Prévia do material em texto
AGROSTOLOGIA AULA 4 Prof. José Victor Pronievicz Barreto 2 CONVERSA INICIAL Foram apresentados, em conteúdos anteriores, diversos conceitos acerca de tipos de forragens, bem como suas características morfofisiológicas, padrões de crescimento com enfoque para pastejo e métodos matemáticos para determinação de taxa de lotação, capacidade e suporte e número de piquetes, todos necessários para evitar a degradação irreversível das áreas de cultivos. Estudamos, também, as etapas adotadas durante o preparo do solo, como gradagem, aração etc. Agora, separadamente, abordaremos a correção dos níveis de acidez do solo, denominado calagem, e a melhoria de fertilidade pelo uso de adubação, para que se obtenham os conhecimentos fundamentais para o preparo de questões específicas da forrageira, quer seja em formação ou recuperação. Inclusive, dependendo do manejo do solo e da adubação utilizados, pode-se atingir níveis tóxicos e até letais para as forrageiras. Figura 1 – Fertilizantes agrícolas em diferentes apresentações e composições Créditos: OoddySmile Studio/Shutterstock. TEMA 1 – CALAGEM Entre os fatores que contribuem para o aumento da acidez do solo, podemos citar o próprio cultivo carreando a absorção de cátions pelas raízes das plantas, deixando em seus lugares quantidades equivalentes de íons hidrogênio. Também podemos ressaltar que a própria atividade biológica produz ácidos e, adicionalmente, a aplicação de fertilizantes amoniacais e ureia resultam na acidificação pelo acúmulo de ácido nítrico (HNO3) ou ácido sulfúrico (H2SO4) no solo (Quaggio, 2000). 3 A acidez do solo, ou seja, o pH do solo, altera a disponibilidade de nutrientes, pois conforme a concentração de íons hidrogênio na solução do solo gera pH excessivamente ácido, existe redução na disponibilidade de nutrientes como cálcio, magnésio, potássio, molibdênio e fósforo. O pH excessivamente ácido aumenta a solubilização de íons cobre, ferro, manganês, alumínio e zinco. Logo, há condições adequadas de solo que são essenciais para o devido estabelecimento das forrageiras que gerem ótima produtividade vegetal e animal (Quaggio, 2000). Figura 2 – Múltiplas possibilidades de adubações, entre as principais tem-se nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), assim como outros nutrientes, como ferro (Fe), cálcio (Ca), boro (B), magnésio (Mg), zinco (Zn), cloro (Cl), manganês (Mn), enxofre (S), molibdênio (Mo) e cobre (Cu) Créditos: kram-9/Shutterstock. Diante disso, nota-se que a correção da acidez dos solos por meio da calagem é fundamental para o uso eficiente dos fertilizantes pelas plantas, fatidicamente para aquelas culturas mais sensíveis às condições de solos ácidos (Quaggio, 2000). A calagem tem como objetivo elevar o pH do solo até um valor ótimo, que seria um pH médio entre 5,5 e 6,5, permitindo neutralizar ou reduzir os efeitos tóxicos do alumínio e/ou do manganês presentes no solo, visando 4 garantir um ambiente melhor para o desenvolvimento radicular que absorve os nutrientes essenciais. Podemos inclusive, partindo da premissa de que um pH médio entre 5,5 e 6,5 é ideal, ressaltar que o pH de referência para a alfafa é de 6,5; para leguminosas de estações frias e quentes e consorciações de estação fria e quente é de 6,0; e para gramíneas de estação fria e quente é de 5,5. Logo, quando o pH é menor que os referidos, recomenda-se a correção por meio da calagem (Raij, 1991). Conceituamos então a calagem como sendo o processo de incorporar cálcio e magnésio para neutralizar a acidez do solo, visando à obtenção de um pH a nível ótimo para o desenvolvimento pleno das forrageiras. Tal prática também reduz o teor de alumínio e de manganês no solo (Raij, 1991). A calagem gera diversos efeitos benéficos no solo, entre os quais podemos destacar os efeitos químicos que neutralizam a acidez do solo, como o aumento nos teores de cálcio e magnésio, a elevação do