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15
A Criação
Por que, como e quando Deus criou o universo?
E x p l ic a ç ã o e b a s e b íb l ic a ’
C o m o Deus criou o mundo? Será que criou diretamente cada espécie distinta de 
planta e animal ou será que usou algum tipo de processo evolutivo, orientando o 
desenvolvimento das coisas vivas, da mais simples à mais complexa? E em quanto tempo 
Deus realizou a criação? Será que tudo foi concluído dentro de seis dias de vinte e quatro 
horas ou será que usou milhares ou talvez milhões de anos? Qual a idade da terra, e qual 
a idade da raça humana?
Sempre deparamos com essas perguntas ao tratar da doutrina da criação. Ao contrário 
da maior parte do material anterior deste livro, este capítulo trata de diversas questões 
sobre as quais os cristãos evangélicos têm pontos de vista distintos, às vezes bem 
fortemente arraigados.
Neste capítulo passaremos dos aspectos da criação mais claramente explicados nas 
Escrituras, sobre os quais quase todos os evangélicos concordariam (criação a partir do 
nada, criação especial de Adão e Eva e a bondade do universo), aos aspectos da criação 
sobre os quais os evangélicos discordam (se Deus usou algum processo evolutivo para 
executar boa parte da criação, e qual a idade da terra e da raça humana).
Podemos definir assim a doutrina da criação: Deus criou todo o universo do nada; este era 
originariamente muito bom, e ele o criou para glorificar a si mesmo.
A . D e u s c r io u o u n iv e r s o d o n a d a
1. Provas bíblicas da criação a partir do nada. A Bíblia claramente demanda que 
acreditemos que Deus criou o universo do nada. (As vezes se usa a expressão latina ex 
nihilo, Mdo nada”; diz-se então que a Bíblia prega a criação ex nihilo.) Isso significa que 
antes de Deus principiar a criação do universo, nada existia além do próprio Deus.2
Essa é a implicação de Gênesis 1.1, que diz: “No princípio, criou Deus os céus e a 
terra”. A frase “os céus e a terra” abarca todo o universo. O salmo 33 também nos diz:
198
(15) A Criação
“Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles [...] Pois 
ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33.6, 9). No Novo 
Testamento, encontramos uma declaração universal no início do evangelho de João: 
“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” 
(Jo 1.3). A melhor interpretação da expressão “todas as coisas” é “todo o universo” (cf. 
At 17.24; Hb 11.3). Paulo é bem explícito em Colossenses 1 quando especifica todas as 
partes do universo, as coisas visíveis e as invisíveis: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, 
nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer 
principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16). O cântico 
dos vinte e quatro anciãos no céu igualmente afirma essa verdade:
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, 
de receber a glória, a honra e o poder, 
porque todas as coisas tu criaste,
sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11).
Na última frase diz-se que a vontade de Deus foi a razão pela qual as coisas passaram 
afinal a “existir” e pela qual “foram criadas”.
O fato de ter Deus criado os céus e a terra, e tudo o que neles há, é afirmado várias 
outras vezes no Novo Testamento. Por exemplo, Atos 4.24 fala de Deus como “Soberano 
Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há”. Uma das primeiras maneiras 
de identificar a Deus é dizer que ele criou todas as coisas. Bamabé e Paulo explicam à 
platéia pagã em Listra que são mensageiros de um “Deus vivo, que fez o céu, a terra, o 
mar e tudo o que há neles” (At 14.15). Do mesmo modo, quando Paulo fala aos filósofos 
gregos pagãos em Atenas, ele identifica o Deus verdadeiro como o “Deus que fez o mundo 
e tudo o que nele existe” e diz que esse Deus “a todos dá vida, respiração e tudo mais” 
(At 17.24-25; cf. Is 45.18; Ap 10.6).
Hebreus 11.3 diz: “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de 
Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (n v i ). Essa tradução espelha 
de modo bastante preciso o texto grego.3 Em bora o texto não ensine exatamente a 
doutrina da criação do universo a partir do nada, chega perto disso, pois diz que Deus 
não criou o universo a partir de algo visível. A idéia um tanto canhestra de que o universo 
possa ter sido criado a partir de algo invisível provavelmente não passou pela cabeça do 
autor. Ele está contradizendo a idéia da criação a partir de matéria previamente existente, 
e para esse fim o versículo é bem claro.
Romanos 4.17 também implica que Deus criou do nada, ainda que não o afirme 
exatamente. O texto grego fala literalmente de Deus como aquele que “chama coisas não 
existentes como existentes”. A tradução da a r a , “chama à existência as coisas que não 
existem”, é incomum mas gramaticalmente possível,4 e faz uma afirmação explícita da 
criação a partir do nada. Porém, mesmo que traduzamos de modo que a palavra grega 
hos assuma seu significado comum, “como”, o versículo diz que Deus “chama as coisas 
que não existem como existentes” (n a s b mg.). Mas se Deus fala a algo que não existe (ou 
chama) como se de fato existisse, o que então está implícito? Se ele chama coisas que não 
existem como se existissem, o significado só pode ser que logo existirão, irresistivelmente 
chamadas à existência.
199
(15) A Doutrina de Deus
Como Deus criou todo o universo do nada, no universo não existe matéria eterna. Tudo 
o que vemos - as montanhas, os oceanos, as estrelas, a própria terra - tudo veio a existir 
quando Deus o criou. Houve um tempo em que não existiam:
“Antes que os montes nascessem 
e se formassem a terra e o mundo, 
de eternidade a eternidade, tu és Deus” (SI 90.2).
Isso nos lembra que Deus rege todo o universo e que nada na criação deve ser adorado 
em lugar de Deus, ou além dele. Todavia, negando a criação a partir do nada, teríamos de 
afirmar que alguma matéria já existia e que é eterna como Deus. Tal idéia desafiaria a 
independência de Deus, sua soberania, e o fato de que só a ele devemos culto: se a matéria 
existisse além de Deus, então que direito inato teria Deus de regê-la e usá-la para sua glória? 
E que certeza teríamos de que cada aspecto do universo irá no final cumprir os desígnios 
de Deus, se algumas partes dele não foram criadas por Deus?
O lado positivo do fato de ter Deus criado o universo do nada é que ele tem sentido e 
propósito. Deus, na sua sabedoria, o criou para algum fim. Devemos tentar compreender 
esse fim e usar a criação de modos que se conformem a esse fim, que é glorificar o próprio 
Deus.5 Além disso, sempre que a criação nos dá alegria (cf. lTm 6.17) devemos dar graças 
a Deus, que tudo fez.
2. A criação do universo espiritual. A criação de todo o universo abarca a criação 
de um reino de existência invisível e espiritual: Deus criou os anjos e outros tipos de seres 
celestiais, além dos animais e do homem. Também criou o céu como lugar onde a sua 
presença é especialmente evidente. A criação do reino espiritual está inequivocamente 
implícita em todos os versículos acima que afirmam que Deus criou não só a terra, mas 
também “o céu [...] e tudo quanto nele[s] existe” (Ap 10.6; cf. At 4.24), e está ainda 
explicitamente confirmada em vários outros versículos. A oração de Esdras diz bem 
claramente: “S ó tu és S e n h o r , tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra 
e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, 
e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6). O “exército dos céus” nesse versículo parece referir- 
se aos anjos e outras criaturas celestes, pois Esdras diz que eles se ocupam da atividade de 
adorar a Deus (o mesmo termo exército é usado para falar de anjos que adoram a Deus em 
SI 103.21 e 148.2).6
No Novo Testamento, Paulo especifica que em Cristo “foram criadas todas as coisas, nos 
céus e sobre a terra, as visíveisde anos entre Gênesis 1.1 (“No princípio, criou Deus 
os céus e a terra”) e Gênesis 1.2 (“A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas 
sobre a face do abismo”). Segundo essa teoria, Deus teria feito uma criação anterior, mas 
acabou havendo uma rebelião contra ele (provavelmente ligada à própria rebelião de 
Satanás), e Deus julgou a terra, de modo que ela “ficou sem forma e vazia” (tradução 
alternativa, mas duvidosa, proposta para Gn 1.2).45 O que lemos em Gênesis 1.3-2.3 é na 
verdade a segunda criação de Deus, em seis dias de vinte e quatro horas, que ocorreu só 
recentemente (talvez 10.000 ou 20.000 anos atrás). Os fósseis antigos encontrados na terra, 
muitos deles datados de milhões de anos, são da primeira criação (4.500.000.000 de anos 
atrás), mencionada somente em Gênesis 1.1.
O principal argumento bíblico a favor dessa teoria é que as palavras “sem forma e 
vazia” e “trevas” em Gênesis 1.2 retratam uma terra que sofrerá os efeitos do juízo de 
Deus: trevas por toda parte, no Antigo Testamento, são muitas vezes sinal do juízo de 
Deus, e as palavras hebraicas tohü (“sem forma”) e bohü (“vazio, vácuo”) em versículos 
como Isaías 34.11 e Jeremias 34.23 se referem a locais como desertos que sofreram as 
desoladoras conseqüências do juízo divino.
Mas esses argumentos não parecem fortes o bastante para nos convencer de que 
Gênesis 1.2 retrata a terra desolada após o juízo de Deus. Se Deus primeiro forma a terra
220
(15) A Criação
(v. 1) e depois cria a luz (v. 3), necessariamente haveria trevas sobre a terra no versículo 
2 — isso indica que a criação está em curso, não que algum mal se ache presente. Além 
disso, em cada dia há uma “tarde”, e há “trevas” presentes durante os seis dias da criação 
(v. 5, 8, 13, 18-19, et al.), sem indicação de mal ou de reprovação divina (cf. SI 104.20). 
Quanto à expressão “sem forma e vazia”, o sentido é simplesmente que não está ainda 
pronta para ser habitada: o trabalho preparatório de Deus ainda não fora realizado. E 
claro que, quando Deus amaldiçoa um deserto, ele se tom a inadequado para a habitação, 
mas não devemos transportar a causa dessa inadequação de um caso (a maldição divina 
contra um deserto) para outro, a criação, onde a causa da inadequação para a habitação 
é simplesmente o fato de a obra divina estar ainda em curso; a preparação para o homem 
ainda não está completa.46 (Não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma 
palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da 
palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias.)
Além do fato de Gênesis 1.2 não dar sustentação a essa idéia, alguns outros argu­
mentos pesam fortemente contra a teoria do intervalo:
1. Não há versículo das Escrituras que fale explicitamente de uma criação anterior. 
Por conseguinte essa teoria não tem nem sequer um versículo bíblico que lhe dê 
sustentação explícita.
2. Em Gênesis 1.31, quando Deus conclui a sua obra de criação, lemos: “Viu Deus 
tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Mas segundo a teoria do intervalo, Deus 
estaria olhando para uma terra repleta dos resultados da rebelião, do conflito e do terrível 
juízo divino. Ele também estaria olhando para todos os seres demoníacos, as hostes de 
Satanás que se haviam rebelado contra ele, e ainda assim diria que tudo era “muito bom”. 
E difícil acreditar que, mesmo havendo tanto mal e tantas evidências de juízo sobre a terra, 
Deus ainda assim dissesse que a criação era muito boa.
Além do mais, Gênesis 2.1 diz, num aparente resumo de tudo o que acontecera em 
Gênesis 1: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército”. Aqui se 
diz que não só a obra de Deus na terra, mas tudo o que ele fez nos céus, concluiu-se na 
narrativa de Gênesis 1. Não há margem para que vastas regiões dos céus e da terra tenham 
sido concluídas bem antes dos seis dias da criação.
3. Numa descrição posterior da obra criadora de Deus, encontrada nos Dez M an­
damentos, lemos: “... porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que 
neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o S e n h o r abençoou o dia de sábado e o 
santificou” (Êx 20.11). Aqui a criação dos céus e da terra, e a conclusão de “tudo o que 
neles há”, é atribuída à obra divina durante os seis dias da criação. Quer consideremos 
que foram dias de vinte e quatro horas, quer períodos mais longos de tempo, a criação 
de todos os céus, de toda a terra e de tudo o que há neles se inclui nesses seis dias. Mas os 
proponentes da teoria do intervalo ver-se-iam obrigados a dizer que há muitas coisas da 
terra (como fósseis de animais mortos e a terra em si) e dos céus (como as estrelas) que 
Deus não fez nos seis dias especificados em Êxodo 20.11, visão que parece exatamente 
oposta ao que se afirma no versículo.
Ademais, embora algumas passagens das Escrituras de fato falem do juízo de Deus 
contra anjos rebeldes, ou, várias vezes, do juízo divino sobre a terra (ver Is 24.1 ;Jr 4.23- 
26; 2Pe 2.4), nenhuma dessas passagens situa esse juízo num tempo anterior à narrativa 
da criação em Gênesis 1.2-31.
221
(15) A Doutrina de Deus
4. Essa teoria precisa supor que todos os fósseis de animais de milhões de anos atrás 
que lembram de perto animais contemporâneos indicam que a primeira criação dos 
reinos animal e vegetal deu em fracasso. Esses animais e vegetais não cumpriram o 
propósito original de Deus, e por isso ele os destruiu, mas na segunda criação fez outros 
exatamente como esses primeiros. Ademais, como Adão e Eva foram o primeiro homem 
e a primeira mulher, essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que 
existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora:
o próprio homem. Mas tanto o fracasso de Deus em realizar os seus propósitos nos reinos 
vegetal e animal originais quanto o fato de Deus não ter coroado a criação com a sua 
criatura mais sublime, o homem, parecem incompatíveis com o retrato bíblico de Deus, 
como aquele que sempre alcança os seus desígnios em tudo o que faz. Portanto a teoria 
do intervalo não parece uma alternativa aceitável para os cristãos evangélicos de hoje.
3. A idade da terra: algumas considerações preliminares. Até aqui, as análises 
deste capítulo defenderam conclusões que esperamos encontrem ampla aceitação entre 
os cristãos evangélicos. Mas agora, afinal, chegamos a uma pergunta desconcertante, 
diante da qual os cristãos que crêem na Bíblia vêm divergindo há anos, às vezes de modo 
bastante agudo. A pergunta é extremamente simples: qual a idade da terra?
É acertado abordar essa questão depois de todos os assuntos precedentes, pois é de 
fato muito menos importante do que as doutrinas consideradas acima. Podemos resumir 
assim os assuntos anteriores: (1) Deus criou o universo do nada; (2) a criação é distinta 
de Deus, porém sempre dependente de Deus; (3) Deus criou o universo para revelar a 
sua glória; (4) o universo que Deus criou era muito bom; (5) não haverá conflito definitivo 
entre as Escrituras e a ciência; (6) as teorias seculares que negam Deus como Criador, 
incluindo a evolução darwiniana, são nitidamente incompatíveis com a fé na Bíblia.
A questão da idade da terra é também menos importante do que assuntos que serão 
abordados nos capítulos subseqüentes, como (7) a criação do mundo dos anjos e (8) a 
criação do homem à imagem de Deus (capítulos 19,21 e 22). É importante ter essas coisas 
em mente, pois existe o perigo de que os cristãos desperdicem tempo excessivo discutindo 
a idade da terra, deixando assim de concentrar-se em aspectos muito mais importantes 
e muito mais claros do ensino global da Bíblia sobre a criação.
As duas opções a escolher sobre a idade da terra são a teoria da “terra antiga”, que 
se alinha com o consenso da ciência moderna, defendendo que a terra tem 4.500.000.000 
de anos de idade; e a teoria da “terra jovem”, que diz que a terra tem entre 10.000 e 20.000 
anos, e que os sistemas de dataçãocientíficos seculares estão incorretos. A diferença entre 
essas duas concepções é imensa: 4.499.980.000 anos!
Antes de considerar os argumentos em favor de cada uma das teorias, examinaremos 
algumas questões preliminares sobre as genealogias da Bíblia, estimativas atuais da idade 
da raça humana, concepções diversas sobre a datação dos dinossauros e a extensão dos 
seis dias da criação em Gênesis 1.
a. Existem lacunas nas genealogias da Bíblia. Quando se lê a lista de nomes nas 
Escrituras, ao lado das idades das pessoas, é possível conceber a idéia de somar as idades 
de todas as pessoas da história da redenção, de Adão a Cristo, para assim alcançar uma 
data aproximada da criação da terra. Certamente isso nos daria uma data bastante recente
222
(15) A Criação
para a criação (como a data do arcebispo Ussher: 4004 a.C.). Mas uma investigação mais 
detida das listas paralelas de nomes nas Escrituras mostram que a própria Bíblia indica 
que as genealogias relacionam somente os nomes que os autores bíblicos consideravam 
importante registrar, segundo os seus objetivos. De fato, algumas genealogias incluem 
nomes omitidos por outras genealogias da própria Bíblia.
Por exemplo, Mateus 1.8-9 nos diz que Asa “gerou ajosafá; Josafá, a jo rão; Jorão, a 
Uzias; Uzias gerou aJotão;Jotão a Acaz”. Mas em 1 Crônicas 3.10-12 (que usa o nome 
alternativo Acazias em lugar de Uzias) percebemos que Mateus omitiu três gerações: Joás, 
Amazias e Azarias. Assim podem-se comparar esses textos na seguinte tabela:
Exemplos de lacunas nas genealogias
1 Crônicas 3.10-12 Matem 1.8-9
Asa Asa
Josafá Josafá
Jeorão Jorão
Acazias (Uzias) Uzias 
Joás 
Amazias 
Azarias
Jotão Jotão
Acaz Acaz
Ezequias Ezequias
(etc.) (etc.)
Portanto, quando Mateus diz que Uzias “gerou a Jotão”, talvez queira dizer que foi 
pai de alguém que teve como descendente Jotão. Mateus selecionou os nomes que quis 
enfatizar segundo os seus propósitos.4 7 Fenômeno semelhante é patente em Mateus 1.20, 
quando o anjo do Senhor fala ajosé e o chama “José, filho de Davi”. Ora, José não é filho 
direto de Davi (pois este viveu por volta de 1000 a.C.), mas sim descendente de Davi, 
sendo portanto chamado “filho” dele.
Outro exemplo se encontra em 1 Crônicas 26.24, numa lista de oficiais nomeados 
pelo rei Davi perto do fmal da sua vida. Lemos que “Sebuel, filho de Gérson, filho de 
Moisés, era oficial encarregado dos tesouros” (lC r 26.24). Ora, sabemos com base em 
Êxodo 2.22 que Gérson foi o filho de Moisés nascido antes do Êxodo, por volta de 1480
a.C. (ou, num a data posterior do êxodo, por volta de 1330 a.C.). Mas esses oficiais 
mencionados em 1 Crônicas 26 foram nomeados no tempo em que Davi fez Salomão rei 
de Israel, por volta de 970 a.C. (ver lC r 23.1). Isso significa que em 1 Crônicas 26.24 diz- 
se que Sebuel era “filho de Gérson”, que nasceu 510 (ou pelo menos 360) anos antes. Nessa 
expressão “filho de” omitiram-se dez ou mais gerações.48
Parece mais que justo concluir que as genealogias das Escrituras têm algumas lacunas, 
e que Deus só fez registrar os nomes importantes para os seus desígnios. Não sabemos 
quantas lacunas há e quantas gerações faltam às narrativas de Gênesis. Pode-se situar a 
vida de Abraão em aproximadamente 2000 a.C., pois os reis e locais listados nas histórias 
da vida do patriarca (Gn 12ss.) podem ser correlacionados com dados arqueológicos 
passíveis de serem datados com bastante confiabilidade,4 9 mas antes de Abraão a datação
223
(15) A Doutrina de Deus
é muito incerta. Em face da longevidade excepcional das pessoas que viveram antes do 
dilúvio, não pareceria insensato conceber que alguns milhares de anos se passaram na 
narrativa. Isso nos dá alguma flexibilidade na consideração da data em que o homem surgiu 
na terra. (Coisa bem diversa, aparentemente, e bastante alheia ao senso de continuidade 
da narrativa, seria conceber que se omitiram milhões de anos, mas que nomes e detalhes da 
vida de pessoas centrais foram lembrados e transmitidos de geração a geração ao longo de 
período tão extenso.)
b. A idade da raça humana. Embora as atuais estimativas científicas digam que o 
homem surgiu na terra por volta de 2,5 milhões de anos atrás, é importante verificar de 
que espécie de “homem” se está falando. A tabela abaixo é um resumo simplificado da 
atual opinião científica:50
homo habilis (“homem habilidoso”) 
ferramentas de pedra
homo erectus
variedade de ferramentas de pedra, 
usavam o fogo já em 500.000 a.C, 
caçavam animais grandes
homo sapiens (“homem sábio” ou 
“homem pensante”) 
enterravam os mortos (exemplo: 
homem de Neanderthal)
homo sapiens sapiens (“homem 
sábio, sábio”)
(exemplo: homem de Cro-Magnon) 
pinturas rupestres 
(exemplo: homem neolítico) 
criação de gado, agricultura, 
objetos de metal
Quer os cristãos defendam a tese da terra jovem, quer da terra antiga, todos eles con­
cordarão que o homem está certamente na terra desde o tempo das pinturas rupestres do 
homem de Cro-Magnon, pinturas datadas de aproximadamente 10.000 a.C. Todavia 
existe alguma variação de datas, pois a datação do local de sepultamento de certo espécime 
do homem de Cro-Magnon na Sibéria é aproximadamente 20.000 a 35.000 a .C , segundo 
indícios geológicos encontrados ali, mas o método de datação por Carbono 14 dá uma 
data de apenas 9.000 a.C., ou 11 mil anos atrás.51 Em datas anteriores às pinturas do 
hom em de Cro-M agnon há desacordo. Seria o hom em de N eanderthal realm ente 
homem, ou m eramente uma criatura hom ínida?52 Até que ponto eram humanos os 
hominídeos anteriores? (Formas superiores de animais, como os chimpanzés, conseguem 
usar ferramentas, e o sepultamento dos mortos não é necessariamente uma característica 
exclusivamente humana.) Além disso, os métodos de datação usados para períodos 
anteriores são bastante aproximados, com resultados muitas vezes conflitantes.53
2-3,5 milhões de anos a.C. 
