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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE GOIAS FACULDADE LIONS CURSO DE DIREITO HISTÓRIA DO DIREITO ANÁLISE DO FILME A MASSAI BRANCA CONCEITOS DO DIREITO PRIMITIVO GOIÂNIA 2016 Éber Saraiva dos Santos Barros Fabio Antônio Silva Santana João Ferreira de Azara Neto HISTÓRIA DO DIREITO ANÁLISE DO FILME A MASSAI BRANCA CONCEITOS DO DIREITO PRIMITIVO Trabalho de História do Direito apresentado ao curso de Direito da Faculdade Faclions, para avaliação de parte da AP1. Orientadora: Prof. Welton Ferreira de Souza. GOIÂNIA 2016 1 - INTRODUÇÃO Segundo John Gilissen a pré-história do direito escapa quase inteiramente ao nosso conhecimento por não terem as sociedades primitivas deixado registros escritos de suas estruturas de normas e leis. Sabemos da existência de leis nas sociedades sem escrita, pois com o surgimento da escrita por volta de 4.000 anos antes de Cristo, já existiam regras tradicionais e morais sendo obedecidas. Por exemplo o casamento, o poder paternal, sucessão, doação e propriedade mobiliaria. No entanto, mesmo sabendo da existência de um direito primitivo, acessa-lo é muito difícil. O próprio Gilissen diz que numerosos povos conheceram uma longa evolução de sua vida social e jurídica sem terem atingido o estado cultural a escrita. Hoje ainda é possível encontrar em algumas sociedades e etnias que mantem fragmentos desse direito. Dentre estes grupos étnicos que preservam em seus costumes a pratica do Direito Primitivo destaca-se o povo Massai. Devido aos seus costumes distintos e residência próxima aos parques de caça da África oriental, eles se situam entre os grupos étnicos africanos mais bem conhecidos internacionalmente. Os Massai preservam muitas de suas tradições culturais enquanto se engajam nas forças econômicas, sociais e políticas contemporâneas regionais e globais. Seu idioma é o maa. Em 1994, a população masai no Quênia estava estimada em 453.000 e em 1993, a população masai da Tanzânia estava estimada em 430.000, perfazendo uma estimativa de população masai total de 883.000. As estimativas das populações Massai em ambos os países é complicada devido sua natureza nômade e a eles serem o único grupo étnico autorizado a viajar livremente pelas fronteiras entre o Quênia e a Tanzânia. . 2 - MASSAI: HISTÓRIA E TRADIÇÃO Uma etnia africana na maioria das vezes ocupa vários países, pois as fronteiras foram desenhadas segundo os interesses ocidentais e não seguindo a divisão étnica do continente africano (HUGON, 2009). Os massais ou samburus são um grupo étnico africano de seminômades localizado no Quênia e no norte da Tanzânia. População total: 883.000 (Segundo O IMETRO) Regiões com população significante: Quênia 453.000 e Tanzânia (setentrional) 430.000 Língua: Maa Religião: animismo monoteísta Suas cabanas são construídas de barro, couro e tapetes de grama. Uma cerca espinhosa é construída em torno das cabanas para a proteção contra os ataques de animais selvagens. Os barracos são construídos de modo que são facilmente desmontados, quando ocorre o movimento do grupo para um novo local. Esse povo geralmente vive em grupo de cinco a dez famílias. Os homens cuidam do gado e também são responsáveis pela segurança da comunidade. Os guerreiros defendem a etnia do ataque de homens de outros grupos e de animais selvagens. Eles também procuram invadir as terras de clãs rivais para roubar o gado. Os meninos aprendem a cuidar do gado desde a mais tenra idade e também são ensinados a caçar. As meninas geralmente ajudam as mães com seus afazeres domésticos. Tanto as meninas como os meninos passam pela circuncisão, numa cerimônia de iniciação que marca a entrada na vida adulta. Como relata Hugon (2009), as mulheres são responsáveis pela coleta de raízes, legumes e água, além do cuidado das crianças e da manutenção da casa. A lista de atividades da mulher desta etnia inclui, ainda: a construção da casa e a realização de longas caminhadas para conseguir os materiais necessários; a permanente manutenção da casa no período mais úmido, monitoramento dos animais doentes; a preparação da comida para todas as moradoras da casa (os homens não comem nada que uma mulher tenha preparado); a coleta diária de água, lenha, raízes e ervas utilizadas para tratamento de doentes; a confecção de arte decorativa para ela, o marido e os filhos, além de outras atividades afins. 