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Rev. bras. fisioter. Vol. 7, No. 1 (2003), 61-67 ©Associação Brasileira de Fisioterapia RELAÇÃO ENTRE CAPACIDADE VENTILATÓRIA E EXERCÍCIO EM PACIENTES COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA MODERADA-GRAVE Brunetto, A. F.,1•2 Pitta, F. 0.,1 Paulin, E.,3 Probst, V. S.,1 Yamaguti, W. P. S. 1 e Ferreira, L. F.1 1Departamento de Fisioterapia, Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Pulmonar (LFIP), Universidade Estadual de Londrina (UEL) 2Departamento de Fisioterapia, Universidade Norte do Paraná (lThyOPAR) 3Departamento de Fisioterapia, Universidade Paranaense (UNIPAR) Correspondência para: Antonio Fernando Brunetto, Rua Vasco da Gama, 128, CEP 86036-010, Cervejaria, Londrina, PR, e-mail: brunetto@uel.br Recebido: 29/11/2001- Aceito: 9/10/2002 RESUMO Este estudo teve por objetivo verificar a influência da capacidade ventilatória na capacidade de exercício do paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Participaram do estudo 38 pacientes com DPOC moderada-grave (VEF1 < 60% do previsto e VEF/CVF < 90% do previsto), sendo 19 homens e 19 mulheres, com idade média de 65,00 ± 9,94 anos, peso 59,78 ± 15,74 kg, altura 157,76 ± 8,65 em e VEF1 36,94 ± 11,74% do previsto (média± dpm). Os pacientes foram submetidos a espirometria, prova de pressões respiratórias máximas e teste da distância percorrida em seis minutos (DP6min). Foi realizada a prova de ventilação voluntária máxima (VVM) e calculados os valores da reserva ventilatória (RV) e o índice de reserva ventilatória (IRV) baseados na VVM e no volume minuto (VM). A força muscular respiratória foi medida pela pressão inspiratória máxima (Plmáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx). A capacidade de exercício foi avaliada pela DP6min. Para análise estatística utilizou-se a correlação simples de Pearson (p < 0,0: Os pacientes apresentaram DP6min média de 410,29 ± 129,57 m, RV 23,64 ± 11,45litros, IRV 66,89 ± 13,84%, VVM 34,01 ± 12,4S ·t;, do previsto, Plmáx -55,26 ± 22,02 cmHp e PEmáx 100,74 ± 31,78 cmHp. A RV (r= 0,76), a IRV (r= 0,71), a VVM (r= 0,68) e a Plmáx (r= 0,43) apresentaram correlação significativa com a DP6min. Portanto, a VVM, a RV, o IRV e a Plmáx influenciam a capacidade de exercício submáximo de pacientes com DPOC moderada-grave. Palavras-chave: capacidade ventilatória, exercício físico, DPOC, teste de caminhada. ABSTRACT The objective of this study was to verify the influence of ventilatory capacity in exercise capaeity of patients with chronic obstruc- tive pulmonary disease (COPD). Thirty-eight subjects with moderate-severe COPD (FEV1 < 60% predicted and FEV/FVC < 90% predicted) were included in the study. There were 19 men and 19 women with average age 65.00 ± 9.94 years, weight 59.78 ± 15.74 kg, height 157.76 ± 8.65 em and FEV1 36.94 ± 11,74% predicted (mean ± sd). Patients perfonned spirometry, maximal respiratory pressure tests and 6-minute walk distance test (6MWD). The maximal voluntary ventilation (MVV) maneuver was performed and were calculated the breathing reserve (BR) and breathing reserve index (BRI) based on MVV and minute ventilation (VE). The respiratory muscle strength was measured by the maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP) tests. Exercise capacity was evaluated by the 6MWD. Relationship between variables were analyzed by Pearson's correlation (p < 0.05). The mean 6MWD was 410.29 ± 129.57 m, BR 23.64 ± 11.45 litres, BRI 66.89 ± 13.84%, MVV 34.01 ± 12.49% predicted, MIP -55.26 ± 22.02 cmHp and MEP 100.74 ± 31.78 cmH20. The BR (r= 0.76), BRI (r= 0.71), MVV (r= 0.68) and MIP (r= 0.43) showed significant corre- lation with 6MWD. Thus, the MVV, BR, BRI and MIP influence the submaximal exercise capacity of moderate to severe COPD patients. Key words: ventilatory capacity, physical exercise, COPD, walking test. 62 Brunetto, A. F. et