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1 José Dafico Alves MANUAL DE TECNOLOGIA DO CONCRETO 2 MANUAL DE TECNOLOGIA DO CONCRETO Goiânia, GO 2014 © 2014 by José Dafico Alves Série Compêndios, 5 Editora da PUC Goiás 3 Rua Colônia, Qd. 240C, Lt. 26-29 Chácara C2, Jardim Novo Mundo. CEP. 74.713-200 Goiânia Goiás Brasil Secretaria e Fax (62) 3946-1814, Revistas (62) 3946-1815 Coordenação (62) 3946-1816, Livraria (62) 3946-1080 http://www.pucgoias.edu.br/ucg/editora/site/ Comissão Técnica Ana Amélia Ramos Amaral Gabriela Azeredo Santos Servian Luzia de Souza Pimenta Guedes Preparação de Originais Biblioteca Central da UCG Normalização Júnio Elder da Costa Editoração Eletrônica Félix de Pádua Arte Final da Capa Laerte Araújo Pereira Produção de Arte Gráfica e Capa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, GO, Brasil A474m Alves, José Dafico Manual de tecnologia do concreto / José Dafico Alves. 4. ed. rev. atual. – Goiânia: Ed. da UCG, 2002. 219 p.: il. (Série Compêndios; 5) ISBN: 85-7103-155-X 1. Concreto. 2. Concreto – fabricação. 3. Concreto – tecnologia. 4. Concreto – resistência. 5. Materiais de construção. I. Título. II. Série. CDU: 691.3 624.012.45 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, microfilmagem, gravação ou outro, sem escrita permissão do editor. Impresso no Brasil 4 À minha esposa e companheira Maria Isaias da Silva 5 SUMÁRIO LISTA DE EQUIVALÊNCIAS 8 1 INTRODUÇÃO 9 Definições 11 Evolução Histórica do Concreto 12 Algumas Características do Concreto 13 Análise Estatística da Resistência do Concreto 18 Evolução do Controle de Qualidade do Concreto 18 2 MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DO CONCRETO 20 Considerações Iniciais 20 Resistência/Idade do concreto 20 Resistência à Tração/Resistência à Compressão 21 Evolução da Resistência do Concreto e Algumas Propriedades Importantes 22 3 CIMENTO 24 Composição Química 24 Hidratação dos Compostos do cimento 25 Microestrutura da Pasta 25 4 AGREGADOS 30 Generalidades 30 Granulometria 30 Características dos Agregados 31 Substâncias Deletéreas 33 Produção de Agregados 38 5 ÁGUA 41 Generalidades 41 Água do Mar 41 Águas Residuais 43 Conclusão 43 6 MATERIAIS CIMENTÍCIOS 44 Escórias de Alto-forno 44 Cinzas Volantes 44 Pozolanas – NBR 12653 45 Cinza de Casca de Arroz 46 Sílica Ativa 46 7 ADITIVOS 47 Classificação dos Aditivos 48 Contribuição dos Aditivos na Tecnologia do Concreto 48 Evolução dos Aditivos 49 Contribuição das Adições Minerais na Durabilidade do Concreto 49 Aditivos Redutores da Retração 52 8 DOSAGEM 54 Composição da Mistura Sólida 54 Método das Misturas Sucessivas 54 Métodos de Dosagens 55 Concreto para Barragens 61 Concreto Compactado a Rolo- CCR 68 Concreto de Alto Desempenho – CAD 72 Concreto com Pó Reativo – CPR 76 6 Concreto de Cimento e Polímeros 80 Concreto para Blocos 82 Concreto Projetado 89 9 CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS 89 Introdução 89 Características das Principais Fibras 89 Propriedades do concreto Reforçado com Fibras 89 Considerações Finais 94 10 EVOLUÇÃO DAS TEMPERATURAS NO CONCRETO 95 Considerações Gerais 95 Técnicas de Redução do Efeito Térmico 95 Concreto não Refrigerado 96 Concreto Refrigerado 96 Elevação das Temperaturas do Concreto 97 11 FISSURAÇÃO E RUPTURA 99 Considerações Gerais 99 Módulo de Elasticidade 99 Ruptura 104 12 FABRICAÇÃO E CONTROLE DO CONCRETO 105 Fabricação 105 Controle de Qualidade 116 13 DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO 119 Definição 119 Causas da Deterioração 119 Conclusões 126 14 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO 128 Introdução 128 Compatibilidade Entre Materiais 128 Sistema em Concreto 129 Significado da Pesquisa 130 Demolição 131 Preparo da Superfície do Substrato 132 Testes de Aderência 132 Reparos de Fissuras 133 Conclusão 134 15 VANTAGENS DO USO DO CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO PARA PLANEJAR E EXECU- TAR REPAROS EM ESTRUTURAS 135 Introdução 135 O CAD na Recuperação de Estruturas Deterioradas 136 Passividade da Armadura 138 Carbonatação 138 Penetração de Cloretos 139 Difusão de Oxigênio 139 Resistividade Elétrica 140 Conclusão 141 REFERÊNCIAS 142 LISTA DE EQUIVALÊNCIAS 7 Kgf = 9,807 Newtons (N) Tensão Pa = N/m² MPa = N/mm² 109 = giga (G) 106 = mega (M) 103 = quilo (K) 102 = hecto (h) 10 = deca (da) 0,1 = deci (dm) 0,01 = centi (cm) 10-3 = mili (mm) 10-6 = micro (µ) 10-9 = nano (nm) 0,1 nanômetro (nm) = 1 angstrom (Å) INTRODUÇÃO 8 O concreto faz parte da evolução do homem e está presente em todas as obras projetadas para a melhoria das condições de vida da humanidade. Seria muito difícil imaginar o progresso se não fizéssemos uso do concreto. Para enfatizar a importância do concreto na vida desse planeta, basta verificar que um dos parâmetros de medidas do progresso das nações é o consumo per capita do concreto. Já se planejou o uso do concreto para a construção de bases planetárias com o intuito de oferecer condições de vida humana em outros planetas. A partir da avaliação da qualidade do concreto, adotam-se novas metodologias para adequá-la às exigências das obras atuais, que são projetadas com os recursos da informática e exigem melhor desempenho dos materiais estruturais. Um processo mais refinado facilita o reconhecimento das propriedades do concreto bem como seu conhecimento na estrutura da obra. Dentro desta ótica, verifica-se a necessidade de conceber uma metodologia que nos dê melhor condição para interpretar os resultados obtidos na avaliação. Propriedades dos Materiais As propriedades dos materiais mereceram atenção especial pela primeira vez no documento oficial do Comitê Europeo du Beton (CEB), publicado em 1964, “Recomendaciones Prácticas unificadas para el cálculo y la construcción de las estructuras de Hormigón Armado”. Essa recomendação foi publicada em edição elaborada pelo Instituto Eduardo Torroja de la Construcción y del Cemento. Nas considerações teóricas da Teoria das Estruturas, passou-se a levar em conta os estados limites superior e inferior, de acordo com as concepções admitidas na elaboração do projeto. A análise dos estados limites de utilização é baseada nos valores estatísticos das propriedades medidas dos materiais,reduzindo tensão superficial da água de amassamento e produzindo a fluidez da mistura. Contribuição dos Aditivos na Tecnologia do Concreto As três maiores inovações ocorridas na indústria do concreto, ao longo do século XX, foram: Descoberta do fator A/C por Duff Abrams; Uso de incorporadores de ar para melhorar o desempenho no congelamento e degelo; Descoberta dos aditivos superplastificantes para permitir uma grande redução de água e um significante aumento na consistência. Ocorreu a evolução dos aditivos e da tecnologia do concreto. Surgiu o Concreto de Alto Desempenho (CAD) que vem assumindo todas as aplicações na estrutura e infraestrutura desde o final do século XX. Todos os países vêm se adaptando a esse novo produto para suas obras. Dessa forma, abre-se um novo horizonte para o crescimento da tecnologia do CAD e dos projetos estruturais, dentro das características oferecidas por esse novo produto bem como o surgimento de novos aditivos, trazendo grandes vantagens na redução. Assim, há maior redução da água e maior redução do fator A/C e, como consequência, um substancial aumento a resistência do concreto e de sua durabilidade. Os aditivos redutores de água de alta eficiência do tipo F e os do tipo G (ASTM) são também retardadores e superam, em muito, os aditivos normais, tipo A, D e E, porque estes permitem uma redução de apenas 5% na água do concreto, enquanto os do tipo F e G 48 podem reduzir até 30% numa dosagem de 197 à 657 ml por saco de cimento. Evolução dos Aditivos Em 1930, a partir do desenvolvimento dos aditivos redutores de água, tais produtos tornaram-se componentes essenciais nos traços do concreto. Atualmente, não pensamos em dosar concretos sem o uso de aditivo. Nas duas últimas décadas do século XX, houveram grandes projetos de estruturas de barragens, estruturas protendidas de pontes, edifícios altos e plataformas para exploração de petróleo. Ao mesmo tempo, apareceram, no mercado de materiais, vários tipos de aditivos redutores de água muito mais eficientes, os chamados superplastificantes. Em 1980, a ASTM realizou uma revisão da norma de aditivos, a ASTM C494, quando foram incluídos os superplastificantes tipo F e tipo G. Os aditivos superplastificantes Estes aditivos são do tipo de lignosulfonato com propriedades que vão além da redução da água e não interferem na pega, na resistência inicial e no entrelaçamento dos componentes do concreto. Tem ainda os carboxilatos que também possuem alto desempenho na redução da água de amassamento. A substituição do cimento por cinza volante e ou sílica ativa tem sido muito usado nos concretos de alto desempenho. Contribuição das Adições Minerais na Durabilidade do Concreto As adições minerais aqui denominadas são os materiais naturais ou artificiais que possuem sílica de forma não cristalizada. Essa sílica tem atividade com o cimento e os produtos que a contêm são chamados de pozolanas. A ASTM C618-94 define a pozolana como um material silicoso ou sílico-aluminoso que só tem atividade quando, finamente subdividido e adicionado ao cimento ou como substituição de parte deste, reage com a cal hidratada, produzindo o CSH secundário na hidratação do cimento. A ASTM C618-94 classifica as pozolanas em: Classe N – cinzas vulcânicas calcinadas Classe F – cinzas provenientes do carvão betuminoso pré-dominando o teor de sílica Classe C – cinzas predominantes do carvão sub-betuminoso e lignina, ricas em cal 49 Para a sílica ativa ou fumo de sílica, ainda existem poucas normas para regulamentar seu uso no concreto. A ASTM C1240- 93 estabelecem os requisitos para o uso da sílica ativa (SA) no concreto, embora a ASTM C618-94 a exclua. Acreditamos que, em breve, haverá vasta regulamentação sobre esse novo aditivo. A cinza volante (CV) é adequada para combater a reação álcali-sílica e o ataque de sulfatos. Tais propriedades são conferidas ao concreto pela atividade pozolânica, reduzindo a sua permeabilidade e, dessa forma, reduzindo também a penetração de agentes agressivos. A SA é um tanto mais eficaz, porque reage preferencialmente com os alcalis. Apesar de ser o mesmo produto da reação dos álcalis do cimento e da sílica do agregado, ela se processa de forma muito mais rápida, fixando os produtos alcalinos do cimento e, como consequência, produzindo uma reação não expansiva. A escória de alto- forno também é muito eficaz no combate à reação álcali-sílica. A sílica ativa, em virtude do seu alto grau de finura, produz uma atividade pozolânica mais rápida, permitindo maior elevação da resistência do concreto na sua idade inicial. O concreto com SA desenvolve uma resistência inicial muito alta. Já ficou comprovado o alto desempenho da combinação de CV e SA contra os agentes agressivos. Ozyldinim e Halstead (nov./dez. 1994, p. 587-594) usaram combinações de CV e SA em concretos com resistências relativamente altas, empregando cimento tipo II e tipo III da ASTM. Nas duas séries de testes, substituíram 30% e 35% de CV mais 5% de SA no cimento. Esses teores apresentaram resistência satisfatória no concreto aos 28 dias e baixa permeabilidade em relação ao traço de referência. Essas misturas tinham fatores A/C 0,40 e 0,45. A idéia de usar A/C nesses valores deu-se em razão de 0,40 ser próprio para concretos dos tabuleiros das pontes e 0,45 dos concretos de seus pavimentos. Nessas misturas estudadas, os teores de ar estavam entre 6,2% a 7,5% e, abatimentos entre 85 mm e 100 mm. Os valores da resistência à compressão ficaram acima de 27,6 MPa. Ficou evidenciado nessa pesquisa que os concretos com cimento tipo III (de alta resistência inicial) apresentaram maior resistência entre 1 e 7 dias, em relação ao concreto de referência, porém não cresceram muito aos 28 dias. O cimento tipo II (moderado calor de hidratação) – com substituições cimento/cinza de 65/30 e 60/35 e mais 5% de SA não apresentou nos concretos variações significativas em relação ao traço base. No tocante à permeabilidade e à difusão de cloretos em função das várias condições de cura, verificaram-se os comportamentos a seguir: 50 O cimento tipo II apresentou maior permeabilidade a cloretos nas misturas com A/C = 0,45, reduzindo a permeabilidade para concretos com A/C = 0,40. O cimento tipo III teve comportamento diferente, dando melhores resultados para os concretos com os dois fatores A/C = 0,40 e 0,45, indistintamente. As condições de cura dos concretos para os dois tipos de cimento foram diferentes devido às suas características peculiares de hidratação. Nos concretos com cimento tipo III, a cura úmida foi de 1 a 3 dias a 38º C. Nos concretos com cimento tipo II, aplicou-se cura úmida de 1 dia a temperaturas de 23º C e 38º C. Concluiu-se que as adições de CV e SA, em concretos com A/C 0,40 e 0,45, apresentaram resistências satisfatórias aos 28 dias, com a vantagem de redução da permeabilidade. Também esses concretos, se submetidos à cura inicial de 38º C, reduzem a permeabilidade a cloretos. Pode-se, ainda, verificar que concretos com CV e SA têm bom desempenho nos pavimentos de pontes e nas estruturas expostas a atmosferas salinas. Sua habilidade será aumentada quando for submetida à cura úmida inicial a 38º C. É importante salientar que CV e SA são componentes úteis no concreto, pois, além de economizarem cimento, apresentam várias outras vantagens já mencionadas. Alertamos para o exagero no uso desses aditivos sem conhecimento da sua real necessidade na obra. Deve-se abolir a tendência do uso indiscriminado de aditivos minerais no concreto, porque essas adições reduzem o pH e ainda exigem um aumento no consumo da água de mistura. É necessária uma avaliação das características dos materiais e do tipo da obra para equacionar melhor o concreto eaumentar sua vida útil. Por tudo que já foi pesquisado sobre a utilização de aditivos minerais, fica clara a sua importância na durabilidade das estruturas de concreto. Queremos ainda observar que, embora já se tenham muitas informações importantes de várias pesquisas, devemos continuar a estudar a potencialidade desses materiais. Proteção das Armaduras Sabe-se que a proteção da armadura depende do pH do concreto, o qual deve estar entre 14 a 13. A presença de SA reduz o hidróxido de cálcio (C-H), interferindo na química do cimento hidratado. Essa redução poderá implicar uma certa vulnerabilidade da armadura, pois o concreto cria uma maior proteção, impedindo uma maior concentração de cloretos e reduzindo a carbonatação. Ficou claro também que a combinação CV e SA oferece maior proteção ao concreto. O aumento substancial da resistência à penetração de cloretos se verifica para 51 substituição de SA no cimento até 9% a baixos valores de A/C. Nessas condições, reduz-se à entrada de oxigênio e aumenta-se a resistividade elétrica do concreto. Todas essas propriedades combinadas conduzem a uma excelente performance do concreto para resistir às agressividades externas. Aditivos Redutores da Retração Além do concreto com retração compensada, utilizando o cimento tipo K da ASTM, existem no mercado os aditivos redutores da retração. Deve-se reduzir a retração no concreto porque esta induz a um potencial de fissuração, afetando a durabilidade. Temos os seguintes tipos de retração no concreto: Retração plástica; Retração térmica; Retração autógena; Retração por carbonatação. O fenômeno da retração está ligado aos seguintes fatores: Ingredientes da mistura; Umidade relativa; Projeto e execução das obras. Quanto à mistura, a retração só é significativa para concretos com teores de cimento acima de 420 kg/m³ e água acima de 190 kg/m³. A umidade relativa tem muita importância nos primeiros meses de vida do concreto. Cita-se, como exemplo, que num período de 30 anos, a retração atingiu 80% no primeiro ano. O projeto e a execução têm muito a ver com a grandeza e a velocidade da retração. Por exemplo, nas superfícies expostas os processos adotados para cura do concreto têm muito a ver com a retração. Impacto na retração por secagem O maior impacto na retração por secagem está no potencial de fissuração, 52 principalmente nas peças com restrição à deformação. Nas estruturas protendidas, a instabilidade dimensional traz perda de protensão que se não for bem avaliada no projeto, poderá complicar a estabilidade da peça. As fissuras de retração afetam o módulo de deformação e a deformação lenta. Quanto à durabilidade, as fissuras de retração permitem acesso de oxigênio, umidade etc. O surgimento dos aditivos redutores da retração A partir de 1982, a Nihon Cement Co. Ltda do Japão desenvolveu o primeiro aditivo redutor da retração por secagem. Em 1985, a Sanyo Chemical Industries Ltda dos EUA registrou patente de ARRS. Esses aditivos têm baixa viscosidade e são solúveis na água. Sua principal função é reduzir a tensão capilar desenvolvida nos poros do cimento hidratado, quando seco. São usados diretamente nas mistura ou por aplicação tópica. Os componentes químicos dos aditivos redutores da retração por secagem são o éter polioxileno de alquila e o álcool óxido de alquileno. 53 8 DOSAGEM Composição da Mistura Sólida As principais operações de dosagem do concreto consistem na composição da mistura sólida, no consumo de cimento e na dosagem de água. Certas obras especificam o consumo de cimento, outras apenas limitam o consumo mínimo como um dado importante da durabilidade do concreto. Quando prevalece a resistência à compressão do concreto, procura-se uma dosagem com consumo mínimo de cimento, de forma a atender à resistência especificada. Passaremos à abordagem de alguns métodos de composição dos agregados, pois, como sabemos, a resistência do concreto cresce com a compacidade dessa mistura. Atuando sobre a granulometria, pretende-se obter uma composição com o mínimo de vazios possível, o que equivale ao máximo de compacidade. Ao mesmo tempo, pretende-se que a mistura tenha trabalhabilidade adequada ao processo de concretagem. Existem vários métodos para a composição granulométrica, mas nenhum é preciso, pois dependem dos materiais disponíveis e das condições da obra. Dos métodos que vamos apresentar, a escolha deve recair no que melhor se adapta aos materiais e às especificações da obra. Método das Misturas Sucessivas Fixando o diâmetro máximo da mistura, vai-se juntando esse agregado menor, de acordo com o seguinte critério: deter- mina-se o peso unitário do agregado maior; adiciona-se a este o agregado menor, determinando assim o peso unitário da mistura. Os valores do peso unitário começam a crescer em uma certa proporção e depois a diminuir. Desse modo, determina- se a proporção entre dois agregados, conduzindo ao máximo de compacidade. Depois de determinada a composição entres os dois primeiros agregados, junta-se a essa mistura – com o máximo de compacidade – o terceiro agregado. Determinando a compacidade máxima entre as misturas, fixam-se as proporções a serem adotadas no concreto. O cálculo da composição pelo processo da massa unitária máxima pode ser feito analiticamente, tomando-se a quantidade de agregado menor que preencha o volume de vazios, porque não se considera o “efeito de parede” que ocorre nas superfícies de contato entre os agregados maiores e menores, prejudicando a arrumação entre os grãos. Essa seria uma das causas da diferença entre o resultado teórico e o prático (GIRALDI, 1989, p. 54 52-55). Dentro do grande número de curvas granulométricas existentes, é a curva de Fuller uma das mais importantes e dela derivam outras, como a de Bolomey etc. É a seguinte a equação curva de Fuller: Onde: Y = porcentagem que passa através da peneira, D max= diâmetro máximo da mistura n = determinado em função do diâmetro máximo e da porcentagem. Métodos de Dosagens Considerações gerais Do ponto de vista de tecnologia de execução e controle, as obras podem ser classificadas em: Obras sem importância; Obras de uso corrente; Obras especiais. Nas obras ditas de pequeno porte, não é necessária a dosagem experimental, as normas permitem o uso de traços empíricos, independentes de estudo de laboratório. Já nas obras de uso corrente, deve-se usar uma dosagem experimental, com conhecimento prévio da relação entre fator água/cimento e a resistência à compressão ou de tração do concreto. Nesse caso, podem-se empregar métodos mais simplificados porque não é economicamente justificável uma investigação mais detalhada das propriedades dos materiais. Os métodos de dosagem de concreto para obras especiais devem ser mais precisos, por isso faz-se necessária uma pesquisa mais sistemática das propriedades dos materiais. Método do INT 55 O método INT é de autoria de Lobo Carneiro, consistindo na fixação do fator A/C em função da resistência do concreto ou de sua durabilidade. Outro parâmetro utilizado é o fator água/sólidos, baseado na Lei de Lyse. A fórmula a seguir nos dá o valor da massa de agregado por quilo de cimento, que é o traço unitário cimento: agregado (1:m). m = - 1 m = massa do agregado por kg de cimento; A/C = fator água/cimento; A% = teor água/sólidos. Calculado o traço 1:m, passa-se ao cálculo da proporção dos agregados, utilizando-se as curvas de referência de Lobo Carneiro, conforme já abordamos no item anterior. A sequência de uma dosagem experimental poderá ser a seguinte: Análise dos projetos e especificações da obra para se definiremos parâmetros básicos da dosagem: resistência de dosagem, durabilidade, consistência da mistura e tipo de controle; Caracterização dos materiais: cimento, agregados, águas e aditivos; Fixação do diâmetro máximo do agregado graúdo de acordo com o projeto estrutural; Cálculo do traço; Cálculo das proporções dos agregados; Austagem do traço; Moldagem de corpos de prova; Com os resultados dos corpos de prova, define-se o traço final, em massa ou em volume, de acordo com o processo de fabricação e controle de qualidade da obra. Método do ACI Comitê 613: A sequência do método é a mesma do item anterior, devendo-se fixar o seguinte: Valor do abatimento, slump; 56 Diâmetro máximo da mistura; Fator A/C Para esclarecer melhor o método, apresenta o exercício seguinte. Exemplo: Dosar um concreto com as seguintes características: DMáx. = 25 mm slump = 2,5 cm a 5 cm A/C = 0,50 Módulo de finura da areia = 2,4 Resolução: A) Da tabela 11, tira-se o valor do volume de água por m3 de concreto: Água = 178 l B) Cálculo da quantidade de cimento por m³ de concreto: C = 178/0,50 = 356 kg c) A porcentagem de agregado miúdo na tabela 10, sem ar incorporado e diâmetro máximo de 25 mm é 37% O teor de ar, tabela 11 = 2% Volume de pasta = volume de cimento + volume de água + volume de ar = 321,84 litros Agregado total = 1000 – 312,84 = 687,16 litros Agregado miúdo = 687,16 x 0,37 x 22,6 = 661 kg Agregado graúdo = 678,16 x 0,63 x 2,7 = 1168,8 kg Tabela 5 – Relação das constantes físicas dos materiais Materiais δ kg/dm³ ϒ kg/dm³ Cimento 1,22 3,1 Areia 1,6 2,60 Brita 1,44 2,70 57 Tabela 6 – Cálculo do traço de concreto Materiais Massa kg/m³ Cimento 356 Água 178 Areia 661 Brita 1168,8 Ar 1,5% -- O traço unitário é o resultado do traço por m³ dividido pelo cimento e será: 1: 1,856: 3,28: 0,50 Tabela 7 – Resistência à compressão do concreto aos 28 dias de idade, Segundo a NB 1 da ABNT Tipo de cimento Relação A/C em massa 0,65 0,60 0,55 0,50 0,45 CP I – 32 28 32 37 41 47 CP II – 32 24 28 31 35 39 CP II – 40 28 32 36 41 46 CP II – 32 23 27 31 36 41 CP III- 40 27 32 37 42 49 CP IV – 32 24 28 32 36 41 CP V – ARI/RS 30 33 38 42 46 CP V - ARI 33 38 42 47 53 Tabela 8 – Classificação da agressividade do ambiente visando a durabilidade do concreto, Segundo a ABNT NB 1/2011- Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado Classe de agressividade pH CO2 agressivo mg/litro NH 4+ mg/litro Manésia Mg 2+ Sulfato SO4 2+ mg/litro Sólidos dissolvidos I >5,9 100= 718 - 244 = 474 l Massa do agregado graúdo = 474 × 2,68 = 1270 kg O traço unitário será: 1: 2,214 : 4,379 : 0,50 No aglomerante entra cimento mais pozolana, na proporção de 70% de cimento e 30% de pozolana na massa total do aglomerante. i) Dosagens de misturas com diâmetro máximo superior a 3’’ (76 mm) Esse método permite dosar misturas com diâmetro máximo superior a 3’’, empregando é o mesmo roteiro de dosagem que já foi abordado, o teor de agregado miúdo pode ser da tabela 12, e procedendo a ajustagem do volume de argamassa no laboratório. Composição dos agregados A composição granulométrica dos vários agregados atende à equação a equação de Fuller: 63 Y = [ 1 – (d/D)n]x100 Onde: Y = porcentagem retida na peneira de diâmetro d d = diâmetro da peneira em mm D = diâmetro máximo do agregado em mm n = 0,5 Quando se empregam dois tipos de agregados, deve-se interpolar o valor de n de forma a se obter uma mistura de máxima compacidade. Teor de argamassa na mistura O teor de argamassa na mistura depende da composição dos agregados graúdos e do módulo de finura da areia empregada. A tabela 35 dá o teor de argamassa no total da mistura com ar incorporado e a tabela 34, o teor de areia no total de agregado. Conhecendo-se o volume de argamassa por m³ de mistura, o volume absoluto de mistura de agregado miúdo será: Onde: Va = volume de grãos do agregado Varg = volume total de argamassa por m³ da mistura S = % de agregado miúdo no volume total de agregado Determinação do fator A/C O fator A/C máximo permitido em função do tipo de obra está na tabela 32; em função da resistência de compressão, está na tabela 33. Conhecido o fator A/C, pode-se transformá-la no fator A/C + POZ, conforme a equação: A/(C + POZ) = 3,1/[3,1(1 – P) + ϒpP] Onde: X = fator água/cimento P = teor de pozolana 64 ϒp = massa específica da pozolana Teor de ar na mistura total O teor de ar na mistura total deve ser o recomendado na tabela 35 e, posteriormente, deve-se fazer a determinação mais exata, por meio da seguinte equação: Onde: A = teor de ar na mistura a = teor de ar medido na fração inferior a 1½” (38 mm) R = relação entre o volume de material acima de 1½” com o volume total da mistura Se a mistura tiver diâmetro máximo inferior a 38 mm, A = a Cálculo do volume de cimento mais a pozolana O volume absoluto de cimento mais a pozolana será calculado pela equação seguinte: Vc+p = ) Onde: Vc + p = volume de cimento mais pozolana; Varg = volume de argamassa; A = teor de ar na mistura; Va = volume de agregado miúdo A/C = fator água/cimento; ϒp = massa específica da pozolana. Conhecendo-se Vc + p pode-se calcular os volumes de cimento e de pozolana. 