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Paisagismo, histórico e características

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
“LATO SENSU” (ESPECIALIZAÇÃO) A DISTÂNCIA 
PLANTAS ORNAMENTAIS E PAISAGISMO 
 
 
 
 
 
 
 
PAISAGISMO I – HISTÓRICO, 
DEFINIÇÕES E CARACTERIZAÇÕES 
 
 
 
 
 
 
Patrícia Duarte de Oliveira Paiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UFLA - Universidade Federal de Lavras 
FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão 
Lavras - MG 
 
 
 
Parceria 
 UFLA - Universidade Federal de Lavras 
 FAEPE - Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão 
Reitor 
 Antônio Nazareno Guimarães Mendes 
Vice-Reitor 
 Ricardo Pereira Reis 
Diretor da Editora 
 Marco Antônio Rezende Alvarenga 
Pró-Reitor de Pós-Graduação 
 Luiz Edson Mota de Oliveira 
Pró-Reitor “Adjunto” de Pós-Graduação “Lato Sensu” 
 Antônio Ricardo Evangelista 
Coordenadora do Curso 
 Patrícia Duarte de Oliveira Paiva 
Presidente do Conselho Deliberativo da FAEPE 
 Edson Ampélio Pozza 
Editoração 
 Centro de Editoração/FAEPE 
Impressão 
 Gráfica Universitária/UFLA 
 
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos 
Técnicos da Biblioteca Central da UFLA 
 
Paiva, Patrícia Duarte de Oliveira 
 Paisagismo I – histórico, definições e caracterizações / Patrícia 
Duarte de Oliveira Paiva. - Lavras: UFLA/FAEPE, 2004. 
127p.: il. - Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” (Especialização) a 
Distância: Plantas Ornamentais e Paisagismo. 
 
 
Bibliografia 
 
1. planta ornamental. 2. Paisagismo. 3. Jardinagem. 4. 
Classificação. 5. Caracterização. 6. Antigüidade. I. Alves, S.F.N. 
II. Universidade Federal de Lavras. III. Fundação de Apoio ao 
Ensino, Pesquisa e Extensão. IV. Título. 
 CDD – 635.9 
 
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer 
meio ou forma, sem a prévia autorização. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
A. CRONOLOGIA ...........................................................................................................................6 
B. EVOLUÇÃO DOS JARDINS....................................................................................................6 
1. OS JARDINS DA ANTIGÜIDADE ..............................................................................................6 
1.1. JARDINS DA MESOPOTÂMIA................................................................................................7 
1.2. JARDINS EGÍPCIOS.............................................................................................................. 10 
1.3. JARDINS DA PÉRSIA............................................................................................................ 15 
1.4. JARDINS GREGOS ............................................................................................................... 17 
1.5. JARDINS ROMANOS ............................................................................................................ 19 
2. INFLUÊNCIA DOS JARDINS DA ANTIGÜIDADE NOS JARDINS DO ORIENTE 
MÉDIO ......................................................................................................................................... 27 
2.1. BIZÂNCIO ................................................................................................................................ 28 
2.2. PERSIA..................................................................................................................................... 29 
2.3. MONGÓLIA.............................................................................................................................. 32 
2.4. SÍRIA......................................................................................................................................... 32 
2.5. ARÁBIA..................................................................................................................................... 32 
3. INFLUÊNCIA DOS JARDINS DA ANTIGÜIDADE NOS JARDINS DA EUROPA 
OCIDENTAL ............................................................................................................................... 35 
4. JARDIM MEDIEVAL (SÉC. XIII a XV) .................................................................................... 36 
5. RENASCIMENTO (SÉCULO XV-XIX) .................................................................................... 47 
5.1. JARDIM HUMANISTA............................................................................................................ 47 
5.2. ESTILO CLÁSSICO................................................................................................................ 50 
5.2.1. Jardim italiano......................................................................................................................56 
5.2.2. Jardim francês......................................................................................................................66 
5.3. ESTILO BARROCO................................................................................................................ 82 
5.4. ESTILO PITORESCO ............................................................................................................ 87 
5.4.1. Jardim Inglês (1700)...........................................................................................................87 
5.4.2. Jardim de Cottage ...............................................................................................................94 
5.4.3. Jardim Eclético Inglês (Séculos XIX e XX)......................................................................96 
B. OUTROS ESTILOS DE JARDINS .......................................................................................... 99 
1. ESTILO ORIENTAL: CHINÊS E JAPONÊS .......................................................................... 99 
1.1. CHINA....................................................................................................................................... 99 
1.2. JAPÃO....................................................................................................................................105 
 
 
2. JARDIM HOLANDÊS...............................................................................................................107 
3. JARDIM ÁRABE.......................................................................................................................108 
3.1. ÍNDIA.......................................................................................................................................109 
3.2. ESPANHA..............................................................................................................................110 
3.3. MARROCOS..........................................................................................................................114 
4. JARDIM CASTELHANO .........................................................................................................114 
C. HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL .........................................................................116 
 
 
 
 
 
1 
INTRODUÇÃO 
Em todas as épocas da história e em todos os povos, sempre se faz menção ao 
jardim. A evolução dos jardins acompanha os fatos históricos: quando ocorria decadência 
dos impérios, nas épocas de guerra e nos anos que marcaram a Idade Média, os jardins 
também tiveram seu período de decadência. Ao contrário, nos períodos de ascensão, 
com o enriquecimento e a necessidade de luxo, vê-se o progresso dos jardins como 
aconteceu no período do Renascimento. 
Em Roma, desde a época dos imperadores, os jardins s ignificavam um grande luxo 
da aristocracia e isto se tornou uma tradição, sendo estes, até hoje, considerados locais 
nobres. 
Em função da ordenação e do estilo, do traçado e da seleção de plantas e 
elementos que compõem um jardim, é revelada a psicologia de quem o concebeu. O 
jardim refletetambém o coletivo, a sensibilidade dominante em uma geração, uma época, 
“o modismo que impera numa sociedade e as tendências políticas de um Estado”. 
A história da arte dos jardins é construída pelas figuras sucessivas da dupla 
Homem/Natureza; e é neste ponto crucial que esta história encontra uma noção muito 
próxima: a paisagem, com suas intervenções e reproduções. 
 
 
2 
HISTÓRICO 
Patrícia Duarte de Oliveira Paiva1 
Schirley Fátima Nogueira da Silva Cavalcanti Alves2 
 
A. CRONOLOGIA 
A história da humanidade é assim dividida: 
 
- Pré –história: até aproximadamente 4000 a.C. 
- Antiguidade: 4000 a.C. – 476 d.C (Queda do Império Romano). 
- Idade Média: 476 d.C. – 1453 d.C. (Tomada de Constantinopla). 
- Modernismo: 1453 d.C. – 1789 d.C. (Revolução Francesa). 
- Contemporâneo: 1789 d.C. até os dias atuais. 
B. EVOLUÇÃO DOS JARDINS 
1. OS JARDINS DA ANTIGÜIDADE 
"No começo Deus criou um jardim. Éden era o seu nome. Segundo a 
tradição ele se situava na Mesopotâmia, provavelmente ao norte, e possuía um 
pomar e outras plantas que desenvolviam sem irrigação. Antes da sua queda, o 
Éden era um lugar de paz e de prazer, de fecundidade e de fragâncias, com os 
encantamentos da música, do riso e da alegria. Depois dos primeiros reinados 
assírios, tornou-se um lugar recreativo, um paraíso mítico". 
(Gabrielle Van Zuylen). 
 
Os primeiros jardins surgiram nos planaltos da Pérsia, atual Irã. Mas os primeiros 
 
1
 Professora Adjunto, Floricultura e Paisagismo, Departamento de Agricultura, Universidade Federal de 
Lavras. 
2
 Engenheira Agrícola, MSC - Jardins, Paysages, Terri toires - École des Hautes Études en Sciences 
Sociales et École D'Architecture Paris La Villette; Doutoranda pela Université Paris I - Panthéon 
Sorbonne. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
7 
indícios e documentos encontrados não provêm desta região, e s im, da Mesopotâmia 
(atual Iraque). Os jardins mais antigos foram plantados no meio dos desertos, como se os 
homens pudessem dar qualquer preço a esta arte, pois essa começou justo em países 
onde as condições naturais não favoreciam em nada a seu êxito. O estudo da arte da 
Mesopotâmia mostra que o gosto pelas formas vegetais aparece bem cedo, e este 
cresceu com o passar dos séculos. Mas, durante muito tempo, falar sobre “arte de jardins” 
ainda era uma audácia, pois as culturas ainda eram muito rudimentares. 
1.1. JARDINS DA MESOPOTÂMIA 
Desde o começo do Terceiro Milênio antes de Cristo, Gilgamesh, rei de Uruk, se 
orgulhava de seus pomares e dos jardins de seu palácio. Há 2000 anos antes de Cristo, 
todos os reis da Mesopotâmia possuíam seus jardins reais, onde sempre aconteciam 
banquetes e cerimônias. Os pátios interiores dos palácios eram sombreados por árvores e 
ornamentados com flores. 
Os jardins da Mesopotâmia, sem considerar as hortas e os pomares, estritamente 
utilitários, conservaram por muito tempo um caráter religioso. Os deuses da fecundidade 
possuíam perto de seus santuários um pouco de terra e uma plantação sagrada que 
manifestava seu poder. Nos jardins dos templos se plantavam frutas e legumes para se 
oferecer aos deuses, além de servirem como alimento para os serviçais. Os jardins eram 
plantados sobre os terraços dos prédios de vários pavimentos onde se celebravam os 
rituais e suas folhagens eram tão familiares, que os artistas sugeriam sua presença na 
decoração de palcos ou de altares. 
Os habitantes da Mesopotâmia conseguiram, após grandes esforços, aclimatar a 
palmeira. Começaram também a trabalhar suas terras, até então estéreis. Neste clima 
hostil e em locais que hoje se comparam aos oásis saharianos ou egipcianos, as 
palmeiras protegiam as plantas que cresciam à sua sombra, e contribuíam para a 
diminuição da perda de água do solo, fator que favorecia a condensação noturna 
permitindo assim a criação de jardins. 
Com o trabalho de manutenção e irrigação manualmente realizados, estes asilos de 
fecundidade e frescor tornavam-se ainda mais maravilhosos. Assim, os príncipes 
babilônicos puderam conhecer o prazer de aclimatar espécies. 
Cada planta era disposta dentro de uma espécie de vaso preparado com 
antecedência para recebê-la, isoladamente, e onde se mantinha o grau de umidade 
necessário através de uma irrigação constante. 
Pouco a pouco, à medida que o mundo babilônico crescia, os jardins ganhavam uma 
maior importância, com a formação de verdadeiros “parques de aclimatação” e de “jardins 
botânicos”. 
 