al. Rev. bras. jisioter. INTRODUÇÃO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se caracteriza pela presença de obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo, apresentando progressão lenta e irreversíveL~ A obstrução ao fluxo expiratório leva a aumento do volume residual e da capacidade residual funcional com conseqüentes alterações da mecânica do complexo tóraco-pulmonar, limitando a ventilação.2·4 A limitação ventilatória pode levar à intolerância ao exercício, decorrente, principalmente, da diminuição da capacidade de fornecer oxigênio aos músculos em atividade e do aumento do consumo de oxigênio pelos músculos respiratórios. 5• 6 Os testes de função pulmonar são úteis para o esclarecimento da limitação ventilatória e sua influência na capacidade de exercício. Entre as provas realizadas no teste de função pulmonar, o volume expiratório forçado (VEF1) tem sido utilizado como principal indicador da severidade da doença. No entanto, as provas de pressão inspiratória máxima (Pimáx) e ventilação voluntária máxima (VVM) têm sido utilizadas nos estudos que analisam as alterações na capacidade ventilatória e suas repercussões na performance do exercício dos pacientes com DPOC.7-10 A força dos músculos respiratórios é facilmente avaliada pelas provas de pressão inspiratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx), apesar de representar a sornatória das forças que agem na inspiração e na expiração. A Pimáx pode ser utilizada para avaliar a influência da força respiratória na performance do exercício do paciente com DPOC. 8• 11 • 12 Segundo Polkey et al., 12 uma pressão de suporte inspiratório prolonga o tempo de realização do exercício acima do limiar anaeróbico. Isso sugere que um déficit em gerar pressão inspiratória pode prejudicar a realização do exercício. Além disso, Lisboa et al. 8 e Pardy et a/. 13 mostraram que o treinamento de músculos inspiratórios aumenta a distância percorrida em teste de caminhada. Essas informações sugerem possível relação entre a força muscular respiratória e a capacidade de exercício do indivíduo com DPOC. A capacidade ventilatória pode ser avaliada pela prova de ventilação voluntária máxima (VVM). 14 Entretanto, outras variáveis de avaliação da capacidade ventilatória baseadas na VVM, entre elas o índice de reserva ventilatória (IRV) e a reserva ventilatória (RV), também podem ser utilizadas para o estudo da influência da ventilação na performance do exercício.7• 9• 15 Fink et al.,1 ao classificarem pacientes com DPOC de acordo com IRV e RV, mostraram que os pacientes com limitação ventilatória apresentavam menor capacidade de exercício que os indivíduos que não apresentavam a mesma limitação. Além disso, Royackers et al. 15 mostraram que uma modalidade de exercício que conduz a um menor volume minuto (VM) possibilita que o exercício seja realizado com maior carga de trabalho e por mais tempo. Isto indica possível relação entre a capaci- dade de exercício e as variáveis de avaliação da capacidade ventilatória que envolvem a endurance dos músculos respiratórios e o volume minuto (IRV, RV e VVM). Os estudos sobre capacidade de exercício de pacientes com DPOC mostram, portanto, que a ventilação é um dos principais determinantes da intolerância ao exercício nesses pacientes. Entretanto, ainda não estão bem determinados os componentes da ventilação que interferem na intolerância ao exercício. Dessa forma, estabelecemos como objetivo deste estudo verificar a influência da capacidade ventilatória na capacidade de exercício do paciente com DPOC. MATERIAIS E MÉTODOS Foram avaliados 74 pacientes com diagnóstico médico de DPOC por meio do teste da distância percorrida em seis minutos (DP6min) no Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná (HURNPr) no ano de 2000. Os critérios de inclusão no estudo foram: 1. apresentar distúrbio obstrutivo moderado-grave (VEF1 < 