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História da mídia e a evolução dos meios Surgimento da Internet e o desenvolvimento de redes, a partir das tecnologias da informação e comunicação no contexto da cultura da convergência. Prof. Ricardo Alvarenga 1. Itens iniciais Propósito Compreender o processo histórico de surgimento e desenvolvimento da Internet e das redes sociais no ambiente digital é fundamental para o desenvolvimento de habilidades específicas para o trabalho na área, como, por exemplo, identificar as características da Web 4.0 e os pilares da cultura da convergência. Objetivos Reconhecer o processo de surgimento e desenvolvimento da Internet. Identificar os elementos centrais das redes sociais na Internet. Reconhecer os princípios que norteiam o processo de convergência dos meios de comunicação. Introdução Compreenderemos o processo de transformação pelo qual nossa sociedade está passando, desde o advento da Internet e o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação às práticas culturais inerentes. Conheceremos o processo, observando, refletindo e atuando nos ambientes digitais dessa transformação. Neste conteúdo, perceberemos que foram necessárias algumas décadas para que pudéssemos ter um acesso à Internet de forma mais fácil e inteligível como hoje em dia. Entenderemos as complexidades dos processos de constituição da nova cultura impulsionada pelos avanços tecnológicos. Também estudaremos as redes sociais na Internet, identificando os elementos que as constituem e refletiremos ainda sobre o conceito de rede social, na perspectiva para além dos agrupamentos sociais on- line, retomando conceituações indispensáveis para a manutenção das interações sociais e conexões. O processo de convergência dos meios de comunicação será um ponto de destaque, pois aprofundaremos os três pilares da cultura da convergência: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva. Essas questões guiarão nossa análise sobre a história da mídia e a evolução e convergência dos meios de comunicação. • • • 1. Internet – sociedade e mercado, conectados na teia líquida Surgimento da Internet Fatos que marcaram a história da Internet O mundo mudou muito nas últimas décadas, principalmente por causa do surgimento da Internet e do desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TICs), que possibilitaram uma ampliação das formas de interação e de mediação da relação entre os seres humanos e as tecnologias digitais. Porém, para entender esse contexto de transformações no qual estamos inseridos, é importante reconhecer o processo histórico da Internet, afinal, muito se fala sobre a importância dessa tecnologia para o nosso dia a dia, mas poucas pessoas conhecem os fatos e momentos históricos que marcaram seu surgimento e desenvolvimento. Para isso, listamos alguns acontecimentos. Desenvolvimento da Internet 1957 Criação da agência de projetos de pesquisa avançada Originalmente, o desenvolvimento da Internet está ligado ao contexto de disputa por superioridade tecnológica e militar vivenciado entre Estados Unidos e União Soviética no período da chamada Guerra Fria. Nesse contexto, o governo dos Estados Unidos criou a Agência de Projetos e Pesquisa Avançada, (ARPA, em inglês), como resposta ao Sputnik, primeiro satélite artificial da história, lançado pela União Soviética, em 1957. A ARPA foi a responsável por financiar e incentivar o desenvolvimento de uma rede de computadores que pudesse facilitar a comunicação em todos os campos de pesquisa e de operações militares. 1961 Desenvolvimento da teoria de comutação de pacotes O pesquisador Leonard Kleinrock apresentou sua tese de doutorado no MIT, nos Estados Unidos, na qual defendia a teoria de comutação de pacotes. Para ele, dois servidores poderiam se comunicar para enviar e receber informações transportadas por pacotes, por meio de uma rede de nós. Esse foi um estudo importante para o desenvolvimento da Internet. 1962 Elaboração do conceito de rede galáctica Nos Estados Unidos, o cientista da computação Joseph Carl Robnett Licklider escreveu a conceituação em torno de uma rede galáctica para acessar rapidamente dados de qualquer lugar do mundo. Para o pesquisador, seria possível desenvolver um sistema que concentraria todos os computadores do planeta em uma única forma de compartilhamento. Sua conceituação apesar de bastante abstrata para a época serviu de base para as pesquisas que deram origem à Internet. 1965 Realização da primeira conexão em rede de longa distância Os pesquisadores Lawrence G. Roberts e Thomas Merrill conseguiram realizar a conexão entre dois computadores por uma linha telefônica comutada de baixa velocidade. Esse momento marcou a primeira conexão entre computadores em uma rede de longa distância, em inglês, wide area network, já que ambos estavam em pontos geográficos distintos nos Estados Unidos, Roberts estava em Massachusetts e Merrill na Califórnia. Essa experiência foi fundamental para o avanço nos estudos que dão base e forma à Internet como a conhecemos. 1969 Criação da rede de computadores da ARPA A partir dos diversos estudos realizados e financiados pela ARPA e da parceria com a Rand Corporation, organização de política global, sem fins lucrativos, que surgiu por iniciativa do Departamento de Guerra dos Estados Unidos, foi criada, em setembro de 1969, a ARPANET, uma rede de computadores que tinha entre seus objetivos compartilhar tempo de computação on-line. Esse momento pode ser considerado como a gênese da Internet, pois com a ARPANET foi estabelecido um sistema de comunicação que conectava bases militares e universidades, capaz inclusive de sobreviver a um atentado nuclear. 1971 Surgimento do correio eletrônico Diante do processo de expansão e utilização da ARPANET em diversos centros de pesquisa e instituições de defesa, novos passos foram sendo dados em direção a novos protocolos e funcionalidades. Assim, em 1971, o engenheiro Ray Tomlinson começou a desenvolver o software básico do correio eletrônico, que hoje em dia é popularmente conhecido como e-mail. A criação de Tomlinson mudou significativamente os processos de comunicação e colaboração entre as pessoas da época, possibilitando a troca de mensagens por meio da transmissão em rede. 1973 Realização da primeira conexão entre dois continentes Com o desenvolvimento da tecnologia construída pela ARPA, o governo dos Estados Unidos iniciou o compartilhamento da tecnologia e foi feita a primeira conexão entre as redes de dois continentes, em 1973. A ARPANET dos Estados Unidos ligou-se à Seismic Array da Noruega (NORSAR). A conexão foi fruto do acordo norueguês-americano para a detecção de terremotos e explosões, assinado entre as nações em 1968. Gradativamente, outras ligações foram sendo estabelecidas em rede. 1977 Expansão dos terminais da ARPANET Na década de 1970, a ARPANET havia crescido exponencialmente, tanto no seu protocolo de comutação de pacotes quanto no número de máquinas que poderiam estar conectadas. Assim, houve um aumento considerável de servidores nos Estados Unidos, cenário bem diferente de quando a rede foi criada e que possuía apenas quatro pontos de conexão. 1979 Criação da rede de compartilhamento de notícias Para facilitar o acesso a notícias e artigos de temas específicos, Tom Truscott e Jim Ellis interligaram computadores em uma rede, na qual era possível compartilhar esse tipo de conteúdo. O compartilhamento de artigos era feito por meio de grupos de interesse, sendo possível receber conteúdo apenas sobre um tema específico. Esse tipo de funcionalidade representava naquele contexto um avanço significativo. 1984 Surgimento de novas redes computacionais Diante do desenvolvimento e das possibilidades apresentadas pelo uso de redes computacionais, a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, montou sua própria rede, a NSFNET, em 1984. A Fundação associou-se à iniciativa privada para construir uma rede de comunicação que tinha como primícias as possibilidades abertasanalisará a canção Pela Internet (Gilberto Gil) e localizará os pontos de convergência digital e os impactos midiáticos. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Aprofunde seus conhecimentos, conhecendo a pesquisa TIC Domicílios 2020, disponível para download no site do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). Ela traz dados sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros. A pesquisa foi realizada no contexto da pandemia da covid-19, o que permite perceber os efeitos da migração das atividades presenciais para o ambiente digital. Assista ao documentário norte-americano O Dilema das Redes, de 2020, dirigido por Jeff Orlowski e estrelado por Skyler Gisondo, Kara Hayward, Vincent Kartheiser. O roteiro provoca uma reflexão sobre os hábitos que adotamos na Internet, além de trazer um alerta sobre o impacto devastador que as redes sociais na Internet podem causar na democracia e na humanidade. • • Visite a página do DataReportal e conheça os relatórios gratuitos disponíveis no site, eles são produzidos pela We Are Social e HootSuite e trazem informações sobre o que as pessoas pelo mundo inteiro estão fazendo na Internet. É possível consultar relatórios globais, regionais e locais anuais e por vezes até semestrais. A consulta a esses relatórios é gratuita e favorece insights e até a ampliação do olhar sobre as dinâmicas de conectividade digital tanto em escala global como nacional, para mais de 230 países, incluindo o Brasil. No relatório são elencadas questões centrais para os usuários de mídia social, alcance dos anúncios nas principais redes sociais na Internet, e dados sobre conectividade e tendências digitais. Leia o texto Venere no Altar da Convergência, do livro Cultura da Convergência, de Henry Jenkins. Nessa parte da obra, o autor apresenta uma síntese de suas reflexões e pesquisa sobre os processos de convergência na sociedade, destacando seus três conceitos principais: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva. O texto traz conversas sobre convergência, bem como sua origem, com o profeta da convergência, assim como também o debate sobre a falácia da caixa preta e a lógica da cultura da convergência dos meios de comunicação. Ouça o podcast Cidades Inteligentes, de Claudio Patrocínio, produzido a partir da iniciativa editorial: Cidades Inteligentes para o Planeta Inteligente. A cada episódio são abordados temas referentes ao cotidiano cada vez mais digital e conectado em que as pessoas vivem. O digital revolucionou as organizações, os modelos de trabalho, as formas de sociabilidade, entre outros aspectos. Em formato de pílulas de informação, cada programa traz breves pensamentos sobre a realidade da sociedade conectada e midiática. Referências BRADLEY, S. P.; BARTLETT, N. Tudo e todos estão on-line. Harvard Business School Publishing, Boston, v. 9, n. 71, p. 1-23, 2011. BRIGGS, A.; BURKE, P. