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SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
1.0 - INTRODUÇÃO 03 
 
 
2.0 - CONCEITO E MODALIDADES DE TRANSPLANTE 04 
 
 
3.0 - HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES 
07 
 
 
4.0 - TRANSPLANTE E DIREITO DA PERSONALIDADE 
10 
 
5.0 - QUESTÕES ÉTICO-JURÍDICAS 12 
 
 
6.0 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 14 
 
 
7.0 - PERFIL JURÍDICO DOS TRANSPLANTES 20 
 
 
8.0 - MERCADO DE ÓRGÃOS E TECIDOS HUMANOS 26 
 
 
9.0 - ASPECTOS POLÊMICOS DA LEI 9.434/97 28 
 
 
10.0 – CONCLUSÃO 33 
 
 
11.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35 
 
 
2
 
 
1.0 – INTRODUÇÃO 
 
Nos últimos anos, a medicina evoluiu, de maneira acelerada, com maior 
velocidade do que a ocorrida em épocas precedentes. Avanços tecnológicos, 
desenvolvimento de técnicas biomédicas, surgimento de novos tratamentos, 
este é o cenário do desenvolvimento progressivo em torno da ciência médica. 
Desta forma, técnicas científicas de transplante de material orgânico 
semelhante foram desenvolvidas, visando dar continuidade à vida natural. 
O transplante é, sem dúvida, a esperança para milhares de pessoas 
com insuficiências orgânicas terminais, uma oportunidade de prolongar a vida, 
que necessita do consentimento da população, a fim de evitar empecilhos para 
a doação. 
No Brasil, o desenvolvimento de técnicas de transplante, resultou na 
necessidade de ter a matéria disciplinada através do ordenamento jurídico, 
emergindo a Lei nº 9.434/1997, regulamentada pelo Decreto nº 2.268/1997, 
com alterações previstas na Lei nº 10.211/2001, dispondo sobre a doação de 
órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e 
tratamento. 
No entanto, a produção normativa não consegue evoluir na mesma 
velocidade dos avanços das ciências da vida, surgindo problemas de origem 
ético-jurídicas, disciplinadas pela bioética, a ética da vida, que discute e coloca 
limites aos avanços médicos. 
Neste contexto, o presente estudo fornece análises acerca do 
desenvolvimento histórico-evolutivo dos transplantes de órgãos e tecidos, sua 
importância, os problemas éticos envolvidos, a legislação brasileira e as 
questões polêmicas, visando uma explanação teórica sobre um tema que tem 
como finalidade precípua salvar vidas humanas. 
 
 
 
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2.0 – TRANSPLANTE: CONCEITO E MODALIDADES 
 
“Transplante é muito mais do que uma simples cirurgia. É um 
procedimento que envolve a mais conexão entre seres humanos”. James F. 
Burdick 
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na amputação 
de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado, etc.) ou tecido (medula 
óssea, ossos, córneas, etc.), com função própria, de um organismo (doador) 
para ser instalado em outro (receptor), exercendo as mesmas funções. 
A doação de órgãos e tecidos pode ser realizada “post mortem”, quando 
diagnosticada morte encefálica (lesão irrecuperável do cérebro; é a parada 
definitiva e irreversível do encéfalo (cérebro e tronco cerebral)); e “inter vivos”, 
em caso de órgãos duplos (rim, pulmão) e regenerativos (fígado), sendo que 
este último é doado apenas uma parte do órgão. 
Já o enxerto é a divisão de uma parte do organismo, para instalação nos 
mesmo organismo ou em outro, com fins estéticos e terapêuticos, sem função 
autônoma. Há teóricos que não fazem distinção entre transplante e enxerto, 
considerando ambos uma intervenção cirúrgica em que introduz no corpo do 
receptor um órgão / tecido retirado do doador. 
Ademais, o implante é a introdução no corpo do receptor de tecidos 
mortos ou conservados, como é o caso de implante de cabelo. E reimplante é a 
reintegração ao corpo humano de partes traumaticamente dele separados, 
como dedos, orelha, nariz, couro cabeludo, etc. 
A lei brasileira (9.434/97) que dispõe sobre a remoção de órgãos, 
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, no 
artigo 2º, não distingue transplante de enxerto, então, neste estudo, é 
empregado os dois termos sem diferença, entendendo como a transferência, 
 
 
4
 
através de cirurgia, de órgão / tecidos na mesma pessoa, entre mais de uma, 
ou, ainda, entre uma pessoa e um animal. Sendo assim, dá-se a seguinte 
classificação, segundo Maria Helena Diniz (Bioética): 
- Autotransplante / Auto-enxerto: a transferência de órgão ou tecido é 
realizada de uma parte do corpo humano para outra parte, na mesma pessoa, 
como a pele, ossos, veias, etc. É o caso da operação de “ponte de safena”, em 
que a safena é retirada da perna do paciente e instalada em benefício ao 
coração. O autotransplante é realizado com a autorização da própria pessoa, 
registrada no prontuário médico, ou com a de seus pais ou responsável legal, 
se for juridicamente incapaz (Lei 9.434/97, art. 9º, § 8º); 
- Isotransplante: é o transplante de órgãos e tecidos entre gêmeos 
univitelinos, ou seja, entre pessoas com a mesma característica genética; 
- Alotransplante: é o transplante entre doador, vivo ou morto, e receptor, 
que não possuem características genéticas idênticas; 
- Xenotransplante: é a transferência de órgão / tecido entre diferentes 
espécies (entre um cão e um porco; entre um coelho e uma pessoa). 
Qualquer uma dessas modalidades de transplante, somente poderá ser 
realizada em pacientes com doenças progressivas ou incapacitantes, 
irreversível por outras terapias; e, ainda, o médico deverá levar em 
consideração, fundamentalmente, os seguintes aspectos: o paciente não 
sobreviverá sem o transplante? O receptor não tem outros problemas de saúde 
que inviabilizem o transplante? O candidato tem condições para assumir um 
estilo de vida que inclui o uso contínuo de medicamentos e freqüentes exames 
laboratoriais e hospitalares após o transplante? 
Esse tratamento, de acordo com o artigo 2º da Lei 9.434/97, “... só 
poderá ser realizado por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por 
equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados 
pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde (SUS)”. Ademais, a 
autorização para tal tratamento dar-se-á após a realização, no doador, de 
todos os testes de triagem para diagnóstico de infecções e infestações exigidos 
 
 
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em normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde, principalmente 
em relação ao sangue. Não serão transplantados tecidos órgãos e partes do 
corpo humano de portadores de doenças que constem de listas de exclusão 
expedidas pelo órgão central do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). O 
transplante dependerá, ainda, dos exames necessários à verificação de 
compatibilidade sanguínea e histocompatibilidade com o organismo de receptor 
inscrito em lista de espera, nas Centrais de Notificação, Captação e 
Distribuição de Órgãos (CNCDOs) – Decreto nº 2.268/97, artigo 24, § 1º ao 3º. 
Vale salientar que entre os tecidos a que se refere o artigo 1º da Lei 
9.434/97, não estão compreendidos o sangue, o esperma e o óvulo (Parágrafo 
Único). 
 
