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3. Do que falamos quando falamos de 3.1 construção de um universo semântico para a mediadores de leitura? noção de mediação Começaremos com uma alusão histórica. Sabemos que a noção de mediador deriva da palavra latina que por sua vez vem de medius: que está no meio, entre uma coisa e Já em seus primeiros usos, que remontam à Baixa Idade Média Por que "mediadores" se tornou uma palavra-chave neste (séculos XIII e XIV), a noção de mediador remetia àquele que início do terceiro milênio? se coloca entre partes em desacordo. Ou seja, desde seus pri- JEAN FRANÇOIS SIX mórdios, termo evoca duas ideias principais: uma situação de separação ou conflito e a figura de um terceiro que entra em cena para ajudar a encontrar uma saída. A imagem triádica pa- Cada palavra, dizia Vygotski, é em si mesma uma generaliza- rece, portanto, fundamental para a compreensão do significado ção e um microcosmo que se refere a um complexo universo terminológico; tríade na qual a presença do terceiro elemento semântico. A escolha de um ou outro termo para representar se explica pela necessidade de (re)estabelecer uma relação efe- determinada realidade não é trivial, pois desencadeia toda uma tiva entre duas entidades que precedem e que estão, a priori, série de significados que se busca associar àquela realidade. A es- distantes uma da outra. colha das palavras mediação e mediador(a) para designar um am- Por sua vez, a partir de uma revisão tanto da etimologia quan- plo conjunto de experiências e práticas humanas, entre as quais to dos usos particulares dados ao termo mediação em campos tão aquelas ligadas aos processos de familiarização com mundo diversos como a filosofia, a teologia ou certas teorias do desenvol- escrito, convida, portanto, a questionar universo semântico que vimento e da aprendizagem, Cardinet (2000, p. 43) propõe uma termo evoca. As páginas que se seguem podem ser lidas como base comum associada à "ideia da mudança instaurada por um uma jornada em direção a esse espaço particular de significados processo para criar ou revelar os vínculos entre dois objetos, fatos mobilizados por um conceito que, como vimos anteriormente, ou pessoas, e dar-lhes sentido pela intermediação de um terceiro". tem sido amplamente usado no contexto ibero-americano para Assim, novos elementos de interesse são acrescentados ao uni- falar de processos sociais e escolares de formação de leitores.²⁰ verso semântico: foco na ideia de mudança ou transformação 20 É importante observar que termo mediação de leitura é ampla- Os vários dicionários etimológicos concordam aqui, e significa- mente usado em contextos como hispano falante, francófono ou do de "estar em meio a" é reforçado já no primeiro registro literário lusófono. No âmbito anglo-saxão, por outro lado, não se observa que que temos do uso do termo em espanhol, especificamente no verso conceito tenha penetrado no debate social e acadêmico sobre for- "a noite bem mediada", incluído nos Milagres de Nossa Senhora de mação de leitores. Gonzalo de Berceo, escrito por volta de 1250. EU, MEDIADOR (A) 82 83da realidade que toda atividade mediadora pressupõe, por um diante da qual essa pessoa provavelmente não encontra motivos LEITURA E MEDIAÇÃO lado, e propósito de construir sentido pelo restabelecimento para incorporá-la às suas práticas cotidianas. de vínculos entre duas entidades, por outro. Com tudo isso, seja em situações de conflito ou em situa- Cabe salientar que a família semântica evocada (conflito, tría- ções de familiarização com uma nova atividade ou experiência, de, mudança, sentido) é continuamente atualizada nos múltiplos papel relacional parece ser um fator-chave na definição do me- e diversificados campos em que hoje se utiliza termo mediação: diador, cuja tarefa, nas palavras de Cardinet, "sempre leva a dois desde a sociologia (ou a psicologia) até a educação, as ciências pontos essenciais: vincular e dar sentido" (2000, p. 43). Para al- econômicas e empresariais, a comunicação social, a museologia cançar esse propósito, hoje é evidente que perfil de um media- e, no âmbito jurídico, do direito internacional ao direito penal dor não pode se restringir apenas a certas habilidades "técnicas" ou de família. relacionadas ao conhecimento do problema ou da situação, mas Com base no uso do conceito em muitos desses campos, também deve incluir habilidades pessoais como a criatividade, poderíamos falar de certos consensos sobre as formas de atuação a capacidade de comunicação, a assertividade ou a flexibilidade. do mediador. Primeiro: suas ações visam oferecer sugestões e E isso nos leva a assumir que a mediação, longe de ser neutra, é vias de diálogo mais do que impor soluções definitivas sobre sempre portadora de uma determinada visão de mundo (posi- conflito que leva a constatar que na mediação processo de ções ideológicas, sistemas de valores) que é mobilizada e acaba mudança passa, em última instância, pelo nível de engajamento aparecendo. dos sujeitos em