No final do século VIII a.C. (721-705), o grande conquistador Sargon II, descreveu 
em seus anais seu desejo de plantar, na capital Dur Sharroukin, um imenso parque, 
EDITORA - UFLA/FAEPE – Plantas Ornamentais e Paisagismo 
 
8 
réplica dos montes de Amansus, onde ele dispôs lado a lado todas as essências 
aromáticas do norte da Síria. Sargon II reuniu assim as essências nativas deste país: 
coníferas, cedros e ciprestes e ainda plátanos, salgueiros, a murta ou mirto, e todos os 
tipos de louro. Com isto, ele queria sem dúvida trazer as maravilhas de uma terra 
estrangeira, de onde a capital de seu reino não haveria mais nada a desejar. Talvez a 
vontade deste rei fosse também um obscuro desejo de possuir plenamente a sorte deste 
país abençoado, e este jardim era o símbolo e a imagem desta conquista. 
Representar o parque de Sargon com alguma precisão é muito difícil hoje em dia. 
Pode-se imaginá-lo como uma grande “reserva”, ou um destes paraísos onde os persas 
impuseram como modelo a todo o oriente mediterrâneo. Existem estudos que 
probabilizam a hipótese de que estes povos não se contentavam em apenas aclimatar as 
essências desejadas, mas ainda criavam em liberdade nos campos, animais selvagens 
destinados às caçadas reais, como leões e outros animais. 
O Rei Sennachérib, sucessor de Sargon, transferiu sua capital para Nínive, onde 
criou parques e jardins, chegando até a reconstituir com sucesso o meio ambiente natural 
pantanoso do sul da Babilônia. No terreno do palácio, que foi construído no alto de uma 
colina, construiu-se um quiosque de colunas sobrepostas, cujo terraço era arborizado. 
Pode-se observar nestes parques assírios, as velhas formas arquiteturais, e o gosto 
pelos jardins suspensos, os quais foram conservados, sobrevivendo assim um arcaísmo 
que maravilhou os viajantes helenos (da Grécia antiga), mais pela sua estranheza e pela 
sua técnica árdua, do que propriamente por sua beleza. 
Os jardins mais famosos da Antiguidade foram os Jardins Suspensos da Babilônia, 
sendo considerados uma das Sete Maravilhas do mundo antigo. Segundo os 
historiadores, estes jardins foram construídos pelo Rei Nabucodonosor II (605-562 A.C.) e 
dedicados a sua esposa, rainha Semiramis. A Rainha, que era de origem persa, tinha 
saudades das montanhas e colinas cobertas dos bosques de seu país (região noroeste do 
atual Irã) e esta construção tinha a intenção de amenizar este sentimento. 
Nabucodonosor construiu estes jardins ao longo das muralhas da cidade, próximo à porta 
de Istar1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1
 Dentro da tradição semita, Istar é deusa do céu e da fecundidade. 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
9 
 
 
FIGURA 1 - Esquema ilustrativo dos Jardins Suspensos da Babilônia (Grimal, 1974). 
 
De acordo com os resultados de pesquisas e descrições de historiadores, os Jardins 
Suspensos eram compostos de uma sucessão de terraços, sendo que os inferiores 
debordavam bastante sua área em relação aos superiores. Assim eles formavam 
verdadeiros patamares onde eram plantadas diversas espécies de árvores, e outras 
plantas de menor porte, as quais eram protegidas pela sombra das árvores. As floreiras 
presentes nestes patamarestinham o fundo impermeabilizado. Inspirados nestes jardins 
suspensos, os romanos passaram a cultivar plantas nas partes altas das casas. 
No eixo dos dois terraços superiores, havia uma grande escada entre duas séries de 
planos levemente inclinados, onde corria a água da irrigação. Esta água era levada até o 
terraço superior através de baldes presos a uma corrente. Depois, esta água era 
distribuída entre os vasos de plantação e o excesso era drenado dentro de um sistema 
complexo de canais subterrâneos. 
O conjunto formava em sua base um retângulo de aproximadamente 40x45m. O 
segundo terraço tinha medidas em torno de 30x40m. As medidas dos terraços superiores 
eram aproximadamente as mesmas. A parte inferior do edifício era um vasto emaranhado 
de tijolos crus, recoberto de tijolos cozidos. No alto, cada terraço possuía varias salas e 
galerias, onde seus vis itantes encontravam sombra e frescor. 
As folhagens, que se ressaltavam acima das muralhas da cidade, podiam ser 
avistadas de longe pelos viajantes que por ali passavam. Assim, para estes e suas 
caravanas, este recinto meio real e meio sagrado, aparecia como um símbolo do poder 
babilônico, e pouco a pouco, suas descrições forjaram uma imagem tão interessante, a 
ponto de que os “Jardins de Semiramis” tornaram-se uma das maravilhas do mundo 
daquela época. Apesar disto, estes jardins não exerceram grande influência sobre os 
jardins do mundo mediterrâneo. Isto se pode atribuir ao fato de que estes jardins foram 
admirados pelos gregos e pelos romanos, não pela sua beleza propriamente dita, mas 
pela força que esta torre representava. Tem-se apenas o registro da influência deste 
EDITORA - UFLA/FAEPE – Plantas Ornamentais e Paisagismo 
 
10 
jardim na construção do jardim barroco de Borromées em Isola Bella (Itália). 
Com a decadência do império, a Babilônia provocou o afastamento da Mesopotâmia 
da cultura ocidental, o que fez com que os jardins suspensos da Babilônia se tornassem 
uma lenda. 
 
 
FIGURA 2 - Isola Bella (Enge e Schröder, 1992). 
1.2. JARDINS EGÍPCIOS 
Os jardins egípcios são datados de 2000 a.C. O Egito deixou sobre os jardins as 
mais antigas testemunhas picturais, criando uma tradição que foi transferida ao mundo 
ocidental. Estes jardins não eram construídos unicamente para o lazer, assim como os 
jardins da Mesopotâmia, mas produziam também vinho, frutas, legumes e papiros, 
produtos estes, destinados ao consumo da população. O critério de plantio seguiu a 
tradição das atividades agrícolas desenvolvidas na planície do rio Nilo. O traçado dos 
jardins era caracterizado por linhas retas e formas geométricas perfeitamente s imétricas. 
Tudo orientado segundo os quatro pontos cardeais, expressando a importância da 
astrologia. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
11 
 
FIGURA 3 - Esquema representativo de um jardim egípcio (Plantas e Flores, 1972). 
 
O apogeu do jardim egípcio data da VIII Dinastia, sete séculos antes do parque de 
Sargon, e oito séculos antes dos Jardins de Semiramis. Mas, como estes, eles devem 
muito aos exemplos dos paraísos persas. Nesta época, os egípcios entravam em contato 
com a Ásia através das expedições de Thoutmosis IV e de Anemóphis III, trazendo assim 
sua influência. 
O Egito, país agrícola por influência da presença do rio Nilo, já conhecia durante 
muito tempo a deleitação dos jardins e da água. Desde o antigo império já existiam 
pomares plantados com videiras, figueiras, sombreados por sicômoros2; divididos em 
tabuleiros por canais de irrigação. Havia também as palmeiras e plantas aquáticas como o 
Lotus e o papiros. Todas plantas úteis e sagradas. Nesta época, surgiram as casas de 
campo, conseqüência direta da transformação do jardim como um lugar de repouso 
agradável e autosuficiente. 
 
2
 Sicômoros: Em grego sykómoros, e latim sycomoru. Falso plátano. 
 
EDITORA - UFLA/FAEPE – Plantas Ornamentais e Paisagismo 
 
12 
 
FIGURA 4 - Caixa para coleta e transporte de mudas. Eram colocadas nas pirâmides 
para a eternidade (Zuylen, 1994). 
 
Devido à topografia plana e ao pensamento ético e religioso, não haviam muitos 
elementos decorativos, efeitos de água ou terraços sobrepostos. Nos jardins egípcios 
eram cavadas bacias nas beiradas do rio onde a água era captada por infiltração, e estes 
eram transformados em tanques retangulares, repletos de plantas aquáticas e de 
pássaros, com árvores dispostas em um traçado regular. 
Somente com a XVIII Dinastia o luxo dos jardins generalizou, e todos os palácios, 
fossem do rei ou de um alto funcionário, tinham como complemento obrigatório uma 
plantação de árvores e de flores. As escavações revelaram que nesta época houve um 
grande número de jardins. Foram encontradas capelas, em cujo centro haviam recintos 
retangulares fechados onde se plantavam árvores em linhas bem regulares, ao pé das 
quais corriam canais de irrigação. No Egito, assim como na Mesopotâmia, os templos 
tinham seus enclausos sagrados. 
Nos jardins se criavam os íbis, os flamingos e os pombos que se divertiam em 
liberdade. No meio das folhagens apareciam o cimo dos pavilhões, torres denteadas, em 
formas maciças, características da arquitetura egípcia, e que mais tarde figurariam como 
fab riques3 nos jardins romanos. Assim, alguns dos temas do jardim egípcio, foram 
modelos diretos do jardim ocidental antigo. Sendo que seu destaque foi devido ao 
desenvolvimento de canais e à presença da água. 
 