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BRITTO, R. R. Cibercultura: sob o olhar dos estudos culturais. São Paulo: Paulinas, 2009. CITELLI, A.; BERGER, C.; BACEGA, M. A.; LOPES, M. I. V.; FRANÇA, V. V. Dicionário de Comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo: Contexto, 2014. JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009. KOTLER, P. Marketing 4.0. Rio de Janeiro: Sextante, 2017. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MARTINO, L. M. S. Teoria das mídias digitais: linguagens, ambientes, redes. Petrópolis: Vozes, 2014. MARTINS, H. Comunicações em tempos de crise. São Paulo: Expressão Popular, Fundação Rosa Luxemburgo, 2020. NEIVA, E. Dicionário Houaiss de Comunicação e Multimídia. São Paulo: Publifolha, 2013. • • • PRIMO, A. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007. RECUERO, R. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. RUDIGER, F. R. Introdução às teorias da cibercultura: perspectivas do pensamento tecnológico contemporâneo. Porto Alegre: Sulina, 2003. SANTAELLA, L. O DNA das redes sociais digitais. In: BARBOSA, M.; MORAIS, O. J. de. (Orgs.). Comunicação em tempos de redes sociais: afetos, emoções e subjetividades. São Paulo: Intercom, 2013. p. 23-43. TURING, D. A História da Computação – do ábaco à inteligência artificial. São Paulo: M. Books, 2019. História da mídia e a evolução dos meios 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Internet – sociedade e mercado, conectados na teia líquida Surgimento da Internet Fatos que marcaram a história da Internet Desenvolvimento da Internet Criação da agência de projetos de pesquisa avançada Desenvolvimento da teoria de comutação de pacotes Elaboração do conceito de rede galáctica Realização da primeira conexão em rede de longa distância Criação da rede de computadores da ARPA Surgimento do correio eletrônico Realização da primeira conexão entre dois continentes Expansão dos terminais da ARPANET Criação da rede de compartilhamento de notícias Surgimento de novas redes computacionais Expansão da rede global de computadores Criação do World Wide Web Lançamento do Google Expansão das formas de produção colaborativas Características da Web Web 1.0 Web 2.0 Web 3.0 Web 4.0 Nova cultura gerada pelo digital Interconexão Comunidades virtuais Inteligência coletiva Sociedade brasileira e a conexão em rede 28,8 milhões 676 mil 33 milhões 11,8 milhões 67% 37% 31% 18% 80% 53% 43% 37% Afinal, o que é cibercultura? Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Nova cultura gerada pelo digital Conteúdo interativo Sociedade brasileira e a conexão em rede Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. Redes sociais – conectar, compartilhar, existir no mundo digital Tecnologias e redes sociais Leonhard Euler Jacob Moreno Linton Freeman Elementos das redes sociais Elementos estruturais Atores Conexões Comunicação síncrona Comunicação assíncrona Interação mútua Interação reativa Elementos dinâmicos Comportamentos cooperativos Comportamentos competitivos Comportamentos conflitivos Redes sociais na Internet Dinâmica Flexibilidade Possibilidade de criar um espaço pessoal de apresentação de si mesmo, onde se pode colocar à disposição de todos as imagens e os textos que se escolher. Possibilidade de acessar os perfis de outras pessoas, segundo as características e possibilidades de cada rede social. Chance de estabelecer relações com outros participantes da rede, na observação de seus perfis, a partir de cada rede social. Cronologia das redes sociais na Internet 1990 2000 2010 Redes sociais emergentes Redes sociais de filiação ou redes associativas Sites de redes sociais Visibilidade Reputação Popularidade Autoridade As mais usadas O caminho da desinformação nas redes sociais Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Elementos das redes sociais: estruturais e dinâmicos Conteúdo interativo Sites de redes sociais Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. A convergência dos meios de comunicação; mídias tradicionais x mídias digitais Processo de convergência Princípios que norteiam a convergência Convergência midiática Cultura participativa Inteligência coletiva Convergência midiática Adaptação das mídias à Internet Cultura participativa Produção de conteúdo Distribuição de conteúdo Consumo de conteúdo Inteligência coletiva Áreas específicas Inteligência técnica Inteligência conceitual Inteligência emocional Convergência midiática, cultura participativa e inteligência coletiva Conteúdo interativo Vem que eu te explico! Economia afetiva e narrativa transmidiática Conteúdo interativo Inteligência coletiva Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciaspela informática. 1990 Expansão da rede global de computadores Nesse ano, nos Estados Unidos, a Internet foi retirada do ambiente de controle militar e passou a ser administrada pela National Science Foundation (NSF). Esse movimento levou ao surgimento de provedores de serviço, que criaram suas próprias redes de comunicação e potencializaram a expansão da rede global de computadores, com base no projeto original da ARPANET, que possuía uma arquitetura em múltiplas camadas, descentralizada e com protocolos de comunicação abertos. 1991 Criação do World Wide Web Tim Berners-Lee e seus colegas do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares desenvolveram a World Wide Web, que conhecemos hoje como WWW. Assim, foi iniciada a criação de páginas e sites na Internet, possibilitando disponibilizar conteúdo e mudá-lo em tempo real para espectadores de diversos locais e distâncias. Como se pode perceber, a origem da Web é europeia, não norte- americana. 1997 Lançamento do Google A criação do projeto de hipertextos da WWW, que permitia dinamizar a passagem de um texto a outro de forma mais rápida e dinâmica, foi o pontapé para que em 1997 fosse lançado o Google, que se consolidou como um acontecimento importante dentro do processo de desenvolvimento da Internet. A criação de um navegador mais amigável causou interesse na maioria dos usuários da Internet da época e a plataforma seguiu crescendo e desenvolvendo novas funcionalidades e aprimorando seus mecanismos de busca. Atualmente, conta com quase um bilhão de páginas indexadas. 2000 Expansão das formas de produção colaborativas Os anos 2000 foram marcados pela expansão das redes sociais e de formas de produção colaborativa na Internet. Nesse contexto, é possível perceber a Internet transformando-se em uma vasta rede, com redes alternativas se conectando e se estruturando a partir de processos colaborativos e cada vez mais interativos. Características da Web Os desdobramentos do desenvolvimento da Internet a partir dos anos 2000 serão apresentados adiante, pois ainda estudaremos outros aspectos do assunto, como o surgimento das redes sociais e os processos de convergência gerados a partir da Internet. Como foi possível perceber, o surgimento e o desenvolvimento da Internet foi marcado por diversos momentos históricos que se articularam em torno do desejo e da necessidade do ser humano de ampliar suas formas e possibilidades de comunicação. Tim O'Reilly. Ao pensarmos no desenvolvimento da Internet, precisamos considerar elementos além dos sistemas de compartilhamento e transferência de dados entre computadores. Tim O’Reilly foi um dos primeiros a compreender essa perspectiva mais abrangente da Internet, apresentando o termo Web 2.0, em 2005. Web 2.0, termo cunhado por Tim O’Reilly em 2005 para definir o alto grau de interatividade, colaboração e produção/uso/consumo de conteúdos pelos próprios usuários. Em oposição ao caráter “fixo” da Web 1.0, que operava ao redor sobretudo de “páginas” com elementos relativamente estáveis, como blogs, navegadores, transposição de conteúdo offline para o digital, a Web 2.0 se apresentava como uma plataforma dinâmica, em constante transformação gerada pelas interações entre usuários. (MARTINO, 2014, p. 12) Para facilitar o entendimento das conceituações, destacaremos algumas características desde a era da Web 1.0 até a que está se consolidando atualmente: a Web 4.0. 