Prévia do material em texto
FUNDA����O EDITORA DA UNESP Wilson Cano Presidente do Conselho Curador Marcos Macari Diretor-Presidente Jos�� Castilho Marques Neto Editor-Executivo BIBLIOTECA-IE-UNICAMP J��zio Hernani Bomfim Gutierre Conselho Editorial Acad��mico Antonio Celso Ferreira Introdu����o �� Economia Cl��udio Antonio Rabello Coelho Elizabeth Berwerth Stucchi Kester Carrara Maria do Ros��rio Longo Mortatti Uma abordagem cr��tica Maria Encarna����o Beltr��o Sposito Maria Helo��sa Martins Dias Mario Fernando Bolognesi Paulo Jos�� Brando Santilli Roberto Andr�� Kraenkel Editores-Assistentes Anderson Nobara Denise Katchuian Dognini Dida Bessana edi����o (revista, atualizada e ampliada), 2007 BIBLIOTECA-IE-UNICAMP editora unesp�� 2007 Editora UNESP Direitos de publica����o reservados ��: UNIDADE: Ie Funda����o Editora da UNESP (FEU) Pra��a da S��, 108 CLASSIF: 330 01001-900 S��o Paulo - SP AUTOR: C1650 Tel.: (0xx11) 3242-7171 2 VOL: Fax: PATRIM.: 916608 www.editoraunesp.com.br feu@editora.unesp.br PROC.: 16 94 13 SUM��RIO C: D.: X edi����o, 1998 PRECO.: reimpress��o, 2006 DATA: 07/01 FONTE CT: 417146 CIP - Brasil, Cataloga����o na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ C229i 2.ed. 9 Apresenta����o Cano, Wilson, 1937- Introdu����o �� economia: uma abordagem Cano. 2. ed. (rev. atual. 13 Pref��cio �� Edi����o e ampliada) S��o Paulo: Editora 2007. 17 Cap��tulo 1 Inclui bibliografia A economia de mercado ISBN 978-85-7139-732-3 (Vis��o simplificada de seus principais elementos) 1. Economia. T��tulo. 17 1.1 Complexidade do sistema econ��mico capitalista 22 1.2 A produ����o 28 1.2.1 elemento humano 07.0357 CDD: 330 35 1.2.2 Os recursos naturais CDU: 330 36 1.2.3 capital 41 1.3 aparelho produtivo 46 1.3.1 Os fluxos do aparelho produtivo: produto e a renda Editora afiliada: 49 Cap��tulo 2 A economia de mercado (Origem e destino da produ����o) ABDR 49 2.1 processo de produ����o Asociaci��n de Editoriales Universitarias Associa����o de 58 2.2 destino da produ����o de y el Caribe Editoras Universit��rias6 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 7 65 Cap��tulo 3 175 Cap��tulo 6 A circula����o em uma economia de mercado Moedas, bancos e sistema financeiro 66 3.1 processo circulat��rio 175 6.1 Introdu����o 70 3.2 condicionamento quadridimensional nos mercados 182 6.2 Os meios de pagamento: sua forma����o e expans��o 196 6.3 Os mercados financeiros e as entidades intervenientes 202 6.4 Algumas particularidades do sistema 83 Cap��tulo 4 monet��rio-financeiro no mundo subdesenvolvido As rela����es econ��micas internacionais 84 4.1 A economia nacional e sua inter-rela����o com o do mundo" 207 Cap��tulo 7 87 4.1.1 Os principais tipos de transa����es econ��micas A unidade produtora e sua inser����o no sistema econ��mico internacionais e seu registro 211 7.1 Proje����o e instala����o da unidade produtora 92 4.1.2 Os mecanismos de controle 212 7.1.1 condicionamento institucional 96 4.1.3 Os efeitos do inter-relacionamento na 213 7.1.2 condicionamento dos mercados economia nacional 227 7.1.3 Condicionantes do processo produtivo 107 4.2 Principais determinantes das rela����es econ��micas 231 7.1.4 Investimentos e recursos financeiros internacionais 233 7.1.5 Produ����o, custos, receitas e lucros financeiros 113 4.3 As rela����es econ��micas internacionais e 237 7.2 A inser����o da unidade produtora no sistema econ��mico "Terceiro Mundo" 238 7.2.1 Interdepend��ncia estrutural: oferta e demanda intermedi��ria da empresa 119 4.3.1 per��odo atual: globaliza����o e pol��ticas neoliberais 241 7.2.2 A tecnologia e a gera����o de empregos 244 7.2.3 Efeitos sobre o balan��o de pagamentos 244 7.2.4 Efeitos sobre sistema monet��rio-financeiro 129 Cap��tulo 5 setor p��blico 130 5.1 Atua����o do setor p��blico na economia de mercado 247 Cap��tulo 8 141 5.2 A atividade produtora do setor p��blico Reparti����o e apropria����o do produto social 146 5.3 Apropria����o e utiliza����o de rendas pelo setor p��blico 249 8.1 Reparti����o e rela����es econ��micas internacionais 147 5.3.1 As rendas do setor p��blico 254 8.2 Reparti����o e disparidades regionais 152 5.3.2 gasto p��blico 261 8.3 Reparti����o funcional: trabalhadores e propriet��rios 156 5.4 Estado e desenvolvimento 272 8.4 Reparti����o pessoal da renda e apropria����o pessoal 157 5.4.1 Estado desenvolvimentista: da "Crise de 1929" do produto �� "crise da d��vida" (1979-1982) 273 8.4.1 Reparti����o pessoal da renda 162 5.4.2 surgimento e a atua����o do "Estado 280 8.4.2 Apropria����o pessoal do fluxo real de bens desenvolvimentista" e servi��os 164 5.4.3 mito da estatiza����o 167 5.4.4 fim do Estado desenvolvimentista?APRESENTA����O Este texto, que compreende oito cap��tulos, teve sua primeira vers��o elaborada pelo autor em 1970. Destinava-se ao primeiro curso de gradua����o em ci��ncias humanas da Unicamp, e tinha como objetivo central possibilitar uma vis��o cr��tica da Economia, das diferen��as que marcam pa��ses subdesenvolvidos dos desen- volvidos e, em especial no caso do Brasil daquela ��poca, tentar preparar um "ant��doto" para a ideologiza����o e aliena����o que re- gime militar tentava impor ao pa��s, notadamente por meio dos cursos de Economia. Em contrapartida, necessitava ser um texto acess��vel a ini- ciantes de um curso de gradua����o. Por decis��o do ent��o Departa- mento de Economia e Planejamento Econ��mico (DEPE) do Instituto de Filosofia e Ci��ncias Humanas (IFCH), fui incumbido de prepar��-lo, tendo como base a vis��o estruturalista da Cepal, sem que isso, contudo, significasse uma "camisa-de-for��a" te��rica, isto ��, texto deveria comportar tamb��m vis��es te��ricas compat��veis com a boa doutrina keynesiana, marxista ou schumpeteriana. Dado que Antonio B. Castro e Carlos Lessa professores dos cursos da Cepal bem como alguns dos docentes do DEPE haviam10 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 11 editado um livro�� com os mesmos prop��sitos, Colegiado do subdesenvolvidas id��ias neoliberais que s�� "fazem bem" ��s na����es DEPE sugeriu que esse mesmo livro fosse tomado como base, me- desenvolvidas, ao dito Primeiro Mundo, j�� que �� a elas que sem- diante adapta����es necess��rias. pre conv��m a abertura dos mercados dos outros, ou seja, dos nos- Realizei esfor��o de reescrev��-lo, atualizando-o no que pude, �� claro. inserindo, ao longo do novo texto, algumas informa����es e an��lises Para tentar manter uma artificiosa e "inteligente" pol��tica de sobre a economia brasileira e ampliando um pouco mais algumas estabiliza����o, as na����es desenvolvidas est��o minando as finan��as passagens que, a meu ju��zo, deveriam ser mais bem esclarecidas. p��blicas e desestruturando aparelho produtivo nacional. Os O novo texto permaneceu como apostila oficial dos cursos do maiores exemplos disso s��o as grandes redu����es de capacidade pro- DEPE durante alguns anos, e tenho not��cia de que foi tamb��m dutiva j�� ocorridas em muitos setores, notadamente nos da agri- usado em outros cursos de Economia fora da Unicamp. Passado cultura, ind��stria t��xtil, confec����es, brinquedos, componentes aquele momento, outros textos substitu��ram-no. Passei, ent��o, a eletr��nicos e autope��as. dar aulas exclusivamente na p��s-gradua����o; DEPE trans- Nesses anos de pr��ticas de pol��ticas neoliberais j�� abando- formou-se no atual Instituto de Economia e, dos nove docentes nadas em alguns pa��ses efeitos sociais nefastos j�� se fazem sen- que ��ramos, chegamos a pouco mais de cem. N��o �� dif��cil enten- tir tamb��m aqui: dr��sticos cortes nos gastos p��blicos sociais, der que uma institui����o, tendo crescido dessa forma, depois de 25 aumento do desemprego aberto e do de longa dura����o, desmedido anos queira rever, mais profundamente, a estrutura de seus cursos. crescimento da viol��ncia urbana e grave deteriora����o dos padr��es N��o que nunca tivesse feito. Por v��rias vezes, ao criar novos ��ticos, pol��ticos e sociais. cursos, transferir docentes de um curso para outro, ou, burocrati- Por outro lado, torna-se ainda mais dif��cil a reda����o de um camente, a cada quatro anos, muitas revis��es alterando programas texto de introdu����o �� Economia, haja vista a crise pela qual passa e bibliografia foram feitas. a teoria econ��mica (as "novas" e as "neos") e a "financeiriza����o" Em 1996, propusemo-nos a fazer novas altera����es na gradua- criada pela crise financeira internacional, que cresce, justamente, ����o, tentando ampliar o esp��rito cr��tico dos estudantes, em parte a partir da d��cada de 1970 e parece n��o ter solu����o pac��fica. um tanto quanto "acomodado" nesses tempos de abertura neo- Ainda, mas sem ser novidade pelo menos para aqueles que liberal, e lembrar n��o s�� a eles como tamb��m a alguns de seus leram algo das finan��as internacionais da d��cada de 1920 a li- mais jovens docentes que "este ainda �� um pa��s subdesenvolvido berdade do tr��fego (e do tr��fico) dos capitais internacionais de e n��o apenas injusto" como disse nosso neoliberal ex-presidente curto prazo est��o pondo "de pernas para ar" a desarrumada ca- Fernando Henrique Cardoso. be��a dos "nouveaux economistes"... Assim �� que, mais uma vez, fui incumbido de rever aquele tex- O que se pede, em suma, aos alunos e demais leitores desta to de 1970 e atualiz��-lo no que coubesse. Essa tarefa n��o �� simples, nova vers��o, �� aten����o redobrada, cr��tica arguta e certa paci��ncia. n��o apenas porque h�� muitos fatos novos e dados estat��sticos a in- troduzir, mas porque, fundamentalmente, "estamos vivendo outros tempos". Tempos duros e dif��ceis, em que, novamente agora n��o mais sob a ��gide de um regime militar tentaram impor ��s na����es Introdu����o �� economia uma vis��o estruturalista. Rio de Janeiro: Forense, 1967.PREF��CIO �� EDI����O Transcorreram dez anos desde que, em 1996, conclu�� o texto final da 1�� edi����o deste livro, o qual veio a p��blico em 1998, da qual se seguiram quatro reimpress��es. Antes disso, texto ante- rior (de 1970, na forma de apostilas) circulou em fotoc��pia, por 38 anos, em v��rias escolas deste pa��s. Penso, assim, que o material foi bastante experimentado, sobretudo com base em sua primeira edi����o em livro, tendo sido adotado por diversas escolas de v��rios estados brasileiros. �� um livro cr��tico, embora seu nascimento (1970) tenha-se dado em pleno "milagre quando Produto Interno Bruto (PIB) crescia "a 10% ao ano" e, portanto, n��o deveria ha- ver, aparentemente, raz��es para uma vis��o cr��tica e razoavelmente pessimista. Contudo, n��o seriam "10% ao ano" que iriam me desviar das id��ias cr��ticas centrais sobre o subdesenvolvimento econ��mico, magistralmente formuladas por Prebisch e Furtado. Seu objetivo, al��m de introduzir conhecimentos b��sicos de Eco- nomia a seus leitores, tamb��m �� o de desnudar nossa problem��tica e nossas estruturas subdesenvolvidas.14 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 15 A vis��o cr��tica n��o s�� se manteve, mas at�� mesmo aprofundou- Embora a maior parte de nossas elites jamais tenha-se debru- se, vinda a d��cada de 1980 (a da d��vida, a "perdida") e o in��cio ��ado com seriedade sobre a quest��o da justi��a social, antes dizia deste infausto per��odo neoliberal, que lhe seguiu. Assim, depois do serem necess��rios melhor distribui����o da renda, aumento persis- milagre, convivemos com med��ocre crescimento m��dio anual tente do emprego, substancial melhoria na infra-estrutura de ha- do PIB, com elevado desemprego aberto novidade para n��s, do bita����o e de saneamento b��sico. Hoje se aceita (se tolera) gasto Brasil e com profunda corros��o pol��tica e social que descambou p��blico com nossa "renda m��nima" o Programa Bolsa Fam��lia -, tamb��m para o aumento da viol��ncia. texto, assim, tanto se qui���� porque envolve apenas o equivalente a 5% do gasto p��blico prestou a ser um ant��doto contra a euforia irrespons��vel, quanto com juros das d��vidas p��blicas, e "contempla muitas bocas"... para o p��fio crescimento e a regress��o de algumas de nossas estrutu- Embora hoje contemos com um aparelho de informa����o esta- ras. Uma esp��cie de luta "contra a corrente", contra o mainstream. t��stica melhor e maior, nossos problemas metodol��gicos cresceram, Chega a ser desolador para mim, que tamb��m sempre fui um notadamente quando tentamos encadear s��ries hist��ricas, feitas desenvolvimentista, olhar para tr��s, para ver o tamanho e a profun- antes com crit��rios metodol��gicos distintos dos de hoje. Por outro didade da lenta e corrosiva crise brasileira, que j�� dura 26 anos, e lado, nas d��cadas de 1960 e 1970 o debate econ��mico e pol��tico tentar vislumbrar uma nesga de luz para o futuro, que, ao que pa- estimulou a realiza����o de v��rias pesquisas importantes, por orga- rece, est�� ainda distante... nismos nacionais e internacionais, sobretudo sobre distribui����o de A dura����o e a dimens��o da "crise da d��vida" e o Pensamento renda e da propriedade, que hoje "sa��ram de moda", impedindo- ��nico neoliberal, al��m dos estragos j�� apontados, causaram amplo nos de fazer certas compara����es sobretudo internacionais com embotamento �� sociedade, fazendo-lhe perder a no����o de desen- a situa����o de hoje. Ao leitor atento n��o escapar��o as dificultosas volvimento, de na����o, de justi��a, de ��tica e de viol��ncia. No plano adapta����es feitas no texto. da Economia, a maioria passou a acusar uma nova sintoma Por ��ltimo, �� preciso alertar que certa dose de pessimismo n��o tologia, a do curto prazismo, a da permanente afli����o oportunista significa derrotismo, e sim a constante preocupa����o pela reflex��o diante da conjuntura do c��mbio, do pre��o, do juro em detri- cr��tica necess��ria, que deve se despojar do ufanismo e da ado����o mento da reflex��o de longo prazo, da mudan��a (positiva e pro- apressada de certas "novas id��ias". Afinal, como disse o poeta, gressista) estrutural. navegar �� preciso. Da vis��o geral, nacional, regional e setorial do desenvolvimen- to, passou-se �� focaliza����o econ��mica, das metas da infla����o e do Campinas, outubro de 2006 d��ficit p��blico, em detrimento da vis��o do crescimento e do desenvolvimento. Antes, economistas, o Estado e as elites em- penharam-se pelo crescimento alto e pelo avan��o da industriali- za����o. Hoje, fingem n��o se dar conta de que v��rias de nossas estruturas produtivas regridem: a ind��stria j�� n��o �� o setor mais di- n��mico e guarda grande atraso tecnol��gico; a agricultura au- mentou sua participa����o no PIB, contrariando as trajet��rias econ��micas hist��ricas dos pa��ses desenvolvidos (e dos nossos prin- cipais, da Am��rica Latina); a renda per capita tem aumento p��fio, n��o despertando preocupa����o no empres��rio que depende da expan- s��o do mercado.CAP��TULO 1 A ECONOMIA DE MERCADO (VIS��O SIMPLIFICADA DE SEUS PRINCIPAIS ELEMENTOS) 1.1 Complexidade do sistema econ��mico capitalista Dada a complexidade que atingiram as rela����es econ��micas do sistema capitalista a chamada economia de mercado -, ire- mos paulatinamente, neste e nos demais cap��tulos, definir e apre- sentar inter-relacionamento de suas pe��as fundamentais e, sempre que poss��vel, utilizar imagens extra��das da observa����o e da viv��ncia pr��tica de atos e fatos econ��micos dos quais participamos ativa ou passivamente. �� t��o grande a heterogeneidade das atividades humanas (pro- du����o, compra, venda, transporte, armazenagem etc.), de seus compartimentos produtivos (agricultura, ind��stria, educa����o, m��rcio etc.) bem como de suas institui����es (unidades produtoras, fam��lias, governo, mercados etc.) que os homens precisam classifi- car essas rela����es, compartimentos e institui����es, organizando-os e dando-lhes um sentido e uma funcionalidade dita (e pretensamen- te) racional. Tomemos um exemplo pr��tico: a satisfa����o de uma necessida- de fundamental do homem, que �� uso de uma vestimenta. Em18 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 19 sociedades pret��ritas, pr��prio homem (ou um membro de sua A expans��o das trocas, a perda de terras comunais e da liber- fam��lia) criava carneiro, extra��a-lhe a l��, fiava-a, tecia fios e dade (escravid��o e servid��o) e a acumula����o de riquezas para al- confeccionava sua pr��pria roupa. Em outros termos, esse mesmo guns homens v��o ampliando a diferen��a entre eles, que alcan��a homem realizava todos atos fundamentais �� satisfa����o de sua tamb��m as atividades que exercem: vai surgindo alguma divis��o necessidade: a produ����o e consumo. Nesse tipo de sociedade, por- do trabalho, com alguns homens se especializando em certas ati- tanto, as atividades econ��micas tinham uma coincid��ncia tempo- vidades (pesca, agricultura, com��rcio, produ����o de armas etc.). ral (o "momento" de produ����o e de consumo) e espacial (o local de Com a expans��o crescente das trocas, a diferencia����o entre in- produ����o e o de consumo). Era esse homem respons��vel direto, div��duos aumenta ainda mais, ampliando tamb��m a vida nas em- mediato e imediato pela satisfa����o de suas necessidades b��sicas. brion��rias cidades.�� A humanidade, na Pr��-hist��ria, vivia de forma muito distinta Tais altera����es exigir��o novas institui����es, normas e legisla����o, da atual. Se aceitarmos que suas grandes transforma����es podem ser aparelho de repress��o ao crime e para a manuten����o da ordem, catalogadas como forma����es sociais, ter��amos uma primeira, como surgindo, enfim, Estado.�� Para mant��-lo, entretanto, seria neces- a do estado Selvagem, ou Comunismo Primitivo, que compreenderia s��ria a cria����o de uma finan��a p��blica: impostos e d��vida p��blica. um longo caminho durante o qual homem desce da ��rvore, Passamos, assim, entre 5.000 e 300 a.C., para o per��odo das Gran- aprende a falar, a viver em bandos, a ca��ar, a coletar frutos e ra��zes des Civiliza����es Cl��ssicas (a grega e a romana), que se estende at�� e a guerrear contra outros bandos. Mais tarde, dominando cada vez meados de 450 d.C. Nessa altura, o conceito de propriedade mais a natureza, come��a a trabalhar a pedra, depois a madeira e comunal j�� est�� se deteriorando, cresce a produ����o privada agr��- descobre fogo, atingindo um est��gio "superior". cola e artesanal e aumenta a popula����o das cidades. A evolu����o da humanidade leva-a �� forma����o da Barb��rie, espa��o deste texto n��o nos permite discutir a crise dessas com dom��nio da cer��mica e dos metais, e a radicar-se em deter- forma����es, mas t��o-somente afirmar que ela foi uma "crise defini- minados locais, onde pratica certa agricultura e, mais adiante, a tiva", com a invas��o dos b��rbaros, que ir�� fortalecer outra forma- pecu��ria, aumentando o poder dos homens. Em um est��gio supe- ����o social que j�� vinha se criando: Feudalismo. Neste, homens rior, a fundi����o de ferro aumenta-lhe o poder; com novas armas e salvo a nobreza, clero, a burguesia nascente e o artesanato fo- instrumentos auxiliares em sua produ����o, desenvolve a escrita, ram ungidos pela servid��o. Assim, �� crescente o n��mero de homens avan��a na navega����o e na constru����o residencial. Aqui j�� consti- que perdem suas terras comunais, que fogem ou abandonam suas tui a fam��lia patriarcal, e as terras ainda s��o usadas de forma glebas em dire����o �� cidade (ou se abrigam sob a prote����o do comunal. N��o h�� propriedade privada de meios de produ����o, como feudo); esses homens, todos eles escravos, servos ou trabalhadores terra, sementes, arado etc. Mas as grandes transforma����es hist��ri- livres, precisam trabalhar para algu��m, e ser�� esse algu��m que lhes cas que antecedem surgimento pleno do capitalismo encarregar- prover�� sustento, pela servid��o, pelo escravismo ou pelo sal��rio. se-��o de desatar um processo de separa����o dos homens, de seus J�� aqui, as trocas perderam seu sentido de valor de uso e pas- meios de produ����o comunais ou privados. sam a representar o valor de troca, isto ��, t��m como objetivo a sa- Por exemplo, guerras e conquistas v��o gerando novos proble- mas: a submiss��o de perdedores, que se convertem em escravos e perdem suas terras comunais. crescente dom��nio sobre a natu- Sobre o tema ver: MARX, Karl. Formaciones econ��micas precapitalistas. reza e a descoberta de novos espa��os amplia as trocas de bens en- 2. ed. Barcelona: Ed. Cr��tica, 1984. tre homens, mas essa troca �� uma troca de valores de uso, pois 2 Para uma vis��o desse processo evolutivo ver: ENGELS, Friedrich. A origem n��o h�� ainda o objeto mercantil. da fam��lia, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Vit��ria, 1964.20 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 21 tisfa����o do capital mercantil em busca do lucro, e n��o apenas a conceder melhores condi����es sociais e de trabalho, a chamada satisfa����o da necessidade do homem que produziu a mercadoria pol��tica de Welfare State. trocada.