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ÉTICA RELIGIOSA:
O CRISTIANISMO
Prof. Me. Marcelo Alves da Silva
2
ÉTICA RELIGIOSA:
O CRISTIANISMO
PROF. ME. MARCELO ALVES DA SILVA
3
© 2023, Editora Prominas.
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério
Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Me. Cristiane Lelis dos Santos
Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Elislaine Santos
Revisão Técnica: Prof. Wallison Brandão
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes
Lorena Oliveira Silva Portugal
Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva
Daniel Guadalupe Reis
Élen Cristina Teixeira Oliveira
Maria Eliza Perboyre Campos
4
ÉTICA RELIGIOSA:
O CRISTIANISMO
1° edição
Ipatinga, MG
Editora Prominas
2023
5
Mestre pela Faculdades Batis-
ta do Paraná (FABAPAR, 2019); MBA
em Gestão de Projetos pela Faculda-
de de Araucária (FACEAR, 2016); Ba-
charel em Psicologia pela (UNINORTE,
2018); Graduado em Administração
pela Universidade Luterana do Bra-
sil (ULBRA, 2013); Graduado em Histó-
ria pela UNISA (2022); Licenciado em
Pedagogia (FAEL,2019); Graduado em
Teologia pela Faculdade Evangélica
do Piauí (FAEPI, 2016), Licenciado em
Letras - Português e inglês; Licencia-
do em Filosofia. Psicólogo, Professor e
Administrador, atuou como professor
substituto no curso de Administra-
ção da FES (UFAM) e na Escola Supe-
rior Batista do Amazonas (ESBAM). É
Pós-graduado em Direitos Humanos
e Questões Ético-Sociais (FACULDADE
FUTURA); Docência do Ensino Supe-
rior pela (UNIASSELVI, 2016); Gestão de
Recursos Humanos pela (UNIASSELVI,
2014); Psicologia Organizacional; Psi-
cologia Clínica; Psicologia Jurídica e
Avaliação Psicológica; Psicanálise (FA-
CULDADE FUTURA, 2018); Gestão Escolar
e Direito Educacional; Psicopedagogia
Institucional, Clínica e Educação Espe-
cial; Neuropsicologia; Neuropsicope-
dagogia Clínica; Psicologia Hospitalar.
MARCELO ALVES DA SILVA
Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qua-
lificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/4428738938197577
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LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes
nas quais você precisa ficar atento.
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do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar
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virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
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associando-os a suas ações.
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VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
7
UNIDADE 1
UNIDADE 2
SUMÁRIO
1.1 Conceito Geral de Ética ..................................................................................................................................................................................................................................................................11
1.2 Conceito de Moral ............................................................................................................................................................................................................................................................................12
1.3 Conceito de Ética Cristã ..............................................................................................................................................................................................................................................................13
1.4 Apontamentos sobre as bases éticas do cristianismo ........................................................................................................................................................................................15
1.5 A retórica Ético-cristã e sua perspectiva de transformação e inclusão .................................................................................................................................................17
1.6 A Práxis da Ética cristã no Social .........................................................................................................................................................................................................................................18
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................20
2.1 O Desenvolvimento Do Humano E Suas Novas Exigências ...............................................................................................................................................................................27
2.2 Princípios Cristãos Adotados na Declaração de Direitos Humanos .........................................................................................................................................................28
2.3 A Declaraçao Universal dos Direitos Humanos e a Fé Diversificada ........................................................................................................................................................29
2.4 A Ética Crista Como Instrumento de Desenvolvimento Social e Expressão da Dignidade da Pessoa Humana ......................................................30
2.5 Diferenças na Aplicabilidade da Ética Geral e da Ética Cristà na Vida Social ..................................................................................................................................32
2.6 A Dignidade da Pessoa Humana ......................................................................................................................................................................................................................................33
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................36
A NORMATIVIDADE DO DISCURSO ÉTICO-CRISTÃO. FUNDAMENTAÇÕES ÉTICAS DO CRISTIANISMO
CONSCIÊNCIA ÉTICA FUNDADA NOS DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 3
3.1 Dimensão Somática ......................................................................................................................................................................................................................................................................41
3.2 Dimensão Psicoafetiva ..............................................................................................................................................................................................................................................................42
3.3 Dimensão Social .............................................................................................................................................................................................................................................................................43O quadro abaixo tenciona facilitar o entendimento do surgimento da preocupação
com a dignidade humana.
para ascender ao universo da divindade (única ou múltipla)”. O autor citado também
enfatiza que a religião tem um duplo efeito: escraviza ou liberta.
Na ética cristã, quem se identifica como cristão não baseia suas decisões (sistema de
valores) apenas na sua consciência, mas também no que diz a Bíblia: Mas quando vier
o Espírito da Verdade, ele o guiará a toda a verdade (João 16:13). E mesmo que lhe falte
sabedoria, você pode pedir a Deus que lhe dará generosamente (Tiago 1:5). Esses pa-
drões são necessários se alguém quiser ter uma bússola para tomar decisões em todas
as áreas da vida.
