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FÓRUM • CALÇADO DO VALE: IMERSÃO SOCIAL E REDES INTERORGANIZACIONAIS
16 • ©RAE • VOL. 46 • Nº3
CALÇADO DO VALE: IMERSÃO SOCIAL E REDES
INTERORGANIZACIONAIS
RESUMO
O artigo aborda o setor coureiro-calçadista do Vale do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul e investiga
como o mecanismo estrutural de imersão social influencia a ação econômica do setor. O objetivo é
analisar como os tipos de laços, a posição e a arquitetura da rede afetam a ação econômica. O método
adotado foi o estudo de caso, cuja abordagem longitudinal permitiu uma análise histórica desde a
colonização até os dias atuais. Utilizaram-se dados primários e secundários, possibilitando identificar
mudanças na dinâmica competitiva do setor, nos principais atores e nas características organizacionais.
Observou-se que tanto a posição quanto a arquitetura da rede se mostraram relevantes para a ação
econômica, pois tanto criaram oportunidades como limites. A constituição e os tipos de laços foram
relevantes para compreender as decisões sobre a escolha de parceiros para formar sociedade ou fazer
negócios, e entender a relação entre os próprios empresários e entre os empresários e os funcionários.
Mariana Baldi
UFRN-PPGA
Marcelo Milano Falcão Vieira
FGV-EBAPE
ABSTRACT This article consists of a case study about the footwear sector at Sinos Valley (South of Brazil). The central question was to investigate
how the structural embeddedness influenced the economic action of the sector. The method employed was the case study with a longitudinal
approach and a historical analysis. Data were obtained from both primary and secondary sources, identifying changes affecting the competitive
dynamics of the sector and main actors, and the organization characteristics as well. The embeddedness perspective permitted an understanding
of the contingent nature of the economic action. The results showed how relevant are the position of the actor within the network and its architecture
to the economic action, producing opportunities or constrains. The constitution and the types of ties were relevant for the comprehension of the
decisions about choice of partners and for understanding the relation among entrepreneurs and between entrepreneurs and workers.
PALAVRAS-CHAVE Imersão social, imersão estrutural, setor coureiro-calçadista, posição na rede, arquitetura da rede.
KEYWORDS Social embeddedness, structural embeddedness, footwear sector, network’s position, network’s architecture.
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é analisar como os tipos de
laços sociais, a posição e a arquitetura da rede social e
interorganizacional afetaram a ação econômica das orga-
nizações do setor coureiro-calçadista do Vale do Rio dos
Sinos, no Rio Grande do Sul. As abordagens modernas
sobre a teoria organizacional preocupam-se principal-
mente em compreender as ações organizacionais como
resposta às contingências ambientais. O ambiente é con-
siderado somente uma variável técnica, e o ambiente
social é relegado a um papel residual. No entanto, a
definição de eficiência econômica não ocorre num vá-
cuo, mas é dependente de uma contextualização social
(Granovetter, 1985). O conceito de eficiência é mediado
pelos atores dominantes, e as diferentes concepções de
eficiência influenciam as formas e os meios pelos quais
eles tentam reproduzir a sua dominação.
Dentre as teorias mais utilizadas para explicar a ação
econômica pode ser citada a teoria dos custos de tran-
sação (TCE). O ponto central da TCE é a transação ou
o intercâmbio de bens ou serviços, supondo que os
indivíduos ajam de acordo com seus interesses parti-
culares. Para Hall (1990), o ataque mais freqüente a
esse enfoque foi desenvolvido por Granovetter (1985),
ao defender que as transações econômicas estão, na
realidade, imersas nas relações sociais. A pesquisa ini-
cial sobre “imersão social” [embeddedness]1 represen-
tava uma confrontação direta com esta abordagem.
Neste trabalho – tal como em Granovetter (1985) –
busca-se uma perspectiva contextualizada da organi-
zação social da ação econômica. Ou seja, procura-se
compreender que as ações organizacionais possuem
uma dependência e uma autonomia relativas aos qua-
dros culturais e institucionais de cada país, encontran-
do-se imersas nesses quadros.
O conceito de imersão social é apresentado como
um referencial que supera os limites das abordagens
comumente utilizadas para identificar e compreender
as organizações. A imersão social refere-se ao inter-
relacionamento entre estrutura social e atividade eco-
nômica, ou seja, refere-se à forma como a atividade
econômica é constituída pela estrutura social (Polanyi,
1947; Granovetter, 1985; Zukin e DiMaggio, 1990).
Por sua vez, a ação econômica é entendida como um
tipo de ação social economicamente orientada, isto é,
orientada para obter certas utilidades. Como salienta
Weber (1992, p. 87), “a realidade da ação econômica
nos mostra sempre uma distribuição de serviços dis-
tintos entre pessoas diversas e a coordenação deles em
tarefas comuns, o que, aliás, se dá em combinações al-
tamente diversas com os meios materiais de obtenção”.
O conceito de imersão social permite a superação
da análise da ação a partir da organização em si, ao
considerar a importância dos laços formados pela or-
ganização com outros atores, não apenas no que con-
cerne à posição da organização nessa rede de relações,2
mas também a partir do conteúdo desses laços. Assim,
para o desenvolvimento da pesquisa empírica, esco-
lheu-se o setor de calçados3 do Vale dos Sinos.
IMERSÃO SOCIAL: REDES SOCIAIS E
INTERORGANIZACIONAIS
Argumentos sobre imersão social são usados para cor-
rigir o absolutismo do mercado. Em tais concepções,
os atores comportam-se como o Homo economicus
(Barber, 1995), o qual é freqüentemente tomado como
uma característica do comportamento racional e tra-
tado dentro da economia neoclássica como antropolo-
gicamente “normal”.
Para Polanyi (1947, p. 112), “se os chamados moti-
vos econômicos fossem naturais do homem, teríamos
que julgar todas as sociedades primitivas como não
naturais”. Diferentemente, o autor sugere que o ho-
mem econômico não age para proteger seus interesses
individuais, mas sim para proteger seus direitos sociais,
estando de tal forma submerso em suas redes de rela-
ções sociais que seus motivos brotam dessa relação.
Polanyi (1944) é conhecido como o criador do ter-
mo imersão social [embeddedness]. Entretanto, sua preo-
cupação não era desenvolver esse conceito per se, mas
entender a diferença entre o mercado emergente e os
antigos sistemas econômicos (Granovetter, 1985; Barber,
1995; Dacin, Ventresca e Beal, 1999). Seu argumento
era de que nunca antes na história humana o ganho e o
lucro tinham assumido um papel tão importante como
no emergente sistema econômico capitalista.