disputa. Segundo: a mediação propicia novos Tudo que foi dito apoia a construção de um universo se- processos de compreensão e interpretação da realidade, com mântico fortemente enraizado em aspectos afetivos, emocionais convergência de posturas antes discordantes. Terceiro: papel e motivacionais. Isso explica dois aspectos-chave de toda media- do mediador consiste em oferecer ajuda em duplo sentido: tanto ção cultural: a empatia e a hospitalidade. A primeira consiste na em relação aos objetivos últimos da mediação (alcançar acordos, compreensão do ponto de vista dos outros, permitindo a constru- melhorar a comunicação, etc.) como em relação ao processo pelo ção de relações positivas entre OS interlocutores. A segunda, con- qual as partes interagem, que demanda um clima de confiança, forme sugere Michèle Petit (2009), supõe um espaço de abertura liberdade e segurança (clima que mediador deve gerar e sem oferecido aos outros, espaço cuja força simbólica se associaria que objetivos dificilmente seriam alcançados). ao reconhecimento mútuo necessário para estabelecer relações A ideia de mediação, contudo, nem sempre está ligada a si- efetivas entre as pessoas. tuações de "conflito" em sentido estrito. No campo da psicologia A importância do papel relacional também aparece na ideia educacional, por exemplo, mediador, em vez de ser visto como de mediação educativa desenvolvida por Reuven Feuerstein e aquele que intervém em uma disputa específica, é concebido seus colaboradores. Um enfoque que, mesmo oriundo do es- como quem ajuda a construir significado de uma atividade paço mais específico dos processos de aprendizagem, oferece que não pertence ao mundo imediato do sujeito. Ou seja, uma contribuições interessantes para pensar significado global do atividade que não faz parte das formas de relacionamento de termo e, portanto, para construir universo semântico no qual uma pessoa consigo mesma, com OS outros e com 0 mundo, e ele se baseia. Nessa perspectiva, a mediação é caracterizada por EU, MEDIADOR (A) 84 85valores básicos, como acompanhamento e proximidade; afeto, duas entidades como um espaço simultaneamente real e sim- LEITURA E MEDIAÇÃO diálogo e confiança; estímulos para a autoestima e para discernir bólico, "construído" pela prática mediadora e que facilita trocas experiências, a educação do olhar com estratégias de aprendizado ou "cruzamentos" antes impossíveis. para estudante. Essas características criam situações sociais No âmbito da mediação cultural, por exemplo, a noção de com uma importante dimensão afetiva e constituem a base de ponte legitimou um lugar para 0 terceiro na relação obra-público, qualquer atividade mediadora na interação educativa. Por sua vez, um terceiro cuja missão é, precisamente, favorecer essa relação. tal perspectiva remete a uma série de critérios desenvolvidos para Nesse contexto, a metáfora tem sido especialmente utilizada no a mediação pedagógica (Feuerstein e Feuerstein, 1991, p. Té- campo da museologia para se referir a espaços, ações ou sujeitos bar, 2003, p. 56-57), alguns dos quais seriam universais. A saber: que estabelecem vínculos entre público, objetos expostos e significados que esses objetos culturais podem revestir. Em Intencionalidade e reciprocidade, para envolver sujeito em seu outras palavras, a imagem da ponte ilustra muito bem propó- próprio aprendizado, no âmbito de uma "interação motivada". sito de aproximação subjacente a qualquer atividade mediadora. Transcendência, entendida como a mediação que opera além Conflito, tríade, mudança, construção de sentido, papel rela- da necessidade imediata, relacionando-se com O passado e cional, ponte são, portanto, algumas das diretrizes para entender futuro da criança. campo semântico da mediação. Campo que se expande no Significado, para fornecer chaves de compreensão e apresentar último quarto do século XX até tocar praticamente todos as- aprendizado de forma que a criança veja seu interesse, sua pectos da vida social, e que implica, como diz Bonaccorsi (2007), importância e finalidade. a construção de dois espaços discursivos: um espaço científico, que faz da mediação um conceito explicativo, e um espaço pro- Em suma, a dimensão relacional e tudo que ela mobili- fissional, que define a mediação como um conjunto de práticas. za (afetos, empatia, hospitalidade, acompanhamento, diálogo) A reconstrução de ambos espaços no âmbito da leitura cons- conformam parte essencial do tecido semântico que estamos titui, pois, objetivo das próximas seções. delineando para conceito de mediação. Um tecido ao qual, por enquanto, poderia ser adicionado um novo e último elemento: a metáfora da ponte.