�� regime de trocas deixa de ser o anterior, em que mer- Ap��s tal per��odo, o mundo vive atualmente, perplexo, com cadorias eram trocadas por dinheiro para que se pudesse adquirir a crescente redu����o de direitos sociais e trabalhistas, gra��as ��s po- outras mercadorias (MDM). Agora, o objetivo do lucro mercantil l��ticas neoliberais. �� da economia desta atual Civiliza����o, ou seja, ditava jogo: era o dinheiro que adquiria mercadorias para serem do Sistema Capitalista de Produ����o, que trataremos neste livro. vendidas com lucro, trazendo um dinheiro maior (DMD). Assim, Estas notas de abertura do cap��tulo tiveram somente a pretens��o homens passam a produzir coisas sem saber para quem, nem para de advertir que mundo de hoje "nem sempre foi assim", bem qu��, nem por que fazem. como que a propriedade privada e o Estado nem sempre existi- Da expans��o mercantil, o capitalismo saltaria para a Revolu- ram. Que homens eram livres em suas comunidades, tornaram- ����o Industrial o que destruiria o feudalismo j�� em ru��nas e cria- se escravos ou servos, e depois foram libertados para capital, ria outras institui����es, sobretudo com fortalecimento do assalariando-se. Tal processo era necess��rio para a prote����o do capital nascente e Vejamos que n��vel de complexidade atinge esse ato de satisfa- crescente, para as trocas em expans��o, para a cobi��a de terceiras zer a necessidade de vestu��rio. pessoas ou pa��ses, para a tentativa de ociosidade de pessoas, agora A roupa feita atualmente tem caracter��sticas bastante distin- repressivamente perseguidas e obrigadas a trabalhar. Muita dor e tas daquela de ��pocas pret��ritas, e, uma das principais, �� a de que muito sangue foram o adubo dessa semeadura. tecidos em geral utilizados em sua produ����o s��o fibras sint��ti- Assim chegamos �� Civiliza����o Moderna, a partir do s��culo XVI, cas mescladas ��s fibras naturais. Acompanhemos ent��o as etapas atravessando um tormentoso per��odo de transforma����o, at�� s��- de transforma����o dessas mat��rias-primas, desde suas fontes produ- culo XX, quando a industrializa����o reinou, mas quando tamb��m o toras at�� a loja vendedora de confec����es: mundo conheceu outras rupturas, como as duas Guerras Mundiais e a Revolu����o Sovi��tica de 1917, que fez aumentar sobremodo o socialismo em grande parte do planeta. At�� sua ru��na, ao final da Quadro 1.1 d��cada de 1980 (mas n��o completa, dada a manuten����o desse re- gime, em v��rios pa��ses), a antiga URSS foi um anteparo ao capita- Atividades Agentes Produtos lismo, pressionando-o sempre, raz��o pela qual este foi obrigado a 1. produ����o de fibras ovinocultura fibras de l�� ind. qu��mica fibras sint��ticas Smith, ao dizer que o selvagem "tinha uma propens��o natural para a tro- 2. fia����o ind. de fia����o fios ca", comete grave erro hist��rico, pois trata de forma igual a troca para a 3. tintura ind. de tinturaria acabamento de fios satisfa����o imediata de uma necessidade (pelo valor de uso) e a troca mer- 4. tecelagem ind. de tecelagem tecidos cantil, cujo objetivo maior �� o lucro (valor de troca). Ver a respeito: 5. comercializa����o com. atacadista distribui����o aos Adam. A riqueza das na����es. S��o Paulo: Abril Cultural, 1983. confeccionistas Livro Primeiro, cap.1, v.1. Fez-lhe a cr��tica contundente: POLANYI, Karl. A grande transforma����o. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1980. cap.1. 6. confec����o ind. de vestu��rio roupas feitas 4 Para sentido da mudan��a desses sistemas e dos padr��es de acumula����o, 7. comercializa����o com. varejista distribui����o ver MARX, Karl. capital. M��xico: Fondo de Cultura Econ��mica, 1973. aos consumidores v.1, caps. XXIII e XIV.22 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 23 Restaria ainda citar outros agentes que interv��m nesse proces- A) necessidades individuais empresas de transporte, seguradoras, governo, bancos etc. corporais i absolutas (biol��gicas) que se depreende de imediato �� que, na sociedade, tende a de- ii relativas (sociais) saparecer a produ����o para consumo pr��prio, ocorrendo uma divi- espirituais s��o de atividades na produ����o, ganhando grande import��ncia a luxo ou consumo suntu��rio distribui����o dessa produ����o. B) necessidades coletivas Neste cap��tulo faremos duas grandes abstra����es, supondo que: As necessidades corporais dizem respeito ��quelas fundamen- esse sistema �� aut��rquico, n��o mantendo nenhuma forma de tais, como alimenta����o, reprodu����o, abrigo e vestu��rio. Entre elas, rela����o com outros pa��ses; em linguagem econ��mica, tratar- no entanto, podemos distinguir as que n��o t��m car��ter absoluto, se-ia de um "sistema fechado". mas relativo, e est��o condicionadas ou induzidas pela chamada inexiste a entidade "governo", que nos leva a ignorar exist��ncia social do homem. Dito de outra forma, �� meio social neste instante importantes atua����es do chamado "Setor (ou est��gio da civiliza����o) que, podemos dizer, cria certa obriga- P��blico", como: legisla����o, tributa����o, distribui����es de jus- toriedade na diversifica����o do atendimento a essas necessidades. ti��a, pol��tica econ��mica etc. �� que se conhece pelo nome de "conforto". As influ��ncias da moda e da publicidade s��o not��rias nesse caso, convertendo coi- sas e servi��os sup��rfluos em "necessidades". �� filme na TV mos- 1.2 A produ����o trando o novo carro do vizinho... No que se refere ��s necessidades espirituais, estas s��o inerentes Na sociedade antiga, as necessidades humanas praticamente ao psiquismo do indiv��duo, e podem ser classificadas genericamen- restringiam-se ao m��nimo essencial, sem o qual homem deixaria te em termos de obten����o de conhecimento e cria����o art��stica de existir. Com decorrer do progresso e da civiliza����o, as "neces- ou seja, a educa����o e a cultura. sidades humanas" passaram a ter car��ter ilimitado. Assim, o homem luxo ou consumo suntu��rio tem car��ter mais relativo que ab- atual deseja alimento, roupa, abrigo, transporte, sa��de, educa����o, soluto. Historicamente serviu (e continua servindo) para marcar lazer etc. e sempre em crescente diversifica����o e sofistica����o. de modo n��tido as diferen��as de classe e de renda entre homens. Por exemplo, em um primeiro plano o homem deseja a habi- Exemplifiquemos: para uma fam��lia de "classe fato de ta����o como abrigo; depois, almeja uma casa de campo ou na praia. passar anualmente suas f��rias na praia poderia ser considerado a Id��ntica situa����o se passa com respeito ao autom��vel: inicialmen- satisfa����o de uma necessidade "normal"; no entanto, uma fam��lia te um carro para si, depois um para a mulher e, em seguida, outro de oper��rios n��o qualificados ou de lavradores, dado seu baixo n��- para filhos. N��o bastasse isso, ele ainda procura substituir pe- vel de rendimento, consideraria isso um luxo. Contudo, esse car��- riodicamente o carro velho por um novo. ter de luxo pode se alterar �� medida que as condi����es sociais Os professores An��bal Pinto e Carlos Fretes��� classificam as mudem. Por exemplo, a pr��pria m��dia e maior acesso a financia- necessidades humanas em: mento alteram o padr��o de consumo. aumento do n��vel de ren- da, a longo prazo, tamb��m modifica. Na d��cada de 1960 cerca de 95% dos assalariados (na ind��s- tria, no com��rcio e na agricultura) recebiam mensalmente no 5 Curso de Economia. CEPAL: 1962. (mimeo.) m��ximo at�� tr��s sal��rios m��nimos, que fazia que numerosos itens24 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 25 do consumo nacional, para a maioria do povo brasileiro, consti- colabora����o de toda a coletividade.��� S��o exemplos servi��os de tu��ssem um luxo: autom��vel, televis��o, r��dio, sapatos (cerca de educa����o, de sa��de, de justi��a, as redes de transporte, planos de 40% da popula����o andava descal��a), cinema, teatro, educa����o urbaniza����o, os servi��os de comunica����o etc. m��dia e superior, f��rias, viagens etc. Para satisfazer a essas necessidades, homem �� obrigado a pro- O conceito de luxo muda historicamente, �� medida que o de- duzir uma s��rie de coisas. Estas, quando se apresentam com carac- senvolvimento econ��mico e social dos povos atinge n��veis mais ter��sticas f��sicas, s��o denominadas bens. Quando n��o as t��m, s��o altos. Tamb��m o desenvolvimento tecnol��gico da produ����o (no- chamadas servi��os. Como exemplo de bens podemos citar algo- vos m��todos, novas m��quinas, novos materiais etc.) pode reduzir d��o, sapatos, as m��quinas, as estradas, as pontes, alimentos, os custos de produ����o, barateando alguns produtos e, assim, tor- as bebidas, fumo etc.; no segundo grupo encontram-se servi��os nando-os mais acess��veis �� popula����o. �� o caso dos Estados Uni- de sa��de, de educa����o, de seguros, de transporte, financeiros, imo- dos, por exemplo, onde, ao final da d��cada de 1950, havia em bili��rios, de divers��es, de distribui����o de ��gua, de g��s e de energia, m��dia um autom��vel para cada 3,2 habitantes; no Jap��o, a m��dia de saneamento, de justi��a, de defesa nacional etc. era de 1:500 enquanto no Brasil e no M��xico era de, respectiva- Os bens e servi��os podem ser classificados em: mente, 1:142,9 e 1:83,3. luxo pode ainda ser visto do ponto de vista coletivo de uma sociedade: no passado, a constru����o de pir��- a) livres: quando n��o implicam qualquer sacrif��cio ou esfor��o �� mides; atualmente, a constru����o de edif��cios ou monumentos sun- sociedade para sua obten����o: ar, ��gua,��� luz, calor solar, mar etc. tuosos, sacrificando recursos que poderiam ser canalizados para a b) econ��micos: t��m a caracter��stica fundamental de requererem, constru����o de casas populares, hospitais e escolas p��blicas, por para sua obten����o, certo esfor��o humano, apresentam-se com exemplo. car��ter de relativamente escassos, s��o objetos de proprie- Atualmente, gra��as ao crescimento da renda e do emprego (e, dade e de posse e seu valor se expressa mediante os pre��os.��� evidentemente, da publicidade) ocorrido entre as d��cadas de 1960 e 1990 e da expans��o do sistema de financiamento ao consumo, A escassez relativa de bens pode ser explicada por v��rias raz��es: aqueles n��veis sofreram importantes modifica����es. Hoje aquela rela����o ve��culos/habitantes nos Estados Unidos j�� �� de 1:1,4; no a quantidade e a qualifica����o (adestramento e conhecimento) Jap��o �� de 1:2 e no Brasil �� de 1:10. dos homens s��o limitadas; Ainda que 71% da popula����o trabalhadora ganhassem em m��dia at�� 5 sal��rios m��nimos (44,5% s�� ganhavam at�� 2!), 79,3% 6 dos domic��lios brasileiros tinham TV, embora s�� 71,1% tivessem No cap��tulo referente ao setor p��blico, as necessidades coletivas ser��o mais geladeira, e apenas 57,2%, filtro de ��gua... Decorridas quatro d��- bem explicadas, mostrando-se papel fundamental exercido pelo Estado cadas, Censo Demogr��fico de 2000 mostrava que a distribui����o para supri-las, por meio dos chamados investimentos de infra-estrutura. 7 da renda piorara: 43,8% da popula����o s�� recebia at�� 2 sal��rios Em regi��es onde a ��gua �� naturalmente escassa, ela pode vir a ser objeto de pre��o e controle particular. Por exemplo, no Peru, a agricultura se faz sobre- m��nimos e os que recebiam at�� 5 somavam 68,3%, mas, segundo o tudo na regi��o costeira, que �� des��rtica. Ali, problema da ��gua assumiu PNAD 2004, que tinham TV eram 90,3%, mais do que os que tais propor����es em termos de custo e distribui����o que governo peruano tinham geladeira (87,4%) e muito mais do que os que tinham fil- instituiu controle e a propriedade p��blica de todas as fontes de ��gua. 8 tro de ��gua (51,3%). Esta ��ltima afirma����o n��o deve fazer entender que certos bens e servi��os As necessidades coletivas s��o aquelas derivadas da vida em que n��o s��o (ou n��o devem ser) objetos de pre��os (educa����o e sa��de p��blica, por exemplo) n��o tenham valor, uma vez que para sua produ����o munidade, as quais s�� podem ser satisfeitas pelo esfor��o e pela foram utilizados recursos escassos.26 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 27 a quantidade de instrumentos auxiliares de produ����o (m��- e s��o chamados de empres��rios ou organizadores da produ����o. quinas, ferramentas etc.) �� limitada; Outros, a executam. os recursos naturais (solo, ��gua, clima etc.) s��o igualmen- Na sociedade pret��rita a produ����o tinha um objetivo direta- te limitados, n��o s�� pela pr��pria natureza, mas tamb��m, mente vinculado �� satisfa����o de uma necessidade, para consu- artificialmente, pelo regime de propriedade e de seu uso mo (alimentos, vestu��rio etc.), para a guerra ou ca��a (armas) ou privado; e para auxiliar homem na pr��pria produ����o (anz��is para a pesca, conhecimentos t��cnico e cient��fico tamb��m se consti- arado para a agricultura, ferramentas para a manufatura etc.). Na tuem em s��rio fator limitativo quando, por exemplo, sua dis- sociedade moderna e capitalista, ato de produzir est�� desvin- semina����o �� contida, entre outras, pelas seguintes causas: culado do de consumir. Os empres��rios produzem algo para ganhar i) tempo de translado e assimila����o; ii) pre��os e custos de (lucros), com o que podem consumir e investir (comprando e apli- sua obten����o; e iii) monop��lio de seu uso (patentes e ou- cando sobras). Os trabalhadores ganham seus sal��rios, fundamen- tras formas de direitos). talmente, para poder comprar aquilo que necessitam consumir. Na sociedade capitalista, portanto, o ato de produ����o pode Dissemos anteriormente que homens, para satisfazer suas ser entendido como a execu����o de atividades que tenham como fi- necessidades, s��o obrigados a produzir bens e servi��os. Vimos tam- nalidade 0 lucro e, indiretamente, a satisfa����o de necessidades, por b��m que atos de produzir e consumir est��o, na sociedade mo- meio da troca. derna, distanciados no tempo e no espa��o. Observamos tamb��m a No in��cio deste cap��tulo, frisamos que homens organizam exist��ncia de grande n��mero de produtores e distribuidores entre as atividades econ��micas tentando com isso dar-lhes certa fun- in��cio e destino da produ����o. Na sociedade pret��rita, o homem produziu para autoconsumo; quando surgiu uma incipiente divi- cionalidade; acrescentar��amos, agora, que eles tentam tamb��m s��o de tarefas ou um embrion��rio com��rcio ele produzia coisas e dar-lhes uma efici��ncia m��xima poss��vel, organizando e executan- permutava por outras de que necessitava, ou seja, ele trocava coisas. do a produ����o. Nas sociedades modernas a caracter��stica b��sica �� a separa����o Essa organiza����o da produ����o, ao manipular ou transformar espa��o-tempo entre o ato de produzir e o de consumir e isso im- mat��rias-primas de toda ordem, vale-se de tr��s elementos b��sicos, plica, no capitalismo, dois atos distintos: chamados, pela teoria convencional, de "Fatores" da Produ����o, e s��o: i) o trabalho, representado pelo esfor��o humano na organiza- como obter dinheiro (vendendo bens e servi��os, alugando ����o e na execu����o do processo da produ����o; ii) recursos natu- casas, emprestando dinheiro a juros, alugando a pr��pria for- rais; e iii) o capital, representado pelo conjunto de instrumentos ��a de trabalho etc.); e que t��m por finalidade diminuir o esfor��o e aumentar a efici��ncia como gastar e empregar o dinheiro (comprando bens e servi- do homem no processo produtivo. ��os e guardando ou aplicando o que sobrou, em um banco). Sendo a produ����o a intera����o dos elementos anteriormente assinalados comandados sempre por alguns homens poder��a- Ou seja, como a troca em esp��cie na economia atual n��o �� mos dizer que a disponibilidade desses elementos em um dado mais poss��vel, OS homens precisam obter dinheiro e com ele com- sistema econ��mico, associada a um determinado n��vel de conhe- prar o que necessitam: h��, portanto, um ato de venda e de compra. cimento t��cnico-cient��fico, revela o potencial produtivo do sistema, Para que efetivamente se realizem esses atos, �� necess��rio, antes, ou seja, sua capacidade te��rica de produ����o. Detenhamo-nos um organizar ato da produ����o. Alguns homens organizam a produ����o pouco na an��lise desse potencial.INTRODU����O �� ECONOMIA 29 28 WILSON CANO 1.2.1 elemento humano compreens��o de nossa problem��tica e tem sido objeto, nos ��ltimos 45 anos, de e importantes estudos. estudo da popula����o envolve aspectos muito importantes Outra an��lise importante �� a que estuda as condi����es de sa��de e para a an��lise de um sistema econ��mico. mais elementar de de educa����o de um povo, pois s��o elas a capacidade f��sica e inte- todos, talvez, �� estudo da densidade populacional de um pa��s, lectual humana que constituem a for��a de trabalho de uma na- explicitada pela rela����o m��dia "n��mero de habitantes por quil��- ����o, capacitando, portanto, o exerc��cio do trabalho. A an��lise de metro quadrado". Ela explicita a ocupa����o territorial de um pa��s alguns indicadores nesse tipo de abordagem nos conduz a um tema pelo seu contingente humano. Entretanto, tal coeficiente deve ser muito maior que �� o da problem��tica do subdesenvolvimento e do analisado com cuidado, pois reflete t��o-somente uma "m��dia es- desenvolvimento econ��mico. tat��stica", encobrindo peculiaridades de um dado territ��rio. Por Com efeito, a compara����o desses indicadores evidencia algu- exemplo, a densidade m��dia para Brasil, em 1960, era de 8,2 hab/ mas das principais diferen��as entre os pa��ses "ricos e pobres". Por Observadas, no entanto, nossas dimens��es continentais e par- exemplo, por volta de 1960, enquanto homem em um pa��s de- ticularidades regionais ter��amos: 33,0 para Sudeste, 20,4 para o senvolvido atingia uma expectativa m��dia de vida em torno de Sul, 14,2 para o Nordeste, e para o Centro-Oeste e Norte, respec- setenta anos, essa expectativa era violentamente reduzida para tivamente, 1,8 e 0,7. No caso do Chile, a m��dia nacional era de quarenta anos nas economias mais subdesenvolvidas. Da mesma 2,7 mas, se elimin��ssemos desse c��mputo suas regi��es mais frias e forma, em cada mil crian��as nascidas vivas, 25 morriam antes de praticamente inabit��veis do sul, aquele indicador passaria a 28,0. completar um ano naqueles pa��ses, enquanto tal cifra se situava em explosivo crescimento demogr��fico por que passou Brasil cerca de 180 para ��ltimos. H�� mesmo uma diferencia����o bem e o processo de integra����o do mercado nacional alteraram em marcada em tipos de morbidade: nos primeiros pa��ses, as doen��as muito aquelas cifras, as quais, conforme Censo Demogr��fico de t��picas s��o decorr��ncia do sistema nervoso ou do aparelho circu- 2000, passaram a ser: Brasil (19,9), Norte (3,3), Nordeste (30,7), lat��rio, nos segundos, s��o t��picas: tuberculose, gastrite, sarampo, Centro-Oeste (7,2), Sudeste (78,3) e Sul (43,6). Como a presen- disenteria e outras. Enquanto o consumo di��rio de calorias situa- ��a humana em uma ��rea geogr��fica significa, em primeiro plano, a va-se em torno de 3.200 nos primeiros, nos segundos n��veis execu����o de alguma atividade produtora, esse coeficiente de ocu- eram de aproximadamente 2 mil calorias. pa����o territorial deve ser analisado com cautela. A melhoria do n��vel de renda, progresso cient��fico e, princi- Como conseq����ncia do exposto, uma segunda abordagem pas- palmente, o saneamento b��sico (��gua e esgoto) s��o a����es e fatos sa a ser requerida: a da distribui����o espacial do estoque humano se- que melhoram a sa��de e reduzem as taxas de mortalidade infantil. gundo uma "divis��o" regional do territ��rio nacional, em ��reas que Contudo, no que se refere �� educa����o, s��o necess��rias a����es deci- espelhem uma diferencia����o econ��mica, geogr��fica ou cultural. sivas de pol��ticas governamentais para ampliar o acesso e melho- Assim, pa��ses de pequena dimens��o territorial quase sempre t��m rar a qualidade. Na Am��rica Latina, quadro �� muito grave, em sua ��rea distribu��da entre norte e regi��o sul" ou "interior e face da perversa distribui����o de renda, e tem piorado nas ��ltimas litoral". Pa��ses com grandes dimens��es e diversidade de clima, solo d��cadas. Quadro 1.2 mostra isso claramente: e, eventualmente, cultura carecem de estratifica����o regional mais cuidadosa que leve em conta seus aspectos pol��ticos, sociais, eco- i. enquanto Cuba tem renda m��dia 10 a 15 vezes menor do n��micos, geogr��ficos etc. Dada nossa dimens��o territorial e diver- que It��lia e Fran��a, apresenta indicadores pr��ximos aos sidades regionais, a an��lise regional do Brasil ganhou melhor destes pa��ses;30 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 31 ii. Costa Rica, que tem renda pouco maior do que a do Bra- ou menos de sua popula����o, ao passo que nos demais pa��ses tal sil, tem indicadores muito melhores que brasileiros. No cifra ascendia a cerca de 50% ou mais e, no Brasil, era de 55%. Brasil, as diferen��as regionais mostram-se principalmente Hoje, para os desenvolvidos, a cifra varia entre 5 e 10%, mas ain- nesses indicadores: no Nordeste, a mortalidade infantil �� da se encontra muito alta e diversa para os subdesenvolvidos. 