3.0 – HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES 
 
Analisando o contexto histórico-evolutivo dos transplantes, observa-se 
que a transferência de um organismo vivo para o outro é um procedimento que 
alude aos períodos da antiguidade. 
Alguns historiadores fazem referência, na mitologia, a antecedentes de 
xenotransplantes, como o minotauro (homem com cabeça de touro), a esfinge 
(leão com cabeça de mulher), e têm, como sugestão de referência mais antiga 
de transplante, como sendo a criação da mulher (Eva) a partir da costela de um 
homem (Adão) – e Deus cria Eva a partir da costela de Adão... 
Há 300 anos antes de Cristo, a tradição chinesa aponta o primeiro 
transplante de órgãos, realizado pelo cirurgião Pien Chiao, entre dois irmãos. 
Pesquisas arqueológicas realizadas no Egito, Grécia, Roma e América pré-
Colombiana, registram transplantes de dentes. Na Era Medieval (280 d.C.), os 
santos médicos gêmeos Cosme e Damião, considerados “patronos dos 
transplantes”, fizeram um transplante da perna de um doadormorto, negro, 
para um paciente branco. Conta a lenda que esses santos foram ao cemitério e 
 
 
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encontraram um único cadáver utilizável, que era negro e etíope, deixando de 
lado qualquer problema racial. Por esse e outros milagres, Cosme e Damião 
foram elevados à categoria de santos da Igreja Católica. 
Em 1905, o cirurgião austríaco, Dr. Edward Zirm, realizou a primeira 
cirurgia de transplante de córneas em humanos. Em 1913, no Japão, um rim de 
um macaco é transplantado para uma menina com envenenamento por 
mercúrio. 
Na década de 1950, nos Estados Unidos e França, ocorreram as 
primeiras experiências de transplante de rim, sem imunossupressão. O maior 
obstáculo não era a técnica do transplante, mas a rejeição do organismo do 
receptor. 
Somente após adoção de procedimentos desenvolvidos pela ciência 
médica (anestesia, antissepsia, refinamento de instrumentos, técnicas de 
imunologia, do conhecimento dos mecanismos de rejeição, aperfeiçoamento de 
drogas imunossupressoras, etc.), que se pode assimilar o transplante de órgão 
e tecidos como um método científico. 
Assim, em 1954, aconteceu a primeira cirurgia de transplante de rim que 
obteve sucesso, realizado por David Hume, em Boston. 
Em 1957, o médico holandês-americano, Willen Kolff, inventa o coração 
artificial. Em 1962, acontece o primeiro transplante com doador morto. Em 
1963, é tentado o primeiro transplante de fígado em humano. 
Em 1964, foi realizado o primeiro transplante renal no Brasil com doador 
morto, no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, quando um 
jovem de dezoito anos, portador de pielonefrite crônica recebeu o órgão de 
uma criança de nove meses, portadora de hidrocefalia. 
Já em 1965, foi realizado o primeiro transplante renal no Brasil com 
doador vivo, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo, peal equipe chefiada por Emil Sabbaga. 
 
 
7
 
Esse tipo de intervenção cirúrgica ganhou destaque mundial apenas em 
03 de dezembro de 1967, quando Christian Barnard, na cidade do Cabo (África 
do Sul), realizou o primeiro transplante cardíaco, retirado de uma mulher, 
branca, de 25 anos, morta em um acidente automobilístico, e implantado no 
peito de um dentista negro. 
No Brasil, em 26 de maio de 2968, foi realizado o primeiro transplante 
cardíaco, por Euríclides Zerbini, no Hospital das Clínicas da Universidade de 
São Paulo, sendo, também, o primeiro transplante de coração da América 
Latina. O receptor, um boiadeiro goiano, sobreviveu dezoito dias e morreu em 
decorrência da rejeição. 
Em 05 de agosto de 1968, é realizado, pela equipe do cirurgião Marcel 
Cerqueira César, o primeiro transplante de fígado no Brasil. Já o primeiro 
transplante de pulmão neste país e na América Latina, aconteceu em 16 de 
abril de 1989, na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, realizado pelo 
cirurgião José Camargo. 
Em julho de 1999 é implantado o primeiro coração elétrico no Brasil, 
pela equipe do Dr. Ivo Nesralla, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do 
Sul. O receptor, na época, viveu mais de dois anos com o coração artificial, 
quando, então, recebeu um coração natural. 
Há pouco tempo, em 2000, aconteceu o primeiro transplante de intestino 
no Brasil, através do Programa de Transplante de Fígado e Intestino da Santa 
Casa de Misericórdia de São Paulo, pela equipe chefiada por Maurício Iasi. O 
receptor foi uma criança que recebeu o intestino delgado de outra criança. 
 
4.0 – TRANSPLANTE E DIREITO DA PERSONALIDADE 
 
Os direitos da personalidade podem ser divididos em direitos à 
integridade física (direito à vida, direito sobre o próprio corpo, direito ao 
 
 
8
 
cadáver) e em direitos à integridade moral (direito a honra, direito à liberdade, à 
privacidade, à imagem, etc.). 
O direito sobre o próprio corpo, com o avanço no desenvolvimento da 
ciência, torna-se vulnerável a questionamentos, como a indisponibilidade de 
partes do corpo, em vida. É o caso de doação de órgãos para transplantes; 
cirurgias de caráter estético, eliminando partes integrantes do organismo; 
implante de partes inexistentes anteriormente na pessoa. Já as questões 
relativas à disposição de partes do cadáver, como a integridade, ganham 
novos contornos com a legislação específica, envolvendo até o direito da 
família do falecido sobre o cadáver. 
As partes separadas do corpo, vivo ou morto, são bens da 
personalidade “extra commercium”, não podendo ser cedidas a título oneroso, 
conforme estabelecido no artigo 199, § 4º da CF, e artigo 1º da lei 9.434/97. 
Artigo 199, § 4º da CF: “A lei disporá sobre as condições e os requisitos 
que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de 
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e 
transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de 
comercialização”. 
Artigo 1º, lei 9.434/97: “A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes 
do corpo humano, em vida ou “post mortem”, para fins de transplante e 
tratamento, é permitida na forma desta Lei”. 
As partes separadas acidental ou voluntariamente do corpo são 
consideradas coisas e passam para a propriedade do seu titular, que delas 
pode dispor, gratuitamente, desde que não afete sua vida, não cause dano à 
sua integridade física, não acarrete perda de um sentido / órgão, tornando-o 
inútil para sua função natural, e tenha um fim terapêutico ou humanitário, 
conforme os artigos 13 e 14, CC. 
O artigo 13, CC, veda, a não ser por exigência médica, o ato de 
disposição do próprio corpo, se tal ato importar em diminuição permanente da 
integridade física ou contrariar os bons costumes. A exceção está no parágrafo 
 
 
9
 
único: para fins de transplante na forma de lei especial (lei 9.434/97, com 
alterações da lei 10.211/01), recepcionada pelo Código Civil. Em seu artigo 1º, 
como já foi visto, permite a disposição gratuita do corpo humano, em vida ou 
pós-morte, para fins de transplante ou tratamento. 
Observando a lei 9.434/97, no seu artigo 9º, § 3º ao 8º, fica claro que 
são vários os requisitos para que a disposição do próprio corpo aconteça. O 
Código Civil traça somente as diretrizes gerais, vetando a disposição do corpo 
e estabelecendo exceções genéricas regulamentadas pela Lei de 
Transplantes. 
Como complemento, o artigo 14 CC, contempla a disposição do próprio 
corpo para depois da morte, desde que seja para fins científicos ou altruísticos 
e de forma gratuita. Seu parágrafo único garante a possibilidade de revogação 
desse ato a qualquer momento. Tal artigo também prevê só a norma geral, 
deixando à lei especial a fixação das exceções que permitam uma contribuição 
positiva para além da morte. Assim, o artigo 4º da lei 9.434/97, com redação 
dada pela lei 10.211/01, dispõe quanto à legitimação, além da inerente ao 
próprio falecido, atribuída ao cônjuge ou parente até quarto grau, mediante 
documento escrito formal, subscrito por duas testemunhas presentes à 
verificação da morte. 
 