1 Web 1.0 Surgimento das primeiras páginas digitais ocupadas por empresas, universidades e meios de comunicação. Espaços controlados por profissionais que dominavam programação, o que impedia a produção de conteúdo por quem não possuía esse tipo de conhecimento. Ausência de funcionalidade relacionada à comunicação com os visitantes das páginas digitais, tratava-se de uma comunicação de mão única. • • • 2 Web 2.0 As páginas na Internet começam a permitir certo nível de interação dos visitantes com os conteúdos, pois agora era possível adicionar comentários diretamente na página. Mudança na forma como os conteúdos eram armazenados, começam a ser usadas as bases de dados. Os usuários começam a produzir alguns conteúdos, iniciando a comunicação de mão dupla no contexto digital. 3 Web 3.0 Surgem máquinas conectadas à Internet, como smartphones e Smart TVs, que começam a realizar de forma mais eficiente atividades que, antes, dependiam de trabalho manual. Utilização de algoritmos para agrupar informações e fazer indicações de conteúdo aos usuários. Desenvolvimento de assistente de voz inteligente, como a Siri e o Google Now, capazes de responder às suas perguntas e realizar alguns comandos. 4 Web 4.0 Ampliação dos níveis e possibilidades de interação entre usuários e máquinas, fazendo com que elas sejam cada vez mais inteligíveis. Melhoria no atendimento por meio de chats automatizados ou assistentes virtuais, integrando o uso de assistentes a motores de busca para otimizar a experiência do usuário. Desenvolvimento e expansão de tecnologias 3D e de realidade virtual para facilitar a apresentação e a experiência em diversos contextos. Diante das características elencadas para cada uma das eras da Web, podemos perceber as transformações pelas quais a Internet passou ao longo das décadas e como ela foi se adaptando às necessidades dos usuários, ocupando cada vez mais espaço na vida das pessoas. Trata-se de fato de uma mudança de cultura, • • • • • • • • • impulsionada pelo surgimento da Internet e pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Atualmente, grande parte das máquinas elétricas contém algum dispositivo de informação e comunicação. Cada vez mais é possível encontrar dispositivos de computação embutidos em objetivos do uso diário, permitindo que eles sejam capazes de enviar e receber dados e de se conectar entre si pela Internet. Nova cultura gerada pelo digital Tão significativa quanto a revolução impulsionada por Gutenberg com a invenção dos tipos móveis para impressão, o surgimento da Internet e o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) têm gerado importantes mudanças no contexto social. O uso das TICs e sua conexão com a Internet representa não apenas uma revolução como também uma evolução. A história testemunhou a transição do cursivo para o impresso e agora presencia a passagem do impresso para o digital. O fato é que estamos vivendo um processo de transformação, não só da comunicação, mas de toda a dinâmica social. Pierre Lévy aprofunda o estudo desses processos em sua obra Cibercultura (1999), na qual advoga sobre a existência do ciberespaço e da cibercultura. Os estudos de Lévy são fundamentais para compreender o surgimento da nova cultura gerada pelo digital e que está reconfigurando toda a cultura global. O termo [ciberespaço] especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo de informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p. 17) Segundo o pensamento de Lévy (1999), o ciberespaço é a dimensão que possibilita a conexão de todas as redes, local onde todos se conectam e compartilham suas criações e formas de pensar e viver. Dessa maneira, a cibercultura deve ser entendida como o processo de mutação das dinâmicas sociais que ocorre a partir da existência e da integração existentes e proporcionadas no ciberespaço. Lévy (1999) argumenta que existem três princípios fundamentais da cibercultura: Interconexão A conexão é um elemento indispensável da cibercultura, pois é por meio de cada novo nó que se desenvolve o processo de transformação; assim, a interconexão é apresentada como uma pulsão para a conexão, alterando a física da comunicação, indo além da noção de canal e rede, eproporcionando a sensação de espaço envolvente. Comunidades virtuais A renovação das formas de sociabilidade ocorre pelas comunidades virtuais, que potencializam a conexão entre pessoas independentemente de sua localização geográfica, origem, raça, opção sexual etc. Proporcionando o fomento para o encontro, a partir da identificação de interesses em comum. Inteligência coletiva A produção e o compartilhamento de informação entre os usuários da Internet potencializam novas formas de aprender e de entender o mundo. Nesse sentido, a inteligência coletiva seria a finalidade última da cibercultura, pois viabiliza pelas suas interconexões entre grupos e indivíduos a construção de uma rede de pontos conectados e atuantes em que os indivíduos disponibilizam suas capacidades intelectuais. A partir do pensamento de Lévy (1999), percebemos que a Internet e sua dinâmica de rede geraram uma transformação efetiva na sociedade, tanto do ponto de vista do uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) quanto das interações e dos comportamentos. As novas possibilidades adquiridas com o uso das TICs, nas últimas décadas, promoveram o desenvolvimento de novas formas de se relacionar e de se estabelecer relação com outros seres humanos e com as próprias máquinas. Após refletir sobre esse processo de transformação da sociedade, em virtude do surgimento da Internet e do desenvolvimento das TICs, é indispensável compreender que essa é uma realidade que já faz parte da vida de uma parcela significativa da população mundial, não se trata de uma opção ou escolha. Sociedade brasileira e a conexão em rede Apesar do crescente processo de uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs), os dados de pesquisas realizadas no mundo ainda sinalizam para o acesso limitado ao uso da Internet em países que têm outras matrizes de desenvolvimento, diferentes dos países do norte global. No Brasil, é possível ter um panorama sobre o acesso e a conexão à Internet, e o uso de TICs, a partir dos dados da 16ª edição da TIC Domicílios Brasil, pesquisa realizada em 2020 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), órgão ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br). A pesquisa foi realizada de forma bastante singular, pois mensurou o cenário de conectividade dos domicílios brasileiros e o uso da Internet durante a pandemia da covid-19, quando ocorreu a migração de diversas atividades presenciais para o ambiente digital, em resposta às medidas de biossegurança estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a pesquisa no ano de 2020: 28,8 milhões de domicílios sem computador e com Internet. 676 mil domicílios com computador e sem Internet. 33 milhões de domicílios com computador e com Internet. 11,8 milhões de domicílios sem computador e sem Internet. Dados como esse demonstram que a internet é uma realidade na vida e na dinâmica da sociedade brasileira, porém, ainda existe uma lacuna entre o acesso à internet e o acesso às tecnologias. Durante a pandemia da Covid-19, as relações e interações sociais foram majoritariamente realizadas por meio das TICs. Processos de interesse público, como a solicitação do Auxílio Emergencial também eram feitos por meio de plataformas digitais, além do acesso a aulas e a atividades escolares e acadêmicas. A realização das atividades mencionadas não foi tão simples para toda a população brasileira, tendo em vista que existem múltiplas camadas de desigualdades no contexto digital. Ao contrário do que se possa pensar, as desigualdades sociais também se manifestam no ambiente digital. Alguns dados da TIC Domicílios Brasil de 2020 podem ajudar a compreender melhor o cenário de desigualdades digitais a partir do recorte do acesso de mulheres negras. 67% das mulheres negras acessam a Internet exclusivamente pelo telefone celular. 37% das mulheres negras realizaram transações financeiras pela Internet. 31% das mulheres negras acessaram serviços públicos pela Internet. 18% das mulheres negras participaram de cursos pela Internet. Para algumas pessoas, esses dados podem não representar muita coisa, mas é importante fazer uma interpretação à luz de aspectos sociais, políticos e econômicos. O fato de a maioria das mulheres negras acessarem a Internet apenas por meio de telefone celular revela a fragilidade das políticas de acesso e de democratização do uso e do consumo de tecnologias, que, atualmente, no país, possuem valores impraticáveis para o orçamento de grande parte da população. Situações como essa reforçam a marginalização da população negra no contexto da sociedade brasileira. Afinal, como vemos nos demais dados sobre transações financeiras, acesso a serviços públicos e cursos virtuais, os indicadores apresentados são significativamente inferiores aos de homens brancos. Isso deixa mais nítidas as múltiplas camadas da desigualdade em nosso país, especialmente quando combinadas sobre os efeitos do aproveitamento das oportunidades digitais por diferentes parcelas da população. A pesquisa TIC Domicílios Brasil de 2020 revelou ainda dados sobre as atividades desenvolvidas pelos usuários da Internet no Brasil. 80% realizaram chamada de voz ou vídeo. 53% buscaram informações sobre saúde. 43% realizaram transações financeiras. 