50% maior do que a do pa��s, e a taxa de analfabetismo, Brasil teve explosivo crescimento urbano, com a industrializa����o quase dobro. As baixas taxas argentinas decorrem muito e a moderniza����o rural, apresentando em 2000 taxa de urbaniza- mais de seu passado, quando havia um n��vel de renda re- ����o de 81,2%, que varia de 90% no Sudeste a cerca de 69% no lativamente alto, e de suas pol��ticas p��blicas; Norte e no Nordeste. iii. j�� a ��ndia e a maior parte dos pa��ses africanos, embora te- Examinemos agora a estrutura sexo-et��ria da popula����o, uma vez nham diminu��do seus perversos indicadores, ainda osten- que a distin����o entre homens e mulheres, bem como entre jovens, tam taxas inaceit��veis. adultos e idosos, tem grande import��ncia no potencial produtivo de uma na����o. A distin����o relativa ao sexo se faz mais necess��ria nas Quadro 1.2 Taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo(a) economias subdesenvolvidas, gra��as �� qual certos "tabus", costumes e h��bitos impediam que o elemento feminino participasse de forma Mortalidade Y/H(b) Analfabetismo mais marcante no processo produtivo. Na Am��rica Latina e no Bra- 1965 1990 2004 2004 1970 1990 2004 sil, em 1960, apenas cerca de 25% das mulheres potencialmente capacitadas a trabalhar exerciam atividades remuneradas, enquan- ��ndia 150 92 62 620 66 52 39 to restantes 75% dedicavam-se a atividades n��o-remuneradas Gana 120 85 68 380 70 45 42 (sobretudo como "donas de casa") ou eram inativas. Costa Rica 72 16 11 4200 14 7 5 Com a urbaniza����o, a industrializa����o e a necessidade de a mu- Cuba 50 12 6 2280 24 6 lher complementar a renda familiar, aumentou consideravelmen- Col��mbia 86 37 18 2020 27 d 13 7 te a participa����o feminina na for��a de trabalho. No Brasil de 2000, Brasil 104 57 32 3000 34 19 11 44,1% das mulheres em condi����es de trabalhar o fazem, enquanto Argentina 55 16 16 3000 7 5 3 a cifra �� de 69,6% para os homens, sendo de 56,6% a rela����o Po- Portugal 65 12 4 14220 29 15 8 e pula����o Economicamente Ativa (PEA)/Popula����o de dez anos It��lia 36 9 4 26300 6 3 2 e mais, de ambos sexos. Quanto �� distribui����o et��ria, pa��ses subdesenvolvidos carac- Fonte: CEPAL, BIRD. (a) Popula����o de 15 anos e mais; (b) Renda per capita, terizam-se por uma popula����o "jovem", ao passo que as economias US$ correntes; (c) 1958-59; (d) 1960; (e) 1998. maduras apresentam maior contingente "adulto" em sua popula- ����o, o que se deve �� menor esperan��a de vida e ��s altas taxas de contingente humano de um pa��s pode tamb��m ser exami- crescimento demogr��fico. Assim, enquanto na Am��rica Latina o nado de acordo com sua localiza����o rural ou urbana. Essa distribui- contingente com menos de vinte anos de idade em 1960 abarcava ����o indica uma certa nuan��a do desenvolvimento, uma vez que pouco mais de 50% do total e o contingente com mais de 65 anos pa��ses desenvolvidos, por j�� terem atingido alto grau de industria- totalizava n��o mais do que 2%, nos pa��ses desenvolvidos a popu- liza����o e urbaniza����o, apresentam menores contingentes humanos la����o com mais de vinte anos n��o superava a marca dos 30% e a no "setor rural": essas cifras, em 1960, estavam em torno de 20% com mais de 65 anos atingia pouco mais de 10%.32 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 33 Que significa essa diferen��a, em termos de potencial produti- reveste-se de fundamental import��ncia. estoque humano pode vo? Significa que desenvolvidos s��o dotados de maior estoque alterar-se de maneira quantitativa por v��rias raz��es: relativo de pessoas em idade de produzir, ao passo que nos pa��ses subdesenvolvidos o volume de popula����o jovem se constitui em a) mortalidade; um grande "peso" para o sistema, uma vez que, em sua maioria, s��o b) natalidade; e basicamente pessoas mais consumidoras do que produtoras. Entre- c) migra����o. tanto, nessa faixa et��ria figuram elementos que est��o em prepa- ro para uma futura participa����o na produ����o, ou seja, aqueles que A taxa de mortalidade (rela����o entre o n��mero de ��bitos e o est��o adquirindo educa����o e habilita����o profissional. estoque da popula����o) vem declinando na maioria dos pa��ses, Contudo, ��ltimos 45 anos tamb��m alteraram significativa- como conseq����ncia do desenvolvimento econ��mico e, sobretudo, mente esse quadro. Primeiro, porque o progresso cient��fico e a pelas melhores condi����es de servi��os de higiene e sa��de. No caso mudan��a nos costumes, com o aumento da urbaniza����o, amplia- brasileiro, ela era de 3,02% em fins do s��culo XIX, 2,64% entre ram o uso de anticoncepcionais e diminu��ram a taxa de crescimento 1900-1920, 2,01% entre 1940-1950 e de 1,15% na d��cada de 1950. demogr��fico no mundo subdesenvolvido. Segundo, pelo aumento No entanto, a taxa de natalidade apresentou-se com o seguinte da expectativa de vida. Assim, no Brasil de 2000 OS jovens com desenvolvimento: 4,65%, 4,50%, 4,35% e 4,15% para mesmos menos de vinte anos representavam 40% da popula����o (eram 53% per��odos. A taxa de natalidade, ao contr��rio da de mortalidade, em 1960) e as pessoas com mais de 65 anos j�� eram 5,8% (eram n��o apresenta um comportamento igual em todos pa��ses; entre- apenas 2,7% em 1960). Entretanto, essas porcentagens sobre a re- tanto, as maiores taxas s��o observadas entre subdesenvolvidos, du����o relativa dos jovens ocultam um aumento de 31 milh��es por v��rias raz��es (religiosas, nupcialidade, fecundidade, desenvol- deles, entre 1960 (eram 37,1 milh��es) e 2000 (eram 68,2 milh��es), vimento socioecon��mico, urbaniza����o etc.). e aumento absoluto dos idosos mostra que eles passaram de No per��odo 1970-2000 a acentuada queda da mortalidade 1,9 milh��o em 1960 para 9,9 milh��es em 2000. infantil repercutiu fortemente na queda da taxa geral de mortalida- Se isso amplia o potencial produtivo, ao mesmo tempo nos traz de, enquanto a maior urbaniza����o e o maior uso de anticoncep- novos problemas: ao longo do per��odo p��s-1980, educamos pouco cionais (inclusive de esteriliza����o) fizeram que a taxa de natalidade e mal nossos jovens e n��o nos preparamos para dar aos idosos a ca��sse abruptamente. No in��cio da d��cada de 2000 elas passaram, aten����o m��dica e social necess��ria. Assim, o fantasma do desem- respectivamente, a 0,67% e a 1,99%. Dessa forma, passamos da prego, j�� presente em nosso pa��s, com as pol��ticas neoliberais, nos elevada taxa de crescimento da popula����o de 3,0% na d��cada de causa mais preocupa����o do que euforia com aquelas mudan��as. Os 1950 para 1,9% na de 1980, e as estimativas para a d��cada atual dados sobre desemprego na Regi��o Metropolitana de S��o Paulo situam-na em torno de 1,3%. mostram claramente isso: em 1985, enquanto a taxa m��dia era de As migra����es s��o deslocamentos humanos de um pa��s para 11,4% da PEA, a dos jovens de 15-17 anos era de 29,0% e a dos outro (ou de uma regi��o para outra) e s��o classificadas em dois de 18-24 anos era 15,1%; j�� em 2003, um dos piores anos do de- sentidos: emigra����es, que significam a sa��da de pessoas, e imigra����es, semprego recente, a taxa m��dia subiu para 19,9%, mas a da faixa que significam a entrada de pessoas. A diferen��a entre mortalida- et��ria de 15-17 foi de 51,8% e a de 18-24 subiu para 30,1%, mos- de mais emigra����es, de um lado, e natalidade mais imigra����es, de trando que essas foram as faixas mais afetadas. outro, nos fornece a varia����o l��quida do estoque populacional, At�� aqui, vimos apenas um "instant��neo fotogr��fico" da estru- expressa pela taxa geom��trica de crescimento da popula����o. No Bra- tura populacional; entretanto, estudo da din��mica da popula����o sil, o significado atual do movimento l��quido migrat��rio interna-34 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 35 cional tem sido bem menor do que no passado, ficando portanto o de cada tipo de sociedade ou aos diferentes tipos de atividades; aumento populacional nacional diretamente dependente da dife- historicamente essa defini����o muda em face das exig��ncias impos- ren��a entre natalidade e mortalidade.��� tas pelas mudan��as t��cnicas e sociais. Examinadas essas caracter��sticas da popula����o, podemos ago- ra analisar potencial produtivo humano de uma na����o. Assim, 1.2.2 Os recursos naturais da popula����o total, consideramos como popula����o in��bil economi- camente as pessoas compreendidas na faixa et��ria de: i) entre �� a natureza, em primeiro plano, a fonte de todos bens. �� dela e 14 anos; ii) maiores de 60 anos; e iii) incapazes f��sica ou que o homem obt��m todos os bens naturais animais, vegetais e mentalmente com idade entre 14 e 60 anos (no Brasil, Censo minerais -, e dela prov��m as fontes prim��rias de energia: a luz e o Demogr��fico subtrai, exclusivamente, os menores de dez anos). calor solar, o vento, as quedas d'��gua, as mar��s etc. Entre princi- saldo denomina-se popula����o economicamente h��bil. Desta ��ltima, pais recursos da natureza utilizados pelo homem, destacamos: deduzimos ainda: i) as donas de casa (n��o remuneradas); ii) es- tudantes; iii) todas as pessoas que, embora exercendo atividades solo e subsolo, que fornecem vegetais (alimentos e mat��- econ��micas, n��o recebam qualquer remunera����o; e iv) todas as rias-primas) e minerais (carv��o, ferro, petr��leo etc.); pessoas que n��o desejam trabalhar, o que nos conduz a um agrega- os recursos hidrol��gicos, que fornecem ��gua e energia (que- do de pessoas denominado popula����o economicamente ativa (PEA), das d'��gua, barragens, mar��s), alimentos, mat��rias-primas e ou seja, volume proporcional efetivamente voltado para o mer- vias de transporte; e cado de trabalho. Como sempre h�� certa quantidade de pessoas desempregadas, mas em busca de emprego, estas devem ser subtra��- clima, que propicia e condiciona a cultura de determina- das para se quantificar a ocupa����o efetiva. das esp��cies vegetais e animais. Por ��ltimo, cabe distinguir aspecto de qualifica����o do traba- lho, qual, muito embora compreenda enorme grau de diferentes Da mesma forma que, ao analisarmos o elemento trabalho, fize- mos a distin����o entre h��beis e in��beis, ao definirmos recursos natu- aptid��es e capacita����es, ser�� aqui tratado da seguinte forma: i) tra- rais como "fator" de produ����o, devemos ter em conta que nem todo balho qualificado e ii) trabalho n��o qualificado. Em uma compara����o recurso natural �� pass��vel de explora����o econ��mica pelo homem. simplificada entre ambos dir��amos que um trabalhador �� n��o qua- lificado quando as atividades por ele exercidas n��o exigem um Contudo, a dota����o e emprego econ��mico de recursos natu- rais devem ser vistos em termos din��micos, e n��o est��ticos. Certos aprendizado t��cnico regular e demorado. Essa tentativa de defini- recursos podem passar a ter uso econ��mico, substituindo outros ����o �� bastante arbitr��ria e deve se ajustar ��s condi����es espec��ficas (que entram em desuso), por v��rias circunst��ncias. pr��prio avan��o do conhecimento cient��fico pode alterar para mais ou para 9 menos a ado����o de certos recursos. Censo de 2000 contava cerca de 600 mil imigrantes estrangeiros no Brasil, enquanto informa����es n��o oficiais davam conta de que, com au- Vejamos alguns exemplos: mento do desemprego e baixo crescimento da economia desde 1980, em 2006 viviam no exterior cerca de 3 milh��es de brasileiros (800 mil nos baixa densidade demogr��fica que impede plena ocupa����o Estados Unidos, 442 mil no Paraguai e 225 mil no Jap��o), dos quais 2,4 territorial; milh��es a propriedade ociosa de terras agricultur��veis; em 20/7/2006; Comiss��o Parlamentar Mista de Inqu��rito, a inacessibilidade a determinadas fontes de recursos, causa- C��mara Federal 7/2006). da por dificuldades de transportes, relevo etc.;36 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 37 a descoberta de um produto novo, geralmente sint��tico, Para uma empresa, o conceito abarca seus edif��cios, m��quinas, tornando menos racional uso de um determinado recurso instala����es, estoque de bens e de valores, recursos empregados (p. ex., a descoberta de nutrientes qu��micos, "substituindo" no financiamento corrente da produ����o (capital de giro) e at�� guano e outros adubos naturais; mesmo uma coisa t��o intang��vel quanto sua marca comercial para uma sociedade eminentemente agr��ria, a exist��ncia de (Petrobras, Ford, Toyota, Xerox etc.).����� quedas d'��gua pode ter menor significa����o como fonte Contudo, para conjunto da economia nacional (macro- energ��tica moderna; economicamente), nem toda propriedade privada ou p��blica pode avan��o que j�� se pode sentir na biotecnologia que lenta- ser considerada capital. Para o conjunto da economia, capital tem mente promover�� importantes diminui����es do uso da terra sentido real, dos instrumentos auxiliares da produ����o e dos bens e da ��gua (al��m de produtos qu��micos) nos cultivos agr��co- que ampliam a capacidade produtiva da na����o: ferramentas, m��- las, como os conhecemos hoje; quinas, instala����es, edif��cios destinados �� produ����o (terra produ- a descoberta e/ou dimensionamento de jazidas minerais tiva, edif��cios da f��brica e dos escrit��rios), novas resid��ncias, (o mangan��s e a cassiterita na Amaz��nia, cobre, sal- portos, aeroportos, estradas, comunica����es, escolas, hospitais etc. gema e o petr��leo no Nordeste, ferro e outros minerais em Embora as novas constru����es sejam contabilizadas nos inves- Caraj��s etc.); timentos anuais do pa��s e, assim, passem a fazer parte do capital a explora����o carbon��fera no Sul, possibilitada pela implan- nacional, o problema da constru����o de novas resid��ncias pelos ta����o do parque sider��rgico nacional; particulares �� metodologicamente complexo, uma vez que nos es- a descoberta de novos processos de industrializa����o da ma- quemas te��ricos da Contabilidade Social as fam��lias s��o apenas deira (chapas de diversos tipos), possibilitando a explora����o "consumidoras", e, portanto, seus ativos reais n��o s��o geradores de de numerosas esp��cies de madeira preexistentes na Amaz��- bens ou servi��os, atividade "exclusiva" das unidades produtoras. nia, no Nordeste e no Sul, bem como induzindo reflores- autom��vel do dono de uma empresa �� um bem de consu- tamento; e mo, mas do taxista ou de uma empresa locadora de autos �� um o esfor��o de pesquisa efetuado pela Petrobras, com tecnolo- bem de capital. No ��mbito da propriedade p��blica, conceito gia para prospec����o em ��guas profundas, que provocou tamb��m incorpora meios de transporte, de comunica����es, gera- grande aumento na produ����o petrol��fera nacional. dores de energia e outros elementos da chamada infra-estrutura, �� qual nos dedicaremos em outros cap��tulos. 1.2.3 capital Este conceito real de capital est�� aqui sendo apresentado des- pojado por enquanto de seu sentido social, dado que a apro- A palavra capital (assim como a palavra investimento) permite pria����o privada de capital (f��sico e financeiro), se este for posto em v��rias acep����es. Para o cidad��o comum, seu dep��sito em caderne- produ����o, enseja uma rela����o social de domina����o, pois �� por meio ta de poupan��a ou outras formas de "economias" s��o entendidos dela que seu propriet��rio contratar�� trabalho para submet��-lo ao como se fossem seu "capital", assim como a compra de sua casa processo produtivo. Por outro lado, cabe aqui pelo menos advertir (preexistente) pr��pria, de um terreno, de ouro, de outras moedas ou valores (t��tulos, a����es etc.) s��o quase sempre por ele chamados de 10 "investimentos". Note-se que, seja como dinheiro, dep��sito banc��- Estoque e Fluxo. �� importante, neste momento, que aluno fixe esses con- rio, metal, im��vel ou t��tulo, ou seja, na forma de "papel" ou em uma ceitos: saldo que t��nhamos na conta banc��ria em 31/12/06 (p. ex.: R$ 1.300) constitui um Estoque, isto ��, ac��mulo de Fluxos peri��dicos de forma real, esses ativos continuam sendo chamados de "capital". dep��sitos e saques efetuados durante certo per��odo.38 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 39 que, na economia primitiva e at�� advento do capitalismo, o ho- ter��stica de utiliza����o final, destinando-se portanto a sofrer mem possu��a (individual ou comunitariamente) seus pr��prios ins- certas altera����es em processos produtivos futuros, para en- trumentos auxiliares de produ����o, isto ��, seu "capital", e vai sendo t��o se transformarem em bens finais.���� algod��o destina- deles despojado, �� medida que esse homem vai sendo incorporado do �� produ����o de tecidos; trigo e a farinha destinados �� pelo capitalismo. produ����o de p��es; o min��rio de ferro, o carv��o e a��o, des- Na sociedade contempor��nea, apenas alguns trabalhadores tinados �� produ����o de utens��lios dom��sticos, m��quinas, au- aut��nomos ("por conta pr��pria") ainda possuem, no todo ou em tom��veis ou armas; servi��os de propaganda prestados a um parte, como pedreiros, marceneiros, artes��os, m��dicos em seus fabricante de um bem qualquer, por exemplo. consult��rios particulares etc. Assim, na sociedade capitalista, a bens de capital, que s��o produtos finais como bens de propriedade daqueles instrumentos e dos demais meios de produ- consumo mas que t��m uma caracter��stica peculiar: seu ����o passou ao capitalista. (Essas complexas quest��es, contudo, se- destino n��o �� da satisfa����o imediata das necessidades, mas r��o objeto de outras disciplinas constantes na gradua����o de sim a produ����o futura de outros bens. S��o, portanto, os bens Economia). destinados �� produ����o de outros bens. Os bens de capital Na sociedade primitiva, o homem desde cedo preocupou-se representam, pois, a acumula����o de trabalho humano passado, em criar certos instrumentos que lhe permitissem subsistir no meio "o trabalho morto", segundo Marx. ambiente em que vivia: basicamente as armas para a ca��a e a prote- ����o; portanto, essa fase se constitu��a praticamente em uma simples Definida a no����o de capital econ��mico, vejamos agora de que "coleta" na natureza. Entretanto, para produzir esses instrumentos, se constitui o capital acumulado em uma economia, ou seja, o es- esse homem era obrigado a dedicar parte de seu tempo dispon��vel. toque de capital de uma na����o. Complementaremos aqui a no����o Com o desenvolvimento da sociedade, homem vai se aperceben- de bens de capital, com duas caracter��sticas adicionais: a de serem do que quanto mais instrumentos auxiliares de produ����o tiver mais bens materiais e, portanto, pass��veis de renova����o. Este �� um con- f��cil ser�� produzir. ceito que se aproxima do termo Riqueza Tang��vel Renov��vel, utili- Na sociedade moderna o homem continua a usar parte de seu zado em Contabilidade Social. Os principais itens de que se trabalho no aprimoramento dos instrumentos preexistentes bem comp��e o estoque de capital s��o: como na descoberta de novos. A diferen��a �� a de que, sendo hoje a atividade de produ����o especializada e dividida em tarefas espe- c��ficas, uma parte da popula����o ativa se dedica �� produ����o de bens m��quinas, ve��culos e equipamentos em geral, adotados na auxiliares �� produ����o e outra �� produ����o de bens e servi��os desti- atividade produtiva; nados �� satisfa����o imediata da comunidade. instala����es industriais, agr��colas, comerciais etc. (a terra, Assim, agora podemos destacar, na produ����o, tr��s tipos distin- como vimos, �� um recurso natural e n��o um bem de capital); tos de bens e servi��os, segundo seu destino ou finalidade: estradas de rodagem, ferrovias, aeroportos, portos, canais etc.; bens e servi��os de consumo, com o destino de satisfazer, dire- tamente, necessidades do homem, como alimentos, vestu��- 11 Contudo, certos bens podem ter dependendo de sua utiliza����o imediata rio, medicamentos, bebidas, fumo, educa����o, turismo etc. duas ou tr��s das caracter��sticas apresentadas: a laranja, que pode ser consu- bens e servi��os intermedi��rios, ou tamb��m denominados ma- mida in natura ou como suco industrializado; o boi, que pode ser mat��ria- t��rias-primas e insumos, que ainda n��o atingiram uma carac- prima para a ind��stria da carne ou bem de capital como meio de transporte.40 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 41 edif��cios p��blicos, moradias, escolas, hospitais, diques, bar- cebe nome de Aparelho Produtivo, cuja estrutura e funcionamen- universo formado pelas unidades produtoras do sistema re- ragens etc. to veremos em seguida. Cumpre agora dizer que o desgaste sofrido pelo capital duran- te o tempo do processo produtivo implica um sacrif��cio �� coletivi- dade, pois diminui aquele estoque; portanto, tornam-se necess��rios 1.3 aparelho produtivo sua reposi����o e a atribui����o de um custo que represente esse des- gaste: s��o os chamados custos de deprecia����o do capital. Sendo o aparelho produtivo o conjunto de todas as unidades Visto potencial produtivo de uma comunidade, ou seja, sua produtivas do sistema, e dada a grande diversidade destas, tais ativi- disponibilidade de fatores, analisemos agora simplificadamente dades podem ser agregadas e classificadas, segundo o grau de proces- de que forma esses fatores se integram no chamado processo samento e elabora����o de seus produtos, em tr��s setores produtivos: produtivo. Dissemos antes que homens organizam e executam a pro- i) setor prim��rio: engloba as atividades que est��o em contato du����o. Efetivamente, alguns homens (ou grupos de homens) orga- direto com a natureza e cuja produ����o se caracteriza como nizam-se na forma de entidades de direito privado ou p��blico, de bens prim��rios. Dele fazem parte: agricultura, pesca, sil- contratando e utilizando fatores de produ����o e bens intermedi��rios, vicultura, pecu��ria e extra����o vegetal e animal. com o objetivo de produzir bens ou servi��os, mediante uma t��cnica ii) setor secund��rio: compreende a modifica����o ou a transfor- de produ����o preestabelecida (processo de produ����o). Esses homens ma����o de bens, por meio de processos f��sicos ou qu��micos. ser��o doravante denominados organizadores da produ����o. Dele fazem parte: ind��stria extrativa mineral, manufatu- Essa atividade de produ����o �� exercida pelas chamadas unida- reira ou de transforma����o, da constru����o civil e de gera����o des produtoras, que se diferenciam no sistema pelo tamanho (gran- de energia el��trica, produ����o de g��s e tratamento de ��gua des, pequenas e m��dias), pela forma jur��dica (p��blicas e privadas, e esgoto (os "servi��os industriais de utilidade p��blica"). cooperativas, sociedades an��nimas etc.), pela atividade (escola, te- iii) setor terci��rio: tamb��m chamado setor de servi��os, n��o com- celagem, cinema, barbearia etc.), pelo setor de produ����o (agricultu- preende a produ����o f��sica propriamente dita, mas sim a ra, ind��stria etc.) e por outras raz��es que aqui n��o consideraremos. presta����o de servi��os: atividades comerciais, transportes, J�� vimos que na sociedade moderna produ����o e consumo fi- seguros, servi��os financeiros, previd��ncia social, educa����o, cam bastante distanciados no tempo e no espa��o. Vimos tamb��m sa��de, servi��os governamentais etc. que a atividade de produ����o �� hoje distribu��da em v��rias tarefas espec��ficas. Esse fen��meno da especifica����o e da especializa����o da A estrutura produtiva de um pa��s, vista na ��tica acima, presta- atividade produtiva recebe, em Economia, o nome de divis��o so- se �� an��lise do grau de desenvolvimento econ��mico atingido por cial do trabalho. A atividade de produ����o de roupa, por exemplo, esse pa��s, quando confrontada com a de outros, de maior n��vel