5.0 – QUESTÕES ÉTICO-JURÍDICAS 
 
Técnicas biomédicas inovadoras, avanços tecnológicos, conquistas 
científicas, fazem parte da evolução da ciência médica. Uma dessas conquistas 
foi, sem dúvida, o transplante de órgãos e tecidos, objetivando dar 
continuidade a vida natural do paciente. Porém, apesar de ter sido uma notável 
conquista científica, ainda apresenta alguns obstáculos a serem vencidos, 
devido às questões ético-jurídicas que envolvem a experimentação do corpo 
humano, desencadeando impactos na realidade social. 
 
 
10
 
O desenvolvimento dessa técnica resultou na necessidade de 
disciplinamento jurídico da matéria, emergindo, então, no caso do Brasil, as 
Leis 9.434/97 e 10.211/01, que regulamentam a doação de órgãos, tecidos e 
partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Porém, a 
evolução das ciências da vida é muito maior que a evolução da produçãonormativa, necessitando de adaptação às novas realidades. Surge, portanto, a 
Bioética (ética da vida), que busca colocar limites ao avanço desenfreado da 
ciência e das técnicas biomedicais. 
Muitos são os problemas de natureza ético-jurídicos, gerando uma série 
de indagações, tais como: se o corpo humano é inviolável, como admitir o 
transplante? Há liberdade de disposição da pessoa sobre seu corpo? Seria 
ético dispor, gratuita ou onerosamente, de partes do próprio corpo? Quais os 
sinais que permitiriam decretar a morte encefálica sem margem de erro? Não 
poderia suceder a retirada de órgãos de pessoa que, na realidade, ainda não 
estava morta? Qual a responsabilidade da equipe médico-cirúrgica? 
Deste modo, os transplantes refletem questões éticas relativas à 
experimentação do corpo humano, às decisões políticas relacionadas com a 
saúde, e questionam os limites do conceito da dignidade humana. 
Então, buscando uma maior segurança para essas intervenções 
cirúrgicas e o respeito à dignidade humana, podem ser apontadas algumas 
recomendações: 
Os transplantes devem ser a última alternativa para o paciente, não 
havendo nenhuma outra possibilidade de salvar a vida, por serem cirurgias de 
alto risco; 
A equipe médico-cirúrgica deverá ter muita experiência, tendo, inclusive, 
grande conhecimento no emprego da terapêutica imunológica, para evitar a 
rejeição; 
Formação de equipes especializadas para cuidar do paciente antes e 
depois da cirurgia, de forma adequada e eficiente; 
 
 
11
 
O diagnóstico da morte do doador deve ser seguro e certo; 
A finalidade principal do transplante é o bem-estar do paciente; 
A eleição do doador deve se basear nas condições perfeitas do órgão / 
tecido doado e no estudo imunológico da sua compatibilidade com o receptor; 
Inexistência de discriminação na escolha do receptor; 
Consentimento do doador ou de seu representante legal, se for incapaz; 
Consentimento livre e esclarecido do receptor, sendo impossível dispor 
de sua vida, obrigando-o a aceitar a terapêutica sem informá-lo dos riscos 
operatórios, das possibilidades de êxito e da possível duração de sua 
sobrevivência. Sendo incapaz, cabe ao representante legal anuir na 
intervenção cirúrgica; 
 Boa preparação psicológica do receptor e doador (intervivos); 
 Gratuidade na doação de órgãos e tecidos, para que não haja o 
comércio de órgãos e tecidos humanos; 
 Garantia de sigilo, sendo, em alguns casos, mantido o anonimato do 
doador; 
 Imposição de responsabilidade civil e penal da equipe médico-cirúrgica 
pelos danos advindos ao doador e ao receptor, mesmo que tenha havido 
anuência destes. 
 
 
 
6.0 – TRANSPLANTES NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 
 
A remoção de órgãos e tecidos e partes do corpo humano para fins de 
transplante e tratamento é regida pela Lei 9.434/97, de 4 de fevereiro de 1997, 
regulamentada pelo Decreto n. 2.268, de 30 de junho de 1997, e alterada pela 
 
 
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Lei n. 10.211/2001, que revogou a Lei n. 8.489/92 e o Decreto n. 879/93. Esta 
Lei introduziu muitas modificações em nosso ordenamento jurídico, como 
também deram origem a polêmicas. Dentre os vários pontos abordados nessa 
legislação destacamos alguns. 
a) A doação presumida de órgãos e tecidos, com efeito post mortem, 
mediante diagnóstico de morte encefálica, conforme critérios estipulados pela 
resolução n. 1.480/97 do Conselho Federal de Medicina, não mais existe no 
direito brasileiro por força da redação dada ao art. 4º da Lei n. 9.434/97 pela 
Lei n. 10.211/2001. A morte encefálica, para a retirada de órgãos para fins de 
transplante, deverá ser comunicada pela instituição hospitalar à Central de 
Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) se sua respectiva 
unidade da Federação (art. 18 do Dec. n. 2.268/97). 
b) O doador, em transplante post mortem, será aquele em que em 
vida não manifestar vontade contrária, ou aquele cujo cônjuge ou parente em 
linha reta ou colateral até o 2º grau, consentir a retirada de seus órgãos (art. 4º 
da Lei n. 9.434/97, com redação da Lei n. 10.221/2001). Logo não deverá 
existir Carteiras de Identidade ou de Motorista com expressão “não doador de 
órgão e tecido”. 
c) A doação de órgão e tecidos inter vivos é permitida a qualquer 
pessoa capaz, desde que se trate de órgão duplo, como os rins ou partes 
regeneráveis do corpo humano que não coloque em risco sua vida ou 
integridade física e desde que não comprometam suas funções vitais. Com a 
revogação da Lei n. 8.489/92 que só admitia a doação entre parentes mais 
próximos ou com autorização judicial, com fins de impedir a comercialização. A 
nova legislação ao retirar essas exigências, poder-se-ia ter uma brecha para o 
mercado de estruturas humanas. Por isso o art. 9º da Lei 9.434/97, com 
redação da Lei 10.211/2001, permite que pessoas capazes disponham 
gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo para fins 
terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até 
 
