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Indaial – 2022 IndustrIaIs Prof.ª Rafaela Franqueto Prof.ª Victoria Regina Celso Monteiro Zanona 1a Edição Projetos de aterros sanItárIos e Elaboração: Prof.ª Rafaela Franqueto Prof.ª Victoria Regina Celso Monteiro Zanona Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. FRANQUETO, Rafaela. Projeto de Aterros Sanitários e Industriais. Rafaela Franqueto; Victoria Re- gina Celso Monteiro Zanona. Indaial - SC: Arqué, 2022. 230 p. ISBN Digital 978-65-5466-167-6 “Graduação - EaD”. 1. Aterros sanitários 2. Industriais 3. Brasil CDD 304.2 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Bem-vindos aos estudos referentes à disciplina de Projeto de aterros sanitários e industriais! Este material conta com um amplo apanhado de conteúdos referentes a essa temática tão atual no Brasil e no mundo, contemplando os tipos de resíduos que podem ser encaminhados aos aterros, seus conceitos e sua importância. O entendimento que trazemos aqui é que a gestão e os tratamentos dos resíduos sólidos são problemas mundiais que demandam a participação de toda a sociedade. Na Unidade 1, abordaremos os conceitos básicos de resíduos sólidos e suas formas de classificação e composição. Esclareceremos as variações na composição dos resíduos, principalmente com relação à sazonalidade e às características locais. Também serão estudadas as origens e características dos resíduos, assim como o grau de periculosidade ou não dos resíduos, que pode influenciar na forma de tratamento e disposição final deles. Ainda nesta unidade, trataremos a gestão e a destinação final do Resíduo Sólido Urbano (RSU) como constituintes de um dos grandes impasses a ser enfrentado pela humanidade. Veremos que no Brasil esse é um problema de grande dimensão, diante do grande volume gerado e as formas, na maior parte das vezes, inadequadas em que o resíduo tem sido gerenciado e disposto. Na Unidade 2, serão abordados os conceitos de aterros sanitários e sua importância para a saúde pública, questões sociais e ambientais. Nesse sentido, é importante que realizemos sempre uma análise macro, pois a implantação de um aterro sanitário gera inúmeros impactos no local e no seu entorno, tanto positivos quanto negativos. Atualmente, a solução mais utilizada para a questão do resíduo sólido no Brasil é o destino em aterro sanitário. Assim, explicitaremos as formas de decomposição dos resíduos no interior de tais aterros. Conheceremos de forma preliminar os fatores que influenciam a decomposição, auxiliando no aceleramento da degradação ou que podem retardar o processo. Estudaremos também a composição dos gases gerados e sua influência no aterro sanitário e no seu entorno. Finalmente, na Unidade 3, explicaremos o que é um aterro industrial e quais as diferenças com relação ao aterro sanitário convencional. Abordaremos os resíduos que são destinados aos aterros industriais, suas formas de geração e quem são os responsáveis pelo tratamento e destinação final. Também serão mencionados os tipos de aterros disponíveis para a destinação final dessa classe de resíduos, gerada pelas indústrias. O aprendizado aqui proposto é baseado em todas as legislações disponíveis para a correta elaboração dos projetos de aterros. APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Esperamos que o conteúdo apresentado possa ser de grande valia para sua formação profissional! Bons estudos a todos vocês! Professora: Rafaela Franqueto Professora: Victoria Regina Celso Monteiro Zanona Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. 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Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ATERRO SANITÁRIO E INDUSTRIAL: ASPECTOS CONCEITUAIS .................. 1 TÓPICO 1 - RESÍDUOS: CONCEITOS BÁSICOS .....................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 TIPOS DE RESÍDUOS E SUAS CARACTERÍSTICAS: CLASSIFICAÇÃO ............................4 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS ..............................................................................................................................4 2.1.1 Lixo, resíduo ou rejeito ................................................................................................................4 2.1.2 Resíduos sólidos .......................................................................................................................... 6 2.2 COMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS ...........................................................................................................7 2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOScolonizações de microrganismos de espécies distintas ao longo das fases. Portanto, se ocorrer quedas bruscas de pH ao longo do processo, acarretará “morte” de microrganismos importantes em determinadas fases. Nesse sentido, o pH considerado ótimo para o desenvolvimento do processo está na faixa de 5,5 a 8,0 (BOSCO, 2017). Outro fator muito interveniente ao processo de compostagem é a relação carbono e nitrogênio, mas conhecida como relação C/N. A relação C/N é muito utilizada na avaliação dos níveis de maturação de materiais orgânicos. Com relação ao valor da relação C/N, o mais apropriado é que esteja próximo de 30/1, ou seja, 30 partes de carbono para uma de nitrogênio (FRANQUETO, 2020). 22 A otimização da relação C/N possibilita no processo a minimização ou evita-se a produção de amônia, visto que quando a relação C/N é alta, ou seja, há um alto teor de carbono disponível, a degradação biológica dos resíduos orgânicos é significativamente rápida, devido ao nitrogênio ser insuficiente para manter a biomassa estável (MOMAYEZ; KARIMI; TAHERZADEH, 2019). Quando a relação C/N é baixa, ou seja, há pouco carbono e muito nitrogênio, propicia o aumento ao risco de inibição do processo por amônia (NÁTHIA-NEVES et al., 2018), resultando em morte dos microrganismos devido às fontes de carbono estarem em quantidades insuficientes (KWIETNIEWSKA; TYS, 2014). Para facilitar, vamos elencar os resíduos que podem ser inseridos no processo de compostagem, que são ricos em carbono, os que são ricos em nitrogênio e os resíduos que não devem ser inseridos. Os resíduos que são ricos em nitrogênio “verde” e que podem ser inseridos no processo de compostagem são: • restos de jardim: folhas, flores; • restos de vegetais: frutas, verduras, legumes; • dejetos e urina de animais: bovinos, suínos, caprinos, ovinos, galináceos (somente utilizar se tiverem sido curtidos); • solo; • borra de café: inibe o aparecimento das formigas e é um excelente complemento nutricional para as minhocas. O filtro de papel usado para o preparo do café também pode ser adicionado na compostagem; • saquinhos de chá; • massas e arroz cozidos; • cascas de ovos; • alimentos cozidos ou assados: usados desde que em pequenas quantidades. É preciso evitar o excesso de sal e conservantes dos alimentos processados. Esse tipo de material não pode estar úmido, por isso, deve-se adicionar bastante pó de serra em cima dos restos. Para a característica de resíduos ricos em carbono, elencamos os que podem ser inseridos no processo de compostagem: • folhas secas: serragem não tratada, ou seja, sem verniz e as folhas secas ajudam no equilíbrio, são ricos em carbono e evitam o aparecimento de animais indesejados e do mau cheiro; • aparas de gramas e capins secos; • galhos e cascas de árvores; • palhadas: milho, banana, arroz, feijão (secos); • plantas mortas e secas; • feno; 23 • serrapilheira; • aparas de madeira; • papel; • cinzas resultantes de queima de madeira; • guardanapos. Infelizmente, nem todos os restos de comida podem ser inseridos no processo de compostagem. Alguns desses resíduos são de difícil decomposição, outros porque atraem muitos insetos e outros porque alteram muito o pH do adubo. Nesse sentido, elencamos os resíduos que não são indicados para o processo de compostagem: • carnes: decomposição de restos de frango, peixe e carne bovina são muito longas e causa mau cheiro, além de atrair animais; • peixes, mariscos, frutos do mar em geral; • laticínios: decomposição é muito lenta, causa um mau cheiro e atrai organismos indesejáveis; • frutas cítricas: a polpa e as cascas podem alterar o PH da terra, é o caso da laranja, abacaxi, limão, entre outros; • óleos e gorduras, porque podem impermeabilizar o composto atrapalhando a sua degradação. Liberam a substância que retardam a compostagem e prejudicam o composto; • derivados do trigo: decomposição lenta em comparação aos demais e, ainda, atraem pragas; • dejetos e urina de animais domésticos; • resíduos de jardim tratados com pesticidas; • madeiras envernizadas; • papel encerado; • cinzas de carvão; • tecidos; • tintas; • vidro, plástico e metal; • medicamentos; • produtos químicos em geral; • pilhas e baterias. Com relação aos microrganismos envolvidos e necessários no processo da compostagem, cita-se: • bactérias; • fungos e actinomicetos; • algas; • protozoários; 24 • nematoides, vermes, insetos e larvas podem surgir, dependendo principalmente das características do material orgânico que está sendo compostado e dependendo da manutenção do processo (BOSCO, 2017). Ressaltar que os microrganismos envolvidos no processo de compostagem já se encontram presentes na massa de resíduos. Outro detalhe importante é que, como o processo é de decomposição de resíduos, há a geração de resíduos líquidos, o chamado chorume. Assim, na compostagem, também se tem o chorume orgânico. O chorume é a parte líquida originada do processo de decomposição de resíduos orgânicos, apresentando uma cor escura e cheiro forte característico, além de ser pouco biodegradável. Quando formado em aterros sanitários, o líquido possui elementos tóxicos como o cádmio, cobre, cobalto, chumbo, mercúrio e arsênio. IMPORTANTE O chorume orgânico é adubo em estado líquido. Em geral, o chorume precisa ser escoado a fim de permitir a formação do húmus seco, o adubo orgânico seco que é misturado à terra, posteriormente, para repor os nutrientes do solo. Por fim, o processo de compostagem acarreta inúmeros benefícios, dentre eles a redução da quantidade de resíduos orgânicos, que são destinados aos aterros sanitários, aumentando sua vida útil; enriquecimento do solo com nutrientes necessários para as plantas; evita as queimadas de resíduos que acarretam poluição atmosférica e que tendem a produzir incômodos para a vizinhança do local; e a redução da necessidade de empregar herbicidas e pesticidas na agricultura, devido ao uso do adubo orgânico. 3.1.2 Coleta seletiva A coleta seletiva tem objetivo de reaproveitamento e volta da matéria no ciclo produtivo de algum produto. Ainda, refere-se ao recolhimento de resíduos com características recicláveis, por exemplo, papéis, plástico, vidros e metais. Os resíduos precisam estar previamente separados nas fontes geradoras, acondicionados em sacos plásticos resistentes e dispostos em lixeiras já com as cores da coleta seletiva. Para a separação dos materiais para a coleta seletiva, é preciso seguir a regra dos três Rs: • reduzir: mudar os hábitos relacionados a consumo; • reutilizar: reutilização de materiais, por exemplo, sacos de supermercado, potes de plástico e vidro; • reciclar: transformar os materiais em novos produtos. 25 O acondicionamento dos resíduos sólidos urbanos, ou seja, a forma como “guar- damos” é uma etapa muito importante na gestão dos resíduos de qualquer município. A forma de como é realizado o acondicionamento dependerá de algumas características, como o tipo de resíduo, peso, volume gerado, tipo de coleta e sua frequência. Além das lixeiras que são empregadas para serem colocadas em logradouros públicos (Figura 8), existem outras formas de acondicionamento, por exemplo: • sacos plásticos: são úteis porque facilitam a limpeza do local e evitam proliferação de odores; • carrinho para os coletores: utilizado para varrição de logradouros e locais públicos; • caçambas estacionárias: empregados como forma de solução para locais de difícil acesso. Figura 8 – Lixeiras para acondicionamento de resíduos recicláveis Fonte: https://bit.ly/3SDgmhg. Acesso em: 26 set. 2022. Na coleta seletiva, os recipientes que podem ser utilizados, precisam obedecer e seguir algumas cores, que são estabelecidas na Resolução Conama nº 275/2001: • azul: papel/papelão; • vermelho: plástico; • verde: vidro; • amarelo: metal; • preto: madeira; • laranja: resíduos perigosos; • branco: serviço de saúde; • roxo: radioativos; • marrom: orgânicos; • cinza: resíduo geral não reciclado ou misturado.Entre os resíduos que podem ser reciclados, citam-se: • papel: jornais, revistas, caixas, embalagens de papelão, papel de fax, sulfites, folha de caderno, envelope; 26 • plástico: garrafas de pet, embalagens de plástico e sacos; • metal: lata de alumínio e metal, tampa de garrafa, clipes, grampos; • vidro: copos, garrafas, frasco de medicamento, perfume, materiais de vidro. A implantação da coleta seletiva é dita como uma obrigação dos municípios e se refere às metas preconizadas ao tema de “coleta seletiva”. Essas metas fazem parte do conteúdo mínimo que deve constar nos planos de gestão integrada de resíduos sólidos dos municípios brasileiros. Entretanto, não são todos os municípios que contam com a coleta seletiva dos recicláveis e, em muitos municípios brasileiros, a coleta seletiva não abrange todos os bairros (BRASIL, 2010). Os catadores ou coletores de resíduos recicláveis são peças fundamentais no processo da coleta seletiva. A atuação dos profissionais se dá de forma individual, na maioria das vezes, de forma autônoma e dispersa nas ruas e nos aterros. Outra forma dos coletores se organizarem é de forma coletiva, por meio da organização em cooperativas e associações. A atividade profissional só foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego no ano de 2002. O documentário Lixo extraordinário acompanhou durante dois anos o desdobramento do trabalho do artista plástico Vik Muniz no maior aterro sanitário do mundo, no Jardim Gramacho, município de Duque de Caxias no Rio de Janeiro. A proposta inicial do artista era produzir retratos dos catadores que trabalham no aterro, mas acaba ganhando outra dimensão devido à maneira profunda e sensível com que Vik Muniz se relaciona com seus retratados. Disponível em: https://bit.ly/3RG9IoV. DICA Para conscientizar a população dos municípios brasileiros sobre a importância da separação correta dos resíduos sólidos domésticos, é preciso que ocorram investimentos em políticas públicas de educação ambiental por parte da gestão pública, buscando orientar a população sobre a importância da separação e destinação correta dos resíduos. Dessa forma, todos os atores pertencentes ao ciclo da coleta seletiva e reciclagem são beneficiados. As principais vantagens relacionadas à implantação da coleta seletiva são: economia de matéria-prima e energia, combate ao desperdício, redução da poluição ambiental, possibilidade de comercialização dos recicláveis. Lembre-se de que o resíduo separado deve ser colocado limpo nos tambores para facilitar o trabalho de quem recicla e para que não haja perda de material. Conhecendo essas informações, é bem mais fácil separar seu resíduo reciclável. A 27 coleta seletiva é considerada uma atitude simples, que cada pessoa pode realizar e que ajuda na preservação do meio ambiente, evitando o acúmulo de resíduos nas ruas e nos aterros sanitários, aumentando a vida útil desses locais. 3.1.3 Incineração Os primeiros fornos incineradores apareceram no fim do século XVIII. Os fornos eram de simples concepção e apresentavam vários inconvenientes de ordem tecnológica e ecológica. Até os anos 1920, as formas de carregamento do forno e de extração das cinzas eram realizadas manualmente e, assim, os trabalhadores das fornalhas eram ex- postos às chamas, à poeira, aos odores e à fumaça com elevada concentração de fuligem. Rubin et al. (2021) reportam que o processo de incineração de resíduos sólidos consiste na destruição de forma térmica (calor) por oxidação. A incineração ocorre em temperaturas na faixa de 900 ºC até 1250 ºC. A incineração apresenta como vantagem a redução do volume do resíduo, a eliminação de microrganismos e patógenos. O processo é realizado em fornos e incineradores. Com relação às principais desvantagens do processo incineração, cita-se: • elevado custo operacional e manutenção; • exige trabalho constante de limpeza no sistema de alimentação de combustível auxiliar, exceto se for utilizado gás natural, tornando a manutenção mais difícil quando comparado a outros processos de tratamento de resíduos; • risco de contaminação do ar, devido à produção de dioxinas durante a queima de materiais com origem clorada; • risco de contaminação do ar pela emissão de materiais particulados, quando o processo é mau monitorado; • custo de tratamento dos efluentes gasosos e líquidos (águas de arrefecimento das escórias e de lavagem de fumos) considerado elevado. Uma central de incineração funcionando corretamente gera resíduos sólidos e gases estéreis e não contribui para a poluição ambiental do solo e do ar. As emissões gasosas têm de ser tratadas, devido aos resíduos provenientes dos materiais incinerados. Em geral, os resíduos que devem ser incinerados são os resíduos hospitalares, do grupo A (resíduos infectantes em potencial, como bolsa de sangue, seringas, gases) e grupo B (resíduos químicos capazes de poluir o meio ambiente, como os medicamentos para câncer, reagentes). Como a temperatura de queima dos resíduos não é suficiente para volatilizar os metais, eles se misturam às cinzas, podendo ser, posteriormente, separados e recuperados para fins de comercialização. 28 Para os resíduos tóxicos que contenham em sua composição cloro, fósforo ou enxofre, é preciso, além de maior permanência dos gases na câmara (cerca de dois segundos), a inserção de sistemas de tratamento atmosférico, para que estes possam ser lançados na atmosfera sem que ocasione poluição. Já para resíduos compostos por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, a exigência é de um sistema eficiente de remoção do material particulado, que é expelido com os gases da combustão do processo. Em geral, os resíduos sólidos são incinerados com objetivo de redução do volume e, consequentemente, do passivo enviado para os aterros sanitários. As desvantagens desse processo são os gases gerados que contribuem para o efeito estufa e, também, para o aquecimento global, além de ser um processo caro de instalação. A redução de volume dos resíduos é geralmente superior a 90% e, em peso, superior a 75%. Existem diversos tipos de fornos de incineração. Os mais comuns são os de grelha fixa, de leito móvel e o rotativo. Outra tecnologia empregada é o consórcio dos aterros sanitários com a queima dos resíduos. Esse consórcio tem como objetivo, a produção de energia por meio dos resíduos sólidos e também de propiciar o aumento da vida útil dos aterros sanitários, reduzindo o volume enviado para os mesmos (RUBIN et al., 2021). A incineração sozinha não resolve o problema da destinação dos resíduos sólidos no Brasil, havendo a necessidade de se providenciar uma disposição final adequada para os subprodutos produzidos, como as cinzas e o lodo resultante do tratamento dos gases. O processo de incineração é ainda considerado uma alternativa com custo elevado de implantação e ao risco ambiental inerente. Por fim, com o aumento do controle ambiental sobre os países, cada dia mais vem sendo incentivado o abandono da incineração do resíduo. É um método bastante polêmico sobre seus reais efeitos ao meio ambiente, uma vez que possuem alto gasto de energia e são incompatíveis com outros sistemas de gestão de resíduos sólidos. Esse fato é porque a incineração é considerada uma das vilãs do efeito estufa. Além dos potenciais danos ambientais, os poluentes lançados na atmosfera em decorrência da incineração podem causar doenças respiratórias e problemas reprodutivos nos homens. 3.2 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS A disposição final de resíduos sólidos é considerada uma das alternativas ambientalmente adequada que está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Entretanto, a destinação final só é considerada adequada quando impostas 29 as normas operacionais específicas, que evitam danos ou riscos à saúde pública e à segurança da sociedade, além da minimização dos impactos ambientais adversos que possam ocorrer. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Empresasde Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) (2020), grande parte dos resíduos sólidos urbanos coletados no ano de 2020 seguiu para disposição final em aterros sanitários. Foram enviados a aterros sanitários um total de 46 milhões de toneladas no ano de 2020, sendo, aproximadamente, 60,20% do total coletado. 3.2.1 Aterros Os resíduos sólidos gerados precisam ser destinados para locais adequados que minimizem o passivo ambiental. Aterros se referem ao enterramento planejado de resíduos sólidos, de modo a evitar a proliferação de vetores, roedores e demais riscos à saúde. A disposição de resíduos no solo é uma das soluções mais antigas e tradicionais adotadas pelo homem para subsidiar a destinação aos resíduos que a sociedade produz. Essa solução é denominada como aterro sanitário. Os aterros sanitários podem ser divididos em duas classes, utilizados principalmente para resíduos urbanos e industriais. Além da classificação dos aterros sanitários, há outra denominação para a disposição dos resíduos, os chamados lixões e os aterros clandestinos. Nessas duas modalidades de destinação final, ocorre a proliferação da poluição e riscos à saúde pública nos arredores dos grandes centros urbanos. Lixão é uma forma inadequada de destinação final e que precisa ser banida da sociedade. Os aterros sanitários e industriais, de forma geral, permitem o confinamento seguro dos resíduos em termos de contaminação ambiental e de saúde pública. Nos aterros, os resíduos são dispostos em camadas compactadas e cobertas por uma camada de solo, que se torna a base para uma nova camada de resíduos e, assim, até o seu encerramento. Segundo a norma da NBR 8419 (ABNT, 1992a, p. 1), aterro sanitário é uma "técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente, minimizando os impactos ambientais”. Já os aterros para resíduos industriais requerem projeto e execução mais elaborados que os aterros sanitários de forma convencional, visto que os tipos de materiais que receberão apresentam características de resíduos perigosos. 30 Neste tópico, você aprendeu: • O que é resíduo sólido e seus conceitos atribuídos pelos órgãos competentes e a diferença entre resíduo e rejeito, suas formas de disposição final e reaproveitamento da matéria. • Sobre as características e composições dos resíduos sólidos e que a composição e o volume dos resíduos são influenciados por diferentes situações, como local de moradia, poder aquisitivo e pelas épocas do ano (sazonalidade). • Que os resíduos sólidos englobam todos resíduos provenientes das atividades domésticas e comerciais. Ainda, é possível analisar a PNRS, que determina, em seu Art. 13, quanto à origem dos resíduos sólidos urbanos: a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas; b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana. • Sobre as características de decomposição dos resíduos, incluídos os microrganismos que estão presentes, auxiliando na decomposição e que também podem produzir doenças se não bem monitoradas. Aprendeu quais são os microrganismos patogênicos e os tempos de sobrevivência na massa de resíduos, que podem acarretar doenças para os seres humanos e animais. • Sobre as classes de resíduos a partir de suas características e composição. A classificação depende muito da origem da geração dos resíduos, incluindo características especificas, como periculosidade, classificando-os como perigosos e não perigosos. • As formas de tratamento de resíduos a partir da classificação e locais de destinação, dando maior ênfase para o aterro sanitário. RESUMO DO TÓPICO 1 31 AUTOATIVIDADE 1 Com base nos fatores intervenientes para a degradação dos resíduos nos aterros, cita-se a presença de microrganismos, configurando-os como a característica biológica da composição dos resíduos sólidos. Entretanto, essa característica é de extrema importância, visto que, na massa dos resíduos sólidos, apresentam-se agentes patogênicos e microrganismos com capacidade de interferências negativas para a saúde humana. Baseando-se nas informações aqui dispostas e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O microrganismo Salmonella sp tem o tempo de sobrevivência de 29 a 70 dias. b) ( ) O microrganismo Vibrio cholerae tem o tempo de sobrevivência de 150 a 180 dias. c) ( ) O microrganismo Trichuris trichiura tem o tempo de sobrevivência de 35 dias. d) ( ) O microrganismo Entamoeba histolytica tem o tempo de sobrevivência de 2000 a 2500 dias. 2 Resíduo perigoso é relacionado ao grau de nocividade que representa para o ser humano e o meio ambiente. Os resíduos perigosos fazem parte da Classe I e são aqueles tipos de materiais que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente, exigindo tratamento e disposição especiais em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, entre outras. De acordo com a ABNT NBR 10004 (2004a), resíduos perigosos apresentam determinadas propriedades. No que se refere aos resíduos perigosos, observe as propriedades e analise as afirmativas a seguir: I- Patogenicidade. II- Combustibilidade. III- Biodegradabilidade. IV- Reatividade. Sobre as propriedades características dos resíduos não perigosos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) A sentença III está correta. 3 O acondicionamento dos resíduos sólidos é uma etapa muito importante na gestão dos resíduos em um município e primordial na coleta seletiva. A forma de como é realizado o acondicionamento dependerá de algumas características, como o tipo de resíduo, peso, volume gerado, tipo de coleta e sua frequência. Diante disso, amele X amele X 32 existem dois tipos de recipientes para acondicionamento: recipientes para pequenos e grandes volumes de resíduos. Diante do exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As lixeiras utilizadas na coleta seletiva são soluções para locais de difícil acesso. ( ) Os sacos plásticos facilitam o acondicionamento dos resíduos e a limpeza do local, evitando a proliferação de vetores de doenças, por exemplo. ( ) O emprego de caçambas estacionárias é para serem colocadas em logradouros públicos, de fácil acesso. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 O aterro sanitário é uma obra de engenharia que tem única e exclusivamente o intuito de fazer o tratamento e a decomposição final de resíduos da maneira mais “saudável” possível. Tem seu grau de importância para a sociedade e para a saúde pública, uma vez que ajuda a solucionar parte dos problemas que são causados por conta do excesso de lixo gerado nas cidades e nos grandes centros urbanos, especialmente considerando os novos e altos índices referentes ao consumismo. Nesse sentido, o correto planejamento e projeto para uma obra dessa dimensão é imprescindível. Para aumentar o tempo de vida útil dos aterros sanitários e maximizar os benefícios para o meio ambiente, sociedade e saúde pública, é ideal minimizar os resíduos produzidos, seja por meio da sensibilização de mudanças de hábitos de consumo, ou por meio de campanhas de conscientização de reciclagem ou de reuso. É considerada a forma de destinação de resíduos mais correta em termos ambientais, visto que são menos nocivos ao meio ambiente do que os lixões, por exemplo. Disserte sobre a importância do aterro sanitário para o meio ambiente. 5 Resíduos são os materiais, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder nos estados sólidos ou semissólidos, bem comogases contidos em recipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Nesse contexto, a classificação de forma correta é primordial. Diante do exposto, disserte sobre a importância da correta classificação dos resíduos sólidos. amele X amele amele amele DIFICÍL amele FACIL 33 ATERRO SANITÁRIO 1 INTRODUÇÃO Os resíduos sólidos precisam ser destinados para locais adequados, que minimizem o passivo ambiental gerado. Esses resíduos têm valor econômico agregado, pois podem produzir adubo e energia, além da reciclagem gerar emprego e renda, reduzir a quantidade de recursos naturais processados e também diminuir a necessidade de ocupar (e poluir) espaços, para depositar os materiais que cumpriram apenas uma vez sua função socioeconômica (SEBRAE, 2012). O método tradicional para disposição de resíduos em municípios onde ocorre a falta de recursos financeiros, ou por não apresentarem políticas ambientais definidas, é o lixão. Entretanto, sua localização se dá, na maioria dos casos, de forma inadequada, ocasionando a degradação do local e propiciando graves problemas para a população do entorno, por exemplo, maus odores, proliferação de doenças devido aos microrganismos patogênicos, entre outros. Além do que, o lixão acarreta em problemas sérios de ordem ambiental, como as poluições atmosférica e hídrica. O lixão é dito como uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que tem como característica principal a simples descarga do lixo sobre o solo, sem nenhuma medida de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública, sendo ainda caracterizado como descarga de resíduos a céu aberto (VILHENA, 2018). Para evitar ou minimizar problemas decorrentes da destinação final inadequada dos resíduos, é preciso trocar o “lixão” pelo método adequado: aterros sanitários. Tem-se um termo muito empregado que são os chamados “aterros controlados”. O termo aterro controlado é utilizado para designar os aterros “não sanitários”, os quais podem apresentar algumas faltas de implantação, por exemplo, impermeabilização do fundo da célula, não coleta de gases, o não recobrimento das células de trabalhos ao longo do dia de trabalho, dentre outras. Os aterros sanitários são a única forma de disposição final de resíduos admitida pela legislação brasileira (Lei nº 11.445/2007 e nº 12.305/2010), regulamentada por Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e por normas técnicas da ABNT. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 34 2 IMPORTÂNCIA DE ATERRO SANITÁRIO De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, em 2012, tanto lixões e aterros controlados são proibidos por legislação. O uso das duas formas de destinação final configura-se como crime ambiental, por não apresentarem medidas e sistemas adequados para a proteção ambiental e da população de um modo geral (BRASIL, 2012). Um aterro sanitário é uma obra de engenharia e deve apresentar um projeto executivo bem elaborado (BRASIL, 2012). Nesse sentido, os aterros são importantes, pois solucionam parte dos problemas causados pelo excesso de resíduos gerados nas grandes cidades e ainda tem a forma ambientalmente correta para tratar da decomposição dos resíduos. 2.1 FUNCIONAMENTO E PLANEJAMENTO DE UM ATERRO SANITÁRIO Embora a construção de um aterro sanitário exija uma extensa área e, na maioria dos casos, tenha alto custo de implantação e manutenção, com relação à disposição final de resíduos sólidos, essa é a forma mais vantajosa. Russo (2003) reporta que as principais vantagens dos aterros sanitários são a grande flexibilidade para receber uma gama muito grande de resíduos; fácil operacionalidade; relativo baixo custo, comparativamente a outras soluções como a incineração; e a grande disponibilidade de informações acerca do assunto, seja com relação à implantação, ao funcionamento ou ao desligamento. A norma brasileira que regulamenta e normatiza os projetos relacionados aos aterros sanitários de resíduos sólidos é a NBR 8419/1992. Dessa forma, para elaboração de um projeto de aterro sanitário, é preciso seguir os princípios da engenharia regidos pela NBR. Entre os princípios que precisam ser seguidos, cita-se a compactação e confinamento dos resíduos com manta e camada de solos. Assim, a NBR 8419 (ABNT, 1992a, p. 4-5) determina que: [...] as diretrizes técnicas dos elementos essenciais aos projetos de aterros, como a impermeabilização da base e impermeabilização su- perior, monitoramento ambiental e geotécnico, sistema de drenagem de lixiviados e de gases, exigência de células especiais para resíduos de serviços de saúde, apresentação do manual de operação do aterro e definição de qual será o uso futuro da área do aterro após o encer- ramento das atividades. 35 2.1.1 Estudos preliminares Os estudos preliminares, segundo Rubin et al. (2021), consistem na caracterização do município e na elaboração de um diagnóstico sobre o gerenciamento de resíduos sólidos no local. Essa fase dos estudos preliminares visa levantar informações sobre a geração per capita de resíduos sólidos gerados no município em questão, assuntos relacionados à composição gravimétrica e aos serviços de limpeza executados. 2.1.2 Escolha da área adequada para a instalação A escolha da área para instalação do aterro sanitário é realizada a partir de critérios técnicos, ambientais, operacionais e sociais, visto que se trata de um projeto de engenharia. Nesse sentido, a área escolhida deve ser caracterizada por meio de levantamentos: topográficos, geológicos, geotécnicos, climatológicos e relativos ao uso de água e solo (RUBIN et al., 2021). Todos esses critérios precisam ser muito bem caracterizados para que haja o bom desempenho de um aterro sanitário, visto que está diretamente relacionado a uma adequada escolha de área de implantação. Em geral, a seleção de áreas para implantação de aterros sanitários é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos municípios. Isso se deve ao fato de que uma área, para ser considerada adequada para disposição final de resíduos sólidos, precisa cumprir e reunir um grande conjunto de condições técnicas, econômicas e ambientais, que demandam o conhecimento de um grande volume de dados e informações, normalmente indisponíveis para as administrações municipais. Dentre as áreas pré-selecionadas para instalação de um aterro sanitário, pode- se relacionar com aquela que melhor possibilita um menor potencial para geração de impactos ambientais, uma maior vida útil para o empreendimento, baixos custos de instalação e operação do aterro e aceitabilidade social. A área selecionada deve ter uma distância 200 metros de qualquer curso d’água. Ainda, a declividade da área deve ser superior a 1% e inferior a 30%. Quando se relaciona com um menor potencial para geração de impactos ambientais, é preciso analisar a localização fora de áreas de restrição ambiental, os aquíferos menos permeáveis, solos mais espessos e menos sujeitos aos processos de erosão e escorregamentos, declividades apropriadas e distância de habitações, cursos d’água e rede de alta tensão. A capacidade máxima de recebimento de resíduos está relacionada à maior vida útil para o empreendimento. As áreas de aterro devem ter, no mínimo,15 anos de vida útil. Os baixos custos de instalação e operação do aterro são relacionados aos menores gastos com infraestrutura, menores distâncias da área geradora dos resíduos e disponibilidade de material (solo) para cobertura das células do aterro. 36 Os principais critérios a serem avaliados são aos meios físico, biótico e antrópico (BRASIL, 2012). Com relação ao meio físico, os aspectos que precisam ser avaliados pelo engenheiro responsável são: • geológicos e hidrogeológicos: é preciso verificar a profundidade do lençol freático; a espessura da camada de solo não saturada soba base do aterro e a proximidade das zonas de recarga e mananciais subterrâneos; • geotécnicos: verificar a existência de solos da área e de jazidas de materiais terrosos para camada de cobertura diária e final; • topográficos e de relevo: verificar a topografia local para facilitar os acessos tanto de construção quanto de operação, além de limitar a vida útil do aterro; • hidrológicos: posição em relação ao sistema de drenagem superficial natural, proximidade de nascentes e corpos de água, e extensão da bacia de contribuição ao montante da área de implantação. No meio biótico, é preciso que o engenheiro avalie a existência e a tipologia da fauna e flora presentes na região de implantação do aterro (CONDER, 2010). Por fim, com relação ao meio antrópico, é preciso que o engenheiro responsável analise a distância do centro gerador dos resíduos e de aglomerações urbanas, as proximidades de residências e a existência de infraestrutura básica, como água, energia, sistema de acesso aos veículos. As áreas não devem se situar a menos de 1500 metros de núcleos residenciais urbanos que abriguem 200 ou mais habitantes. Depois de selecionar uma área, parte-se para um estudo mais aprofundado da área, em que serão verificadas todas as condições geológicas, geotécnicas, hidrológicas, entre outras. É preciso, ainda, ressaltar que a distância da rede viária é uma característica mui- to importante que deve ser contabilizada, mas que não é regulamentada por nenhuma legislação brasileira. A área de implantação de um aterro sanitário deve estar localizada entre 200 e 500 m da rede viária, entretanto, tais valores foram utilizados com base em- pírica (SAMIZAVA, 2006). O acesso ao aterro deve ter pavimentação de boa qualidade de forma a minimizar o desgaste do veículo coletor e permitir seu livre acesso ao local. 2.1.3 Estudos aprofundamentos Conder (2010) enfatiza o conjunto de informações aprofundadas que é preciso analisar em um projeto de aterro. Entre essas informações, cita-se: dados geológico- geotécnicos, distribuição e características das unidades geológico-geotécnicas da região. 37 Nos estudos mais específicos e aprofundados para áreas em que serão implantados aterros sanitários, é importante verificar as principais feições estruturais, ou seja, as falhas e fraturas. Além disso, Conder (2010) comenta que é importante analisar se a área apresenta a disponibilidade necessária de materiais de empréstimo, ou seja, solos para cobertura de células do aterro sanitário. Entretanto, quando se relaciona solos da área destinada ao aterro sanitário, é extremamente importante analisar as suas características, ou seja, verificar o tipo, espessura, permeabilidade, capacidade de carga do terreno de fundação do solo da área a ser implantado o aterro (CONDER, 2010). Ainda nos estudos aprofundados relacionados à área destinada a aterros sanitários, é preciso analisar o relevo do local, considerando alguns fatores como primordiais. Nessa análise, Conder (2010) relata que é preciso identificar se as áreas escolhidas se apresentam na forma de morros, planícies, encostas, entre outros, assim como a declividade do próprio terreno. É importante emitir um laudo técnico sobre a existência ou não de sítios de interesse arqueológico, configurando a etapa de dados arqueológicos. Ainda, quando se fala em relevo, logo se relaciona com o clima da região. Nesse sentido, é preciso analisar a série histórica do regime de chuvas e precipitação pluviométrica; dados de evapotranspiração e a direção e intensidade dos ventos, de modo a evitar a má odorização do local. Dados sobre as águas subterrâneas e superficiais são importantes para evitar a contaminação das águas do local. Assim, é preciso que o engenheiro projetista conheça a profundidade do lençol freático para determinar a profundidade máxima das células. Nesse requisito, é importante conhecer a forma e velocidade de infiltração que o solo permite. Ainda, é preciso conhecer o padrão de fluxo das águas subterrâneas e sua qualidade, quais são e onde estão localizados os principais mananciais para abastecimento público e as áreas destinadas à proteção desses mananciais. Quando se pretende instalar um aterro, é preciso considerar os aspectos socioeconômicos do empreendimento e da área ao entorno. Nesse sentido, é importante considerar o valor da área, o uso e ocupação dos terrenos vizinhos, assim como a aceitabilidade da população. Por fim, os dados sobre a legislação precisam ser conhecidos e verificados. Dessa forma, é preciso conhecer a legislação sobre a localização das áreas de proteção, a distribuição do zoneamento urbano relatados no plano diretor do município. 2.2 GERENCIAMENTO E OPERAÇÃO DE ATERROS Todos os sistemas de um aterro sanitário são controlados e monitorados pelo órgão ambiental responsável, tanto municipal como estadual. A Lei nº 11.107/2005 e a Resolução nº 404/2008 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelece 38 critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. A gestão e a disposição adequadas de resíduos sólidos urbanos são consideradas grandes desafios para a totalidade dos municípios brasileiros. Ao se projetar um aterro sanitário, é preciso considerar seu tempo de vida útil, ou seja, por quanto tempo o aterro vai operar e, preferencialmente, o aterro deve possuir uma vida útil superior a 10 anos, prevendo-se ainda o seu monitoramento por alguns anos após o seu fechamento. 2.2.1 Gerenciamento de aterros A inexistência de um modelo adequado de gestão e gerenciamento para os resíduos tem apresentado sérios problemas, os quais podem comprometer o meio ambiente e, consequentemente, a qualidade de vida da população daquele local próximo à área do aterro sanitário. Considerando que um aterro sanitário de resíduos é a forma adequada para disposição final dos resíduos no solo, é preciso seguir as normas operacionais específicas. Procedimentos tecnológicos executivos devem ser adotados antes e durante o desenvolvimento e encerramento, bem como nos anos futuros, após o encerramento do aterro, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Um projeto de aterro sanitário precisa minimizar os riscos à saúde pública, ao meio ambiente e à sociedade. É preciso ainda assegurar, em caso de falhas na construção ou na operação, o atendimento aos padrões de projeto. Esse assegurar é garantir a não poluição ambiental e problemas para a sociedade. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) define que o gerenciamento dos resíduos sólidos seja um conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos. Quando se fala em segurança, é imprescindível que o aterro assuma o mínimo para continuidade de fornecimento de energia e combustíveis no local; operação e manutenção de equipamentos sofisticados ou caros; operação e manutenção de bombas, misturadores e outros equipamentos elétricos ou mecânicos associados com controle de lixiviados e biogás; e integridade de longo prazo dos sistemas artificiais de impermeabilização da base. 39 2.2.2 Operação de aterros Todos os aterros apresentam uma rotina operacional e que precisa ser obedecida por todos os colaboradores. A primeira etapa da operação se refere à recepção dos resíduos. Nessa fase da operação, é preciso que, ao receber os caminhões com resíduos, eles estejam cadastrados e que sejam registradas e verifi cadas as procedências da carga. Ainda, é necessário pesar e registrar toda a operação. Ao pesar os resíduos, é preciso que o colaborador controle a origem, qualidade e quantidade dos resíduos a serem dispostos no aterro. Esse controle é realizado por meio de uma “planilha para pesagem diária de veículos”, contendo dados como: tipo de veículo, tipo de resíduo, número de cadastro e autorização, horade entrada e saída, peso, entre outras informações. Após a entrada do caminhão e pesagem do material, este será encaminhado para a área de descarga, ou seja, disposição dos resíduos. No início da operação do aterro, a deposição dos resíduos se processa sobre o fundo da célula que deve estar preparado e impermeabilizado com camada de argila compactada. Importante sempre o caminhão depositar o resíduo na frente de serviço mediante presença do fi scal, para controle dos tipos dos resíduos. Essa “dica” é porque com a diminuição da frente de trabalho, isso permite uma melhor manipulação do resíduo, tornando o processo mais prático e efi ciente. DICA Com referência ao espalhamento e compactação dos resíduos, estes devem ser espalhados em rampa, numa proporção de um na vertical para três na horizontal (1:3). O trator de esteira deve compactar o resíduo com movimentos repetidos de baixo para cima (três a cinco vezes). 40 Figura 9 – Exemplo de compactação de resíduos em uma célula de aterro Fonte: Conder (2010, p. 19) Ao fi m do dia de trabalho no aterro sanitário, o montante de resíduo sólido daquele dia, disposto e compactado, deverá receber uma cobertura de solo, espalhada em movimentos de baixo para cima. As coberturas de solo que um aterro precisa são as diárias e fi nal. A cobertura diária se refere à camada, preferencialmente, de argila de 15 a 20 cm de espessura. Esse tipo de cobertura evita a presença de vetores como ratos, baratas e aves e que o resíduo se espalhe em dias com vento intenso. Já a cobertura fi nal é realizada uma vez esgotada a capacidade do aterro, então, procede-se essa cobertura com 60 cm de espessura (sobre as superfícies que fi carão expostas permanentemente – bermas e taludes defi nitivos). Berma é uma parte superior das plataformas de resíduo que fi ca exposta, tendo como objetivo aumentar a estabilidade do aterro e facilitar sua manutenção e monitoramento. Taludes se referem a superfícies inclinadas formadas em aterros ou cortes. NOTA Na Figura 10, é apresentado um exemplo para a camada diária e fi nal. 41 Figura 10 – Cobertura final e diária em aterros Fonte: Conder (2010, p. 20) Importante ressaltar que, após o recobrimento, é preciso plantar a grama nos taludes definitivos e platôs, que servirá como proteção contra a erosão. Recomenda- se ainda o lançamento de uma camada de cascalho sobre as bermas, as quais serão submetidas ao tráfego operacional. 