dos indivíduos. Suas ações só poderiam ser 
aquelas autorizadas pelo poder Soberano. 
Apesar dessa oposição ao modelo filosófico liberal, Azambuja (2008) anota que na perspectiva 
política não há uma identificação com as teorias, sendo possível encontrarmos estados totalitários 
com ideias socialistas, como a União Soviética, ou modelos capitalistas como na Itália Fascista.
Como forma de demonização ideológica, esses regimes políticos utilizam do discurso 
nacionalista, em busca de identidade popular que coadune com a ideia de povo, em que as 
pessoas convirjam para esse bem comum que o Estado simbolizaria e materializaria.
Apesar de ter semelhanças práticas entre Estados liberais e o Estado autoritário (autoritarismo), 
eles não se confundem, pois a ideia de oposição política não existe em nenhuma medida no 
totalitarismo que, como o nome indica, tem tudo sob o domínio do governante ou seu partido.
Os clássicos exemplos de Estados totalitários, que foram responsáveis por anularem direitos 
individuais e colocarem o Estado sempre acima do indivíduo, foram a Alemanha nazista, a Itália 
fascista e a União Soviética.
Recomendamos ao estudante que se aprofunde sobre o tema, que é de grande relevância no 
momento político atual e, assim, possa formar sua opinião enquanto cidadão crítico. Sugerimos 
a leitura do livro literário 1984, de George Orwell, e da obra política As origens do totalitarismo, 
de HannahArendt.
Fonte: tlegend, shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Um martelo de juiz em cima de um grande livro. Ao lado, outros dois livros 
grandes e sobre eles uma balança, símbolo da justiça. Tudo está sobre uma mesa de madeira, e 
ao fundo há um armário de livros e algumas cadeiras.
44
4 FORMAS DE ESTADO
A forma de Estado relaciona-se com a maneira como o Estado organiza suas funções políticas, 
em uma análise a partir do grau de centralização destes poderes políticos que compõem o Estado. 
Na prática é objeto de debates pois, se há mais ou menos centralização, é possível ampliar ou 
reduzir a proximidade daqueles que governam com os cidadãos, o que variará muito em relação 
à extensão territorial do país, a quantidade da população e o arranjo adotado.
Sobre as formas de Estado, Ranieri afirma:
“Um Estado pode adotar diferentes formas de organização política e administrativa, conforme o 
grau de descentralização territorial do poder entre os entes que o compõem. Essa descentralização é 
denominada vertical, posto que, em qualquer hipótese, promoverá a repartição de competências entre 
a entidade central e as periféricas, dotando-as ou não de autonomia política.” (Ranieri, 2019, p. 145).
4.1 Estados unitários
O Estado é considerado como unitário (ou também chamado de simples) se organiza-se 
em um poder central, ainda que se divida em regionais e províncias, que por sua vez não têm 
autonomias de poderes.
Azambuja (2008) tenta uma forma empírica de analisar e conceituar o estado unitário, 
diferindo o que é um Estado e o que são apenas circunscrições territoriais descentralizadas, que 
por sua vez estão presentes em estados unitários.
O autor sublinha, portanto, que há nestes estados um único poder legislativo, um poder 
executivo e um poder judiciário. Há, neste ponto, uma ênfase ao poder legislativo que, sendo 
apenas um órgão, terá poder para editar regras neste Estado.
Ainda que haja alguma descentralização administrativa, com administradores das províncias, 
ou até mesmo com conselhos, estes terão algum grau de subordinação, hierarquia e serão 
fiscalizados pelo poder central, o que não ocorre no modelo estatal antagonista, o federalismo.
Anotamos aqui para o estudante que a descentralização política não deve ser confundida com a 
administrativa. Enquanto a política refere-se à capacidade de editar leis, a segunda está ligada ao 
gerenciamento da máquina administrativa estatal que tem por finalidade a prestação do serviço público 
– e este é um assunto relevante para a disciplina do Direito Administrativo e da Administração Pública.
Nina Ranieri (2019), por sua vez, elenca três características aos Estados unitários: a) 
centralização política, com unidade jurídica; b) descentralização decisória, sob determinadas 
condições; c) burocracia única.
Azambuja (2008) alerta que esse modelo essencialmente centralizado só existiria em lugares 
Cleisa Santos
Destacar
45
muito pequenos e pouco populosos. Podemos afirmar, assim, devido à raridade deste estado 
unitário puro, que a melhor forma de analisá-los seria por graus de centralização. Propomos, 
portanto, a separação dos estados mais ou menos centralizados segundo os seguintes critérios:
a) centralizados: os estados unitários são centralizados quando o governo é exercido com 
centralização total na figura do governante, ou a delegação de competência da gestão está 
centralizada em órgãos próximos a ele.
b) descentralizados: por outro lado, temos a possibilidade de o governo central repassar 
serviços públicos a outras instâncias, que terão algum grau de autonomia na gestão dos serviços, 
ainda que reste ao governo central os poderes de fiscalização. 
Mais uma vez, é necessário não confundir com descentralização política, que seria a 
possibilidade de outros entes ou órgãos editarem leis. Nesse caso, identificada tal características, 
estamos diante de um estado federado.
Um exemplo que os autores sempre citam como Estado unitário é a França (além de Portugal e Uruguai).
Neste sentido, anotamos que na França temos coletividades territoriais, que são organizações 
regionais, que podem administrar os serviços público por meio de conselhos, mas estes não 
possuem um poder legislativo e, portanto, não têm a possibilidade de exercer autonomia política.
4.2 Estados compostos
Os Estados compostos, também chamados de estados complexos, são formas de Estado que 
apresentam mais de um centro político. Mario Lúcio Quintão Soares (2011) afirma que esta forma 
de Estado é resultado da aglutinação de vários outros estados e que a centralização do poder não 
é acentuada, como no Reino Unido.
.
4.3 Estados federados
O termo federação possui sinônimo de união, aliança, cooperação. Um Estado federado, por 
sua vez, surge do pacto de entre outros estados (que geralmente serão chamados de estados-
membros) que decidem perder sua soberania em favor da União Federal. Há, portanto, o 
surgimento de um novo Estado.
Geralmente, a formação deste estado federado se dá pela Constituição, que instrumentaliza 
a criação da União a partir desse movimento político dos estados-membros.
46
Azambuja (2008) aponta que uma das características do federalismo é que a união tem a 
intenção de ser perpétua, razão pela qual os estados-membros não terão direito a sair do Estado, 
ou seja, não há no estado federado o direito de secessão.
No Estado federado, da perspectiva da União, ocorre uma descentralização política, que é a 
distribuição de competências de editar normas entre os entes federados.
A origem histórica do federalismo remete às treze colônias inglesas nos Estados Unidos da 
América: Era uma confederação que se reuniu (confederados da Filadélfia) e decidiu abdicar 
da soberania, constituindo um Estado. A representação inicial foi feita por embaixadores e a 
manutenção, por Senadores.
Destaca-se que este movimento de primeiro haver uma confederação, para em seguida 
formarem a união, é chamado de Movimento Centrípeto, uma vez que a soberania sai dos 
extremos para se aglutinar no centro, a União.
Retomando os conceitos, visualizamos que há um arranjo para a atribuição das competências 
de forma vertical, que vai centralizar com mais ou menos força, conforme cada caso.
De uma síntese do que as referências aqui citadas mencionam, podemos afirmar que para a 
formação do federalismo são necessários alguns requisitos:
Constituição
• há a necessidade de um liame normativo comum, geralmente realizado pelas Constituições.
Autonomia 
• os entes federados têm de possuir autonomia, que pode variar em graus. Essa autono-
mia está ligada à administração interna e à amplitude da possibilidade de fazer leis. Não 
se confunde com Soberania, que só o Estado tem.
Manifestação da vontade dos entes federados
• Os entes federados devem manifestar favoravelmente à federação. Isso geralmente se dá 
com o Senado, que é composto por representantes dos estados-membros.
Auto-organização em Constituições
• Os estados-membros também devem ter a possibilidade de organização própria, o que 
geralmente se dá por meio de constituições. 
Por outro lado, há características comuns para a manutenção da federação:
a) Rigidez Constitucional: esse elemento traz a impossibilidade constitucional de alterações 
47
quanto ao sistema federal.
b) Um órgão de controle concentrado de leis que garanta que não haja interferência nas 
autonomias federativas.
4.4 Confederações
As confederações surgem de um tratado entre cada Estado, e deste tratado não surge um 
Estado novo, não há uma soberania única e por isso não é forma de estado, apesar de ser comum 
ver autores colocarem as confederações nesta classificação de Estados complexos.
Os Estados permanecem cada um com sua soberania, independentes, e pactuam em prol de 
objetivos comuns, geralmente ligados à paz e questões comerciais. E, por se formar a partir de um 
tratado, há na confederação o direito de secessão. 
Historicamente, registra-se que as treze colônias inglesas da América firmaram uma 
Confederação (1781),que logo em seguida se transformou em federação, assim como na Suíça 
e na Alemanha. 
Hoje a União Europeia pode ser considerada como um novo modelo de confederação, em que há 
o compartilhamento de elementos que relativizam a soberania dos estados por meio de um tratado, 
a moeda comum e regras de entrada e saída mais flexíveis entre os cidadãos dos países membros.
4.5 Estados Regionais
São estados que estão entre o estado unitário e o estado federado. Alguns autores não 
aderem a esta classificação pela dificuldade entre criar critérios adequados para distinguir dos 
outros dois modelos de Estado.
Pedro Lenza (2019) destaca que alguns autores classificam a forma de Estado em regional 
por discordarem da ideia de que poderia existir um estado unitário mais descentralizado. O autor 
anota que alguns também trazem a classificação de Estado autonômico, como seria o caso da 
FIQUE DE OLHO
Compreender essa posição crítica sobre o fato de as confederações não serem formas 
de Estado pode ser considerado um diferencial do estudante, principalmente em sua 
fundamentação, pois demonstrará que domina os elementos que compõem um Estado e 
suas formas de organização. Ademais, aprofundar-se sobre a organização da União Europeia 
é necessário para aqueles que querem dominar a disciplina na atualidade.
48
Espanha. Assim, afirma:
Certos autores, ao analisar alguns casos particulares, entendem imprecisa essa alocação dentro 
dessa categoria de Estado unitário de maior grau de descentralização, preferindo, então, criar outras, 
localizadas entre o Estado federal e o unitário, quais sejam, os denominados Estado regional (Itália) 
e Estado autonômico (Espanha), que se identificam não apenas pela descentralização administrativa 
como também — e aí a marca — pela legislativa. Haveria um único poder constituinte, mas pluralidade 
de fontes legislativas/normativas. (LENZA, 2019, p. 476-477).
Dessa forma, podemos afirmar que estes Estados regionais possuem unidades que possuem 
alguma liberdade normativa, geralmente exercida por conselhos, e estão entre Estados unitários 
e os federados.
Na Itália há 20 regiões autônomas, que a Constituição estabelece uma autonomia peculiar, 
tendo, portanto, mais poderes políticos que em estados unitários, mas sem uma autonomia total 
como os entes federados.
4.6 O novo federalismo brasileiro
O federalismo brasileiro deu-se a partir do Decreto nº 1, de 1889, em que foi fundado os 
Estados Unidos do Brasil. O intuito era ter a facilidade de gerir as especificidades de um país 
continental, com a descentralização das competências políticas, em especial o exercício das 
funções executivas e legislativas. Com o advento da Constituição republicana de 1891, o 
federalismo brasileiro foi consolidado.
Apesar de nunca ter deixado de existir após a primeira república, nos momentos em que a 
democracia foi reduzida com regimes de governos mais autoritários, a autonomia dos estados-
membros também foi diminuída. Assim, nos períodos ditatoriais era comum a inobservância de 
cláusulas federalistas, inclusive com mecanismos de intervenções federais, como as ocorridas nos 
períodos de 1937 a 1945 e nos anos de 1967 a 1985.
Destacamos que esse processo inicial de formação do federalismo brasileiro é denominado de 
movimento centrífugo. Ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos da América, é possível 
perceber que com o fim do império brasileiro e o golpe republicano, a unidade política central 
resolve delegar poderes políticos ao estados-membros com o intuito de obter uma melhor gestão 
política e administrativa. Por isso a nomenclatura utilizada refere-se a um poder que era concentrado 
em uma unidade e, posteriormente, parte dele é delegado para os membros federados.
Michel Temer (2006) diz que o Brasil hoje possui um federalismo de cooperação, em virtude 
de arranjos que compartilham, por exemplo, recursos para tentar trazer justiça distributiva. No 
entanto, Barroso (Lenza, 2019) critica exatamente este ponto por entender que no Brasil não há 
um sentimento de nação, o que faz com que as unidades federativas vivam em competição por 
49
recursos, poder e protagonismos.
Composto pela União indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal (art. 18, da 
Constituição Federal), O Estado brasileiro assumiu a forma federada na Constituição de 1988, 
colocando tal característica como imutável.
Os entes federativos que compõem o Estado brasileiro são autônomos, o que não se confunde 
com Soberania, como já frisamos.
A partir da teoria analisada nos subtópicos anteriores, podemos verificar alguns elementos 
da forma de estado arquitetada na Constituição Federal de 1988. O objetivo é concluirmos 
cientificamente se vivemos realmente em um Estado federado, ou se a nomenclatura é utilizada 
de forma inadequada.
Assim, podemos perceber que:
a) Há descentralização Constitucional de competências políticas: da leitura dos arts. 21 a 24 da 
CF/88, em que é estabelecida a lógica de competências, em que os Estados assumem competências 
legislativas residuais em relação às da União, é possível afirmar que há descentralização política e 
autonomia administrativa e legislativa dos estados-membros. 
Por sua vez, o art. 30 traz as competências aos Municípios, que de forma geral podem legislar 
sobre interesse local ou para suplementar as leis federais e estaduais conforme o arranjo do art. 
24 e seus parágrafos. Aqui também fica demonstrado como os municípios também receberam 
autonomia, o que foi inédito na história das nossas constituições.
A título de esclarecimento, o Distrito Federal atua de forma cumulativa, como estado-membro 
e como município, conforme o § 1º do art. 32 da Constituição.
b) Representação de todos Estados na formação da federação: O Brasil adota o sistema 
bicameral, o que significa dizer que os legisladores federais são os deputados federais, 
FIQUE DE OLHO
O federalismo brasileiro de 1988 inovou ao dar autonomia aos Municípios. A bibliografia 
analisada traz que nos demais Estados pelo mundo, ainda que haja algum tipo de autonomia, 
os Municípios não possuem autonomia legislativa e de auto-organização semelhante ao 
Brasil. Esta é a razão pela qual, no Direito brasileiro, há autores que estudam especificamente 
o direito municipal.
50
representantes do povo, e os senadores, que são representantes dos estados-membros.
Importante perceber que é no Senado que há equilíbrio quantitativo na representação 
legislativa. Cada estado possui três representantes no Senado, independentemente do tamanho 
da sua população, e os senadores fazem o papel contínuo de confirmarem a posição do seu 
estado nos interesses federados.
III – Auto Constituição e Organização: O art. 25 da Constituição Federal traz que os Estados-
membros serão organizados e regidos por suas próprias Constituições.
E, apesar do debate teórico sobre a real natureza da Lei Orgânica Municipal na Constituição 
Federal de 1988, sendo que o STF se posiciona no sentido de não compreendê-la como uma 
Constituição, é nítido que a Constituição Federal deu à Lei Orgânica, por meio do art. 29, o status 
de um instrumento jurídico-político para a auto organização dos Municípios.
Dessa forma, percebemos que os Estados e Municípios possuem o poder político de auto 
organizarem, com o enquadramento prático na teoria do federalismo.
IV – Rigidez Constitucional: O inciso I do § 4º do art. 60 da Constituição Federal coloca o 
federalismo como cláusula pétrea, consagra, assim, o aspecto teórico da rigidez constitucional e 
a ausência do direito de recessão. Dessa forma, nenhuma alteração da constituição por Emenda à 
Constituição poderá tentar abolir a forma federativa de governo que nosso país adotou.
V – Órgão de controle de leis que violem o pacto federativo: O STJ possui atribuições que 
buscam evitar a quebra do pacto federativo e a ausência de isonomia da aplicação das normas 
por entes federativos através de dos tribunais de justiça, conforme se vê no inciso III do art. 105 
da Constituição Federal.Por outra via, o STF tem a possibilidade de realizar o controle das cláusulas que tentem abolir 
a forma federativa, bem como atos e leis que negam a aplicação de normas federais, conforme 
inciso III do art. 102 da CF.
Os dois tribunais superiores exercem, portanto, uma função importante na manutenção 
da forma federativa por meio da atuação do poder judiciário, caso o legislativo extrapole suas 
funções ou os órgãos do judiciário estadual.
VI – Intervenção federal: Os mecanismos de intervenção federal que servem para garantir 
a própria forma federativa devem ser exceção e utilizados em último caso. Ou seja, se por um 
lado deve ser evitada qualquer interferência de um ente federado em outro, por outro lado em 
algumas circunstâncias é essa intervenção que permitirá a estabilidade jurídica e social para que 
o federalismo não seja rompido.
51
Assim, o art. 34 da CF/88 traz as hipóteses em que é possível a intervenção da União nos 
Estados-membros e Distrito Federal:
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo 
motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro 
dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida 
a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e 
serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
Podemos citar, a título exemplificativo, que a União intervirá para manter a integridade 
nacional, repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da federação a outra, pôr termo a grave 
comprometimento da ordem pública, prover execução de lei federal, ordem ou decisão judicial, 
dentre outras circunstâncias previstas na Constituição. 
Em 2018 ocorreu a única intervenção federal após a Constituição de 1988. Com fundamento 
no inciso III do art. 34, o governo federal trouxe medidas interventivas no Rio de Janeiro 
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(analisaremos o ocorrido no final do capítulo).
A constituição também prevê a intervenção de Estado nos Municípios. No mesmo sentido, a 
intervenção é medida excepcional. 
É possível ocorrer a intervenção, dentre outros motivos, em razão do Município não prestar 
contas devidas, conforme a lei, ou não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal 
na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
É importante perceber que, na lógica da intervenção, quando a União age, ela está atuando em 
nome de todos os entes federados, para conseguir reestabelecer a ordem normal da federação, 
assim como os estados-membros, e quando intervém no Município, o faz em nome dos demais 
Municípios também.
A Constituição atribui ao chefe de Estado a competência para decretar a intervenção, ainda 
que a pedido do Legislativo ou judiciário, e dependerá de apreciação do legislativo.
53
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer sobre algumas teorias que justificam a soberania estatal e explicam como 
esse poder é exercido pelo Estado.
• entender a respeito da separação orgânica dos poderes, teoria de Montesquieu que 
até hoje influencia grandemente os Estados ocidentais e que sempre é tema das 
questões jurídicas em nossa realidade.
• verificar que o Estado pode exercer sua soberania de forma democrática e autoritá-
ria, certo de que, com a nova ordem internacional em que vivemos, a democracia é 
um valor fundamental dos cidadãos, razão esta pela qual voltaremos ao assunto de 
forma mais aprofundada na próxima unidade.
• analisar as formas de Estado, com uma ênfase maior nos Estados unitários e federa-
dos, pois compreendem a maior incidência de organização presente no mundo hoje.
• compreender que o Brasil se insere no modelo de Estado Federado, inclusive com a 
particularidade de termos Municípios com autonomia de auto-organização.
PARA RESUMIR
AZAMBUJA, D. Teoria geral do Estado. 4ª ed. São Paulo: Globo, 2008
BERNARDES, J. T.; FERREIRA, O. A. V. A.. Direito Constitucional: Tomo I – Teoria da 
constituição. 9ª ed. Salvador: Editora juspodivm, 2019.
FERREIRA FILHO, M. G. Curso de direito constitucional. 40 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MALUF, S. Teoria geral do estado. Atualização prof. Miguel Alfredo Malufe Neto. 29ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
RANIERI, N. Teoria do Estado: do estado de direito ao estado democrático de direito. 2ª 
ed. Barueri: Manole, 2019.
SOARES, M. L. Q. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização. 4ª ed. 
São Paulo: Atlas, 2011.
TEMER, M. Elementos de direito constitucional. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 3
O estado, sua evolução e a represen-
tação política
Introdução
Olá,
Esta unidade tem como objetivo apresentar algumas formas de Estado, com ênfase no 
Estado moderno e a relação com o Sistema democrático. A leitura deve ser realizada 
pensando o contexto histórico e as transformações sociais, uma vez que os tópicos iniciais 
se remetem ao surgimento dos estados e da transição para a era moderna. Além de 
outros tópicos, falaremos sobre os Sistemas democráticos e suas variáveis, trazendo ao 
estudante a possibilidade de comparar o conteúdo com as informações e notícias atuais. 
Sugerimos que o leitor pense o mundo atual a partir dos conceitos debatidos.
Bons estudos!
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1 OS TIPOS DE ESTADOS E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Nina Ranieri (2019) afirma que durante toda a história da humanidade os Estados estiveram 
presentes em uma parcela pequena da nossa narrativa. Para chegar a esta afirmação, a autora faz 
uma separação conceitual na qual analisa o Estado a partir de quatro características. Segundo ela, 
uma organização deve ser considerada como Estado se:
a) for diferenciada de outras organizações em atividade no mesmo território;
b) for autônoma;
c) for centralizada;
d) os seus setores estiverem coordenados (RANIERI, 2019, p. 21).
É importante, desde já, chamar a atenção do estudante que este critério adotado pela 
autora pode variar bastante se comparado com outros teóricos de teoria do Estado e, inclusive, 
se percebermos que os elementos de um Estado moderno serão outros mais específicos e que 
abarcam a complexidade do seu tempo.
De toda forma, se observarmos as formações sociais que buscaram instituir uma força orgânica, 
oriunda de alguma manifestação política, e chamarmos esse ente de Estado, perceberemos 
outras formas de Estado mais remotas que são destacadas por outros autores.