 
13
 
o 4º grau, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, 
dispensando essa relação à medula óssea. 
d) A gratuidade da doação de órgãos e tecidos. 
e) A organização de um Sistema Nacional de Transplante (SNT), que 
deverá desenvolver o processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e 
partes retiradas do corpo humano para finalidade terapêutica (Dec. n. 2.268/97, 
arts. 2º a 5º), sendo que os CNCDOs, suas unidades executoras, terão a 
incumbência de (Dec. n. 2.268/97, arts. 6º e 7º): coordenar as atividades de 
transplantes no âmbito estadual; promover as inscrições potenciais receptores, 
com todas as indicações necessárias à sua rápida localização e a verificação 
de compatibilidade do respectivo organismo para o transplante ou enxerto de 
tecidos, órgãos e partes disponíveis que necessite; classificar os receptores e 
agrupá-los segundo as indicações legais, em ordem estabelecida pela data de 
inscrição, fornecendo-se-lhes o necessário comprovante; comunicar ao órgão 
central do SNT as inscrições que efetuar para organização da lista nacional de 
receptores; receber notificação de morte encefálica ou outra que enseje a 
retirada de tecidos, órgãos e partes para transplante, ocorrido em sua área de 
atuação; encaminhar e providenciar o transporte de tecidos, órgãos e partes 
retiradas ao estabelecimento de saúde autorizado em que se encontra o 
receptor ideal; notificar o órgão central do SNT de tecidos órgãos e partes não 
aproveitáveis entre os receptores inscritos em seus registros, para a utilização 
dentre os relacionados na lista nacional; encaminhar relatório anual ao órgão 
central do SNT sobre o desenvolvimento das atividades, de transplante em sua 
área de atuação; exercer controle e fiscalização sobre as atividades de que 
trata o Dec. n. 2.268/97; aplicar penalidades administrativas por infração as 
disposições da Lei n. 9.434/97, observando o devido processo legal, 
assegurando ao infrator o direito a ampla defesa, como os recursos a ela 
inerentes e, em especial, as disposições daquela lei; suspender, 
cautelarmente, pelo prazo de 60 dias, estabelecimentos e equipes 
especializadas antes ou no curso do processo de apuração de infração que 
tenha cometido, se, pelos indícios conhecidos, houver fundadas razões de 
 
 
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continuidade de risco de vida ou de agravo intoleráveis à saúde das pessoas; 
comunicar a aplicação da penalidade ao órgãos central do SNT, que a 
registrará para consulta quanto as restrições estabelecidas no § 2º do art. 21 
da Lei 9.434/97 e cancelamento, se for o caso, da autorização concedida; 
acionar o MP do Estado e outras instituições públicas competentes para 
reprimir ilícitos cuja apuração não esteja compreendida no âmbito de sua 
atuação. 
f) O credenciamento do CNCDOs, concedido a titulo precário, 
requerendo revalidação. A coordenação do SNT (CSNT) é que será 
responsável de credenciar, como CNCDOs, as unidadesdas Secretarias de 
Saúde dos Estados que atualmente controlam as atividades de procura, 
capitação e distribuição de órgãos e tecidos para transplante e enxerto.Estes 
credenciamentos serão feitos mediante solicitação das Secretarias dos Estados 
e dos Distrito Federal contendo as informações necessárias como: nome da 
unidade responsável; nome do responsável pela unidade, seu endereço 
funcional e numero de telefone; critérios de seleção dos receptores (sistema de 
lista única para cada tipo de órgão e tecido). 
g) A autorização a estabelecimentos de saúde e equipes 
especializadas para promoverem retiradas, transplante ou enxerto de órgãos e 
tecidos. 
 As autorizações para as equipes especializadas serão concedidas 
mediante apresentação das seguintes informações: nome do chefe da equipe; 
nome e função dos outros médicos pertencente à equipe; tipo de procedimento 
que a equipe se propõe; encaminhamento da solicitação pela Secretaria de 
Saúde do Estado com parecer conclusivo. 
As autorizações para estabelecimentos de saúde serão concedidas 
mediante as seguintes informações: nome, endereço, CGC e natureza do 
estabelecimento, conforme o Sistema de Informação Hospitalar do SUS, nome 
do diretor clinico, tipo de procedimento que se propõe o estabelecimento; 
 
 
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encaminhamento da solicitação pela Secretaria de Saúde do Estado, com 
parecer conclusivo. Essas autorizações serão concedidas a titulo precário 
A retirada de tecidos, órgão e partes e o seu transplante ou enxerto só 
poderão ser realizados por equipes especializadas e em estabelecimentos de 
saúde, público ou privado com a devida autorização do Ministério da Saúde. 
Essa terá validade pelo prazo de 2 anos, renovável por igual período e 
sucessivo; verificada a observância dos requisitos estabelecidos por lei. Tal 
renovação terá que ser requerida 60 dias antes de findo o prazo de vigência. 
Os estabelecimentos de saúde deverão contar com serviços e 
instalações adequadas à execução de retirada, transplante ou enxerto de 
tecidos, órgãos ou partes atendendo as mínimas exigências contidas no art. 9º, 
I a VII do Dec. n. 2.268/97. 
A composição das equipes especializadas deverá ser determinada em 
função do procedimento, mediante integração de profissionais autorizados na 
forma legal. Será exigível, no caso de transplante, a definição, em numero e 
habilitação de profissionais necessários a realização do procedimento, e não 
podendo a equipe funcionar na falta de algum deles. 
 Além da necessária habilitação profissional, os médicos, deverão 
instruir o pedido de autorização com certificado de pós-graduação em nível, no 
mínimo de residência médica ou titulo de especialista reconhecido no País e 
certidão negativa de infração ética, passada pelo órgão de classe em que for 
inscrito. 
h) Para a seleção de doadores de órgãos e tecidos é necessário a 
realização de todos os testes, de triagem para diagnosticar infecções e 
infestações exigidos em norma regulamentares expedidos pelo Ministério de 
Saúde (Lei 9.434/97, art. 2º, parágrafo único, e n. 7.649/88). Pelo Decreto n. 
2.268/97, arts. 25, I e II, 26 e parágrafo único, os prontuários deverão conter: 
no do doador morto, os laudos dos exames utilizados para a comprovação da 
morte encefálica e verificação da viabilidade da utilização dos tecidos, órgãos 
ou partes que lhe tenham sido retirados e, assim relacionados, bem como o 
 
 
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original ou copia autenticada dos documentos utilizado para sua identificação; 
e no do doador vivo, o resultado dos exames realizados para avaliar as 
possibilidades de retirada e transplante de órgãos e tecidos e partes doadas, 
assim como a comunicação, ao Ministério Público da doação efetuada. Os 
prontuários terão que ser mantidos pelo prazo de 5 anos nas instituições onde 
foram realizados os procedimentos que registram. Após este prazo, poderão 
ser confiados a responsabilidade da CNCDO do Estado de sede da instituição 
responsável pelo procedimento, devendo de qualquer modo, permanecer 
disponível pelo prazo de 20 anos para eventual investigação criminal. 
i) A lista única nacional de receptores, contendo todas as 
informações necessárias à busca, em todo o território nacional, de tecidos, 
órgãos e partes compatíveis com as suas condições orgânicas (arts. 4º, III,7º, II 
e III do Dec. n. 2.268/97; art. 33 e 38 da portaria n. 3.407/98 do Ministério da 
Saúde. Todos órgãos ou tecidos obtidos de doador cadáver que para sua 
destinação contarem com receptores em regime de espera deverão ser 
distribuídos segundo sistema de lista única. As inscrições dos pacientes dar-se-
á na CNCDO com atuação na área de sua residência, pela estabelecimento de 
saúde ou pela equipe responsável pelo seu atendimento. O paciente ao ser 
cadastrado no sistema de lista única, deverá receber do estabelecimento de 
saúde que encaminhou sua inscrição o comprovante de sua inclusão expedido 
pela CNCDO, bem como as explicações especificas sobre o critério de 
distribuição de órgão ou tecido ao qual se relaciona com o possível receptor. A 
data de inscrição da lista única é o referencial para o início do computo do 
tempo de espera. 
A inscrição em lista única de espera não confere com o pretenso 
receptor ou a sua família o direito subjetivo a indenização, caso o transplante 
não se realize em decorrência de alteração de estado de órgãos, tecidos e 
partes, que lhe seriam destinados, provocado por acidente ou incidente em seu 
transporte (art. 10, § 2º, da Lei n. 9.437/97, com redação da Lei n. 
10.211/2001). 
 