 
 
 
3
 Pequenas construções que criavam cenários nos jardins. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
13 
 
FIGURA 5 - Fabrique (Zuylen, 1994). 
 
Estes jardins se caracterizavam por serem planos, fechados por muros e 
subordinados a uma propriedade com seus pavilhões dispersos em vários locais para 
aproximar o vis itante da natureza. Muitas destas formas reapareceram no sul da Itália 
onde exerceram por muitos séculos sua influência. 
Pode-se citar como exemplo de jardins egípcios o de Rekhmirê e Mery-Aton. 
a. Jardim de Rekhmirê 
O jardim de Rekhmirê tinha na entrada uma porta monumental e era dividido em três 
retângulos concêntricos situados em volta de um grande canal, grande o suficiente para 
um passeio de barco. No perímetro exterior havia uma alameda de sicômoros, seguida de 
uma faixa de flores aquáticas e palmeiras anãs. Entre estes canteiros e o canal, havia 
uma vasta alameda descoberta, servindo de caminho para as embarcações. E enfim, no 
coração do jardim, o canal, sobre o qual um barco passeava com o mestre do palácio, 
transportado a remo por outros homens. 
b. Jardim de Mery-Aton 
Nas escavações do palácio de verão conhecido pelo nome de Mery-Aton, pode-se 
constatar um jardim análogo ao de Rekhmirê. Encontravam-se neste jardim dois recintos 
retangulares. Eles eram justapostos, sendo que a superfície de um era o dobro da outra. 
O jardim maior apresentava na sua parte central um vasto lago de tamanho 130 x 60m, 
apresentando um trapiche para o embarque que avançava em direção ao centro do lago. 
A oeste, atrás de um muro, eram dispostos os compartimentos dos serviçais. Três 
pavilhões se dispersavam entre as árvores, um ao norte, outro ao sul, e outro a leste. 
Dentre eles, dois tinham seus próprios tanques, e talvez um dentre estes três, era de 
caráter religioso. 
O jardim menor se situava ao sul do maior, apresentando uma disposição análoga, 
porém em menores dimensões. Por entre estes muros encontrava-se o típico jardim 
EDITORA - UFLA/FAEPE – Plantas Ornamentais e Paisagismo 
 
14 
egípcio. Além da palmeira, havia nestes jardins indícios de espécies vegetais tais como o 
álamo4 e a espirradeira5. 
 
FIGURA 6 - Esquema do Jardim de Mery-Aton (Grimal,1974). 
A influência dos jardins egípcios no mundo ocidental foi mais direta que a dos povos 
sírio-babilônicos. Esta influência talvez possa ser explicada pela relativa estabilidade 
desta civilização, que possuiu uma fortuna mais durável que a dos povos precedentes. 
 
 
4
 Álamo, ou choupo-branco (Populus alba): árvore ornamental da famíl ia das salicáceas de flores pequenas 
e casca rugosa. Fornece madeira alva, leve e macia. 
 Álamo preto ou choupo-preto(Populus nigra): apresenta casca lisa acizentada, e madeira úti l para 
marcenaria. 
5
 Espirradeira rosa ou ainda eloendro, aloendro, loendro, oleandro e adelfa (Nérium oleander): arbusto 
ornamental da famíl ia das Apocináceas considerado tóxico, de flores róseas. 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
15 
1.3. JARDINS DA PÉRSIA 
Os jardins persas, datados desde 3500 a.C., eram caracterizados pela harmonia de 
plantações, espaçamento de árvores, o prazer de aromas refinados; tudo isto para suprir 
as aspirações dos reis presas. Estes jardins influenciaram os jardins egípcios e os jardins 
da Babilônia. 
O estilo dos jardins persas era estritamente formal. O jardim era cortado por dois 
canais principais, dividindo o jardim em quatro regiões, que representavam as quatro 
moradas do universo: terra, fogo, água e ar. Ao centro, havia tanques com fontes, 
revestidos de azulejos (ladrilhos azuis) para acentuar o frescor da água. Não havia 
estátuas pois o islamismo não permitia a reprodução de imagens (humanas). 
Nestes jardins se cultivavam frutíferas, plantas ornamentais e aromáticas (aspecto 
bastante valorizado pelos persas), plátanos, ciprestes, pinus, álamos, palmeiras, 
amendoeiras, laranjeiras, roseiras, tulipas, lírios, prímulas, narcisos, jacintos, jasmins, 
açucenas. 
Sobre os jardins persas há a descrição do paraíso de Cyrus (424-401 a.C.), 
localizado em Sardes. Neste jardim ocorriam vastas plantações de árvores de grande 
porte, alinhadas segundo uma disciplina rígida, e sobre estas árvores, se estendiam um 
amplo gramado abundantemente irrigado. Ao lado deste alinhamento encontravam-se 
árvores frutíferas e outras essências. Assim como no parque de Sargon, algumas partes 
do jardim eram reservas para caça. Além da disposição geométrica do todo, característica 
que parecia ter dominado esta época, encontrava-se ainda no paraíso de Cyrus a 
presença de: 
• Construções (tipo quiosques) dispersas entre as árvores; 
• Postos de tiro para os caçadores; 
• Áreas para descanso, onde se realizavam recepções ou simplesmente serviam 
como locais de frescor para os períodos de calor verão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDITORA - UFLA/FAEPE – Plantas Ornamentais e Paisagismo 
 
16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 7 - Miniatura representativa do jardim persa (Zuylen, 1994). 
 
As fontes de informação destes jardins eram as descrições efetuadas pelos viajantes 
gregos, as quais se assemelhavam às obras de arte persa da época “Sassanida”, dinastia 
do império Persa, no período 226-651 d.C. 
Durante a época Sassanida, o jardim persa era dividido em quatro cantos, por dois 
eixos retangulares. Estes eram demarcados, ora por alamedas, ora por linhas d’água. Em 
algumas destas intersecções, eram construídos pavilhões, ou um palácio, ou ainda uma 
fonte, com motivos bem complexos. Uma das hipóteses é de que esta representação 
significava o universo, muito freqüente na Ásia, ou então a divisão do cosmos em quatro 
partes por quatro rios divergentes. Estes rios representavam os quatro rios do Paraíso: 
Leite, Mel, Água e Vinho. 
O número quatro tem uma simbologia especial nos jardins persas. A divisão dos 
jardins em quatro partes s imboliza também os quatro elementos sagrados: fogo, ar, água 
e terra. Para os persas da antiguidade, uma cruz dividia o mundo em quatro partes e no 
seu centro encontra-se uma fonte, que simboliza a origem e o poder. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
17 
 
FIGURA 8 - Representação de um pequeno jardim privado persa (Zuylen, 1994). 
Independente do sentido profundo destes jardins, eles exerceram grande influência 
sobre a história ulterior dos jardins. Agiram diretamente sobre a estética dos jardins 
muçulmanos, que por sua vez transportaram certos temas até o extremo ocidente. 
1.4. JARDINS GREGOS 
Devido ao solo rochoso e montanhoso, e ao clima quente e seco, a Grécia nunca foi 
uma região ideal para uma jardinagem organizada. Suas formas se aproximavam das 
naturais, fugindo das linhas s imétricas 
Têm-se registros da presença de jardins na Grécia desde o séc IV a.C. Na realidade 
os jardins gregos eram, sobretudo até a época clássica, um jardim sagrado, cultivado 
próximo a algum santuário e consagrado a uma das divindades da fecundidade. Os 
gregos criaram o conceito de Bosque Sagrado, um lugar natural, abençoado e dedicado 
aos deuses, com vegetação virgem e sem intervenção humana. Era um jardim lírico-
religioso, no qual expressava-se a antitese de uma concepção agrícola da exploração da 
natureza. Os gregos não procuravam a beleza nos jardins. 
 
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18 
 
FIGURA 9 - Jardim Grego (Zuylen, 1994). 
 