pH e o aumento da disponibilidade do fósforo, bem como os efeitos físicos que tornam o solo mais arejado, poroso e menos compactado, favorecendo o desenvolvimento das plantas. Por fim, temos os efeitos biológicos, que aumentam a atividade microbiana benéfica, dando condições favoráveis aos ecossistemas (Raij, 1991). Vários fatores são levados em consideração na recomendação da calagem, como o sistema de produção, a cultura, a necessidade de cálcio e magnésio como nutrientes e o retorno econômico. Existem diversos métodos possíveis para calagem, a depender da quantidade requerida de corretivo pela capacidade tampão do solo e da resistência à mudança de pH (Ernani; Almeida, 1986; Kaminski; Bohnen, 1976). Entre os métodos de calagem, ou seja, quanto à quantidade de calcário a ser aplicada, podem ser utilizados o método do SMP, em que se utiliza 1 SMP para pH 6,0 para as leguminosas, 1 SMP para pH 5,5 para gramíneas e, especificamente para a alfafa, 1 SMP para pH 5,5; o método de saturação por bases (%), o método do alumínio trocável ou o método do alumínio trocável mais suprimento de cálcio e magnésio (Ernani; Almeida, 1986; Kaminski; Bohnen, 1976). Quanto aos materiais passíveis na utilização para correção da acidez dos solos, tem-se materiais que contêm como constituinte neutralizante ou princípio ativo os óxidos, os hidróxidos, os carbonatos e os silicatos de cálcio 5 e/ou de magnésio, como calcário, cal virgem agrícola, cal hidratada agrícola, escórias e calcário calcinado agrícola (Kaminski; Bohnen, 1976). A calagem, em geral, deve ser feita de dois a três meses antes do plantio, não fracionada, no início da época das chuvas, pois o calcário não gera uma reação imediata, devido a não ser muito solúvel, logo, por isso a calagem deve ser feita com antecipação para que possa reagir e proporcionar os devidos efeitos (Ernani; Almeida, 1986). De qualquer forma, a calagem deve ser uniforme em todo o terreno, sempre incorporada em profundidade mínima de 20 cm. Após a primeira calagem, o efeito do calcário no solo é duradouro, em média mais cinco anos, porém, análises do solo anualmente e subsequente à primeira calagem podem sugerir correções menores necessárias (Ernani; Almeida, 1986). Figura 3 – Trator aplicando calagem em área de cultivo Créditos: BRASTOCK/Shutterstock. TEMA 2 – FOSFATAGEM A fertilização fosfatada é muito importante, pois desequilíbrios de fosfato (P) prejudicam o desenvolvimento das forrageiras e os solos normalmente são pobres nesse nutriente. De modo geral, a dose da fosfatagem depende da análise de solo, e as espécies forrageiras, tanto gramíneas quanto leguminosas, podem ser classificadas em baixa exigência, média exigência e 6 elevada exigência. Ressalta-se que o P é o nutriente mais limitante para o bom desenvolvimento de leguminosas (Ernani; Almeida, 1986). Além disso, vamos relembrar que no momento da implantação de pastagem, a adubação com fósforo e a calagem não devem ocorrer ao mesmo tempo. Entre as funções essenciais do P nas plantas em geral, podemos citar (Raven; Evert; Eichhorn, 2014): • Acelerar a formação de raízes; • Aumentar a frutificação; • Acelerar a maturação dos frutos; • Aumentar o teor de carboidratos, óleos, gorduras e proteínas; • Auxiliar na fixação simbiótica do nitrogênio; • Otimizar os processos fotossintéticos. Figura 4 – Fábrica de processamento de mina de fosfato para uso agrícola Créditos: Chatrawee Wiratgasem/Shutterstock. O fósforo é essencial na formação do ATP (adenosina trifosfato), a principal fonte de energia da planta, podendo ser armazenada. Essa energia auxilia na divisão celular, na expansão celular e demais processos energéticos formadores das forrageiras (Raven; Evert; Eichhorn, 2014). 