 
17
 
j) Realização periódica pelos órgãos de gestão nacional, regional e 
local, do SUS, de campanhas para esclarecer ao público dos benefícios da lei 
e estimular a doação de órgãos com prática de solidariedade e fraternidade 
humana. 
k) O art. 11 da Lei n. 9.434/97 proíbe à veiculação de anúncios que 
configure publicidade dos estabelecimentos autorizados a realização de 
transplantes e enxertos. 
l) Imposição de sansões penais e administrativas aos infratores das 
normas que rege transplantes e a doação de órgão e tecidos, cabíveis além da 
responsabilidade civil por dano moral ou patrimonial causado por essa 
atividade. A Lei n. 9.434/97 arts. 14 a 20 prevêem a aplicação de pena aos 
atos, por ela considerados criminosos. Os estabelecimentos de saúde e as 
equipes médico-cirúrgicas envolvidas em atos contrários a esta lei, poderão 
perder temporariamente ou permanentemente a autorização para seu 
funcionamento nesse setor e sofrer multa de 200-300 dias-multa. 
Algumas portarias do Ministério da Saúde, citadas abaixo, traçam 
diretrizes para efetivação dos transplantes. 
 Portaria n. 3.407/98, que aprovou o regulamento técnico sobre 
atividades de transplante e dispõe sobre a Coordenação Nacional de 
Transplante, que além de tratar da estrutura do CSNT, do GTA e dos CNCDOs, 
do credenciamento destes, da autorização para equipes especializadas e 
estabelecimentos de saúde, determina as condições para retirada de órgãos; 
as condições que deverá ter para a realização de transplante de cada órgão; a 
seleção de pacientes para distribuição de cada tipo de órgão, parte e tecido 
capitado, empregando-se critérios mínimos (art. 39); a determinação da 
urgência do transplante (art. 40) em relação a cada órgão. 
 Portaria n. 91/2001 do Ministério da Saúde baixa normas para fins 
de distribuição de órgão pela Central Nacional de Notificação, Capitação e 
Distribuição de Órgãos. 
 
 
18
 
 Portaria n. 92/2001 traça normas procedimentais sobre a 
remuneração de atividade de busca ativa de doador de órgãos e tecidos. 
O Código de Ética Médica, vigente desde 1998, veda ao médico: 
descumprir legislação específica nos casos de transplante de órgãos ou 
tecidos (art. 43, 1ª parte); participar de processo de diagnóstico da morte ou da 
decisão de suspensão dos meios artificiais de prolongamento da vida de 
possíveis doadores, quandopertencentes a equipe de transplante (art. 72); 
deixar, em caso de transplante, de explicar ao doador e ao receptor ou a seus 
responsáveis legais, em termos compreensíveis os ricos de exames, cirurgias 
ou outros procedimento (art. 73); retirar órgão de doador vivo quando interdito 
ou incapaz, mesmo com autorização do seu responsável legal (art. 74); 
participar direta ou indiretamente de comercialização de órgão ou tecidos 
humanos (art. 75). 
 
7.0 – PERFIL JURÍDICO DO TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS 
 
7.1 - TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS “POST MORTEM” 
 
7.1.1 – Retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo para serem 
transplantados. 
A retirada após a morte de tecidos, órgãos ou partes do corpo deve ser 
precedida por um diagnóstico de morte encefálica. Essa determinação atende 
a critérios estabelecidos pelo conselho federal de medicina, exceto quando a 
morte for por parada cardíaca irreversível comprovada por exame 
eletroencefalográfico. 
A constatação da morte deve ser feita por dois médicos, sendo um deles 
obrigatoriamente neurologista, não integrantes da equipe de transplante e pode 
haver a presença de um médico de confiança da família da vítima.Quando esta 
for carente de recursos, o diagnóstico pode ser acompanhado por um médico 
 
 
19
 
do SUS.Além disto, os prontuários devem ser mantidos nos arquivos do 
hospital por no mínimo cinco anos.Verifica-se que para retirar órgãos ou 
tecidos é necessário haver prova incontestável da morte encefálica mediante 
declaração de cessação da atividade cerebral. 
Constatada a morte encefálica, deverá ocorrer a retirada de órgãos e 
tecidos para fins de transplante.Isso ocorrerá se houver, conforme art.4º da lei 
n°9.434/97 com redação da lei nº10.211/01, autorização do cônjuge ou 
parente, firmada em documento subscrito por testemunhas presentes na 
verificação da morte.Se a morte for sem assistência medi ou por causa mal 
definida, a retirada deve ser precedida por autorização do patologista 
responsável pela verificação. 
Na operação de retirada do órgão ou tecido o corpo morto deve passar 
por manutenção homeostática, técnica que consiste em evitar deterioração de 
certos órgãos e tecidos, visto que órgãos como rim, pâncreas, fígado e coração 
precisam ser transplantados em poucas horas ou minutos após a morte do 
doador. Havendo retirada dos órgãos, o cadáver deve se recomposto de modo 
a recuperar sua aparência anterior,para, só então,ser entregue a seus 
familiares. 
7.1.2 - A determinação da morte encefálica 
A noção comum de morte “é a cessação total e permanente dos sinais 
vitais”, mas pra transplantes a lei considera a morte encefálica, mesmo que os 
demais órgãos ainda estejam em funcionamento, ou seja, basta a ocorrência 
de dano encefálico de natureza irreversível, o que implica o comprometimento 
das funções vitais. 
Existe uma preocupação muito grande com a determinação do momento 
exato da morte encefálica, porque o tempo faz toda diferença na situação dos 
transplantes. É preciso ter muito cuidado para que o transplante não seja 
realizado por uma precipitação na morte do doador.Esta é uma situação moral 
forte, um erro pode custar a vida do paciente, por isso torna-se indispensável a 
 
 
20
 
evidência de morte encefálica, para que o transplante não dê origem a um 
homicídio culposo. 
Não é uma tarefa fácil diagnosticar a morte encefálica, que é “a abolição 
total e definitiva das atividades do encéfalo, que controla todas as demais 
funções orgânicas”. A única função que pode permanecer é o batimento 
cardíaco, porque o sistema do coração é independente do sistema nervoso 
central.Seria suficiente a avaliação da atividade cerebral ou uma atividade 
silenciosa e persistente do cérebro para determinar o estado de morte? 
A resolução nº 1.480/97 do conselho federal de medicina aponta alguns 
critérios clínicos e complementares para a configuração do diagnóstico da 
morte encefálica. São critérios clínicos o coma aperceptivo com arreatividade 
inespecífica, vômito e positividade do teste de apnéia etc. e são critérios 
complementares a ausência das atividades bioelétrica ou metabólica cerebrais 
ou da perfusão encefálica. 
Mesmo com tais critérios, a determinação da morte encefálica persiste 
porque esses são apenas critérios prognósticos.Dentre outros fatores o teste 
da apnéia pode comprometer a circulação do sangue no cérebro induzindo a 
morte em vez de apenas diagnosticá-la e ainda existem os casos de pessoas 
tidas como mortas que se recuperaram totalmente, mesmo com os atuais 
critérios, através de uma técnica chamada hipotermia.Essa técnica pode salvar 
mais de 70% das pessoas tidas como mortas, logo, o não uso dessa técnica 
constitui-se crime de omissão de socorro. 
Seria prudente aceitar para fins de transplantes apenas a morte 
encefálica total, entretanto faz-se necessário repensar o conceito de morte 
encefálica e os exames para diagnosticá-la; trazer nova estipulação legal para 
a questão e complementar junto com o conselho federal de medicina, trazendo 
também um conceito mais rigoroso e seguro de morte para os casos de 
transplantes. 
 