Os gregos se mostraram contra a moda dos jardins importados do oriente e o que 
eles fizeram foi seguir uma tradição bem estabelecida da cidade democrática. Os sábios 
se expressavam da seguinte forma sobre os pavões e os rouxinóis : “não existe lugar para 
estes ob jetos na Vila”. E completavam: “Existem pessoas que embelezam as culturas com 
vinhas trepadeiras e arbustos de mirto; eles criam pavões, pombos, perdizes e rouxinóis 
para cantarem para eles! Em tal situação, não tardará para estarmos a pintar um monte 
de lixo!” 
Era este o aspecto do espírito grego, racional, ponderado e, determinantemente 
intelectual. Eles repugnavam os jardins e tudo aquilo que estava ligado ao prazer em 
torno dos objetos da natureza que, segundo eles, era a guarda do irracional e do 
indefinido. A tradição grega apresentava o pequeno jardim de Epicure em Atenas, que 
segundo suas descrições, tinha um pomar onde se cultivam legumes. Era um jardim sem 
magnificência e destinado a uma única satisfação: a dos prazeres naturais e necessários. 
A aridez, e a sobriedade ática (região da Grécia, cuja capital é Atenas) repugnava a este 
luxo oriental do “paraíso”. 
Nos jardins gregos, então, se cultivavam legumes para consumo, trigo para 
confeccionar pão, mas as flores eram destinadas aos deuses. Os gregos cultivavam 
também peras, romãs, maçãs, figos, uvas, além das azeitonas. 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
19 
Muitas das descrições de jardins assim como os famosos jardins de Alcinos, 
descritos por Homero eram irreais. Os jardins naturais eram abundantes na mitologia 
grega. Eles representavam o locus amoenus ideal, um lugar mágico, distinto do resto da 
natureza, onde reinavam uma atmosfera e um espírito particular, o genius loci. 
Genius loci: os gregos se tornavam mestres na utilização do potencial da paisagem. 
A localização de templos, teatros e ágoras, além de dar uma proteção natural a estas 
construções, oferecia perspectivas espetaculares. As árvores eram dotadas de uma 
personalidade mística, divinizadas e faziam parte naturalmente dos projetos. 
O primeiro traçado de jardim regular foi descoberto próximo ao templo de 
Hephaistos, no ágora de Atenas. Este jardim que se s ituava na frente do alinhamento de 
colunas do templo era constituído de dois agrupamentos principais de arbustos, tendo a 
sua frente, canteiros de flores; É possível que tinham também vinhas cultivadas sobre o 
muro que o cercava.O traçado das plantações desta construção datada do séc. V d.C., 
era certamente típico dos santuários do período clássico. A sombra era fornecida pelos 
ciprestes, louros e plátanos. 
Os verdadeiros jardins do helenismo foram aqueles criados pelos tiranos sicilianos e 
pelos reis que sucederam Alexandre. Mas pouco a pouco as “Villas” helênicas foram 
apresentando os pórticos6 completados com passeios arborizados. O plátano tornou-se 
uma planta muito estimada. Os ginásios, inicialmente devassados, foram então 
completados com bosques e passeios. Árvores também foram plantadas próximo aos 
mercados e aos locais de reuniões como a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles. 
Na época da conquista romana, os gregos apresentavam a arte de jardins em sua fase 
inicial, mas foram estes conquistadores que a terminaram, unindo todas estas tendências 
e criando uma nova estética. 
Com as conquistas de Alexandre, a aristocracia grega começou a copiar os jardins 
da Pérsia e do oriente. Os parques públicos ornamentados com fonte e grutas se 
tornaram então um elemento das Vilas das colônias gregas. As plantas mais utilizadas 
nos jardins privados, ornamentados de esculturas instaladas em nichos e fontes, eram as 
rosas, íris , lírios, cravos, bulbosas floridas e as ervas. Encontravam-se também pequenas 
frutas. O luxo apareceu pela primeira vez no jardim de Epicure, mas pouco se conhece de 
sua descrição. 
1.5. JARDINS ROMANOS 
O nascimento da arte dos jardins na civilização romana teve diversas causas, sendo 
que uma das mais profundas está, associada a certas tradições e características deste 
povo, como por exemplo, o fato de que os romanos, mesmo após tantas conquistas, 
jamais se esqueceram de suas propriedades familiares. Após vencerem suas batalhas, 
era para estes lugares que os generais retornavam. A vida política os obrigava a 
permanecerem nas cidades e então eles começaram a adquirir suas casas de campo nos 
 
6
 Do latim porticus. Átrio amplo com teto suspenso por colunas ou pilares, portal. 
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20 
arredores de Roma. As mais tradicionais famílias da aristocracia possuíam grandes 
propriedades rústicas próximo a Roma. Estas terras foram se dividindo e aos poucos 
foram se transformando em Villas onde surgiram os Jardins dos Prazeres. 
 
FIGURA 10 - Jardim dos Prazeres (Zuylen, 1994) 
 
O jardim romano é uma mistura das artes gregas (eles trouxeram diversos 
monumentos e estátuas quando saquearam a Grécia) com a criatividade dos romanos. 
Os jardins eram metódicos e ordenados, integrando-se às residências, característica esta 
visualizada nas Villas romanas onde havia a interpenetração casa-jardim: as paredes 
eram pintadas com paisagens e os muros revestidos com trepadeiras. 
Os refinamentos da época helenística exerceram uma forte influência sobre a arte 
dos jardins em Roma e seus arredores, a qual se propagou por todo o império. Estes 
jardins se inspiravam no oriente – do Egito à Pérsia, sem no entanto imitá-los, criando 
uma estética s intética e sofisticada. Os romanos retomaram o tema da bacia central da 
arte dos jardins egípcios e quando possuíam espaço suficiente, adotavam um canal para 
fazer um Euripo7. Os gregos influenciaram na criação destes jardins através da estética 
de sua poesia, pintura, e escultura. 
 
A grande novidade consistia nas composições de paisagens, onde dispor 
s imetricamente as árvores já não era mais suficiente. As plantas, a água e o solo se 
 
7
 Euripo (Euripe): por origem, estreito que separava a Ática da Eubéia. Os Euripos dos jardins são canais 
percorridos por correntes d’água que, com a ajuda de uma engenhosa combinação de válvulas, variam 
seu sentido, movimentando ora para um lado, ora para outro, simulando o movimento das correntes 
marítimas. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
21 
tornaram a partir deste momento o suporte para pesquisas de composições plásticas. Os 
jardins romanos marcaram profundamente a história dos jardins na Europa. 
Marcus Porcus Catu (234-139 a.C.), funcionário de alto posto do Estado, 
“agrônomo”, escreveu o tratado De agri cultura, com conselhos práticos e de agricultura. 
Tinha como intenção valorizar a s implicidade rural e natural. Este tratado foi uma crítica à 
sofisticação e ornamentação dos jardins e à sociedade romana, valorizando as 
características do comportamento dos gregos e constituindo uma ode à natureza. 
Nos primeiros textos em latim, onde são citados os Jardins dos Prazeres, o 
jardineiro era chamado de topiarius, ou seja, paisagista. Sua arte era chamada de arte 
topiária, palavra que os historiadores modernos sempre restringiam o sentido, afirmando 
que esta designava apenas a poda pitoresca de arbustos. Na verdade, esta poda 
pitoresca foi inventada e praticada pelos jardineiros romanos, mas era somente um dos 
procedimentos da arte topiária desta época e que só apareceu 50 anos após o início do 
jardim paisagista romano. Para esta arte, os romanos utilizavam ciprestes, buxos e louro-
anão, as mesmas plantas ocorrentes nos jardins gregos e persas. 
Esta arte dos jardins paisagísticos nasceu graças à pintura grega, que impôs sua 
estética e seus temas aos jardins. A arquitetura helênica foi caracterizada pelo 
desenvolvimento sistemático de pórticos e colunas. Cada cidade possuía o luxo de ter em 
volta de suas praças públicas, de seus ginásios e nos arredores de seus teatros, grandes 
passeios cobertos. Durante muito tempo, os pintores representavam nos muros cenas 
mitológicas como os episódios das viagens de Ulisses, a guerra de Tróia, visões do 
mundo infernal, trabalhos de Hércules e outras imagens deste tipo. Pouco a pouco, os 
personagens foram perdendo seu lugar de destaque e os artis tas começaram a se 
interessarem mais pela decoração do que pelo conteúdo histórico. Assim, “Pintavam-se 
portos, promontórios, margens de rios ou riachos, fontes, canais, santuários, bosques 
sagrados, montanhas, rebanhos e pastores”. 
A invenção dos jardineiros romanos consistia simplesmente em destacar a paisagem 
pintada, e transportá-la para as áreas descobertas que contornavam o pórtico. Em sua 
origem, o jardim paisagístico romano, era um quadro projetado no espaço, em três 
dimensões, um diorama8 construído com os verdadeiros materiais da natureza. Estas 
paisagens deixadas aos jardineiros romanos pela pintura helênica eram paisagens 
sagradas. A maioria dos temas que as compunham, exprimia uma visão da natureza, 
onde jamais eram ausentes os deuses, os heróis e os mortos. Capelas, túmulos, 
santuários de todos os tipos eram sempre encontrados. Segundo os artis tas gregos a 
natureza era impregnada de um sentido de divino. Para eles, este tratamento da 
paisagem era por um lado uma intenção de realismo e por outro, uma tradição estética. 
Nos campos helênicos eram encontrados monumentos sagrados, estátuas e 
túmulos. A paisagem só era considerada digna de ser interpretada por um artista, quando 
esta era a testemunha da presença humana. A imagem de um túmulo, por exemplo, não 
 
8
 Diorama: pintura panorâmica, que em certos momentos luminosos proporciona a ilusão do real em 
movimento. 
 
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22 
despertava nenhum sentido de tris teza, pois os mortos estavam presentes nestes jardins 
como estão presentes os gênios da terra. Ali, eles continuavam a viverem a vida secreta 
da natureza, sensíveis ao retorno da primavera e às flores que lhes eram oferecidas pelos 
vis itantes. Muitos epigramas da antologia testemunhavam esta crença de uma comunhão 
entre a vida e a morte. Priape, o deus da fecundidade, estava presente tanto perto dos 
túmulos,quanto dentro dos pomares. 
Os temas dos jardins romanos eram inspirados na paisagem helênica, caracterizada 
pelo panteísmo latente e pelo naturalismo romano, onde a natureza tinha muitos poderes 
e demônios mal definidos, originados da paisagem sagrada. 
Os jardins romanos eram obras de arquitetos e estavam, portanto, subordinados à 
arquitetura. Eles completavam a casa romana com passeios e pórticos dispostos em 
todas as orientações para gozar do sol, da sombra e da natureza em todas as horas do 
dia. Construíam-se também varandas que serviam como locais de lazer. 
Nos jardins romanos se cultivavam coníferas, plátanos, amendoeiras, pessegueiros, 
macieiras e figueiras. A maioria possuía horta. Os canteiros eram plantados como 
bordaduras. Havia também lagos, que possuíam o fundo escuro para causar efeito de 
espelho. 
 
 
FIGURA 11 - Jardim Romano (Grimal, 1974). 
 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
23 
 
FIGURA 12 - Jardim Romano (Grimal, 1974). 
 