de que na sociedade antiga era completamente feita por um s�� ho- renda. Assim, essa an��lise se faz tanto em um dado momento mem, atualmente requer a especifica����o de cerca de vinte ativi- como, principalmente, em uma trajet��ria de longo prazo, quando dades distintas, apenas na etapa de fabrica����o do fio e do tecido. ent��o se estudam as mais relevantes modifica����es estruturais ocor- Essa especializa����o e divis��o de tarefas possibilitam ao homem a ridas na economia. Essa estrutura, todavia, �� evidenciada por meio produ����o em larga escala, o aumento de sua efici��ncia produtora, da participa����o setorial na gera����o do produto, no emprego e nos a evolu����o da t��cnica e barateamento dos custos de produ����o. n��veis de produtividade relativa.42 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 43 �� medida que um pa��s aumenta seu n��vel de renda, passa a de capital, apreci��vel contingente de trabalho qualificado, pro- ocorrer diminui����o not��vel do peso relativo do setor prim��rio na porcionalmente, grande quantidade de trabalho n��o qualificado gera����o da renda e do emprego, uma vez que a industrializa����o e pequena quantidade de recursos naturais (na ind��stria de trans- aumenta, fazendo que as produtividades setoriais se alterem, pro- forma����o). Como �� este setor em que as inova����es t��cnicas pe- vocando ainda aumento e altera����es qualitativas importantes no netram mais rapidamente, �� ele tamb��m respons��vel por alto setor terci��rio. n��vel de produtividade, relativa aos demais setores. Pelo fato de Com as inova����es t��cnicas que se processam na economia, que as inova����es t��cnicas se fazem presentes de forma bastante e com o aumento de oportunidades de emprego no setor indus- acentuada, implicando maior absor����o de capital do que m��o-de- trial a longo prazo -, passa a ocorrer chamado ��xodo rural, obra, o secund��rio nos pa��ses subdesenvolvidos n��o se tem mos- ou seja, translado de pessoas da agricultura para setor urbano trado capaz de aumentar seu n��vel de emprego de acordo com o da economia. aumento relativo das popula����es urbanas destes pa��ses. Este, ali��s, Vejamos, de in��cio, como se estruturava aparelho produtivo constitui um dos maiores problemas com que se defronta mun- at�� a d��cada de 1950, quando a industrializa����o j�� amadurecera em do subdesenvolvido. muitos pa��ses (no quadro, Estados Unidos, Jap��o e It��lia), enquan- O terci��rio no mundo subdesenvolvido n��o se presta a uma to em alguns ainda se encontrava em processo, implantando, re- an��lise comparativa com os pa��ses de maior n��vel de renda. Isso se construindo ou atualizando a Segunda Revolu����o Industrial, ou deve ao fato de, no mundo desenvolvido, as atividades terci��rias havia dado passos ainda incipientes, como era caso dos pa��ses serem condizentes com a produtividade m��dia da economia. Vale marcadamente "prim��rio-exportadores". Os dados do Quadro 1.3 dizer: acompanharam de perto a evolu����o t��cnica dos demais com- s��o ilustrativos desse fen��meno. partimentos. Nos pa��ses subdesenvolvidos este setor se comp��e de Observa-se que, quanto maior o grau de desenvolvimento de atividades modernizadas, como as de comunica����es, computa����o uma na����o, mais as atividades prim��rias j�� haviam liberado apre- eletr��nica, supermercados e outras, bem como de atividades de ci��vel contingente humano para as demais, perdendo import��ncia baixa efici��ncia e produtividade. relativa na gera����o do produto. Era esta, ali��s, uma das principais Na realidade, o volume de m��o-de-obra aqui empregado cons- raz��es pelas quais os pa��ses desenvolvidos importavam mat��rias- titui-se n��o s�� de homens com produtividades satisfat��rias, mas primas e alimentos dos subdesenvolvidos, exportando-lhes basica- tamb��m de homens com ocupa����o que se pode considerar "margi- mente produtos manufaturados. nal", ou seja, atividades nas quais a contribui����o produtiva do No tocante �� absor����o dos tr��s "fatores" de produ����o, cada um homem �� muito baixa, atingindo ��s vezes grau nulo de produtivi- dos setores apresentava, naquela ��poca, uma composi����o bastante dade, como certos tipos de vendedores ambulantes, trabalhadores diferenciada dos demais. prim��rio emprega fundamentalmente dom��sticos etc. Sua composi����o estrutural caracteriza-se por gran- recursos naturais e trabalho n��o qualificado, utilizando-se de pou- de emprego de capital, razo��vel emprego de trabalho qualificado, capital e trabalho qualificado. pouco emprego de capital, poucos recursos naturais e uma grande quantidade de trabalho n��o associado �� baix��ssima qualifica����o de sua m��o-de-obra, implica- qualificado. va, em m��dia, um uso extensivo dos recursos naturais terra, basi- Contudo, ap��s o auge da industrializa����o da d��cada de 1970, a camente -, obtendo-se por conseguinte menor efici��ncia por latente crise internacional �� explicitada (tanto com manifesta����es homem ocupado e por unidade de recurso natural. reais quanto financeiras) e se inicia um movimento de reestru- secund��rio, constituindo-se no "compartimento moderno" tura����o produtiva (a Terceira Revolu����o Industrial), que alteraria do aparelho produtivo, caracteriza-se ainda por emprego maci��o as propor����es "fatoriais" de cada setor. Os dados para in��cio daINTRODU����O �� ECONOMIA 45 44 WILSON CANO III 76 66 63 65 57 37 d��cada de 1990 j�� apontavam n��o s�� esse fen��meno, como tam- b��m a consider��vel expans��o do peso produtivo do terci��rio, gra- ��as �� maior urbaniza����o e eleva����o dos n��veis de renda pessoal que 2002 II 22 29 32 20 25 21 se manifestaram ap��s anos 1960. Contudo, isso �� mais marcante 2 5 5 para pa��ses desenvolvidos. 15 18 42 Com maior e crescente introje����o t��cnica, o setor prim��rio li- capital. A ind��stria passou e ainda passa por radicais transforma- EMPREGO (%) I berou ainda mais trabalho n��o qualificado e passou a usar mais III 68 60 59 54 50 33 1991 II 29 34 31 23 23 20 ����es: automatiza����o e informatiza����o crescentes, eliminando mui- to trabalho n��o qualificado, reduzindo fortemente emprego total 3 6 10 23 27 47 e aumentando de modo acentuado suas necessidades de capital. I Com a abertura, as pol��ticas neoliberais implantadas a partir III 58 41 30 35 27 26 de 1990 afetaram sobremodo nosso parque industrial, aumentan- do as importa����es de bens finais e conte��do importado de bens 1960 II 34 29 37 13 19 17 nacionais. Ainda, causaram destrui����o de elos de v��rias cadeias produtivas e encerramento de muitas empresas, destrui����o de mui- 8 I 30 33 52 54 57 tos postos de trabalho e de algumas atividades produtivas. setor de servi��os tamb��m sofreu esse impacto tecnol��gico, III 77 68 70 64 69 53 poupando trabalho menos qualificado nos setores tecnicamente mais avan��ados, como o de finan��as e telecomunica����es. Entre- 2002 II 22 31 28 28 27 23 tanto, a precariza����o das rela����es de trabalho e sua informaliza����o 1 1 3 8 4 24 crescente permitiram que se expandisse o uso de trabalho n��o I qualificado, em segmentos como com��rcio e "servi��os pessoais", gra��as �� expans��o urbana e ao baixo crescimento da renda. Em que Quadro 1.3 Participa����o setorial no PIB e no emprego III 65 55 63 51 61 49 pese isso, esse setor n��o foi capaz, como no passado, de compensar PIB (%) 1991 II 33 42 33 39 30 25 a liquida����o de postos de trabalho no prim��rio e no secund��rio, mesmo nos pa��ses desenvolvidos. Dessa forma, diminuiu a forma- 2 3 4 10 9 26 I liza����o dos contratos de trabalho e aumentou sua informalidade. crescimento maior do emprego, a partir de 1990, deu-se, fundamen- III 57 44 46 48 52 40 talmente, nos servi��os dom��sticos e no com��rcio informal. Os dados do Quadro 1.3 merecem alguns coment��rios. lei- 1960 II 39 43 41 32 31 20 tor pode observar que as tend��ncias entre dados de 1991 e de 4 13 13 20 17 40 2002 s��o semelhantes: I Fonte: ONU-Cepal, OECD, BIRD, OIT i. quanto ao PIB: em todos pa��ses a participa����o da agri- cultura diminui, mas em menor intensidade no Paquist��o EUA Jap��o It��lia Brasil M��xico (*) PIB 1965; emprego: 1973 (em face de sua prec��ria industrializa����o) e no Brasil, em46 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 47 face da grande retomada das exporta����es prim��rias e da finais (de consumo e de capital). A este fluxo real de produ����o de quase estagna����o de sua ind��stria. Nos desenvolvidos, essa bens finais denominamos produto, n��o se computando, nessa pro- trajet��ria �� a normal, hist��rica, de uma longa redu����o rela- du����o, a utiliza����o de bens Como contrapartida tiva desse setor. Mas, no que se refere �� redu����o da ind��s- a esse fluxo real, o aparelho produtivo gera tamb��m um fluxo no- tria, ela resulta, em parte, do grande avan��o da produ����o e minal, que constitui a renda do sistema. Tal fluxo compreende o diversifica����o de servi��os modernos, e, em menor parte, de pagamento que o aparelho produtivo faz aos propriet��rios dos "fa- uma m�� performance industrial. aumento da participa- tores" produtivos utilizados durante o processo de produ����o: sal��- ����o dos servi��os, nos subdesenvolvidos, decorre da redu����o rios e ordenados aos propriet��rios do "fator" trabalho, que s��o efetiva do peso da ind��stria e da prolifera����o de ativida- pr��prios trabalhadores (organizadores e executores da produ����o); des de baixa produtividade, a maioria informais; juros, lucros e alugu��is aos propriet��rios do capital e dos recursos ii. quanto ao emprego: na agricultura, a revolu����o tecnol��gi- naturais. Os dois fluxos encontram-se finalmente no mercado, no ca absorvida e o predom��nio de culturas que requerem pou- qual detentores de renda tentar��o satisfazer suas necessidades trabalho fizeram avan��ar ainda mais sua queda. Na adquirindo a corrente de bens e servi��os finais produzidos pelo ind��stria, nos desenvolvidos a redu����o �� explicada pela for- aparelho produtivo. fluxo nominal nada mais �� do que a deman- te introje����o tecnol��gica e pelo j�� referido aumento da da, e fluxo real �� a oferta. produ����o de servi��os. Nos subdesenvolvidos, tanto pela tec- nologia moderna quanto, principalmente, pela ado����o de pol��ticas neoliberais, que constrangeram o crescimento in- dustrial. crescimento em servi��os decorre das raz��es j�� mencionadas, diferentes entre desenvolvidos e os subde- senvolvidos. Nestes, o aumento da participa����o se explica pelo fato de o setor terci��rio ter-se convertido em verda- deira v��lvula de escape para desemprego e o subemprego, com grande aumento de ocupa����es dom��sticas e de ser- vi��os informais, compensando a enorme redu����o do em- prego agr��cola e industrial. Assim, as pol��ticas neoliberais implementadas com esta Tercei- ra Revolu����o Industrial trouxeram um fato novo para os pa��ses subdesenvolvidos mais industrializados (Brasil, M��xico e Argen- tina, na Am��rica Latina): o do desemprego aberto em escala cres- cente e da retomada do subemprego. 1.3.1 Os fluxos do aparelho produtivo: o produto e a renda 12 Estamos aqui fazendo mais uma abstra����o: a de que toda a produ����o de O aparelho produtivo gera um montante de bens e servi��os bens intermedi��rios foi utilizada no processo produtivo e, portanto, n��o que, como j�� vimos, constitui-se de bens intermedi��rios e de bens houve "sobras", isto ��, n��o houve acumula����o de estoques desses bens.CAP��TULO 2 A ECONOMIA DE MERCADO (ORIGEM E DESTINO DA PRODU����O) No Cap��tulo 1 fizemos certas abstra����es, algumas das quais explicitadas. Manteremos tamb��m neste cap��tulo a simplifica����o da "n��o-exist��ncia" do governo, bem como da "n��o-abertura" da economia. Todavia, incluiremos algumas vari��veis e rela����es como pre��os e a invers��o l��quida -, sem, contudo, abandonar a abordagem est��tica que estamos adotando nessas primeiras incur- s��es �� an��lise do sistema econ��mico. Por quest��es meramente did��ticas, algumas defini����es e con- ceitos mais complexos n��o ser��o apresentados aqui, mas dever��o ser explicados em aula, pelo professor. J�� neste cap��tulo, o estudan- te passa a ter contato com chamados "agregados" e "m��dias" macroecon��micos: a Renda, o Produto, Disp��ndio, a Invers��o etc., bem como se inicia no estudo das rela����es de interdepen- d��ncia estrutural do sistema, mediante uma vis��o r��pida e bastante simplificada da matriz de insumo-produto. 2.1 processo de produ����o Nas p��ginas anteriores vimos quem organiza e executa a pro- du����o, mediante a intera����o dos "fatores" produtivos nas unida-INTRODU����O �� ECONOMIA 51 50 WILSON CANO des produtoras. Aqui estudaremos como se desenvolve esse processo Quadro 2.1 produtivo e analisaremos algumas de suas principais implica����es. Invento Ano da Ano da ��� de Em sociedades mais antigas, "como fazer" era um "dado" no descoberta aplica����o anos sistema. As inova����es t��cnicas ocorriam em per��odos muito lon- gos e era muito reduzido acervo de instrumentos auxiliares Motor el��trico 1821 1886 65 bens de capital de que dispunha o homem. Portanto, conheci- Tubo de v��cuo 1882 1915 33 mento t��cnico-cient��fico ou seja, a tecnologia de que homem dispunha, em sendo prec��rio e reduzido, n��o lhe oferecia muitas R��dio 1887 1922 35 alternativas de produ����o. Tubo de raio X 1895 1913 18 Reator nuclear 1932 1942 10 Em fins do s��culo XVIII a inven����o da m��quina a vapor de Radar 1935 1940 5 Watt e no in��cio do s��culo XIX navio a vapor de Fulton seriam Bomba at��mica 1938 1945 7 principais indicadores da Primeira Revolu����o Industrial que 1951 3 ent��o se processava no mundo, e, na segunda metade desse s��cu- Transistor 1948 lo, motor �� explos��o, a eletricidade, tel��grafo e o maior uso de Bateria solar 1953 1955 2 ci��ncia na produ����o marcaram a Segunda Revolu����o Industrial, Mat��rias pl��sticas 1955 1958 3 abrindo imensas perspectivas aos m��todos de produ����o, transpor- tes e comunica����es. De l�� para c��, as inova����es t��cnicas ocorre- Fonte: OCDE The Requirements of Automated Jobs, 1965. ram mais rapidamente, em todos campos da produ����o, e, que �� muito importante, o per��odo entre suas descobertas e suas apli- ca����es econ��micas vem diminuindo rapidamente, fazendo que Tais inventos e aperfei��oamentos proporcionaram a "revolu- homens tenham sempre diante de si uma gama cada vez maior ����o da tempo de dissemina����o das novas in- de alternativas de produ����o, com o que buscam atingir o m��ximo de ven����es s�� n��o �� ainda menor do que tem sido pelo fato de que a produto com m��nimo de custo. maior parte delas, na verdade, n��o �� estritamente de produtos quadro a seguir �� elucidativo dessa defasagem. novos, mas sim de produtos que substituem antigos, embora esta Desde 1957 se d�� a "corrida do com o lan��amento do substitui����o sempre implique sucateamento dos velhos, que primeiro Sputnik (o primeiro sat��lite colocado no espa��o pela significa destrui����o de capital. Entretanto, �� medida que decorre URSS), cujo feito foi ampliado pelo primeiro v��o espacial de certo tempo desde a inven����o, aperfei��oamento desta e o aumento Gagarin em 1961. Desde 1959 se conhece circuito integrado e o de sua demanda (e da pr��pria produ����o) tendem a diminuir os cus- microchip foi disseminado por volta de 2000, mas a fibra ��ptica e tos, o que torna produtos mais acess��veis a novos consumidores. desenvolvimento do laser se deram em 1969. As inova����es tecnol��gicas, ao alterar a produtividade m��dia A partir de meados da d��cada de 1970 nova bateria de novi- (rela����o entre as quantidades de produto que se pode fazer e o em- dades foi sendo introduzida nos processos produtivos e no consu- prego de uma unidade de trabalho, de capital, de terra ou de qual- mo, sobretudo por meio da microeletr��nica e da inform��tica, com quer outro meio de produ����o) dos elementos constitutivos do novos circuitos integrados, que d��o a base para a Terceira Re- processo produtivo, modificam as propor����es do uso daqueles "fa- volu����o Industrial, da qual podemos citar as fibras ��pticas e tores", liberando quantidades de trabalho n��o qualificado e requi- sat��lites nas telecomunica����es, o controle num��rico e a automa����o sitando cada vez mais maior invers��o de capital. em bens de capital, o videocassete, o fax, o forno de microondas etc.52 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 53 Desse modo, p��em-se novamente em confronto as na����es sub- Tomada, por exemplo, a produ����o sider��rgica, ela expressaria: desenvolvidas, uma vez que estas, em geral, contam com abun- horas/homem de TQ, horas/homem de TNQ, horas/m��quina, li- d��ncia de m��o-de-obra e escassez de capital e dif��cil acesso ��s tros de ��gua, quantidades de min��rio, quantidades de carv��o etc. modernas tecnologias, que as torna ainda mais dependentes do por tonelada de a��o produzido. Essa seria uma fun����o de produ����o grupo privilegiado dos pa��ses ricos, que s��o maiores criadores e expressa em termos f��sicos ou materiais; se multiplic��ssemos, entre- detentores de tecnologia. Este crucial tema, entretanto, n��o pode tanto, as quantidades de insumos por seus respectivos pre��os ou aqui ser discutido em maior profundidade, estando inserido na custos, obter��amos ent��o uma express��o tamb��m quantitativa, n��o chamada Teoria do Desenvolvimento Econ��mico. mais em termos f��sicos, mas em valores, em custos. Dada fun����o As quantidades de "fatores" e o tipo e a quantidade de mat��- de produ����o revela, pois, impl��cita ou explicitamente, a tecnolo- rias-primas a serem utilizados na produ����o de um determinado gia adotada no processo produtivo. bem ou servi��o podem variar, sempre que, para a produ����o de um Os organizadores da produ����o, escolhendo determinada t��cni- bem "x", existam alternativas t��cnicas de produ����o. Exem- ca, contratam os fatores de produ����o e adquirem de outras unida- plifiquemos com o caso da produ����o de p��es: muito embora pro- des produtoras os bens intermedi��rios ou insumos de que cesso de produ����o de p��o utilize sempre a combina����o farinha/ necessitam. Assim, a siderurgia adquire das unidades produtoras de ��gua/sal, ele pode, ex., empregar: a) distintas mat��rias-primas, minera����o o min��rio e o carv��o de que necessita, da mesma forma isoladas ou misturadas: trigo, batata, mandioca, milho etc.; e b) dife- que vende ��s unidades produtoras metal��rgicas lingotes de a��o rentes graus de utiliza����o de capital: forno a lenha ou el��trico, ou as chapas laminadas que produz. As unidades produtoras, por- modernas m��quinas para prepara����o da massa ou modestos reci- tanto, ensejam a exist��ncia de uma demanda e de uma oferta inter- pientes de opera����o manual. medi��ria no seio do aparelho produtivo, que agregadamente se transporte ferrovi��rio, por exemplo, poder�� ser de bitolas denominam transa����es intermedi��rias. largas ou estreitas, el��trico, diesel ou a vapor. A siderurgia pode Ao contratar uso dos fatores de produ����o, os organizadores utilizar lenha, carv��o, eletricidade, g��s etc. Um banco, para seus adquirem que se denomina "servi��os de fatores", ou seja, a presta- servi��os cont��beis, poder�� valer-se de utiliza����o maci��a de m��o- ����o de servi��o de trabalho e a utiliza����o do capital e dos recursos de-obra (como fazia at�� a d��cada de 1950), ou simplesmente naturais. Essa presta����o de servi��os pelos fatores de produ����o reduzi-la mediante a instala����o de um computador eletr��nico e de fluxo real de servi��os de fatores tem como contrapartida nominal intensificada automa����o de processos, como atualmente. Seme- o pagamento aos detentores desses fatores, ou seja: sal��rios e orde- lhante afirma����o pode ser feita sobre as atividades prim��rias, em nados ao trabalho, "alugu��is" aos recursos naturais e juros e lucros que a aplica����o de fertilizantes, irriga����o, eletrifica����o rural, silos ao capital.