7 A deficiência de P no solo pode resultar em uma forrageira com maior concentraçãode folhas em senescência, na presença de manchas pardas nas folhas, na dormência nas gemas laterais e inclusive no florescimento mais tardio, prejudicando imensamente o desempenho da planta forrageira (Vilela et al., 1998). O pentóxido de fósforo (P2O5) é a fonte de P mais utilizada no meio agronômico, amplamente utilizado comercialmente. Entre os fertilizantes contendo P2O5, existem os fosfatos solúveis em água (Superfosfato simples; Superfosfato triplo; Fosfato diamônico; Fosfato monoamônico) e os insolúveis em água (Fosfato natural; Fosfato natural reativo; Termosfosfato). Por isso, a interpretação dos teores de P em fertilizantes fosfatados varia com a sua solubilidade em água (Alcarde, 2007). Este mérito de solubilidade diz respeito à pronta disponibilidade para plantas devido à maior parte do P solúvel em água. Mas nessas formulações de P solúveis em água há também uma fração relativamente pequena de P insolúvel em água, mas solúvel em citrato de amônio, logo, considerado disponível, embora não imediatamente. Existe ainda um fenômeno denominado efeito residual dos fertilizantes fosfatos, que consiste na transformação de formas insolúveis em solúveis com o passar do tempo (Vilela et al., 1998). Figura 5 – Fertilização fosfatada a lanço em área de cultivo Créditos: MIA Studio/Shutterstock. 8 A recomendação de adubação fosfatada depende de análises laboratoriais e químicas para predizer as quantidades de P a serem aplicadas, com base nos teores de P e de argila do solo analisado quimicamente, mas também deve levar em consideração a exigência da forragem por esse nutriente e a expectativa de produtividade dessas para a produção animal. Logo, conclui-se que a adubação fosfatada deve considerar a concentração de argila e também a disponibilidade de fósforo no solo (Vilela et al., 1998). A adubação fosfatada é recomendada para o plantio, pois o fósforo é o nutriente mais importante durante a germinação e o estabelecimento da forrageira. Por isso, considerando que o P possui baixa mobilidade no solo por movimentar-se principalmente por difusão, os fertilizantes fosfatados devem ser aplicados na linha de semeadura, próximo ao local de estabelecimento das raízes. Dessa forma, a fosfatagem a lanço superficialmente não apresenta grandes vantagens no plantio, mas pode ser utilizada se os teores desse nutriente no solo estiverem acima do limite crítico (Vilela et al., 1998). Assim, a aplicação de P a lanço em superfície, visando vantagens operacionais no plantio, somente é justificada em situações de teores de P no solo acima do nível crítico e quando a probabilidade de resposta à adubação for baixa (Vilela et al., 1998). Para as culturas perenes, recomenda-se aproveitar a fase de implantação da cultura para realizar a fosfatagem em profundidade no solo, nas covas ou sulcos de plantio, lembrando o conceito apresentado acima de que o P possui baixa mobilidade no solo e deve ser aplicado na linha de semeadura. Curiosamente, a adubação fosfatada é também importante para o desenvolvimento do P. maximum e para aumentar a resposta à adubação nitrogenada dessa forrageira (Vilela et al., 1998). Deve-se dar atenção especial na fosfatagem em relação à granulometria dos fertilizantes, fator de alta influência na efetividade da fosfatagem. Por isso, indica-se mais a aplicação de P solúveis de partículas granulométricas maiores, recomendando-se menos a forma em pó. Se o profissional optar por utilizar os fosfatos de rochas, que são de baixa solubilidade, a aplicação deve ser realizada 60 dias anteriormente à calagem (Raij, 1991). Note que se recomenda a fosfatagem diretamente no sulco de plantio, incorporado à terra, em granulometria alta. Porém, muitas vezes não há a 9 possibilidade de revirar a terra e, assim, passa-se a recomendar o uso de fosfatagem de menor solubilidade para que o P seja liberado constantemente com o passar dos dias. Como exemplo desse P de baixa solubilidade e granulometria, tem-se os fosfatos naturais reativos. Uma outra questão importante na fosfatagem em