²² Amplamente utilizada em diversos campos 3.2 A mediação no campo da leitura relacionados à mediação, essa metáfora ressalta a relação entre A promoção da leitura é um dos âmbitos nos quais conceito de mediação se estendeu até fazer parte do vocabulário usado dia- 22 A importância desta metáfora no âmbito da mediação é evidente, riamente entre OS diversos agentes formadores. Provavelmente, como demonstra sua presença no primeiro ponto da Carta-manifesto do Centre National de la Médiation, na França: "Acreditamos que a a sensação de fracasso que hoje cerca 0 objetivo social de pro- mediação é, antes de tudo, vontade, uma vontade de abrir caminhos, mover hábitos de leitura universais levou à adoção desse termo de construir pontes, de estabelecer laços onde eles não existem" (Six, que, como vimos, é definido ora em relação a uma situação de 1997, p. 205) [Grifo nosso]. conflito ou desajuste que precisa ser superado, ora em relação a EU, MEDIADOR (A) 86 87atividades que, como frequentemente ocorre com a leitura, não Com efeito: hoje sabemos que essas interações, são mediadas por LEITURA E MEDIAÇÃO fazem parte do cotidiano dos sujeitos. Em outras palavras, pri- múltiplos fatores, que vão desde certos determinismos sociais meiro devemos observar que falamos de mediação no tocante a ou dinâmicas familiares e escolares até aspectos afetivos e emo- certo conflito cultural que destaca as diferenças, distâncias ou cionais relacionados com a personalidade do sujeito ou com oposições do relacionamento de muitos cidadãos com universo encontros que este possa experimentar com outros em torno ao da escrita. mundo da escrita. E, que nos parece ainda mais importante, No entanto, apesar de seu amplo uso, a mediação tem sido sabemos que famoso "prazer de ler", que se supunha natural pouco conceituada no campo da leitura. Poderíamos dar um e espontâneo, raramente nasce do contato direto e único com passo adiante dizendo que falar sobre mediação da leitura é, em livro, pois várias mediações constroem esse prazer. termos genéricos, falar de toda forma de ação destinada a pro- Isso se conecta à constatação feita nas páginas anteriores: mover a prática cultural da leitura (Bonaccorsi, 2007). Dessa não basta criar condições materiais de acesso ao livro, também é perspectiva se constrói uma primeira acepção do mediador en- necessário trabalhar nas múltiplas mediações que condicionam tendido como agente encarregado de realizar essas ações. É a prática de leitura. Mediações que, evidentemente, implicam importante destacar aqui 0 sentido amplo da palavra agente, que contato com facilitadores para a abordagem dos textos. Daí as não se limitaria apenas às pessoas que atuam como promoto- mudanças que nas últimas décadas do século passado redefini- res, mas também incluiria as diversas instâncias, organismos e ram a função social de um dos primeiros e principais mediado- instituições (como editoras, livrarias, bibliotecas ou escolas) que res, bibliotecário, cuja orientação para leitor transformou de intervêm para favorecer acesso do público aos Mais erudito conservador em promotor sociocultural. Isso possibilitou recentemente, tem-se até mesmo postulado próprio livro como ainda O surgimento de novos agentes dedicados a aproximar um possível agente mediador (Véliz e García-González, 2020), diversos grupos sociais do mundo da escrita. Em suma, favo- especialmente em situações em que se redefine e questiona pa- receu-se a construção de novas "pontes"24 nos relacionamentos pel do adulto como a única ponte de acesso ao universo da obra. (efetivos ou falhos) que esses grupos estabelecem com os textos. No entanto, que parece mais importante ao adotar 0 con- ceito de mediação para campo da leitura é, como apontaram 24 Destacamos aqui a metáfora para enfatizar seu uso no campo da Privat e Reuter, insistir na não imediatez das práticas, que formação de leitores. Como exemplo, entre muitos outros, temos esta ajuda a "lembrar que no início e no final do percurso não é nem citação de Cerrillo, Larrañaga e Yubero (2002, p. 29): "O mediador é Texto, nem Leitor, nem a Leitura que nos interessam, e sim a ponte ou elo entre livros e esses primeiros leitores, que promove seus modos de realização, suas interações concretas" (1991, p. e facilita diálogo entre ambos". Por sua vez, no discurso acadêmico, muitas variações desta metáfora têm sido utilizadas, mas todas elas mantêm como eixo central a ideia de passagem ou ponto de encontro 23 Seria relevante lembrar aqui que essas instâncias são particular- entre dois territórios. Como exemplo, temos a metáfora de raízes mente importantes no sistema literário infantil e juvenil, espaço em geométricas utilizada por Mirta Castedo (2011, p. 30): "um mediador que sua forte presença define até mesmo 0 tipo de comunicação é um intérprete, como tal encontra-se numa zona de interseção entre estabelecido entre livros e seus receptores. a cultura escrita e quem nela se introduz" [Grifos nossos]. EU, MEDIADOR (A) 88 89A pesquisa recente tem demonstrado papel fundamental Os trabalhos de Michèle Petit talvez sejam que mais se apro- LEITURA E MEDIAÇÃO desempenhado por esses mediadores nos diversos projetos de fundaram na importância desses mediadores, mostrando com toda promoção da leitura realizados atualmente. E agora estamos fa- clareza que ler é, antes de tudo, uma questão de encontros. En- lando de mediadores em uma acepção