Granovetter (1985), que remonta a Polanyi, define
a imersão social como residindo em algum lugar entre
a ação sub e sobressocializada. Sua preocupação está
no fato de que é necessário estabelecer um adequado
elo entre as teorias de nível macro e nível micro. Para
isso, é necessário ter um completo entendimento des-
sas relações sociais nas quais as ações econômicas es-
tão imersas.
Dacin, Ventresca e Beal (1999) consideram que
Zukin e DiMaggio (1990) ampliam a concepção de
Granovetter ao propor que ela se atrela à natureza con-
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tingente da ação econômica no que se refere a quatro
mecanismos: cognitivo, cultural, instituições políticas
e estruturas sociais (estrutural). Enquanto os três pri-
meiros refletem uma perspectiva social-construcionista,
o estrutural reflete a necessidade de se compreender
como as estruturas de rede e as qualidades de suas re-
lações afetam a atividade econômica. O presente arti-
go explora este último mecanismo devido à argumen-
tação de Zukin e DiMaggio(1990), que é a mais im-
portante, sem, no entanto, desconsiderar a relevância
das demais.
O artigo de Granovetter (1985) tem uma grande
influência na utilização do termo “mecanismo estru-
tural”. Como o autor destaca (Granovetter, 1992), a
imersão social se refere às relações diádicas dos atores
(por exemplo, uma relação entre A e B) e à estrutura
da rede de relações como um todo, que afeta a ação
econômica e suas conseqüências. O autor pressupõe
que, quanto mais contatos mútuos diádicos estejam
conectados uns com os outros, mais informações efi-
cientes se tenham sobre o que os membros dos pares
estão fazendo. Conseqüentemente, haverá mais habi-
lidade para moldar aquele comportamento, forman-
do-se um grupo coeso. Esses grupos coesos não ape-
nas espalham informação, mas também geram estru-
turas normativas e culturais que têm efeito sobre o
comportamento, e são chamadas por Granovetter
(1992) de redes de alta densidade.4
O comportamento dos indivíduos é afetado pela
imersão estrutural porque tem um impacto sobre a
informação disponível quando as decisões são toma-
das. As conseqüências para as organizações são tam-
bém moldadas como um resultado da ação econômica
cumulativa dos indivíduos. A estrutura de relações nas
quais as ações estão imersas afeta o modo como essa
modelagem ocorre, bem como suas conseqüências.
Assim, se a rede é fragmentada, ocorre uma redução
na homogeneidade do comportamento, bem como na
formação de normas (Granovetter, 1992).
As organizações são compostas por diversas formas
de laços, que podem diferir por serem fortes ou fracos
e pelo que flui por meio deles (recursos, informações
ou afeição). Por laços fracos, Granovetter (1973) en-
tende aqueles formados por pessoas conhecidas, mas
que não pertencem ao círculo íntimo e que podem dis-
ponibilizar informações novas. Diferentemente, os la-
ços fortes são formados por pessoas do círculo íntimo e
que disponibilizam apenas informações redundantes.
Apesar da reconhecida natureza complexa dos la-
ços, há uma tendência em se enfocar a forma da rede,
ou seja, a localização estrutural dos atores mais do que
o seu conteúdo (Nohria e Eccles, 1992; Powell e Smith-
Doerr, 1994; Dacin, Ventresca e Beal, 1999). Para
Nohria (1992), é importante compreender os seguintes
pontos: que tipos de laços importam; em que circuns-
tâncias e de que maneira; o que leva à formação de dife-
rentes padrões de redes; e como as redes evoluem e
mudam ao longo do tempo. Embora a preocupação com
a estrutura dos laços seja dominante na literatura, ape-
nas focando o processo é possível entender como os
laços são criados, por que são preservados e que recur-
sos fluem por essas relações e com que conseqüências.
Em relação às organizações, Gulati (1995) mostra a
importância da confiança na escolha de estruturas de
governança e sugere que a seleção das organizações se
baseia não apenas nas atividades a serem desenvolvi-
das, mas também na existência e freqüência de laços
anteriores com o parceiro. Quanto ao oportunismo,
defende que a confiança nos parceiros domésticos é
maior do que nos parceiros internacionais: conseqüên-
cias negativas para a reputação são maiores no con-
texto doméstico.
Gulati e Gargiulo (1999) argumentam que as redes
de alianças prévias são uma fonte de informação
confiável sobre parceiros potenciais. A informação que
flui por meio dessas redes está “à mão”. Fontes de in-
formação sobre competências, necessidades e confia-
bilidade de parceiros potenciais, bem como a sua po-
sição na rede e os laços indiretos com terceiros, estão
relacionados aos mecanismos que moldam a criação
de novos laços imersos. Adicionalmente, a posição
pode influenciar tanto a facilidade para acessar infor-
mação detalhada como a visibilidade e a atratividade
de uma firma em relação a outras. Se a posição e a
centralidade5 aumentam a atratividade da organização
e o acesso à informação, as organizações têm a ten-
dência de procurar parceiros centrais.
Para Hargadon e Sutton (1997), é necessário ir além
de uma agenda de pesquisas que abordem somente a
posição, para se poder compreender como certos ar-
ranjos estruturais produzem benefícios e oportunida-
des. O trabalho de Burt (1992) contribuiu, nesse as-
pecto, ao enfocar como certas estruturas melhoram os
retornos, argumentando que aqueles que prosperam são
os que possuem redes imediatas densas e coincidentes
e, além disso, estão ligados às redes mais distantes, ca-
racterizadas por vários contatos não redundantes.
Uzzi (1996, 1997) sugere que duas formas de troca
sumarizam as diferentes formas de transição: laços do
tipo arm’s-length e laços imersos. Os primeiros se ca-
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racterizam como relacionamentos de mercado e são
distinguidos pela natureza não repetitiva das intera-
ções, pelo foco exclusivo em questões econômicas, e
pela falta de reciprocidade entre os parceiros. Enquanto
os laços arm’s-length refletem os relacionamentos es-
pecíficos da literatura econômica, os laços imersos são
caracterizados pela natureza pessoal dos relacionamen-
tos de negócio.