65 Vc = Vc + p (1 – P) Vp = Vc + p (P) Cálculo do volume absoluto de cada fração separada dos agregados O cálculo dos volumes das frações dos agregados será feito conhecendo-se as porcentagens de cada agregado, no volume total de grãos graúdos, a serem utilizadas. % agregado x (100 – volume total de agregado) Transformação dos volumes absolutos dos materiais em massa. Conhecendo-se os volumes absolutos de cada material e sua massa específica, a massa será calculada da seguinte forma: massa = volume × massa específica Exemplo Pede-se determinar um traço para um concreto que está em contato com água doce e em clima severo. Dados: fc28 = 21 MPa Com a resistência aos vinte e oito dias, o fator água/cimento na tabela 10 é 0,65 para o CP II -32 Em função do grau de agressividade III na tabela 10, o fator água/ cimento = 0,55 Cimento: Massa específica = 3,1 kg/dm³ Pozolana: Massa específica = 2,4 kg/dm³ Areia: Massa específica = 2,64 kg/dm³ Módulo de finura = 2,8 66 Brita: Diâmetro máximo = 100 mm Massa específica = 2,72 kg/dm³ Areia: % de areia na tabela 14 = 29 logo, o volume de areia será calculado pela fórmula: Va =[( 1000-415)x0,0,29 )/(1-0,29) = 238,94 litros Va = 238,94 litros Massa de areia = 238,94x2,64 = 630,8 kg. Vc + p = [415 – 1000x0,041 – 238,94]/[0,55(2,4x0,25 + 3,1(1 – 0,25)] + 1 = 51,78 litros Cimento = 51,78x,75x3,1 =120,38 kg Pozolana = 51,78x0,25x2,4 = 31,06 kg Agregado graúdo Brita (50 a 100 mm) = 585x0,45x2,72 = 716,4 kg Brita (25 a 50 mm) = 585x0,30x2,72 = 477,36 kg Brita (4,8 a 25 mm) = 585x0,25x2,72 = 397,8 kg Concreto Compactado a Rolo O Concreto Compactado a Rolo (CCR)é uma mistura pobre em cimento, de baixa trabalhabilidade, podendo ser compactada com rolo compressor. É um material empregado na construção de barragens, de ensecadeiras e na pavimentação rodoviária. Propriedades do CCR O reduzido consumo de cimento dá ao CCR um comportamento próprio com aspecto diferente do concreto convencional. A mistura se apresenta com aspecto úmido- seco, sem nenhuma trabalhabilidade aparente. 67 A trabalhabilidade é medida por meio do ensaio denominado tempo de vibração, que consiste em colocar o concreto em um recipiente cilíndrico de 24,2 cm, retirar o excesso sem vibrar e colocar um disco metálico de 23 kg, ligando à mesa vibratória até que se forme uma película de argamassa na superfície superior. O tempo decorrido desde o início da vibração até o aparecimento da argamassa é denominado tempo de vibração ou cannon time. A mesa de vibração utilizada nesse ensaio é a mesma do aparelho de Vebe. O teor de umidade do concreto pode ser determinado na argamassa passando na peneira de malha 4,8 mm e secando-se na chapa. A massa unitária do concreto fresco poderá ser determinada no próprio recipiente de 9,2 l enchendo-o com concreto, colocando o contrapeso vibrando por 120 segundos e fazendo as seguintes pesagens: P2 = massa do recipiente cheio d’água P3 = massa do recipiente mais o concreto vibrado P4 = massa do recipiente mais o concreto (completado com água) A massa específica será: A moldagem do concreto nas formas cilíndricas é feita na mesa vibratória, sendo a parte superior do molde acoplada com um dispositivo cilíndrico que servirá de guia para o contrapeso de 21 kg. Pode-se adotar também o adensamento com o compactador pneumático. O concreto endurecido apresenta comportamento flexível ou semiflexível para misturas mais pobres, da ordem de 1:20m a 1:24m, e mais rígido para misturas mais ricas, até 1:15. As misturas atuais deste concreto se situam entre 1:12 e 1:24 na relação cimento:agregado. Os traços mais ricos são inconvenientes porque apresentam fissuração maior, prejudicando a obra. As primeiras aplicações do CCR foram feitas na pavimentação de estradas na Grã-Bretanha, em 1944; depois, generalizaram-se pelos demais países, sendo adaptadas à construção de barragens, tais como Steinaker (1962), Bottle Hollow (1970), Soldier Creek (1973), Currant Creek (1977), Red Fleet (1980) e muitas outras (in DNER, v. 1, 1993, p. 5- 25). Dosagem do CCR O consumo de cimento deve ser o mais baixo possível, limitando-se a 85 kg/m3, com uma relação cimento: agregado de 1:24 para granito britado. Com o cascalho, o 68 consumo de cimento passa de 100 a 135 kg/m3 (1:20 a 1:15) e para outros agregados o cimento deve estar entre 85 a 115 kg/m3 (1:24 a 1:18). Não se aconselham misturas maiores que 1:24, devido às dificuldades na homogeneização e no comprometimento da durabilidade do CCR. O teor d’água é outro parâmetro importante a ser determinado de forma a conferir a trabalhabilidade adequada à sua compactação na obra. A experiência tem mostrado que o teor d’água é próximo de 6% em relação à massa da mistura seca. A composição dos agregados é outro dado importante na fixação do traço. A prática tem recomendado utilizarmisturas com diâmetro máximo de 38 mm, embora não se façam objeções de se usarem agregados maiores ou menores. O agregado miúdo deve ser bem graduado, sem deficiência de finos. O teor desse agregado pode ser determinado por tentativas, avaliando-se a influência do teor de areia na relação pasta: argamassa na resistência à compressão do concreto e na trabalhabilidade. O teor de areia, segundo estudo de Furnas, varia de 40 a 44%. Cálculo de um traço de CCR Pede-se calcular um traço de CCR para uma resistência f = 6 MPa, empregando-se brita de 38 mm. Resolução: Na tabela 16, observa-se que, para resistência de 6 MPa, o consumo de cimento por metro cúbico de concreto está entre 85 e 100 kg/m³, cujo traço cimento: agregado está entre 1:24 e 1:18, no item Dosagem do CCR. Para primeira tentativa, adotamos o valor intermediário para o traço = 1:21. O procedimento para ajustagem no laboratório é o mesmo para concreto convencional. O teor de água será de 6% como primeira tentativa. Tabela 16 – Consumos prováveis de cimento em função do tipo de utilização do CCR Tipo de utilização Faixas recomendadas de f (MPa) Faixas prováveis de consumo de cimento (kg/m3) Sub-base de pavimento rígido; base de pav. flexível; base de pav. com peças pré-moldadas 5-8 85-100 Camada inferior de pavimento rígido composto 8-12 115-150 69 Camada de base e revestimento; acostamento não revestido 12-20 150-225 Fonte: Andrade et al., 1989. Tabela 17: Propriedades de um CCR típico Propriedades Relação agregado: cimento em massa (15:1) f (MPa) 11,2 f(MPa) 2,1 Massa unitária máxima seca (kg/m³) 2.160 Módulo de deformação (MPa) 0,6 a 3,5 × 104 Fonte: Andrade et al., 1989. Composição dos agregados: Teor de areia = 42% Composição das britas (brita 19 e brita 38 mm) = 40 e 60% Com os dados estabelecidos, o traço unitário será: Areia = 21 × 0,42 = 8,82 Brita = 21 - 8,82 = 12,18 Brita de 19 mm = 12,18 × 0,40 = 4,87 Brita de 38 mm = 12,18 - 4,87 = 7,31 A/C = A% x ) = 6 x ) = 1,32 Traço unitário: 1:8,82: 4,87: 7,31: 1,32 Com o traço calculado, passa-se a ajustagem no laboratório para estabelecer a melhor composição dos agregados, o teor d’água e o consumo de cimento por metro cúbico de concreto em função da massa unitária. Supondo-se que na ajustagem os parâmetros foram: Teor de ar = 5% 70 Teor d’água = 6,1% Teor de areia = 40% Relação cimento: agregado = 1:20 Massa unitária = 2.700 kg/m³ O traço final será: Areia = 20 × 0,40 = 8,00 Brita = 20 - 8 = 12 Brita de 19 mm = 12 × 0,40 = 4,80 Brita de 38 mm = 12 - 4,8 = 7,2 A/C = 6,1x(1 + 20)/100 = 1,28 O consumo de cimento por metro cúbico de concreto será: C = [100(1 – 0,05)]/(1/3,1 + 8/2,6 + 12/2,7 + 1,28) = 121,2 kg O traço por metro cúbico de concreto será: Cimento = 121,2 kg Areia = 969,6 kg Brita de 19 mm = 581,76 kg Brita de 38 mm = 872,64 kg Água = 155,14 l Concreto de Alto Desempenho – CAD A evolução do desempenho do concreto só foi possível com a sílica ativa e os superplastificantes incorporados nesse novo produto. A sílica ativa, com uma superfície especifica de ordem de 20.000 m²/kg, cujos grãos são 100 vezes maiores que o cimento, exerce influência nas propriedades do concreto fresco e também na hidratação dos compostos do cimento. 71 Os superplastificantes tornam possível a redução do fator A/C (água) cimento de 0,40 até 0,24 na prática, com misturas perfeitamente viáveis para aplicação dentro das técnicas dispo- níveis nos atuais canteiros de obras. Agregados Os agregados devem ser escolhidos com muito mais cuidado do que para os concretos convencionais e devem ter um diâmetro máximo inferior a 20 mm, devido às tensões diferenciais na interface agregado-pasta que provocaria microfissuração. O agregado miúdo deverá ter módulo de finura entre 2,7 a 3,0 devido à maior quantidade de finos na composição, oriundos do consumo elevado de aglomerante. A composição agregado miúdo/graúdo difere dos concretos convencionais porque as curvas teóricas de composição foram idealizadas para concretos com consumo de cimento em torno de 300 kg/m³. Segundo Canovas (1996) a relação agregado graúdo/agregado miúdo seria de 1,5. Nas experiências com brita de 19 mm, a relação foi de 2,5. Dosagem Na dosagem, além dos ingredientes já conhecidos, adicionam-se a sílica ativa entre 5% e 10% da massa do cimento e aditivo superplastificante com dosagem entre 0,5% e 3% do aglomerante. Nosso procedimento de dosagem inicia como num concreto convencional, diferenciando apenas na ajustagem do traço. O procedimento que adotamos para dosar concretos convencionais é originário do American Concrete Institute (ACI) e se adapta para o concreto de alto desempenho. Inicialmente, toma-se o fator A/C = 0,50 (valor mais utilizado no concreto convencional) seguindo o roteiro do Método do ACI; calcula-se o teor de cimento ou de aglomerantes e o volume da argamassa por m³ de concreto bem como o volume de agregado graúdo. A seguir, calcula-se o volume de areia. Para calcular o traço no concreto de alto desempenho, já têm fixados os volumes de agregados miúdos e graúdos. Como nos concretos convencionais o CAD tem sua resistência em função do fator A/C ou A/(mc), só que esta relação não é a mesma por que tem a influência da sílica ativa e do aditivo, conforme a tabela 19, um estudo de dosagem. 72 Tabela 18: Resistência × Fator (água/materiais cimentícios), com aditivo super- plastificante Resist. à Comp. (MPa) Fator (a/mc) em função do D do agregado graúdo em mm 9,5 12,7 19 25 28 dias 0,5 0,48 0,45 0,43 48 56 dias 0,55 0,52 0,48 0,46 28 dias 0,44 0,42 0,4 0,38 55 56 dias 0,48 0,45 0,42 0,4 28 dias 0,38 0,36 0,35 0,34 62 56 dias 0,42 0,39 0,37 0,36 28 dias 0,33 0,32 0,31 0,3 69 56 dias 0,37 0,35 0,33 0,32 28 dias 0,3 0,29 0,27 0,27 76 56 dias 0,37 0,31 0,29 0,29 28 dias 0,27 0,26 0,25 0,25 83 56 dias 0,3 0,28 0,27 0,26 Fonte: Canovas, 1996. A seguir, tem-se um exercício completo de dosagem para um concreto de alto desempenho. Usou-se o superplastificante Sikament 300 da SIKA, na dosagem de 2% em relação a massa do cimento, dando uma redução de 11% na água de amassamento. As características fornecidas pelo fabricante são Densidade = 1,21 Líquido castanho. Areia natural do rio das Almas: Módulo de finura = 1,77 – Diâmetro máximo = 2,4 mm Massa unitária solta = 1,40 kg/dm³ Massa específica = 2,64 kg/dm³ Areia artificial de micaxisto Módulo de finura = 3,02 73 Diâmetro máximo = 4,8 mm Massa unitária solta = 1,59 kg/dm³ Massa unitária compactada = 1,70 kg/dm³ Massa específica = 2,61 kg/dm³ Brita calcária Módulo de finura = 6,85 Diâmetro máximo = 19 mm Massa unitária solta = 1,46 kg/dm³ Massa unitária compactada = 1,55 kg/dm³ Massa específica = 2,76 kg/dm³ Composição dos agregados miúdos Adotando-se o modulo de finura da composição em 2,8, tem-se a composição seguinte: Areia natural = 18% Areia artificial = 82% Composição total dos agregados: O modulo de finura teórico calculado da curva de Fuller: Y = (1 - √ )x100 O modulo de finura teórico (MF = 4,78) A composição ficará: Agrega graúdo (brita) = 49% Agregado miúdo = 51% Na comcopição total, os agregados miúdos ficarão: Areia artificial = 41% Areia natural = 10% Cálculo de um traço de CAD 74 Para calcular o traço do concreto de alto desempenho, adota-se o seguinte procedimento: Inicialmente calcula o volume de argamassa a partir das composições granulométricas dos agregados que só funciona para concretoscom a relação A/C acima de 0,50. Seguindo o procedimento do cálculo do concreto convencional e considerando que a água para mistura com aditivo superplastificante, adotou-se que a água de amassamento será de 172 litros ou quilos por m³ de concreto, tem-se que: Aglomerante = = 344 kg Volume de pasta = 302,9 litros Volume total de agregado = 697,00 litros Volume de agregado miúdo = 355,5 litros Volume de agregado graúdo = 341,5 litros Volume de argamassa = volume de pasta + volume de agregado miúdo = 658,4 litros Massa de agregado graúdo = 942,54 kg Obs.: o volume de agregado graúdo será constante para quaisquer outras misturas que se quiser fazer com estes mesmos agregados. Traço do concreto de alto desempenho: Será calculado um traço com a relação água/materiais cimentícios igual a 0,28. Segundo a tabela 18, terá uma resistência aos 56 dias em torno de 76 MPa. A água ajusta no traço inicial foi para 195 kg/m³ de mistura. Aglomerante = = 696,4 kg Teor de ar = 2% Volume de pasta = 446,2 litros Sílica ativa (10%) = 69,64 kg Cimento (90%) = 626,76 kg Volume de agregado miúdo = 658,4 – 446,2 = 212,2 litros Areia natural = 212,2x0,1x 2,64 = 56,02 kg Areia artificial = 212,2x 0,41x2,61 = 221,5 kg Agregado graúdo (brita) = 942,54 kg Agua = 195 kg Super plastificante (0,005) = 3,13 kg Traço unitário final será: 75 (c:sa:an:aa:b:a/c:sp): 0,11 :0,10 :0,35 : 1,50 : 0,311 : 0,005 Concreto com Pó Reativo – CPR O concreto com pó reativo é um híbrido que evoluiu do CAD, onde o agregado graúdo foi substituído por grãos de no máximo 600 µm. A otimização das misturas está diretamente ligada à alta compacidade porque este é um dos fatores muito importante para elevar a resistência do CPR. O uso de micro- fibras de aço com diâmetro de 150 µm e 13 mm de comprimento, além de aumentar a resistência mecânica, melhora a ductilidade do CPR. Também está sendo muito investigada a importância do confinamento e a elevação da temperatura no ganho de resistência do concreto. Já se conseguiram concretos com resistências em torno de 800 MPa, quando submetido ao confinamento inicial de 50 MPa e cura térmica nas primeiras 24 horas. Contribuição dos materiais O concreto com pó reativo, CPR, basicamente é composto dos seguintes materiais: cimento portland comum, sílica ativa (fumo de sílica), areia, pó de quartzo, superplastificante (± 5%) e eventualmente microfibras de aço. Cada um destes ingredientes têm um papel muito importante nas propriedades do CPR. Cimento O cimento portland comum tem sido o mais indicado e o mais utilizado nas pesquisas, embora Bonneau et al. (1997) tenham utilizado um cimento equivalente ao tipo II da ASTM para obtenção do CPR 200 e 800 MPa . O cimento não deve ter baixo teor de C A e a finura não deve ter valor muito alto. O ideal é que a finura Blaine deva estar entre 260 e 280 m²/kg. O melhor cimento para o CPR deve ter, ainda, maior valor do módulo de sílica. Também o cimento com velocidade convencional de pega é bom para este tipo de concreto. Sílica ativa ou fumo de sílica A sílica ativa deve ter um Blaine entre 14 e 18 m²/g, sendo a melhor relação SA/cimento 0,23 a 0,25. Uma parte da SA tem atividade química com certos componentes do cimento. A função da sílica ativa no concreto será: Preencher os vazios entre os grãos de cimento; 76 Melhorar a mobilidade das partículas de cimento devido à sua forma esférica; Redução do C-S-H secundário através da reação com a cal remanescente da hidratação do cimento. O teor ótimo de SA no aglomerante total deve estar entre 20 a 25%. A parte não hidratada do SA vai funcionar como material de enchimento do CPR. Areia A eliminação do agregado graúdo no CPR tem influência no aumento da resistência ao cisalhamento na interface pasta-agregado. Com a redução do diâmetro máximo do agregado, as microfissuras na interface serão menores e descontínuas, produzindo um fator de 50 numa correlação entre diâmetros de 400 mícrons em vez de 200 mm. A forma dos grãos também é muito importante no comportamento do concreto à tensão, porque os grãos esféricos promovem microfissuras também esféricas, melhorando o desempenho na resistência à compressão do CPR. Pó de quartzo Outros produtos já foram estudados na composição do CPR, como o calcário moído e o solo, porque funcionam como enchimento, alterando o comportamento do concreto. A vantagem do pó de quartzo é que além das mudanças nas propriedades físicas das misturas, tem a vantagem da reatividade durante o tratamento térmico quando as partículas estão entre 5 a 25 microns. O tamanho médio recomendado para o CPR é de 10 microns. Superplastificante O principal papel do superplastificante é permitir uma grande redução da água na mistura e manter a trabalhabilidade compatível para manuseio e moldagem. A ação do superplastificante consiste em dispersar as partículas de cimento no processo de defloculação. A ação tempo e eficiência do superplastificante depende da finura do cimento e do teor de C3A. Conforme já foi dito, o cimento não deve ser muito fino e o C3A anula o efeito do aditivo. A dosagem do superplastificante líquido, em relação ao cimento, deve ser em torno de 5%, considerando que a concentração no líquido seja de 40% de sólidos. Influência da densidade nas propriedades do CPR René Féret estabeleceu, em 1896, uma equação que relaciona a resistência do 77 concreto com as proporções volumétricas de cimento, água e ar respectivamente. Deve-se enfatizar que a relação água/cimento regula a porosidade da pasta hidratada. Sabe-se que tanto o grau de adensamento quanto o fator água/ cimento têm influência sobre o volume de vazios do concreto, por isso a expressão de Féret tem muita importância no CPR. As pesquisas mais recentes têm dado ênfase na forma dos grãos dos agregados, sua resistência e um novo fator incluído é a espessura máxima da pasta entre os grãos dos agregados (EMP). Esse parâmetro poderá ser calculado pela fórmula (Larrard; Sedran, 1994): Onde: CM= EMP D = diâmetro máximo do agregado δ = massa unitária do agregado v = volume do agregado na mistura A resistência do CPR é reduzida à medida que cresce o EMP de 0,1 mm a 5 mm. Sendo então positivo um confinamento do agregado dentro da pasta. A equação de Féret, embora válida, deixa erro na previsão da resistência, enquanto a influência do EMP é mais precisa na previsão de resistência do concreto. Influência do tratamento térmico na evolução da resistência O tratamento térmico inicial no CPR tem efeito vantajoso no ganho de resistência porque acelera muito as reações pozolânicas. Se o tratamento térmico for acompanhado de pressão confinante, além da hidratação soma-se o efeito da redução da porosidade, trazendo maior resistência à compressão. Foram estudadas misturas típicas para resistências de 200 e 800 MPa respectivamente, cujas composições estão na tabela 19. Tabela 19: Composições típicas para CPR de 200 e 800 MPa Materiais CPR 200 CPR 800 Cimento portland tipo V (ASTM) kg/m³ 955 1000 Areia fina (0,15 a 0,40 mm) kg/m³ 1051 500 Grãos de quartzo ( 4 microns) kg/m³ - 390 Sílica ativa (18 m²/g) kg/m³ 229 230 Precipitado de sílica ativa (35 m²/g) kg/m³ 10 - 78 Superplastificante (poliacrilato) kg/m³ 13 18 Fibras de aço – kg/m³ 191 630 Água total – kg/m³ 153 180 Resistência à compressão (MPa) 170-230 490-680 Resistência a flexão (MPa) 25-60 45-102 Módulo de elasticidade (GPa) 54-60 65-75 No estudo de Richard e Cheyrezy, o melhor cimento para os dois concretos foi o tipo V da ASTM, que é o cimento resistente a sulfatos. No Canadá, os concretos de pós reativos, também conheci- dos como superconcretos, já foram produzidos industrialmente,tendo como resultado prático a construção de uma passarela com vão de 60 m, na cidade Sherbrooke. A mistura utilizada para a construção da passarela de Sherbrooke foi a seguinte: Cimento tipo 20 M 710 kg/m³ Sílica ativa 230 kg/m³ Pó de quartzo 210 kg/m³ Areia 1.010 kg/m³ Fibra de aço 190 kg/m³ Superplastificante 19 kg/m³ Água total 200 kg/m³ As características desse projeto, usando o CPR, foram: Resistência à compressão 200 MPa Resistência à tração 7 MPa Resistência à flexão 40 MPa Módulo de elasticidade 50 GPa Concreto de Cimento e Polímeros A introdução de polímeros nas argamassas e nos concretos tem como principal objetivo a redução da permeabilidade. As formas de incorporação de polímeros são as seguintes: 79 Impregnação de um concreto convencional, já endurecido, por um monômero, seguido de polimerização, é o concreto impregnado por polímero (CIP). O polímero é introduzido na mistura dos ingredientes do concreto, é o concreto modificado (CMP). No processo de impregnação, os monômeros mais utilizados são o metil metacrilato e o estireno-butadieno, devido às propriedades mais adequadas, tais como baixa viscosidade, alto ponto de fusão, perda mínima por volatilização e baixo custo; além de produzir as propriedades desejáveis para o concreto, tais como redução da porosidade, alta resistência mecânica e maior durabilidade. Os polímeros utilizados diretamente na mistura do concreto fresco são alguns tipos de látex. Os látex se apresentam sob forma de partículas esféricas muito pequenas, da ordem de 0,05 µm a 1,0 µm de diâmetro, mantidas em suspensão na água por agentes de superfície. Esses agentes têm a função de estabilizar os polímeros na presença de íons polivalentes do cimento e enviar a coagulação das partículas sob a ação de forças cisalhantes desenvolvidas durante a mistura do concreto. As partículas de látex dispersas na pasta de cimento vão ser confinadas nos poros capilares e com a redução da água, as partículas coalescem formando filmes contínuos ou membranas, ligando os géis hidratados e os agregados. A associação das partículas do látex com a superfície do silicato não pode ser destruída por lavagem com água ou com ácido hipoclorídrico. Como ainda não é entendida esta reação, sugerem-se duas hipóteses: O íon Ca2+ reage com as ligações duplas do polímero. O íon Ca2+ reage com os agentes tensoativos na superfície das partículas do polímero. Deve-se usar uma dosagem adequada de polímero, porque se for insuficiente para formar um filme contínuo o polímero se comporta como impureza, causando perda de resistência do concreto. A dosagem ótima de polímero no concreto será entre 10% a 20% de sólidos sobre o peso do cimento. Os polímeros têm concentração entre 25% a 50% de partículas sólidas dispersas na água. Deve-se considerar essa água na água total da mistura. A adição do látex às argamassas ou aos concretos produz efeito plastificante devida à forma esférica das partículas, podendo, eventualmente, também incorporar ar no concreto. Por esta razão, deve-se medir o teor de ar da mistura para evitar perda de resistência. O látex pode ainda acelerar ou retardar a hidratação do cimento. Entretanto, 80 após 28 dias, ela é com- parável ao concreto convencional. As principais vantagens da modificação do concreto são Aumento da aderência pasta/agregado; Redução da permeabilidade; Redução da microfissuração; Redução da retração; Aumento da resistência à abrasão; Aumento da resistência à flexão; Maior resistência às intempéries; Maior resistência ao impacto; Maior desempenho à ação gelo/degelo. A mistura do concreto modificado com polímero segue o mesmo procedimento do convencional, observando-se que a colocação deve ser dentro de 15 a 20 minutos, porque, após este período, o polímero começa a coalescer provocando fissuras na argamassa ou no concreto. Caso haja necessidade de aumentar o tempo de aplicação, deve-se usar um retardador com o dietileno glicol. A cura úmida deve ser apenas por um dia porque o polímero cria um filme superficial, retendo a água interna da mistura. Propriedades do Concreto Endurecido As propriedades do concreto modificado com polímero de- pende da relação látex/cimento, água/cimento e da cura. Quanto à resistência à compressão, depende do tipo de polímero utilizado. Por exemplo, o acetato de polivinila (PVA) não dá bons resultados, enquanto o látex de cloreto de polivinilideno aumenta a resistência à compressão. O módulo de deformação do CMP é cerca de 80% do concreto convencional. A retração depende do tipo de polímero. Os concretos com látex de acetato de polivinila e acrílicos, em geral, apresentam retração menor, enquanto aqueles com látex de cloreto de vinil-vinilideno podem apresentar retrações maiores ou menores que o concreto convencional. O desempenho do concreto modificado por látex ao desgaste superficial é bem melhor que o convencional. A aderência do concreto de cimento e polímero com outro concreto ou com aço é muito boa. A resistência do concreto aos agentes químicos depende do teor de látex e do tipo de agente químico. Por exemplo, o concreto com látex de acetato de polivinila não 81 resiste aos ácidos e aos