37% realizaram algum serviço público. Percebemos que a Internet está cada vez mais presente na vida e no dia a dia das pessoas, para resolver questões burocráticas, para fazer contato, ou interagir com familiares e amigos. Apesar das desigualdades geradas pela falta de acesso, a Internet é parte do tecido que gera e promove as conexões e interações humanas. A fusão que acompanhamos até aqui entre a computação e a comunicação, possibilitou aos seres humanos novas formas de aprender, de se informar e de conhecer o mundo. Assim, surgem novas maneiras de interação e conexão entre as pessoas, como as redes sociais que permitem conectar, compartilhar e existir no mundo digital. Afinal, o que é cibercultura? Neste vídeo, o especialista responde às cinco perguntas mais pesquisadas da Internet sobre o assunto em questão. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Nova cultura gerada pelo digital Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Sociedade brasileira e a conexão em rede Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A tecnologia criada em 1969 nos Estados Unidos, com o nome de ARPANET foi a propulsora do(a): A Linux. B Windows. C Apple. D Internet. E Google. A alternativa D está correta. A Internet foi criada em 1969, nos Estados Unidos, com o nome de ARPANET, e visava inicialmente interligar laboratórios de pesquisa, baseando-se em um conceito de rede. Questão 2 (FCC/2014) Pierre Lévy defende que a interconexão entre as pessoas de diversos locais, decorrente de um fenômeno técnico, resulta em universalidade no tangente a formas e espaço de comunicação, mas também comporta a diversidade, destituindo qualquer possibilidade de totalidade. Essa interconexão generalizada gera, de acordo com o autor, mudanças na educação e nas formas artísticas. Tal ideia trabalhada na obra de Lévy, trata-se do conceito de: A cibercultura. B virtualização. C árvores de conhecimento. D tecnologias da inteligência. E ecologia cognitiva. A alternativa A está correta. O conceito de cibercultura desenvolvido por Pierre Lévy leva em consideração justamente o impacto que a Internet e o desenvolvimento das tecnologias da comunicação e informação têm sobre a dinâmica e a organização da vida social. 2. Redes sociais – conectar, compartilhar, existir no mundo digital Tecnologias e redes sociais A Internet e as tecnologias de informação e comunicação (TICs) não nos tornaram sujeitos conectados, mas sim ampliaram significativamenteas nossas conexões. Afinal, sempre estivemos conectados remotamente pelo correio, pelo telégrafo, pelo telefone ou mesmo por outras tecnologias que surgiram ao longo das décadas. Com a ampliação do acesso à Internet, o mundo se tornou um lugar interconectado, fazendo surgir novas conexões que possibilitam a aproximação entre pessoas, pelo encurtamento de distâncias físicas e geográficas. As tecnologias também favoreceram a construção de redes sociais conectadas pela Internet, por meio das quais as pessoas estabelecem relações de maneira dinâmica e flexível. Apesar de ser amplamente utilizada para definir agrupamentos sociais on-line, a noção de redes sociais é um conceito desenvolvido originalmente pelas Ciências Sociais e busca explicar alguns tipos de relação entre pessoas. Desse modo, ao usarmos esse termo no contexto do ambiente da Internet, estamos transpondo um modelo de análise social para o espaço virtual. Diante disso, vamos recuperar o debate sobre a gênese das redes sociais e recorrer aos estudos e pesquisas de Raquel Recuero, autora do livro Redes Sociais na Internet (2009), obra de referência para o estudo das conexões e interações em rede na Internet. Recuero (2009), afirma que o conceito de rede social originalmente está focado na descrição e na compreensão das estruturas sociais, buscando entender os modos de conexão entre os atores sociais e suas interações. Com base nas reflexões de Recuero, elencamos alguns autores e obras que são consideradas antecedentes dos estudos de redes sociais: Leonhard Euler O enigma das Pontes de Königsberg (1736). Jacob Moreno Who shall survive? (1934). Linton Freeman The Development of Social Network Analysis (2004). Os três autores são responsáveis por estudos considerados basilares para compreender o fenômeno das conexões em redes. Euler (1736), deu origem à perspectiva das estruturas focadas em nós e suas conexões. Moreno (1934), inventou o sociograma, que é a representação básica dos dados que constituem uma rede social. Já Freeman (2004), credita a Auguste Comte as primeiras intuições dos estudos de redes sociais. Desde os primórdios já existiam o que chamamos de rede social, que são as interações sociais, as trocas simbólicas entre pessoas por meio de relações que podem ser de amizade, econômicas, familiares e interesses em comum. De acordo com o Dicionário Houaiss de Comunicação e Multimídia (2013), uma rede social pode ser entendida como: Efeito do encadeamento mais ou menos sistemático de grupos humanos ou organizações que mantêm contato entre si por meio de um ou mais de um tipo de relações, compartilhando informações e tendo interesses e objetivos comuns. (NEIVA, 2013, p. 471) Se as redes sociais são formadas a partir da relação entre seres humanos, que com flexibilidade e dinâmica estabelecem conexões entre si, as redes sociais na Internet são aquelas construídas a partir das interações estabelecidas por meio do digital e das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Essas redes possuem elementos estruturais e dinâmicos que constituem a sua fisionomia e pautam a dinâmica das relações no mundo digital. Elementos das redes sociais Quando observamos os fenômenos em torno das redes sociais na Internet, vemos estruturas e dinâmicas com características muito similares àquelas das relações das redes sociais fora da Internet. Segundo as pesquisas de Raquel Recuero (2009), esses elementos podem ser categorizados em estruturais e dinâmicos: o estudo do conjunto de cada um desses elementos fornece informações importantes para a compreensão do funcionamento e organização das redes sociais na Internet. Elementos estruturais Partindo do processo de revolução e transformação que a Internet provocou na sociedade, identificamos algumas mudanças fundamentais em nossa estrutura social, e entre as principais podemos destacar a possibilidade de expressão e sociabilização por meio das tecnologias da informação e comunicação. Surgem novas formas de construir relações, de interagir com as pessoas e de se comunicar com o mundo. Nessa linha, justifica-se o uso da metáfora estrutural de rede social para a compreensão dos grupos expressos na Internet. Assim, do ponto de vista estrutural, uma rede social é definida pelo conjunto de dois elementos: atores e conexões. São esses elementos que constroem a rede em si. Vejamos do que se trata cada um desses elementos: Atores Trata-se do primeiro elemento de uma rede social, que são as pessoas, instituições e os grupos envolvidos em uma rede. Podem ser entendidos também como os nós ou nodos da rede, pois atuam na formação e estruturação de interações que geram laços. Porém, quando se trata do estudo das redes sociais na Internet, Recuero (2009) afirma que os atores são representados por suas páginas de redes sociais na Internet e assim não necessariamente são atores sociais, mas representam esses atores: “São espaços de interação, lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou individualidade” (RECUERO, 2009, p. 25). Conexões As conexões em uma rede social podem ser percebidas de distintas maneiras, afinal elas são as interações e os laços sociais. De modo geral, essas conexões são constituídas a partir da interação entre os atores, das relações que vão sendo estabelecidas à medida que os contatos acontecem. A interação é a matéria-prima das relações e dos laços sociais. No âmbito das redes sociais na Internet, segundo Recuero (2009), essas conexões podem ser mensuradas a partir das possibilidades de manter rastros sociais das interações dos indivíduos: “A interação social, no âmbito do ciberespaço, pode dar-se de forma síncrona ou assíncrona [...]. Essa diferença remonta à diferença de construção temporal causada pela mediação” (RECUERO, 2009, p. 32). Ainda sobre os elementos estruturais da rede social, dentro ou fora da Internet, é importante aprofundar alguns aspectos relacionados à percepção das conexões. Vamos entender melhor sobre a comunicação síncrona e assíncrona, bem como as perspectivas de interação mútua e reativa. Observe as diferenças entre comunicação síncrona e assíncrona: Comunicação síncrona Esse tipo de comunicação estrutura-se sob o modelo de interação em tempo real, assim, os atores envolvidos interagem a partir da expectativa de uma resposta imediata. Exemplos desse tipo de comunicação são: a conversa em programas de troca de mensagens, a participação em atividade virtual transmitida simultaneamente à sua realização, e as aulas remotas em plataformas digitais. Comunicação assíncrona Esse tipo de comunicação acontece a partir de um modelo em que os atores envolvidos levam tempo para interagir, por não estarem presentes no momento temporal da interação. Trabalha-se com a expectativa de resposta. Exemplos desse tipo de comunicação são: as trocas de e-mails, fóruns e comentários em posts. Em sua obra Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição (2007), Alex Primo, importante pesquisador brasileiro sobre as dinâmicas de interação homem-computador, apresenta a conceituação sobre interação mútua e reativa em redes sociais na Internet: Interação mútua É o tipo de interação caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação. Exemplo é a possibilidade de comentários em post e conteúdo da Internet, em que os atores podem dialogar não apenas com o autor da publicação, mas também com outros atores que fazem comentários. Interação reativa Essa interação é limitada por relações deterministas de estímulo e resposta, sendo sempre restrita a atores envolvidos no processo. Exemplo é o