2.3 ENCERRAMENTO DE ATERROS A Norma Brasileira NBR 13896/1997 define que, para o fechamento e encerramento de um aterro sanitário, por ocasião do encerramento das atividades, devem constar os métodos e as etapas do fechamento total ou parcial, além do projeto e construção da cobertura final, de forma a minimizar a infiltração, prevenir erosões, acomodar recalques sem fraturas e que o coeficiente de permeabilidade seja inferior ao solo natural da área do aterro. O encerramento é uma ação necessária para o atingimento em âmbito nacional, estadual e municipal dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), com destaque para os ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e ODS 15 (Vida Terrestre). 2.3.1 Camada de cobertura Ao encerrar as atividades, os aterros sanitários precisam recebem a cobertura final que varia de acordo com as características geotécnicas do material utilizado e atributos climatológicos da região em que o aterro está inserido. 42 Tradicionalmente, a camada de cobertura é definida como um recurso de engenharia para fechamento e isolamento dos resíduos confinados com o ambiente externo (GUEDES, 2007). Outras funções da camada de cobertura foram reportadas, tais como: • auxiliar na minimização da geração de lixiviado após o fechamento do aterro; • auxiliar no escoamento superficial de água; • evitar o espalhamento de resíduo ou poeira; • acomodar possíveis recalques das camadas de resíduos; • prevenir contra proliferação de vetores; • permitir que o local possa ser utilizado com algum benefício social (PARO; COSTA; COELHO, 2008; TEIXEIRA, 2008; FRANQUETO, 2016). A camada de cobertura tem uma grande importância na minimização da emissão de gases nos aterros sanitários, assim como na oxidação do metano e redução de odores. Dependendo do material utilizado na camada de cobertura, as oxidações de gases relacionados a maus odores também são diferentes. Nesse sentido, Lopes et al. (2010) relatam que os sistemas de cobertura empregados nos aterros sanitários podem ser dos mais variados, sendo que os mais empregados e conhecidos são as camadas homogêneas de argila (com graduações distintas). Recentemente, muitos pesquisadores estão testando e utilizando materiais alternativos, como solos com maior percentagem orgânica, cinzas oriundas de incineração e lodos de estações de tratamento de água e esgoto, entre outros. No Brasil, não há uma padronização quanto ao tipo de solo a ser utilizado na camada de cobertura, assim como características geotécnicas e espessura em aterros sanitários de resíduos sólidos. 3 DECOMPOSIÇÃO DE MATERIAIS EM ATERROS A decomposição do resíduo com características orgânicas é relativamente rápida na natureza. Já os produzidos pelo homem podem demorar vários anos para sumir do ambiente. Isso é um grave problema, uma vez que muitos afetam diretamente o ambiente, poluindo-o e causando danos aos seres vivos. Os materiais depositados em áreas reservadas para aterros passam por um processo natural de decomposição físico-química de seus componentes, produzindo líquidos percolados (chorume) e gases (biogás). Alguns itens de plástico levam em média 450 anos, mas outros podem levar até 1.000 anos para se decompor nos aterros sanitários! Assim, é muito importante a separação dos resíduos na fonte, para que se evite o envio de materiais que demoram muito para se decompor. 43 3.1 COMPOSIÇÃO E EMISSÃO DE GASES EM ATERROS O processo de decomposição dos resíduos sólidos urbanos ocorre em duas fases: aeróbia e anaeróbia. Na fase aeróbia, os microrganismos se desenvolvem em presença de oxigênio molecular. No processo de decomposição biológica, os principais responsáveis pela decomposição do resíduo orgânico são as bactérias e os fungos saprófitos, que se alimentam de vegetais e animais mortos ou de restos orgânicos. 3.1.1 Tempo de decomposição de resíduos O tempo de decomposição de alguns resíduos, como os plásticos e os vidros é extremamente longo. Fica claro que, por várias gerações, esses resíduos permanecerão no ambiente, causando danos tanto para o meio ambiente quanto para os seres humanos e animais. Nesse sentido, muitos animais morrem ao se alimentar do resíduo, sem contar os resíduos que podem contaminar a água e o solo. Uma das formas de evitarmos problemas ambientais e de saúde pública, é por meio da reciclagem desses resíduos. A reciclagem auxilia na diminuição de resíduo descartado no meio ambiente e garante uma utilização menor dos nossos recursos naturais. Com relação ao tempo de decomposição de resíduos, uma simples tampinha de garrafa leva aproximadamente, de 100 a 500 anos para se decompor. Muito tempo, não é? Imagine se todas as tampinhas fossem levadas para o aterro? Os vidros, os pneus e as cerâmicas têm tempo indeterminado de decomposição. Importante pensar em reciclagem. O vidro, por exemplo, é feito de cacos de vidro, areia, calcário, feldspato, barrilha e outros minerais, além de corantes e descorantes e pode ser 100% reciclado. Na indústria de reciclagem, o vidro triturado é realimentado no processo produtivo, fundido e moldado em recipientes e frascos para embalagens alimentícias ou garrafas em geral (FUNASA, 2020). Materiais com base em alumínio levam de 300 a 500 anos para se decompor. É importante mencionar que a lata de alumínio é 100% reciclável, ou seja, não é preciso retirar nenhuma parte dela antes da reciclagem, nem mesmo o anel (FUNASA, 2020). O isopor, por exemplo, que parece ser ummaterial simples, demora de 80 a 400 anos para se decompor de forma natural. Um copo de plástico, sim esse que você usa para tomar seu cafezinho, leva em torno de 100 anos para se decompor. Você pode usar um agora e deixar de “lembrança” para sua geração seguinte. 44 3.1.2 Processo de decomposição de resíduos O processo de decomposição anaeróbia de resíduos orgânicos produz biogás. O biogás é constituído, majoritariamente, de 45 a 60% de metano (CH4), 35 a 50% de dióxido de carbono (CO2) (SPOKAS et al., 2006; FRANQUETO, 2016). Além dos compostos majoritários, há os compostos odoríferos, entre eles, destacam-se o sulfeto de hidrogênio. O sulfeto de hidrogênio tem o cheiro característico de “ovo podre” e é um dos principais compostos odoríferos no biogás de aterros (KIM, 2006; DUCOM et al., 2009). Ainda é o composto mais abundante (~ 80%) entre os pertencentes ao grupo do enxofre (LEE et al., 2006). 3.1.3 Fatores intervenientes na geração e composição do biogás A geração e composição do biogás pode ser variável dentro de um aterro sanitário devido ao fato de ocorrer grande diversidade de resíduos aterrados e de tempo (RASI; LÄNTELÄ; RINTALA, 2011). Outra grande influência é o teor de matéria orgânica, temperatura, idade dos resíduos, teor de umidade e pH que estão presentes na célula (FRANQUETO, 2016). A composição do resíduo afeta devido ao tipo da massa residual e a quantidade. Quanto maior for a fração orgânica biodegradável, a tendência é de que maior será o potencial de produção de biogás. A presença de substâncias tóxicas, por exemplo, os detergentes e outros produtos químicos deve ser evitada, pois eles podem provocar intoxicação e morte dos microrganismos, prejudicando a produção de biogás (OLIVEIRA, 2004). Com relação à umidade dos resíduos, este influencia diretamente na aeração dos gases no interior da massa da célula. Ainda, serve como meio de transporte para os microrganismos no interior das células do aterro. Considera-se um valor aceitável de umidade um teor entre 40 a 60% (BIDONE; POVINELLI, 1999). O pH das camadas de coberturas dos aterros depende do tipo de solo usado. Além disso, os microrganismos metanotróficos se desenvolvem numa ampla faixa de pH, minimizando, assim, os efeitos desse fator no crescimento desses microrganismos. Liu, Yuan e Zeng (2008) afirmam que os microrganismos anaeróbios são frágeis às condições ácidas. Alguns estudos indicam que a produção máxima de metano é quando o pH se situa na faixa de 7,0 a 7,2 (próxima à neutralidade) (BIDONE; POVINELLI, 1999; FRANQUETO, 2016). A temperatura é o fator que influencia diretamente a atividade enzimática dos microrganismos e a sua influência depende das faixas de variações da temperatura local entre o inverno e verão. 45 Quando se fala em temperatura, existe também a faixa psicrófi la. Essa faixa é importante ser observada para efl uentes produzidos em baixas temperaturas, que não é caso da biomassa residual produzida no Brasil (COLLINS et al., 2003). IMPORTANTE Basicamente, duas faixas de temperatura interferem na produção de biogás. A faixa mesofílica, nela a temperatura ótima deve estar entre 30 ºC e 35 ºC, e a faixa termofílica, que deve ser mantida entre 50 ºC e 60 ºC (SINGH; ANAND, 1994). 46 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O que é aterro sanitário, seus conceitos e, principalmente, as formas de recebimento de resíduos, seguindo a sua classificação e composição. • A importância do aterro sanitário para a minimização de problemas de ordem de saúde pública, social e ambiental. • Como é o funcionamento dos aterros sanitários seguindo as normas pertinentes. • Sobre o projeto de um aterro sanitário que passa por muitas etapas, tais como os estudos preliminares que consistem na caracterização do município e na elaboração de um diagnóstico do gerenciamento de resíduos sólidos no local. • A respeito dos estudos que visam levantar informações sobre a geração per capita de resíduos sólidos gerados no município, a composição gravimétrica e os serviços de limpeza executados. • Sobre a escolha da área adequada para a instalação, considerada a partir de critérios técnicos, ambientais, operacionais e sociais. Assim, a área escolhida deve ser caracterizada por meio de levantamentos topográficos, geológicos, geotécnicos, climatológicos e relativos ao uso de água e solo. • A forma de operação de todas as atividades relacionadas às etapas de um aterro sanitário. • Sobre o gerenciamento de aterros, desde a chegada dos resíduos na balança até as etapas de inserção de camadas diárias após o fim do dia de trabalho. Ainda, aprendeu como é a frente de trabalho e como deve ser executada, principalmente para inserção do solo na camada de cobertura diária e final. • Sobre a decomposição de materiais no interior do aterro, seguindo todas as etapas pertinentes, aprendeu sobre a geração de gases no aterro e, principalmente, sobre a sua composição, em parcelas majoritárias e minoritárias. 47 AUTOATIVIDADE 1 Quem trabalha com aterros sanitários sabe que uma das maiores dificuldades opera- cionais é a frente de trabalho que exige, dia após dia, cobertura provisória a cada nova leva de lixo depositado. Atualmente, o sistema utilizado pela maior parte dos aterros para realizar essa tarefa é a cobertura com solo. Ao fim do dia de trabalho, o montante de resíduo disposto e compactado deverá receber uma cobertura de solo, espalha- da em movimentos de baixo para cima. Nesse sentido, as coberturas de solo que um aterro precisa são as diárias e final. O uso do material de cobertura evita a presença de vetores como ratos, baratas e aves e que o lixo se espalhe em dias de ventania. Ainda, as coberturas, apresentam finalidades que se complementam durante a vida útil e após o processo de utilização da área de armazenagem de resíduo. Baseando-se nas infor- mações aqui dispostas e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A cobertura diária apresenta de 15 a 20 cm de espessura. b) ( ) A cobertura diária apresenta de 20 a 25 cm de espessura. c) ( ) A cobertura diária apresenta de 25 a 30 cm de espessura. d) ( ) A cobertura diária apresenta de 30 a 35 cm de espessura. e) ( ) A cobertura diária apresenta de 5 a 10 cm de espessura. 2 A decomposição dos resíduos é um estágio em que a matéria se desintegra gradualmente e isso faz com que ela perca a sua funcionalidade. Tanto a matéria orgânica como a bruta está mais vulnerável à decomposição. O período para o material se decompor varia muito e dependerá das condições do ambiente e da sua composição. Com a decomposição dos resíduos ocorre a geração de gases que possuem em sua composição, diferentes parcelas de compostos. Esse gás gerado é conhecido como o biogás. O biogás é uma fonte de energia alternativa que tem ganhado força nas últimas décadas, por ser uma fonte de energia limpa, de baixo custo e que contribui com a redução do volume de resíduos sólidos encaminhados para aterros. No que se refere à composição dos gases de aterro, analise as afirmativas seguir: I- Metano. II- Dióxido de carbono. III- Monóxido de carbono. IV- Nitrogênio. Sobre os compostos constituintes, majoritariamente, do biogás, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. amele X amele X 48 c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) A sentença III está correta. 3 O biogás é um produto da decomposição de material orgânico biodegradável, por meio da ação de várias populações de microrganismos anaeróbios. A geração e composição do biogás pode ser variável dentro de um aterro sanitário devido ao fato de ocorrer grande diversidade de resíduos aterrados e de tempo. Outras grandes influências são o teor de matéria orgânica, temperatura, idade dos resíduos, teor de umidade e o pH que estão presentes na célula. Diante do exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: () O teor de umidade influencia diretamente na aeração dos gases. ( ) A composição do resíduo afeta o meio de transporte para os microrganismos. ( ) A temperatura afeta o tipo da massa residual e a quantidade dos resíduos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A camada de cobertura final, objeto deste estudo, é uma medida de proteção am- biental constituída de multicamadas que serve para reduzir a infiltração de água para o lixo depositado e para minimizar emissões de gases do aterro para a atmosfera. A camada de cobertura deve possuir alguns atributos de um sistema impermeabilizan- te, como estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica, resistência a intempé- ries e compatibilidade físico-química-biológica com os resíduos aterrados. Disserte sobre a importância da camada de cobertura diária e final nos aterros. 5 Os sistemas de cobertura empregados nos aterros sanitários podem ser dos mais variados. No Brasil, não há uma padronização quanto ao tipo de solo a ser utilizado na camada de cobertura, assim como características geotécnicas e espessura em ater- ros sanitários de resíduos sólidos. Ainda, existem as chamadas camadas alternativas que propõem uma cobertura econômica e eficiente para aterros, levando em consi- deração a oxidação biológica do metano. Essas camadas representam uma alterna- tiva economicamente atraente para o tratamento de emissões fugitivas de metano. Nesse sentido, disserte sobre os tipos de materiais que podem ser empregados na cobertura dos aterros. amele X 49 TÓPICO 3 - ATERRO SANITÁRIO INDUSTRIAL 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a indústria é responsável por grande quantidade dos resíduos produzidos, tais como sobras de carvão mineral, refugos da indústria metalúrgica, resíduos químicos e gás, além das fumaças lançadas pelas chaminés das fábricas, entre outros. Os resíduos perigosos são gerados principalmente nos processos produtivos, em unidades industriais e fontes específicas. No entanto, também estão presentes nos resíduos sólidos gerados principalmente nos domicílios e comércio. Para resíduos considerados perigosos, não se pode simplesmente depositá- los em extensas áreas a céu aberto sem qualquer tipo de tratamento como é feito com os resíduos não perigosos, nos chamados lixões. Sem apresentar nenhuma impermeabilização, o solo fica exposto à degradação e há risco de contaminação dos lençóis freáticos pelos efluentes produzidos na degradação do resíduo quando estes são absorvidos pelo solo. É devido a esse fato que é tão importante a erradicação e encerramentos dos lixões. De um modo geral, os resíduos lançados em lixões acarretam problemas de saúde pública, como a proliferação de vetores de doenças (moscas, mosquitos, baratas, ratos), geração de gases que causam odores desagradáveis e intensificação do efeito estufa e, principalmente, poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas pelo chorume – líquido de coloração escura, malcheiroso e de elevado potencial poluidor, produzido pela decomposição da matéria orgânica contida nos resíduos. O maior lixão a céu aberto da América Latina está no Brasil, no Distrito Federal, bem próximo de Brasília. Inicialmente, o “Lixão da Estrutural” seria um aterro controlado, entretanto, os resíduos continuaram sendo dispostos no local após seu esgotamento, recebendo atualmente cerca de duas toneladas de resíduos por dia (BURLAMAQUI, 2017). Os resíduos industriais são aqueles resíduos provenientes dos processos industriais (forma sólida, líquida ou gasosa ou combinação dessas), com características físicas, químicas ou microbiológicas que não se assemelham aos resíduos domésticos (BRASIL, 2011). Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos sobre o tema “aterro industrial”, evidenciado suas diferenças para o aterro sanitário convencional, quais os tipos de resíduos que podem ser encaminhados para esse tipo de tratamento e disposição final, entre outros assuntos pertinentes ao estudo. UNIDADE 1 50 2 ATERRO INDUSTRIAL O princípio do “poluidor-pagador” se encontra estabelecido na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981). Isso significa dizer que “cada gerador é responsável pela manipulação e destino final de seu resíduo”. No Brasil, de acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a destinação dos resíduos industriais é obrigação do gerador. A NBR 10157/1987 é útil para apresentação de projetos de aterros de resíduos perigosos e a NBR 13896/1997 para projetos de aterros de resíduos não perigosos. O aterro industrial consiste em confinar os resíduos industriais na menor área e volume possíveis, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho ou intervalos menores, caso necessário. 2.1 ATERRO SANITÁRIO E INDUSTRIAL Hoje, há mais de 7 milhões de produtos químicos conhecidos e a cada ano, outros milhares são descobertos. Esse fato dificulta, cada vez mais, o tratamento efetivo dos resíduos. Nesse sentido, conhecer bem as formas de destinação adequadas é extremamente importante. Os produtos químicos estão presentes no nosso dia a dia, desde os componentes nos alimentos, medicamentos, produtos destinados a limpeza das residências, entre outros. Dessa forma, o conhecimento da sua classificação e formas de tratamento e destinação é muito importante. 2.1.1 Diferenças entre aterro sanitário e industrial Aterro sanitário é o local de destino dos resíduos urbanos provenientes da coleta de lixo e de alguns resíduos industriais não perigosos (Classe II), no qual podemos dizer que possui o solo impermeabilizado, canaletas para coleta do chorume (líquido resultante do processo de decomposição de matéria orgânica) para tratamento. O mesmo pode atingir lençóis freáticos, rios e córregos, contaminando-os, isto acontecendo, os peixes são contaminados e, se a água for utilizada para irrigação agrícola, a contaminação pode chegar aos alimentos. O aterro industrial possui basicamente os mesmos critérios na estrutura que um aterro sanitário, com a diferença do resíduo recebido e depositado. Os aterros industriais se destinam a armazenar os resíduos sólidos produzidos pelas indústrias dos mais variados segmentos. São classificados nas Classes I, II ou III, conforme a periculosidade dos resíduos a serem dispostos. Esse tipo de aterro não pode ser instalado em áreas 51 inundáveis, de recarga de aquíferos, em áreas de proteção de mananciais, mangues e habitat de espécies protegidas, ecossistemas de áreas frágeis ou em todas aquelas definidas como de preservação ambiental permanente, conforme legislação em vigor. O aterro industrial possui basicamente os mesmos critérios na estrutura que um aterro sanitário, mas então onde está a diferença? A diferença é que o aterro industrial é destinado a armazenar os resíduos sólidos produzidos pelas indústrias dos mais variados segmentos, já um aterro sanitário é o local onde é destinado os resíduos urbanos provenientes da coleta de lixo e de alguns resíduos industriais não perigosos (Classe II). 2.1.2 Resíduos destinados ao aterro industrial Os resíduos sólidos industriais são todos os resíduos no estado sólido ou semissólido, resultantes das atividades industriais, incluindo lodos e determinados líquidos cujas características tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água. Em seu Artigo 13, a Política Nacional de Resíduos Sólidos define resíduos industriais como aqueles gerados nos processos produtivos e instalações industriais. Entre os resíduos industriais, inclui-se também grande quantidade de material perigoso, que necessita de tratamento especial devido ao seu alto potencial de impacto ambiental e à saúde. De acordo com a Resolução Conama nº 313/2002, que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais, a definição para resíduo sólido industrial é o que resulta de atividades industriaise que se encontra nos estados sólido, semissólido, gasoso – quando contido e líquido – cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para isto soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Os resíduos industriais apresentam composição variada, dependendo do processo industrial. Ácidos, as bases fortes, os materiais inflamáveis, explosivos e resíduos radioativos não podem ser dispostos em aterros industriais, a menos que sejam empregadas técnicas especiais de pré-tratamento, a exemplo de estabilização, encapsulamento, solidificação e vitrificação. Ainda, os resíduos destinados ao aterro industrial são os contemplados na Classe I: perigosos. Os resíduos dessa classe podem apresentar riscos à saúde pública e aos organismos vivos, contribuindo para aumento de mortalidade, incidência de doenças e causando efeitos adversos ao meio ambiente, considerando fatores de periculosidade como a inflamabilidade, corrosividade, reatividade, patogenicidade e toxicidade. Nos resíduos industriais, segundo o IBAM (2004), são inclusas as seguintes composições: 52 • produtos químicos: cianureto, pesticidas, solventes; • metais: mercúrio, cádmio, chumbo; • solventes químicos. Metal pesado é um termo coletivo para um grupo de metais que apresenta densidade atômica maior que 6 g/cm³. No entanto, atualmente é utilizado para designar alguns elementos (Cd, Cr, Cu, Hg, Ni, Pb e Zn) que estão associados aos problemas de poluição e toxicidade. Teoricamente, esses elementos pertencem aos metais traços, no entanto, esta nomenclatura é pouco utilizada quando se refere à poluição ambiental. Metais pesados são muito empregados nos componentes de produtos da indústria e estão em diferentes produtos do nosso dia a dia. São utilizados nas indústrias eletrônicas, maquinários e outros utensílios da vida cotidiana. Sua ocorrência nos resíduos está correlacionada às principais fontes, como baterias (inclusive de telefones celulares), pilhas e equipamentos eletrônicos em geral. Os efeitos do chumbo na saúde humana dependem da intensidade e duração da exposição. Dependendo do nível de exposição pode resultar em uma série de efeitos. É um metal que tem efeito cumulativo no organismo, provocando doença crônica (saturnismo), cujos efeitos tóxicos podem ser exemplificados como hematológicos, neurológicos, encefalopatia com sintomas de coma e convulsões, efeitos sobre o sistema nervoso central, psicológicos, renais, mutagenicidade e sobre a reprodução (NASCIMENTO; HYPOLITO; RIBEIRO, 2006; PAOLIELLO et al., 2001). O consumo habitual de água e alimentos – como peixes de água doce ou do mar – contaminados com metais pesados coloca em risco a saúde. As populações que moram em torno das fábricas de baterias artesanais, indústrias de cloro-soda que utilizam mercúrio, indústrias navais, siderúrgicas e metalúrgicas, correm risco de serem contaminadas. As pilhas, baterias de telefones e equipamentos eletrônicos que são formados por compostos químicos com alta capacidade de poluição e toxicidade para o solo e a água, são também extremamente tóxicos aos seres humanos e animais. Esse tipo de material deve ser tratado com muita cautela durante os processos de coleta seletiva, uma vez que hoje existem postos de coleta e de depósito desses tipos de materiais, onde as pessoas podem descartá-los, para que depois possam ser coletados por empresas especializadas na sua destinação. A classificação dos resíduos segue normas especificas. A NBR 10004 (2004a) é a que rege a classificação dos resíduos conforme as reações que produzem quando são dispostas: • perigosos (Classe I): referem-se às substâncias inflamáveis, corrosivas, reativas, tóxicas e patogênicas. Por possuírem as características citadas anteriormente, exigem tratamento e disposição final especiais. Alguns exemplos de resíduos Classe I: cianetos, solventes contendo flúor, cloro, bromo ou iodo, benzenos e derivados e soluções contendo metais; 53 • não inertes (Classe II): referem-se às substâncias não enquadradas nas Classes “I” ou “III, não apresentem periculosidade. Resíduos dessa classe podem apresentar as seguintes características: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Alguns exemplos de resíduos Classe I: água oleosa oriunda de algum processo; papel e papelão; sucata ferrosa e não ferrosa não contaminada; • inertes (Classe III): referem-se às substâncias que não possuem constituintes solubilizados, de acordo com as normas da ABNT, a concentrações superiores de potabilidade da água. Muitos são recicláveis e não se decompõem quando dispostos no solo. Alguns exemplos de resíduos da Classe I: entulhos de demolição na construção civil, plásticos, vidros etc. Os aterros sanitários Classe I podem receber resíduos industriais perigosos; os Classe II, resíduos não inertes; e os Classe III, somente resíduos inertes. DICAS Para diferenciar os resíduos classifi cados pela ABNT NBR 10004/2004 em Classe I ou Classe II, é preciso realizar testes ou ensaios. Para realizar as amostragens de resíduos, é preciso considerar os padrões exigíveis pela norma ABNT NBR 10007/2004, que apresenta os métodos, procedimentos e equipamentos a serem empregados. O primeiro teste a ser realizado é referente à lixiviação (ABNT NBR 10005/2004b). Esse teste é defi nido como uma operação de separação de certas substâncias contidas nos resíduos por meio da lavagem ou percolação. O segundo teste é referente à solubilidade (ABNT NBR 10006/2004c). O teste é realizado para um determinado resíduo qual ou quais dos seus constituintes solubilizados ultrapassam as concentrações superiores aos padrões já defi nidos. O IBAM (2004) relata que as indústrias tradicionalmente responsáveis pela maior produção de resíduos perigosos são as metalúrgicas, as indústrias de equipamentos eletroeletrônicos, as fundições, a indústria química e a indústria de couro e borracha. Com relação aos resíduos industriais, seu gerenciamento adequado muitas vezes está relacionado às opções disponíveis e ao custo referente ao tratamento e disposição dos resíduos. 54 2.1.3 Acondicionamento, coleta e transporte de resíduos industriais Pelo tipo de resíduo, é possível criar um plano de armazenamento que não atrapalhe a produção, que utilize do menor número de equipamentos possível e no qual o processo de acondicionamento seja o mais eficiente, pensando tanto nos processos envolvidos, quanto na segurança. A legislação ambiental exige que todo o resíduo coletado tenha a destinação final correta de acordo com sua classificação. Deve ser realizada somente por empresas cadastradas e devidamente licenciadas. A importância de contratar uma empresa licenciada para coletar, armazenar e transportar seu resíduo, trará para a sua empresa toda a tranquilidade legal para estar de acordo com os órgãos fiscalizadores, além de contribuir para a não contaminação de rios, solo e meio ambiente em geral com o descarte ilegal. O acondicionamento de resíduos industriais deve ser realizado em locais estanques e/ou herméticos, de modo a minimizar a proliferação de vetores e o impacto visual e olfativo, além de facilitar a etapa de coleta. O bom acondicionamento dos resíduos evita acidentes. O acondicionamento deve ser realizado de acordo com a NBR 12235 (ABNT, 1992b). Algumas formas de acondicionamento de resíduos industriais são: • tambores metálicos para resíduos sólidos sem características corrosivas; • bombonas plásticas para resíduos sólidos com características corrosivas ou semissólidos em geral; • caçambas roll on: resíduos de construção civil, metal, varrição, orgânicos, lodos sólidos, entre outros; • compactadores estacionários: acondicionar resíduos orgânicos. O local de armazenamento de produtos perigosos deverá ter uma área de contenção, fazer um inventário e um plano de amostragem. O local de armazenamento precisa cumprir as seguintes exigências:• coberta, ventilada, com acesso adequado e controlado para a entrada e saída dos resíduos e acesso restrito para pessoas não autorizadas; • base impermeável que impeça a lixiviação e percolação de substâncias para o solo e águas subterrâneas; • área de drenagem e captação de líquidos contaminados para posterior tratamento; • os resíduos devem estar devidamente identificados, controlados e segregados segundo suas características de inflamabilidade, reatividade e corrosividade, evitando-se a incompatibilidade entre eles; • deverá estar distante de nascentes, poços, cursos d’água e demais locais sensíveis. 55 As empresas coletoras de resíduos industriais devem ser cadastradas e autorizadas pela prefeitura e os veículos devem ser apropriados e licenciados, atendendo as normas da ABNT NBR 7500/2001 e ABNT NBR 7501/2003. Em caso de grandes distâncias entre o local de geração do resíduo até sua destinação final, às vezes se faz necessária a instalação de estações de transferências (ou transbordo), que têm a função de acumular o resíduo para transportá-lo, em caminhões de maior capacidade, até seu destino final. Para conter esses resíduos, os aterros industriais precisam receber tratamento específico de forma que minimizem o impacto no meio ambiente. Entre os tipos de tratamento estão: a impermeabilização das trincheiras, o tratamento de efluentes e de gases liberados. De acordo com a classificação, determina-se o descarte em coprocessamento, incineração, aterramento e beneficiamento de resíduos. 2.2 CARACTERÍSTICAS DE UM ATERRO INDUSTRIAL Assim como os aterros sanitários possuem normas específicas para seu projeto e gerenciamento, normas técnicas estão disponíveis para dar suporte à construção e à ma- nutenção de aterros industriais e gerenciamento de resíduo. A NBR 10157/1987 estabele- ce os critérios técnicos para construção de aterro para resíduos considerados perigosos. 2.3.1 Áreas para aterros industriais O aterro industrial não pode ser instalado em áreas inundáveis, de recarga de aquíferos, em áreas de proteção de mananciais, mangues e habitat de espécies protegidas, ecossistemas de áreas frágeis ou em todas aquelas definidas como de preservação ambiental permanente, conforme legislação em vigor. Para a instalação do aterro industrial, deverão ser selecionados, preferencialmente, áreas naturalmente impermeáveis, para construção de aterros de resíduos industriais. Estas áreas se caracterizam pelo baixo grau de saturação, pela relativa profundidade do lençol freático e pela predominância, no subsolo, de material argiloso. Ainda, o aterro industrial precisa respeitar as distâncias mínimas estabelecidas em norma, a corpos d'água, núcleos urbanos, rodovias e ferrovias, quando da escolha da área do aterro. A construção de aterros em áreas cujas dimensões não possibilitem uma vida útil para o aterro igual ou superior a 20 anos, não deverá ser executada. 56 2.3.2 Estrutura dos aterros industriais A estrutura dos aterros industriais é composta de um sistema de dupla impermeabilização. O sistema duplo de impermeabilização deverá ser construído de modo a evitar rupturas devido às pressões hidrostáticas e hidrogeológicas, condições climáticas, tensões da instalação, da impermeabilidade ou aquelas originárias da operação diária. O sistema duplo de impermeabilização deverá ser assentado sobre uma base ou fundação capaz de suportá-lo, bem como resistir aos gradientes de pressão acima e abaixo da impermeabilização de forma a evitar sua ruptura por assentamento com pressão ou levantamento do aterro. A impermeabilização inferior, de base, é composta de manta sintética sobreposta a uma cama de argila. A manta sintética precisa apresentar resistência química aos resíduos a serem dispostos e às intempéries; suportar os ciclos de umedecimento; ser resistente à tração, apresentar flexibilidade e alongamento; suportar os esforços de instalação e de operação; resistência à laceração, abrasão e punção de qualquer material pontiagudo ou cortante que possa estar presente nos resíduos. Ainda, é preciso apresentar facilidade para execução de emendas e reparos em campo, em quaisquer circunstâncias. Sobre o material sintético, deverá ser assentada uma camada de terra com espessura mínima de 50 centímetros. Já a impermeabilização superior é composta de solo original para garantir o recobrimento com vegetação nativa, camada drenante, manta sintética com a mesma especificação utilizada no sistema de impermeabilização inferior e camada de argila. 3 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS EM ATERRO INDUSTRIAL A última etapa do gerenciamento de resíduos é a sua disposição final ambien- talmente adequada, que consiste na distribuição ordenada de rejeitos em aterros, ob- servando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, e a minimizar os impactos ambientais adversos (BRASIL, 2010). 3.1 PROJETO: ATERRO INDUSTRIAL Os aterros industriais requerem projeto e execução mais elaborados que os aterros sanitários, em razão dos materiais que receberão, particularmente quando se trata de resíduos perigosos. 57 Para viabilizar a implantação de um aterro sanitário para resíduos perigosos, é necessário atender as condições mínimas de projeto. As condições mínimas para o local de instalação são: • adequado do ponto de vista geológico e hidrológico; • afastado de áreas densamente povoadas; • fácil acesso sem passar por meio de aglomerados urbanos. Além das condições mínimas referentes à localização do aterro, existem exigências quanto às características construtivas e funcionais. Como aspecto construtivo, o aterro industrial precisa apresentar um sistema de drenagem para as águas pluviais; de impermeabilização superior e inferior, de forma que eles não contaminem o meio ambiente. Ainda, é preciso projetar um sistema para detecção de vazamentos, inserindo uma série de drenos e poços de inspeção do lençol freático. O sistema de drenagem e tratamento do percolado tem como finalidade acondicionar todo o chorume gerado pelo aterro e enviá-lo até a Estação de Tratamento de Efluentes líquidos (ETE). Assim como é preciso monitorar o percolado, é preciso drenar os gases gerados durante a decomposição dos resíduos. O monitoramento do aterro industrial tem que ser permanente, a fim de prevenir a possibilidade de contaminação do solo ao redor e das águas subterrâneas. Ainda, é preciso reduzir ao mínimo a quantidade de material lixiviado emitido pelo aterro industrial, evitando-se a disposição de resíduos muito úmidos e pastosos. A vida útil de um aterro é em função do volume de material que recebe na unidade de tempo e da densidade aparente do material. 3.2 TIPO DE ATERRO INDUSTRIAL Assim como os aterros sanitários são preparados para receber os rejeitos domés- ticos, o aterro industrial é preparado para receber os resíduos das mais diversas indústrias. 3.2.1 Aterro industrial Classe I Esse tipo de aterro se destina aos resíduos considerados perigosos de alta periculosidade, como cinzas do processo de incineração, resíduos inflamáveis, resíduos tóxicos, entre outros. Devido à periculosidade dos resíduos destinados aos aterros Classe I, há um controle ainda maior, visando evitar contaminação do solo, água e ar, por meio de protocolos específicos. 58 Os resíduos são dispostos em valas cobertas, cuja a base de impermeabilização é composta por camada de argila, geocomposto bentonítico, manta de polietileno de alta densidade (PEAD) de 2 mm, geotêxtil, geogrelha, geotêxtil camada drenante (areia) com dreno testemunho. Após esta primeira base de impermeabilização, é feita nova sequência de manta, geotêxtil, geogrelha, geotêxtil camada drenante e dreno testemunho, manta, camada drenante e dreno de chorume. Após a vala estar completa, ela é encerrada. São então dispostos argila, outra manta de PEAD, solo vegetal e, por fim, paisagismo com espécies nativas. Poços de monitoramento do chorume garantem o controle do aterro................................................................................................... 10 3 FORMAS DE DISPOSIÇÃO/TRATAMENTO DE RESÍDUOS ..............................................18 3.1 TRATAMENTO DE RESÍDUOS ............................................................................................................ 19 3.1.1 Compostagem ............................................................................................................................ 19 3.1.2 Coleta seletiva ............................................................................................................................24 3.1.3 Incineração ................................................................................................................................ 27 3.2 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS .............................................................................................................28 3.2.1 Aterros ..........................................................................................................................................29 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 30 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 31 TÓPICO 2 - ATERRO SANITÁRIO ........................................................................................ 33 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 33 2 IMPORTÂNCIA DE ATERRO SANITÁRIO ......................................................................... 34 2.1 FUNCIONAMENTO E PLANEJAMENTO DE UM ATERRO SANITÁRIO ......................................34 2.1.1 Estudos preliminares ................................................................................................................35 2.1.2 Escolha da área adequada para a instalação .....................................................................35 2.1.3 Estudos aprofundamentos ....................................................................................................36 2.2 GERENCIAMENTO E OPERAÇÃO DE ATERROS .......................................................................... 37 2.2.1 Gerenciamento de aterros .....................................................................................................38 2.2.2 Operação de aterros ...............................................................................................................39 2.3 ENCERRAMENTO DE ATERROS ....................................................................................................... 41 2.3.1 Camada de cobertura............................................................................................................... 41 3 DECOMPOSIÇÃO DE MATERIAIS EM ATERROS ............................................................. 42 3.1 COMPOSIÇÃO E EMISSÃO DE GASES EM ATERROS .................................................................43 3.1.1 Tempo de decomposição de resíduos ..................................................................................43 3.1.2 Processo de decomposição de resíduos .............................................................................44 3.1.3 Fatores intervenientes na geração e composição do biogás ........................................44 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 46 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................47 TÓPICO 3 - ATERRO SANITÁRIO INDUSTRIAL .................................................................. 49 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 49 2 ATERRO INDUSTRIAL ...................................................................................................... 50 2.1 ATERRO SANITÁRIO E INDUSTRIAL .................................................................................................50 2.1.1 Diferenças entre aterro sanitário e industrial ......................................................................50 2.1.2 Resíduos destinados ao aterro industrial .............................................................................51 2.1.3 Acondicionamento, coleta e transporte de resíduos industriais ...................................54 2.2 CARACTERÍSTICAS DE UM ATERRO INDUSTRIAL ......................................................................55 2.3.1 Áreas para aterros industriais ................................................................................................55 2.3.2 Estrutura dos aterros industriais ..........................................................................................56 3 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS EM ATERRO INDUSTRIAL.................................................. 56 3.1 PROJETO: ATERRO INDUSTRIAL .....................................................................................................56 3.2 TIPO DE ATERRO INDUSTRIAL ......................................................................................................... 57 3.2.1 Aterro industrial Classe I .......................................................................................................... 57 3.2.2 Aterro industrial Classe II ........................................................................................................58 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................59 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 62 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 65 UNIDADE 2 — ATERROS: CRITÉRIOS E FORMAS DE LICENCIAMENTO ............................73 TÓPICO 1 — SELEÇÃO DE ÁREAS ........................................................................................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 SELEÇÃO DE ÁREAS .........................................................................................................75 2.1 CRITÉRIOS: ATERRO SANITÁRIO ..................................................................................................... 76 2.1.1 Avaliação de áreas .................................................................................................................... 76 2.1.2 Critérios ambientais .................................................................................................................. 77 2.1.3 Critérios de uso e ocupação do solo ....................................................................................78 2.1.4 Critérios operacionais ............................................................................................................... 79 2.1.5 Atividades para identificação e análise de áreas .............................................................. 79 2.1.6 Outros métodos para identificação e escolha de áreas .................................................83 2.2 CRITÉRIOS: ATERRO INDUSTRIAL .................................................................................................. 84 2.2.1 Critérios para a localização de aterros de resíduos perigosos .....................................85 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................87 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 88de resíduos perigosos Classe I. Assim, todos os poluentes que poderiam chegar ao ambiente ficam contidos e, posteriormente, tratados. Além da estrutura física necessária, todo aterro industrial precisa da presença de um técnico habilitado em programa de gestão, saúde, segurança do trabalho e monitoramento ambiental. Tudo para garantir que a produção industrial brasileira continue em pleno desenvolvimento, impactando o mínimo possível no meio ambiente. 