álcalis e são estáveis aos solventes orgânicos. Já o cloreto de vinila-vinilideno resiste aos ácidos, aos álcalis e à maioria dos solventes orgânicos. Concluindo, podemos considerar o concreto modificado com polímero como um bom produto para recuperação de estruturas e para muitos tipos de obras em ambientes agressivos. Concreto para Blocos Os traços de concreto para blocos pré-moldados são dados em dosagem volumétrica, variando de 1:8 a 1:14 na relação cimento:agregado. O consumo de cimento aumenta quando se de- sejam blocos mais resistentes e sem revestimentos, embora não se deva aumentar muito o consumo de cimento que acarretará trincas e dificuldades no controle de cura das peças. A dosagem bem estudada atenderá às características exigíveis para o produto e terá consumo de cimento adequado. A resistência do bloco não está diretamente ligada ao consumo de cimento, mas à composição granulométrica dos agregados, teor de água e processo de fabricação. O diâmetro máximo e o módulo de finura são dois parâmetros fundamentais na dosagem do concreto para produção de blocos, cujos valores são: Dmáx = 9,5 mm Mf = 3,6 a 3,85 Apresenta-se seguir um estudo com materiais da região de Goiânia, empregando-se areia artificial e pedrisco (brita 0) proveniente de micaxisto. O cálculo da composição pelo método do modulo de finura da curva teórica de Fuller: Y = (1 - √ )x100 Onde: Y = % retida na peneira d = diâmetro da peneira D = diâmetro máximo da mistura dos agregados. O modulo de finura teórico = 3,87 82 Agregados: Areia artificial de micaxisto: Masa específica = 2,6 kg/dm³ Massa unitária = 1,5 kg/dm³ Módulo de finura = 3,24 Brita 0 de micaxisto: Massa específica = 2,6 kg/dm³ Massa unitária = 1,5 kg/dm³ Módulo de finura = 5,5 Fazendo a composição pelo modulo de finura teórico tem-se: Brita 0 = 26,2% Areia artificial = 73,8% Tomando-se o traço em volume: 1: 8 Passando para traço em massa: 1: 10 Adotando-se um teor de água para se obter uma mistura compatível para moldagem dos blocos igual a 8%, o fator água/cimento será: A/C = 0,08(1 + 10) = 0,88 Traço em massa com os agregados compostos: 1: 7,38 : 2,62 : 0,88 Traço em volume: 1: 5,91: 2,10 O traço por saco de cimento será: Cimento = 50 kg Areia = 369 kg = 248,2 litros Brita 0 = 131 kg = 88,2 litros Traço porm³ de mistura sem correções de inchamento dos agregados: 83 Cimento = 192,15 kg = 3,84 sacos Areia = 1418,06 kg = 0,95 m³ Brita 0 = 503,4 kg = 0,335 m³ Água = 169,1 kg Obs.: O traço deve ainda ser ajustado em função da máquina de moldagem dos blocos. O teor de umidade da mistura deve ser definida em função da coesão na formação de um bolo com a mão, na prática, quando o bolo de argamassa ficar coeso ao abrir a mão, o teor da água estará em condição de moldagem dos blocos. Em laboratório fazes o teste de remoldagem, a máquina para ensaio de consistência de concreto sem abatimento, no slump concrete. O ensaio consiste em encher a fôrma tronco-cônica usada para o ensaio de abatimento do concreto (slump), da mesma forma que se procede no ensaio de abatimento. Após a moldagem, retira-se o molde e liga a máquina que vai vibrar o concreto, devendo-se cronometrar o tempo de vibração que o concreto passa da forma troncônica para a cilíndrica, observando quando a pasta inicia a aflorar na superfície do concreto. O tempo de vibração apropriado para moldagem de bloco deve estar entre 20 a 24 segundos. Considerando-se que o traço 1:8 em volume foi ajustado, para outros traços com os materiais de mesma origem, deve-se manter o mesmo teor de argamassa seca e calcular as outras misturas. O teor de argamassa seca será: Teor de argamassa = No traço 1:, em massa, o teor de argamassa será = 0,76. Neste traço deve-se aumentar o teor de água e supondo-se que foi de 9%. No traço 1: 10 em volume, o traço em massa será: 1: 12,5, o valor da areia será: = 0,76 Areia = 9,26 Brita = 3,24 A/C = 0,09x(1 + 12,5) = 1,21 O traço em massa será: 1: 9,26 : 3,24 : 1,21. Da mesma forma, o traço 1:12 em volume ficará: - Traço em massa: 1: 15 Traço decomposto nos agregados: 84 Traço em massa: 1 : 11,16 : 3,84 : 1,6. Traço em volume: 1 : 8,93 : 3,1 Com os mesmos materiais, pode-se fazer uma correlação outros traços, que será uma relação linear. Concreto Projetado O concreto projetado é transportado através de mangueira e lançado pneumaticamente sobre a superfície a ser concretada. A mistura tem consistência úmida com teor de água suficiente para ser projetada sem muita perda por reflexão. Sistema de mistura As misturas são feitas em equipamentos próprios para homogeneizar e transportar até o bico de projeção, conforme sequência a seguir: O material seco é previamente misturado e introduzido no alimentador; A mistura cimento/agregados é transportada; A introdução da mistura na mangueira poderá ser feita por meio de um rotor; A mistura é pressionada na mangueira por ar comprimido, deslocando-se até o bico, onde recebe a água, seguindo-se a projeção. Sistema de mistura úmida Nesse processo, a mistura é entregue ao sistema que apenas bombeia com alta velocidade até a projeção. Esse sistema não dá bons resultados. Sistema de mistura semi-úmida Este sistema se diferencia do primeiro porque, a uma distância de 5m do bico, processa-se a mistura da água para completar o total necessário para a projeção. Esse processo é bastante eficiente, pois nos 5 m restantes a mistura adquire boa consistência e homogeneidade desde que se tenha o teor ótimo de água. Traços 85 O traço deverá ser estabelecido adequadamente para a concretagem que se pretende realizar. Propomos alguns dados, a seguir, que servirão de ponto de partida para fixar um traço: O teor de cimento deverá estar entre 350 a 400 kg para aproximadamente 1.500 kg de agregado; O teor de aditivo deve estar entre 2% a 5% do peso do cimento; O fator água/cimento deverá estar entre 0,35 a 0,40; O tempo de mistura do material seco deve ser o mais rápido possível e deve-se obter uma boa homogeneização; O início da pega deve estar entre 0,5 a 2,0 minutos e o fim da pega de 10 a 12 minutos; A resistência à compressão em 10 horas deverá ser de 5 MPa e, em 24 horas, de 10 MPa, em corpos de prova cúbicos. A dosagem poderá ser em massa ou volumétrica. A dosagem em peso é mais uniforme e dá melhor resultado. Na tabela 20, apresentam-se alguns traços com resultados prováveis de resistência à compressão aos 28 dias de idade, os quais poderão servir de base para fixação de traços definitivos, quando se têm materiais diferentes. Cura A cura no concreto projetado não pode ser desprezada. Recomenda-se que, após o término da superfície, ela deve ser mantida úmida durante os primeiros 7 dias. Pode- se também conservar a superfície coberta para reter a água da mistura, evitando-se a evaporação prematura que é muito prejudicial ao concreto. Tabela 20: Relação de traços para concreto projetado Traço em volume Traço em peso Traço resultante in situ Resist. aos 28 dias (MPa) Aplicação 1:6,5 1:5,5 1:6 1:5 1:4,1 1:3,6 20 23 seções de grandes espessuras 1:5 1:4,5 1:3,5 24 1:4,5 1:4 1:3,2 25 qualquer seção 1:4 1:3,5 1:2,8 30 alta resistência 1:3,4 1:3 1:2 36 1:2,2 1:2 1:1,2 40 muito pouco aplicado Concreto translúcido 86 O concreto translúcido é uma invenção do arquiteto húngaro Aron Lesonczi também denominado de transconcreto. Este material é uma alternativa para arquitetura para fachadas e para paredes interiores como decorações, dando um toque diferente para permitir entrada da luz natural. O transconcreto apresenta as mesmas características do concreto convencional e mais a transparência. Esta propriedade lhe confere o status de ecologicamente correto por permitir economia de energia com aproveitamento de luz solar. É um material que resiste até 400 MPa sendo também maleável e impermeável. Ainda é muito caro devido ao custo das fibras óticas. A mistura para o transconcreto deve ser autoadensável para maior facilidade de preenchimento dos moldes. O teor de fibras óticas é de 5%. As fibras são colocadas em fileiras de modo transversal a duas superfícies principais da peça. A espessura da parede não importa muito porque as fibras tem eficácia de transmissão de luz para até 20 metros de espessura. Segundo seu criador, as fibras podem ser empregadas até nas estruturas principais porque não tem efeito negativo no concreto. Figura 3 : Painel de transconcreto. Fonte: WWW.google.com.br/search. acessado em 10/02/2014. http://www.google.com.br/search 87 Figura 4 : Bloco de transconcreto. Fonte: WWW.google.com.br/search. acessado em 10/02/2014. Figura 5: Blocos mostrando uma imagem do outro lado e uma peça apoiada num piso. . Fonte: WWW.google.com.br/search. acessado em 10/02/2014. http://www.google.com.br/search http://www.google.com.br/search 88 9 CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS Introdução O concreto reforçado com fibras surge no balcão dos novos materiais destinados a projetos de execução e reparos de estrutura. Esse novo produto é o resultado da mistura do concreto e das fibras para melhorar e conferir maior desempenho mecânico. O maior benefício observado nas matrizes reforçadas com fibras está relacionado com seu comportamento após a fissuração, deixando de ocorrer a ruptura brusca. Características das Principais Fibras A fibra de aço é produzida com aço de baixo carbono, atingindo uma resistência acima de 1.000 MPa. Encontram-se no mercado fibras de aço com ganchos nas extremidades e seção circular, e fibras onduladas e seção retangular. A fibra de polipropileno é constituída por um fio de multifilamentos, formando um cabo com 120 filamentos. O cabo é cortado em segmentos de comprimento médio de 40 mm. Sua massa específica é aproximadamente 0,91 g/cm3. Temos também a fibra de poliéster que é fornecida sob a forma monofilar de baixo grau de finura. Como alternativa, existem ainda as fibras naturais de amianto, muitoempregadas para fabricação de chapas ondula- das para coberturas e planas para paredes. As fibras vegetais também oferecem algumas vantagens para determinados tipos de aplicações. As fibras de carbono surgem com grande sucesso na recuperação de estruturas de concreto devido à sua baixa densidade e facilidade da aplicação. Os nano-tubos de carbono também é mais um sucesso são bastante versáteis na tecnologia de novos compósitos para estruturas. Propriedades do Concreto Reforçado com Fibras – CRF É importante considerar que a adição de fibras ao concreto reduz sua trabalhabilidade, sendo que esta redução é proporcional ao teor e ao comprimento da fibra. Há de se dosar as fibras levando-se em consideração a trabalhabilidade da mistura. As fibras de aço contribuem – nas propriedades mecânicas, tais como o módulo de deformação (pela maior ductilidade), a resistência à tração, à flexão, aumentando a tenacidade do CRF. O mesmo não acontece com as fibras de plásticos e vegetais que 89 podem até mesmo reduzir as propriedades aqui citadas, contribuindo com a capacidade de carga dinâmica, ductilidade e resistência ao impacto. O emprego de fibras reduz muito o risco de fissuração na retração por secagem da matriz, mesmo quando se empregam fibras de baixo módulo de deformação como as de plásticos e de vegetais. Materiais A tendência atual é a de utilizar concretos de alto desempenho e fibras. Acredita- se que o uso da sílica ativa aumenta a aderência da fibra-matriz. As fibras de aço apresentam maior relação custo-benefício no CAD. É por este motivo que está ganhando mercado na construção civil com grandes perspectivas para o futuro. Citamos como referência o ACI 544.3R para orientar a correta proporção das misturas e aplicações do CRF. A tenacidade é a capacidade que um corpo tem para absorver a energia mecânica. Seu valor é numericamente igual à área formada pela curva (carga-deflexão). A tenacidade de um concreto com fibras depende dos seguintes fatores: Concreto Relação de forma (Rf = l/d) Consumo de fibras (kg/dm3) Tipo de fibra Forma e rugosidade da fibra Quanto maior o valor de R, maior será a tenacidade do concreto. São satisfatórios os valores entre 50 e 70 (Silva; Mentone 1966). Onde: 1 = comprimento d = diâmetro Também, quanto maior o teor de fibras (kg/m³) maior será a tenacidade do concreto. Para teores elevados dificultam-se os processos de mistura e aplicação do concreto. O teor recomendado de fibra de aço está entre 20 kg/m³ e 50 kg/m³, sendo mais usual de 30 kg/m³, dependendo da tenacidade a ser alcançada. Tração na flexão e tenacidade O ensaio de reflexão é realizado em vigas prismáticas de 150 × 150 × 500 mm, 90 moldadas e curadas segundo procedimentos da NBR 5738. A melhor forma de vibrar o concreto reforçado com fibra é na mesa vibradora, devido à baixa trabalhabilidade da mistura. Esse ensaio de flexão consiste na aplicação de cargas nos terços médios do vão da viga bi-apoiada, conforme NBR 12142. Por outro lado, para a determinação da tenacidade, deve-se utilizar procedimentos da ASTM C 1018 (EUA) ou JSCE SF-4 (Japão), os quais são específicos para concretos reforçados com fibras. De acordo com a ASTM, a tenacidade é determinada por meio de índices calculados em relação à primeira fissura, contu- do o valor da deflexão calculada pode variar muito em função do equipamento utilizado na execução do ensaio (Regattieri, 1966). Na norma japonesa, a tenacidade é calculada diretamente pela área do diagrama carga-deflexão até a deflexão máxima (1/150), no caso de 1 = 450, a deflexão máxima será de 3 mm. A resistência à tração máxima na flexão é calculada pela formula seguinte: fu = (NBR 121142 8.1) A resistência equivalente fe que representa a tensão admissível para os concretos reforçados com fibras é determinada conhecendo-se o valor de Tb, pela seguinte fórmula: fe = (JSE 8.2) Sendo P (carga máxima), 1 (vão livre), b e h a média de quatro medidas da base e altura da viga na seção rompida Tb, a tenacidade é calculada até a deflexão δ. Dados: Gráfico 2: Relação entre carga e deflexão. 91 l = 450 mm b = 150 mm h = 150 mm Levando-se os dados anteriores às fórmulas 8.1 e 8.2, têm-se as seguintes relações: fe = x Tb fu = x P Campo de aplicação do concreto reforçado com fibras de aço: Pisos industriais; Concreto projetado (túneis, estabilização de taludes e shafts); Concreto refratário; Aeroportos; Concretos pré-moldados (somente armadura secundária) Bases de máquinas; Pisos sobre estacas. Fibras de carbono O processo de reforço de estruturas de concreto pela colagem de fibras de carbon tem aumentado em vários países pela facilidade de execução, pela baixa densidade, alta resistência mecânica e a corrosão. 92 As recuperações de estruturas de concreto têm passado por várias etapas de procedimentos inovadores e as fibras de cabono é uma que surge com mais vantagens na execução. Nano-materiais Também na tecnologia da construção tem está surgindo os nano-materiais, como o nano-cimento e as nanofibras de cabono. As propriedades destes elementos são avaliadas pela sua morfologia, originando uma perfeita sintonia em suas propriedades físico- químicas. Os nano-tubos de carbono são muito versáteis, integrando uma multidisciplinaridade muito grande nos vários da tecnologia. Os nano-tubos de carbono mais populares foram descoberto pelo cientista japonês SumioIijima em 1991, utilizando técnica de evaporação com arco voltaico para produzir nono-tubo de múltiplas camadas. Em 1996, o grupo de Smalley no Texas, EUA desenvolveu um método que resulta em alto rendimento produzindo nano-tubos de paredes simples e diâmetro uniforme. Estes nano-tubos tem tendênci9a de formar feixes alinhados em comparação. Os não-tubos de camada simples, também denominados de cordas, formam nano-chifres e os tubos de ensaio. Os nano-chifres são cones de carbono de paredes simples com notável com notável adsorção. Eles têm potencial para utilizar em células combustíveis. Os tubos de ensaio tem potencial para várias aplicações inclusive em medicina. Estes nano-tubos podem ser preenchidos com materiais, inclusive com moléculas biológicas. A uniformidade e geometria destes nano-tubos lhes confere comportamento linear sujeito à grandes resistências, o desafio e testá-lo. Estão sendo desenvolvidos dispositivos eletro-mecânicos para induzir força e medir respostas. As forças em Newtons e deformações em nanômetros. Classificam-se os nano-tubos quanto ao número de camadas, tais como: nano- tubos multicamadas e camada simples. Os de camada simples (“single-wall carbon nanotubes – SWNTs). Um tipo especial de MWNT é o nanotubo de parede dupla (“double- wall carbon nano-tubes-DWNTs”) é outra forma de nano-tubo de carbono. 93 Figura 6 - Apresenta três tipos principais de nanotubos de carbon. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422007000700037&script=sci_arttext Figura 7 – Escalas de vários constituintes do concreto e aplicações tpicas. Fonte: Balagura e Chong. WWW.google.com.br/search. Acessado em 02/02/2014. Considerações Finais O concreto reforçado com fibras é sem dúvida um novo material com grande potencial de uso na construção civil. Muitas dúvidas sobre a durabilidade serão solucionadas nas próximas pesquisas e observações nas obras já realizadas. Deverão ser implementados critérios mais adequados de projetos e controle tecnológico para o CRF, porse tratar de um novo material que exige um novo enfoque e muitas de suas propriedades ainda serão melhor avaliadas. http://www.google.com.br/search.%20Acessado%20em%2002/02/2014 94 10 EVOLUÇÃO DAS TEMPERATURAS NO CONCRETO Considerações Gerais O calor de hidratação do cimento dá origem a tensões internas, decorrentes de variações diferenciais dos elementos de volume no interior da massa do concreto. O aumento de volume no início das reações do cimento provoca tensões de compressão no concreto. Depois da estabilização térmica ocorre o inverso com a contração volumétrica; o maciço passa a ser submetido a tensões. Analisando toda a estrutura de uma barragem, que é concretada por camadas sucessivas, além do fenômeno da camada tem-se a diferenciação das camadas vizinhas, concretadas em épocas diferentes. A quantidade de calor produzida num volume unitário de concreto depende do tipo de cimento e do consumo dele no traço. A velocidade de geração do calor depende das características dos agregados e da temperatura inicial do concreto. Técnicas de Redução do Efeito Térmico O uso do cimento de baixo calor de hidratação é um recurso de que o tecnologista lança mão para reduzir a produção de calor. A escolha de agregados de propriedades térmicas convenientes – tais como condutividade térmica, calor específico e coeficiente de dilatação – é outra alternativa que, em muitos casos, não é viável pela indisponibilidade de materiais com essas características. Do ponto de vista construtivo, podem-se adotar processos que permitam a dissipação rápida do calor gerado. Dentre as técnicas construtivas tem-se: Subdivisão de camadas de pequena espessura para facilitar a dissipação do calor; Construção de juntas verticais de resfriamento, podendo ser vedadas posteriormente; Execução de uma rede de poços interligados com as galerias; Aumento de intervalos de tempo de lançamentos consecutivos; Uso de equipamentos especiais, tais como a) Refrigerador do concreto fresco; b) Rede de tubos com circulação de água refrigerada durante um determinado tempo; 95 c) Recobrimento das superfícies das camadas com material isolante, durante um certo tempo. Podem-se empregar técnicas combinadas, desde que sejam praticamente exequíveis e economicamente viáveis. Concreto Não-Refrigerado A temperatura inicial do concreto não resfriado é superior à do meio ambiente, conduzindo o calor do concreto para o meio. Nesse caso, deve-se facilitar essa troca de calor, utilizando-se uma camada de menor espessura, e aumentando o intervalo de lançamento. Esses cuidados, para facilitar a dissipação do calor, devem ser redobrados nos meses mais quentes do ano, porque a elevação da temperatura inicial do concreto se agrava ainda mais com a redução do fluxo de perda do calor do maciço. O lançamento do concreto não-refrigerado deve ser feito combinando-se a altura da camada com o intervalo de lança- mento e, se for necessário, deve-se construir juntas verticais e uma rede de tubos para que a queda final de temperatura não dê origem a tensões de tração excessivas no concreto. Concreto Refrigerado O fluxo de calor no concreto refrigerado se processa de dentro para fora até atingir o equilíbrio. Após o equilíbrio, o sentido do fluxo se inverte dissipando o calor do concreto para o meio externo. A redução do fluxo inicial é importante para aproveitar os efeitos da pré-compressão de forma que as tensões de tração finais não prejudiquem o concreto. Empregando-se o concreto refrigerado surge o problema do choque térmico provocado pelo lançamento do concreto sobre a camada inferior com temperatura superior. O choque térmico dá origem a tensões de tração na camada inferior. Esse problema pode ser atenuado com aumento da espessura dos lances, diminuindo-se o número de juntas com aspersão de água refrigerada, ou empregando-se isolante para manter a camada inferior mais fria, reduzindo-se a diferença de temperatura entre essa camada e a subsequente. 96 Processos de refrigeração A quantidade de calor desprendido é cerca de 16 milhões de kcal por milhão de metros cúbicos de concreto lançado, o que equivale a 2.500 t de carvão (Neville, 1977). A variação de volume de concreto é cerca de 300 m³ para cada milhão de metros cúbicos de concreto lançado por 10°C de aumento (que pode atingir até 30°C) (Neville, 1977). Os processos empregados são: Pré-resfriamento; Pós-resfriamento; Combinados. O pré-resfriamento é o processo mais usual, pois atende melhor à moderna tecnologia de lançamento. Os agregados graúdos são refrigerados nos silos e na betoneira, a água de amassamento entra gelada à 2° C e o gelo em escamas a -10° C. A areia, o cimento e a pozolana entram com a temperatura normal. A mistura sai da betoneira a 5° C, chegando à fôrma com, aproximadamente, 7° C. Esse processo foi empregado na barragem da Ilha Solteira. A refrigeração posterior é realizada por intermédio de uma rede de tubos embutidos no concreto, pela qual circula o líquido refrigerado. A grande vantagem desse processo é que ele pode atuar justamente no período crítico de geração de calor maciço. Elevação das Temperaturas do Concreto Cimento O cimento é o que contribui decisivamente para a geração de calor no concreto por seu próprio calor de hidratação. O calor específico do concreto varia com os valores específicos do cimento e dos agregados. Recomenda-se, portanto, empregar cimento de moderado ou baixo calor de hidratação e dosagens com consumo mínimo de cimento, porque a quantidade de calor desprendido é proporcional ao consumo de cimento por m³ de concreto. Fator água/cimento (A/C) O fator A/C influi nos valores finais do calor de hidratação do cimento. As experiências já comprovaram que para menores valores de A/C origina-se um aumento de 97 calor de hidratação devido a um sensível aumento do consumo de água por m³ de concreto. Pozolanas A substituição de parte do cimento por pozolana, na proporção entre 15% e 40%, já é uma prática bastante usada nos concretos de barragens. A pozolana concorre para retardar a reação exotérmica do cimento, além de reduzir a permeabilidade do concreto. Agregados A condutibilidade dos agregados é uma propriedade importante para o concreto- massa, permitindo perda de calor mais fácil, o que acarreta diminuições nas temperaturas internas. Para o concreto não-refrigerado deve-se empregar agregados com alta condutibilidade, baixo calor específico e densidade e, portanto, com maior difusibilidade. Se o concreto for refrigerado, necessita-se de baixa difusibilidade, pois nas primeiras idades é importante que o fluxo de calor seja lento. A difusibilidade térmica é dada pela expressão: Onde: K = condutibilidade térmica; c = calor específico; = densidade. Quanto maior a difusibilidade, maior será a facilidade de dissipação e transmissão de calor. 98 155 11 FISSURAÇÃO E RUPTURA Considerações Gerais Se o concreto está submetido a uma tensão superior a 50% do limite de resistência, já se apresentam microfissuras que se desenvolvem progressivamente até à ruína do material. O concreto é um material essencialmente heterogêneo, cuja resistência à compressão não tem valor fixo e depende da forma e das dimensões da peça comprimida. A comparação das resistências dos corpos de prova com a resistência da peça não é perfeita devido às condições ambientais distintas e aos fenômenos decorrentes da hidratação. Por outro lado, a resistência e o coeficiente de segurança correspondente dependem dos cálculos clássicos da Resistência dos Materiais, aliados à Mecânica das Estruturas e à Estatística. Os valores das resistências e deformações do concreto são medidos emtão importantes quanto o dimensionamento das estruturas. Previsões de Mudanças As previsões de mudanças no concreto para os próximos anos levam-nos às seguintes indagações: Os edifícios vão continuar crescendo para a estratosfera ou vamos viver no subsolo? Os tipos de veículos que irão passar nas pontes, como serão? Os grandes túneis submarítimos para ligações dos continentes serão realmente implementados? Quais as condições que iremos enfrentar? 