60% do previsto com VEF/CVF < 90% do previsto); 16 e 2. não teroutras doenças pulmonares, cardiovasculares, neurológicas, endócrinas ou locomotoras associadas. Dos 7 4 pacientes avaliados, 38 preencheram os critérios de inclusão, sendo 19 homens e 19 mulheres, com idade média de 65,00 ± 9,94 anos, peso de 59,78 ± 15,74 kg, altura de 157,76 ± 8,65 em, VEF1 36,94 ± 11,74% do previsto, CVF 60,34 ± 16,21% do previsto e VEF/CVF 44,84 ± 13,15% (média± dpm). Além disso, 21 pacientes apresentavam distúrbio obstrutivo grave e 17, distúrbio obstrutivo moderado. . Os pacientes foram informados da natureza e propósito do estudo e assinaram um termo de autorização para a realização dos testes. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética do HURNPr e pela Universidade Estadual de Londrina. O teste de função pulmonar foi realizado de acordo com as normas descritas pela American Thoracic Society, 17 sendo os valores previstos obtidos de acordo com Knudson et a/. 18 Foram realizadas as manobras de capacidade vital forçada (CVF), ventilação voluntária máxima (VVM) e capacidade vital lenta (CV). O volume minuto e o volume corrente foram obtidos na prova de CV, realizada após aproximadamente 1 minuto de adaptação do paciente respirando com o bocal. O IRV e a RV foram calculados pelas seguintes fórmulas: IRV = VVM - VMNVM (% )19 e RV = VVM- VM(L).7• 20 Para realização da espirometria foi utilizado o aparelho Pony Graphics- Cosmed®. A Plmáx e a PEmáx foram medidas como indicadores da força muscular inspiratória e expiratória seguindo a técnica descrita por Black & Hyatt.21 As medidas foram verificadas com os pacientes sentados, sendo utilizada no momento de cada prova uma pinça nasal. Os pacientes ajustavam o bucal firmemente contra seus lábios para evitar vazamento perioral. A Pimáx foi medida a partir do volume residual (VR) após Vol. 7 No. 1, 2003 Capacidade Ventilatória e Exercício no Portador de DPOC 63 expiração máxima. A PEmáx foi medida a partir da capacidade pulmonar total (CPT) após inspiração máxima. As pressões medidas foram sustentadas por no mínimo um (1) segundo. Foi selecionado para estudo o melhor valor de no mínimo três (3) manobras reprodutíveis. As pressões respiratórias foram mensuradas utilizando-se um manovacuô- metro analógico (Gerar, da Record®), com amplitude de -150 a +150 cmHp. A capacidade de exercício foi avaliada pelo teste da distância percorrida em seis minutos (DP6min).22 O teste foi realizado em um corredor com 4 m de largura e 20 m de comprimento, no ambulatório de Fisioterapia do HURNPr. Os pacientes foram orientados a caminhar o mais rápido possível durante os seis minutos. Foi-lhes permitido interromper o teste caso apresentassem fadiga, dispnéia, síncope ou vertigem, permanecendo o cronômetro ligado durante a interrupção. Um investigador acompanhou o paciente dando frases de incentivo a cada minuto. 23 A saturação de oxigênio (Sat02) e a freqüência cardíaca (FC) foram monitoradas durante todo o teste por meio de um oxímetro de pulso (Ohmeda-Biox 3700®). A freqüência respiratória (FR) e a sensação de dispnéia foram obtidas antes e imediatamente após a DP6min. A sensação de dispnéia foi avaliada pela escala de Borg modificada (EBM).24 Para análise dos dados foi realizada estatística descritiva (média e desvio-padrão). A análise da relação entre as variáveis ventilatórias e a capacidade de exercício foi realizada por meio da correlação simples de Pearson. O teste t de Student para dados pareados foi utilizado para comparar as variáveis pré e pós-teste da DP6min, sendo considerados como diferença significativa valores de p < 0,05.25 RESULTADOS A média da distância percorrida no teste da DP6min foi de 410,29 ± 129,57 m (média± dpm). Os valores de FC, Tabela 1. Variáveis do teste da DP6min. FR(cpm) Sat02 (%) FC (bpm) Dispnéia (EBM) Inicial 20,80 (3,91) 92,82 ( 4,08) 92,71 (13,04) 2,38 (1,56) Dados