Para compreendermos o processo histórico do Estado e como ele chegou à forma moderna 
atual, buscaremos expor os traços dos Estados pré-modernos.
Fonte: tlegend, shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Estátua da Senhora da Justiça (Justitia) em Frankfurt, Alemanha, vista de baixo
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1.1 Estado antigo
Ranieri (2019) cita como exemplos de Estados antigos o Egito a partir de 1500 a.C., a Pérsia do 
século V a.C., assim como o Japão e a China.
Por outro lado, Sahid afirma que:
Os Estados mais antigos que a história relata foram os grandes impérios que se formaram no 
Oriente desde 3.000 anos antes da era cristã. Os maiores e mais antigos foram os que se formaram 
na Baixa Mesopotâmia, banhada pelas águas do Tigre e do Eufrates,e no Egito, banhado pelo Nilo. 
(SAHID, 2009, p. 101).
É em razão destes exemplos citados por Ranieri que Streck e Morais (2014) também chamam 
o Estado antigo como oriental ou teocrático. Os referidos autores apontam que eram Estados 
em que a família, a religião, a força econômica, e a estrutura estatal se misturavam de maneira 
indissociável. 
Era um Estado que se organizava geralmente pela forma de governo monárquico, com reis, 
príncipes ou imperadores, com uma noção de direito em face do Estado reduzida a quase nada, 
com uma estrutura social de muitas desigualdades e hierarquias bem marcantes. 
Enquanto organização burocrática, não havia divisões. Era um Estado unitário, em que as 
funções se misturavam entre aqueles que recebiam mais poderes do soberano, quando este 
decidia por delegar algumas de suas funções.
A ideologia teocrática guiava não só as vidas particulares como também as relações estatais, 
que por sua vez fundava o exercício da força e do governo na explicação divina. Era comum que 
os líderes dos Estados fossem considerados deuses na Terra, como no caso dos faraós do Egito.
59
Maluf (2009) reforça uma ideia que nos parece coerente com os relatos históricos e que 
afasta qualquer romantismo na análise do Estados antigos. O autor afirma que um traço comum 
da época era o conflito constante entre as formações estatais, que se mantinham pela força das 
suas armas. Desses conflitos, um Estado anexava o território do outro ao seu poder, inclusive com 
a escravização do povo vencido.
Outra característica que o autor aponta, e que decorre deste arranjo político, é que de 
maneira geral, no Estado antigo, faltava o elemento de um povo, ou nação, em que as pessoas 
possuíssem um sentimento de pertencimento àquele Estado.
1.2 Estado grego 
Os Estado grego, também denominado de Estado helênico, pode ser colocado temporalmente 
entre os anos dos séculos IX e IV a.C. A evolução e as alterações neste período foram grandes, 
o que necessita demarcar alguns fatos para além das características gerais deste modelo de 
organização social e estatal de muita importância para a sociedade ocidental.
A partir do século IX a.C., a Grécia era governada na forma monárquica e no modelo patriarcal. 
O Estado era formado por cidades que possuíam grande independência entre elas. 
Uma característica que geralmente é imaginada pelos estudantes é que o Estado grego seria 
democrático. Esse pensamento não pode ser assumido de forma literal, principalmente se o 
parâmetro do conceito de democracia for pensado como nos dias atuais.
Sahid destaca, neste sentido, que:
O Estado grego antigo, geralmente apontado como fonte da democracia, nunca chegou a ser um 
Estado democrático na acepção do direito público moderno. O próprio Estado ateniense, no auge da 
sua glória, sob a liderança de Péricles, apresentava, na sua população de meio milhão de habitantes, 
cerca de 60% de escravos, sem direitos políticos de qualquer espécie, além de cerca de 20.000 
estrangeiros. Resumiam-se a pouco mais de 40.000 os cidadãos que governavam Atenas e constituíam 
a soberania do Estado. (Sahid, 2009, p. 105).
Por outro lado, Lopes, Queiroz e Acca (2013) mostram como alguns elementos que hoje são 
símbolos da democracia surgiram no Estado grego, como o julgamento realizado no júri, o qual 
é decidido por cidadãos e demonstra a igualdade entre os pares, e a deliberação de decisões 
políticas em ambientes públicos, que representa a democracia direta.
Nina Ranieri (2019), por sua vez, diz que as cidades-estados desenvolveram a democracia dos 
antigos, aquilo que Said traz como o Conselho dos cidadãos, um autogoverno com decisões que 
eram tomadas na ágora, as praças públicas da época.
Os Estados-cidade, também conhecido como polis, passaram por transformações e assumiram 
60
formas diversas de governo, até mesmo com a república democrática direta. De toda forma, a 
aristocracia sempre teve papel importante nos governos gregos. A autora destaca que a forma 
de criação identitária do cidadão grego era voltada para o passado, sendo que era necessário a 
manutenção do seu vínculo com a cidade, sem uma noção de autonomia semelhante com a que 
temos hoje.
Neste processo de evolução, Maluf (2009) aponta que no século IV o Estado ateniense editou 
seu conjunto de leis, semelhante ao papel de uma Constituição, e instaurou a Assembleia dos 
Cidadãos, que passa a assumir o principal papel político no Estado, o que trazia a substituição do 
Conselho de Anciãos, com características nitidamente aristocráticas.
Outro traço marcante do Estado grego era a separação das leis e da esfera pública com a 
religião. Apesar de uma narrativa mítica que inspirava o pensamento filosófico e político, as leis 
eram necessariamente pautadas em algum fundamento racional.
A filosofia, por sua vez, que trouxe uma herança ao mundo ocidental imensurável, é um 
traço marcante do Estado, inclusive com os pensadores sendo ouvidos pela população e pelos 
governantes à época.
1.3 Estado romano
O Estado romano perdurou por longo período (754 a.C. a 565 d.C.) e teve grande importância 
no mundo ocidental, inclusive com influência no mundo oriental, uma vez que o império romano 
conquistou território do lado oriental da Europa, norte da África e parte da Ásia.
Roma passou por governos diversos neste período. Apesar de ser conhecido como período 
do Império Romano, houve governos monárquicos, republicanos, principados e o imperial. Sahid 
Maluf (2009) traz que inicialmente o Estado romano era monárquico, do tipo patriarcal, tendo 
evoluído da realeza hereditária para a república, com a presença do Estado-Cidade chamado 
civitas. 
Ranieri (2019) diz que umas das razões da duração do Estado romano deveu-se à organização 
em bases municipais e ao exercício de um poder político soberano, exercido por um único 
detentor.
Importante neste cenário político é a forma com que os romanos aceitavam costumes locais 
como regras válidas, ainda que os municípios incorporados ao império tivessem que se submeter 
ao poder central. Dessa forma foi possível, ao contrário do que ocorreu ao povo do Estado grego, 
incorporar as pessoas dos locais dominados.
Neste sentido,
61
A partir do século III a.C., foram denominados municipia os territórios pertencentes a comunidades 
originariamente independentes que, incorporados ao território estatal romano, perdiam a natureza 
de civitas. Às municipia eram impostos certos serviços e prestações (denominados munera capere) 
e exigida a submissão às leis romanas, garantindo-se, contudo, certa autonomia, que se expressava 
pela preservação de normas e costumes locais preexistentes. Tal garantia foi especialmente notada 
no campo das relações privadas, mas também na organização administrativa. Esta, exercida pela 
magistratura e pelas corporações locais, independentemente da forma de incorporação dos habitantes 
à cidadania romana, não incluía direitos políticos (em especial o direito de voto) até prova de inconteste 
fidelidade e progressiva latinização. (RANIERI, 2019, P. 27).
O império romano conseguia concretizar as três formas de governos propostas por Aristóteles, 
sendo que a realeza era formada pelos cônsules, a democracia pelos cidadãos em comícios e a 
aristocracia através do Senado. Maluf também anota características importantes sobre os direitos 
e função do Estado romano:
O Estado romano, muito semelhante ao Estado grego, tinha suas características peculiares: 
distinguia o direito da moral, limitando-se à segurança da ordem pública; a propriedade privada era 
um direito quiritário que o Estado tinha empenho em garantir; o homem gozava de relativa liberdade 
em face do poder estatal, não sendo obrigado, praticamente, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; o Estado era havido como nação organizada; a vontade nacional era a fonte 
legítima do Direito. (SAHID, 2009, p. 111).
O papel dos comícios, apesar de variar durante o império, no período republicano teve 
alguma importância, tendo sidodeterminante na aprovação de algumas leis. Por outro lado, 
os magistrados representavam aqueles que mais poderes políticos tinham em Roma, sendo as 
pessoas que realmente governavam o império.
Um estudo aprofundado do Estado romano certamente remeterá o estudante a elementos 
históricos da formação do Direito enquanto ciência, bem como a origem dos institutos que 
são adotados hoje na esfera jurídica. Anotamos aqui a importância de todo este período para 
a sociedade ocidental e aquele que deseja ser um operador do Direito com um conhecimento 
sólido e aprofundado.
1.4 Estado medieval
O período medieval é compreendido entre os séculos X e XV, apesar da diferença das datas 
compreendidas conforme cada autor.
O Estado medieval teve três elementos presentes que o caracterizaram: o cristianismo, as 
invasões bárbaras e o feudalismo (STRECK e MORAIS, 2014).
A igreja católica é sempre citada como um elemento político de grande influência na 
organização estatal durante este período. O fato de ter sido uma organização que sobreviveu 
durante um momento em que os poderes centralizados foram dissipados deu a ela uma vontade 
62
organizacional, perpassando de forma horizontal por diversos núcleos de poderes da época.
Assim, após as invasões bárbaras e dos povos árabes pelo Europa, e com o fim do império 
romano, faltaram poderes políticos organizados e que conseguiram manter-se. Foi o que acabou 
por dar origem aos feudos.
Os feudos eram grandes porções de terras de propriedade do senhor feudal que tinham em 
sua extensão os vassalos, que produziam nos feudos em troca do uso das terras e de proteção. 
A relação era, portanto, estritamente contratual, na qual um cedia o uso das terras e proteção 
militar em troca de produção de alimentos e suprimentos básico para a vida à época.
Morais e Streck apontam as seguintes características deste novo sistema:
A – permanente instabilidade política, econômica e social;
B – distinção e choque entre poder espiritual e poder temporal;
C – fragmentação do poder, mediante a infinita multiplicação de centros internos de poder 
político, distribuídos aos nobres, bispos, universidades, reinos, corporações, etc.;
D – sistema jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas;
Relações de dependência pessoal, hierarquia de privilégios. (STRECK e MORAIS, 2014, p. 25).
Desse processo histórico não é possível afirmar como cada feudo funcionava e como essa 
relação estatal se dava além de tais elementos que se resumiam ao poder destes senhores 
feudais. De toda forma, um elemento do fim da idade média que acabou sendo determinante 
para o modelo absolutista que seguirá é o fato de senhores feudais terem realizado conquistas 
territoriais, anexando outros feudos aos seus e, assim, formando-se pequenos reinos hereditários.
1.5 Estado moderno
A modernidade é compreendida por muitos com a queda de Constantinopla em 1453 e por 
outros com a conquista das Américas a partir de 1492. Destacamos que ambos os fatos históricos 
são de grande importância e representam a abertura da Europa para o resto do mundo.
O primeiro deles abre a Europa para o oriente ao passo que acaba com o monopólio da rota 
comercia por Veneza, enquanto o segundo abre para a Europa um mundo ainda inexplorado, com 
possibilidades ainda desconhecidas de conhecimento e comércio.
Estes fatos vão ao encontro de um pensamento filosófico que retiraria Deus do centro das 
explicações e colocou o homem racional como detentor do poder de explicar, dominar e até 
mudar a natureza. Ainda, encontra amparo em uma nova classe social que estava em ascensão, a 
63
burguesia, que necessitava de um Estado que garantisse segurança e previsibilidade nas relações 
militares e tributárias, para lograrem êxito em suas atividades.
Outro fator que deve ser pensado é o advento de teorias que consagraram a ideia de um 
Estado absolutista, sendo destaque junto com as teorias contratualistas para a compreensão do 
Estado como temos hoje.
Mário Lúcio Quintão Soares traz que,
Assim, o poder dos senhores feudais decaiu, diretamente ameaçado pela extinção gradual da 
servidão. O resultado disso foi o deslocamento da coerção política, em um sentido ascendente, rumo 
a uma cúpula dotada de poder centralizado e militarizado: o Estado absolutista. (SOARES, 2011, p. 79).
Este Estado absolutista passa por algumas fases distintas, sendo que, se por um lado decorre 
de uma evolução dos reinos feudais, por outras teorias foram sendo desenvolvidas e solidificadas 
pela Europa que exigiram justificações dos reis. Neste sentido, as teorias expostas na Unidade 
II mostram como os contratualistas trouxeram explicações sobre o poder do Rei e os limites 
existentes sobre eles.
As monarquias absolutas encontraram nas Constituições e declarações de direitos 
fundamentais uma limitação e uma forma de Estado agora enquanto ente.
Soares (2011) diz que este Estado moderno apresenta duas características marcantes em seu 
surgimento, ou o que podemos anotar como a fase de transição, que são o aparato administrativo 
de forma burocrática, e que presta alguns serviços públicos, e o monopólio legítimo da força que 
poderá ser exercido contra todos que estão sob a égide de um determinado Estado.
Neste contexto, o pensamento liberal também está presente e é utilizado para justificar um 
Estado que detenha este monopólio do poder para que o livre comércio seja exercido. Apesar 
de parecer paradoxal em um primeiro momento, a burguesia percebe que somente com um 
Estado único e centralizado seria possível garantir segurança e previsibilidade tributária para o 
exercício livre de suas atividades. Aqui o Estado moderno cumpre um papel fundamental, que é 
afastar qualquer poder paralelo. Contudo, ele o faz sempre pautado em um liberalismo político-
econômico de contenção sobre o papel deste poder estatal.
Destacamos que, em nossa visão, a Paz de Westphalia (em 1648) pode ser considerada o 
principal fato desta transformação estatal eque solidifica os Estado e seus elementos da era 
moderna. Paz de Westphalia é o nome dado aos tratados assinados após a Guerra dos Oitenta 
Anos e a Guerra dos Trinta Anos, em que Estados católicos e protestantes disputavam territórios 
e governos.
Tal fato é de grande importância para o surgimento do Estado moderno, pois os tratados 
64
firmam a necessidade de territórios para a formação de Estados, inclusive com a delimitação destes 
territórios e de quem os dominava. Desta característica também resultou no reconhecimento 
de poderes políticos soberanos sobre cada território. Com o acordo de não invasão entres os 
Estados, foi criado o princípio: hujus regio, ejus religio (na região deles, a religião deles).
O Estado passa a ser uma pessoa artificial, e com essa entificação também surgem 
características comuns que são identificadas pela Teoria Geral do Estado e que, apesar da 
divergência de nomenclatura de autor para autor, geralmente se estruturam em três elementos: 
a população, o território e o governo soberano. Eis o advento o Estado moderno.
2 O ESTADO E SEUS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS
Conforme abordamos no tópico anterior, o Estado manifestou muitas formas de organização 
e de governo, sendo certo que muito mudou para ser o que identificamos hoje. Por outro lado, 
é com o advento da modernidade e o fim da Idade Média que o Estado toma a forma conceitual 
que adotamos na Teoria do Estado atual.
Apesar disso, alguns autores divergem quanto aos elementos que compõem o Estado e como 
encará-los. Por isso, alertamos o estudante que faça uma leitura aprofundada sobre o tema que é 
cerne da disciplina. Por ora, traremos a posição que compreendemos ser a mais acertada, e que 
sintetiza o que os principais autores brasileiros concluem.
É importante perceber que esses elementos são essenciais para a constituição de um Estado, 
o que significa afirmar que eles possuem implicações práticas no reconhecimento do organismo 
estatal, seja no âmbito interno e externo. Ou seja, para que possamos chamar uma sociedadede 
Estado será necessária a cumulação destes três elementos: o território, a população e o governo 
soberano.
Antes de explicarmos cada um destes elementos, frisamos o que Soares (2011) traz sobre 
a personalidade jurídica do Estado. A teoria que aborda tal concepção, de que o Estado é uma 
pessoa jurídica, foi inicialmente concebida por Gierke, Gerber, Jellinek, entre outros. Nela, o Estado 
seria uma pessoa em si, que ganharia um status jurídico em virtude de sua organização, com o 
elemento subjetivo composto pelo seu povo, em um território delimitado que é a representação 
corpórea e o governo soberano que exerce a manifestação de vontade dessa pessoa.
Por último, é necessário tomar nota que alguns autores acrescentam um quarto elemento 
para a constituição do Estado. Nina Ranieri, por exemplo, considera que a finalidade é um outro 
elemento essencial na formação estatal. Geralmente, os autores que buscam a finalidade como 
um elemento estão ligados a uma análise mais jurídica das relações estatais, como Hans Kelsen 
e Miguel Reale.
65
Essa finalidade é a própria fundamentação da existência e das ações da organização pública: é 
o fim para o qual o Estado é criado e explica sua existência. Nina Ranieri afirma que “atualmente, 
a proteção da dignidade humana e a promoção dos direitos fundamentais prevalecem como fins 
do Estado.” (RANIERI, 2019, p. 135).
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2.1 Território
Azambuja afirma que o território é o próprio corpo físico do estado, um espaço físico que o 
compõe. É a partir deste limite que é, em regra, reconhecida a soberania estatal e suas relações 
jurídicas internas podem ser formadas.
Faz-se importante perceber que o território é um dos principais critérios para adoção de uma 
lei. Ou seja, a regra é que em todo o território é aplicada a lei do Estado.
De início, o referido autor já nos aponta como é essencial o elemento territorial, e traz como 
um exemplo de negação o que o povo judeu viveu até o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim, 
ainda que aquele povo tivesse alguma forma de liderança com poderes políticos, a ausência de 
um território impedia-lhes de serem considerados como um Estado.
Essa noção de território, enquanto elemento, surge com a organização westfaliana, como 
mencionamos anteriormente. Dessa forma, o reconhecimento por meio de tratados entre os 
Estados de que há uma porção de terras que pertence a um deles, e que o outro não o violará, é 
de grande importância para a compreensão desta característica nos Estados modernos.
No plano da teoria do Estado, há relevância no estudo sobre as fronteiras, pois em muitos 
casos elas são disputadas e podem ser alteradas (são as chamadas fronteiras vivas). Essas áreas 
de disputas geram tensões e conflitos, inclusive com a possibilidade de surgir destes espaços 
66
geográficos fronteiriços um novo Estado.
Mário Lúcio Quintão Soares destaca duas características básicas do território estatal:
• A delimitação ou o estabelecimento de limites ao poder territorial do Estado: implica um tríplice 
significado na vida internacional: é o fator de paz, sinal de independência e elemento de segurança. 
Uma zona geográfica fechada possibilita e estimula a criação e solidificação de uma entidade 
sociopolítica hermética na qual a vizinhança atuará unindo para dentro e diferenciando para fora;
• A estabilidade: seus limites não se alteram com frequência e a sua população sedentária, 
submetida a uma relativa semelhança de condições espaciais de ordenação e vida, pode superar 
disparidades sociais, econômicas e nacionais. (SOARES, 2011, p. 121).
Esse território é, portanto, um pedaço físico de terra com seu subsolo e também a atmosfera 
que o cerca. Inclui-se os rios, lagos e os mares, conforme tratados internacionais. Contudo, só 
a partir do momento que há a ocupação do ser humano sobre essas terras é que faz sentido 
mencionarmos que essa área é um elemento estatal, pois é necessário que o poder soberano 
seja ali exercido, o que inclui a possibilidade de aplicação do direito, tecnicamente denominada 
como jurisdição.
Antigamente falava-se que havia uma relação de propriedade entre o príncipe e o território. 
Hoje fala-se em uma relação de imperium. Isso pelo poder que o Estado tem sobre seu povo. 
A teoria recebe crítica pelas exceções, como os navios mercantes em alto mar, como aponta 
Azambuja, que também critica ao afirmar que não há nem puramente uma propriedade e nem 
esse império. É na verdade um elemento.
2.2 Poder soberano
As sociedades e organizações humanas acabam se organizando por meio de relações de 
poderes, que se manifestam em busca de uma ordem e algum nível de hierarquia. Esses poderes, 
por sua vez, são a dinâmica da política, que é essa ordem do poder. É nessa política que surgem 
os governos soberanos. O governo estatal possui uma força, uma coação irresistível em relação 
aos indivíduos e é independente em relação aos demais Estados. Sobre o tema, remetemos o 
estudante à Unidade II.
E este poder soberano como elemento estatal exige que essa relação de poder esteja 
presente em um território para identificarmos ali um Estado. Um exemplo de território que tem 
povo e governo mas que não é estado são os estados-membros, uma vez que eles não possuem 
soberania, apenas autonomia. 
A soberania, portanto, é o poder supremo do estado, que não tem poder semelhante em seu 
território competindo com ele. Didaticamente, dividimos esse poder em dois tipos:
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• soberania interna
a relação do poder com aqueles que vivem no Estado
• soberania externa
a relação do Estado com os demais Estados no âmbito internacional, apesar de a soberania 
ser indivisível, cientificamente. 
2.3 Povo
Povo é o elemento humano, ou subjetivo, do Estado. É o agrupamento de pessoas que, ao 
ganharem complexidade, formam uma sociedade com funções e interesses diversos, mas que 
convergem para possuir um mínimo de estabilização social. Há nesta relação entras as pessoas e 
o Estado um vínculo jurídico.
Alguns autores, como Azambuja (2008), diferenciam o povo da nação. Este último conceito 
remete a um conjunto de pessoas com origem comum, unidos por um sentimento e aspirações 
comuns, um sentimento complexo muitas vezes traduzido como patriotismo.