uso de hiperlink da Internet, no qual ao ator envolvido é permitida, quase sempre, apenas a decisão de clicar ou não no link e acessar seu conteúdo. A interação na Internet é um elemento central para a existências das redes sociais virtuais, pois possibilita a conexão entre atores e o estabelecimento de relações e a possível geração de laços sociais. Elementos dinâmicos Após conhecer os elementosestruturantes das redes sociais, é necessário também se familiarizar com os denominados elementos dinâmicos, que são os comportamentos que alteram suas estruturas no tempo e por isso são considerados dinâmicos. Esses comportamentos são fruto do processo de interação que ocorre entre os atores e podem se apresentar como cooperativos, competitivos e conflitivos. O primeiro elemento que é trazido para o estudo das redes sociais como elemento dinâmico é o aparecimento da cooperação, da competição e do conflito como processos sociais que influenciam a rede. (RECUERO, 2009, p. 81) A seguir, categorizaremos cada uma dessas interações: Comportamentos cooperativos Os comportamentos dessa categoria tendem a gerar mais agregação dos nós da rede, possibilitam a criação de conexões e laços mais fortes e valorosos, afinal a cooperação é o elemento formador das estruturas sociais. A cooperação é gerada a partir das ações coletivas dos atores que compõem a rede social. Na Internet, esses comportamentos podem ser observados na formação de grupos, que atuam com base em interesses individuais e se encontram no contexto dos interesses coletivos. Alguns grupos que trabalham com a defesa e proteção de animais nas redes sociais realizam ações entre os seus seguidores para financiar tratamentos de animais doentes, encontrar pessoas que possam cuidar ou adotar animais, tudo a partir de uma dinâmica de cooperação. Comportamentos competitivos As interações competitivas podem tanto fortalecer quanto enfraquecer conexões. Elas podem gerar cooperação entre os atores de uma rede para suplantar os atores de outra. A competição consiste em luta, mas não necessariamente em hostilidade. Na Internet, tal comportamento pode ser percebido no movimento constante de mensuração e comparação entre os números de seguidores de atores sociais, bem como na criação de grupos restritos e na mobilização dos atores em torno de questões, como votações e escolhas. Essa perspectiva pode ser percebida em diversos contextos, mas um exemplo emblemático são os mutirões de votação para candidatos de reality shows. Comportamentos conflitivos Esse tipo de comportamento pode gerar hostilidade, desgaste e ruptura de conexões e laços. O conflito contribui para o desequilíbrio das relações. Tal comportamento é recorrente nas redes sociais. Infelizmente, é comum perceber a presença de pessoas, comumente chamadas de haters, que postam comentários ofensivos e violentos em conteúdo na Internet e disseminam mensagens de ódio e violência em seus comentários e interações. Como afirma Recuero (2009), esses três tipos de comportamento não são distintos ou não relacionados, eles coexistem entre os atores e as conexões nas redes sociais na Internet e fazem parte dos fenômenos emergentes da sociedade. Redes sociais na Internet Os estudos sobre redes sociais na Internet ganharam maior visibilidade a partir do interesse em compreender os impactos das tecnologias da informação e comunicação (TICs), no processo de interação e relação entre os seres humanos. As redes sociais sempre estiveram presentes na vida das pessoas, o que mudou foi a expansão das tecnologias. O professor e pesquisador Luís Mauro Sá Martino, afirma em seu livro Teoria das Mídias Digitais: linguagens, ambientes e redes (2014), que na Internet o estabelecimento de relações está ligado, na maioria das vezes, à lógica de ação das redes sociais. Nas redes sociais, os vínculos entre os indivíduos tendem a ser fluidos, rápidos, estabelecidos conforme a necessidade em um momento e desmanchados no instante seguinte. (MARTINO, 2014, p. 56) A afirmação de Martino nos direciona à necessidade de compreender sobre dois elementos importantes do funcionamento das redes sociais na Internet: dinâmica e flexibilidade. Dinâmica Diz respeito às formas de interação entre os atores de uma rede social, determinada pelo fluxo de entrada e saída da rede, bem como os tipos de conexões que são estabelecidos. Cada rede social terá sua dinâmica específica, pois isso está ligado diretamente à própria arquitetura sobre a qual é construída a interação social. Flexibilidade Diz respeito à própria capacidade das redes de mudar de tamanho, ganhando ou perdendo participantes. Por flexibilidade, podemos pensar sobre características dos laços existentes em uma rede social na Internet. É nítido que, na atualidade, as relações sofrem rápidas transformações, de acordo com o interesse e o desejo dos atores envolvidos. Ainda segundo Martino (2014, p. 58), o princípio de uma rede social é a natureza relacional de sua composição, definida por vínculos fluidos, flexíveis, e pelas várias dinâmicas dessas relações. O termo “redes sociais” cobre um vasto espectro de agrupamentos sociais on-line dedicados a todo tipo de atividade. Pensando nesses agrupamentos sociais on-line, Martino (2014, p. 74), apresenta três características específicas das redes sociais na Internet, ou redes sociais on-line. Possibilidade de criar um espaço pessoal de apresentação de si mesmo, onde se pode colocar à disposição de todos as imagens e os textos que se escolher. Possibilidade de acessar os perfis de outras pessoas, segundo as características e possibilidades de cada rede social. Chance de estabelecer relações com outros participantes da rede, na observação de seus perfis, a partir de cada rede social. A expressão “redes sociais na Internet”, que também podem ser denominadas de “redes sociais on-line”, “redes sociais digitais”, “redes sociais conectadas”, nesse sentido, refere-se à diversidade de possibilidades de construção de páginas ou perfis, a partir de características próprias e que permitem tipos diferentes de interação. O surgimento dos sites de rede social representou um marco para os processos de interação na Internet, pois nele os atores poderiam apresentar sua representação individualizada, mas também podem publicizar suas relações e conexões. Tais sites não apenas publicam perfis, mas são capazes de criar e modificar redes. Ainda refletindo sobre características e aspectos que constituem as redes sociais, identificamos três critérios básicos apontados por Neiva (2013) que uma rede social na Internet deve ter: Gerar as interações e distribuir um perfil público ou semipúblico, criado pelo usuário, para outros participantes do sistema. Estabelecer uma lista de outros usuários que também construíram um perfil público ou semipúblico. • • Permitir o cruzamento dos perfis de todos que estão ali listados. Esses critérios básicos mencionados apontam para o elemento articulador da existência das redes sociais na Internet: as interações e conexões em rede. Dessa maneira, destaca-se o papel das redes na construção de uma nova sociedade, na circulação de informações e na sociabilização das pessoas a partir do contexto digital. Cronologia das redes sociais na Internet Para entender melhor o surgimento e desenvolvimento das redes sociais na Internet, observe uma cronologia com os principais sites e plataformas de redes sociais, surgidas a partir da década de 1990. 1990 Logomarca do ICQ, programa de comunicação instantânea. GeoCities The Globe Classmates SixDegrees ICQ • • • • • • 2000 Logomarca do WhatsApp, aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e chamadas de voz. FotoLog Friendster LinkedIn MySpace Twitter Orkut Flickr Facebook YouTube WhatsApp • • • • • • • • • • 2010 Logomarca do Instagram, rede social on-line de compartilhamento de fotos e vídeos. Pinterest Instagram Snapchat Google+ TikTok O elemento comum a essas diversas expressões de redes sociais é justamente o caráter relacional. Em uma rede, as conexões e os laços entre os atores que participam darão o tom de sua dinâmica de funcionamento. Seja para publicar sites, compartilhar conteúdos como fotografias, vídeos e textos, ou mesmo trocar mensagens e estabelecer relações de trabalho, as redes sociais na Internet podem ser entendidas como espaços universais de encontro. Segundo Neiva(2013, p. 472), de todas as formas de uso da Internet, o acesso a redes sociais é o que mais cresce em relação ao aumento do número de pessoas com smartphones. Existem dois tipos de redes sociais na Internet, de acordo com os estudos de Recuero (2009): as redes emergentes e as redes de filiação ou redes de associação. Apesar de poderem coexistir, esses tipos de redes possuem diferenças significativas, particularmente no que diz respeito às dinâmicas de funcionamento. Vejamos suas diferenças a seguir: Redes sociais emergentes Constituem-se a partir da interação entre os atores sociais, que realizam trocas, interações e conversações, por meio das tecnologias da informação e comunicação (TICs). Esse tipo de rede está ligado à noção de interação mútua, apresentada por Primo (2007), é uma rede construída por meio da interação, de comentários e mensagens enviadas via redes sociais e podem proporcionar a criação de laços sociais dialógicos. É uma rede emergente, porque está constantemente sendo construída e reconstruída, a partir das interações e trocas sociais. • • • • • A interação social mútua forma redes sociais onde os laços são constituídos de um pertencimento relacional, que é emergente, caracterizado pelo “sentir-se parte” por meio das trocas comunicacionais. Além