O Parque de Amaltheum 
Este parque foi organizado por Atticus, amigo de Cícero. Era um santuário 
consagrado à Ninfa, que, segundo a mitologia, em outros tempos, sobre o monte de 
Creta, havia cuidado de Zeus nos seus primeiros anos de vida. 
Para chegar à gruta, era preciso percorrer uma alameda de plátanos, ao longo de 
um riacho. O Amaltheum, propriamente dito, era um conjunto de rochas, uma gruta 
artificial, evocando a gruta onde Zeus havia passado sua infância. Dentro desta gruta 
havia uma estátua representando a ninfa alimentando a criança com néctar e mel. Os 
poetas julgavam ouvir as vozes das ninfas vindas das grutas. O frescor da água corrente, 
o murmúrio e a impressão da abundância divina faziam deste lugar um santuário digno de 
uma divindade. Era um quadro mitológico que se transformou em uma verdadeira obra, 
valorizando todos os sentidos humanos pela magia do jardim. O Amaltheum de Atticus se 
tornou um modelo que multiplicou pelos jardins romanos. 
A pedra pomes, comum nos terrenos vulcânicos do sul da Itália, era utilizada para 
construir a parte rochosa das grutas. Esta tradição se perdeu, não sendo mais encontrada 
nos jardins modernos, devido às imitações realizadas na época do renascimento. 
Para os conceitos religiosos da Antigüidade o fato de se servir dos santuários 
dedicados às divindades para seu próprio prazer, não constituía nenhum sacrilégio. Por 
todas estas razões, havia nos parques romanos diversas estátuas e os artis tas 
procuravam representar os cenários das lendas e poesias. 
Como exemplo têm-se as caçadas de Meleagre9 com outros caçadores e sua tropa 
de cães, o javali acuado em seu desespero, e toda uma composição vivificada para 
decorar os bosques. Encontrava-se ainda, o massacre de Niobe, onde Apolo e Artemísia 
matavam as crianças de Niobe, para punir sua mãe de se comparar insolentemente com 
Léto. A Niobe dos jardins de Sallustre em Roma também pertencia a uma composição 
deste gênero. O touro Farnésio (atualmente no Museu de Nápoles) pertencia ao quadro 
mitológico sobre a punição de Dirceu, destinado a ser valorizado pelo quadro da natureza. 
As obras da estatuária grega eram largamente utilizadas nestas encenações, conferindo-
 
9
 Um dos caçadores que na mitologia grega, matava o javali de Calydon e o oferecia à Atlante. 
 
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24 
lhes assim uma grande valorização. 
 
Como nem todos os romanos dispunham de grandes recursos, os jardineiros 
imaginaram “esculpir”, eles mesmos, as árvores para satisfazer uma clientela cada vez 
maior naquela época. Foi então que surgiu a poda plástica, a nemora tonsilia, hoje em dia 
chamada de arte topiária. O buxinho (Buxus sempervivens), o taxus (Taxus baccata), e o 
louro (Laurus nobilis) eram muito utilizados na arte topiária. Apareceram então gramados 
ornamentados com barcos, veleiros, e ainda caçadas inteiras, onde uma lebre de buxinho 
era perseguida pelos cães de caça. Jardineiros engenhosos escreviam também com o 
mesmo princípio o nome do proprietário. 
Da mesma maneira como nas paisagens da pintura helênica eram representados 
capelas e templos, no jardim romano se apresentavam pavilhões, as diaetae. Estes 
pavilhões eram utilizados como locais para alimentação, repouso, reuniões e ainda para a 
leitura. Às vezes, estes pavilhões tinham a forma de uma torre de dois andares e 
evocavam temas da paisagem egípcia, popularizada pela pintura e pelos mosaicos. 
Próximo as diaetae se cultivavam parreiras, que no verão filtravam a luz do sol, e 
ofereciam ao salão uma iluminação esverdeada. Algumas também eram rodeadas por um 
fosso de água, formando uma ilha. 
Os convidados costumavam se deitar sobre a margem de mármore do fosso e eram 
servidos por barcos ou pássaros flutuantes que substituíam as bandejas. Haviam 
banquetes místicos, servidos por gênios invisíveis como o de Psiquê no palácio de Éros. 
O jardim era assim um mundo encantado, onde os homens se tornavam companheiros de 
Silene10, que podia ser visto deitado num bosque vizinho. Ou ainda de Dionysos11 que 
descobria maravilhado a presença de alguma Ariane adormecida. 
O gosto pela presença divina às vezes se confundia com o bizarro e nos jardins isto 
reinava como numa cena de ópera italiana, a qual se repetiu quinze séculos mais tarde 
nos jardins clássicos. Mesmo dominados pela expectativa de evocações legendárias e 
poéticas, eles ainda eram submissos à arquitetura. Os motivos pitorescos eram sempre 
apresentados a partir de elementos arquiteturais tais como a presença de perspectiva a 
partir de um pavilhão ou de uma alameda para caminhadas ajardinada e ainda a de 
terraços com bordaduras, de onde se podia contemplar uma paisagem ordenada. 
Assim, o jardim romano perdeu sua unidade e se dividiu em setores de maneira que 
cada um servia a um pavilhão ou a uma parte do castelo. Freqüentemente era o pórtico 
que comandava o jardim e por esta razão, os romanos tinham adotado em suas Villas os 
temas helênicos do ginásio, que nada mais era que um percurso por entre os bosques. Já 
para os gregos, os ginásios das cidades eram destinados ao exercício físico, com pista de 
corrida, área descoberta para o lançamento de dardo e de disco. A área descoberta, 
denominada de xyxtos (lugar plano), se transformava em um simples terraço, 
normalmente gramado. 
 
10
 Filho de Hermes, representado sobre a forma de um velho careca que está sempre embriagado. 
11
 Deus da vinha, que cultivava a arte e a poesia, e foi o responsável pelo surgimento do teatro. 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
25 
Cícero, em uma de suas Villas (em Tusculum) construiu dois ginásios: um chamado 
Academia e o outro Liceu. Estes nomes provam que o valor dado a estas composições é 
ligado às associações filosóficas e culturais do ginásio. Os ginásios para os romanos 
eram um lugar de reuniões, colocado sobre a proteção de uma estátua de Atenas, a 
deusa das atividades intelectuais, se tornando um retiro do filósofo, um local ideal para o 
lazer estudioso e onde ocorreram os grandes debates retóricos e filosóficos, tais como 
quando Cícero se rivalizava contra Aristóteles e Platão. 
 O esplendor romano de suas Villas pode ser registrado na Villa do imperador 
Adriano (117-138 d.C.) em Tivoli, onde se tem o exemplo máximo do Topia, jardim 
concebido como um lugar imaginário. Este jardim situava-se próximo à colina de Tibur e 
era uma reconstituição de monumentos e construções admirados pelo Imperador nas 
viagens que realizava pelo seu império. Assim como em diversos outros jardins romanos, 
na Villa de Adriano se explorou as perspectivas naturais da paisagem como os vales que 
eram vistos dos terraços e as construções queeram abrigadas em pequenas grutas. 
A Villa de Marcus Lucrecius s ituava-se próximo a Pompéia. Era um exemplo dos 
Jardins dos Prazeres, com arquitetura integrada à paisagem, a qual tinha como fundo o 
vulcão Vesúvio. Estátuas de Hermes garantiam a proteção divina. No jardim cultivavam 
árvores frutíferas, rosas, buxinhos destinados à arte topiária, plantas aromáticas, 
especialmente as perfumadas. 
 
FIGURA 13 - Villa de Marcus Lucrecius (Zuylen, 1994). 
 
Um século e meio após, apareceu outro motivo arquitetural também originado da 
Grécia: o Hipódromo. Esta estrutura apresentava uma pista longa, retilínea, com uma 
curva em uma de suas extremidades. As longas alamedas retilíneas eram às vezes 
terminadas por um pórtico, ou então plantadas de árvores, onde seus troncos substituíam 
as colunas. Guirlandas de hera corriam de um tronco a outro, formando arcos vegetais. 
Ao longo da alameda principal existia sempre um gramado com composições esculturais 
ou arbustos podados, além de árvores em arco onde se encaixavam bancos 
semicirculares. Dentro do semicírculo do hipódromo, a alameda se dividia e se perdia 
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26 
dentre os bosques e pérgolas cobertas de roseiras. Neste lugar, contemplava-se, à 
medida que se caminhava, jogos de culturas contrastantes e transições calculadas de luz 
e sombra. 
Nos hipódromos, encontravam-se ainda fontes em todos os cantos. Devido ao clima, 
nos jardins romanos, a presença da água corrente era bastante valorizada. Dentro das 
diaetaes havia fontes onde o murmúrio e o frescor da água convidavam o visitante ao 
relaxamento e ao descanso. A água, assim como as árvores, os arbustos e os animais 
domésticos, eram nestes jardins os elementos de sua magia. 
Para dar a estes jardins a característica de um lugar imponente, havia sempre no 
eixo dos setores (que eram fechados), a presença de um canal chamado Euripe. Esta 
divisão dos jardins levava sempre a uma composição de terraços em diversos níveis. Isto 
ocorria na maioria das Villas do interior romano e sobre as colinas do Latium. Nestes 
jardins não ocorriam as vastas perspectivas, pois cada um dos elementos se fechava 
sobre s i mesmo. A presença de um pórtico ou um contorno transformava o setor em um 
novo quadro oferecido a cada instante à presença humana. Quando uma peça não podia 
se abrir, havia pinturas realistas enquadradas, que sugeriam assim uma paisagem se 
abrindo aos olhos por uma janela (Trompe oeil = “engana olho”). 
Podiam ser encontradas ainda paredes inteiras da sala de estar, recobertas de 
afrescos representando bosques, dando a impressão ao visitante de se encontrar no meio 
de um bosque repleto de pássaros e frutas. 
Com o tempo, a casa romana começou a se transformar para melhor acolher os 
jardins. O átrio, que não passava de uma peça de recepção, passou a ser ornamentado 
com jardineiras, dispostas em torno de uma bacia central para aproveitar a presença da 
luz. Eram pintadas ainda sobre as paredes das jardineiras, plantas como íris e papiros. As 
pinturas eram tão realistas que podia se ver no meio das folhagens a s ilhueta de um 
caracol ou ainda de pássaros. Nas grandes insulae (casas de alguns andares), que foram 
substituindo as casas de átrio, era freqüente a presença de floreiras nas janelas, 
traduzindo o forte desejo dos romanos de ter ao menos a imagem de um jardim. 
Nas casas escavadas em Pompéia, pode-se conhecer como eram os jardins de 
grande parte da pequena burguesia. Um estudo minucioso das marcas deixadas pelas 
raízes nas cinzas e das representações dos jardins permitiu se ter uma idéia da flora de 
que dispunham os romanos. Havia árvores como: bordo (ácer), cipreste, plátano, ébano, 
sândalo, pinheiro, palmeiras, lódão (ulmo)12, álamo e o carvalho. 
Os bosques eram uma composição paisagística de grande importância. 
Apresentavam dimensões médias onde se cultivavam variedades anãs de árvores, como 
por exemplo, Chamaeplatani (plátano anão), e diversos arbustos, tais como: rosas, 
 