Há países que abrigam várias nações, e nações divididas em mais de um país. Apesar do 
caráter idealista que o termo nação pode ser compreendido, existem nações pelo mundo. E estes 
exemplos mostram que o elemento da nação não está necessariamente ligado à identificação dos 
Estados, por isso Azambuja (2008) afirma que a nação não é necessária para constituir o Estado, 
mas um elemento importante para a grandeza de um Estado.
O Princípio das nacionalidades, advindo pós revolução francesa, traz que toda nação teria 
o direito de se tornar um estado. Contudo, a prática não mostrou êxito nesse princípio, ainda 
que na teoria seja muito aceito. A dificuldade de se estabelecer realmente o que é uma nação e 
separar movimentos oportunistas de separação dificultam a aplicação do princípio.
2.4 O Estado democrático
Nina Ranieri afirma que “O Estado democrático, como tipo específico de Estado moderno, 
caracteriza-se por associar a supremacia da vontade popular à garantia da liberdade e à igualdade 
de direitos” (RANIERI, 2019, p. 315).
É importante perceber que essa noção de Estado democrático parte de uma ideia de 
democracia liberal enquanto elemento do Estado de direito. Enquanto isso as pessoas formam a 
soberania e a ideia de que a população é livre e que são formalmente iguais, sendo que o direito 
deve ser aplicado igualmente a todos.
68
Esta concepção pode ser lida, revisitada, criticada e até ter nova significação de acordo com 
o paradigma estatal que será conjugado, razão pela qual estes elementos podem ser ampliados 
e ressignificados.
Neste sentido, é comum vermos outros elementos que configurariam um Estado democrático, 
como o direito ao voto, a cargos públicos, liberdade de manifestação e imprensa, além de 
instituiçõeslivres, independentes e, a depender, autônomas.
No próximo tópico abordaremos modelos de democracia e traremos algumas reflexões, bem 
como trataremos das Constituições na Unidade IV. Por isso alertamos ao estudante que visite 
estas partes para uma melhor compreensão do Estado democrático.
3 MODELOS DE DEMOCRACIA
Mário Lúcio Quintão Soares (2011) traz a origem do termo do grego, demokratia, que remete 
ao período da Grécia antiga e à participação direta daqueles que eram considerados cidadãos 
autônomos. Assim, a origem do termo remete à ideia da participação popular na governança do 
Estado.
A democracia é vista, portanto, como o governo do povo e as possibilidades dos cidadãos 
participarem do governo. 
FIQUE DE OLHO
Apesar de o termo democracia ser usado cotidianamente por acadêmicos, juristas, 
jornalistas, cidadãos em seu cotidiano, há uma variação de significações que merecem 
atenção. Assim, apesar da possibilidade da síntese apresentada acima, é sempre importante 
que o estudante conheça diversas teorias sobre os sistemas democráticos.
69
Fonte: Minoru Suzuki, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Pessoas em manifestação na rua vistas de costas.
3.1 Democracia representativa
A democracia representativa é uma conquista das revoluções do final do Século XVIII, concebida 
como uma forma de acabar com privilégios e não permitir um governo de poucos para poucos.
Neste sentido, o direito fundamental ao voto era importante para que o povo pudesse escolher 
quem o representaria. James Madison ainda destaca que as eleições deveriam ser periódicas para 
que a soberania popular fosse realmente efetiva (RANIERI, 2019, p. 318).
John Stuart Mill (Ranieri, 2019) também escreveu sobre O Governo Representativo, em 1861, 
e cunhou o termo democracia representativa, além de abordar o tema de forma sistemática.
O autor destacou que, além de não ser possível uma democracia direta em Estados que possuem 
mais que uma cidade pequena, na representatividade deveria ser garantido que minorias pudessem 
se ver representadas, para evitar uma tirania da maioria (Ranieri, 2019, p. 319).
Dessa forma, a democracia representativa teria algumas características em comum para 
possibilitar a participação popular e garantir também a representatividade das parcelas de 
pessoas e suas diferenças. Podemos afirmar, assim, que a democracia é indireta, pois o governo 
é gerido por representantes, e que é comum um pluralismo partidário que consiga trazer a 
representação das minorias.
Devemos observar que, apesar de teoricamente a democracia representativa ter ganhado 
voz na transição para o século XX, na prática ela não era aplicada, visto que poucos votavam no 
mundo ocidental. Apenas na segunda metade do século é que a maioria dos países avançaram 
neste sentido.
70
Para ilustrar, vale destacar que no Brasil a mulher só passou a escolher seus representantes 
a partir da Constituição de 1946, apesar de uma década antes ter tido o direito de voto na 
Constituição de 1934. Nos Estados Unidos da América, por sua vez, os negros não votavam em 
sua totalidade até os movimentos civis da década de 1960.
Outro ponto que merece ser pensado sobre a democracia representativa é que ela vem 
passando por crises. Rousseau (Ranieri, 2019) afirmou que a democracia enquanto realizada 
por representantes deixa de ser um autogoverno, uma vez que a vontade não se representa, 
mas só pode ser manifestada em sua plenitude se feita diretamente. Essa perspectiva anuncia 
teoricamente aquilo que muitos autores têm chamado de crise de representatividade, e que 
demanda outros arranjos democráticos.
A crise da democracia também ocorre de maneira constante na história da América 
Latina, incluindo aqui no Brasil. Avritzer (2018) afirma que o valor que a sociedade brasileira 
dá à democracia é relativo aos valores e prioridades dadas pelo governo. O governo que segue 
um caminho que destoa das forças políticas do momento acaba sofrendo com instrumentos 
antidemocráticos. Tivemos a oportunidade de destacar como nossa história é pautada em 
medidas de exceção que suspendem os instrumentos democráticos, e como 21% da população 
brasileira não tem aversão à ideia de uma intervenção militar para solucionar os problemas 
socioeconômicos de forma autoritária (CRUZ e SILVA, 2018).
No Brasil essa crise ficou evidencia desde as manifestações de julho de 2013, enquanto a 
população, de forma geral, manifestou uma forte crítica ao sistema partidário, por não se sentir 
representada.
3.2 Democracia direta
O modelo da democracia direta, em que os cidadãos possuem o direito de participar 
diretamente das instituições públicas, pode ser percebido como uma forma que não mais existe 
nos Estados modernos, em virtude da complexidade e do seu tamanho, mas também pode ser 
visto por meio de instrumentos de participação que vão além da representatividade e, por isso, 
recebem hoje o nome de democracia participativa.
Esse modelo, na atualidade, surge como resultado da crise da democracia participativa e como 
uma crítica à democracia apenas enquanto forma, e exige que nos instrumentos de governo seja 
efetivada a representatividade e a participação das pessoas nos rumos do Estado.
Dessa forma, enquanto a democracia direta em sua essência era o exercício direto do 
governo pelos cidadãos gregos, hoje os instrumentos de participação são implantados em graus, 
e possibilitam o cidadão de participar das decisões públicas para além do voto.
71
O Brasil possui alguns mecanismos de participação direta do povo e, por mesclar a 
representatividade com estes instrumentos, é chamado de democracia semidireta.
Podemos elencar algumas formas de participação do povo no governo brasileiro, como os 
orçamentos participativos; o controle social da administração pública; os conselhos gestores como 
o de saúde, do meio ambiente e de educação; o tribunal do Júri; a lei de acesso à informação e a 
lei de transparência, dentre outros. 
A Constituição Federal, por meio do art. 14, deu destaque para três formas de participação 
direta que são o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de lei.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) explica que o plebiscito é uma consulta extraordinária 
para alteração de medidas de base da ordem estatal, como formas de Estado ou de governo. 
Enquanto o referendo é o poder de aprovar leis após elas terem sido feitas pelo poder legislativo, 
podendo ser também a extinção de uma lei.
A iniciativa popular de lei é uma maneira de, a partir de critérios formais, o próprio povo 
propor uma nova lei, que será aprovada ou não pelo Poder Legislativo. No Brasil, o caso de 
destaque foi a famosa Lei da Ficha Limpa, que essencialmente alterou a Lei Complementar nº 
64, de 1990.
3.3 Democracia deliberativa
Bittar (2016) afirma que a democracia liberal representativa se mostrou insuficiente e em crise. 
A falta de representatividade e o sentimento de distância entre eleitores e seus representantes 
trouxeram a necessidade de o sistema político se reinventar, e regimes políticos adotarem novos 
mecanismos de participação popular.
Vários autores da segunda metade do século XX e dos dias atuais se debruçam em debates 
sobre mecanismos e procedimentos nos quais as pessoas poderiam efetivar a democracia: de 
terem participação, verem seus direitos fundamentais serem garantidos na esfera pública e, 
como consequência, serem parte das decisões de interesse social.
Na divisão de ondas geracionais de direitos humanos, essa democracia deliberativa entra 
como um dos direitos essenciais de todos os indivíduos em face do Estado, que deve garantir 
formas de participação e de construção dos projetos de vida por todos os cidadãos que compõe 
o Estado. É o sentido material da democracia sendo visto a partir de procedimentos verticais e 
horizontais das tomadas de decisão.
Neste sentido, a democracia deliberativa não se dissocia da democracia participativa e possui 
instrumentos dela. Todavia, ela valoriza o processo comunicativo e de amadurecimento da esferapública. A democracia é vista para além da escolha em si.
72
Uma dessas teorias, que podemos chamar de prodimentalista (CRUZ, 2016), é defendida 
por Habermas. Ela defende um processo comunicativo de deliberação que extrapole a mera 
formalidade da representatividade, que seja uma busca contínua por mais legitimidade nos 
processos de criação das leis, da execução de políticas públicas e até das decisões judiciais. 
Para o autor, o legislativo ainda cumpriria o papel de lugar para se estabelecer as normas que 
garantam a participação de todos. 
Robert Dahl (Ranieri, 2019), por sua vez, desenvolve uma teoria da poliarquia e destaca a 
accountability como amadurecimento da democracia. O termo, que não possui uma tradução 
precisa no português, traz elementos do que Robert Dahl quis trazer como poliarquia, que por sua 
vez seria a capacidade de uma sociedade responsabilizar-se por todos os seus cidadãos.
No Brasil, accountability tem sido associado à obrigação de transparência e prestação de 
contas dos agentes públicos em suas ações, bem como a responsabilização efetiva por seus erros. 
Neste sentido, alguns instrumentos conjugados trariam um grau maior de responsabilidade de 
todos os cidadãos pelo regime político e pela esfera pública.
É possível classificarmos accountability em dois tipos: 
Accountability vertical
• que seria a possibilidade de os eleitores pedirem contas a seus representantes;
Accountability horizontal
• que seria a prestação de contas dos governantes aos órgãos de controle e às instituições 
criadas com tal objetivo. 
A democracia deliberativa necessita dessa percepção de responsabilização para incluir todos 
nesse processo democrático. É possível afirmar que nesta ótica a democracia não é apenas 
um conceito formal ou material, mas um processo contínuo de permanente revisão de seus 
instrumentos.
FIQUE DE OLHO
A noção de accountability não é encontrada facilmente em textos jurídicos. Apesar 
disso, a administração pública vem estudando mecanismos que passam diretamente por 
regramentos estatais e pelo direito. O estudante ligado na prática do Estado necessariamente 
terá de perceber que mecanismos de accountability e compliance são centrais no debate 
atual.
73
4 REPRESENTAÇÃO POLÍTICA
Como trouxemos no tópico sobre a democracia, um dos modelos mais usuais de democracia 
adotados no mundo moderno é o sistema representativo. Esse sistema passa por crises e críticas 
desde o momento que passou a ser adotado. Contudo, ele se mostra como um mecanismo 
possível para que a soberania popular seja exercida com um conteúdo mínimo.
A representação política não exclui as possibilidades e instrumentos de participação direta e 
deliberativa, mas tem sido considerada como inevitável diante de um Estado tão plural e com a 
quantidade populacional que os Estados contemporâneos possuem.
Na próxima unidade traremos os partidos políticos como institutos que foram criados 
juntamente com o avanço e implementação da representação política. Os partidos trazem 
consigo a possibilidade de aglomeração de pessoas por identificação de posições políticas 
e o fortalecimento das representatividades, enquanto, por outro lado, também reduzem as 
individualidades e complexidades sociais e identitárias. 
Nos sistemas de representação temos também as eleições que merecem um destaque em 
nossos estudos.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
4.1 As eleições
As eleições são os procedimentos para a escolha daqueles que representarão a vontade 
popular.
Como já abordamos, Madison dizia que não basta que tenhamos eleições: elas precisam 
ocorrer de forma periódica, com a possibilidade de alternância do poder, com poderes e 
74
organizações diversas que possam participar da esfera pública, com vistas a impedir uma 
hegemonia de um único pensamento de forma autoritária.
Streck e Morais (2014) apresentam três grandes sistemas eleitorais que são utilizados para a 
escolha dos representantes populares, sendo que o ordenamento jurídico brasileiro adotou dois 
deles, razão pela qual vamos nos ater a estes.
O primeiro é o sistema majoritário, em que o cargo público será ocupado por aquele candidato 
que tiver mais votos. Assim, este mecanismo privilegia a escolha a partir do conceito de maioria, 
em que aqueles que fazem parte do maior grupo é que poderão escolher quem exercerá aquele 
posto político.
A depender de como o sistema se organizar, é possível encontrarmos mecanismos de escolha 
pela maioria absoluta ou relativa. No caso da maioria absoluta, para ela ser alcançada é necessário 
que o candidato tenha um total de votos maior do que 50%, razão pela qual é comum nestes 
sistemas eleitorais você ter segundo turno.
No Brasil, os cargos de presidente, governador, senadores e prefeitos de Municípios com mais 
de duzentos mil eleitores, é necessário que ocorra a maioria absoluta dos votos válidos para estes 
cargos. Por tal razão, quando não há essa maioria no primeiro turno, haverá um segundo turno 
eleitoral, entre os dois mais votados no primeiro e, assim, necessariamente teremos uma maioria 
de votos válidos para um dos dois candidatos.
É importante perceber que este sistema compartilha com os eleitores a responsabilidade da 
escolha do vencedor, ao passo que ao menos a metade deles terá escolhido aquele que assumirá 
os cargos de chefe do executivo, já que tal posto não pode ser exercido senão por uma única 
pessoa, ao contrário do sistema proporcional.
Por outro lado, é possível que as eleições se deem de forma proporcional, sistema este 
originário na Bélgica (STRECK e MORAIS, 2014), que busca efetivar o princípio da pluralidade 
política ou partidária.
É certo que a sociedade é plural, John Rawls (2002) afirma que esta é uma premissa a qual 
todos os cientistas políticos do mundo contemporâneo não podem fugir.Para construirmos uma 
sociedade que seja plural e democrática, são necessários mecanismos em que possamos escolher 
parcelas de representatividades da sociedade que possuam algum quantitativo mínimo em 
relação proporcional aos cargos disputados.
Neste sentido, considerando o caráter e a função do legislativo de representar a população, 
criar normas e fiscalizar o representante da maioria, é que no sistema eleitoral brasileiro a escolha 
dos deputados e vereadores é feita por meio deste sistema proporcional.
75
Veremos mais à frente que os partidos políticos e o sistema multipartidário que adotamos vai 
ao encontro desta forma eleitoral por possibilitar que as pessoas se aglutinem em torno de uma 
legenda e consigam escolher quantos representantes legislativos lhes forem proporcionais em 
relação à quantidade de cargos disponíveis.
É por isso que no art. 1º da Constituição Federal o Poder Constituinte deixou expresso que um 
dos fundamentos da República é o pluralismo político, resguardando os princípios da diversidade 
e sua possibilidade de representação política.
4.2 O voto
O tema do voto pode ser analisado de algumas formas diferentes, sendo possível encontrarmos 
três palavras distintas que estão relacionadas ao ato de escolha dos representantes, mas que 
precisam ser separadas e conceituadas adequadamente.
O voto também é dito como sufrágio ou escrutínio. Ocorre que o sufrágio é direito de votar 
e ser votado.
Assim, como regra geral, no Brasil todos os cidadãos possuem o direito ao sufrágio universal, 
cabendo algumas exceções quanto a requisitos e impedimentos decorrentes do próprio texto 
constitucional, uma vez que trata-se de um direito fundamental.
Sahid Maluf (2009) observa que a expressão universal é vista de uma forma relativa, e dirige-
se a uma universalidade de competências. Segundo ele, se levássemos à literalidade do termo, 
o Brasil não seria um país com o sufrágio universal, pois estão excluídos desta classe de direitos 
os estrangeiros, os menores de 16 anos e os conscritos durante o período do serviço militar 
obrigatório.
De toda forma, estas restrições se justificam dentro da lógica constitucional e direitos 
humanos atual,sendo exceções aceitas nestes âmbitos argumentativos. A título de exemplo, 
o Brasil abarca como titular de direito ao sufrágio os analfabetos desde o ano de 1985, o que 
demonstra a inclusão da diversidade e não exclusão por critérios censitários.
Por outro lado, o escrutínio é a forma pela qual o voto se manifesta, o procedimento para que 
o voto seja dado. No Brasil o voto é secreto, público e por meio das urnas eletrônicas.
Sob esta perspectiva jurídica, o voto é o exercício do sufrágio na sua modalidade ativa, que é 
votar, enquanto na modalidade passiva é o direito de ser votado.
O voto, enquanto a manifestação deste direito, carrega consigo um símbolo de lutas e um 
processo histórico indissociável da democracia. A luta das mulheres pelo direito de votar pelo 
mundo, ou dos negros em países que foram colonizados, são exemplos de como a democracia 
76
representativa, ainda que seja um parâmetro mínimo, tardou a chegar nos países, ainda que 
apenas nos ocidentais considerados como democráticos.
5 ALEXIS DE TOCQUEVILLE E O REGIME 
DEMOCRÁTICO
Alexis de Tocqueville (1805-1859), francês, tem destaque teórico por ter conhecido os Estados 
Unidos da América e, a partir de um olhar empírico, desenvolvido uma análise sobre a liberdade 
e a democracia na América. 
Desta perspectiva o autor compara os processos revolucionários e os sistemas políticos na 
Europa com a América do Norte. Bittar destaca o diferencial do autor da seguinte forma:
Sua originalidade reside no fato de ter sido o empreendedor que, com meticulosa dedicação, 
soube viajar, colher evidências, apontar diferenças comparativas com outros sistemas políticos e 
descrever a América em seu nascimento, e a própria democracia americana (como modelo) em pleno 
berço de crescimento. Sua tarefa foi a de beber na fonte límpida para dela descrever as delícias. 
(BITTAR, 2016, p. 261).
O autor usa de sua viagem para colher o máximo de informações e, ao descrever, também 
comparar a democracia encontrada na américa com os problemas na Europa que dificultaram a 
consolidação de uma democracia que poderia conciliar liberdade e igualdade.
Tocqueville (BITTAR, 2016) afirmou, assim, que para a democracia realmente acontecer é 
necessário que haja liberdade, igualdade e soberania popular. Aqueles que fundaram as treze 
colônias e lutaram pela liberdade, até o momento de formarem o federalismo, buscaram novos 
modelos, uma vontade de romper com as antigas instituições da Europa e criar um novo mundo.
A igualdade aparece como condição para todos buscarem seus projetos de vida. O sentimento 
patriota aparece com importância para Tocqueville, que apontou que a igualdade enquanto valor 
garantia, por outra via, a efetividade da noção de soberania popular.
Ao contrário dos modelos meramente teóricos, nos Estados Unidos da América há a percepção de 
que todos são iguais e de que desse povo é que decorria a soberania enquanto poder político estatal. 
A manifestação do Estado, de suas leis e de sua força extraí das pessoas, iguais entre si, a legitimidade 
para garantir a liberdade de todos. A democracia exige, também, uma soberania justa, que não se 
paute em abusos, nem mesmo em nome de maiorias. A justiça é o limite do direito dos homens.
Um outro ponto também observado pelo autor, e que difere o país dos outros na Europa, 
estaria ligado à menor desigualdade de riquezas. Se para haver democracia é necessário garantir 
a igualdade, por outro lado a redução das desigualdades, como na América do Norte, seria outro 
77
fator importante para o desenvolvimento democrático neste Estado.
Tocqueville (BITTAR, 2016) tinha encontrado um país em que havia uma pluralidade ideológica, 
uma nação com diversas associações cíveis que lutavam por seus direitos e representatividade, o 
que já indicava um grande amadurecimento da esfera pública.
Na América, o povo nomeia aquele que faz a lei e aquele que a executa; ele mesmo constitui o 
júri que pune as infrações à lei. Não apenas as instituições são democráticas, em seu princípio, mas 
também em todos os seus desdobramentos. Assim, o povo nomeia diretamente seus representantes 
e os escolhe em geral todos os anos, a fim de mantê-los mais ou menos em sua dependência. É, pois, 
realmente o povo que dirige e, muito embora a forma do governo seja representativa, é evidente que 
as opiniões, os preconceitos, os interesses, até as paixões do povo não podem encontrar obstáculos 
duradouros que os impeçam de produzir-se na direção cotidiana da sociedade” (Tocqueville Apud 
Bittar, 2016, p. 266).
De toda essa análise de Tocqueville, podemos afirmar que o autor teve grande relevância 
para o debate da democracia. Por um lado, o autor teoriza e coloca suas hipóteses em escritos 
que fomentaram o debate sobre o tema, por outro lado esse entendimento é realizado a partir de 
uma análise empírica que dá contornos únicos ao seu olhar e suas conclusões.
5.1 A crise da multidão: reivindicações globais de democracia
A multidão é composta por pobreza e amor, reproduzindo o comum, e carrega a possibilidade 
de atos revolucionários. Só a multidão pode executar esse movimento. Essa multidão está no que 
Hardt e Negri (MASCARO, 2019) chamam de império, e que a soberania muda de formato. Esse 
formato não exige mais um território bem delimitado, nem uma bandeira, pois há uma difusão de 
forma global, muito em razão da economia. Há nitidamente na análise dos autores que trazemos 
aqui uma problematização sobre os elementos do Estado moderno, que foram colocados em 
xeque com a globalização e a cada dia mais com a informação fluida.