1,5 milhões de anos a.C.
40.000-150.000 a.C.
(ou talvez 300.000 a.C.)
90.000 a.C.
18.000-35.000 a.C.
19.000 a.C.
224
(15) A Criação
Assim, quando foi afinal que o homem surgiu na terra? Certamente por volta de 
10.000 a.C., se as pinturas rupestres de Cro-Magnon foram datadas corretamente. Mas 
é difícil afirmar que foi antes disso.
c. Os animais morreram antes da Queda? No caso dos defensores da tese da terra 
jovem, não é preciso questionar se os animais morreram antes da queda, pois os animais 
e os homens foram ambos criados no sexto dia, e talvez haja decorrido um curto período 
até o pecado de Adão e Eva. Isso pode ter introduzido a morte no reino animal também, 
como parte da maldição da queda (Gn 3.17-19; Rm 8.20-23).
Mas no caso dos defensores da tese da terra antiga, trata-se de uma pergunta de peso. 
Existem na terra milhões de fósseis aparentemente antigos. Seriam fósseis de animais que 
viveram e morreram em tempos bem anteriores à criação de Adão e Eva? Será que Deus 
criou um reino animal sujeito à morte desde o momento da criação? E bem possível. Sem 
dúvida havia morte no m undo vegetal, pois Adão e Eva comiam frutos; e se Deus 
houvesse feito uma criação original em que os animais ao mesmo tempo devessem se 
reproduzir e viver para sempre, a terra logo estaria superpovoada, sem esperança de 
redução populacional. O alerta a Adão em Gênesis 2.17 foi somente de que morreria se 
comesse do fruto proibido, não que os animais também passariam a morrer. Quando Paulo 
diz: “Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12a), 
a frase seguinte deixa claro que ele fala da morte dos homens, não de plantas e animais, pois 
imediatamente acrescenta: “... assim também a morte passou a todos os homens, porque 
todos pecaram” (Rm 5.12b).
Com base nas informações que temos nas Escrituras, não podemos saber hoje se Deus 
criou os animais sujeitos ao envelhecimento e à morte desde o início, mas trata-se de uma 
possibilidade real.
d. E os dinossauros? A opinião científica atual diz que os dinossauros foram extintos 
há cerca de 65 milhões de anos, portantomilhões de anos antes do surgimento do homem 
na terra. Mas quem defende uma criação em seis dias de vinte e quatro horas e a tese da 
terra jovem diria que os dinossauros estavam entre os seres criados por Deus no mesmo 
dia da criação do homem (o sexto dia). Diria portanto que os dinossauros e os homens 
foram no início contemporâneos, e que depois esses animais foram extintos (quem sabe 
no dilúvio). Os defensores da terra jovem logicamente divergiriam dos métodos em­
pregados para chegar a datas tão recuadas para os dinossauros.
Entre os que defendem a tese da terra antiga, alguns diriam que os dinossauros 
figuravam entre as criaturas às quais Adão deu nome em Gênesis 2.19-20, e que pereceram 
posteriormente (talvez no dilúvio). Admitiriam que os dinossauros podem ter vivido em 
data anterior, mas que foram extintos só depois do tempo de Adão e Eva. Outros diriam 
que o sexto dia da criação teve uma duração de milhões de anos, e que os dinossauros 
já estavam extintos quando da criação de Adão e da atribuição de nomes aos animais. 
Nesse caso, Adão não deu nome aos dinossauros (a Bíblia não diz que ele o fez), mas só 
às criaturas que viviam na época em que Deus lhe trouxe todos os animais para que lhes 
atribuísse nome (Gn 2.19-20; ver n iv ). Logicamente, tal idéia exigiria que já havia morte 
no mundo animal antes do aparecimento do pecado (ver seção anterior).
225
(15) A Doutrina de Deus
e. Será que os dias da criação tinham vinte e quatro horas? Boa parte da disputa 
entre os defensores das teses da “terra jovem” e da “terra antiga” baseia-se na interpretação 
da extensão dos “dias” de Gênesis 1. Os defensores da terra antiga propõem que os seis 
“dias” de Gênesis 1 se referem não a períodos de vinte e quatro horas, mas a longos períodos 
de tempo, milhões de anos, durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis
1. Essa proposta provocou um acalorado debate com outros evangélicos, que ainda está 
longe de ser resolvido definitivamente para um lado ou para outro.
Em favor da tese de considerar os seis dias como longos períodos há o fato de que a 
palavra hebraica yôm , “dia”, é às vezes usada para se referir não a um dia de vinte e quatro 
horas, mas a um período mais extenso. Vemos isso quando a palavra é usada, por 
exemplo, em Gênesis 2.4, “No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus” (ibb), oração 
que se refere a toda a obra dos seis dias de criação. Entre outros exemplos em que a 
palavra dia significa um período indeterminado de tempo encontram-se: Jó 20.28 (“no 
dia da ira de Deus”); Salmos 20.1 (“O S e n h o r te responda no dia da tribulação”); 
Provérbios 11.4 (“As riquezas de nada aproveitam no dia da ira”); 21.31 (“O cavalo 
prepara-se para o dia da batalha”); 24.10 (“Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua 
força é pequena”); 25.13 (“no tempo [yôm] da. ceifa”); Eclesiastes 7.14 (“No dia da 
prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considera em que Deus fez tanto 
este como aquele”); muitas passagens que se referem ao “Dia do S e n h o r ” (como Is 2.12; 
13.6, 9; J1 1.15; 2.1; Sf 1.14); e muitas outras passagens do Antigo Testamento que 
profetizam tempos de juízo e bênçãos. Uma concordância mostra que esse é um sentido 
freqüente da palavra dia no Antigo Testamento.
Outro argumento a favor de que esses “dias” representam um período longo é o fato 
de o sexto dia incluir tantos eventos que só poderia mesmo ter mais de vinte e quatro 
horas. O sexto dia da criação (Gn 1.24-31) contém a criação dos animais e do homem e 
da mulher (“homem e mulher os criou”, Gn 1.27). Foi também no sexto dia que Deus 
abençoou Adão e Eva, dizendo-lhes: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e 
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal 
que rasteja pela terra” (Gn 1.28). Mas isso significa que o sexto dia inclui a criação de 
Adão, a introdução de Adão no Jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo e as orien­
tações divinas sobre a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.15-17), a apre­
sentação dos animais ao homem, para que ele lhes atribuísse nome (Gn 2.18-20), o fato 
de não se achar uma auxiliadora adequada a Adão (Gn 2.20) e o pesado sono que Deus 
impôs a Adão para criar Eva a partir da costela dele (Gn 2.21-25). A natureza finita do 
homem e o número incrivelmente grande de animais criados por Deus exigiriam, por si 
sós, um período muito mais longo do que apenas parte de um único dia para a ocorrência 
de tantos acontecim entos - pelo menos essa seria um a com preensão “com um ” da 
passagem para os primeiros leitores, consideração que não deixa de ter importância num 
debate que muitas vezes enfatiza aquilo que uma leitura comum do texto pelos primeiros 
leitores os levaria a concluir.5 4 Se se demonstra pelas considerações contextuais que o 
sexto dia foi consideravelmente mais longo do que um dia comum de vinte e quatro 
horas, então será que o próprio contexto não favorece a acepção “período de tempo” de 
duração indeterminada para a palavra dia?
Ligada a essa consideração está mais uma. E importante notar que o sétimo dia não 
conclui com a frase “houve tarde e manhã, o sétimo dia”. O texto diz apenas que Deus
226
(15) A Criação
“descansou nesse dia [o sétimo] de toda a sua obra que tinha feito” e que “abençoou Deus
o dia sétimo e o santificou” (Gn 2.2-3). Isso subentende a possibilidade, talvez a implicação, 
de que o sétimo dia ainda esteja em curso. Jamais terminou, mas é também um “dia” que, 
na verdade, eqüivale a um longo período de tempo (cf.Jo 5.17; Hb 4.4, 9-10).
Alguns já objetaram que, no Antigo Testamento, sempre que a palavra dia se refere 
a um período de tempo diferente do dia de vinte e quatro horas o contexto deixa isso bem 
claro, mas como o contexto não faz esse tipo de esclarecimento em Gênesis 1, devemos 
então supor que são dias normais. Mas a isso podemos responder que sempre que a 
palavra dia significa um período de vinte e quatro horas, o contexto também deixa isso 
claro. Caso contrário, não poderíamos saber que nesse contexto o dia eqüivale a um 
período de vinte e quatro horas. Portanto não se trata de uma objeção convincente. 
Simplesmente afirma que todos concordam que o contexto nos permite determinar qual 
sentido certa palavra assumirá quando tem vários significados possíveis.
O utra objeção é que a Bíblia poderia ter usado outras palavras se pretendesse 
significar um período mais longo do que as vinte e quatro horas de um dia. Contudo, se 
(como nitidamente é o caso) os primeiros leitores soubessem que a palavra dia podia 
significar um longo período de tempo, então não haveria necessidade de usar outra 
palavra, pois o vocábulo yôm transmitia muito bem o significado pretendido. Além disso, 
era uma palavra bem apropriada a usar na descrição de seis períodos sucessivos de 
trabalho, mais um período de descanso, que assim determinaria o modelo de semana de 
sete dias que as pessoas adotariam.
Isso nos leva à pergunta original: qual o significado da palavra dia no contexto de 
Gênesis 1 ? O fato de a palavra necessariamente se referir a um período mais longo poucos 
versos adiante, na mesma narrativa (Gn 2.4), deve-nos precaver contra afirmações 
dogmáticas de que os primeiros leitores certamente sabiam que o autor estava falando de 
dias de vinte e quatro horas. Na verdade, ambos os sentidos eram comuns para os 
primeiros leitores dessa narrativa.5 5
É importante perceber que aqueles que defendem a tese de que os seis “dias” da 
criação eram na verdade longos períodos não estão afirmando que o contexto demanda 
tal interpretação. Afirmam simplesmente que o contexto não especifica claramente um 
ou outro significado de dia, e se os dados científicos convincentes sobre a idade da terra, 
que provêm de muitas disciplinas diferentes e fornecem respostas semelhantes, levam- 
nos a aceitar que a terra tem bilhões de anos de idade, então essa possível compreensão 
de dia como um longo período de tempo talvez seja a melhor interpretaçãoa adotar. 
Desse modo, a situação é algo parecida àquela enfrentada pelos primeiros a defender que 
a terra girava sobre o seu eixo e circulava em torno do sol. Eles não diriam que as 
passagens que afirmam que o sol “se levanta” ou “se põe” exigem que, nesses contextos, 
acreditemos num sistema solar heliocêntrico (que tem o sol como centro), mas que essa 
é uma interpretação possível dos textos, considerando que retratam apenas o ponto de vista 
do observador. As provas que a ciência extraiu da observação nos informam que essa é, 
na verdade, a maneira correta de interpretar tais textos.
Do outro lado dessa questão estão os argumentos em favor da interpretação de “dia” 
como um período de vinte e quatro horas em Gênesis 1:
1. E significativo que cada um dos dias de Gênesis 1 termine com uma expressão do 
tipo: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (Gn 1.5). A frase “Houve tarde e manhã” é
227
(15) A Doutrina de Deus
repetida nos versículos 8, 13, 19, 23 e 31. Isso parece implicar uma seqüência de eventos 
que determina um dia normal de vinte e quatro horas e indica que os leitores inter­
pretariam assim o texto.
Esse é um forte argumento do contexto, e muitos o acharam convincente. Porém, 
aqueles que defendem um período longo para esses “dias” poderiam contrapor: (a) que 
na verdade tarde e manhã não constituem um dia inteiro, mas somente o final de um dia 
e o início de outro; portanto a expressão pode simplesmente compor o modo como o 
autor nos relata que chegava ao final o primeiro dia da criação (ou seja, um longo período 
de tempo) e começava o “dia” seguinte;56 e (b) que os três primeiros “dias” da criação não 
poderiam ter sido determinados por tarde e manhã provocadas pela luz do sol sobre a 
terra, pois o sol só foi criado no quarto dia (Gn 1.14-19); assim, o próprio contexto mostra 
que “tarde e manhã” neste capítulo não faz referência às tardes e manhãs comuns dos dias 
que conhecemos hoje. Assim o argumento que se baseia em “tarde e manhã”, embora 
dê talvez algum peso à tese das vinte e quatro horas, não parece desequilibrar a seu favor.
2. O terceiro dia da criação não pode ser muito longo, pois o sol só passa a existir no 
quarto dia, e as plantas não vivem muito tempo sem luz. Em resposta a isso, pode-se dizer 
que a luz que Deus criou no primeiro dia forneceu energia às plantas durante milhões de 
anos. Mas isso seria supor que Deus criou uma luz quase exatamente igual à do sol em 
termos de brilho e poder, sem ser no entanto o sol - uma sugestão excêntrica.
3. E difícil evitar a conclusão de que nos Dez Mandamentos a palavra dia significa 
um período de vinte e quatro horas:
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua 
obra. Mas o sétimo dia é o sábado do S enho r , teu Deus;. . . porque, em seis dias, 
fez o S e n h o r os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, 
descansou; por isso, o Sen h o r abençoou o dia de sábado e o santificou (Êx 20.8-11).
Certamente nesse texto o “dia” de sábado é um período de vinte e quatro horas. Mas 
então não nos vemos obrigados a dizer que o versículo 11, que no mesmo período 
gramatical diz que o Senhor fez os céus e a terra em “seis dias”, usa “dia” no mesmo 
sentido? Esse é outro argum ento de peso, que, levando em conta todos os fatores, 
proporciona mais poder de persuasão à tese do dia de vinte e quatro horas. Mas 
novamente não é lá muito conclusivo por si só, pois é possível contrapor que os leitores 
sabiam (com base numa leitura cuidadosa de Gn 1-2) que esses dias eram períodos não 
determinados de tempo, e que o mandamento do sábado meramente dizia ao povo de 
Deus que, assim como ele seguira um modelo “seis por um” na criação (seis períodos de 
trabalho seguidos por um período de descanso), tam bém eles deveriam seguir esse 
modelo (seis dias de trabalho seguidos por um dia de descanso; seis anos de trabalho 
seguidos por um ano sabático de descanso, como em Êx 23.10-11). De fato, já na frase 
seguinte dos Dez Mandamentos, “dia” significa “um período de tempo”: “Honra teu pai 
e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o S e n h o r , teu Deus, te dá” 
(Êx 20.12). Certamente aqui a promessa não é de dias comuns “prolongados” (algo como 
dias de vinte e cinco ou vinte e seis horas!), mas de que o período de vida da pessoa se 
prolongue na terra.5 7
228
(15) A Criação
4. Os que argum entam em favor de um “dia” de vinte e quatro horas também 
perguntam se em algum outro trecho da Bíblia hebraica a palavra “dias”, no plural, 
especialmente quando acompanhada de um número (como em “seis dias”), se refere a 
qualquer outra coisa que não dias de vinte e quatro horas. Esse argumento, todavia, não 
é convincente, pois: (a) encontra-se em Êxodo 20.12 um caso de “dias”, no plural, que 
significa períodos de tempo, caso esse discutido no parágrafo anterior; e (b) se a palavra 
no singular assume claramente o sentido de “período de tempo” (e de fato assume, como 
todos admitem), então os leitores certamente compreenderiam o significado desses seis 
“períodos” de tempo, ainda que o Antigo Testamento não apresentasse em nenhum outro 
trecho exemplo desse sentido. O fato de que essa expressão não aparece em nenhum 
outro lugar pode significar simplesmente que não houve outra oportunidade de usá-la.
5. Quando Jesus diz “Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e 
mulher” (Mc 10.6), ele dá a entender que Adão e Eva não foram criados bilhões de anos 
depois do princípio da criação, mas no princípio desta. Esse argumento também tem 
alguma força, mas os defensores da terra antiga podem responder que Jesus está apenas 
se referindo ao conjunto de Gênesis 1-2 como o “princípio da criação”, em contraposição 
ao argumento das leis mosaicas em que os fariseus se baseavam (v. 4).
Contrapus uma resposta a cada um dos cinco argumentos em prol do dia de vinte e 
quatro horas, mas essas respostas talvez não convençam os seus defensores. Eles respon­
deriam assim à idéia do “período de tem po”: (1) logicamente é verdade que dia pode 
significar “período de tempo” em muitos trechos do Antigo Testamento, mas isso não 
demonstra que dia deve necessariamente ter tal significado em Gênesis 1. (2) O sexto dia 
da criação não precisaria ter tido mais de vinte e quatro horas, especialmente se Adão só 
deu nomes aos principais tipos representativos das aves e de “todos os animais selváticos” 
(Gn 2.20). (3) Embora não houvesse sol para demarcar os três primeiros dias da criação, 
assim mesmo a terra girava sobre o seu eixo numa velocidade fixa, e havia a “luz” e as 
“trevas”, que Deus criara no primeiro dia (Gn 1.3-4), chamando “dia” à luz e “noite” às 
trevas (Gn 1.5). Assim Deus, de algum modo, engendrou uma alternância entre dia e noite 
desde o primeiro dia da criação, segundo Gênesis 1.3-5.
Que devemos então concluir quanto à extensão dos dias de Gênesis 1 ? De modo 
nenhum parece fácil decidir com as informações hoje disponíveis. Não é simplesmente 
uma questão de “acreditar na Bíblia” ou “não acreditar na Bíblia”, nem uma questão de 
“ceder à ciência moderna” ou “rejeitar as claras conclusões da ciência moderna”. Mesmo 
para aqueles que crêem na absoluta confiabilidade das Escrituras (como este autor), e que 
abrigam alguma dúvida a respeito dos períodos excepcionalmente longos que os cientistas 
propõem para a idade da terra (como este autor), a questão não parece fácil de resolver. 
No momento, as considerações do poder da palavra criadora de Deus e da instan- 
taneidade com que parece produzir resultados, o fato de “tarde e manhã” e da numeração 
dos dias sugerir também dias de vinte e quatro horas, e o fato de Deus aparentemente não 
ter nenhum motivo para adiar a criação do homem por milhares ou mesmo milhões de 
anos - tudo isso me parecem fortes argumentos a favor da tese do dia de vinte e quatro 
horas. Mas mesmo aqui há bons argumentos do outro lado: para aquele que vive para 
sempre, para quem “um dia é como mil anos, e mil anos,como um dia” (2Pe 3.8), que 
se compraz em gradualmente realizar os seus desígnios ao longo do tempo, talvez 15 
bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo
229
(15) A Doutrina de Deus
para a chegada do homem, e 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra. A 
evidência da incrível antigüidade do universo serviria então como vivida lembrança da 
natureza ainda mais espantosa da eternidade divina, assim como o incrível tamanho do 
universo nos faz pasmar diante da ainda maior onipresença e onipotência de Deus.
Portanto, com respeito à extensão dos dias em Gênesis 1, é preciso adm itir a 
possibilidade de que Deus tenha preferido não nos dar informações suficientes para tirar 
uma conclusão clara sobre a questão, e o verdadeiro teste de fidelidade a ele talvez seja 
a nossa capacidade de demonstrar tolerância diante daqueles que, de boa consciência e 
com plena confiança na Palavra de Deus, abraçam uma posição diferente nesse ponto.
4. Hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções 
válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Depois de discutir várias considerações 
preliminares a respeito da idade da terra, chegamos finalmente aos argumentos específicos 
a favor das teses da terra antiga e da terra jovem.
a. As teorias criacionistas da “terra antiga”. Nessa prim eira categoria, rela­
cionamos dois pontos de vista defendidos por aqueles que crêem numa terra antiga, com 
cerca de 4,5 bilhões de anos, e num universo de cerca de 15 bilhões de anos.
(1) Tese do dia-era
Muitos que acreditam que a terra tem muitos milhões de anos sustentam que os dias 
de Gênesis 1 são “eras” extremamente longas.5 8 Os argumentos dados acima a favor de 
dias longos em Gênesis 1 valem também aqui, e, como argumentamos acima, as palavras 
do texto hebraico de fato permitem que os dias sejam períodos longos. A vantagem 
evidente dessa concepção é que, se está correta a atual estimativa científica de uma idade 
de 4,5 bilhões de anos para a terra, ela explica por que a Bíblia se revela coerente com 
esse fato. Entre os evangélicos que defendem a tese da terra antiga, essa é uma posição 
comum. Essa tese é às vezes chamada “concordante”, pois busca acordo ou “concor­
dância” entre a Bíblia e as conclusões científicas sobre a datação.