3 - NARRATIVA DO FILME – A MASSAI BRANCA O filme A Massai Branca (The White Massai ), baseado na autobiografia de Corinne Hofmann a partir da narrativa do relacionamento entre uma mulher branca (Carola) europeia e um homem negro africano (Lemalian), levanta uma interessante discussão sobre as diferenças culturais, incluindo as de gênero, ao expor o choque cultural vivido por ela ao se apaixonar e casar com um guerreiro Samburu, habitante de Barsaloi, uma comunidade afastada, onde não há eletricidade, água encanada, asfalto, posto médico, nem mesmo moradias confortáveis: os Samburus moram em cabanas adaptáveis a sua natureza seminômade. A vida nessas condições é extremamente difícil aos nativos. Inserida em um ambiente inóspito, completamente estranho aos costumes das sociedades urbanas modernas, onde os costumes locais suplantam os direitos humanos ocidentais, ela presencia situações que lhe causam repulsa ou aceitação, consternação ou respeito, representando a assimilação da cultura local, ora com acomodação, ora com estranhamento do fato. O filme A Massai Branca, uma produção alemã de 2005, dirigida por Hermine Huntgeburth. 4 - PRÁTICAS Do direito primitivo apresentadas NO FILME Os dois personagens principais são confrontados e experimentam uma forte troca cultural, é visível no filme o esforço de ambos se aproximarem dos padrões vividos por cada um, principalmente quando estão fora dos olhares do grupo, inclusive com o rompimento de algumas tradições, como mostram as cenas em que fazem a refeição juntos, algo impraticável entre homens e mulheres Samburu, e quando ele se veste com roupas ocidentais para poder entrar no prédio de registro de imigração. Em muitos partes do filme o que se vê também é o direito primitivo se misturando com as demais escolas do direito. INSTRUMENTOS COERCITIVOS E PRECEDENTE JURIDICO Ainda que trate da realidade de uma sociedade afastada, de pouco contato com a vida e os costumes urbanos, o filme registra a presença do Estado nesta localidade através da figura do subchefe, espécie de delegado da região, que intima Carola a ir embora ou se registrar para poder continuar ali, por ser proibida a moradia de pessoas brancas na aldeia. Em outro momento do filme, mostra-se a organização do poder na comunidade, através do julgamento promovido pelos homens mais velhos do grupo, uma espécie de conselho dos anciãos, com a presença de Carola, como parte envolvida no fato julgado, do padre como tradutor, e também de Lemalian, um pouco mais afastado e contemplativo. Nesta cena, o conselho decide que Carola deve indenizar o subchefe com duas cabras por ter demitido o seu sobrinho da loja. Ao mesmo tempo, o subchefe é condenado a pagar cinco cabras pela agressão praticada pelo seu sobrinho contra Carola. Outra marca desse grupo étnico é a gerontocracia (Governo exercido por anciãos) também caracteriza esse grupo, sendo permitido ao homem casar-se com quantas mulheres puder sustentar e aos anciãos gerenciar a estrutura social. VALORES MORAIS As cenas que apresentam as relações comerciais na loja de Carola também registram a dificuldade de Lemalian e dos Samburu em lidar com as regras do comércio. O dinheiro não tem a mesma importância para eles e as relações parentais e de amizade falam mais alto que as relações econômicas que regulam a necessidade do produto e o valor de mercado. O contato amistoso de Carola com os clientes de sua loja aguça o ciúme doseu marido. Acusada de traição, ela leva um tapa no rosto e revida instantaneamente batendo no guerreiro diante de homens, mulheres e crianças que presenciavam a contenda. Diminuído diante de sua comunidade, Lemalian tira o traje típico de guerreiro e corta os cabelos. Este acontecimento