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Bioética Introdução A bioética surgiu em meados do século XX, integrando o ser humano e a natureza, como resposta ao crescente número de intervenções científicas, especialmente na área da saúde. Inicialmente, a bioética era uma resposta a problemas, mas evoluiu para uma reflexão ativa sobre novas situações, embasada em um vasto referencial teórico. Contribuiu para ampliar a noção de responsabilidade, incluindo questões relacionadas aos seres humanos e à ecologia. A Ética na Dimensão Biotecnológica A ética é frequentemente utilizada como adjetivo, qualificando algo como "bom" ou "correto". George Edward Moore definiu a ética como a investigação geral sobre o que é bom. É importante usar a palavra "ética" de forma adverbial (eticamente adequado/inadequado), e não pressupor que ela se associa ao "bom". Autores importantes: Adolfo Sanches Vasques: ética como a busca de justificativas para verificar a adequação das ações humanas. Joaquim Clotet: "[...] a ética tem como objetivo facilitar a realização das pessoas". Robert Veatch: ética como a realização de uma reflexão disciplinada das instituições morais e das escolhas morais que o ser humano faz. A palavra "bioética" foi utilizada pela primeira vez em 1927 por Fritz Jahr (bio + ethik), definindo-a como o reconhecimento de obrigações éticas para com todos os seres vivos. Em 1973, André Hellegers usou o termo para denominar os novos estudos na área da reprodução humana. Por volta de 1980, Van Rensselaer Potter destacou o caráter interdisciplinar da bioética, ampliando as discussões para os desafios ambientais. Ele a denominou "bioética global". Potter se baseou na obra de Aldo Leopold (década de 1930), que criou a "ética da terra" (land ethics), incluindo solo e recursos naturais na reflexão ética. A bioética passou a incluir animais, plantas, solo e recursos naturais na reflexão ética. Potter (1970) alertou que o avanço das biociências poderia prejudicar a sobrevivência humana, apesar de seu potencial para melhorar a qualidade de vida. Inicialmente, a bioética foi considerada a "ciência da sobrevivência", disciplinando a relação do homem com a natureza. Em 1978, Reich definiu bioética na Encyclopedia of Bioethics como "o estudo sistemático das dimensões morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar". A bioética envolve diversas disciplinas como ética, filosofia, sociologia, medicina, direito, biologia e antropologia. Atualmente, a bioética refere-se à ética nas relações médicas, biotecnologia, ciências da vida, engenharia genética, embriologia, ecologia e tecnociências. A bioética determina controles éticos em temas polêmicos como aborto, clonagem, eutanásia, reprodução assistida, técnicas de biologia molecular com DNA, eugenia. Princípios da Bioética: Não maleficência Beneficência Autonomia Justiça Os Problemas da Bioética A UNESCO elaborou a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, buscando normatizar as condutas sobre bioética em âmbito universal. Em 2001, apresentou um documento normatizador e, em 2003, o IBC (International Bioethics Committee) apresentou o relatório final, concluindo que seria viável a elaboração do documento universal sobre bioética. A Declaração estabelece linhas mestras dentro das quais os países podem definir normas sobre questões bioéticas. A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos (2006) é composta por 15 princípios que versam sobre: Dignidade humana e direitos humanos Benefícios e danos Autonomia e responsabilidade individual Consentimento Pessoas incapazes de consentir Respeito pela vulnerabilidade humana e sua integridade pessoal Vida privada e confidencialidade Igualdade, justiça e equidade Não discriminação e não estigmatização Respeito pela diversidade cultural e pelo pluralismo Solidariedade e cooperação Responsabilidade social e saúde Compartilhamento dos benefícios Proteção das gerações futuras Proteção do meio ambiente, da biosfera e da biodiversidade. No Brasil, em 2012, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou a Resolução nº 466/2012, que trata sobre pesquisas e testes em seres vivos, substituindo a Resolução nº 196/1996. A Resolução busca assegurar que os benefícios diretos e indiretos sejam respeitados, minimizando qualquer dano possível. A Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos impõe que a autonomia do sujeito deve ser respeitada. Indivíduos que não forem capazes de exercer sua autonomia devem receber proteção para garantir seus direitos e interesses. Identificando Possibilidades Os problemas atuais relacionados à bioética giram em torno da área da saúde, como aborto, utilização de células-tronco, transplantes, eutanásia, engenharia genética, bebê de proveta, saúde pública. Um dos princípios da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos trata sobre os direitos da personalidade. Os direitos da personalidade não podem ser retirados do sujeito exclusivamente por atos de vontade, mas podem ser relativizados. O direito à integridade física é garantia de proteção à vida humana. O Código Civil Brasileiro tutela sobre a integridade física e o direito do paciente. Ninguém deve ser constrangido a se submeter, com risco de vida, a procedimento médico- hospitalar. A bioética tem uma relação estreita com os direitos dos pacientes e dos sujeitos envolvidos em pesquisas. Princípio da beneficência: fazer o bem e evitar o mal, potencializando os benefícios e minimizando os riscos. Paradigmas no ambiente hospitalar: técnico-científico, comercial-empresarial e ético- humanitário. A organização tecnicista do espaço hospitalar pode levar a uma fragmentação do paciente, prejudicando uma abordagem holística. A bioética e a Estratégia Saúde da Família (ESF) unem a clínica e a saúde pública. A bioética alude aos problemas morais que emergem da intervenção humana em diferentes campos, incluindo a atenção à saúde. A bioética, na vida cotidiana, modifica nossa sociedade e o futuro, influenciando o comportamento do indivíduo. A psicanálise também lida com questões fundamentais da humanidade a partir do vértice do indivíduo. Tanto a bioética quanto a psicanálise revolucionam a humanidade, com a bioética partindo de uma percepção externa e a psicanálise de uma percepção interna. A integração da bioética com a psicanálise pode considerar o indivíduo e a sociedade de forma única, desde o componente externo (moral) e o componente interno (ético).