Muitos se viram atraídos a essa tese em virtude das provas científicas a respeito da 
idade da terra. Uma investigação bastante proveitosa das opiniões dos teólogos e cientistas 
a respeito da idade da terra, desde a antiga Grécia até o século XX, se acha no livro de 
um geólogo profissional e também cristão evangélico, Davis A. Young, Christianity and 
the Age o f the Earth.5 9 Young demonstra que, nos séculos XIX e XX, muitos geólogos 
cristãos, diante do peso das provas aparentemente esmagadoras, concluíram que a terra 
tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Embora alguns proponentes da “terra jovem ” (ver 
análise abaixo) tenham alegado que as técnicas de datação radiométrica são imprecisas 
por causa das mudanças que ocorreram na terra na época do dilúvio, Young observa que 
a datação radiométrica das rochas da lua e dos meteoritos recentemente caídos na terra, 
que não poderiam ter sido afetados pelo dilúvio de Noé, coincide com muitas outras 
provas radiométricas de vários materiais da terra, e que os resultados desses testes são 
“notavelmente coerentes ao apontar uma idade de 4,5 a 4,7 bilhões de anos”.60
230
(15) A Criação
Entre os argumentos mais vigorosos de Young a favor da terra antiga, além dos 
advindos da datação radiométrica, estão o tempo exigido para o magma líquido esfriar 
(cerca de um milhão de anos para uma grande formação no sul da Califórnia), o tempo 
e a pressão exigidos para a formação de muitas rochas m etam órficas que contêm 
pequenos fósseis (algumas aparentemente poderiam ter sido formadas pela pressão gerada 
só se fossem enterradas entre dezenove e vinte e nove quilômetros na terra e depois 
trazidas à superfície - mas quando é que isso poderia ter acontecido na tese da terra 
jovem?), o movimento dos continentes (formações rochosas que abrigam fósseis perto das 
costas da África e da América do Sul estavam aparentemente unidas, mas acabaram 
separadas pelo deslocamento dos continentes, algo que não poderia ter acontecido ao 
ritmo atual de dois centímetros por ano),61 e recifes de coral (alguns deles aparentemente 
exigiriam centenas de milhares de anos de deposição gradual para atingir o atual estado).62 
Vários outros argumentos, especialmente da astronomia, foram resumidos por Robert C. 
Newman e Herman J. Eckelmann Jr. em Genesis One and the Origin o f the Earth.63 Esses 
argumentos favorecem a tese da terra antiga, e a teoria do dia-era é portanto uma idéia 
atraente para os defensores dessa tese.
A concepção do dia-era é certamente possível, mas tem diversas dificuldades: (1) a 
seqüência de acontecimentos de Gênesis 1 não corresponde exatamente à explicação 
científica atual do desenvolvimento da vida, que situa os seres marinhos (5o dia) antes das 
árvores (3o dia), e os insetos e outros animais terrestres (6o dia), assim como também os 
peixes (5o dia), antes das aves (5o dia).64 (2) A maior dificuldade dessa idéia é o fato de 
situar o sol, a lua e as estrelas (4o dia) milhões de anos depois da criação das plantas e das 
árvores (3o dia). Isso não faz absolutamente nenhum sentido segundo a opinião científica 
corrente, que afirma que as estrelas foram formadas bem antes da terra ou de qualquer 
ser vivo da terra. Também não faz sentido em face do modo como a terra hoje funciona, 
pois as plantas não crescem sem luz do sol, e muitas delas (3o dia) dependem de aves ou 
insetos voadores (5o dia) para o transporte do pólen; além disso, muitas aves (5o dia) vivem 
de insetos rastejantes (6o dia). Ademais, é de supor que as águas da terra permaneceriam 
congeladas por milhões de anos sem a luz do sol.
Por outro lado, aqueles que sustentam a visão concordante dizem que o sol, a lua e 
as estrelas foram criadas no Io dia (a criação da luz) ou mesmo antes disso, quando “no 
princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1), e que no 4o dia (Gn 1.14-19) Deus 
simplesmente tornou visíveis ou revelou o sol, a lua e as estrelas. Mas esse argumento não 
é muito convincente, pois todos os outros cinco dias da criação envolvem não a revelação 
de algo já criado anteriormente, mas de fato a criação de coisas pela primeira vez. Além 
disso, as declarações criadoras são semelhantes às dos outros dias: “Disse também Deus: 
Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite [...] 
para alumiar a terra. E assim se fez” (Gn 1.14-15). Essa é a forma lingüística usada nos 
versículos 3, 6, 11, 20 e 24 para a criação das coisas e não revelação delas. Além disso, 
fica explícita na frase seguinte a criação (não a revelação) do sol, da lua e das estrelas: “Fez 
Deus os dois grande luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a 
noite; e fez também as estrelas” (Gn 1.16). Aqui a palavra “fez” (heb. ‘ãsãh) é a mesma 
palavra usada para dizer que Deus fez o firmamento, os animais da terra e o homem (Gn 
1.7, 25, 26) - em nenhum desses casos é usada para falar da revelação de algo feito 
anteriormente. O hebraico ‘ãsãh é também a palavra usada no resumo do versículo 31: “Viu
231
(15) A Doutrina de Deus
Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Esse uso freqüente em todo o capítulo
1 de Gênesis reduz muito a probabilidade de que Gênesis 1.16 se refira meramente à 
revelação do sol, da lua e das estrelas.
Mas parece possível uma modificação da tese do dia-era em resposta a essas objeções. 
Os verbos em Gênesis 1.16 podem ser considerados mais-que-perfeitos, sugerindo algo 
que Deus fizera anteriorm ente: “Fizera Deus os dois grandes luzeiros: o maior para 
governar o dia, e o m enor para governar a noite; e f i z e r é 5 tam bém as estrelas”. 
Gramaticalmente isso é possível (é assim que a n iv traduz a mesma forma verbalem 2 .8 
e 2.19, por exemplo). Essa concepção implicaria que Deus havia feito o sol, a luz e as 
estrelas anteriormente (no v. 1, a criação dos céus e da terra, ou no v. 3, a criação da luz), 
mas que só os colocara perto da terra no 4o dia, ou só permitira que fossem vistos da terra 
no 4o dia (v. 14-15, 17-18). Isso possibilita que a p a la v ra ^ (*ãsãh) signifique “criou”, e assim 
evita a dificuldade mencionada acima com a concepção de que significa “revelou” no 
versículo 16. Essa opção é uma possibilidade legítima para a tese do dia-era, e de fato é 
a que parece mais convincente a este autor, caso se adote a teoria da terra antiga. Com 
respeito à luz necessária às plantas e ao calor necessário às águas, já havia luz desde o Io 
dia - ainda que não saibamos ao certo se era a luz do sol e das estrelas ou a luz da glória 
de Deus (que substituirá o sol na Nova Jerusalém, Ap 21.23).66
Outra resposta à tese do dia-era talvez fosse que o quarto dia não está exatamente em 
seqüência, embora se dê um esboço global da obra progressiva de Deus. Porém, uma vez 
que comecemos a mudar a seqüência de acontecimentos tão evidente nessa sucessão dos 
seis dias da criação, passa a ser dispensável que o texto nos diga qualquer outra coisa além 
do simples fato de Deus ter criado tudo - mas, nesse caso, faz-se desnecessária toda a 
investigação a respeito da idade da terra. (Na seção seguinte há nova análise da ruptura 
da seqüência dos dias.)
(2) Tese da estrutura literária
Outra forma de interpretar os dias de Gênesis 1 vem ganhando significativo apoio
entre os evangélicos. Como argumenta que Gênesis não nos dá informações sobre a idade
da terra, seria compatível com a atual concepção científica de que a terra é bastante antiga. 
Essa tese defende que os seis dias de Gênesis 1 não pretendem indicar uma seqüência 
cronológica de acontecimentos, nada mais sendo que uma “estrutura” literária que o autor 
usa para nos relatar a ação criadora de Deus. A estrutura está construída com destreza, 
de modo que os primeiros três dias e os três dias restantes correspondam um ao outro.67
Io dia 
2o dia 
3o dia
Dias de formação
separação de luz e trevas 
separação de firmamento e águas 
separação de terra seca e mares, 
plantas e árvores
Dias de preenchimento
4o dia: sol, lua e estrelas (luzes no céu)
5o dia: 
6o dia:
peixes e aves 
animais e o homem
Dessa forma se percebe uma construção paralela. No Io dia Deus separa a luz das 
trevas, e no 4o dia coloca o sol, a lua e as estrelas na luz e nas trevas. No 2o dia ele separa 
as águas e o firmamento, enquanto no 5o dia coloca os peixes nas águas e as aves no céu.
232
(15) A Criação
No 3o dia ele separa a terra seca dos mares, e faz as plantas crescer, enquanto no 6o dia 
põe os animais e os homens na terra seca e lhes dá frutos vegetais por alimento.
Segundo a tese da “estrutura”, não se deve ler Gênesis 1 como se o autor quisesse nos 
falar da seqüência de dias ou da ordem em que as coisas foram criadas, nem pretendia 
ele falar do tempo que demorou a criação. A disposição dos seis “dias” é um artifício 
literário que o autor utiliza para ensinar que Deus criou tudo. Os seis “dias”, que não são 
nem períodos de vinte e quatro horas nem longos intervalos de tempo, nos dão seis 
diferentes “retratos” da criação, relatando-nos que Deus fez todos os aspectos da criação, 
que o auge da sua obra criadora foi o homem e que acima de toda a criação está o próprio 
Deus, que descansou no sétimo dia e que, portanto, convoca também o homem a adorá- 
lo no dia de sábado.6 8
Nas palavras de um defensor atual dessa posição, “não há espaço aqui para a 
cronologia”.69 Os atrativos que favorecem essa hipótese são: (1) a correspondência exata 
entre os pares de dias, como se demonstra no quadro acima, (2) o fato de evitar qualquer 
conflito com a ciência moderna por conta da idade da terra e da idade dos seres vivos 
(pois não há sugestão nenhuma de cronologia), (3) o modo como contorna o conflito de 
seqüência entre Gênesis 1 e 2, no qual o homem (Gn 2.7) parece ter sido criado antes das 
plantas (Gn 2.8) e dos animais (Gn 2.19), seqüência diferente de Gênesis 1, e (4) o fato de 
Gênesis 2.5 mostrar que os “dias” da criação não eram períodos de vinte e quatro horas, 
pois afirma que não havia plantas na terra porque não havia ainda chovido, algo que não 
faria sentido no sexto dia da criação, pois as plantas certamente sobrevivem três ou quatro 
dias sem chuva.
Vários argumentos podem ser levantados contra a teoria da estrutura.
1. Primeiro, a proposta correspondência entre os dias da criação não é nem de longe 
tão exata quanto os seus defensores supõem. O sol, a lua e as estrelas criados no quarto 
dia como “luzeiros no firmamento dos céus” (Gn 1.14) não são colocados em nenhum 
espaço criado no Io dia, mas no “firmamento” (heb. raqia ‘), criado no 2o dia. De fato, a 
correspondência na linguagem é bem explícita: esse “firmamento” não é mencionado no 
Io dia, mas o é cinco vezes no 2o dia (Gn 1.6-8) e três vezes no 4o dia (Gn 1.14-19). E claro 
que o 4o dia também tem correspondências com o Io dia (em termos de dia e noite, luz 
e trevas), mas se afirmamos que os últimos três dias mostram a criação de coisas que 
preenchem as formas ou espaços criados nos primeiros três dias, então o 4o dia tem com 
o 2o dia uma correspondência pelo menos igual à que tem com o Io dia.
Além disso, a analogia entre os 2o e 5o dias não é exata, pois em certos aspectos a 
preparação de um espaço para os peixes e as aves do 5o dia não vem no 2o dia, mas no 
3o dia. Só no 3o dia é que Deus reúne as águas e as denomina “Mares” (Gn 1.10), e no 5o 
dia os peixes recebem ordem de encher “as águas dos mares” (Gn 1.22). Novamente nos 
versículos 26 e 28 os peixes são chamados “peixes do mar” dando repetida ênfase ao fato 
de que o hábitat dos peixes foi formado especificamente no 3o dia. Assim, os peixes 
criados no 5o dia parecem pertencer muito mais ao local preparado para eles no 3o dia 
do que às águas vastamente dispersas sob o firmamento no 2o dia. O paralelo entre os 
2o e 5o dias enfrenta outras dificuldades, pois nada se cria no 5o dia para habitar as “águas 
sobre o firmamento”, e os seres voadores criados nesse dia (a palavra hebraica inclui 
insetos voadores além de aves) não só voam no céu criado no 2o dia, mas também vivem 
e se multiplicam na “terra”, ou “porção seca”, criada no 3o dia. (Repare a ordem divina
233
(15) A Doutrina de Deus
no 5 o dia: “Na terra, se multipliquem as aves” [Gn 1.22].) Por fim, o paralelo entre os 3o 
e 6o dias não é preciso pois nada se cria no 6o dia para preencher os mares reunidos no 
3o dia. Com todos esses pontos de correspondência imprecisa e sobreposição entre lugares 
e coisas criadas para preenchê-los, a suposta “estrutura” literária, em bora tenha uma 
superficial aparência de precisão, revela-se cada vez menos convincente diante de uma 
leitura mais detida do texto.
2. Como todas as propostas para a compreensão de Gênesis 1 tentam dar explicações 
para os dados científicos da idade da terra, esse não é um argumento exclusivo da teoria 
da estrutura. Porém é preciso reconhecer que um dos aspectos que tornam essa teoria 
atraente é o fato de tirar dos ombros dos evangélicos o peso de nem sequer tentar conciliar 
descobertas científicas com Gênesis 1. Todavia, nas palavras de um defensor dessa teoria, 
“tão grande é a vantagem, e para alguns o alívio, que poderia constituir tentação”. 
Acrescenta ele sabiamente: “Não devemos esposar a teoria embasados na sua con­
veniência, mas só caso os textos realmente nos levem nessa direção”.70
3. Aqueles que não adotaram a teoria da estrutura não vêem conflito na seqüência de 
Gênesis 1 e Gênesis 2, pois é praticamente consenso que Gênesis 2 não implica descrição 
de seqüência na criação original dos animais e plantas, mas simplesmente recapitula 
alguns dos detalhes de Gênesis 1, importantes que são para o relato específico da criação 
de Adão e Eva em Gênesis 2. A N iv evita o surgimento doconflito dando a seguinte 
tradução: “Ora, o S e n h o r Deus havia plantado um jardim no Oriente, no Éden” (Gn 2.8) 
e “Ora, o S e n h o r Deus havia formado da terra todos os animais do campo e todas as aves 
do ar” (Gn 2.19).
4. Gênesis 2.5 na verdade não diz que as plantas não estavam na terra porque ela era 
seca demais para sustentá-las. Adotando esse raciocínio, ficaríamos obrigados a dizer que 
não havia plantas porque “não havia homem para lavrar o solo” (Gn 2.5), pois essa é a 
segunda metade do comentário sobre o fato de não cair chuva sobre a terra. Além disso, 
a frase seguinte diz que a terra não estava de modo nenhum seca demais para sustentar 
os vegetais: “Mas da terra saía uma corrente de água que regava o chão” (Gn 2.6 blh). A 
declaração de Gênesis 2.5 deve ser simplesmente compreendida como explicação da 
época genérica em que Deus criou o homem. Gênesis 2.4-6 dá o cenário, dizendo-nos que 
“Não havia ainda nenhum a planta do campo na terra, pois ainda nenhum a erva do 
campo havia brotado; porque o S e n h o r Deus não fizera chover sobre a terra, e também 
não havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina subia da terra e regava toda a 
superfície do solo”. As declarações sobre a falta de chuva e sobre o fato de nenhum 
homem ainda lavrar o solo não nos fornecem a razão física do porquê de não haver 
plantas, mas explicam apenas que a criação de Deus ainda não estava consumada. Essa 
introdução nos leva de volta à cena dos primeiros seis dias da criação, ao tempo “quando 
o S e n h o r Deus os criou [os céus e a terra]” (Gn 2.4). Então, nessa cena, introduz-se 
abruptamente o principal ponto do capítulo 2, a criação do homem. O texto hebraico não 
inclui a palavra “então” no início do versículo 7, mas traz simplesmente: “E formou o 
Senhor Deus o homem” (Gn 2.7 ibb ).71
5. Finalmente, o argumento mais substancial contra a tese da estrutura, e a razão pela 
qual relativamente poucos evangélicos a adotam, é que o conjunto de Gênesis 1 sugere 
fortemente não só uma estrutura literária, mas um a seqüência cronológica de acon­
tecimentos. Quando a narrativa passa dos aspectos menos complexos da criação (luz e
234
(15) A Criação
trevas, águas, firmamento e porção seca) aos mais complexos (peixes e aves, animais e o 
homem) vemos um desenvolvimento progressivo e uma seqüência ordenada de eventos 
totalm ente com preensíveis cronologicam ente. Q uando se atribui um a seqüência 
numérica (1-2-3-4-5-6) a uma série de dias que correspondem exatamente à semana 
comum da experiência humana (Io dia, 2o dia, 3o dia, 4o dia, 5o dia, 6o dia, 7o dia, com 
descanso no 7o dia), a im plicação de seqüência cronológica na narrativa é quase 
inevitável. A seqüência de dias parece mais nitidamente deliberada do que uma estrutura 
literária que o texto em m om ento nenhum explicita, e na qual m uitos detalhes 
simplesmente não se encaixam. Como observa Derek Kidner:
... a marcha dos dias é um avanço progressivo majestoso demais para não incluir 
nenhuma idéia de seqüência ordenada. Além disso, parece muita sutileza adotar 
uma conceituação da passagem que elimine uma das impressões primordiais que 
ela causa no leitor comum. E uma história, e não apenas uma declaração.72
6. Também se sugere uma seqüência de dias quando Deus ordena ao homem que 
imite esse modelo de trabalho e descanso: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. 
Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do S e n h o r , teu 
Deus [...] porque, em seis dias, fez o S e n h o r os céus e a terra, o mar e tudo o que neles 
há e, ao sétimo dia, descansou” (Êx 20.8-11). Mas se Deus não criou a terra trabalhando 
seis dias e descansando no sétimo, então a ordem de imitá-lo seria enganosa, ou não faria 
sentido.
Concluindo, embora a tese da “estrutura” não negue a confiabilidade das Escrituras, 
adota uma interpretação bíblica que, m ediante inspeção mais detida, parece bem 
improvável.
b. As teorias criacionistas da “terra jovem ”. O utro grupo de intérpretes 
evangélicos rejeita os sistemas de datação que atualmente atribuem uma idade de milhões 
de anos à terra, sustentando, em vez disso, que a terra é bem jovem, tendo talvez 10.000 
ou 20.000 anos. Os defensores da terra jovem formularam vários argumentos científicos 
em favor da criação recente da terra.73 Aqueles que defendem a tese da terra jovem 
geralmente advogam uma das seguintes concepções, ou ambas:
(1) Criação com aparência de antigüidade (criacionismo maduro)
Muitos que defendem a tese da terra jovem salientam que a criação original deve ter 
tido uma “aparência de antigüidade” já desde o primeiro dia. (Outro nome que define 
essa concepção é “criacionismo maduro”, pois afirma que Deus fez uma criação madura.) 
O surgimento de Adão e Eva como adultos maduros é um exemplo óbvio. Eles parecem 
já ter vivido talvez vinte ou vinte e cinco anos, tendo-se desenvolvido desde a infância 
como os seres humanos comuns, mas na verdade tinham menos de um dia de vida. Do 
mesmo modo, provavelmente já viram as estrelas na primeira noite de vida, mas a luz da 
maior parte das estrelas levaria milhares ou mesmo milhões de anos para alcançar a terra. 
Isso indica que Deus criou as estrelas com raios de luz já no lugar. E as árvores 
provavelmente já eram adultas (Adão e Eva não tiveram de aguardar anos até que Deus
235
(15) A Doutrina de Deus
lhes dissesse de que árvores do jardim eles poderiam se alimentar, e quais delas lhes eram 
proibidas, nem tiveram de esperar semanas ou meses até que as plantas comestíveis 
alcançassem o tam anho certo para lhes fornecer alimento). Seguindo essa linha de 
raciocínio, será que não poderíamos avançar ainda mais e supor que muitas formações 
geológicas, quando originalmente criadas, já tinham aparência similar à de formações que 
no presente precisariam de milhares ou mesmo milhões de anos para se desenvolver pelos 
processos “lentos” de hoje?
Essa idéia tem hoje muitos defensores, e, inicialmente ao menos, parece uma proposta 
interessante. Quem defende essa concepção muitas vezes a combina com certas objeções 
aos atuais processos de datação científica. Eles questionam que não podemos ter certeza 
da confiabilidade da datação radiométrica além de um intervalo de alguns milhares de 
anos, por exemplo, e que os cientistas não têm como saber se os ritmos de decaimento 
de determinados elementos permaneceram constantes desde a criação. Também sugerem 
que acontecimentos como a queda e a conseqüente maldição da natureza (que alterou a 
produtividade e o equilíbrio ecológico da terra, e fez o homem passar a envelhecer e 
declinar, Gn 3.17-19), ou o dilúvio do tempo de Noé (Gn 6-9), podem ter gerado diferenças 
significativas na quantidade de material radioativo nas coisas vivas. Isso significaria que 
os cálculos da idade da terra pelo uso dos atuais métodos de medição não seriam precisos.
Uma objeção comum a essa tese da “aparência de antigüidade” é que ela “faz de Deus 
aparentemente um enganador”,74 algo que contraria a natureza divina. Mas seria Deus 
“enganador” se criasse um homem maduro e uma mulher madura num dia, e depois nos 
dissesse explicitamente que o fez? Ou se criasse árvores, peixes e animais já maduros e 
nos dissesse que o fez? Ou se possibilitasse, já na primeira noite, que Adão e Eva vissem 
as estrelas, estrelas essas que ele criou afinal para que as pessoas pudessem vê-las e, diante 
disso, glorificá-lo? Em vez de implicar fraude, parece que esses atos indicam a sabedoria 
e o poder infinitos de Deus, especialmente se Deus nos diz explicitamente que criou tudo 
em “seis dias”. Segundo essa perspectiva, os enganados são aqueles que se recusam a ouvir 
a própria explicação divina de como a criação veio a existir.