Os laços imersos possuem três componentes que con-
tribuem para a conformidade no comportamento dos
parceiros, quais sejam: arranjos para a solução de pro-
blemas em conjunto; confiança; e transferência de in-
formação detalhada. Esses componentes são indepen-
dentes, embora relacionados, pois todos são elementos
da estrutura social. A maioria dos relacionamentos
interfirmas é caracterizada por laços arm’s-length, em-
bora eles sejam menos significantes que os laços imersos.
Laços arm’s-length são menos importantes porque as
trocas críticas, em termos de sucesso de negócio e vo-
lume, ocorrem com o uso de laços imersos (Uzzi, 1996).
“Confiança” é definida por Uzzi (1997) como um dos
elementos-chave dos laços imersos, sendo a crença de
que um parceiro de troca não agiria em função de seu
auto-interesse, operando como uma heurística.
Uzzi (1997) destacou um paradoxo de imersão so-
cial: os mesmos processos pelos quais cria efeitos po-
sitivos sobre a habilidade da organização para se adap-
tar podem também reduzir sua habilidade para tal. Três
condições estão relacionadas com esse efeito negati-
vo. A primeira é a perda de uma organização central
da rede, que pode impactar a própria viabilidade da
rede. A segunda se refere às mudanças nos arranjos
institucionalizados que racionalizam o mercado, cau-
sando rupturas nos laços sociais, podendo ocorrer ins-
tabilidade e perda dos benefícios da imersão. A tercei-
ra ocorre quando todos os vínculos entre as organiza-
ções na rede estão baseados em laços imersos, dimi-
nuindo o fluxo de novas informações, bem como a
potencialidade de acessar idéias inovadoras.
No que se refere às redes altamente imersas, Chen e
Chang (2004) afirmam que elas propiciam principal-
mente a capacidade de inovação incremental. Adicio-
nalmente, a inovação radical ocorre quando as redes
são imersas mas compostas por laços diversos.
Os efeitos da imersão social na ação econômica de-
pendem de duas variáveis: a composição da rede e a
forma como a firma é ligada à sua rede. Salienta-se
que laços imersos aprofundam a rede, enquanto laços
arm’s-length evitam um completo isolamento por de-
mandas de mercado, ou seja, dependendo da qualida-
de dos laços interfirmas, da posição da rede e de sua
arquitetura, a imersão social pode beneficiar ou não a
ação econômica.
REFERÊNCIAS METODOLÓGICAS
A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso
do setor calçadista do Vale. Os pesquisadores que es-
tudam a imersão procuram realizar suas investigações
em setores que são caracterizados por fortes pressões
competitivas, tendo em vista que a teoria econômica
dominante defende que nesses casos o papel das rela-
ções sociais é mínimo (Uzzi, 1996, 1997). Relativa-
mente ao objetivo deste estudo, adotou-se uma abor-
dagem predominantemente qualitativa, que foca a iden-
tificação de eventos, as atividades e escolhas ao longo
do tempo, permitindoa compreensão da dinâmica do
processo de estruturação do setor, suas mudanças, seus
atores principais e eventos mais marcantes.
As categorias analíticas – imersão estrutural e ação
econômica – foram analisadas por meio de uma pers-
pectiva histórica. Assim, buscou-se compreender o pro-
cesso de estruturação do setor desde a sua formação até
os dias de hoje. Os dados históricos e longitudinais fo-
ram usados para identificar seqüências de eventos e para
analisar como essas seqüências estão relacionadas com
antecedentes bem como moldam conseqüências.
Relativamente à pesquisa sobre imersão, utilizou-
se uma análise multinível e cross level (Dacin, Ventresca
e Beal, 1999). Foram analisadas as fontes macro, as
relações interatores, os atores privados – suas ações e
articulações – e as conseqüências disso para as ações
econômicas do setor.
Dados primários, oriundos de entrevistas semi-es-
truturadas, foram combinados com dados secundá-
rios para identificar como a imersão constituiu a ação
econômica e suas transformações. Dados secundários
foram coletados por meio de artigos científicos e dis-
sertações acerca do cluster calçadista do Vale, proces-
so de colonização, e de formação e consolidação da
identidade teuto-brasileira. Documentos das entida-
des, revistas especializadas – como, por exemplo, a
Tecnicouro –, relatórios avaliativos realizados por di-
ferentes órgãos do estado também foram utilizados.
Os sujeitos participantes da pesquisa foram os inte-
grantes do grupo de dirigentes das entidades coletivas
representativas do setor ou representantes por eles
indicados. Representantes do governo estadual tam-
bém foram entrevistados, perfazendo um total de dez
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pessoas, as quais atuavam no setor por um período
mínimo de sete e máximo de 37 anos.
A análise dos dados foi realizada de forma descriti-
va e interpretativa, pautada na literatura, para que fos-
sem identificados os aspectos concernentes à imersão
estrutural. A técnica utilizada para analisar os dados
primários foi a análise de conteúdo. Por sua vez, os
dados secundários foram analisados por meio da téc-
nica de análise documental (Ludke e André, 1986;
Silverman, 1995).
ASPECTOS CONSTITUTIVOS E CONSTITUINTES
Para uma compreensão adequada da estruturação e
transformação do cluster calçadista do Vale é funda-
mental que se remeta ao processo de estruturação da
antiga colônia de São Leopoldo. Para isso, a pesquisa
resgatou o processo de colonização e as relações so-
ciais que permeavam a comunidade, cujo primeiro pe-
ríodo foi de 1824 a 1960.
As colônias alemãs foram instaladas próximo às
colônias portuguesas, e uma diferença básica entre elas
era que os portugueses possuíam grandes lotes, en-
quanto os alemães tinham pequenas propriedades.
Aliada a esse aspecto, a estruturação da colônia em
forma de espinha de peixe propiciou uma proximida-
de física e social dos membros da comunidade alemã,
enquanto os portugueses mantinham grandes distân-
cias entre os vizinhos (Schäffer, 1995; Bazan, 1997).
Simbolicamente, os alemães estavam vinculados a in-
divíduos rústicos e sem trato social (Bazan, 1997).
Para Barbosa (1992), hierarquias econômicas, polí-
ticas e simbólicas fomentam a criação e consolidação
de identidades. Esses elementos facilitaram o contras-
te e as oposições inerentes à construção de uma iden-
tidade coletiva, e os luso-brasileiros passaram a ser
identificados como preguiçosos e alcoólicos, enquan-
to os teutos se percebiam como trabalhadores, hones-
tos, cuja coragem e comportamento eram exemplares.
Essas associações acarretaram o surgimento de con-
venções coletivas utilizadas no cotidiano e nas trocas.