mais restrita, referindo-nos contros pessoais e intersubjetivos, especialmente relevantes para especificamente às pessoas que atuam nesse Pessoas mostrar aos que vivem longe do universo do impresso que a leitura que também foram definidas como promotores, iniciadores ou não se constrói apenas em nível discursivo (provavelmente a única facilitadores; ou seja, substantivos derivados de verbos transitivos vivência que muitos deles tiveram), mas, sobretudo, experiencial. como promover, iniciar, facilitar ou O sentido último Neste ponto, é importante lembrar que mediador atua em meio dessas ações será sempre definido em relação ao objeto que a um paradoxo: ele busca motivar uma prática cultural altamente acompanham, que reforça a ideia do mediador como alguém valorizada no discurso social, mas pouco considerada como prática orientado para algo além de si mesmo. efetiva em nossa sociedade. Em outras palavras, é enorme a dis- Inicialmente, esse algo (ou seja, objeto direto do verbo) é tância que separa a leitura como crença da leitura como prática ou a leitura, mas em um nível mais profundo de compreensão da experiência. E é aí que a família semântica construída por nós em ação mediadora, também é sujeitos com quem (ou para quem) torno do papel relacional do mediador (com afeto, empatia, hos- mediador ou mediadora trabalha. Eis verdadeiro sentido das pitalidade, acompanhamento e diálogo) ganha sentido. É aí onde, palavras de Gustavo Bombini antes referidas: promover a lei- mais do que repetir discursos conhecidos sobre a necessidade e as tura é também, e talvez principalmente, qualificar sujeitos vantagens da leitura, importam OS "gestos simples" de um media- para evitar sua exclusão dos processos de participação social e dor ou mediadora que mostra, em uma relação personalizada, "que cultural que dependem do escrito. Se, como sabemos, 0 sentido é possível outro tipo de relação com OS livros" (Petit, 2001, p. 25). último da mediação é suscitar vínculos, no campo da leitura isso Neste ponto, é útil recordar os critérios gerais da mediação e assume uma dupla direção: vínculos com livros e outros ma- aplicá-los agora ao campo específico da formação de leitores. In- teriais impressos ou digitais, mas também vínculos com outros tencionalidade e reciprocidade, transcendência e significado seriam, através da participação no mundo escrito. Esse é significado portanto, elementos-chave para mostrar que outra relação com que Gohier (2002) ressalta, atribuindo ao mediador a expressiva escrito é possível, indicando diversas práticas de mediação leitora. imagem do lieur [conector] cultural; isto é, literalmente, "aquele A saber: a criação de situações de leitura cuja intenção e propósitos que estabelece vínculos" de sentido do sujeito consigo mesmo, sejam compartilhados com OS sujeitos participantes; a inserção da li- com outros e com mundo, participando da cultura escrita. teratura e do escrito como uma forma de diálogo com a vida pessoal do sujeito e com a vida sociocultural de sua comunidade e, por fim, a mobilização de fatores motivacionais pelo mediador, especialmen- 25 Esta segunda acepção é a que defendemos neste trabalho. te quando falamos de uma prática cultural muito valorizada, mas 26 O verbo mediar torna-se transitivo em sua acepção de "tomar um com pouca presença no cotidiano das sociedades contemporâneas. termo médio entre dois extremos" (Diccionario de la Real Academia Além disso, é igualmente útil lembrar que a mediação é uma Española), ou seja, exatamente na acepção que nos interessa aqui. prática de longo prazo, "uma tarefa lenta, enraizada no tempo" EU, MEDIADOR (A) 90 91(Six, p. 205). Dito de outra forma: a mediação requer pra- vimos, estão na base de toda atividade mediadora. Isso levaria a LEITURA E MEDIAÇÃO zos dilatados para ser realmente eficaz, que é importante em pensar mediador como alguém que "propicia condições para que práticas de apropriação cultural, que supõem uma lenta familia- outros leiam (...) [e] se encarrega (...) de intervir na relação entre rização com os objetos culturais e OS significados que estes trans- leitores e materiais de leitura" (Robledo, 2010, p. 30 e 36). mitem. Este é, portanto, contexto em que se situa trabalho Ademais, poderíamos pensar em duas outras características dos profissional do mediador, figura que demanda uma abordagem mediadores de leitura. A primeira refere-se ao fato de que eles mobili- mais específica e detalhada, cujos contornos oferecemos a seguir. zam a própria experiência como leitores, em uma atitude de disponi- bilidade e hospitalidade que define sua relação com outros durante processo de mediação (Petit, 2009). A segunda diz respeito ao fato 3.3 Para uma caracterização do mediador de leitura de que, em sua prática, tais sujeitos podem integrar conhecimentos no contexto social e habilidades de múltiplos domínios: educação, biblioteconomia, tra- balho social ou literatura, mas também das artes ou da comunicação A seguir, tentaremos avançar da indeterminação que muitas ve- virtual e