disso, nessas redes, há concentração de um maior número de interações entre os mesmos nós. (RECUERO, 2009, p. 96) Redes sociais de filiação ou redes associativas Derivam de conexões estáticas, geradas pelo sistema utilizado. Por isso, essas redes são muito grandes e estão ligadas ao conceito de interação reativa de Primo (2007), pois as conexões uma vez feitas, permanecem ali até que sejam deletadas, independentemente de interação social. Esse tipo de rede pode ser observado nos indicadores de amigos e seguidores – nem sempre o fato de se ter milhões de amigos significa que o usuário fará contato com todos, ou que eles interagirão frequentemente com o usuário. Mesmo que não tenha interação, a conexão permanece. São redes cujas conexões são forjadas por meio de mecanismos de associação ou filiação dos sites de redes sociais. [...] Estudar as redes de filiação, assim, é traçar as conexões que são forjadas pelo sistema utilizado. (RECUERO, 2009, p. 98) Sites de redes sociais O conceito de rede social está ligado às relações e trocas estabelecidas entre as pessoas. Assim, ao estudarmos as redes sociais na Internet, perceberemos que elas são os processos de interação e conexão entre as pessoas, só que no ambiente digital. Por isso, é indispensável entender que, para existirem as redes sociais na Internet, é preciso que sejam utilizados sistemas digitais, que podemos chamar de sites. Como definições para um site de rede social, temos as seguintes premissas: Possibilidade de construção de uma persona por meio de um perfil ou página pessoal. Viabilidade de interação por meio de comentários e mensagens. Oportunidade de exposição pública da rede social de cada um. De acordo com Recuero (2009), a diferença entre o site de rede social e outras formas de comunicação que utilizam as tecnologias da informação e comunicação (TICs) é a maneira como possibilitam a visibilidade e a articulação das redes sociais e a manutenção dos laços e conexões estabelecidos. É comum nos dias de hoje utilizar mais de um site de rede social, especialmente porque cada um tem características próprias e servem para objetivos específicos. Ao fazer uma conta no LinkedIn, é preciso ter clareza de que é uma rede social voltada para relações e conexões profissionais e de trabalho. Assim como ela, as demais redes sociais estão direcionadas a diferentes objetivos. • • • Os sites de rede social podem gerar ganhos para os seus atores, como os relacionados ao capital social. Alguns valores comumente relacionados a essas redes são: visibilidade, reputação, popularidade e autoridade. Vejamos a definição de cada um desses valores: Visibilidade É encarada como valor, pois possibilita aos atores serem mais vistos e estarem em evidência, à medida que estão mais conectados. Reputação É considerada como a percepção construída sobre alguém pelos demais atores sociais. Popularidade A dimensão da popularidade tem ligação direta com a audiência, pois permite visualizar as conexões e as referências que determinam a posição de um ator na rede. Autoridade Refere-se ao poder de influência de um determinado ator social. As mais usadas Nos últimos anos, o uso de sites de redes sociais aumentou significativamente. No cenário da pandemia da covid-19, os hábitos de consumo da Internet cresceram ainda mais. De acordo com o Relatório Digital 2022: Brasil, produzido pela We Are Social e HootSuite, os usuários de redes sociais na Internet no Brasil, em janeiro de 2022, eram 171,5 milhões, o que demonstra um crescimento de 14,3% de 2021 para o início de 2022. Com base nos dados disponíveis no relatório, é possível traçar um ranking das redes sociais mais utilizadas pelos brasileiros, bem como os percentuais de alcance dos anúncios publicitários em cada rede. Esses dados refletem o grande impacto que as redes sociais têm na vida e no cotidiano da população. Pelas redes, as pessoas se conectam, compartilham e tomam suas decisões de compra, por isso, um aspecto relevante para se considerar é o alcance dos anúncios feitos nessas redes. De acordo com o Relatório Digital 2022: Brasil, o Facebook alcançou, com seus anúncios no início de 2022, o equivalente a 54,00% da população brasileira, sendo que desta quantidade 53,60% da audiência era feminina, e 46,4% era masculina. Confira os dados de alcance de anúncio de outras redes sociais na Internet. O público feminino é maioria na audiência de anúncios de todas as redes sociais analisadas na pesquisa. A observação dessa informação auxilia a compreensão do volume de dados e conteúdo trocados diariamente em cada uma dessas redes, o que nos leva a entender que existe também uma diversidade de tipos de interação que varia conforme a rede social que o ator ingressa. É fato inegável que a Internet impulsionou no mundo todo um complexo processo de transformação e de convergência, que merece ser refletido e aprofundado. O caminho da desinformação nas redes sociais Nesta entrevista, discutiremos o perigo do compartilhamento de informações falsas nas redes sociais. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Elementos das redes sociais: estruturais e dinâmicos Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Sites de redes sociais Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 (COPEVE-UFAL/2011) Na Internet, uma rede social é: A um tipo de site em que usuários compartilham informações, conhecimentos e interesses em comum. B uma rede em estrutura IPv6 que transmite apenas dados criptografados. C um site típico de ONGs que incentivam o uso da Internet como meio de inclusão social. D um tipo de conexão de alta velocidade com a Internet, própria para utilização em áreas de baixa renda. E uma rede composta por pelo menos dez computadores e que é utilizada para realizar processamento de grandes cálculos matemáticos na Web. A alternativa A está correta. Com o surgimento da Internet e o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, os sites de redes sociais expandiram-se pelo mundo, e são páginas na Internet, em que os atores sociais, que são os usuários, vão compartilhar informações e estabelecer relações e conexões. Questão 2 (CESPE/2019) A promoção da conectividade entre várias pessoas simultaneamente, por meio de listas de amigos, seguidores e até mesmo desconhecidos, é a principal característica: A da tecnologia social. B do marketing social. C da comunicação de massa. D de redes sociais. E de mídias sociais. A alternativa D está correta. Com as redessociais na Internet é possível estabelecer conexão entre pessoas de diferentes realidades. A dinâmica das redes está baseada na possibilidade de estabelecer relações com outros participantes, proporcionando a interação entre eles. Ithiel de Sola Pool, cientista político. 3. A convergência dos meios de comunicação; mídias tradicionais x mídias digitais Processo de convergência Princípios que norteiam a convergência Após conhecer o processo de surgimento e desenvolvimento da Internet e de identificar os elementos centrais das redes sociais no ciberespaço, é importante compreender os princípios que norteiam o processo de convergência, pelo qual os meios de comunicação vêm passando em função das possibilidades geradas pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs), que permitem a apresentação, em formato digital, de qualquer tipo de informação. Para Asa Briggs e Peter Burke em sua clássica obra Uma História Social da Mídia: de Gutenberg à Internet (2004), referência para os estudos sobre a história da mídia, a noção de convergência vem sendo aplicada desde 1990 para definir o “desenvolvimento tecnológico digital, à integração de texto, números, imagens, sons e diversos elementos de mídia” (BRIGGS; BURKE, 2004, p. 270). O termo foi aplicado à organização de processos referentes à integração das indústrias de mídia e de telecomunicações. O primeiro pesquisador a utilizar o termo foi o cientista político Ithiel de Sola Pool (1983), considerado o profeta da convergência. Ele afirmava que a convergência deveria ser entendida como um poder transformador dentro das indústrias midiáticas. Para ele, este era dois lados do mesmo fenômeno. Foi com base nos estudos de Pool (1983) que Henry Jenkins desenvolveu suas reflexões e publicou o livro Cultura da Convergência (2009), que se tornou uma das principais obras para o estudo da convergência dos meios de comunicação, na atualidade. Em suas conceituações, Jenkins (2009), define a cultura da convergência como o encontro no qual as velhas e novas mídias colidem, momento em que a mídia corporativa e a mídia alternativa se cruzam, e ainda em que o produtor de conteúdo interage de maneira imprevisível com o consumidor. Convergência é um termo que consegue abarcar os processos de transformação que a sociedade está vivendo na atualidade. É uma conceituação que contempla as mudanças tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais. A convergência, para Jenkins (2009), representa uma transformação cultural, que repercute também nos consumidores, e não somente nas empresas de mídia. O processo de convergência no qual a sociedade está imersa diz respeito às transformações da cultura do mundo atual, das possibilidades de criação e distribuição de conteúdo pela Internet, do fluxo de imagens, ideias, histórias em uma quantidade ainda maior de canais midiáticos. Nesse contexto, não se consome apenas os conteúdos, mas se produz e se distribui por meio das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Esse é o momento da metamorfose dos meios de comunicação. Ainda hoje é possível encontrar pessoas que acreditam que, em virtude da convergência dos meios de comunicação, os novos meios eliminam os antigos, mas com o passar do tempo, o que se observou foi que os novos e os antigos meios de comunicação passaram a interagir, e estão construindo processos de transformação que vão desde a forma de produzir até a forma de consumir os conteúdos. Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, a cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. (JENKINS, 2009, p. 29) Conforme os estudos de Jenkins (2009), o debate sobre cultura da convergência se estrutura sobre três pilares: Convergência midiática Cultura participativa Inteligência coletiva Vamos ver cada um deles para entendermos o processo de transformação dos meios de comunicação e seus efeitos sobre a vida social. Convergência midiática Adaptação das mídias à Internet Em tempos de Internet e dispositivos móveis, entender o que significa o processo de convergência midiática é essencial, pois ele trata da tendência de adaptação das mídias à Internet. Nessa linha, é necessário retomar também os conceitos de mídias tradicionais e mídias digitais, afinal, o processo de convergência acontece também entre elas: Apesar das diferenças, o surgimento de novas tecnologias midiáticas permitiu que um mesmo conteúdo pudesse circular pelos vários canais, assumindo formas distintas no ponto de recepção. Para Jenkins (2009, p. 38), a convergência não significa uma estabilidade ou unidade, que opera como uma força constante pela unificação, mas sempre em dinâmica tensão com a transformação. A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica. A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. (JENKINS, 2009, p. 43) O surgimento e o desenvolvimento das mídias digitais garantiram ao ser humano maior agilidade na construção e edição de conteúdo. Isso gera um novo ecossistema comunicativo, bem mais amplo e com maior participação e interação. A convergência não ocorre somente por meio das tecnologias da informação e comunicação, mas sim nas ações e nos pensamentos dos consumidores em suas interações sociais. A metamorfose que vive os meios de comunicação hoje é fruto justamente do processo de transformação em que os fluxos de trabalho são cada vez mais dinâmicos e multimidiáticos, favorecendo a interdisciplinaridade e a integração entre os diferentes meios. Dessa maneira, a convergência de mídia é um ato ou mesmo efeito de integrar meios de comunicação diversificados. Como mencionamos, a convergência, na perspectiva de Jenkins (2009), não é pautada pelo determinismo tecnológico, mas fundamentada em uma perspectiva culturalista, que leva em consideração os processos sociais e a participação das pessoas. O pensamento convergente gera novos fluxos de conteúdos, que vão Mídias tradicionais As mídias tradicionais podem ser representadas por jornais, revistas, rádio, cinema e televisão. São os veículos convencionais de comunicação, as mídias analógicas, os meios de divulgação em massa, nos quais uma mensagem pode chegar a milhares de pessoas de maneira unilateral, sem muito espaço para interação. As mídias tradicionais evoluíram significativamente desde que foram criadas, mas os aspectos fundamentais e estruturais permanecem os mesmos. Mídias digitais As mídias digitais são as mídias relacionadas à Internet que utilizam, como meio, qualquer dispositivo eletrônico, como computadores, tablets e smartphones, para desenvolver ou dar continuidade a um projeto que tem como suporte a Internet. Em uma mídia digital, todos os dados, independentemente da sua linguagem, são sequências de código computacional e essa é a característica que permite o compartilhamento, armazenamento e a conversão de dados na Internet. circular por diferentes suportes midiáticos, entre os quais alguns suportam maior diversidade e maior nível de participação do que outros. A convergência não significa que o surgimento de um meio novo extinguirá um antigo, mas entende- se que ambos se modificam em uma interseção da qual emergem novos significados e geram novos comportamentos entre os públicos dos meios de comunicação. Em sua reflexão, Jenkins (2009) articula outras duas noções fundamentais para sustentar a conceituação sobre convergência midiática: os conceitos de economia afetiva e narrativas transmidiáticas, que fazem parte do mapa conceitual dos estudos em torno dos processos de convergência. Vejamos a seguir como elas se identificam: O conceito de economia afetiva serve para pensar sobre o comportamento dos consumidores na atualidade,e está ligado diretamente à noção de participação do público e das suas tomadas de decisão. Como diz Jenkins (2009, p. 96): “A economia afetiva refere- se a uma nova configuração da teoria do marketing, [...] que procura entender os fundamentos emocionais da tomada de decisão do consumidor como uma força motriz por trás das decisões de audiência e compra.” Já a narrativa transmidiática exige um envolvimento maior do público, pois é necessária a interação com os conteúdos produzidos e espalhados nas diversas mídias. Jenkins (2009, p.138) afirmava que: “Uma história transmídia desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões.” Cultura participativa As reconfigurações provocadas pela Internet e pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TICs) impulsionaram mudanças nos protocolos de convivência e interação e isso deu força para a perspectiva da cultura da participação. Nesse modelo cultural, o comportamento das pessoas muda completamente, pois elas deixam de ser meros receptores das mensagens dos meios de comunicação e passam a adotar uma postura mais ativa e participativa. A lógica da cultura participativa é justamente promover uma mudança no papel exercido pelas pessoas que consomem os conteúdos produzidos pelos meios de comunicação, e tanto do ponto de vista da informação quanto do entretenimento essa mudança pode ser percebida. As pessoas interagem com sistemas complexos de regras, desenvolvidos para serem usados de forma coletiva. Nesse contexto, o modelo de comunicação é dialógico, coletivo e colaborativo. As pessoas são chamadas a participar ativamente de todo o processo, da criação à circulação dos novos conteúdos. Assim, todos podem ser consumidores e produtores de conteúdo, fomentando o desenvolvimento das capacidades práticas de cada um. Maria Lucia Santaella Braga. A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com o novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo. (JENKINS, 2009, 30) Por isso, a cultura participativa é um dos pilares da cultura da convergência, pois diz respeito às possibilidades que cada pessoa tem de ser um produtor de conteúdo. O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) permitiu que uma parcela maior da população tivesse acesso a essas tecnologias no seu dia a dia e conseguisse exercer sua função de produtor, trabalhando na criação e na recriação de conteúdos, que vão do audiovisual ao escrito. Lucia Santaella, uma das principais pesquisadoras sobre processos comunicacionais na Internet, escreveu no texto O DNA das Redes Sociais Digitais, publicado na coletânea Comunicação em tempos de redes sociais: afetos, emoções, subjetividades (2013), que as mídias digitais abriram espaço para a criação de ambientes de convivência instantânea entre as pessoas, dando força para a noção de cultura da participação. Cultura da participação é aquela em que seus membros acreditam que suas contribuições importam e desenvolvem certo grau de conexão social com o outro. Para Santaella (2013, p. 29), trata-se de um novo cenário de convivência humana que inclui: Afiliações, formais e informais, em comunidades on-line, centradas em diversas formas de mídia. Usos que, potencialmente, produzem mudanças na plataforma. Usos baseados em valores de afinidade, confiança e afetividade. Solução colaborativa de problemas pelo trabalho conjunto de equipes para realizar tarefas e desenvolver novos conhecimentos. Circulações que determinam o tipo de fluxo entre as mídias. Espaços nos quais cada um conta, em que todos podem colaborar e que não aceitam mais os discursos meramente persuasivos, exigentes, excludentes, impositivos, afinal, com apenas um clique, pode-se • • • • • compartilhar informações e mobilizar pessoas em torno de um tema, uma situação ou questão, pois, segundo Jenkins (2009, p. 31), nos últimos anos, foi possível perceber o quanto equipamentos, como o celular, tornaram-se fundamentais no processo de convergência das mídias. Na atualidade, as pessoas estão cada vez mais conectadas na Internet e tornaram-se capazes de elaborar e reelaborar seus próprios conteúdos e mensagens, utilizando os códigos, que constituem as práticas dos meios de comunicação, mas ao mesmo tempo também recriando esses códigos conforme é possível. No texto Tudo e todos estão on-line (2011), o professor Stephen P. Bradley e a pesquisadora Nancy Bartlett destacam a relação entre o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e o surgimento de novas práticas culturais. Para os autores, o fato de as pessoas estarem mais conectadas hoje em dia se deve à ampliação do acesso a Internet e à funcionalidade das tecnologias desenvolvidas. Como discar em um telefone ou trocar o canal da televisão nas décadas passadas, as pessoas clicam e navegam em celulares, computadores, laptops, tablets, MP3 e leitores eletrônicos para interagir com o conteúdo digital. (BRADLEY; BARTLETT, 2011, p. 1) O acesso à Internet e às tecnologias, mesmo ainda não alcançando toda a população, já é capaz de mobilizar o desenvolvimento da cultura da participação, pois gera nas pessoas o desejo por criar, compartilhar e influenciar