apresentados pela média (desvpad). * Diferença significativa para p < 0,05. de FR, de Sat02 e de dispnéia obtidos pré e pós-teste da DP6rnin encontram-se na Tabela 1. A FC, a FR e a sensação de dispnéia (EBM) apresentaram aumento significativo após a realização do teste da DP6rnin, enquanto a Sat02 apresentou queda significativa. A DP6min apresentou correlação significativa com RV (r= 0,76; p = 3,2.1Q-l!) (Figura 1), IRV (r= 0,71; p = 4,8.10-7) (Figura 2) e VVM (r= 0,68; p = 3,1.10-6) (Figura 3), mas não apresentou correlação significativa (r= 0,12; p = 0,48) com o volume minuto. Em relação às pressões, a correlação da DP6rnin com a Plmáx, apesar de significativa (p = 0,007), foi fraca (r= 0,43) (Figura 4). A PEmáx não apresentou correlação significativa (r = 0,31; p = 0,06) com a capacidade de exercício. Os valores de Pimáx, PEmáx, VVM, VM, RV e IRV e seus coeficientes de correlação com a DP6min encontram-se na Tabela 2. O grau de obstrução medido pelo VEF 1% apresentou correlação significativa com a VVM (r= 0,60; p = 7,7.10-5) e com a RV (r= 0,42; p == 0,008). Os valores de Pimáx, de PEmáx, de IRV, de VM e de DP6min não apresentaram correlação significativa com o VEF1%. Seus coeficientes de correlação encontram-se na Tabela 2. DISCUSSÃO Pacientes com DPOC, tipicamente, apresentam limitada tolerância ao exercício em razão da incapacidade de sustentar a ventilação. O limiar de ventilação é atingido quando há aumento excessivo na ventilação, que corresponde à intensidade de trabalho ventilatório na qual o paciente pode realizar o exercício sem a sensação de dispnéia. 26 O paciente com DPOC apresenta hiperinsuflação em razão da presença de obstrução ao fluxo expiratório.4 A hiperinsuflação leva a um prejuízo da função diafragmática e o paciente passa a ter aumento na contribuição dos músculos acessórios da respiração mesmo em repouso.27 Final p 24,05 (4,47) p = 9.10-12* 82,66 (8,57) p = 7.10-12* 119,89 (13,78) p=4,5.10-ll* 4,62 (2,36) p = 0,0004* 64 Brunetto, A. F. et al. Tabela 2. Correlação das variáveis ventilatórias com VEF1% e DP6min. DP6 (m) 410,29 (129,57) RV(L) 23,64 (11,45) IRV (%) 66,89 (13,84) VVM(%) 34,01 (12,49) VM(Um) 10,3 (4,04) PEmáx (cmH20) 100,74 (31,78) Plrnáx (cmHzO) 55,26 (22,02) Dados apresentados pela média (desvpad). 750 650 550 450 • :g • • \O c.. o 350 250 - 150 --· • 50 o 10 • • 20 • • • • VEFl% r (p) r= 0,24 (p= 0,15) r= 0,42* (p = 0,008) r= 0,16 (p = 0,32) r= 0,60* (7,7.10-5) r= 0,26 (p = 0,11) r= 0,008 (p = 0,95) r= 0,06 (p = 0,67) • • 30 RV {L) • DP6 (m) r (p) r= 0,76* (p = 3,2.10-8) r= 0,71 * (p = 4,8.10-7) r= 0,68* (p = 3,1.10-6) r= 0,12 (p = 0,48) r= 0,31 (p = 0,06) r= 0,43* (p = 0,007) Correlação: r= 0,76 DP6 = 206,95 + 8,6009 * RV 40 50 Figura 1. Correlação entre a reserva ventilatória (RV) e a distância percorrida em seis minutos. Rev. bras. fisioter. Vol. 7 No. 1, 2003 Capacidade Ventilatória e Exercício no Portador de DPOC 750 Correlação: r= 0,71 ' 650 DP6 = -36,91 + 6,6852 * IRV • • • ' 550 ' • l 450 0.0 c... o 350 250 • ' ' 150 • 50 10 20 30 40 50 60 70 80 90 IRV(%} Figura 2. Correlação entre o índice de reserva ventilatória (IRV) e a distância percorrida em seis minutos. 750 650 550 • l 450 • • 0.0 c... o 350 • 250 150 • • 50 10 20 • , ·---· . _ .. --· . ---~------· • 30 • 40 WM(%} --- • Correlação: r = 0,68 DP6 = 171,68 + 7,0153 * WM 50 60 Figura 3. Correlação entre a ventilação voluntária máxima (VVM) e a distância percorrida em seis minutos. 65 ' ' 100 70 66 Brunetto, A. F. et al. Rev. bras. fisioter. 750 Correlação:r = 0,43 650 • • • 550 ~ 450 \0 c.. o 350 250 • • • 150 • • • 50 o 20 40 60 80 100 120 Plmáx {cmH20) Figura 4. Correlação entre a pressão inspiratória máxima (Pimáx) e a distância percorrida em seis minutos. Nesta situação, a reserva ventilatória é presumivelmente baixa e a capacidade de aumentar a ventilação pode estar reduzida. 