9 Qual ação positiva irá nos preparar para essas mudanças? Ações Positivas Um programa global de pesquisa, a nosso ver, seria mais indicado, visto que toda a comunidade científica teria condições de participar. Nesse programa estudar-se-ia o comportamento das estruturas mais importantes, ainda em uso, permitindo desenvolver métodos de reparos e conservação. Esses métodos, abertos a inovações posteriores, deverão ser divulgados para uso dos interessados. Em relação às estruturas de pontes, elevados e barragens já existe extensa bibliografia, resultante de pesquisas realizadas nos Estados Unidos. Nessas investigações revelou-se o seguinte: A durabilidade das pontes independe da corrosão das armaduras. A corrosão e a prevenção são dados estratégicos para a avaliação da estrutura. Não se pode negligenciar a fadiga dos materiais de um projeto. A vida útil dos materiais selantes é outro dado importante na proteção da estrutura. Nas vigas de vãos contínuos, deve ser verificada a alta tensão e a norma adotada no seu projeto para permitir melhor avaliação da fadiga característica do tempo de uso. Todos esses itens devem ser bem avaliados pelos especialistas ao montarem um plano de recuperação e manutenção de uma estrutura. Muitas ações positivas deverão ser concebidas nos próximos anos, habilitando profissionais em projetos avançados, em execução e manutenção. Uma ação positiva imediata é a reformulação dos cursos de engenharia, visando formar profissionais contextualizados em uma nova realidade. Concreto de Alto Desempenho A evolução da resistência do concreto começou em 1960, quando o Departamento de Estradas de Washington especificou 41 MPa de resistência à compressão para o concreto pretendido. Nos anos 1970, a produção de concreto de 35 MPa foi introduzida pela Super Concrete Corporation, tendo sido muito usado nos pilares dos primeiros pavimentos dos edifícios. Nessa época, foram revistos os métodos de dosagem do concreto para atingir altas resistências. Embora tenham ocorrido todas essas inovações no concreto, a partir dos anos 1960, o super concreto só foi realmente introduzido em Washington a partir de 1980, cuja 10 resistência à compressão foi, de 41 MPa. Tais mudanças exigiram cimentos, agregados e aditivos de melhor qualidade. Em Melbourne, Austrália, o concreto de alta resistência foi usado inicialmente em 1970, apresentando uma resistência de 50 a 60 MPa aos 56 dias e aos 90 dias de idade. O maior projeto efetivou-se em 1987, quando o concreto foi especificado de 60 a 65 MPa já aos 28 dias de idade. Nessa fase surgiram vários outros projetos. A partir das experiências iniciais, surgiu um novo concreto, denominado “concreto de alto desempenho”. Assim, entende-se que não basta apenas aumentar a resistência, mas melhorar sua durabilidade e outras características importantes da estrutura. A adição da sílica ativa, do superplastificante e dos agregados especiais permite obter concretos com resistências próximas de 200 MPa. Recentemente, surgiu o concreto com pó reativo (CPR), cuja resistência é de até 800 MPa, com previsões para ultrapassar esse limite em um futuro próximo. 11 1 ESTUDOS PRELIMINARES Definições As definições dadas ao concreto por vários autores podem ser resumidas da seguinte forma: “concreto é o produto da mistura de aglomerantes, agregados, água e aditivos”. Os materiais da mistura são proporcionados de modo a conferir ao concreto as propriedades pré-fixadas no projeto. Estas propriedades são definidas de acordo com o dimensionamento da estrutura, sendo mais importantes as seguintes: solicitações mecânicas, térmicas e de outra natureza; variações climáticas; reações dos materiais da superestrutura, das fundações e dos apoios; ações dependentes do tempo e das características reológicas dos materiais. A mistura deve ter características que permitam seu processamento com certa facilidade nos misturados disponíveis, e ser transportada, lançada e compactada sem ocorrer a segregação dos materiais. Os aditivos conferem, entre outras, as seguintes propriedades ao concreto: melhor trabalhabilidade na mistura fresca; aumento de sua vida útil; aceleração da pega ou do endurecimento do aglomerante; promoção da reação pozolônica com a cal livre do cimento; auxílio à cura, evitando a perda prematura da água do concreto; redução da permeabilidade; retardamento da pega do aglomerante; redução dos efeitos de retração hidráulica ou térmica; redução da densidade por incorporação do ar no concreto; nova coloração ao concreto. Evolução Histórica do Concreto O engenheiro Waiss realizou os primeiros estudos de dosagem do concreto e sua aplicação coube à firma Waiss e Freytag. Préaudeau trouxe grande contribuição para 12 proporcionar uma mistura sólida, estudando as características granulométricas e os volumes de vazios. As areias ocupam 26% a 42% do volume aparente da mistura seca, enquanto a pedra contribui com 45% a 50% deste volume. Em 1888, Alexandre estudou o teor da água necessário à obtenção do concreto, tendo concluído que 0,25C a 0,18C são necessários para a hidratação do concreto e que o restante evapora ou permanece dentro dos poros formados durante a hidratação do gel. Em 1890, em um novo estudo propôs-se a quantidade de água necessária em litros por m3 aparente de agregado com grãos entre 0,3 mm a 5 mm. A = 65 + 30 e Onde: d = diâmetro máximo em mm A = volume de água em litros e = volume de agregado Féret realizou vários estudos e publicou cerca de 200 trabalhos sobre os aglomerantes, as argamassas e os concretos. Dando prosseguimento a essas pesquisas, chegou-se a estabelecer uma lei de composição para o concreto. Algumas Características do Concreto Consistência A composição de grãos, desde alguns microns até dezenas de mm, misturada com água, permite o movimento relativo dessas partículas. A película de água formada nas superfícies dos sólidos elimina o atrito interno entre partículas, permitindo à mistura deformar-se sob o efeito de qualquer processo de assentamento. Essa propriedade é chamada de consistência. Os principais fatores que influem na consistência são os seguintes: teor de água de amassamento; forma dos grãos dos agregados; teor de finos na mistura; aditivos plastificantes. 13 O ensaio mais corrente para medir a consistência do concreto é o do cone de Abrams, normalizado pela NBR NM 67 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A grandeza da consistência é medida pelo abatimento do tronco do cone do concreto após a retirada da fôrma. A deformação do concreto pode ocorrer por desagregação da parte superior do tronco de cone ou por deformação plástica, sendo válida somente no segundo caso. Revisão da reologia de suspensões A reologia do concreto fresco está muito influenciada pela reologia dos grãos finos constituintes das pastas. As pastas são misturas de partículas de aglomerantes e água. Sabe-se que essas suspensões são corpos de Bingham, cujo comportamento é representado pela equação: F – f = V Onde: V = viscosidade plástica (poise) F = resistência crítica decorpos de prova normalizados, ao passo que o comportamento da estrutura envolve considerações particulares que não foram levadas em conta nos ensaios de laboratório. Nessa situação, torna-se indispensável o estudo in loco, empregando os recursos da moderna tecnologia. Módulo de Elasticidade No regime de deformação temos: Módulo de elasticidade – considerando-se o módulo à curva tensão-deformação, determinado, por exemplo, pelo método ASTM C-469/70, com carregamento até 40% da carga de ruptura, e segundo o método inglês BS 1881/70, com carga até 33% da carga de ruptura: Módulo de elasticidade instânea – considera-se atualmente a carga dividida pela deformação acusada no instante do carregamento: 99 Módulo de ruptura – coeficiente da carga no limite de ruptura pela deformação correspondente: O módulo de elasticidade instantânea (m) está entre E e M . Se a tensão aplicada produzir deformação ε, o material o R atinge a ruína. A deformação do concreto aumenta com o tempo de aplicação da carga, passando de ε para que é a deformação lenta, e o módulo de deformação passará também de m a Esses fenômenos ocorrem na tração e na compressão. Se o estado de deformação atingir o limite de plastificação, uma vez aliviado o carregamento, recupera-se apenas a deformação elástica, permanecendo uma deformação residual. Quando a tensão aplicada atinge 75% da tensão limite de ruptura, o estado de deformação será irreversível e a estrutura atingirá fatalmente a ruptura depois de um certo tempo. Módulo de elasticidade do concreto de alto desempenho - CAD O módulo de deformação do concreto de alto desempenho é superior ao do concreto convencional. Conforme abordamos no item anterior, no concreto convencional, quando a tensão aplicada atinge 75% do limite de ruptura, o colapso deverá ocorrer dentro de uns 60 dias. Para concretos mais resistentes, poderá chegar à 85% de fe, durante esse mesmo período de carregamento. A previsão do módulo de deformação, de acordo com CE- B-FIP Mode Code (1990), para concretos de peso normal, pode ser calculado por: Ec = 2,15 x 104[ ]1/3 Onde: Ec= módulo de deformação do concreto aos 28 dias (MPa) fcm = resistência média à compressão aos 28 dias. 100 Obs.: se fcm não for conhecida, deve-se substituir por fck + 8, onde fck é a resistência característica à compressão. Para concretos com resistência à compressão entre 42 e 83 MPa, o módulo de deformação poderá ser calculado por: Ec = [ 3,32 √ + 6895] x [ ]3/2 MPa Onde: fc = resistência à compressão MPa δc = massa unitária kg/m³ Fissuras provocadas pela retração do concreto A retração hidráulica e a retração podem fissurar o concreto se não forem tomadas as devidas precauções no controle tecnológico. Exemplo Verificar se haverá fissuração num concreto com as seguintes características: Rm = 800 µ/m U = 50% Dmax = 200 mm n = 0,3 ft = 3 MPa mo= 80.000 MPa Roo = [ 2Rm(1 – U)0,7]/Dn = 2 x 800 x 10-6 x (0,5)0,7/(200)0,3 Roo = 204 x 10-6 será: A deformação máxima que pode ocorrer sem abrir fissura será: Rt = = 375 x 10-6 101 Verificamos que a deformação da retração hidráulica é menor que a máxima permissível para o concreto, daí se conclui que a retração hidráulica não provoca fissura nesse concreto. Considerações A retração nos revestimentos de grande espessura poderá causar fissuras na peça. A profundidade de uma fissura de retração varia com a raiz quadrada do tempo. Abertura de uma fissura de retração Uma fissura se forma quando o esforço de tração provocado for superior ao limite de resistência à tração do concreto. Pelas propriedades do concreto, pode-se relacionar a largura da fissura de retração com a sua profundidade. A fórmula é a seguinte: Onde: υ = coeficiente de Poisson ft = resistência de tração M = módulo de ruptura h = profundidade da fissura Exemplo Considerando-se um concreto com as seguintes características: ft = 3 MPa M = 100.000 MPa υ = 0,3 A largura da fissura em relação à sua profundidade será: 102 l = ) = x h A retração térmica do concreto, provocada por uma diferença de temperatura (t1- t0), é dada pela fórmula: Onde: α = coeficiente de dilatação térmica t1 = temperatura inicial t0 = temperatura final Exemplo Supondo uma diferença de temperatura de 31,2° C, a retração térmica será: Rϴ = 10-5x 31,2 = 321x 10-6 = 312 micorns/m Considerando-se que a deformação máxima permissível seja Rt = = 375 x 10-5 A deformação decorrente da retração térmica é inferior à deformação máxima. Se o concreto estiver sob efeito de outras deformações superpostas, poderá ultrapassar a deformação máxima e abrir fissuras. A profundidade das fissuras de retração térmica também varia com a raiz quadrada do tempo. Fissuras devidas à expansibilidade do cimento O aumento de volume devido a elementos expansivos do cimento também poderá provocar fissuração no concreto. Esses elementos são cal livre, sulfato de cálcio e magnésia cristalizada. Esses óxidos são limitados em cada tipo de cimento para reduzir seus efeitos na expansão de volume do concreto. 103 Ruptura A estrutura interna do concreto é composta dos grãos de agregados ligados pelo gel de cimento hidratado. A resistência do concreto depende de sua idade. Outro fator importante na resistência do concreto é o tempo de permanência da carga. Comprovou-se, experimentalmente, que a 85% da carga de ruptura o corpo de prova se rompe de- pois de um certo tempo, devido à fadiga do concreto. As cargas dinâmicas também levam o concreto a romper-se, com capacidade inferior à de uma carga estática. A altura da peça reduz 10% da capacidade de resistência em relação ao corpo de prova normal. A resistência de um prisma longo, levando-se em conta os efeitos de tempo e altura, será 75% de sua resistência média em corpo de prova normalizado. As formas de ruptura do concreto são: Ruptura da pasta de cimento; Ruptura da aderência entre agregado e pasta; Ruptura do agregado. A ruptura da pasta ocorre nas primeiras idades, quando a hidratação do cimento está na fase inicial de endurecimento. O segundo caso de ruptura é importante ser lembrado por- que é proveniente do uso de agregados com muito pó aderente em seus grãos. As especificações limitam o teor máximo de pó nos agregados justamente para se precaverem das falhas de aderência entre pasta e agregado. Os agregados com muito pó devem ser lavrados. Certas rochas produzem muito pó durante a britagem, devendo ser lavradas durante a seleção das bitolas. A ruptura do agregado se dá quando se emprega material em fase de decomposição elevada. Os ensaios recomendados para se verificar a resistência dos grãos são: Abrasão Los Angeles de agregados – MB-170; Resistência ao impacto – norma inglesa – BS 812/67. Os agregados leves têm resistência inferior à da pasta, portanto a ruptura se inicia pelo agregado. A resistência de tração do concreto é 1/10 da compressão, sendo, por isso, essencialmente utilizado nesta. 104 12 FABRICAÇÃO E CONTROLE DO CONCRETO Fabricação Um ponto importante a ser observado na fabricação do concreto é a organização do canteiro para que os serviços se realizem sem interrupções. A produção deve ser contínua e em volume suficiente para garantir a concretagem dentro de um ritmo satisfatório. Materiais Os depósitos dos agregados devem ser localizados próximos da betoneira e sem riscos de se contaminarem. O modo de depositar os agregados na obra dependerá do volume de concretagem e do processo empregado nafabricação. Para produções pequenas, empregando-se dosagens em volume, os agregados são amontoados separadamente. Nos canteiros maiores, onde se utilizam centrais de concreto, os agregados são ensilados. Geralmente, nos grandes canteiros, há os silos primários e secundários. Os silos secundários já fazem parte do sistema de dosagem do concreto. Os agregados são transportados entre silos e destes para as balanças, por meio de correias transportadoras. O cimento é fornecido em sacos de 50 kg ou a granel. A armazenagem dos sacos deve ser em local seco e ventilado para não acelerar seu envelhecimento. O cimento fornecido para centrais de concreto vem a granel, sendo depositado em silos próprios, localizados próximos das balanças. O transporte dos silos para as balanças é feito por sucção ou parafuso sem fim. Recepção dos materiais O fornecimento dos materiais ao canteiro será programado de forma a facilitar ao laboratório inspecionar e liberar sua descarga. A recepção será feita de forma prática e eficiente para não atrasar a entrega dos materiais. O número de amostragem será estabelecido pelas especificações da obra e, no caso de não se ter tal número, o tecnologista deverá estudar e elaborar um plano de amostragem segundo as normas e as necessidades da obra. 105 Outro instrumento de grande utilidade no canteiro é o manual de procedimento, contendo todas as providências a serem tomadas dentro do controle tecnológico. Esse manual deve ser distribuído a todos os funcionários encarregados da execução e do controle. Agregados Na recepção verificam-se as principais características dos agregados para autorizar sua descarga, sendo que os ensaios continuarão a ser realizados e, dependendo dos resultados, poderão ser rejeitados. Os ensaios imediatos são Verificação da graduação; Presença de impurezas; Aspecto geral, comparado com os agregados já liberados. Os demais ensaios serão realizados para dar cumprimento ao programa de caracterização do material. Existem ainda os ensaios particulares que dependem das necessidades da obra e são recomendadas pelo engenheiro de controle. Dentre os ensaios especiais, podemos citar o de estabilidade ao sulfato de sódio, absorção, velocidade de absorção e secagem, ensaios petrográficos etc. Cimento Na chegada ao canteiro, o cimento será inspecionado quanto à contaminação e formação de pelotas em consequência da umidade. Essa amostragem inicial servirá para todos os ensaios de caracterização realizados depois, devendo-se colher uma quantidade satisfatória para os ensaios de forma que sobre o suficiente para outros ensaios especiais, no caso de qualquer anormalidade no concreto. As instruções de armazenamento das amostras estão na MB-508. Água As exigências quanto à qualidade da água para amassamento do concreto já foram abordadas no capítulo 5. No caso de água não tratada, deve-se proceder a um controle periódico para se verificar qualquer anormalidade. Aditivos 106 Os aditivos serão restados segundo ensaios programados para verificar se satisfazem às indicações de suas especificações. Por exemplo: um aditivo plastificante será ensaiado em dosagens de acordo com as indicações do fabricante, a necessidade da mistura e o tipo de obra. É importante comprovar se não há efeitos paralelos. O emprego de incorporador de ar exige que se façam ensaios diários para determinar a porcentagem de ar incorporado ao concreto. A dosagem deste aditivo deve ser modificada, se for necessário, para manter o teor de ar dentro dos limites estabeleci- dos na dosagem. Segundo o Manual do Bureau of Reclamation, a quantidade de ar incorporado pelo aditivo deve ser no míni- mo de 2% e no máximo de 8%, variando segundo o diâmetro máximo da mistura. Instalações da central de concreto A dosagem em peso é mais recomendada porque proporciona maior precisão, flexibilidade e facilidade nas operações de pesagem. Deve-se fazer o controle da unidades dos agregados com as devidas correções nos pesos. A aferição periódica das balanças torna-se necessária para garantir exatidão nas pesagens dos materiais. Existem novos equipamentos de pesagem mais aperfeiçoados, permitindo precisão e velocidade de descarga dos materiais na betoneira. Os registradores de gráficos combinados com as operações de dosagem e mistura do concreto, nas grandes obras, são instrumentos importantes no controle de qualidade. O registro deve ser visível e contínuo num só rolo de papel. É marcada a quantidade de cada material, incluindo a água, para cada traço e sua consistência. Serão também registradas as horas, com intervalos de 15 minutos. Nas obras médias, os equipamentos são mais simplificados, o cimento pode ser fornecido em sacos e a água é medida por volume. Geralmente as instalações são utilizadas apenas para pesagens, sendo que a mistura se realiza nos caminhões-betoneiras. As dosagens devem ser corretas para que os materiais cheguem às betoneiras na proporção calculada. O cimento é o que mais se perde devido à sua finura, que lhe permite dispersar-se quando cai livremente da balança à betoneira. Pode-se evitar a perda de cimento empregando-se tubos de lona de forma que o material caia todo no interior da betoneira. Os caminhões-betoneiras têm a dupla finalidade de misturar e transportar o concreto. Os misturadores são projetados de forma a misturar e impedir a sedimentação do concreto durante o percurso até o local da descarga. Cada betoneira deve possuir um contador de voltas para que indique o grau de amassamento, que deve ser 40 voltas para 107 materiais alimentados por correias e 60 nos demais casos (United States, 1963). Consta ainda como parte integrante da betoneira um reservatório com dosador de água. A descarga da betoneira deve realizar-se de forma a não afetar as propriedades do concreto. Não se devem empregar grandes caminhões-betoneiras para obras pequenas, evitando- se perdas nas descargas e alterações no andamento normal da concretagem. O controle das pesagens deve ser efetivo. Quando não houver o contador automático, este trabalho deverá ser feito por um anotador. Serão anotados os pesos dos materiais, a quantidade da água de amassamento e a hora. Se o concreto for transportado por caminhões, deverá constar também a placa do referido caminhão para se compararem as características do concreto na sua descarga. Se o percurso for longo, deve-se medir sua consistência na saída e na descarga para constatar se não houve alterações durante o transporte. Controle da consistência e da resistência A medida da consistência do concreto será realizada em todas as betonadas para controle de sua plasticidade e, indiretamente, dos erros na dosagem de água. Normalmente, as variações da consistência do concreto são provenientes de erros na dosagem de água, embora possam ser também devidas a variações na composição granulométrica da areia, ao aumento dos finos no agregado graúdo e a erros na pesagem dos materiais sólidos. O valor da consistência do concreto é um dado importante no controle de sua qualidade, devendo-se estabelecer limites máximo e mínimo dos valores medidos, e rejeitando-se os traços cuja consistência esteja fora dos limites prefixados no controle. Antes de medir a consistência, é preciso certificar se o concreto está bem misturado para não se obterem resultados falsos. Outro fator importante na consistência é a temperatura. Nos dias quentes, a água de amassamento deve ser dosada levando-se em consideração a perda por evaporação. Serão moldados os corpos de prova cilíndricos para os ensaios de compressão do concreto, de acordo com os métodos e as especificações das normas. Os ensaios de resistência com a idade de concreto são outro dado importante no controle de sua qualidade. O número de ensaios de compressão deve ser maior no inícioda concretagem para se estabelecer um traço mais correto para a obra e testar a capacidade do pessoal técnico do laboratório. As datas dos ensaios são normalmente entre os 7 e 28 dias de idade. Em geral, se faz um ensaio aos 90 dias e em um ano de idade. Cada série de corpos de prova deve 108 ser de betonadas diferentes e, se ocorrerem variações muito grandes nas misturas, deve-se aumentar o número de ensaios para determinar a porcentagem dessa variação. O número mínimo de corpos de prova por volume de concreto lançado é de uma série a cada 100 m³ de concreto, segundo a NBR-6118. Esse número pode ser aumentado de acordo com as necessidades do controle. O peso unitário do concreto é outro ensaio que deve ser feito no canteiro para nos permitir calcular o volume de concreto por betonada e para determinar a porcentagem aproximada de vazios da massa e o consumo dos materiais por m³ de concreto. Concretagem Antes do início da concretagem propriamente dita, temos os serviços preliminares que englobam todos os preparos e providências para o início do lançamento do concreto. Em linhas gerais, esses serviços são: Verificação do estado das armaduras; Preparo das fôrmas, superfícies e juntas de concretagem; Construções auxiliares de acesso aos locais de concretagem. 109 Figura 8: Central de concreto Fonte: WWW.centraldeconcreto.com.br/google search. Acessado em 29/03/2014 http://www.centraldeconcreto.com.br/google 110 Figura 9 – Caminhão betoneira sendo carregado. Fonte: WWW.google.com.br/google search. Acessado em 04/02/2014. Figura 10: Caçamba de concretagem com descarga m anua l . Fonte : WWW .goog le .com .br /goog le search . Acessado em 4/02/2014. A verificação do estado das armaduras é conveniente porque, dependendo do período em que ficou exposta ao tempo, será necessário algum tratamento superficial antes de liberar a concretagem. Depois de se verificarem as armaduras e de se proceder conforme as recomendações do tecnologista ou do fiscal faz-se a limpeza das fôrmas e algumas vedações, se necessário. Um pouco antes da concretagem, as fôrmas devem ser umedecidas para não absorverem a água do concreto. O tratamento das superfícies e juntas de concretagem também é um serviço http://www.google.com.br/google%20search.%20Acessado%20em%2004/02/2014 http://www.google.com.br/google%20search.