relação à disponibilidade e à granulometria da fonte consiste na atenção especial de forrageiras de ciclo curto, pois ao preparo inicial do solo, se a possibilidade for o uso de uma fonte de P de baixa solubilidade, deve-se atentar ao fornecimento de uma quantidade de P imediatamente disponível que supra a demanda inicial da forrageira, ou então aplicar fertilizante com P prontamente disponível em combinação com fertilizantes de solubilidade gradual (Vilela et al., 1998). Figura 6 – Aplicação de fertilizando diretamente no sulco de plantio Créditos: Ostariyanov/Shutterstock. Conclui-se que, na formação da pastagem, deve-se atentar para a melhor utilização possível do P para a forrageira, de forma que o fósforo deve ser aplicado nos arredores das sementes ou mudas, sendo altamente biodisponível (Vilela et al., 1998). TEMA 3 – POTASSAGEM O potássio (K) é um dos macronutrientes exigido em maior quantidade pelas culturas, sendo essencial na produção de carboidratos e na relação 10 água-planta. Entre as funções do K, tem-se a ativação ou a inibição enzimática, a síntese de proteínas, o transporte de carboidratos, a abertura de estômatos, a extensão celular, a osmorregulação e a fotossíntese. Além das funções citadas, podemos destacar (Vilela et al., 1998): • Aumentando da tolerância à seca; • Aumento da tolerância às doenças e ao frio; • Auxílio no transporte de açúcares; • Estímulo ao perfilhamento; • Fixação de nitrogênio; • Fotossíntese e na respiração das plantas; • Melhora a formação do sistema radicular; • Regulação da utilização da água; • Via de controle da abertura e do fechamento estomático. É importante saber a diferença básica entre as adubações. Conforme conversamos anteriormente, no plantio, é colocado o adubo fosfatado, pois esse é responsável pelo crescimento das raízes, por outro lado, para o adubo potássico e nitrogênio (próxima seção), a recomendação é aplicar em cobertura, anterior ao pastejo, quando a forrageira já apresenta potencial de crescimento (Vilela et al., 1998). Em relação à adubação potássica, também denominada potassagem, é recomendado que seja aplicada pelo método de faixa de suficiência de nutrientes no solo, levando em conta o teor do nutriente no solo analisado laboratorialmente, assim como a espécie da forrageira, as exigências férteis e a finalidade de produção particular. Exceto pela alfafa e pelas capineiras em sistemas intensivos, recomenda-se genericamente a aplicação entre 0,8 e 3,0 mmolc/dm³. Também é recomendada a aplicação de 30 kg a 40 kg de K²O no momento de implantar a forrageira e entre 20 kg e 50 kg de K²O na manutenção (Vilela et al., 1998). De maneira geral, em implementação de forrageiras, a utilização de adubação em solos acidificados torna os nutrientes indisponíveis, prejudicando o desenvolvimento das forrageiras e a produção animal a pasto. Diante disso, o primeiro passo é realizar práticas corretivas como a calagem. Posteriormente, deve-se fertilizar com fósforo (P) no momento do plantio e, então, com nitrogênio (N) e potássio (K) na manutenção da pastagem (Vilela et al., 1998). 11 Falamos no início desta seção sobre os efeitos positivos da presença em níveis satisfatórios de K, contudo, quando esse nutriente é deficiente no solo, pode ocorrer clorose em gramíneas e, logo após, necrose das margens e pontas das folhas, redução do crescimento vertical, ocorrência de colmos finos e menos resistência ao tombamento. Para as leguminosas, o sistema de nódulos é prejudicado, diminuindo a capacidade de fixação de nitrogênio, fator tão importante para as leguminosas. O potássio atua ativamente na fotossíntese e na regulação da pressão osmótica, do pH e na síntese de proteínas das forrageiras (Vilela et al., 1998).A aplicação de K via água de irrigação (fertirrigação) é uma prática comum entre os agricultores e não apresenta problemas em virtude da alta solubilidade da maioria dos sais desse nutriente. Veja, na