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Concreto de retração compensada para pisos industriais Breno Macedo Faria Breno Macedo Faria Graduado em Engenharia Civil pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) em 1999, MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Projetos pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), e especialização em Pavimentos de Concreto pela USP (Universidade de São Paulo). Atua desde 1999 na área de pisos e pavimentos de concreto e, atualmente, é Gerente Técnico da LPE Engenharia. Concreto de retração compensada para pisos industriais Concreto – etimologia: A palavra “Concreto” vem do latim Concretus que é uma conjugação de Concrescere, que significa crescer em conjunto, aumentar por agregação. Sumário I. INTRODUÇÃO: HIDRATAÇÃO DO CIMENTO E RETRAÇÃO II. ADITIVOS EXPANSORES III. CASOS PRÁTICOS IV. CONCLUSÃO Concreto de retração compensada para pisos industriais I. INTRODUÇÃO: HIDRATAÇÃO DO CIMENTO E RETRAÇÃO A retração do concreto sempre foi um fator desafiador para os profissionais ligados a projetos e execução de pisos industriais, demandando o desenvolvimento de técnicas que permitam atender as exigências dos usuários, e também mitigar os efeitos prejudiciais que a retração do concreto poderá provocar. Uma das técnicas utilizadas para combater os efeitos da retração é a utilização de aditivos expansores e compensadores de retração, que agem na estrutura molecular dos compostos formados pela hidratação do cimento. Nesta apresentação, vamos abordar, de uma forma simplificada, o processo de hidratação do cimento, da retração do concreto, e da ação dos agentes expansores. 1.1. Introdução 1.2. Fabricação do cimento Calcário + Argila Clínquer Clínquer + Adições Cimento Moagem Aquecimento • Escória • Fíler • Pozolana • Gesso • CPI • CPII - E • CPII - F • CPII – Z • CPIII • CPIV • CPV 1.3. Principais compostos do clínquer de cimento Portland: Composto Nome Característica C3S Alita Influenciam na resistência C2S Belita Influenciam na resistência C3A Influenciam na pega C4AF Influenciam na pega Os compostos químicos são abreviações utilizadas internacionalmente. Fórmula química completa: C: CaO (Óxido de cálcio) S: SiO2 (Óxido de silício) A: Al2O3 (Óxido de alumínio) F: Fe2O3 (Óxido de ferro) C3S: 3CaO. SiO2 C2S: 2CaO. SiO2 C3A: 3CaO. Al2O3 C4AF: 4CaO. Al2O3. Fe2O3 1.3. Hidratação do cimento C3S C2S C3A C4AF + H2O: C-S-H Silicato de cálcio hidratado Ca(OH)2 Hidróxido de cálcio (Portlandita) Etringita (C6AS3H32) (**) Pode se transformar em outros compostos (monossulfato hidratado) Cimento Composto Forma Pasta de cimento endurecida Características (**) S: CaSO4 (*) P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro Principal responsável pela resistência Resistência inicial e Passivação da armadura Resistência nas 1as idades 1.4. Hidratação do cimento Imagens obtidas de microscópio eletrônico por varredura: Ca(OH)2 C-S-H Etringita Fonte: Públio Penna Firme Rodrigues – Estudo da Correlação entre as Reações de Hidratação do Cimento e a Retração do Concreto 1.3. Hidratação do cimento Representação esquemática da distribuição dos compostos da pasta endurecida de cimento próximo a um agregado (Zona de transição): Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais C-S-H C H C-A-S-H (Etringita) Agregado 1.5. Água na estrutura do concreto • Água adsorvida: próxima a superfície dos sólidos. Algumas teorias sugerem que que elas são compostas por até 6 camadas de moléculas de água (1,5nm). Parte desta água pode ser perdida da pasta de concreto quando a umidade relativa ≤ 30%. A sua remoção causa significativa variação volumétrica. • Água interlamelar: fica entre as camadas do C-S-H. Esta água só é perdida por secagem forte (umidade inferior à 10%). A sua perda provoca considerável retração na estrutura. • Água quimicamente combinada: água que faz parte das estruturas dos compostos hidratados do cimento. Ela só é perdida quando a estrutura é aquecida a altas temperaturas, como, por exemplo: fogo. Causa danos severos à estrutura. • Água capilar: água presente em vazios com dimensões ≥ 5,0nm. A sua remoção causa variação volumétrica do concreto quando estiver em capilares entre 5,0 e 50,0nm. Em capilares maiores a sua remoção não causa variações volumétricas. 