O verdadeiro problema da aparência de antigüidade é não poder explicar facilmente 
algumas coisas do universo. Todos concordarão que Adão e Eva foram criados já adultos, 
não crianças recém-nascidas, e portanto já tinham uma aparência madura. A maioriados 
que defendem dias de vinte e quatro horas em Gênesis 1 diria também que as plantas e 
as árvores já tinham uma aparência madura quando foram criadas, assim como todos os 
animais (as galinhas vieram antes dos ovos!), e provavelmente que também a luz das 
estrelas já foi criada com essa “aparência de antigüidade”. Mas a criação de fósseis 
apresenta um problema real, pois cristãos responsáveis não iriam querer dizer que Deus 
espalhou fósseis por toda a terra só para criar uma aparência de antigüidade! Isso não seria 
criar algo “no tempo devido” ou num estado de maturidade; seria criar os restos de um 
animal morto, não para que esse animal servisse a Adão e Eva, mas simplesmente para 
fazer as pessoas pensar que a terra era mais antiga do que realmente é. Além disso, seria 
preciso dizer que Deus criou todos esses animais mortos e os considerou “muito bons”.75
Embora a criação das estrelas com raios de luz já no lugar, ou de árvores já maduras, 
pudesse ter o propósito de possibilitar que os seres humanos glorificassem a Deus pela 
excelência da sua criação, a deposição de fósseis na terra só poderia ter por propósito 
iludir ou enganar os homens acerca da história pregressa do mundo. Mais problemático
236
(15) A Criação
é que Adão, as plantas, os animais e as estrelas pareceriam ter idades diferentes (pois foram 
criados com funções já maduras), enquanto a m oderna pesquisa geológica deduz 
aproximadamente as mesmas estimativas de idade da datação radiométrica, dos cálculos 
astronômicos, das formações rochosas, de amostras de rochas da lua e de meteoritos, etc. 
Por que Deus criaria tantas indicações diferentes de que a terra tem 4,5 bilhões de anos, 
se isso não é verdade? Não seria melhor concluir que a terra tem mesmo 4,5 bilhões de 
anos e que Deus deixou muitas indicações disso para nos demonstrar esse fato em vez de 
deduzir que ele nos enganou? Assim, para os cristãos, parece que as únicas explicações 
plausíveis dos fósseis são: (a) os atuais métodos de datação estão incorretos em proporções 
colossais, em virtude de pressupostos equivocados ou de modificações introduzidas pela 
queda ou pelo dilúvio; ou (b) os atuais métodos de datação estão aproxim adamente 
corretos e a terra tem muitos milhões ou mesmo bilhões de anos.
(2) A geologia do dilúvio
Outra tese comum entre os evangélicos é aquilo que podemos chamar de “geologia 
diluviana”. Propõe que as tremendas forças naturais desencadeadas pelo dilúvio no tempo 
de Noé (Gn 6-9) alteraram significativamente a face da terra, provocando a produção de 
carvão e diamantes, por exemplo, num intervalo de um ano somente, e não de centenas 
de milhões de anos, em função da pressão extremamente alta que a água exerceu sobre 
a terra. Essa concepção afirma também que o dilúvio depositou fósseis em camadas 
incrivelmente espessas de sedimentos por toda a terra.76 A geologia do dilúvio é também 
chamada “neocatastrofismo”, pois seus defensores atribuem a maior parte da condição 
geológica atual da terra à monstruosa catástrofe do dilúvio.
Os argumentos geológicos apresentados pelos defensores dessa teoria são técnicos e 
de difícil avaliação para o leigo. Pessoalmente, embora eu creia que o dilúvio de Gênesis 
6-9 foi mundial, que exerceu um impacto significativo sobre a face da terra e que todos 
os hom ens e anim ais que não estavam na arca acabaram perecendo , não estou 
convencido de que todas as formações geológicas da terra foram causadas pelo dilúvio 
de Noé, e não por milhões de anos de sedimentação, erupções vulcânicas, movimentos 
de geleiras, deslocamentos continentais e por aí afora. A controvérsia acerca da geologia 
diluviana é notavelmente diferente da de outros campos de debate sobre a criação, pois 
seus defensores não conseguiram convencer quase nenhum geólogo profissional, nem 
mesmo os cristãos evangélicos que crêem na Bíblia. Por outro lado, os livros mencionados 
acima que contestam a evolução registram 130 anos de objeções irrefutáveis à evolução 
darw iniana, objeções essas levantadas por um núm ero considerável de biólogos, 
bioquímicos, zoólogos, antropólogos e paleontólogos, tanto cristãos como não cristãos, 
pois a evolução tem extrema dificuldade em explicar os fatos revelados pela observação 
do mundo criado. Se as atuais formações geológicas só pudessem ser explicadas como 
conseqüência de um dilúvio universal, então será que isso não ficaria evidente mesmo 
para não cristãos que analisassem as provas? Será que as centenas de geólogos 
profissionais cristãos deixariam de reconhecer as evidências, se houvesse? Pode ser que 
os geólogos do dilúvio estejam certos, mas se estiverem, é de esperar que testemunhemos 
o convencimento de alguns geólogos profissionais de que sua tese é plausível.77
237
(15) A Doutrina de Deus
5. Conclusões sobre a idade da terra. Qual é então a idade da terra? Aonde nos 
leva essa discussão? Os argumentos de Young a favor da tese da terra antiga, baseados 
em muitos tipos de dados científicos de diferentes disciplinas, parecem (pelo menos para 
este autor) muito substanciais. Isso vale especialmente para os argumentos baseados em 
rochas que abrigam fósseis, em recifes de coral, nos movimentos continentais e na 
semelhança dos resultados de diferentes tipos de datação radiométrica. Os argumentos 
astronômicos de Newman e Eckelmann, que indicam um universo bastante antigo, dão 
peso ainda maior. E compreensível, por um lado, que Deus tenha criado um universo em 
que as estrelas já estavam aparentemente brilhando havia 15 bilhões de anos, em que 
Adão já parecia ter 25 anos de idade, em que algumas árvores aparentemente já estavam 
ali havia 50 anos e em que alguns animais pareciam já ter entre 1 e 10 anos. Mas, por outro 
lado, é difícil com preender por que Deus teria criado dezenas, talvez centenas, de 
diferentes tipos de rochas e minerais na terra, todos eles com apenas um dia de idade, mas 
ao mesmo tempo todos eles com uma aparência de exatamente 4,5 bilhões de anos, 
exatamente a idade aparente que ele também deu à lua e aos meteoritos, quando na 
verdade esses também só tinham um dia de vida. E, se afinal isso não é verdade, é difícil 
entender por que as evidências dos ciclos de vida estelar e da expansão do universo fariam 
o universo ter aparentemente 15 bilhões de anos. E possível, mas parece improvável, 
quase como se o único objetivo de Deus ao dar essas idades aparentes uniformes fosse 
nos iludir e não simplesmente criar um universo já maduro e operante. Portanto, os 
defensores da terra antiga me parecem ter ao seu lado um peso m aior de provas 
científicas, e parece também que o peso dessas provas aumenta a cada ano.
Por outro lado, as interpretações de Gênesis 1 apresentadas pelos defensores da terra 
antiga, em bora possíveis, não parecem muito naturais diante do sentido do texto. A 
p rópria solução de Davis Young, de “sete dias figurados sucessivos, de duração 
indeterminada”,78 não resolve na verdade o problema, pois ele espalha a seu bel-prazer 
as ações criadoras de Deus pelos vários dias a fim de tornar cientificamente viável a 
seqüência. Por exemplo, ele acha que algumas aves foram criadas antes do 5o dia:
Podemos também sugerir que, embora as aves tenham sido criadas no quinto dia, 
as aves mais primitivas ou os primeiros ancestrais das aves foram formados 
miraculosamente num dia anterior ao quinto. Por isso os dados de Gênesis 1 
realmente permitem alguma sobreposição dos acontecimentos de cada dia. Se 
existe de fato essa sobreposição, então todas as aparentes discrepâncias entre 
Gênesis 1 e a ciência desapareceriam (p. 131).
Mas esse' procedimento nos permite dizer, praticamente, que os acontecimentos da 
criação ocorreram em qualquer tempo, independentemente de a Bíblia afirmar ou não 
que eles aconteceram nesse tempo. Um a vez adotado esse procedim ento, resta-nos 
admitir que pouco ou nada podemos saber sobre a seqüência dos eventos da criação com 
base em Gênesis 1, pois qualquer dos eventos narrados ali talvez tenha tidoprecursores 
em períodos pregressos. Essa dificilmente seria a impressão a esperar dos primeiros 
leitores do texto. (Muito mais provável, porém, é a tese modificada do dia-era apresentada 
acima.)
238
(15) A Criação
6. A necessidade de uma melhor compreensão. Embora nossas conclusões sejam 
conjecturais, diante da nossa compreensão atual parece ser mais fácil interpretar que as 
Escrituras dão a entender (mas não exigem) uma terra jovem, apesar de os fatos observáveis 
da criação parecerem cada vez mais favoráveis à tese da terra antiga. Ambas as idéias são 
possíveis, mas nenhuma delas é segura. Devemos por isso afirmar bem claramente que 
a idade da terra é uma questão que a Bíblia não aborda diretamente, mas algo sobre que 
podemos especular deduzindo conceitos mais ou menos prováveis das Escrituras. Em 
vista disso, parece melhor: (1) admitir que Deus pode não nos permitir encontrar uma 
solução inequívoca para essa questão antes da volta de Cristo e (2) incentivar os cientistas 
e teólogos evangélicos que se acham entrincheirados nas fortalezas da terra jovem ou da 
terra antiga a começar a trabalhar em conjunto, com muito menos arrogância, muito mais 
humildade e um senso muito maior de cooperação com vistas a um propósito comum.
Os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que 
os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar 
na posição em que estão. Certam ente haverá avanços se os cientistas cristãos que 
defendem tanto a tese da terra jovem como a da terra antiga se mostrarem mais dispostos 
a conversar uns com os outros sem hostilidade, sem ataques ad hominem e sem acusações 
altamente emocionais, de um lado, e sem espírito de superioridade ou orgulho acadêmico, 
de outro, pois essas atitudes não são apropriadas ao corpo de Cristo nem peculiares do 
caminho da sabedoria, que é “primeiramente, pura; depois pacífica, indulgente, tratável, 
plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” e absolutamente 
consciente de que “é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a 
paz” (Tg 3.17-18).
Quanto aos textos evangelísticos e apologéticos que aparecem em publicações 
voltadas para o mundo não evangélico, os defensores das teses da terra jovem e da terra 
antiga poderiam cooperar muito mais para a reunião dos argumentos extremamente 
sólidos a favor da criação pelo desígnio inteligente e para o abandono das diferenças 
acerca da idade da terra. Excessivas vezes os proponentes da tese da terra jovem não 
conseguem diferenciar os argumentos científicos a favor da criação por desígnio dos 
argumentos científicos a favor da terra jovem, impedindo assim que os defensores da tese 
da terra antiga se unam a eles na batalha pelos intelectos de uma comunidade científica 
descrente. Além disso, os defensores da tese da terra jovem às vezes deixam de admitir 
que os argumentos científicos a favor da sua teoria (que lhes parecem bastante con­
vincentes) não chegam nem de longe a ser tão sólidos quanto as esmagadoras evidências 
científicas a favor da criação por desígnio inteligente. Como conseqüência, esses pro­
ponentes da tese da terra jovem muitas e muitas vezes dão a impressão de que os únicos 
“criacionistas” de fato são os que acreditam não apenas na criação divina, mas também 
na terra jovem. O resultado tem sido o acirramento de desastrosas divisões e a ausência 
de solidariedade entre os cientistas cristãos — para deleite de Satanás e pesar do Espírito 
Santo de Deus.
Finalmente, podemos encarar essa controvérsia com alguma esperança de que haverá 
mais avanços no conhecimento científico da idade da terra. É provável que a pesquisa 
científica nos próxim os dez ou vinte anos desequilibre decisivam ente o peso das 
evidências a favor ou da tese da terra jovem ou da teoria da terra antiga, e então o peso 
da opinião cristã acadêmica (tanto de estudiosos da Bíblia quanto de cientistas) começará
239
(15) A Doutrina de Deus
a pender decisivamente numa ou noutra direção. Isso não deve alarmar os defensores de 
nenhum a das teses, pois a confiabilidade das Escrituras não está am eaçada (nossas 
interpretações de Gênesis 1, pela incerteza, possibilitam tanto uma quanto outra opinião). 
Os dois lados precisam crescer no conhecimento da verdade, ainda que isso signifique 
abandonar uma opinião há muito acalentada.
F . A p l ic a ç ã o
A doutrina da criação tem muitas aplicações para os cristãos de hoje. Faz-nos perceber 
que o universo material é bom em si mesmo, pois Deus o criou bom e quer que o 
utilizemos de modos que lhe sejam agradáveis. Portanto devemos procurar ser como os 
primeiros cristãos, que “partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com 
alegria e singeleza de coração” (At 2.46), sempre dando graças a Deus e confiando nas 
suas provisões. Uma apreciação saudável da criação nos afastará do falso ascetismo que 
nega a bondade da criação e as bênçãos que nos vêm por meio dela. Também irá 
encorajar alguns cristãos a fazer pesquisas científicas e tecnológicas sobre a bondade da 
abundante criação divina, ou a apoiar essas pesquisas.79 A doutrina da criação também 
nos permitirá reconhecer mais claramente que, em si, o estudo científico e tecnológico 
glorifica a Deus, pois nos possibilita descobrir quão sábio, potente e engenhoso foi Deus 
na sua obra criadora. “Grandes são as obras do S e n h o r , consideradas por todos os que 
nelas se comprazem” (SI 111.2).
A doutrina da criação também nos faz lembrar de que Deus é o soberano do universo 
que ele mesmo criou. Ele tudo fez, e é o Senhor de tudo. A ele devemos tudo o que somos 
e temos, e podemos ter absoluta confiança em que ele acabará derrotando todos os seus 
inimigos, manifestando-se como Rei Soberano a ser adorado eternamente. Além disso, 
as incríveis dimensões do universo e a desconcertante complexidade de cada coisa criada 
nos farão, desde que retos nossos corações, continuamente adorá-lo e louvá-lo pela sua 
grandeza.
Por fim, como sugerimos acima, podemos sinceramente desfrutar das atividades 
criativas (artísticas, musicais, esportivas, domésticas, literárias, etc.) com uma atitude de 
gratidão pelo fato de nosso Deus e Criador nos permitir imitá-lo com a nossa criatividade.
N o t a s
1. Sou grato pelos muitos comentários úteis sobre esse capítulo feitos por amigos com 
conhecimento especializado acerca de alguns aspectos dele, especialmente Steve Figard, Doug 
Brandt e Terry Mortenson.
2. Quando dizemos que o universo foi criado “do nada”, é importante erguer salvaguardas 
contra um possível mal-entendido. A palavra nada não implica algum tipo de existência, como 
alguns filósofos sugeriram. O que queremos dizer é que Deus não usou nenhum material 
previamente existente para criar o universo.
3. A tradução da a r a (“de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”) 
afirma aparentemente que Deus fez o universo a partir de algum tipo de matéria invisível, mas 
a ordem vocabular do texto grego (mê ek phainomenõn) mostra que o advérbio “não” nega a
240
(15) A Criação
expressão “das coisas que aparecem”. A a r a traduz como se o advérbio “não” negasse “que 
aparecem”, mas para isso ele precisaria vir imediatamente antes desse termo na ordem vocabular. 
Ver discussão em Philip Hughes, A Commentary on the Epistle to the Hebrews (Grand Rapids: 
Eerdmans, 1977), p. 443-52.
4. Ver em C. E. B. Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans, 
ICC, v. 1 (Edimburgo: T. & T. Clark, 1975), p. 144, o grego hos exprimindo conseqüência.
5. Ver seção C sobre o propósito de Deus para a criação.
6. A palavra que se traduz por “exército” (heb. tsãbã ’) é às vezes usada para mencionar os 
planetas e as estrelas (Dt 4.19; Is 34.4; 40.26), mas nenhum dos exemplos citados em BDB, p. 839 
(l.c), fala de estrelas que adoram a Deus, e a maioria fala dos corpos celestes como o “exército dos 
céus” que é equivocadamente adorado pelos pagãos (Dt 17.3;2Rs 17.16; 21.3; Jr 8.2; et al.).
7. Não obstante essa declaração explícita em Gn 2.7, Derek Kidner (que sustenta uma posição 
de fidelidade às Escrituras compatível com a defendida neste livro) mesmo assim defende a 
possibilidade de um longo processo evolutivo que, partindo de criaturas pré-adamitas, chegou 
naquele em que Deus finalmente “soprou a vida humana” (Gênesis, Introdução e Comentário [São 
Paulo: Edições Vida Nova, 1979], p. 27). Mas ele depois defende a criação especial de Eva (p. 28).
8. Kidner, Genesis, p. 54.
9. Ver divisão B3a.
10. Ver capítulo 30, sobre a obra do Espírito Santo.
11. Ver no capítulo 7, divisões C, D, e E, análise da necessidade das Escrituras para que 
interpretemos corretamente a criação.
12. Ver a discussão sobre a independência de Deus no capítulo 11, divisão Bl.
13. Ver discussão no capítulo 11, p. 107-109, das maneiras como toda a criação revela os 
vários aspectos do caráter divino.
14. Ver em August J. Kling, “Men of Science / Men of Faith”, HIS, maio de 1976, p. 26-31, 
uma sucinta pesquisa da vida e da obra de vários desses cientistas.
15. Encontra-se uma análise do conjunto cada vez mais amplo de evidências científicas 
contrárias à evolução especialmente nos livros de Michael Denton e Philip E. Johnson, discutidos 
abaixo, na divisão E2c(l).
16. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1975.
17. Ibid., p. 25-33.
18. Ver discussão no capítulo 4, divisão C.4, sobre a relação entre as Escrituras e a revelação 
natural.
19. Ver na divisão E.2.a.c. uma análise da evolução darwiniana.
20. Não precisamos insistir em que a palavra hebraica min (“espécie”) corresponda 
exatamente à categoria biológica “espécie”, pois esse é simplesmente um meio moderno de 
classificar os diferentes seres vivos. Mas a palavra hebraica de fato parece indicar uma estreita 
especificação de vários tipos de seres vivos. É usada, por exemplo, para falar de diversos tipos 
bem específicos de animais que dão filhotes e se distinguem segundo a sua “espécie”. As 
Escrituras falam de “o falcão, segundo a sua espécie”, “todo corvo, segundo a sua espécie”, “o 
gavião, segundo a sua espécie”, “a garça, segundo a sua espécie”, “a locusta, segundo a sua 
espécie” (Lv 11.14, 15, 16, 19, 22). Outros animais que existem segundo uma “espécie” individual 
são o grilo, o gafanhoto, o lagarto, o açor, o milhano, a gaivota e a cegonha (Lv 11.22, 29; Dt 
14.13, 14, 15, 18). São tipos bem específicos de animais, e Deus os criou para que se reproduzissem 
segundo a sua “espécie”. Aparentemente isso permitiria a diversificação só dentro de cada uma 
dessas espécies animais (falcões maiores ou menores, falcões de cores diferentes e formatos distintos 
de bico, etc.), mas certamente não uma mudança “macroevolutiva” que gerasse espécies totalmente 
diferentes de aves. (Frair e Davis, A Case for Creation, p. 129, acham que “espécie” pode 
corresponder hoje à família ou à ordem, ou quem sabe a nenhum equivalente exato do século XX.)
241
(15) A Doutrina de Deus
21. Repare a frase “São estas as gerações de” que introduz seções sucessivas da narrativa de 
Gênesis Gn 2.4 (os céus e a terra); 5.1 (Adão); 6.9 (Noé); 10.1 (os filhos de Noé); 11.10 (Sem); 11.27 
(Tera, pai de Abraão); 25.12 (Ismael); 25.19 (Isaque); 36.1 (Esaú); e 37.2 (Jacó). A tradução da frase 
pode diferir nas várias versões, mas a expressão hebraica é a mesma e diz literalmente: “São estas 
as gerações de...” Por meio desse artifício literário o autor introduziu várias seções da sua narrativa 
histórica, amarrando todas elas num conjunto unificado e deixando subentendido que esse 
conjunto deve ser entendido como de narrativas históricas do mesmo gênero. Se o autor pretende 
que vejamos em Abraão, Isaque ejacó personagens históricos, então ele também quer que vejamos 
Adão e Eva como personagens históricos.
22. Davis A. Young, Creation and the Flood: An Alternative to Flood Geology and Theistic Evolution 
(Grand Rapids: Baker, 1977), p. 38. Young inclui uma análise das opiniões de Richard H. Bube, 
um dos principais expositores da evolução teísta atualmente (p. 33-35).
23. Berkhof, Systematic Theology, p. 139-40 (publicado no Brasil por Luz para o Caminho, sob 
o título Teologia Sistemática).
24. Philip E. Johnson, Darwin on Trial (Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1991), salienta 
que alguns estudos freqüentemente apresentados como prova da evolução são na verdade 
diferenças populacionais temporárias sem nenhuma mudança genética. Por exemplo, ele menciona 
a observação de Kettlewell do “melanismo industrial” da mariposa Biston betularia, por meio do 
qual a cor predominante das mariposas mudava do branco para o preto e de volta para o branco, 
acompanhando a mudança da coloração das folhas das árvores, que, de coloração clara, ficavam 
cobertas de fuligem de poluição e depois retomavam a coloração clara quando acabava a poluição. 