%20Acessado%20em%2004/02/2014 http://www.google.com.br/google 111 importante, devendo ser realizado de acordo com o que recomenda a tecnologia. As superfícies devem estar limpas, úmidas e tratadas, quando se fizer necessário. Quando a superfície for uma rocha, remove-se a camada superficial e se utilizam vários recursos para que a rocha seja mantida intacta até receber o concreto. Essa proteção pode ser uma camada de argamassa ou de produtos químicos estabilizadores ou betuminosos. Nos trabalhos sobre o solo, a camada de apoio do concreto deve estar úmida. Se o terreno for seco, deve ser umedecido até uma profundidade suficiente para não afetar o concreto no período inicial de cura. Nas superfícies drenantes, emprega-se papel alcatroado ou plástico para se evitar a perda de água e de pasta no período inicial da concretagem e do endurecimento do concreto. Juntas de concretagem Existem uma série de recomendações para tratamentos das juntas de concretagem, a fim de se conseguir maior aderência e impermeabilidade entre os concretos de idades diferentes. O preparo da junta consiste inicialmente na remoção da camada superficial de pasta. Essa remoção pode ser feita logo depois que o concreto começa a endurecer, sendo chamada de “corte verde”. Depois de o concreto endurecer, remove-se a camada superficial com jato de areia; essa operação é chamada de “corte seco”. A finalidade desse corte superficial é eliminar a camada frágil, composta de grande porcentagem de pasta que aflorou durante a vibração do concreto. Um outro processo de remoção dessa camada seria utilizar um aditivo retardador de superfície. No reinício da concretagem, a superfície deve estar limpa e úmida. A garantia de uma boa aderência será conseguida se a superfície de contato do concreto novo não tiver material fluido ou muito seco. Uma superfície rugosa por si só não é suficiente, devendo-se tomar as precauções para garantir a consolidação dos dois concretos. As juntas de concretagem nas peças pequenas devem ser evitadas porque não se consegue um tratamento eficiente e a seção se torna frágil e susceptível à formação de fissuras. Construções auxiliares de acesso As construções auxiliares de acesso são rampas, passarelas etc., destinadas ao transporte do concreto até a fôrma. Essas construções devem ser seguras e compatíveis 112 com sua finalidade e não podem transmitir vibrações prejudiciais às fôrmas já concretadas. Transporte Os sistemas de transporte do concreto fresco dependem do volume de concreto da obra. Todos eles devem ser rápidos e não devem afetar a homogeneidade da mistura. Caminhões-betoneiras – este transporte tem a vantagem de funcionar também como misturador e agitador do concreto. Caminhões basculantes e carros – muitas vezes se empregam caminhões basculantes e carros pequenos para transporte do concreto. Esses meios de transporte têm o inconveniente de provocarem a segregação do concreto durante a carga e descarga, devendo-se adotarem métodos corretos para evitá-la. Caçambas – as caçambas são projetadas para serem transportadas por guinchos especiais, caminhões ou outro veículo apropriado. Sua capacidade depende do volume de concretagem e do veículo de transporte. A boca de saída do concreto deve ser suficientemente grande e de fácil manejo, de forma que poderá ser fechada antes de descarregar todo o concreto, no caso de descarga intermitente. Bombas – o transporte por bombeamento tem um raio de ação de 300 m na horizontal e de 35 m na vertical. Cada curva da tubulação corresponde a uma redução de 10 m da distância de transporte na horizontal. O concreto para bombeamento deve ser plástico, com uma mistura bem composta para evitar segregação no tubo. Transporte de correias e calhas – não se fazem restrições aos transportes por correias ou calhas, devendo-se tomar cuidado para se evitar perda de argamassa por esse sistema e se evitar segregação do concreto na descarga. As regiões semiáridas estão sujeitas a tormentas de pó que podem prejudicar a camada superficial do concreto. Nessa situação de concretagem, devem-se cobrir as superfícies concretadas durante a tormenta. Concretagem de barragens No concreto-massa, as alturas de concretagem devem ser dimensionadas de acordo com as características dos materiais e os processos de fabricação e cura, para se evitarem os fenômenos térmicos. O concreto-massa deve ser vibrado até que não haja dúvida quanto à sua compactação. É costume revibrar o concreto junto às paredes das fôrmas de pedra na retirada destas. O concreto para revestimento de túneis deve ser bem 113 plástico, com um abatimento de 10 cm e um teor de areia aumentado de 2% a 4% a fim de que o concreto possa se assentar convenientemente dentro da fôrma, envolvendo toda a ferragem, e ocupar todos os espaços vazios do molde. O emprego de incorporador de ar é também recomendado para se evitar a segregação do concreto para túneis. O diâmetro máximo da mistura depende dos espaçamentos das armaduras e da espessura do revestimento. Lançamento O concreto deve ser convenientemente colocado na fôrma para se evitar a separação entre a argamassa e o agregado graúdo. Nas peças muito armadas e nas peças esbeltas, deve-se cuidar para que a argamassa não fique aderida às armaduras ou às paredes dos moldesdurante a queda. Também o diâmetro máximo da mistura deve estar dentro das limitações da peça a ser concretada. Para se evitarem a separação e a aderência da argamassa nas paredes da fôrma e nas armaduras, a concretagem de parede e de peças delgadas deve ser feita por meio de uma canaleta de material flexível. A altura de queda deve ser observada porque, se for muito grande, o material mais leve, a argamassa tem menor velocidade de queda livre, e a perda chegará primeiro ao fundo da fôrma. As peças de grandes alturas deverão ser concretadas por etapas. Um empecilho muito comum numa concretagem é a chuva. A decisão a ser tomada durante a concretagem deve ser rápida para se evitar problemas na continuidade dos serviços. No caso de obras correntes, a concretagem poderá prosseguir se tiver coberturas moduladas para proteger o concreto recém-lançado da ação da água que lavará toda a argamassa superficial. A maior dificuldade em prosseguir uma concretagem numa obra de grande massa é que se torna impraticável a cobertura do concreto fresco e a argamassa superficial fluem rapidamente com a água. A melhor decisão será a paralisação da concretagem durante a chuva. A figura 11 apresenta o lançamento do concreto por bombeamento. 114 Figura 11 – Bombeamento do concreto. Fonte: arquivo cedido por Leonardo Valle Pinheiro A concretagem de tubulões submersos deve ser feita com emprego de tremonhas, utilizando-se um concreto bem plástico, com um slump inicial entre 15 cm e 18 cm nas primeiras cama- das. Nas subsequentes, deve-se empregar concreto com slump entre 19 cm e 21 cm. O teor de argamassa para esse concreto é superior ao dos outros, devendo a porcentagem de areia, em volume, estar entre 40% e 50% do total de agregado. O uso de incorporador de ar é conveniente para permitir a redução do teor de água de amassamento e aumentar a impermeabilidade do concreto. Outros cuidados na concretagem de tubulões é a manutenção de um fluxo contínuo e a permanência da extremidade da tremonha sempre dentro do concreto, para evitar que ele se contamine pela água do tubulão. Toda a camada que foi lançada primeiramente será eliminada do tubulão. Tubulões à céu aberto deve ser concretado observando as regras de lançamento do concreto com altura de queda livre máxima de 2,00 metros para evitar segregação. Na figura 12 a seguir, apresenta a conclusão da concretagem de um tubulão a céu aberto. 115 Figura 12: conclusão da concretagem de um tubulão à CE aberto. Fonte: imagem cedida por Leonardo Valle Pinheiro. Adensamento O adensamento do concreto faz-se necessário para se eliminarem os vazios no seu interior, aumentando sua capacidade. O efeito da vibração na massa de concreto só se faz sentir em frequências superiores a 3.000 vibrações por minuto. O vibrador de imersão é geralmente mais eficaz nas peças de grandes volumes. Sua posição dentro da massa deve ser na vertical para transmitir os efeitos com maior intensidade. A vibração de placas pode ser feita com vibradores de superfície. O tempo de vibração é suficiente quando a pasta começa a fluir na superfície. Deve-se estabelecer um raio de ação dos vibradores para se evitar que alguns pontos fiquem supervibrados e outros com vibração deficiente. Cada camada concretada tem de ser vibrada para assegurar a uniformidade total do concreto. Nas juntas de concretagem deve-se vibrar bem para garantir a aderência entre os dois concretos. Geralmente, os defeitos da concretagem são provenientes da falta de vibração, sendo raros os casos de excesso dela. A revibração tem sido recomendada em certos casos para corrigir as falhas da primeira vibração. Pode ser feita antes de o concreto iniciar a pega, estando ainda num estado 116 plástico. A revibração é mais aplicada para eliminar as fissuras provenientes da deformação plástica do concreto e os efeitos da exsudação interna, e também nas juntas de concretos das estruturas impermeáveis. Na figura 13 apresenta concretagem de uma laje. Figura 13 – Concretagem de uma laje. Fonte:Arquivo cedido por Leonardo Valle Pinheiro. Controle de Qualidade Conforme referimo-nos na introdução desse trabalho, o controle tecnológico do concreto em obras especiais consiste em uma série de atividades que devem ser elaboradas dentro de uma metodologia, planejadas e otimizadas por computadores, incluindo-se as inovações provenientes dos aprimoramentos das técnicas já experimentadas. A nosso ver, o projeto tecnológico deve ser elaborado ao mesmo tempo em que o planejamento da estrutura, cabendo, na época de sua execução, apenas uma análise e ajustagens dentro das condições de execução da obra. Essas ajustagens se fazem necessárias mesmo no decorrer do controle porque poderá haver modificação de alguma programação, surgir algum imprevisto e até mesmo ocorrer algum progresso no conceito propriamente dito. Os especialistas em controle de qualidade do concreto têm, em cada obra, um novo campo de pesquisa, que lhes dará oportunidade de contribuir para o desenvolvimento da prática da tecnologia do concreto. 117 Dentro dessas ideias gerais, poderemos atingir altos níveis de aperfeiçoamento global sem as limitações burocráticas de técnicas que guardam o título de knowhow próprio, correndo o risco de se fazer o que para muitos já se tornou mera rotina. Objetivos do controle de qualidade O controle de qualidade tem como objetivo o estabelecimento de padrões que assegurem a qualidade em níveis econômicos. As novas técnicas de controle atuam em todas as fases de execução do projeto, de forma a evitar as falhas decorrentes de processos construtivos ou de materiais empregados. A frequência das amostragens para verificação das características dos materiais é dimensionada dentro do projeto tecnológico de forma a assegurar o nível de qualidade necessária à obra. O parâmetro qualidade tem valores distintos para uma mesma amostragem. A normalização não fixa um valor ideal para um produto, ao contrário, para normalizar, considera a finalidade do projeto, sua vida útil e a garantia de segurança que lhe possa ser conferida. Por isso, nenhuma norma de qualidade pode atender a todas as condições que possam existir, mas ela deve ser eficiente. As entidades normalizadoras desenvolvem suas próprias normas, tendo como base os subsídios da experiência de seus membros, com as limitações que possam atender aos casos gerais. Em obras especiais, muitas vezes tem-se de recorrer a normas internacionais, com as devidas adaptações que satisfaçam as exigências do projeto. Com referência aos materiais, nas especificações constam os seguintes elementos: Tipo e umidade do material; Identificação dos lotes; Características do material; Plano de inspeção; Métodos de ensaios; Grau de precisão exigido. Uma outra função do controle é verificar se o sistema adotado permanece estável dentro do grau de aceitação. Especificação da qualidade 118 As especificações – em sua forma primitiva, quando não existiam padrões de medida – traziam as características especificadas com palavras, utilizando-se adjetivos, porém a ambiguidade na interpretação quase sempre gerava polêmicas. Com a adoção de especificações e o desenvolvimento de técnicas de medidas foi possível padronizar as unidades de medidas. O estabelecimento de uma especificação conduz a uma norma de qualidade, isto é, à amplitude dos valores das propriedades de um determinado produto; valores esses necessários e suficientes para que sua qualidade seja satisfatória. Elaborar uma especificação constitui a primeira fase de um ciclo de controle de qualidade. A especificação indica o que é necessário para se estabelecer uma norma. As apreciações das normas e especificações da obra devem ser constantes e atualizadas sempre que se fizer necessário.Garantia de qualidade (GQ) Garantir a qualidade de um produto é realizar seu controle e inspecionar se ele está sendo feito dentro das condições estabelecidas no projeto. O papel da garantia de qualidade é elaborar os procedimentos de controle e administrar o programa de qualidade na execução das obras civis. Depois de aprovado o programa de qualidade, serão aprovados o manual de garantia de qualidade e as revisões necessárias. Estabelecer-se-ão também o programa de auditagem e as providências para assegurarem o cumprimento do programa de qualidade. Em linhas gerais, essas são as atribuições da GQ num canteiro de obras. 119 13 DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO Definição A deterioração das estruturas do concreto é a perda das propriedades do concreto ante os agentes agressivos que vão provocando reações deletéreas na sua microestrutura. Causas da Deterioração A corrosão das armaduras ou os efeitos de certos elementos podem causar a deterioração das estruturas de concreto. Corrosão das armaduras A corrosão das armaduras é o resultado da reação química e eletroquímica do aço com o meio. A fórmula da corrosão é a seguinte (HELENE, 1986): Aço + Meio ↔ Produção da corrosão + Energia Exemplo: 2 Fe + 2 H2 O + O2 → 2 Fe2+ + 4 OH– 2 Fe 2+ + 4 OH– → 2 Fe(OH)2 → ferrugem ou FeO . O (2) 2 Fe(OH)2 + H2 O + ½ O → 2 Fe(OH)3 → ferrugem ou Fe2 O3. H2 O(4) Obs.: (1) → Hidróxido ferroso fracamente solúvel (2)→ Óxido ferroso hidratado expansivo (3)→ Hidróxido férrico expansivo (4)→ Óxido férrico hidratado (goetita) (expansivo) 120 A presença de Cl– no meio acelera a corrosão dos aços. Define-se o produto da corrosão como a volta do metal à sua forma primitiva (minério). Isso quer dizer que a corrosão é o inverso do processo de metalurgia. As condições necessárias para se processar a corrosão – somente para a corrosão eletro- química – serão Meio oxidante; Metal + meio oxidante com maior energia; Interface descoberta entre o meio e o metal; Material metálico e meio condutor elétrico. O resultado da corrosão nas armaduras consiste na perda de resistência mecânica, fissuração, fratura e aumento de volume. O aumento de volume das armaduras provoca a desagregação da camada de recobrimento do concreto. Além da corrosão dos aços, o produto em presença da cal hidratada forma um pó branco estável, o ferrito de cálcio: 2 Fe(OH)3 + Ca(OH)2 → (FeO2) Ca + 4 H2O Se o concreto estiver em contato com a água, a proteção das armaduras deve impedir a penetração da água no concreto, porque esta levará o oxigênio. Corrosão eletroquímica Os íons Cl- , S2- e outros, dissolvidos na água, produzem uma reação catódica: H2 O + ½ O2 + 2e → 2 (OH)– E o líquido passa a ser o mecanismo da corrosão do metal. Fe Estado Reduzido ↔ Fe++ + 2e Estado de oxidação O movimento dos elétrons é no sentido horário, removendo os átomos do cátodo para ânodo, depositando a ferrugem. Esse fenômeno produz um aumento de volume da barra onde a ferrugem é depositada. 121 A ação de agentes biológicos em meio alcalino, como é o caso do concreto, reduz o SO3 do cimento. Os íons de enxofre S – –, em presença de íons Fe++, formam o sulfeto de ferro: Fe++ + S-- → FeS A proteção catódica é empregada na corrosão eletroquímica. Os outros processos de proteção contra a corrosão das armaduras são: Limitação da fissuração no concreto; Emprego de concreto de baixa permeabilidade; Aumento da camada de recobrimento das armaduras; Proteção superficial. A adoção de um sistema de proteção das armaduras, além da conferida pelo concreto convenientemente dosado, só é viável em casos especiais que justifiquem o custo da proteção. Efeitos de certos elementos sobre o concreto A deterioração do concreto em presença de um meio se processa pela destruição dos agregados ou da pasta. Outras vezes, a deterioração é o produto da expansão de cristais, causando tensões internas que, consequentemente, formarão fissuras no concreto e, posteriormente, sua desagregação. A seguir citaremos alguns dos principais elementos que têm ação destrutiva sobre o concreto. Ácidos: Acético Águas ácidas (pH 25%) Hidróxido de sódio (>20%) Nitrato de amônio, potássio e sódio sulfatos Todos os elementos já citados têm ação destrutiva sobre a pasta ou sobre os agregados, dependendo de sua origem (formação geológica). Ação dos sulfatos sobre o cimento Os sulfatos podem reagir com os aluminatos de cálcio, com o ferroaluminato de cálcio ou, ainda, com a alumina e óxido de ferro da pozolana, produzindo a deterioração do concreto. O composto hidratado, resultante da reação do sulfato com o aluminato de cálcio, é a etringita (sulfoaluminato de cálcio) fortemente expansiva. A etringita pode ser formada diretamente do C3 A ou através do C3 AH6. Na primeira reação, a etringita é produzida diretamente do C3 A e C-Ŝ-H, ficando uma parte de monosulfato que, em presença de sulfato (S), água e cal, dá origem a etringita expansiva da segunda reação. Sobre a ferrita do cimento – que normalmente se apresenta na forma C2 F – C6 A2 F ou C4 AF –, a ação do sulfato será sobre o C4AF que hidrata de forma semelhante ao C3 A. Dependendo da concentração de sulfato, os produtos resultantes são: C6AFŜ3H32 ou C4AFŜ3H32, embora sejam similares as reações do aluminato tricálcico, não apresentam riscos de deterioração. O sulfato de sódio na presença da cal hidratada, provoca uma troca catiônica, formando o sulfato de calico e liberando o sódio hidratado Na(OH). Da mesma forma acontece com o sulfato de magnésio. Uma vez liberado o sulfato de calcio nos dois casos, segue o mecanismo de formação da etringita. O sódio também presente no concreto, ataca o C-S-H, provocando sua porosidade (osteoporose do concreto). Resistência ao sulfato A deterioração do concreto por ação de sais sulfatados se processa segundo os seguintes mecanismos: 123 Expansão e fissuração devido à formação da etringita; Perda da resistência do concreto. Geralmente, as soluções sulfatadas são compostas pelos ácidos naturais. Uma exposição prolongada desses ácidos com a cal do cimento se transforma no sulfato de cálcio, que passa à atividade com o C3A. O teste de resistência ao sulfato se processa através de ácidos – para simular as condições de obras subterrâneas –, ou através de sais – quando simular a água do mar. Nos testes simulados, há renovação das soluções, para que o processo de ataque seja o mais próximo das condições naturais, que se processam de forma renovada e contínua. O processo de deterioração é acompanhado medindo-se a expansão, fissuração, perda de resistência, tipo de ataque dos sulfatos. Na avaliação do trabalho de Rasheeduzzafar e outros (1992), os testes com cimento tipo I, C3 A = 9,5%, e tipo V, C3 A = 2,8%, ficou constatado que os corpos de prova com cimento tipo I fissuravam em media, no mesmo período, cerca de 1,6 vezes mais que os corpos de prova com o cimento tipo V. O mesmo comportamento verificou-se com a proteção da armadura, em que o desempenho de cada tipo de cimento está ligado aos teores de C3 A. O cimento tipo I produz maior quantidade de cloro-aluminato de cálcio, dando maior eficiência ao bloqueio tanto da corrosão da armadura quanto da formação do sulfoaluminato de cálcio hidratado. Verificou-se também que como cimento de C3 A = 1,9 – e C3 A = 14,3% onde se evidenciou este último – houve maior proteção contra a indução da corrosão da armadura. Todas essas constatações foram importantes para avaliar o desempenho de cada tipo de cimento nas condições ambientais das águas com cloretos e sulfatos. Daí a ideia de reduzir ao máximo o teor de C3 A nos cimentos destinados a obras marítimas não ser compatível com o comportamento real da estrutura que envolve efeitos simultâneos em divergência com a teoria convencional. O problema é mais complexo quando se avalia uma estrutura de fundação em que os teores de sulfatos e de cloretos são elevados. Nesse caso, a resposta do cimento com menor teor de C3A é melhor que a dos demais cimentos. Aqui o ideal é que o aluminato tricálcico tenha um teor médio de 6% para dar adequada proteção à armadura quando na deterioração do concreto. Outra exigência na composição química desse cimento é que o consumo de gipsita seja em torno de 3%, porque o CaSO.2H2 O, combinado com os 6% de C3A, formando o tri-sulfoaluminato hidratado e o monosulfoaluminato hidratado pela reação cinética. 124 Torna-se necessária uma melhor avaliação dos tipos de cimentos e de suas composições químicas para se estabelecerem novos limites dessas composições. Assim atende-se com melhor desempenho as obras de superestruturas e de fundações em ambientes úmidos, pois embora tenham os mesmos elementos nocivos ao concreto, a forma de comportamento é diferente, conforme já se constatou nas observações ao longo desses últimos anos. Deterioração devida ao ataque de sulfato O cimento tipo I, de alto teor de C3A, acrescido de microssílica, tem bom comportamento ante o ataque de sulfatos. O uso do cimento modificado com aditivo tem dado bom resultado tanto para obra de fundação quanto para superestrutura. Todo cimento resistente ao sulfato tem também bom desempenho no combate à indução de corrosão das armaduras. Por essa razão, a adição da pozolana ao cimento é indicada para obras em meio agressivo. O hidróxido de cálcio acelera o ataque do sulfato. Essa teoria indica que o cimento com menor teor de Ca(OH)2 tem maior resistência ao sulfato devido à menor solubilidade do aluminato tricálcico, que não reage diretamente com os íons sulfatos. A redução do Ca(OH) pode ser conseguida com a adição de microssílica, que produz uma fase secundária de C-S-H. Segundo hipótese do professor Mehta (1994), a ausência de Ca(OH) dá origem a uma etringita alongada, formando uma malha não expansiva. Somente na condição de alta concentração de Ca(OH)2 forma-se a etringita microcristalina, capaz de absorver grande quantidade de água, provocando uma expansão violenta. Lea e outros (1976) explicam que a evolução do cimento pozolânico, para combater a ação de sulfatos, é justamente baseada na formação do C-S-H secundário, que reduz a atividade do sulfato com o C3 A. Papel da gipsita no ataque por sulfatos Foi visto que um maior teor de hidróxido de cálcio aumenta a formação de gipsita causando perda da resistência da rigidez da pasta de cimento. Dados de resistência desenvolvidos por Mehta, Pirtz e Polivka (apud Onyang, 1988), em argamassa de cimento alítico com 9,3% e 6% de gipsita, indicaram uma significante perda de resistência com um teor de 6% CaSO4 .2H2 O. De acordo com Bentur (apud Onyang, 1988), o efeito da gipsita no cimento pode ser interpretado como perda de resistência do C3S, por interferir na formação do gel C-S-H, no curso da hidratação do cimento. O acréscimo de gipsita faz crescer a formação de gel, embora ocorra uma significante perda de resistência intrínseca. 125 Esse fenômeno foi muito bem caracterizado, podendo-se afirmar que o aumento da gipsita faz perder a resistência do C-S-H pela substituição parcial de sílica por sulfato, na matriz original de silicato de cálcio hidratado. Pode-se relacionar também com a relação de sulfato e sílica. Essa é outra indicação de que, a seu turno, crescendo com a relação C/S na formação do gel de C-S-H, provocando sua queda de resistência. O teor de ar incorporado ao concreto já é recomendado nas regiões sujeitas à presença de sulfatos. Assumindo-se mais essa condição do teor de ar como novo parâmetro de durabilidade do concreto pode-se afirmar que: O teor de ar incorporado ao concreto tem efeito na redução do fator água/cimento, resultando na influência da permeabilidade, outro fator de influência na resistência ao sulfato; O ar incorporado ao concreto bloqueia a entrada de líquido, que promove um maior contato do agente agressivo. Verbeck (apud Brown, 1983, p. 36-39) afirma que o ar incorporado ao concreto tem efeito indireto, pois é justamente isso que permite sua redução ao fator água/cimento, trazendo como consequência as seguintes propriedades ao concreto: Aumento da resistência mecânica Redução de sua permeabilidade Maior eficiência na adição de pozolanas. Neville (apud Brown, 1983, p. 36-39) defende a ideia de que o incorporador de ar no concreto tem efeito no aumento da resistência ao sulfato, justamente por permitir a redução da água da mistura. De acordo com a norma canadense (CSA) o ar incorporado bloqueia a porosidade aberta da pasta. Da mesma forma, os grãos de sílica das pozolanas o fazem porque são esféricos e, mesmo não combinados, sedimentam-se dentro dos poros provocando seu fechamento. Todos esses efeitos são físicos e prejudicam sua atividade química deletérea. Sobre a atividade da sílica da pozolana na pasta de cimento, pode-se concluir que são de duas naturezas: Química: fixação da cal, formando o gel C-S-H secundário. Física: tamponamento dos poros, impedindo a entrada de íons SO4 -- 126 De acordo com Verbeck (apud Brown; Bates, 1983, p. 36-39), De acordo com Verbeck (apud Brow: Bates, 1983, p.36-39), a hidratação do C2S produz o C-S-H menos permeável se comparer ao mesmo produto de hidratação do C3 S. Essa teoria de Verbeck é ainda confirmada por Takemoto e Uchikawa (apud Brown, 1983) segundo suas pesquisas sobre cal e pozolana. Para se obter um concreto resistente aos sulfatos, é necessário lançar mão de todas essas alternativas que visam impedir o ataque tanto por bloqueio quanto por processo físico. Sabe-se que, na história da aplicação de concreto resistente a sulfatos, desde 1904, começou-se a usar cimento de baixo teor de C3A e baixo fator água/cimento, seguindo-se as especificações norte-americanas. Nos últimos anos, esses conceitos têm sido revistos e novas teorias foram surgindo até se chegar à conclusão de que não basta apenas reduzir o teor de C3A e o fator água/cimento para que o concreto resista satisfatoriamente à ação do sulfato. O teor de cimento também é outro parâmetro abordado por algumas especificações. Existe uma fórmula que calcula o consumo mínimo de cimento em função do diâmetro máximo da mistura, segundo a expressão a seguir: C = 750/ √ kg/m³ C = consumo de cimento por metro cúbico de concreto D = diâmetro máximo da mistura em mm. Os dados dos estudos de Verbeck (apud Brown; Bates, 1983) indicam uma significante redução na expansão do concreto com alto consumo de cimento, embora o teor de C3 A seja de 11%. Conclusões O melhor desempenho do cimento em meio sulfatado para proteção da armadura será aquele com teor de C3 A em torno de 10%. A adição de produtos pozolânicos ao cimento do tipo comum aumenta sua resistência aos sulfatos, além de dar maior proteção a armadura. A incorporação de ar ao concreto é outra alternativa que vem melhorar o desempenho do cimento nas estruturas em ambiente sulfatado. O maior consumo de cimento reduz a expansão do concreto na presença de sulfatos. 