�� A soma desses rendimentos constitui o fluxo nominal e armaz��ns, equipamento frigor��fico etc. permitem uma s��rie de de renda da comunidade. combina����es de produ����o. Contudo, a corrente de bens e servi��os finais produzidos pelo Dada determinada t��cnica de produ����o, dela deriva de ime- aparelho produtivo denomina-se Produto ou fluxo real de bens e diato a chamada fun����o de produ����o, que nada mais �� do que a "re- ceita" para a produ����o de um determinado bem. Essa fun����o Os lucros, tal como figuram, comportam parcela chamada deprecia����o, que especifica as quantidades de fatores e insumos necess��rias �� pro- na realidade n��o se constitui em um rendimento l��quido aos propriet��rios du����o de certa quantidade de um determinado bem, em raz��o de do fator capital (ou dos recursos naturais, como no caso das parcelas de dada t��cnica. Simbolicamente, seria: P = f (TQ, TNQ, RN, K, esgotamento de jazidas), pois se destina a repor o desgaste sofrido durante processo produtivo.54 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 55 servi��os que, calculado de outra forma, nada mais �� do que a soma dos valores de todos bens e servi��os (finais ou n��o) produzidos Somadas as etapas dos tr��s est��gios, como computar��amos pela na����o ou seja, Valor Bruto da Produ����o -, deduzidos gas- Produto e a Renda da comunidade? Se tom��ssemos o valor das tos totais com a aquisi����o de insumos. vendas, obter��amos $ 260. Entretanto, observe-se que as vendas do moinho (70) inclu��ram duplamente o valor das vendas da fazenda Simbolicamente: P VBP insumos (30) e, portanto, ele gerou uma Renda e um Produto de apenas 40. Da mesma forma, no valor das vendas (ou valor bruto da produ- fato de n��o se computar como produto bens intermedi��- ����o) da padaria, o trigo e a farinha est��o computados duas vezes rios tem como escopo a elimina����o da chamada "dupla contagem" cada um. Eliminadas, portanto, as transa����es intermedi��rias, ter��a- na produ����o de um pa��s. Exemplifiquemos isto supondo que em mos: VBP insumos = P 260 150. um hipot��tico pa��s se produzisse apenas um s�� bem: p��o. Em se- Estamos agora em condi����es de explicar que o valor do Pro- guida, suporemos que a produ����o de p��o est�� dividida em etapas duto �� igual ao da Renda n��o por uma simples coincid��ncia, mas distintas (agricultura, moagem e panifica����o) exercidas por tr��s porque, na realidade, a Renda nada mais �� do que a contrapartida unidades produtoras: a fazenda, o moinho e a padaria. A fazenda nominal do Produto. Visto de outra forma, a soma dos pagamentos produz trigo, utilizando como insumos apenas sementes; o moinho aos fatores da produ����o, ou seja, valor agregado, constitui esfor��o usa trigo como insumo, que lhe �� vendido pela fazenda, e fabrica produtivo adicionado em cada atividade de produ����o, n��o conten- farinha, que �� vendida �� padaria; finalmente, padeiro produz o do, portanto, contagem duplicada de valores gerados em outras p��o e vende aos consumidores. Poder��amos quantificar essas ati- atividades. Chamando a Renda de Y, temos agora: vidades atribuindo valores hipot��ticos a cada uma delas: Renda = Soma dos rendimentos (sal��rios, ordenados, lucros, juros, alugu��is): Y=SO+L+J+A Quadro 2.2 e de outra forma: Renda = Produto: Atividades Gastos com Pagamentos a Valor das insumos fatores de produ����o vendas Essa avalia����o do esfor��o produtivo de uma na����o torna-se mais evidente se nos valermos da chamada matriz de insumo-pro- Fazenda 10 20 30 duto. Suponhamos agora um exemplo tamb��m hipot��tico, por��m Moinho 30 40 70 envolvendo todos os compartimentos produtivos tratados neste Padaria 70 90 160 cap��tulo. Gastos e vendas totais 110 150 260 Quadro 2.3 I. Setor prim��rio 2 Chamamos a aten����o para fato de que estamos tratando de um modelo a) gastos com insumos fechado e estamos abstraindo a acumula����o (e suas varia����es positivas ou sementes 5 negativas) de bens intermedi��rios, ou seja, a Varia����o de Estoques de insumos. produtos qu��micos 15 2056 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 57 b) pagamentos a fatores bruto da produ����o do sistema: 300. Se, desse valor, deduzirmos sal��rios e ordenados 25 total de gastos de insumos (20 + 60 + 10) encontraremos Pro- juros 3 duto: 300 90 210. Todavia, somados pagamentos efetuados alugu��is 30 aos fatores da produ����o (80 + 60 + 70) encontraremos 210, que lucros 22 80 �� montante da Renda gerada. valor das vendas = VBP 100 gasto com a compra de insumos permite-nos analisar im- pacto exercido por um setor sobre demais. Assim, o setor indus- II. Setor ind��stria trial, por exemplo, para gerar uma produ����o bruta de 120, adquiriu a) gastos com insumos 25 da agricultura (algod��o, l��, gado, madeiras etc.), demandou 20 mat��rias-primas agr��colas 25 dele mesmo (chapas de a��o, produtos qu��micos, borracha, mate- insumos industriais 20 riais de constru����o, l��mpadas etc.), adquirindo ainda 15 de servi- transp., seguros 15 60 ��os v��rios (transporte, publicidade, seguro etc.). b) pagamentos a fatores Restaria ainda mais uma indaga����o: que parte do Valor Bruto sal��rios e ordenados da Produ����o, de cada um dos setores, se constitui de bens e servi- 20 juros ��os finais? A compra que o setor I faz ao setor II equivale �� venda 5 alugu��is que o setor II faz ao setor I. Assim, fa��amos a soma dessas vendas 5 lucros setoriais. setor I, por exemplo, vendeu: a ele mesmo, 5 de semen- 30 60 valor das vendas = VBP tes; ao II: 25 de mat��rias-primas, e nada vendeu ao setor III, totali- 120 zando, pois, em 30, suas vendas intermedi��rias. Deduzidas essas vendas III. Setor servi��os do total da produ����o bruta, encontraremos (100 30) 70, que sig- nifica suas vendas de bens para Consumo final ou Investimento. a) gastos com insumos mesmo c��lculo daria-nos vendas intermedi��rias de 40 e 20 e insumos industriais 5 vendas finais de 80 e 60 dos setores II e III, respectivamente. transporte, seguro, publicidade 5 10 Cabe agora uma advert��ncia: o valor agregado (soma dos pa- b) pagamentos a fatores gamentos aos fatores de produ����o) de um setor somente por coinci- sal��rios e ordenados 30 d��ncia num��rica seria igual a seu produto final. Comparemos os juros 7 dados de nosso exemplo hipot��tico entre o valor agregado e as alugu��is 10 vendas finais: Setor I: 80 e 70, setor II: 60 e 80, setor III: 70 e 60. lucros 23 70 Isto se explica pelo fato de que existem atividades produtivas que valor das vendas = VBP 80 se apresentam, mais do que outras, como produtoras de bens e ser- vi��os finais. Por exemplo, se o setor prim��rio produzisse apenas trigo utilizado pelos moageiros, n��o apareceria como vendedor de Com dados apresentados j�� nos �� poss��vel fazer um c��lculo produto final (vendas finais iguais a zero), apresentando, entretan- da Renda e do Produto, bem como ter uma primeira no����o de to, uma renda gerada pelo pagamento aos fatores da produ����o uti- como se inter-relacionam setores produtivos e, portanto, ava- lizados na produ����o de trigo. liar grau de interdepend��ncia estrutural do sistema. Somados Assim sendo, falar-se de produto setorial n��o tem maior signifi- valores de vendas setoriais (100 + 120 + 80) totalizamos o valor ca����o econ��mica e, portanto, isso s�� passa a ter sentido quando58 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 59 falamos de valor agregado setorial. De outra forma, 0 conceito de pro- duto somente �� v��lido para conjunto da economia, quando, e s�� en- t��o, se d�� a identidade do Produto e da Renda. Valor bruto da produ����o VBP 100 120 80 300 Para concluir nosso exemplo, suponhamos que a produ����o de bens finais de cada setor esteja dividida em bens e servi��os de con- sumo e de capital, com seguintes valores, segundo os setores: setor I: 70 e zero; setor II: 50 e 30; setor III: 60 e zero. Completa- Total DF (C+I) 70 80 60 210 dos esses dados, vamos agora coloc��-los em uma representa����o matricial como a figura anexa, supondo finalmente que os gastos com deprecia����o dos equipamentos foram de 2 para o setor I, 5 para setor II e 3 para o setor III. Isso nos obriga a deduzir do Vendas de serv., de consumo e Capital 30 30 montante de lucros setoriais e totais essas parcelas de deprecia����o, com o que lucros passar��o a ter o car��ter de lucros l��quidos, ou seja, lucros brutos menos deprecia����o. Demanda final de capital O esquema gr��fico apresentado compreende, na realidade, tr��s Consumo (C) 70 50 60 180 matrizes distintas: a matriz de transa����es intermedi��rias, representa- da pelas compras e vendas de insumos; a matriz de rendimentos, representada pelos pagamentos aos fatores da produ����o, e a matriz ficativos do esfor��o produtivo nacional: 2.4 Matriz de insumo-produto de uma economia hipot��tica ($%) Total D 30 40 20 90 75 15 45 65 10 210 300 da demanda final, compreendendo produto, ou, ainda, a produ- ����o final de bens e servi��os de consumo (C) e de capital para investimento (I). Assim, distinguimos agora tr��s agregados signi- III 5 5 10 30 7 10 20 3 70 80 - i) a Renda Interna Bruta: ou valor agregado bruto, ou somat��rio dos pagamentos aos fatores da produ����o, inclusive a depre- cia����o; ��os finais avaliada aos pre��os vigentes no mercado; e iii) a Despesa Interna Bruta: significando disp��ndio que a co- Demanda intermedi��ria (transa����es intermedi��rias) 20 15 60 20 5 5 II 25 5 25 60 120 ii) o Produto Interno Bruto: a produ����o f��sica de bens e servi- Setores I 5 15 20 25 3 30 20 2 80 100 munidade faz ao utilizar a renda na aquisi����o do produto (compras de bens de consumo e de bens de capital). 2.2 destino da produ����o Vendas ou "sa��das" fluxo real de bens e servi��os finais, distribu��do agora em dois Quadro Compras ou "entradas" grandes itens bens e servi��os de consumo e bens de capital -, �� Setor I Setor II Setor III Total Di Sal��rios e ordenados Juros Alugu��is Lucros l��quidos Deprecia����o Total do valor VBP60 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 61 enviado pelas unidades produtoras ao mercado, com a finalidade, tanto, cumpre ainda adicionar que �� no mercado de bens e servi- de um lado, de vender a produ����o e com isso obter um montante ��os de consumo que a publicidade e a propaganda t��m seu campo de receitas monet��rias capaz de saldar os gastos gerais da produ- mais f��rtil para a orienta����o e canaliza����o da demanda. ����o e remunerar fatores, e, de outro, atender �� demanda exis- No tocante ao mercado de bens de capital, o destino desse flu- tente no mercado. como j�� dissemos, �� a sua reincorpora����o ao aparelho produtivo, Como bens e servi��os de consumo t��m finalidade distin- primeiro para repor a parte desgastada do capital (a deprecia����o), ta da dos bens de capital, uma vez que eles se destinam �� satisfa- que se denomina investimento de reposi����o, a parte restante desti- ����o imediata de necessidades humanas, enquanto os outros se nando-se a ampliar estoque de capital da comunidade, aumen- prestar��o �� produ����o futura de outros bens (de consumo, interme- tando, portanto, a capacidade produtiva do sistema: trata-se do di��rios, ou mesmo de capital), o fluxo real se divide em dois de chamado investimento l��quido. A soma dessas duas parcelas consti- consumo (C) e o de capital (I), dirigindo-se o primeiro ao merca- tui total das invers��es do sistema��� e se denomina investimento do de bens e servi��os de consumo, e segundo ao mercado de bens de bruto. Assim, IB = IR + IL. capital. Tais mercados, repetimos, s��o marcadamente diferenciados Examinemos agora o destino do fluxo nominal. Como vimos, ele quanto �� natureza dos produtos, �� tipologia do comprador (consu- �� constitu��do de diferentes formas de renda que correspondem a midores e inversionistas), ��s formas de comercializa����o e distribui- diferentes formas de propriedade. Podem elas ser agrupadas sob ����o etc.�� a forma de rendas do trabalho (sal��rios e ordenados) e rendas da pro- Por se tratar de uma demanda bastante atomizada, no que diz priedade (lucros, juros e alugu��is). Esse agrupamento de rendas as- respeito a unidades compradoras (n��mero de consumidores), sim classificadas �� o que se denomina reparti����o funcional da renda. pre��os vigentes no mercado de bens e servi��os de consumo s��o, Uma parte dessas rendas �� imediatamente dirigida ao merca- fundamentalmente, determinados pelas unidades produtoras, seja do de bens e servi��os de consumo, no qual, de acordo com os n��- por fixa����o pelas empresas-l��deres, seguida pelas demais, por um veis absolutos e relativos de rendas, e em decorr��ncia dos pre��os acordo entre as principais, ou por outras formas derivadas do co- estabelecidos nesse mercado, os consumidores buscar��o a satisfa- nhecimento e do "poder de mercado". Nunca ser��o, contudo, pro- ����o de suas necessidades, segundo um crit��rio de prioridade ali- duto das decis��es dos "votos dos consumidores" representados por menta����o, vestu��rio, sa��de etc. Satisfeitas suas necessidades suas compras, que explicitariam que a teoria convencional cha- fundamentais, podem ainda dedicar uma fra����o (grande ou peque- ma de "prefer��ncia do consumidor", refletida no resultado da na, na raz��o direta de seus volumes de rendimento) dessa mesma de curvas de oferta e de demanda.��� parcela de renda �� aquisi����o de bens e servi��os de luxo, diversifi- Os pre��os, basicamente, refletem custos de produ����o e cando, portanto, seu consumo. montante esperado (ou desejado) de lucros pelas unidades produ- A parcela restante da renda a que n��o �� dedicada ao consu- toras. Sofrem ainda importante influ��ncia decis��ria por parte de mo denomina-se poupan��a (S). A poupan��a compreende, de um grupos manipuladores da oferta, que controlam mercado. No en- lado, o fluxo de rendimentos n��o dedicados ao consumo e outros tipos de rendimentos que, embora perten��am ��s fam��lias (proprie- 3 A an��lise de mercados, rea����es dos compradores e vendedores, forma����o dos pre��os e tipos de concorr��ncia s��o temas tratados pela Teoria Microecon��mica. Aqui e em outros cap��tulos, discutiremos apenas pro- blemas mais relacionados ao objetivo deste curso. 5 Mais uma vez chamamos a aten����o para fato de que estamos abstraindo 4 Em cap��tulos seguintes, retomaremos esse assunto. a exist��ncia dos estoques e de suas varia����es.62 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 63 t��rias de capital e de recursos naturais), permanecem retidos nas 1) unidades produtoras: referimo-nos ��s chamadas reservas para depre- 2) cia����o e ao montante de lucros gerados mas n��o distribu��dos, ou seja, chamados lucros retidos pelas empresas. 4) S Assim, pela ��tica de sua utiliza����o a renda pode ser dividida em duas partes: consumo (C) e poupan��a (S), do que se pode Dissemos, quanto ao investimento l��quido, que ele aumenta a enunciar: Y = C+S. capacidade produtiva do sistema. Conv��m agora esclarecer que tal Satisfeitas suas necessidades de consumo, detentores de aumento de capacidade n��o se traduzir�� apenas em um crescimen- poupan��as tentar��o aplicar essa fra����o sobrante em t��tulos de pro- to do produto e da renda em per��odo futuro, mas, provavelmente, priedade (a����es de empresas, p. ex.), t��tulos de empr��stimo p��blico provocar�� algumas modifica����es qualitativas de import��ncia, a ou privado, depositando em bancos e outras entidades financeiras longo prazo: modifica����es na estrutura produtiva, nos n��veis seto- etc. No caso dos de suas empresas, riais e m��dios de produtividade, no emprego etc. podem ainda, diretamente, aplicar parte de seus lucros na aquisi- Contudo, cumpre tamb��m mencionar o fato de que, nos pa��- ����o de novos equipamentos e instala����es. ses subdesenvolvidos, algumas partes de seu territ��rio permanecem Nem toda poupan��a, como vimos, estar�� em poder do p��blico, "�� margem" da economia de mercado, n��o sendo, portanto, t��o permanecendo em poder das unidades produtoras. A fim de que pos- afetadas pelo uso da moeda. Assim sendo, n��o h�� em tais compar- sam ent��o adquirir bens de capital que necessitam para reposi����o timentos uma circula����o ��nica de fluxos nominais e reais, tradu- e acr��scimo de capacidade produtiva, organizadores da produ����o zindo-se parte da poupan��a tamb��m em termos de horas de dirigem-se aos intermedi��rios financeiros (bancos, bolsas de valo- trabalho que n��o s��o dedicadas �� produ����o para consumo, mas sim res, caixas econ��micas etc.) vendendo t��tulos de propriedade para produ����o ou manuten����o de capital: conserva����o e reparos (a����es) ou tomando empr��stimos, fazendo que, desta forma, a par- de cercas, moradias, pastagens, implementos agr��colas etc. Esse fato te da poupan��a que estava em poder das fam��lias se canalize, via hoje �� menos freq��ente, gra��as �� maior monetiza����o das trocas, intermedi��rios financeiros, aos organizadores da produ����o. amplia����o de meios de circula����o de bens, servi��os e finan��as etc. De posse do total poupado pela comunidade (isto ��, da pou- Finalizando, a despeito da identidade poupan��a/investimento pan��a que circula das fam��lias aos intermedi��rios financeiros mais apresentada, ela na realidade se constitui em um complexo pro- as rendas retidas nas pr��prias unidades produtoras), organizado- blema discutido pela Teoria Econ��mica mais especificamente, res da produ����o dirigem-se finalmente ao mercado de bens de ca- pela Teoria Keynesiana -, n��o havendo condi����es de discuti-la pital, adquirindo fluxo real de bens de capital, ou seja, dando neste texto. in��cio ao chamado processo de invers��o. Retomando agora as equa����es do Produto e da Renda, fica ressaltada a identidade Poupan��a = 6 Essa identidade, contudo, como real��ou Keynes, s�� se d�� ex post, isto ��, ap��s a realiza����o plena de "um per��odo de produ����o-realiza����o de renda". Em aula o professor dever�� esclarecer mais os alunos, sobre esse crucial assunto.CAP��TULO 3 A CIRCULA����O EM UMA ECONOMIA DE MERCADO A an��lise das atividades econ��micas pode ser feita atrav��s de tr��s prismas distintos, por��m interconectados: i) a produ����o de bens e servi��os; ii) a circula����o, ou seja, a forma pela qual o fluxo real de bens e servi��os o produto e fluxo nominal de rendimentos a renda transitam pelo sistema, encontrando-se e interconectando-se com suas contrapartidas: fluxo no- minal de gastos, com a aquisi����o de bens e servi��os a despesa e o fluxo real da presta����o de "servi��os de fatores" utilizados no processo produtivo; iii) a reparti����o, que estuda a forma pela qual a renda se distri- bui entre detentores dos "fatores produtivos" e ainda a maneira pela qual produto social �� apropriado pela co- munidade. Nos Cap��tulos 1 e 2 estudamos a forma pela qual �� realizada a atividade produtiva; quanto �� reparti����o, dada sua grande comple- xidade, ser�� estudada mais adiante, em cap��tulo espec��fico.67 66 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA Da mesma forma como fizemos nos cap��tulos anteriores, racio- d) por decis��o institucional, a comunidade distribui as tare- cinaremos aqui utilizando as seguintes abstra����es: fas de produ����o entre seus membros; e) a reparti����o do fluxo real de bens e servi��os decidida co- a) trata-se de um modelo de "economia fechada"; letivamente tem dois destinos: b) ser�� ignorada a atua����o governamental; e��) fluxo de bens de capital �� incorporado ao estoque de c) a economia �� estacion��ria, n��o havendo expans��o ou con- capital da comunidade; tra����o da capacidade produtiva. bens e servi��os de consumo s��o distribu��dos entre todos membros da coletividade, de forma a satisfazer as neces- Esta ��ltima simplifica����o implica basicamente que a produ����o sidades individuais e coletivas. de bens de capital compreende apenas investimento de reposi- ����o, com o que daremos a essa produ����o mesmo tratamento Assim sendo, vejamos o circuito do fluxo real em tal sistema: dispensado ��s mat��rias-primas, ou seja, seu uso significar��, na rea- seu in��cio d��-se precisamente junto ��s fam��lias, que, utilizando seus lidade, um "insumo de capital" e sua compra e venda ser�� nada instrumentos de produ����o e recursos naturais coletivos, utilizam mais do que uma transa����o intermedi��ria. Assim, a renda ser�� to- sua for��a de trabalho no aparelho produtivo. talmente dispon��vel para consumo, e a poupan��a (apenas para fi- Neste, d��-se a chamada do trabalho", pela nanciar o investimento de reposi����o) fica previamente nas m��os manipula����o dos insumos, dos recursos naturais e do capital, ge- das unidades produtoras, mantendo-se assim a identidade poupan- rando-se ent��o um fluxo real de bens e servi��os. ��a-investimento. terceiro "momento" da caminhada desse fluxo vai coincidir com a distribui����o desses bens entre os membros da coletividade, "alimentando" n��o s�� os membros ativos mas tamb��m aqueles que, 3.1 processo circulat��rio por quaisquer raz��es, n��o podem despender esfor��o f��sico ou inte- lectual na produ����o. Dissemos anteriormente que a economia de mercado atinge Esse ��ltimo ato da "alimenta����o" nada mais �� do que hoje um alto n��vel de complexidade e, obviamente, processo consumo e/ou utiliza����o do resultado da materializa����o do traba- circulat��rio em tal sistema torna-se igualmente dif��cil de ser apre- lho, pois alimentando-se os homens ou provendo-lhes os instrumen- endido. Em face disto, usemos um "modelo abstrato" de uma eco- tos de produ����o, �� possibilitada a essa comunidade a manuten����o nomia primitiva na qual: de sua for��a de trabalho e de todos os seus demais membros, com que mant��m-se a for��a produtiva da comunidade, podendo no- a) os recursos naturais s��o "livres", no sentido de n��o serem vamente "fluxo real" caminhar em dire����o ao aparelho produti- objeto de propriedade e de pre��o seu uso �� distribu��do ra- vo, para uma nova gera����o de bens e servi��os. cionalmente entre todos membros de tal coletividade; gr��fico 3.1 tenta, sinteticamente, demonstrar o "circuito" do b) instrumentos auxiliares de produ����o o capital s��o igual- fluxo real nessa primitiva economia. Deixemos de lado agora esse mente objeto de uso comum, como em uma cooperativa; modelo altamente simplificado e voltemos �� concep����o moderna c) essa sociedade n��o tinha at�� ent��o descoberto a moeda, da economia. De in��cio, cabe mencionar duas vari��veis importan- e, portanto, as trocas eram feitas em esp��cie, n��o entre tes: os pre��os e a moeda. Na economia moderna, os pre��os e a indiv��duos, mas sim entre grupos de indiv��duos dessa moeda desempenham papel fundamental, os primeiros sendo munidade; termo de rela����o de troca entre as mercadorias e o segundo, o meio68 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 69 Gr��fico 3.1 Fluxo real da produ����o de bens e servi��os de consumo A comunidade como um todo ser�� doravante chamada de "conjunto das fam��lias". As fam��lias, portanto, s��o os propriet��rios dos "fatores" de produ����o: os trabalhadores, como donos da for��a de trabalho, e demais propriet��rios, que s��o detentores de capital e recursos naturais. As fam��lias cedem, emprestam ou ven- APARELHO POPULA����O dem chamados servi��os de fatores a for��a de trabalho, o uso PRODUTIVO de capital e dos recursos naturais -, por meio do "mercado de ser- A����o da for��a de trabalho, com o uso de recursos naturais vi��os", ��s unidades produtoras, mediante pagamento monet��rio Ativa N��o ativa e bens de capital que se estabelece por interm��dio dos chamados pre��os dos servi��os dos fatores que nada mais s��o do que: a taxa de sal��rios, a taxa de juros, lucros, aluguel ou renda proveniente da cess��o do uso dos Fluxo real de trabalho recursos naturais.