Mas em cada fase observava-se que mariposas brancas e pretas se achavam presentes, ainda que em 
proporções diferentes (as mariposas que não se adaptavam à coloração da folha eram mais facilmente 
vistas e devoradas pelos predadores). Não ocorria na verdade nenhuma mudança evolutiva, pois as 
mariposas pretas e brancas continuavam sendo da mesma espécie, assim como cavalos pretos e 
brancos continuam sendo cavalos. Na verdade, a mariposa buscava preservar a sua identidade 
genética em circunstâncias diferentes, e não evoluir nem extinguir-se (ver p. 26-28, 160-61).
25. Wayne Frair e Percival Davis, A Case for Creation (Norcross, Ga.: CRS Books, 1983), p. 25.
26. Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1991.
27. Johnson, p. 15-20 (citação da p. 18). Johnson observa que em alguns casos produziram-se 
novas “espécies”, no sentido de que uma parcela da população passa a não mais poder cruzar-se 
com outra parcela: isso aconteceu com moscas-das-frutas e com algumas plantas híbridas (p. 19). 
Mas mesmo incapazes de cruzar-se com outras moscas-das-frutas, as novas moscas-das-frutas 
continuam sendo moscas-das-frutas, e não outro tipo qualquer de ser vivo: a quantidade de variação 
de que é capaz a mosca-das-frutas é inerentemente limitada pela faixa de variabilidade da sua carga 
genética.
28. Johnson observa (p. 29-30) que os darwinistas chegaram até a justificar características 
obviamente desvantajosas invocando a pleiotropia, idéia de que várias mudanças genéticas podem 
ocorrer simultaneamente, de modo que as negativas vêm acompanhadas das positivas. Segundo 
essa hipótese, não se poderia citar nenhuma característica existente de animal algum para refutar 
a suposição de que os mais aptos sobrevivem, pois na verdade vemo-nos diante da alegação de 
que os que sobreviveram, sobreviveram. Mas então como saber realmente se a sobrevivência dos 
mais aptos foi o mecanismo que levou à atual diversidade das formas de vida?
29. Johnson não afirma que todos os evolucionistas argumentam assim, mas cita vários que 
o fazem (p. 20-23).
30. Johnson, p. 32-34.
31. Robert E. Kofahl e Kelly L. Segraves, The Creation Explanation: A Scientific Alternative do 
Evolution (Wheaton, 111.: Harold Shaw, 1975). Esse livro é uma fascinante coleção de provas 
científicas a favor da criação por desígnio inteligente.
242
(15) A Criação
32. Kofahl e Segraves, The Creation Explanation, p. 2-3. Eles fornecem muitos outros exemplos 
semelhantes.
33. Johnson, p. 73-85, analisa os dois exemplos apresentados de um total de cerca de cem 
milhões de fósseis já descobertos: o arqueópterix (um pássaro com algumas características que 
lembram os répteis) e alguns exemplares simiescos considerados como hominídeos pré- 
humanos. O arqueópterix é porém predominantemente uma ave, e não um quase-réptil, e os 
estudos das características dos fósseis supostamente pré-humanos incluem farta especulação 
subjetiva, resultando em graves diferenças entre os especialistas que os examinaram.
Uma discussão proveitosa das lacunas existentes no acervo de fósseis se encontra em Frair 
e Davis, A Case for Creation, p. 55-65. Eles observame as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, 
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16; cf. SI 148.2-5). Aqui a 
criação dos seres celestes invisíveis é também afirmada explicitamente.
3. A criação direta de Adão e Eva. A Bíblia também ensina que Deus criou Adão 
e Eva de um modo especial e pessoal. “Formou o S e n h o r Deus ao homem do pó da terra
e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7).
Depois disso, Deus criou Eva do corpo de Adão: “Então, o S e n h o r Deus fez cair pesado
sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com 
carne. E a costela que o S e n h o r Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e 
lha trouxe” (Gn 2.21-22). Deus aparentem ente fez que Adão soubesse algo do que 
acontecera, pois disse este:
200
(15) A Criação
“Esta, afinal, é osso dos meus ossos 
e came da minha came; 
chamar-se-á varoa,
porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23).
Como veremos abaixo, os cristãos divergem quanto ã extensão da evolução que pode 
ter ocorrido após a criação, talvez (segundo alguns) levando ao desenvolvimento de 
organismos cada vez mais complexos. Embora entre alguns cristãos haja nesse ponto 
divergências defendidas com ardor a respeito dos reinos vegetal e animal, esses textos são 
tão explícitos que seria muito difícil alguém sustentar, com completa fidelidade às Escrituras, 
que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo. Isso porque quando 
a Bíblia diz que o Senhor “formou [...] ao homem do pó da terra” (Gn 2.7), não parece 
possível entender que ele o tenha feito por um processo que levou milhões de anos numa 
evolução aleatória de milhares de organismos cada vez mais complexos.7 Ainda mais difícil 
de harmonizar com uma visão evolutiva é o fato de essa narrativa claramente afirmar que 
Eva não tem mãe: foi criada diretamente da costela de Adão enquanto este dormia (Gn 
2.21). Mas numa linha de raciocínio puramente evolutiva, isso não seria possível, pois 
mesmo a primeiríssima “mulher” descenderia de alguma outra criatura meramente humana, 
que então não passaria de um animal. O Novo Testamento reafirma a historicidade dessa 
criação especial de Eva a partir de Adão; diz Paulo: “Porque o homem não foi feito da 
mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da 
mulher, e sim a mulher, por causa do homem” (ICo 11.8-9).
A criação especial de Adão e Eva mostra que, embora nos pareçamos com os animais 
em muitos aspectos do nosso corpo físico, somos no entanto muito diferentes deles. Fomos 
criados “à imagem de Deus”, o pináculo da criação divina, mais semelhantes a Deus do que 
qualquer outra criatura, nomeados para reger o resto da criação. Até a brevidade do relato 
da criação em Gênesis enfatiza prodigiosamente a importância do homem como ser distinto 
do restante do universo. Resiste assim às tendências modernas de encarar o homem como 
ser insignificante diante da imensidão do universo. Derek Kidner observa que as Escrituras 
se erguem
contra toda tendência de esvaziar de significado a história humana [...] apresentando 
os impressionantes atos da criação como preliminar do drama que lentamente se 
desenrola ao longo da Bíblia. O prólogo acaba numa página; mil outras vêm a seguir.
Por outro lado, Kidner observa que a moderna explicação científica do universo, por 
verdadeira que seja,
nos sobrecarregam de estatísticas que reduzem nossa aparente importância ao ponto 
da insignificância. Não o prólogo, mas a própria história humana é agora uma única 
página em mil, e todo o volume terrestre se perde em meio a milhões não cata­
logados.8
As Escrituras nos dão a perspectiva da im portância hum ana que Deus quer que 
tenhamos. (Esse fato será discutido com mais detalhes no capítulo 21.)
201
(15) A Doutrina de Deus
4. A criação do tempo. Outro aspecto da criação divina é a criação do tempo (a su­
cessão de momentos consecutivos). Essa idéia já foi discutida juntamente com o atributo 
divino da eternidade no capítulo 11,9 e aqui nos basta resumi-la. Quando falamos da 
existência de Deus “antes” da criação do mundo, não devemos pensar que Deus existisse 
ao longo de uma infindável extensão de tempo. Antes, a eternidade de Deus implica que 
ele vive uma espécie diferente de existência, uma existência sem passagem de tempo, uma 
espécie de existência que para nós é até difícil de imaginar. (Ver Jó 36.26; Sl 90.2, 4; Jo 
8.58; 2Pe 3.8; Ap 1.8). O fato de Deus ter criado o tempo nos lembra sua soberania sobre 
ele e nossa obrigação de usá-lo com vistas à glória divina.
5. O papel do Filho e do Espírito Santo na criação. Deus Pai foi o agente 
primordial, ao iniciar o ato da criação. Mas o Filho e o Espírito Santo também estiveram 
ativos. O Filho é muitas vezes descrito como aquele “por intermédio de” quem se deu a 
criação. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito 
se fez” (Jo 1.3). Paulo diz que há “um só Senhor, Jesus Cristo, pelo quahã.0 todas as coisas, 
e nós também, por ele” (ICo 8.6) e que “tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16). 
Lemos também que o Filho é aquele “pelo qual” Deus “fez o universo” (Hb 1.2). Essas 
passagens dão um retrato coerente do Filho como agente eficaz que executa os planos e 
as ordens do Pai.
O Espírito Santo também agiu na criação. Ele é geralmente retratado como aquele 
que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Em Gênesis 1.2, “o Espírito de Deus 
pairava por sobre as águas”, indicando uma função preservadora, sustentadora e regente. 
D izjó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida” (Jó 33.4). 
Em várias passagens do Antigo Testamento, é importante perceber que a mesma palavra 
hebraica (rüach) pode significar, em contextos diferentes, “espírito”, “sopro” ou “vento”. 
Mas em muitos casos não há muita diferença de significado, pois mesmo que alguém 
resolvesse traduzir algumas expressões como “sopro de Deus” ou mesmo como “vento 
de Deus”, ainda assim seria um modo figurado de referir-se à atividade do Espírito Santo 
na criação. Portanto o salmista, ao falar da grande variedade de seres da terra e do mar, 
diz: “Envias o teu Espírito, eles são criados” (Sl 104.30; ver também, sobre a obra do 
Espírito Santo,Jó 26.13; Is 40.13; ICo 2.10). Porém, é escasso o testemunho das Escrituras 
quanto à atividade específica do Espírito Santo na criação. A obra do Espírito Santo ganha 
muito mais relevo quando se pensa na inspiração dos autores das Escrituras e na aplicação 
da obra redentora de Cristo ao povo de Deus.10
B. A CRIAÇÃO É DISTINTA DE D EU S, PORÉM SEMPRE DELE DEPENDENTE
O ensino bíblico a respeito do relacionamento entre Deus e a criação é único entre 
as religiões do mundo. A Bíblia ensina que Deus é distinto da sua criação. Não faz parte 
dela, pois ele a fez e a governa. O termo muitas vezes usado para dizer que Deus é muito 
maior do que a criação é transcendente. Simplificando bastante, isso significa que Deus está 
bem “acima” da criação, no sentido de que é maior do que a criação e independente dela.
Deus está também sobrem aneira envolvido na criação, pois ela continuam ente 
depende dele para existir e manter-se em atividade. O termo técnico usado para exprimir 
o envolvimento de Deus na criação é imanente, que significa “perm anecer dentro” da
202
(15) A Criação
criação. O Deus da Bíblia não é uma divindade abstrata distante e desinteressada da sua 
criação. A Bíblia é a história do envolvimento de Deus com a sua criação, especialmente 
com as pessoas. Jó afirma que até os animais e as plantas dependem de Deus: “Na sua mão 
está a alma de todo ser vivente e o espírito de todo o gênero humano” (Jó 12.10). No Novo 
Testamento, Paulo afirma que Deus “a todos dá vida, respiração e tudo mais” e que “nele 
vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.25, 28). De fato, em Cristo “tudo subsiste” 
(Cl 1.17) e ele continuamente sustenta “todasque a contínua descoberta e classificação 
de fósseis desde a época de Darwin resultou que “de modo geral, as descontinuidades foram 
enfatizadas com o aumento do acervo. Parece haver poucas dúvidas de que as lacunas são reais, 
e é cada vez menos provável que venham a ser preenchidas” (p. 57).
34. Johnson, p. 50, aparentemente citando um estudo de Gould e Niles Eldredge, 
“Punctuated Equilibria, an Alternative to Phylectic Gradualism”, publicado como apêndice de 
um livro de Eldredge, Time Frames (Johnson, p. 167).
35. Essa concepção é denominada “equilíbrio pontoado”, significando que o equilíbrio 
comum do mundo natural era ocasionalmente interrompido (pontoado) pelo súbito surgimento 
de novas formas de vida.
36. Bethesda, Md.: Adler and Adler, 1986.
37. Denton, p. 345. Uma análise anterior da evolução, feita por um respeitado biólogo 
britânico, ele mesmo evolucionista, é G. A. Kerkut, Implications of Evolution (Nova York: 
Pergamon, 1960). Trata-se de um estudo bastante técnico que salienta numerosas dificuldades 
que persistem na teoria da evolução.
38. Johnson, p. 86-99.
39. Gleason L. Archer, Encyclopedia of Bible Difficulties, p. 57.
40. Johson, p. 104, citando Fred Hoyle. Na verdade, pode-se argumentar que é mais provável 
a montagem acidental de um 747, pois os inteligentes projetistas humanos conseguiram fabricar 
um 747, mas não conseguiram montar uma célula viva.
41. Kofahl e Segraves, The Creation Explanation, p. 99-100.
42. Ibid., p. 101, citando Harold J. Morowitz, Energy Flow in Biology (Nova York: Academic 
Press, 1968), p. 99. O estudo clássico da improbabilidade matemática da evolução é P. S. 
Moorehead e M. M. Kaplan, eds., Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of 
Evolution (Filadélfia: The Wistar Institute Symposium Monograph, n.o 5, 1967). Ver também o 
artigo “Heresy in the Halls of Biology: Mathematicians Question Darwinism”, Scientific Research 
(novembro de 1987), p. 59-66, e I. L. Cohen, Darwin Was Wrong - A Study in Probabilities 
(Greenvale, N. Y.: New Research Publications, 1984).
43. Time, 10 de setembro de 1973, p. 53, resumindo o artigo “Directed Panspermia”, de F.
H. C. Crick e L. E. Orgel, em Icarus 19 (1973): 341-46.
44. Ver NIDCC, p. 283.
45. Essa “teoria do intervalo” é apresentada como uma possível interpretação de Gn 1.1-2 
na The New Scofield Reference Bible (Oxford: Oxford University Press, 1967), em comentários a 
Gn 1.2 e Is 45.18. Também permanece em muitos círculos populares de ensino bíblico. 
Encontramos uma defesa extensa dessa teoria em Arthur C. Custance, Without Form and Void: 
A Study of the Meaning of Genesis 1.2 (Brockville, Ontário: Doorway Papers, 1970. Uma crítica 
extensa encontra-se em Weston W. Fields, Unformed and Unfilled (Nutley, NJ.: Presbyterian and 
Reformed, 1976). Uma crítica substancial dos argumentos lexicais e gramaticais usados na teoria 
do intervalo também se encontra em Oswald T. Allis, God Spake by Moses (Filadélfia: Presbyterian 
and Reformed, 1951), p. 153-59.
243
(15) A Doutrina de Deus
Alguns leitores talvez se perguntem por que classifiquei essa idéia, ao lado de concepções 
seculares e da evolução teísta, como teoria que parece “nitidamente incompatível com os 
ensinamentos das Escrituras”. Devo observar aqui que só o faço porque os argumentos a favor 
dessa postura me parecem baseados em interpretações extremamente improváveis do texto 
bíblico, e não desejo sugerir que aqueles que defendem a teoria do intervalo são descrentes, ou 
que são como muitos evolucionistas teístas que pensam que a Bíblia nada pode nos ensinar sobre 
ciência. Pelo contrário, os defensores da teoria do intervalo sempre creram uniformemente na 
completa confiabilidade da Bíblia em qualquer assunto que ela aborde.
46. A segunda palavra, bohü, “vazio”, só ocorre outras duas vezes nas Escrituras (Is 34.11; 
Jr 34.23), ambas descrevendo terras desoladas que sofreram o juízo de Deus. Mas a primeira 
palavra, tohü, que pode significar “informidade, confusão, irrealidade, vacuidade” (BDB, p. 1062), 
ocorre outras dezenove vezes, às vezes referindo-se a um local desolado por causa do juízo (Is
34.11 e jr 34.23, ambas ao lado de bohü), noutras referindo-se simplesmente a um local vazio, 
sem nenhuma implicação de mal ou juízo (Jó 26.7, do “espaço” sobre o qual Deus estende o 
norte, análogo ao “nada” sobre que ele faz pairar a terra; também Dt 32.10;Jó 12.24; SI 107.40). 
O sentido “inabitável” é especialmente apropriado em Is 45.18, que fala da criação da terra por 
parte de Deus: “Ele não a criou para que ficasse vazia [tohü], mas para que houvesse moradores 
nela” (blh). (O fato de que Deus não criou a terra para que ficasse “vazia”, mas “para que 
houvesse moradores nela” [Is 45.18], indica a obra criadora de Deus concluída e não nega que 
era “sem forma e vazia” no estágio inicial da criação.)
47. Ver discussão mais completa das lacunas nas genealogias em Francis Schaeffer, No Final 
Conflict, p. 37-43.
48. A niv dá a seguinte tradução para o versículo: “Sebuel, descendente de Gérson”, mas isso 
é nada mais que uma interpretação, pois no texto hebraico aparece apenas a palavra ben, “filho”. 
Não se deve objetar que Gérson talvez tenha vivido mais de 500 anos, pois não se acham vidas 
tão longas após o dilúvio (repare Gn 6.3); de fato, Abraão miraculosamente foi agraciado com 
um filho quando tinha quase cem anos (cf. Rm 4.19; Hb 11.12); e Moisés, bem antes de Davi ou 
Salomão, dizia que a vida do homem chegava a 70 ou 80 anos: “Os dias da nossa vida sobem 
a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta” (SI 90.10).
49. Ver “Chronology of the Old Testament”, em IBD, esp. p. 268-70.
50. A tabela foi adaptada com base nos dados de Frair e Davis, A Case for Creation, p. 122-
26, e Karl W. Butzer, “Prehistoric People”, em World Book Encyclopedia (Chicago: World Book, 
1974), 15:666-74.
51. Kofahl e Segraves, The Creation Explanation, p. 207.
52. Duas proveitosas análises dos vários supostos ancestrais humanos se encontram em Frair 
e Davis, A Case for Creation, p. 122-26, e Davis A. Young, Creation and the Flood, p. 146-55. Frair 
e Davis consideram que o homem de Neanderthal era “totalmente humano”, embora “racial­
mente distinto” (p. 125).
53. Philip Johnson observa que uma teoria recente que vem recebendo apoio de vários 
biólogos moleculares diz que todos os seres humanos descenderam de uma “Eva mitocondrial” 
que viveu na África há menos de 200.000 anos (Darwin on Trial, p. 83, 177-78).
54. Os defensores de um dia de vinte e quatro horas podem fazer suposições segundo as 
quais Adão atribuiu nomes apenas a tipos representativos de animais, ou que lhes deu nomes 
rapidamente, sem nem sequer observar as suas atividades ou capacidades, mas ambas as 
sugestões são interpretações muito menos prováveis em vista da importância atribuída à 
atribuição de nomes no Antigo Testamento.
55. Suponho aqui que Moisés escreveu tanto Gênesis quanto Êxodo, e que os leitores 
originais eram o povo de Israel no deserto, por volta de 1440 a.C.
244
(15) A Criação
56. De fato, a frase “houve tarde e manhã” não é usada em nenhum outro trecho do Antigo 
Testamento hebraico, e por isso não se pode dizer que é uma expressão comum usada para 
designar um dia normal.
57. O texto hebraico não diz “para que sejam muitos (heb. rab) os teus dias na terra”, frase 
comum no hebraico (Gn 21.34; 37.24; Êx 2.23; Nm 9.19 et al.), mas “para que se prolonguem (heb. 
’arak, “ser longo”, usado também como extensão física em lRs 8.8; Sl 129.3; Is 54.2 [“alonga 
as tuas cordas”]; Ez 31.5) os teus dias”.
58. Uma variante dessa concepção diria que os seis dias foram períodos de vinte e quatro 
horas, mas que houve intervalos de milhões de anos entre cada dia e o seguinte. Isso é certamente 
possível, mas há uma dificuldade: a teoria parece estar inserindo “intervalos” entre todos os dias 
simplesmente para explicar a cronologia científica, sem nenhum elemento textual evidente que 
o justifique. Essa opinião é defendida por RobertC. Newman e Herman J. Eckelmann,Jr., Genesis 
One and the Origin of the Earth (Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1977).
59. Grand Rapids: Zondervan, 1982, p. 13-67.
60. Christianity and the Age of the Earth, p. 63; ver também análise detalhada nas p. 93-116, e 
Creation and the Flood, p. 185-93.
61. Ver esses exemplos em Creation and the Flood, p. 171-210. Um movimento de 2 cm por 
ano, ao longo de 20.000 anos, resulta em 40.000 cm, ou 400 m (cerca de 437 jardas ou xk de 
milha). Isso, obviamente, não explica a atual distância entre a América do Sul e a África.
62. Christianity and the Age of the Earth, p. 84-86. Os recifes de coral não são formados pela 
imensa pressão de um dilúvio, mas por minúsculos animais marinhos (chamados pólipos de 
corais) que se ligam uns aos outros e geram formações coloridas de calcário retirando carbonato 
de cálcio da água do mar e depositando-o em tomo da metade inferior do seu corpo. Quando 
morrem, seus “esqueletos” de calcário permanecem, e, ao longo de dezenas de milhares de anos, 
formam-se enormes recifes de coral. Isso só acontece em águas mais quentes que 18 C (65 F) e 
claras e rasas o bastante para que as algas façam fotossíntese, da qual os pólipos dos corais 
precisam para produzir seus esqueletos. (Ver Robert D. Barnes, “Coral”, em World Book 
Encyclopedia [Chicago: World Book, 1983], 4:828.)
63. Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1977, p. 15-34, 89-103. Eles mostram que o 
tempo exigido para a luz alcançar a terra não é a única prova astronômica de um universo 
bastante antigo: a medição dos movimentos estelares demonstra que o universo vem-se 
expandindo há mais de 15 bilhões de anos; a radiação de fundo existente no universo fornece 
uma idade parecida; e o tipo de luz oriunda de determinadas estrelas mostra que muitas delas 
têm idade compatível com esse cálculo. Os proponentes da terra jovem (ver abaixo) podem dizer 
que Deus criou os raios de luz já no lugar, para que Adão e Eva pudessem ver as estrelas, mas 
é muito mais difícil explicar por que Deus teria criado essas outras evidências tão compatíveis 
com um universo de cerca de 15 bilhões de anos.
64. É claro que as atuais hipóteses científicas dessas seqüências podem estar erradas.
65. O segundo verbo está implícito pela marcação do objeto direto, mas não está expresso 
no texto hebraico; assumiria a mesma forma do primeiro verbo do período.
66. A questão da disseminação do pólen sem aves e insetos permanece como dificuldade 
dessa tese, embora se deva notar que mesmo hoje muitas plantas se autofecundam ou são 
fecundadas pela disseminação do pólen pelo vento, e não temos meios de saber ao certo se era 
imprescindível a disseminação do pólen por insetos voadores antes da queda e antes do término 
da criação. Do mesmo modo, o fato de algumas aves viverem de insetos rastejantes é outra 
dificuldade, mas é de supor que elas comessem apenas plantas e sementes antes da queda.
67. A tabela seguinte é uma adaptação de The niv Study Bible, ed. por Kenneth Barker et al. 
(Grand Rapids: Zondervan, 1985), p. 6 (nota sobre Gn 1.11). Uma defesa convincente da tese 
da “estrutura” encontra-se em Henri Blocher, In the Beginning: The Opening Chapters of Genesis, trad.
245
(15) A Doutrina de Deus
por David G. Preston (Leicester: InterVarsity Press, 1984), p. 49-59. Blocher menciona vários outros 
eruditos evangélicos que defendem essa posição, que ele chama de “interpretação literária”: N.
H. Ridderbos, Bernard Ramm, Meredith G. Kline, D. F. Payne e J. A. Thompson. Essa tese da 
“estrutura” é denominada “dia pictórico” em Millard Erickson, Christian Theology, p. 381.
68. Essa tese estrutural é também defendida por Ronald Youngblood, How It All Began 
(Ventura, Calif.: Regal, 1980), p. 25-33.
69. Henri Blocher, In the Beginning, p. 52.
70. Ibid, p. 50.
71. Ver análise mais aprofundada de Gn 2.5 em Meredith G. Kline, “Because It Had Not 
Rained”, WTJ20 (1957-58): 146-57; e, como contraponto, Derek Kidner, “Genesis 2:5, 6: Wet 
or Dry?”, TB 17 (1966): 109-14.
72. D. Kidner, Gênesis, Introdução e Comentário (São Paulo: Edições Vida Nova, 1979), p. 51-52.
73. Vários argumentos científicos que indicam uma terra jovem (entre 10.000 e 20.000 anos) 
são apresentados em Henry M. Morris, ed. Scientific Creationism (San Diego, Calif.: Creation- 
Life, 1974), esp. p. 131-69; também Kofahl e Segraves, The Creation Explanation, p. 181-213.
Davis A. Young contrapõe a maioria desses argumentos, com base na tese da “terra antiga”, 
em Christianity and the Age of the Earth, p. 71-131, e, especificamente em resposta à “geologia do 
dilúvio”, em Creation and the Flood, p. 171-213. Outro livro, Science Held Hostage: What’s Wrong With 
Creation Science and Evolutionism, de Howard J. Van Till, Davis A. Young e Clarence Minninga 
(Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1988), levanta graves objeções contra a avaliação e o 
uso de materiais de pesquisa científica de parte de alguns importantes defensores da tese da terra 
jovem (ver p. 45-125). Uma resposta preliminar da tese da terra jovem aos argumentos de Young 
se encontra num livrete de trinta e quatro páginas de Henry M. Morris e John D. Morris: Science, 
Scripture, and the Young Earth (El Cajon, Calif.: Institute for Creation Research, 1989).
74. Millard Erickson, Christian Theology, p. 382.
75. Devemos observar aqui que os defensores da terra antiga também precisam considerar 
que Deus, em Gn 1.31, teria dito que os antigos fósseis eram “muito bons”. Essa não é uma 
objeção decisiva se a morte dos animais antes da queda não resultou do pecado, mas assim 
mesmo é um obstáculo. Só os defensores da geologia do dilúvio (ver abaixo) diriam que fósseis 
nenhuns existiam em Gn 1.31, pois teriam sido depositados de repente pelo dilúvio de Gn 6-9. 
Essa é talvez uma consideração que favorece a tese da geologia do dilúvio.
76. Ver Henry M. Morris ejohn C. Whitcomb, The Genesis Flood (Filadélfia: Presbyterian and 
Reformed, 1961); John C. Whitcomb, The World That Perished (Grand Rapids: Baker, 1988); 
Stephen A. Austin, Catastrophes in Earth History (El Cajon, Calif.: Institute for Creation Research, 
1984). Outros estudos de defensores da geologia diluviana foram publicados no CRSQ\ embora 
nem todos os artigos desse periódico sustentem o ponto de vista da geologia do dilúvio, 
tampouco todos os membros da Creation Research Society defendam a geologia diluviana.
77. Os argumentos contra a geologia diluviana foram ordenados por um evangélico que 
também é geólogo de profissão; ver Davis A. Young, Creation and the Flood: An Alternative to Flood 
Geology and Theistic Evolution, e Christianity and the Age of the Earth.
78. Creation and the Flood, p. 89.
79. Frair e Davis, A Case for Creation, p. 135-40, apresentam muitos desafios práticos aos 
cientistas que acreditam na criação, sugerindo campos específicos em que há grande necessidade 
de pesquisas.
246
16
A Providência Divina
Se Deus controla todas as coisas, será que nossos atos podem ter 
significado real? Quais são os decretos de Deus?
E x p l ic a ç ã o e b a s e b íb l ic a
(g u a n d o entendemos que Deus é o Criador todo-poderoso (ver capítulo 15), parece 
sensato concluir que ele também preserva e governa tudo no universo. Embora o termo 
providência não se encontre nas Escrituras, tem sido tradicionalmente usado para resumir 
a contínua relação de Deus com a sua criação. Quando aceitamos a doutrina bíblica da 
providência, evitamos quatro erros comuns na concepção do relacionamento de Deus 
com a criação. A doutrina bíblica não é o deísmo (que ensina que Deus criou o mundo e 
depois, essencialmente, abandonou-o) nem o panteísmo (que prega que a criação não tem 
uma existência real e distinta em si mesma, mas meramente faz parte de Deus), mas a 
providência, que ensina que em bora Deus, em todos os momentos, se relacione e se 
envolva ativamente com a criação, esta é distinta dele. Além disso, a doutrina bíblica não 
ensina que os acontecimentos da criação são determinados peloacaso (ou casualidade), 
nem são eles determinados por um destino impessoal (ou determinismo), mas por Deus, 
que é o Criador e Senhor pessoal, porém infinitamente poderoso.
Podemos definir assim a providência divina: Deus está continuamente envolvido com todas 
as coisas criadas de forma tal que (1) as preserva como elementos existentes, que conservam as 
propriedades com que ele os criou; (2) coopera com as coisas criadas em cada ato, dirigindo as suas 
propriedades características a fim de fazê-las agir como agem; e (3) as orienta no cumprimento dos 
seus propósitos.
Dentro da categoria geral da providência temos três subtópicos, segundo os três 
elementos da definição acima: (1) Preservação, (2) Cooperação e (3) Governo.
Exam inarem os cada um desses separadam ente, para depois analisar as idéias 
divergentes e as objeções à doutrina da providência. E importante observar que essa é 
uma doutrina em que se nota substancial desacordo entre os cristãos desde os primórdios 
da história da igreja, especialmente com respeito à relação de Deus com as decisões 
volitivas dos seres morais. Neste capítulo apresentaremos antes de tudo um resumo do 
ponto de vista defendido neste livro (a posição comumente dita “reformada” ou “calvi-
247as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). 
A transcendência e a imanência de Deus são afirmadas simultaneamente num mesmo 
versículo, quando Paulo fala de “um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por 
meio de todos e está em todos” (Ef 4.6).
O fato de ser a criação distinta de Deus, porém sempre dependente dele, de estar 
Deus bem acima da criação, todavia sempre envolvido nela (resumindo, de ser Deus ao 
mesmo tempo transcendente e imanente), pode ser representado como na figura 15.1.
Isso se distingue claram ente do materialismo, a filosofia mais com um entre os 
descrentes de hoje, que nega absolutamente a existência de Deus. O materialismo diria 
que o universo material é tudo o que existe. Pode ser representado como na figura 15.2.
A CRIAÇÃO É DISTINTA DE DEUS, PORÉM SEMPRE DEPENDENTE DE DEUS 
(DEUS É AO MESMO TEMPO TRANSCENDENTE E IMANENTE)
Figura 15.1
Os cristãos que hoje concentram quase todos os seus esforços em ganhar mais 
dinheiro e acumular mais bens tomam-se materialistas “práticos” nas suas atividades, pois 
suas vidas não seriam muito diferentes se simplesmente não cressem em Deus.
MATERIALISMO 
Figura 15.2
203
(15) A Doutrina de Deus
A explicação bíblica da relação de Deus com a sua criação também se distingue do 
panteísmo. A palavra grega pan significa “tudo” ou “todos”, e panteísmo é a idéia de que 
tudo, todo o universo, é Deus, ou faz parte de Deus. E possível retratar essa idéia como 
na figura 15.3.
O panteísmo nega vários aspectos essenciais do caráter de Deus. Se todo o universo 
é Deus, então Deus não tem personalidade distinta. Deus já não é imutável, pois quando 
o universo muda, Deus também muda. Além disso, Deus já não é santo, pois o mal do 
universo também faz parte de Deus. Outra dificuldade é que, em última análise, a maioria 
dos sistemas panteístas (como o budism o e muitas outras religiões orientais) acaba 
negando a importância das personalidades humanas: como tudo é Deus, a meta da pessoa 
deve ser fundir-se ao universo e cada vez mais unir-se a ele, perdendo assim a sua 
individualidade. Se o próprio Deus não tem identidade pessoal distinta do universo, 
certamente tampouco nós devemos nos esforçar por isso. Assim, o panteísmo destrói não 
só a identidade pessoal de Deus, mas também, em última análise, a dos seres humanos.
PANTEÍSMO 
Figura 15.3
Qualquer filosofia que interprete a criação como “emanação” de Deus (ou seja, algo 
que procede de Deus mas permanece parte de Deus, inseparável dele) seria semelhante 
ao panteísmo na maioria ou mesmo em todos os modos nos quais os aspectos do caráter 
divino são negados.
A explicação bíblica também afasta a hipótese do dualismo, que é a idéia de que Deus 
e o universo material existem eternamente lado a lado. Assim, existem duas forças supremas 
no universo: Deus e a matéria. Pode-se representar essa idéia como na figura 15.4.
DUALISMO 
Figura 15.4
204
(15) A Criação
O problema do dualismo é que ele sugere um conflito etemo entre Deus e os aspectos 
malignos do universo material. Irá Deus triunfar do mal no universo? Não podemos ter 
certeza disso, pois Deus e o mal aparentemente sempre existiram lado a lado. Essa filosofia 
nega a soberania absoluta de Deus sobre a criação e também que a criação veio a existir 
por causa da vontade divina, que deve ser usada exclusivamente para os desígnios divinos 
e que existe para glorificá-lo. Esse ponto de vista também nega que todo o universo foi 
criado inerentemente bom (Gn 1.31) e incentiva as pessoas a enxergar a realidade material 
como algo mau em si mesmo, em vez de uma explicação bíblica genuína da criação, que 
Deus fez boa e rege segundo os seus desígnios.
Um recente exemplo de dualismo na cultura moderna é a série de filmes Guerra nas 
Estrelas, que postula a existência de uma “Força” universal, que tem um lado bom e outro 
mau. Aí não existe o conceito de um Deus santo e transcendente que tudo governa e que 
certamente triunfará de tudo. Quando os não cristãos de hoje passam a se dar conta de 
um aspecto espiritual do universo, muitas vezes se tornam dualistas, reconhecendo 
meramente que existem aspectos bons e maus no mundo sobrenatural ou espiritual. A 
maioria das religiões da “Nova Era” é dualista. E claro que Satanás exulta ao ver gente 
pensando que no universo existe uma força má, equivalente talvez ao próprio Deus.
A visão cristã da criação também difere do ponto de vista do deísmo. Deísmo é a idéia 
de que Deus não está envolvido diretamente na criação. Pode ser representado como na 
figura 15.5.
CRIAÇÃO
DEÍSMO 
Figura 15.5
O deísmo geralmente defende que Deus criou o universo e é bem maior do que ele 
(Deus é “transcendente”). Alguns deístas também admitem que Deus tem parâmetros 
morais e irá exigir prestação de contas no dia do juízo. Mas negam que Deus esteja 
atualmente envolvido no mundo, eliminando assim a possibilidade da imanência divina 
na ordem criada. Antes, Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao 
“relógio” da criação no início, mas depois deixa que ele funcione sozinho.
Embora o deísmo afirme de fato a transcendência divina em alguns aspectos, nega 
quase toda a história bíblica, que é a história do envolvimento ativo de Deus no mundo. 
Hoje, muitos cristãos “momos” ou de fachada são, na prática, deístas, pois vivem quase
205
(15) A Doutrina de Deus
totalmente alheios à genuína oração, à adoração, ao tem or de Deus ou à confiança 
contínua em que Deus vá atender as necessidades que surgirem.
C . D e u s c r io u o u n iv e r s o p a r a r e v e l a r a s u a g l ó r ia
E evidente que Deus criou seu povo para a sua própria glória, pois ele fala dos seus 
filhos e filhas como aqueles “que criei para minha glória, e que formei, e fiz” (Is 43.7). Mas 
Deus não criou para seus desígnios somente os seres humanos. Toda a criação tem por 
meta revelar a glória de Deus. Mesmo a criação inanimada — as estrelas, o sol, a lua e o 
firmamento - dá testemunho da grandeza de Deus. “Os céus proclamam a glória de Deus, 
e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite 
revela conhecim ento a outra noite” (Sl 19.1-2). O cântico de adoração celestial em 
Apocalipse 4 vincula o fato de ter Deus criado todas as coisas com o ser ele digno de 
receber glória por elas:
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso,
de receber a glória, a honra e o poder, 
porque todas as coisas tu criaste,
sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11).
O que a criação revela sobre Deus? Antes de tudo, mostra o grande poder e a grande 
sabedoria de Deus, bem acima de qualquer coisa que qualquer criatura possa imaginar.11 
“O S e n h o r fez a terra pelo seu poder; estabeleceu o mundo por sua sabedoria e com a 
sua inteligência estendeu os céus” (Jr 10.12). Em contraste com os homens ignorantes e 
os ídolos “sem valor” que eles fazem, dizjeremias: “Não é semelhante a estas Aquele que 
é a Porção de Jacó; porque ele é o Criador de todas as coisas [...] S e n h o r dos Exércitos 
é o seu nome” (Jr 10.16). Basta olhar de relance o sol ou as estrelas para se convencer do 
infinito poder de Deus. E mesmo uma breve inspeção em qualquer folha de árvore, ou 
no prodígio da mão hum ana, ou em qualquer célula viva, convence-nos da grande 
sabedoria divina. Quem poderia fazer tudo isso? Quem poderia fazê-lo do nada? Quem 
poderia sustentá-lo dia após dia, por incontáveis anos? Tal poder infinito, tal complexa 
capacidade, está absolutamente além da nossa compreensão. Quando meditamos nisso, 
damos glória a Deus.
Quando afirmamos que Deus criou o universo para revelar a sua glória, é importante 
perceber que ele não precisava fazê-lo. Não devemos pensar que Deus precisava de mais 
glória do que já tinha dentro da Trindade por toda a eternidade, ou que ele estava de 
algum modo incompleto sem a glória que receberia do universo criado. Isso seria negar 
a independência de Deus e implicaria que Deus necessita do universo para ser plenamente 
Deus.12 Antes,devemos afirmar que a criação do universo foi um ato totalmente voluntário 
da parte de Deus. Não foi um ato necessário, mas algo que Deus decidiu fazer. “Todas as 
coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11). 
Deus desejou criar o universo para demonstrar a sua excelência. A criação revela a grande 
sabedoria e o grande poder divinos, e em última análise revela também todos os seus 
outros atributos.13 Parece que Deus criou o universo, então, para deleitar-se com a sua 
criação, pois ele se deleita com ela justamente porque a criação revela aspectos diversos 
do caráter divino.
206
(15) A Criação
Isso explica por que nós mesmos temos espontâneo prazer em todos os tipos de 
atividades criativas. Gente dotada de talento artístico, musical ou literário gosta de criar 
coisas e ver, ouvir ou apreciar sua obra criativa. E um dos aspectos impressionantes da 
humanidade - diferentemente do restante da criação - é a capacidade de criar coisas novas. 
Isso também explica por que temos prazer em outros tipos de atividade “criativa”: muita 
gente gosta de cozinhar, de decorar a casa ou de trabalhar com madeira ou outros materiais, 
ou ainda de produzir invenções científicas ou de conceber novas soluções para problemas 
na produção industrial. Toda criança gosta de colorir ilustrações ou construir casinhas com 
blocos de montar. Em todas essas atividades espelhamos em pequena medida a atividade 
criadora de Deus, e nisso devemos encontrar prazer, dando graças a ele.
D . O UNIVERSO QUE D EUS CRIOU ERA "MUITO BOM "
Esse tópico continua o anterior. Se Deus criou o universo para revelar a sua glória, 
então é de esperar que o universo cumpra o fim para o qual foi criado. De fato, quando 
Deus concluiu sua obra de criação, deleitou-se com ela. Ao final de cada estágio da 
criação, Deus via que o que fizera era “bom ” (Gn 1.4, 10, 12, 18, 21, 25). Depois, ao final 
dos seis dias da criação, “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). 
Deus deleitou-se com a criação que fizera, exatamente como pretendia fazer.
Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de 
Deus e deve também por nós ser tida como “boa”. Esse conhecimento nos liberta de um 
falso ascetismo que considera errado o uso e o deleite da criação material. Paulo diz que 
aqueles que “proíbem o casamento” e “exigem abstinência de alimentos que Deus criou 
para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem 
plenamente a verdade” (ITm 4.1-3) dão ouvidos a “ensinos de demônios”. O apóstolo 
adota postura tão firme porque entende que “tudo que Deus criou é bom, e, recebido com 
ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é 
santificado” (ITm 4.4-5). A menção paulina da “palavra de Deus” que consagra ou 
“santifica” os alim entos e outras coisas de que desfrutam os na criação m aterial é 
provavelmente referência à bênção divina proferida em Gênesis 1.31: “era muito bom ”.
Embora a ordem criada possa ser usada de modos pecaminosos ou egoístas, e possa 
desviar de Deus o nosso afeto, assim mesmo não devemos deixar que o perigo do mau 
uso da criação divina nos afaste de um uso positivo, grato e alegre dela, para deleite nosso 
e para o bem do reino de Deus. Pouco depois de Paulo alertar sobre o desejo de ser rico 
e sobre o “amor do dinheiro” (ITm 6.9-10), ele afirma que é o próprio Deus “que tudo 
nos proporciona ricamente para nosso aprazimento” (ITm 6.17). Esse fato autoriza os 
cristãos a estimular o correto desenvolvimento industrial e tecnológico (ao lado do 
cuidado ambiental) e o uso alegre e grato de todos os produtos da terra abundante que 
Deus criou - tanto por nós mesmos quanto por aqueles com quem devemos partilhar 
generosamente os nossos bens (repare ITm 6.18). No entanto, em tudo isso devemos 
lembrar que os bens materiais são apenas temporários, não eternos. Devemos depositar 
as nossas esperanças em Deus (ver Sl 62.10; ITm 6.17) e na vinda de um reino que não 
pode ser abalado (Cl 3.1-4; Hb 12.28; IPe 1.4).