audiovisual (Martín Barbero e Lluch, zes tem acompanhado conceito de mediação para uma proposta Em síntese: atendendo ao caminho percorrido e recuperando de definição do mediador no âmbito da promoção da leitura. Em alguns elementos do universo semântico da mediação, propo- primeiro lugar, nos interessa destacar a acepção que vincula mos a seguinte definição do mediador de leitura: mediador aos sujeitos implicados em processos de promoção da leitura. Nesse contexto, propomos distinguir entre instâncias mediador de leitura é um ator que, munido de habilidades e conhecimentos de diversos campos ligados à cultura e ao trabalho mediadoras, instituições e organismos dedicados à promoção da social, intervém com propósito de criar leitura, objetos mediadores, para falar das obras que se tornam condições favoráveis para a apropriação cultural e a participação no mediadoras em certas situações de leitura, e mediadores, termo mundo da escrita por parte dos sujeitos, que não tiveram ou tiveram apenas parcialmente a possibilidade de desfrutar dessas condições. que define especificamente as pessoas que atuam nesse campo. Isso é feito principalmente por meio de encontros intersubjetivos nos Seguindo essa lógica, mediadores e mediadoras de leitura seriam quais ele compartilha seu próprio mundo interior (afetos, emoções, aqueles "agentes que vão ao encontro de públicos pouco afeitos experiências de leitura) para criar espaço de acolhimento e hospitalidade que toda mediação requer. Esse espaço, no melhor dos à leitura e que promovem livro por meio de animações espe- casos, permite que indivíduos superem certas barreiras (biográficas cíficas, de sensibilização" para a cultura escrita (Sorin e Lebrun, e socioculturais) que OS impediam de se sentirem convidados a participar de novas experiências com a escrita, experiências cujo p. 91). Embora assumamos aqui certa distância da noção de objetivo final é favorecer processos de mudança e construção de animação que, segundo esta definição, caracterizaria tais práticas, significado naqueles que participam da atividade mediadora. nos parece importante destacar dois elementos que as autoras enfatizam: por um lado, a noção de encontro, por outro, a de sen- 27 A palavra intencionalmente e seu uso intencional (valendo aqui a re- sibilização para o mundo escrito. A isso gostaríamos de adicionar dundância) nesta definição exigem uma explicação. Embora estejamos as ideias de relação, de intervenção planejada e propósito de ge- cientes de que múltiplos atores, como colegas durante a infância e a juven- rar condições para a realização de uma atividade, ideias que, como tude, possam agir em certos casos como mediadores sem um propósito EU, MEDIADOR (A) 92 93A concretude desta categoria nos permite avançar na descri- seria, em grande parte, a apropriação gradual (por parte LEITURA E MEDIAÇÃO ção das atividades atribuídas ao mediador de leitura, cuja esfera de todos sujeitos) dos espaços públicos de circulação de trabalho se situa, como já foi dito, a meio caminho entre 0 do livro e da leitura, favorecendo assim a conexão e diá- trabalho do bibliotecário e do assistente social. Poderíamos logo da biblioteca com seu entorno. Em outras palavras, acrescentar que essa dupla vocação se manifestou desde início trata-se de canalizar aquela intenção democratizadora no papel atribuído a esse profissional, que incluía um objetivo que norteia a construção de bibliotecas públicas e mos- cultural (facilitar acesso de novos públicos à leitura) e um obje- trar, em uma relação personalizada, que esse pode ser tivo social (contribuir para a integração de todos OS cidadãos na um espaço de acolhimento e uso "para todos". vida em sociedade). 3. A necessidade de propiciar processos de acompanha- Nos últimos anos, com base nas diversas políticas públicas mento pessoal, não só no início da atividade mediadora, em torno do livro e da leitura, progressivamente as ações e prin- mas durante todo processo de apropriação dos lugares, cipais funções que mediadores devem cumprir adquiriram materiais e práticas relacionadas ao mundo escrito. Isso concretude. De uma ampla variedade de documentos (planos nos leva a voltar nosso olhar para componente pessoal nacionais, mandatos ministeriais, documentos de trabalho sobre e íntimo que deve caracterizar toda mediação, constatan- a implementação de políticas públicas), vemos emergir certas do que sem ele é muito mais difícil sentir-se à vontade características comuns para a missão do mediador, sintetizadas em um universo de práticas e espaços que nos foram aqui em três grandes linhas centrais. negados durante grande parte de nossa biografia. I. A necessidade de desenvolver suas práticas no local de vida dos grupos sociais excluídos da cultura escrita, arti- culando-as com atores e organismos comunitários já 3.4 A especificidade da mediação no contexto existentes no mesmo meio sociocultural. Dessa forma, educativo êxito da mediação depende da capacidade de atender às práticas letradas e culturais próprias de