12
 Celtis australis, da família Ulmaceae que apresenta em torno de 80 espécies de árvores e 
arbustos. Ocorrente na regiões sul da Europa, Ásia Menor e Irã. Possui 8-20 m de altura e 
diâmetro de 5-12 m. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
27 
taxus13, buxinho, medronheiro14, giesta, rododendro, oleandros (espirradeira) e louros. 
Como forração, revestindo os canteiros planos, encontrava-se nestes jardins: o acanto15, 
a hera e a pervinca16. As capilárias (designação comum dada a algumas avencas) 
apareciam nestes jardins cobrindo partes das rochas, próximo das fontes. 
E por fim, os canteiros, que ora ocorriam em maciços uniformes, ora em 
composições variadas da flora italiana, eram compostos de: violetas, actínia ou anêmona, 
papoulas, dedaleiras, palmas, jasmins, vários tipos de lírios, íris , jacintos, margaridas, 
amor-perfeito, narcisos, orégano, trevo. 
A cultura de rosas também fez grande progresso nesta época, e havia um grande 
número de variedades, sendo que umas eram originárias do sul da Itália e outras da 
Grécia. A conquista da Ásia permitiu aos dominadores o conhecimento de novas espécies 
de árvores frutíferas. A cerejeira, por exemplo, foi introduzida em Roma no primeiro 
século antes de Cristo. O limoeiro e a laranjeira provavelmente foram introduzidos durante 
o reinado de Augusto. Nesta época, estas plantas, assim como a palmeira, conservavam 
ainda um caráter exótico e tanto seus frutos quanto suas formas eram muito apreciados. 
Estas plantas contribuíam para o caráter exótico e a impressão do maravilhoso, os quais, 
para os romanos, eram inseparáveis da idéia de jardim. 
Encontraram-se em algumas pinturas, trabalhos minuciosos dos jardineiros tais 
como paliçadas em treliças de caniço, guirlandas de parreiras ou de hera, túneis de 
vegetação, arcos de trepadeiras e fontes de onde a água escorria para tanques redondos 
e caía sobre um tanque cheio de peixes e rodeado de pássaros. 
O jardim romano pode ser considerado como uma síntese original destinado a 
exercer uma influência durável sobre a arte e a civilização ocidentais. 
2. INFLUÊNCIA DOS JARDINS DA ANTIGÜIDADE NOS JARDINS DO ORIENTE 
MÉDIO 
O Império Romano impôs uma cultura comum a todo o mundo da Antigüidade. O 
jardim romano, que unia estética e sentimento em relação à natureza, bem como a arte 
de viver, persistiu durante séculos e sua influência foi tão durável quanto a de outras artes 
como escultura, arquitetura e literatura. Com a divisão do império em dois no final século 
III d.C., quando se separaram as províncias de língua latina das de língua grega, 
formaram-se duas linhas de influência deste jardim: uma oriental (Oriente médio) e outra 
 
13
 Arbusto da família das Taxaceae, apresentando oito espécies similares, dentre as quais cinco são de 
porte arbustivo. São coníferas primitivas, onde se tem a árvore ou arbusto masculino separado do 
feminino. 
14
 Arbusto da família das Ericaceae, gênero Arbutus, ocorrendo cerca de 20 espécies. Comum no sudoeste 
da Europa e Ásia Menor. 
15
 Acanthus spinosus, A. moll is. Planta espinhosa, família Acanthaceae, muito decorativa, originária da 
Grécia e da Itál ia, cujas folhas serviam de modelo para ornatos arquitetônicos. O gênero Acanthus 
compreende cerca de 50 espécies, são plantas herbáceas e viváceas. 
16
 Pertencente à famíl ia Apocinaceae, gênero Vinca, que compreende 7 espécies. Planta sub-bosque, com 
flores tubulares de coloração violeta. 
 
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28 
ocidental. Muitos fatores contribuíram para que cada um destes domínios impusesse aos 
seus jardins estéticas divergentes. 
2.1. BIZÂNCIO 
Existe a hipótese, comprovada pelosescritores da língua grega que tinham como 
objeto de seus romances a descrição de jardins, de que Bizâncio tenha continuado a 
preservar os seus jardins da Antigüidade até seu fim. 
Nestes jardins haviam pomares cultivados com macieiras, pereiras, murtas, 
romãzeiras, figueiras e oliveiras. A videira, planta predileta destes jardins, era utilizada 
como trepadeira e era conduzida sobre os troncos das árvores formando arcos. As 
plantas ornamentais eram cultivadas junto às frutíferas e eram as mesmas dos jardins 
romanos e dos parques da Babilônia. Estes jardins eram fechados por muros altos, sendo 
que às vezes se encontrava um pórtico. As flores contribuíam com a cor e o perfume dos 
jardins. Animais e pássaros de várias espécies animavam este lugar encantador, que 
apresentava como complemento obrigatório uma fonte central, geralmente uma pia 
redonda sobre uma coluna, aonde pássaros e pombos vinham banhar-se. Esta descrição 
caracterizava as típicas Villas imperiais do Bosforo se tornando um tema comum entre os 
romancistas, que com certeza confirmavam uma realidade. 
Em romances posteriores, foram se introduzindo elementos menos tradicionais, 
como a descrição dos autômatos, equipamentos hidráulicos e eólicos que se 
movimentavam por meios mecânicos. Estes foram citados pela primeira vez em um texto 
do século XIII, mas com certeza foram criados antes desta época, pois retomavam os 
mesmos motivos imaginados por Heron de Alexandria, como, por exemplo, animais de 
pedra figurando uma fonte e dotados de movimentos. Havia ainda estátuas que pareciam 
nadar em piscinas, enquanto que, em volta destas, cantavam pássaros de ouro. Em outro 
romance, tinha-se ainda a descrição de um jardim com estátuas de alguns personagens, 
sendo que umas representavam os guerreiros e outras os músicos, dos quais suas flautas 
e harpas ressonavam sobre a brisa. Baseado nestas descrições pode-se concluir que as 
antigas encenações dos romanos não foram esquecidas e s im aperfeiçoadas, à medida 
que se generalizava a arte destes equipamentos engenhosos. Os jardineiros franceses 
também utilizaram destes artifícios nessa mesma época, provavelmente transmitidos pela 
cultura árabe. 
 
 
 
 
 
 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
29 
 
FIGURA 14 - Autômatos (Zuylen, 1994). 
 
2.2. PERSIA 
Ao mesmo tempo, ao lado do jardim Bizantino, continuava a se desenvolver o jardim 
Persa que, devido às conquistas árabes, se espalhou em todo o oriente asiático, do norte 
da África até à Espanha. Durante este tempo, os contatos entre os países que tiveram a 
influência do Império Romano com o reino persa eram freqüentes, o que fez com que a 
arte do jardim continuasse a se desenvolver nesta troca de influências. Após o século XIII, 
com novas conquistas, ampliou-se o contato com a China, recebendo algumas influências 
deste estilo. No século XIV foram introduzidos nos jardins o pavão e o marreco, trazidos 
da Itália e Ceilão. 
Uma das simbologias possíveis do traçado deste estilo de jardim seria a 
representação de um microcosmo que rodeava a moradia de um principado. Dentro deste 
tema, é s ignificativo lembrar de um costume que durou muito tempo na Pérsia. Até o 
século XVIII, a cada ano, precisamente no dia 10 de fevereiro, os cortesãos ofereciam ao 
rei pequenos jardins artificiais de cera pintada, destinados a decorar o centro das mesas. 
Os artesãos que os fabricavam eram chamados de plantadores de tamareira. A tamareira 
era considerada a árvore da vida, árvore sagrada, e s imbolizava a fecundidade primaveril, 
a qual era simbolicamente guardada pelo rei durante o inverno, através destas oferendas 
de jardins artificiais. Estes apelavam a toda natureza, a benção do príncipe e 
testemunhavam a aliança entre o príncipe e seu povo. 
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30 
O jardim persa era formado por um endeusamento naturalista com o qual se 
poderiam fazer alusões aos jardins romanos, mas com diferenças evidentes. Os jardins 
persas não eram povoados de deuses e demônios como o topia romano. Neste jardim se 
ignorava a estatuária ornamental. A representação de seus deuses não possuía corpo, 
nem contorno definido, era um tanto quanto misteriosa. Não se encontrava nos jardins 
persas nenhuma destas representações morais, que se aproximavam dos fundamentos 
da cultura dos romanos. 
Nos jardins da Pérsia, ao contrário, o luxo estava na sua gratuidade e nos 
fundamentos do valor que enfatizavam o religioso e moral. Para este povo, a melhor 
maneira de celebrar as festas dos deuses, era se retirando por um dia das atividades 
mercantis. Deveria-se recolher na companhia de alguns amigos, perto de uma fonte, à 
sombra de grandes árvores, ou sob um pavilhão, cuja arquitetura não colocava nenhuma 
barreira entre o homem e as forças primordiais da natureza. Este sentimento, que para os 
romanos foi uma descoberta tão laboriosa, no oriente apareceu espontaneamente, 
inspirando a estética do jardim tanto na Pérsia quanto em todo o mundo muçulmano. O 
jardim era considerado como a mais nobre forma de vida, aquela que Deus prometeu em 
seu paraíso: um lugar saudável, repleto de felicidade, de inteligência e de sabedoria. 
Os tapetes 
Uma das grandes fontes de informação sobre os jardins persas são os tapetes, pois 
os persas imortalizaram neles os seus jardins. Um exemplo deste jardim pode ser retirado 
deste tapete do século XVIII. 
 