127 14 AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO Introdução As experiências mais recentes têm demonstrado que a integração dasestruturas é indispensável para não alterar seu comportamento funcional. A transição do concreto do século XX para o concreto do século XXI apresenta nova concepção na reabilitação das estruturas já existentes, devido à necessidade de promover a integração desses dois elementos. O sistema é entendido como um conjunto de componentes interligados e inter- relacionados. A concepção holística irá predominar para melhor entendimento da estrutura como um todo. Conforme essa ótica, pode-se dizer que um sistema é formado por um conjunto de componentes ou subsistemas de primeira ordem. Por exemplo, na recomposição de um pilar, tem-se a armadura adicional, o material de aderência entre os dois concretos e o concreto com outro material incluído para a recuperação. Dentro do próprio concreto, os materiais constituintes podem ser considerados como subsistemas. Estabelece-se, dessa forma, uma cadeia de ligação entre vários subsistemas. Estabelece-se, assim, a hierarquia dos subsistemas. Os subsistemas de primeira ordem interagem com outros de ordem superiores. Nessa forma de análise poder-se-á definirem os fatores necessários para se estabelecer a harmonia entre os componentes de um sistema e projetar a melhor forma de reabilitar uma estrutura. A escolha de materiais para recuperar uma estrutura deteriorada será pelo seu desempenho ao longo do tempo. Será previsto quanto vai durar o reparo sem muitos gastos com manutenção, um fator muito ponderado no estudo. Assim são definidos materiais de alto desempenho para se tornar a estrutura durável. Também se deve questionar se os materiais duráveis produzem estruturas duráveis. Essa é a nova visão a ser adotada pelos profissionais que trabalham com reabilitação de estruturas. Compatibilidade entre os dois Materiais Na escolha do material para reparo, analisa-se a compatibilidade com a parte existente, observando-se os seguintes parâmetros: 128 Variações volumétricas; Saturação e secagem; Reações químicas; Módulo de deformação. As variações volumétricas devem ser compatíveis para se evitarem deformações diferenciais, causadoras de fissuração. Da mesma forma, a saturação e a secagem não devem trazer transtornos no comportamento do sistema. As reações químicas, ao longo do tempo, devem ser evitadas porque podem causar efeitos danosos na estrutura. Quanto ao módulo de deformação, interessa o comportamento da estrutura em serviço, assegurando a sua estabilidade. A aderência entre os dois materiais deverá garantir a interação das partes que vão trabalhar juntas num mesmo sistema. A ancoragem mecânica na interface concreto- reparo dependerá da rigidez e da porosidade do substrato. O Sistema em Concreto O concreto ainda permanecerá por muitos anos como o melhor material para estruturas. Estuda-se no ACI o tipo de concreto adequado para construção na Lua. Tal a sua versatilidade, que ainda não se cogita a substituição desse material por outro concorrente. Quando bem estudado e executado, o concreto incorpora todos os requisitos exigidos para uma estrutura de alto desempenho. Uma boa durabilidade das obras de concreto já não é segredo para o setor da construção. Para conferir um longo período de vida útil ao concreto, devem-se considerar os seguintes fatores importantes: Projeto compatível com o ambiente; Seleção dos materiais para se conseguir uma baixa permeabilidade; Metodologia adequada de construção; Manutenção das estruturas. As causas mais frequentes de deterioração das estruturas são corrosão das armaduras, efeitos químicos da relação álcali-agregado e ações de sulfatos sobre o aluminato tricálcico do cimento. 129 Estado Atual O estado atual da arte tem possibilitado a construção de obras monumentais de concreto. Assim permite-se afirmar que o concreto é um material que “deu certo” e continuará insubstituível por muitos anos. Entretanto a deterioração dessas obras será uma grande preocupação neste século. Devem-se empenhar todos os esforços para que elas continuem a servir às próximas gerações. Como resultado dessa dinâmica para reabilitar e recuperar essas obras surgirá indústrias especializadas nesse setor, que buscarão resolver todos os problemas para que essas estruturas continuem sendo úteis. Pode-se assegurar que muitos reparos serão realizados nesses próximos cem anos, serão desenvolvidos novos mate- riais e metodologias para repararem e reabilitarem as construções em concreto. Embora se tenha muito conhecimento sobre deterioração das estruturas de concreto, ele ainda é incipiente. A filosofia desse assunto muda seu curso quando Mehta e Monteiro (1994) propõem o reducionismo: o estudo de uma única variável com o tempo. Esse caminho facilita a pesquisa com a análise do problema de forma holística. O reducionismo vai mais longe, vencendo a barreira entre o laboratório e a realidade, estabelecendo uma ligação entre os dois setores. Os estudos serão dirigidos para modelos reais. A integração pesquisa/indústria começa a tomar impulso para solucionar melhor a recuperação e reabilitação do concreto, pois caberá à indústria se equipar para desempenhar esta função. A informática possibilita a elaboração de um projeto com avaliação de todos os fatores intervenientes para que engenheiros e arquitetos possam se entender melhor na concepção de projetos estáveis e duráveis. Significado da Pesquisa A primeira avaliação de uma estrutura é baseada na inspeção visual, quando se analisam os problemas existentes e se estabelecem os próximos passos a serem percorridos. A avaliação do grau de deterioração de uma obra permite verificar se compensa recuperá-la. Duas constatações devem ser indispensáveis neste estudo: o custo da recuperação e o tempo ou a vida útil que terá nesta nova fase. Uma inspeção mais apurada sucede à visual, quando se utilizam equipamentos mais atualizados para realizar os testes que se fizerem necessários. Serão investigados procedimentos mais adequados para recuperação e reabilitação. 130 O projeto e a especificação do reparo serão adaptados ao concreto existente. Caberão ao engenheiro e ao arquiteto os princípios da engenharia de reparos, de forma a se obter uma estrutura resultante como se fosse nova. A estrutura reabilitada terá todos os requisitos para atender à sua função e resistir às agressões ambientais. Demolição A reabilitação do concreto começa pela demolição da parte deteriorada, a qual será substituída por outro concreto ou outro material que tenha sido escolhido para recompor a estrutura. A demolição parcial de partes de uma estrutura requer métodos que permitam a remoção apenas da região comprometida. Às vezes esse trabalho se realiza sem a interdição total da obra. No caso de edifícios com problemas localizados, deve-se prever um mínimo de área interditada, evitando-se transtornos maiores para os usuários. Todo o trabalho deverá ser realizado com a produção mínima de ruídos e poeiras. Processos de Demolição Após a colocação de reforços temporários para garantir a estabilidade da estrutura, iniciam-se as demolições conforme estabelecidas no projeto. Dentre os vários métodos de demolição citamos os seguintes: Impacto com martelo; Impacto por percussão pneumática; Talhadeira; Pequenas explosões; Serra de vídea; Laser, aquecimento elétrico, micro-ondas etc. As demolições por impacto são mais baratas e apresentam as seguintes desvantagens: Ruídos insuportáveis; Comprometimento do substrato; Geometria e acabamento da superfície; Poluição; Maiores riscos de acidentes. 131 Como vantagem, citamos apenas o custo. O processo da talhadeira é utilizado apenas para pequenos reparos que não justificam outros métodos. O método de pequenas explosões ainda é pouco difundido por empregar técnicade manuseio de pequenos explosivos e exigir profundo conhecimento do poder da explosão sem afetar o concreto sadio. É um trabalho que exige credenciamento para operadores nos órgãos de segurança. A demolição por esse processo é rápida. Apenas a habilidade é primordial para que seja aplicada. Preparo da Superfície do Substrato Após a retirada da superfície deteriorada, vêm as seguintes etapas: Limpeza e tratamento da superfície do substrato; Complementação da armadura convencional por armadura pintada por epóxi; Recuperação de ancoragens e tensões nos cabos, se a estrutura for protendida; Remoção dos cabos defeituosos; Colocação de adesivo para fixar o novo material ao substrato Recomposição com o material indicado. Testes de Aderência Para avaliar a eficiência da camada de adesivo que liga os dois materiais – concreto velho e concreto novo – têm sido utilizados vários tipos de equipamentos. Alguns dos testes são: Fendilhamento; Cisalhamento; Tração direta. Com os resultados destes testes, será avaliada a resistência de ligação dos dois materiais, embora não representem a situação real da estrutura. O teste mais recente consiste em cortar o material de recuperação, até se chegar ao concreto velho, por meio de uma sonda rotativa, sem extraí-lo. A seguir, cola-se uma placa circular com epóxi. A placa ou o disco deverá ter um dispositivo de ligação para um aparelho que fará o teste de arrancamento. Esse equipamento é semelhante ao utilizado 132 para o teste de aderência de argamassa. Nesse teste, será observado o local do plano de ruptura. A aderência funcionará muito bem se a ruptura ocorrer fora da superfície de ligação dos dois concretos. O Comitê 503 “Standart Specification for Repairing Concrete with Epoxy Mortars” (apud Hindo, 1990, p. 46-48) estabelece que a resistência mínima de arrancamento seja de 0,69 MPa. Esse teste mede in loco a resistência de aderência de um reparo, levando-se em consideração todas as interferências advindas da execução. Reparos de Fissuras Se verificar a possibilidade de comprometimento da estrutura, as fissuras devem ser reparadas. O ACI recomenda limites de abertura de fissuras no concreto em várias condições de exposição. Deve-se estabelecer um programa de reparo quando exceder às recomendações do ACI Comitê 224 “Control of Cracking in Concrete Structures” (Kline, 1991, p. 47-49). Para se elaborar um projeto de recuperação de peças fissuradas, serão percorridas as seguintes etapas: Verificação da resistência à compressão; Análise microscópica; Análise química; Verificação da atividade da corrosão; Testes ultra-sônicos; Mapeamento das fissuras. Define-se, em seguida, o tipo de fissura (estática ou ativa): Estrutural; Não estrutural. Avaliação do reparo: Produto e condição de aplicação; Compatibilidade do produto de injeção com o substrato; Marca; Nível e experiência dos operários. 133 Material e equipamentos: Material de injeção e selante; Superfície a ser selada; Injeção à baixa pressão; Injeção à alta pressão (bombeamento); Injeção a vácuo. Controle: Amostragem e testes dos materiais; Avaliação dos equipamentos; Condições ambientais para execução dos serviços. Avaliação após a injeção: Retirada de testemunhos; Resistência à compressão dos testemunhos; Testes de permeabilidade dos selantes. Conclusão Os processos de recuperação e reabilitação das estruturas têm se aprimorado muito através de sucessos e insucessos acumulados ao longo da história do concreto. A concepção holística tem favorecido melhor análise de forma global. Na busca de melhores resultados para se reabilitarem as obras de concreto, ocorreram mudanças significativas a partir de 1950. Os custos com reparos giram entre 30% e 60%, sendo que, no futuro, deverão ser menores. 134 15 VANTAGENS DO USO DO CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO PARA PROJETAR E EXECUTAR REPAROS EM ESTRUTURAS Introdução Num projeto de reparo devem ser analisados os dois sistemas que formarão a nova estrutura, incluindo-se considerações sobre a compatibilidade de suas propriedades, tais como mudanças de volume (compatibilidade dimensional), comportamento sob tensões e durabilidade. As mudanças volumétricas diferenciadas poderão provocar fissuras pela indução de tensões na ligação entre os dois materiais (substrato e material de recuperação). A habilidade do material de reparo para resistir à fissuração dependerá dos seguintes fatores: Grau de restrição à deformação; Magnitude da retração devida à carbonatação, secagem e efeitos térmicos; Estado de tensão; Tensões adicionais devidas ao creep; Relação tensão-deformação. O material será bom para reparo se tiver valores de retração reduzidos bem como o módulo de deformação compatível com o substrato. Estamos convictos de que o concreto de alto desempenho (CAD) tem baixa retração e se compatibiliza com o concreto convencional (CC). A permeabilidade é outro fator importante a ser considerado aqui porque na recuperação formará um sistema ligado a outro, o substrato. Também uma análise eletroquímica do sistema reparo e substrato, embora difícil mas não impossível seria interessante, porque as frequentes mudanças internas e externas provocarão alterações físicas e químicas. Na definição dos sintomas patológicos da estrutura deve-se conhecer bem sua anatomia e levantar as seguintes questões: Qual a causa da ruptura ou deterioração? O que ainda permanece na estrutura? Qual será o tipo de reparo a ser executado? Quanto tempo ainda vai durar a obra? 135 Qual o material mais adequado para o reparo? Qual o procedimento que dará bom resultado? Como manter a segurança da estrutura durante o reparo? O CAD na Recuperação de Estruturas Deterioradas O CAD também tem bom desempenho na recuperação de estruturas deterioradas, além de conferir uma excelente proteção para as armaduras devido à sílica ativa. No trabalho de Rasheeduzzafar (1992, p. 337-347), estudou-se o benefício da sílica ativa com o cimento composto em termos de tempo de início da corrosão no concreto armado, onde foram utilizados 10% e 20% de sílica ativa, em substituição do cimento com teores de C3A de 2%, 9%, 11% e 14%, onde o tempo decorrido até o início da corrosão variou segundo a tabela 50. De acordo com os dados dessa tabela, o acréscimo do tempo de início da corrosão para o cimento com alto teor de C3A e 20% de SA foi muito significativo em relação ao cimento com baixo teor de C3A. Se compararmos o cimento tipo V com C3A = 2% e o tipo I com C3A = 11 e 14% mais 20% de SA, tem-se os coeficientes de desempenho de 7,3 e 7,9. Esses resultados nos dão boa indicação para escolha do cimento e o teor de sílica ativa para recuperar estruturas em ambientes marinhos. Para analisar o risco de corrosão das armaduras tem-se de considerar o teor de cloreto combinado no cimento hidratado e a fração na fase líquida dos poros. Esse último é que irá provocar a despassivação da armadura. Existe uma relação entre Cl–/OH– = 0,30, para um concreto com pH = 13,3. Esses resultados nos dão subsídios para recuperação de obras com corrosão da armadura. Enfoca ainda a importância da química do concreto para determinar o grau de risco da corrosão. Por exemplo, para um concreto com C3A = 14% e composto com 10% ou 20% de sílica ativa, se na análise desse cimento for encontrado 0,60% de cloreto, indicará que a relação Cl–/OH– será 0,10, que está abaixo de 0,30. Esses dados sugerem novas pesquisas para se obterem concretos com melhor desempenho contra corrosão das armaduras. Não basta apenas preocuparem com a relação Cl–/OH– porque ao se elevar a substituição de cimento por sílica ativa, acarretar-se-áa redução do pH. 136 Tabela 21: Variação do tempo de início da corrosão Cimento Portland Idade do início da corrosão (dias) Tipo V – (C3A = 2%) 93 Tipo I – (C3A = 9%) 163 Tipo I – (C3A = 11%) 180 Tipo I – (C3A = 14%) 228 Tipo V – (C3A = 2%) + 10% SA 345 Tipo V – (C3A = 2%) + 20% SA 469 Tipo I – (C3A = 9%) + 10% SA 463 Tipo I – (C3A = 9%) + 20% SA 540 Tipo I – (C3A = 11%) + 10% SA 680 Tipo I – (C3A = 11%) + 20% SA 682 Tipo I – (C3A = 14%) + 10% SA 695 Tipo I – (C3A = 14%) + 20% SA 735 Fonte: Rasheeduzzafar et all., 1992 Atualmente já existe um consenso em que o cimento com alto teor de C3A, composto com sílica ativa, é o mais indicado para ambientes com presença simultânea de cloretos e sulfatos. O problema de alto teor de C3A está relacionado com o desenvolvimento de muito calor de hidratação, provocando elevação da temperatura no concreto. Geralmente, o calor de hidratação não traz grandes consequências a não ser em estruturas de grande massa. No estudo de Meland (apud Rasheeduzzafar et al., 1992), verificou-se que a substituição de cimento por sílica ativa reduz o calor de hidratação nos primeiros dois dias. Com 10% de substituição de cimento por sílica ativa, acelera-se a evolução do calor; com 20% de substituição, retarda-se a evolução deste. Num outro estudo conduzido por Lessand, Aictcin e Regourd (apud Rasheeduzzafar et al., 1992, p. 215) chegou-se à conclusão que o melhor teor de substituição de sílica ativa é de 15%, para se reduzir o pico de temperatura em 5%, no intervalo de 34 à 44 horas. É importante considerar que mudanças na composição química da pasta de cimento podem dar início à corrosão do aço. Comportamento do CAD com SA em Elevadas Temperaturas Uma série de testes de concreto com várias proporções de sílica ativa foi realizado. Observou-se que o 137 concreto poderá explodir se a velocidade do aquecimento for de 1ºC/min contra 10ºC/min para outros concretos. Outros fatores também influem na explosão do concreto pela elevação de temperatura, como, por exemplo, o teor de umidade. O concreto com SA por ser mais impermeável terá este fator contra a explosão por elevação de temperatura. Passividade da Armadura Já foi demonstrado por vários autores que a atividade pozolânica reduz o teor de hidróxido de cálcio na pasta de cimento, quando o teor de SA cresce até 20% do peso do cimento. Glasser e Mann (apud Gjørv, 1995) confirmaram que 15% de SA fixa os álcalis em silicatos hidratados. Depois de um período de três meses no curso da hidratação, o hidróxido de cálcio e os demais álcalis serão reduzidos pela metade e a um terço respectivamente, se comparado a um cimento sem sílica ativa. O teor de sulfato solúvel também será reduzido pela metade. Concluem os autores que a baixa relação C/S de C-S- H, formada nos concretos com SA, seja devida à fixação dos álcalis presentes na hidratação. Foi observado que, para substituição de 20% de cimento por SA, o pH da solução saturada de hidróxido de cálcio baixou de 12,5% para 11,5% – aproximadamente 30% – sendo um resultado aceitável para se manter a passividade da armadura. De acordo com Diamond (apud Gjørv, 1995), a redução do pH será menor para fatores água/cimento mais baixos. Isso também permitirá controlar a carbonatação do concreto e a penetração de cloretos, mantendo uma certa passividade da armadura. Carbonatação A carbonatação da pasta de cimento reduz substancialmente a alcalinidade da solução pela queda do pH para aproximadamente 8,5, quebrando-se a passividade da arma dura. A capacidade de fixação do CO2 é determinada pelo teor de cal livre, álcalis e C-S-H. No concreto com SA terá menos hidróxido de cálcio livre, embora não se possa concluir que será por isto menos vulnerável à carbonatação. A velocidade da carbonatação será controlada pela redução da permeabilidade do concreto. Muitas investigações já foram realizadas para estudar a atividade da carbonatação no concreto com SA. Nas experiências de controle da carbonatação no concreto com SA, em ambientes com 50% e 100% de umidade, não ficou clara a contribuição da SA. A exemplo, cita-se os trabalhos de Johansen e Vennesland e Gjørv (1995), em que após três anos de estudos não foi encontrada a contribuição da SA quando 138 não se usavam plastificantes. Com adição de mais de 20% de SA e plastificante, ocorreu grande redução da carbonatação. Todos os corpos de prova foram curados por sete dias em água. Investigações conduzidas por Byfors (apud Gjørv, 1995) indicaram que as condições de cura não afetam a velocidade de carbonatação do concreto com SA. Maage e Skolsvold (apud Gjørv, 1995) mediram a carbonatação em 16 edifícios cujo concreto tinha sílica ativa, comparando com 11 concretos de controle. As idades dos prédios variavam de 3 a 7 anos de concreto e tinham resistência cúbica de 25 MPa. Foram observadas carbonatações em espessuras bem maiores que nos concretos de controle. Constataram também maior sensibilidade à carbo- natação em função da cura inicial do concreto. Nem Christensen, nem Maage (apud Gjørv, 1995) encontraram alto grau de carbonatação nos concretos com SA. Em dois Piers em Gothenburg, Suiça, a espessura da carbonatação depois de sete anos foi de 2 mm. Nesse concreto, a resistência de testemunhos variou de 44 à 68 MPa. Diante dessas observações podemos concluir que a sílica ativa reduz a velocidade de carbonatação do concreto, podendo ser recomendada para concretos de recuperação. Penetração de Cloretos A sílica ativa reduz a penetração de cloretos no concreto. Nos testes conduzidos por Vennesland (apud Gjørv, 1995), a redução não foi muito perceptível, embora Fisher e outros tenham observado que o coeficiente de difusão foi reduzido de 1,5 × 10-7 cm2/seg para 1,1 × 10-8 cm2/seg, cuja substituição de cimento por sílica ativa foi de 5% a 15%. Gantefall (apud Gjørv, 1995) também observou uma grande redução da penetração de cloretos da água do mar – num período de seis meses –, numa pasta de cimento com 15% de sílica ativa e fator água/material cimentício (a/mc = 0,50); e a outra pasta com a/mc = 0,70. Gjørv observou que a substituição de 9% de cimento por sílica ativa reduziu a difusão de cloretos em cinco vezes. Quando foi aumentado o consumo de materiais cimentícios de 440 para 660 kg/m3, a difusão reduziu apenas duas vezes. Analisando também a influência do C3A, verificou-se que não foi muito significativa. Difusão de Oxigênio Tuuti (apud Gjørv, 1995) observou que a difusão de oxigênio no concreto reduz- se com o fator água/cimento. Dessas observações, conclui-se que a permeabilidade tem efeito na velocidade de difusão de oxigênio. Por essa razão, a substituição de cimento por 139 sílica ativa reduz a difusão de oxigênio no concreto. Na tabela 51, apresentamos alguns resultados da permeabilidade do concreto. Todas as observações nos levam a concluir que a adição de SA é benéfica para a redução da penetração de oxigênio no concreto. Tabela 22: Efeito da SA na permeabilidade do concreto Cimento Portland (kg/m3) SA (kg/m3) Permeabilidade, kg/pa.m.s 100 0 1,6 × 10 -8 100 10 4,0 × 10 -11 100 20 5,7 × 10 -12 250 0 4,8 × 10 -12 250 25 1,8 × 10 -15 Fonte: Gjørv, 1995. Resistividade Elétrica Gjørv (1995) e Vennesland mediram a resistividade elé- trica no concreto com e sem sílica ativa. Nos concretos sem SA, contendo 1% de plastificante, e nos concretos com 10% e 20% de SA, com 1% e 2% de plastificante respectivamente, verificou-se que o plastificante provocou pequenos efeitos na resistividade, ao passo que a combinação com SA produziu um efeito bastante pronunciado na resistividade do concreto. Exemplo: Misturas com consumo de cimento de 100 kg/m3: a resistividade cresceu de 60% e 190% para adições de 10% e 20%de SA. Misturascom consumo de cimento de 250 kg/m3: o acréscimo da resistividade foi de 210% e 615%. Misturas com consumo de cimento de 400 kg/m3: os acréscimos foram de 550% e 1.600%, respectivamente. Esse crescimento astronômico da resistividade do concreto deve-se à redução da permeabilidade e, em parte, à redução da concentração de soluções nos seus poros. A resistividade normal dos concretos é da ordem de 1.000 ohm.m ou mais. Em experiências mais recentes, verificou-se que, para resistividade de 200 e até 120 ohm.m, os efeitos não foram muito danosos na velocidade da corrosão das armaduras. 140 Conclusão O alto desempenho do concreto não consiste apenas na sustentação de cargas. Analisaram-se aqui várias propriedades importantes, tais como permeabilidade, limite de penetração de íons cloro – que vão despassivar a armadura –, redução da penetração de oxigênio e dióxido de carbono, além do aumento da resistividade elétrica – que vai reduzir a velocidade da corrosão da armadura. O CAD será um verdadeiro escudo impermeável para proteger a armadura e o concreto remanescente contra o ataque de agentes externos. Diante dessas características, ele oferece muitas vantagens na recuperação de estruturas. 141 215 REFERÊNCIAS ACI. Proportioning concrete mixes. (pub. SP. 46). . Proposed revision of ACI 214-65: recomende practice of evaluation of strenght test results of concrete. Title 73-22. 