3.2.2 Aterro industrial Classe II O aterro industrial Classe II é dividido em dois tipos. O aterro Classe II-A e Classe II-B. O funcionamento de aterros industriais de Classe II é relativamente simples e, assim como os aterros sanitários, funcionam a partir da compactação dos resíduos depositados, que serão sobrepostos por novas camadas de rejeitos. A base do aterro Classe II é formada por solo compactado, geocomposto com bentonita e uma manta de PEAD texturizada de 2 mm de espessura. Uma nova camada de solo protege a manta de PEAD de possíveis danos causados pelos resíduos. Sobre essa camada é implantado o sistema de drenagem de chorume e de biogás. O chorume drenado será encaminhado a uma estação de tratamento de chorume, enquanto o biogás (que possui em sua composição o gás metano) será queimado em “flares”. Em uma segunda fase, o biogás poderá ser utilizado para geração de energia. Diferentemente dos aterros urbanos, no entanto, os aterros industriais contam com duas camadas de impermeabilização, sendo uma superior e outra inferior. 59 GESTÃO DE RESÍDUOS NA PROTEÇÃO CONTRA A COVID-19 ABRELPE ABETRE, ABLP, ABRELPE e SELUR/SELURB, tradicionais entidades do setor de Gestão de Resíduos Sólidos, compreendendo a responsabilidade que os serviços essenciais de limpeza urbana e manejo de resíduos têm para com a sociedade, em conjunto, desenvolvem várias ações não só para proteger a sua força de trabalho em todo o país, assim como a população em geral. Neste momento de pandemia, compreendem que a responsabilidade ainda é maior no sentido de oferecer os serviços com qualidade, segurança e pontualidade. A boa gestão de resíduos sólidos, constitui-se, juntamente com os serviços de atendimento à saúde, na principal barreira sanitária contra a transmissão do novo coronavírus e prevenção do processo de contaminação da Covid-19. Partindo dessa premissa, que tem sido reforçada mundialmente, as entidades representativas do setor de resíduos sólidos no Brasil, com décadas de atuação técnica e abrangência nacional em representação de seus associados, empresas e técnicos, tem dedicado especial atenção e empreendido todos os esforços para possibilitar uma atuação rápida e efetiva do setor nesse momento de pandemia, reunindo dados, informações e estudos abalizados de forma a assegurar que o conhecimento mais completo, fundamentado e confiável seja disseminado de maneira ampla, para toda a sociedade. Para tanto, ABETRE, ABLP, ABRELPE e SELUR mantêm estreita cooperação e vêm realizando pesquisas periódicas e de maneira contínua desde o início da pandemia, junto aos diversos atores, a fim de poder orientar as melhores práticas para a gestão de resíduos durante essa situação de calamidade pública. De acordo com os dados e informações até o momento obtidos, que cobrem o período de 15 de março a 17 de abril, a geração de resíduos sólidos no país tem apresentado uma tendência de queda, tanto na fração dos resíduos sólidos urbanos, como nos resíduos de serviços de saúde. A exceção ocorre com os resíduos da coleta seletiva, cujo indicativo de aumento está presente em todas as regiões. No caso dos resíduos de serviços de saúde, a redução média foi de 17% na primeira quinzena de abril, conforme balanço que a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) realizou com empresas que representam 80% do mercado nacional. LEITURA COMPLEMENTAR 60 Diferentemente do que se esperava e do que tem sido observado ao redor do mundo, que tem apresentado índices de crescimento desse tipo de resíduo, a constatação traz um alerta, pois os dados mostram que o Brasil está na direção oposta, o que pode indicar uma deficiência na segregação desses materiais infectantes e sua destinação a locais inadequados. Dados da última edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil mostram que, em 2018, foram coletadas 252.948 toneladas de resíduos de serviços de saúde e, no mesmo período, a capacidade instalada em unidades para tratamento era de 479.653, ou seja, quase o dobro do volume atualmente coletado, o que demonstra que o mercado nacional conta com unidades de autoclave, micro-ondas e incineração, devidamente licenciadas, em todas as regiões, que são capazes de assegurar o devido tratamento aos RSS e atender a uma demanda maior neste período de pandemia. Apesar disso e em virtude das perspectivas de eventual aumento na geração, as entidades se anteciparam e atuaram junto aos órgãos ambientais para que, em caso de necessidade, fosse dada uma autorização especial nesse momento de emergência o que, de fato, foi feito, permitindo o recebimento de volumes superiores nas unidades licenciadas, tal qual foi feito nos demais países, a fim de assegurar sua destinação segura. Além disso, desde o início das medidas para prevenção contra o coronavírus no território nacional, as entidades têm buscado as melhores orientações com vistas a promover as melhores práticas para assegurar uma adequada gestão dos resíduos sólidos durante o período de emergência sanitária decorrente da pandemia de Covid-19. Destinado às empresas do setor e outros públicos de interesse, como municípios, departamentos de limpeza urbana e órgãos de regulação, o conteúdo tem observado orientações internacionais, aliadas à combinação de ações conforme os padrões e protocolos já existentes e em uso. Em relação à força de trabalho do setor – cerca de 348.000 profissionais – as empresas aumentaram a segurança de seus funcionários, adotando uma série de medidas de prevenção e contenção das possibilidades de transmissão que já foram implementadas e tem resultado em índices de contaminação inferiores a 0,3% junto aos trabalhadores do setor, conforme pesquisa feita até 17/4/2020. No tocante às orientações gerais para os municípios e sociedade, as entidades têm se pautado nas diretrizes da OMS, das organizações internacionais de saúde e segurança do trabalho, e nas orientações da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, da National Waste & Recycling Association (NWRA), que são harmônicas no sentido de afirmar que os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos quando executados conforme as normas operacionais e de saúde e segurança aplicáveis não exigem medidas adicionais, já que as orientações e práticas existentes para a prestação segura e eficiente desses serviços, no dia a dia, são suficientes para a contenção da transmissão do novo vírus. 61 Diante de referidos posicionamentos, as orientações mais adequadas à população são no sentido de acondicionar seus resíduos de maneira adequada, isto é, com uso de sacos duplos (um dentro do outro) devidamente amarrados, para evitar derramamentos e disponibilizados para a coleta da limpeza urbana nos dias e horários praticados em cada localidade. As máscaras e luvas descartáveis devem ser descartadas preferencialmente no lixo do banheiro e nunca juntos aos materiais recicláveis. Nos casos em que não houver nenhuma suspeita de contaminação por Covid-19, deve ser mantida a separação dos resíduos para coleta seletiva. Importante ressaltar que o gerenciamento e manuseio adequado dos resíduos sólidos previne uma série de doenças e contaminações, não apenas contra o coronavírus, sendo que as normas operacionais vigentes asseguram proteção adequada para os trabalhadores e para as comunidades que estão protegidas e não precisam se preocupar com quaisquer outras medidas nesse momento. Indicações extremas como as que tentam classificar os resíduos domiciliares comoresíduo de saúde infectado, além de não ter nenhum fundamento técnico, servem apenas para criar pânico desnecessário, de maneira oportunista e como verdadeiro desserviço. Fonte: adaptado de http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/06/GEST%C3%83O-DE-RES%- C3%8DDUOS-NA-PROTE%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-COVID.pdf . Acesso em: 28 set. 2021. http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/06/GEST%C3%83O-DE-RES%C3%8DDUOS-NA-PROTE%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-COVID.pdf http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2020/06/GEST%C3%83O-DE-RES%C3%8DDUOS-NA-PROTE%C3%87%C3%83O-CONTRA-A-COVID.pdf 62 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • O que é um aterro industrial e sobre seus conceitos, seguindo os órgãos pertinentes. • Qual a diferença entre aterros sanitários e aterros industriais. • O que são resíduos perigosos e por que devem ser encaminhados para aterros industriais e não sanitários convencionais. • Sobre as características dos resíduos industriais, suas formas de geração e de quem é a responsabilidade pela correta destinação. • Sobre as características dos resíduos industriais. • Sobre os tipos de aterros industriais e suas principais características. 63 AUTOATIVIDADE 1 Quando se fala em destinação para resíduos com características perigosas, como é o caso dos resíduos industriais, é preciso conhecer toda sua cadeia gerada. Todos os resíduos industriais possuem características especificas, sendo que a responsabilidade do tratamento e disposição final desses resíduos são estabelecidas na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/8/1981) e se refere que “cada gerador é responsável pela manipulação e destino final de seu resíduo”. Baseando-se nas infor- mações aqui dispostas e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Princípio do poluidor-pagador. b) ( ) Princípio do pagador-poluidor. c) ( ) Princípio do receber-poluidor. d) ( ) Princípio do pagador-gerador. e) ( ) Princípio do poluidor. 2 Os resíduos industriais são todos os resíduos no estado sólido ou semissólido, resultantes das atividades industriais, incluindo lodos e determinados líquidos, cujas características tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água. Dessa forma, apresentam grande variedade de sobras, dejetos ou restos originados das atividades fabris. No que se refere aos tipos de resíduos industriais, analise as afirmativas a seguir: I- Apresentam composição variada. II- Resíduos são os contemplados na Classe II. III- Nos resíduos industriais são inclusos os materiais orgânicos. IV- A classificação deve seguir a NBR 10004. Sobre os compostos constituintes, majoritariamente, do biogás, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) A sentença III está correta. 3 A caracterização é um processo em que se determina a composição química de um resíduo e suas propriedades físicas, químicas e biológicas. A caracterização de um re- síduo deve ser realizada em função de uma necessidade específica, ou seja, deverá ser sempre realizada segundo parâmetros definidos caso a caso. Não é viável realizar caracterizações somente para se ter em mãos dados gerais sobre o resíduo. A classi- amele X amele X 64 ficação dos resíduos deve seguir a NBR 10004 (2004a) que classifica os resíduos con- forme as reações que produzem quando são dispostas em Classe I, Classe II e Classe III. Diante do exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A Classe II se refere aos resíduos inertes. ( ) As substâncias não possuem constituintes solubilizados e são enquadradas como Classe I. ( ) Resíduos recicláveis e que não se decompõem quando dispostos no solo são pertencentes à Classe III. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Depois da disposição final do resíduo é que o problema realmente começa. Isso porque nem todas as formas de destinação dos resíduos são adequadas, provocando uma série de problemas para o meio ambiente. A Política Nacional de Resíduos Sólidos é uma lei (Lei nº 12.305/2010) que trata sobre o gerenciamento de resíduo. A PNRS procura organizar a forma correta de tratamento do resíduo, para isso exige dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de resíduos e principalmente o processo ideal de disposição dos resíduos sólidos. Aterro é um espaço destinado ao armazenamento dos resíduos urbanos, derivados das coletas de lixo e de resíduos industriais não perigosos. Eles se dividem, grosso modo, em aterro sanitário e aterro industrial. Disserte sobre a diferença entre aterros sanitários e aterros industriais. 5 O lixão é a forma inadequada de dispor os resíduos sólidos urbanos sobre o solo. Sem nenhuma impermeabilização, sem sistema de drenagem de lixiviados e de gases, e sem cobertura diária do lixo. Exatamente por esses motivos, acabam causando impactos à saúde pública e ao meio ambiente. Muitas vezes os lixões são construídos em áreas completamente inadequadas. Normalmente, a disposição dos resíduos é feita sem o emprego de critérios técnicos de engenharia. Apesar disso, as áreas apresentam boas características para a implantação de um aterro sanitário. Nesse sentido, disserte sobre a importância do encerramento dos lixões. amele 65 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10157 – Aterros de resíduos perigosos – Critérios para projeto, construção e operação. Rio de Janeiro: ABNT, 1987. Disponível em: https://bit.ly/3REF0N0. Acesso em: 27 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 1992a. Disponível em: https://bit.ly/3RJogo8. Acesso em: 27 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12235 – Armazenamento de resíduos sólidos perigosos. Rio de Janeiro: ABNT, 1992b. Disponível em: https://bit.ly/3EdqGYZ. Acesso em: 27 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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Acesso em: 27 set. 2022. 72 73 ATERROS: CRITÉRIOS E FORMAS DE LICENCIAMENTO UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as formas de seleção de área para a instalação dos aterros sanitários e industriais; • aprender as formas de dimensionamento de células de aterros sanitários e industriais; • dimensionar os sistemas de coleta de efl uentes líquidos e gasosos; • estabelecer as etapas de licenciamento ambiental; • reconhecer a importância do monitoramento ambiental em aterros. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SELEÇÃO DE ÁREAS TÓPICO 2 – DIMENSIONAMENTO DE ATERRO TÓPICO 3 – LICENCIAMENTO AMBIENTAL TÓPICO 4 – MONITORAMENTO AMBIENTAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 74 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 75 TÓPICO 1 — SELEÇÃO DE ÁREAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as formas de seleção de áreas para aterros sanitários e industriais. Apesar de parecer simples, a determinação de um local é uma etapa muito importante, e deve ser conduzida com cautela para que sejam evitados problemas no futuro. As áreas devem atender a diversos critérios preestabelecidos e, nesse processo de escolha, também são necessários diversos estudos e avaliações. Normalmente, são pré-selecionadas algumas áreas para as quais é feito um levantamento de dados e, então, as áreas passam pelos estudos. Somente após a realização dos estudos no local a decisão pode ser tomada com base em todas as informações levantadas. Outra questão relevante é a diferença entre os aterros sanitários e os aterros industriais. Será importante relembrarmos a classificação dos resíduos dada pela norma NBR 10004/2004, para entender ao conceito dos aterros industriais e porque eles podem ser diferentes dos aterros sanitários. 2 SELEÇÃO DE ÁREAS Com relação à seleção de áreas, alguns critérios e recomendações podem ser diferentes dos aterros sanitários convencionais para os aterros sanitários industriais. Por isso, esse assunto está dividido em dois tópicos. São muitos os critérios de engenharia que podem ser aplicados para auxiliar na determinação da área para a disposição final de resíduos sólidos. Além disso, existem diferentes metodologias apresentadas por autores distintos. As metodologias mais usuais serão apresentadas e, na sequência, alguns estudos recentes serão abordados, pois este tema ainda é objeto de pesquisas e estudos de casos. Inicialmente, antes de abordarmos os critérios e as metodologias, é interessante fazermos algumas reflexões e elucidar alguns conceitos, por exemplo,a importância da escolha do local adequado para a construção de aterros. Em seguida, parte-se para a avaliação de áreas com base nos critérios preestabelecidos. 76 2.1 CRITÉRIOS: ATERRO SANITÁRIO A fim de entendermos qual a importância da escolha da área para a construção de um aterro sanitário, pode ser feita uma reflexão. Quais as consequências de uma decisão errada? Construir um aterro em um local inadequado pode aumentar o risco de contaminação do meio ambiente e, dependendo da forma, a poluição pode atingir a po- pulação, colocando em risco a saúde pública, como no caso da contaminação da água. Por outro lado, a escolha do local também deve considerar o preço dos terrenos, a distância das cidades, que são os principais focos de geração de resíduos, o monitoramento do aterro que deve ser continuado mesmo após o encerramento, e até reclamações da comunidade que vive nas redondezas do aterro, afinal algumas pessoas não desejariam morar perto de um aterro, não é verdade? Segundo Monteiro (2001), a determinação de uma área para a construção do aterro sanitário é uma atividade complexa, pois as cidades vêm se desenvolvendo e crescendo dia após dia, expandindo-se e ocupando muitos terrenos e espaços anteriormente disponíveis. Portanto, as dificuldades para se encontrar áreas que apresentem tamanho adequado e que não sejam muito distantes dos locais de geração de lixo aumentam. 2.1.1 Avaliação de áreas São várias as etapas para a realização da avaliação de áreas e as decisões que forem tomadas influenciarão nas outras fases, como o projeto e a própria implantação e operação, portanto, a área escolhida deve atender a alguns objetivos, como minimizar os impactos ambientais negativos, os gastos, as dificuldades técnicas e a aceitação da comunidade. O município pode disponibilizar algumas áreas para serem avaliadas e isso diminui os custos com a compra do terreno, assim como com a eventual desapropriação de terrenos e até de residências (CASTILHOS JUNIOR, 2003; VILHENA, 2018). Segundo Lupatini (2002), existem diversas abordagens para o processo de escolha de áreas, no entanto, todas as abordagens realizam o processo em etapas, o que traz como vantagem a redução da quantidade de informações a serem analisadas, ficando a avaliação mais completa para ser realizada em menos locais. Para selecionar a área a ser construído um aterro sanitário, pode ser interessante adotar uma estratégia que segue alguns passos. Inicialmente, são selecionadas algumas áreas disponíveis no município, em seguida, são estabelecidos um conjunto de critérios para a seleção, após isso, são definidas quais são as prioridades para o atendimento dos critérios estabelecidos e, por fim, é realizada uma análise crítica das áreas selecionadas com relação aos critérios e prioridades que foram estabelecidos. Será selecionada aquela área que atenda à maior parte das restrições de forma natural. Ao ser adotada 77 essa estratégia, serão diminuídas as medidas corretivas que teriam que ser aplicadas para que a área se tornasse adequada e atendendo à legislação e, assim, também são diminuídos ao máximo os gastos iniciais para a obra (MONTEIRO, 2001). A primeira abordagem que conheceremos é a da Norma Brasileira NBR 8419, que tem como título Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos e foi lançada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) no ano de 1992. Nesse documento, são abordados, de forma bem resumida, os critérios básicos para a escolha de áreas para aterros sanitários. A NBR 8419/1992 indica que, para escolher o local adequado para o aterro sanitário, devem ser considerados: o zoneamento ambiental e o zoneamento urbano do município; se a área possui acessos adequados; qual é a vizinhança da área; se a área adotada possibilitará a economia com o transporte dos resíduos; a titulação da área escolhida; se a área possibilitará economia na fase de operação do aterro (se possui jazidas, por exemplo); se possui infraestrutura urbana adequada e, por fim, quais as bacias e sub-bacias hidrográficas nas quais o aterro será localizado. A segunda abordagem para a determinação de locais adequados para a constru- ção de aterros é a de Castilhos Junior (2003), que sugere que sejam utilizados parâmetros que envolvem o meio ambiente, parâmetros associados ao uso e à ocupação do solo e parâmetros relacionados à operação. Cada critério pode ter um peso diferente e ser di- vidido em classes, as quais podem receber pontuação, facilitando a avaliação das áreas. 2.1.2 Critérios ambientais Nos critérios ambientais, são avaliadas as questões e preocupações ambientais, uma vez que os aterros sanitários são considerados como atividades que têm potencial para causar poluição, portanto, são critérios fundamentais e, de acordo com Castilhos Junior (2003), tem peso três na pontuação. É importante que o município considere em seu plano diretor municipal quais são as áreas que devem ser protegidas, como áreas verdes e recursos hídricos. A partir disso, fica mais fácil definir a localização de atividades potencialmente poluidoras. A seguir, são apresentados os critérios sugeridos pelo autor: • Distância dos recursos hídricos: foi definida uma distância mínima de 200 metros de distância de corpos hídricos ou cursos de água. Se o corpo hídrico que está sendo avaliado estiver a menos de 200 metros da área a ser construído o aterro, ele receberá nota zero. Caso esteja entre 200 e 499 metros, recebe nota três; entre 500 e 1.000 metros, recebe nota quatro; e se estiver a mais de 1.000 metros, receberá nota cinco. • Áreas inundáveis: são aquelas áreas que podem alagar pelo extravasamento do corpo hídrico devido a grandes chuvas. Essas áreas não são adequadas devido ao ris- co de contaminação dos recursos hídricos pelo lixiviado gerado nos aterros sanitários. 78 • Geologia – potencial hídrico: quanto maior for o potencial hídrico de uma região, menor será a sua aptidão para receber resíduos sólidos, tendo em vista o risco de contaminação água. Se um determinado local apresentar geologia com falhas ou fraturas, sugere-se a pontuação zero para evitar impacto nas águas do local. • Condutividade hidráulica do solo: este parâmetro representa a facilidade com que a água infiltra no solo. Dessa forma, é recomendado que a área para a construção do aterro tenha infiltração baixa, a fim de dificultar a infiltração do lixiviado, evitando também a contaminação das águas. • Profundidade do lençol freático: esse é um parâmetro muito importante e, para obter essa informação, usualmente são feitas sondagens. A distância ideal da base do aterro até o lençol freático deve ser preferencialmente maior do que quatro metros. • Fauna e flora local: essa característica avalia a presença ou ausência na área, de espécies da fauna e da flora que são raras ou ameaçadas de extinção, que tenham valor científico e econômico. O ideal é que tais espécies estejam ausentes, justamente para evitar os possíveis impactos que a construção do aterro sanitário poderia causar. 2.1.3 Critérios de uso e ocupação do solo São três os critérios de uso e ocupação do solo relatados por Castilhos Junior (2003) que recebem peso um na avaliação, são eles: • Distância de vias: para esse quesito, foi adotada uma distância mínima de 100 metros do eixo de rodovias federais e estaduais, sendo que a área que apresente uma distância de mais de 1.000 metros recebe a pontuação máxima. • Legislação municipal: nesse caso, a avaliação será feita de acordo com as leis do município frente às restrições ambientais e, portanto, serão específicas para cada local. • Distância aos centros urbanos: esse é um critério muito relevante, pois os fatores que o influenciam são contrários. Quanto mais longe o aterro fica da zona urbana, que é onde se concentra a geração de resíduos, maior será o gasto com o transporte desses resíduos pelos caminhões. Então, a distância máxima que tem sido recomendadaé de 15 quilômetros. Por outro lado, a população muitas vezes não fica confortável em ter um aterro sanitário muito próximo da sua residência, pois, apesar de não trazer riscos à saúde ou ao meio ambiente, pode gerar odores, ruídos, poeira e poluição visual. Portanto, uma distância entre 100 e 250 metros dos centros urbanos recebe a menor pontuação, enquanto uma distância maior do que 15.000 metros ficam com a pontuação maior. 79 2.1.4 Critérios operacionais Castilhos Junior (2003) indica três critérios operacionais. São eles: • Declividade do terreno: terrenos ou áreas com declividade muito elevada podem dificultar a disposição de resíduos sólidos e dificultar o transporte dos materiais até o local. Portanto, a declividade menos recomendada é a alta, mais de 30 %, e a mais recomendada é a área plana, com menos do que 3 % de declividade. • Espessura do solo: esse critério é importante para a fase de implantação do aterro, em que será necessária a utilização de uma certa quantidade de solo para as camadas de cobertura e base. O considerado ideal é que o solo da área possua mais do que 2 metros de espessura. • Reaproveitamento da área do lixão: é um critério interessante, pois muitas cidades que construirão um aterro ainda possuem um lixão, certo? Portanto, ao reaproveitar a área do lixão, recuperaremos uma área que estava degradada e dando uma nova ocupação a ela. O conceito de declividade do terreno pode ser entendido como: “a inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal, ou seja, a relação entre a diferença de altura entre dois pontos e a distância horizontal entre esses pontos. É dada pelo ângulo de inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal. Os valores podem variar de 0º a 90º e podem ser expressos em porcentagem” (AMBDATA, 2022, s. p.). Fonte: https://bit.ly/3SWI6NC. Acesso em: 28 set. 2022. NOTA 2.1.5 Atividades para identificação e análise de áreas O Manual de gerenciamento integrado de lixo municipal, elaborado pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) e coordenação geral de Vilhena (2018) aborda essa questão da escolha de áreas para aterros sanitários de forma mais detalhada. Essa será a abordagem que estudaremos neste tópico. De acordo com o manual, a avaliação de áreas inicia-se com estudos mais gerais, a partir dos quais são identificadas algumas áreas potenciais e, em seguida, as áreas mais favoráveis e promissoras são estudadas detalhadamente. Usualmente, são organizadas três etapas: levantamento de dados, pré-seleção de áreas e estudos das áreas pré-selecionadas (VILHENA, 2018). • Levantamento de dados gerais Para o levantamento de dados gerais, deve-se buscar informações sobre os dados populacionais do município, como o número de habitantes atual, futuro e flutuante. 80 O número de habitantes fl utuante é importante, principalmente em cidades turísticas, pois a variação usualmente é grande, mas ainda falaremos sobre esse assunto na etapa de projeto. A composição gravimétrica mostra a porcentagem de cada componente do lixo em relação ao peso total de uma amostra. Normalmente, são determinadas as porcentagens de matéria orgânica, papel, plástico, vidro, metais e rejeitos. A composição pode ser ainda mais detalhada, separando diferentes tipos de metais, como alumínio ferrosos e não ferrosos ou plásticos rígidos e maleáveis, vidro claro e escuro, borrachas, trapos etc. (MONTEIRO, 2001). ESTUDOS FUTUROS NOTA Também são procuradas informações sobre as características dos resíduos, como quais tipos são gerados, qual a composição gravimétrica e as quantidades que serão lançadas no aterro. Serão observados dados sobre o sistema de coleta de resíduos do município, como os horários da coleta, turnos, quais equipamentos são utilizados, entre outros (VILHENA, 2018). Após a coleta de todos esses dados, as informações são avaliadas para se ter uma ideia do tamanho e do tipo de aterro que será projetado e construído e, consequentemente, do tamanho da área necessária. Para a estimativa do tamanho da área necessária de um aterro, Monteiro (2001) indica que pode ser feita a multiplicação da quantidade de resíduos coletados diariamente, em toneladas, pelo fator 560, o qual considera a vida útil do aterro de 20 anos, a altura do aterro de 20 metros, a proporção dos taludes de um para três e a ocupação de 80 % do terreno para a área operacional. • Pré-seleção de áreas Nesta fase, vários dados do meio físico, biótico e socioeconômico serão avaliados para a seleção das áreas potenciais. Normalmente, serão utilizados os dados já disponíveis, somente sendo feitas visitas ou análises de campo quando necessário. Inicialmente, serão levantados dados geológicos-geotécnicos, pedológicos e geomorfológicos. Vamos entender o que são esses dados. Os dados geológicos indicam as características dos terrenos, quais os tipos de rocha, por exemplo, as características estruturais e se apresenta falhas ou fraturas. Os dados pedológicos se referem às características e aos tipos de solos da região, se são solos argilosos, arenosos, silto- 81 argilosos, entre outros. Os dados geomorfológicos analisam as formas do relevo da região, se existem morros, colinas, planícies e quais fenômenos podem ocorrer, tais como erosões e inundações (VILHENA, 2018). Ainda nesta etapa, de acordo com o manual (VILHENA, 2018), é importante obter informações sobre as águas subterrâneas e superficiais e dados climatológicos. Sobre as águas, serão avaliados principalmente as distâncias do lençol freático e as principais bacias hidrográficas e rios da região. Os dados climatológicos trazem informações sobre temperaturas, ventos, regime de chuvas, chuvas históricas, ou seja, volumes altos de chuva que já ocorreram e dados de evaporação da região. Por fim, são avaliados dados sobre a legislação e dados socioeconômicos. Na par- te da legislação, são buscadas informações sobre as leis ambientais municipais, estaduais e federais, prestando atenção em leis que indiquem áreas de proteção ambiental, par- ques, reservas e o zoneamento urbano do município. Para os dados socioeconômicos, é importante saber como os terrenos são ocupados, o preço dos terrenos, as distâncias dos locais de coleta de lixo, a infraestrutura básica e a aceitação da população. Agora, de posse de todas essas informações levantadas, algumas áreas propícias poderão ser escolhidas e comparadas, utilizando-se uma tabela para poder analisar esses terrenos e suas características com as características que são recomendadas. Um exemplo de como essa tabela pode ser montada é apresentada a seguir: Tabela 1 – Dados para avaliação de áreas de aterros sanitários Fonte: Vilhena (2018, p. 263) DADOS NECESSÁRIOS ÁREAS DISPONÍVEIS Área 1 Área 2 Área 3 Vida útil Distância do local Zoneamento urbano Zoneamento ambiental Densidade populacional Uso e ocupação do solo Valor da terra Aceitação da população Declividade do terreno Proximidade de corpos d'água Em seguida, a Tabela 1 pode ser comparada ao Quadro 1, que apresenta os critérios a serem aplicados a cada um dos parâmetros. 82 Quadro 1 – Critérios para classificação de áreas para instalação de aterros sanitários Fonte: adaptado de Vilhena (2018) Palavra-chave ÁREAS DISPONÍVEIS Possível Adequada Não recomendada Vida útil Maior do que 10 anos Menor do que 10 anos (a critério do órgão ambiental) Distância do local 5 a 20 km Menor do que 5 km Maior do que 20 km Zoneamento urbano Crescimento mínimo Crescimento médio Crescimento máximo Zoneamento ambiental Sem restrições Áreas protegidas ou similares Densidade populacional Baixa Média Alta Uso e ocupação do solo Pouco utilizado Muito utilizado Valor da terra Baixo Médio Alto Aceitação da população Boa Razoável Ruim Declividade do terreno Entre 3% e 20% Entre 20% e 30% Menor do que 3% ou maior do 30% Proximidade de corpos d'água Maior do que 200 m Menor do que 200 m (a critério do órgão ambiental) Assim, estão consideradosa vida útil do aterro, que deve ser maior do que dez anos, a distância ao local atendido, se está na faixa de 5 a 20 quilômetros. Para o zoneamento ambiental, não deve haver restrições, como áreas protegidas; e no zoneamento urbano, devem ser priorizadas áreas que tenham uma tendência menor de crescimento, ou seja, que a população não vá crescer tanto naquela área. A densidade populacional deve ser preferencialmente baixa e o uso e a ocupação do terreno não devem ser intensos. O valor da terra preferencialmente deve ser baixo e a aceitação da população boa. A declividade do terreno deve ficar entre 3 % e 20 % e a distância de corpos de água deve ser maior que 200 metros (VILHENA, 2018). Seguindo essa metodologia, as áreas poderão ser recomendadas, quando podem ser utilizadas da forma como estão; recomendadas com restrições, quando precisar de algumas adequações; ou não recomendadas, quando apresentar muitas restrições e pontos negativos. Normalmente, espera-se ter ao menos uma área recomendada, mas caso não seja encontrada, todo o procedimento precisa ser refeito. O nosso processo de escolha de área ainda não acabou! Vamos passar para a próxima etapa! 83 • Estudos das áreas pré-selecionadas Os estudos das áreas pré-selecionadas irão compor a última etapa do processo. Nessa etapa, o levantamento de dados da etapa anterior será mais detalhado, ou seja, agora sim serão feitas visitas em campo na área e as análises necessárias, coletados os dados de infraestruturas, determinadas as condições geológicas, feitas medidas dos dados hidrológicos, avaliados o meio biótico e o meio socioeconômico, tudo isso com coletas de amostras, análises, questionários, contagem de espécies (VILHENA, 2018). Então, após a análise e interpretação de todos esses estudos, será determinada qual a melhor área para a instalação do aterro sanitário! Será aquela área que apresentar menos riscos para causar impactos ao meio ambiente, que trará maior vida útil para o aterro e menores custos de implantação e operação. Depois de definida a área, poderão ser iniciados os processos para o licenciamento ambiental do empreendimento, assunto que veremos mais adiante! ESTUDOS FUTUROS 2.1.6 Outros métodos para identificação e escolha de áreas Castilhos Junior (2003) relata que atualmente a seleção de áreas para aterros sanitários pode ter resultados melhores e se tornar mais fácil quando se utilizam ferramentas mais modernas, como o geoprocessamento e os sistemas de informações geográficas. Nesse sentido, diversos autores têm realizado pesquisas para facilitar o processo de escolha de áreas. Em sua pesquisa, Lino (2007) comparou dois métodos aplicados na mesma região geográfica (Campinas-SP) para a seleção de áreas para aterros sanitários. O primeiro método estabeleceu as categorias: área eliminada, área sem restrição e área com restrição de acordo com o uso e ocupação do solo. Foram consideradas também as unidades de conservação, classificadas como áreas com restrições. Após a análise dos mapas, apenas as áreas sem restrições passaram para a próxima avaliação referente às características das rochas, solo e relevo. Foram avaliados também a suscetibilidade de contaminação de aquíferos e os aspectos climáticos. O segundo método avaliado por Lino (2007) considerou apenas áreas com restrição e áreas sem restrição e considerou nível d’água, áreas alagadas, profundidade das rochas e zonas saturadas, características do solo e das rochas, declividade dos terrenos. Utilizando métodos de sistemas de informações geográficas, a autora fez uma 84 superposição de mapas gerados pelos dois métodos diferentes e observou quais áreas coincidiam, concluindo que o segundo método se apresentava como mais restritivo apesar de não considerar aspectos do meio biótico e socioeconômico (LINO, 2007). Sendo assim, ressalta-se a importância desse tipo de avaliação, pois para uma mesma área, podem ser obtidos resultados diferentes. Montaño et al. (2012) ressaltaram que o processo de escolha de áreas acabava negligenciando alguns aspectos ambientais e sociais e, por isso, propuseram uma metodologia que integra critérios técnicos com aspectos ambientais, sociais e econômicos, com a participação da comunidade. Segundo os autores, os resultados obtidos permitiram minimizar medidas de mitigação e compensação, aumentar a segurança do empreendimento, diminuir riscos, facilitar a realização de estudos ambientais e, consequentemente, facilitar a aprovação do empreendimento. Ainda, Cardoso, Blanco e Friaes (2021) utilizaram ferramentas de geoproces- samento para identificação de áreas para construção de aterro sanitário no município de Abaetetuba, no Pará. Foram utilizadas como base as normas da ABNT e resoluções do Conama. O estudo considerou a projeção da população e a consequente geração de resíduos sólidos para um horizonte de 20 anos. Foram construídos mapas de uso e ocupação do solo, de distâncias das estradas, declividade e distância de núcleos po- pulacionais que foram sobrepostos, gerando um mapa final com as áreas aptas para a implantação de aterros sanitários no qual foram identificadas seis áreas possíveis. A partir desses estudos, podemos verificar a importância da seleção de áreas para a construção dos aterros sanitários, tendo em vista que a área ficará em uso por muitos anos e o local deve causar o menor risco possível de contaminação ao meio ambiente. Além disso, as técnicas de geoprocessamento têm contribuído muito para esses estudos. 2.2 CRITÉRIOS: ATERRO INDUSTRIAL Agora, vamos falar sobre os aterros industriais. Antes de iniciarmos, vamos refletir e relembrar alguns conceitos. Atualmente, existem inúmeros ramos de indústrias atuando nas mais diversas áreas, como a indústria metalúrgica, indústrias químicas, indústrias de alimentos, indústria da construção civil, indústria de medicamentos e várias outras. Cada tipo de indústria gerará um tipo de resíduo diferente. Nesses casos, o próprio gerador de resíduo será o responsável por dar a destinação correta ao material que será descartado. Por que os aterros de resíduos industriais têm que ser diferentes? Porque muitos desses resíduos gerados pelas indústrias são classificados como resíduos perigosos. Então, a indústria precisará classificar os seus resíduos para verificar como se enquadram de acordo com as características que apresentam. 85 A norma brasileira NBR 10004/2004 apresenta essa classificação dos resíduos quanto aos riscos que eles podem trazer à saúde pública e ao meio ambiente, para que possam ser gerenciados corretamente. De acordo com a norma, os resíduos Classe I são resíduos perigosos, que apresentam periculosidade, podendo apresentar como riscos à saúde pública, à mortalidade, à incidência de doenças ou à acentuação dos índices de doenças. Tais resíduos podem ser inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos ou patogê- nicos. Os resíduos Classe II são os não perigosos. Essa classe se subdivide em Classe II-A, que representa os não inertes, e a Classe II-B dos resíduos inertes (ABNT, 2004). A partir disso, podemos entender por que os aterros industriais são diferentes, pois são projetados para receber resíduos essencialmente perigosos e, portanto, a escolha da área para a construção de um aterro industrial também deve ser feita com mais cautela, conforme veremos adiante. Esses aterros, muitas vezes, também são chamados simplesmente de aterros de resíduos perigosos. 2.2.1 Critérios para a localização de aterros de resíduos perigosos De acordo com a norma NBR 8419/1992 já mencionada, os resíduos industriais perigosos são definidos como: [...] todos os resíduos sólidos, semissólidos e os líquidos não passíveis de tratamento convencional, resultantes da atividade industrial e do tratamento de seus efluentes que, por suas características, apresentam periculosidade efetiva ou potencial à saúde humana ou ao meio ambiente, requerendo cuidados especiais quanto ao acondicionamento, coleta,transporte, armazenamento, tratamento e disposição (ABNT, 1992, p. 2). Além disso, a norma NBR 10157/1987 trata dos critérios para projeto, construção e operação de aterros de resíduos perigosos (os quais são definidos de acordo com a NBR 10004/2004) e apresenta, também, alguns critérios para que um local possa ser utilizado para a construção de um aterro de resíduos perigosos. Inicialmente, de acordo com a norma, o impacto ambiental a ser causado pelo aterro deve ser minimizado, a população deve aceitar a instalação do aterro ao máximo e o local deve estar de acordo com o zoneamento da região. O aterro deve poder ser utilizado por um longo período, exigindo o mínimo de obras possível para o início da operação (ABNT, 1987). Além disso, algumas recomendações técnicas são feitas na NBR 10157/1987. A primeira está relacionada à topografia do local, que é muito importante para se escolher qual será o método no qual o aterro funcionará e para as obras de terraplanagem. Indica- se, portanto, que as áreas tenham inclinação maior do que 1% e menor do que 20%. 86 As diferenças de solo e as características geológicas também precisam ser analisadas, com o objetivo de determinar se o solo apresenta potencial para a depuração de contaminantes e qual a velocidade de penetração de líquidos. Com relação aos recursos hídricos, deve-se verificar se o aterro poderá influenciar na qualidade e nos usos tanto das águas superficiais, por exemplo, lagos e rios quanto das águas subterrâneas. A distância mínima do aterro para corpos d’água deve ser de 200 metros, porém o órgão ambiental pode autorizar alterações nesta distância. Para a vegetação, na norma, é relatada a necessidade de se fazer um estudo macroscópico, pois poderá ser escolhida uma área que diminua alguns efeitos como a erosão, formação de poeira e transporte de odores (ABNT, 1987). A NBR 10157/1987 apresenta recomendações com relação aos acessos, como as estradas e vias, estas devem ter boas condições para utilização por todo o período de funcionamento do aterro. Além disso, recomenda-se que a distância do entorno do aterro até os bairros ou comunidades seja maior do que 500 metros. Indica-se também que o aterro seja construído de forma a receber resíduos por pelo menos 10 anos, portanto, a área deve ter o tamanho adequado para isso. Os valores gastos na construção podem se alterar muito conforme o método escolhido e com o tamanho do aterro, então deve ser organizado um cronograma com todas as etapas, para verificar se o empreendimento é viável economicamente. São apresentados ainda pela NBR 10157/1987 alguns critérios que devem, obrigatoriamente, ser observados como a não execução do aterro em áreas que possam sofrer inundações em períodos de recorrência de 100 anos. A distância da base do aterro para o nível mais alto do lençol freático deve ser de 1,5 metro de solo insaturado, sendo que o nível do lençol freático deve ser medido no período de chuvas da região. A área escolhida para o aterro deve possuir um solo com baixo coeficiente de permeabilidade, ou seja, não deve infiltrar líquidos com facilidade e, por fim, os aterros só podem ser construídos em áreas de uso conforme normas. Como podemos observar, várias das recomendações para aterros sanitários perigosos são similares às recomendações para os aterros sanitários, porém alguns pontos, como declividade do terreno e distância de núcleos populacionais, são mais restritivos. O tempo de recorrência, ou também chamados de períodos de retorno, referem-se ao intervalo médio de tempo, em anos, em que pode ocorrer ou ser superado um determinado evento. É o inverso da probabilidade que um evento seja igualado ou ultrapassado (SOUSA, 2017). NOTA RESUMO DO TÓPICO 1 87 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • Quão importante é a determinação de um local compatível para construir um aterro sanitário, pois essa decisão está associada à vida útil do aterro, à distância a ser percorrida diariamente do aterro até os locais de coleta de resíduos e, principalmente, aos perigos de poluição do meio ambiente, entre outros. • Que para a determinação de uma área para a construção de um aterro sanitário, devem ser consideradas as condições ambientais, como as distâncias dos corpos d’água, por exemplo, as condições de uso e ocupação do solo, como a distância aos centros urbanos e as condições operacionais, como a declividade dos terrenos. • Que a deliberação de um local para construir um aterro é um processo que pode ser facilitado caso seja realizado em três fases. A primeira é a pesquisa de informações, em que são buscados dados como tamanho da população a ser atendida e quantidade de resíduos gerados. Em seguida, realiza-se uma pré-seleção de prováveis locais, sendo abordados os dados do meio físico, biótico e socioeconômico. Por fim, os locais pré-escolhidos são avaliados, a partir de estudos realizados in situ para, então, ser apresentado o resultado final. • Que os aterros industriais normalmente recebem resíduos perigosos e, por isso, apresentam algumas características diferentes na escolha das áreas para a construção do aterro. 88 AUTOATIVIDADE 1 Para a determinação de áreas na construção de um aterro sanitário, alguns critérios podem ser adotados, como os critérios ambientais, de uso e ocupação de solo e critérios operacionais. Os critérios ambientais refletem as preocupações com o meio ambiente, visto que o aterro sanitário é uma atividade que tem potencial para causar poluição. Quanto ao critério ambiental, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Profundidade do lençol freático. b) ( ) Áreas inundáveis. c) ( ) Distância aos centros urbanos. d) ( ) Distância dos recursos hídricos. 