�� D��-se, j�� aqui, um fluxo real (presta����o de ser- vi��os de fatores) e um fluxo nominal contr��rio a renda repre- Utiliza����o de capital na sentando o total dos pagamentos aos fatores da produ����o. produ����o RN K Intera����o Trabalho de J�� dentro do aparelho produtivo os servi��os prestados pelos Manuten����o do de for��a (capital) (recursos manuten����o de de trabalho fatores de produ����o, ao manipular e transformar insumos, ge- estoque de capital naturais) revigoramento com dos RN estoques de ram um fluxo real de bens e servi��os que ser�� dirigido ao mercado RN K Utiliza����o de RN na produ����o de bens e servi��os de consumo, no qual, mediante o sistema de pre- ��os existentes pre��os esses estabelecidos pelas unidades produ- toras, ao calcular seus custos de produ����o e sua taxa de lucro -, s��o trocados pela massa monet��ria que constitui fluxo nominal per- tencente ��s fam��lias (a renda), com o objetivo, de um lado, de pelo qual a economia deixa de trocar mercadorias, para trocar atender �� demanda da comunidade e, de outro, de obter recursos mercadorias por dinheiro e dinheiro.por mercadorias, simplifican- monet��rios suficientes para engendrar um novo ciclo produtivo: do bastante o ato da troca econ��mica.�� nova contrata����o de servi��os de fatores e nova compra de insumos. Vejamos ent��o como se d�� a circula����o na economia moder- Deve-se ter presente que estamos tratando de um sistema estacio- na. De in��cio, cabe mencionar que a todo fluxo real corresponde n��rio, n��o havendo, portanto, produ����o de bens de capital para in- um fluxo nominal, transitando em sentido inverso ao fluxo real; ato da venda, por exemplo, significa um fluxo real (sa��da de mer- vers��o l��quida, sendo investimento de reposi����o tido como insumo cadorias) e um fluxo nominal (entrada de dinheiro).�� de capital e n��o havendo assim um mercado de bens de capital. Em outros termos, aparelho produtivo executa tr��s ativida- des inter-relacionadas: exerce a demanda de servi��os de fatores (flu- XO real), efetua compras e vendas de insumos "que n��o v��o a papel desempenhado pela moeda no sistema econ��mico ser�� discutido em cap��tulo espec��fico, mais adiante. 2 A afirma����o de contrapartida �� negada t��o-somente no tocante ��s cha- madas "transa����es unilateriais", como os donativos e as transfer��ncias, lucro n��o pode ser entendido como o "pre��o" do capital. Ele ��, na ver- que significam apenas um ato de redistribui����o de renda e n��o um ato de dade, resultado da produ����o, compra e venda de bens e servi��os, no capi- gera����o de renda, ou de transa����o mercantil. talismo. A Teoria Econ��mica tem v��rias vers��es sobre o conceito do lucro.71 INTRODU����O �� ECONOMIA 70 WILSON CANO mercado", ou seja, as chamadas transa����es intermedi��rias (fluxos real TO de empresas que controla cada segmento desses mercados. No e nominal) e ainda, depois de efetuar a produ����o, oferta produto caso dos bens de capital, vale lembrar sua maior durabilidade e seus de bens finais no mercado de bens e servi��os de consumo. As fa- altos custos e a necessidade de financiamento de longo prazo para m��lias, no entanto, ofertam seus servi��os de fatores (ou uso de sua aquisi����o. suas propriedades) e demandam a produ����o de bens e servi��os Assim, as unidades produtoras n��o s�� determinam pre��os, mas de consumo, gerando assim, respectivamente, um fluxo real e tamb��m se defrontam com um sistema de pre��os de insumos de um nominal. toda ordem, em fun����o do qual, cotejados tamb��m com os pre��os Estaticamente, a oferta de servi��os de fatores poderia ser con- dos fatores taxa de sal��rios, taxa de juros etc. -, e com as possibi- siderada o "in��cio" da circula����o e a demanda de bens e servi��os lidades de determina����o dos pre��os no mercado final, elas decidem "fim" do processo; em uma vis��o din��mica e real, entretanto, esse como e qu�� produzir, fixando, outrossim, as quantidades a serem circuito nada mais �� do que uma "��rbita" cont��nua, modificada ofertadas. Em s��ntese, ao se defrontarem com um sistema anterior historicamente �� medida que se processam altera����es estruturais (insumos) e posterior (bens finais) de pre��os e com uma gama de no sistema econ��mico. possibilidades t��cnicas de produ����o a tecnologia elas escolhem, Destacamos anteriormente as duas entidades bipolares do sis- por crit��rios t��cnicos e econ��micos, uma dada fun����o micro- tema, quais sejam, aparelho produtivo, de um lado, representan- econ��mica de produ����o, particular a cada unidade produtora ou a do universo das unidades produtoras, e, de outro, as fam��lias, cada tipo de produto. conjunto dessas fun����es, agregadas �� to- propriet��rias dos fatores produtivos. Resta agora examinar duas talidade do sistema, revelar�� uma (m��dia) fun����o macroecon��mica outras entidades apenas mencionadas at�� ent��o: "mercado de de produ����o.��� servi��os de fatores" e o "mercado de bens e servi��os de consumo". Vejamos agora os condicionamentos existentes no processo circulat��rio. 3.2 condicionamento quadridimensional 3.2.1 Um primeiro condicionamento surge no pr��prio seio do nos mercados aparelho produtivo, pela ado����o de determinadas fun����es de pro- du����o. Vimos nos cap��tulos anteriores que a fun����o de produ����o Antes de iniciarmos estudo da circula����o dos bens e servi- em termos f��sicos determina as quantidades de fatores a serem ��os finais, cumpre ressaltar que, em raz��o do nosso modelo simpli- utilizados por unidade de produto. Estabelecem-se, pois, coeficientes ficado, ocultamos importante parte do circuito econ��mico, qual de utiliza����o de insumos por unidade de produto, quais, multiplica- seja a das transa����es intermedi��rias, nelas inclu��das, por simplifi- dos pelo volume f��sico de produto final, fixar��o as necessidades ca����o, os "insumos de capital". Surgem, portanto, os mercados de fatoriais do sistema, ou, em outras palavras, determinar��o a procu- insumos de mat��rias-primas e de capital, nos quais, entretanto, ra de fatores. atuam apenas as empresas e n��o as empresas e as fam��lias, como At�� aqui, leitor poderia imaginar que as ofertas dos diversos no mercado de consumo. Todavia, e sob certos aspectos, essas em- elementos que participam do processo produtivo s��o "automatica- presas tanto exercem condicionamentos em seus mercados interi- ores quanto recebem condicionamentos interempresas. Como regra geral, as determina����es das condi����es de venda de 4 A an��lise do papel desempenhado pela unidade produtora no sistema eco- insumos e principalmente das de bens de capital s��o mais r��gidas, n��mico ser�� vista no cap��tulo 7, "A unidade produtora e sua inser����o no dadas as especificidades desses bens e servi��os e reduzido n��me- sistema econ��mico".72 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 73 mente" adequadas via mercado ��s suas demandas efetivas. exemplo, se pre��o de um quilo de porco em p�� �� de 1,50 e A partir de agora, destacaremos que isso �� uma abstra����o da reali- quilo de milho �� de $ 0,50 pode-se tirar uma rela����o entre esses dade, principalmente nas economias subdesenvolvidas. Com efei- pre��os e dizer-se, por exemplo, que a rela����o de pre��os porco-mi- to, contraste entre a disponibilidade de fatores (oferta) e suas lho �� da ordem de 3:1. No exemplo citado, o criador de porcos necessidades (demanda), ditadas pelas fun����es de produ����o apli- sempre levar�� em considera����o essa rela����o, ou seja, esse pre��o re- cadas no sistema, constitui "ponto nevr��lgico" socioecon��mico lativo, sobretudo quando houver altera����o para mais nos pre��os do do sistema, assunto esse, ali��s, tratado pela Teoria do Desenvolvi- milho. Dito de outra forma, o pre��o do milho representa custos de mento Econ��mico. Embora este texto se destine t��o-somente a produ����o e o pre��o do porco representa receitas que, deduzidas das uma inicia����o �� Economia, discutiremos um pouco mais esse tema. despesas totais, revelar��o um certo montante de lucros. Os pre��os Em um sistema econ��mico desenvolvido, a oferta e a procura relativos, portanto, traduzem-se em importantes indicadores para de fatores situam-se em condi����es normais de funcionamento do os organizadores da produ����o, em termos de decis��es de escolha sistema em uma posi����o, se n��o de "equil��brio", pelo menos muito de produtos, processos t��cnicos, insumos e fatores a serem utiliza- mais pr��xima dele.��� Tal n��o ocorre, por��m, com os pa��ses subde- dos na produ����o. senvolvidos, onde �� flagrante esse desequil��brio, principalmente no Voltemos ao nosso problema da oferta e procura de fatores. que se refere a um excesso de m��o-de-obra e uma escassez de capital. Dissemos que, nos pa��ses subdesenvolvidos, h�� abund��ncia relativa Entretanto, dado o atraso tecnol��gico vigorante nesses pa��ses, de m��o-de-obra e escassez de capital. Se sistema pudesse utilizar e tamb��m regime e uso da propriedade, n��o raro seu estoque fun����es t��cnicas de produ����o que empregassem mais m��o-de-obra de recursos naturais torna-se igualmente limitado. Se tomarmos e menos capital, talvez ent��o se atingiria uma situa����o pr��xima do um exemplo um tanto quanto extremado, em termos de bens ab- "equil��brio". Entretanto, e na maioria dos casos, as fun����es t��cni- solutamente abundantes, como ar, e bens com alto teor de es- cas de produ����o s��o criadas e desenvolvidas nos pa��ses mais adi- cassez, como certos min��rios, verificaremos que, quanto mais antados e revelam, assim, uma dada disponibilidade de fatores, um escassa for a oferta de um bem em um dado mercado, maior n��vel n��vel tecnol��gico e um n��vel de pre��os relativos vigentes nos con- absoluto e relativo atingir�� seu pre��o, e, em sentido inverso, textos desenvolvidos. Quando aplicadas em nossos pa��ses elas se quanto mais abundante sua oferta, menor ser�� seu n��vel de pre��o. defrontam com situa����es bastante diversas daquelas observadas Fa��amos aqui um par��ntese para melhor compreens��o do sen- nos pa��ses de origem: surge ent��o uma grande disparidade entre o tido absoluto e relativo dos pre��os. pre��o em si nada mais �� do volume e a qualidade dos fatores requeridos pelo sistema e a dis- que a quantidade de moeda requisitada para a compra ou a venda ponibilidade dos fatores a�� existente.��� de uma unidade de um bem qualquer (ou servi��o) no mercado. Por Portanto, a utiliza����o de tecnologias mais avan��adas em uma exemplo, a quantidade de dinheiro necess��ria para comprar uma economia subdesenvolvida, diante, principalmente, da escassez de entrada de cinema, um ma��o de cigarros, um autom��vel etc. Esta rela����o exprime conceito de pre��o absoluto. Quando, no entanto, cotejamos pre��o de um bem em rela- 6 Esse fato �� observado historicamente. Quando do dom��nio ingl��s na ��ndia, ����o ao pre��o de outro bem, estamos tratando de pre��os relativos. Por a fabrica����o de tecidos de algod��o, que ent��o utilizava uma fun����o de produ����o artesanal, com maci��o emprego de m��o-de-obra, foi modificada 5 Embora possa existir certo grau de desequil��brio fatorial em pa��ses passando a assumir um car��ter mais fabril, empregando mais capital e menos vidos, dado seu potencial de desenvolvimento, esse desequil��brio pode ser m��o-de-obra, fazendo que o excesso de m��o-de-obra naquele pa��s au- superado, entre outras formas, pelas rela����es econ��micas internacionais. mentasse ainda mais.74 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 75 capital nela observada, condiciona a quantidade e qualidade dos As fam��lias, ao se dirigirem ao mercado de servi��os de fato- fatores de produ����o a serem utilizados, determinando, no que se res, apresentam uma oferta que corresponde �� disponibilidade refere ao fator trabalho, tipos e a quantidade de trabalhadores fatorial do sistema, mas que, estruturalmente, pode diferir daque- qualificados e n��o qualificados que dever��o ser empregados, sem la demanda preeestabelecida. Se a economia funcionasse em um considerar, por outro lado, se a aplica����o dessa t��cnica gerar�� um regime de livre concorr��ncia, pre��os dos fatores abundantes grau maior ou menor de desemprego aberto de homens no sistema. tenderiam a n��veis muito baixos e dos escassos tenderiam a Isso pode ser assim resumido: a oferta fatorial do sistema, re- pre��os muito altos. fletindo a disponibilidade existente, quando se dirige ao "merca- Vejamos, na realidade, que ocorre. Se o pre��o da for��a de trabalho fosse unicamente fixado pelas condi����es de oferta e pro- do de servi��os de fatores" se defronta com uma demanda fatorial cura existentes no sistema, esse pre��o estaria hoje, nos pa��ses sub- pr��-condicionada pela tecnologia e pelos pre��os relativos dos ser- desenvolvidos, a um n��vel bastante inferior ao de subsist��ncia, vi��os de fatores. Esses ��ltimos t��m fun����o condicional espec��fica: que equivale a dizer que a maior parte da for��a de trabalho (e tam- como a exist��ncia de v��rias fun����es de produ����o para a obten����o b��m da popula����o inativa) estaria em um verdadeiro estado de po- de um mesmo produto oferece concomitantemente distintas com- breza. Isso, embora ocorra com mais freq����ncia em certas regi��es bina����es proporcionais de fatores, organizadores da produ����o de nossos pa��ses, tem sido contemporizado institucionalmente pe- calcular��o valor econ��mico correspondente a cada t��cnica de los governos, ao determinarem n��veis m��nimos salariais equivalen- produ����o e escolher��o sempre que poss��vel aquela fun����o de pro- tes a uma situa����o pr��xima �� de subsist��ncia.��� du����o que lhes d�� o menor custo e, por conseguinte, maior lu- Contudo, muito embora a oferta total de trabalho seja exces- cro poss��vel. Assim sendo, a disponibilidade fatorial do sistema siva em rela����o �� demanda, cabe distinguir a fra����o dessa deman- �� relegada mantendo-se como objetivo fundamental a maxi- da que requisita uma qualifica����o maior do trabalho, para certas miza����o dos lucros. atividades espec��ficas. Por��m, como n��vel m��dio e absoluto de qualifica����o da for��a de trabalho �� bastante deficiente, passa a 3.2.2 Estamos apresentando esses condicionamentos no mes- ocorrer uma invers��o de situa����o, de modo que as taxas de sal��- mo sentido do tr��nsito do fluxo nominal que apresentamos ante- rios de trabalho qualificado se elevam, criando um grupo "privile- riormente: seu "in��cio" no aparelho produtivo, pelo pagamento aos giado" no interior da pr��pria for��a de trabalho. Isso, por��m, �� propriet��rios dos fatores, seguindo at�� o mercado de bens e servi- contemporizado no tempo e no estado de subdesenvolvimento em ��os finais e, posteriormente, seu retorno ao aparelho produtivo. que se encontra tal sistema. Portanto, cabe aqui analisar as condicionantes que se apresentam Explicado de outra forma: �� medida que um sistema subdesen- no chamado mercado de servi��os de fatores. volvido instala compartimentos modernos e de alta produtivida- Nesse t��pico, veremos t��o-somente o problema da forma����o de a industrializa����o, por exemplo -, cria-se uma demanda at�� dos pre��os dos fatores. Vimos anteriormente que empres��rios ent��o incipiente de trabalho qualificado, que passa ent��o a ser defrontam-se com um sistema de pre��os relativos de insumos e de fatores, de um lado, e, de outro, com um rol de fun����es de produ- ����o. Assim, calculada a fun����o mais conveniente para cada uni- Ainda assim, e principalmente gra��as ��s pol��ticas neoliberais impostas a dade produtora (ou ramo de atividade), fica pr��-determinada a partir da d��cada de 1990, n��veis de pobreza e de indig��ncia da popula- demanda de servi��os de fatores do sistema, tanto em termos quan- ����o latino-americana, entre 1980 e meados da d��cada de 1990, saltam, titativos e qualitativos, como tamb��m por tipo de fator. respectivamente, de 25 e 9% para 35 e 12%!76 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 77 disputado no mercado de trabalho, gerando press��es de alta em ����es, criando-se assim chamado desemprego "disfar��ado ou ocul- seus pre��os. sistema, por��m, tratar�� de criar mecanismos corre- Desemprego aberto e oculto s��o efeitos decorrentes da din��- tores de tal "anomalia": surgir�� um enorme esfor��o por parte de mica do processo de acumula����o de capital. Ambos comp��em e governos e de organizadores da produ����o, no sentido de ampliar a amplificam ex��rcito industrial de reserva, como explicou Marx. oferta de educa����o t��cnica, para, a m��dio prazo, suprir sua escas- Com advento da atual reestrutura����o produtiva (a Terceira sez relativa. Decorrido, ent��o, certo lapso de tempo, essa oferta se Revolu����o Industrial) e a imposi����o de pol��ticas neoliberais, equilibrar��, para, em seguida, superar a pr��pria demanda, promo- descortina-se um cen��rio tenebroso para mundo do trabalho: vendo ent��o uma volta �� "normalidade" subdesenvolvida da bai- terceiriza����o, informaliza����o crescente, alto desemprego de longa xa taxa de sal��rios. dura����o (grande parte dos 35 milh��es de desempregados nos pa��- Isso pode ser mais bem compreendido se analisarmos a reali- ses da OCDE), diminui����o da jornada de trabalho, perda de "peso" dade do mercado de trabalho, no qual profissionais anteriormente pol��tico e institucional dos sindicatos etc. Esse fen��meno, que tem requisitados a "alto pre��o" passam a uma condi����o de "excedente sua maior manifesta����o a partir do in��cio da d��cada de 1980, nos relativo", aceitando menores taxas salariais ou mudando suas ati- pa��ses desenvolvidos, ganha for��a, a partir do in��cio da d��cada de vidades. Sem pretender provocar quaisquer desdouros a algumas 1990, nos subdesenvolvidos, ampliando perigosamente a crise so- categorias profissionais, d��-se uma precariza����o no mercado de cial que j�� se manifestava ao final da d��cada de 1970. trabalho, com economistas transformados em vendedores de com- Vejamos agora a fixa����o dos pre��os dos demais fatores. No to- putadores ou de m��quinas de escrit��rio ou ainda exercendo fun- cante ao capital, podemos classificar sua remunera����o em duas ����es de contadores; advogados transformados em agentes de taxas espec��ficas: a de lucro e a de juros. A de juros ocupa papel de publicidade ou em corretores imobili��rios; engenheiros agr��nomos destaque na teoria econ��mica como determinadora do inves- exercendo fun����o de vendedores de fertilizantes etc. timento, dos pre��os, de t��cnicas de produ����o etc. Ela aqui ser�� Assim, no tocante ao fator trabalho, vemos, de um lado, a de- tratada, simplificadamente, como simples remunera����o fato- manda pressionando sal��rios para baixo, e, de outro, a oferta rial. Suponhamos que uma determinada pessoa deseje instalar uma amparada, primeiro, pelo sal��rio m��nimo legal, e segundo, pela le- unidade produtora que necessitar�� de um investimento de gisla����o social e pelos sindicatos, como mecanismo de defesa dos $ 10.000; ela conta com um volume de rendimentos suficientes trabalhadores.��� Se, entretanto, esses trabalhadores qualificados para adquirir esses bens de capital, quais, portanto, ser��o de sua t��m uma "v��lvula de escape", isso n��o ocorre com os n��o qualifi- propriedade. Suponhamos que esse investidor estime que uma por- cados. Estes, ao se encontrarem em excesso no mercado, n��o t��m centagem de 15% sobre investimento represente uma aceit��vel outra alternativa sen��o desemprego, ou, na "melhor" das hip��- remunera����o ao capital investido no neg��cio, que lhe daria uma teses, exercer atividades marginais em termos de sal��rios ou ocupa- massa de lucros anuais de $ 1.500. Imaginemos que esse investidor n��o disp��e, na realidade, de 8 $ 10.000 e necessite tomar um empr��stimo banc��rio de valor equi- Os sindicatos, na maioria dos pa��ses subdesenvolvidos, t��m a����o e poder valente, e que o banco tenha fixado, como remunera����o m��nima pol��tico de press��o reduzidos, quer por suas tradi����es reivindicat��rias, quer pelo papel paternalista exercido pelo Estado em rela����o aos sindicatos. Excetuam-se alguns casos, que, dada a natureza de sua atividade ou n��mero e organiza����o de seus membros, conseguem efetivamente exercer 9 O desemprego oculto pode compreender v��rias modalidades prec��rias de seu papel: sindicatos de mineiros e dos estivadores e do setor ocupa����es/atividades de baixa produtividade, sal��rios abaixo do n��vel de sub- metal-mec��nico s��o exemplos t��picos. sist��ncia, reduzido n��mero de horas/dia trabalhadas etc.INTRODU����O �� ECONOMIA 79 78 WILSON CANO ao seu capital, uma taxa anual de 10%, que imp��e um pagamen- somente ser��o objeto de pre��o e de valor aqueles recursos limita- to ao banco de um montante de $ 1.000, a t��tulo de juros sobre o dos quer pela sua exist��ncia ou melhor, pelo seu estoque dispo- capital emprestado. Restaria, segundo c��lculos desse investidor, n��vel relativamente escassa ou pelo regime de propriedade. um saldo (1.500 1.000) de 500, que seria por ele apropriado e A terra, por exemplo, era um bem livre nos prim��rdios da civiliza- se denominaria lucro. Assim, lucro e o juro s��o as remunera����es ����o, mas, �� medida que homem foi delimitando e demarcando pagas ao capital pr��prio e de terceiros, respectivamente. Cabe as ��reas por ele ocupadas, ela passou a ter dono e a ser objeto de acrescentar que nenhum investidor racionalmente falando troca e, portanto, a ter um pre��o. estar�� disposto a investir, se a taxa de lucro decorrente dessa in- Todavia, pa��ses com imensas ��reas aptas ao cultivo ou �� cria- vers��o for inferior �� taxa de juros vigente no mercado. ����o est��o condicionados por uma estrutura da propriedade da ter- Como nos pa��ses subdesenvolvidos capital �� relativamente ra que cria uma limita����o artificial desse recurso. latif��ndio escasso, seu pre��o juro poderia atingir n��veis muito altos. improdutivo �� exemplo desse caso, ao impedir que maior volume Para impedir isso, governos podem atenuar a alta por meio de de homens trabalhe maior ��rea de terra, limitando a posse e uso mecanismos legais que disciplinem mercado financeiro e esta- desse recurso, escasseando-o, e for��ando portanto uma alta de seus bele��am "tetos" para a taxa de juros. Contudo, as pol��ticas neoli- pre��os. fen��meno da urbaniza����o pode tamb��m tornar mais es- berais impostas a esses pa��ses pelas institui����es internacionais cassas terras pr��ximas aos centros urbanos, as quais, pela especu- (e referendadas por seus governos) t��m feito que as taxas de juros la����o imobili��ria, sofrer��o de seus pre��os. atinjam n��veis "estratosf��ricos", como incentivo �� entrada de ca- Resumindo que vimos nesses dois "p��los" condicionadores pital financeiro do exterior. Os banqueiros beneficiam a especula- aparelho produtivo e mercado de servi��os de fatores -, dir��a- ����o e deprimem o investimento produtivo. mos que eles est��o em simbiose, gerando at�� aqui um efeito com- Muito embora n��o existam fixa����es legais de "m��nimos" ou de binado pela discrep��ncia entre a oferta e a procura de servi��os de "tetos" para as taxas de lucro, o sistema, por meio da tributa����o fatores, de um lado, e pela determina����o dos pre��os e portanto sobre lucros, pode tentar cont��-las, pela taxa����o progressiva-de demarca����o dos rendimentos de cada fator do trabalho, do capi- impostos sobre a renda. O lucro, pois, poderia de outra forma ser tal e dos recursos de outro. definido como a diferen��a entre as receitas provenientes da ven- Esse montante de rendimentos a renda ao custo dos fatores da de bens e servi��os e custos totais de produ����o, neles com- j�� em poder das fam��lias, pode receber nesse instante uma clas- preendidos gastos com insumos e remunera����o dos demais sifica����o adequada ao tipo de fun����o por elas exercida: ao traba- fatores: juros, sal��rios, alugu��is e deprecia����o.