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Esse estado é constituído pela força de atração residual, que é a diferença entre as forças de atração e 14 de repulsão entre as partículas. Se a diferença for nula ou negativa, a resistência crítica de plasticidade desaparece e a suspensão se comporta como um corpo newtoniano, eventualmente dotado de “dilatância”, que significa: susceptível de tornar-se rígido sob os efeitos de cisalhamento. Essas hipóteses só são válidas para suspensões sem gases. Quando existe ar incorporado à mistura, provavelmente se aplicam em parte os conceitos teóricos. Métodos adotados para medir a consistência do concreto Cone de Abrams – o concreto é moldado em três camadas de altura igual a 1/3 da altura da fôrma, sendo cada camada adensada com 25 golpes (NBR NM 67). Retira-se o molde e mede- se o abatimento do concreto com uma escala graduada em até 1 mm. Método VEBE – utiliza-se o cone de Abrams, colocado sobre uma mesa vibradora, no interior de um recipiente cilíndrico. A moldagem é também semelhante ao ensaio de abatimento: são três camadas de abatimento, adensadas com 25 golpes cada uma. Retira-se a fôrma, apoia-se um disco de plástico sobre o concreto, liga-se o conjunto vibrador com frequência de 300 ciclos/minuto e mede-se o tempo decorrido (segundos) até o tronco do cone de concreto se adaptar ao fundo do cilindro. A consistência VEBE é calculada pela fórmula: Onde: V1 = volume inicial do concreto (5,5 l) V2 = volume final t = tempo em segundos O ensaio só se aplica a misturas com diâmetro máximo inferior a 50 mm. Pode- se dizer que a medida aqui referida é a da energia de vibração necessária para deformar o concreto, passando de uma fôrma tronco-cônica para a cilíndrica. Esse ensaio define bem a trabalhabilidade da mistura. Os resultados VEBE estão sujeitos a pequenas dispersões devido ao fato de a vibração levar algum tempo para se propagar na massa do concreto, provocando um desmoronamento superior, quando a consistência for muito seca. Esse aparelho permite apreciar uma variação da quantidade de água da ordem de 3% na relação água/cimento. 15 Trabalhabilidade A trabalhabilidade do concreto é definida como a propriedade de ser misturado, transportado, lançado e vibrado sem mudança de sua homogeneidade. É uma propriedade que depende da mistura e das condições da obra, tais como forma e dimensões das fôrmas, espaçamento das armaduras, processos de fabricação, transporte, lançamento e adensamento. A trabalhabilidade de uma mistura depende de três parâmetros: homogeneidade, deformabilidade e estabilidade. Homogeneidade A manutenção das características do concreto fresco em toda a sua massa, durante as operações de fabricação e concretagem, é definida como homogeneidade. Esta é garantida pela coesão que mantém os materiais unidos grão a grão. A coesão pode ser interpretada, aqui, como na mecânica dos solos, sendo expressa pela equação: Onde: p = pressão intrínseca φ = ângulo de atrito Essa relação simplificada é muito utilizada para explicar os conceitos fundamentais do fenômeno. A pressão intrínseca é igual à pressão intergranular. Esses conceitos estão sendo empregados na equação de Bingham, para escoamento de fluidos viscosos e plásticos. O escoamento só se inicia quando a tensão aplicada atinge o ponto crítico ou a tensão de cisalhamento. Em analogia com a equação de Bingham, podemos escrever a seguinte equação para o concreto: f - fo = ηD Onde: fo = tensão crítica de cisalhamento η = viscosidade plástica D = deformação 16 A A O gráfico da equação de Bingham será da forma a seguir: Conforme o exposto, podemos afirmar que a melhor trabalhabilidade será definida pelos parâmetros da tensão critica e da viscosidade. D 2 1 f Segregação A segregação da mistura ocorre quando os materiais se separam. As formas de segregação podem ser: exsudação da água ou bleeding; separação da pasta; separação da argamassa. O excesso de água empregada no concreto tem função transitória. Uma vez terminada a concretagem, a água sobe à superfície, evaporando-se em seguida. Às vezes, a perda de água se processa durante a concretagem, prejudicando o manuseio e adensamento do concreto. Por isso, é importante a dosagem de água ser compatível com as condições de aplicação do concreto. Resistência mecânica 17 A resistência mecânica do concreto é conseguida a partir de especificações de materiais e composição, de forma a obter um produto final que atenda aos requisitos de uma boa técnica. Os testes para medir a resistência do concreto são realizados dentro de padrões prefixados, de modo que a resistência especificada tenha variação pequena dentro da amostragem efetuada para verificação. Sendo o concreto um composto de vários materiais, cada um tem suas variações, que contribuem para os resultados da resistência do concreto. Na prática, as variações são introduzidas durante a dosagem, mistura, transporte, concretagem e cura. Somam-se às variações já citadas, as ocorridas nos ensaios de resistência que são devidas a falhas humanas e às próprias dos equipamentos empregados. A aceitação dos resultados de um concreto depende do tipo de controle de qualidade adotado dentro das limitações do projeto. A resistência tem como fator fundamental a relação água/cimento (A/C). Considera-se que, para uma mesma relação A/C, a resistência é igual para qualquer traço dosado dentro do critério da tecnologia corrente do concreto. Os principais fatores que influem na variação da resistência do concreto são: Mudança do fator A/C; Falta de controle da água de mistura; Variações excessivas da dosagem dos agregados; Variações na granulometria do agregado miudo; Presença de material pulverulento acima das porcentagens previstas pelas especificações; Variações das propriedades do cimento; Falhas na mistura, transporte e concretagem; Mudanças climáticas; Variações durante a cura; Erros na moldagem, cura e ruptura dos corpos de prova tomados para ensaios de ruptura. O concreto é um material, por excelência, resistente à compressão. No entanto sua resistência à tração ou à flexão é muito baixa. Essa característica limita sua aplicação estrutural, essencialmente, para resistir aos esforços de compressão, enquanto as demais solicitações são combatidas por dimensionamento com armaduras frouxas ou protendidas, de forma a tornar as peças resistentes à flexão, à tração simples ou a outros esforços combinados. Existem ainda as solicitações externas que provocam o desgaste superficial por 18 meio da erosão superficial de materiais sólidos em suspensão no meio aquoso, da cavitação, do transporte de veículos etc. A resistência ao desgaste superficial (abrasão) depende, basicamente, do agregado, pois a pasta de cimento é pouco abrasiva. Análise Estatística da Resistência do Concreto Segundo a NBR 12655 o controle estatístico do concreto pode ser por amostragem parcial ou total, sendo que paraLANGLEY, W. S. et al. High fly ash structural concrete. ACI Materials Journal, September/October, 1989. p. 507-514. LARRARD, François. Ultrafine pentides for the making of very high strenght concretes. Cement and Concrete Research. Paris, 1989. v. 19, p. 161-172. ; SEDRAN, T. Optimization of ultra-high-performance concrete by the use of a packing model. Cement and Concrete Research. Paris, 1994. v. 24, n. 6, p. 997-1009. LAURITZEN, E. K, PETERSEN, M. Partial demolition by mini-blasting. 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Evolução do controle de qualidade do concreto O concreto é um produto manufaturado ou industrializado de grande importância na obra. Os ensaios dos materiais componentes bem como o controle de qualidade são prioritários para se estabelecer a avaliação do produto propriamente dito. Podem-se avaliar outros fatores que interferem no planejamento da qualidade do concreto, quais sejam: Variáveis dos testes; Equipamentos; Estocagem dos corpos de prova; Transporte e capeamento; Corpos de prova extraídos. O controle de qualidade do concreto tem alcançado grandes inovações por meio das novas gerações de equipamentos que permitem monitorar o produto desde sua propriedade até a hidratação do cimento. Uma situação que vem despertando a atenção da comunidade construtora é o agravamento dos problemas de durabilidade das estruturas nos centros urbanos, motivados pela poluição atmosférica. Não se pode mais pensar em controle de durabilidade do concreto apenas pelo fator de resistência. É necessário estabelecer parâmetros para medir o fator durabilidade. As pesquisas inovadoras da tecnologia do concreto têm se voltado para as seguintes diretrizes: 19 Testes de durabilidade durante e após a construção; Monitoramento das estruturas para observação a longo prazo; Testes convencionais com equipamentos atuais. A importância fundamental da evolução do controle do concreto apresentada nestes últimos anos tem criado modelos reais que permitem transferir dados de laboratórios para o concreto da obra. Não se admite mais, nesta época de grandes transformações, que o profissional de engenharia ainda não tenha assimilado a importância do controle de qualidade e nem tenha conscientização de que um programa nesse sentido só poderá reduzir o custo da obra. 20 2 MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DO CONCRETO Considerações Iniciais Na microestrutura do concreto tem-se a fase cimentícia e as partículas aglomeradas denominadas de agregados. A fase cimentícia é constituída de silicatos, aluminatos e ferroaluminatos hidratados. Os agregados, que até certo ponto são inertes, são ligados pelo material cimentício. A aderência da pasta agregada é importante porque vai definir o comportamento estrutural do concreto. O concreto endurecido apresenta comportamento peculiar de resistência e deformação que depende da composição da mistura e dos materiais empregados. A resistência do concreto não é significativamente maior que a do agregado. Resistência/Idade do Concreto A relação água/material cimentício (A/MC) é um parâmetro para definir a resistência do concreto. Definindo-se A/MC, estuda-se a evolução da resistência com a idade e as condições de cura. Todo ganho de resistência com a idade depende da água disponível para a hidratação dos componentes cimentícios. A umidade externa, chamada umidade de cura, também é importante. Segundo o gráfico do Manual do Bureau of Reclamation, o concreto com cura úmida constante aumentou três vezes em 180 dias, em relação à resistência do concreto com cura convencional. Resistência à Tração/Resistência à Compressão A razão entre as resistências à tração e à compressão é geralmente entre 0,07 a 0,11. Os fatores que influem na resistência à tração do concreto são textura superficial e composição mineralógica dos agregados, incorporadores de ar e adições minerais. Não há uma proporcionalidade entre ft /fc . Depende do nível da resistência à compressão. Quanto maior ft menor será a relação ft /fc. 10 a 11%: para concreto convencional (baixa resistência); 8 a 9%: para concreto de média resistência; 7%: para concreto de alta resistência. 21 Evolução da Resistência do Concreto e Algumas Propriedades Importantes O fator de maior significado no crescimento da resistência do concreto é a relação gel/espaço, porque a quantidade de gel na pasta de cimento, em qualquer idade, é função do tipo de cimento. No início do século XX, nos EUA, cimentos com altos teores de C2S, expostos ao ar, apresentaram crescimento da resistência no concreto proporcional ao logaritmo da maturidade até os 50 anos, que era 2,4 vezes a resistência de 28 dias. Cimentos com menor teor de C2S e maior área específica, atingiram resistência máxima entre 10 e 25 anos e, depois, sofreram redução. Os cimentos alemães, fabricados há 30 anos, atingiram 2,3 vezes a resistência de 28 dias. Os cimentos de alto-forno com maior A/C aumentaram 3,1 vezes a resistência de 28 dias para a idade de 30 anos. Deformações O concreto sofre deformações por efeito de carga: uma imediata, que dependendo da intensidade, será elástica e terá possível recuperação caso alivie o carregamento; e, outra, deformação plástica (permanente). A deformação gradual com o tempo de carregamento é a fluência. Existem ainda deformações sem efeito de carga, como a retração por secagem térmica. Maturidade O crescimento da resistência, combinado com a velocidade de hidratação e com o aumento da temperatura inicial, dá origem à proposição de que a resistência poderá ser expressa em função de tempo-temperatura. Expansão O fenômeno da expansão decorre da absorção de água pelo gel de cimento quando o concreto permanece dentro da água. É um valor da ordem de 100 a 150 × 10-6. A perda da água por secagem do concreto causa a retração hidráulica. A variação do volume é proporcional ao volume de água evaporada, podendo se chegar a 10x100 × 10-6. Nesse caso, a retração hidráulica é maior com o aumento do fator A/C, 22 porque este determina maior quantidade de água evaporável no gel de cimento. As formas em que se encontra a água na pasta endurecida são as seguintes: Água capilar – água livre nos poros de 5 mm a 50 mm, cuja renovação poderá causar a retração do sistema. Água adsorvida – água que está próxima à superfície interna dos poros, estando sujeita à força de atração. As moléculas desta água estão fisicamente adsorvidas às paredes dos poros. A perda da água adsorvida causa retração por secagem. Água interlamelar – água associada à estrutura do Silicato de Cálcio Hidratado (C-S-H). Essa água está ligada por pontes de hidrogênio ao gel de C-S-H. A perda da água interlamelar causa retração muito elevada e, às vezes, desastrosa à estrutura do concreto. Água quimicamente combinada – é a água que faz parte dos produtos hidratados do cimento e que não é liberada na secagem. Essa água só será eliminada quando os produtos forem decompostos por elevadas temperaturas. Fissuração induzida pela retração A tendência à fissuração do concreto dependerá da extensibilidade, de sua resistência e do grau de restrição à deformação. Um consumo maior de cimento aumenta a retração, embora aumente também sua resistência. Há de se equilibrar a resistência e conter a tendência à fissuração. A carbonatação superficial, embora produza retração, reduz o deslocamento da umidade, portanto é vantajosa para minimizar a fissuração. Os aditivos podem aumentar a tendência à fissuração do concreto, os aceleradores, por exemplo. Já os retardadores podem acomodar a resistência plástica e, provavelmente, aumentar a extensibilidade do concreto. Outro grande vilão da fissuração é o gradiente de temperatura e de umidade. Retração por carbonatação A retração por carbonatação, provavelmente, é causada pela dissolução dos cristais de Ca (OH)2 sob tensão provocada pela retração hidráulica e deposição do CaCO3 nos espaços sujeitos à tensão. Temporariamente, aumenta-se a compressibilidadeda pasta e depois a alivia, por causa da dissolução do carbonato na superfície. Mesmo que a carbonatação ocorra mais tarde, depois da desidratação do C-S-H, haverá ainda a retração por carbonatação. 23 A secagem e a carbonatação simultânea reduzem o potencial de fissuração. Se a carbonatação ocorrer após a secagem, o efeito da retração será maior. A fissuração por carbonatação é generalizada na superfície exposta do concreto. Essas fissuras são induzidas pela restrição das camadas mais profundas do concreto. Fluência do concreto Fluência é a deformação, ao longo do tempo, sob carga mantida no concreto. Poderá ocorrer também a relaxação. As causas da fluência no concreto vão além dos movimentos da umidade até a não linearidade tensão-deformação, especialmente para níveis de tensão entre 30% e 40% da tensão última, em virtude também da contribuição das microfissuras nas interfaces pasta/agregado. Se o concreto for submetido à secagem, ocorrerá ainda uma contribuição da retração. Uma resposta elástica retardada é outra contribuição na fluência no concreto. Valores da fluência Fluência específica – deformação por umidade da tensão aplicada Coeficiente de fluência – relação entre a deformação por fluência e a deformação elástica Recuperação da fluência Somente uma parte da fluência é recuperada. Esse fenômeno pode ser atribuído a uma deformação elástica retardada do agregado que é totalmente recuperável. Retração térmica Os sólidos se expandem com aquecimento e se contraem com resfriamento. Ocorre na massa do concreto uma elevação da temperatura na hidratação do cimento, seguida de um arrefecimento. Nesse período, surgem fissuras decorrentes da retração térmica. Os fatores que aliviam as tensões de origem térmica no concreto são os seguintes: Redução da temperatura de lançamentos; Retirada das fôrmas somente depois do pico da temperatura; Uso de retardadores de pega; 24 Redução dos teores de C3A e C3S. Coeficiente de dilatação térmica O valor do coeficiente de dilatação térmica varia com o tipo de agregado e com a umidade do concreto. A umidade tem grande influência no coeficiente de dilatação, chegando à 10-6 ºC quando o concreto está secando. Resistência ao Impacto A história do comportamento do concreto submetido a ciclos de carga e descarga data do início de sua aplicação nas obras de edifícios sujeitos a abalos sísmicos, das pontes e tantas outras obras sujeitas a este tipo de carregamento. Um grande número de pesquisas sobre esse assunto já ocorreu, permitindo desenvolvimento de fórmulas matemáticas para projetos de estruturas sujeitas a ciclos de carga. Diante de tantas investigações do comportamento sujeito a impactos ou a ciclos de carga e descarga, foram definidos alguns parâmetros para diferentes tipos de carregamento. Dentre esses principais parâmetros que permitem obter um concreto com melhor desempenho a ciclos de cargas, citamos os seguintes: Misturas com diâmetro máximo de 9,5mm; Consumo de cimento em torno de 400 kg/m3; Uso de agregado graúdo com menor módulo de deformação; Uso de fibras; traço com a relação (cimento:areia:brita e A/C) 1:2:2,5:0,55. Ainda não está bem definida a influência do agregado miúdo, mas já se sabe que areia fina geralmente reduz a resistência ao impacto, por exemplo, o concreto conservado em água tem menor resistência do que o concreto seco. 3 CIMENTO Composição química do cimento 25 39 A cal e a sílica são os principais componentes do cimento. C3S, C2S, C3A e C4AF Onde: A = Al2O3 C = Ca F = Fe2 O3 S = SiO2 = silica C3S = silicato tricálcico C2S = silicato dicálcico C3A = aluminato tricálcico C4AF = ferroaluminato tetracálcico Ŝ = SO4 2+ = ions sulfatos H = H2O Hidratação dos Compostos do Cimento C3S + 2H → C-S-H + 2 C-H C3S +2H → C-S-H + 2C-H C2S + H → CSH + C-H C3A + 3C-Ŝ → C6AŜ3H32 ↓ C6AŜ3H32 Remanescente → C4AH19 e C3AH6 C4AF → pode produzir o C6AFŜ3H32 ou C4AFŜH18 A hidratação do C4AF é da mesma forma em que se processa o C3A Microestrutura da Pasta A fase C-S-H ocupa maior porcentagem de sólidos da pasta endurecida, sendo a mais importante. Sua morfologia varia de fibras pouco cristalina a um reticulado cristalino. A estrutura interna do C-S-H se assemelha à do mineral natural tobermorita, portanto é 26 denominado gel de tobermorita O hidróxido de cálcio (C-H) são cristais grandes de forma hexagonal, chamado de portlandita. São facilmente identificados na pasta pela sua forma bem definida. Sua presença em grande quantidade na pasta prejudica a resistência química a soluções ácidas e contribui na carbonatação superficial do concreto. Os sulfoaluminatos de cálcio ocupam menor volume que o C-H, desempenhando menor papel na estrutura da pasta. Viu-se, equações de hidratação, que inicialmente se forma a etringita C6AŜ3H32 em forma de cristais prismáticos aciculares, transformando-se, eventualmente em monosulfato hidratado C4AŜH18 cujos cristais têm forma de places hexagonais grandes, tais como o C-H e o C4AH19. Também verifica-se que na análise da estrutura da pasta, que tanto a etringita como o monosulfato contêm pequenas partes de óxido de ferro substituindo o óxido de alumínio. Porosidade da pasta endurecida Estima-se que 1 cm³ de cimento produz 2 cm³ de pasta endurecida. Durante o processo de hidratação, o espaço inicial- mente ocupado pelo cimento e a água vão sendo substituídos pelo cimento e pelos produtos de sua hidratação. A porosidade é constituída pelos vazios capilares que dependem do fator A/C e do grau de hidratação do cimento. Segundo o critério da American Society for Testing and Materials (ASTM) C-150, os cimentos são classificados em cinco tipos, numerados em algarismos romanos, da seguinte forma: Tipo I – cimentos para uso geral; Tipo II – cimento de moderada resistência aos sulfatos e moderado calor de hidratação; Tipo III – cimento de alta resistência inicial; Tipo IV – cimento de baixo calo de hidratação; Tipo V – cimento de alta resistência aos sulfatos. O tipo II, além de atender às características do cimento tipo I, ainda tem a vantagem de resistir à moderada ação dos sulfatos e de possuir menor calor de hidratação, sendo, portanto, de uso mais conveniente que o tipo I. O cimento de tipo II, de baixo calor de hidratação, atende às especificações dos concretos de estruturas usuais. Com referência ao calor de hidratação, no Brasil, classificam-se os cimentos de acordo com o calor desprendido aos setes dias de idade (BASÍLIO, 1974): Baixo: com menos de 65 cal/g; 27 Médio: com 65 a 75 cal/g; Alto: acima de 75 cal/g. Segundo Francisco de Assis Basílio (1974, p. 6-7), cada obra deve especificar o calor de hidratação máximo permitido, tendo em vista o projeto e as condições ambientes. A substituição de parte do cimento por escória de alto-forno ou por pozolana é um processo de se reduzir o calor de hidratação, porque apesar de a escória e a pozolana gerarem calor de hidratação, este será inferior ao desprendido pelo cimento, acarretando menor elevação na temperatura do concreto. Esses cimentos são especificados pela ABNT como cimento portland pozolânico e cimento portland de alto-forno. Segundo à ABNT, os cimentos Portlands especificados são o seguintes: Tabela 1 – Tipos de cimentos portlands especificados pela ABNT Tipo de cimento Especificação Sigla Cimento Portland Comum NBR 5732 CP I CPIS Especificação Sigla Cimento Portland Composto NBR 11578 CP II F CPII Z CPII E Especificação Sigla CP de Alto forno NBR 5735 CPIII CP Pozolânico NBR 5736 CPIV CP de Alta Resistência Inicial NBR 5733 CPV ARI Nano-cimento Jáa partir de 2007, centenas de pesquisas sobre o nano-concreto e micro-cimento, cujos grãos em torno de 5 microns e mais o nano-tubos de carbono formam um compósito com várias aplicações em componentes de construção e na eletrônica. O National Science Foundation (NSF) apoiou projeto de pesquisa que sintetizou componentes de cimento portland e comparou suas propriedades com o cimento comercial através de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e raios X (XRD), onde se avaliou a morfologia e estrutura dos silicatos tri e di-cálcico e também óxido de cobre que foram encontrados no cimento sintetizado. Testes de hidratação verificaram que o nano-cimento tinha uma velocidade de hidratação maior que o cimento comercial. Mantendo as mesmas características de compatibilidade com vários tipos de fibras, incluindo as de carbono, pode-se moldar em várias formas complexas, curadas e revestidas com outros nano-materiais. Como componentes eletrônicos servem para fabricar sensores de elevadas temperaturas. Outra grande aplicação será na área de revestimentos de proteção de estruturas de concreto. 