“Já a multidão corresponde a uma nova forma de inteligência social que, para os que lhe são 
exteriores, parece caótica, irracional e anárquica. Contudo, para os que dela participam, a multidão 
se identifica com uma estrutura social que tende a preservar no mais alto grau a individualidade, a 
autogestão democrática e a espontaneidade, opondo-se a todos os tipos hierárquicos e centralizados 
de usufruto do poder social, desde a forma geral do Estado até formas específicas traduzidas em 
partidos políticos, exércitos, grupos guerrilheiros etc” (MATOS, 2014, p. 152)
Andityas Matos (2014) diz também que a multidão rompe a distinção nítida entre a esfera 
pública e privada. Por um lado, mencionar a relação como pública permite ao Estado lançar mão 
de medidas de segurança e de exceção, ou seja, que supostamente servem para resguardar o 
interesse público, para controlar a vida das pessoas até nas instâncias mais íntimas e até mesmo 
biológicas. No outro lado, o privado se reduziria a instâncias econômicas, que por sua vez 
carregam um símbolo de sagrado, de uma liberdade irrestrita.
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O autor, ao trazer as ideias de Hardt e Negri, critica a estrutura do capitalismo, como algo que 
afasta a utopia de algo realmente pluricultural, mas impõe um modelo único. Por isso uma ideia 
radical de multidão imporia um rompimento com díades típicas dos estudos da Teoria do Estado, 
e colocaria o poder realmente na mão de uma multidão de pessoas que não necessitam estar 
agrupadas e enquadradas: uma revolução que teria a capacidade de romper arquétipos.
5.2 As novas lutas políticas em rede (do biopoder à produção biopolítica 
– Michael Hardt e Antônio Negri)
A ideia de multidão abordada por Hardt e Negri (MASCARO, 2019) ganha outro elemento 
que avança as perspectivas de lutas por direitos ao inserir o termo rede. Mascaro (2019) mostra 
que, com o termo rede, os autores buscam romper as ideias de massa, proletariado ou povo, pois 
compreende que essas classes acabam excluindo sujeitos que estariam inseridos nas lutas políticas.
Essa multidão, portanto, poderia ser encarada como uma rede, sempre em expansão 
possível, que consegue abarcar as diferenças para um trabalho comum, costurando seus pontos 
de proximidade e convergência. É a passagem da revolta para a possibilidade de institucionalizar 
a ação revolucionária. A nova forma de resistência.
Negri dá à multidão e à sua evolução, a partir da modernidade,Introdução.............................................................................................................................................84
1 Partidos Políticos ................................................................................................................................ 85
2 Sistemas Partidários ........................................................................................................................... 88
3 O Estado e o Indivíduo: os Direitos Individuais, Coletivos, Econômicos e Sociais. A Visão Neoliberal. ..92
4 Direitos Humanos, Estado e Transformação Social ............................................................................96
5 Justiça de Transição: Direito à Memória, à Verdade e à Justiça .........................................................101
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................103
Ciência Política e Teoria do Estado apresenta, além de conceitos já muito na área, o 
conteúdo parcialmente descrito a seguir em suas quatro unidades.
Introdução e princípios básicos, a primeira unidade, discute, de maneira geral, 
a ciência política e teoria do Estado, dois assuntos fundamentais para quem está 
começando a estudar Direito. 
A segunda unidade, Estado e soberania, pretende apresentar ao leitor alguns dos 
grandes pensadores da Ciência Política e do Estado. O texto traz informações sobre o 
surgimento do Estado e da sua relação com o poder.
Na sequência, a terceira unidade, O Estado, sua evolução e a representação política, 
apresenta algumas formas de Estado, com ênfase no Estado moderno e a relação com 
o sistema democrático. O texto também aborda os sistemas democráticos e suas 
variáveis, dando a oportunidade ao leitor de comparar o conteúdo com as informações 
e notícias atuais. 
Fechando a obra, a quarta e última unidade, Partidos políticos e Estado, aborda 
assuntos importantes e muito atuais no cenário atual: partidos políticos, sistemas 
partidários, os direitos (individuais, coletivos, econômicos e sociais), a visão neoliberal, 
direitos humanos, transformação social, direito à memória, à verdade e à justiça, e mais.
Este é apenas um panorama do conteúdo que o leitor vai estudar.
Agora é com você! Sucesso!
PREFÁCIO
UNIDADE 1
Introdução e princípios básicos
Olá,
Nesta unidade, começaremos a discutir um pouco sobre Ciência Política e Teoria do Estado, 
dois ramos do conhecimento fundamentais para quem está começando a estudar Direito. 
É muito importante, no entanto, ter em mente desde já que esse material é apenas uma 
complementação aos seus estudos, o que pode te ajudar a tirar algumas dúvidas, mas não 
dispensa a leitura dos autores aqui indicados.
Bons estudos!
Introdução
11
1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA E À TEORIA 
DO ESTADO
Se você está se perguntando por que precisa estudar Ciência Política e Teoria do Estado no 
início de um curso de Direito, saiba que essa pergunta vem sendo feita há muito tempo, por 
inúmeros estudiosos. Historicamente, segundo Bonavides (2011, p. 48), a Ciência Política levou 
muito tempo para se tornar uma ciência autônoma na França, por exemplo. Antes disso, suas 
discussões e temáticas eram todas abarcadas pelo Direito, principalmente o Direito Constitucional 
(e essa aproximação ainda existe, como vocês vão perceber quanto mais se aprofundarem).
Até mesmo o nome “Ciência Política” precisou de tempo para se firmar e ser por todos 
reconhecido como algo específico e determinado. Isso porque, na cultura anglo-americana, 
por exemplo, o que se chamava “Ciência Política” era, na verdade, um acúmulo de relatos e 
experiências vividas por instituições (casos em que os interesses em jogo eram sempre ditados 
pelas forças políticas competitivas) ou análises técnicas que se constituíam ignorando os 
desenvolvimentos teóricos. (BONAVIDES, 2011, p. 46). 
Já na Alemanha, os juristas que se dedicavam a esse estudo, sempre envolvidos com 
o culto e a superstição do poder, só recentemente passaram a reconhecer uma “Ciência 
Política” propriamente dita, com contribuições e construções próprias, independentemente do 
condicionamento jurídico, sob a influência de correntes americanas excessivamente pragmáticas. 
Antes disso, esses estudos eram todos abarcados pela “Teoria Geral do Estado”, que apenas 
reconhecia variações de método e conteúdo dentro de sua amplitude. (BONAVIDES, 2011, p. 46).
A denominação “Teoria Geral do Estado”, que foi forte na Alemanha, não teve a mesma força 
na França e só chegou ao Brasil na década de 1940, durante a ditadura, ingressando nos currículos 
dos cursos de Direito, por imposição do regime ditatorial e não por pertinência temática ou 
pedagógica. À época, a Constituição da República de 1937 enfrentava grande resistência nas 
escolas pelos professores de formação democrática. (BONAVIDES, 2011, p. 46).
O fato é que a evolução terminológica veio também acompanhada da evolução dos métodos 
e delimitações da Ciência Política enquanto ciência, ramo do saber. Assim, segundo Soares (2004, 
p. 5-7), a Ciência Política estuda “a realidade política, o fenômeno político, o mundo ou o universo 
político e a res publica” (expressão do latim que significa “coisa do povo” ou “coisa pública”, 
e que deu origem à palavra “república”). Seu objeto de estudo, então, é “o conhecimento do 
universo político polarizado pelo fenômeno político do poder”, que ela analisa e transforma em 
um “conhecimento ordenado, racional, objetivo e metódico” que pode ser recepcionado pelos 
outros ramos do saber, inclusive a Teoria do Estado, que vai, a partir desse arcabouço de ideias, 
buscar entender se o Estado deve se colocar e atuar diante dos fenômenos atuais, além de como 
Cleisa Santos
Destacar
12
fazê-lo. Esse entendimento se dá a partir do conhecimento e da interpretação das relações de que 
eles possuem com a história e com a realidade global.
Fonte: Corgarashu, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: balança que simboliza a justiça em um local com bancos de madeira típicos 
de um tribunal
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1.1 Conceituação da Ciência Política e da Teoria do Estado
Desde que Kant (em seu livro Elementos Metafísicos das Ciências da Natureza) definiu como 
“ciência” a “toda série de conhecimentos sistematizados ou coordenados mediante princípios”, a 
ação intelectual dos positivistas e dos evolucionistas desenvolveu esse conceito de forma a torná-
lo cada vez mais preciso. Desenvolvimento esse que culminou na formulação de um conceito de 
“ciência” como sendo “o conhecimento das relações entre coisas, fatos ou fenômenos, quando 
ocorre identidade ou semelhança, diferença ou contraste, com existência ou sucessão nessa 
13
ordem de relações”. (BONAVIDES, 2011, p. 26).
Como vimos, a Ciência Política precisou de muito tempo para se desvencilhar do Direito e 
ser reconhecida como uma ciência autônoma, com seus próprios métodos e objetos. Uma vez 
reconhecida, no entanto, vamos ver como ela é conceituada enquanto área de conhecimento a 
partir desses critérios estabelecidos e desenvolvidos ao longo das décadas de estudo.
1.2 Ciência Política
Para conceituar “Ciência Política” e “Teoria do Estado”, Pinto (2013) faz uma escolha 
interessante e recorre à filologia e ao estudo da linguagem em fontes históricas escritas, de 
forma a entender melhor os significados dos termos que compõem essas expressões e produzir 
conhecimento a partir dessas nomenclaturas.
Primeiramente, então, ele recorre ao conceito de “ciência” disposto no dicionário mais 
famoso e tradicional da língua portuguesa:
Atentos à objetividade desejada, lembramos que, para Aurélio Buarque de Holanda, ciência é “[...] 
saber que se adquire pela leitura e meditação; [...] Conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos 
ou produzidos, historicamentea dimensão da carne, o 
que insere o debate na questão da biopolítica e o biopoder. A multidão enquanto um corpo, 
que sofre as negativas de direitos, também é aquele que busca romper as estruturas de forma 
revolucionária para suas novas formas de subjetividade, indo contra o império e na busca da 
construção por democracia (MARQUES e GOMES, 2013).
É com a reflexão destes autores que propomos o pensar sobre a democracia e a luta por 
direitos em um mundo plural e complexo.
79
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• refletir questões sobre a democracia e perceber que temos um modelo que parte da 
ideia de representatividade.
• entender que a representatividade em um Estado plural busca ir além de políticos 
eleitos e alocar porções que representam pessoas e ideologias em comum. Os parti-
dos políticos têm papel importante neste cenário e veremos no próximo capítulo.
• observar que, por outro lado, há uma nítida crise representatividade no Brasil e no 
mundo, o que força a discussão de novos modelos que busquem uma participação 
direta e um debate enquanto construção de decisões públicas.
• verificar como os procedimentos como as eleições e o sufrágio são imprescindíveis 
para os Estados contemporâneos, assim como diversos mecanismos de atuação 
popular da administração pública.
• e, por último, compreender a noção de accountability, que concretiza a percepção 
de transparência estatal e na responsabilização de todos aqueles que tomam deci-
sões e utilizam de verbas públicas.
PARA RESUMIR
AVRITZER, L. O pêndulo da democracia no Brasil: uma análise da crise 2013-2018. In: 
Novos Estudos. V. 37 n 02, mai-ago 2018.
AZAMBUJA, D. Teoria geral do Estado. 4ª ed. São Paulo: Globo, 2008.
BITTAR, E. C. B. Teoria do estado: filosofia política e teoria da democracia. 5ª ed. São 
Paulo: Atlas, 2016.
CRUZ, A. R. S. Habermas e o direito brasileiro. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006.
CRUZ, A. R. S.; SILVA, G. F. Uma perspectiva levinasiana sobre Estado de exceção e 
invisibilidades. In: Amor e justiça em Lévinas. Organizadores: Nilo Ribeiro Júnior et al. 
São Paulo: Perspectiva, 2018.
FERREIRA FILHO, M. G. Curso de direito constitucional. 40 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
GOMES, J. J. Direito Eleitoral. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2017.
LOPES, J. R. L; QUEIROZ, R. M. R.; ACCA, T. S. Curso de história do direito. 3ª ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2013.
MALUF, S. Teoria geral do estado. Atualização prof. Miguel Alfredo Malufe Neto. 29ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 2009.
MARQUES, L. M. B.; GOMES, F. M. Política de guerra e resistência: a emergência da 
multidão no estado de guerra global. In: Revista Páginas de Filosofia. V. 5. Nº 2. Jul/dez 
2013.
MASCARO, A. L. Filosofia do Direito. 7ª ed. São Palo: Atlas, 2019.
MATOS, A. S. M. C. A multidão contra o Estado: rumo a uma comunidade inapropriável. 
In: Revista Brasileira de Estudos Políticos. N. 108. Belo Horizonte, jan/jun 2014.
RANIERI, N. Teoria do Estado: do estado de direito ao estado democrático de direito. 2ª 
ed. Barueri: Manole, 2019.
RAWLS, J. Uma teoria da justiça. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
SOARES, M. L. Q. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da globalização. 4ª ed. 
São Paulo: Atlas, 2011.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STRECK, L. L.; MORAIS, J. L. B. Ciência política e teoria do estado. 8ª ed. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2014.
UNIDADE 4
Partidos políticos e Estado
Olá,
Chegando ao final do material, vamos discutir nesta unidade assuntos que, além de muito 
importantes, são também muito atuais nos noticiários, nas discussões e nas nossas vidas. 
E, como futuros operadores do direito, esses serão conhecimentos fundamentais no 
seu cotidiano. Para isso, é fundamental ter em mente mais uma vez que os autores aqui 
listados podem e devem ser consultados para maiores aprofundamentos. 
Bons estudos!
Introdução
85
1 PARTIDOS POLÍTICOS
A partir da ideia de democracia e de que “todo poder emana do povo e em seu nome será 
exercido”, os partidos políticos assumem um papel muito importante na organização estatal 
de um sistema democrático representativo, na medida em que possibilitam a organização e 
a manifestação das ideologias e dos interesses da população. É essa importância que eleva o 
pluralismo político ao status de fundamento do Estado Democrático como previsto na Constituição 
da República. (MALUF, 2010, p. 329). 
Essa é a tese democrática, que defende a concepção do Estado pluripartidário em que os 
partidos políticos são entidades sociais ou instituições jurídicas (ou, ainda, considerando essa 
dupla natureza social e jurídica) indispensáveis à realização do ideal democrático. Mas, além dela, 
Maluf (2010, p. 330-331) aponta mais duas teses, a marxista e a fascista. A marxista é a tese 
desenvolvida por Lenin e Stalin, que atribui aos partidos uma existência precária e temporária, 
importante apenas em uma fase da evolução social, como “mal necessário” somente até que 
se chegue a um estágio superior da ordem comunista em que a supressão das desigualdades 
e das divisões sociais permita que o Estado se torne num simples órgão de administração do 
patrimônio comum. E a fascista, popularizada com o fascismo italiano, o nazismo alemão e os 
Estados-novos, que prega a ideia de um partido único, totalmente entrosado com o poder estatal.
O estudo da origem e da evolução histórica dos partidos políticos nos remete à Inglaterra, 
nação precursora do constitucionalismo, cujos dados históricos remontam a 1680, quando 
surgiram os “Tories” (defensores dos interesses do feudalismo agrário e das prerrogativas régias) 
e os “Whigs” (novas forças urbanas e capitalistas que, apesar de monarquistas, defendiam 
princípios mais liberais), dois grandes grupos que disputariam o poder por tantos anos. Na França, 
os dados indicam a formação dos primeiros partidos na forma de associações civis e clubes no 
decorrer da nova ordem implantada pela Revolução de 1789, que depois se reuniram na formação 
dos dois partidos mais poderosos, o Conservador e o Liberal. Na Alemanha, os primeiros partidos 
também já se dividiam em Conservador e Liberal, com surgimento associado à Revolução de 
1848. Nos Estados Unidos, o Partido Democrático teria se organizado logo no seio da Convenção 
de Filadélfia (1787), enquanto o Republicano só surgiria de forma definitiva em 1854. No Brasil, 
a história dos primeiros partidos, o Conservador e o Liberal, remete ao final da Regência Trina. 
(MALUF, 2010, p. 332-333).
No Brasil, os dois primeiros partidos, também sob a denominação clássica de Conservador 
e Liberal, sugiram na fase final da Regência Trina, durante a legislatura de 1838. Ainda durante 
o Império, foi constituído vigoroso Partido Republicano (1870), o qual, recebendo influência 
da chamada “política dos governadores”, desdobrou-se em agremiações políticas provinciais, 
destacando-se as duas correntes de maior pujança, que foram os famosos Partido Republicano 
Paulista (PRP) e Partido Republicano Mineiro (PRM). (MALUF, 2010, p. 333).
86
De modo geral, foram fortes as tendências liberal e conservadora na história dos partidos 
políticos e do constitucionalismo. O desenvolvimento dos acontecimentos criou as divisões 
entre “esquerda” e “direita” e, com isso, um prisma de possibilidades para inúmeras posições 
centristas, hoje ocupadas por diversos partidos políticos com maior ou menor aproximação 
com os extremos, que procuram “conciliar a ordem democrática com as verdades parciais das 
doutrinas coletivistas”. (MALUF, 2010, p. 333).
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1.1 Definição E Função
Investigando o histórico da conceituação de partido político elaboradas por autores clássicos, 
Bonavides (2011) resumiu a evolução dessa definição e identificou os problemas dos teóricos na 
busca por um conceito que abarcasse toda a dimensão do termo:
O primeiro autor que se nos depara é Burke. Em 1770, definiu ele o partido como “um corpo 
de pessoas unidas para promover, medianteesforço conjunto, o interesse nacional, com base em 
algum princípio especial, ao redor do qual todos se acham de acordo”.
Em seguida, ao começo do século XIX (1816), Benjamin Constant, um teorista do Estado 
liberal, apareceu com outra definição, que aufere na ciência política prestígio igual ou superior 
ao da definição de Burke. Diz Constant que o partido político “é uma reunião de homens que 
professam a mesma doutrina política”.
Essa definição, segundo Levy-Bruhl, reúne vantajosamente os elementos essenciais de todo 
partido: o princípio de organização coletiva, a doutrina comum e a qualificação política dessa 
mesma doutrina. Porém, não insere um dado que, no sentir daquele sociólogo, fez lacunoso o 
pensamento de Constant com respeito aos partidos políticos: a conquista do poder, aquilo que 
os inclina à ação.
87
Daí portanto a superioridade que é de notar no conceito de partido político oferecido por 
Bluntschli, em 1862, quando disse que se tratava de “grupos livres na sociedade, os quais, mediante 
esforços e ideias básicas de teor político, da mesma natureza ou intimamente aparentados, se 
acham dentro do Estado, ligados para uma ação comum”. (BONAVIDES, 2011, p. 370).
Analisando, em seguida, os teóricos do século XX, Bonavides destaca outras características 
dos partidos políticos apontadas pelo desenvolvimento desses estudos. Segundo ele, o alemão 
Jellinek definiu os partidos como “grupos que, unidos por convicções comuns, dirigidas a 
determinados fins estatais, buscam realizar esses fins”. Já o alemão Weber destacou o caráter 
voluntário dessas organizações, que partem de uma propaganda livre e se renovam, em contraste 
com as entidades firmemente delimitadas por lei ou contrato. Citando o austríaco Nawiasky, o 
autor define os partidos políticos como “uniões de grupos populacionais com base em objetivos 
políticos comuns”. (BONAVIDES, 2001, p. 371).
Seguindo nessa linha, o autor traz Kelsen (austríaco) e sua definição como “organizações que 
congregam homens de mesma opinião para afiançar-lhes verdadeira influência na realização dos 
negócios públicos”, similar à definição de Hasbach (alemão), para quem o partido seria “uma 
reunião de pessoas, com as mesmas convicções e os mesmos propósitos políticos, e que intentam 
apoderar-se do poder estatal para fins de atendimento de suas reivindicações. (BONAVIDES, 
2001, p. 371).
Field (britânico) definiu o partido político como “associação voluntária de pessoas com a 
intenção de galgar o poder político” através de “meios constitucionais”. Schattschneider (norte-
americano) definiu como “uma organização para ganhar eleições e obter o controle e direção do 
pessoal governante”. Sait (também norte-americano), como “um grupo organizado que busca 
dominar tanto o pessoal como a política do governo”. Para o francês Goguel, trata-se de um 
“grupo organizado para participar na vida política, com o objetivo da conquista total ou parcial 
do poder, a fim de fazer prevalecer as ideias e os interesses de seus membros”. E, para o também 
francês Burdeau, uma “associação política organizada para dar forma e eficácia a um poder de 
fato”. (BONAVIDES, 2001, p. 372).
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2 SISTEMAS PARTIDÁRIOS
Como vimos com Maluf (2011, p. 330-331), existem três teorias referentes às diversas 
características dos sistemas partidários e as relações que os partidos estabelecem com o Estado:
• a democrática,
fundada na concepção do Estado pluripartidário, em que os partidos políticos são 
indispensáveis à realização do ideal democrático;
• a marxista,
em que os partidos assumem condição precária e transitória, apenas como meios de se 
alcançar a supressão das desigualdades;
• e a fascista,
que defende a ideia de um partido único, diretamente vinculado ao poder estatal.
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2.1 Unipartidarismo
Bonavides (2011, p. 393-394), ao apresentar o conceito e as ideias que fundam a concepção 
de “partido único”, “partido totalitário” e “unipartidarismo”, inicia o debate chamando logo a 
atenção para o contrassenso existente entre as ideias de “parte” ou “partido” e a ideia de “todo”. 
Afinal, o partido único foi a ferramenta utilizada por quase todas as ditaduras do século XX para 
sufocar o pluralismo político e impedir o exercício da liberdade por meio da interdição ideológica.