2 De acordo com o Manual de gerenciamento integrado de lixo municipal (2018), a ava- liação de áreas para a construção de aterros sanitários é organizada em três etapas: levantamento de dados, pré-seleção de áreas e estudos das áreas pré-selecionadas. De acordo com a etapa de pré-seleção de área, analise as sentenças a seguir: I- É recomendado que a distância da área avaliada ao local atendido com a coleta de resíduos esteja entre 2 e 12 quilômetros. II- Para o zoneamento ambiental, não deve haver restrições, como áreas protegidas; e no zoneamento urbano, devem ser priorizadas áreas que tenham uma tendência menor de crescimento. III- A densidade populacional deve ser preferencialmente baixa e o valor da terra deve ser preferencialmente alto. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) A sentença II está correta. 3 Os aterros industriais costumam receber resíduos classificados como perigosos e, por isso, precisam atender a alguns critérios diferenciados na hora da seleção das áreas para a construção. De acordo com os critérios apresentados pela NBR 10157/1987, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Deve-se verificar se o aterro poderá influenciar na qualidade e nos usos tanto das águas superficiais quanto das águas subterrâneas, sendo a distância mínima do aterro para corpos d’água de 500 metros. amele X amele amele X 89 ( ) A distância do limite da área útil do aterro até núcleos populacionais deve ser maior do que 500 metros. ( ) As áreas devem ter declividade superior a 1% e inferior a 20 %. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – V. d) ( ) F – F – V. 4 A Norma Brasileira NBR 8419/1992 tem como título Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Explique, de forma resumida, quais são os critérios básicos para a escolha de áreas para aterros sanitários segundo a norma citada. 5 De acordo com a abordagem de Castilhos Junior (2003), para a seleção das áreas, podem ser utilizados critérios ambientais, critérios relacionados ao usoe ocupação do solo e critérios operacionais. Dentre os critérios de uso e ocupação do solo, explique por que a distância aos centros urbanos é uma característica importante. amele X 90 91 DIMENSIONAMENTO DE ATERRO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos o dimensionamento de aterros sanitários. Iniciaremos com o projeto de aterro sanitário que reúne muitas informações e é composto por diversas etapas, incluindo o memorial descritivo de todos os componentes de projeto que um aterro sanitário precisa ter. O memorial de cálculo também é exigido no projeto e nele são detalhados os componentes do projeto e apresentadas as equações de dimensionamento das estruturas a serem construídas. Serão demonstrados também alguns exemplos de cálculo, adotados para um pequeno aterro sanitário. Em seguida, estudaremos o projeto para aterros industriais, ressaltando as necessidades e diferenças da construção e da operação com relação aos aterros convencionais. Serão abordadas informações de projeto e operação, inspeção e manutenção, segurança e encerramento do aterro. Para finalizarmos o Tópico 2, estudaremos os sistemas de coleta de efluentes líquidos e gasosos gerados no aterro sanitário. Tais sistemas também são partes importantes do projeto de aterros sanitários, assim serão abordados os principais conceitos, o dimensionamento e alguns aspectos construtivos. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 2 DIMENSIONAMENTO DE ATERRO A etapa de dimensionamento de aterros faz parte do projeto, tanto dos aterros sanitários convencionais quanto dos aterros sanitários industriais. Na verdade, o dimensionamento está relacionado à obtenção das dimensões das estruturas do aterro por meio de cálculos e estimativas. No entanto, o projeto é mais abrangente e contém outros itens igualmente necessários. Antes de ser iniciado o dimensionamento de aterros, serão apresentados alguns conceitos básicos. Vamos iniciar com a definição de aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos indicada pela norma da NBR 8419 (ABNT, 1992, p. 1): [...] técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário. 92 2.1 ATERRO SANITÁRIO: PROJETO A partir da definição apresentada, podemos entender que o aterro sanitário é um método no qual o lixo é depositado no solo de forma controlada e todo o processo é projetado para que não ocorram problemas ao meio ambiente nem à saúde, portanto, sua relevância é inegável. Nesse método, os resíduos serão confinados ou enterrados de forma que ocupem o menor espaço, ou seja, menor volume e menor área. Como já aprendemos que a escolha da área é uma etapa delicada e complexa, podemos entender o porquê dessa economia de área citada na definição. A cobertura com terra é também uma atividade muito importante, porque evita que os resíduos fiquem a céu aberto, o que é uma característica que encontramos nos lixões. De acordo com a NBR 8419/1992, o projeto de aterros sanitários deve conter o memorial descritivo, o memorial técnico, o cronograma de execução e estimativa de custos, os desenhos e eventuais anexos. Para a realização do projeto, o profissional deve estar devidamente habilitado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), sendo que os documentos e plantas devem ter a indicação da Anotação de Responsabilidade Técnica (ABNT, 1992). 2.1.1 Memorial descritivo O memorial descritivo é um item importante a ser incluído no projeto do aterro sanitário e deve apresentar uma descrição detalhada de todos os componentes do projeto, constando as especificações, justificativas e métodos a serem adotados. Os cálculos e o dimensionamento, por outro lado, devem ser apresentados no memorial de cálculo, também chamado de memorial técnico. O memorial descritivo faz um resumo dos estudos preliminares que foram feitos e direciona a escolha da alternativa de disposição. Deve conter as informações cadas- trais, as informações sobre os resíduos a serem dispostos no aterro sanitário, a carac- terização do local destinado ao aterro sanitário, a concepção e justificativa do projeto, a descrição e especificações dos elementos de projeto, a operação do aterro sanitário e o uso futuro da área do aterro sanitário (ABNT, 1992; CASTILHOS JUNIOR, 2003). Todos os itens que devem ser incluídos no memorial descritivo são apresentados a seguir. • Informações cadastrais e informações sobre os resíduos As informações cadastrais e informações sobre os resíduos são os primeiros dados a serem apresentados no memorial descritivo. Sendo assim, neste item, serão incluídos os nomes dos profissionais envolvidos no projeto, acompanhados de suas respectivas formações ou especialidades, tanto dos responsáveis pela área escolhida para a disposição dos resíduos quanto dos que serão responsáveis pela elaboração 93 do projeto. Todos os profissionais devem ser habilitados pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e/ou pela entidade responsável pelo aterro (ABNT, 1992; CASTILHOS JUNIOR, 2003). Neste item, também devem ser apresentados dados sobre os resíduos a serem depositados na área, como as informações das fontes geradoras, ou seja, se são resíduos domiciliares, comerciais ou outros, conforme a classificação dos resíduos; características dos resíduos e quantidade gerada, diária e mensalmente, e a quantidade gerada por pessoa; a composição gravimétrica, ou seja, a porcentagem referente a cada tipo de material; a massa específica dos resíduos; os dias e horários de coleta; e os meios e especificações do transporte dos resíduos (ABNT, 1992; CASTILHOS JUNIOR, 2003). • Caracterização da área Alguns dados de caracterização da área são levantados na etapa da escolha da área. Em geral, para o projeto, devem ser apresentadas informações sobre levantamento topográfico, com o mapeamento do relevo e usos da área, com curvas de nível, área na qual vão ser dispostos os resíduos, onde vão ser construídos os prédios de administração, acessos etc. Deve aparecer também o levantamento geológico-geotécnico realizado, com informações do solo e do subsolo obtidos por meio de sondagens e análises, tais como espessura, textura, granulometria e condutividade hidráulica, entre outros (CASTILHOS JUNIOR, 2003). De acordo com Castilhos Junior (2003), devem ser apresentados também o levantamento climatológico e o levantamento de uso de água e solo, que são informações importantes para as estimativas de geração de lixiviados, também conhecido como chorume. Como a precipitação tem uma grande contribuição para a quantidade de lixiviado gerada, observam-se os índices pluviométricos da região para definir algumas questões como cobertura da área de disposição, cobertura da frente de trabalho e, mais adiante, dimensionamento do sistema de coleta de lixiviado. • Concepção técnica e justificativa do projeto Nesta etapa, será apresentado o sistema a ser adotado, explicando os métodos de operação e justificando-os de acordo com as suas finalidades. Para isso, as alternativas e sistemas disponíveis devem ser avaliados. Podemos citar quatro linhas principais de tratamento nos aterros sanitários: digestão anaeróbia, digestão aeróbia, tratamento biológico e digestão semianaeróbia (VILHENA, 2018). Na digestão anaeróbia, a decomposição dos resíduos ocorre na ausência de oxigênio, é o tratamento mais utilizado no Brasil e tem sido muito empregado nos Es- tados Unidos. Por outro lado, o tratamento por digestão aeróbia ocorre na presença de oxigênio, o que pode trazer benefícios na degradação do lixo, no entanto, esse método não é comumente aplicado, já que apresenta custos elevados, pela aplicação de ar na massa de resíduos. Outraforma de tratamento que pode ser adotado é o tratamento 94 biológico, que torna o processo de degradação dos resíduos mais rápido, porém os ní- veis de complexidade e de controle são elevados. Além disso, nem todos os estudos já realizados na América do Norte, Europa e Brasil tiveram sucesso. Existe ainda o trata- mento por digestão semianaeróbia, que busca eliminar as desvantagens do processo aeróbio e é uma alternativa que vem sendo implementada no Japão (VILHENA, 2018). Com relação à metodologia de operação, usualmente, são três as principais formas que podem ser adotadas, sendo que a escolha do método depende das características físicas e geográficas da área e da quantidade de resíduos a serem dispostos (VILHENA, 2018). O primeiro método é o da trincheira ou da vala. Nesse método, são abertas valas onde os resíduos são dispostos, compactados e, posteriormente, cobertos com solo. As valas podem ser pequenas e de operação manual (para pequenos municípios) ou de tamanhos grandes, com operação por equipamentos. O segundo é o método da rampa, também chamado de método da escavação progressiva, ocorre pela escavação da rampa. Os resíduos são dispostos na rampa, compactados pelo trator de esteira e depois cobertos com solo. É mais utilizado em áreas de meia encosta, se houver condições para escavação e utilização do material escavado para cobertura. O terceiro é o método da área, que é utilizado geralmente em locais de topografia plana e lençol freático raso. • Descrição e especificações dos elementos de projeto Neste subtópico, são descritos e especificados todos os elementos que fazem parte do aterro sanitário, de acordo com a NBR 8419/1992 (ABNT, 1992) e Castilhos Junior (2003). Iniciando com o sistema de drenagem superficial. Esse sistema de drenagem é necessário para evitar que as águas superficiais escoem para dentro do aterro e para escoar a água que precipita diretamente na área. A justificativa desse sistema é diminuir a geração de lixiviados e evitar a erosão que pode ser causada pela água, destruindo a camada de cobertura e os taludes. O sistema deve ser descrito indicando- se a vazão de dimensionamento, a disposição dos canais em planta, a indicação das seções transversais e declividade de fundo, a indicação do tipo de revestimento (se for adotado), a indicação dos canais de descarga da água que foi coletada e os detalhes de todas as singularidades como alargamentos, curvas, degraus e outros. O sistema de drenagem e remoção de lixiviado é o sistema que removerá o chorume gerado pela decomposição dos resíduos para fora do aterro para, então, receber o tratamento adequado. Deve ser prevista a quantidade de lixiviado gerado, a disposição em planta dos elementos necessários, as dimensões, os materiais utilizados com especificações e os cortes e detalhes necessários para a visualização. 95 O sistema de tratamento do lixiviado é necessário, pois deve-se implementar uma alternativa adequada para o tratamento deste líquido gerado, uma vez que ele apresenta um elevado potencial poluidor. Devem ser apresentados a estimativa da quantidade de lixiviado a ser tratado, a disposição, dimensões e capacidade dos elementos, os materiais utilizados, cortes e detalhes e o processo utilizado, com as operações adotadas. A impermeabilização inferior e/ou superior e das laterais é prevista com o objetivo de proteger o solo e os cursos d’água da contaminação. Deve ser indicado o tipo de impermeabilização adotado e os materiais empregados, com suas especificações e características. O sistema de drenagem de gases é necessário para remover os gases gerados pela decomposição dos resíduos e evitar que se formem bolsões em meio aos resíduos, que podem gerar incêndios e até explosões. Dependendo da necessidade, a drenagem pode ser tanto horizontal quanto vertical e devem ser descritos todos os elementos do sistema, a disposição em planta, as dimensões, os materiais utilizados e os cortes e detalhes necessários. O sistema de cobertura dos resíduos tem como objetivo evitar que animais transmissores de doenças se propaguem, reduzir a quantidade de lixiviado gerado, diminuir os odores exalados pelos resíduos e evitar que o biogás escape sem controle. A cobertura dos resíduos deve ser realizada diariamente, mas quando as atividades precisarem ser suspensas por um período determinado, pode ser aplicada a cobertura intermediária. Ainda, quando são finalizadas as atividades de disposição de resíduos, aplica-se a cobertura final. É indicada a aplicação de solo argilo-arenoso para as camadas de cobertura. Por fim, um sistema de monitoramento deve ser previsto para identificar previamente quaisquer problemas de contaminação. Esse monitoramento é mais focado em águas superficiais e subterrâneas, mas pode incluir também o monitoramento de outras questões, como a qualidade do ar, a poluição do solo, os níveis de ruído, a erosão, entre outros (VILHENA, 2018). • Operação do aterro sanitário Após o término das obras, poderá ser iniciada a operação do aterro, ou seja, o recebimento de carregamentos de resíduos. Deve ser previsto um plano de operação para auxiliar nas atividades a serem desenvolvidas no dia a dia, para que o funciona- mento ocorra de forma segura. De acordo com a NBR 8419/1992, na operação do aterro sanitário devem ser considerados os acessos e o isolamento da área, o preparo do local de disposição dos resíduos, o transporte e a forma de disposição. Devem ser incluídos o método de operação, os equipamentos a serem utilizados, a espessura das camadas de cobertura, a necessidade ou não de empréstimos de material para cobertura. Além dis- 96 so, deve ser previsto um plano de encerramento indicando como e quando o aterro será dado como encerrado e os cuidados que serão mantidos após o encerramento das ati- vidades, como o controle de vetores e o monitoramento (ABNT, 1992; MONTEIRO, 2001). Segundo Monteiro (2001), os aterros devem possuir uma balança rodoviária para a pesagem dos caminhões e o devido registro das quantidades de lixo recebidas. O descarregamento dos resíduos será feito na área de operação. Em seguida, procede-se à disposição de resíduos na célula previamente preparada, eles devem ser espalhados e compactados por tratores de esteiras, sendo então realizada a cobertura diariamente. Após atingir a capacidade da célula em questão, realiza-se o fechamento e o preparo da célula seguinte e repete-se o mesmo processo de operação. • Uso futuro da área Ainda, é recomendado que se apresente um plano de uso futuro da área do aterro sanitário, indicando a proposta para uma nova utilização do terreno (ABNT, 1992). O uso futuro deve ser compatível com a ocupação nos entornos, porém, grandes construções, principalmente para moradias, devem ser evitadas. Como atividades preferenciais, podem ser adotadas parques e campos para práticas esportivas (VILHENA, 2018). Segundo Castilhos Junior (2003), uma nova disposição de resíduos em áreas onde a decomposição já ocorreu também pode ser viável, desde que seja feito um acompanhamento adequado. Além disso, o aterro encerrado ainda pode ser transformado em áreas de lazer ou jardins. Ressalta-se que não é recomendada a edificação de obras, pois a massa de resíduos continua sofrendo degradação, podendo provocar movimentações. 2.1.2 Memorial técnico Conforme comentado anteriormente, o memorial técnico também pode ser denominado memorial de cálculo, justamente por apresentar os cálculos necessários e o dimensionamento das estruturas e componentes do aterro. De acordo com a norma NBR 8419 (ABNT,1992, p. 5) o memorial técnico deve conter os seguintes tópicos: Cálculo dos elementos de projeto, sendo apresentado o dimensiona- mento de todos os elementos de projeto, devendo ser indicados: a) dados e parâmetros de projeto; b) critérios, fórmulas e hipóteses de cálculo; c) justificativas e d) resultados. Prazo de operação do aterro sanitário. Devem ser apresentados: a) a quantidadeTÓPICO 2 - DIMENSIONAMENTO DE ATERRO .................................................................... 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 91 2 DIMENSIONAMENTO DE ATERRO .................................................................................... 91 2.1 ATERRO SANITÁRIO: PROJETO ........................................................................................................92 2.1.1 Memorial descritivo ....................................................................................................................92 2.1.2 Memorial técnico .......................................................................................................................96 2.1.3 Cronograma de execução e estimativa de custos .........................................................104 2.2 ATERRO INDUSTRIAL: PROJETO ..................................................................................................105 2.2.1 Informações sobre projeto e operação de aterros industriais ....................................105 2.2.2 Inspeção e manutenção no aterro de resíduos perigosos ..........................................108 2.2.3 Segurança do aterro de resíduos perigosos ..................................................................109 2.2.4 Análise de estabilidade do aterro de resíduos perigosos .............................................110 2.2.5 Encerramento do aterro de resíduos perigosos ..............................................................110 2.3 SISTEMA DE COLETA DE EFLUENTES LÍQUIDOS E GASOSOS ................................................111 2.3.1 Sistema de coleta de efluentes líquidos..............................................................................111 2.3.2 Sistema de coleta de gases ..................................................................................................115 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 118 TÓPICO 3 - LICENCIAMENTO AMBIENTAL ....................................................................... 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121 2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ....................................................................................... 121 2.1 ESTUDOS AMBIENTAIS PARA LICENCIAMENTO ........................................................................ 125 2.1.1 Definições de EIA e RIMA ........................................................................................................ 125 2.1.2 Estudo de impacto ambiental .............................................................................................. 126 2.1.3 Conteúdo mínimo do EIA ....................................................................................................... 126 2.1.4 Relatório de Impacto Ambiental .......................................................................................... 127 2.1.5 Conteúdo mínimo do RIMA ................................................................................................... 127 2.1.6 Impactos ambientais negativos que podem ser causados por aterros sanitários ...........128 2.1.7 Licenciamento ambiental para aterros de resíduos sanitários de pequeno porte............ 129 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 131 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................132 TÓPICO 4 - MONITORAMENTO AMBIENTAL .....................................................................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................135 2 MONITORAMENTO AMBIENTAL .....................................................................................135 2.1 MONITORAMENTO DE ÁGUA ........................................................................................................... 137 2.1.1 Monitoramento de águas subterrâneas ............................................................................. 137 2.1.2 Monitoramento de águas superficiais ................................................................................ 139 2.1.3 Parâmetros a serem analisados .......................................................................................... 139 2.1.4 Exemplos de monitoramento de águas em aterros .......................................................140 2.2 MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO .................................................................................................141 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................143 RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 151 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................153 UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS E GASOSOS DE ATERROS SANITÁRIOS ................................................................................................ 157 TÓPICO 1 — EFLUENTES LÍQUIDOS EM ATERRO ..............................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................159 2 EFLUENTES LÍQUIDOS EM ATERRO ...............................................................................160 2.1 EFLUENTE LÍQUIDO: TIPO E FORMAÇÃO .....................................................................................160 2.1.1 Origem e processo de formação do chorume ..................................................................160 2.1.2 Caracterização dos componentes do chorume .............................................................. 163 2.1.3 Concentração dos componentes do chorume ................................................................ 165 2.1.4 Biodegradabilidade do chorume .........................................................................................168 2.2 GERAÇÃO DO CHORUME ............................................................................................................... 169 2.2.1 Fatores intervenientes na geração do chorume ............................................................. 169 2.2.2 Contaminação do chorume ................................................................................................. 170 3 SISTEMAS DE TRATAMENTO DE CHORUME .................................................................170 3.1 SISTEMA DE COLETA E DESTINAÇÃO DE CHORUME ................................................................ 171 3.1.1 Sistema de impermeabilização .............................................................................................. 171 3.1.2 Drenagem do chorume .......................................................................................................... 172 3.1.3 Recirculação do chorume no aterro ................................................................................... 173 3.1.4 Evaporador de chorume ........................................................................................................ 174 3.1.5 Oxidação química do chorume ............................................................................................176 3.1.6 Adsorção .....................................................................................................................................176de resíduos sólidos a ser disposta (diária e anual); b) o peso específico adotado; c) a capacidade prevista para a área; d) o prazo de operação do aterro sanitário, estimado em função da quantidade de resíduos sólidos a ser disposta e capacidade da área. Sistema de drenagem superficial. Devem ser apresentados todos os parâmetros e fórmulas utilizadas para o dimensionamento dos canais e singularidades do sistema de drenagem superficial, dando 97 ênfase a: a) intensidade de chuva; b) tempo de recorrência (período de retorno); c) duração; d) coeficiente de escoamento superficial. Sistema de drenagem e remoção de percolado. Devem ser apresentados os parâmetros e fórmulas utilizadas para o dimensionamento dos ele- mentos integrantes do sistema de drenagem e remoção de percolado. Sistema de drenagem de gás. Devem ser apresentados os parâmetros e fórmulas utilizadas para o dimensionamento dos elementos integrantes do sistema de drenagem de gás. Sistema de tratamento de percolado. Devem ser apresentados os parâmetros e fórmulas utilizadas para o dimensionamento dos elementos integrantes do sistema de tratamento de percolado. Cálculo de estabilidade. Devem ser apresentadas as hipóteses, os parâmetros e as fórmulas utilizadas para o cálculo de estabilidade de taludes, bermas de equilíbrio e recalques diferenciais. • Cálculos de estimativa de lixo a ser gerado Para fins de exemplificação, o dimensionamento e os principais cálculos serão apresentados considerando pequenos aterros construídos pelo método da trincheira ou valas. O objetivo do cálculo da estimativa de lixo é predizer a quantidade de resíduos gerados no município, considerando a geração atual e a geração futura, tendo em vista que o aterro continuará em funcionamento por alguns anos. Devem ser considerados o número de habitantes atual, a geração per capita de resíduos, obtida por processos de amostragem, o nível de atendimento atual dos serviços de coleta de lixo, a taxa de crescimento populacional, a taxa de incremento da geração per capita, o nível de atendimento dos serviços de coleta de lixo após um determinado número de anos e o intervalo de tempo que será considerado (VILHENA, 2018). Para o cálculo de resíduos atual, tem-se a Equação (1): Geração atual = Enquanto para o cálculo da geração futura, tem-se a Equação (2): Geração futura= Em que: • O A representa o número de habitantes atual. • O B representa a geração per capita de resíduos (kg/habitante/dia). • O C0 representa o nível de atendimento atual dos serviços de coleta de lixo em porcentagem (%). • O D representa a taxa de crescimento populacional em porcentagem (%). • O E representa a taxa de incremento da geração per capita, também em porcentagem (%). • O Ct representa o nível de atendimento dos serviços de coleta de lixo, após n anos, em porcentagem (%). • O n representa o intervalo de tempo considerado em anos. 98 A estimativa da massa e do volume de resíduos a serem gerados é uma etapa muito importante para o dimensionamento do aterro sanitário, pois é a partir desses dados que serão definidos os outros cálculos. De acordo com o Manual de gerenciamento integrado, essa projeção deve ser cuidadosamente realizada, possibilitando que a área definida tenha uma vida útil de operação de, no mínimo, dez anos, sendo a melhor forma de se conhecer as quantidades de lixo geradas e as flutuações que podem ocorrer em cada comunidade, por meio das pesagens periódicas (VILHENA, 2018). • Dimensionamento de trincheiras ou valas As trincheiras são escavações feitas no solo para o aterramento de resíduos. Esse é o método mais adequado para ser empregado em pequenos municípios. A NBR 15849/2010 apresenta as diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e encerramento de aterros sanitários de pequeno porte. De acordo com Castilhos Junior (2003), nas escavações, o solo retirado do local deve ser reservado para a utilização posterior na cobertura dos resíduos. As trincheiras têm formato de prisma, com profundidade que pode variar entre dois e três metros. Podem ter também formato de paralelepípedo, com as laterais verticais em relação ao fundo e inclinação 1:1 ou, ainda trapezoidais, com laterais um pouco inclinadas, entre 1:2 e 1:3, no caso da utilização das mantas plásticas para impermeabilização. Os seguintes passos são adotados no dimensionamento das trincheiras: • geração de resíduos: verificar a quantidade de resíduos que será encaminhada diariamente ao aterro; • cobertura diária: utilizar entre 10 e 20 centímetros de solo local ou 25 % do volume de resíduos a serem aterrados; • vida útil de cada trincheira: estimar como sendo de 2 a 4 meses; • grau de compactação a ser realizado no aterramento dos resíduos: sem a compactação a densidade dos resíduos varia entre 100 e 150 kg/m³. Se a compactação for feita de forma manual, a densidade ficará entre 250 e 350 kg/m³; • profundidade da trincheira: sugere-se de 2 a 3 metros, dependendo do nível do lençol freático e da camada de solo; • forma da trincheira: definir qual será a forma utilizada, adotar uma das dimensões e realizar o cálculo da outra. Agora, como exemplo, realizaremos o dimensionamento de uma trincheira em formato de trapézio para um pequeno município (CASTILHOS JUNIOR, 2003): • Considerando uma população de 2.096 habitantes. • A produção per capita diária de 0,135 kg por pessoa por dia. • Multiplicando-se a população pela geração per capita e por 7 dias, teremos a geração de resíduos semanal: 1960 kg. • Adotando-se uma quantidade de resíduos reciclados em cerca de 30 % do total, teremos 597,8 kg/semana. 99 • Descontando a quantidade de resíduos a serem reciclados e dividido por 7 dias, obtém-se a quantidade de resíduos a ser aterrado por dia: (1960 kg – 597,8 kg) / 7, que é igual a 194,6 kg/dia. • Adotando-se uma vida útil de dois meses para a trincheira, multiplicaremos por 60 dias para obtermos a quantidade total de resíduos a serem enterrados na trincheira: 195 kg x 60 dias e teremos 11.700 kg. • Considerando que a densidade de resíduos na trincheira será de 220 kg/m³, poderemos determinar o volume da trincheira: • Considerando que a cobertura diária será de 25 %, teremos um volume de 53 m³ x 25 %, igual a 13,25 m³ de cobertura. • Adota-se a profundidade média da trincheira em 3,5 metros. • Adota-se a largura da trincheira como sendo 6,0 metros no topo do trapézio e 2,0 metros na base, portanto, a largura média será de 4,0 metros. • Podemos calcular então o comprimento médio da trincheira pela fórmula: Volume = largura média x comprimento médio x altura 53 m³ = 4,0 metros x comprimento médio x 2,5 metros Comprimento médio = 5,3 metros • Considerando-se a inclinação dos taludes, teremos 7,3 metros de comprimento no topo do trapézio e 3,3 metros de comprimento na base. • A dimensão final da trincheira será: forma trapezoidal, topo 6,0 x 7,3 metros; base: 2,0 x 3,3 metros e profundidade de 2,5 metros. A Figura 1 ilustra o dimensionamento da trincheira trapezoidal. A partir do dimensionamento da trincheira, pode-se projetar o número de trincheiras que serão necessárias na área do aterro para que este receba resíduos durante todo o período de operação preedeterminado. 100 Figura 1 – Detalhe de uma trincheira no formato trapezoidal Fonte: Castilhos Junior (2003, p. 69) • Dimensionamento de células Para aterros de maior porte, podem ser utilizados os métodos construtivos da rampa e da área e, nesses casos, é importante ser calculada a chamada célula diária de lixo. De acordo com Vilhena (2018), as dimensões de uma célula diária de lixo podem ser estimadas pelas Equações 3, 4 e 5. (Equação 3) (Equação 4) (Equação 5) Em que: • A letra h representa a altura da célula, em metros. • O V representa o volume de resíduos da célula em m³, que é igual a geração de lixo em toneladas por dia (t/d) dividida pela densidade do lixo compactado (com valores médios de 0,7 t/m³). • O p representa o talude da rampade trabalho e é igual a 3. • O l representa a profundidade da célula em metros. • O b representa a frente de operação, também em metros. • Por fim, o A representa a área a ser coberta com terra em m². 101 (Equação 6) • Sistema de drenagem de águas pluviais Este sistema busca coletar e desviar o escoamento superficial da água da chuva durante e após a vida útil do aterro, evitando a infiltração da chuva na massa de resíduos. O sistema deverá ser projetado observando-se o relevo do local. Para municípios de pequeno porte, o processo será simples, sendo construídas canaletas manualmente na direção preferencial do fluxo da água, direcionando os volumes para longe das trincheiras, evitando a infiltração na massa de resíduos e evitando a formação de poças no terreno, o que dificulta o acesso. Em aterros convencionais, o sistema de drenagem pode ser constituído de canaletas de concreto, com escadas d’água e tubos de concreto (CASTILHOS JUNIOR, 2003; VILHENA, 2018). Para o cálculo da vazão de águas pluviais, utiliza-se o método Racional (VILHENA, 2018), representado na Equação 6: Em que: • Q é igual a vazão a ser drenada em m³/s. • C é igual ao coeficiente de escoamento superficial, adimensional e tabelado em função do tipo de cobertura do solo e declividade. • I é igual a intensidade da chuva crítica (m/s). • A é a área da bacia contribuinte em m². É importante lembrar que a água da chuva não deve ser misturada com o lixi- viado produzido no aterro, pois a água pluvial não necessita de tratamento, podendo ser lançada à drenagem natural, seguindo diretamente para o corpo hídrico próximo, apenas observando-se os cuidados necessários para evitar a erosão durante o escoa- mento. Além disso, podem ser construídas canaletas de curta duração, que podem ser destruídas à medida que o aterro vai se alterando, ou canaletas definitivas que perma- necerão ativas, mesmo após o encerramento das atividades do aterro (VILHENA, 2018). • Sistema de impermeabilização O sistema de impermeabilização tem como função proteger a base do aterro, evitando que ocorra contaminação do solo e das águas subterrâneas pelo lixiviado gerado. A impermeabilização da parte inferior do aterro pode ser realizada utilizando camadas de solo impermeável, como a argila ou por meio da aplicação de geomembranas sintéticas, que são mantas impermeabilizantes. Podem ser utilizados ainda argilas expansivas (OBLADEN et al., 2016). Em determinados casos, se estiverem disponíveis dados geotécnicos confiáveis, espessura da camada do solo, granulometria do solo, coeficiente de condutividade hidráulica, distância do lençol freático, entre outros, a impermeabilização 102 de fundo e laterais pode ser simplifi cada, sendo realizada apenas a compactação das camadas de solo no fundo das trincheiras. No entanto, nesses casos, é difícil garantir a impermeabilização completa e, por isso, tem sido utilizado revestimentos minerais ou sintéticos (CASTILHOS JUNIOR, 2003). O sistema de impermeabilização deve apresentar algumas características como a estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica, resistência às condições do tempo e compatibilidade físico-química-biológica com os resíduos a serem aterrados e seus percolados. Dentre os materiais mais utilizados estão os solos argilosos, as argilas compactadas e as geomembranas. As geomembranas que têm se mostrado mais adequadas são a Polietileno de Alta Densidade (PEAD), por possuírem elevada resistência mecânica, durabilidade e alta compatibilidade com diversos tipos de resíduos e a geomembrana de PVC (VILHENA, 2018). Para o revestimento mineral, o solo deve ser compactado em camadas. Nos Estados Unidos, a espessura mínima exigida é de 60 centímetros. No procedimento, o solo solto é espalhado em camadas de espessura ideal de 20 centímetros sobre a superfície do terreno. Para esse processo, são utilizados rolos compactadores do tipo “pé de carneiro”, com um número mínimo de cinco passadas. Antes de ser aplicada a próxima camada, deve receber ranhuras para garantir que as camadas fi quem bem ligadas. Após a compactação, o solo deve ser protegido com uma lona plástica ou deve ser molhado periodicamente para evitar o ressecamento (CASTILHOS JUNIOR, 2003). De acordo com Castilhos Junior (2003), para o solo ser empregado no revesti- mento mineral, deve possuir algumas características que são a porcentagem de fi nos entre 20 % e 30 %, a porcentagem de pedregulhos igual a 30 %, o índice de plasticidade entre 7 % e 10% e o tamanho máximo das partículas entre 25 milímetros e 50 milímetros. Na sequência, será apresentado o dimensionamento do revestimento mineral. “A plasticidade ou consistência de um solo defi ne a capacidade dos solos de serem moldados, sob certas condições de umidade, sem variação do volume sendo uma importante propriedade dos solos fi nos (argilas e siltes)” (CAPUTO, 1994 apud SILVA; MIRANDA, 2016, p. 3). Fonte: https://bit.ly/3e5CYb4. Acesso em: 28 set. 2022. NOTA Inicialmente é recomendado que se adote 60 cm para a espessura da camada de impermeabilização. Para se calcular a área total de uma trincheira a ser revestida, divide-se a trincheira: 103 • Considerando que a base da nossa trincheira foi calculada como sendo 3,3 metros x 2 = 6,6 m². • Como são duas laterais maiores, tem-se: diagonal = 3,2 x = 33,9 m². • A diagonal é o comprimento do talude, desde a base até o topo. • Temos também duas laterais menores, logo, repetindo-se a equação, teremos 3,2 x = 25,6 m². • Portanto, a área total a ser revestida será de 59,5 m² e o volume de solo necessário será 59,5 m² x 0,6 m de espessura, o que resulta em 35,7 m³. Normalmente, o revestimento com geomembrana é aplicado sobre uma camada de revestimento mineral, formando uma dupla proteção para casos de problema com a geomembrana. A superfície em que será aplicada a geomembrana deve estar lisa, sem pedras, raízes ou água em excesso. Na etapa de acabamento da compactação do solo, recomenda-se a utilização de um rolo compactador liso. Para a aplicação na trincheira, deve-se considerar 1,5 metro para a ancoragem de cada lado, ou seja, a fixação nas bordas da trincheira. Considerando a direção da largura da trincheira igual a: 2 x diagonal + comprimento do fundo + 2 x ancoragem, tem-se: 2 x 3,2 +2 + 2 x 1,5 = 11,4 metros. Para a direção do comprimento, teremos 2 x diagonal + comprimento de fundo + 2 x ancoragem, igual a 2 x 3,2 + 3,3 + 2 x 1,5 = 12,7 metros. A área da manta então será 11,4 m x 12,7 m = 145 m² (CASTILHOS JUNIOR, 2003). • Sistema de cobertura do aterro A norma da NBR 15849/2010 define o sistema de cobertura operacional do aterro como a camada de material que é aplicada aos resíduos ao final de cada jornada de trabalho, destinada a minimizar a infiltração das águas da chuva, evitar o espalhamento de materiais leves pela ação do vento, a presença de animais, a proliferação de vetores e a emanação de odores (ABNT, 2010). A partir disso, podemos verificar que a cobertura do aterro é um sistema também de grande importância em um aterro sanitário, pois diminui a quantidade de lixiviado gerada por diminuir a infiltração de chuva e evitar impactos negativos. A cobertura no aterro pode ocorrer em três diferentes etapas. Diariamente, é aplicada uma camada de cerca de 0,20 m de espessura solo, assim que é finalizada a disposição de resíduos naquele dia. Quando a deposição do lixo precisar ser interrompida temporariamente, por mais de um mês, é aplicada uma cobertura intermediária. Já a cobertura final só ocorre quando a célula ou a trincheira tiver esgotado a sua capacidade e for fechada, por isso, nessa camada, recomenda-se a utilização da cobertura vegetal, ou seja, de plantas, que contribuirão também auxiliando na evapotranspiração da água da chuva. Normalmente, é utilizada para a cobertura o próprio solo do local, que foi retirado na construção das trincheiras (VILHENA, 2018). 104 • Cálculo de estabilidade dos taludes De acordo comDamasceno e Ferreira (2018), a estabilidade dos taludes merece atenção, pois está relacionada à ruptura da massa de resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários. Essa ruptura é causada por um cisalhamento. Em outras palavras, pode ocorrer o deslizamento do aterro sanitário causando, inclusive, acidentes. A norma NBR 11682/2009 trata da estabilidade de encostas e tem sido usada para o cálculo de estabilidade de taludes de aterro sanitário, uma vez que não existe uma norma específica para aterros. No entanto, segundo Damasceno e Ferreira (2018), a análise de estabilidade dos aterros pode se tornar complexa, uma vez que o material é heterogêneo. A análise da estabilidade de encostas é feita por meio de avaliações e medições no local, seguidas de cálculos matemáticos que visam à determinação de um fator de segurança, determinado por FS. Caso o fator de segurança resulte em valores maiores do que um, a obra pode ser considerada estável, se o valor for igual a um, pode ocorrer a ruptura do talude (ABNT, 2009; DAMASCENO; FERREIRA, 2018). “Qualquer maciço de solo ou rocha com superfície inclinada pode ser denominado de talude. Sendo ele conhecido como encosta, em local com inclinação natural, ou como aterros e cortes, para taludes construídos” (DAMASCENO; FERREIRA, 2018, p. 4). NOTA 2.1.3 Cronograma de execução e estimativa de custos Deve ser apresentado ainda, na etapa final do projeto, um cronograma detalhado contendo todas as fases para a execução, além de uma planilha de custos, em que devem ser apresentados, em detalhes, os custos de implantação, operação, manutenção, materiais e outros (VILHENA, 2018). Dentre os custos considerados para a construção do aterro, devem ser incluídos os serviços de terraplanagem, construções de estradas, obras de drenagem e serviços básicos, materiais de construção utilizados, mão de obra e custos de equipamentos e manutenções. É importante ressaltar também que a compra da área representa um dos maiores gastos na implementação de aterros. No entanto, devem ser considerados custos de limpeza da área, construção de portarias, vestiários, banheiros e a construção dos elementos de projeto previstos. Por fim, as atividades de operação e encerramento do aterro apresentarão custos que devem ser contabilizados (CASTILHOS JUNIOR, 2003). 105 2.2 ATERRO INDUSTRIAL: PROJETO Conforme já comentamos, um aterro industrial também pode ser considerado um aterro para resíduos perigosos, tendo em vista que essa é a característica apresentada por grande parte dos resíduos industriais. De acordo com Obladen et al. (2016), os resíduos perigosos são gerados em pequenas quantidades pela comunidade em geral, sendo realmente as unidades industriais as principais geradoras desse tipo de resíduo, embora as quantidades ainda sejam pequenas quando comparados aos resíduos sólidos domiciliares, aqueles originados nas nossas residências. O projeto de aterros sanitários industriais apresenta algumas particularidades, principalmente relacionadas aos tipos de resíduos que serão recebidos, sendo necessária uma investigação prévia das características destes. Também são demandadas condições diferenciadas para as camadas de impermeabilização. Outro ponto de bastante atenção está relacionado aos sistemas de segurança, como alertas, planos de emergência e treinamento de funcionários. 