1.5. Água na estrutura do concreto C-S-H Água capilar Água adsorvida Água interlamelar Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais 1.5. Retração do concreto • Retração plástica: perda de volume quando o concreto ainda está plástico (não ocorreu o fim da pega). Redução volumétrica do concreto: principalmente devido à movimentação das moléculas de água. Acontece quando a perda de água por evaporação > taxa de exsudação Características: Fissuras sobre obstáculos (barras de aço e grandes partículas de agregados) Fissuras paralelas e afastadas cerca de 30 a 100cm (profundidade de 25 a 50mm) • Retração por secagem: perda de água capilar (em capilares < 50nm), perda de água adsorvida, e perda de água interlamelar. Retração plástica e por secagem Perda de água para o meio externo 1.6. Retração do concreto Se durante a concretagem tomarmos cuidado para evitar a retração plástica e por secagem: • Concretando em ambiente coberto e fechado; • Evitando a incidência direta de vento; • Evitando a incidência direta de sol; • Controlando a temperatura do concreto (evitando agregados e cimento quentes); • Minimizando a evaporação na superfície do concreto. Restringindo a retração plástica • Executar cura úmida rigorosa (exemplo 30 dias) e manter a umidade alta para evitar a perda de água do concreto Restringindo a retração por secagem Estaremos isentos de fissura de retração? Não 1.6. Retração do concreto • Retração autógena: “É a variação macroscópica que ocorre na pasta de cimento, sem que haja transferência de umidade para o exterior.” Perda de volume, mas não há perda de massa Água se transforma em produtos da hidratação: água livre se transforma em água adsorvida, interlamelar, ou quimicamente combinada. • A retração autógena gerou interesse no meio técnico com o desenvolvimento do CAD (concreto de alto desempenho – tem baixo fator a/c) • Tem sua intensidade aumentada com a redução do fator água / cimento (a/c) Comitê japonês de retração (Tazawa, 1999) Fonte: Públio Penna Firme Rodrigues – Estudo da Correlação entre as Reações de Hidratação do Cimento e a Retração do Concreto II. ADITIVOS EXPANSORES 2.1. Histórico 1960 – Alexandre Klein (Universidade da Califórnia) desenvolveu um clínquer que apresentava características expansivas ao concreto. C3S C2S C3A C4AF C4A3S CS S: CaSO4 Etringita (C6AS3H32) Potencializa a formação da Etringita Sulfoaluminatos Expansiva Desenvolvimento dos cimentos Tipo K (ASTM C 845) Cimento comum 2.1. Histórico Hoje existem dois tipos de produtos que podem provocar expansão ao concreto: • Sulfoaluminatos – formação da etringita Diferente dos cimentos expansivos estes produtos são utilizados como aditivos ao concreto em dosagens específicas para cada situação particular • Óxido de cálcio (CaO) super-calcinados: formação de Ca(OH) Aquecidos a cerca de 1500oCC3S C2S C3A C4AF C4A3S CS Etringita (C6AS3H32) Sulfoaluminatos Expansão do concreto 2.2. Sulfoaluminato É importante notar que nesta reação há um grande consumo de água, portanto ela só é possível se existir água disponível Cura úmida Etringita (C6AS3H32) S: CaSO4 0 1 2 3 4 5 6 0,01 0,04 0,16 0,64 2,56 10,24 40,96 163,84 655,36 C-S-H Ca(OH)2 Monossulfato Etringita 2.2. Sulfoaluminato Q u a n ti d a d e R e la ti va Tempo (horas) 1dia 7dias 28dias Velocidade típicas da formação de produtos da hidratação: Queda produção de Etringita e início da formação de Monosulfatos Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais 2.2. Sulfoaluminato Curva típica de variação de dimensional: M u d a n ça n o c o m p ri m e n to E x p a n sã o C o n tr a çã o Cura úmida Cura seca Concreto de cimento expansivo Concreto comum 7 dias 1 ano 0 Idade Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais L + ΔL` 2.2. Sulfoaluminato Expansão e restrição da movimentação pela armadura: Expansão livre: Expansão restringida: Gera tensões de compressão internas que inibem a formação de fissuras L L + ΔL L Barra de aço 2.2. Sulfoaluminato Características: • Pico da reação acontece no 7º dia após a concretagem. • Reduz os efeitos da retração, podendo eliminá-los dependendo da dosagem. • Previne formação de fissuras, devido aos efeitos das tensões de compressão internas geradas quando o concreto tem sua movimentação restringida. • Reduz a abertura das juntas. • Dependendo da dosagem poderá proporcionar protensão química, oferecendo ganho estrutural. 