Ainda que alguns autores defendam o partido único como “a máxima inovação política 
do século XX”, o fato é que sua originalidade consiste em poder servir de sustentáculo para a 
implantação de ditaduras como “desdobramento inevitável do sistema político quando a crise 
social torna impossível a manutenção da democracia”. Historicamente, surgiram partidos únicos 
como resultado da revolução e da contrarrevolução social do século XX, mas suas ocorrências 
mais frequentes foram nos países recém-egressos do regime colonial, em que surgiram como 
“força política coroada pelo prestígio haurido na participação que teve durante o movimento 
criador da independência nacional”. (BONAVIDES, 2011, p. 394).
2.2 Bipartidarismo
O sistema bipartidário é considerado por alguns autores como “o sistema democrático por 
excelência em matéria de organização partidária”, como o que melhor possibilita participação 
“direta, imediata, efetiva e influente” do eleitor na escolha de candidatos. Esse sistema decorre 
diretamente da divisão política da sociedade, que nem sempre se manifesta no dualismo de 
partidos, mas quase sempre abriga um dualismo de “tendências” (como esquerda X direita, 
conservadores X progressistas e etc.) (BONAVIDES, 2011, p. 389).
Nesse sistema, a oposição ocupa um papel muito especial e importante, o de “governo em 
90
potencial”, uma espécie de força invisível fora do poder, mas a postos e pronta para assumir o 
poder numa oportunidade. Como visto, não se trata aqui da existência de apenas dois partidos, 
mas de dois grupos ideológicos principais e, embora o bipartidarismo possa abrigar uma 
infinidade de partidos disputando as eleições, o sistema se estrutura de uma forma que só dois 
têm efetivamente chances de chegar ao poder (BONAVIDES, 2011, p. 390).
2.3 Multipartidarismo
O sistema multipartidário é o que abriga múltiplos grupos políticos com chances reais e 
concretas de assumir o poder. Para alguns autores, este é o sistema de “cunho profundamente 
democrático” na medida em que confere autenticidade ao governo. Em contrapartida, é nesses 
sistemas que se percebe de forma mais nítida, ostensiva e aguda, o quadro de luta de classes na 
sociedade, o que em alguns casos fortalece discursos favoráveis a soluções ditatoriais quando o 
Parlamento se torna uma casa de resistência ao Executivo, situação mais possível quanto mais 
grupos políticos se firmam como possibilidades nas eleições. (BONAVIDES, 2011, p. 392).
No sistema multipartidário, são comuns os governos de coligação, que abrigam gabinetes de 
formação heterogênea e, por vezes, sem rumos políticos coerentes ou bem planejados. Nos casos 
em que há excessivo número de partidos políticos, é comum que alguns sejam pequenos, sem 
coesão interna e bastante vulneráveis a negociações de vantagens. (BONAVIDES, 2011, p. 392). 
O caráter democrático desse sistema está diretamente ligado às possibilidades reais de 
representação. No sistema multipartidário, é real e viável a possibilidade de criação de um partido 
político. Assim, grupos que se encaixam em pontos específicos do prisma que se abre entre 
esquerda e direita podem se organizar e buscar a representação dos seus interesses e ideologias. 
O mesmo com grupos sociais que careçam de representação política. Isso não significa que esses 
grupos vão efetivamente chegar ao poder. Mas o multipartidarismo permite, aos insatisfeitos 
com a representação, a possibilidade de se organizarem para se fazerem representar.
2.4 Partidos Políticos Na Modernidade
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, em levantamento disponibilizado e 
constantemente atualizado em seu sítio eletrônico, oBrasil conta com 147.415.053 eleitores. 
Desses, 16.185.984 são filiados a algum dos 34 partidos políticos, o que corresponde a 
aproximadamente 10,98% do eleitorado nacional.
Os partidos políticos representam uma instituição importante para a manutenção do Estado 
Democrático de Direito (DANTAS, QUEIROZ, 2011). O que é importante saber é se essa baixa 
adesão é motivada por desinteresse ou se há outros empecilhos afastando a participação popular.
No mundo contemporâneo, os partidos políticos tornaram-se peças essenciais para o 
91
funcionamento do complexo mecanismo democrático. Para se ter noção da penetração e 
influência dessas entidades, basta dizer que eles detêm o monopólio do sistema eleitoral, 
chegando a definir o perfil assumido pelo Estado. Não há, com efeito, representação popular e 
exercício do poder estatal sem a intermediação partidária.
A principal função dos partidos é captar e representar a vontade do povo em meio a processos 
eleitorais. Isso porque, dentro do sistema competitivo que marca o nosso sistema eleitoral, cada 
partido reúne e representa um conjunto de convicções e ideologias que dão o caráter heterogêneo 
da representação. 
Nas palavras do Prof. Marcelo Cattoni:
(...) a democracia não pode ser concebida, quer em termos liberais, como uma mera disputa de 
mercado regulada mecanicamente por regras que legitimam a escolha de um governo comprometido 
com os interesses majoritários daqueles que supostamente representa; quer em termos republicanos, 
como um processo autocompreensivo através do qual a identidade ética presumidamente homogênea 
de uma comunidade concreta realiza. (OLIVEIRA, 2006).
Isso nos remete, de alguma forma, à teoria discursiva do direito de Jurgen Habermas. Sobre 
a importância dessa representatividade, destacamos a seguinte passagem de uma de suas obras:
O princípio segundo o qual todo o poder do Estado emana do povo tem que ser especificado, 
conforme as circunstâncias, na forma de liberdades de opinião e de informação, de liberdades de 
reunião e associação, de liberdades de fé, de consciência e de confissão, de autorização para a 
participação em eleições e votações políticas, para a participação em partidos políticos ou movimentos 
sociais, etc. (HABERMAS, 2003, p. 165).
Não bastassem os problemas apontados, que dificultam a identificação da população com os 
partidos políticos e, consequentemente, a representatividade e o sentimento de representação das 
pessoas, as estruturas internas dos partidos políticos nem sempre têm a democracia como regra.
Acontece que a Constituição Federal e as leis que tratam sobre os partidos políticos reservam 
grande autonomia para que eles regulem suas formas de organização e suas questões internas 
e de funcionamento. Assim, muitas de suas regras são definidas em estatuto, como é o caso 
das convenções. Cada partido pode definir, por exemplo, como deve ser feita a convocação dos 
filiados, o quórum de instalação e deliberação e até quem tem direito a voto.
92
#PraCegoVer: Balança antiga, com peso e contrapeso, sendo segurada por diversas mãos, de 
ambos os lados, que seguram os pratos para manter o equilíbrio.
3 O ESTADO E O INDIVÍDUO: OS DIREITOS 
INDIVIDUAIS, COLETIVOS, ECONÔMICOS E 
SOCIAIS. A VISÃO NEOLIBERAL.
É muito comum, em notícias, textos informais e até mesmo em alguns textos jurídicos, a 
utilização equivocada de termos que são tidos como próximos ou sinônimos, mas que carregam 
em si significados distintos, como direitos humanos, direitos dos homens, direitos da pessoa 
humana, direitos individuais, direitos fundamentais, etc. Inadequação essa que, ao aproximar 
esses conceitos ao nível de sinônimos, ignora a história, o conceito e a função de cada termo.
Pensando nisso, Ramos (2018, p. 76) elaborou um quadro bastante simplificado que apresenta 
algumas das classificações de direitos adotadas pela Constituição de 1988:
• Direitos individuais: 
consistem no conjunto de direitos cujo conteúdo impacta somente na esfera de interesse 
protegido de um indivíduo.
• Direitos sociais:
conjunto de faculdades e posições jurídicas pelas quais um indivíduo pode exigir prestações 
do Estado ou da sociedade ou até mesmo a abstenção de agir, tudo para assegurar condições 
materiais mínimas de sobrevivência.
93
Direitos de nacionalidade:
sendo a nacionalidade definida como o vínculo jurídico entre determinada pessoa, 
denominada nacional, e um Estado, pelo qual são estabelecidos direitos e deveres recíprocos.
• Direitos políticos: 
constituem um conjunto de direitos de participação na formação da vontade do poder.
• Partidos políticos:
associações de pessoas, de natureza de direito privado no Brasil, criadas para assumir o poder 
e realizar seu ideário ideológico.
• Direitos coletivos: 
- Direitos difusos: direitos transindividuais de natureza indivisível, que abrangem número 
indeterminado de pessoas unidas pelas mesmas circunstâncias de fato.
- Direitos coletivos em sentido estrito: direitos metaindividuais, de natureza indivisível, de 
que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária 
por uma relação jurídica base.
- Direitos individuais homogêneos: são direitos pertencentes a vários indivíduos, mas que 
possuem a mesma origem comum, constituindo-se, pela origem comum, em subespécie de 
direitos coletivos em sentido amplo.
- Direitos individuais de expressão coletiva: são direitos individuais que só têm existência 
na junção de vontades de vários indivíduos, como, por exemplo, as liberdades de reunião e de 
associação.
3.1 Direitos Individuais
Os direitos individuais são limitações impostas pela soberania popular ao Estado para que 
este consiga garantir às pessoas o exercício de direitos indispensáveis à pessoa humana. Segundo 
FILHO (2019, p. 14), são “direitos inerentes ao humano, gerados com base na natureza do ser e 
de sua constituição física, moral, política e cultural”, que uma vez positivados no ordenamento 
impõem “normas de eficácia plena e imediata”, pois são inerentemente relacionadas à 
personalidade do ser humano. 
Os direitos individuais têm íntima relação com a dignidade da pessoa humana e compreendem, 
por exemplo, o direito à vida, o direito à liberdade, o direito à igualdade, o direito à segurança e 
o direito à propriedade, consagrados no art. 5º da Constituição Federal de 1988. Para entendê-
94
los no contexto da Constituição brasileira, no entanto, é preciso entender que eles são um ramo 
dos direitos fundamentais estabelecidos na Carta Magna e frutos do desdobramento dos direitos 
humanos de primeira geração, que se fundamentam nas liberdades individuais, no direito à vida 
e a participação política e na igualdade. 
O art. 5º da Constituição da República é um ponto crucial em todo o seu texto e, 
principalmente, na compreensão do ordenamento jurídico pátrio. A leitura atenta dos seus 
incisos (que, de maneira genérica, prescrevem liberdades públicas) e, principalmente, o respeito 
às suas previsões são fundamentais para a manutenção da ordem e do respeito à dignidade 
humana dos brasileiros.
3.2 Direitos Coletivos 
Os direitos coletivos, de maneira genérica, são aqueles direitos transindividuais, que 
superam a esfera do indivíduo e são atribuídos a toda a coletividade ou a determinado grupo de 
pessoas. Segundo Dimoulis e Martins (2009, p. 72), os “direitos coletivos tradicionais constituem, 
conforme observado, direitos fundamentais, cujos titulares são categorias mais ou menos amplas 
de indivíduos”. 
Os direitos coletivos dividem-se em três grandes grupos de direitos, que o Código de Defesa 
do Consumidor (e, posteriormente, uma série de outras legislações) tratou de diferenciar: os 
direitos difusos, os direitos coletivos em sentido estrito e os direitos individuais homogêneos.
Os Direitos Difusos referem-se a um grupo indeterminado de pessoas (ou seja, não é possível 
identificar quem é o titular desse direito), unidas não por vínculo jurídico, mas por situação fática.
Os Direitos Coletivosem Sentido Estrito também transcendem a esfera do indivíduo, 
relacionando-se a grupos, classes ou categorias de pessoas.. Mas, nesse caso, pessoas ligadas por 
uma situação jurídica base. Assim como nos direitos difusos, não é possível identificar os titulares 
do direito coletivo em sentido estrito, mas, aqui, o que forma esse grupo é uma relação jurídica, 
que faz com que os interesses individuais dessas pessoas deem lugar ao interesse do grupo, da 
classe ou da categoria em que se reúnem, em decorrência desse vínculo.
Por último, os Direitos Individuais Homogêneos, também chamados de “acidentais coletivos”, 
são direitos que não nascem da coletividade e, a princípio, podem ser pleiteados de forma 
individual e se tornam coletivos em decorrência da sua forma e do seu exercício. Aqui, os sujeitos 
titulares desse direito são identificados ou identificáveis e o objeto de desejo é divisível. O 
que caracteriza essas titularidades individuais e identificadas e esse objeto divisível como uma 
espécie de direito coletivo é a origem comum decorrente de um episódio específico, que torna 
recomendável a tutela coletiva. 
95
3.3 Direitos Sociais
Os direitos sociais são “créditos da pessoa diante da unidade política na qual ela se insere”, 
previstos em normas programáticas que orientam a atuação do Estado para prestações positivas 
que ofereçam políticas providenciais à sociedade. Esses direitos exigem do Estado uma atitude 
presencial e lhe atribuem os meios necessários para a “promoção do bem-estar e da boa relação 
entre Estado e sociedade política”. (FILHO, 2019, p. 14).
Os direitos sociais estão intimamente ligados à ideia de cidadania porque pretendem 
assegurar que os cidadãos consigam acessar as necessidades básicas para uma vida digna: 
educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência 
social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Sabemos, contudo, 
que a previsão no texto constitucional não assegura a efetivação desses direitos. Mais que isso, 
é preciso que sejam colocados em prática pelo Estado e orientem a condução das suas atuações 
por meio de políticas públicas.
Os direitos sociais consolidaram-se no mundo como conquistas históricas dos movimentos 
sociais ao longo dos séculos, e, atualmente, são reconhecidos no âmbito internacional em 
documentos como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, e o Pacto Internacional 
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, bem como pela Constituição da República 
de 1988, que os consagrou em seu artigo 6º. 
3.4 Direitos Econômicos
Os direitos econômicos relacionam-se diretamente aos Direitos Humanos e aos demais 
grupos de direitos constitucionalmente assegurados porque funcionam como instrumentos de 
concretização dos direitos sociais. Isso porque os direitos sociais, como vimos, estabelecem 
rumos para a atuação estatal em prol da garantia da dignidade humana (e esses rumos incluem 
metas como a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades, por exemplo), e é isso o 
que vai regulamentar juridicamente a política econômica nacional. O Direito Econômico, nesse 
contexto, é um instrumento importante e necessário a qualquer projeto de transformação da 
realidade econômica e social do país.
A ordem econômica constitucional é objeto e resultado da soberania econômica do Estado. 
Essa soberania incide sobre todos os bens econômicos vinculados a interesses públicos e privados 
e determina competências funcionais administrativas e econômicas. Além disso, a soberania 
econômica autoriza o Estado a operar na esfera econômica usando as formas empresariais 
previstas no ordenamento jurídico e segundo os comandos da ordem constitucional. (FERREIRA, 
2019, p. 924).
96
3.5 Visão Neoliberal
O termo “liberalismo”, como lembra Filomeno (2019, p. 307), pode ter vários significados, já 
que “liberal” é aplicado para caracterizar regime, economia, ideologia, etc. No sentido político, no 
entanto, “liberal” é um termo oposto à ideia de “autoritário” ou “absolutista”. Ou seja, o regime 
liberal, do ponto de vista político, é aquele em que se identifica com a desconcentração do poder 
político (o que, às vezes, pode ser confundido com democracia, mas não é a mesma coisa).
O liberalismo como movimento político nasceu da decadência do regime econômico 
mercantilista e do surgimento (e ascensão) da “burguesia”, fatos que colocaram no debate 
popular as ideias de “livre iniciativa” e “livre concorrência” em oposição a interferências do 
Estado (quaisquer que fossem elas). Essa propagada e defendida liberdade seria uma forma de 
tirar das mãos do Estado o “controle” da economia e deixá-lo somente a cargo dos detentores das 
riquezas. (FILOMENO, 2019, p. 308).
A partir do liberalismo e da maturação de seus princípios, um novo conceito se popularizou a 
partir da década de 1980, defendendo (da mesma forma) a autonomia dos cidadãos na política e 
na economia e a limitação das intervenções estatais, o neoliberalismo.
A onda neoliberal (e neoconservadora) que avança pelo mundo já causa efeitos em alguns 
países, ameaçando o constitucionalismo social e destruindo as bases do bem-estar social que 
foram construídas após a Segunda Guerra Mundial, como o “oferecimento de serviços públicos 
gratuitos de educação, saúde e previdência para toda a população”. Com o avanço da globalização, 
o neoliberalismo avança também em direção à soberania, comprometendo radicalmente essa 
ideia na medida em que o poder econômico privado global cresceu até ficar mais forte que o 
poder dos Estados. 
4 DIREITOS HUMANOS, ESTADO E 
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Um “direito” é, basicamente, uma reivindicação justificada, ou seja, uma reclamação baseada 
em um fundamento que lhe possibilite exigir e fazer valer. Nesse sentido, os direitos humanos são 
FIQUE DE OLHO
O neoliberalismo pressupõe, em princípio, a ampla liberdade de iniciativa e o exercício 
de atividade ou profissão, mas essa liberdade enfrenta limitações porque não pode 
comprometer a justiça social, um dos pressupostos do próprio bem comum do Estado.
97
reivindicações fundamentadas na natureza humana dos indivíduos. Não dependem de garantias 
ou concessões, são inerentes a todos os seres humanos e por eles adquiridos no nascimento. 
Uma consequência é o reconhecimento de que os direitos de um indivíduo convivem com os 
direitos de outros. O reconhecimento de um rol amplo e aberto de direitos humanos (sempre é 
possível a descoberta de um novo direito humano) exige ponderação e eventual sopesamento dos 
valores envolvidos. O mundo dos direitos humanos é o mundo dos conflitos entre direitos, com 
estabelecimento de limites, preferências e prevalências. Basta a menção a disputas envolvendo 
o direito à vida e os direitos reprodutivos da mulher (aborto), direito de propriedade e direito ao 
meio ambiente equilibrado, liberdade de informação jornalística e direito à vida privada, entre 
outras inúmeras colisões de direitos. 
Por isso, não há automatismo no mundo da sociedade de direitos. Não basta anunciar um 
direito para que o dever de proteção incida mecanicamente. Pelo contrário, é possível o conflito 
e colisão entre direitos, a exigir sopesamento e preferência entre os valores envolvidos. Por 
isso, nasce a necessidade de compreendermos como é feita a convivência entre os direitos 
humanos em uma sociedade de direitos, nos quais os direitos de diferentes conteúdos interagem. 
Essa atividade de ponderação é exercida cotidianamente pelos órgãos judiciais nacionais e 
internacionais de direitos humanos. (RAMOS, 2018, p. 31).
Os direitos humanos têm, na história do mundo, um capítulo importante relacionado à 
Revolução Francesa, a proclamação da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, um 
documento muito importante que exerceu grande influência sobre movimentos políticos e sociais 
em vários países. A intenção dos revolucionários franceses quando da publicação era de que a 
declaração tivesse caráter universal, “afirmandoa liberdade e a igualdade como direitos de todos 
e enumerando outros direitos também considerados fundamentais”. (DALLARI, 2014, p. 20).
4.1 O Princípio Constitucional Fundamental da dignidade da Pessoa 
Humana
Para que uma pessoa tenha reconhecidos os seus direitos e seja capaz de exercê-los, é 
fundamental primeiramente que ela seja reconhecida como uma “pessoa”, como alguém capaz 
de titularizar e exigir direitos. Ser tratado e respeitado enquanto “pessoa” significa ter respeitados 
e reconhecidos direitos como a vida, a liberdade e a dignidade. (DALLARI, 2014, p. 37). 
Falar em “vida digna”, no entanto, não é suficiente, pois garantir o direito à vida, por exemplo, não 
é apenas evitar que uma pessoa seja morta, mas permitir que ela viva de forma digna, como todos os 
direitos necessários para que viver não lhe pareça um martírio. A vida digna que deve ser assegurada, 
então, é algo muito mais elaborado que apenas estar vivo neste mundo. No mesmo sentido:
Não basta afirmar que todas as pessoas são iguais por natureza. Para que essa afirmação 
98
tenha resultados práticos é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que ninguém seja 
tratado como superior ou inferior desde o instante do nascimento. É preciso assegurar a todos, de 
maneira igual, a oportunidade de viver com a família, de ir à escola, de ter boa alimentação, de 
receber cuidados de saúde, de escolher um trabalho digno, de ter acesso aos bens e serviços, de 
participar da vida pública e de gozar do respeito dos semelhantes. (DALLARI, 2014, p. 50).
Quando se fala em garantir direitos às pessoas, fala-se diretamente da relação “indivíduo-
Estado (ou liberdade-autoridade)”, que é um dos pontos mais delicados e discutidos, como vimos, 
pela Ciência Política. 
Indivíduo e Estado, assim como liberdade e autoridade, são termos inseparáveis de um 
binômio. Negar um ou outro, diz Gropalli, é como negar a luz do sol, pois, “se o indivíduo só pode 
viver em sociedade e pela sociedade, a sociedade, por sua vez, não pode viver senão da vida e 
pela vida dos indivíduos que a compõem, e com a tutela dos interesses destes se funde a tutela 
dos interesses daquela, porque mutuamente se pressupõem e se integram na sua imanente 
unidade”. Toda a preocupação da ciência do Estado, portanto, se concentra em determinar 
a posição do homem perante o Estado e em fixar, ao mesmo tempo, os limites da liberdade 
individual e da autoridade estatal. Os excessos de liberdade conduzem à anarquia, e os excessos 
de autoridade levam ao absolutismo do poder. São os dois males entre os quais se debate a 
liberdade. No dizer de Seeley: “los excesos del gobierno como tutela de los pueblos, y los excesos 
de la libertad como anarquia de los indivíduos”. (MALUF, 2011, p. 339).