determinado gru- po social e construir, a partir desse conhecimento, pro- Nos últimos anos, é cada vez mais comum ouvir falar do pro- postas de diálogo com novas práticas de leitura e escrita. fessor como mediador de leitura, afirmação que aparece com 2. O interesse em reforçar O vínculo entre as práticas de frequência em livros, seminários formativos, encontros ou con- mediação e a biblioteca. Assim, propósito do mediador versas entre docentes e outros atores dedicados a incentivar a leitura. Obviamente, esse deslocamento conceitual repousa na construção de um novo paradigma para pensar professor encar- prévio ou sem ter consciência disso, nosso interesse aqui é construir regado da formação de leitores, e na necessidade de reconceituar uma definição voltada para explicar surgimento de um novo ator social no domínio da formação de leitores, especificamente a figura de adultos 0 substantivo genérico professor a partir de sua relação com novos que trabalham para promover a participação de outros (principalmente, universos semânticos. De fato, muitas das ideias decorrentes da embora não exclusivamente, crianças e jovens) na cultura escrita. noção de mediação parecem relevantes ao redefinir papel do EU, MEDIADOR (A) 94 95formador de leitores na escola: tríade, conflito, mudança, cons- contexto. Para tanto, é bom ressaltar que a ideia de mediação LEITURA E MEDIAÇÃO trução de sentido, papel relacional, ponte, acompanhamento, encontra no contexto pedagógico uma tradição própria, cujas proximidade, afeto e diálogo seriam algumas delas. raízes devem ser buscadas na teoria vygotskiana da "zona de No entanto, conceito genérico de mediador de leitura não desenvolvimento proximal". Entendida como a distância entre é suficiente para pensar a atuação do professor no contexto do o que a criança pode fazer por ela mesma e que pode reali- novo modelo de educação leitora e literária. Cumpre reconhecer zar com a ajuda de um agente externo que, em determinado que não podemos continuar falando do mediador ou da mediado- momento, atua como facilitador em seu processo de apren- ra de leitura como uma figura unitária, considerando a diferença dizagem, a zona de desenvolvimento proximal não é senão a de objetivos entre a leitura em contexto social e a leitura em criação de um "âmbito essencial de aprendizado" que "desperta contexto escolar. Pode-se dizer que este compartilha com aque- uma série de processos evolutivos internos capazes de operar le certas funções e características, como a intencionalidade na apenas quando a criança está em interação com as pessoas intervenção, a construção de condições favoráveis à apropriação de seu ambiente e em cooperação com algum semelhante" da cultura escrita, a ativação da própria relação com escrito e (Vygotski, 2009, p. 138-139). propósito de encorajar processos de mudança e construção de A constituição desta zona de desenvolvimento potencial im- sentido nos estudantes. plica, pelo menos, duas ideias-chave para pensar a mediação no Porém, é preciso lembrar que cada tipo de mediador deve plano educativo. A primeira é a importância da atividade das responder também à especificidade do seu contexto de atuação, crianças regulada pelo e no ambiente, entendido como um con- questão que marca diferenças importantes entre O mediador texto que favorece a interação enquanto meio de aprendizagem. de leitura em um contexto social, cujo perfil discutimos ante- A segunda é papel do mediador como organizador do meio riormente, e a figura que chamaremos intencionalmente aqui social, que por sua vez possibilita orientar e regular a ativida- mediador de leitura literária escolar. De início, que diferencia de ali desenvolvida. Nas palavras de Mercer e Littleton (2007), este último é O uso de dois adjetivos: escolar, que remete ao es- a ideia vygotskiana de desenvolvimento potencial permite focar paço educativo formal próprio da escola; e literária, que se refere no progresso da criança a partir de dois elementos centrais: um à modalidade de leitura que se espera promover nesse espaço. progresso norteado e no contexto de uma atividade. Cabe assinalar que com leitura literária não nos referimos a Seguindo esta linha de pensamento, Feuerstein fala em ex- um mediador que se restrinja unicamente às obras literárias periências de aprendizagem mediada (Feuerstein e Feuerstein, (embora a literatura constitua um corpus privilegiado para a 1991), que subjazem aos processos de transmissão cultural. Con- consecução de seus objetivos), mas utilizamos a expressão no forme destacaram seus seguidores, tais experiências se referem sentido mencionado no capítulo 2, isto é, como atitude leitora à forma como um mediador ou mediadora se põe entre sujei- que conjuga participação e distanciamento na relação estabele- to e OS estímulos ou informações exteriores para interpretá-los cida com textos. e organizá-los de modo que adquiram um significado e um valor Vamos agora atentar para a especificidade do adjetivo es- concretos para indivíduo. Assim, 0 mediador seria alguém