é acompanhado de ameaças a Carola e de agressão ao padre dentro da loja. A inviabilidade de continuarem vivendo juntos leva Carola a providenciar sua volta para a Suíça, levando a filha sob o argumento de que a criança iria conhecer a avó materna. Receoso em assinar a autorização para o embarque da filha, Lemalian questiona insistentemente se Carola pretende voltar. No instante da partida ele afirma saber que ela não voltará. Assim se dá o encerramento de uma história de coragem e troca entre duas culturas tão afastadas, representadas por duas vidas tão próximas. COSTUMES Há também cenas de mutilação genital, duramente questionada por Carola. Conforme os costumes dos Samburus do Quênia, as meninas são iniciadas no ritual de passagem, onde ocorre a retirada do clitóris, na preparação para o casamento, geralmente com homens bem mais velhos, nos moldes tradicionais das suas antepassadas. A vida das mulheres Samburus, de acordo com a tradição, deve ser integralmente submissa ao pai e ao esposo. ORDÁLIO As imagens da mulher grávida caída ao chão em trabalho de parto, sendo observada por pessoas que se recusam a ajudá-la. Em seu socorro, Carola pede auxílio a Lemalian, que após relutar a atende, mesmo justificando que aquela mulher não poderia ser tocada por estar enfeitiçada. De uma forma geral, a narrativa do filme provoca o sentimento de assimilação ou estranhamento dos ritos diferentes e exóticos. Possibilita, ainda, a reflexão sobre diferentes formações culturais e permite o conhecimento, ainda que superficial, dos costumes de um grupo tipicamente africano, de uma cultura de resistência na preservação do seu estado original, quase sem hibridismo, de baixo envolvimento com a cultura ocidental e sem reflexo do consumismo do modelo globalizado. 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A escolha do filme A Massai Branca como instrumento para o desenvolvimento deste estudo aplicando os conceitos básicos do Direito Primitivo possibilitar a identificação do multiculturalismo e a discussão e o debate sobre a questão de gênero e o distanciamento da produção de direito em suas diversas fontes. A narrativa traz a trajetória de convivência e resistência e a dificuldade em relacionar as tradições e os costumes locais às leis. Uma comunidade tribal com sua cultura original ainda preservada nos possibilita o vislumbre de como o foi a evolução do direito, os costumes aí apresentados são as fontes quase únicas do direito. A base essencial deste sistema jurídico é a coesão do Grupo Social neste caso a família, o clã, a tribo, a etnia. Cuja a solidariedade interna dita a maior parte das relações sociais. Sobre a cultura de resistência dos Samburus, percebemos a pressão do governo para fixação do grupo em um espaço definido. O entendimento aqui é de que esta medida altera todo o modo de vida da tribo, visto que as características naturais da área em que vivem dificultam o cultivo e isto coloca a etnia na dependência de ações assistencialistas do Estado para complementação de renda, o que retiraria a autonomia do grupo e eliminaria a tradicional utilidade dos guerreiros. As relações parentais se sobrepõem às relações econômicas e as normas locais suplantam as leis nacionais. É que os direitos nascem quando devem nascer, como realça Bobbio (1992), ou seja, quando são criadas socialmente as estruturas e condições necessárias para sua aplicabilidade, quando a sociedade adquire o amadurecimento necessário para reivindicar e implementar esses direitos. No caso Samburu discute-se até que ponto é justo deixá-los adquirir naturalmente essas condições, ou o Estado deve intervir na aceleração e aplicação dos direitos modernos. 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS https://pt.wikipedia.org/wiki/Masai https://jus.com.br/artigos/27006/antropologia-juridica-cultura-e-direito GILISSEN J. Introdução a História do Direito https://www.youtube.com/Amassaibranca http://hisdireito.blogspot.com.br/2012/02/2-o-direito-nas-sociedades-primitivas.html
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