28 29 4 AGREGADOS Generalidades Os agregados, quanto à origem, são classificados em naturais e artificiais. Os naturais são areias, cascalhos e pedra britada. Os artificiais são escórias de alto-forno, argila expandida, poliestireno expandido etc. As areias e os cascalhos são os agregados mais baratos, tendo em vista a disponibilidade de jazidas distribuídas nas diversas regiões. Os agregados britados são obtidos pelo faturamento de rochas naturais e selecionadas na série de peneiras normalizadas. Os agregados são produzidos em todos os tamanhos, desde a areia até as mais variadas bitolas dos agregados grossos. Escórias britadas – a escória britada é muito semelhante à pedra britada, do ponto de elaboração do concreto, porém são agregados de baixa densidade e muito porosos. Argila expandida – certas argilas têm propriedades de inchar no estado plástico entre 1.100º C e 1.350º C, devendo possuir um mineral que libere gás nestas temperaturas para provocar o aumento de volume. Esse agregado é de baixa densidade, podendo ser usado em concreto estrutural, alvenarias e como concreto isolante. Poliestireno expandido – o poliestireno expandido é obtido por meio da polimerização do estireno junto com um agente de expansão. Apresenta-se sob a forma de pérolas de 0,4 mm a 5,0 mm de diâmetro. As pérolas têm massa volumétrica de 12 kg/m³. O concreto é composto com 60% a 70% de seu volume com as pérolas, tendo densidade variável, de acordo com o traço, podendo ser de 200 a 800 kg/m³. Por causa da sua estrutura (ar empacotado), as pérolas oferecem boas características isolantes. Certas estruturas exigem agregados de alta densidade, em que o concreto funciona como elemento estrutural e de vedação contra a radiação gama. As rochas empregadas na produção de agregados densos são a barita, a limonita, a magnetita e a hematita. Granulometria Os agregados miúdos são considerados todos aqueles que passam na peneira de malha 4,8 mm ou os que retêm, no máximo, 15% dos grãos nesta peneira. Mais de 15% 30 dos grãos dos agregados graúdos estão retidos na peneira de malha 4,8 mm. As peneiras para análise granulométricas dos agregados estão especificadas na NBR 7211 da ABNT e também dá as faixas de granulometria para os agregados miúdos e graúdos. Além das faixas granulométricas, o módulo de finura dá uma idéia da graduação do agregado, embora um mesmo módulo de finura possa representar várias distribuições granulométricas. O módulo de finura é bastante útil na verificação da constância dos agregados, sendo, portanto, um instrumento de controle de qualidade do material. Diâmetro máximo (Dmax) O diâmetro máximo representa o diâmetro da peneira, na qual a porcentagem retida acumulada está entre 0 e 5%. Deve-se usar agregado cujo diâmetro máximo seja compatível com as condições de trabalho, as dimensões da peça e o espaçamento das armaduras. Segundo a NBR-6118, o diâmetro máximo é limitado pelas seguintes condições: A – espaçamento dentre as armaduras; B – espessura da peça a ser concretada. Características dos Agregados Textura e forma dos grãos A geometria das partículas tem importância relevante nas propriedades das misturas de concreto e argamassa, permitindo uma composição mais trabalhável e compacta. Os grãos com formas mais próximas de uma esfera são os melhores. Os grãos de forma lamelar ou acicular são impróprios para emprego no concreto, pois, além de reduzir a trabalhabilidade do concreto, exigem maior consumo de cimento e aumentam a permeabilidade. Não se consegue um adensamento eficiente para romper o equilíbrio das partículas lamelares e aciculares para compactá-las de forma a preencher os vazios intergranulares, comprometendo a resistência mecânica e a permeabilidade do concreto. Pode-se verificar melhor o fator de arrumação entre grãos, comparando-se dois agregados de mesma granulometria e mesma massa específica: o de forma irregular apresenta menor valor de massa unitária que o agregado cujos grãos têm formas geométricas mais próximas de uma esfera. A irregularidade na forma dos grãos é muito mais sensível nos agregados miúdos que nos agregados graúdos, embora haja influência menos acentuada nestes 31 últimos. Quando o agregado graúdo tem grãos achatados, as misturas devem ter maior porcentagem de argamassa para permitir maior mobilidade das partículas graúdas, implicando no aumento do custo do concreto. A Associação Francesa de Normalização (AFNOR) estabeleceu valores mínimos do coeficiente volumétrico médio para os agregados, tendo em vista a sua utilização e o seu diâmetro máximo. Parâmetros físicos Massa unitária do agregado solto (δ) – massa do sólido por unidade de volume; Tabela 2: Coeficiente volumétrico dos agregados 9,5 mm 25 mm Concreto para obras hidráulicas 0,20 0,15 Outros concretos 0,15 0,12 Massa unitária do agregado compactado (δcomp) – é a massa do agregado, compactado a seco, por unidade de volume; Volume de cheios (V) – volume ocupado pelos grãos dentro de um recipiente; Massa específica aparente (γ) – massa do agregado por unidade de volume de cheio; Volume de vazios (Vv) – volume de espaços vazios entre os grãos. As expressões físicas são as seguintes: V = Vv = 1 - O modo de encher os recipientes e a umidade dos agregados influem nos resultados de suas características. É necessário que os métodos sejam padronizados para que os resultados possam ser comparativos dentro dos conceitos da tecnologia do concreto. Os agregados no estado natural se apresentam com uma certa umidade devida à sua porosidade interna. De acordo com o teor de umidade, o agregado se apresenta: 32 Úmido no estado natural – quando a secagem for efetuada ao ar; Saturado – quando os grãos apresentam água livre na sua superfície externa; Seco em estufa – quando o agregado está a 0% de umidade. Saturação é a umidade correspondente ao preenchimento da porosidade interna do grão, com a superfície externa seca com pano úmido. O valor da absorção é geralmente baixo, não atingindo mais de 2%. Não existem normas recomendando um limite máximo de absorção, mas o Manual do Bureau of Reclamation considera que agregados com teor de absorção acima de 1% são de péssima qualidade. Substâncias Deletéreas As jazidas de agregados apresentam-se frequentemente contaminadas por substâncias deletéreas de origem mineral ou orgânica.Se essa contaminação exceder aos limites tolerados pelas especificações, os agregados devem ser rejeitados. Certas substâncias deletéreas, como argilas, materiais pulverulentos e sais solúveis, podem ser removidos por lavagem. Os limites de tolerância estabelecidos pela a NBR 7211 são os seguintes: Torrões de argilas ______________________________ 3,0% O fino passando na peneira n° 200 (0,075 mm) ABNT NM 46 a) concreto sujeito a desgaste superficial_____________ 3,0% b) concreto protegido contra desgastes______________ 5,0% Materiais carbonosos ASTM C 123 a) Concreto aparente _______________________ 0,5% b) Concreto não aparente ___________________ 1,0% Material pulverulento As partículas inferiores a 0,075 mm, constituídas de argila e silte, são denominadas material pulverulento. O teor de argila nas areias pode ser determinado usando um defloculante, oxalato de sódio numa proporção de 6 cm3 de solução 0,2 N de oxalato para 100 ml de 33 água. Mistura-se a solução com a areia, num período de quatro a seis horas, despeja-se o líquido num vaso de sedimentação e analisa-se o teor de argila presente. Impurezas orgânicas A presença de impurezas orgânicas – geralmente partículas de húmus – prejudica a resistência do concreto. Uma parte do húmus é ácida, podendo ser removida com água alcalina. A ABNT NM 49 dá o procedimento para determinar o índice de matéria orgânica no agregado miúdo conforme o que se estabelece a seguir: solução padrão é composta de 97 ml de solução de hidróxido de sódio com 3 ml da solução de ácido tânico à 2%. Quando a solução de hidróxido de sódio, que estava em contato com a areia, apresentar coloração superior a 300 partes por um milhão, a areia é considerada suspeita e será submetida ao ensaio de qualidade, de acordo com a NBR 7221, a fim de verificar a influência da matéria orgânica na resistência da argamassa preparada com a areia suspeita, comparada com a resistência da argamassa preparada com uma areia de boa qualidade, tomada como referência para se compararem os resultados das resistências à compressão, sendo que diferença máxima entre os resultados comparativos deve ser de 10%. Outras impurezas Outras substâncias, como a mica, sais solúveis (cloretos e sulfatos), restos de vegetais e grãos friáveis, prejudicam a qualidade do concreto. As partículas de baixa densidade são fracas, afetando a resistência mecânica e a abrasão do concreto. Os grãos de linhita e carvão podem desagregar o concreto e perturbar as reações do cimento. Sua determinação se faz com uso de líquido pesado, de acordo com a ASTM C-123. A existência de cloretos, além de provocar o aparecimento de manchas nas superfícies dos concretos, por ser um material higroscópico vai acelerar a corrosão das armaduras, porque os íons Cl- acelera a corrosão da armadura. Os sulfatos reagem com o C3A formando a etringita que é um dos mecanismos de deterioração do concreto. 34 Reação álcali-agregado Certos agregados reagem com o álcalis do cimento, provocando aumento de volume que fatalmente irá fissurar o concreto. Agregados contendo opala, calcedônia, tridimita, cristobalita e outros minerais, normalmente da família da sílica, são quimicamente ativos em presença dos álcalis do cimento. A reação álcali-agregado é associada à expansão, fissuração e deterioração do concreto. O sódio e o potássio são, componentes ditos indesejáveis no cimento. O teor de alcalinos é indicado pelo teor de Na2O sendo 0,658 o número que expressa a correlação de atividade entre eles. Essa relação permite expressar o teor de Na2O em álcalis, em porcentagens equivalentes, somando-se o teor de ao valor de 0,658 vezes a porcentagem de. K2O A especificação da ASTM para cimento de baixo teor de álcalis limita em 0,6% o teor máximo para evitar a reação com agregado potencialmente ativo. Os dados experimentais têm demonstrado, depois de extensas pesquisas, que quando o agregado é potencialmente reativo devem-se especificar cimentos com o teor máximo de álcalis de 0,6%. São considerados potencialmente reativos todos os agregados cujo teor de minerais reativos seja superior aos seguintes valores: Opala – máx. 2,5% Calcedônia – máx. 5,0% Riolitos vítreos e andesistos – máx. 3,0% O primeiro estudo sobre a reação álcali-agregado foi publicado em 1940 nos Proceedings da American Society Civil Engineer (ASCE) (v. 66, dez. 1940) pelo engenheiro Thomas E. Stanton, do Departamento de Estradas de Rodagem da Califórnia (Mehta; Monteiro, 1994). O método rápido – proposto pelos americanos Mielenz, Greene e Benton, para determinação das características deletéreas do agregado em relação à reação com os álcalis do cimento foi aprovado pela ASTM C-289. Esse método consiste na medida da redução da alcalinidade de uma solução de Na(OH) colocada em contato com o agregado pulverizado e na determinação da quantidade de sílica dissolvida. Outro método, ASTM C-227, consiste no aumento ou na redução do comprimento inicial de barras prismáticas de argamassa, empregando-se o agregado suspeito e um cimento rico em álcalis (± 1%) ou o cimento que será utilizado. 35 As barras são mantidas em água na temperatura de 37,8 ± 1,7º C, durante 3, 6 ou 12 meses. Se os valores das expansões forem A três meses > 0,05%; A seis meses > 0,10%. Os agregados serão considerados potencialmente reativos com os álcalis do cimento. Reação álcali-sílica Reação álcali-silicato Ocorre entre as álcalis do cimento e os silicatos dos feldspatos, folhelhos argilosos de certas rochas sedimentares (argilitos, silitos e grauvaca), rochas metamórficas (ardósias, filitos, quartzitos e xistos) e magmáticas (granitos). Reação álcali-carbonato CaMg(CO3)2 + 2NaOH → Mg(OH)2 + CaCO3 + Na2CO3 Na2 CO3 + Ca(OH)2 → 2 NaOH + CaCO3 Nova metodologia para analisar agregados potencialmente reativos O método acelerado National Building Research Institute (NBRI) da África do Sul foi normalizado pela ASTM C-1260. Esses métodos permitem analisar o comportamento dos agrega- dos potencialmente reativos, por meio de medidas de expansão em barras de argamassa, preparadas de acordo com as normas ASTM C-227 ou NBR 9773. Após a desmoldagem das barras, estas são inicialmente colocadas em água a 80ºC, durante 24 horas. Posteriormente, elas são medidas (leitura de referência) e mergulhadas numa solução de hidróxido de sódio a 1 N, a 80ºC, durante 28 dias. Diariamente, são feitas as leituras das variações de comprimento das barras, sendo os resultados expressos em porcentagens. Segundo estudos efetuados no laboratório de Furnas (Mehta; Monteiro, 1994), no ensaio acelerado, a expansão ocorrerá enquanto houver componentes reativos em quantidade suficiente para provocar pressões hidráulicas superiores a resistências mecânicas da argamassa ou concreto. Caso não ocorra expansão no método acelerado, não haverá perigo para o concreto. 36 Segundo Shayan (apud Mehta; Monteiro, 1994), se a expansão for acima de 0,10% entre 10 e 22 dias, indica que o agregado é reativo ou lentamente reativo. Na ASTM C-1260 estabelece-se que em expansão de 0,10% aos 14 dias de imersão na solução de hidróxido de sódio, na maioria das vezes, a reação é inócua e para valores acima de 0,20% na mesma idade, indica comportamento deletéreo. Sugere, ainda, que se a expansão for entre 0,10% e 0,20% que o ensaio deve prolongar até 28 dias para dar uma noção melhor do comportamento do agregado. No mesmo trabalho de Furnas, sugere-se que para a expansão acima de 0,11% aos 12 dias deve-se considerar o agregado como potencialmente reativo. O emprego de pozolanas é recomendado para minimizar os efeitos da reação álcali-agregado de cimentos com mais de 0,6% de álcalis. Segundo Conrow (apud Basílio, 1976), a ação deletérea proveniente daatividade agregado-cimento decorre dos seguintes fatores, para concretos das obras hidráulicas: Quantidade e velocidade de liberação de Ca(OH) hidratação do cimento; Teor de álcalis no cimento; Finura do cimento; Composição potencial do cimento. Resistência à compressão e à abrasão Os agregados geralmente têm resistência suficiente devida à formação geológica. As rochas eruptivas, por exemplo, sem início de alteração, os arenitos silicosos e os quartzitos atendem às características de resistência à compressão e à abrasão. Já as rochas calcárias ou argilosas têm resistência variável, devendo sempre ser submetidas aos ensaios de compressão e de abrasão. A porosidade e o tipo de cristalização influem sensivelmente na resistência mecânica da rocha; em casos especiais, costuma-se limitar a porosidade ao máximo de 1%. A resistência mecânica da rocha deve ser superior à resistência da pasta, de forma que a ruptura do concreto sempre ocorra na pasta e não no agregado. Aproveitando- se toda a capacidade de trabalho da pasta, o concreto será mais econômico. Os agregados usuais geralmente têm resistência superior à da pasta. Os ensaios de resistência ao desgaste têm como finalidade qualificar os agregados para concretos sujeitos a desgastes superficiais, provocados por ações diversas. 37 Produção de Agregados Britados O crescimento do consumo de agregados britados tem exigido uma exploração mais racional das pedreiras, de modo a atingir maior rendimento da jazida e a atender às necessidades da construção civil. A utilização de equipamentos mecânicos modernos e adequados para a exploração de determinado tipo de rocha permite aumentar a produção e reduzir a mão-de-obra, que são os fatores importantes no custo do agregado. Tipos de rochas Existem vários tipos de rochas para produção de agregados. As rochas que mais comumente se destinam a este fim constam na tabela 4, onde são transcritas, também, suas principais características. Extração Dependendo da ocorrência natural, a extração pode ser: A céu aberto, quando a jazida aflora a superfície; nessa situação, a extração é mais Econômica e oferece condições de segurança e eficiência; Subterrânea, quando a jazida é profunda; a exploração é feita através de poços e galerias. De um modo geral, as rochas apropriadas para agregados permitem, sempre ou quase sempre, a extração a céu aberto. Preparo da pedreira O preparo preliminar da pedreira consiste na retirada da camada superior do solo e no estabelecimento de uma frente de serviços de desmonte. As operações de extração consistem nas seguintes etapas: Perfuração da rocha e colocação dos explosivos; Estabelecimento de circuito para detonação; Fogo, que é o desmonte propriamente dito; Fogáceo, que é a detonação dos blocos maiores. 38 Seguem-se as demais etapas dos serviços de britagem e de separação dos agregados por classificação. Leis de fragmentação A fragmentação das pedras é uma das operações que consome grande quantidade de energia e desgasta bastante a máquina. Por isso, a observância de certos princípios é fundamental para que essas perdas possam ser reduzidas ao mínimo. O britador deve atender às seguintes condições, de modo a reduzir as despesas de manutenção: Adaptar-se às propriedades físicas da pedra; Ter boa capacidade de produção; Ser econômico; Ser de construção simples, permitindo facilidade de montagem e desmontagem. A experiência tem contribuído para o aperfeiçoamento dos britadores, seguindo os princípios básicos das leis de fragmentação de rochas. A primeira expressão matemática se deve a Rittinger, em 1867, cuja lei é a seguinte: “o trabalho de fragmentação de uma pedra é diretamente proporcional às novas superfícies produzidas”. Denomina-se constante de Rittinger à nova superfície produzida por unidade de trabalho: Onde: S = nova superfície T = trabalho empregado Classificação dos agregados A pedra britada é classificada de acordo com suas dimensões através das peneiras. Existem peneiras cilíndricas rotativas e do tipo plano vibratório. 39 Figura 1 – Planta de britagem. Fonte: WWW.google.com.br/search. acessado em 03/02/2014. Figura 2 – Britador cônico. Fonte: WWW.google.com.br/search. Acessado em 10/02/2014. As peneiras vibratórias planas são de telas metálicas encaixadas em cavilhas e superpostas. As peneiras trabalham com uma inclinação de cerca de 15 graus. São melhores para separação dos agregados; além de maior rendimento, as telas são facilmente substituídas. http://www.google.com.br/search http://www.google.com.br/search 40 5 ÁGUA Generalidades Os efeitos dos agentes agressivos ao concreto, provenientes das impurezas da água de mistura, são bem menores que os efeitos do mesmo líquido em contato permanente com o concreto. Isto porque, no primeiro caso, terminadas as reações dos elementos com os compostos do cimento, paralisa-se a agressão. Na segunda situação, quando a mesma água permanece em contato com o concreto, o ataque é contínuo, chegando à destruição total da estrutura do cimento hidratado. Como exemplo, citamos as águas puras das fontes graníticas ou oriundas do degelo que atacam o cimento hidratado por dissolução da cal. A quantidade de dissolução atinge cerca de 1,3 grama por litro, na temperatura ambiente. As águas puras renovadas acabam destruindo toda a cal hidratada do cimento, criando, dessa forma, um mecanismo de deterioração do concreto. As águas potáveis são boas para uso nas misturas do concreto, embora nem todas as águas consideradas de boa qualidade para concreto sejam potáveis. Sempre que tivermos dúvidas sobre a qualidade de uma água, devemos pelo menos fazer um ensaio comparativo da resistência à compressão com corpos de prova de argamassa de cimento e areia, utilizando a água em estudo e uma água reconhecida como de boa qualidade. O uso dessa água será permitido desde que a queda da resistência seja de no máximo 10% em relação à água tomada como padrão. Havendo condição de se fazer a análise da água, esta será conveniente, pois, assim, teremos mais elementos para julgar melhor a sua qualidade. O sulfato de cálcio combina com o C3A, formando o sulfo-aluminato de cálcio – um composto expansivo que provoca a destruição do concreto. Água do Mar A água do mar com concentração máxima de sais até 30.000 ppm pode ser empregada para concretos sem armaduras ou em estruturas de pequena importância. A água do mar acelera a resistência do concreto nos primeiros dias e, aos 28 dias, é sempre menor, em relação a concreto com água de boa qualidade. Águas de reuso de esgotos domésticos devem ser avaliadas para verificar se atende aos requisitos da NBR 15900-1. Óleos e gorduras não devem ter traços visíveis; 41 Cor – a cor deve ser comparada qualitativamente com a água potável que deve ser clara e incolor; Odor – não deve apresentar cheiro forte; Ácidos – devem ser inodora e sendo de outras fontes não devem apresentar cheiro forte após a adição de ácido clorídrico; Material orgânico - a cor da água deve ser mais clara ou igual a solução padrão após a adição de NaOH. O teor de cloretos em Cl- não deve exceder aos limites da tabela 3 a seguir: TABELA 3 – Teor máximo de cloretos na água de amassamento do concreto Uso final Teor máximo de cloreto mg/litro Ensaio Concreto protendido ou graute 500 ABNT NBR 12655 Concreto armado 1000 Concreto sem armadura 4000 Fonte: ABNT NBR 12655 Sulfatos – o teor de sulfato ensaiado de acordo com a NBR 15900-7, expresso SO4 2+ não deve exceder à 2000 mg/litro. Álcalis – o teor determinado Segundo a NBR 15900-9, equivalente alcalino de óxido de sódio não deve exceder a1500 mg/litro. TABELA 4 - Requisitos de outras substâncias prejudiciais à água de amassamento Substâncias Teor máximo mg/l Açucares 100 Fosfato expresso em P2O5 100 Chumbo expresso em Pb² 100 Nitratos, expresso em NO3 500 Zinco, expresso em ZN² 100 Fonte: ABNT NBR 15900-1 As águas ácidas que podem ser empregadas nas misturas do concreto não devem ter pH inferior a 3. Recomenda-se verificar sua influência nas armaduras, quando o pH for inferior a 5,0 principalmente nos concretos protendidos. 42 Águas Residuais As águas de esgotos industriais ou domésticas devem ser cuidadosamente analisadas para então decidir seu uso ou não nos concretos. Conclusão Toda essa abordagem e as transcrições de tabelas com limites de tolerância das impurezas presentes nas águas, para uso nas misturas ou curas de concreto, são valores básicos que servem ao tecnologista como ponto de partida ao pesquisar a viabilidade de uso de uma determinada fonte de água na fabricação do concreto. A decisão final sobre aceitação – ou não – vai depender de uma série de outros fatores e condições inerentes à obra a construir e dos materiais disponíveis para o concreto. 43 6 MATERIAIS CIMENTÍCIOS Escórias de Alto-forno As escórias de alto-forno são um sílico-aluminato de cálcio, resultantes da combinação das impurezas do minério de ferro, do fundente e do coque. Tratamentos As escórias resfriadas bruscamente não se cristalizam, adquirem uma estrutura vítrea e porosa. A escória granulada tem aspecto de areia. Depois do tratamento, é necessário secá-las para utilizar na fabricação do cimento. Os tratamentos para obtenção da escória granulada se resumem nos seguintes: Resfriamento ao ar; Resfriamento à água. Se a escória for bem granulada, terá boa atividade com a cal. A propriedade de hidratação, quando na presença de cal, formando o C-S-H secundário. “O teor de escória no cimento portland de alto-forno deve estar entre 25% e 65% da massa total”. Cinzas Volantes Cinzas volantes são as cinzas das centrais térmicas. Nas centrais modernas utilizam-se carvões pulverizados. As principais características físicas das cinzas volantes são As partículas variam de 1 a 200 microns de tamanho; 50% das partículas geralmente têm entre 30 e 40 microns; A superfície específica Blaine está entre 250 e 600 m2/kg; Ao microscópio, os grãos se apresentam, geralmente, de forma esférica e compactos; Alguns grãos são ocos ou se encontram fragmentados com ruptura frágil; Pouquíssimos cristais se apresentam no exame de raio X. O óxido de ferro pode ser separado por processo magnético. 44 Vantagens e desvantagens do uso de cinzas volantes no cimento Vantagens: Redução do preço do aglomerante; Resistência mecânica final superior; Melhoria da plasticidade; Redução do calor de hidratação e da contração inicial; Aumento da resistência às águas puras ou sulfatadas. Desvantagens: Redução da resistência inicial (2 e 7 dias); Redução da velocidade do endurecimento; Aumento da água unitária do concreto. Além das cinzas volantes (fly-ash), temos ainda: Pozolanas naturais, de origem vulcânica; Pozolanas artificiais provenientes da calcinação de deter- minados tipos de argilas. Pozolanas – NBR-12653 Pozolanas – NBR-12653 é um material silicoso ou sílico-aluminoso, que, por si, só tem pouco ou nenhum valor aglomerante, mas, quando finalmente dividido e na presença de cal, misturado com água, tem propriedades aglomerantes. Uso na fabricação de cimento pozolânico A NBR-12653 especifica que o teor de pozolana adicionada ao cimento deve estar entre 15 e 50% da massa total do cimento pozolânico. Atividade pozolânica A resistência mínima da atividade pozolânica a 7 dias é de 5,5 MPa, conforme as 45 determinações do procedimento da NBR-5752. A atividade pozolânica se caracteriza pela reação da sílica e alumina ativa com a cal, formando os silicatos e aluminatos de cálcio. O método mais prático de caracterizar o efeito pozolânico é realizar os ensaios mecânicos com o cimento sem pozolana e comparar com os resultados do cimento mais pozolana, permitindo uma melhor avaliação dos resultados da atividade pozolânica. Cinza da Casca de Arroz A cinza de casca de arroz contém cerca de 90% de sílica amorfa, sendo um componente com grande atividade pozolânica para o cimento sem nenhuma restrição técnica, conforme estudo realizado pelo autor em colaboração com a Fábrica de Cimento Goiás. Sílica Ativa Sílica ativa é uma cinza colhida nos filtros eletrostáticos dos forros de produção do ferro sílico. A sílica ativa é altamente reativa com cal. As partículas são esféricas, proporcionando uma concentração de 50.000 grãos para cada grão de cimento. A atividade da sílica ativa no concreto será: Por efeito pozolânico e de microfiler; Por redução da permeabilidade. A resistência no concreto se eleva muito com a sílica ativa pela maior formação de C-S-H. 46 7 ADITIVOS Classificação dos Aditivos Os aditivos têm a função de conferir algumas propriedades ao concreto. Eles são classificados quanto à origem, à forma e às propriedades conferidas ao concreto. São classificados também segundo sua função exercida no concreto de acordo com a American Society for Testing Materialy (ASTM C-494): Tipo A – redutor de água Tipo B – retardador Tipo C – acelerador Tipo D – redutor de água e retardador Tipo E – redutor de água e acelerador Tipo F – redutor de água de alta eficiência Tipo G – redutor de água de alta eficiência e retardador Os aditivos do tipo F e G reduzem até 30% da água, numa dosagem de 197 à 657 ml/saco de cimento. Os aceleradores promovem a dissolução dos cátions (íons Ca+2) e ânions do cimento, principalmente os mais lentos, como os íons silicatos. Os efeitos dos aditivos químicos às vezes são opostos, de- pendendo da adição. As formas de atividades são consideradas a seguir: Sais de ácidos fortes e bases fracas aceleram (CaCl2); Sais de bases fortes e ácidos fracos são retardadores (K2CO3). A exceção é a gipsita que retarda a pega do cimento. Os ácidos orgânicos de massa molecular baixa e sais solúveis com base fraca são aceleradores, como o formiato de cálcio HCOOH + Ca++. Os retardadores geralmente são os ácidos orgânicos de cadeias longas de hidrocarbonetos. A trietanolamina N(CH2 – CH2 OH)3 , em porcentagem de 0,1 a 0,5% aacelera a formação da etringita e retarda a hidratação do C3S, reduzindo o desenvolvimento da resistência inicial do concreto. Os elementos tensoativos são constituídos de moléculas orgânicas de cadeia longa, tendo uma extremidade hidrófila (que atrai água) e outra hidrófoba (que repele água). A extremidade hidrófila contém um ou mais grupos polares, tais como (-COO-, SO3 - ou – 47 NH3 + ). Os tensosativos incorporadores de ar, geralmente, contêm sais de resinas de madeira, materiais protéicos, ácidos graxos e alguns detergentes sintéticos. A incorporação indesejada de ar é combatida com um desincorporador, usualmente o fosfato de tributilo. Os aditivos à base de lignossulfonato aumentam a retração, enquanto os outros desse tipo não mostram nenhum efeito. Os plastificantes tensoativos geralmente contêm sais derivados de ácidos lignossulfonados, ácidos carboxílicos hidroxi- lados e polissacarídeos ou a combinação dos três. Os superplastificantes são a base de sais sulfonados e melamina ou condensados de naftaleno-formaldeído. São tensoativos de massa molecular elevada (20.000 a 30.000), com grande número de grupos polares. Quando esse aditivo for adsorvido pelo cimento, confere carga negativa,