que colar e as implicações que termo mediador adquire nesse enriquece a interação da criança com 0 ambiente e objetos EU, MEDIADOR (A) 96 97culturais, criando uma predisposição e uma curiosidade que ati- de andaime para alcançar objetivos da educação literária, es- LEITURA E MEDIAÇÃO vam suas estruturas mentais e permitem, por extensão, a modi- pecialmente 0 desenvolvimento da competência interpretativa ficabilidade cognitiva buscada no processo educativo. dos estudantes. Os avanços anteriores se conectam com outra ideia-chave para Zona de desenvolvimento potencial, experiência de apren- pensar a intervenção educativa do mediador: a noção de andaime. dizagem mediada, andaime ou roteiro formam, em suma, um Num primeiro momento, Jerome Bruner usou essa ideia para se universo semântico para repensar a noção de mediação a partir referir ao apoio que a mãe fornece à criança nos diálogos que man- dos processos de transmissão cultural encenados no contexto es- tém com ela durante processo de aquisição da linguagem nos colar. Tais conceitos convergem para a ideia de progresso escolar primeiros anos de vida. Para Bruner (1986, p. esses diálogos em que a zona de desenvolvimento potencial se torna um espaço funcionam como "padrões de interação" que, embora inicialmen- "construído" pela intervenção didática para facilitar avanço na te apresentem papéis muito demarcados para cada participante, aprendizagem dos estudantes. também favorecem a inversão gradual desses papéis e uma par- Por sua vez, esse progresso implica um equilíbrio complexo ticipação cada vez mais ativa da criança no mundo da linguagem. entre desafio e possibilidade. Em outras palavras: a principal Posteriormente, essa noção mostrou seu potencial no con- condição desse progresso reside em oferecer situações com um texto escolar, onde é utilizada com propósito de enfatizar a nível de dificuldade que, sendo ligeiramente superior ao que "intervenção sensível de um professor para ajudar no progresso aluno pode realizar por si mesmo, não desanime, mas reforce de um aluno ativamente envolvido em uma tarefa específica, mas sentimento de que ele é capaz de superar esse obstáculo. Pois que não é muito capaz de realizá-la sozinho", sublinhando tam- sabemos desde Vygotski que pensamento se origina na mo- bém que, mais do que ajuda concreta para realizar tarefas físicas, tivação entendida como uma base afetivo-volitiva que orienta a trata-se de oferecer orientações para aprender novas "formas atividade do sujeito. E a motivação, por sua vez, se baseia na ex- de usar a linguagem [que] nos fornecem estruturas de referên- pectativa de êxito, pois, como bem assinalou Tébar (2003, p. 78), cia com as quais podemos recontextualizar nossas experiências" "ninguém empreende atividades em que existe um evidente risco (Mercer, 1997, p. 86-87). Assim, a construção do conhecimento de fracasso". seria sempre um processo que, embora baseado na atividade do Essas experiências situadas um pouco além do espaço de mo- próprio estudante, tem na "orientação" oferecida pelo adulto sua vimento habitual do aluno podem, é claro, gerar situações de rup- principal condição de realização. tura ou bloqueio. Daí que a mediação educativa seja concebida A ideia de um roteiro oferecido pelo professor para a atividade também como um acompanhamento para essas situações de das crianças tem sido retomada e formalizada em diversas oca- mudança e eventuais bloqueios diante do desconhecido. Assim siões no campo da didática da língua e da literatura. Fala-se, por entendida, a mediação educativa implica, antes de tudo, uma exemplo, do andaime educativo composto por vários apoios ofe- nova função para professor, centrada na escuta e na descober- recidos pelo professor durante a discussão coletiva em torno dos ta do outro, deslocando, desse modo, centro de interesse das textos (aspecto desenvolvido mais amplamente no sexto capítulo disciplinas para as pessoas que vivem processos de apropriação deste livro). Enfatiza-se igualmente, potencial das várias formas do universo de conteúdos e práticas dessas disciplinas. EU, MEDIADOR (A) 98 993.5 Para uma caracterização do mediador escolar de de textos e que favoreçam a participação em circuitos reais de LEITURA E MEDIAÇÃO leitura literária circulação e mediação da literatura. No entanto, dentro desse amplo espectro de formas de atuação, a pesquisa recente tem enfatizado uma função mediadora especí- Atualmente a atividade de mediação consiste em grande medida fica, que parece definir 0 nível de êxito das intervenções docentes. em "dar voz" aos leitores, amplificando essa em espaços de Uma função que se encaminha em duas direções: conhecimento socialização da leitura e fazendo-a avançar em itinerários pro- das obras e a invenção de dispositivos didáticos férteis para abordá- gressivos de aprendizagem da leitura literária (Colomer, 2002a). -las. primeiro aspecto vincula-se, por sua vez, a dois outros: Isso nos leva a situar as práticas do mediador escolar no contexto conhecimento panorâmico de um