Os estabelecimentos especializados em calçados
surgem somente após o acesso a fontes artificiais de
energia e a construção da usina hidrelétrica de São
Leopoldo, em 1912. A construção de ferrovias tam-
bém facilitou a comunicação e o escoamento da pro-
dução. A crise mundial de 1929 ajudou a fomentar a
expansão industrial brasileira, sendo considerada por
Ramos (1966) como um fato decisivo para a formação
de um mercado interno. Se até a década de 1930 o cal-
çado produzido era feito à mão, a criação da Compa-
nhia Hamburguesa de Energia impulsionou a introdu-
ção de máquinas, que substituíram o trabalho manual.
A passagem da fase artesanal para a de manufatura
teve que superar diversas dificuldades, como a falta
de equipamentos e o acesso à energia. Os laços fortes
entre os membros da comunidade alemã possibilita-
ram a formação de redes de alta densidade, constituí-
das por grupos coesos que, além de compartilharem
informações, possuíam estruturas normativas e cultu-
rais semelhantes. As trocas econômicas estavam imersas
nos compromissos sociais que permeavam a relação dos
membros da comunidade. Muitos desses problemas fo-
ram sanados por meio de empréstimos financeiros, de
máquinas, ou por meio da troca de conhecimentos me-
diada pela expectativa de reciprocidade que se baseava
na coesão social e nos valores étnicos.
A confiança serviu de base para a criação das pri-
meiras empresas calçadistas e estava baseada no senso
de pertencimento à identidade teuto-brasileira. Como
defendem Gulati e Gargiulo (1999) e Uzzi (1997), a
análise da disponibilidade do parceiro, de sua confia-
bilidade e de sua capacidade estava imersa no contex-
to social que permeava a comunidade.
Corroborando Gulati (1995), formavam-se socieda-
des entre o detentor de capital e o detentor de conhe-
cimento, constituídas sob a certeza de que comporta-
mentos oportunistas não ocorreriam em função das
conseqüências negativas que isso teria para a reputa-
ção daquele ator. Eram os códigos de conduta da co-
munidade que exerciam o controle sobre a ação. A
confiança operava como uma heurística (Uzzi, 1997),
ou seja, os atores estavam predispostos a assumir o
melhor em relação à ação e aos motivos do outro.
O espírito associativo dos imigrantes alemães e de
seus descendentes foi percebido por Klein (1991),
Schneider (2004) e Schmitz (1995, 1998) como tendo
grande importância ao longo da consolidação do setor.
Para Klein (1991), essa influência é percebida inclusi-
ve no surgimento das diversas instituições associativas
ainda existentes (como a ACI – Associação Comercial,
Industrial e de Serviços e a Assintecal – Associação Bra-
sileira de Empresas de Componentes para Couro, Cal-
çados e Artefatos). Os vínculos não econômicos desses
atores foram significativos no âmbito econômico, pois
tiveram papel fundamental tanto nos compromissos
sociais firmados pelos empresários como também na
própria rede de cooperação empresarial do período em
análise (Schmitz, 1993).
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Os achados desta pesquisa reforçam a importância
de se pesquisarem as organizações econômicas consi-
derando-as como socialmente construídas (Nohria,
1992) e como conseqüência das ações de indivíduos
socialmente situados em redes de relações pessoais.
Tanto os dados primários como secundários reforçam
o quanto foram importantes os fortes laços estabeleci-
dos entre os atores do setor calçadista nesse período,
pois propiciaram soluções conjuntas de problemas e
trocas de informações que permitiram a superação das
dificuldades. É possível constatar que o comportamen-
to econômico está imerso em redes de relações inter-
pessoais e que os laços sociais possuem papel funda-
mental na constituição do setor, corroborando os ar-
gumentos dos autores de imersão.
As características peculiares da colonização alemã
propiciaram o surgimento de uma comunidade coesa,
cujos laços de solidariedade foram fundamentais na sua
preservação material e cultural. A reconstrução do pro-
cesso de formação dos laços da comunidade alemã do
Vale permite compreender como esses laços fortes fo-
ram criados, bem como por que foram preservados. A
confiança advinda do senso de pertencimento à identi-dade teuto-brasileira mostra que ela serviu de base para
a criação das primeiras empresas calçadistas, conectando
o dono do capital e o detentor de conhecimento por
meio do contexto social. A reputação tem um papel cru-
cial nesses casos, pois as conseqüências negativas de
um comportamento oportunista dos que estão inseri-
dos naquele contexto social é temida, e o mecanismo
de controle que preponderava advinha dos códigos de
condutas respeitados por aquela comunidade.
No entanto, como salientou Uzzi (1997), o fato de
estar altamente imersa também acarreta efeitos nega-
tivos na ação econômica. Assim, as convenções em
torno dos empresários luso-brasileiros provavelmente
fizeram com que bons negócios deixassem de ocorrer.
A seguir serão abordadas as transformações tanto no
sentido material quanto no social que construíram uma
nova configuração social do setor não somente pela
entrada de novos atores, mas também pela nova estru-
turação social que se estabeleceu entre os atores que
já faziam parte do setor e da comunidade.
De 1960 a 1980: uma nova configuração social
no setor calçadista
O crescimento durante os anos 1950 e 1960 fez com
que as organizações produtoras de calçados se conso-
lidassem financeiramente e pequenas indústrias se fir-
maram como fabricantes de máquinas para calçado
(Klein, 1991). Esse período é caracterizado por um
aumento expressivo da produção e atraiu instituições
oficiais de crédito que substituíram as antigas Caixas
Rurais, surgindo as estruturas de crédito cooperativo.
Nesse sentido, para se formarem empresas, o acesso a
créditos bancários se tornou mais importante. Conse-
qüentemente, ficou comprometido o equilíbrio de po-
der que até então existia entre os detentores do co-
nhecimento da produção e os detentores de capital
(Bazan, 1997).
O empresário passou a ser uma categoria econômi-
ca e socialmente diferenciada, ocorrendo uma justa-
posição entre a identidade teuto-brasileira e uma nova
identidade denominada por Bazan (1997) corporati-
vo-empresarial, que congregava os empresários de todo
o setor calçadista. Contudo, a identidade teuto-brasi-
leira permaneceu mediando e facilitando as relações
de troca. A mudança na importância das redes de reci-
procidade firmadas com base nos princípios étnicos
ou corporativos se alterou a partir do início de 1970,
quando a produção se voltou para o mercado externo.