Seguindo dessa discussão, Maluf (2011, p. 340) assevera que é preciso considerar o 
homem sob dois aspectos para que melhor se compreenda a relação entre indivíduo e Estado: 
o homem como “indivíduo” ou “partícula do organismo social” e o homem como “pessoa” ou 
“realidade espiritual”. Como “indivíduo”, o homem tem, além de direitos, deveres para com 
a sociedade à qual se subordina e que lhe oferece as condições e garantias necessárias para 
seu desenvolvimento e consecução de seus ideais. Mas, além de “célula do organismo social”, 
o homem é também uma “realidade espiritual” e, como pessoa, é dotado de direitos naturais 
inerentes à sua condição humana e, portanto, independentes de outorga do Estado e impossíveis 
de serem pelo Estado suprimidos. Essa distinção é importante porque o homem não pode ser 
visto “simplesmente como unidade inexpressiva do corpo social, absorvido e despersonalizado 
pelo coletivismo materialista”, nem tampouco como “pessoa soberana dotada de direitos supra-
estatais”. (MALUF, 2011, p. 340).
4.2 A Justiça Cidadã e os Novos Horizontes do Direito Alternativo
A estruturação da sociedade em classes sociais é uma realidade inquestionável e já naturalizada. 
As caracterizações dessas classes, no entanto, variam muito dentro das diversas realidades. Essa não 
é a única interpretação sobre a sociedade brasileira, mas é um resumo bem próximo da realidade 
brasileira e do que sobre ela falam os estudiosos nacionais. E foi a partir da identificação dessas 
99
realidades (e, claro, do desejo de mudança social), que surgiu, no final do século XX, um movimento 
de transformação na ordem jurídica brasileira que ficou conhecido como Movimento do Direito 
Alternativo (ou MDA) e que, segundo Ferrazzo e Duarte (2014, p. 94), pretendia aproximar o Direito 
das necessidades do povo e fez surgir “novas formas de inclusão dos direitos populares na pauta do 
Judiciário e de outras instâncias do Estado brasileiro”. Esse movimento, no entanto, não é apenas 
brasileiro. Surgiu em vários países da América Latina que, assim como o Brasil, perceberam em 
algum momento que os diversos problemas enfrentados pelas populações mais pobres derivavam 
de uma raiz mais profunda e comum: o sistema capitalista.
Há cerca de 20 anos, um movimento italiano denominado Direito Alternativo passou a se 
manifestar também no Brasil: alguns magistrados vanguardistas assumiam um compromisso 
com comunidades excluídas ou oprimidas, contrariando os interesses da classe burguesa. No 
Brasil, magistrados e juristas em geral assumiram tal compromisso em alto e bom tom, para que 
toda a sociedade pudesse ouvir. A partir do instrumental oferecido pelo Movimento do Direito 
Alternativo (MDA), as lutas populares tiveram grande avanço na conquista de direitos, e até 
hoje, decorridos mais de 20 anos de seu início no Brasil, repercutem nos tribunais e nos estudos 
jurídicos desenvolvidos nas Universidades os pressupostos e as realizações do MDA. Todavia, as 
sociedades ocidentais e, em especial, as latino-americanas, que são periféricas e de capitalismo 
dependente, apresentam grandes dificuldades para a concretização de direitos, pois a oposição 
de interesses burgueses aos interesses populares, em geral, produz condições de vulnerabilidade 
social através da concentração de riquezas. (FERRAZZO, DUARTE, 2014, p. 95).
O MDA seria, na verdade, uma tentativa de inverter a lógica da aplicação das leis, sempre 
tão centrada na “proteção aos donos do poder real (donos do capital) ou do poder formal (que 
estão a serviço daqueles)” e buscar obter resultados mais democráticos e humanizados. Para os 
defensores da igualdade e dos direitos do povo e das classes trabalhadoras, o MDA constituiu 
um momento de extrema importância na história do Direito brasileiro. Além de denunciar as 
insuficiências dos sistemas político e econômico e o quão deficitárias são as políticas públicas, o 
MDA contribuiu para inserir nos campos político e jurídico institucionais as “lutas populares por 
educação, saúde, moradia, alimentação, entre outros elementos indispensáveis à constituição de 
uma existência digna”. (FERRAZZO, DUARTE, 2014, p. 98-102).
4.3 A Ideia de Globalização e Globalismo localizada em Boaventura De 
Sousa Santos
Santos (2002), ao longo da obra que organizou, ao conceituar e criticar a ideia de globalização, 
explica que a globalização criou, no contexto internacional, uma nova forma de organização 
institucional e uma nova classe capitalista que fortalece as desigualdades sociais existentes. 
Por globalização, Santos (2001, p. 10) se refere ao “processo pelo qual determinada condição 
ou entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade 
100
de designar como local outra condição social ou entidade rival”. Mas esse processo não é único. 
Ao contrário, como o autor afirma, o que chamamos de globalização são, na verdade, “conjuntos 
diferenciados de relações sociais que, por sua vez, dão origem a diferentes fenômenos de 
globalização”. Ou seja, o que se afirma é que não existe uma entidade única chamada globalização, 
mas sim globalizações, no plural, como indicativo de que são múltiplas e diversas.
As diferenças nas formas como cada país experimenta a globalização(e seus benefícios e 
custos), é o que reforça a ideia do autor de que “não existe globalização genuína”. O que chamamos 
mundialmente de globalização é, na verdade, “a globalização bem-sucedida de determinado 
localismo”, ou seja, não existe condição que seja genuinamente global, mas sim condições locais 
e específicas. O que torna necessária e importante a distinção entre “globalização-de-cima-para-
baixo” ou “globalização hegemônica”, que são o que o autor chama de “localismo globalizado” 
ou “globalismo localizado”, e a “globalização-de-baixo-para-cima” ou “globalização contra-
hegemônica”, que o autor chama “cosmopolitismo” e “patrimônio comum da humanidade”. 
(SANTOS, 2001, p. 11, 15). 
4.4 Desafios e Perspectivas da Consolidação do Sistema Regional e 
Internacional de Direitos Humanos
O caráter universal da Declaração de Direitos Humanos é, na verdade, universalizante, pois 
esses direitos não se põem como garantias prévias no mundo, mas muito mais como um objetivo a 
ser alcançado, como se o universal estivesse ainda em curso. Universal esse que, para ser atingido, 
precisaria desrespeitar algumas culturas e impor a elas os padrões ocidentais (essencialmente 
eurocêntricos) uma vez que a ideia de direitos e de cidadania dos sujeitos é muito relacionada à 
cultura que partilham, à nação em que vivem e aos grupos que compõem. 
A luta pelos direitos, todos eles, sempre se deu dentro das fronteiras geográficas e políticas 
do Estado-nação. Era uma luta política nacional, e o cidadão que dela surgia era também nacional. 
Isto quer dizer a construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e a 
nação. As pessoas se tornavam cidadãs à medida que passavam a se sentir parte de uma nação e 
de um Estado. Da cidadania como a conhecemos, fazem parte então a lealdade a um Estado e a 
identificação como uma nação. (CARVALHO, 2017, p. 18)
Nesse sentido, para Maluf (2011, p. 229), a “Declaração de Direitos é uma síntese do Estado 
democrático, um resumo da ciência política autêntica e a razão de ser do próprio Estado”. Dito 
isso, é possível concluir, com pesar, que a Declaração Universal de Direitos Humanos (assim como 
qualquer legislação dita internacional que ignore as diferentes culturas) tem muito mais um 
alcance negativo que positivo, ou seja, serve mesmo é como um instrumento para dizer não, para 
resistir e para protestar contra o que se considera inaceitável. 
101
5 JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO: DIREITO À MEMÓRIA, 
À VERDADE E À JUSTIÇA
A Justiça de Transição é o termo que utilizamos para denominar o conjunto de “processos 
e mecanismos adotados durante as transições democráticas, com o objetivo de mitigar e 
prevenir violações a direitos humanos ocorridas em um passado marcado por conflitos, guerras e 
autoritarismo”. (SANGLARD et. al. 2018, p. 9).
Esse conjunto pode abranger ações políticas ou judiciais. O que as define enquanto justiça 
de transição é o objetivo de reparar violações a direitos humanos, fortalecer as instituições 
democráticas e assegurar o direito à memória, à verdade e à justiça em busca da restauração da 
justiça e manutenção da paz e do respeito aos direitos humanos.
No Brasil, segundo Carvalho (2017, p. 13), o esforço de construção da democracia no Brasil 
ganhou força após o fim da ditadura militar (em 1985) e foi marcado pelo destaque que assumiu 
a ideia de “cidadania”, que “caiu na boca do povo” a ponto de a Constituição de 1988 ser batizada 
de Constituição Cidadã.
Também no mundo, a justiça de transição está associada aos contextos de transição 
democrática. Por influência da Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948) e em busca 
de reduzir os genocídios e as violações a direitos humanos, esses períodos foram marcados por 
medidas parecidas, com a finalidade de superar a “herança traumática” por meio da garantia do 
direito à memória, à verdade e à justiça sobre o que ocorreu. Assim, o que a justiça de transição 
pretende é estabelecer (e fortalecer) o Estado de Direito, a prestação de contas dos fatos ocorridos 
e a reparação dos danos sofridos. (SANGLARD et. al. 2018, p. 10).
102
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Os partidos políticos são fundamentais para o exercício da democracia no país 
porque possibilitam um ambiente plural e polarizado de discussão e possibilitam que 
a vontade do povo seja representada nos processos eleitorais. Essa importância foi 
reconhecida pela Constituição e pela legislação e, hoje, a filiação partidária é condição 
imprescindível para que alguém possa concorrer em uma eleição.
• Para as eleições do Executivo e do Legislativo, o Brasil adota sistemas diferentes no 
que se refere aos cálculos dos votos. Para as eleições do Executivo e dos Senadores, 
utiliza-se o sistema majoritário. Para as eleições dos demais cargos do Legislativo, o 
Brasil adota o sistema proporcional.
• O sistema multipartidário é o que se define por múltiplos grupos políticos com 
chances reais e concretas de assumir o poder. Ainda que, para alguns autores, este 
seja o sistema de maior cunho democrático, outros destacam que o número excessivo 
de partidos prejudica a coesão e facilita as negociações de vantagens.
• Os direitos sociais são conquistas históricas obtidas pelos movimentos sociais ao 
longo dos séculos ao redor do mundo e hoje estão assegurados na Constituição da 
República. 
• Os direitos humanos são aqueles direitos sem os quais não é possível viver de forma 
pautada na liberdade, na igualdade e na dignidade e não precisam ser concedidos 
por ninguém, são inerentes a todos os seres humanos e por eles adquiridos no 
nascimento.
PARA RESUMIR
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. Neoconservadorismo e liberalismo. In: GALLEGO, Esther Solano. 
O ódio como política: a reinvenção da direita no Brasil. 1.ed. São Paulo: Boitempo, 2018.
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
BRASIL. Lei nº 9.096, de 19 de setembro de 1995. Ementa: Dispõe sobre partidos 
políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Disponível 
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9096.htm.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral.
CAMPOS, Adriana; SANTOS, Polianna P. O Princípio da Fidelidade Partidária e 
a possibilidade de perda de mandato por sua violação: Uma análise segundo a 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Revista do Instituto de Hermenêutica 
Jurídica, v. 14, p. 01-26, 2013.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ciência política e teoria do Estado é um livro direcionado para 
estudantes do curso de direito e correlatos.
Além de abordar assuntos triviais, o livro traz conteúdo sobre os 
princípios básicos da ciência política e da teoria do Estado, soberania, 
evolução, representação política do Estado e partidos políticos.
Após a leitura da obra, o leitor vai saber que a Ciência Política 
passou por algumas evoluções terminológicas para ser reconhecida 
como ciência autônoma e se desvencilhar de outras, como o Direito; 
compreender de que forma o organicismo e o mecanicismo foram 
duas importantes formulações históricas sobre os fundamentos da 
sociedade; conhecer algumas teorias que justificam a soberania 
estatal e explicam como tal poder é exercido pelo Estado; refletir 
questões sobre a democracia e perceber que existe um modelo que 
parte da ideia de representatividade; constatar que a democracia é 
um valor fundamental dos cidadãos; entender que existe uma crise na 
representatividade no mundo, por isso a necessidade de discussões 
sobre novos modelos que proporcionem uma participação direta 
e um debate enquanto construção de decisões públicas; observar 
que os direitos sociais são conquistas históricas obtidas graças aos 
movimentos sociais e estão atualmente assegurados na Constituição 
da República, e muito mais.
Aproveite a leitura do livro. 
Bons estudos!acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem 
sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender 
e [...] orientar a natureza e as atividades humanas [...]”. (PINTO, 2013, p. 3).
Em seguida, para complementar essa análise, recorre à conceituação de um filósofo:
Para Régis Jolivet, o termo ciência pode ser encarado nos pontos de vista objetivo e subjetivo: 
“Objetivamente, a ciência é conjunto de verdades certas logicamente encadeadas entre si, de maneira 
que forme um sistema coerente [...]. Subjetivamente, a ciência é um conceito certo das coisas por 
suas causas ou por suas leis.” A ciência demanda, portanto, objeto, método e lei. (PINTO, 2013, p. 3).
Trabalhada a análise do termo “ciência”, o autor segue sua análise terminológica dedicando-
se, então, ao termo “política”, que é uma expressão bastante conhecida e discutida pela filosofia:
Os autores, normalmente, separam o conceito clássico e conceito moderno de política. Assim é, 
por exemplo, no Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino. 
Para o conceito propagado por Aristóteles em sua obra Política, o termo significa a “Arte de Governar”, 
abrangendo a natureza, as funções e as várias formas de governo. O termo política consagrou-se 
classicamente no âmbito acadêmico como sendo estudo de atividades humanas referentes à existência 
do Estado, do poder soberano e de seu exercício. (PINTO, 2013, p. 4).
A este significado, o autor acrescenta considerações sobre a utilização atualizada do termo 
“política”, que tem hoje inúmeras outras acepções, podendo ser utilizado para denominar 
“um conjunto de atividades estatais”, como a atuação do Estado em busca de um resultado 
determinado. Acepção essa que dá origem às ideias de “política eleitoral”, “política partidária” 
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ou até “políticas públicas”, por exemplo. Nesse sentido, a “política” assume um conceito bastante 
popularizado e amplamente utilizado em várias esferas e temáticas do Poder Estatal. (PINTO, 
2013, p. 4).
A partir, então, dessas reflexões, Pinto (2013, p. 4) passa a construir uma conceituação de 
“Ciência Política” que respeite a filologia dos termos que compõem a expressão e combine 
esses significados. A “Ciência Política”, assim, seria um estudo metódico (com a metodologia e 
os procedimentos sólidos e específicos que constituem uma ciência) cujo objeto seria a política 
enquanto conjunto de atividades do Estado em suas mais diversas atuações e ramificações ligadas 
ao exercício do poder soberano, na busca por abranger todo o fenômeno estatal. 
Definir a atuação estatal como objeto de estudo da Ciência Política, no entanto, pode parecer 
uma simplificação, mas não é. A força estatal é marcada pelo poder, e o poder perpassa todas as 
estruturas sociais. O poder é histórico e geral, esteve e está presente em todos os momentos e 
em todos os grupos sociais, mas se manifesta de formas variadas que precisam ser entendidas e 
discutidas. Nesse sentido, o autor destaca a amplitude dos objetos de estudo a partir da grande e 
dispersa presença do poder nas estruturas sociais:
Cabe à ciência política, portanto, o estudo de todo o processo histórico do exercício do poder, 
desde as estruturas mais rudimentares até as mais complexas e as mais modernas; do matriarcalismo 
instintivo ao patriarcalismo, como natural expressão de força. Cabe, do mesmo modo, a análise da 
estruturação ideológica do poder, dos pré-socráticos aos pensadores da atualidade. Cabe ainda 
o estudo detalhado da família como célula de poder, passando pelos clãs, tribos e as polis gregas, 
o Império Romano, o Império da China e as civilizações pouco conhecidas como os incas, astecas e 
maias, chegando mesmo ao Estado Moderno como hoje é conhecido. No campo filosófico, portanto, 
muito há o que se estudar em relação à política, e o mesmo se diga quanto aos campos sociológico, 
antropológico, econômico e até o religioso. Não serão poucos, desse modo, os objetivos deste estudo 
e não serão poucos os autores a serem consultados. (PINTO, 2013, p. 4).
2 TEORIA DO ESTADO
Pinto (2013), ainda seguindo a linha da análise terminológica, conjuga dois significados para 
a palavra “teoria” a fim de construir um conceito para a “Teoria do Estado”. No mesmo dicionário 
brasileiro, ele descobre que:
O termo teoria significa, para Aurélio Buarque de Holanda, o “[...]Conhecimento especulativo, 
meramente racional [...] Conjunto de princípios fundamentais duma arte ou duma ciência [...]. 
Doutrina ou sistema fundado nesses princípios[...]”. (PINTO, 2013, p. 5).
E, mais uma vez, conjugando essa definição filológica com uma definição filosófica, acrescenta 
que:
Já no Dicionário da Filosofia Larousse do Brasil, teoria é conceituado como um 
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conjunto sistemático de ideias ou conhecimentos sobre terminado tema. Completa 
R. Jolivet “[...] que tem por fim unificar ou mesmo sistematizar um grande número de 
hipóteses ou leis em uma lei bastante geral”. (PINTO, 2013, p. 5).
A partir daí, é possível compreender a Teoria do Estado como o ramo da ciência que investiga 
e analisa as principais características do Estado, bem como seus aspectos, contextos, estruturas, 
origens, etc. Tudo isso com a finalidade de possibilitar reflexão e aperfeiçoamento.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
2.1 A Ciência Política e suas três dimensões: a filosófica, a sociológica 
e a jurídica
Inúmeros e reconhecidos teóricos e juristas acompanham a tendência universal de estudar a 
Ciência Política a partir de um aspecto tríplice ou tridimensional que compreenda as dimensões 
filosófica, sociológica e jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 45-46).
Esse entendimento é consequência direta da multiplicidade e da grande abrangência do 
objeto de estudo da Ciência Política, que se detém, como vimos, sobre o Estado, o poder e as 
relações que deles decorrem em todas as suas esferas e âmbitos. Os fatos e realidades que se 
constroem e são discutidos pela Ciência Política são também apreendidos por outros ramos 
do saber e essas compreensões se alimentam. Aqui, vamos analisar como se constituem essas 
dimensões dentro da Ciência Política e de que forma elas se aproximam. 
2.2 Dimensão Filosófica
Os assuntos políticos são temáticas que interessam os seres humanos desde os tempos 
mais remotos, principalmente desde Sócrates, Platão e Aristóteles. (BONAVIDES, 2011, p. 40). 
É natural, então, que a filosofia enquanto ciência tenha sempre acompanhado a sucessão de 
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fatos históricos e a evolução da construção dos modelos que hoje naturalizamos na sociedade, 
na tentativa de discutir as origens, a ideologia e a justificação do Estado enquanto fenômeno 
político-cultural. Nesse sentido:
A Filosofia conduz para os livros de Ciência Política a discussão de proposições respeitantes 
à origem, à essência, à justificação e aos fins do Estado, como das demais intuições sociais 
geradoras do fenômeno do poder, visto que nem todos aceitam circunscrevê-lo apenas à célula 
máter, embriogênica, que no caso seria naturalmente o Estado, acrescentando-lhe os partidos, os 
sindicatos, a igreja, as associações internacionais, os grupos econômicos, etc.
Convive o debate filosófico ademais com a investigação sociológica com a fixação jurídica dos 
fatos, normas e instituições políticas... (BONAVIDES, 2011, p. 41).
Uma vez que a Ciência Política se proponha a analisar os acontecimentos, as instituições e as ideias 
políticas (bem como os seus históricos e desenvolvimentos), essas questões podem ser discutidas a 
partir da análise do passado (como foram ou deveriam ter sido), do presente (como são ou deveriam 
ser) ou do futuro (como serão ou deverão ser). (BONAVIDES, 2011, p. 40).
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:2.3 Dimensão sociológica
Se a Ciência Política estuda fatos sociais, como vimos, sua aproximação com a Sociologia 
é inevitável e indiscutível. Sendo o fenômeno político um fato social por excelência, como 
ensina Durkheim, a análise de um fato político vai fundamentar uma Sociologia Política, que vai 
compartilhar com a Ciência Política noções e discussões sobre grupos, classes, ideologias, etc.
E esses são aspectos fundamentais que precisam ser considerados em qualquer análise da 
evolução do Estado. Bonavides (2011, p. 42-43), citando a obra de Vierkandt, destaca o caráter 
classista do Estado e da sociedade, as dinâmicas de luta pelo poder nas sociedades, os partidos 
17
como representação de interesses e as tendências e movimentos reformistas que se constituem 
considerando as relações de trabalho, a educação, a saúde espiritual da juventude, e o papel da 
igreja, por exemplo.
Também aproximam Sociologia e Ciência Política o forte caráter histórico necessário para a 
análise da evolução política. (BONAVIDES, 2011, p. 42). 
2.4 Dimensão jurídica
A dimensão jurídica da Ciência Política tem como grande expoente o trabalho de Kelsen, 
considerado o “Pai do Positivismo”, para quem o Estado e o Direito seriam uma única coisa. O 
Direito, para Kelsen, seria a lei. E a lei seria o que definiria e constituiria o Estado. Nesse raciocínio, 
o papel do Estado seria o de realizar a positivação do Direito. Seguindo essa abordagem, Kelsen 
propõe também uma Teoria Geral do Estado com bases fundamentalmente jurídicas, que 
assimilam o Estado ao Direito. 
Ainda segundo Kelsen, o Estado pertenceria ao mundo do “dever-ser” (que ele chama de 
“sollen”) e seria explicado pela “unidade das normas de direito de determinado sistema”. Assim, 
para o autor, “quem elucidar o direito como norma elucidará o Estado”, porque a força coercitiva 
do Estado é o mesmo que o grau de eficácia da norma jurídica. (BONAVIDES, 2011, p. 44). Essa 
valorização do Direito é também o que faz com que a Ciência Política tenha sido (e ainda seja um 
pouco) reduzida a um simples corpo de normas, objeto de estudo do Direito Político (BONAVIDES, 
2011, p. 43).