2.2.1 Informações sobre projeto e operação de aterros industriais De forma geral, o projeto de um aterro industrial é similar ao do aterro convencional com relação aos elementos exigidos, porém, de acordo com Tocchetto (2005), os aterros industriais requerem projeto e execução mais elaborados devido ao tipo de resíduos que receberão. Serão destacadas, neste subtópico, portanto, os principais pontos que o diferenciam dos aterros convencionais. A norma que trata do projeto de aterros perigosos é a NBR 10157/1987. Inicialmente, ela indica que um aterro para resíduos perigosos deve possuir uma cerca que feche completamente a área de operação, evitando a entrada de pessoas ou animais, um portão com controle de acesso, sinalização nas entradas e nas cercas com a indicação de “Perigo – não entre” e uma cerca viva de arbustos ao redor da instalação, quando for necessário (ABNT, 1987). Com relação aos acessos do aterro de resíduos perigosos, como entradas e portões, não devem ficar exposto às condições climáticas, como chuva, sol e ventos. O local deve possuir iluminação e energia para possibilitar o uso de equipamentos em casos de emergências, inclusive, à noite e um sistema de comunicação interno e externo para poder ser utilizado em emergências (ABNT, 1987). Outra questão interessante abordada pela NBR 10157/1987 é sobre a análise dos resíduos. Todos os resíduos que chegam no aterro precisam ter suas características físicas e químicas investigadas, para que, então, sejam gerenciados de maneira adequada. Além disso, deve ser projetado um laboratório para a realização das análises. Indica-se 106 que seja realizado um plano para a análise dos resíduos que contenha: a descrição do resíduo quanto a seu aspecto e geração, os procedimentos para amostragem, quais parâmetros serão avaliados, a justificativa e o método, a caracterização do resíduo com relação à periculosidade e a incompatibilidade com outros resíduos (ABNT, 1987). Para auxílio na caracterização dos resíduos, pode ser utilizada a NBR 10004/2004, já comentada anteriormente. Segundo Tocchetto (2005), no entanto, não devem ser dispostos em aterros industriais materiais, como ácidos, bases fortes, com- postos orgânicos muito solúveis e voláteis, materiais inflamáveis, explosivos e radioati- vos. A alternativa é a aplicação de alguns processos de tratamento como estabilização, encapsulamento, solidificação e vitrificação para, então, poder ser feita a disposição desses resíduos. É ressaltada também pela NBR 10157/1987 a necessidade de realização de treinamento com os funcionários para garantir o correto funcionamento do aterro, inclusive, no atendimento às emergências. Alguns dos cuidados mais importantes a serem tomados no projeto de aterro in- dustrial estão relacionados à impermeabilização do aterro e às drenagens. A camada de im- permeabilização deve ser construída com materiais quimicamente compatíveis, que resiste às pressões, ao contato físico com o líquido percolado ou ao próprio resíduo, às condições climáticas e às tensões de instalação ou diárias. A impermeabilização deve ser instalada cobrindo toda a área para que o resíduo não entre em contato com o solo (ABNT, 1987). Normalmente, aterros construídos para o recebimento de resíduos perigosos são projetados como valas. Com relação aos aspectos geológicos e climáticos que podem ser variáveis, são recomendados alguns critérios. Caso esses aspectos sejam considerados favoráveis, como solo argiloso com coeficiente de permeabilidade igual ou menor do que 1x10-7 cm/s e evapotranspiração anual que exceda a precipitação anual em, pelo menos, 500 mm, o aterro industrial será construído da mesma forma que convencional, devendo ser respeitadas as regras de operação. A distância mínima entre a base do aterro e o nível mais alto do lençol freático deve ser de 4,5 metros (OBLADEN et al., 2016). Por outro lado, de acordo com Obladen et al. (2016), caso as condições climáticas não forem satisfatórias, o projeto deve prever uma impermeabilização superior do aterro para que não ocorra infiltração de água pelos resíduos. Caso as condições geológicas não sejam satisfatórias, ou ambas as condições – geológicas e climáticas –, deve-se prever a impermeabilização de toda a superfície inferior do aterro, com sistema de coleta e remoção dos líquidos gerados. Conforme as condições geológicas e grau de periculosidade dos resíduos, existem duas alternativas de projeto: • com impermeabilização inferior com uma camada de, no mínimo, 1,5 metros de espessura de solo argiloso compactado, com coeficiente de permeabilidade menor ou igual a 1x10-7cm/s; 107 • ou impermeabilização inferior equipada com um sistema que consiga detectar e re- mover o lixiviado no caso de ocorrer danificação da impermeabilização, sendo cons- tituído por uma camada de, no mínimo, 0,15 metros de espessura de solo arenoso, que facilitará o escoamento rápido dos lixiviados até os tanques de coleta e remo- ção. A camada de impermeabilização deve ter coeficiente de permeabilidade igual ou equivalente a 1x10-12 cm/s sobre toda a superfície inferior do aterro. Além disso, recomenda-se uma camada de solo compactado de espessura mínima de 1 metro e coeficiente de permeabilidade menor ou igual a 1x10-7 cm/s (OBLADEN et al., 2016). Com relação à drenagem para coleta e remoção do lixiviado gerado, a NBR 10157/1987 ressalta que o sistema deve ser instalado imediatamente acima de impermeabilização, devendo ser dimensionado para que não se forme uma lâmina líquida de percolado, ou seja, não se acumule mais do que 30 centímetros sobre a impermeabilização. O material do sistema deve ser quimicamente resistente ao resíduo e ao lixiviado e resistente às possíveis pressões da operação. Ainda, o sistema deve ser projetado para que não entupa durante o período de operação e até mesmo após o encerramento do aterro (ABNT, 1987). Na etapa de operação dos aterros de resíduos industriais, também podem ser destacadas algumas questões como a aplicação diária sobre os resíduos depositados de uma camada de no mínimo 0,15 m de material inerte, por exemplo. Todo o recipiente que contiver resíduo líquido deve ser envolvido em uma quantidade de material inerte, que possa absorver todo o seu conteúdo. Caso o resíduo permaneça sem receber outra camada de resíduos por mais de uma semana, ele deve receber uma camada de cobertura de material inerte de, no mínimo, 0,30 m de espessura (OBLADEN et al., 2016). Ainda com relação à operação, a norma NBR 10157/1987 ressalta que não podem ser recebidos resíduos inflamáveis ou reativos nos aterros de resíduos perigosos. Tais resíduos só poderão ser recebidos caso passem por um tratamento prévio como neutralização, diluição, absorção, entre outros. Assim, após o tratamento, a mistura não deve possuir mais a característica de inflamabilidade ou reatividade (ABNT, 1987). Considerando a disposição de resíduos líquidos, recomenda-se que resíduos que apresentem menos de 15 % de sólidos totais (em massa) não podem ser dispostos diretamente nos aterros, pois não suportam cobertura. Por outro lado, a codisposição desses resíduos que tenham menos de 15% de sólidos em células com outros resíduos deve ser estudada com cautela, para que não ocorra o extravasamento do aterro ou uma geração de lixiviados em excesso (ABNT, 1987). 108 O processo de codisposição ocorre “quando a mistura rejeito-rejeito ou rejeito-estéril for realizada previamente ou efetivada no próprio ambiente da disposição. Quando os materiais estéreis e os rejeitos forem dispostos no mesmo espaço físico, sem, contudo, precisar misturá-los, tem-se a técnica defi nida por disposição compartilhada” (PEIXOTO, 2012 apud SILVA 2014). Fonte: SILVA, R. K. A. Codisposição e disposição compartilhada de rejeitos e estéreis em cava exaurida. 2014. 158 f. Dissertação de (Mestrado em Engenha- ria Geotécnica) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3CzHat1. Acesso em: 28 set. 2022. NOTA Outro ponto relevante na etapa de operação do aterro é relativo à disposição de embalagens dos resíduos perigosos, uma vez que as embalagens podem ser consideradas igualmente perigosas. De acordo com a NBR 10157/1987, as embalagens podem ser dispostas com os resíduos, desde que, se estiverem vazias, tenham o volume reduzido ao mínimo possível e, caso estejam cheias com o resíduo, devem alcançar 90% de sua capacidade. Para as emissões gasosas, recomenda-se que todo aterro seja projetado de forma que emissões sejam minimizadas e as eventuais gerações sejam dispersadas, porém, tendo em vista as características dos resíduos industriais, que em sua maioria não são orgânicos ou biodegradáveis, a geração de gases deve ser reduzida em comparação aos aterros sanitários convencionais (ABNT, 1987). 2.2.2 Inspeção e manutenção no aterro de resíduos perigosos A fi m de identifi car e corrigir possíveis problemas que possam causar acidentes que prejudiquem o meio ambiente e a saúde humana, o proprietário ou encarregado do aterro sanitário de resíduos perigosos deve realizar inspeções. Assim como em muitas outras eta- pas, deve ser organizado um plano para a inspeção, para que sejam verifi cados o monito- ramento das águas superfi ciais e subterrâneas e de drenos, diques e bombas, por exemplo. No plano, deve constar a frequência da inspeção, considerando qual a probabilidade de ocorrerem falhas e os problemas que possam ser encontrados durante a inspeção, como bombas paradas ou vazando, erosão nos diques ou drenos entupidos (ABNT, 1987). A norma NBR 10157/1987 também recomenda que o empreendimento do aterro sanitário de resíduos perigosos deve manter um registro da sua operação, que necessita ser preenchido até o fi m da sua vida útil e inclusive, após o encerramento. Neste registro deve constar a descrição e quantidade de cada resíduo perigoso que foi recebido e a sua data, a indicação do local onde o resíduo foi disposto e a 109 quantidade, o resultado das análises que foram realizadas no resíduo, o registro das inspeções realizadas e de incidentes que ocorreram, também com as datas, por fim, as informações sobre o monitoramento das águas superficiais e subterrâneas e dos efluentes gasosos que forem gerados. Ao final de cada ano, deve ser preparado ainda um relatório anual, apresentando a quantidade de resíduos que foi recebida no período (no ano e acumulada) e do tratamento aplicado a cada resíduo perigoso e, mais uma vez, as informações sobre o monitoramento das águas e efluentes gasosos. 2.2.3 Segurança do aterro de resíduos perigosos Sobre a segurança do aterro, também são apresentadas várias questões pela NBR 10157/1987. Inicialmente, recomenda-se que o aterro seja operado de forma que minimize os riscos de ocorrência de fogo, explosões, derramamentos ou vazamentos de substâncias perigosas no ar, na água ou no solo, justamente porque podem causar riscos à saúde e ao meio ambiente. As principais recomendações serão descritas a seguir (ABNT, 1987): • Segregação de resíduos: algumas substâncias ao serem misturadas podem causar fogo, liberação de gases tóxicos ou lixiviação de substâncias tóxicas e, por isso, não podem ser colocadas em contato. A norma apresenta uma tabela indicando a incompatibilidade de alguns resíduos. Alguns exemplos são resíduos do Grupo 1A, como líquidos de limpeza alcalinos, águas residuárias alcalinas, lama de cal e outros álcalis corrosivos que não devem ser misturados com resíduos do Grupo 1B, como lamas ácidas e ácidos de baterias, pois podem gerar calor e uma reação violenta. A mistura de resíduos de pesticidas com solventes em geral pode gerar substâncias tóxicas em caso de explosão. Álcoois e soluções aquosas misturados com cálcio, lítio, potássio e sódio, por exemplo, podem causar fogo, explosão, geração de calor e geração de gases inflamáveis e tóxicos. Outras misturas podem até causar reação violenta, por isso é tão importante a caracterização prévia dos resíduos. • Plano de emergências: indica as ações a serem tomadas de forma coordenada, no caso de acidentes. Devem existir informações sobre possíveis acidentes e ações que devem ser realizadas, pessoas que atuarão como coordenadores de emergên- cias, lista do equipamento de segurança disponível, com localização e descrição. • Dando continuidade ao atendimento a emergências, cada aterro de resíduos perigosos deverá ter um funcionário que será o coordenador de emergências, que deverá conhecer o plano de emergências, as condições dos resíduos e deve liderar a execução do plano, caso seja necessário. • A instalaçãodeve possuir todos os equipamentos de segurança necessários. O plano de emergências deve conter: equipamentos, aparelhos e métodos para alarmes e comunicação interna e externa, equipamento para controle de incêndios e derramamentos e equipamento para descontaminação. Telefones e endereços de bombeiros, órgãos ambientais, pronto-socorro e médicos, defesa civil e polícia. Deve 110 conter também os procedimentos para casos de incêndios, explosões, liberações de gases e vazamento de líquidos. A cópia do plano deve estar em local de fácil acesso para que todos os funcionários tenham conhecimento dele. 2.2.4 Análise de estabilidade do aterro de resíduos perigosos Apesar de não ser mencionado na norma NBR 10157/1987, a estabilidade de aterros perigosos também é uma questão importante que deve ser monitorada. De acordo com Fayer et al. (2018), para a análise da estabilidade de taludes de aterros sanitários, deve ser levado em consideração a composição do aterro, que é bastante heterogênea, tanto em aterros da Classe I, os perigosos, tanto os da Classe II, não perigosos. Essa questão da heterogeneidade dificulta as análises que devem ser feitas para a avaliação da estabilidade. Uma análise em um aterro sanitário da Classe I foi conduzida por Fayer et al. (2018), que apresentaram um levantamento de dados operacionais, levantamento topográfico e monitoramento geotécnico e, a partir de parâmetros de resistência como coesão, ângulo de atrito e peso específico dos resíduos, realizaram uma modelagem geotécnica. Portanto, de forma computacional, puderam avaliar a estabilidade dos taludes do aterro que, para o aterro do estudo, foi considerado satisfatório, ratificando o projeto e as boas práticas de engenharia executadas no local. 2.2.5 Encerramento do aterro de resíduos perigosos Segundo Obladen et al. (2016), no momento do encerramento, uma camada de cobertura final deve ser aplicada no aterro, com, pelo menos, 0,30 m de solo argiloso compactado. Em seguida, essa primeira camada deverá receber uma segunda camada de qualquer tipo de solo, porém mantendo-se, pelo menos, 0,30 m de espessura, sendo, então, realizada a plantação de grama. Deve ser evitado, no entanto, o plantio de vegetação com raízes profundas. Além disso, o proprietário ou o operador do aterro precisa manter o sistema de coleta de líquidos percolados, o sistema de coleta de gases (quando houver), o sistema de monitoramento do aquífero e a integridade do aterro, com a verificação dos taludes e cobertura, por exemplo, além do isolamento da área, por, no mínimo, 20 anos após o encerramento das atividades (OBLADEN et al., 2016). É indicado também que seja preparado um plano para o encerramento do aterro, o qual deve conter os processos e fases indispensáveis para o fechamento, o projeto e a implementação da cobertura final, com enfoque para a diminuição da infiltração de águas pluviais na célula. O projeto da camada de cobertura deve ser elaborado prevendo ainda uma manutenção simples, cuidados para evitar erosão e deve apresentar um coeficiente de permeabilidade menor que o solo do aterro. Deve ser prevista ainda a 111 data para início do processo de fechamento, a estimativa dos tipos e quantidades de resíduos que estarão no aterro, qual o uso programado para a área após o fechamento, o monitoramento das águas, as atividades de manutenção e os recursos financeiros que serão necessários para essa etapa (ABNT, 1987). 2.3 SISTEMA DE COLETA DE EFLUENTES LÍQUIDOS E GASOSOS Os efluentes líquidos, também denominados de lixiviados, percolados ou popularmente “chorume”, e os gases gerados nos aterros sanitários podem ser considerados subprodutos da decomposição dos resíduos sólidos do aterro. A geração desses compostos é uma característica ou pode ser considerada uma consequência do processo de aterramento dos resíduos e, por isso, também precisamos providenciar um gerenciamento adequado. Dessa forma, vamos continuar evitando a contaminação causada não só pelos resíduos, mas também pelos seus subprodutos. 2.3.1 Sistema de coleta de efluentes líquidos Iniciaremos este subtópico definindo e relembrando alguns conceitos relacionados aos efluentes líquidos gerados em aterros sanitários. De acordo com Gomes (2009), o lixiviado é composto pelos líquidos gerados a partir da decomposição da parte orgânica dos resíduos sólidos, juntamente com a água da chuva que penetra no aterro. Essa água da chuva, pode carregar ainda substâncias orgânicas e inorgânicas. Sendo assim, o volume de lixiviado gerado no decorrer do tempo, está muito associado com a quantidade de água pluvial que percola pelo aterro. Por outro lado, a composição do lixiviado está associada com as características físicas, químicas e biológicas dos resíduos sólidos que estão sendo dispostos no aterro. Uma questão que podemos antecipar no conteúdo é o potencial poluidor que o lixiviado gerado no aterro sanitário apresenta, pois é formado por uma infinidade de substâncias. Devido a isso, segundo Gomes (2009), o lixiviado pode causar danos ambientais caso venha a atingir o solo, o lençol freático ou as águas superficiais. Esses danos podem alcançar a comunidade animal e vegetal aquática, inclusive, os seres humanos que possam utilizar a água contaminada. A partir disso, fica muito claro porque o sistema de coleta de efluentes líquidos do aterro sanitário também é um componente de projeto muito importante. Além do potencial de contaminação do meio ambiente, existem motivos operacionais para que seja feita a drenagem ou coleta do lixiviado, gerado nas células ou nas trincheiras de um aterro. De acordo com Vilhena (2018), a tubulação de drenagem recolhe e direciona o lixiviado para o tratamento e essa ação diminui a pressão que o efluente gerado entre as camadas de lixo. A remoção do lixiviado também atenua as chances desse líquido alcançar 112 as camadas mais profundas do solo. Além disso, a remoção do lixiviado é relevante para evitar que devido às características do líquido ocorra a deterioração de componentes do aterro, como a estrutura de impermeabilização, por exemplo (VILHENA, 2018). O sistema de coleta de efluentes líquidos, também pode ser chamado de sistema de drenagem e remoção de lixiviado ou percolado. Esse sistema também deve fazer parte do projeto de um aterro sanitário e, sendo assim, é abordado pela norma NBR 8419/1992, devendo ser incluído no memorial descritivo e no memorial técnico. Segundo a norma, é preciso apresentar todos os detalhes dos constituintes do sistema de coleta, com a proposição do volume de lixiviado a ser gerado, como os dispositivos que serão alocados na planta do aterro, as dimensões, os materiais a serem empregados e os cortes e especificações exigidos (ABNT, 1992). A coleta do lixiviado pode ser realizada utilizando drenos de material filtrante com um tubo perfurado, que direcionará os líquidos para um tanque chamado de tanque de acumulação ou poço de captação, de onde serão enviados para o tratamento. É importante que os materiais utilizados sejam resistentes para não serem danificados pelo lixiviado. Por exemplo, os seixos de rios podem ser mais resistentes e, portanto, mais recomendados que as pedras britas (VILHENA, 2018). Mesmo assim, as pedras britas ainda são muito utilizadas. De acordo com Castilhos Junior (2003), para pequenas comunidades, pode ser adotado um leito de 30 centímetros de pedra brita de tamanho 1 ou 2, em todo o fundo da trincheira ou uma canaleta central (com pedra brita tamanho 3) e uma inclinação de fundo da trincheira de 1%, para facilitar o escoamento. Para a captação dos lixiviados, deve ser usada uma tubulação de PVC de 40 milímetros perfurada de aproximadamente 2 metros, que será disposta sob a brita. A Figura 2 exemplifica esse sistema. Figura 2 – Tubulação perfurada disposta sobre a brita para coleta de lixiviado Fonte: Castilhos Junior (2003, p. 83) 113 Figura 3 – Sistema de drenagem de lixiviado em formato deespinha de peixe Fonte: https://bit.ly/3yf6LVO. Acesso em: 28 set. 2022. A tubulação usada para captar o lixiviado passará pela geomembrana de impermeabilização por meio de um flange. A parte final do sistema é em um poço de captação, para o qual normalmente é utilizado um tubo pré-fabricado de concreto com 1 metro de diâmetro, colocado sobre uma base de cimento. Dentro desse poço deverá ser instalado um registro para controlar o fluxo do lixiviado. O poço deve ser instalado no ponto mais baixo do terreno para que a drenagem dos lixiviados ocorra de forma natural, por gravidade e sem bombeamento (CASTILHOS JUNIOR, 2003). Em aterros de maior porte, como no caso de aterros em rampa, o sistema de coleta de lixiviado precisa ser aplicado em todas as camadas de lixo. Normalmente, os tubos são instalados em canais cavados no solo ou acima da camada de impermeabilização e são completadas com material filtrante. Os drenos são comumente projetados em forma de “espinha de peixe”, com drenos secundários conduzindo os líquidos coletados para um dreno principal que levará ao poço de captação, sendo direcionados para o sistema de tratamento (VILHENA, 2018; LANGE et al., 2006). A Figura 3 ilustra o sistema de drenagem no formato de espinha de peixe. Para a realização do dimensionamento desse sistema, é essencial conhecermos a vazão de lixiviado a ser drenada e as condições geométricas da massa de lixo. Sua concepção dependerá da alternativa de tratamento adotada para o aterro sanitário (VILHENA, 2018). De qualquer forma, o cálculo inicia-se com a vazão de lixiviado de acordo com a Equação 7 (CASTILHOS JUNIOR, 2003): (Equação 3) 114 Em que: • O P representa a precipitação média anual em mm/ano. • O Q representa a vazão média em L/s. • O A representa a área da trincheira em m². • O t representa o número de segundos em um ano (31.536.000). • O K é um coeficiente que depende do grau de compactação dos resíduos. Aterros fracamente compactados, com densidade dos resíduos entre 400 e 700 kg/m³ possuem coeficiente de compactação entre 0,25 e 0,5. Se o aterro for fortemente compactado, os resíduos apresentando densidade maior do que 700 kg/m³, os valores de K ficam entre 0,15 e 0,25. Considerando a área da trincheira calculada anteriormente, de 43,8 m², uma precipitação anual média de 1500 mm, e adotando-se um valor de K de 0,5, a vazão de lixiviados será igual a: = 0,0014 L/s Se o lixiviado for removido da trincheira após o período de dois meses, haveria um total de 5,2 m³ para ser retirado. Por outro lado, se o lixiviado se acumular no fundo da trincheira, resultaria em uma altura de 20 centímetros. Para o dimensionamento do dreno adotado, utiliza-se a Equação 8: Q = V x A (Equação 8) Em que: • Q é igual a vazão em m³/s. • A é a área da seção transversal em m² e igual a πR². • V é a velocidade de escoamento em m/s, que fica na faixa de 1 a 5 m/s. Substituindo a fórmula da área na Equação 8, adotando-se a velocidade de escoamento de 2 m/s e dividindo-se a vazão de 0,0014 L/s por 1000 para converter em m³/s, tem-se o valor do raio necessário para a tubulação: , ou seja, , R = 0,0004 m = 0,04 cm = 0,4 mm Nesse caso, como o volume de lixiviado a ser gerado foi muito pequeno, o raio necessário da tubulação para conduzir a vazão seria de apenas 0,4 mm, portanto, adota-se o menor diâmetro comercial para a tubulação, que provavelmente seria o de 20 milímetros. 115 2.3.2 Sistema de coleta de gases Os gases gerados no aterro sanitário são também chamados de biogás e, assim como o lixiviado, são provenientes da decomposição da matéria orgânica que ocorre no sistema. É importante fazer essa coleta, pois esses gases podem migrar pelo subsolo, acumulando-se em redes de esgoto, fossas, poços e até abaixo de edificações (VILHENA, 2018). Como o biogás é inflamável, o acúmulo dos gases gerados pode representar um perigo nas imediações do aterro, pois, de acordo com Lange et al. (2006), a existência desses bolsões internos de gás pode gerar incêndios ou explosões e até agravar problemas de instabilidade no aterro. Sendo assim, toda migração do gás deve ser controlada pela rede de drenagem, que deve ser instalada em diversos pontos no aterro. Normalmente, esses drenos atravessam todo o aterro no sentido vertical, desde a base impermeabilizada até o topo da camada de cobertura. Além dos drenos verticais, podem ser projetados também os drenos horizontais para drenar de forma mais eficiente. No caso de aterro em valas, os drenos podem ser construídos na parte central e nas laterais, facilitando a exaustão dos gases. Em aterros muito pequenos, o sistema de gases pode ser dispensado pelo órgão ambiental. O dimensionamento desses drenos depende da vazão de biogás gerada, que precisará ser drenada (VILHENA, 2018). A previsão da geração de gases, no entanto, não é uma tarefa muito simples, muitos estudos têm sido feitos baseados na biodegradabilidade dos resíduos ou em métodos estequiométricos. Uma das alternativas apontadas pela literatura é que cada quilo de resíduos aterrado tem potencial para gerar um volume de 0,4 m³ de biogás. Outros autores sugerem a instalação de um dreno para cada 7.500 kg de resíduos aterrados (CASTILHOS JUNIOR, 2003). Um método de cálculo apresentado por Castilhos Junior (2003) considera as porcentagens de resíduos facilmente biodegradáveis e moderadamente biodegradáveis para estimar a produção de biogás. Considerando-se que em uma célula de aterro 63,4 % dos resíduos dispostos são biodegradáveis e, deste total, 56,7 % são facilmente biodegradáveis e 6,7 % são moderadamente biodegradáveis, estima-se que para uma tonelada de resíduos, sejam produzidos 50 m³ de biogás, sendo 44,7 % da fração facilmente biodegradável e 5,3 % da fração moderadamente biodegradável. Os drenos para o gás são normalmente tubos perfurados em linha, sobrepostos e envoltos por uma camada de brita, de espessura igual ao diâmetro do tubo. Um exemplo da construção de dreno e queimador de gases é apresentado na Figura 4. 116 Figura 4 – Exemplo de dreno e queimador de gás para aterros sanitários Fonte: http://tics.ifsul.edu.br/matriz/conteudo/disciplinas/dfr/ud/4/5.html. Acesso em: 28 set. 2022. Os tubos atravessam de forma vertical a massa de resíduos que estão sendo aterrados, constituindo uma chaminé. As chaminés podem ser construídas com manilhas drenantes de concreto armado, preferencialmente perfuradas, de 50 centímetros de diâmetro, espaçados entre 50 e 60 centímetros entre si e executados com pedra brita ou rachão. Existem duas formas de se executar os drenos de gás, sobe-se o dreno à medida que o aterro vai evoluindo e subindo ou escava-se a célula encerrada para implantar o dreno. Na ponta dos drenos, usualmente são instalados queimadores para que ocorra a queima do metano e sua transformação em dióxido de carbono. Em geral, o sistema de drenagem é do tipo aberto, com queimadores do tipo “flare”. Uma vez aberto o dreno, o solo ao seu redor deve ser aterrado com uma camada de argila, para evitar que o gás se disperse na atmosfera (MONTEIRO, 2001; LANGE et al., 2006; CASTILHOS JUNIOR, 2003; VILHENA, 2018). 117 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Como é definido o aterro sanitário, quais são os seus principais aspectos e o que deve ser abordado na realização de um projeto de aterro sanitário. Como pontos principais, pode ser destacado o memorial descritivo, contendo dados essenciais, as características do local, os princípios técnicos do projeto e a justificativa, a explicação e o detalhamento dos elementos do projeto, os dados sobre a operação do aterro e o uso previsto para a área após o encerramento. No memorial técnico, deve ser apresentado o dimensionamento e os cálculos fundamentais para todos os elementos do projeto de um aterro sanitário. • As diferenças de um projeto de aterro sanitário para um projeto de aterro industrial, com destaque para as exigências mais rigorosas, tanto na fase deprojeto quanto na fase de operação. Ressaltou-se também a necessidade de inspeção, manutenção e procedimentos para manter a segurança neste tipo de aterro que costuma receber resíduos perigosos. • Que o dimensionamento, tanto dos sistemas de coletas de efluentes líquidos quanto os sistema de efluentes gasosos dependem das estimativas de geração dessas substâncias e é fundamentalmente baseado na utilização de tubulações que serão projetadas e construídas nos aterros, para captar o lixiviado e o biogás gerados nos aterros sanitários e encaminhá-los para tratamento. 118 AUTOATIVIDADE 1 Na implementação de um aterro sanitário, usualmente precisa ser decidido qual será a metodologia que o aterro será operado e qual será a linha de tratamento utilizada. Essas escolhas normalmente são apresentadas na fase de concepção técnica e justificativa do projeto, apresentadas no memorial descritivo. Sobre esses elementos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As únicas opções disponíveis para a linha de tratamento são a digestão aeróbia e a digestão anaeróbia, sendo que esta última é a mais utilizada no Brasil. b) ( ) Para a metodologia de operação, podem ser adotados os métodos da trincheira ou vala, método da rampa ou tratamento por digestão semianaeróbia. c) ( ) O método da rampa também é chamado de escavação progressiva e ocorre pela escavação da rampa. É mais utilizado em áreas de meia encosta, com condições de escavação. d) ( ) O método da área é utilizado em locais com topografia plana e lençol freático profundo. 2 O memorial descritivo é um dos itens exigidos para o projeto de aterros sanitários. Entre as informações necessárias para esse item, estão a descrição e especificações dos elementos do projeto. Sobre esses elementos, analise as sentenças a seguir: I- O sistema de drenagem superficial será projetado para remover o lixiviado gerado na decomposição dos resíduos e, então, direcioná-lo para o sistema de tratamento. II- A impermeabilização do aterro tem como objetivo a proteção do solo e dos cursos d’água da contaminação. III- O único objetivo do componente de cobertura dos resíduos sólidos é evitar que o biogás seja liberado para a atmosfera, fazendo com que ele seja encaminhado diretamente para o sistema de drenagem de gases. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) A sentença III está correta. 3 O método das trincheiras é uma das formas de operação dos aterros sanitários. As trincheiras são escavações feitas no solo para o aterramento de resíduos e o método mais adequado para pequenos municípios. Sobre os aspectos construtivos das trincheiras, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: amele X amele x 119 ( ) As trincheiras podem ser construídas em formato de prisma, paralelepípedo com inclinação de 1:1 ou trapézio com inclinação de 1:2 ou 1:3. ( ) A quantidade de resíduos que será encaminhada diariamente para a trincheira não é um dado relevante para o seu dimensionamento, apenas o grau de compactação dos resíduos que normalmente fica entre 100 e 150 kg/m³. ( ) Usualmente, estima-se que a vida útil de uma trincheira seja de um a dois anos e a profundidade média de 2 a 3 metros. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 O propósito do sistema de impermeabilização é resguardar a parte inferior do aterro, para que o lixiviado não contamine o solo e as águas subterrâneas. Essa impermeabilização pode ser realizada aplicando camadas de solo como a argila, por exemplo, que é um solo impermeável ou utilizando as mantas impermeabilizantes, chamadas de geomembranas sintéticas. Explique as principais características dessas duas formas de impermeabilização. 5 Para o projeto de aterro industrial, é necessário um projeto mais elaborado, pois usualmente recebem resíduos classificados como perigosos. Relate os principais aspectos relacionados à segurança do aterro de resíduos perigosos. 120 121 TÓPICO 3 - LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos o licenciamento ambiental. Iniciaremos com uma introdução sobre o surgimento do licenciamento e os principais conceitos apresentados na legislação ambiental. Veremos que as resoluções do Conama são muito importantes para todo esse processo. Na sequência, analisaremos o passo a passo do licenciamento, os detalhes ne- cessários para as três etapas que são exigidas, a ordem em que acontecem, os proce- dimentos que devem ser realizados para ser possível completar o processo do licencia- mento e receber as licenças necessárias para o funcionamento do empreendimento. Sobre os estudos ambientais exigidos para o licenciamento, serão apresentados os conceitos e os detalhes necessários para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que é o levantamento mais completo estabelecido para as atividades que tem potencial para causar poluição, como os aterros sanitários. UNIDADE 2 2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL O licenciamento ambiental pode ser entendido como um processo pelo qual os empreendimentos, que têm potencial ou que causam impactos ao meio ambiente, precisam ser submetidos. Esse processo é gerenciado pelo órgão ambiental responsável que, na maioria das vezes, é o órgão estadual, mas, em alguns casos, se o empreendimento for de maior porte, estiver nos limites entre dois estados ou for de alguma atividade específica, por exemplo, o licenciamento pode ser competência do órgão federal. Iniciaremos o nosso tópico com um breve histórico e introdução sobre o licenciamento ambiental. O conceito de licenciamento ambiental surgiu com a Lei nº 6.938/1981, que lançou a Política Nacional de Meio Ambiente. Entre os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, estão a avaliação de impactos ambientais e o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. A avaliação de impactos ambientais tem como objetivo identificar e estimar a importância dos impactos ambientais, físicos, socioeconômicos e culturais, sejam positivos ou negativos, causados por um determinado empreendimento. Além disso, 122 avaliar se a realização do projeto é conveniente, levando em conta as vantagens e desvantagens e, caso a decisão seja favorável, podem ser propostas ações que causem menos impactos na implantação do empreendimento (VILHENA, 2018). A Lei nº 6.938/1981 indica que a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades que utilizem recursos ambientais, que causem ou possam causar poluição ou degradação ambiental, necessitam de um prévio licenciamento ambiental. Alguns anos depois, foi lançada a Resolução do Conama nº 1/1986, que dispõe so- bre critérios básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. No Artigo 2º, a lei diz que será necessário realizar estudo de impacto ambiental e seu respectivo relatório de impacto ambiental, que deve ser submetido ao órgão estadual, para o licenciamento de diversas atividades poluidoras, inclusive aterros sanitários, processamento e destino de resí- duos tóxicos ou perigosos (CONAMA, 1986. Portanto, até hoje os órgãos ambientais estadu- ais são os responsáveis pelo processo de licenciamento das principais atividades poluidoras. Em 1997, o Conama lança a Resolução nº 237, que dispõe sobre a revisão e complementação dos procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. De acordo com esta resolução, o conceito de licenciamento ambiental foi definido como: [...] procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelasque, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (CONAMA, 1997, p. 1). Aliado ao conceito de licenciamento, temos também o conceito da licença ambiental: [...] ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimento ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental (CONAMA, 1997, p. 1). De forma mais simplificada, a licença ambiental é obtida pelo empreendimento como o resultado da avaliação realizada pelo órgão ambiental, após passar pelo processo de licenciamento ambiental, garantindo que todas as recomendações e atividades necessárias para evitar a degradação ambiental foram cumpridas e continuarão a ser cumpridas no futuro, na etapa de renovação das licenças. De acordo com a Cartilha de licenciamento ambiental (2007), elaborada pelo Tribunal de Contas da União, em parceria com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA), o procedimento do licenciamento é uma sequência de 123 ações que visa um fi m, obter a licença ambiental. A licença ambiental é uma autorização concedida pelo órgão competente para que o empreendedor possa exercer as suas atividades sem causar prejuízo ao meio ambiente (TCU, 2007). Os trâmites para o licenciamento da área do aterro devem ser iniciados assim que o contrato para a execução dos serviços for assinado (MONTEIRO, 2001). O processo de licenciamento ambiental é composto por três etapas, que devem ser consecutivas: a licença prévia, a licença de implantação e a licença de operação. A licença prévia deve ser solicitada ainda na fase de concepção do empreendimento, nos primeiros 30 dias da assinatura do contrato, e não precisa acompanhar o projeto básico. A partir desse pedido, o órgão ambiental elaborará uma instrução técnica, ou chamado de termo de referência, que é um documento no qual serão defi nidos os aspectos ambientais mais relevantes, com as orientações sobre o que deve ser abordado nos estudos ambientais que serão exigidos. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), por exemplo, deve conter as alternativas tecnológicas e de localização e a análise de viabilidade ambiental; e para o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), as principais conclusões (MONTEIRO, 2001; TCU, 2007; VILHENA, 2018). Na sequência, verifi caremos detalhadamente quais são os conteúdos bási- cos necessários para a apresentação de um estudo de impacto ambiental. ESTUDOS FUTUROS De acordo com o porte do empreendimento, principalmente em empreendimentos de pequeno porte, o órgão ambiental pode dispensar a realização do EIA/RIMA ou solicitar um estudo simplifi cado. No entanto, a licença prévia também pode ser exigida em casos de ampliação da obra ou do empreendimento ou, ainda, de mudanças muito signifi cativas na concepção dos processos (VILHENA, 2018). Após solicitar a licença formalmente ao órgão ambiental e receber as devidas instruções necessárias para o início do processo de licenciamento, o empreendedor precisa contratar uma empresa para elaboração dos estudos ambientais. O pedido do licenciamento deverá ser publicado em um jornal ofi cial do estado e em um jornal regional ou local de grande circulação. É necessário obter, na prefeitura municipal, uma certidão indicando que o empreendimento está de acordo com o zoneamento municipal ou outras legislações e documentos, como autorizações para outorga da água e supressão da vegetação, dos respectivos órgãos responsáveis (TCU, 2007). 124 A licença prévia também pode ser considerada como um compromisso que o empreendedor assume de que vai seguir o projeto de acordo com os requisitos exigidos pelo órgão ambiental. Nesse sentido, a licença prévia está muito relacionada ao princípio da prevenção do direito ambiental. Durante o processo, são avaliadas algumas questões como: • os prováveis impactos ambientais e sociais do empreendimento; • a magnitude e a abrangência dos impactos; • as medidas que poderão mitigar os impactos; • as consultas dos órgãos ambientais e entidades do setor envolvidos; • em audiência pública, os impactos e medidas que serão discutidos com a comunidade; • a decisão sobre a viabilidade ambiental do empreendimento (TCU, 2007). Após receber a solicitação de licença e os documentos, o órgão ambiental fará a avaliação, podendo realizar visitas técnicas ou solicitar esclarecimentos, que devem ser atendidos pelo empreendedor dentro do prazo estabelecido. Nesta etapa da licença prévia, também pode ser exigida a realização da audiência pública. Esse processo ocorrerá caso haja solicitação pelo órgão ambiental, ou outra entidade civil, ou o Ministério Público ou, ainda, por abaixo-assinado de, pelo menos, 50 pessoas. Na audiência pública, a comunidade será chamada a participar do processo de licenciamento, nela o documento do RIMA é apresentado, sendo explicitadas as principais questões envolvendo o projeto, sanando dúvidas da população e anotando críticas e sugestões (TCU, 2007). Ainda, de acordo com a Cartilha de licenciamento ambiental (TCU, 2007), após a análise ser finalizada, o órgão responsável emitirá um parecer com a sua conclusão. Na expedição da licença prévia, o órgão também indicará as medidas mitigadoras que devem ser consideradas para o projeto. Após o pagamento da licença ambiental, o empreendedor pode retirar o documento e publicar no jornal oficial do estado e no jornal regional ou local. Estando com a licença prévia em mãos, o empreendedor pode dar início à elaboração do projeto básico, que é o projeto de engenharia, ou contratar a empresa que o elaborará. Para o caso dos aterros sanitários, o conteúdo exigido é o que foi abordado no Tópico 2. A licença de instalação permite que o empreendedor comece a implantação da obra. Para que essa licença seja liberada, deve ser comprovado que todas as exigências estabelecidas na etapa da licença prévia foram atendidas (VILHENA, 2018). Da mesma maneira que na etapa anterior, o empreendedor deve solicitar a licença de instalação ao órgão responsável, comprovando as exigências da licença prévia, conforme comentado, apresentando os planos, projetos e programas ambientais e um cronograma detalhado da implementação. Deve ser apresentado também o detalhamento do projeto de engenharia, principalmente nas partes relacionadas às questões ambientais. Após a entrega dos documentos, o órgão ambiental fará a análise, 125 emitirá o parecer, o empreendedor fará o pagamento da taxa cobrada pela licença, devendo, mais uma vez, publicar o recebimento da licença no jornal oficial do estado e no jornal regional ou local (TCU, 2007). O empreendedor deve, então, executar a obra, seguindo o projeto e todas as exigências determinadas, durante o prazo de validade da licença de instalação. Licitações de obras, instalações e serviços só podem ser realizadas após a obtenção da licença de instalação (TCU, 2007). A licença de operação é a última a ser solicitada, após o término da instalação do empreendimento, quando a operação poderá entrar em funcionamento. O empreendedor deve comprovar que implantou todos os programas ambientais, projeto de compensação ambiental e todas as condições estabelecidas na licença de operação. Com base nos documentos comprobatórios, o órgão ambiental liberará o parecer da licença de operação e será realizado o mesmo procedimento das licenças anteriores, pagamento e publicação nos jornais. Ao vencer o prazo da licença de operação, deve ser solicitada a renovação com antecedência mínima de 120 dias (TCU, 2007). 2.1 ESTUDOS AMBIENTAIS PARA LICENCIAMENTO A definição de estudos ambientais pode ser encontradana Resolução do Conama nº 237 (1997, p. 1) como sendo: [...] todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. Existem, portanto, diversos tipos de estudos ambientais que são requeridos pelo respectivo órgão ambiental, de acordo com as atividades exercidas, particularidades ou de acordo com o porte do empreendimento. Conforme já estudamos, o licenciamento de aterro sanitário convencional exige a realização do EIA/RIMA, que é o mais completo estudo ambiental, pois está incluído na lista dos empreendimentos com potencial para causar poluição apresentada na resolução do Conama nº 1/1986. 2.1.1 Definições de EIA e RIMA A Resolução do Conama nº 1/1986, além de abordar o licenciamento e a avaliação de impactos ambientais, trouxe também a exigência do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) associado ao processo de licenciamento para os empreendimentos potencialmente poluidores. 126 O EIA pode ser definido como “o exame necessário para o licenciamento de em- preendimentos com significativo impacto ambiental” (TCU, 2007, p. 33). Outra definição indica que o Estudo de Impacto Ambiental é um documento técnico científico que tem por objetivo embasar a avaliação dos impactos ambientais gerados pelos empreendi- mentos, permitindo a verificação de sua viabilidade ambiental (FIORENTIN, 2014). Por outro lado, o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) é um documento elaborado com uma linguagem apropriada ao entendimento do público, mas contém as informações técnicas apresentadas no EIA (FIORENTIN, 2014). Ele oferece todas as informações importantes para que a comunidade possa conhecer as vantagens e desvantagens do projeto e as implicações ambientais de sua implementação. O RIMA pode ser entendido como sendo um relatório gerencial (TCU, 2007; FIORENTIN, 2014). 2.1.2 Estudo de impacto ambiental De acordo com a Resolução do Conama nº 1/1986, o Estudo de Impacto Ambiental deve contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, comparando-as com a não realização do projeto. Deve também identificar e avaliar de forma sistemática os prováveis impactos gerados nas fases de implementação e operação do empreendimento. No EIA, deve ser definida a área de influência do projeto, considerando as áreas direta e indiretamente afetadas e deve considerar a compatibilidade com planos e programas governamentais propostos (CONAMA, 1986). 