A especificidade da entrada dos calçados brasileiros
no mercado americano merece uma atenção especial
porque sua trajetória tem importantes efeitos. O sur-
gimento de um novo ator é fundamental na transfor-
mação do setor brasileiro: o agente intermediário.
Como salienta Schmitz (1995), o significativo perío-
do da ação coletiva e institucionalizadora cedeu lugar
a uma fase que, comparativamente, pode ser conside-
rada desintegradora.
Bazan (1997) considera que três processos altera-
ram o padrão produtivo local: a necessidade de incor-
poração de um número maior de trabalhadores, não
mais restritos à comunidade local; a descentralização
das plantas industriais, que se transferiram para áreas
adjacentes e para o interior dos municípios do Vale; e
a intensificação da subcontratação de serviços de ter-
ceiros para realizar tarefas que exigiam intenso traba-
lho manual, desencadeando a origem de grande nú-
mero de micro e pequenas empresas.
O corporativismo etno-setorial e a orientação coo-
peração–competição sofreram importantes modifica-
ções quando o setor começou a exportar. Se, por um
lado, houve o reforço da identidade corporativo-seto-
rial, por outro, houve o recrudescimento das diferen-
ciações entre os diversos segmentos, invertendo-se o
padrão de competitivo–cooperativo para competitivo–
conflitivo nos anos 1980 (Bazan, 1997).
Corroborando Klein (1991), os dados primários re-
velaram que a importância dos agentes está associada
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à peculiaridade das exportações ao mercado america-
no, isto é, o próprio produtor, com sua rede de distri-
buição varejista, se tornou um importador em função
de que não é mais capaz de produzir a preços compe-
titivos. Os agentes passaram a preparar as coleções,
negociar preço, colocar os pedidos e controlar a quali-
dade. Os primeiros agentes que surgiram no Brasil eram
norte-americanos, ex-fabricantes de calçados.
Para os varejistas, é indiferente a procedência do
calçado, contanto que tenham uma margem de lucro
atrativa. São os agentes que se encarregam de obter as
melhores margens com os canais de comercialização
(Klein, 1991). Para Schmitz (1995), o papel dos agen-
tes é bastante controverso, pois existe um sentimento
de que os lucros dos produtores são alcançados com
muito esforço, em contraste com os deles, que não
somente são mais “fáceis” como também excessivamen-
te altos. Outro fator de descontentamento é a
desconsideração das responsabilidades que os produ-
tores demonstraram em contratos prévios, não dando
importância à continuidade do relacionamento comer-
cial. Nesse sentido, o preço é que passa a determinar a
continuidade ou não da relação.
Apesar do importante papel que os agentes possu-
em na desestruturação da base étnica de sociabilida-
de, não são eles os únicos que contribuíram para isso.
Como os anos 1970 e 1980 foram de crescimento eco-
nômico, vários empresários de outras regiões foram
atraídos, rompendo a homogeneidade étnica. Entre-
tanto, a etnicidade ainda aparece como justificativa
ideológica do sucesso empresarial em função da disci-
plina, da seriedade e do espírito empreendedor. Con-
tudo, não é mais a base que sustenta a identidade cor-
porativa e setorial (Bazan, 1997). Permanece atuando
também na relação empregador–operário e na relação
operário antigo (local e de origem germânica) e ope-
rário de fora. O fator que os diferencia não é a posição
distinta no processo produtivo, mas “a simbologia do
que significa ser bom trabalhador” (Schneider, 2004,
p. 39). Ou seja, disciplina, organização, zelo e capri-
cho estão associados ao trabalhador teuto-brasileiro
ou ao operário antigo. Na relação entre o operário an-
tigo e o empresário, a convivência nos mesmos espa-
ços sociais e o longo tempo como empregado fomen-
tam a cumplicidade, a reciprocidade e, fundamental-
mente, a fidelidade desse trabalhador.
Para o empresário, essa situação é fundamental para
o bom andamento da produção, que é por ela estimu-
lada. Por terem um prestígio maior, os operários anti-
gos são convidados a ocupar cargos de confiança e de
chefia, a formar novas unidades fabris (ateliês), e são
privilegiados no repasse das peças de calçado a serem
confeccionados (Schneider, 2004). Nesse sentido, a
força dos laços na estruturação do setor aparece como
fundamental na compreensão do seu processo.
Para relativizar o papel da etnicidade, salienta-se a
sucessão nas empresas familiares, em que jovens em-
presários assumiam o controle da empresa. Para eles,
a etnicidade estava associada a um aspecto afetivo de
afiliação, mas não era um elemento norteador. Para os
antigos empresários, por sua vez, esses jovens eram
encarados como aventureiros, de quem não se podia
esperar lealdade (Bazan, 1997). Dessa forma, os jo-
vens empresários não somente constituíram as bases
para o enfraquecimento da etnicidade e de seus valo-
res – tais como honra, reciprocidade e confiança –,
mas também suas crenças e valores foram constituí-
dos em uma época em que a etnicidade como base de
sustentação já vinha se enfraquecendo.
Por outro lado, os agentes possuíam valores bas-
tante diferenciados dos da comunidade. Pode-se infe-
rir que a capacidade desses agentes de transformação
das práticas sociais está bastante relacionada com a
posição que eles passaram a ocupar no setor, como
um dos atores-chave. O agente representava também
um fator de intensificação da competição e da rivali-
dade entre empresas, pois poucas delas mantinham
com ele relações mais ou menos estáveis. A impes-
soalidade das relações de troca e os interessesvolta-
dos ao mercado se fortaleceram com a presença do
agente, que não compartilhava de uma história social
comum aos demais membros da comunidade.
Por outro lado, a identidade corporativa se fortale-
cia na medida em que o próprio setor tinha um cresci-
mento muito grande no período. Toda essa transfor-
mação provocou diversas mudanças nas organizações
e possibilitou grandes ganhos aos produtores brasilei-
ros. A internacionalização acarretou a alteração do
processo produtivo, conseqüência do tipo de calçado
exportado: milhares de pares de um único modelo e
cor. A produção passou a ser organizada por meio de
esteiras, e o trabalho fragmentado permitiu o treina-
mento rápido, a contratação de trabalhadores despre-
parados e o pagamento de baixos salários.