207
(15) A Doutrina de Deus
E. A RELAÇÃO ENTRE AS ESCRITURAS E AS DESCOBERTAS DA CIÊNCIA 
MODERNA
Em vários momentos da história, os cristãos discordaram das descobertas reconhecidas 
da ciência da época. Na grande maioria dos casos, a sincera fé cristã e a firme confiança na 
Bíblia levaram os cientistas à descoberta de novas verdades sobre o universo de Deus, e essas 
descobertas mudaram a opinião científica em toda a história posterior. A vida de Isaac 
Newton, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Blaise Pascal, Robert Boyle, Michael Faraday, 
James Clerk Maxwell e muitos outros são exemplos disso.14
Por outro lado, houve momentos em que a opinião científica estabelecida entrou em 
conflito com o que as pessoas pensavam que a Bíblia dizia. Por exemplo, quando o 
astrônomo italiano Galileu (1564-1642) começou a pregar que a terra não era o centro do 
universo, mas que ela e outros planetas giravam em tomo do sol (seguindo assim as teorias 
do astrônomo polonês Copémico [1472-1543]), foi criticado e no final seus escritos acabaram 
condenados pela Igreja Católica Romana, porque muitas pessoas pensavam que a Bíblia 
pregava que o sol girava em tomo da terra. Na verdade a Bíblia não ensina nada disso, mas 
foi a astronomia de Copémico que fez as pessoas pesquisarem as Escrituras para ver se ela 
realmente pregava o que se pensava pregar. De fato, as descrições do nascer e do pôr-do- 
sol (Ec 1.5; et al.) meramente retratam os acontecimentos como eles se apresentam ao 
observador humano, e, desse ângulo, dão uma descrição precisa. Mas nada sugerem sobre 
o movimento relativo da terra e do sol, e em momento nenhum a Bíblia explica o que faz 
o sol “descer” do ponto de vista do observador humano. As Escrituras não dizem abso­
lutamente nada sobre se a terra ou o sol, ou algum outro corpo, é o “centro” do universo 
ou do sistema solar - essa não é uma questão abordada pela Bíblia. Porém, a lição de 
Galileu, que se viu forçado a repudiar as suas teorias e que teve de viver em prisão domiciliar 
durante os últimos anos da sua vida, deve-nos lembrar de que a observação cuidadosa do 
mundo natural pode-nos fazer voltar às Escrituras e reexaminar se a Bíblia de fato ensina 
o que pensam os que ensina. As vezes, diante de um exam e mais detido do texto, 
descobrimos que nossas interpretações anteriores estavam incorretas.
A investigação científica tem ajudado os cristãos a reavaliar aquilo que gerações 
anteriores pensavam sobre a idade da terra, por exemplo, de modo que nenhum estudioso 
evangélico de hoje sustentaria que o mundo foi criado em 4004 a.C. Porém, houve um 
tempo em que amplamente se acreditava ser essa a data da criação, em virtude dos 
escritos do arcebispo irlandêsjames Ussher (1581-1656), um dos grandes eruditos do seu 
tempo, que cuidadosamente somou as datas das genealogias bíblicas para descobrir 
quando Adão foi criado. Hoje se reconhece amplamente que a Bíblia não dá a data precisa 
da criação da terra nem da raça humana (ver abaixo).
Por outro lado, muitas pessoas da comunidade cristã se recusam veementemente a 
concordar com a opinião dom inante dos cientistas de hoje a respeito da evolução. 
Milhares de cristãos já exam inaram minuciosamente esse tema repetidas vezes nas 
Escrituras, e muitos concluíram que a Bíblia não se cala sobre o processo pelo qual os 
organismos vivos vieram a existir. Além disso, a cuidadosa observação dos fatos do 
universo criado produziu amplo desacordo em relação às teorias evolutivas (tanto de 
cientistas cristãos quanto de vários cientistas não cristãos).15 Assim, as teorias da evolução 
têm sido contestadas pelos cristãos com base tanto em elementos bíblicos como científicos.
208
(15) A Criação
É também importante lembrar que a questão da criação do universo é diferente de 
muitas outras questões científicas, pois a criação não é algo que se possa repetir num 
experimento de laboratório, nem houveobservadores humanos que a presenciassem. 
Portanto, as declarações dos cientistas sobre a criação e a história primitiva da terra são, 
na melhor das hipóteses, especulação erudita. Se, porém, estamos convencidos de que o 
único observador desses acontecimentos (o próprio Deus) os relatou a nós nas confiáveis 
palavras das Escrituras, então devemos prestar cuidadosa atenção à narrativa bíblica.
Na seção seguinte, relacionamos alguns princípios segundo os quais se pode abordar 
a relação entre a criação e as descobertas da ciência moderna.
1. Corretamente compreendidos todos os fatos, não haverá “nenhum conflito 
definitivo” entre as Escrituras e a ciência natural. A expressão “nenhum conflito 
definitivo” foi extraída de um livro muito interessante de Francis Schaeffer, No Final 
Conflict}6 A respeito de questões da criação do universo, Schaeffer lista diversos pontos 
em que, segundo ele, há margem para discordância entre cristãos que acreditem na 
completa fidelidade das Escrituras:
1. Existe a possibilidade de Deus ter criado um universo “adulto”.
2. Existe a possibilidade de intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2, ou entre 1.2 e 1.3.
3. Existe a possibilidade de um dia longo em Gênesis 1.
4. O sentido da palavra “espécie” em Gênesis 1 pode ser bem amplo.
6. Existe a possibilidade da morte de animais antes da queda.
7. Nos trechos em que a palavra hebraica bãrã’não é utilizada, existe a possibilidade de 
seqüência a partir de coisas previamente existentes.17
Schaeffer deixa claro que não está afirmando que nenhuma dessas opiniões é a sua; 
só afirma serem teoricamente possíveis. O principal argumento de Schaeffer é que, tanto 
na com preensão do m undo natural quanto na com preensão das Escrituras, nosso 
conhecimento não é perfeito. Mas podemos abordar estudos científicos e bíblicos com 
a confiança de que, quando todos os fatos forem corretamente compreendidos, e quando 
tivermos compreendido corretamente as Escrituras, nossas descobertas jamais entrarão 
em conflito umas com as outras: não haverá “nenhum conflito definitivo”, porque Deus, 
que fala nas Escrituras, conhece todos os fatos, e não falou de m odo que pudesse 
contradizer qualquer fato verdadeiro do universo.
Eis aqui uma perspectiva muito proveitosa, com que o cristão deve começar qualquer 
estudo da criação e da ciência moderna. Não devemos ter medo de investigar cienti­
ficamente os fatos do mundo criado, mas sim fazê-lo com avidez e absoluta sinceridade, 
certos de que, quando os fatos forem corretamente compreendidos, sempre se revelarão 
coerentes com as infalíveis palavras divinas nas Escrituras. Do mesmo modo, devemo- 
nos aplicar ao estudo bíblico com avidez e confiança, certos de que, quando corretamente 
compreendidas, as Escrituras jamais contradirão os fatos do mundo natural.18
Alguém pode objetar que toda essa discussão é equivocada, pois a Bíblia nos foi dada 
para ensinar matérias religiosas e éticas; não pretendia ensinar “ciência”. Entretanto, como 
já observamos no capítulo 5, as Escrituras não restringem os assuntos dos quais podem 
falar. Embora a Bíblia não seja, logicamente, um “livro didático” de ciência num sentido
209
(15) A Doutrina de Deus
formal, contém assim mesmo muitas declarações sobre o mundo natural — sua origem, 
seus propósitos, seu destino último - e muitas afirmações sobre seu funcionamento 
corriqueiro. Se levamos a sério a idéia de que é o próprio Deus (bem como os autores 
humanos) que diz todas as palavras das Escrituras, então precisamos levar a sério também 
essas declarações, nelas crendo. De fato, as Escrituras dizem que nossa compreensão de 
alguns fatos “científicos” é uma questão de fé! Hebreus 11.3 nos diz: “Pela ̂ en tendem os 
que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito 
do que é visível” (n v i ).
2. Algumas teorias sobre a criação parecem nitidamente incompatíveis com 
os ensinamentos das Escrituras. Nesta seção examinaremos três tipos de explicação da 
origem do universo que parecem nitidamente incompatíveis com as Escrituras.
a. Teorias seculares. Para oferecer um panorama completo, mencionamos aqui só 
brevemente que quaisquer teorias puramente seculares da origem do universo seriam 
inaceitáveis para quem crê nas Escrituras. Teoria “secular” é qualquer teoria da origem 
do universo que não considera que um Deus pessoal e infinito é o responsável pela criação 
segundo desígnios inteligentes. Assim, a teoria do “bigue-bangue” (numa forma secular 
em que se exclui Deus), bem como quaisquer teorias que defendam que a matéria sempre 
existiu, seriam incompatíveis com o ensinamento bíblico de que Deus criou o universo 
a partir do nada, e de que ele o fez para a sua própria glória. (Quando se concebe a 
evolução darwiniana de um modo totalmente materialista, como acontece na maioria dos 
casos, ela também se enquadra nessa categoria.)19
b. Evolução teísta. Desde a publicação do livro A Origem das Espécies por meio da 
Seleção Natural (1859), alguns cristãos vêm aventando que os organismos vivos surgiram 
pelo processo evolutivo proposto por Darwin, mas que Deus orientou esse processo para 
que o resultado fosse justamente o que ele desejava. Essa teoria se chama evolução teísta 
porque advoga a crença em Deus (é “teísta”) e também na evolução. Muitos dos que 
defendem a evolução teísta sugerem que Deus interveio no processo em alguns pontos 
críticos, geralmente: (1) na criação da matéria no princípio, (2) na criação da forma mais 
simples de vida e (3) na criação do homem. Mas, com a possível exceção desses momentos 
de intervenção, os evolucionistas teístas sustentam que a evolução se deu segundo os 
processos já descobertos pelos cientistas naturais, e que foi esse o processo que Deus 
resolveu usar no desenvolvimento de todas as outras formas de vida na terra. Acreditam 
eles que a mutação aleatória das coisas vivas conduziu ao desenvolvimento de formas 
superiores de vida - aqueles que tinham uma “vantagem adaptadora” (mutação que lhes 
possibilitasse se adaptar melhor à sobrevivência no seu ambiente) viviam, mas os outros 
morriam.
Os evolucionistas teístas se dispõem facilmente a mudar de idéia a respeito do modo 
como surgiu a evolução, pois, segundo seu ponto de vista, a Bíblia não especifica como 
isso aconteceu. Cabe portanto a nós descobrir isso por interm édio da investigação 
científica normal. Eles argumentam que, aprendendo mais e mais sobre o modo como a 
evolução surgiu, estaremos simplesmente aprendendo cada vez mais sobre o processo que 
Deus usou para gerar o desenvolvimento das formas de vida.
210
(15) A Criação
São as seguintes as objeções à evolução teísta:
1. O claro ensinamento bíblico de que há propósito na obra divina da criação parece 
incompatível com a característica aleatória da teoria evolutiva. Quando as Escrituras 
relatam que Deus disse “Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais 
domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie” (Gn 1.24), elas retratam 
um Deus que fazia as coisas deliberadamente, e cada uma delas com um propósito. Mas 
isso é o inverso de permitir que as mutações avançassem de modo inteiramente aleatório, 
sem que tivesse propósito nenhum a das milhões de mutações que, segundo a teoria 
evolutiva, gerariam uma nova espécie.
A diferença fundamental entre a concepção bíblica da criação e a evolução teísta é 
esta: a força propulsora que gera a mudança e o desenvolvimento das novas espécies em 
todo sistema evolutivo é o acaso. Sem a mutação aleatória dos organismos não existe 
absolutamente evolução no moderno sentido científico. A mutação aleatória é a força 
subjacente que gera a evolução das formas mais simples às mais complexas. Mas a força 
propulsora no desenvolvimento dos novos organismos, segundo as Escrituras, é o desígnio 
inteligente de Deus, que criou “os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que 
rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo 
as suas espécies(Gn 1.21). “E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os 
animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua 
espécie. E viu Deus que isso era bom” (Gn 1.25). Tais declarações parecem incompatíveis 
com a idéia de Deus ter criado, dirigido ou observado milhões de mutações aleatórias, 
nenhuma delas “muito boa” conforme ele pretendia, nenhuma delas gerando realmente 
as espécies de plantas ou animais que ele queria ter na terra. Em vez do relato bíblico 
direto da criação divina, a evolução teísta se obriga a entender que os eventos ocorreram 
mais ou menos assim:
E Deus disse: “Produza a terra criaturas vivas segundo a sua espécie”. E depois de 
trezentos e oitenta e sete milhões, quatrocentos e noventa e dois mil e oitocentos 
e setenta e duas tentativas, Deus finalmente criou um rato que deu certo.
Pode parecer uma explicação esquisita, mas é exatamente o que o evolucionista teísta 
precisa postular para cada uma das centenas de milhares de diferentes espécies de plantas 
e animais da terra: todos eles se desenvolveram por meio de um processo de mutação 
aleatória ao longo de milhões de anos, gradualmente ganhando complexidade assim que 
mutações eventuais se revelassem vantajosas para a criatura.
O evolucionista teísta pode objetar que Deus interveio no processo e o orientou, em 
muitos momentos, na direção que pretendia que seguisse. Mas uma vez admitido isso, há 
propósito e desígnio inteligente no processo - já não temos mais evolução, pois já não 
há mutação aleatória (nos pontos de intervenção divina). Nenhum evolucionista secular 
aceitaria tal intervenção de um Criador dotado de inteligência e propósito. Mas se o 
cristão aceita algum desígnio ativo e deliberado da parte de Deus, já não há necessidade 
nenhum a de acaso nem de nenhum desenvolvimento oriundo de mutação aleatória. 
Assim podemos muito bem admitir que Deus tenha criado imediatamente cada uma das 
criaturas, descartando as milhares de tentativas fracassadas.
211
(15) A Doutrina de Deus
2. As Escrituras afirmam que a palavra criadora de Deus gerava resultado imediato. 
Quando a Bíblia fala da palavra criadora de Deus, enfatiza o poder dessa palavra e sua 
capacidade de realizar o seu propósito.
Os céus por sua palavra se fizeram,
e, pelo sopro de sua boca, o exército deles.
[...] Pois ele falou, e tudo se fez;
ele ordenou, e tudo passou a existir (Sl 33.6, 9).
Esse tipo de declaração parece incompatível com a idéia de que Deus falou e, após 
milhões de anos e milhões de mutações aleatórias nas coisas vivas, seu poder finalmente 
produziu o resultado que ele demandava. Antes, assim que Deus ordena “Produza a terra 
relva”, já o próximo período nos diz: “E assim se fez” (Gn 1.11).
3. Quando as Escrituras nos falam que Deus fez plantas e animais que se repro­
duziriam usegundo a sua espécie” (Gn 1.11, 24), dão a entender que Deus criou muitas 
espécies diferentes de plantas e animais e que, embora houvesse alguma diferenciação 
entre elas (repare os muitos diferentes tamanhos, raças e características pessoais entre os 
seres humanos!), assim mesmo haveria um estreito limite ao tipo de mudança que poderia 
surgir por meio de mutações genéticas.2 0
4. E difícil conciliar o atual papel ativo de Deus na criação ou formação de todo ser 
vivo que surge hoje com o tipo de supervisão remota e não intervencionista proposta pela 
evolução teísta. Davi confessa: “Tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha 
mãe” (Sl 139.13). E Deus disse a Moisés: “Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o 
mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o S e n h o r ? ” ( Ê x 4.11). Deus faz 
crescer a relva (Sl 104.14; Mt 6.30) e alimenta as aves (Mt 6.26) e as outras criaturas do 
campo (Sl 104.21, 27-30). Se Deus está tão envolvido na causação do crescimento e do 
desenvolvimento de cada passo de todo ser vivo agora mesmo, acaso parece coerente com 
as Escrituras dizer que essas formas de vida foram originariamente geradas por um 
processo evolutivo dirigido pela mutação aleatória, e não pela criação direta e deliberada 
de Deus, e que só depois de tê-las criado é que ele passou a envolver-se ativamente na 
direção de cada momento delas?
5. A criação especial de Adão, e de Eva a partir de Adão, é forte motivo para recusar 
a evolução teísta. Os evolucionistas teístas que defendem uma criação especial de Adão 
e Eva por causa das declarações de Gênesis 1-2 na verdade já romperam mesmo com a 
teoria da evolução no ponto de maior interesse para os seres humanos. Mas se, com base 
nas Escrituras, insistimos na intervenção especial de Deus no momento da criação de 
Adão e Eva, então o que nos faria pensar que Deus não interveio também, de modo 
semelhante, na criação dos organismos vivos?
E preciso perceber que a criação especial de Adão e Eva, segundo o relato bíblico, 
retrata-os como seres bem diferentes das criaturas animalescas e quase nada humanas que 
os evolucionistas diriam serem os primeiros homens, criaturas descendentes de ancestrais 
que não passavam de seres simiescos altamente desenvolvidos, mas não humanos. A 
Bíblia relata que o primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva, possuíam capa­
cidades lingüísticas, morais e espirituais altamente desenvolvidas desde o momento em 
que foram criados. Conversavam entre si. Falavam até mesmo com Deus. Eram bem 
diferentes dos animalescos primeiros seres humanos da teoria evolutiva, descendentes de 
criaturas simiescas não humanas.
212
(15) A Criação
Alguns podem contrapor que Gênesis 1-2 não pretende retratar Adão e Eva como 
pessoas reais, mas: (a) a narrativa histórica de Gênesis passa sem in terrupção ao 
obviamente histórico relato sobre Abraão (Gn 12), mostrando que o autor queria dizer 
que a seção inteira era histórica,21 e (b) em Romanos 5.12-21 e 1 Coríntios 15.21-22, 45- 
49 Paulo afirma a existência de Adão como “um só homem”, por meio de quem o pecado 
entrou no mundo, e embasa a sua análise da representativa obra redentora de Cristo no 
modelo histórico de Adão como também representante da humanidade. Além disso, o 
Novo Testamento, noutras passagens, claramente afirma serem Adão e Eva personagens 
históricos (cf. Lc 3.38; At 17.26; ICo 11.8-9; 2Co 11.3; lTm 2.13-14). O Novo Testamento 
também supõe a historicidade dos filhos de Adão e Eva, Caim (Hb 11.4; ljo 3.12;Jd 11) 
e Abel (Mt 23.35; Lc 11.51; Hb 11.4; 12.24).
6. A teoria da evolução tem muitos problemas científicos (ver a seção seguinte). O 
crescente número de dúvidas sobre a validade da teoria da evolução em várias disciplinas 
científicas, dúvidas essas levantadas até por não cristãos, implica que quem alega ser 
forçado a crer na evolução porque os “fatos científicos” não lhe facultam outra alternativa 
simplesmente não ponderou todas as evidências em contrário. Os dados científicos não 
obrigam ninguém a aceitar a evolução, e se o relato bíblico também apresenta argumentos 
convincentes contra ela, então é de presumir que a teoria não seja merecedora da con­
fiança dos cristãos.
Parece mais correto concluir, nas palavras do geólogo Davis A. Young, o seguinte: 
“A postura do evolucionismo teísta, na forma defendida por alguns dos seus proponentes, 
não é uma postura coerentemente cristã. Não é uma postura verdadeiramente bíblica, 
pois se baseia em parte em princípios alheios ao cristianismo”.22 Segundo Louis Berkhof, 
“a evolução teísta é na verdade cria da perplexidade, convocando Deus periodicamente 
a ajudar a natureza a superar as fendas que se abrem sob seus pés. Não é nem a doutrina 
bíblica da criação nem uma teoria evolutiva coerente”.23
c. Comentários sobre a teoria darwiniana da evolução. A palavra evolução pode 
ser usada de maneiras diversas. As vezes é usada como referência à “microevolução”, 
pequenos desenvolvimentos dentro de uma única espécie, que explicam por que moscas 
ou mosquitos tornam-se imunes a inseticidas, ou por que homens ficam mais altos, ou por 
que se desenvolvem rosas de diferentes corese variedades. Inúm eros exemplos de 
“microevolução” são patentes hoje, e ninguém nega que exista.2 4 Mas não é esse o sentido 
em que a palavra evolução é geralm ente usada na discussão de teorias de criação e 
evolução.
O termo evolução é mais comumente usado para referir-se à “macroevolução” - ou 
seja, a “teoria geral da evolução”, ou a idéia de que “substâncias não vivas deram origem 
ao primeiro material vivo, que em seqüência se reproduziu e se diversificou, gerando 
todos os organismos extintos e existentes”.2 5 Neste capítulo, quando usamos a palavra 
evolução, referimo-nos à macroevolução, ou teoria geral da evolução.
(1) Contestações atuais à evolução
Desde que Charles Darwin publicou A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural, 
em 1859, tem havido contestações à teoria tanto por cristãos quanto por não cristãos. A
213
(15) A Doutrina de Deus
atual teoria neodarwinista ainda é essencialmente semelhante à posição original de 
Darwin, mas com aperfeiçoamentos e modificações devidos a mais de cem anos de 
pesquisas. Na moderna teoria evolutiva darwinista, a história do desenvolvimento da vida 
começou quando uma combinação de substâncias químicas presentes na terra gerou 
espontaneamente uma forma de vida simples, provavelmente unicelular. Essa célula viva 
se reproduziu, e acabaram surgindo algumas mutações ou diferenças nas novas células 
geradas. Essas mutações levaram ao desenvolvimento de formas de vida mais complexas. 
Um ambiente hostil provocava a morte da maioria delas, mas as que se adaptavam melhor 
ao habitat sobreviviam e se multiplicavam. Assim, a natureza exercia o processo de 
“seleção natural”, segundo o qual sobreviviam os organismos diferenciados mais 
adaptados ao am biente. Um núm ero crescente de mutações acabou gerando um a 
variedade cada vez maior de seres vivos, de modo que por meio desse processo de 
mutação e seleção natural desenvolveram-se na terra todas as complexas formas de vida, 
a partir de um único organismo extremamente simples.
A crítica mais recente, e talvez mais devastadora, à atual teoria darwiniana vem de 
Philip E. Johnson, professor de Direito que se especializou na análise da lógica dos 
argumentos. No seu livro Darwin on Trial,16 ele cita exaustivamente os teóricos da atual 
corrente evolutiva para demonstrar que:
1. Após mais de cem anos de cruzamentos experimentais de espécies diversas de 
anim ais e plantas, a quantidade de variação que se pode produzir (mesmo com 
cruzamentos deliberados, não aleatórios) é extremamente limitada, em virtude da faixa 
restrita de variação genética em cada tipo de ser vivo: cães seletivamente cruzados por 
várias gerações continuam sendo cães, moscas-das-frutas continuam sendo moscas-das- 
frutas, etc. E quando devolvidas ao estado selvagem, “as raças mais altamente espe­
cializadas rapidamente perecem, e os sobreviventes revertem ao tipo selvagem original”. 