2.1.3 Conteúdo mínimo do EIA A Resolução do Conama nº 1/1986 destaca ainda quatro tópicos de conteúdo mínimo que o EIA deve conter. O primeiro tópico trata sobre o diagnóstico ambiental da área de influência do projeto. Deve ser apresentada uma descrição completa dos recursos ambientais tal como existem, ou seja, como a área se encontra no momento do estudo, caracterizando a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto. Precisam ser considerados: • o meio físico, incluindo o subsolo, as águas, o ar, o clima, os recursos minerais, a topografia, os tipos e usos do solo, os corpos d’água, o regime hidrológico, as correntes marinhas e as correntes atmosféricas; • para o meio biológico, devem ser investigadas as características dos ecossistemas em sua forma natural, abrangendo animais e vegetais, espécies que possam indicar a situação do meio ambiente, chamadas de indicadoras, a presença de espécies raras e em ameaça de extinção, espécies importantes para estudos científicos ou que tenham valor econômico e a existência de áreas de preservação permanente; 127 • no meio socioeconômico, devem ser apresentadas informações sobre o uso e a ocupação do solo, utilização da água, deve ser apontada a existência de locais importantes e monumentos arqueológicos, históricos e culturais. Ainda, deve ser investigada a organização da sociedade local, quais recursos estão presentes e qual o uso previsto para esses recursos (CONAMA, 1986). O segundo tópico aborda a análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, que deve ser feito pela identificação, avaliação da magnitude e interpretação dos prováveis impactos relevantes, especificando os impactos positivos e negativos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes. Ainda sobre os impactos, deve-se avaliar se são reversíveis, se tem propriedades cumulativas e sinérgicas e como ficam distribuídos os prejuízos e os benefícios sociais (CONAMA, 1986). No terceiro tópico, é exigida a definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, como os equipamentos de controle e os sistemas de tratamento de efluentes, por exemplo. Devem ser apresentadas também a eficiência das medidas adotadas. O quarto e último tópico compreende a elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando quais fatores e parâmetros serão considerados (CONAMA, 1986). 2.1.4 Relatório de Impacto Ambiental Apesar do Relatório de impacto ambiental ser um documento com proposta e finalidade diferente do EIA, como veremos, o seu conteúdo é similar. Vale dizer também que o RIMA não existe sem o EIA e vice-versa, ou seja, se for elaborado o EIA, obrigatoriamente ele deve vir acompanhado pelo RIMA e o RIMA também não pode ser apresentado isolado para o pedido da licença ambiental. 2.1.5 Conteúdo mínimo do RIMA De acordo com a Resolução nº 1/1986, o RIMA deve refletir as conclusões obtidas pelo EIA, além de possuir linguagem acessível como já mencionado, deve apresentar mapas, fotos, quadros, gráficos e materiais visuais que facilitem o entendimento das informações apresentadas, pois o documento deverá ficar acessível ao público. O relatório deve apresentar como conteúdo mínimo: • objetivos e justificativas do projeto e como está relacionado com políticas governamentais; • o projeto do empreendimento a ser construído, apresentando quais são as opções de locais e de tecnologia a ser utilizada. Deve ser detalhado para cada opção, tanto na etapa de construção quanto na de operação, as regiões que sofrerão a influência do empreendimento. Além disso, devem ser citados os insumos e mão 128 de obra necessários, as fontes e perdas de energia, quais serão os procedimentos e métodos de operação, os efluentes que serão gerados, as emissões e os empregos originados; • um compilado da avaliação ambiental prévia da região impactada pelo projeto; • o detalhamento dos possíveis impactos ambientais, levando em conta todas as questões envolvidas, apresentando as metodologias de levantamento e avaliação dos impactos; • as características ambientais previstas para o local no futuro, contrastando com as diferentes opções apresentadas e com a não realização do projeto; • o resultado esperado das medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos; • o programa de monitoramento dos impactos; • a recomendação quanto a melhor alternativa a ser adotada, as conclusões e comentários (CONAMA, 1986). 2.1.6 Impactos ambientais negativos que podem ser causados por aterros sanitários Como exemplo, serão apresentados alguns impactos ambientais negativos que podem ocorrer na instalação, operação e encerramento de aterros sanitários. A avaliação deve ser feita caso a caso, de acordo com as especificidades de cada local e projeto, porém, determinados aspectos podem servir como base para os estudos ambientais. De acordo com o Manual de Gerenciamento Integrado, na fase de implantação do aterro, que é a fase de obras, deve-se prestar atenção nos incômodos causados pela desapropriação de imóveis, na remoção da cobertura vegetal, em mortes e incômodos à fauna, nas alterações doescoamento superficial que podem causar erosão e consequente assoreamento do corpo d'água, na emissão de gases, material particulado e ruídos dos equipamentos, na poluição do solo com óleos e graxas, nas alterações de paisagem, na intensificação do trânsito em vias de acesso e na própria geração de resíduos sólidos e efluentes (VILHENA, 2018). Terminada a etapa da construção e iniciada a operação do aterro, determinados impactos deixam de acontecer como os impactos na desapropriação de imóveis; vários se mantêm, como a geração de gases, material particulado e ruídos dos equipamentos, a intensificação do trânsito em vias de acesso, a remoção da cobertura vegetal, as alterações do escoamento superficial entre outros; e outros surgem como a liberação de material esvoaçante dos veículos de transporte e da própria frente de trabalho, a geração de gases e odores pela decomposição do lixo, o espalhamento de resíduos ao longo das vias de acesso, por conta de perdas e lançamentos clandestinos, a proliferação de vetores e a poluição do solo e águas subterrâneas (VILHENA, 2018). Ainda, para a fase de encerramento ou desativação do aterro, devem ser observados principalmente a geração de gases, partículas, odores, a poluição do solo e das águas subterrâneas, a deterioração das estruturas do aterro, o uso incompatível da área, entre outros (VILHENA, 2018). 129 2.1.7 Licenciamento ambiental para aterros de resíduos sanitários de pequeno porte Conforme mencionado anteriormente, as etapas do licenciamento ambiental podem ser diferentes dependendo das características, porte e tipo de empreendimento, mas principalmente tendo em vista o potencial de poluição do empreendimento. Sendo assim, no ano de 2008, foi lançada a Resolução nº 404/2008 do Conama, que estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. De acordo com a Resolução nº 404/2008, é considerado um aterro sanitário de pequeno porte aqueles que recebam até 20 toneladas diárias de resíduos sólidos. Para este tipo de aterro, fica dispensada a realização de EIA/RIMA. Em locais que apresentem grandes variações nas quantidades geradas, como as cidades turísticas, devem estar previstos os prováveis aumentos no projeto (CONAMA, 2008). Os resíduos que podem ser depositados nos aterros de pequeno porte, além dos domiciliares, são os de limpeza urbana, os resíduos de serviços de saúde e os de pequenos estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços, desde que não sejam perigosos e tenham características similares aos resíduos domiciliares. Também podem ser recebidos lodos secos de estações de tratamento de água e esgoto, desde que atendam às especificações. Por outro lado, não podem ser dispostos resíduos perigosos, que apresentem risco à saúde e ao meio ambiente, nem resíduos da construção civil, provenientes das atividades agrossilvopastoris, de serviços de transporte, mineração e de saúde perigosos (CONAMA, 2008). A Resolução nº 404/2008 apresenta, ainda, as exigências para o licenciamento ambiental desses aterros de pequeno porte, sendo assim, os seguintes itens devem ser considerados: • as vias de acesso do local devem ter boas condições, mesmo em épocas de chuva; • as distâncias mínimas previstas devem ser cumpridas, tanto com relação às normas e leis, quanto relacionadas às áreas de preservação permanente, às unidades de conser- vação, aos ecossistemas suscetíveis e aos cursos d’água subterrâneos e superficiais; • os locais escolhidos para a construção do aterro devem ser adequados frente às questões hidrogeológicas, geográficas e geotécnicas. Devem ser respeitadas as normas de uso e ocupação do solo do município, estarem localizadas longe da região urbanizada e apresentarem baixo custo; • é indicado que a área escolhida apresente tamanho compatível para que o aterro possa receber resíduos por pelo menos 15 anos. Devem ser evitadas áreas de risco, a menos que sejam feitas intervenções para garantir a estabilidade da área, e não podem ser utilizadas áreas sensíveis e sujeitas a inundações; • deve ser apresentada uma descrição da população que será beneficiada com a obra, além da caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos; 130 • a capacidade prevista para o recebimento e gerenciamento dos resíduos deve ser destacada, aliada à caracterização da área, aos instrumentos para evitar e minimizar os impactos ambientais, ao planejamento da operação, monitoramento e controle, aos estudos ambientais e à anotação de responsabilidade técnica; • é exigido também um programa de educação ambiental que deve ser implementado concomitantemente com a implantação do aterro, desestimulando a geração de lixo e estimulando a coleta seletiva; • um projeto e um plano para o fechamento do aterro também precisam ser apresentados, incluindo a regeneração, o acompanhamento e a utilização esperada para a área, tanto para o caso de haver antigo lixão quanto para o novo aterro sanitário sugerido; • ainda, deve ser incluído o plano de gestão integrada de resíduos ou de saneamento do município em questão ou regional, em caso de o plano ter sido realizado em conjunto com outros municípios. Além disso, o órgão ambiental pode acrescentar exigências ou critérios, com base nas condições específicas locais. 131 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Um breve histórico sobre o licenciamento ambiental, a diferenciação entre os significados de licenciamento e licença. As fases do licenciamento ambiental que são três: licença prévia, licença de instalação e licença de operação e as demandas apresentadas em cada uma das fases. • Sobre os estudos ambientais que são exigidos no processo de licenciamento, com destaque para o EIA/RIMA, pois é o estudo comumente exigido pelo órgão ambiental responsável para o licenciamento de aterros sanitários. Foram expostos os conceitos e requisitos para o EIA/RIMA e as definições e o conteúdo básico tanto para o EIA, quanto para o RIMA. • Sobre alguns impactos ambientais que podem ocorrer na construção, operação e encerramento de um aterro sanitário, os quais podem orientar no desenvolvimento de estudos ambientais. • Os requisitos para o processo de licenciamento ambiental de aterros sanitários de pequeno porte, destacando-se a dispensa da elaboração do EIA/RIMA para esses empreendimentos. 132 AUTOATIVIDADE 1 A definição de licenciamento ambiental foi concebida pela Política Nacional de Meio Ambiente, lançada pela Lei nº 6.938/1981. A avaliação de impactos ambientais e o licenciamento de atividades que podem causar poluição são dois dos instrumentos apresentados pela Política Nacional de Meio Ambiente. Sobre esse assunto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A avaliação de impactos ambientais tem como objetivo identificar e estimar a importância dos impactos negativos, tanto ambientais quanto físicos, socioeconômicos e culturais, causados por um determinado empreendimento. b) ( ) De acordo com a resolução do CONAMA nº 237/1997, o licenciamento ambiental licencia a localização e a instalação de empreendimentos e atividades potencialmente poluidoras. c) ( ) A licença ambiental é uma autorização concedida pelo órgão competente para que o empreendedor possa exercer as suas atividades, sem causar prejuízo ao meio ambiente. d) ( ) O processo de licenciamento ambiental é composto por duas etapas, a licença prévia e a licença de instalação. 2 Os trâmites para o licenciamento da área do aterro devem ser iniciados assim que o contrato para a execução dos serviços for assinado. O processo de licenciamento ambiental é composto por algumas etapas, que devem ser consecutivas. Sobre as etapas do licenciamento ambiental, analise as sentenças a seguir: I- A licença prévia deve ser solicitada ainda na fase de concepção do empreendimento. A partir desse pedido, o órgão ambiental elaborará uma instrução técnica, com as orientações sobre o3.1.7 Precipitação química ..............................................................................................................177 3.1.8 Filtração por membrana ........................................................................................................ 178 3.1.9 Processo biológico ................................................................................................................. 178 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................180 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 181 TÓPICO 2 - GASES EM ATERRO .........................................................................................183 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................183 2 GASES EM ATERROS .......................................................................................................184 2.1 COMPOSIÇÃO, CARACTERÍSTICAS, GERAÇÃO E TRANSPORTE DOS GASES NO INTERIOR DOS ATERROS ..........................................................................................................184 2.1.1 Histórico do biogás .................................................................................................................184 2.1.2 Composição do biogás ..........................................................................................................185 2.1.3 Mercado do biogás .................................................................................................................186 2.2 GERAÇÃO DO BIOGÁS .................................................................................................................... 187 2.2.1 Histórico da digestão anaeróbia .......................................................................................... 187 2.2.2 Digestão anaeróbia: geração de biogás ...........................................................................188 2.3 TRANSPORTE DO BIOGÁS NO INTERIOR DOS ATERROS .........................................................191 2.3.1 Difusão ........................................................................................................................................191 2.3.2 Advecção ...................................................................................................................................191 2.3.3 Sorção e atenuação microbiológica .................................................................................. 192 3 PRINCIPAIS FATORES INTERVENIENTES NA GERAÇÃO E COMPOSIÇÃO DO BIOGÁS ........192 3.1 COMPOSIÇÃO E IDADE DO RESÍDUO ........................................................................................... 193 3.2 TEOR DE UMIDADE DO RESÍDUO .................................................................................................. 193 3.3 EFEITO DA TEMPERATURA DO RESÍDUO ................................................................................... 194 3.4 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH) DO RESÍDUO ................................................................... 195 3.5 DISPONIBILIDADE DE MICRORGANISMOS E NUTRIENTES NA MASSA DE RESÍDUO ...... 195 3.6 PRECIPITAÇÃO .................................................................................................................................. 196 3.7 CÉLULAS DE RESÍDUO .................................................................................................................... 196 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 197 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................198 TÓPICO 3 - EMISSÃO DE GASES DE FORMA FUGITIVA EM ATERRO ..............................201 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................201 2 EMISSÕES FUGITIVAS EM ATERRO ...............................................................................201 2.1 EMISSÃO FUGITIVA .......................................................................................................................... 202 2.1.1 Oxidação biológica do metano pela camada de cobertura de aterros sanitários ......... 202 2.1.2 Fatores intervenientes na oxidação biológica pela camada de cobertura de aterros sanitários .................................................................................................................... 203 2.1.3 Materiais empregados na camada de cobertura para oxidação do metano .......... 204 3 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE EMISSÕES FUGITIVAS ........................................... 205 3.1 MÉTODO DO GÁS TRAÇADOR ........................................................................................................ 205 3.2 CÂMARA DE FLUXO ........................................................................................................................ 206 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 209 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................212 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................213 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................215 1 UNIDADE 1 - ATERRO SANITÁRIO E INDUSTRIAL: ASPECTOS CONCEITUAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os tipos de resíduos e suas principais características; • aprender sobre as formas de disposição e tratamento de resíduos; • compreender o que são aterros sanitários e aterros industriais e qual a importância de cada um; • aprender quais as diferenças entre o aterro sanitário e o industrial. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RESÍDUOS: CONCEITOS BÁSICOS TÓPICO 2 – ATERRO SANITÁRIO TÓPICO 3 – ATERRO SANITÁRIO INDUSTRIAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 RESÍDUOS: CONCEITOS BÁSICOS 1 INTRODUÇÃO As novas dinâmicas sociais que passaram a ser desenvolvidas em virtude da pandemia trouxeram um relevante impacto na temática dos resíduos sólidos, que foram afetados pelo deslocamento e concentração das atividades nas residências, ou seja, para onde foram transferidas boa parte do descarte dos materiais consumidos. Antes da pandemia ocasionada pela Covid-19, a produção de resíduos sólidos era descentralizada, ou seja, sua origem estava em diferentes regiões das cidades, visto que as atividades diárias eram desempenhadas em diferentes locais, por exemplo, nos escritórios, nas escolas, nos grandes centros comerciais, entre outros lugares. Nesse sentido, você já parou para pensar na quantidade de resíduos que você e sua família geram por dia, mês ou ano? De acordo com os dados oriundos da publicação do Panorama dos Resíduos Sólidos, elaborada pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2020), a geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil é considerada expressiva, pois foram produzidos, aproximadamente, 225.965 t/dia ou 82,5 milhões de toneladas no ano de 2020. Com relação à coleta desses resíduos produzidos para o ano de 2020, foi de aproximadamente 92% do total, ou seja, 76.079.836 t/ano. Esse valor é expressivo e refere-se à nova dinâmica imposta à boa parte dos brasileiros. Outros questionamentos muito pertinentes a esse assuntoque deve ser abordado nos estudos. II- A licença de instalação será expedida automaticamente, assim que a licença prévia for aprovada. III- A licença de operação é a última a ser solicitada, após o término da instalação do empreendimento, quando então a operação poderá entrar em funcionamento e tem prazo indeterminado. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença I está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) A sentença afirmativa III está correta. 133 3 As etapas do licenciamento ambiental podem ser diferentes de acordo com as características, porte, tipo de empreendimento, mas principalmente tendo em vista o potencial de poluição do empreendimento. Sobre o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) De acordo com a Resolução do Conama nº 404/2008, um aterro sanitário de pequeno porte pode receber até 50 toneladas por dia de resíduos sólidos. ( ) Os resíduos que podem ser depositados nos aterros de pequeno porte são apenas os domiciliares e os de limpeza urbana. ( ) Para os aterros sanitários de pequeno porte fica dispensada a realização de EIA/ RIMA. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Os estudos ambientais são definidos como quaisquer estudos relacionados aos aspectos ambientais e associados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como requisito e como base para a análise da licença requerida. Entre os estudos ambientais, o EIA e o RIMA podem ser considerados os mais importantes. Explique os conceitos e as diferenças entre eles. 5 Para o Estudo de Impacto Ambiental e avaliação de impacto ambiental, devem ser levantados todos os possíveis impactos ambientais que podem ser causados pela atividade. Aponte alguns dos principais impactos que podem ser causados na construção de aterros sanitários. 134 135 TÓPICO 4 - MONITORAMENTO AMBIENTAL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tópico 4, abordaremos o monitoramento ambiental. Iniciaremos com o conceito de monitoramento, ressaltando os tipos de monitoramento que devem ser realizados em um aterro sanitário. Apesar de existirem outros tipos de monitoramento, o enfoque será dado ao monitoramento da água e do ar. Com relação ao monitoramento da água, observaremos que este pode ser dividido em monitoramento da água superficial e subterrânea e ambos são muito importantes para se avaliar o desempenho do aterro sanitário e a possibilidade de contaminação. Estudaremos também quais são os parâmetros mais importantes que devem ser avaliados neste processo de monitoramento e analisar alguns exemplos de estudos que fizeram esse tipo de avaliação e quais foram suas principais conclusões. Por fim, será abordado o monitoramento atmosférico, que está relacionado com a qualidade do ar. Neste quesito, é importante, principalmente, o monitoramento de gases e de material particulado, sendo apresentados estudos que realizaram essas avaliações. UNIDADE 2 2 MONITORAMENTO AMBIENTAL De maneira geral, o conceito de monitoramento ambiental está associado a um acompanhamento realizado em pontos estratégicos do meio ambiente, que possam es- tar sofrendo interferência humana. O monitoramento é muito relevante, principalmente, para que se tenha um conhecimento prévio das condições ambientais e, assim, seja possível fazer uma comparação das condições naturais com as condições atuais. Afinal, se não conhecermos as características padrão, como saberemos se ocorreu modifica- ção? Essa é a questão principal que pode ser colocada para a reflexão. Daremos início ao assunto apresentando alguns conceitos. O sistema de monitoramento requer um controle e uma supervisão no funcio- namento de um processo, possibilitando fazer modificações a partir dos resultados ob- servados. Com o sistema de monitoramento, podem ser identificados logo no início, de maneira preliminar, impactos ambientais negativos que estejam sendo causados por um processo ou atividade, possibilitando a implantação de ações para controlar ou diminuir os impactos, antes que atinjam maiores proporções e sua correção se torne mais difícil (VILHENA, 2018). A partir disso, podemos entender o quão importante o monitoramento 136 é, pois sem ele não sabemos o que está acontecendo no nosso empreendimento ou para este caso, no aterro sanitário. A partir do monitoramento, podemos detectar de for- ma rápida quaisquer problemas que estejam acontecendo e então agir para corrigi-los. Castilhos Junior (2003), apresenta outro conceito para o monitoramento ambiental de aterros sanitários, definindo-o como um grupo de medidas empregadas para observar os impactos e riscos ambientais que podem ser gerados. Além disso, o monitoramento é uma ferramenta para identificar a eficiência do funcionamento dos sistemas construídos no aterro que visam a proteção do meio ambiente. O monitoramento deve ser previsto para as fases de implantação, operação e após o encerramento do aterro. Na etapa de construção, o monitoramento auxilia na realização da avaliação ambiental prévia do local, principalmente na análise dos corpos d’água que são mais suscetíveis à contaminação causada pelo lixiviado e porque podem propagar a contaminação. Na etapa de operação, será dado continuidade ao monitoramento, com o acompanhamento do lixiviado e do biogás produzidos pela decomposição dos resíduos. Após a finalização do recebimento de resíduos no aterro, o monitoramento deve continuar, porém, podem ser flexibilizadas a frequência da coleta de amostras e das análises (CASTILHOS JUNIOR, 2003). A norma NBR 8419/1992 também aborda a questão da necessidade de se fazer um levantamento das características da região que sofrerá com os impactos do aterro, com enfoque para a observação da qualidade das águas superficiais e subterrâneas e depois apresentar uma proposta para o monitoramento enquanto o aterro estiver em operação e após a finalização das atividades. Além disso, recomenda-se que seja organizado um plano para a verificação de outros componentes do aterro. Toda essa etapa é considerada como sendo o controle tecnológico (ABNT, 1992). Um aterro sanitário necessita de monitoramento ambiental e de monitoramen- to geotécnico. O monitoramento geotécnico deve controlar os deslocamentos verticais e horizontais, o nível de lixiviado, a pressão de biogás dentro do aterro e a descarga de lixiviado pelos drenos. Devem ser realizadas, ainda, verificações periódicas, a fim de encontrar sinais de erosão, trincas ou outros problemas (VILHENA, 2018). Além disso, o trabalho de enchimento das células deve ser acompanhado de forma topográfica, assim como a execução da declividade de fundo dos drenos secundários e do coletor princi- pal, de modo que o escoamento do lixiviado ocorra de forma correta (MONTEIRO, 2001). Por outro lado, o monitoramento ambiental abrange o controle da qualidade das águas subterrâneas e superficiais, o controle da qualidade do ar, o controle da poluição do solo, o controle de insetos e vetores de doenças, de ruído e vibração, de poeira e material esvoaçante e o controle de impactos visuais negativos. Para efetuar esse monitoramento, podem ser instalados poços, piezômetros, medidores de deslocamentos horizontais e verticais, medidores de vazão, podem ser realizadas análises físico- 137 químicas e biológicas e outras inspeções diversas. A frequência de coleta de amostras e medições no local, os parâmetros a serem analisados e as técnicas utilizadas devem ser discutidos com o órgão ambiental para serem apresentados no projeto (VILHENA, 2018). 2.1 MONITORAMENTO DE ÁGUA Para o monitoramento da água, vale ressaltar a importância do monitoramento na etapa de implantação, ou seja, do diagnóstico, para as próximas etapas do monitoramento,pois servirá como base, valores naturais ou de fundo, para os parâmetros monitorados. O diagnóstico é realizado por meio de coletas de amostras de água e da análise em laboratório para a determinação dos parâmetros indicadores de qualidade. O sistema de monitoramento será formado pelos pontos de coleta de amostra definidos de acordo com a localização do aterro e dos corpos d’água (CASTILHOS JUNIOR, 2003). 2.1.1 Monitoramento de águas subterrâneas A norma NBR 15849/2010 define o sistema de monitoramento de águas subterrâneas como “estruturas, instrumentos e procedimentos que têm por objetivo a avaliação sistemática e temporal das alterações da qualidade das águas subterrâneas” (ABNT, 2010), ou seja, avalia-se de forma organizada e periódica a qualidade das águas subterrâneas a fim de se identificar a ocorrência de alterações. Com o objetivo de estabelecer o diagnóstico das águas subterrâneas, ou seja, conhecer a qualidade da água antes da implantação do aterro, implanta-se um conjunto de poços de monitoramento, que devem ser construídos de acordo com as normas. Os poços de monitoramento são distribuídos de forma estratégica pelo aterro, sendo necessário, no mínimo, um poço a montante da área do aterro e três poços a jusante, todos no sentido do fluxo do escoamento do lençol freático, conforme ilustrado na Figura 5. A partir dessa localização dos poços, será possível detectar se a disposição de resíduos na área do aterro está influenciando na qualidade da água subterrânea (CASTILHOS JUNIOR, 2003). 138 Figura 5 – Localização dos poços de monitoramento Fonte: Monteiro (2001, p. 169) Antes de se realizar a primeira coleta, o poço deve ser esgotado uma vez e aguardado o retorno do nível da água, pois a água parada não pode ser considerada representativa. Tanto para o esgotamento quanto para as coletas, devem ser utilizados coletores ou amostradores especiais, do tipo garrafa coletora. Devem ser tomados todos os cuidados e seguidas as recomendações vigentes para o esgotamento, coleta e para o armazenamento e preservação das amostras (CASTILHOS JUNIOR, 2003). Com relação à frequência das coletas, recomenda-se que sejam realizadas pelo menos quatro vezes ao ano em cada poço, sendo analisados todos os parâmetros a serem monitorados. Isso deve ocorrer durante todo o período em que o aterro ainda apresentar algum tipo de emissão (durante e após a operação). Os métodos e técnicas para amostragem e análises normalmente utilizados são os recomendados pelo manual da Associação Americana de Saúde Pública, o Standard Methods for Examination of Water and Wastewater (CASTILHOS JUNIOR, 2003; VILHENA, 2018). Para os aterros de resíduos perigosos também está previsto o monitoramento das águas subterrâneas, de acordo com a NBR 10157/1987. De forma similar aos aterros comuns, também são recomendados a instalação de quatro poços, um a montante e três a jusante, no sentido do escoamento do lençol freático. Os poços devem ter diâmetro mínimo para permitir a coleta e devem ser revestidos e tampados na parte de cima para evitar contaminação (ABNT, 1987). No programa de monitoramento do aterro de resíduos perigosos, inicialmente devem ser estabelecidos os valores base dos parâmetros que serão monitorados, por meio de quatro amostragens com intervalos de três meses. Devem ser apresentados os parâmetros que serão monitorados, considerando os tipos de resíduos que vão ser dispostos, se os constituintes têm mobilidade, são estáveis ou persistentes, e possíveis reações que podem ocorrer no aquífero. Além disso, deve-se indicar os limites de detecção dos métodos, parâmetros que possam indicar pluma de contaminação e procedimentos para coleta, preservação da amostra e análise. Recomenda-se, ainda, 139 a análise de todos os parâmetros pelo menos quatro vezes ao ano, em cada poço e o registro do nível do lençol freático, bem como a direção e a velocidade do escoamento, a cada coleta (ABNT, 1987). 2.1.2 Monitoramento de águas superficiais Da mesma forma que para as águas subterrâneas, a norma NBR 15849/2010 também traz a definição do monitoramento das águas superficiais como sendo “estruturas, instrumentos e procedimentos que têm por objetivo a avaliação sistemática e temporal das alterações da qualidade das águas superficiais” (ABNT, 2010). Quando houver, na área impactada pelo aterro sanitário, nascentes, vertentes, rios, córregos, represas ou lagos, deve ser realizado o monitoramento das águas superficiais. Usualmente, o lixiviado, após o tratamento, é lançado no corpo hídrico mais próximo, sendo assim, devem ser acompanhadas as suas características, com um ponto de coleta 100 metros a montante do ponto de descarga do efluente e outro a 50 metros a jusante. Além disso, todos os corpos d’água que estejam integrados deverão ser acompanhados, de acordo com os pontos de amostragem determinados para cada local. A amostragem e as análises laboratoriais devem seguir as recomendações vigentes e o Standard Methods for Examination of Water and Wastewater, no entanto, o órgão ambiental igualmente pode fazer recomendações. A amostragem pode ser feita utilizando-se os próprios frascos de coleta ou com coletores específicos. A frequência das coletas deve ser mensal, mas pode ser alterada ao longo do plano de monitoramento, se houver necessidade (CASTILHOS JUNIOR, 2003). 2.1.3 Parâmetros a serem analisados Tanto para os aterros sanitários convencionais quanto para os de resíduos perigosos, a qualidade exigida para as águas subterrâneas é a do padrão de potabilidade da legislação vigente, podendo o órgão ambiental estabelecer critérios caso a caso, quando algum parâmetro normalmente apresentar concentração acima do permitido pela legislação vigente ou quando o principal poluente emitido não tiver sido abordado pela legislação (ABNT, 1987; CASTILHOS JUNIOR, 2003). Alguns parâmetros importantes são: cor aparente, turbidez, sólidos dissolvidos totais, amônia, dureza, ferro, manganês, coliformes totais e escherichia coli. Por outro lado, para as águas superficiais, os parâmetros a serem monitorados devem observar a Resolução do CONAMA nº 357/2005 que dispõe sobre a classificação dos corpos hídricos em classes, de acordo com a qualidade. Os parâmetros mais comumente utilizados em análises de qualidade da água são o pH, a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), o oxigênio dissolvido, a turbidez, a cor verdadeira, os coliformes totais e escherichia coli, além do nitrogênio amoniacal total e do fósforo total, sendo que os valores variam para cada classe de corpo hídrico. 140 2.1.4 Exemplos de monitoramento de águas em aterros A fim de entendermos melhor os conceitos de monitoramento de águas em aterros, apresentaremos alguns exemplos de estudos que realizaram esta avaliação. Beck et al. (2010) realizaram o monitoramento de águas subterrâneas no local de disposição de resíduos sólidos urbanos da cidade de Passo Fundo no Rio Grande do Sul. O local funcionava como área de disposição irregular de resíduos e, posteriormente, foi transformado em aterro controlado. Foram instalados um poço a montante e três a jusante da célula de resíduos, sendo avaliados os parâmetros pH, DQO, DBO, cloretos, nitrato, nitrito, nitrogênio total, dureza, turbidez, condutividade elétrica, cromo hexavalente, sódio, zinco, cobre, ferro, magnésio, potássio, coliformes totais e fecais, e bactérias heterotróficas. Fazendo-se a comparação com as legislações vigentes, Beck et al. (2010) relataram que a qualidade das águas subterrâneas se encontrava em desacordo com relação aos parâmetros microbiológicos, pH, concentração de ferro, nitrato e turbidez. Além disso, valores encontrados para parâmetros não citados nas legislações, como DBO, DQO e nitrogênio total sugeriram que a qualidade da água subterrânea poderia estar sendo comprometida pela contaminação pelo lixiviado (BECK et al., 2010). De forma similar, Mondelli, Giacheti e Hamada (2016) avaliaram a contaminação por meio de poçosde monitoramento no entorno de um aterro de resíduos sólidos urba- nos. Foram avaliados 16 poços em áreas diferentes do aterro, para os parâmetros tem- peratura, pH, condutividade elétrica, cloretos, carbono orgânico total, sulfatos, sulfetos, nitrogênio amoniacal, nitratos, nitritos, nitrogênio total, fosfato, DQO, DBO, coliformes totais, escherichia Coli, e os metais zinco, chumbo, níquel, cádmio, ferro e cromo. Após o estudo, os autores ressaltaram a importância de se ter os valores de base, analisados antes da construção do aterro, para poder ser feita uma avaliação mais correta. Também ponderaram que os poços de monitoramento são uma técnica excelente para a ava- liação da contaminação, no entanto, os diferentes tipos de solo, formas de perfuração, nível de água e outros fatores podem influenciar nos resultados. Sugere-se, ainda, a continuidade dos estudos, tendo em vista que foi possível a observação da influência do aterro sobre o aquífero (MONDELLI; GIACHETI; HAMADA, 2016). Para o monitoramento de águas superficiais também são encontrados diversos estudos, como o de Martins (2018), que monitorou o corpo hídrico que recebe os efluentes do aterro sanitário de Rio Branco, no Acre. Foi realizado um monitoramento mensal sendo coletadas em um ponto a montante, um na zona de mistura e um a jusante do lançamento dos efluentes. Foram analisados os parâmetros pH, turbidez, temperatura, oxigênio dissolvido, sólidos dissolvidos totais, DBO, nitrogênio amoniacal, fósforo total e coliformes termotolerantes. Os resultados foram comparados com a Resolução do Conama nº 357/2005 para a Classe II dos corpos hídricos e foi observado que os parâmetros DBO e nitrogênio total apresentaram concentração acima do 141 recomendado, principalmente para o ponto a jusante, sendo, portanto, indicadas propostas para manutenção do monitoramento, estudo de autodepuração e melhoria do sistema de tratamento de efluentes (MARTINS, 2018). Por outro lado, Catapreta et al. (2021) avaliaram três córregos localizados no entorno da central de tratamento de resíduos sólidos de Belo Horizonte, Minas Gerais, onde fica localizado o aterro sanitário da cidade. O trabalho apresentou dados de monitoramento referente a um período de dez anos de coletas de amostras trimestrais. Foram avaliados os parâmetros cloreto, coliformes totais, condutividade elétrica, cor verdadeira, DBO, DQO, fósforo total, nitrato, nitrito, nitrogênio amoniacal, pH, turbidez e sólidos dissolvidos totais. Os resultados foram comparados com a Resolução do Conama nº 357/2005. Para os parâmetros microbiológicos, os resultados estiveram acima dos limites permitidos em todos os córregos e para sólidos dissolvidos, para um dos córregos. No entanto, como os valores para os demais parâmetros avaliados estiveram dentro dos limites estabelecidos, não foi confirmada a existência da poluição proveniente do aterro (CATAPRETA et al., 2021). Este estudo é interessante, pois demonstra que as construções e as operações corretas de aterros sanitários para a disposição dos resíduos sólidos minimizam os riscos de contaminação das águas superficiais e essas informações só podem ser obtidas por meio do monitoramento. 2.2 MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO O monitoramento atmosférico de um aterro sanitário tem como principal função avaliar a liberação de gases gerados pela decomposição dos resíduos. Os gases produzidos são captados, conforme observamos no Subtópico 2.3.2 e, de acordo com Castilhos Junior (2003), a principal opção comumente adotada para a atenuação dos efeitos negativos da liberação dos gases, é por meio da queima do gás. Como pontos de amostragem para o monitoramento, normalmente são escolhidos os próprios pontos de captação e queima de gases. Para o monitoramento do biogás, usualmente são avaliados o metano (CH4), o dióxido de carbono (CO2), o nitrogênio (N2) e o oxigênio (O2), sendo o metano o gás de principal interesse (justamente por ser considerado um gás de efeito estufa, juntamente com o gás carbônico). Para a análise de gases, normalmente se utiliza a técnica da cromatografia gasosa, pois tem elevada precisão, porém, equipamentos portáteis de medição também podem ser utilizados (CASTILHOS JUNIOR, 2003). Além disso, o monitoramento da qualidade do ar também deve levar em conta que nos aterros normalmente ocorre um alto fluxo de veículos, máquinas e equipamentos, que acabam liberando material particulado que fica em suspensão e flui pelo ambiente sem controle e sujeitos à ação dos ventos. Essas condições podem trazer desconfortos para a população do entorno e até riscos à saúde. Portanto, podem ser realizadas amostragens de partículas em suspensão e inaláveis que serão correlacionadas com variáveis do clima como temperatura, umidade e precipitação, que 142 influenciam no comportamento das partículas. Os resultados podem ser comparados com os padrões de qualidade do ar, apresentados na Resolução do Conama nº 3/1990. A forma e a frequência de coleta de dados podem ser indicadas pelo órgão ambiental (BORGES; VIMIEIRO; CATAPRETA, 2016). Salles e Piuzana (2013) avaliaram a qualidade do ar com relação ao material particulado na área de influência do aterro sanitário de Belo Horizonte, mencionando as concentrações de partículas totais em suspensão e partículas inaláveis. Para a realização das coletas, os autores instalaram coletores especiais, levando em consideração a direção do vento, chamados de amostradores de grandes volumes do tipo Hi-Vol para a coleta de partículas totais em suspensão, e coletores do tipo PI para as partículas inaláveis. Comparando os resultados com os limites estabelecidos na legislação, os autores observaram que o limite estabelecido não foi ultrapassado para as partículas inaláveis, porém, para as partículas totais em suspensão, sim. Portanto, reforça-se a necessidade do monitoramento, visando manter a qualidade do ar nas regiões de entorno de aterros sanitários. Com relação ao monitoramento da qualidade do ar, estudos têm sido apresentados no sentido de alertar para a necessidade de se ter um gerenciamento da qualidade do ar em áreas próximas a terrenos contaminados ou de depósitos de resíduos sólidos, como demonstra o trabalho de Bezerra, Silva e Jucá (2018) que fizeram um levantamento da legislação do Brasil e da Colômbia, e apresentaram estudos de caso de monitoramento de biogás. Os autores concluíram que a legislação brasileira já apresenta alguns avanços, porém, reforça-se a necessidade de estudos da qualidade do ar devido aos riscos que dissipação do biogás pode causar. 143 PANORAMA GERAL DAS CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO DOS ATERROS SANITÁRIOS COM BASE NO SNIS (2017) Andreza Sousa Gonçalves Gemmelle Oliveira Santos Hábila Adriele de Souza Santos Mateus de Sousa Nogueira Pollyana Rodrigues de Carvalho A gestão e o gerenciamento adequados dos resíduos sólidos urbanos representam um importante desafio para os municípios, visto que a geração ocorre de forma ininterrupta com ampliados impactos negativos sobre o ambiente, a economia e a saúde da população. Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010), cada município deve empreender esforços para não gerar, reduzir, reutilizar, reciclar e tratar resíduos e para dispor adequadamente seus rejeitos (Artigo 7º, II, Lei nº 12.305/2010) a partir de uma visão sistêmica (Artigo 6º, III) e cooperação entre os diferentes segmentos da sociedade (Artigo 6º, III). No que diz respeito à disposição final, apenas aterros sanitários são permitidos no Brasil (desde 2010), por representarem – conforme a PNRS (Artigo 3º, VIII) e a NBR nº 8.419/1992 (Item 3.2) – uma técnica de distribuição ordenada de rejeitos no solo baseada em normas de projeto e operacionais específicas. Tais obras buscam evitar danos ou riscos à saúde pública, à segurança e minimizar os impactos ambientais adversos dos resíduos (para isso, utilizam-se princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menorárea possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores, se necessário). No Brasil, as informações sobre os aterros sanitários variam conforme a fonte consultada (ABRELPE, IBGE, CEMPRE), sendo que em 1996, o Governo Federal criou e, desde então, administra uma importante base de dados sobre o setor: o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). O SNIS está vinculado à Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) do Ministério das Cidades (MCidades) e tem como objetivo se constituir em uma ferramenta para auxiliar no(a): planejamento e execução de políticas públicas de LEITURA COMPLEMENTAR 144 saneamento; orientação da aplicação de recursos; conhecimento e avaliação do setor; avaliação de desempenho dos prestadores de serviços; aperfeiçoamento da gestão; orientação de atividades regulatórias e de fiscalização; e exercício do controle social. O SNIS foi a principal fonte de dados para o desenvolvimento dessa pesquisa por ser reconhecido como o mais robusto banco de dados existente no país sobre os serviços de saneamento. As informações obtidas por meio do SNIS são fornecidas diretamente pelos titulares dos serviços de saneamento (os municípios) e todas são abertas e disponibilizadas para o público gratuitamente. As análises apresentadas nessa pesquisa sobre as condições de funcionamento dos aterros sanitários não almejam esgotar a ampla possibilidade de avaliações que o conjunto de informações e indicadores escolhidos permite, sendo apenas um retrato sobre o setor. No Brasil, existem 640 aterros sanitários (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS, 2017), mas nem todos funcionam sob rígido controle administrativo, operacional e ambiental. Essa pesquisa apresenta e discute os dados mais recentes sobre as condições de funcionamento desses empreendimentos e se baseou nos relatórios do SNIS intitulados Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições de funcionamento dos aterros sanitários do Brasil com base nos dados mais recentes publicados pelo SNIS em 2017. O SNIS é uma importante ferramenta de controle social e garante à sociedade informações que permitem avaliar os serviços públicos de saneamento básico. Todas as informações do SNIS são fornecidas anualmente pelos prestadores de serviços. O Ministério das Cidades, desde 2002, coleta informações referentes ao manejo de resíduos sólidos urbanos e publica anualmente um relatório intitulado Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos, abrangendo aspectos operacionais, administrativos, econômico-financeiros, contábeis e de qualidade dos serviços. Diante dessas informações, o presente trabalho foi desenvolvido em duas etapas: a primeira envolveu uma consulta à base de dados do SNIS para extração dos dados relativos ao objeto de estudo para o ano de 2017; na segunda etapa, realizou-se a interpretação dos dados e discussão frente a literatura. A seguir são mostradas as perguntas que nortearam o processo de avaliação das condições de funcionamento dos 640 aterros sanitários do Brasil. Temas utilizados na avaliação dos aterros sanitários do Brasil: pergunta de partida: quantos aterros sanitários do Brasil possuem/funcionam/realizam... licença de operação? Licença de instalação? Licença prévia? Sem licença? Com outro tipo de autorização? Sem nenhum(a) dado/informação? Cerca perimetral? Prédio administrativo? Serviço de vigilância? Cobertura dos resíduos? Drenagem de águas pluviais? Impermeabilização a base? Drenagem de chorume? Tratamento interno de chorume? Tratamento externo de chorume? Recirculação de chorume? Drenagem de gases? Sistemas de aproveitamento de gases? 