7.1.3 - Doação presumida no Direito anterior 
 
 
21
 
Geralmente os ordenamentos do mundo adotam quatro modelos em 
relação a doação de órgãos.O do consentimento, adotado pelo Brasil, que 
exige a concordância expressa do doador ou da família; o da informação, onde 
não havendo manifestação do doador, faz-se uma comunicação sobre a 
intenção da retirada; o da declaração obrigatória que é uma junção entre 
consentimento e oposição; o da oposição ou do consentimento presumido que 
concede ao doador o direito de se opor à retirada pós-morte de órgãos ou 
tecidos. 
Na legislação anterior a autorização para a doação era presumida, ou 
seja, não se manifestando contra a doação esta era presumida para todo maior 
e capaz, segundo afirma o art.4° da lei n°9434/97. Aquele que não quisesse 
doar os órgãos deveria comparecer a uma repartição oficial de identificação 
civil, departamento de trânsito ou órgão de classe para gravar a expressão 
“não doador de órgãos e tecidos” e esta manifestação poderia ser modificada a 
qualquer momento. 
De acordo com a justiça a melhor solução seria não haver presunção, 
mas a inserção de declaração do interessado autorizando ou não a doação. 
Isso gerou dúvidas de alguns tipos: se se trata de um direito da personalidade 
como presumir uma renúncia? A vontade presumida seria “doação” ou 
“apreensão”?Então se estava diante não de uma doação, mas de uma retirada 
compulsória.Por tais motivos a lei nº10.211/01 alterou o art. 4º da antiga lei, 
não mais admitindo as doações presumidas, adotando o modelo do 
consentimento. 
 
 
7.1.4 - Doação de incapaz e pessoa não identificada. 
Quando se trata da doação de órgãos e tecidos de pessoa falecida 
incapaz, a remoção dependerá de autorização expressa dos pais ou daquele 
que detenha o pátrio poder, tutela, curatela ou guarda judicial sobre a 
 
 
22
 
pessoa.Já se o corpo for de pessoa não identificada, vedada é a retirada de 
seus órgãos ou tecidos, segundo declara a lei nº 9434/97 art. 5 e 6. 
 
7.2 – TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS ENTRE VIVOS 
 
A doação para transplantados vivos é uma decisão exclusiva da pessoa. 
O gesto de solidariedade humana deve estar livre de qualquer constrangimento 
e revestido de gratuitidade, pois dispor de órgãos como se fossem mercadoria 
traria uma “coisificação” do ser humano.A doação deve, portanto, ser um ato 
livre, explícito, consciente, responsável e gratuito. 
Uma pessoa sadia pode doar a um necessitado parte de seu organismo 
desde que não comprometa sua saúde. Devido a este motivo, a doação entre 
vivos só é permitida em casos de órgãos duplos, partes regeneráveis de 
órgãos ou tecidos e cuja remoção não traga risco para a vida e integridade 
física do doador. 
A retirada deve ser precedida de comunicação ao ministériopúblico e 
das verificações de saúde do doador.São necessários, então, quatro aspectos 
para que haja licitude no transplante entre vivo.São eles: o órgão ou tecido não 
deve ser necessário à vida do doador; a doação deve ser livre e gratuita; o 
consentimento dado pelo doador e receptor deve ser informado; o transplante 
deve ser inevitável para salvar a vida do receptor e a esperança de sucesso do 
transplante deve ser maior do que o dano causado ao doador. 
Cabe ressaltar que o ato de disposição da doação é revogável a 
qualquer tempo antes de sua concretização.Isto ocorre porque juridicamente 
ninguém pode ser obrigado a dispor de sua integridade física para beneficiar 
outrem. 
 
7.3 - UTILIZAÇÃO DE ÓRGAÕS DE GRUPOS POPULACIONAIS COM 
AUTONOMIA REDUZIDA. 
 
 
23
 
 
Não se pode descartar a possibilidade de uso de órgãos de alguns 
grupos populacionais por serem mais vulneráveis pela falta de autonomia da 
vontade ou por malformações incompatíveis com a vida humana. É o caso dos 
embriões, fetos, anencéfalos, crianças e incapazes. Seria possível ética ou 
juridicamente admitir experiências com fetos para fins de transplantes parciais 
de órgãos e tecidos? 
Empregar tecidos ou órgãos embrionários em transplantes traria 
inúmeros avanços terapêuticos como diminuição da rejeição e melhor 
adaptação do organismo do receptor, mas isto só é viável se os embriões já 
forem mortos em conseqüência de aborto espontâneo com expressa 
autorização dos pais.Juridicamente é impensável a criação de embriões em 
laboratórios para fins repositórios de tecidos ou órgãos porque isto constituiria 
um atentado à dignidade humana. 
Outra questão a respeito das sociedades vulneráveis é a dos 
anecenfálos.Ele é um ser humano como outro e por isso deve ser respeitado 
como pessoa humana não ferindo a sua dignidade.Ele só poderá ser doador se 
preencher os critérios legais de morte cerebral e enquanto estiver vivo não 
pode ser submetido a nenhum tratamento de terapia intensiva porque isso 
aumentaria seu sofrimento.Somente após sua morte poder-se-ia aplicar 
tratamento para evitar deterioração de seus órgãos. 
De forma semelhante, em crianças, a doação se dá com autorização dos 
pais somente com tecidos regeneráveis, pele ou sangue.Também não é 
admissível a concepção de uma criança apenas para benefício de outro 
indivíduo, porque o indivíduo não pode ser um meio. 
O indivíduo juridicamente incapaz poderá fazer doação em caso de 
transplante de medula óssea desde que exista consentimento dos pais, 
autorização judicial e não traga risco a saúde.Verifica-se ser muito séria a 
utilização de tecidos e órgãos com grupos populacionais com autonomia 
reduzida porque sempre há denúncias de práticas criminais em transplantes 
 
 
24
 
entre vivos, como seqüestro de crianças e execução de prisioneiros pré-
selecionados. 
7.4 - CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DO RECEPTOR 
 
O receptor de órgãos ou tecidos devem estar inscritos na fila única de 
espera e só poderão se submeter ao transplante com o seu consentimento 
expresso após um aconselhamento sobre os riscos que poderão advir do 
procedimento cirúrgico e previsíveis seqüelas, conforme o art.10 da lei nº 
9434/97, com redação da lei n°10211/01. 
A autorização inequívoca deve estar em documento com informações 
sobre o procedimento e perspectivas do transplante e isto ocorre porque 
ninguém pode ser constrangido a submeter-se a um ato de tamanha 
importância e seriedade.Este deve ser um ato livre e voluntário de amor ao 
próximo. 
 