amplo conjunto de textos e a dos objetivos gerais do modelo de educação literária, que, como capacidade de análise das aprendizagens leitoras e literárias que vimos, visam alcançar uma competência de leitura literária sig- essas obras propiciam. Isso permite diversificar as possibilidades nificativa, por um lado, e consolidar hábitos de leitura autônoma de avaliação dos textos pelo mediador e, por extensão, abrir cami- em crianças e jovens, por outro. Trata-se, nas palavras de San- nhos igualmente diversos para processos de apropriação do juán, de acompanhar e orientar a leitura dos alunos "em uma livro e de interpretação literária pelos alunos e alunas. sábia combinação dos processos de recepção pessoal (individuais Quanto ao dispositivo didático a ser construído para a ativi- e grupais) com a contribuição dos conhecimentos literários e es- dade de leitura, é aí onde a mediação do professor se manifesta tratégias próprios de um leitor formado" (Sanjuán, 2013, p. 497). de forma mais clara. Os dispositivos didáticos constituem ver- Evidentemente, a ampla gama de ações docentes que isso su- dadeiros "instrumentos mediadores" graças aos quais podemos põe também envolve a implementação de tipos complementares estruturar processos de pensamento dos alunos e fazê-los de mediação. Em alguns casos, será necessário desempenhar a avançar em direção a formas mais complexas e diversificadas função de intérprete ou guia na descoberta de territórios cultu- de participação no universo da escrita. Hoje é evidente que tais rais novos e mais vastos do que OS conhecidos até então. Em ou- dispositivos devem abrir caminhos de busca e problematização tros, será necessária uma função de promotor e dinamizador das do texto em vez de oferecer respostas definitivas aos problemas leituras pessoais dos alunos. Em qualquer caso, hoje é muito cla- que este apresenta ao leitor. Não esqueçamos que as formas de ro que a atividade do mediador escolar de leitura literária, longe de acompanhamento da leitura planejadas pelo mediador condicio- se restringir à transmissão tradicional de conteúdos disciplinares, narão tipo de experiência de leitura que uma criança ou jovem diversificou-se tanto quanto objetivos que lhe são propostos. terá ao longo do percurso escolar. E essas formas de acompanha- Assim, mantendo sempre seu papel principal de regulador da mento se manifestam, em grande medida, no tipo de dispositivos atividade das crianças e organizador do ambiente em que esta construídos para favorecer OS processos de leitura e escrita nas se desenvolve, professor multiplica suas intervenções, que vão salas de aula. desde planejamento de espaços para confrontar interpretações, Em síntese: considerando caminho percorrido neste capí- passando pela reflexão metacognitiva, pela sistematização de tulo e no anterior, e com objetivo de visualizar a especificidade conhecimentos, até garantir acesso a uma ampla diversidade do mediador escolar, propomos a seguinte definição global: EU, MEDIADOR (A) 100 101O mediador escolar de leitura literária é um educador que intervém intencionalmente na construção de condições favoráveis LEITURA E MEDIAÇÃO para que seus alunos se apropriem das produções culturais e participem do mundo da escrita. Ele orienta seus esforços para formar leitores literários que se sintam implicados na leitura e possam exercer diversas formas de compreensão e fruição dos textos. Para tanto, desenvolve situações de aprendizagem centradas na atividade do aluno (regulada pelo ambiente) e caracterizadas por diversas formas de apoio em processos de apropriação dos conhecimentos e práticas, relacionados com a cultura escrita. Essas situações decorrem da construção de dispositivos didáticos que, considerando as maneiras pelas quais OS livros e outros produtos culturais "ensinam a ler", favorecem três grandes tipos de interação: entre leitores, entre textos e entre O leitor e O texto. Por sua vez, mediador enquadra essas situações em itinerários educativos que abrangem múltiplos espaços de leitura e escrita. objetivo desses itinerários é dar a todos OS alunos a possibilidade real de participar de novas experiências com a escrita e progredir nas formas de compreensão e produção da cultura. Em suma, espera-se que a experiência de aprendizagem mediada estimule processos de mudança e construção de sentido no aluno, ampliando assim suas formas de diálogo consigo mesmo, com OS outros e com O mundo. Como toda tentativa de definição e caracterização, as propos- tas aqui apresentadas estão sujeitas ao confronto de opiniões e pontos de vista que, no futuro, possam matizar, complemen- tar e enriquecer essas noções de mediador(a) de leitura e de mediador(a) escolar de leitura literária. No entanto, esperamos que elas contribuam para superar a indefinição que caracteri- zou primeiros usos do conceito de "mediação" no campo da leitura e que sirvam para fundamentar e defender a adoção do termo "mediador" no contexto social de promoção da leitura e no contexto escolar de educação literária. 102