na Internet. De acordo com Bradley e Bartlett (2011), existem três componentes interdependentes que representam a forma de perceber o mundo digital em rede: Produção de conteúdo Distribuição de conteúdo Consumo de conteúdo Na cultura da participação, as pessoas produzem e distribuem seus próprios conteúdos e ainda consomem o conteúdo dos outros. Partindo disso, Bradley e Bartlett (2011, p. 3), apontam para cinco dinâmicas que ajudaram na delineação da fisionomia do modelo centrado no usuário e em suas relações na Internet. Acesso à banda larga universal e dominante. Pequenas barreiras na produção de conteúdo. Pequenas barreiras e distribuição de conteúdo. Aplicativos e dispositivos sofisticados que permitem ao usuário organizar e consumir o conteúdo. Tecnologias sem fim e em rede. A partir dessas dinâmicas, podemos analisar o fenômeno da Internet, particularmente seu desenvolvimento, pois entre elas está o que podemos considerar como o pré-requisito para as interações e conexões no mundo • • • • • digital: a banda larga; por meio dela é possível a criação e difusão de conteúdo digital, bem como a ampliação da interatividade em tempo real, a colaboração e a conexão. Inteligência coletiva Novas formas de aprender e de entender o mundo surgem com a Internet, especialmente a partir das recentes lógicas de produção e compartilhamento de informação no digital. Atualmente, as pessoas buscam tanto nas redes sociais quanto em sites e páginas a informação e o conhecimento sobre qualquer assunto. Assim, cada um presente na Internet coloca à disposição suas capacidades intelectuais e ajuda outras pessoas. Essa é a essência da inteligência coletiva, o compartilhamento em rede, pelas interconexões entre grupos e indivíduos. O fato é que ninguém sabe tudo e todos sabem algumas coisas importantes, justamente na perspectiva que fortalece a noção de uma construção coletiva de conhecimento na Internet. Lévy (1999), que cunhou inicialmente o conceito de inteligência coletiva, acredita que ela tende a alterar, gradualmente, o modo como a cultura de massa opera, pois favorece práticas de criação, compartilhamento e recombinação de conteúdo não somente na Internet. Entre suasprincipais características estão: compartilhamento, cooperação e ação coletiva. A inteligência coletiva refere-se a essa capacidade das comunidades virtuais de alavancar a expertise combinada de seus membros. O que não podemos saber ou fazer sozinhos, agora podemos fazer coletivamente. (JENKINS, 2009, p. 56) São os vínculos entre diversas competências, ideias, informações, dados e conhecimentos articulados virtualmente pelas interações entre as pessoas na Internet que caracterizam concretamente o que se entende por inteligência coletiva. Essa articulação só é possível graças às comunidades do ciberespaço, nas quais a troca e a circulação de conhecimento é constante. As pessoas conectadas na Internet realizam processos de articulação e trocas, o que garante a expansão contínua da inteligência coletiva. Martino (2014), afirma que todas as pessoas podem, sem perder a sua inteligência individual, contribuir com algum elemento para a constituição de um conjunto de saberes que, sem pertencer especificamente a ninguém, permanecem à disposição de todos, podendo ser usados e transformados durante o tempo. Áreas específicas Em virtude de a inteligência coletiva existir no ciberespaço como um aglomerado de saberes virtuais, Pierre Lévy (1999), propõe uma subdivisão em três áreas: técnica, conceitual e emocional. 1 Inteligência técnica Envolve os objetos e o mundo concreto, materializa-se no conhecimento que planeja, projeta, constrói e reconstrói. 2 Inteligência conceitual Corresponde aos conceitos abstratos e não ocorre sobre a materialidade física. 3 Inteligência emocional Engloba a compreensão e a administração dos sentimentos, concebe a relação entre os seres humanos. Nesse sentido, o capital intelectual coletivo é a somatória de avanços e descobertas da humanidade no decorrer de sua história. Assim, a inteligência parte do princípio da ética da reciprocidade, em que o conhecimento de um indivíduo poderá ser útil para outra pessoa. Os grandes debates sociais encontram lugar na facilidade de conexões e compartilhamentos na Internet, que trazem em si a potencialidade para a conexão do pensamento humanos e as tecnologias. A conexão cada vez mais ativa entre os indivíduos colabora para ações coletivas. Os debates de matérias relevantes para a sociedade encontram o seu apogeu na facilidade de comunicação, pelos meios eletrônicos e pela mídia. A Internet traz a potencialidade para a conexão do pensamento humano e a cibercultura evidencia a competência que o homem tem de reconstruir sua ideia de mundo, de incluir e interagir com o seu igual em um novo cenário de relacionamentos, buscando um necessário diálogo para a sua vivência. Convergência midiática, cultura participativa e inteligência coletiva Neste vídeo, falaremos sobre os conceitos de convergência midiática, cultura participativa e inteligência coletiva. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Economia afetiva e narrativa transmidiática Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Inteligência coletiva Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 (UFMT/2021) Leia o trecho a seguir: “A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços de fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana” (JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009). O trecho apresentado fala sobre características da cultura da convergência, processo sociocultural muito presente na vida contemporânea. Marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) A convergência é um processo integralmente tecnológico, visto que afeta apenas os indivíduos que interagem com as tecnologias móveis. ( ) No ambiente da convergência, os usuários podem atuar como coprodutores dos conteúdos em circulação, impactando a reconfiguração e redistribuição das mensagens. ( ) Própria da convergência, transmídia é um tipo de narrativa que se desdobra em diversas plataformas, reproduzindo o mesmo conteúdo em diferentes linguagens. ( ) No processo de convergência, diferentes formatos de mídia interagem entre si, reconfigurando os processos de produção, distribuição e consumo dos conteúdos. ( ) Cultura participativa, inteligência coletiva e anulação das mídias eletrônicas são três pilares fundamentais da convergência midiática apresentada por Henry Jenkins. A F, V, F, V, F B V, F, V, V, F C V, F, F, F, V D F, V, V, V, V E F, V, V, V, F A alternativa E está correta. Os pilares da cultura da convergência segundo Henry Jenkins são três: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva; por isso, a convergência precisa ser entendida como um processo além da transformação tecnológica, trata-se de um movimento que impacta a dinâmica cultural e social das pessoas. Questão 2 (UFRJ/2018) Várias narrativas utilizam múltiplas plataformas para contar uma história. Como define Henry Jenkins em seu clássico Cultura da convergência (2008), uma narrativa transmídia: A é composta por uma mesma história narrada em diferentes mídias. B é uma história que usa simultaneamente áudio, vídeo e realidade aumentada. C é uma história que busca uma experiência de imersão. D é composta por histórias diferentes, contadas de forma autônoma em várias plataformas, mas que compõem um mesmo universo. E é uma adaptação cinematográfica literal. A alternativa A está correta. As narrativas transmidiáticas utilizam diversas plataformas de mídia e várias linguagens, porém, nessas plataformas circulam histórias distintas que se somam ao todo de um universo narrativo. Assim, cada suporte de mídia contribui a partir da riqueza de suas possibilidades e ferramentas. 4. Conclusão Considerações finais Como vimos, os estudos e as pesquisas sobre história da mídia e evolução e convergência dos meios de comunicação são amplos e colocam em perspectiva aspectos e fatos importantes para qualquer profissional da Comunicação Social. Importante também relembrar que as teorizações e conceituações apresentadas ao longo do conteúdo precisam ser consideradas como bússolas, mapas e binóculos, que ajudaram a navegar pelas nuances que surgem na vida social, cultural, mercadológica e tecnológica, em virtude da Internet e de suas funcionalidades. Sistematizamos os nomes centrais deste conteúdo para que você possa buscar suas obras e aprofundar seus estudos e práticas profissionais. Começamos por Tim O‘Reilly, responsável pela definição das características da Web 2.0 e que impulsionou o debate sobre os estudos em torno do tema. Outro importante colaborador desse caminho reflexivo foi Pierre Lévy, com seus estudos sobre cibercultura e seus desdobramentos na sociedade. Raquel Recuero é uma teórica brasileira e suas contribuições foram indispensáveis para entender melhor as redes sociais na Internet, seus elementos e características. Alex Primo fortaleceu o estudo dos processos de interação entre seres humanos e máquinas. Sobre as mídias digitais e as temáticas de fundo, trabalhamos com Luís Mauro Sá Martino. No debate sobre cultura participativa nas redes sociais na Internet, trabalhamos com Lucia Santaella. Para entender o processo de convergência dos meios de comunicação e a relação mídias tradicionais e mídias digitais, foram utilizadas as reflexões de Henry Jenkins. O estudo e as práticas profissionais que envolvem diretamente a Internet e as tecnologias da comunicação e informação necessitam de constante atualização, pois os fenômenos são rápidos e dinâmicos. Podcast Neste podcast, o especialista