8.0 – MERCADO DE ÓRGÃOS E TECIDOS HUMANOS 
 
A Constituição Federal no seu art. 199, § 4º, e a Lei nº. 9.434/97, art.1º, 
requerem a gratuidade na disposição de órgãos e tecidos em vida ou “post 
mortem”, para fins de transplante ou tratamento. Como também quase a 
totalidade dos países europeus e parte dos africanos, das regiões do 
Mediterrâneo Oriental, Pacífico Ocidental, Ásia e o Comitê de Moral e Ética da 
Transplantation Society dos Estados Unidos, tomaram medidas proibitivas de 
comercialização de órgãos e tecidos humanos, como também em relação à 
publicidade que envolva qualquer financiamento. 
A comercialização de órgãos e tecidos humanos, na verdade é 
incontrolável. Pois na Internet existem apelos de organizações internacionais 
aos centros que dispõem de órgãos para atender a seus receptores. Na Índia, 
o comércio de rins existe, devido à dificuldade financeira dos doentes pobres 
 
 
25
 
de submeterem a prolongadas diálises renais, o que provocou uma verdadeira 
“correria” de pacientes do mundo ocidental, com condições econômicas para 
efetuar esse tratamento, vão em busca de um rim para transplante, 
estimulados pelos “corretores” indianos. Todo cuidado é pouco, pois se trata de 
um comércio da vida, da morte e de partes de seres humanos. 
Em todo o mundo existe uma insaciável desejo de lucro e casos de 
pobres como os indianos, que vendem tecidos e órgãos para ricos, com a 
esperança de diminuir sua miséria, tornando-se atualmente o mercado de 
estruturas humanas uma triste realidade, em que as denuncias da 
comercialização de partes do corpo humano sejam freqüentes, e o que denota 
cumprimento dos padrões mínimos de conduta ético-jurídica exigida pela lei 
aos doadores às suas famílias e aos profissionais da saúde. Vêm surgindo 
incentivos à venda de órgãos em vida, para entrega após a morte do doador-
vendedor, são formulas de incentivo à doação como: cosh death benefit 
(benefício pago pela morte) onde um paciente em estado terminal recebe um 
pagamento antecipado e à vista, que entre outras vantagens, cobrira as 
despesas com os funerais. Existem muitos outros tipos de estímulos para a 
doação de órgãos e tecidos em vida, o que pode vir a gerar problema da 
recusa em entregá-los pelos familiares após seu falecimento. 
Perigosa, antiética e ilícita é essa mercantilização de órgão e tecidos 
humanos, pois trazem em seu bojo a possibilidade de vários desvirtuamentos 
no mercado de estruturas humanas, como: 
a) Desestimulação de doações altruísticas; 
b) Estabelecimento de uma “tabela de preço” por órgãos e tecidos; 
c) Manipulação financeira do campo de alocação de órgãos, 
menosprezando os indispensáveis fatores genéticos, médicos psicossociais, 
etc.; 
d) Classificação de doadores conforme a possível duração de sua 
vida, fazendo com que uma vida fosse cotada mais alto que outra, em função 
da maior ou menor probabilidade de falecimento; 
 
 
26
 
e) Introdução de incentivos financeiros para doação de órgãos e 
tecidos; 
f) Transformação das guerras, num proveitoso negócio, pois, ante o 
grande numero de cadáveres, ter-se-ia uma imensidão de órgãos disponíveis a 
serem transplantados; 
g) Contratação de matadores profissionais especialmente, preparados 
para eliminar prováveis doadores. 
O que se questiona é: Será que o estabelecimento de um mercado de 
órgãos e tecidos humanos iria realmente salvar vidas? Suas conseqüências 
morais, éticas e jurídicas, não serão mais negativas do que os benefícios que 
poderiam trazer? A mercantilização de estruturas humanas não seria um 
desrespeito à dignidade da pessoa humana? 
O conveniente seria que as leis voltassem a limitar a doação de órgão e 
tecidos a parentes próximos e exigisse, ainda, uma autorização judicial, pois 
existindo o envolvimento afetivo, preservar-se-ia o altruísmo desse tão nobre 
gesto, evitando-se a banalização e a comercialização e seus riscos. 
 
9.0 – ASPECTOS POLÊMICOS DA LEI N.º 9.434/1997, 
REGULAMENTADA PELO DECRETO N.º 22.68/1997, ALTERADA PELA LEI 
N.º 10.211/2001 
 
Faz-se abaixo, relação dos aspectos relevantes, que são instrumentos 
de polêmica em torno da Lei n.º 9.434/1997 e do Decreto n.º 2.268/1997 que a 
regulamentou: 
A inconstitucionalidade 
Com efeito, o legislador não foi muito feliz quando admitiu a doação 
presumida de órgãos e tecidos. Com isso, ele tratou o ser humano falecido 
comose fosse uma propriedade estatal. 
 
 
27
 
Houve violação do direito da personalidade quando a Lei n.º 9.434/1997 
admitiu que todo brasileiro com capacidade jurídica fosse doador presumido de 
órgãos, pois toda pessoa tem direito de dispor das partes separadas do seu 
corpo, incluindo aí órgãos e tecidos. 
Diz-se que o ato é inconstitucional por ferir o artigo 5º, da CF, 
desrespeitando o direito da personalidade, no que tange ao direito individual da 
pessoa à sua integridade física e também ferindo a dignidade da pessoa 
humana, conforme artigo 1º, inciso III, da CF e princípio filosófico do controle 
do homem sobre seu próprio corpo vivo ou morto. 
A doação é um ato pessoal, logo, ninguém pode doar algo em lugar de 
outrem, gesto que deve ser resultante da consciência e da solidariedade 
humana. O Estado, portanto, não poderia obrigar os cidadãos a ser ou não 
doadores de órgãos e tecidos. 
Porém há quem pense não existir inconstitucionalidade, afirmando que o 
Estado não faz do ser humano falecido uma propriedade estatal, pois ele 
apenas faz uma presunção, não interferindo no direito de escolha de ser ou 
não doador, já que o falecido podia declarar em algum documento de 
identificação pessoal sua recusa ou sua aceitação. 
Outros acham ainda que pelo artigo 24, III, da CF o Poder Público tem 
competência para legislar sobre proteção e defesa da saúde. O Estado não 
deve dispor do cadáver como se fosse coisa de ninguém, confiscando-o da sua 
família. O direito de dispor, a título gratuito, do cadáver para fins lícitos 
pertence a própria pessoa ou aos seus familiares. Se o cadáver é um resíduo 
da personalidade, se é coisa extra commercium, a que têm direitos seus 
parentes, que deles podem dispor gratuitamente e exigir o seu devido respeito, 
não poderia haver disposição legal instaurando a doação presumida post 
mortem. 
 
O caráter voluntário do ato de doação 
 
 
28
 
A doação post mortem deve ser um ato que requer liberalidade e não 
presunção, muito menos ainda caráter compulsório, advinda de texto legal. 
A doação presumida não teria sentido próprio do termo doação, que 
seria voluntariedade, assemelhar-se-ia a um ato de imposição estatal, expresso 
através de lei. 
 
A ausência da cultura do povo brasileiro 
A lei em referência dizia que todo brasileiro capaz era presumível doador 
de órgãos e tecidos, salvo se fosse manifestado desejo contrário, o que 
poderia ser expressado através de uma declaração em um documento de 
identidade. Se nada fosse declarado, presumir-se-ia ser doador. 
Entretanto, sabe-se que essa omissão poderia não demonstrar a 
realidade, pois muitos brasileiros poderiam desconhecer a lei e não manifestar 
o seu desejo post mortem de doar ou não seus órgãos, por simplesmente 
desinformação. 
 
A necessidade de ampla divulgação pela imprensa 
A Lei de Transplantes e Órgãos deveria ter sido amplamente divulgada 
nos órgãos de imprensa (jornal, rádio, televisão), por órgãos de classe 
(sindicatos, OAB) prestando esclarecimento à população, para que o povo 
tomasse conhecimento da lei e procurasse os órgãos expedidores de 
documentos de identificação pessoal para manifestar sua posição. 
 
A falta de interesse por parte de funcionários públicos 
Os funcionários públicos, expedidores de carteira de identidade e 
habilitação deveriam esclarecer às pessoas o conteúdo da Lei n.º 9.434/1997, 
no sentido de induzi-los a optar ou não, pelo direito de doação de seus órgãos 
post mortem. 
 