imagem a seguir, um exemplo dessa prática. O cloreto de potássio é a fonte mais utilizada por ser normalmente a fonte mais barata por unidade de K2O e por apresentar maior solubilidade (Vilela et al., 1998). Figura 7 – Trator espalhando fertilizante de potássio no campo via irrigação Créditos: Tricky_Shark/Shutterstock. A recomendação para fertilização com potássio normalmente é por aplicação em sulcos de plantio, mas também pode ser feita a lanço antes do plantio. Contudo, em solos mais pobres, a aplicação no sulco é mais vantajosa, 12 pois otimiza o uso e reduz a quantidade necessária do elemento para torná-lo próximo ao sistema radicular. Por outro lado, em solos com teores altos de K, a influência do modo de aplicação é mínima. Se aplicado para culturas anuais, recomenda-se não exceder 60 kg/ha de K2O no sulco de plantio, e o restante deve ser aplicado em cobertura no início da fase de maior desenvolvimento das forrageiras. De qualquer forma, quando necessário aplicar doses do nutriente acima de 100 kg/ha de K2O, a aplicação deve ser parcelada e preferencialmente realizada a lanço (Vilela et al., 1998). TEMA 4 – ADUBAÇÃO NITROGENADA O nitrogênio (N) é um macronutriente intrínseco da produção satisfatória das forragens. A manutenção de níveis adequados de nitrogênio é de grande importância para que haja a formação de diversos compostos orgânicos da planta forrageira, como aminoácidos, aminoaçúcares, entre outros compostos. Esse macronutriente está envolvido em diversos processos metabólicos, como a síntese de hormônios e a fotossíntese, já que compõe a clorofila, além da ação direta no desenvolvimento e na formação de perfilhos, de folhas, de colmos e também de sementes. Diante disso, se o manejo do ecossistema da pastagem não for efetivo, pode ocorrer a diminuição da matéria orgânica do solo com a redução nos níveis de nitrogênio, logo, deficiências de nitrogênio podem levar à redução significativa da eficiência na utilização de forragem, gerando reflexos inclusive na produção animal (Alcarde, 2007). A TAF, Taxa de Aparecimento Foliar, conforme estudamos anteriormente, corresponde à relação entre o número de folhas surgidas por perfilho e o número de dias de avaliação, variável influenciada grandemente pela temperatura ambiente e pelo aporte de nitrogênio do ecossistema, ou seja, o nitrogênio atua diretamente no perfilhamento. Por outro lado, a deficiência de nitrogênio causará presença de folhas amareladas, retardamento do crescimento e diminuição das folhas. O excesso também causa problemas às plantas quando há desequilíbrio nutricional com outros elementos, predispondo a planta ao ataque de pragas e doenças e contribuindo para um retardamento na maturação das culturas e, por consequência, para um crescimento igualmente retardado (Alcarde, 2007). O N tem como ação a composição de proteínas e como função primordial o crescimento das plantas forrageiras, mas também é atuante na 13 formação do sistema radicular e, por isso, indiretamente favorece a absorção de nutrientes (Ceretta et al., 2007). O valor nutricional das plantas forrageiras é correlacionado aos níveis de N fornecidos à planta. Dessa forma, a nível de adubação, podemos trabalhar da seguinte forma: assim que se estabelecer uma pastagem, ela deve receber sua primeira adubação nitrogenada por volta dos 30 e 40 dias após emergir os perfilhos (forrageira cobrindo cerca de 60% a 70% da área), para que haja um melhor aproveitamento do fertilizante (Alcarde, 2007). Figura 8 – Adubação nitrogenada em área de cultivo recém-semeada, apresentando apenas perfilhos por mecanização Créditos: Oticki/Shutterstock. O N é um elemento móvel no solo e pode ser perdido facilmente por mecanismos naturais como a lixiviação (infiltração para camadas profundas do solo), erosão (arraste pelo escoamento superficial das águas), volatilização e desnitrificação (perdas gasosas) (Ceretta et al., 2007). Entre os fertilizantes nitrogenados comercialmente presentes no Brasil, tem-se a ureia, o sulfato de amônio, o nitrocálcio, o fosfato diamônico e o fosfato monoamônico, em que o N estará presente nas formas amídica (ureia), amoniacal ou nítrica, que são solúveis em água (Alcarde, 2007). 