145 O trabalho permitiu identificar, com elevado grau de objetividade, a situação de funcionamento dos aterros brasileiros de municípios participantes do SNIS. A análise de dados secundários permite economia de tempo, redução de custos e proporciona aprofundamento de conhecimentos no tema pesquisado (SOUZA, 2013; ZAMBERLAN, 2008; PRODANOV; FREITAS, 2013). Conforme os dados do SNIS (2017), existem 640 aterros sanitários no Brasil, dos quais 503 tem licença de operação, 50 estão em processo de licenciamento (33 com licença de instalação e 17 com licença prévia) e 46 estão funcionando sem nenhum tipo de licença. Existem ainda 37 aterros sanitários com “outro tipo de licença” não especificada no SNIS e quatro empreendimentos registrados, mas sem nenhuma informação sobre o tema. Como se observa, a grande maioria dos aterros sanitários do Brasil passou pelos trâmites e etapas do licenciamento ambiental trifásico previstas em resoluções federais (CONAMA nº 1/1986; CONAMA nº 237/1997) e, em alguns casos, até aprimoradas por resoluções estaduais e municipais. Para Araújo et al. (2016), os aterros sanitários são recomendados como uma técnica de tratamento segura, desde que operados de maneira correta e, para tanto, os órgãos ambientais têm um papel fundamental no processo de localização, implantação e operação desses empreendimentos. Segundo Mota (2003), a escolha de um local para a execução de um aterro sanitário deve ser feita observando: a) afastamento adequado de áreas urbanas; b) distância satisfatória de recursos hídricos superficiais; c) afastamento do lençol freático; d) disponibilidade de material de cobertura; e) distância não muito grande das áreas de coleta e; f) facilidades de acesso (sistema viário). Os dados permitem observar também que uma quantidade significativa de aterros sanitários (46) está funcionando sem as devidas autorizações, parecendo ser este um problema antigo, pois ainda na década de 90 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma pesquisa permitindo observar que apenas 9,6% dos municípios avaliados possuíam aterros sanitários em conformidade com as leis e resoluções pertinentes. Os dados permitem entender também que a universalização dos processos de licenciamento ambiental ainda é um desafio no país e enquanto alguns aterros estiverem funcionando na ilegalidade todo um conjunto de impactos negativos ao meio ambiente e à sociedade são esperados, pois os aterros sanitários são considerados empreendimentos de alto potencial poluidor para os quais são exigidos um EIA/RIMA (CONAMA nº 1/1986). De acordo com Sisinno (1995), a falta de infraestrutura e o não cumprimento de padrões básicos – que visem minimizar os riscos ambientais em áreas utilizadas como depósito final de lixo – configuram-se como focos potenciais de poluição do ar, do solo e das águas, influenciando negativamente na qualidade ambiental de regiões sob sua influência. 146 Além da área reservada para a disposição de resíduos sólidos, os aterros sanitários devem possuir toda uma estrutura de apoio com prédio administrativo, guarita e cerca para controle de acesso, balança rodoviária, estacionamento, estação de tratamento de lixiviados, oficina e outros, conforme a NBR 8419/1992, NBR 13896/1997, NBR 15849/2010 e Portela e Ribeiro (2014). A maior parte desses componentes foram verificados nos aterros pesquisados por Guizard et al. (2006) e por Marinho (2013). Sobre esse assunto, os dados do SNIS (2017) revelam que 524 aterros sanitários do Brasil possuem cerca perimetral (estrutura que visa evitar o acesso de pessoas e animais na área do aterro), conforme a NBR 13896/1997; 377 aterros sanitários possuem prédio administrativo e 321 contam com sistema de vigilância (armada ou não). A simples instalação de uma cerca não cessa os problemas, sendo necessário um programa de manutenção. Lima (2017), ao avaliar as condições de um aterro sanitário, notou que o isolamento físico estava comprometido, pois a lateral direita do terreno permanecia sem tela de proteção, permitindo o acesso de pessoas e animais. Conforme Santos (2016), a pesagem dos resíduos na entrada do aterro e o registro dessas informaçõesno setor administrativo podem ser consideradas o início do processo de controle nesses empreendimentos e permitem, entre outros aspectos, monitorar a vida útil do empreendimento e alterar (ou manter) sua forma de operação (rampa, área ou trincheira). Além disso, a identificação do tipo de resíduo (domiciliar, poda, capina etc.) permite direcionar os veículos de coleta ao setor adequado, otimizando a rotina. A atividade operacional de um aterro sanitário compreende o espalhamento, a compactação, cobertura e a drenagem dos resíduos, o monitoramento do sistema de tratamento de efluentes, o monitoramento topográfico e das águas, e a manutenção dos acessos e das instalações de apoio (ALBUQUERQUE, 2011). Os dados do SNIS (2017) revelam que 635 aterros sanitários do Brasil fazem a cobertura de resíduos, 392 possuem sistemas de drenagem de águas pluviais e 389 tem impermeabilização de base; alguns dos itens básicos previstos na NBR 8419/1992, NBR 13896/1997 e NBR 15849/2010. Conforme entendido em publicação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) (2000), o sistema de cobertura tem a função de proteger a superfície das células de resíduos sólidos, eliminar a proliferação de vetores, diminuir a taxa de formação de líquidos percolados, reduzir a exalação de odores, impedir a catação, permitir o tráfego de veículos coletores sobre o aterro, eliminar a queima de resíduos e a saída descontrolada do biogás. Por isso, existem preocupações quanto a sua durabilidade e exposição, devendo ser resistente a processos erosivos e adequado à futura utilização da área (SHARMA; LEWIS, 1994). 147 Conforme entendido em Mariano e Jucá (2009), um sistema de cobertura final de aterro é composto por seis componentes básicos: camada superficial, camada de proteção, camada de drenagem, barreira hidráulica ou de gás, camada de coleta de gás e camada de base, porém, a utilização simultânea desses componentes para os sistemas de cobertura final, muitas vezes, é inviável ou desnecessária, dependendo basicamente da condição climática e do balanço hídrico do local. Segundo Ferreira (2006) o sistema de drenagem de águas pluviais deve ser composto por uma rede de canaletas superficiais, revestidas ou não, acopladas ou não, a escadas de dissipação de energia, conforme cada circunstância específica, envolvendo progressivamente o perímetro e a frente de operação de modo a coletar e promover o escoamento controlado das águas pluviais. A impermeabilização de base tem o objetivo de confinar os resíduos por meio de barreiras impermeáveis, o que por consequência, os protege da entrada de líquidos externos e evita a infiltração de percolados e gases do aterro no subsolo (BUENO; BENVENUTO; VILAR, 2004). A impermeabilização da base e das laterais do aterro pode ser feita por meio de geomembranas sintéticas e/ou com camadas de solo impermeável (BOSCOV, 2008). Conforme Santos (2016), os sistemas de impermeabilização inferior envolvem a aplicação, ora isolada ora combinada, de uma manta impermeável de PEAD e solos argilosos compactados. Pelo fato de as duas alternativas juntas encarecerem o aterro sanitário, é mais comum o emprego isolado dos solos argilosos, principalmente se há disponibilidade desse material no terreno escolhido, mas a modalidade aplicada varia entre os estados brasileiros. Após confinamento dos resíduos sólidos nos aterros sanitários, inúmeros processos internos, sob influência também das condições externas, resultam na geração de lixiviados e gases, que precisam de um sistema de coleta, drenagem e tratamento (NBR 8419/1992, NBR 13896/1997, NBR 15849/2010). Com relação ao chorume, os dados do SNIS (2017) revelam que 364 aterros sanitários possuem sistemas de drenagem, 208 promovem internamente o tratamento do chorume, 188 fazem a recirculação e 127 aterros enviam o chorume para tratamento fora do aterro. Conforme Fagundes (2009), drenar o chorume é importante, uma vez que este apresenta um potencial poluidor elevado, principalmente devido à alta carga orgânica, metais pesados, cloretos, amônia, dentre outros compostos. Para Santos (2016), deve-se executar a rede de drenagem para os lixiviados com o objetivo de conduzi-los da célula de resíduos para a estação de tratamento. Assim, a redução do volume de líquidos do interior da massa de resíduos permitirá os recalques 148 e o aumento da estabilidade do maciço, reduzindo seu risco de desmoronamento, aumentando sua capacidade de carga. O sistema de drenagem de lixiviados mais comum é composto por drenos secundários ligados a um dreno principal (modelo conhecido por “espinha de peixe”). Nesse sistema, duas modalidades de dreno podem ser aplicadas: dreno cego e dreno tubular. No primeiro caso, a escavação da vala no fundo da célula de resíduos é preenchida com brita, geralmente n° 4 e com um material drenante (ex.: areia grossa). No segundo caso, são implantados dentro do leito de brita um tubo perfurado de PVC, PEAD ou manilhas de concreto. Existem ainda os casos em que mantas revestem tais drenos (SANTOS, 2016). O tratamento interno exige de a empresa responsável pelo aterro sanitário arcar com a construção, operação e manutenção do sistema, assumindo todos os riscos operacionais, trabalhistas e ambientais. No tratamento externo, uma empresa é contratada para coletar, transportar e dar uma destinação final para o chorume. A recirculação do chorume tem sido apontada como excelente técnica para acelerar o processo de degradação dos resíduos sólidos em aterros (PINTO, 2000). Conforme Santos (2016), a recirculação tem um efeito positivo na formação de CH4 por aumentar o teor de água, fornece e distribuir nutrientes e biomassa. Além disso, é uma opção complementar de tratamento do lixiviado uma vez que propicia a atenuação de constituintes pela atividade biológica e por reações físico-químicas que ocorrem no interior do aterro. A recirculação diminui também o volume do lixiviado em função da evaporação que ocorre no platô do aterro se o solo de cobertura estiver quente. Outros dados levantados no SNIS 2017, revelam que 314 aterros sanitários possuem drenagem de gases (49%) e apenas 48 dispõe de aproveitamento de gases (7,5%). Conforme Ribeiro et al., (2019) na maioria dos aterros sanitários, são instalados sistemas de captação de gases compostos por drenos horizontais e/ou verticais interligados (feitos de tubos de PVC, concreto, PEAD) com extração passiva ou ativa (sob pressão de bombeamento). Ainda, segundo os autores, a captação ativa dos gases de aterro está geralmente associada com algum projeto de aproveitamento do gás metano (para queima direta ou geração de energia térmica ou elétrica) e demanda a escolha de bons materiais para compor o sistema de drenagem (são necessários materiais resistentes, impermeáveis e flexíveis, a exemplo dos tubos de PEAD). É importante ainda determinar com precisão a profundidade de instalação, inclinação e proteção mecânica de cada dreno, além da pressão de sucção. Os resultados obtidos permitiram concluir que: a grande maioria dos aterros sanitários do Brasil cadastrados no SNIS possui autorização ambiental emitida pelos ór- gãos competentes, ou seja, passaram pelo crivo do licenciamento ambiental e isso deve resultar em boas condições de projeto, implantação, operação, encerramento e moni- toramento. Quase metade dos aterros sanitários funcionam sem prédio administrativo, o que permite questionar como vem sendo feito o controle de acesso dos veículos de 149 coleta e dos quantitativos de resíduos; informações básicas para organizar a rotina do empreendimento e acompanhar sua vida útil. Entre as atividades operacionais, a mais realizada nos aterros brasileiros é a cobertura dos resíduos, alcançando-se com isso melhoria nas condições de estabilidade e nos processos de degradação, mas quase metade dos aterros não faz drenagem de águas pluviais (que pode significar aumento da produção de chorume e dos processos erosivos), nem impermeabilizaçãode base (o que pode ampliar os riscos de contaminação). Mais da metade dos aterros realiza pelo menos a drenagem do chorume (o que diminui a poro-pressão no maciço de resíduos e permite os recalques) enquanto a grande maioria não faz tratamento (interno ou exter- no) nem recirculação; aumentado as chances de contaminação ambiental para além da área ocupada pelo aterro. Mais da metade dos aterros não realiza drenagem de gases (o que aumenta a instabilidade e os riscos de explosão) e a quase totalidade não faz apro- veitamento energético, ou seja, desperdiça uma importante fonte de energia renovável, amplia as contribuições locais em termos de aquecimento global e efeito estufa. Fonte: SANTOS, H. A. S. et al. Panorama geral das condições de funcionamento dos aterros sa- nitários do Brasil com base no SNIS [2017]. In: 10º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos. João Pessoa: Instituto Venturi, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riu- fc/57335/1/2019_eve_hadessantos1.pdf. Acesso em: 29 set. 2022. 150 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu: • Que o monitoramento ambiental está relacionado ao acompanhamento dos processos e das características de determinados compartimentos. Sendo de importância fundamental para a detecção de problemas e proposição de soluções. No caso de aterros, o monitoramento é uma forma de avaliar se os impactos ambientais estão sendo corretamente mitigados. • Que o monitoramento ambiental deve estar presente em todas as fases de um aterro; é muito importante na etapa de implantação, para que se tenham os valores de base ou naturais, assim como é importantíssimo nas etapas de operação e encerramento do aterro. • Que o acompanhamento das características das águas superficiais e subterrâneas é essencial para se garantir a qualidade nos corpos d’água adjacentes aos aterros sanitários. Esse procedimento é realizado por meio do recolhimento de amostras de água e posterior análise dos parâmetros de qualidade da água em laboratório. • Que devido às características das águas subterrâneas, que se encontram abaixo do solo, é necessário a construção de poços de monitoramento para a realização de coletas de água. É importante destacar que, em aterros perigosos, da mesma forma se recomenda o monitoramento das águas. • Que o monitoramento atmosférico também é muito relevante, pois determinará as características do ar na região afetada pelo aterros, sendo acompanhados principalmente o espalhamento dos gases, dos materiais particulados e de partículas inaláveis que podem acarretar riscos para a saúde. • Que os resultados de todos os parâmetros avaliados devem ser conferidos com os valores apresentados nas legislações vigentes, tanto para a qualidade das águas superficiais e subterrâneas quanto para a qualidade do ar. 151 RESUMO DO TÓPICO 4 AUTOATIVIDADE 1 O monitoramento pode ser entendido como um grupo de atividades que devem ser realizadas com o objetivo de acompanhar os impactos ambientais que podem ocorrer nos aterros sanitários. Além disso, o monitoramento é uma maneira de avaliar se o funcionamento dos sistemas construídos para preservar o meio ambiente está adequado. Sobre o monitoramento ambiental, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O monitoramento deve ocorrer apenas na etapa de operação do aterro sanitário. b) ( ) Não há necessidade de se monitorar o aterro após o encerramento das atividades de disposição de resíduos e fechamento da área. c) ( ) Um aterro sanitário necessita de um monitoramento ambiental e também de um monitoramento geotécnico. d) ( ) Entre os sistemas de monitoramento geotécnico estão o controle de qualidade do solo, o controle de insetos e o controle de ruídos. 2 Entre as diferentes formas de monitoramento ambiental, o monitoramento da água é um dos mais importantes para evitar contaminação das águas subterrâneas e superficiais. Sobre esse assunto, analise as sentenças a seguir: I- Um dos pontos mais importantes no monitoramento da água é a fase do diagnóstico, ou seja, o monitoramento na fase de implantação do aterro, pois servirá como base para os parâmetros monitorados. II- O monitoramento da água é realizado por meio de coletas de amostras de água e determinação dos parâmetros pela análise em laboratório. III- A frequência de coleta de amostras, os parâmetros a serem analisados e as técnicas são definidos pelo empreendedor ou gestor do aterro sanitário. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) A sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) A sentença III está correta. 3 O monitoramento das águas subterrâneas está previsto pela norma NBR 15849/2010 e se refere às águas que estão no subsolo como lençóis freáticos e aquíferos. De acordo com os objetivos e especificações do sistema, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 152 ( ) O monitoramento das águas subterrâneas é realizado por meio de poços de monitoramento, que devem ser construídos seguindo as especificações técnicas. ( ) É exigido no mínimo três poços a montante da área do aterro e três poços a jusante. ( ) As coletas de amostras nos poços devem ser realizadas duas vezes ao ano em cada poço. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Após definidos os pontos de amostragem de água e a frequência das coletas, será iniciado o monitoramento devendo ser determinados os parâmetros pela análise em laboratório. Relate quais são os principais parâmetros de monitoramento e quais os padrões que devem ser atendidos. 5 O monitoramento atmosférico é outra forma de monitoramento ambiental exigida para aterros sanitários, que verificará a influência do processo de disposição e degradação dos resíduos sólidos na qualidade do ar. Nesse contexto, explique quais são os principais impactos que os aterros podem causar na atmosfera. 153 REFERÊNCIAS ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10157 – Aterros de resíduos perigosos – Critérios para projeto, construção e operação. Rio de Janeiro: ABNT, 1987. Disponível em: https://bit.ly/3REF0N0. Acesso em: 28 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419 – Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. Disponível em: https://bit.ly/3RJogo8. Acesso em: 28 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004 – Resíduos sólidos – classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. Disponível em: https://bit.ly/3SO- gydm. Acesso em: 28 set. 2022. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11682 – Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15849 – Resíduos sólidos urbanos – Aterros sanitários de pequeno porte – Diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e encerramento. Rio de Janeiro: ABNT, 2010. BECK, M. H. et al. 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Acesso em: 27 set. 2022. 157 TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS E GASOSOS DE ATERROS SANITÁRIOS UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os efl uentes líquidos e gasosos produzidos em aterros; • aprender sobre os sistemas de tratamento de efl uentes líquidos; • reconhecer os tipos de gases e suas características; • aprender sobre os principais fatores intervenientes na geração e composição dos gases; • compreender o que é emissão fugitiva e suas formas de investigação. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EFLUENTES LÍQUIDOS EM ATERRO TÓPICO 2 – GASES EM ATERRO TÓPICO 3 – EMISSÃO DE GASES DE FORMA FUGITIVA EM ATERRO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 158 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 159 TÓPICO 1 — EFLUENTES LÍQUIDOS EM ATERRO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Um dos principaisproblemas ambientais, quando se trata de áreas destinadas à disposição final de resíduos sólidos, diz respeito aos efluentes, oriundos da decomposição dos resíduos aliados às águas de chuva, que infiltram e percolam pelo solo. Nesse sentido, para garantir a segurança ambiental do local onde os resíduos são aterrados, ou seja, do aterro sanitário, é preciso que sejam projetados e instalados sistemas de controle, principalmente na contenção dos subprodutos, como o chorume, também chamado de “percolado” ou “lixiviado”. A norma brasileira NBR 8849/1985 define lixiviado utilizando o termo “chorume”. Refere-se ao líquido produzido pela decomposição dos resíduos sólidos, apresentando cor escura, mau cheiro e elevada concentração de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) (ABNT 1985). O chorume é o efluente ou resíduo líquido oriundo da decomposição de resíduos, que apresenta elevado caráter poluidor, principalmente devido à grande concentração de matéria orgânica degradável com a amônia. Ainda, apresenta variações em sua composição química e na quantidade produzida (SOUTO, 2009). Dada a característica de caráter poluidor, é preciso que o chorume passe por um tratamento específico, considerado uma medida de proteção ambiental e de manutenção da estabilidade do aterro sanitário. Além disso, o correto tratamento é uma forma de garantir uma melhor qualidade de vida para a população local. Dessa forma, neste tópico, serão apresentadas as formas de geração do chorume, bem como sua caracterização. A origem dele é baseada de acordo com o tipo de resíduo que está aterrado. Para a caracterização do chorume, é preciso analisar alguns parâmetros, como DBO, DQO, presença de metais e pH. Entretanto, não basta somente conhecer a origem do chorume, é preciso, também, conhecer as condições locais para facilitar as formas de tratamento. 160 2 EFLUENTES LÍQUIDOS EM ATERRO Como mencionado, em aterros sanitários, os resíduos sólidos têm como premissa se decompor e originar um líquido malcheiroso, de coloração negra, denominado “lixiviado” ou “chorume”. Essa formação do chorume é decorrente da decomposição da massa de resíduos, por isso, apresenta uma alta carga poluidora, ocasionando diversos efeitos sobre o meio ambiente. De acordo com Alves e Teixeira (2004), esse tipo de efluente líquido apresenta grande potencial de impacto relacionado à alta concentração de matéria orgânica, reduzida biodegradabilidade e presença de metais pesados. 2.1 EFLUENTE LÍQUIDO: TIPO E FORMAÇÃO "Chorume", "purina", "lixívia", "sumero", "líquido percolado" ou "lixiviado de aterro sanitário" são possíveis denominações para um líquido viscoso e escuro, produzido pela ação enzimática de microrganismos em resíduos, pela oxidação de metais e pela sua infiltração em aterros sanitários (MASSAI et al., 2020). O chorume é um efluente líquido com características orgânicas, constituído por sais inorgânicos e ácidos orgânicos em sua maior parcela. Devido à heterogeneidade de sua constituição e aos diferentes tipos de resíduos decompostos, ele pode sofrer processos transformativos e de transporte diversos. Além disso, dependendo da degradação do resíduo, a concentração dos constituintes do chorume se modifica, tornando a interpretação dos processos subterrâneos bastante complexa, exigindo que seu acondicionamento e tratamento também sejam. 2.1.1 Origem e processo de formação do chorume A origem da maior parte de fração orgânica dos resíduos sólidos desencadeia reações de degradação desempenhadas por microrganismos. Estes, por sua vez, a fim de obter energia para suas funções metabólicas, transformam os compostos orgânicos em moléculas mais simples (HUNG; WANG; SHAMMAS, 2014). Lima (1995) enfatiza que o chorume é o líquido proveniente de teor de umidade natural dos resíduos sólidos, concentração de água de constituição dos vários materiais que sobram durante a decomposição e líquido proveniente da dissolução da matéria or- gânica pelas exoenzimas bacterianas na fase inicial da degradação da matéria orgânica. O chorume constitui um problema sério relativo à degradação do meio ambiente. Em aterro sanitário, ele é formado em decorrência da percolação intermitente e não uniforme de água de chuva, que infiltra na massa compactada de resíduos, lixiviando os compostos solúveis ali encontrados (CARRILHO; CARVALHO, 2016). A figura a seguir apresenta o esquema da formação de chorume em aterros. Observe. 161 Figura 1 – Esquema da formação de chorume Fonte: a autora Quando se correlaciona ao teor de matéria orgânica dissolvida, a origem do chorume é bastante variada, representada, principalmente, por ácidos orgânicos voláteis, como ácido acético e ácidos subprodutos da quebra de compostos orgânicos de cadeia longa. A qualidade do chorume muda com o tempo e conforme a degradação dos resíduos ocorre dentro do aterro (EPA, 1997). Na área de Bioquímica, o processo de digestão anaeróbia dos resíduos sólidos é um processo bioquímico complexo, composto de diferentes reações sequenciais, sendo dividido em diferentes níveis metabólicos ou fases (EPA, 1997). A digestão anaeróbia ocorre na inexistência de oxigênio, contando com o dióxido de carbono, nitrato, sulfato, ferro trivalente ou outra substância, como aceptores finais de elétrons (VILELA, 2012). Fonte: VILELA, R. S. Remoção de matéria orgânica de águas residuárias com elevada concentração de sulfato pelas vias sulfetogênica e metanogê- nica combinadas. 2012. 120 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2012. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/002320111. Acesso em: 29 set. 2022. IMPORTANTE Devido à origem variada, os compostos orgânicos são medidos em termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Carbono Orgânico Total (COT) e Demanda Quí- mica de Oxigênio (DQO) (AZIZ et al., 2014). Por sua vez, a parte inorgânica do chorume consiste em sais inorgânicos, como Ca2+, Mg2+, Na+, K+, NH4 +, Fe2+, Mn2+, Cl-, SO4 2-, HCO3 -; e metais pesados, como Cd2+, Cr3+, Cu2+, Pb2+, Ni2+, Zn2+ (BAIRD; CANN, 2008). Na tabela a seguir, são apresentados os íons encontrados no chorume e sua origem. 162 Tabela 1 – Íons encontrados no chorume e sua origem Fonte: adaptada de Silva (2009) Origem: tipo de resíduo Íons Baterias Ni2+ Cd2+ Pb2+ Latas, cosméticos, embalagens laminadas A13+ Material orgânico PO-3 4 NO-3 CO-2 3 Material orgânico, entulhos de construção, cascas de ovos Na+ K+ Ca2+ Mg2+ Pilhas e lâmpadas Hg2+ Mn2+ Resíduo eletrônico, latas Cu2+ Fe2+ SN2+ Solventes orgânicos e tintas AS+3 Sb3+ Cr3+ Tubos de PVC, raios X Cl- Br- Ag+ Íons de Na, K, Ca e Mg têm origem de material orgânico, entulhos de construção e cascas de ovos. Já os íons P, N e C têm origem concentrada no material orgânico, somente. Latas descartáveis, cosméticos e embalagens laminadas em geral são fontes de íon Al. Cu, Fe e Sn têm origem pautada em material eletrônico, latas e tampas de garrafas, assim como íons Hg e Mn, que se apresentam a partir de pilhas comuns e alcalinas e lâmpadas fluorescentes. Já as baterias recarregáveis (celular, telefone sem fio, automóveis etc.) são fontes de Ni, Cd e Pb. Por sua vez, As, Sb e Cr têm origem em embalagens de tintas, vernizes e solventes orgânicos. Os íons Cl, Br e Ar estão presentes nos tubos de PVC, negativos de filmes e raios-x (MOREIRA, 2019). Conforme Massai et al. (2020), além desses metais, são encontrados MBAS (substâncias tensoativas), fenóis, óleos e graxas, BIS (2 etil hexil ftalato), boro, cromo, sulfatos, sulfetos, fosfatos, fluoretos e materiais orgânicos recalcitrantes. No processo de formação do chorume, as ações dos microrganismos são fundamentais. Isso porque eles atuam, primeiramente, nas camadas mais antigas e profundas dos aterros sanitários. Essa ação se dá, nesses locais, porque o chorume gerado nas camadas superiores, obrigatoriamente, sofre a ação delas. Logo, a biomassa produzida degradae consome os materiais presentes no chorume. Assim, ocorre a chamada “filtração biológica”, fazendo com que o chorume percolado por áreas com altas concentrações de microrganismos acabem por retirar os diversos nutrientes disponíveis e liberar seus respectivos produtos de excreção. 163 O chorume produzido por uma célula de aterro não é apenas uma combinação do chorume gerado nos diferentes pontos de massa de resíduos, mas sim o resultado dos processos que ocorrem nas camadas mais profundas, em que as características são regidas principalmente pela efi ciência dos microrganismos em eliminar os diversos poluentes existentes (SOUTO, 2009). IMPORTANTE Devido ao alto nível de toxicidade e compostos solúveis que o chorume possui, ele necessita de tratamento antes de ser lançado, pois pode contaminar as águas do subsolo nas proximidades do aterro. Quanto maior o tempo que a matéria orgânica fi ca aterrada, mais o chorume se torna complexo do ponto de vista da composição química, quando seu tratamento necessita de tecnologias mais avançadas, para que atenda aos parâmetros ne- cessários, a fi m de ser, então, lançado nos corpos hídricos (PONTA GROSSA, 2013). Lange e Amaral (2009) mencionam que chorumes oriundos de aterros sanitários mais antigos, com matéria orgânica mais estabilizada, apresentam grande potencial polui- dor devido à presença de substâncias recalcitrantes, que, usualmente, não são removidas por tratamento biológico, necessitando, portanto, da aplicação de um pós-tratamento. 2.1.2 Caracterização dos componentes do chorume Chorumes de aterros sanitários apresentam concentrações altas de nitrogênio amoniacal e matéria orgânica, que não permitem seu descarte no meio ambiente sem um prévio tratamento (MOREIRA, 2019). Nesse sentido, uma boa caracterização previne problemas no seu lançamento. De acordo com os estudos de Barker e Stuckey (1999), a caracterização de efl uentes biológicos, em geral, pode ser realizada em três níveis: 1. identifi cação individual dos compostos; 2. identifi cação de classes de compostos; 3. determinação de parâmetros coletivos específi cos e não específi cos. Os parâmetros coletivos não específi cos ou convencionais são métodos padronizados na literatura e empregados na caracterização de efl uentes. Já os parâmetros coletivos específi cos (como DQO inerte, biodegradabilidade aeróbia e distribuição de massa molecular) são métodos de caracterização encontrados na literatura, ainda não padronizados, que fornecem informações direcionadas à determinada propriedade do efl uente (MORAVIA, 2007). 164 O pH é um parâmetro que retrata o processo de decomposição biológica de resíduos com características orgânicas. Em processos de biodegradação anaeróbia, o desenvolvimento dos microrganismos está relacionado diretamente às faixas predominantes de pH. Os ácidos orgânicos voláteis são excelentes indicadores do grau de degradabilidade e do andamento dos processos anaeróbios, pois são gerados na fase acidogênica (aterros jovens) e consumidos na fase metanogênica. O desenvolvimento de microrganismos arqueas metanogênicos ocorre em faixas de pH entre 6,7 e 7,4 (TCHOBANOGLOUS; THEISEN; VIGIL, 1993). Um grande problema relacionado à caracterização de chorume é a falta de preocupação com a descrição da natureza dessa matéria orgânica. Tão importante quanto saber a carga de matéria orgânica do chorume, é saber qual a constituição dessa fração, pois, ali, podem estar presentes substâncias com características tóxicas. Várias substâncias orgânicas já identificadas no lixiviado se destacam pelo seu comprovado potencial carcinógeno ou cocarcinógeno, como dodecano, clorofórmio, tetracloreto de carbono, benzeno, tolueno, xileno, fenol, clorofenóis, nitrofenóis, antraceno, diclorometano, dentre outros (GOMES, 2009). Gomes (2009) relata que grande variabilidade de embalagens (ferrosas ou não) dispostas pós-uso em aterros sanitários são a principal fonte de metais posteriormente encontrados no chorume. Dessa forma, a concentração de metais como Fe, Mn, Zn, Cu, Pb e Cd pode ser elevada em aterros jovens devido ao ambiente ácido, que permite a solubilização dos íons metálicos. Com o passar do tempo, o pH tende a aumentar, e essas concentrações tendem a diminuir. Andrade (2002) reporta que o grande problema dos metais pesados é sua capacidade de formar complexos organometálicos por reações de complexação com as moléculas orgânicas. A formação desses complexos facilita o transporte de metais e a mobilidade de diversos contaminantes orgânicos. O chorume de aterro é rico em nutrientes, os quais podem ser utilizados em diversas atividades do ecossistema biológico. Dessa forma, são ricos em macronutrientes, como o nitrogênio e o fósforo; e em micronutrientes, como o cálcio, o enxofre, o potássio, o ferro, o zinco, o cobre, o cobalto, dentre outros. Nitrogênio e fósforo são responsáveis pelo fenômeno de eutrofização, cuja principal ação é a queda de oxigênio dissolvido na água e, consequentemente, o cres- cimento de plantas aquáticas em cursos d’água. Ambos estão presentes no chorume, em concentrações que superam os limites para lançamento. Sendo assim, é necessário o tratamento adequado antes de dispor desse resíduo no meio ambiente (REQUE, 2015). Uma das estratégias operacionais para o tratamento do chorume, principalmente o biológico, é a identificação das características do efluente, com ênfase na matéria orgânica. Baseando-se nisso, um dos parâmetros empregados para essa identificação é 165 a DQO. Ela tem sido amplamente empregada, principalmente por sua facilidade analítica e por prover um balanço de elétrons e energia entre o substrato orgânico, a biomassa e o oxigênio utilizado. 2.1.3 Concentração dos componentes do chorume A concentração dos componentes do chorume é distinta e decorrente do tipo de resíduo que está aterrado e sofrendo decomposição. Dependendo das características do resíduo aterrado, o chorume produzido pode ser altamente tóxico ao meio ambiente e à saúde pública. No Brasil, os estudos sobre a composição do chorume tiveram início na década de 1970 (FLECK, 2003). Lima (1988) destaca que o começo da participação brasileira no estudo do lixiviado se deu com o trabalho de Oliveira (1971), que descreveu os mecanismos básicos por meio dos quais um aterro sanitário construído e operado inadequadamente podiam poluir as águas subterrâneas e superficiais. As taxas e características da produção de efluentes líquidos (chorume) e gasosos (biogás) tendem a variar ao longo do processo de degradação biológica e refletem na fase do processo que ocorre no interior do aterro. A duração das fases de degradação biológica depende de algumas condições de ordens física, química e microbiológica, que se desenvolvem dentro do aterro sanitário ao longo do tempo. Dessa forma, altas concentrações de matéria orgânica presente nos resíduos re- presentam um risco aos ecossistemas, assim como a presença de metais, que podem con- taminar o meio de maneira ainda mais acentuada e concentrada na poluição. Outros fatores (como quantidade do resíduo, taxa de infiltração, idade e maturidade biológica dos aterros) também interferem na sua composição e toxicidade (TCHOBANOGLOUS; KREITH, 2002). O volume do chorume produzido deve ser acrescido ao decorrente da precipitação pluviométrica, com vista à determinação do volume global de lixiviado gerado em determinado aterro. De forma geral, os métodos utilizados levam à determinação de um volume que já incorpora o chorume e a precipitação pluviométrica, com razoável precisão. Destacam-se, dentre eles, o método suíço e o método do balanço hídrico. Christensen (2011) relata que fatores externos (como precipitação, infiltração e nível d’água) apresentam papel fundamental na taxa de geração do chorume. Abbasi et al. (2012), por sua vez, enfatizam que o volume de chorume gerado também apresenta grandes variações quanto aos fatores internos e à célula de resíduos, como otipo de resíduo, as condições de pH, a temperatura, a umidade e o tempo de aterramento, que interferem no volume produzido. A concentração da composição dos resíduos é altamente influenciada pela fase de decomposição e pelo tempo de duração de cada fase. 166 Abbasi et al. (2012) e Hung, Wang e Shammas (2014) reportam que, em geral, os resíduos apresentam cinco estágios de degradação, que ocorrem de forma simultânea, dentro da massa de resíduos, em diferentes regiões e profundidades. Esses estágios são: 1. aeróbio inicial; 2. anaeróbico ácido; 3. metanogênico inicial; 4. metanogênico estável; 5. aeróbio final. A figura a seguir nos apresenta a composição do chorume em relação à fase de degradação dos resíduos. Vejamos. Figura 2 – Composição do chorume em relação à fase de degradação dos resíduos biodegradáveis Fonte: adaptada de Williams (2005) O primeiro estágio (I) consiste na degradação aeróbia, que ocorre assim que o resíduo é espalhado na base do aterro, ainda na presença de oxigênio. É a fase mais curta, pois, conforme novas camadas de resíduo vão sendo empilhadas e compactadas, a disponibilidade de oxigênio para as reações diminui. A quantidade de oxigênio disponível nessa fase depende da forma como resíduo foi depositado, assim como se foi realizada compactação ou não, visto que não ocorre a reposição de oxigênio, uma vez que os resíduos foram recobertos (SILVA, 2016). Em aterros de resíduos sólidos nos quais estes possuem altas concentrações de matéria orgânica biodegradável, a depleção de oxigênio ocorre rapidamente. A degradação na fase aeróbia inicial consiste na oxidação da matéria orgânica em hidrocarbonetos simples, gás carbônico (CO2) e água (H2O). Durante a reação, há um aumento da temperatura interna da massa de resíduo (70º- 80º), uma vez que a reação é exotérmica. O principal subproduto formado nesse estágio é o CO2. Tal fenômeno 167 ocasiona uma queda do pH interno da massa de resíduos, tornando o chorume ácido e com alta capacidade de lixiviação de metais. Outros subprodutos comuns são as cetonas, os aldeídos e os álcoois, que conferem o odor característico dos aterros. Essa fase pode levar dias ou meses, dependendo da quantidade de oxigênio dis- ponível (SILVA, 2016). O chorume produzido durante essa fase é resultado da umidade aterrada com os resíduos sólidos durante a compactação e construção das células, sendo a água e o ácido carbônico os principais produtos nesse momento (MÁXIMO, 2007). Em seguida, a fase anaeróbia ácida (II) consiste, basicamente, em reações de hidrólise e fermentação. Pela hidrólise, compostos como carboidratos, proteínas e lipí- dios presentes nos resíduos são solubilizados, formando açúcares simples, aminoácidos e ácidos graxos. Esse processo é chamado de “acidogênese”. Os açúcares e aminoácidos são convertidos em ácidos graxos voláteis, álcoois, hidrogênio, gás carbônico e nitrogênio amoniacal no processo de fermentação. Os microrganismos convertem os ácidos gra- xos voláteis formados em ácidos mais simples, principalmente ácido acético. A presença desses subprodutos contribui para o aumento do pH da massa de resíduos, que atinge valores inferiores a 6, o que possibilita a lixiviação dos metais presentes nos resíduos. Nesse estágio, a quantidade de oxigênio fica esgotada devido ao consumo de oxigênio pelas bactérias aeróbias, alternando o ambiente aeróbio para anaeróbio (SILVA, 2016). O chorume produzido nessa fase pode conter elevadas concentrações de metais, os quais são solúveis em condições ácidas. Nesse sentido, a razão DBO/COT possui altos valores, além de altas concentrações de nutrientes e metais (SEGATO; SILVA, 2000). A fase metanogênica inicial (III) é encontrada nas áreas com pH neutro, um equilíbrio entre os microrganismos acetogênicos e metanogênicos dá início à produção de metano. Nessa fase, distintas reações dentro da massa de resíduos são capazes de gerar metano e, como consequência, a concentração desse gás aumenta, e a de gás carbônico diminui. Na sequência, o estágio metanogênico estável (IV) está relacionado à fase final e mais duradoura. Tem início durante a operação do aterro e perdura por anos após o encerramento. Nessa fase, o equilíbrio entre os formadores de ácidos e metano se torna estável e a relação entre metano e gás carbônico reflete a natureza das reações e, portanto, dos resíduos aterrados. A taxa de geração de gases atinge picos nesse momento, enquanto o chorume, devido à degradação dos ácidos, tem um pH próximo da neutralidade (entre 7 e 8), baixa degradabilidade e baixo conteúdo de metais. No entanto, o conteúdo de sais, principalmente Cl, Na e NH4 -, pode, ainda, apresentar concentrações elevadas. A fase final de maturação tem característica aeróbia (V). Com o fim das reações de degradação, os microrganismos metanotróficos convertem o metano residual em CO2 e H2O. 168 As fases de degradação ocorrem de forma simultânea no aterro, mas o pro- cesso mais acelerado de degradação se dá em alguns locais em detrimento de outros, quando as premissas para que as reações ocorram são encontradas em condições am- bientais ótimas para cada fase (ABBASI et al., 2012). Na fase fi nal, o aterro sanitário pode retornar à condição aeróbia com condições oxidantes e pequenas quantidades dos ga- ses oxigênio e nitrogênio (SILVA, 2016). 2.1.4 Biodegradabilidade do chorume A biodegradabilidade é defi nida como a fração da matéria orgânica que pode ser oxidada por digestão dos microrganismos durante determinado período e sob determinadas condições operacionais (ALVES; TESSARO; CASSINI, 2010). Essa medida é importante para a avaliação da efi ciência de tratamentos de efl uentes via biodegradação. A biodegradabilidade é afetada por diferentes fatores, a saber: • fonte e quantidade de microrganismos; • condições físico-químicas do meio (concentração de oxigênio, temperatura, pH, dentre outros). Alguns autores relatam que a presença de material recalcitrante em chorumes pro- duzidos em aterros sanitários estabilizados é responsável pela sua baixa biodegradabilidade. O material recalcitrante é aquele que não apodrece, não se decompõe. NOTA Um dos indicativos de biodegradabilidade é a chamada “razão entre DBO/DQO”. Quando o valor da razão é alto, grande parte da matéria oxidável é oriunda da ação dos microrganismos, ou seja, signifi ca uma alta biodegradabilidade do chorume em questão (SOUTO, 2009). Por outro lado, quando há uma relação DBO/DQO com valores baixos, não sig- nifi ca, exatamente, que os compostos presentes no efl uente sejam poucos biodegra- dáveis, mas, sim, que os microrganismos que atuaram no processo de formulação não foram capazes de processar os componentes do chorume (SOUTO, 2009). De acordo com Gomes (2009), para aterros jovens, os valores da relação DBO/ DQO variam entre 0,5 e 0,8, pois uma fração considerável da DQO corresponde a ácidos graxos voláteis. Já para aterros antigos, esses valores caem para a variação de 0,04 a 0,08, pois a maior parte dos compostos biodegradáveis já foi degradada. 169 2.2 GERAÇÃO DO CHORUME A geração de percolado está totalmente atrelada à água proveniente de fontes externas, por meio da chuva ou pela umidade dos resíduos recém-dispostos. As principais fontes de formação do lixiviado são a água que infi ltra pela superfície, a umidade presente no resíduo sólido doméstico e a umidade de lodo, quando disposto. Moravia (2007) cita que é necessária uma estimativa aproximada da quantidade de chorume gerado para o dimensionamento dos sistemas de drenagem, armazenamento e tratamento de efl uentes em um aterro sanitário. Além disso, um entendimento melhor do fl uxo de umidade no aterro é importante para avaliação da degradação dos resíduos e produção de biogás. 