 
29
 
 
A discriminação social dos “não doadores” 
A qualificação de “não doador” em documento de identificação constituía 
uma forma de discriminação contra aquele que não quisesse dispor de sus 
órgãos, fazendo que fosse considerado desumano, egoísta, anti-social, 
sofrendo, assim, reprovação na sociedade e ferindo o artigo 5º da CF, por 
atentar contra a intimidade, privacidade, sanções morais, e até mesmo 
segregação social, uma vez que não se comovia com a dor e sofrimento 
daquele que aguardava na lista de espera para um transplante que salvaria a 
sua vida. 
 
 
Possibilidade de contribuição para a “máfia dos transplantes” 
 
Com a presunção de serem doadores aqueles que não se 
manifestassem de modo contrário, poderia ocorrer que funcionários 
inescrupulosos de hospitais efetuassem a extração de órgãos de pacientes 
falecidos, cuja documentação pessoal não contivesse a expressão “não 
doador”. 
 
A necessidade de adotar-se um critério infalível para a ocorrência 
de morte encefálica 
Existe uma necessidade, o que gera insegurança por parte das pessoas, 
da confirmação do momento exato da morte encefálica. Isto deve ocorrer 
quando dois médicos, não participantes da equipe dos transplantes, podem, 
sem margem de erro, determinar a ocorrência da morte encefálica. O medo das 
pessoas é que sejam retirados seus órgãos antes da ocorrência da morte 
 
 
30
 
encefálica, por interesses diversos, quais sejam, familiares, médicos querendo 
órgãos e da própria sociedade, querendo dar lugar aos recuperáveis. 
 
A impropriedade da confirmação da morte encefálica por um 
neurologista 
Questiona-se que o número de neurologistas no país é pouco e que na 
legislação brasileira, o médico legalmente habilitado para o exercício da 
profissão poderia executar qualquer ato médico, não precisando, portanto, de 
um médico neurologista para confirmar ou diagnosticar a morte encefálica do 
paciente. 
 
A possibilidade de promoção da eutanásia 
A ânsia de se obterem órgãos e tecidos para fins de transplantes pode 
propiciar-se a prática da eutanásia em pacientes terminais. 
 
A falta de suporte na captação e distribuição de órgãos 
A captação e distribuição de órgãos requer agilidade e grande 
segurança, ficando difícil esses aspectos, devido ao caos no sistema público 
de saúde, com aparelhos sucateados, profissionais mal remunerados, 
infecções hospitalares na perda de órgãos que poderiam ser aproveitados. 
Em face desses questionamentos, pode-se afirmar que a Lei n.º 
9.434/1997, regulamentada pelo Decreto n.º 2.268/1997, alterada pela Lei n.º 
10.211/2001, contém dispositivos bastante avançados para a sociedade 
brasileira. 
É imprescindível o esforço na conscientização da nação para que se 
garanta um viável e eficaz modus operandi da doação, remoção, distribuição e 
transplantes de órgãos e tecidos humanos. 
 
 
31
 
Por outro lado, deve-se respeitar a dignidade da pessoa humana, 
protegendo a vida e a integridade físico-psíquica de pacientes-receptores, 
operacionalizando com maior eficiência o banco de órgãos e tecidos humanos, 
criando-se uma melhor infra-estrutura hospitalar, com alto nível e qualidade, 
aparelhamento moderno e adequado para melhor conservação e 
aproveitamento dos órgãos, com o fim especial de evitar a rejeição nesses 
pacientes. 
Deve-se, também, viabilizar a efetiva implementação do SUS, dentro 
dos princípios constitucionais e das leis específicas vigentes, sobretudo com 
uma tomada de consciência de que a doação de órgãos é um ato de extrema 
humanidade, resguardando-se a liberdade do ser humano de dispor de seu 
corpo vivo ou morto para fins terapêuticos de transplante. 
Enfim, o transplante de órgãos deve ser encarado como um ato sério de 
salvação de vidas humanas e restauração da saúde das pessoas que vivem 
muito doentes, portanto, infelizes. 
 
 
 
10. 0 – CONCLUSÃO 
 
Hodiernamente, vive-se um avanço intenso no ponto de vista científico. 
A sociedade presencia progressos extraordinários, que provavelmente 
transformarão todo o panorama sócio-jurídico contemporâneo. 
Não restam dúvidas que essas mudanças trazem benefícios 
significativos para uns e prejuízos para outros, pois, todas as transformações 
possuem aspectos positivos e negativos. 
Os transplantes de órgãos e tecidos representam um desses avanços, 
que vêm salvando muitas vidas. Entretanto, essa prática vem acarretando 
 
 
32
 
discussõesimportantes, no que diz respeito aos aspectos ético-jurídicos que 
devem ser observados e discutidos, amplamente, com o fim de atingir os 
objetivos, respeitando os princípios constitucionais, que asseguram o estado 
democrático de direito, destacado no texto constitucional. 
É importante ressaltar que a doação de órgãos é um ato humanitário, de 
caráter voluntário, que serve para aliviar o sofrimento das pessoas doentes, 
evitando a sua morte e proporcionando o seu bem-estar e conseqüentemente 
de toda a sua família. Porém, é imprescindível que os profissionais envolvidos 
nesse processo tenham ações conscientes e éticas, no sentido de utilizar os 
meios legais próprios para assegurar os direitos constitucionais, tanto da parte 
doadora, quanto da parte receptora. 
O que diz respeito ao doador, que seja detectado o momento exato da 
morte encefálica, para que não seja ceifada a vida com o intuito de obter um 
órgão. No ponto de vista do receptor, que seja criteriosamente observada a 
lista de espera, de acordo com o estabelecido na lei vigente, dentro de critérios 
específicos para o caso. 
Vale comentar que a Lei n.º 10.211/2001, sem dúvida, avançou muito 
nos seus dispositivos e que a sociedade brasileira não possui ainda estrutura 
suficiente para recebê-la e adotar suas medidas de uma hora para outra. 
Enfim, espera-se que a nação se conscientize e garanta um processo 
eficaz no que diz respeito aos transplantes de órgãos e tecidos. Isto 
certamente representará um avanço de grande envergadura e um benefício 
sem tamanho para o povo brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
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11.0 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito: atualizado conforme 
o Novo Código Civil – Lei 10.406, de 10/01/2002. Ed. Saraiva, 2ªed., 
2002. 
 
LOTUFO, Renan. Código Civil Comentado: Parte Geral (art. 1ª a 232). 
Vol. 1, 1ªed., SP: Ed. Saraiva, 2003. 
 
Pesquisa na Internet: 
GRIESBACH, Carlos Fabrício. Aspectos Jurídicos e Bioéticos da Lei de 
Transplantes. http://www.ibap.org.br/rdp/00/22.htm 
 
RAIA, Silvano. Ética em Transplantes. 
http://www.abto.org.br/populacao/populacao.asp# 
 
ADOTE – Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos 
http://www.adote.org.br 
 
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos 
http://www.abto.org.br 
 
Sistema Nacional de Transplantes – Ministério da Saúde 
http://dtr2001.saude.gov.br/transplantes 
 
 
 
35
 
Transplante Cardíaco. 
http://www.drauziovarella.com.br/entrevistas/cirurgiacardiovascular3.asp 
 
Transplantes e Doação de Órgãos e Tecidos. 
http://www.ufpe.br/utihc/transplante.htm 
 
http://www.saude.ba.gov.br 
 
http://www.hportugues.com.br/saude/doacao

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