14 O N é altamente volátil, ou seja, há perdas de N na forma gasosa quando a ureia, por exemplo, é utilizada sem incorporação ou irrigação. Por isso, a recomendação para se aplicar o N é na época das águas, pela estratégia de cobertura a lanço, na quantia de 30 a 40 kg/ha de nitrogênio. Mas também não se deve aplicar o nitrogênio em épocas excessivamente chuvosas, pois pode ocorrer a perda por lixiviação. Se a adubação for necessária em época extremamente chuvosa, as aplicações podem ser parceladas, de modo que a planta aproveite o N rapidamente em parcelas com constância (Alcarde, 2007; Ceretta et al., 2007). Mesmo diante da tradição de fertilizar com N a lanço, estudos demonstraram que a distribuição da ureia dessa maneira, em que se mantem o nutriente na superfície do solo, resulta em menor eficiência desse fertilizante, com perdas estimadas em 40% (Ceretta et al., 2007). Dessa forma, estimula-se a fazer a cobertura do N com cerca de 5 cm de solo, reduzindo, assim, perdas. Em relação aos tipos de cultura e à fertilização nitrogenada, para culturas perenes, a dose de N a ser aplicada deve ser parcelada e aplicada de três a cinco vezes no período das chuvas. Nas culturas anuais, o N normalmente é parcelado em duas ou três vezes, sendo uma pequena parte da dose total recomendada no plantio, dependendo do ciclo da cultura e do tipo de solo, e o restante nos períodos de maior exigência das culturas (Alcarde, 2007; Ceretta et al., 2007). Por fim, existe a fertilização que reúne todos esses nutrientes das últimas seções, como o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K), normalmente disponível no comércio em proporções iguais, o NPK 10:10:10. Também existem variações conforme a recomendação profissional (Raij, 1991; Ceretta et al., 2007). 15 Figura 9 – Adubação com NPK manualmente a lanço Créditos: VISUALARTSTUDIO/Shutterstock. TEMA 5 – FIXAÇÃO DE NITROGÊNIO E A IMPORTÂNCIA DAS LEGUMINOSAS O emprego de forrageiras leguminosas é uma estratégia nutricional que aumenta a produtividade animal pela própria característica nutricional da leguminosa, mas também ao potencializar a produção de outras forrageiras pela fixação do nitrogênio atmosférico, que garante a melhoria da fertilidade do solo, culminando com a intensificação da produção de sistemas agropastoris ao reduzir as variações da oferta nutricional durante o ano (Raven; Evert; Eichhorn, 2014). Vamos entender o porquê disso. As leguminosas aumentam o aporte de nitrogênio no solo, reduzindo a necessidade de fertilização e, assim, naturalmente elevando a oferta de forragem, recuperando áreas de degradação e tornando as características do ecossistema favoráveis pela ciclagem de nutrientes, principalmente quando associados a gramíneas (Morrison, 1966). A consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras pode elevar a capacidade de suporte das pastagens. Logo, as leguminosas não são alternativas interessantes apenas para a suplementação alimentar diretamente. Mas, de qualquer forma, as leguminosas 16 apresentam teores de proteínas elevados, sendo uma forrageira de melhor digestibilidade e com maior tolerância ao período seco quando comparadas às gramíneas (Morrison, 1966). Interessantemente, as leguminosas possuem uma relação simbiótica com as bactérias do gênero Rhizobium. Essas bactérias são formadoras de nódulosnas raízes das leguminosas, o que contribui para a fixação do nitrogênio atmosférico e para a melhoria da fertilidade do solo. Quanto ao nitrogênio, a Leucena tem boa capacidade de fixação quando bem nodulada, com a fixação de aproximadamente 500 kg/ha/ano e em solo favorável. Devido a