A separação entre o empresário e o funcionário era
quase inexistente até a década de 1970, e as relações
de trabalho eram amistosas. No entanto, com a entra-
da do Brasil no mercado externo e a intensificação do
sindicalismo a partir de 1978, as relações de trabalho
se alteram. Nesse período também ocorrem mudanças
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JUL./SET. 2006 • ©RAE • 23
MARIANA BALDI • MARCELO MILANO FALCÃO VIEIRA
nas relações entre o empresariado. A troca de conhe-
cimento, que era amistosa e mais disseminada, trans-
forma-se.
Outro aspecto importante é a concentração de po-
der do produtor de calçados, que passou a influenciar
a cadeia de acordo com seus interesses. Um exemplo é
a interferência dos produtores no governo para que o
couro sofresse restrições de exportação. Esse fato aca-
bou gerando a criação da Aicsul (Associação das In-
dústrias de Curtume do Rio Grande do Sul). Além de
terem seu pleito atendido, os produtores passaram a
importar da Argentina o couro semi-acabado, e cria-
ram em suas próprias instalações o processo de acaba-
mento, tornando-se mais independentes do setor de
curtume brasileiro. Os empresários de curtume se res-
sentiam de que os incentivos governamentais benefi-
ciavam somente os fabricantes de calçados, apesar de
sua tradição exportadora. Esses fatos refletiram-se na
relação de poder e barganha entre o setor produtor de
calçados e o setor de curtume, pois este último não
possuía outros canais de comercialização a não ser o
canal interno. Como conseqüência, os produtores de
calçados concentraram grande poder na cadeia.
Com o aumento das exportações, também se am-
pliou o conflito de interesses entre produtores e for-
necedores referente à facilitação na aquisição de ma-
térias-primas e equipamentos no exterior. Entre os
próprios produtores também existiam divergências,
principalmente entre aqueles voltados para o mercado
interno e os que atendiam ao mercado externo. Bazan
(1997) afirma que os exportadores passaram a ser be-
neficiados pelo governo, acirrando as diferenças entre
o empresariado tanto em termos do tamanho das em-
presas quanto do mercado que atingiam. A principal
diferença hierárquica era entre as grandes e as peque-
nas e médias empresas. A importância para a econo-
mia estadual e nacional dos produtores de calçados
fez com que os empresários se organizassem mais no
âmbito político-institucional, assumindo prefeituras,
tornando-se deputados estaduais e secretários, e insti-
tuindo também os lobbies setoriais. Os dados revelam
que a distribuição dos recursos pelo governo refletia
tal hierarquia.
Em conseqüência, se até meados de 1970 a ACI re-
presentava os interesses de todas as organizações do
setor, os interesses divergentes originaram diversas
instituições, como a Assintecal Abrameq (Associação
Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos
para os Setores do Couro, Calçados e Afins) e Abaex
(Associação Brasileira dos Exportadores de Calçados
e Afins). Para Schmitz (1995), a identidade
sociocultural foi elemento de base para a reciprocida-
de e a confiança até o início da década de 1970, en-
quanto que os laços culturais se tornaram mais fracos
e tiveram menor influência nos relacionamentos
interfirmas na maior parte de 1970 e 1980.
No entanto, essa fase de expansão se alterou a par-
tir do final de 1980, quando a demanda dos países
europeus e dos Estados Unidos começou a ocorrer em
períodos mais esparsos. Ao mesmo tempo, observou-
se a entrada no mercado de países asiáticos, cujos sa-
lários eram menores. Os pedidos passaram a ser feitos
cada vez mais próximos do momento da venda, em
lotes menores e mais diversificados (Bazan, 1997). O
final de 1980 e início de 1990 também se caracterizou
por ser um período turbulento no Brasil. Essas mu-
danças resultaram na falência de diversas empresas de
grande porte, e os grandes departamentos de produ-
ção deram lugar às minifábricas, que passaram a ter
células de produção. Investiu-se em treinamento e
buscou-se redução do turnover.
Assim, a viabilidade das pequenas empresas aumen-
tou como decorrência do aumento da subcontratação.
E em função do aumento nas exigências de qualidade,
o fato de as operações serem realizadas fora da organi-
zação tornou mais difícil o alcance da qualidade, ba-
seando a relação puramente num padrão de mercado.
Portanto, se anteriormente a cooperação interfirmas
era fortemente influenciada pela identidade teuto-bra-
sileira, o retorno a esse espírito de cooperação se ba-
seia principalmente nos custos de não cooperar
(Schmitz, 1995).
COMPREENDER A INSERÇÃO DO CLUSTER NO
MERCADO MUNDIAL
O calçado do Vale está vinculado à cadeia global de
calçados, tendo diferentes destinos, como os Estados
Unidos, a Europa, a América Latina e o mercado do-
méstico. Compreender essa inserção e seus efeitos pas-
sa tanto pela posição na rede e sua arquitetura quanto
pelos efeitos disso decorrentes. Como salientam Bazan
e Navas-Alemán (2001), as implicações da governan-
ça vão muito além de organizar atividades dispersas.
Ser o governador da cadeia implica decidir quem vai
desempenhar as atividades mais bem remuneradas. O
Vale tem como principal mercado exportador os Esta-
dos Unidos, país que tem certo controle da cadeia
mundial.
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FÓRUM • CALÇADO DO VALE: IMERSÃO SOCIAL E REDES INTERORGANIZACIONAIS
24 • ©RAE • VOL. 46 • Nº3
Para as autoras, o padrão de governança que preva-
lece na cadeia americana é o quase-hierárquico e as
razões são: (a) as firmas que lideram detêm o conhe-
cimento essencial das atividades de valor, tais como
design e marca; (b) se a liderança dessas organizações
não for aceita, os compradores possuem diversas al-
ternativas, não ocorre isso com os produtores, pois eles
não possuem marca e design próprio; (c) para assegu-
rar que os fornecedores vão produzir de acordo com a
sua demanda, relações hierárquicas são desenvolvidas
para perpetuar o controle sobre todo o processo pro-
dutivo; e (d) os compradores barganham preço com
os produtores para mantê-los baixo e, por serem orga-
nizações de grande porte, exercem poder sobre os pro-
dutores e agentes.
Os produtores calçadistas brasileiros não tinham
conhecimento da logística de comércio global e, as-
sim, aceitaram exportar seus calçados sob a orienta-
ção dos compradores, abrindo mão de suas marcas e
designs. Neste sentido, Bazan e Navas-Alemán (2001)
salientam que, inicialmente, ocorreu um retrocesso
funcional, pois eles se concentraram no processo pro-
dutivo e abandonaram atividades mais sofisticadas que
eles já operavam, pelo menos, no mercado interno.