����� A soma de todos lho, caber�� a chamada renda do trabalho, e, aos propriet��rios, a renda rendimentos pagos aos fatores da produ����o (lucros, juros, sal��- da propriedade, classifica����o que se denomina reparti����o funcional da rios e alugu��is) nada mais ��, portanto, do que a chamada renda ao renda. Essa forma de reparti����o revela um primeiro elemento da custo dos fatores, que ser�� renda bruta se nesse montante estiver in- diferencia����o qualitativa que determina e define chamado po- clu��da a deprecia����o, e l��quida, em caso contr��rio. der de compra ou poder aquisitivo das fam��lias. Finalmente, resta uma breve discuss��o em torno da determi- na����o dos pre��os dos "servi��os" dos recursos naturais. Obviamente, 3.2.3 terceiro condicionamento se refere �� pr��pria estrutu- ra da propriedade, que se apresenta com duas faces: de um lado, as 10 N��o se entenda, do texto, que "os lucros s��o res��duo, entre pre��o e a fam��lias apresentam-se no mercado de servi��os de fatores dotadas subtra����o dos custos". Essa �� uma vis��o muito simpl��ria, pois as empresas, de um estoque de bens de capital, de posse dos recursos naturais, no cotidiano, tentam sobrepor aos custos a chamada "margem de lucro". do volume da for��a de trabalho qualificado e n��o qualificado.80 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 81 A propriedade desses fatores estabelece uma tipifica����o das fa- que compreendem produtos alimentares, algumas bebidas, cer- m��lias, segundo o tipo e a quantidade de fatores a elas pertencen- tos tipos de vestu��rio etc. tes. Suponhamos figurativamente que, tomada uma pir��mide, nela Por��m, quanto maior for seu n��vel absoluto de renda, menor estivessem dispostas as fam��lias segundo o grau de propriedade ser�� volume relativo dessa renda necess��rio �� satisfa����o das ne- fatorial: ter��amos, no alto da pir��mide, as fam��lias detentoras de cessidades fundamentais ou seja, bens de primeira necessida- enorme parcela do capital existente no sistema, da maior parte dos de sobrando portanto uma fra����o maior de renda que poder�� ser recursos naturais e de uma certa parte da for��a de trabalho qua- utilizada na aquisi����o de bens de consumo m��dio e artigos de luxo. lificada (A); no meio da pir��mide estariam alocadas as fam��lias de Por exemplo, enquanto uma fam��lia de renda m��dia digamos classe m��dia, propriet��rias de parte significativa do capital, de 1.000 gasta cerca de 40% de seu or��amento em alimenta����o apreci��vel parcela de recursos naturais, da maior parte da for��a portanto $ 400 uma fam��lia de alta renda $ 10.000 por hip��- de trabalho qualificado e de uma pequena por����o de trabalho n��o tese -, ainda que gaste, em valores absolutos, cinco vezes gasto qualificado (M); finalmente, na base est��o inseridas as fam��lias de alimentar da fam��lia anterior, essa parcela representaria t��o-so- baixo n��vel de propriedade, que, fundamentalmente, det��m a pro- mente 20% de sua renda m��dia ($ 2.000), sobrando-lhe ainda priedade de quase todo trabalho n��o qualificado, tendo ainda $ 8.000 para diversifica����o de consumo "mais nobre". Enquanto pequenas parcelas de capital e de recursos naturais (B). para a primeira fam��lia, seu or��amento de gastos se restringiria t��o- Essa propriedade fatorial, dirigida ao mercado de servi��o de somente aos chamados bens de primeira necessidade, a ��ltima, sa- fatores, e cedida mediante pre��os fatoriais nele determinados, tisfeitos OS gastos alimentares, j�� em si diversificados, teria acesso traduz a massa monet��ria da renda, n��o mais do ponto de vista aos bens e servi��os de consumo m��dio e aos chamados suntu��rios funcional, mas sim do ��ngulo pessoal da distribui����o. Trata-se da ou de luxo. chamada reparti����o pessoal da renda. Uma outra pir��mide refletiria Portanto, �� a distribui����o de renda de um sistema que estabe- agora n��o mais a estrutura da propriedade, mas sim OS n��veis abso- lece a pr��pria estrutura da demanda, a qual ser�� ainda afetada pe- lutos e relativos da renda familiar. Ter��amos a mesma disposi����o: las condi����es vigentes no chamado mercado de bens e servi��os de no alto, as fam��lias detentoras de altos n��veis de renda (A), no consumo, que passamos em seguida a examinar. meio, a classe m��dia (M) e, na base, as classes de baixos n��veis de renda (B). Ora, como a renda define o poder aquisitivo da comu- 3.2.4 Nesse mercado produtores, de um lado, ofertam a cor- nidade, a renda pessoal, especificada segundo n��veis de renda, re- rente de bens e servi��os de consumo fluxo real -, mediante vela igualmente o poder aquisitivo das fam��lias, n��o mais em pre��os preestabelecidos por eles mesmos, e as fam��lias, de outro, termos m��dios nacionais, mas sim, segundo classes de renda. adquirem esse produto, mediante a utiliza����o da renda, retornando Esse terceiro tipo de condicionamento a demarca����o do po- assim o fluxo nominal das fam��lias ao aparelho produtivo, e, por- der de compra das fam��lias nada mais �� do que a combina����o dos tanto, "encerrando-se" circuito econ��mico. dois efeitos anteriores (aparelho produtivo e pre��os dos fatores) Na teoria microecon��mica, �� estudado comportamento do agindo em interconex��o com a estrutura da propriedade e causan- consumidor quanto a prefer��ncias, gostos, pre��os e utilidades do portanto uma terceira diferencia����o entre as fam��lias, que se do consumo dos bens. Entretanto, ela tamb��m analisa compor- reflete na distribui����o pessoal da renda. Ao se dirigirem agora ao tamento dos empres��rios e a determina����o dos pre��os de mercado mercado de bens e servi��os de consumo, as fam��lias procurar��o, pela intera����o da oferta e da procura. At�� o in��cio do s��culo XX, primordialmente, satisfazer suas necessidades fundamentais, ou essa teoria configurava mercado como de livre concorr��ncia, supon- seja, adquirir primeiro os chamados bens de primeira necessidade, do a exist��ncia de um grande n��mero de produtores que tinham,82 WILSON CANO portanto, uma atomizada produ����o e oferta, e assim sendo n��o ti- nham condi����es de manipular pre��os, submetendo-se pois �� "sobe- rania do consumidor", qual, expressando no mercado suas "prefer��ncias", determinava ao aparelho produtivo qu�� e quanto produzir, resultando da intera����o da procura e das possibilidades da oferta a determina����o dos pre��os, ditos de equil��brio. No entanto, essa teoria se revela inconsistente, pelo fato de que CAP��TULO 4 sistema de livre concorr��ncia n��o existe (salvo rar��ssimas exem- plifica����es muito particularizadas), persistindo, isto sim, um sistema AS RELA����ES ECON��MICAS de concorr��ncia "imperfeita", no qual efetivamente produtores determinam n��o s�� tipos e qualidades dos bens e servi��os a serem INTERNACIONAIS consumidos, mas tamb��m, e que �� importante, seus pre��os. Al��m disso, as modernas t��cnicas de mercadologia aperfei- ��oaram grandemente a publicidade e a propaganda, por meio das quais consumidores s��o "orientados" consciente ou subli- minarmente em dire����o a determinados produtos, marcas, tipos, sabores, cores etc. Os gastos empresariais com propaganda e pu- blicidade representam itens importantes nos custos das grandes empresas. Nos tr��s cap��tulos anteriores fizemos algumas simplifica����es, Mesmo quando existe grande n��mero de produtores de um entre as quais a do funcionamento est��tico do sistema, a da bem no mercado, alguns deles concentram altas fra����es dessa pro- "inexist��ncia do governo" e a de que a economia era "fechada". du����o, sujeitando assim a oferta a manipula����es de pre��os, pela Neste, daremos uma vis��o de uma economia aberta ��s rela����es a����o do(s) produtor(es) dominante(s), ou pela a����o conjunta de com o exterior, permitindo breve e parcial compreens��o do fun- todos produtores. Esses tipos de "imperfei����es" concorrenciais cionamento din��mico da economia e deixando transparecer t��m caracter��sticas pr��prias, sendo mais evidentes monop��- quando inevit��vel algumas facetas da atua����o governamental. lios (exist��ncia de um s�� vendedor), oligop��lio (exist��ncia de Como adverti na apresenta����o deste livro, ele foi escrito, em apenas alguns vendedores), truste, cartel, pool etc. �� por meio sua primeira vers��o, em 1970, tendo como quadro geral de refe- dessas formas que s��o estabelecidos pre��os, condi����es de pagamen- r��ncia a d��cada de 1960, o avan��o da industrializa����o na Am��rica to, locais e tipos de distribui����o, cotas de produ����o entre os con- Latina e a situa����o mundial daquele momento, em que predomi- tratantes, usos de marcas comerciais etc. nava ainda a Guerra Fria e a Europa e o Jap��o assimilavam "sis- sistema de pre��os, portanto, presta-se a "ajustar" a oferta �� tema industrial norte-americano". procura, constituindo-se, pois, no elemento b��sico da distribui����o Entre aquela data e hoje ocorreram v��rios fatos extremamen- do fluxo real entre as fam��lias, n��o levando em considera����o as te importantes: endividamento externo da periferia internacio- necessidades individuais ou coletivas, mas t��o-somente poder de nal e sua subseq��ente crise, a exacerba����o da crise financeira compra individual. internacional, a ruptura do bloco socialista liderado pela URSS e, a partir da d��cada de 1990, a imposi����o, pelo imperialismo, das pol��ticas neoliberais e da "globaliza����o".WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 85 Essas mudan��as ser��o tratadas no t��pico 4.3 mas, ao longo dos aplicada na atualidade, grande parte da moderna produ����o indus- dois t��picos iniciais, muitos dados estat��sticos e informa����es desse trial somente seria efetuada em reduzido n��mero de pa��ses. per��odo estar��o inevitavelmente presentes. Somos levados, contu- Mais tarde, David Ricardo elabora a famosa teoria dos custos do, a antecipar desde j�� que o Brasil (assim como alguns outros comparados, tentando demonstrar que as na����es deveriam se espe- poucos pa��ses subdesenvolvidos) intensificou sua industrializa����o cializar n��o na produ����o de bens que apresentassem apenas van- sem perder sua condi����o de subdesenvolvido -, alterando mui- tagens absolutas, mas sim naqueles que apresentassem vantagens tos de seus dados estruturais da d��cada de 1960. relativas.�� Conforme escreve Barre,�� Ricardo tenta demonstrar sua teoria utilizando-se de uma compara����o entre custos de produ- ����o de vinho e de tecido, em Portugal e na Inglaterra: 4.1 A economia nacional e sua inter-rela����o com o do mundo" Quadro 4.1 A an��lise das rela����es internacionais envolve, na atualidade, alta complexidade, uma vez que abarca n��o s�� o com��rcio inter- Produ����o de Portugal Inglaterra nacional de mercadorias e servi��os, mas tamb��m outras modalida- des sociais e econ��micas, tais como migra����es populacionais, vinho (x garrafas) 80 horas de trabalho 120 horas de trabalho transfer��ncias de capital, ajuda militar, donativos econ��micos etc. tecido (y metros) 90 horas de trabalho 100 horas de trabalho Vimos, em breve passagem anterior, que as trocas em esp��cie evolu��ram com a chamada divis��o social do trabalho, introduzin- do a moeda e pre��os. �� medida que se aceleravam as descober- sendo que: "x garrafas de vinho trocam-se normalmente por y tas de novas t��cnicas de produ����o e dos transportes o barco a metros de tecido". vapor, por exemplo -, a divis��o do trabalho caminhava a largos passos e o com��rcio exterior, que preteritamente se realizava ape- Portugal, portanto, poderia produzir vinho e tecido em condi- nas entre grandes cidades de alguns pa��ses, passava ent��o a reali- ����es de vantagem absoluta em rela����o �� Inglaterra. Entretanto, a zar-se entre quase todas as na����es. teoria de Ricardo tenta demonstrar que, se Portugal se especia- A teoriza����o sobre esse fen��meno ganhou not��vel impulso a par- lizasse apenas na produ����o de vinho, obteria n��o s�� uma vanta- tir da expans��o mercantil do s��culo XVI e, notadamente, do grande gem absoluta, como tamb��m uma vantagem relativa. A Inglaterra, aumento que o capitalismo imp��s ��s trocas internacionais entre s��- por outro lado, especializando-se na produ����o de tecido, muito culos XVIII e XIX. As principais teoriza����es, obviamente, nasceram embora tivesse uma desvantagem absoluta, apresentaria uma van- no cen��rio da economia dominante da ��poca, a Gr��-Bretanha. tagem relativa. Smith postulava que cada na����o deveria se especializar na pro- Vejamos numericamente o desenvolvimento do problema: "se du����o de mercadorias para as quais existissem maiores vantagens compararmos a rela����o dos custos de produ����o de um bem (o vi- absolutas, ou seja, a produ����o que pudesse ser efetuada a custos mais nho) nos dois pa��ses (80/120) com a rela����o dos custos de produ- baixos do que nas demais na����es.�� Se essa "lei econ��mica" fosse 2 RICARDO, David. Princ��pios de economia pol��tica e tributa����o. S��o Paulo: Abril, 1974. SMITH, Adam. Op.cit. 3 BARRE, Raymonde. Manual de economia pol��tica. v.4, p.62-3.86 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 87 ����o do outro (90/100) veremos que Portugal tem uma superiori- 4.1.1 Os principais tipos de transa����es econ��micas dade, uma vantagem comparativa maior no vinho que no tecido internacionais e seu registro (80/12088 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 89 tado, dos Estados Unidos), teriam o mesmo pre��o, de 8$x? Certa- Voltemos ao aspecto real das trocas. A economia internacio- mente n��o, pois os pre��os de um mesmo bem podem ser diferen- nal pode ser entendida como um mercado complementar, tanto tes, em diferentes pa��ses, por uma s��rie de circunst��ncias: diferen��a para o escoamento de parte da produ����o gerada pelo aparelho pro- nos custos de mat��rias-primas ou nos sal��rios, diferen��as de pro- dutivo nacional, como para complementar atendimento ��s ne- dutividade, diferen��as de tributa����o etc. cessidades do mercado interno. No primeiro caso, d��-se uma sa��da Por exemplo, se as tarifas de importa����o incidentes sobre de mercadorias e de servi��os, denominada exporta����es de mercado- aqueles bens fossem de (ou seus custos de produ����o fossem mais rias e servi��os; no segundo, importa����es de mercadorias e servi��os, altos em), respectivamente, 10, 20 e 100%, seus pre��os, em $x, representando uma entrada de bens e servi��os reais. A contrapar- seriam de 8,80 (a), 9,60 (b) e 16,00 (c). tida necess��ria representa, no primeiro, uma entrada adicional de Contudo, a fixa����o daquelas rela����es (taxas cambiais), naquele renda, e no segundo, uma sa��da de renda interna. Todas as transa- momento, n��o garantiu que elas se mantivessem por muito tem- ����es econ��micas internacionais de um pa��s s��o registradas no cha- po. Com efeito, a partir disso, alguns pa��ses atravessaram grande mado Balan��o de Pagamentos Internacionais. prosperidade enquanto outros sofreram crises. Quase todos tive- Entretanto, podem subsistir transa����es em um s�� sentido, ou ram varia����es (positivas ou negativas) significativas em seus esto- seja, sem contrapartida real ou financeira: trata-se dos chamados ques de reservas (ouro e divisas) e em seus saldos comerciais e donativos ou transfer��ncias unilaterais que um pa��s (ou uma pes- financeiros com exterior. Essas oscila����es, dependendo de soa ou institui����o desse pa��s) concede a outro (ou a outras pessoas suas magnitudes, podem causar (como efetivamente causaram) ou institui����es desse pa��s). Entre servi��os prestados por um pa��s s��rias varia����es na rela����o entre cada moeda nacional e ouro a outro, destacam-se: transportes, seguros, turismo, rendas deriva- ou US$. das de direitos de propriedade (juros, lucros, alugu��is, royalties etc.), As moedas das diferentes na����es t��m diferentes valores e po- servi��os de trabalho (sal��rios, ordenados, honor��rios), aluguel de dem ter diferentes graus de poder de compra. Existem moedas que, filmes etc. dado seu alto poder de compra, sua estabilidade e tamb��m sua Toda sa��da (exporta����es) de mercadorias, de servi��os e de do- import��ncia relativa nas trocas internacionais, s��o tidas como nativos reais (p. ex. remessa de medicamentos a um pa��s que "moedas fortes", e sua aceita����o �� corrente como meio de paga- sofreu uma cat��strofe) significa uma diminui����o real em sua dis- mentos internacionais. ponibilidade interna de bens e servi��os. Esse fluxo real tem como que ocorre com as moedas "fracas" ou com as "intermedi��- contrapartida um fluxo nominal de ouro, divisas ou financiamen- rias"? Dir��amos que sua aceita����o, no mercado internacional de to concedido pelo pa��s exportador ao importador (o que aumenta pagamentos, praticamente inexiste. ��quela ��poca, poucas eram as nosso cr��dito no exterior e o d��bito do "resto do mundo", para com moedas aceitas nessas transa����es: d��lar americano, a libra ingle- nosso pa��s).��� sa, iene japon��s e o marco alem��o, em primeiro plano, seguin- No entanto, toda entrada real (mercadorias e servi��os) signi- do-se-lhes, o d��lar canadense e as moedas dos principais pa��ses fica um aumento da disponibilidade nacional de bens e servi��os e europeus restantes. Na ��rea asi��tica, dado o extraordin��rio cresci- tem, como contrapartida, uma sa��da de um fluxo nominal (ouro, mento econ��mico da China nos ��ltimos trinta anos e de seus sal- dos comerciais e de reservas, tamb��m sua moeda parece ensaiar alguns passos rumo a uma circula����o maior. Contudo, as moedas 9 Essa metodologia est�� contida no Manual de La Balan��a de Pagos, do FMI. da maioria dos pa��ses subdesenvolvidos praticamente circulam Ver, a respeito: FIGUEIREDO, F. O. Introdu����o �� contabilidade nacional. apenas dentro de suas respectivas fronteiras. Rio de Janeiro: Forense, 1971.90 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 91 divisas ou t��tulos de cr��dito) na forma de pagamentos efetuados ao Contudo, embora esse saldo seja macroeconomicamente con- exterior. Essas transa����es reais s��o denominadas i. ceituado nas contas nacionais como "poupan��a", �� preciso anali- As transa����es bilaterais (exporta����es e importa����es) que im- sar as causas do d��ficit em transa����es correntes para se verificar se plicam recebimentos (e financiamentos concedidos) e pagamen- ele decorre de gastos excessivos de importa����es de bens e servi��os tos (e financiamentos obtidos) internacionais s��o duplamente de consumo. Nesse caso, h�� um conflito entre conceito formal registradas: as reais, no balan��o de transa����es correntes, e suas de "poupan��a" (que �� a contraparte financeira do investimento) e contrapartidas nominais, no balan��o de capital. o lado real que a gerou (acesso de importa����es para consumo). Os donativos, por serem transa����es unilaterais, requerem uma Vejamos agora a contrapartida financeira. Ela �� registrada no imputa����o para o registro de sua "contrapartida": chamado Balan��o de Capital, que cont��m as entradas de capital (com sentido positivo, representando d��bitos contra��dos no exte- Os donativos em mercadorias s��o duplamente registrados rior, ou ainda financiamentos concedidos pelo exterior) e as sa��- em transa����es correntes, face �� metodologia de "dupla en- das de capital (com sentido negativo, representando cr��ditos e trada", como exporta����es (os concedidos) ou importa����es financiamentos concedidos ao exterior). 