Ele conclui que a “seleção natural”, com que os darwinistas pretendem explicar a 
sobrevivência de novos organismos, é na verdade uma força conservadora que trabalha 
para preservar a aptidão genética de um a população, e não para m udar as suas 
características.2 7
2. Nos atuais argumentos dos evolucionistas, considera-se popularmente que a idéia 
da “sobrevivência do mais apto” (ou “seleção natural”) significa que os animais cujas 
características distintas lhes dão uma vantagem relativa acabam sobrevivendo, e que os 
outros morrem. Mas na prática mesmo, virtualmente qualquer característica pode ser 
considerada como vantagem ou desvantagem.2 8 Assim, como podem os darwinistas saber 
quais características deram mais capacidade de sobrevivência a determinados animais? 
Pela observação daqueles que sobrevivem. Mas isso significa que a seleção natural é 
muitas vezes no fundo não uma nova e potente concepção do que acontece na natureza, 
mas simplesmente uma tautologia (repetição sem sentido da mesma idéia), pois nada mais 
é que dizer que os animais “mais aptos” são aqueles que geram mais filhotes. Nesse 
sentido, a seleção natural significa: os animais que geram mais filhotes geram mais 
filhotes.2 9 Mas isso não prova que supostas mutações produzam filhotes diferentes e mais 
aptos ao longo de muitas gerações.
3. As mutações numerosas e complexas dem andadas para a geração de órgãos 
complexos como um olho ou a asa de um pássaro (ou centenas de outros órgãos) não 
poderiam ter ocorrido como minúsculas mutações acumuladas ao longo de milhares de
214
(15) A Criação
gerações, porque as partes distintas do órgão são inúteis (e não proporcionam “vantagem”) 
a menos que todo o órgão funcione. Mas a probabilidade m atem ática de que tais 
mutações aleatórias aconteçam conjuntamente numa só geração é praticamente zero. Aos 
darwinistas resta dizer que isso deve ter necessariamente acontecido porque aconteceu.3 0
Um exem plo engraçado da necessidade de que todas as partes de um sistema 
orgânico complexo sejam combinadas simultaneamente é destacado por Robert Kofahl 
e Kelly Segraves no seu livro The Creation Explanation: A Scientific Alternative to Evolution.31 
Eles descrevem o “besouro bom bardeiro” (Brachinus crepitans), que repele os inimigos 
disparando um jato quente de substâncias químicas por dois tubos giratórios localizados 
na cauda. As substâncias químicas disparadas pelo besouro explodem espontaneamente 
quando combinadas num laboratório, mas aparentemente o besouro tem uma substância 
inibidora que bloqueia a reação explosiva até que o inseto esguiche certo volume do 
líquido para as “câmaras de combustão”, onde se adiciona uma enzima que catalisa a 
reação. Ocorre uma explosão e a substância química repelente é disparada à temperatura 
de 86°C contra os inimigos do besouro. Kofahl e Segraves questionam, com todo o direito, 
se a evolução pode explicar esse espantoso mecanismo:
Repare que uma explicação evolutiva racional do desenvolvimento desse inseto 
precisa atribuir algum tipo de vantagem adaptadora a cada um dos milhões de 
hipotéticos estágios intermediários na construção do processo. Mas será que os 
estágios de um quarto, metade ou dois terços do total, por exemplo, confeririam 
alguma vantagem? Afinal, um rifle é inútil se mesmo só uma das suas partes não 
funciona. [...] Para que esse mecanismo de defesa proporcionasse alguma proteção 
ao besouro, todas as suas partes, juntamente com a adequada mistura explosiva de 
substâncias químicas, além do comportamento instintivo necessário para o seu uso, 
teriam de se achar reunidos no inseto. O conjunto parcialmente desenvolvido de 
órgãos seria inútil. Portanto, segundo os princípios da teoria da evolução, não 
haveria pressão seletiva que fizesse o sistema evoluir de um estágio parcialmente 
completo até o estágio acabado. [...] Se uma teoria não consegue explicar os dados 
em qualquer ciência, essa teoria deve ser revista ou substituída por outra que esteja 
de acordo com os dados.32
Nesse caso, logicamente, o engraçado é especular o que poderia ter acontecido se a 
mistura química explosiva se desenvolvesse no besouro sem o inibidor químico...
4. O testemunho dos fósseis era o maior problema de Darwin em 1859, e de lá para 
cá esse problema simplesmente só fez piorar. No tempo de Darwin, havia já centenas de 
fósseis que demonstravam a existência de muitas espécies distintas de animais e vegetais 
do passado remoto. Mas Darwin foi incapaz de encontrar qualquer fóssil das “espécies 
intermediárias” para preencher as lacunas entre espécies distintas de animais - fósseis que 
exibissem algumas características de um animal e outras características da espécie 
evolutiva seguinte, por exemplo. Na verdade, muitos fósseis antigos eram exatamente 
semelhantes aos animais de hoje — mostrando que (segundo as suposições cronológicas 
da sua teoria) numerosos animais haviam perdurado essencialmente sem mudanças por 
milhões de anos. Darwin se deu conta de que a ausência de “espécies transicionais” no 
acervo de fósseis enfraquecia a sua teoria, mas ele conjecturouque isso se devia ao fato
215
(15) A Doutrina de Deus
de que ainda não se haviam descoberto fósseis suficientes, e estava certo de que 
descobertas posteriores revelariam muitas espécies transicionais de animais. Contudo, os 
130 anos seguintes de intensa atividade arqueológica ainda não conseguiram revelar nem 
sequer um exemplar convincente de espécie transicional necessária.33
Citando o eminente evolucionista Stephenjay Gould, de Harvard, Johnson diz que 
duas características do acervo de fósseis são incompatíveis com a idéia de mudança 
gradual ao longo das gerações:
1. Estase. A maioria das espécies não exibe mudanças direcionais durante a sua vida na 
terra. Já surgem no acervo de fósseis com forma extremamente semelhante àquela de 
quando desaparecem; a mudança morfológica é geralmente limitada e adirecional.
2. Aparecimento súbito. Em qualquer região delimitada, uma espécie não surge gra­
dualmente pela contínua transformação dos seus ancestrais; surge de repente e “inte­
gralmente formada”.34
Tão com plicado é esse problem a para a tese darw iniana que muitos cientistas 
defensores da teoria evolutiva propõem hoje que a evolução ocorreu em saltos súbitos 
rumo a novas formas de vida - de modo que cada uma das trinta e duas ordens conhe­
cidas de mamíferos, por exemplo, tenha surgido de repente na história da Europa.3 5
Mas como é que centenas ou milhares de mudanças genéticas poderiam surgir de 
repente? Explicação nenhuma se deu a não ser dizer que isso deve necessariamente ter 
acontecido, porque aconteceu. (Um rápida olhada nas linhas pontilhadas em qualquer 
livro didático atual de biologia, mostrando as supostas transições de um a espécie de 
animal a outra, indicam a natureza das lacunas ainda não preenchidas após 130 anos de 
investigação.) A importância desse problema é demonstrada veementemente num livro 
recente de um autor não cristão, Michael Denton: Evolution: A Theory in Crisis?6 O próprio 
Denton não propõe nenhuma explicação alternativa para o surgimento da vida na terra 
na sua forma atual, mas observa que desde a época de Darwin
nenhum dos dois axiomas fundamentais da teoria macroevolutiva de Darwin — o 
conceito de continuidade da natureza, ou seja, a idéia de um continuum funcional 
de todas as formas de vida ligando todas as espécies e em última análise 
remontando a uma única célula primeva; e a crença em que o projeto adaptador 
da vida resultou de um cego processo aleatório - foi validado por nenhuma 
descoberta empírica nem nenhum avanço científico desde 1859.37
5. As estruturas moleculares dos organismos vivos mostram de fato semelhanças, mas 
os darwinistas simplesmente pressupõem que essas semelhanças implicam ancestralidade 
comum, alegação que certam ente não foi com provada. Além disso, há espantosas 
diferenças moleculares entre os seres vivos, e até hoje não se formulou nenhum a ex­
plicação satisfatória para a origem dessas diferenças.3 8
Logicamente, a semelhança de constituição em qualquer nível (inclusive níveis 
superiores ao molecular) muitas vezes é usada como argumento a favor da evolução. A 
suposição dos evolucionistas é que a semelhança de constituição entre duas espécies 
im plica que as espécies “inferiores” evoluíram até as “superiores”, mas jam ais se 
apresentou prova dessa pressuposição. Gleason Archer ilustra muito bem isso, supondo
216
(15) A Criação
que uma pessoa vá visitar um museu científico e industrial e encontre uma exposição de 
como o ser humano evoluiu a partir de criaturas simiescas até alcançar finalmente o 
estágio do homem moderno, passando por fases de aparência progressivamente mais 
humanas. Mas, com muita propriedade, ele observa que
uma continuidade de constituição básica não fornece prova nenhuma de que uma 
espécie “inferior” evoluiu até a espécie imediatamente “superior” por algum tipo 
de dinâmica interna, como exige a evolução. Pois se essa pessoa visitasse outra 
seção desse museu científico e industrial, encontraria uma série absolutamente 
análoga de automóveis, que começa em 1900 e se estende até a década atual. 
Estágio a estágio, fase a fase, ele poderia traçar o desenvolvimento do Ford do 
primeiro protótipo do modelo T até o grande e luxuoso LTD dos anos 70.3 9
Logicamente, uma explicação muito melhor para as semelhanças dos vários modelos 
de automóveis da Ford é o fato de um projetista inteligente (ou um grupo de projetistas 
inteligentes) ter usado estruturas semelhantes em automóveis sucessivamente mais 
complexos — se um mecanismo de direção funciona bem num modelo, não haveria 
necessidade de inventar um tipo diferente de mecanismo de direção para outro modelo. 
Do mesmo modo, as semelhanças de constituição entre todos os seres vivos podem ser 
tidas como prova da ação de um magistral artífice inteligente, o próprio Criador.
6. Provavelmente a maior dificuldade de toda a teoria evolutiva seja explicar como 
a vida pode ter principiado. A geração espontânea mesmo do mais simples organismo 
capaz de vida independente (a célula das bactérias procariotes) a partir de materiais 
inorgânicos na terra não pode ter acontecido pela combinação aleatória de substâncias 
químicas: é algo que exige desígnio inteligente e engenhosidade tão complexa que nem 
mesmo o mais avançado laboratório científico do mundo conseguiu fazê-lo. Johnson cita 
uma metáfora hoje famosa: “Um organismo vivo surgir por acaso a partir de um caldo 
pré-biótico é mais ou menos tão provável quanto ‘um tornado varrer um ferro-velho e 
montar um Boeing 747 com o material ali existente’. A montagem aleatória não passa de 
uma forma naturalista de dizer ‘milagre’”.40
Num plano mais sensato, um exemplo simples demonstrará a mesma coisa. Se eu 
pegasse meu relógio de pulso digital, o entregasse a alguém e dissesse que o encontrei 
perto de um a m ina de ferro no norte do estado americano de Minnesota, e que eu 
acreditava que o relógio surgira por si mesmo, simplesmente pela ação do movimento 
aleatório e das forças ambientais (mais alguma energia oriunda de raios, quem sabe), 
imediatamente seria tido como louco. Porém, qualquer uma das células vivas da folha de 
uma árvore, ou qualquer célula do corpo humano, é milhares de vezes mais complexa 
do que o meu relógio digital. Mesmo levando em conta 4,5 bilhões de anos, a “chance” 
de sequer uma única célula viva surgir espontaneamente é, para todos os efeitos, zero.
De fato, já se fizeram algumas tentativas de calcular a possibilidade de que a vida 
tenha nascido assim espontaneamente. Kofahl e Segraves fornecem um modelo estatístico 
no qual partem de uma suposição bastante generosa: que cada metro quadrado da 
superfície da terra estivesse de algum modo coberto de 43 quilos de moléculas de proteína 
que poderiam se combinar livremente, e que essas moléculas fossem substituídas por 
proteína nova todo ano ao longo de um bilhão de anos. Os autores então estimam a
217
(15) A Doutrina de Deus
probabilidade de que sequer uma única molécula de enzima se desenvolvesse a cada um 
bilhão de anos da história da terra. A probabilidade é 1,2 vezes 1011, ou uma chance em 
80 bilhões. Observam eles, entretanto, que mesmo com as generosas suposições e a 
substituição da proteína a cada ano ao longo de bilhões de anos, encontrar uma única 
molécula de enzima - tarefa praticamente impossível - não resolveria de modo nenhum 
o problema:
A probabilidade de encontrar duas moléculas ativas seria de cerca de 1022, e a 
probabilidade de que fossem idênticas seria de 1070. Mas será que a vida poderia 
partir de apenas uma molécula de enzima? Além do mais, qual a probabilidade de 
que uma molécula ativa de enzima, uma vez formada, pudesse avançar ao longo 
de milhares de milhas e milhões de anos até a molécula de RNA ou DNA 
aleatoriamente formada que contém o código da seqüência de aminoácidos dessa 
molécula enzimática específica, de modo que se pudessem reproduzir novas cópias 
dela? Para todos os efeitos, zero.41
Kofahl e Segraves relatam um estudo de um cientista evolucionistaque formulou um 
modelo de cálculo da probabilidade da formação, não somente de uma molécula de 
enzima, mas do menor organismo vivo possível por meio de processos aleatórios. Ele 
chega à probabilidade de uma chance em IO340 000 000 - ou seja, uma chance em cada 
número representado por 10 seguido de 340 milhões de zeros! Mas observam Kofahl e 
Segraves: “Assim mesmo o dr. Morowitz e seus colegas evolucionistas ainda acreditam que 
isso aconteceu!”42
Se alguém me pedisse para confiar a minha vida a uma viagem de avião e depois 
explicasse que a companhia aérea completava seus vôos com segurança uma vez a cada 
2Q34o.ooo.ooo _ ou mesmo uma em cada 80 bilhões de vezes - , eu certamente não pisaria a 
bordo, nem ninguém que tivesse a cabeça no lugar. Porém é trágico perceber que a 
opinião geral, perpetuada em muitos livros didáticos de ciência hoje, de que a evolução 
é uma “verdade” estabelecida continua a convencer muita gente de que não se pode 
considerar a completa fidelidade da Bíblia como ponto de vista intelectualmente aceitável 
para pessoas responsáveis e sensatas. O mito de que a “evolução desmentiu a Bíblia” 
persiste e evita que muita gente considere o cristianismo como opção válida.
Mas e se algum dia a vida for realmente “criada” em laboratório pelos cientistas? E 
importante compreender aqui o que isso significa. Primeiro, não seria “criação” no sentido 
puro da palavra, pois toda experiência de laboratório parte de algum tipo de matéria 
previamente existente. Não seria uma explicação da origem da matéria em si, nem a 
espécie de criação que, segundo a Bíblia, Deus realizou. Segundo, a maior parte das 
tentativas contemporâneas de “criar vida” são na verdade passos bem acanhados no 
gigantesco processo de, partindo de materiais não vivos, chegar a um organismo vivo 
independente, mesmo que formado de uma única célula. A construção de uma molécula 
de proteína ou de um aminoácido de modo nenhum se aproxima da complexidade de 
uma única célula viva. Mas, acima de tudo, o que ficaria demonstrado se o esforço coletivo 
de m ilhares dos cientistas mais inteligentes do m undo, usando os equipam entos 
laboratoriais mais caros e sofisticados, e trabalhando ao longo de várias décadas, 
realmente chegar a produzir um organismo vivo? Será que isso “provaria” que Deus não
218
(15) A Criação
criou a vida? Bem o contrário: demonstraria que a vida simplesmente não surge por acaso, 
mas precisa ser criada deliberadamente por um arquiteto inteligente. Pelo menos em 
teoria, não é impossível que seres humanos, criados à imagem de Deus e usando a 
inteligência recebida de Deus, possam um dia criar um organismo vivo a partir de 
substâncias não vivas (embora a complexidade da tarefa ultrapasse de longe qualquer 
tecnologia existente hoje). Mas isso demonstraria apenas que Deus nos fez semelhantes 
a ele - que na pesquisa biológica, como em muitos outros aspectos da vida, nós podemos, 
de modo bem limitado, imitar a ação divina. Toda pesquisa científica nessa direção deve 
de fato ser realizada com base no respeito pelo Criador e com gratidão pela capacidade 
científica com que ele nos agraciou.
Muitos cientistas incrédulos viram-se tão influenciados pela força cumulativa das 
objeções erguidas contra a evolução que passaram a defender abertam ente novos 
caminhos para um ou outro aspecto do proposto desenvolvimento evolutivo dos seres 
vivos. Francis Crick, vencedor do prêmio Nobel por ter ajudado a descobrir a estrutura 
das moléculas de DNA, propôs em 1973 que a vida pode ter sido enviada para cá por uma 
espaçonave de um p lane ta d istan te , teo ria que C rick batizou de “P ansperm ia 
Direcionada”.43 Para este autor, é irônico que cientistas brilhantes defendam teoria tão 
fantástica sem sequer um farrapo de evidência a seu favor, ao mesmo tempo rejeitando 
a explicação direta dada pelo único livro da história do mundo que jamais foi desmentido, 
que tem transformado a vida de milhões de pessoas, que sempre se revelou força maior 
para o bem do que qualquer outro livro da história do mundo, e no qual muitos dos mais 
inteligentes estudiosos de cada geração têm acreditado plenamente. Por que pessoas 
notavelmente inteligentes abraçam crenças que parecem tão irracionais? Parece até que 
se dispõem a crer em qualquer coisa, menos no Deus pessoal das Escrituras, que nos 
convoca a abandonar o orgulho, a nos humilhar diante dele, a pedir o seu perdão pela 
desobediência aos seus parâmetros morais e a nos submeter ao seus mandamentos morais 
pelo resto de nossa vida. Recusar-se a fazê-lo é irracional, mas, como veremos no capítulo 
sobre o pecado, todo pecado tem, em última análise, base irracional.
Outras contestações à teoria da evolução foram publicadas nos últimos vinte ou trinta 
anos, e sem dúvida muitas mais ainda virão. Só podemos esperar que a comunidade 
científica não demore demais a reconhecer publicamente a implausibilidade da teoria 
evolutiva e que os livros didáticos escritos para alunos de segundo e terceiro graus não 
tardem a reconhecer abertamente que a evolução simplesmente não é uma explicação 
satisfatória da origem da vida na terra.
(2) As influências destrutivas da teoria da evolução no pensamento moderno:
E importante compreender as influências incrivelmente destrutivas que a teoria da 
evolução exerceu sobre o pensamento moderno. Se de fato a vida não foi criada por Deus, 
e se os seres humanos em especial não foram criados por Deus nem estão submetidos a 
ele, mas são apenas resultado de eventos aleatórios do universo, então qual a importância 
da vida humana? Não passamos então de meros produtos de matéria, tempo e acaso, e 
portanto crer que temos alguma importância eterna, ou na verdade qualquer importância, 
por mínima que seja, diante de um universo imenso, é simplesmente ilusão. A reflexão 
sincera sobre essa idéia deve levar as pessoas a um profundo sentimento de desespero.
219
(15) A Doutrina de Deus
Além disso, se toda a vida pode ser explicada pela teoria da evolução, inde­
pendentem ente de Deus, e se não há um Deus que nos criou (ou pelo menos se não 
podemos saber nada sobre ele com certeza), então não há um Juiz supremo que nos faça 
moralmente responsáveis. Portanto não existem regras morais absolutas na vida humana, 
e as idéias morais das pessoas não passam de preferências subjetivas, boas para elas talvez, 
mas que não devem ser impostas aos outros. Na verdade, nesse caso a única coisa proibida 
é dizer que se sabe que determinadas coisas são certas e determinadas coisas são erradas.
Mas a teoria evolutiva traz outra conseqüência nefasta: se os inevitáveis processos da 
seleção natural continuam a introduzir aperfeiçoamentos nas formas de vida na terra pela 
sobrevivência dos mais aptos, então por que devemos impedir esse processo cuidando 
dos fracos ou m enos capazes de se defender? Não seria m elhor então deixar que 
morressem sem se reproduzir, para que assim avançássemos rumo a uma forma nova e 
superior de humanidade, quem sabe uma “raça dominante”? De fato, Marx, Nietzsche 
e Hitler justificavam a guerra com esse argumento.4 4
Ademais, se os seres humanos estão continuamente evoluindo para melhor, então a 
sabedoria das gerações anteriores (e especialmente das crenças religiosas anteriores) 
provavelmente não é tão valiosa quanto o pensamento moderno. Além disso, o efeito da 
evolução darwiniana sobre as opiniões das pessoas a respeito da confiabilidade das 
Escrituras tem sido negativo.
As teorias sociológicas e psicológicas contemporâneas que vêem os seres humanos 
meramente como formas superiores de animais são outro resultado do pensamento 
evolucionista. E os extremismos do moderno movimento pelos “direitos dos animais”, que 
se opõe ao abate de animais (para a alimentação, para fazer casacos de couro ou para a 
pesquisa médica, por exemplo), também derivam naturalmente do pensamento evo­
lucionista.
d. A teoria do “intervalo” entre Gênesis 1.1 e 1.2. Alguns evangélicos propõem 
que existe um intervalo de milhões

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