isso, tecnologias permitem a inoculação das sementes com bactérias Rhizobium fixadoras de nitrogênio (Congio; Meschiatti, 2019). Podemos concluir que o emprego de leguminosas, quer seja em associação com gramíneas ou não, podem aumentar a produtividade de um sistema agropastoril, sendo inclusive uma alternativa de menor custo se comparada ao uso de fertilizantes. Além disso, do ponto de vista ambiental, o uso de leguminosas pode reduzir a emissão dos gases de efeito estufa decorrente da melhora natural do desempenho animal (Congio; Meschiatti, 2019). NA PRÁTICA Reúna todos os conhecimentos obtidos em nossos estudos para passar as informações necessárias a um produtor rural sobre espécies do gênero C. dactylon passíveis de pastejo por ovinos. Monte uma planilha com as principais informações deste gênero, desde as características morfofisiológicas até a altura de pastejo e o período de descanso. E, por fim, explique ao produtor como se dá a implementação dessas forrageiras, desde o preparo do solo prévio ao plantio até as demais fertilizações. FINALIZANDO Esta etapa resume-se no fato de que é essencial a realização de análises químicas para a avaliação da fertilidade do solo para que possíveis problemas possam ser diagnosticados e soluções corretas sejam adotadas. 17 Com base na análise, o primeiro passo é realizar práticas corretivas como a calagem. Partindo da premissa de que um pH médio entre 5,5 e 6,5 é ideal, é importante ressaltar que o pH de referência para a alfafa é de 6,5; para leguminosas de estações frias e quentes e consorciações de estação fria e quente é de 6,0; e para gramíneas de estação fria e quente é de 5,5. Logo, quando o pH é menor que os referidos, recomenda-se a correção por meio da calagem. Posteriormente, deve-se fertilizar com fósforo (P) no momento do plantio e, então, com nitrogênio (N) e potássio (K) na manutenção da pastagem. Em geral, são necessários 30-40 kg/ha de nitrogênio, 20-40 kg/ha de fósforo e 40 a 60 kg/ha de potássio. Esse manejo, se realizado de forma preventiva, evitará gastos desnecessários oriundos da tomada de decisões sem embasamento técnico, assim como otimizará a produção vegetal e a produtividade animal. Concluímos a etapa entendendo que o emprego de forrageiras leguminosas é uma estratégia nutricional que aumenta a produtividade animal pela própria característica nutricional da leguminosa, mas também potencializa a produção de outras forrageiras pela fixação do nitrogênio atmosférico, que garante a melhoria da fertilidade do solo, culminando com a intensificação da produção de sistemas agropastoris ao reduzir as variações da oferta nutricional durante o ano. 18 REFERÊNCIAS ALCARDE, J. C. Fertilizantes. In: NOVAIS, R. F. et al. (Eds.). Fertilidade do solo. Viçosa: SBCS, 2007. p. 737-768. CERETTA, C. A.; SILVA, L. S.; PAVINATO, A. Manejo da adubação. In: NOVAIS, R. F. et al. (Eds.). Fertilidade do solo. Viçosa: SBCS, 2007. p. 851. CONGIO, G. F. S.; MESCHIATTI, M. A. P. Forragicultura. Porto Alegre: Sagah, 2019. ERNANI, P. R.; ALMEIDA, J. A. Comparação de métodos analíticos para avaliar a necessidade dos solos de Santa Catarina. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 10, n. 2, p. 143-150, 1986. KAMINSKI, J.; BOHNEN, H. Métodos para indicação da quantidade de corretivos da acidez em solos do Rio Grande do Sul. Revista da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 1, n. 2, p. 85- 98, 1976. MORRISON, F. B. Alimentos e alimentação dos animais. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1966. QUAGGIO, J. A. Acidez e calagem em solos tropicais. Campinas: Instituto Agronômico, 2000. RAIJ, B. Fertilidade do solo e adubação. São Paulo: Agronômica Ceres; Piracicaba: Potafos, 1991. 343 p. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. VILELA, L et al. Calagem e adubação para pastagens na região do Cerrado. Planaltina: Embrapa, 1998. Disponível em: . Acesso em: 28 abr. 2022.