O Estado, na teoria de Kelsen, é esvaziado de toda substantividade e de todas as implicações 
de ordem moral, ética, histórica, sociológica. Território e população, elementos materiais que 
compõem o Estado, assumem aqui as faces de “âmbito espacial” e “âmbito pessoal” de validade 
do ordenamento jurídico. O que resta é o Estado como puro conceito, retintamente jurídico. 
A valorização descomunal (e desproporcional) do poder (seu elemento formal) aproxima-o da 
“santidade inviolável de normas concebidas como direito puro”. (BONAVIDES, 2011, p. 44).
3 A TEORIA DO ESTADO E O DIREITO: A TEORIA 
MONÍSTICA, DUALÍSTICA E PARALELÍSTICA
Não foi só Kelsen quem se dedicou a estudar e discutir a relação entre o Estado e o Direito. 
Essa é uma questão que há muito ocupa os pensadores. Maluf (2010, p. 1) inicia a sua obra já 
chamando atenção para essa questão:
O Estado é uma organização destinada a manter, pela aplicação do Direito, as condições universais 
de ordem social. E o Direito é o conjunto das condições existenciais da sociedade, que ao Estado 
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cumpre assegurar. 
Para o estudo do fenômeno estatal, tanto quanto para iniciação na ciência jurídica, o primeiro 
problema a ser enfrentado é o das relações entre Estado e Direito. (MALUF, 2010, p. 1).
Como se pode ver no trecho reproduzido, essa já é uma concepção bem moderna, 
que reconhece a separação entre as ideias de Estado e de Direito sem ignorar a relação de 
interdependência. O Estado, para Maluf, se orienta e se mantém pelas normas criadas pelo 
Direito, e ao mesmo tempo é responsável por garantir o seu cumprimento. É justamente por isso 
que a compreensão dessa relação é importante desde já, no início da formação jurídica. 
Os estudos que se dedicaram a compreender as relações entre Estado e Direito dividem-se 
principalmente em três teorias: a monística, a dualística e a paralelística, que vamos conhecer 
brevemente a seguir.
TEORIA MONÍSTICA
A Teoria Monística é também chamada de “estatismo jurídico” e reúne os pensadores que 
acreditam que o Estado e o Direito se confundem em uma só realidade. Para os monistas, o 
Estado é a única fonte do Direito e não existe qualquer regra jurídica fora do Estado, somente 
o “direito estatal”. É o Estado quem dá vida ao Direito quando a ele empresta a “força coativa” 
de que detém o monopólio. Só o Estado pode agir por meio da coação e uma regra jurídica 
sem coação seria uma “contradição em si, um fogo que não queima, uma luz que não ilumina”. 
(MALUF, 2010, p. 1). 
TEORIA DUALÍSTICA
A Teoria Dualística, também chamada de “Teoria Pluralística”, por sua vez, sustenta que o Estado 
e o Direito são duas realidades “distintas, independentes e inconfundíveis”. Para os dualistas, o Estado 
não se confunde com o Direito e nem mesmo é sua única fonte. O que o Estado detém é apenas 
o Direito Positivo (e o poder de positivar o Direito), mas o Direito não é e não pode ser visto como 
criação estatal. Trata-se de uma criação social que carrega em si os frutos do desenvolvimento e das 
mudanças que se operam na vida de cada povo sob a constante influência de fatores sociais, como as 
questões éticas, psíquicas, biológicas, e econômicas, por exemplo. (MALUF, 2010, p. 2). Nesse sentido:
O direito, assim, é um fato social em contínua transformação. A função do Estado é a de 
positivar o Direito, isto é, traduzir em normas escritas os princípios que se firmam na consciência 
social. Normas jurídicas têm sua origem no corpo social. (MALUF, 2010, p. 2).
TEORIA PARALELÍSTICA
A Teoria Monista, como vimos, é a que não vê separação entre Estado e Direito, já que os dois 
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são tão próximos e dependentes que se confundem, e que acredita que o Estado é a única fonte 
do Direito. A Dualística, no sentido contrário, vê diferenças e separações claras entre o Direito e o 
Estado, reconhece outras fontes de Direito e concebe o Direito enquanto fato social. 
É nesse terreno que se desenvolve a Teoria Paralelística, uma corrente eclética, situada em 
uma posição de relativo equilíbrio entre os extremos e que, segundo Maluf (2010, p. 2-5), vê 
Estado e Direito como “realidades distintas, porém necessariamente interdependentes”.
A Teoria Paralelística, então, reconhece a existência de Direito fora do Estado ao mesmo 
tempo que admite ser o Estado o detentor da “vontade social predominante” e, portanto, o único 
capaz de positivar o Direito. (MALUF, 2010, p. 3). Assim:
A teoria do pluralismo reconhece a existência do direito não estatal, sustentando que vários 
centros determinação jurídica surgem e se desenvolvem fora do Estado, obedecendo a uma 
graduação de positividade. Sobre todos estes centros particulares do ordenamento jurídico, 
prepondera o Estado como centro de irradiação da positividade. O ordenamento jurídico 
do Estado representaria aquele que, dentro de todos os ordenamentos jurídicos possíveis, se 
afirmaria como o “verdadeiramente positivo”, em razão da sua conformidade com a vontade 
social predominante. A teoria do paralelismo completa a teoria pluralista, e ambas se contrapõem 
com vantagem à teoria monista. Efetivamente, Estado de Direito são duas realidades distintas que 
se completam na interdependência. (MALUF, 2010, p. 3).
4 A SOCIEDADE: ORIGEM E SEUS ELEMENTOS 
CARACTERÍSTICOS
Soares (2004, p. 14), ao discutir os inúmeros conceitos de sociedade, começa pelo mais 
“genérico”, a sociedade como “o gênero humano, considerado o conteúdo abstrato e todas 
as formas de convivência humana ou a união entre os homens em geral”, ou, nas palavras de 
Bonavides (2011, p. 57), “todo o complexo de relações do homem com seus semelhantes”. Esse 
conceito genérico, no entanto, é bastante primário, uma vez que as sociedades se constituemde 
formas cada vez mais complexas em razão do aperfeiçoamento de mecanismos como a divisão do 
trabalho humano, o aproveitamento e controle de recursos naturais, as descobertas e invenções.
Verifica-se que, no decorrer do processo histórico, grupos sociais passaram a executar tarefas 
específicas, atingindo um amplo e intricado pluralismo social, que exige que recorra o jurista à Ciência 
Política como condição para o desenvolvimento de estudo aprofundado dessas relações sociais e 
jurídicas. 
Assim, faz-se necessário estabelecer uma caracterização geral das complexas sociedades, 
delineando os pontos em comum por meio de análise do conjunto de regras de atuação de cada 
sociedade. (SOARES, 2004, p. 15).
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Citando Dallari, Soares (2004, p. 15) elenca os elementos considerados necessários 
pelos estudos dessa natureza para que os agrupamentos humanos sejam reconhecidos como 
sociedades. os seguintes:
• A finalidade ou valor social
• As manifestações de conjunto ordenadas (ordem social e ordem jurídica)
• O poder social
Cada um destes tópicos poderá ser compreendido a seguir.
Fonte: Michael D Brown, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: imagem pictórica de pessoas em forma de desenho, em cima de um disco ou 
círculo, sendo que uma delas está do lado de fora e sendo ajudada por outra a subir nele.
4.1 Finalidade ou valor social
Sobre a finalidade (ou valor social) da sociedade, é importante destacar que se trata de 
um elemento bastante discutido pelas mais diversas teorias (ou concepções). Pela concepção 
determinista, então, o homem é totalmente submetido às leis naturais e ao princípio da 
causalidade, não podendo escolher um objetivo ou orientar a sua vida social pois esta estará 
sempre condicionada a fatores que ele não pode controlar. (SOARES, 2004, p. 15).
De acordo com a concepção finalista, o homem deve ser sujeito de sua própria história e, 
assim, contribuir para transformações sociais. Já a concepção tomista acredita que o homem tem 
consciência de que deve viver em sociedade e, por isso, busca fixar como objetivo da sua vida 
social uma finalidade condizente com o que lhe parece mais valioso e com as suas necessidades 
fundamentais. (SOARES, 2004, p. 15).
Já Tomás de Aquino refere-se ao bonum commune (bem comum) como a finalidade principal 
21
da sociedade organizada. Nesse raciocínio, é responsabilidade do Estado garantir aos membros 
da sociedade as condições necessárias para que alcancem o bem-estar material e cumpram o 
instinto humano de conservação. A finalidade social escolhida pelo homem, então, seria o bem 
comum, que consistiria no “conjunto de todas as condições de vida que configurem e favoreçam 
o desenvolvimento integral da personalidade humana”. (SOARES, 2004, p. 15-16).
4.2 Manifestações de conjunto ordenadas
A simples reunião de um grupo de pessoas em busca de um mesmo objetivo não é suficiente 
para garantir que esse objetivo seja alcançado. Para isso, é preciso, antes, que esse grupo esteja 
organizado para agir em busca desse fim. É disso que se trata a manifestação de conjunto 
ordenada: a ação de um grupo em conjunto orientada para um fim específico. E, para isso, é 
preciso que essas ações tenham reiteração, ordem e adequação.
A reiteração vem da ideia de que as manifestações de conjunto em busca de um objetivo 
devem ser realizadas permanentemente, e os atos individuais devem se conjugar em um todo 
coletivo. A ordem, que alguns autores dividem entre natural e humana e outros em social e 
jurídica, diz respeito à produção das manifestações para que se alcance o objetivo planejado, seja 
por causalidade ou por imputação. E, por fim, a adequação é a necessária preocupação com as 
exigências e possibilidades da realidade social.
4.3 Poder Social
O poder social é uma realidade verificável em diversas modalidades de relacionamento 
humano e consiste na faculdade de alguém impor a sua vontade ao outro sem necessariamente 
precisar recorrer ao uso da força. (SOARES, 2004, p. 18).
O poder social sempre existiu na sociedade humana, apresentando, em qualquer grupo social, 
traços característicos de sociabilidade — o poder é um fenômeno social — e de bilateralidade — o 
poder é a correlação de duas ou mais vontades, sendo que uma predomina. (SOARES, 2004, p. 18).
FIQUE DE OLHO
Foi o Papa João XXIII que formulou esse conceito de “bem comum”, tido como a finalidade 
das sociedades. Segundo ele, “o bem comum consiste no conjunto de todas as condições 
de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade 
humana” (Encíclica “Pacem inm Terris”, II, 58)
22
5 TEORIAS SOBRE OS FUNDAMENTOS DA 
SOCIEDADE: A INTERPRETAÇÃO ORGANICISTA E 
MECANICISTA DA SOCIEDADE
As sociedades organizam-se de formas variadas, que se distinguem pelos fins, pela amplitude 
e pelo grau de intensidade dos vínculos que envolvem os membros do grupo social aos tipos de 
associação existentes. Assim, a partir da análise das finalidades, pode-se distinguir dois tipos de 
sociedades: as de fins particulares, que possuem objetivos definidos voluntariamente escolhidos por 
seus membros, e as de fins gerais, que possuem objetivos indefinidos e genéricos que se destinam a 
possibilitar aos indivíduos que busquem atingir seus fins particulares. (SOARES, 2004, p. 19).
O Estado é uma forma de sociedade que Soares (2004, p. 19) denomina como “sociedade 
política”, que é a que se ocupa da “totalidade das ações humanas, coordenando-as em função 
de um objetivo comum”, coexiste com outras estruturas sociais, tais como a família, as tribos e 
os clãs, delas se diferenciando pelo monopólio legítimo da coação física para fazer valer as suas 
determinações.
A interpretação organicista compreende a sociedade como “o conjunto de relações por 
intermédio das quais vários indivíduos vivem e atuam solidariamente, de forma ordenada, 
visando estabelecer entidade nova e superior”. Os principais teóricos que se destacaram nessa 
corrente foram Aristóteles, Platão, Comte (organicismo materialista), Savigny (organicismo ético 
e idealista) e Del Vecchio. (SOARES, 2004, p. 13).
Bonavides também relembra Aristóteles e Platão e os apresenta como o “tronco milenar da 
filosofia grega” de onde procedem os organicistas. E destaca já na produção aristotélica a ideia de 
que os homens são partes de um todo que é social. (BONAVIDES, 2011, p. 58).
Na doutrina aristotélica assinala-se, com efeito, o caráter social do homem. A natureza fez um 
homem um “ser político”, que não pode viver fora da sociedade. 
Se a sociedade é o valor primário fundamental, se a sua existência importa numa realidade 
superior, subsistente por si mesma, temos o organicismo.
Reunião de várias partes que preenchem funções distintas e que, por sua ação combinada, 
concorrem para manter a vida do todo. (BONAVIDES, 2011, p. 58).
Mas é importante anotar a observação de Bonavides, que apontou que os organicistas 
apresentavam tendências a adotar posições ideológicas reacionárias em relação ao poder. 
(SOARES, 2004, p. 13).
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Entende esta que o homem jamais nasceu na liberdade e, invocando o fato biológico do 
nascimento, mostra que desde o berço o princípio de autoridade o toma nos braços, rodeando-o, 
amparando-o, governando-o. Vinte e quatro horas fora da proteção dos pais bastariam para acabar com 
o ser que chega ao mundo tão frágil e desprotegido. Dependência, autoridade, hierarquia, desamparo, 
debilidade, eis já no núcleo familiar os vínculos primeiros que envolvem a criatura humana e dos quais 
jamais logrará desatar-se inteiramente. Fazem os organicistas a apologia da autoridade. Estimam 
o social porque veem na Sociedade o fato permanente, a realidade que sobrevive, a organização 
superior, o ordenamento que, desfalcado dos indivíduos na sucessão dos tempos, no lento desdobrar 
das gerações, sempre persiste, nunca desaparece, atravessando o tempo e asidades. Os indivíduos 
passam, a sociedade fica. (BONAVIDES, 2011, p. 59).
Os mecanicistas, por sua vez, atacam a Teoria Organicista sempre negando que exista 
alguma espécie de identificação entre os organismos biológicos e a sociedade, pois a sociedade 
experimenta fenômenos que não encontram equivalência na realidade do sujeito, tal como 
migrações, mobilidade social e suicídios, por exemplo. No organismo individual, as partes não 
vivem por si mesmas, nem podem estar fora do ser que integram ou em outra posição que não 
aquela que a natureza lhes determinou. (BONAVIDES, 2011, p. 60-61).
A teoria mecanicista é predominantemente filosófica, com especial destaque para os filósofos 
jusnaturalistas, segundo os quais a “sociedade é um grupo derivado de um acordo de vontades 
formalizado por seus próprios membros” que se unem por um “mesmo interesse comum”, que 
depende da conjugação de seus esforços para que seja alcançado. De acordo com essas ideias, 
o fundamento da sociedade é, então, o consentimento dos cidadãos firmado por meio do pacto 
social. (SOARES, 2004, p. 13-14).
A teoria mecânica é predominantemente filosófica e não sociológica. Seus representantes mais 
típicos foram alguns filósofos do direito natural desde o começo da idade moderna. Seus corolários, 
com rara exceção, e Hobbes é aqui uma dessas exceções, acabam, sob o aspecto político, na explicação 
e legitimação do poder democrático.
Das teses contratualistas, da postulação que estas fazem, infere-se que a base da Sociedade é o 
assentimento e não o princípio de autoridade.
A democracia liberal e a democracia social partem desse postulado único e essencial de 
organização social, de fundamento a toda a vida política: a razão, como guia da convivência humana, 
com apoio na vontade livre e criadora dos indivíduos. (BONAVIDES, 2011, p. 61).
24
Os organicistas, então, são os que “se abraçam ao valor Sociedade” e se esquecem das 
liberdades individuais e da autonomia. Assim, com base nessas crenças, os organicistas tendem 
a assumir posições antidemocráticas, autoritárias e de direita, bem como defender justificações 
reacionárias do poder e autocracia. Os mecanicistas, ao contrário, são os que não reconhecem a 
sociedade como uma realidade suscetível de subsistir fora ou acima dos indivíduos, mas apenas 
como uma soma de partes. (BONAVIDES, 2011, p. 59).
Se o organicismo e o mecanicismo foram as duas mais importantes formulações históricas 
sobre os fundamentos da sociedade, qualquer conceito que se desenvolva sobre “sociedade” vai 
trazer maior influência de uma ou de outra concepção. Assim, quando se diz que “a sociedade 
é o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo 
associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos indivíduos”, 
trata-se, na verdade, de um conceito bem alinhado ao mecanicismo. Todavia, quando se define 
a sociedade como “o conjunto de relações mediante as quais vários indivíduos vivem e atuam 
solidariamente em ordem a formar uma entidade superior”, estamos diante de um conceito 
fundamentalmente organicista. (BONAVIDES, 2011, p. 57-58).
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De acordo com a Teoria Mecanicista, são três as hipóteses que podem explicar o surgimento 
da sociedade: 
1- a sociedade originou-se da vontade humana formulada por meio de pacto; 
2- a sociedade é resultado da última etapa de evolução da primeira hipótese, em perspectiva 
material ou espiritual; 
3- a sociedade teria nascido da predisposição e das necessidades da natureza humana. 
(SOARES, 2004, p. 14).
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Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender que a Ciência Política passou por algumas evoluções terminológicas e, 
principalmente, pela evolução dos métodos e delimitações enquanto ciência, para 
então conseguir ser reconhecida como ciência autônoma e se desvencilhar das outras 
ciências, principalmente do Direito.
• saber que, apesar de ter se desvinculado do Direito, a Ciência Política e as Ciências 
Jurídicas têm muitos pontos de encontro e se alimentam em vários pontos.
• ter sempre em mente que, conforme a Ciência Política possibilita, existe um caráter 
classista do Estado e da sociedade, bem como dinâmicas de luta pelo poder nas 
sociedades.
• compreender que o bem comum, tido como a finalidade social escolhida pelo 
homem, consistiria no “conjunto de todas as condições de vida que configurem e 
favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana”.
• entender que qualquer conceito que se desenvolva sobre “sociedade” vai trazer 
maior influência d o organicismo ou do mecanicismo, já que estas foram as duas mais 
importantes formulações históricas sobre os fundamentos da sociedade.
PARA RESUMIR
BONAVIDES, P. Ciência Política. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
MALUF, S. Teoria geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
PINTO, K. Curso de Teoria Geral do Estado: Fundamento do Direito Constitucional Positi-
vo. São Paulo: Atlas, 2013.
SOARES, M.L.Q. Teoria do Estado: introdução. 2. ed. rev. atual. Belo Horizonte: Del Rey, 
2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 2
Estado e soberania
Olá,
Esta nova unidade busca apresentar alguns dos grandes pensadores da Ciência Política e 
do Estado. O material é uma referência do conteúdo básico da disciplina, então é essencial 
a leitura de outras fontes de pesquisa. A leitura deve ser realizada pensando o contexto 
histórico e as transformações sociais.
Traremos elementos teóricos e práticos do surgimento do Estado e da sua relação com 
o poder. Nos tópicos sobre a separação de poderes, os regimes políticos e as formas de 
Estado, trazemos a possibilidade de comparar o conteúdo com as informações e notícias 
atuais. Sugerimos, inclusive, que o leitor pense o mundo atual a partir dos conceitos 
debatidos.
Bons estudos!
Introdução
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1 ESTADO E SOBERANIA: A VISÃO DOS CLÁSSICOS 
DO PENSAMENTO POLÍTICO
O estudo da soberania é ponto importantíssimo na disciplina Teoria do Estado moderno, já 
que se trata de um dos elementos essenciais na formação do Estado.
Mas mesmo antes deste conceito de Estado, a soberania era tema dos pensadores políticos 
que, por sua vez, influenciaram a construção teórica do que hoje é chamado de governo soberano 
e que traz os desafios contemporâneos sobre o tema. Por isso, é necessário compreendermos 
alguns pontos das teorias mais comentadas na doutrina clássica.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
1.1 Doutrinas teocráticas
Inicialmente, destacam-se as doutrinas ou teorias teocráticas, que desenharam o poder 
soberano de uma forma em que a legitimação última do exercício da soberania recaía sobre um 
elemento divino ou natural.
É importante ter em mente que durante parte do Império Romano e a Idade Média os filósofos 
eram pessoas ligadas direta ou indiretamente à religião. Além disso, o fundamento religioso 
operava na ordem de uma ideologia que compunha o paradigma destes tempos, principalmente 
na Idade Média.
Por esse contexto, os teólogos assumiram um papel de destaque na teoria filosófica, política 
e social. Estes, por sua vez, escreveram que todo poder vem de Deus (omnis potestas a Deo).
Teólogos como Belarmino e Santo Tomás de Aquino fundamentaram a soberania no poder 
divino, mas ressaltavam que este poder passava pelo povo. Para Santo Tomás de Aquino, o modo 
30
como a soberania se externaliza e é usada são formas de manifestação do Homem, mas é Deus 
quem confere o poder soberano. Assim, para o autor, quando os homens ultrapassam os limites e 
os princípios divinos, eles são injustos, o que nos permite dizer que, apesar de haver alguém que 
exerce o poder soberano, quem traz as regras e a legitimidade é um poder divino, de tal forma 
que há um parâmetro para analisar se o poder tem sido exercido conforme a vontade e as leis 
divinas. A síntese do pensamento de Santo Tomás de Aquino é expressada como:Omnis potestas 
a Deo per populum – Todo poder vem de Deus pelo povo.
Para compreender este ponto, é importante saber que, dentre os diversos teóricos que 
explicavam a Soberania como um poder advindo de Deus, cada um possuía sua análise, tendo 
complexidades e nuances diferentes que não cabem a este estudo aprofundar. Destacamos, 
inclusive, que Azambuja menciona autores que, ao trazerem o elemento do povo para a questão 
da soberania, já o fizeram em razão das aspirações democráticas.
“A teoria do direito divino providencial, cujos mais ilustres intérpretes modernamente foram De 
Maistre e Bonald, ensinava que Deus não intervém diretamente para indicar a pessoa que deve exercer 
o poder, mas indiretamente, pela direção providencial dos acontecimentos humanos. É, pois, uma 
doutrina semelhante à de Santo Tomás.” (AZAMBUJA, 2008, p. 77).