10 Resumidamente: (os recebidos), registrando-se a imputa����o do segundo lan- ��amento (no mesmo valor), nas mesmas rubricas (aos rece- IV. Balan��o de capital bidos faz-se a imputa����o em Exporta����es e aos concedidos em Importa����es). No Balan��o de Capital s��o registrados: i) as transa����es finan- Os donativos financeiros ter��o seu registro efetivo no Ba- ceiras bilaterais (empr��stimos, amortiza����es, investimentos etc.), lan��o de Capital e segundo, imputado, no Balan��o de com duplo lan��amento no ativo e no passivo; ii) as entradas e as Transa����es Correntes, com sinal contr��rio. sa��das de capitais devido ��s exporta����es e importa����es; iii) do- Resumidamente, as transa����es correntes podem assim ser apre- nativos especificamente financeiros. Os dois ��ltimos apresentam sentadas: suas contrapartidas no balan��o de transa����es correntes. A Entrada de capitais: ouro monet��rio, divisas, investimen- I. Balan��o comercial exporta����es de mercadorias, menos tos diretos, empr��stimos, financiamentos etc. importa����es de mercadorias. Sa��da de capitais: ouro monet��rio, divisas, investimentos II. Balan��o de Servi��os e Donativos exporta����es menos impor- diretos, empr��stimos e financiamentos ao exterior, amortiza����es da ta����es de servi��os e donativos: fretes, seguros, aluguel de d��vida externa etc. filmes, royalties, juros, donativos, turismo etc. A diferen��a de A-B nos d�� o saldo do balan��o de capital, que III. Saldo do Balan��o de Transa����es Correntes I + II "pou- mostra como foi financiado o saldo do balan��o de transa����es cor- pan��a l��quida do rentes (item III). Assim, quando saldo de transa����es correntes for positivo, representando uma diminui����o real de bens e servi- Se a diferen��a entre as entradas (-) e as sa��das (+) for negati- ��os, o saldo da conta de capitais ser�� negativo, significando que va, significa que houve um aumento l��quido real na disponibili- dade do pa��s, uma vez que do mundo" nos enviou mais bens e servi��os do que recebeu de n��s. Em outros termos, recebe- 10 A palavra capital tem aqui significado estritamente financeiro, e n��o real, mos uma "poupan��a l��quida do exterior". como os chamados bens de capital, por exemplo.92 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 93 estamos "financiando" resto do mundo em montante igual ao mundial, com Londres se consolidando como centro das finan- super��vit de transa����es correntes. Ao contr��rio, ser�� positiva a ��as internacionais. conta de capital se o do mundo" estiver financiando Esse com��rcio, que tinha forte conota����o liberal, no sentido nosso d��ficit em transa����es correntes. de um elevado grau de liberdade de movimenta����o de bens e ser- vi��os e de capitais, passou a sofrer controles restritivos, principal- mente pela Fran��a e Alemanha, que institu��ram ent��o sistemas de 4.1.2 Os mecanismos de controle���� impostos aduaneiros nitidamente protecionistas. Essa prote����o era ent��o invocada como mecanismo de defesa para produtos agr��- Dada a heterogeneidade dos agentes intervenientes nas tran- colas (Fran��a e Alemanha) ou industriais (Inglaterra, Fran��a, Ale- sa����es internacionais (governos, bancos, fam��lias, unidades produ- manha e Estados Unidos, principalmente). Ou seja: �� medida que toras, institui����es sem fins lucrativos, particulares etc.) bem como outros pa��ses se aproximaram da efici��ncia produtiva brit��nica (e a diversidade de opera����es (aluguel de filmes, donativos, ajuda em muitos casos at�� a ultrapassaram), a concorr��ncia se tornou militar, exporta����es etc.), as rela����es internacionais de um pa��s voraz e obrigou-os a retomar pol��ticas protecionistas. requerem uma complexa organiza����o e controle de sua execu����o. O sistema de pagamentos que ent��o vigorava no mercado in- Tal tarefa cabe ao governo, que a executa direta ou indiretamen- ternacional era o do chamado padr��o ouro, com liberdade de mo- te, mediante autoriza����es ou concess��es, reguladas por dispositi- vimenta����o do ouro ou de divisas (moedas nacionais fortes) bem vos legais, a bancos p��blicos e privados, empresas exportadoras, como a livre convers��o de ouro por moeda ou moeda por ouro. administradores de portos etc. Esse sistema come��a a ruir por volta da Primeira Guerra Mundial, Alguns tipos de rela����es internacionais, dada sua maior impor- destruindo-se totalmente com a grande crise mundial de 1929, e t��ncia, exigem maior controle, sendo assim executados, norma- a partir de 1931 praticamente todas as na����es j�� o tinham aban- lizados, fiscalizados, ou simplesmente orientados por organismos donado. A economia internacional, por for��a da crise mundial, e, internacionais criados especialmente para esse objetivo. Assim, por poucos anos mais tarde, pela eclos��o da Segunda Guerra Mundial, exemplo, temos a ONU; a OMS, para assuntos de sa��de; a Unesco, sofreria ent��o grande desarticula����o. para assuntos de educa����o; a FAO, para assuntos de desenvolvi- A tentativa de sua reorganiza����o iniciou-se pela cria����o, em mento agr��cola; a OMC (ex-GATT) e a UNCTAD, para o com��r- 1944 (Confer��ncia de Bretton-Woods), de duas entidades: o Fun- cio internacional de mercadorias e servi��os; o FMI, para assuntos do Monet��rio Internacional e Banco Internacional de Recons- monet��rios, financeiros e cambiais; BIRD, para financiamentos tru����o e Desenvolvimento. FMI foi criado com objetivos de de projetos de desenvolvimento etc. facilitar a expans��o do com��rcio internacional, assegurar a estabi- O com��rcio internacional teve impulso not��vel a partir da lidade cambial, conceder cr��ditos e financiamentos para solucio- segunda metade do s��culo XIX, com a Inglaterra liderando-o, se- nar d��ficits de balan��os de pagamentos etc. Foram seus subscritores guida pela Fran��a e Alemanha. A lideran��a do desenvolvimento iniciais 44 pa��ses,���� dispondo cada um deles de 250 votos iniciais, industrial pela Inglaterra tornou-a tamb��m a l��der do com��rcio mais um voto adicional a cada cota adicional de 100 mil d��lares, o que conferia (e confere) aos pa��ses mais desenvolvidos o voto de maioria. 11 Inevitavelmente, somos obrigados neste cap��tulo a comentar, ainda que preliminarmente, certas atua����es governamentais, que em outra parte deste texto ser��o mais aprofundadas. 12 n��mero de pa��ses-membros atinge hoje pouco mais de uma centena.94 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 95 Paralelamente �� cria����o do FMI, foi institu��do o BIRD, subs- tagem sobre valor dos bens importados ou exportados; podem ser crito pelos mesmos pa��ses e destinado a conceder empr��stimos e espec��ficas, estabelecendo um valor espec��fico de imposto para cada financiamentos para projetos e programas de desenvolvimento tipo de produto; ou podem ainda ser de base mista, compreenden- econ��mico e para a reconstru����o que se tornou necess��ria diante do taxa����o ad valorem e espec��fica. Elas t��m grande import��ncia, da destrui����o causada pela guerra. principalmente para pa��ses em vias de desenvolvimento, ao Em 1948 outra institui����o entrava em funcionamento: o Acor- permitir que a pol��tica econ��mica governamental possa estabele- do Geral de Tarifas e Com��rcio (GATT), com o objetivo de reor- cer, se necess��rio, maior grau de prote����o �� produ����o interna. ganizar o com��rcio e rebaixar impostos aduaneiros para, com mecanismo cl��ssico, depois da queda do padr��o ouro, �� a isso, liberar as trocas internacionais.���� Mas, a despeito de que suas taxa cambial, que estabelece, como vimos, pre��o nacional de uma cl��usulas s��o obrigat��rias para todos pa��ses subscritores, mais moeda estrangeira. Sua manipula����o est�� atrelada �� estabilidade desenvolvidos, dado que disp��em de maior poder pol��tico e eco- cambial e monet��ria de um pa��s, e sua queda ou sua alta pode n��mico, valem-se de outras formas protecionistas (n��o previstas provocar, entre outros, os seguintes efeitos: deteriora����o das fi- no Acordo). nan��as p��blicas, infla����o, defla����o, contra����o ou expans��o de ex- Os pa��ses subdesenvolvidos, basicamente exportadores de pro- porta����es ou importa����es, altera����o dos pre��os relativos etc. Ela dutos prim��rios, sempre se defrontaram com o velho e conhecido pode ser ��nica, quando se estabelece uma s�� taxa para toda problema da deteriora����o dos pre��os de suas exporta����es, pro- transa����o efetuada, e m��ltipla, se, como instrumento seletivo de blemas do financiamento do com��rcio e do exerc��cio de poder importa����es e exporta����es, remessas financeiras, entrada de capi- discricion��rio dos pa��ses ricos. Na d��cada de 1960, realizaram (so- tais etc. forem institu��das distintas taxas para distintas transa����es bretudo latino-americanos, apoiados pela Cepal) muitos esfor- ou diferentes produtos. ��os em prol da integra����o econ��mica regional e da cria����o de Certos acordos espec��ficos ratificados por um pa��s podem igual- mecanismos de defesa para suas exporta����es. Conseguiram, em mente converter-se em importantes instrumentos de controle. Tal 1964, promover a cria����o da UNCTAD, organismo internacional �� o caso dos acordos firmados entre pa��ses produtores e importa- que tenta intervir politicamente sobre esses efeitos perversos, mas dores de produtos prim��rios, como Acordo Internacional do Caf��, com resultados modestos at�� hoje. do cacau, do algod��o, do sisal e outros, por meio dos quais se esta- Em suas fronteiras pol��ticas cada pa��s estabelece, em maior ou belecem normas referentes a cotas de produ����o, exporta����o e im- menor grau, outros instrumentos e mecanismos de controle res- porta����o, tipos de produtos, pre��os, tipos de transporte e de tritivos ou fomentadores de suas transa����es. A maior parte des- embalagem etc. ses instrumentos, entretanto, s�� pode vigorar durante um certo Contudo, pa��ses podem ainda estabelecer, desde que n��o per��odo permitido pelos Acordos. Citaremos aqui t��o-somente estejam submetidos ��s san����es internacionais da OMC, por alguns dos principais mecanismos utilizados. exemplo -, outros tipos de controles quantitativos e qualitativos: es- Um primeiro mecanismo �� o que se refere �� institui����o e ma- tabelecendo crit��rios seletivos para importa����es, regime de licen- nipula����o das tarifas aduaneiras, ou impostos de importa����o. Podem ��as para importar ou exportar, contingenciamento, cotas de ser elas institu��das na base ad valorem, que estabelece uma porcen- mistura de insumos nacionais com insumos importados, maior ri- gor de controles fitossanit��rios, tempo m��nimo de perman��ncia de investimentos etc. Os Estados Unidos, por exemplo, usam, sempre 13 GATT, em 1995, foi substitu��do pela Organiza����o Mundial do Com��r- que lhes conv��m, "acordos de restri����es volunt��rias" sobre deter- cio (OMC). minadas importa����es de alguns pa��ses.96 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 97 4.1.3 Os efeitos do inter-relacionamento na Essa depend��ncia de suprimento externo pode ser avaliada economia nacional mediante coeficiente de abertura comercial do sistema, que �� a re- la����o entre montante das exporta����es (X) ou importa����es (M) Nenhuma economia nacional pode ser considerada aut��rquica e PIB (Y). Assim, pa��ses grandes ou de grandes mercados, como em sentido absoluto. Seu grau de abertura para o exterior varia de a ��ndia, Brasil, Estados Unidos e Jap��o, apresentam coeficientes acordo com suas possibilidades internas de produ����o, dimens��o baixos (ver Quadro 4.2). Isso se deve �� dota����o mais diversificada de seu territ��rio e de seu mercado, condi����es de solo e clima etc. de recursos naturais, maior dimens��o de seus mercados internos e Quanto maior for territ��rio de um pa��s e sua dota����o de recursos tamanho e diversifica����o da capacidade produtiva industrial. naturais, suas necessidades de importa����o tendem a se reduzir �� Pa��ses pequenos e m��dios, ao contr��rio, apresentam coeficien- medida que se desenvolve, ficando, portanto, o aparelho produti- tes mais altos, pois sua depend��ncia externa para completar sua voltado basicamente para atendimento da demanda interna. oferta �� muito mais alta e diversificada, exigindo elevadas impor- Para a maioria dos pa��ses pequenos, contudo, com��rcio ta����es e, obviamente, tamb��m elevadas exporta����es para pag��-las. exterior pode constituir importante mecanismo de crescimento Entre estes, contudo, os desenvolvidos, por terem atingido maio- econ��mico, por meio de especializa����o e altos coeficientes de ex- res n��veis de renda e alto padr��o industrial (com que atingem porta����o e importa����o, desde que tais pa��ses consigam realmente alta efici��ncia e competitividade), podem n��o s�� importar muito produzir bens e servi��os competitivos com dos pa��ses desenvol- mais do que subdesenvolvidos, como tamb��m exportar muito. vidos. Isso, contudo, esbarra em enormes obst��culos, no que se O Quadro 4.2 evidencia essa diferen��a, quando comparamos os refere aos bens industriais n��o tradicionais. dados de Guatemala e Col��mbia com de ��ustria e Holanda. Cumpre mencionar, por outro lado, que essa produ����o especializa- da compreende normalmente produtos manufaturados de alto valor Quadro 4.2 Coeficientes de abertura comercial no mercado internacional, como avi��es, aparelhos e m��quinas de alta precis��o, eletr��nicos, de inform��tica etc. Com isso, eles passam a re- De exporta����es (x/y) ceber outra vantagem adicional do com��rcio internacional, derivada De importa����es (m/r) 1965 1990 da troca de produtos manufaturados (de alto valor agregado) por ali- 2000 2004 1965 1990 2000 2004 mentos ou mat��rias-primas, assunto que abordaremos mais adiante. Guatemala A disparidade de recursos naturais existente entre pa��ses, 23,9 15,9 14,9 11,1 32,0 21,3 26,5 29,4 Col��mbia como vimos, pode ser pelo menos parcialmente solucionada pelo 16,1 16,5 15,6 17,0 11,8 13,6 13,8 17,5 ��ustria com��rcio exterior, pela j�� aludida troca de "fatores escassos por 10,2 26,6 35,0 37,3 18,2 31,7 37,4 37,2 abundantes". Quanto aos demais fatores de produ����o, cumpre des- Holanda 20,7 47,0 62,9 54,9 35,9 45,1 58,9 49,0 ��ndia tacar que capital, para se deslocar no espa��o econ��mico, pode 6,9 7,3 9,1 10,5 14,6 7,7 11,1 13,8 estar submetido a restri����es legais, pol��ticas e a determinados obje- Brasil 6,4 7,2 9,2 16,3 8,1 7,6 9,7 11,1 tivos econ��micos. Entretanto, nesta ��poca em que viceja neo- Jap��o 4,8 9,7 10,1 12,1 8,4 7,9 8,0 9,7 liberalismo, tais restri����es foram consideravelmente minoradas. EUA 4,1 6,9 8,0 7,0 4,3 9,6 12,9 13,0 fator trabalho apresentou seu apogeu, no que se refere a mo- bilidade espacial, entre fim do s��culo XIX e as duas primeiras d��- Fonte: Para 1965-1990 BIRD Relat��rios anuais. (Valores a US$ de 1987), para cadas do XX, quando cerca de 40 milh��es de pessoas emigraram 2000-2004, UNCTAD, US$ correntes. principalmente da Europa em dire����o ao "Novo Mundo" e, desseINTRODU����O �� ECONOMIA 99 98 WILSON CANO total, cerca da metade foi absorvida pela economia americana. As as importa����es de insumos (mat��rias-primas, transportes, seguros migra����es podem ser interpretadas como transfer��ncia de "poten- etc.) na matriz da demanda intermedi��ria continuando a linha cial produtivo" de um pa��s a outro. at�� a matriz da demanda final, representando os bens finais de Nos registros do Balan��o de Pagamentos n��o figurar��o as "im- consumo e de capital importados. Inclu��mos uma coluna na ma- porta����es" ou "exporta����es" de trabalho humano ou de recursos triz da demanda final, representando as exporta����es de bens e ser- naturais, mas, sim, a presta����o de seus servi��os, ou seja, do lado real, vi��os finais ou intermedi��rios. Vemos agora que o PIB do pa��s servi��os prestados por fatores de propriedade de residentes no sofreu modifica����es pela entrada de importa����es (M) e pela sa��da exterior (entrada de servi��o real), tendo ambos uma contraparti- de exporta����es (X). da financeira. No caso do fator trabalho, portanto, figurar�� t��o- somente valor do servi��o prestado e seu pagamento. Os imigrantes em car��ter definitivo n��o implicam qualquer Quadro 4.3 A matriz de insumo produto no modelo aberto tipo de pagamento por seus servi��os, uma vez que, ao adotarem essa qualidade de imigrantes, incorporam-se �� for��a de trabalho nacional. Comumente, por��m, geram um tipo de ��nus para pa��s, Demanda Demanda final no tocante aos donativos (reais ou financeiros) remetidos a seus intermedi��ria familiares no exterior. No caso dos recursos naturais figurar��o valores dos servi��os I II III DI K X DF VBP prestados e seus respectivos pagamentos (ou recebimentos). Caso t��pico de servi��o de recursos naturais �� a explora����o de jazidas I 5 25 30 50 25 75 105 minerais em um pa��s, por empresas estrangeiras. II 15 20 5 40 70 25 95 135 No que se refere ao fator capital, cabe distinguir entre capital III 15 5 20 55 5 60 80 real e financeiro����� (dinheiro, t��tulos etc.). primeiro ser�� aqui re- Produ����o presentado pelo conjunto de bens de capital e pelos servi��os deri- nacional 20 60 10 90 175 25 30 230 320 vados da utiliza����o de direitos de propriedade comercial (marca comercial, ex.), de ci��ncia e tecnologia (t��cnicas de produ����o, Importa����es 5 15 20 5 10 15 35 VBP processos produtivos etc.) e ainda pelos servi��os prestados pela utiliza����o de capital pertencente a residentes no exterior (entrada (M) + Subtotal 25 75 10 110 180 35 30 245 355 M' real) ou de nacionais prestados ao exterior (sa��da real). Como no Cap��tulo 2, tamb��m aqui nos utilizaremos de uma matriz de insumo-produto para evidenciar a interdepend��ncia SO 30 20 30 80 (*) Esse total computa setorial e estrutural da economia, nela inserindo algumas dessas L 35 25 20 80 duplamente os insumos importados rela����es com o exterior.����� Introduzimos uma linha representando J 3 7 10 20 A 10 3 7 20 14 Mais adiante, dissertaremos sobre capital financeiro. D 2 5 3 10 15 Para uma discuss��o te��rica e operacional do modelo matricial de "insumo- VAB 80 60 70 210 produto" ver: MIGLIOLI, J. T��cnicas quantitativas de planejamento. Petr��polis: VBP+M 105 135 80 320 Vozes, 1976, e citado texto de FIGUEIREDO, F.O.100 WILSON CANO INTRODU����O �� ECONOMIA 101 No modelo fechado, t��nhamos: oferta demanda de importa����es, uma vez que recursos financeiros para pag��-las prov��m, como regra geral, dos recursos em divisas gerados pelo fluxo de exporta����es. a equa����o da oferta nacional passa agora a ser: oferta total Dadas as condi����es de seu desenvolvimento econ��mico ou de subdesenvolvimento e as oportunidades existentes no e a demanda com��rcio internacional, pode um pa��s dedicar uma parte de seu potencial produtivo interno para a produ����o export��vel, diversi- como, teoricamente, a oferta �� igual �� demanda, temos que: ficando sua atividade interna e complementando sua oferta com importa����es. A an��lise da estrutura da pauta de exporta����es de uma econo- o que nos permite afirmar que: mia pode dar uma primeira aproxima����o de seu grau de desen- volvimento. Assim, estruturada a pauta de exporta����es em: No exemplo contido na matriz aqui inserida, vemos que foram mat��rias-primas (a), alimentos (b) e produtos manufaturados (c), importados: de insumos prim��rios e $ 15 de insumos industriais quanto maior for a participa����o relativa dos bens de tipo a e b, (totalizando $ 20 de bens intermedi��rios), de bens de consu- maior ser�� o grau de subdesenvolvimento e menor grau de in- mo e $ 10 de bens de capital (somando $ 15 de bens finais), perfa- dustrializa����o. Ao contr��rio, se bens de tipo tiverem maior zendo um total de $ 35 bens e servi��os importados. J�� o setor participa����o na pauta de exporta����es, isso pode ser um dos indi- prim��rio exportou $ 25 de sua produ����o bruta total, cabendo os cadores de maior desenvolvimento. restantes ao terci��rio, perfazendo total de para as expor- Em m��dia, bens de tipo a e b totalizavam, na d��cada de ta����es de bens e servi��os. 1960, cerca de 75% ou mais das exporta����es dos pa��ses subdesen- Vejamos agora as implica����es reais que as trocas internacionais volvidos, enquanto, nos pa��ses desenvolvidos, esses itens giravam causam na economia. Em primeiro lugar, examinemos papel das em torno de 30%. Para os pa��ses subdesenvolvidos que consegui- exporta����es. Elas fazem parte da produ����o total de um pa��s, e, por- ram avan��ar suas industrializa����es, aquela cifra diminuiu conside- tanto, delas depende em boa medida (na raz��o do coeficiente de ravelmente, e suas exporta����es de manufaturados j�� apresentam abertura do sistema) o n��vel de atividade da economia. Deve-se n��veis em torno de 30 a 50%. Por exemplo, o Brasil, em 1965, ti- destacar, no entanto, que as exporta����es constituem uma vari��vel nha apenas 8% de suas exporta����es constitu��das de manufatura- externa �� economia, uma vez que a atividade exportadora depende dos, cifra que passa a 55% em meados da d��cada de 1980. de demanda internacional, escapando portanto, em parte, ��s deci- Dadas as condi����es de subdesenvolvimento, pa��ses do "tercei- s��es internas de um pa��s. Se a demanda internacional apresenta-se ro mundo" s��o importadores l��quidos de servi��os internacionais, com crescimento din��mico, isso significa, na economia nacional, sobretudo financiamentos, transportes e seguros, apresentando, com um crescimento do "compartimento exportador", com aumento isso, situa����es permanentemente deficit��rias em seus balan��os de do n��vel de renda e do emprego interno. servi��os. No que se refere ��s importa����es, a pauta dos pa��ses subde- No entanto, se a demanda internacional se apresentar estag- senvolvidos, no in��cio da d��cada de 1960, apontava uma propor����o nante ou mesmo cadente caso de alguns produtos prim��rios a de produtos a e b de cerca de 35 e de 65% para os manufaturados economia nacional pode se defrontar com uma s��ria amea��a de e, para os desenvolvidos, de 75 e 25%, respectivamente. retra����o econ��mica (queda da produ����o e do emprego), destacan- Assim, pa��ses pobres s��o tipicamente importadores de bens do-se que poder�� ainda sofrer s��rias limita����es para manter seu fluxo manufaturados, e desenvolvidos, de alimentos e mat��rias-pri- BIBLIOTECA-IE-UNICAMP