27 Conseqüentemente, a ventilação inadequada pode comprometer o fornecimento de oxigênio aos músculos periféricos, prejudicando a realização do exercício. Nosso estudo mostrou correlação positiva entre a reserva ventilatória (RV), o índice de reserva ventilatória (IRV) e a ventilação voluntária máxima (VVM) com a capacidade de exercício (DP6min). Os pacientes com DPOC que mostraram menor RV, IRV e VVM ao repouso percorreram menor distância no teste da DP6min, provavelmente pela incapacidade de aumentar a ventilação e pelo maior consumo de oxigênio dos músculos respiratórios durante o exercício. Segundo Marin et al., 28 em um exercício máximo ocorre aumento do VM em pacientes com DPOC principalmente pelo aumento da freqüência respiratória. No entanto, os autores especulam que há um ponto crítico de freqüência respiratória acima do qual é necessário maior pico de pressão inspiratória para que ocorra o aumento do volume corrente, levando ao aumento do volume minuto. Isso exige maior força de contração dos músculos inspiratórios. Essa situação pôde ser observada durante um esforço máximo, porém no teste da DP6min, o qual não é um exercício máximo, esses fatores podem ter apresentado menor influência. Em nosso estudo, a Plmáx foi mensurada no repouso (condição estática) e correlacionada com o teste da DP6min (condição dinâmica). Segundo Matheson et al.,29 sob condições dinâmicas de ventilação, somente uma pequena e variável porção da força muscular permanece disponível para o real movimento de ar, sendo que a maior porção possivelmente é dissipada, vencendo a inércia, a elasticidade e a fricção interna do pulmão e do tórax. Yan et al. 27 mostraram que, durante o exercício físico realizado pelo paciente com DPOC, a pressão gerada pelo diafragma pouco contribui para o fluxo inspira- tório, sendo essa pressão utilizada principalmente para vencer o PEEP intrínseco (PEEPi). Essas constatações indicam que a força muscular inspiratória medida em condições estáticas (Pimáx) contribui para vencer todas as resistências impostas à ventilação (resistência das vias aéreas, elasticidade pulmonar, PEEPi, entre outras). Entretanto, em condições dinâmicas (durante a DP6min), essas resistências sofrem alterações. Isso pode justificar a baixa correlação (r = 0,43) encontrada entre a Pimáx e a DP6min. Os mecanismos responsáveis pelas correlações entre a Pimáx e a VVM dos músculos respiratórios com a capacidade de exercício avaliada pelo teste da DP6min seriam melhor explicados pela realização de pletismografia para verificar hiperinsuflação após o teste da DP6min, prova de Pimáx antes e imediatamente após o teste, ou pela utilização das medidas de pressão transdiafragmática. Entretanto, essa limitação não comprometeu nosso objetivo, sendo possível esclarecer os componentes da ventilação que influenciam a capacidade de exercício avaliada pelo teste da DP6min. Os resultados deste estudo sugerem que a VVM, a RV, a IRV e a Pimáx influenciam a capacidade de exercício submáximo de pacientes com DPOC moderada-grave. Vol. 7 No. 1, 2003 Capacidade Ventilatória e Exercício no Portador de DPOC 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CONSENSO BRASILEIRO DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA, 2000, Jornal de Pneumologia, v. 26, Supl. 1. 2. MONTES DE OCA, M., RASSULO, J. & CELLI, B. R., 1996, Respiratory muscle and cardiopulmonary function during exer- cise in very severe COPD. Am. J. Respir. Crit. Care. Med., v. 154, pp. 1284-1289. 3. O'KROY, J. A., LAWLER, J. M., STONE, J. & BABB, T. G., 2000, Airflow limitation and control of end-expiratory lung volume during exercise. Respiration Physiology, v. 119, pp. 57-68. 4. STUBBING, D. G., PENGELLY, L. D., MORSE, J. L. C. & JONES, L. N., 1980, Pulmonary mechanics during exercise in sub- jects with chronic airflow obstruction. J. Appl. Physiol., v. 49, n. 3, pp. 511-515. 5. 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