Embora a governança por meio da quase-hierarquia
seja bastante limitante no que se refere ao upgrade fun-
cional, as autoras concluíram que ela não ocorre no
caso da indústria de suprimentos, pois não sofre as
mesmas coações que os produtores, tendo em vista que
diversas empresas dessa indústria exportam para ou-
tros países considerados competidores da cadeia de
calçados brasileira.
Os dados primários revelaram que os exportadores
da cadeia de suprimentos evitam a utilização de inter-
mediários. Em alguns casos, contratam representan-
tes de vendas ou agentes somente para a comercializa-
ção, tendo eles um papel bem diferenciado dos que
atuam na cadeia decalçados. Outro fator importante
para a independência da cadeia de suprimentos é o
fato de as indústrias operarem simultaneamente em
várias cadeias globais de valor. No entanto, essa é uma
realidade recente, tendo em vista que durante a déca-
da de 1990 a cadeia de suprimentos sofreu com a crise
do setor calçadista. Para o setor coureiro, as indústrias
moveleira, automobilística e de vestuário surgiram
como mercados alternativos porque a indústria de cal-
çados vem aumentando o uso de materiais sintéticos.
Observou-se também que as relações cooperativas
que existiam anteriormente à internacionalização vêm
sendo recuperadas desde meados da década de 1990.
No entanto, o seu retorno não está mais alicerçado na
base da etnicidade. Dentre as ações voltadas para a
cooperação, pode ser citado o Programa Calçado do
Brasil, lançado em 1994 pelos principais atores do se-
tor. No entanto, a sua implementação não ocorreu, e o
ano de 1995 é chamado por Schmitz (1998) do ano da
não-ação coletiva. Para o autor, algumas das maiores
empresas que haviam se integrado verticalmente não
estavam mais interessadas na eficiência coletiva, pois
tinham reduzido sua dependência do cluster.
O Programa foi reativado apenas em 1996, tendo
como líder a Assintecal, mas logo estava totalmente
desarticulado. De acordo com Schmitz (1998), uma
das razões foi a obstrução, declarada ou não, de cinco
empresas que eram tanto temidas quanto admiradas
pelas outras. Eram admiradas porque todas tinham
iniciado como pequenas firmas havia duas ou três dé-
cadas e agora estavam entre as maiores do mundo,
exportando conjuntamente 410 milhões de dólares.
O temor era decorrente do relacionamento que elas
tinham com o principal comprador dos calçados bra-
sileiros, a empresa norte-americana NW, responsável
por 40% das exportações. Tornar-se um fornecedor da
NW era o desejo de todo produtor. A posição que as
cinco empresas ocupavam na cadeia mundial permitia
que elas tivessem um maior acesso a dinheiro, equipa-
mentos, tecnologias, e que angariassem legitimidade,
poder e reconhecimento pelas demais organizações,
que tanto disputavam o mercado externo como o in-
terno. Em consonância com Gnyawali e Madhavan
(2001), por ocuparem uma posição central se pressu-
põe que possuem algo de valor, retendo poder de bar-
ganha. Ressalta-se o fato de essa centralidade ocorrer
apenas para o Vale, porque em relação à cadeia mun-
dial eram atores sem capacidade de ação mais efetiva,
em decorrência da maneira como estavam inseridos
na cadeia global, que fazia com que acabassem agindo
em prol dos interesses externos.
CONCLUSÕES
O mecanismo estrutural de imersão social possibilita
a compreensão das relações entre os atores tanto no
que se refere à rede social quanto à sua inter-relação
com as redes interorganizacionais. No caso analisado,
o mecanismo estrutural se mostrou fundamental para
a compreensão das mudanças ocorridas ao longo da
formação do setor e após o processo de internaciona-
lização. Quanto ao processo de internacionalização,
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MARIANA BALDI • MARCELO MILANO FALCÃO VIEIRA
diversos aspectos são importantes em torno do agen-
te, quais sejam: sua origem, seus principais vínculos,
o papel que exerce na cadeia mundial de calçados e de
que forma se pode caracterizar a rede. Corroborando
Powell e Smith-Doerr (1994), percebe-se também a
importância da maneira como foi formada a rede, que
tem muitas conseqüências para as ações dos atores.
Em meados da década de 1970, o agente assume
um papel estratégico na rede em relação às exporta-
ções. As trocas econômicas do Vale passam a ocorrer
num contexto social e culturalmente diferente daque-
le da comunidade, caracterizando um processo de
“desimersão” e reimersão. É importante salientar que
não se pressupõe que num processo de “desimersão”
ocorra uma substituição total de um modo de ver so-
bre outro, mas que a assimilação de diferentes lógicas
e formas de viver são reinventadas e reincorporadas
nos padrões daquela comunidade.
A certeza de que comportamentos oportunistas não
ocorreriam em função dos códigos de conduta da co-
munidade perde força na inserção do cluster no merca-
do externo. Corroborando Gulati (1995), percebe-se que
as possíveis conseqüências negativas de um comporta-
mento oportunista são mais temidas quando os parcei-
ros estão inseridos no mesmo contexto social.
Os agentes passam a deter o controle sobre todo o
processo produtivo e a competência, e a confiabilida-
de do parceiro passa a se pautar não mais pela identi-
dade étnica, mas pelos interesses econômicos de ato-
res situados em um contexto diverso. Além disso, como
salientam Gulati e Gargiulo (1999) e Hargadon e
Sutton (1997), por ocuparem uma posição particular
na cadeia, os agentes vão ser os primeiros a identificar
tanto as oportunidades como as necessidades de gru-
pos diversos, pois preenchem a lacuna no fluxo de
informação existente entre o importador americano e
o produtor brasileiro. A posição que o agente ocupa e
que os atores brasileiros passam a ocupar na cadeia
mundial de calçados determina as conseqüências e as
oportunidades para a ação econômica.
Baseando-se em Burt (1992), pode-se afirmar que
anteriormente à entrada no mercado externo, os atores
do Vale possuíam contatos redundantes, ou seja, eram
dirigidos às mesmas pessoas que possibilitavam acesso
às mesmas informações e aos mesmos benefícios. Des-
sa forma, as redes em que os atores estavam ligados eram
densas e coincidentes, caracterizando-se por uma re-
dundância por coesão. No entanto, contatos não redun-
dantes ampliam os benefícios da rede, pois garantem
exposição às diferentes fontes de informação.