2.2.1 Fatores intervenientes na geração do chorume Dentre os fatores que interferem diretamente na degradação dos resíduos, citam-se a quantidade e a qualidade da sua fração biodegradável. Tais fatores estão relacionadossão: desse total de resíduos coletados, para onde eles são transportados para destinação final? Por meio desses dados, podemos nos questionar sobre para onde o restante dos resíduos foi destinado? Será que toda essa quantidade foi disposta de forma inadequada, contaminando o meio ambiente, a nossa flora e fauna, poluindo o solo, a água e o ar? Nesse sentido, acadêmico, no Tópico 1, abordaremos sobre os tipos de resíduos e suas características. Ainda neste tópico, você aprenderá como deve ser a classificação dos resíduos e a importância da boa classificação para posterior separação e formas de destinação final. No Tópico 2, será estudado o tema “aterro sanitário”, sendo relacionado com os seus conceitos básicos e a importância da destinação para esse fim. Você conhecerá os estudos relacionados ao projeto de aterro sanitário, sua estrutura básica, como TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 impermeabilização de base, forma de seleção de áreas, entre outros temas pertinentes. Ainda neste tópico, comentaremos sobre a forma de decomposição dos resíduos e as de gerenciamento, operação e posterior encerramento da destinação. Por fim, no Tópico 3, será abordado o aterro industrial. Neste tópico, compre- enderemos sua importância e a diferença para o aterro sanitário “convencional”. Ainda, descreveremos o que é resíduo industrial, sua classificação e tipos de empreendimentos que os geram. Você conhecerá os itens necessários para o projeto básico de um aterro industrial, com ênfase na seleção de áreas e as formas de impermeabilização, que se diferem do aterro sanitário do tipo convencional. A partir desses conhecimentos, você estará apto a construir uma base sólida sobre os pontos principais para compreender sobre o tema resíduos e aterros. 2 TIPOS DE RESÍDUOS E SUAS CARACTERÍSTICAS: CLASSIFICAÇÃO O controle e a destinação inadequada dos resíduos sólidos tendem a ocasionar impactos socioambientais negativos. Dentre esses impactos, temos como exemplos o aumento da emissão de gases de efeito estufa, a contaminação do solo, a poluição da água, a proliferação de vetores de importância sanitária, entre outros (FRANQUETO, 2016). Nesse sentido, é preciso conhecer muito bem sobre o que são resíduos e quais as suas classificações, para que se possa trata-los e destiná-los corretamente. 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS O resíduo é considerado uma infeliz “invenção” humana. Quando se relacionam com o ambiente natural, os processos cotidianos de consumo e transformação, como o crescimento de uma planta e a alimentação de um animal por outro, acontecem como um “sistema integrado”, ou seja, como ciclos nos quais as relações entre os seres não produzem sobras de alimento, fibra e energia. A geração de resíduos ocorre a partir do desenvolvimento social, tecnológico e cultural de uma região. Assim, é importante analisar a história da região para compreender a dinâmica da geração de resíduos. 2.1.1 Lixo, resíduo ou rejeito Lixo, segundo a Funasa (2020), é considerado toda aquela massa de restos oriundos do nosso consumo, sem discriminação da fração orgânica e inorgânica, que descartamos no meio ambiente. 5 “Resíduo é aquilo que resta de qualquer substância, resto” (HOUAISS, 2009, p. 1651). A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua “resíduo” como qualquer coisa que seu proprietário não quer mais e que não possui valor comercial. Dessa forma, há uma certa confusão quando se fala o que é resíduo e o que é rejeito. Para tentar amenizar essa problemática, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) mudou o paradigma do que é resíduo e o que é rejeito. Caro acadêmico, você sabe qual a diferença entre resíduo e rejeito? Figura 1 – Resíduo ou rejeito? Qual a diferença existente? Fonte: adaptada de https://bit.ly/3EgArpi. Acesso em: 26 set. 2022. Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por: XVI - Resíduos sólidos: materiais, substâncias, objetos ou bens descartados resultantes de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 1). A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é extensa e busca como objetivo abordar assuntos relevantes para a temática dos resíduos sólidos no Brasil, como por exemplo: evitar ou minimizar a geração de resíduos, determinar e mencionar algumas tecnologias que podem ser utilizadas para gerar energia a partir dos resíduos gerados, dentre outros. Para conferir o texto da PNRS na íntegra, acesso o endereço eletrônico http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. DICA 6 Já os rejeitos, são “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição fi nal ambientalmente correta” (BRASIL, 2010, p. 1). 2.1.2 Resíduos sólidos Com base nas defi nições de resíduos, pode-se pensar em uma para os resíduos sólidos. De forma geral, os resíduos sólidos são materiais considerados heterogêneos, ou seja, apresentam distinções na sua composição, sendo considerados inertes, minerais e orgânicos. Os resíduos sólidos são aqueles oriundos das atividades humanas relacionadas com o meio ambiente, os quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre outros aspectos, proteção à saúde pública e economia de recursos naturais. A Norma ABNT NBR 10004 (2004a, p. 1) defi ne resíduos sólidos como: Resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa defi nição, os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. Já a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) defi ne resíduos sólidos, como: Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação fi nal se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, p. 1). A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduo Sólidos (PNRS) no Brasil, é considerada como um marco na gestão ambiental e legislação ambiental brasileira, ao descrever o contexto e lançar uma visão moderna na luta contra um dos maiores problemas ambientais no mundo: o Resíduo Sólido Urbano (RSU) (BRASIL, 2010). A sigla RSU é fortemente reportada em livros, artigos e revistas da área de gestão de resíduos e signifi ca Resíduo Sólido Urbano. NOTA 7 Os resíduos sólidos englobam uma grande variedade de materiais que podem ter dois destinos: recuperação e transformação do material descartado para retorno aos ciclos produtivos, ou à natureza por meio de processos como a reciclagem e o descarte ambientalmente seguro da fração dos resíduos, que não têm possibilidade de reaproveitamento. 2.2 COMPOSIÇÃO DOS RESÍDUOS A composição dos resíduos sólidos apresenta grande variedade, devido à sua heterogeneidade na origem deles. Em geral, os resíduos costumam variar de localidade para localidade, a partir dos hábitos e costumesao fato de que os resíduos funcionam como um aporte de nutrientes para os microrganismos. Christensen (2011) relata que o conteúdo de umidade afeta a degradação de resíduos por ser determinante no crescimento dos microrganismos. A umidade intrínseca dos resíduos e a pluviosidade da área podem atingir um conteúdo de água que varia entre 15% e 40% da massa do resíduo. Em condições de baixa umidade, a transferência de substrato e nutrientes dentro da célula de resíduos é limitada, causando um retardo na degradação dos resíduos. Com relação aos fatores temperatura e pH, em cada fase de degradação biológica, eles possuem um valor ótimo. A fase inicial apresenta um valor de pH próximo ao neutro (pH 7,00), seguido por uma fase ácida (pH abaixo de 7,00), que, ao fi nal, atinge valores neutros a alcalinos. Com relação ao fator temperatura, este sofre um incremento no valor devido às reações exotérmicas do processo de degradação aeróbia, que, em seguida, atingem temperaturas menores a partir das condições anaeróbias. Reação exotérmica é aquela em que há liberação de energia. IMPORTANTE 170 O volume de chorume tem a sua origem em maior quantidade na precipitação atmosférica e, em menor medida, na decomposição biológica dos resíduos aterrados (SILVA, 2009). A vazão de chorume depende das condições locais, como as condições climáticas, a disponibilidade hídrica, o tipo de aterro e as características geotécnicas do solo. Em cenários de aterros com grande disposição de resíduos orgânicos e úmidos, também se espera uma maior quantidade dessa vazão, pois se associa ao produto das atividades de decomposição pelos microrganismos (EL-FADEL et al., 1997). Ainda, a geologia e geomorfologia interferem devido ao escoamento superficial e/ou à infiltração subterrânea, ao grau de compactação e à capacidade dos solos em reter umidade. 2.2.2 Contaminação do chorume O chorume está atrelado aos processos transformativos e de transporte que ocorrem no solo e nas águas subterrâneas. A maior ou menor intensidade desses processos depende de condições locais e características do chorume (BERKOWITZ; DROR; YARON, 2014). O chorume percolado pelo leito do aterro contamina o solo conforme as suas condutividades hidráulicas, contaminando, principalmente, os lençóis freáticos. No caso das contaminações das águas subterrâneas, não existe nenhuma possibilidade de autodepuração, sendo que a atenuação da contaminação só ocorre pela diluição. Nesses casos e devido às altas concentrações de matéria orgânica, amônia e sais, os usos dos poços freáticos na área de influência dos lixões ou aterros podem ficar totalmente inviabilizados (PASCHOALATO, 2000). 3 SISTEMAS DE TRATAMENTO DE CHORUME Pawlowska (2014) relata que, apesar de os resíduos sólidos domiciliares não serem classificados como substâncias perigosas, seu armazenamento não é seguro para o ambiente devido à instabilidade das reações químicas durante os processos de degradação e, principalmente, pelos subprodutos que são gerados. Segundo Abbasi et al. (2012), quando não são coletados e destinados de forma correta, podem atingir o ambiente e causar contaminação. Devido às características físico-químicas, o tratamento do chorume deve ser realizado antes de ser lançado no meio ambiente, evitando, dessa forma, riscos concentrados de contaminação do solo, das águas subterrâneas e superficiais e da própria saúde pública (KJELDSEN et al., 2002). 171 No Brasil, a aplicação dos processos de tratamento de chorume tem por objetivo principal a redução das concentrações de compostos orgânicos e de N-amoniacal. É uma decorrência da vigência da Resolução Conama nº 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes. 3.1 SISTEMA DE COLETA E DESTINAÇÃO DE CHORUME A eventual infiltração do chorume para aquífero é considerada um dos principais impactos ambientais dos aterros sanitários. Entretanto, os aterros sanitários continuam a ser a principal alternativa globalmente utilizada para a disposição final dos resíduos sólidos. A inexistência de uma alternativa mais atrativa economicamente e com a mesma simplicidade de operação corrobora para a preferência da técnica (BAIRD; CANN, 2008; ABBASI et al., 2012). A não geração de chorume em aterros sanitários implica diferentes problemas para o seu monitoramento e a sua manutenção. Tal fato é citado porque uma das características de um aterro sanitário é a coleta e o armazenamento dos efluentes líquidos produzidos. Dessa forma, a ausência da geração pode sinalizar um sistema de drenagem falho e a contaminação do solo, das águas superficiais e da água subterrânea. 3.1.1 Sistema de impermeabilização O sistema de impermeabilização em um aterro sanitário é projetado para ga- rantir o isolamento da massa de resíduos do ambiente por meio da combinação de dois materiais com propriedades complementares, um solo compactado com baixa perme- abilidade hidráulica e um revestimento impermeável. É um sistema fundamental nos aterros sanitários, com o objetivo de prevenir que o chorume atinja as águas subterrâ- neas e superficiais (CHRISTENSEN, 2011). O sistema de drenagem é aplicado no fundo do aterro e constituído, principalmente, por tubos perfurados com agregados graúdos em valas revestidas. O sistema pode ser em forma de espinha de peixe, com caimento para propiciar o escoamento e a captação do chorume, para posterior tratamento (GUEDES, 2007). A NBR nº 13896/1997 recomenda dimensionar os sistemas de drenagem para evitar que a impermeabilização do embasamento penetre por uma camada superior a 30 cm. Dentre as opções de revestimento mais utilizadas em sistemas de impermeabilização, está o uso de geomembranas. A implantação da geomembrana no aterro deve considerar o esforço causado pelos resíduos e pela camada de revestimento, a resistência química da geomembrana em relação ao chorume, os diferentes assentamentos do solo de fundação, além de exigências de deformação em declives laterais e íngremes (ABNT, 1997; TCHOBANOGLOUS; KREITH, 2002). 172 As geomembranas são materiais flexíveis, compostas por folhas finas de materiais termoplásticos ou poliméricos, os quais, por sua vez, são compostos por carbono, pigmentos, enchimentos, plásticos em geral, antiderrapantes e biocidas. NOTA Christensen (2011) comenta que os materiais poliméricos utilizados nas geomembranas são o Polietileno de Alta Densidade (PEAD), o Polipropileno (PP) e o Policloreto de Polivinila (PVC), com espessuras que variam de 0,5 a 2 mm. O PEAD é o material mais utilizado devido a sua baixíssima permeabilidade, resistência e custo. 3.1.2 Drenagem do chorume A impermeabilização, projetada e executada nos aterros sanitários, deve ser incluída no sistema de drenagem para que a coleta do efluente líquido percolado seja enviada ao sistema de tratamento adequado. A drenagem do chorume ocorre pelas canalizações localizadas na base dos aterros, que coletam e transportam por gravidade o chorume até um sistema de tratamento (AZIZ et al., 2014). Uma drenagem eficiente busca evitar a desestabilização do aterro e o risco de um colapso futuro. Assim, vários sistemas drenantes são empregados, como os tubos de concreto perfurados, as valas com pedra amarroada e/ou brita e, mais recentemente, com termoplásticos, como o PVC e o PEAD perfurados, rígidos ou flexíveis. A construção de um sistema de drenagem para as águas pluviais visa evitar que a água precipitada se acumule e infiltre no aterro, com maior formação de lixiviado (TOZETTO, 2008). Alves e Teixeira (2004) reportam que a coleta do chorume é feita por drenos implantados sobre a camada de impermeabilização inferior e projetados em forma de espinha de peixe, com drenos secundários conduzindo o chorume coletado para um dreno principal, que irá levá-lo até um poço de reunião, de onde será bombeado para a estação de tratamento.da população daquela localidade, decorrente do número de habitantes, de seu poder aquisitivo, entre outros fatores. Ainda, as variáveis consideradas sazonais, ou seja, como datas comemorativas (Natal, Páscoa, Dia das Mães) acarretam em maior geração de resíduos devido aos presentes etc. O clima e o nível educacional dos habilitantes podem ainda acarretar em variação na geração dos resíduos, nas mesmas localidades com as mesmas estações do ano. As localidades mais desenvolvidas produzem grande quantidade de resíduos de embalagens e produtos industrializados, resíduos considerados recicláveis; ao passo que as localidades mais pobres produzem resíduos com grande quantidade de matéria orgânica (GUADAGNIN et al., 2014). Ainda, a composição contém substâncias do tipo: • facilmente degradáveis: restos de comida, folhas, capim, animais mortos e dejetos; • moderadamente degradáveis: papelão, papel; • dificilmente degradáveis: couro, pano, trapos, borracha, plástico, madeira, osso; • não degradáveis: cerâmica, vidro, pedras, cinzas, terra, areia, metal não ferroso. Além da composição dos resíduos por sazonalidade, ela varia por condições físicas, químicas e biológicas. Essas características relacionadas à composição revelam dados importantes sobre os resíduos e fornecem um importante paradigma para as formas de coleta, de tratamento e sua destinação final. Portanto, as características dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) não se apresentam iguais para todas as regiões de determinado local, por exemplo, para todo o Brasil, voltando ao ponto em que os resíduos são heterogêneos, proporcionando complexidade nas suas formas de destinação e tratamento final. Então, podemos concluir que as diferenças são influenciadas pelo tipo de clima, de acordo com as épocas festivas (tanto em âmbito nacional, quanto regional) e perfil socioeconômico da população, isso porque a renda da população, bem como os costumes influenciam diretamente no tipo de resíduo produzido. A composição física dos resíduos, segundo Cabral (2013), pode ser realizada segundo o processo de compressão do resíduo, carregamento, acondicionamento temporário e final, e destinação final. 8 A caracterização dos componentes dos resíduos sólidos auxilia na determina- ção dos seus principais aspectos físico-químicos, biológicos, qualitativo e/ou quantita- tivo. Os resultados analíticos ajudam na classificação do resíduo e, a partir dessa classi- ficação, pode-se escolher a melhor forma de sua destinação. Como características físicas, temos: o teor de umidade, o peso específico, a composição gravimétrica e a compressividade e per capita dos resíduos. O teor de umidade dos resíduos é a característica física que se refere à quantidade de líquidos ou fluídos presentes na massa residual. O teor de umidade apresenta forte influência com caráter determinante, especialmente nos processos de tratamento e destinação final do resíduo (FRANQUETO, 2016). Com relação à composição gravimétrica, essa característica física se refere ao percentual apresentado de cada elemento em relação ao peso total do resíduo. De acordo com IBAM (2004), a característica física referente ao peso específico é relacionada ao peso dos resíduos em função do volume por eles ocupados em um determinado recipiente. Dessa forma, a determinação do peso específico é considerada fundamental para o dimensionamento de equipamentos e instalações utilizados para acondicionamento, transporte intermediário e final dos resíduos, portanto, é um atributo de engenharia nos projetos. Guadagnin et al. (2014) relatam que os componentes mais comuns de ocorrerem na composição gravimétrica são os papéis, metais, vidros, plásticos e matéria orgânica. A unidade de medida utilizada para determinar o peso específico é kg/m3. A característica compressividade que se refere ao grau de compactação, indica a redução de volume que uma massa de resíduo pode sofrer, quando submetida a uma determinada pressão. Essa característica física auxilia no aumento da vida útil dos aterros, visto que, compactar com eficiência os diferentes resíduos sólidos nas células dos aterros sanitários é, atualmente, uma das soluções mais eficazes em favor da gestão de resíduos sólidos. Esse fato é mencionado porque, quanto mais resíduo é confinado, menos a necessidade de se abrir novos aterros. Por fim, o item per capita se refere à massa de resíduos sólidos produzida por uma pessoa em um dia (kg/hab/dia). As características químicas de um resíduo auxiliam na análise da influência direta dos resíduos para com o seu tratamento final e também a definição da sua destinação final. Como exemplos de características químicas temos: poder calorífico, potencial de hidrogênio, teor de cinzas e relação de carbono e hidrogênio. Por meio da característica do poder calorífico, é possível verificar a quantidade de calor desprendida durante a combustão de um quilo de resíduos sólidos. 9 O potencial de hidrogênio (pH) se refere ao teor de alcalinidade ou acidez da massa de resíduos. Com relação ao teor de cinzas, a característica atua no percentual de cada constituinte da matéria orgânica, por exemplo as cinzas, gorduras, macronutrientes, micronutrientes, resíduos minerais, dentre outras. Por fim, a relação de carbono e nitrogênio ou relação C/N determina o grau de degradação da matéria orgânica. Nesse sentido, é muito importante essa característica para a escolha do tratamento final de resíduos. A última característica da composição dos resíduos é a biológica. Essa carac- terística é de extrema importância, visto que, na massa dos resíduos sólidos, apresen- tam-se agentes patogênicos e microrganismos com capacidade de interferências ne- gativas para a saúde humana. No Quadro 1, são apresentados o tempo de sobrevivência (dias) de microrganismos patogênicos presentes nos Resíduos Sólidos (RS). Quadro 1 – Tempo de sobrevivência de microrganismos patogênicos encontrados nos resíduos Fonte: adaptado de Funasa (2014) Micro-organismo Tempo de sobrevivência (dias) Doenças causadas Salmonella typhi 29 a 70 Febre tifoide Salmonella Paratyphi 29 a 70 Febre paratifoide Salmonella sp 29 a 70 Salmoneloses Shigella 2 a 7 Disenteria bacilar Coliformes fecais 35 Gastroenterites Leptospira 15 a 43 Leptospirose Mycrobacterium Tuberculosis 150 a 180 Tuberculose Vibrio cholerae 1 a 13 Cólera Enterovírus 20 a 70 Poliomielite Ascaris lumbricoides 2000 a 2500 Ascaridíase Trichuris trichiura 1800 Trichiuríase Larvas de ancilóstomos 35 Ancilostomose Entamoeba histolytica 8 a 12 Amebíase Quando se relaciona microrganismos com resíduos, é preciso considerar que eles representam um problema sanitário de importância quando não recebem os cuidados necessários. A proliferação das doenças relacionadas aos resíduos se dá por meio dos vetores, por exemplo ratos, pulgas, moscas, mosquitos, baratas, gados, porcos, cães e gatos (FUNASA, 2014). 10 2.3 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS Todo resíduo sólido gerado está direcionado a alguma origem, processo de produção ou utilização e transformação de algum bem adquirido na nossa sociedade. Atualmente, boa parte dos resíduos sólidos produzidos são compostos de materiais recicláveis, o que propicia criar alternativas para aproveitamento dos materiais e aumentar a vida útil dos aterros sanitários. Nesse sentido, com o objetivo de aprimorar o gerenciamento do sistema de coleta, transporte e tratamento dos resíduos sólidos, utilizam-se diferentes tipos de classificações de acordo com as características e materiais constituintes dos diversos tipos de resíduos. Uma das classificações de resíduos básicas é: resíduos orgânicos e inorgânicos. Resíduos orgânicos são aqueles que fazem parte do “lixo” orgânico, com origem animal ou vegetal e os resíduos inorgânicos não possuem origem biológica, ou seja, são produzidos por meios não naturais, pelo próprio homem. Os principais métodos de classificação dos resíduos são quanto: • origem; • riscos potenciais à saúde públicae ao meio ambiente; • natureza físico-química dos resíduos. De forma geral, a origem do resíduo está condicionada como o principal componente para a caracterização dos resíduos sólidos (BAASCH, 1995). No Quadro 2, é apresentada a classificação dos resíduos sólidos quanto à origem. Quadro 2 – Classificação dos resíduos quanto à origem Resíduos Descrição: origem Exemplo Domiciliares (a) Residências urbanas Restos de comida, cascas de alimentos, produtos deterio- rados, verduras, jornais e re- vistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico, fral- das descartáveis Limpeza urbana (b) Varrição, limpezas de ruas e vias públicas, serviços de limpeza urbana Metais, aço, papel, plástico, vidro, matéria orgânica Comércio e prestadores de serviços (d) Comércio e prestadores de serviços Papel, plásticos, embalagens diversas e resíduos de asseio dos funcionários, tais como papéis toalha, papel higiênico 11 Fonte: adaptado de Brasil (2010) Serviços públicos de saneamento básico (e) Serviços de saneamento básico Tratamento de esgoto Industriais (f) Processos produtivos e instalações industriais (grande parte são resíduos de alta periculosidade) Cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borra- cha, metal, escórias, vidros e cerâmicas Serviços de saúde (g) Resíduos sépticos (potencial- mente podem conter patóge- nos), resíduos não sépticos que não entraram em contato dire- to com os pacientes ou com os resíduos sépticos, são conside- rados como domiciliares Seringas, gazes, órgãos remo- vidos, meios de culturas e co- baias, remédios com validade vencida, filmes fotográficos de raio-X Construção civil (h) Atividades na construção civil Demolições e restos de obras, solos de escavações diversas Agrossilvopastoris (i) Atividades agropecuárias e silviculturais Embalagens de defensivos agrí- colas, restos de criatórios inten- sivos (produtos veterinários, res- tos de processamento, estrume etc.), bagaço de cana, laranja Serviços de transportes (j) Atividades de portos, aeropor- tos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira Materiais de higiene e asseio pessoal Mineração (k) Atividades de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios - Os resíduos sólidos orgânicos com origem domiciliar são geralmente aqueles que não constituem um grande problema nas áreas rurais, visto que em grande parte são oriundos de práticas usuais de uso dos restos orgânicos para a alimentação das criações animais (ex.: porcos, galinhas, cabras etc.). Os resíduos especiais são aqueles provenientes do resíduo gerado na construção civil, chamados de entulhos, os resíduos biológicos, químicos ou rejeitos radioativos, provenientes de equipamentos usados no serviço de saúde e o resíduo industrial, formado por resíduos corrosivos, inflamáveis, tóxicos etc. 12 A Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição é um órgão destinado a trabalhar com o que há de mais avançado na questão dos resíduos da construção civil, em consonância com as questões ambientais, é uma grade auxiliar para as empresas de construção civil. De acordo com a NBR 10004 (2004a, p. 2), “para os resíduos sólidos e semissólidos, a referida norma tem como principal objetivo padronizar a classificação de resíduos, fortalecendo sua destinação adequada”. No Quadro 3, são apresentados os resíduos conforme a classificação quanto à periculosidade. Quadro 3 – Classificação dos resíduos quanto à periculosidade Fonte: adaptado de ABNT (2004a), Capanema, Cabana e Cabral (2014) RESÍDUOS CARACTERÍSTICAS Perigosos Devido às características de inflamabilidade, corrosividade, reativida- de, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenecidade e apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental Não perigosos aqueles não enquadrados como perigosos A classificação de resíduos sólidos e semissólidos industriais é regida pela NBR 10004/2004 preconiza a padronização da classificação de resíduos industriais, fortalecendo sua destinação adequada, dividindo-os em duas classes: • Classe I: resíduos perigosos; • Classe II: resíduos não perigosos. Os resíduos classificados como perigosos são aqueles que podem ocasionar danos à saúde pública, meio ambiente (fauna e a flora), em função de suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas, propiciando risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices. Segundo a ABNT (2004), devido às pro- priedades físico-químicas ou infectocontagiosas, os resíduos sólidos podem desencadear riscos comprometendo o meio ambiente e a saúde humana e animal, portanto, precisam ser classificados corretamente e destinados ao melhor tratamento possível. O descarte incorreto de resíduos classificados como perigosos pode acarretar em contaminações do solo e lençóis freáticos, propiciando risco à saúde de pessoas e do meio ambiente, visto que uma grande parte deste tipo de resíduo contém substâncias químicas muito perigosas em sua composição como em metais pesados. Como características referentes aos resíduos perigosos, cita-se: corrosividade, patogenicidade, inflamabilidade, toxicidade ou reatividade. Resíduos considerados corrosivos são aqueles que apresentam uma ou mais das características a seguir, segundo a NBR 10007 (2004d): 13 • ser aquoso e apresentar pH (potencial hidrogeniônico) inferior ou igual a 2, superior ou igual a 12,5 e quando misturado com água na proporção de 1:1 em peso produzir uma solução com pH inferior a 2 ou superior ou igual a 12,5; • ser líquido e quando misturado com água na proporção 1:1 em peso produzir corrosão no aço maior que 6,5 mm/ano em temperatura de 55 ºC. Os resíduos considerados inflamáveis são aqueles que apresentam uma ou mais das características a seguir, segundo a 10007 (2004d): • ser líquido com ponto de fulgor inferior a 60 ºC, com exceção das soluções aquosas com menos de 24% do volume em álcool. O ponto de fulgor é determinado, conforme NBR 14598/ 2012; • não ser líquido, mas em condições de temperatura de 25 ºC e pressão de 1 atmosfera produzir fogo por fricção, absorção de umidade ou alterações químicas espontâneas, queimando de modo vigoroso e persistente dificultando a extinção do incêndio; • ser oxidante definido como substância que pode liberar oxigênio, estimulando a combustão ou aumentando a intensidade do fogo em outros materiais; • ser gás comprimido inflamável de acordo com as regras para o transporte de produtos perigosos. São considerados resíduos perigosos devido às suas características: • restos de tinta (inflamáveis e podem ser tóxicas); • material hospitalar (patogênicos); • produtos químicos (podem ser tóxicos, podem ser reativos: reagir com alguma outra substância e causar incêndio ou serem corrosivos também); • produtos radioativos; • lâmpadas fluorescentes (metal: mercúrio, que é considerado metal pesado e bioacumula, contaminando o ambiente onde for descartada, pois o mercúrio solto na natureza contamina outros organismos, causando problemas para o metabolismo de quem absorver); • pilhas e baterias (metais em sua composição que podem ser corrosivos, reativos e tóxicos dependendo do ambiente em que se encontram). Toxidade se refere à propriedade que o agente tóxico possui de provocar um efeito adverso em consequência de sua interação com o organismo, seja por inalação, ingestão ou absorção cutânea. Os resíduos são classificados como tóxicos quando apresentam uma ou mais destas características: • Quando o extrato obtido da amostra, segundo a ABNT NBR 10005/2004 conter qualquer um dos contaminantes em concen- trações superiores aos valores constantes no anexo F da norma. Ressalta-se que, para esse caso, o resíduo deve ser caracterizado como tóxico com base no ensaio de lixiviação. • Possuir uma ou mais substâncias constantes no anexo C e apresentar toxicidade. Para avaliaçãoda toxicidade, considera-se os seguintes fatores: 14 o natureza da toxicidade apresentada pelo resíduo; o concentração do constituinte no resíduo; o potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, tem para migrar do resíduo para o ambiente, sob condições impróprias de manuseio; o persistência do constituinte ou qualquer produto tóxico de sua degradação; o potencial que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, tem para degradar-se em constituintes não perigosos, considerando a velocidade em que ocorre a degradação; o extensão em que o constituinte, ou qualquer produto tóxico de sua degradação, é capaz de bioacumulação nos ecossistemas; o efeito nocivo pela presença de agente teratogênico, mutagênico, carcinogênico ou ecotóxico, associados a substâncias isolada- mente ou decorrente do sinergismo entre as substâncias consti- tuintes do resíduo. • Ser constituída por restos de embalagens contaminadas com substâncias constantes nos anexos D ou E. • Resultar de derramamentos ou de produtos fora de especificação ou do prazo de validade que contenham quaisquer substâncias constantes nos anexos D ou E. • Ser comprovadamente letal ao homem. • Possuir substância em concentração comprovadamente letal ao homem ou estudos do resíduo que demonstrem uma DL50 oral para ratos menor que 50 mg/kg ou CL50 inalação para ratos menor que 2 mg/L ou uma DL50 dérmica para coelhos menor que 200 mg/kg (ABNT, 2004a, p. 4-5). Um resíduo é caracterizado como reativo quando: • ser normalmente instável e reagir de forma violenta e imediata, sem detonar; • reagir violentamente com a água; • formar misturas potencialmente explosivas com a água; • gerar gases, vapores e fumos tóxicos em quantidades suficientes para provocar danos à saúde pública ou ao meio ambiente, quando misturados com a água; • possuir em sua constituição os íons CN- ou S2- em concentrações que ultrapassem os limites de 250 mg de HCN liberável por quilograma de resíduo ou 500 mg de H2S liberável por quilograma de resíduo; • ser capaz de produzir reação explosiva ou detonante sob a ação de forte estímulo, ação catalítica ou temperatura em ambientes confinados; • ser capaz de produzir, prontamente, reação ou decomposição detonante ou explosiva a 25°C e 0,1 MPa (1 atm); • ser explosivo, definido como uma substância fabricada para produzir um resultado prático, através de explosão ou efeito pirotécnico, esteja, ou não, essa substância contida em dispositivo preparado para este fim (ABNT, 2004a, p. 4). Os resíduos que contêm microrganismos associados a doenças, proteicas virais, ácidos desoxirribonucleicos (DNA) ou ribonucleicos (RNA), organismos geneticamente modificados, plasmídeos, cloroplastos, mitocôndrias e/ou toxinas capazes de alterarem as condições normais de saúde em seres humanos, animais e vegetais são considerados resíduos patogênicos. 15 Dessa forma, os resíduos que mais se encaixam nessa categoria são os pro- venientes dos serviços de saúde, assim como laboratórios, empresas, universidades e outras atividades que produzem uma ou mais das cinco categorias em que são en- quadrados pela Resolução da Anvisa, nº 306/2004. Como reconhecimento, os resíduos podem ser classificados em grupos: Grupo A, Grupo B, Grupo C, Grupo D e Grupo E. O descarte inadequado de resíduos da área de saúde tem produzido passivos ambientais capazes de colocar em risco e comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. A RDC Anvisa nº 306/2004 e a Resolução Conama nº 358/2005 versam sobre o gerenciamento dos Resíduos do Serviço de Saúde (RSS) em todas as suas etapas. Definem a conduta dos diferentes agentes da cadeia de responsabilidades pelos RSS. O Grupo A contém nos resíduos a presença de agentes biológicos (virulência), podendo acarretar risco de infecção ao ser humano. Por exemplo, resíduos de fabricação de produtos biológicos (exceto os hemoderivados), como resíduos de curativos; descarte de vacinas de microrganismos vivos; bolsas transfusionais contendo sangue rejeitado por contaminação (devem ser submetidas a tratamento por processo que reduzam ou eliminem a carga biológica); carcaças, peças anatômicas; produto de fecundação sem sinais vitais e órgãos, tecidos (ANVISA, 2004). A Figura 2 apresenta o símbolo universal de substância infectante. Figura 2 – Identificação dos resíduos pertencentes ao grupo a (substância infectante) Fonte: Anvisa (2006, p. 43) Os resíduos do Grupo B são aqueles que apresentam características químicas, como inflamabilidade, corrosividade, reatividade ou toxicidade, propiciando risco à saúde pública ou ao meio ambiente. Como exemplo desse grupo temos: os produtos hormonais e produtos antimicrobianos; resíduos de saneantes, desinfetantes; efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores); efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises clínicas (ANVISA, 2004). A Figura 3 apresenta o símbolo universal de risco químico. 16 Figura 3 – Identificação dos resíduos pertencentes ao grupo b (símbolo de risco químico) Figura 4 – Identificação dos resíduos pertencentes ao grupo c (símbolo de risco radioativo) Figura 5 – Identificação dos resíduos pertencentes ao grupo d (símbolo de materiais recicláveis) Fonte: Anvisa (2006, p. 43) Fonte: Anvisa (2006, p. 43) Fonte: Anvisa (2006, p. 43) Os resíduos do Grupo C apresentam características radioativas e, para eles, não é prevista reutilização (Anvisa, 2004). A Figura 4 apresenta o símbolo universal de risco radioativo. Resíduos resultantes de atividades humanas e que não apresentem risco (biológico, químico ou radiológico) à saúde e ao meio ambiente são classificados no Grupo D. Por exemplo, papel de uso sanitário e fralda; material utilizado em antissepsia e sobras de alimentos (ANVISA, 2004). A Figura 5 apresenta o símbolo universal de materiais recicláveis. 17 Figura 6 – Identificação dos resíduos pertencentes ao grupo e (símbolo de recipiente dos resíduos perfurocortantes) Fonte: Anvisa (2006, p. 43) Por fim, os resíduos pertencentes ao Grupo E, que são aqueles resíduos com características perfurocortantes, por exemplo, as lâminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (ANVISA, 2004). A Figura 6 apresenta o símbolo universal de resíduos perfurocortantes. Já os resíduos classificados como não perigosos se referem àqueles que não apresentam riscos ao meio ambiente ou ameaçam a saúde pública. Por exemplo, papel, papelão, plástico e sucatas ferrosas não contaminadas. Os resíduos considerados não perigosos são subdivididos em duas novas Classes: II-A (não inertes) e II B (inertes). Com relação aos resíduos II-A, são considerados não inertes e se referem àqueles que não estão enquadrados na Classe I ou II-B. Os resíduos enquadrados nessa classificação apresentam como propriedades: biodegradabilidade, solubilidade ou combustibilidade em água. Já os resíduos II-B são considerados inertes e se referem a qualquer resíduo que, após uma avaliação em laboratório pelas normas NBR 10006 (2004c) ou 10007 (2004d), não apresentaram em nenhum dos seus componentes solubilizados a concentração recomendada para os padrões de potabilidade de água, considerando as análises químicas: cor, turbidez, pH, sabor e dureza. 18 Você sabe o que é e onde foram encontrados os resíduos mais velhos do mundo? Esses resíduos foram encontrados na África do Sul e têm aproximadamente 140 mil anos de idade. O lixo é considerado milenar e contém ossos, carvão, fezes e restos de cerâmica, oferecendo aos pesquisadores informações preciosas sobre os hábitos de vida do homem antigo. Disponível em: https://bbc.in/3C9xwfb. INTERESSANTE Ainda, observamos a classifi cação dos resíduos sólidos quanto às características físico-química que se refereao método empregado pelos programas de reciclagem, por ser facilmente adotada pela população. Nesse sentido, os resíduos sólidos são classifi cados como “secos” ou “úmidos”. Esse tipo de classifi cação é considerado simples e tem como objetivo facilitar a triagem dos materiais recicláveis e o encaminhamento dos resíduos orgânicos para processos, por exemplo, a compostagem, que propiciam a redução do volume de resíduos depositados nos aterros. O resíduo classifi cado como “seco” é composto por toda a gama de materiais que interessam para a reciclagem, como vidros, metais, plásticos, papel e papelão (FUNASA, 2020). O resíduo considerado “úmido” corresponde à fração orgânica dos resíduos, por exemplo, as sobras de comida, cascas de frutas e ossos, restos de plantas, pó de café, resíduos de banheiro, entre outras (FUNASA, 2020). O manejo incorreto dos resíduos sólidos acarreta contaminação do meio ambiente e proliferação de vetores transmissores de doenças, o grande volume de resíduos acumulados em áreas consideradas inadequadas pode ter como consequências: • a depreciação imobiliária, visto que as áreas ao entorno perdem valor; • o desperdício de matéria-prima; • o aumento nos custos para coleta e tratamento dos resíduos sólidos; • a difi culdade para encontrar locais disponíveis para a disposição fi nal dos resíduos sólidos. 3 FORMAS DE DISPOSIÇÃO/TRATAMENTO DE RESÍDUOS A partir do conhecimento adquirido até aqui, da conceituação do que é resíduo e suas formas de classifi cações, agora, será preciso considerar que os resíduos sólidos são agentes potenciais para poluição da água, solo e ar. Essa característica de poluição, quando descartados de forma incorreta ou inadequada, representam uma grande 19 variação de contaminantes e contaminações, não só para a sociedade, em especial a vida humana, mas também para o meio ambiente (vida vegetal e animal). Dessa forma, é preciso prever o tratamento e disposição final adequada para os resíduos sólidos. 3.1 TRATAMENTO DE RESÍDUOS Os tratamentos de resíduos sólidos buscam aplicar técnicas que objetivem reduzir a quantidade e o potencial poluidor dos resíduos sólidos. Em geral, uma unidade de tratamento de resíduos sólidos é conceituada como toda e qualquer instalação que contenha, ou não, equipamentos eletromecânicos (RECESA, 2008). Nesse sentido, cita-se como unidades de tratamento o processo de compostagem, reciclagem, aterro sanitário e incineração. 3.1.1 Compostagem A compostagem é um tipo de tratamento biológico para resíduos, sendo empregado em sistemas aeróbios e controlados. No processo de compostagem, a matéria orgânica proveniente dos resíduos é degradada e convertida pela ação dos microrganismos (existentes ou incorporados) nos resíduos, em composto orgânico. O Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2012) reporta que a compostagem é a reciclagem dos resíduos orgânicos. A compostagem é uma técnica que permite a transformação de resíduos or- gânicos, como as sobras de frutas, legumes e alimentos em geral, podas de jardim, trapos de tecido, serragem entre outros, em adubo orgânico, que pode ser incorporado à agricultura. Como a técnica da compostagem é aplicada somente na fração orgânica dos resíduos sólidos, é muito importante que, ao projetar esse processo, haja uma análise da constituição das parcelas dos resíduos, pois é preciso que exista uma geração suficiente da fração orgânica para o sucesso do processo. Dessa forma, a característica de composição gravimétrica é fundamental, assim como sua análise e verificação. A decomposição envolve processos físicos e químicos. Os processos físicos são realizados por invertebrados, como ácaros, centopeias, besouros, minhocas, lesmas e caracóis, que transformam os resíduos em pequenas partículas. Já os processos químicos incluem a ação de bactérias, fungos e alguns protozoários, que degradam os resíduos orgânicos em partículas menores, dióxido de carbono e água. Quando se fala em compostagem, é preciso considerar alguns fatores importantes, como a umidade, aeração, temperatura, pH, relação carbono/nitrogênio e microrganismos. 20 A água é indispensável no preparo do composto orgânico, visto que os micror- ganismos só sobrevivem na sua presença. Dessa forma, o teor de umidade ideal situa- -se entre 40% e 60% (KIEHL, 2009). Entretanto, quando os resíduos estão muito secos, esse fator não impossibilita o sucesso do processo de compostagem, visto que poderá ser realizado algumas correções no teor de umidade, como a inserção de água na mas- sa residual até que se atinja a faixa ideal, já preconizada na literatura e estudada neste tópico. Resíduos sólidos com elevado teor de umidade, muito acima do preconizado como ideal, tendem a difi cultar o processo da compostagem, sendo nesse caso, o mais indicado um tratamento de forma anaeróbio (que ocorre em ausência de oxigênio). Resíduos de origem como esgoto sanitário e águas residuárias provenientes da higienização de baias de animais são ricos em matéria orgânica, porém, devido à grande quantidade de água em sua composição, indica-se que sejam tratados por meio de processos anaeróbios, como reatores biológicos, biodigestores. INTERESSANTE Como o processo de compostagem é aeróbio (com presença de oxigênio), o nível de oxigenação (aeração) é primordial para o sucesso do processo. Dessa forma, a quantidade necessária de oxigênio para a compostagem dependerá do estágio em que o processo se encontra (BOSCO, 2017). Nas primeiras etapas, o processo se confi gura como uma rápida degradação, dessa forma, o nível de aeração é muito exigido. Diferentemente das últimas etapas, em que ocorre redução da atividade dos microrganismos, estes preferem condições menos oxidativas, fazendo com que a necessidade de oxigênio decaia. Ainda, no que tange à aeração, é preciso que o processo seja revolvido: ação manual ou mecânica. O ciclo de reviramento se situa, em média, duas vezes por semana durante os primeiros 60 dias do processo. A compostagem pode ser referenciada como um processo exotérmico, visto que ocorre a geração de calor, devido à atividade dos microrganismos presentes na massa residual. Nesse sentido, a temperatura é um fator extremamente importante. Bosco (2017) relata que a temperatura ideal para o processo é de 55 ºC. Ainda, a autora recomenda que temperaturas acima de 75 ºC, devido ao fato de acarretar a eliminação dos microrganismos estabilizadores do processo, são responsáveis pela degradação dos resíduos orgânicos. A temperatura tende a variar durante o processo todo de compostagem. Essas variações são denominadas de: fase mesofílica de aquecimento, fase termofílica, fase mesofílica e de resfriamento e maturação, conforme a Figura 7. 21 Figura 7 – Fases de temperatura no processo de compostagem Fonte: adaptada de Kiehl (2009) A fase mesofílica tem duração de poucos dias e propicia condições neces- sárias para que o processo se inicie, ou seja, é uma fase de start. Durante sua manu- tenção de processo predominam as faixas de temperaturas consideradas moderadas (30 a 45 ºC) (BOSCO, 2017). Na segunda fase, denominada como termofílica, o processo tem como objetivo atin- gir uma temperatura maior que 55 ºC. Nessa fase, é quando a matéria orgânica, em sua maior parte, é degradada. Após essa degradação da matéria, a temperatura inicia o decaimento e volta próximo às encontradas na fase mesofílica, configurando como uma fase denominada de res- friamento. Nesse resfriamento do processo, a população de microrganismos termofílicos são desativadas por não sobreviverem devido às quedas de temperatura (BOSCO, 2017). Na última etapa, denominada de maturação, ocorre a degradação final do material e a temperatura tende a apresentar seu valor próximo à temperatura ambiente do local (BOSCO, 2017). Um fator de extrema importância e que interfere no processo de compostagem é o pH. Ele interferente no processo de degradação de matéria orgânica, visto a predo- minância de