1.2 O poder político em Nicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel escreveu o famoso livro O Príncipe, de 1513, considerado como um dos 
textos que funda a Política como arte de governar o Estado. 
Assim, o exercício do poder seria uma forma de manutenção do próprio poder e da estabilidade 
do Estado, sendo que a política “era precisamente a arte de conquistar o poder político, conservá-
lo e exercê-lo” (AZAMBUJA, 2008, p. 27), razão pela qual a política, o poder e a soberania estão 
intimamente imbricados em Maquiavel.
Para Azambuja (2008), Maquiavel não quis classificar entre bons e maus os governos. Pelo 
contrário, quis tentar sair desta classificação para mostrar como a história possui ciclos fatais, 
em que homens bons tentam derrubar o governo anterior, mas seus filhos que não vivem os 
sofrimentos dos pais acabam por cometer injustiças com os governados, e assim serão depostos.
A análise empírica de Maquiavel é inserida no contexto de uma Itália instável, formada por 
diversos estados assimétricos e com invasões constantes, daí a preocupação central em estabelecer 
um poder político que consiga perpetuar no tempo. Mário Lúcio Quintão Soares afirma:
“Maquiavel deve ser analisado em seu contexto histórico, pois foi fiel à sua época e à sua 
classe, ao justificar a organização das monarquias nacionais absolutas como forma política do 
Estado moderno que permitiria e facilitaria um ulterior desenvolvimento das forças produtivas do 
capitalismo” (SOARES, 2011, p. 49).
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O autor analisou e trouxe diversas virtudes as quais o bom soberano deveria ter para unificar 
a Itália, como ser um príncipe protegido pela fortuna e dotado de virtú. Dessas qualidades, o 
governante acabaria por necessitar da sorte, em razão dos elementos externos que estão fora de 
seu alcance, além de ambição e sabedoria para tomar as decisões políticas.
A somatória destas e outras características elencadas na obra traria o consentimento dos 
cidadãos, que por sua vez permaneceriam fiéis ao poder soberano. 
1.3 O conceito de soberania em Jean Bodin
Jean Bodin publicou em 1576 a obra Os Seis Livros da República, que teve grande impacto 
sobre a temática da política, poder e soberania.
Mario Lúcio Quintão Soares (2011) relata como Jean Bodin foi o primeiro autor a descortinar 
o elemento da Soberania e a buscar sua justificativa. Esse poder soberano clássico, também 
chamado de summa potestas, não tinha relação como hoje a um direito internacional, mas em 
um âmbito interno. Era o poder absoluto e eterno que não conhecia limites por ninguém, pois 
não havia autoridade superior ao soberano (majestas est summa in cives ac súbditos legisbusque 
soluta postesta). Era exceção justamente aquele que legitimaria este poder: Deus e as leis divinas.
Nina Ranieri (2019) aponta como Bodin, em Os Seis Livros da República, buscou uma 
abordagem empírica do Estado, principalmente em razão da crise de justificação do final 
do século XVI. Por isso ele também tinha relação com um modelo absolutista, no sentido de 
conferir legitimidade a este modelo que poderia trazer estabilidade às nações europeias naquele 
momento. Ranieri afirma que, “a despeito da descrição empírica da realidade estatal e de suas 
exigências, nele se percebe, sobretudo, o desejo de restaurar o equilíbrio entre Moral e Política, 
entre Direito e Poder.” (RANIERI, 2019, p. 65).
Bodin afirmava, inclusive, que a nação que possuía algum tipo de vínculo jurídico com outras 
nações, como tratados, por exemplo, não poderia ser chamada de Estado soberano. Segundo 
ele, um Estado que precisa de um acordo com outro Estado não pode se considerar soberano. 
Se o cerne do poder político é a capacidade de legislar sobre todos que estão abarcados por 
tal manifestação política de forma irrestrita, independentemente do consentimento, então os 
tratados internacionais que impõem limites às nações iriam de encontro à sua noção de soberania.
Dos escritos de Bodin, podemos sintetizar que a soberania é esse poder perpétuo, inalienável 
e imprescritível que não tem limites senão em Deus.
Contudo, uma visão rápida poderia nos levar ao erro de acreditar que o Soberano poderia 
tudo. Mario Lúcio Quintão Soares (2011) anota que, da limitação das leis divinas, o summa 
potestas deveria observar certos limites como a própria finalidade do Estado e do direito natural, 
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as leis de sucessão ao trono, os tratados que o Soberano pactuasse (em razão do princípio pacta 
sunt servanda) e o consentimento dos estamentos.
A importância da teoria de Bodin, principalmente para superação do feudalismo, é indiscutível. 
No entanto, por outro lado, o fortalecimento do âmbito internacional e dos tratados é justamente 
um dos elementos que possibilitou que os Estados exercessem sua soberania com mais estabilidade 
política, como será visto a partir da Paz de Westphalia e a teorização do Estado moderno.
1.4 A teoria contratual da origem do Estado
As teorias contratualistas estão inseridas em um movimento jusnaturalista que buscam 
explicar as relações sociais e a formação do Estado em uma base hipotética racional, em que é 
pressuposto um acordo entre as pessoas em algum momento após o estado de natureza. Assim, 
as associações só existem porque os homens aceitarem se reunirem nestes moldes.
Neste sentido, destacamos as palavras de Nina Ranieri:
A doutrina contratualista abriga uma grande diversidade de justificações a respeito do porquê 
os homens decidiram unir-se e viver em sociedade. O ponto comum a todas é a negação do impulso 
associativo espontâneo como elemento-chave do contrato social: o contrato social é intencional e 
representa (RANIERI, 2019, p. 254).
Assim, antes de o ser humano viver em uma sociedade com regras, estruturada em 
algum arranjo racional, ele teria vivido na natureza, de forma primitiva e apenas em busca da 
sobrevivência.
Deste modelo de supor como ocorreu a evolução da humanidade é que foram criadas as 
teorias contratualistas, que foi descrita por alguns autores. A partir de agora, vamos entender um 
pouco melhor quem são eles e quais suas principais características.
1.5 O estado absoluto de Thomas Hobbes
Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679, e tem como principal obra O Leviatã. No que diz 
respeito à justificativa do Estado e de sua soberania, o autor afirmou que o homem vivia em um 
estado de natureza anárquico e caótico, em que o indivíduo vivia ameaçado pelas incertezas, o 
ataque de oponentes e a morte.
Esse modelo imaginado seria a guerra de todos contra todos, criando no homem um instinto 
agressivo sempre presente e natural.
O ser humano vivia em guerra com outros seres humanos em busca de poderes, e somente 
um governo poderia punir os excessos destes e possibilitaria a vida em sociedade. Segundo 
Hobbes, somente o medo da morte faz com que as pessoas busquem uma organização para se 
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protegerem das outras.
Para pôr fim a essa situação caótica, o homem permitiu que um poder comum governe embenefício de todos. Essa autoridade política única, que traria a estabilidade e segurança da vida 
das pessoas seria, então, o Estado.
O Estado seria, portanto, uma abdicação da liberdade total do ser humano, por isso um mal, 
um monstro, o Leviatã.
Utilizando-se da imagem bíblica do monstro marinho Leviatã, descreve [Hobbes] o Estado, 
significativamente, como o ente que assimila organicamente todos os integrantes da sociedade 
política: “uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os 
outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos todos 
da maneira que entender conveniente, para assegurar a paz. (RANIERI, 2019, p. 258).
Esse mandatário teria, para Hobbes, poderes ilimitados, indiscutíveis e absolutos. Uma 
soberania ilimitada e acima da moral. O que, no contexto histórico, era exatamente a teoria que 
os monarcas absolutistas queriam encontrar.
Podemos afirmar, a partir destes elementos e das leituras sobre Hobbes que o ser humano, 
sob o medo da morte, decide abdicar de parte da sua liberdade para criar o Estado. Este, por sua 
vez, terá seu poder e soberania para garantir a liberdade e segurança dos indivíduos.
1.6 O estado liberal de John Locke
John Locke viveu entre 1632 e 1704, desenvolveu um contratualismo liberal para justificar 
o Estado e o exercício de sua soberania. De forma diversa de Hobbes, não propunha um Estado 
absolutista.
Para o autor, todos os homens são iguais, e essa premissa é muito importante para justificar 
o direito natural de cada indivíduo em ser livre. Dessa forma, o homem inserido em um estado 
natural percebeu que era necessário criar leis para trazer estabilidade e restabelecer a igualdade 
e a justiça entre as pessoas que, por sua vez, teriam sido ameaçadas com a formação das 
sociedades.
Sahid Maluf (2009) destaca que na obra Ensaio sobre o governo civil, Locke desenvolve uma 
teoria que justificaria o Estado inglês do final do século XVII. O autor destaca que Locke afirmou 
que as pessoas podem delegam parte de suas liberdades, mas que o fariam apenas com aquelas 
relacionadas às relações externas, em sociedade. Assim, por outro lado, algumas liberdades e 
direitos fundamentais seriam indelegáveis, e o Estado não teria a possibilidade de restringi-los 
aos indivíduos:
O homem não delegou ao Estado senão os poderes de regulamentação das relações externas 
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da vida social, pois reservou para si uma parte de direitos que são indelegáveis. As liberdades 
fundamentais, o direito à vida, bem como todos os direitos inerentes à personalidade humana, 
são anteriores e superiores ao Estado.” (MALUF, 2009, p. 77).
É interessante perceber que em Locke, apesar do grande destaque dado às liberdades em uma 
lógica naturalista e racionalista, o autor coloca a questão ao lado do bem comum. Esta questão 
seria a razão de ser do Estado, formado por um contrato nitidamente objetivo para garantir o bem 
comum, juntamente com as liberdades.
Azambuja (2008) também extrai de Locke a ideia de que o poder deve ser exercido pela 
maioria que, consente expressamente quando se cria a sociedade estatal e, tacitamente, os seus 
descendentes. Para o inglês, a melhor forma de se governar a sociedade seria pela democracia, 
só sendo admitido um monarca caso haja um legislativo.
Destacamos, inclusive, que apesar da notoriedade de Montesquieu e sua teoria sobre os 
três poderes e os respectivos órgãos, John Locke em sua defesa pela democracia já distinguia os 
poderes, com destaque para a função do legislativo.
1.7 A soberania popular de Jean Jacques Rousseau
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) é considerado por Maluf (2009) como o teórico 
contratualista que mais aprofundou em estudos sobre a justificação do Estado e a soberania, 
como o autor que mais inspirou a Europa e a América no século XVIII.
Maluf continua e afirma que em Rousseau temos a afirmação de que a soberania não vem da 
coroa, mas dos indivíduos que, a partir da vontade da maioria, convencionam pelo surgimento 
do Estado.
Neste sentido, considerando que a soberania é do povo, ela nunca poderá ser limitada por um 
governante, que deverá garantir o bem comum sob pena de, em algum momento, ser retirado do 
poder, até mesmo com um novo pacto a fundar um novo Estado.
Para Rousseau, o homem era livre e feliz, e a sociedade e a propriedade privada trouxeram 
consequências negativas aos homens. Para evitar maiores desigualdades e proteger aqueles que 
foram subjugados é que foi criado o Estado.
O problema social consistia, assim, em encontrar uma forma de associação capaz de proporcionar 
os meios de defesa e proteção com toda a força comum, às pessoas e aos seus bens, e pela qual cada 
um, unindo-se a todos, não tivesse de obedecer senão a si próprio, ficando tão livre como antes do 
pacto”. (MALUF, 2009, p. 81)
Assim, o homem abre mão de parte da sua liberdade por meio de um contrato social, que terá 
um poder político que é a vontade geral. Sobra a cada indivíduo uma parcela da soberania, e por 
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isso a necessidade de uma maioria para a manutenção do Estado.
As leis trazem, portanto, a vontade geral e o conteúdo das normas deste contrato social que 
funda e mantém o Estado. Mario Lúcio Quintão Soares (2011) destaca que o homem abre mão da 
sua liberdade natural e, em contrapartida, recebe a liberdade civil. 
Outro importante ponto para a compreensão do Estado segundo Rousseau é compreender 
que só há a soberania popular quando os governados e os governantes possuem convergência 
e uma consequente ação estatal que respeite a vontade do povo: a democracia (SOARES, 2011).
Fonte: Lisa-S, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Juiz segurando um livro grande e virando a página. Não é possível ver o rosto 
do juiz.
2 MONTESQUIEU, OS TRÊS PODERES E AS LEIS
A divisão dos poderes é um desenho do exercício dos poderes políticos pelo Estado, também 
conhecido como sistema de freios e contrapesos ou, na forma americana, checks and balances 
system. Juliano Bernardes e Olavo Ferreira (2019) afirmam que esta forma de distribuir o exercício 
dos poderes foi pensada por Aristóteles, John Locke e Jacques Rousseau, apesar de que a definição 
e divulgação se deu mesmo com Montesquieu, enquanto que para Soares (2011) a ideia remonta 
a Platão, tendo Montesquieu inovado quanto à distinção orgânica entre esses poderes.
Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, ficou conhecido apenas 
como Montesquieu, e tem grande importância no estudo das ciências políticas, do estado e do 
direito, principalmente pelo seu livro L’esprit des lois, traduzido como O espirito das leis, de 1747.
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Destacamos que, apesar de o autor ser muito citado pela teoria da separação dos poderes, o 
referido livro não se resume a isso, sendo na verdade uma teorização sociológica dos governos, 
do direito e das organizações políticas. Destaca-se que, inserido em uma onda iluminista, o autor 
permanece na tentativa de explicar a sociedade a partir de leis naturais.
Mario Lúcio Quintão Soares destaca que a obra “rompe com a tradicional submissão da 
política à teologia, ao definir leis, em seu significado mais amplo, como relações necessárias 
derivadas da natureza das coisas (liv. I, cap. I)” (SOARES, 2011, p. 65).
Para Soares, Montesquieu contemplou em um Reino Unido construída como protótipo os 
seguintes poderes:
“O Legislativo: 
como vontade geral do Estado, deve ser confiado aos representantes do povo e a uma 
assembleia de nobres, retratando o pluralismo político do parlamento. Este, como órgão 
representativo da comunidade política, deve ser dotado de competência para criar leis por um 
tempo ou para sempre, e corrigir ou anular aquelas que foram feiras, e, ainda, servir de obstáculo 
às eventuais arbitrariedades perpetradaspelo monarca” (SOARES, 2011, p. 66-67);
“O Federativo:
como poder executivo das coisas atreladas ao direito das gentes, deve ser conferido ao 
príncipe ou magistrado, encarregado de fazer a paz ou a guerra, exercer o direito de legação, 
instaurar a segurança e prevenir invasões estrangeiras” (SOARES, 2011, p. 66-67);
“O Executivo:
como executivo da vontade geral do Estado ou daquelas coisas que dependem do governo 
civil, deve ser outorgado a um monarca inviolável, rodeado de ministros responsáveis, incumbidos 
da execução das leis. O poder de julgar os crimes e decidir sobre querelas entre os particulares 
deve ser exercido por pessoas tiradas do meio do povo, em certos momentos do ano, de maneira 
prescrita na lei, para formar um tribunal que só dure o tempo necessário que a necessidade 
requer”. (SOARES, 2011, p. 66-67).
Nina Ranieri (2019), aponta que no estudo das leis dos governos e na tentativa de garantir 
a liberdade de se fazer aquilo que a lei permite, essa separação de poderes proposta por 
Montesquieu visa limitar e moderar o poder do Estado. Dessa forma, se cada um dos poderes for 
independente, com a possibilidade de frear os abusos do outro, teríamos uma organização estatal 
racionalmente limitada.
A autora aponta como Montesquieu centrava seu pensamento em uma supremacia 
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do parlamento britânico, com a fórmula King in the Parliament¸ que busca exatamente 
desconcentrar o poder, para que ele não ficasse acumulado em uma única mão. Daí a necessidade 
de funções dividas, harmoniosamente, sem haver usurpação. Os poderes seriam separados e 
complementares.
Em síntese, o avanço teórico de Montesquieu é pensar a divisão das funções estatais também 
em órgãos. Cada órgão teria uma das três funções do poder estatal, o que, para a época, trazia 
um modelo racional de superar o absolutismo centralizador.
Em uma análise mais criteriosa e científica, devemos alertar que o mais adequado não é 
considerar uma divisão dos poderes, uma vez que o poder político é uno, indivisível e indelegável. 
Mas, há uma divisão de funções entre órgãos autônomos, independentes e harmônicos. 
Nesse modelo de divisão de funções, três órgãos acabaram por receber o nome de poderes, 
cada um com suas funções precípuas.
As constituições norte americanas e francesas, do final do século XVIII, tiveram grande 
influência deste pensamento orgânico da separação das competências dos poderes. Era um 
movimento em que além do pensamento federalista, havia também o discurso sobre a limitação 
do Estado e seu controle, como alguns artigos escritos por James Madison e Thomas Jefferson.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) destaca que a divisão funcional dos poderes nas 
democracias ocidentais não foi fruto de uma genialidade de um teórico inspirado, mas o resultado 
da prática do constitucionalismo inglês que consagrou o Bill of Rights de 1689. Neste sentido, 
podemos destacar também o empirismo federalista norte americano.
O conceito de checks and balances está preconizado na Constituição norte americana, logo 
nos três primeiros artigos. Sugerimos a consulta do documento, para a melhor compreensão 
deste arranjo, em que os papéis estão bem delimitados, inclusive com mecanismos de controle, 
como o julgamento de impeachment do Presidente dos Estados Unidos, que será presidido pelo 
Presidente da Suprema Corte e julgado pelos senadores.
Assim, com a teoria de Montesquieu atualizada nos tempos atuais, podemos dizer que temos 
o Poder Legislativo, Poder Executivo e o Poder Judiciário.
O poder legislativo tem como razão de ser a representação da população e, quando for caso, 
dos entes federados para criar e extinguir leis, bem como fiscalizar as ações do poder executivo 
para o cumprimento fiel da legislação.
O poder executivo, assim, tem a competência de executar as leis, políticas públicas, serviços 
públicos e as atividades decorrentes da administração da máquina estatal, sendo, por isso, 
chamada também de função administrativa.
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Por sua vez, o poder judiciário tem a competência de analisar a lei nos casos concretos 
quando provocado, resolvendo os conflitos de interesses existentes na sociedade, para que todas 
as pessoas, inclusive o estado, sejam compelidas a obedecer a legislação.
Podemos assim, sintetizar a divisão entre as competências típicas dos órgãos estatais:
a) Poder legislativo:
legislar e fiscalizar – art. 44 da CF/88.
b) Poder executivo:
administrar o estado – art. 76 da CF/88.
c) Poder judiciário:
julgar casos concretos – Art. 92 da CF/88.
Apesar deste modelo bem delimitado de competências, a explicação teórica teve de criar 
aquilo que convencionou-se chamar de funções atípicas dos poderes estatais. Isso ocorreu porque, 
apesar de cada órgão ter sua competência justificada em um sistema que traz equilíbrio para o 
Estado, a prática exige que algumas funções sejam exercidas, excepcionalmente, por aquele que 
originalmente não teria tal competência.
Como visto, se a separação funcional e orgânica dos poderes se dá para evitar o abuso e a 
concentração de poderes em um só órgão, a teoria estatal criou mecanismos de fiscalização e 
responsabilização dos poderes estatais, o que Pedro Lenza (2019) chama de desenho institucional 
dos freios e contrapesos.
Destacamos que este desenho institucional variará conforme cada ordenamento jurídico, 
se mencionamos os três primeiros artigos da Constituição norte americana como exemplo, em 
nosso ordenamento este arranjo é feito em diversos artigos. Pedro Lenza destaque os seguintes:
art. 5º, XXXV:
o Poder Judiciário pode rever atos de determinada CPI (Legislativo) que extrapolem o 
postulado da reserva constitucional de jurisdição, quando, por exemplo, o seu presidente expede 
um mandado de busca e apreensão em total violação ao art. 5º, XI;
art. 52, I:
compete privativamente ao Senado Federal (legislativo) processar e julgar o Presidente e o 
Vice-Presidente da República (Executivo) nos crimes de responsabilidade;
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art. 53, § 1º, c/c o art. 102, I, “b”:
eventual condenação pelo STF (Judiciário) de parlamentar federal corrupto (Legislativo) que 
se vale de seu cargo para indevidamente enriquecer (cf. julgamento do denominado “mensalão” 
na AP 470);
art. 62:
as medidas provisórias adotadas pelo Presidente da República (executivo) poderão ser 
rejeitadas pelo Congresso Nacional (Legislativo);
art. 66, § 1º:
o Chefe do Poder Executivo pode sancionar ou vetar projetos de lei aprovados pelo Parlamento 
(Legislativo);
art. 66, §§ 4º a 6º:
o Parlamento (Legislativo) poderá “derrubar” o veto lançado pelo Chefe do Poder Executivo;
art. 66, § 7º:
se a lei não for promulgada dentro de 48 horas pelo Presidente da República (Executivo), nos 
casos dos §§ 3º e 5º, o Presidente do Senado (Legislativo) a promulgará, e, se este não o fizer em 
igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado (Legislativo) fazê-lo;
art. 63, I e II:
cabe emenda parlamentar (Legislativo) em projeto de lei de iniciativa exclusiva do Presidente 
da República (Executivo);
art. 64, § 1º:
o Presidente da República (executivo) poderá solicitar urgência para o Parlamento (Legislativo) 
apreciar os projetos de sua iniciativa;
art. 97:
os juízes (Judiciário) poderão declarar a inconstitucionalidade de lei (Legislativo) ou ato 
normativo do Poder Público (inclusive, como exemplo, de decretos autônomos elaborados pelo 
Executivo);
art. 101, parágrafo único (c/c o art. 52, III, “a”, e o art. 84, XIV):
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