FIGURA 15 - Esquema de um tapete confeccionado com o tema de jardim (Gr imal, 
1974). 
Pode-se notar que, pelo desenho, o jardim era formado por um vasto enclauso 
retangular. Dentro deste enclauso, encontravam-se dois eixos retangulares, cuja 
interseção era marcada pela presença de um tanque de formato quadrado. No centro do 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
31 
tanque havia uma fonte com peixes dourado (talvez golfinho), cada um voltado para um 
dos quatro canais. Os dois grandes eixos eram marcados por um grande canal retilíneo, 
em cujas margens eram plantados coníferas, pinheiros ou ciprestes em intervalos 
regulares. 
Os muros que fechavam o jardim eram cobertos por roseiras trepadeiras. No interior 
de cada retângulo, dois outros canais se interceptavam, sendo que em cada uma destas 
interseções, encontravam-se quatro grandes árvores de folhas caducas, tais como 
carvalho, plátano, sicômoro. Os retângulos eram subdivididos em retângulos menores, 
formando uma malha, e separados por um sistema de canais que situavam em um nível 
superior ao dos canteiros que ele dividia, e estavam em um nível inferior ao das alamedas 
principais. Este era um sistema que permitia a irrigação e foi largamente utilizado pelos 
jardineiros orientais desta época, pois, devido ao clima desértico, esta era uma 
necessidade e ao mesmo tempo, definiu um estilo de jardim. 
Nos canteiros do jardim, haviam flores coloridas e arbustos. Dentre estas, 
destacavam-se as rosas, as tulipas, as calêndulas, a espirradeira rosa, o mirto, a romã, as 
laranjeiras e os limoeiros. A estrita disciplina que marcava a organização geral do jardim 
não era utilizada no plantio dos canteiros. No interior de cada um destes, as sementes 
das flores eram lançadas ao acaso. 
O jardim persa era como um bosque sagrado onde se uniam os elementos 
fundamentais do universo. Nestes jardins, tanto os tanques quanto os canais, eram 
desprovidos de margem, pois era importante que o nível da água dos canais coincidisse 
exatamente com o nível das alamedas, para que o céu e a terra se confundissem com 
seus reflexos, transportando o olhar de um a outro sem nenhuma interrupção (origem da 
concepção de espelho d’água). Era um universo de sonhos ou de meditações, confusão 
de formas, onde a luz comandava o espetáculo. 
Esta mistura de elementos justificava a mistura das artes característicadeste povo, 
que expressava seu jardim através da música. Nesta cultura encontrava-se a música de 
jardim, assim como se tem na cultura ocidental a música noturna. 
A partir do século X a.C., os jardineiros persas começaram a utilizar azulejos 
(ladrilhos de cor azul) para revestir os fundos e bordas das bacias e canais, como se uma 
linha de água com seu fundo azul, representasse um pedacinho do céu. Este elemento 
antecipa a concepção do reflexo, sendo ele o próprio reflexo e não simplesmente um 
espelho. Desta forma, o jardim recebe o céu. 
Após o domínio romano sobre o oriente, pode-se notar a presença de pavilhões 
disseminados na arte dos jardins persas, com a particularidade de estarem sempre 
dispostos no ponto de fuga de algumas perspectivas. Outra característica destes jardins 
era a presença de pavilhões ou mesmo do castelo no centro deste, onde antes se 
encontrava uma bacia. Estes pavilhões, s ituados no lugar onde o s imbolismo colocava a 
Terra, eram elevados em relação ao resto do parque, e muitas vezes eram ainda 
contornado por um canal, formando ilhas. Os pavilhões situados em outros pontos dos 
jardins, tinham formas diversas: alguns lembravam as tendas, outros eram um ponto de 
parada em forma de baldaquim. Os mais s imples apresentavam um teto plano sobreposto 
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32 
por uma pequena torre hexagonal, com colunas de madeira, bastante rústicas. Havia 
também as pérgolas e diaetae do jardim romano e as construções em forma de torre dos 
jardins egípcios. Ainda, da pintura romana, a presença de uma arquitetura suave, com 
colunas finas, ou ainda pérgolas aéreas, abertas sobre as copas frondosas dos jardins. 
Um outro tema desenvolvido pelos jardineiros persas foram os quiosques instalados 
entre os troncos mestres das árvores. Nestes, eram colocadas pranchas contornadas por 
parapeitos e que eram acessadas por uma escada. Segundo as miniaturas, eles tinham o 
costume de lanchar ou mesmo de dar recepções nesses locais. 
Os grandes parques reais possuíam também pavilhões que eram verdadeiros 
palácios, em miniatura, com o seu pátio central, onde se estendia a bacia entre duas 
alamedas, um tema que teve grande sucesso no prosseguimento histórico dos jardins. 
2.3. MONGÓLIA 
Os imperadores da Mongólia também apreciavam a arte dos jardins. Antes de 
invadir a Índia, o Imperador Babour (1433 – 1530) vivia em Samarcande, no meio de 
pomares e jardins irrigados conforme o modelo persa. Este imperador deixou descrições 
detalhadas dos jardins criados por ele. Nestes jardins, os quatro canteiros geométricos de 
flores e plantas eram mais altos e separados por canais de irrigação, motivos estes 
também encontrados nos tapetes. 
2.4. SÍRIA 
Para os conquistadores árabes, os jardins tinham grande importância, tanto que esta 
cultura se expandiu desde o Irã até o Império Bizantino. Cita-se, por exemplo, os 
Omeyyades17 na Síria, que cultuavam o máximo possível todo o luxo e a cultura do 
mundo greco-romano. Os mosaicos da grande mesquita de Damas, que datam do início 
do século VIII, também são outro exemplo, que retoma temas dos decoradores romanos e 
bizantinos e, em particular, os temas adotados nos jardins. Haviam, em grande 
quantidade, pavilhões circulares, verdadeiras diaetae contornadas por folhagens de todos 
os lados, estruturas estas também encontradas nos parques de Roma e de Pompéia. 
Através das descrições de Ibhn Abdrabih, viajante que percorreu a Síria no século X, 
a mesquita de Medina, foi reconstruída por Al-Walid, na mesma época em que se 
construía a grande mesquita de Damas, apresentando ambas, decorações análogas. Nas 
suas descrições, registrou-se que os artis tas criaram os mosaicos reproduzindo imagens 
de árvores e de castelos ali encontrados, refletindo o esplendor dos jardins da época, os 
quais, para os Omeyyades, eram símbolos da felicidade prometida por Deus ao seu povo. 
2.5. ARÁBIA 
 
17
 Dinastia de cali fas que governaram de 660-750 o mundo mulçumano, durante o apogeu de sua 
expansão. 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
33 
Nos palácios dos reis Sassanidas, como Quacr’i Chirin, existiam perspectivas 
formadas pelos canais de água e a presença do verde. As escavações em Samarra, 
s ituada nas margens do Tigre e a 100 Km de Bagdá, revelaram que no centro dos 
palácios, por entre os salões de recepção e do harém, se estendia uma vasta esplanada 
ajardinada de dimensões aproximadas de 300 x 200 m, limitadas por muros. Por esta 
esplanada corriam canais paralelos aos muros que fechavam o jardim, bordeados por 
canteiros de flores. Samarra foi considerada o Versailles dos povos Abassidas. 
Os sassanidas, alguns anos antes da conquista árabe (fim do século VI), já tinham 
como tradição o hábito de possuir a imagem de seus jardins no interior do castelo durante 
o inverno. Para isso, eles desenhavam e teciam tapetes imensos onde se reproduziam 
exatamente as formas e as cores de seus jardins. Esta é a origem dos grandes tapetes 
com motivos de jardins, cuja produção persistiu durante doze ou treze séculos seguintes, 
passando esta tradição para a cultura árabe e se tornando preciosos documentos para os 
pesquisadores. 
Esta tradição testemunhou tanto a concepção do jardim, quanto teve um significado 
do seu poder mágico e religioso: como o jardim era a imagem do universo e símbolo do 
poder sobre a natureza, era necessário que o rei o conservasse ao seu lado. Um rei sem 
jardim, não era um verdadeiro rei. Assim, quando as estações do ano não lhe permitiam 
este contato, os artifícios dos tapeceiros rendiam ao rei o seu reino. 
A arte dos jardins árabes se desenvolveu sobre a base de dois modelos: a dos 
palácios iranianos e da tradição romano-bizantina, surgindo assim uma síntese bem 
original. A estética iraniana dos jardins dava uma idéia de vastos paraísos com uma rígida 
s imetria, graças aos seus pomares, bacias e canais. Da tradição romana vieram os jardins 
com peristilo18, as fontes com seus jatos d’água e margens trabalhadas e, sobretudo, a 
onipresença da arquitetura com colunatas19 e pórticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18
 Galeria de colunas em volta de um pátio ou de um edifício. 
19
 Série de colunas dispostas simetricamente. 
 