O que ocorreu é que os agentes passam a ser os co-
ordenadores da rede, ou seja, os atores centrais que
ligam um cluster de contatos redundantes (o Vale) a
contatos não redundantes (compradores estrangeiros,
principalmente o norte-americano). Portanto, embora
os benefícios da rede tenham sido ampliados, é o agen-
te que se beneficia ou controla os benefícios, pois estes,
de acordo com o conceito de efetividade de Burt (1992),
proveram para si e para os compradores norte-america-
nos o acesso a clusters de contatos, aumentando tanto o
número como a diversidade de contatos incluídos.
Além dessas mudanças estruturais, acrescentam-se
os tipos de laços preponderantes. Se antes da interna-
cionalização laços fortes ligavam os atores, após a en-
trada no mercado externo laços típicos de mercado li-
gam os atores do Vale aos seus compradores. Ou seja,
o foco estava exclusivamente nas questões econômi-
cas, e a “velha” crença de que o parceiro não agiria em
função de seu auto-interesse chega muitas vezes a pre-
judicar as trocas baseadas em uma outra lógica. Como
se constatou, os atores não estavam acostumados à
lógica norte-americana dos negócios, tendo como con-
seqüência diversos negócios que foram desfavoráveis
aos atores, pois até o final da década de 1960 a confian-
ça era usada como um mecanismo de governança e as
trocas não se pautavam pela necessidade de ter pro-
cedimentos formais como contratos.
Os agentes passam a se beneficiar da posição que
ocupam na rede e canalizam efeitos positivos para si,
pelo fato de terem acesso às oportunidades e soluções
que são conhecidas por eles, mas que não são identifi-
cadas, apesar de importantes, pelos atores do Vale. Ao
manterem desconectados os compradores americanos
e os fornecedores brasileiros, ainda perpetuam sua po-
sição e importância na rede, concentrando o fluxo de
informações e conhecimento. Essa situação explica o
fato de que os agentes foram percebidos de maneira ne-
gativa, embora se reconhecesse a importância deles. Por
outro lado, pode-se inferir que a capacidade de transfor-
mação das práticas correntes deve-se ao fato de este ser
um ator central, ou seja, tanto a sua posição na rede quan-
to a própria arquitetura da rede são fundamentais para a
manutenção e a reafirmação de seu poder.
Os dados confirmam que a posição, a arquitetura
e o conteúdoda rede que flui por meio dos laços in-
fluenciam o comportamento competitivo das organi-
zações, e apontam para a lacuna indicada por Gnyawali
e Madhavan (2001) como não estudada explicitamen-
te pelos pesquisadores. Chama a atenção ainda a ma-
neira como os recursos externos influenciam o com-
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FÓRUM • CALÇADO DO VALE: IMERSÃO SOCIAL E REDES INTERORGANIZACIONAIS
26 • ©RAE • VOL. 46 • Nº3
portamento competitivo tanto positiva quanto negati-
vamente. No caso específico do Vale, não se realizam
atividades geradoras de maior agregação de valor.
Os competidores, antes de serem atores atomizados,
estão imersos em uma rede de relações sociais que abarca
diferentes níveis e que influencia a sua capacidade com-
petitiva e a sua habilidade de agir e responder à ação
dos outros. Nesse sentido, sugere-se a realização de es-
tudos que utilizem a análise de redes para uma melhor
compreensão dos fenômenos organizacionais.
Cabe destacar que algumas dificuldades foram en-
contradas no decorrer da pesquisa empírica, dentre
elas, a dificuldade de agendamento com a Abaex. En-
tretanto, os dados primários revelaram que ela está
“meio desativada”, o que pode justificar a impossibili-
dade de entrevistar um de seus representantes, bem
como o fato de que a entidade estava sem um líder
que efetivamente a representasse.
Embora este trabalho tenha possibilitado algumas
conclusões acerca do relacionamento interorganizacio-
nal e, principalmente, sobre redes sociais e organiza-
cionais, outros estudos merecem atenção, dentre eles,
destaca-se: estudos sobre os consórcios em andamen-
to no setor, estudos exploratórios sobre o mecanismo
cognitivo de imersão, o qual apresenta um menor ní-
vel de conhecimento acumulado.
NOTAS
1 “Embeddedness” é o termo original em inglês. Apesar de muitos autores
brasileiros o traduzirem como imbricação, esse termo não demonstra
com exatidão o sentido do construto. Assim, preferiu-se utilizar “imer-
são social”.
2 A expressão “rede de relações” é entendida como um conjunto de atores
que se relacionam direta ou indiretamente. Não se pressupõe que na rede
todos os atores estejam horizontalmente posicionados.
3 O setor de calçados é constituído por empresas fornecedoras de compo-
nentes para calçados, indústrias de máquinas para calçados, ateliês, agen-
tes exportadores e indústrias fabricantes de calçados.
4 Para Burt (1992), redes densas ocorrem quando cada relacionamento
coloca o indivíduo em contato com as mesmas pessoas com que ele já
teria contato a partir de outros relacionamentos.
5 “Posição” refere-se à capacidade de definição do sistema social, conside-
rando-se que ela se origina do papel e do status que uma organização
possui, fruto de suas afiliações e seus padrões de interação (Gulati e
Gragiulo, 1999). “Centralidade” refere-se à extensão das relações de um
ator a muitos outros no sistema, e à extensão das relações desses a vários
outros, tornando esse ator central.
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Artigo recebido em 30.11.2004. Aprovado em 27.04.2006.
Mariana Baldi
Professora do Programa de Pós-Graduação de Administração da UFRN e pesquisadora do
CNPq/Fapern. Doutora em Administração pela UFRGS.
Interesses de pesquisa nas áreas de Redes Sociais e Interorganizacionais, Poder, Imersão Social,
Instituições e Estruturação de Organizações.
E-mail: mbaldife@yahoo.com.br
Endereço: Rua Visconde de Abaeté, 1653, Capim Macio, Natal – RN, 59082-480.
Marcelo Milano Falcão Vieira
Professor da FGV-EBAPE e pesquisador do CNPq. Ph.D. em Administração pela University
of Edinburgh, Escócia.
Interesses de pesquisa nas áreas de Poder, Instituições e Estruturação de Organizações,
Organizações Culturais, Cultura e Desenvolvimento.
E-mail: mmfv@fgv.br
Endereço: Praia de Botafogo, 190, 5º andar, sala 530, Botafogo, Rio de Janeiro – RJ, 22250-900.
016-027 11.07.06, 18:0827

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