2.3. Óxido de Cálcio CaO Supercalcinado + H2O Ca(OH)2 Expansão do concreto -600 -400 -200 0 200 400 0 5 10 15 20 25 30 Conc. c/ CaO (supercalcinado) Conc. Referência V a ri a çã o d im e n si o n a l (µ m /m ) Tempo (dias) Ensaio feito segundo ASTM C 157 (retração livre) 2.3. Óxido de Cálcio Características: • Inicio rápido da reação: a expansão se inicia nas primeiras horas. • Reduz os efeitos da retração. • Redução a abertura das juntas. • Dependendo da dosagem pode gerar tensões internas de compressão quando a movimentação do concreto é restringida. 2.4. NORMAS E MÉTODOS DE CONTROLE Ensaios do concreto sob retração livre: ASTM C 157 (Norma Americana) Ensaios do concreto sob retração restringida: ASTM C 878 (Norma Americana) JIS A 6202 (Norma Japonesa) Especificação cimentos expansivos: ASTM C 845 NM 131 (Norma Brasileira / Mercosul) 2.4. Comparação concreto sem e com expansor Ensaio feito segundo JIS A 6202 (retração restringida) -150 -100 -50 0 50 100 150 0 4 7 11 14 18 21 25 28 32 35 39 42 46 49 53 56 60 64 67 71 74 78 81 85 88 92 95 99 10 2 10 6 11 7 12 0 12 4 12 7 13 1 13 4 13 8 14 1 14 5 Str ain (x 10 -6) Convencional-simulado DENKA Sem expansor Com expansor Guia para uso de concreto com compensador de retração: • Tipos de materiais American Concrete Institute - ACI 223 • Considerações sobre o dimensionamento das estruturas (aborda o tipo de restrição e as tensões de compressão provocadas pela expansão / restrição) • Proporções dos materiais e procedimentos para a mistura • Lançamento, acabamento e cura III. CASOS PRÁTICOS 3.1. Dallas Love Field Airport: Em 1969 e 1972 foram executas 2 pistas com cimento tipo K. Estrutura do pavimento: concreto armado Resultados: Os pavimentos anteriores tinham juntas espaçadas a cada 15 m, com fissuras centrais em praticamente todas as placas. Os pavimentos com cimentos expansivos tinham juntas espaçadas a cada 23 e 38 m, e com apenas fissuras esporádicas entre juntas. Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais 3.2. Aeroporto de O`Hare , Chicago - estacionamento: Em 1972 foram executados 92.000 m2 de 6 níveis de lajes para o estacionamento , utilizando cimento tipo K. Fonte: P. Kumar Metha, e Paulo J. M. Monteiro – Concreto: Estrutura, Propriedades, e Materiais O objetivo foi evitar manutenção. Houve um monitoramento após o início do tráfego e a estrutura apresentou um comportamento excelente. 3.3. Depósito executado no México Área aproximada: 45.000 m2 Distância entre juntas: 24 m x 24 m Ano de construção: 2010 Concreto com espessura de 20 cm e reforçado com barras de aço Foi utilizado expansor a base de óxido de cálcio 3.4. Indústria na Hungria • Distância entre juntas: 33 m • Ano de construção: 2013 • Abertura das juntas: ≈3 mm (após 6 meses) • Piso s/ expansor c/ placa 33 m, a abertura da junta seria de aproximadamente 17 mm • Concreto com espessura de 15 cm e reforçado com barras de aço • Foi utilizado expansor a base de sulfoaluminato 3.5. Centro de Distribuição em Itupeva / SP • Área aproximada: 50.000m2 • Distância entre juntas: 11,0 x 10,5m • Ano de construção: 2014 • Concreto com espessura de 14cm e reforçado com fibras de aço • Utilizar expansor a base de sulfoaluminato, e dobrar o comprimento entre juntas, utilizando uma área com a mesma dosagem de fibras, e uma outra área somente com barra de aço Projeto original: Projeto proposto: 3.5. Centro de Distribuição em Itupeva / SP Execução da faixa reforçada com barras de aço Cura úmida 3.5. Centro de Distribuição em Itupeva / SP abe Ʃ abert. juntas: Placas 11,0m x 10,5m Placas 22,0m x 21,0m 11 a 14mm 19 a 24mm Foram computadas as aberturas das juntas descontando a abertura dos cortes (3,0mm) Mesmo dobrando o tamanho das placas as aberturas das juntas ficaram inferiores às dos pisos sem expansores IV. CONCLUSÃO IV. CONCLUSÃO Os aditivos expansores são produtos que podem ser utilizados por projetistas envolvidos com a construção de piso e pavimentos de concreto e que conseguem proporcionar os seguintes benefícios técnicos: • Reduzir a ocorrência de fissuras por retração; • Reduzir a abertura das juntas; • Reduzir o número de juntas; • Poderá promover um ganho estrutural através da protensão química. • Compensar ou até eliminar a retração do concreto (dependendo da dosagem); Obrigado!
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