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34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIGURA 16 - Colunas de peristilo, Grécia (Goitia, 1995). 
 
Em meados do século X o centro do mundo muçulmano foi transferido de Damas 
para Bagdad, e os príncipes da dinastia Abbassida, herdeiros dos Sassanidas, 
construíram palácios inspirados em seus antecessores. Nestes palácios, os apartamentos 
estavam localizados dentro de um grande jardim de forma retangular. E nestes 
apartamentos, havia quatro salas se abrindo em cruz para uma área central quadrada, 
motivo este que se repetiria várias vezes na história dos jardins. 
As maravilhas dos jardins Abassidas foram celebradas no conto "Mil e uma Noites" 
em uma descrição que se tornou famosa: 
 
“Ali-Nour já conhecia Bassorah de muitos belos jardins, mas nenhum 
nem em sonho como este! A grande porta era formada de arcadas 
superpostas, do mais belo efeito, e coberta de vinhas trepadeiras que 
deixavam cair magníficos cachos, uns vermelhos como o rubi, e outros 
negros como o ébano. A alameda por onde entrávamos era sombreada por 
árvores frutíferas que deitavam com o peso de seus frutos maduros. Sobre 
seus galhos, os pássaros gorjeavam na sua linguagem, temas captados 
pelos ares. O rouxinol moldava seus arredores, a rolinha arrulhava seu 
lamento de amor, o melro assobiava como os homens, o pombo de coleira 
respondia como que embriagado por forteslicores. Ali, cada árvore frutífera 
era representada por duas de suas melhores variedades; encontrávamos 
damascos de frutas doces e amargas, e até mesmo damascos de 
Khorassan, ameixeiras com frutos da cor de belos lábios, e ameixas 
amarelas de uma doçura de encantadora, figos vermelhos, figos b rancos e 
figos verdes, todos de um aspecto admirável. Quanto às flores, estas eram 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
35 
como as pérolas e o coral; as rosas eram mais belas que as mais belas 
faces, as violetas eram escuras como a chama de enxofre queimando; e 
ainda existiam as flores b rancas do mirto; o goiveiro, goiveiro lilás, as 
lavandas e anêmonas. Todas as suas corolas se derramavam em chuva de 
lágrimas, e as camomilas se enchiam de sorriso para os narcisos, e os 
narcisos olhavam para as rosas com seus olhos negros e profundos. O cedro 
arredondado parecia um cálice sem pé nem gargalo, e os limões pendiam 
como bolas de ouro. Toda a terra era coberta por um tapete de flores de 
todas as cores, pois a primavera reinava e dominava todo o bosque, os rios 
fecundos se enchiam e suas fontes tintiliavam, os pássaros produziam seus 
ecos, o vento cantava como uma flauta, a b risa respondia docemente, e o ar 
ressonava toda esta alegria”. 
Não se acredita que toda esta descrição de Haron-al-Raschid seja apenas 
imaginação e literatura, pois existem detalhes que podem ser encontrados tanto nestas 
descrições quanto nos palácios de Samarra daquela época, como por exemplo, os jardins 
frutíferos, pavilhões de descanso, cabanas de jardineiro e grandes viveiros de peixes em 
canais que se comunicavam com o rio Tigre. Foi dentro da magia deste espaço que os 
príncipes muçulmanos implantaram os equipamentos construídos a partir dos modelos 
dos mecanismos bizantinos, criando e encantando a todos em seus jardins. Eram ainda 
freqüentes nestes jardins pássaros mecânicos que cantavam, e diversos tipos de 
estruturas que movimentavam como as folhas de metal, além de frutas de pedras 
preciosas. 
O jardim se transformou em uma parte essencial da residência mulçumana em todo 
o mundo is lâmico. Estes jardins foram encontrados em todo o Oriente médio, na Espanha 
moura e nos palácios s icilianos. Os poetas os descreveram e os jardins, assim como no 
oriente Bizantino, eram tema obrigatório dos romances de amor e representavam a 
imagem do Paraíso e da vida feliz. 
 
3. INFLUÊNCIA DOS JARDINS DA ANTIGÜIDADE NOS JARDINS DA EUROPA 
OCIDENTAL 
Ao contrário do que se passou no Oriente, onde os Jardins dos Prazeres nunca 
foram abandonados, na Europa ocidental a arte dos jardins passou por um longo período 
de obscuridade com o fim da Antigüidade. 
A sobrevivência dos jardins no Oriente foi devido à continuidade da tradição 
religiosa. O jardim no Oriente era parte integrante de uma concepção do mundo. Já no 
Ocidente, a doutrina cristã nunca permitiu este luxo secular. Os mosteiros deram a esta 
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arte uma função dentro de seus valores materiais e espirituais, sendo esta, uma função 
subalterna, muito diferente do que acontecia no Oriente. Privado de toda significação 
religiosa, na cultura ocidental o jardim não podia conservar sua eminência. Sua expansão 
só aconteceu com evolução cultural e espiritual ocorrida por influências externas como o 
contato renovado com a Antigüidade, a retomada do comércio e das relações com o 
Oriente, o contato com a cultura céltica e enfim, o renascimento italiano. 
A tradição do jardim da Antigüidade não desapareceu bruscamente. Esta arte, 
durante muito tempo, ocupou um lugar de destaque na vida cotidiana. Ovídio, importante 
escritor da Idade Média, descreve várias sugestões de jardins e temas de paisagens, 
onde a natureza era interpretada de acordo com a tradição topiária. A técnica do jardim foi 
transmitida, sem interrupção, de geração em geração, sobretudo na região de Provença, 
que compreendia as províncias meridionais da França e da Itália, e ainda, em todo o país 
romano. Foi assim que persistiram, no jardim medieval, as tradições dos jardins da 
Antigüidade como a utilização de buxinhos podados em bordadura. Havia ainda as 
treliças de caniço formando paliçadas para conter as cercas-vivas e parreiras formando 
arcos e pérgolas. A técnica dos jardins persistiu nesta transição da Antigüidade para 
Idade Média e Renascimento, mas o espírito desta arte sofreu grandes transformações. 
4. JARDIM MEDIEVAL (SÉC. XIII a XV) 
 "A Idade média européia estabeleceu uma ponte de séculos entre a 
queda do Império Romano e o Renascimento. A prática dos jardins foi conservada 
nos mosteiros e foi a partir desta época que a igreja escolheu como símbolo o 
Jardim Secreto, ‘Hortus conclusus’. Ao contrário, príncipes e poetas preferiram o 
‘Hortus deliciarum’, jardim paradisíaco, fonte de prazeres terrestres. Estas duas 
metáforas foram a essência do Jardim Medieval." 
 (Gabrielle van Zuylen) 
 
A concepção de jardins foi bastante modificada na idade média. A cultura pagã foi 
renegada, pois todos os povos eram considerados pagãos: egípcios, persas, etc. As 
guerras devastaram grandes áreas e cidades e, somava-se a isto, a crença de que as 
florestas e jardins densos eram habitados por demônios. 
 
O jardim medieval tinha como característica marcante a simplicidade, reflexo do 
retraimento que se seguiu à decadência de Roma. Havia, na Idade Média, três tipos de 
jardins: o jardim dos prazeres fechado, a horta utilitária e o jardim de plantas medicinais, 
explorado pelas ordens monásticas. Os jardins eram cultivados nos mosteiros e castelos, 
em pequenos espaços planos, quadrados e fechados por muros que eram revestidos de 
trepadeiras, Os passeios eram retos, cobertos de pérgolas, e se cortavam em ângulos 
retos, em alusão à cruz. Os assentos eram rústicos, feitos com troncos. As cercas mais 
baixas eram recobertas de rosas e as mais altas, por romãs. Neles se cultivavam plantas 
úteis para alimentação, medicinais e flores, sendo estas utilizadas para ornamentação dos 
Paisagismo I – Histórico, Definições e Caracterizações 
 
37 
altares. As plantas medicinais eram a base para fabricação de perfumes, cosméticos e 
remédios. 
Nos mosteiros, que foram o centro de preservação da ciência e das artes, eram os 
próprios religiosos que cultivavam os jardins e estes monges tinham um real senso da 
natureza, incentivado pelo paraíso bíblico. Pelo trabalho com a terra, se purificava e 
alimentava a alma. Nos jardins dos monges se cultivavam apenas ervas medicinais. Nos 
jardins dos padres e nos pequenos jardins domésticos (cultivados pelas mulheres), se 
cultivavam flores, legumes, plantas medicinais e árvores frutíferas. Foi nesta época que 
teve início a troca de conhecimentos sobre as plantas. Sabe-se, por exemplo, que em 
Languedoc, o abade Benoît mantinha contato com seus colegas da Alemanha e da 
Inglaterra, como Alcuin d’York. Eles trocaram em torno de 800 espécies de plantas 
medicinais. 
 
FIGURA 17 - Jardim Medieval (Zuylen, 1994). 
 
O Jardim secreto, Hortus conclusus, era um jardim de sonhos e portador de um 
grande simbolismo religioso, inspirado na descrição da esposa bem amada de o Cântico 
dos Cânticos 4, 12-15: 
 
“Jardim fechado és, irmã minha esposa, / jardim fechado, fonte selada. As 
tuas plantas formam um jardim de delícias, / toda a qualidade de romãs, / de frutos 
de cipre e de nardo; nardo e açafrão, canela e cinamomo, / com todas as árvores 
do Líbano, / mirra e aloés, de todos os perfumes mais finos. Tu, a fonte dos jardins, 
o poço das águas vivas,... ” 
 
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Havia nele uma métafora visual, que tornou este jardim uma alegoria da Igreja, 
presidida pela virgem em glória. Nestes jardins de Maria, as flores eram portadoras de

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