Este princípio também se aplica aos ateus e agnósticos porque as suas decisões são ba-
seadas na suposição de que Deus não existe.
Tem-se por dignidade da pessoa humana a qualidade
intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser huma-
no que o faz merecedor do mesmo respeito e conside-
ração por parte do Estado e da comunidade, implican-
do, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e
promover sua participação ativa e corresponsável nos
destinos da própria existência e da vida em comunhão
com os demais seres humanos (SARLET, 2005, p. 37).
NOME ANO DISPOSIÇÃO
Código do rei Sumério
Hamurabi
1792 – 1750 a.C Dispunha de alguns direitos, tais
como o direito à vida, à família, à
honra, à dignidade, cuidado e pro-
teção aos grupos vulneráveis como
órfãos, viúvas e demais fracos com
intuito de promover justiça.
Código de Manu – Ín-
dia. (Coletânea de
normas)
Posterior ao código de
Hamurabi
Normas que abrangem vários
aspectos da sociedade em versos
poéticos. É considerado a primeira
organização da sociedade (religio-
sa e política).
34
Grécia Antiga 1100 a.C Os gregos não expressaram dire-
tamente o conceito de dignidade
humana, mas a importância de seu
pensamento na civilização ociden-
tal vem da ideia de uma pessoa
com base normativa e universal,
filosófica e racional, em oposição
ao pensamento mítico.
Estoicismo 330 a.C Seu objeto de defesa era fraterni-
dade entre os homens e o reco-
nhecimento universal de princípios
morais, eternos e imutáveis de-
correntes dos direitos inerentes ao
homem e da igualdade da natureza
humana.
Cristianismo fundado
por Jesus e difundido
pela igreja Cristã.
Século I d.C. A construção do conceito de digni-
dade humana foi um processo que,
no campo da religião, teve início
com o fortalecimento da fé mono-
teísta, da qual a religião cristã tam-
bém é um tipo. (MARTINS, 2003).
Quadro 2: Cronologia da Dignidade Humana
Fonte: Adaptado de Morgado (2013)
O problema de definir dignidade surge quando se discute a origem de tal direito,
se ele decorre apenas da condição humana, ou seja, basta ter essa propriedade (um
direito natural), e então surge o problema de catalogar quais são esses direitos mínimos
seriam os direitos, uma vez que existem culturas diferentes, ou se um momento histórico-
cultural daria os contornos de uma lista de direitos considerados como proporcionando
proteção mínima à dignidade (direito positivo).
Na verdade, se partirmos desta perspectiva (do direito natural e do direito
positivo), a disputa permanece sobre a base da dignidade humana, se os direitos seriam
criados ou meramente reconhecidos pelo Estado. O que é certo, independentemente
das incertezas conceituais, é que todos devem respeitar uns aos outros (um princípio
cristão).
Figura 7: A valorização da pessoa humana
Fonte: Disponível em: https://shre.ink/roif. Acesso em 24 fev. 2023.
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O homem não pode ser considerado um mero objeto porque possui qualidades
morais, éticas e racionais. O Estado e todas as pessoas na sociedade devem respeitar
os seus direitos. A dignidade humana deve ser entendida como um valor que o Estado
respeita e não pode introduzir parâmetros discriminatórios para a proteção das pessoas,
independentemente da sua situação social. A este respeito, o Papa Francisco enfatiza o
seguinte:
Portanto, o papel da igreja em relação às pessoas deve ser cumprido, como sua
origem é enfatizada nas Escrituras, e fazer o bem sem discriminação por cor da pele,
raça, etnia, posição social ou qualquer outra coisa.
Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que relegue-
mos a religião para a intimidade secreta das pesso-
as, sem qualquer influencia na vida social e nacional,
sem nos preocupar com a saúde das instituições da
sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os aconte-
cimentos que interessam aos cidadãos. Quem ousaria
encerrar num templo e silenciar a mensagem de São
Francisco de Assis e da Beata Teresa de Calcutá? Eles
não o poderiam aceitar. Uma fé autentica – que nunca
é cômoda nem individualista – comporta sempre um
profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores,
deixar a terra um pouco melhor depois da nossa pas-
sagem por ela (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium,
n.183).
A dignidade da pessoa humana não depende da cor da pele, da posição social ou do ní-
vel de escolaridade dos indivíduos. O próprio homem, sendo dotado de atributos morais,
éticos e racionais, não pode e não deve ser tratado como uma peça descartável, mas os
seus direitos devem ser respeitados pelo Estado e por todas as pessoas da sociedade. A
dignidade humana deve ser entendida como um valor que deve ser respeitado pelo Es-
tado e pela sociedade em geral, que não pode em hipótese alguma aceitar parâmetros
discriminatórios na proteção das pessoas. Diante do que foi apresentado sobre a dignida-
de da pessoa humana, como você pode ser um agente difusor de transformação social
em relação ao respeito e à tolerância ao próximo?
VAMOS PENSAR?
36
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (INEP BRASIL – 2022). Sobre Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) fala que todo ser humano tem
direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à proteção contra o desemprego. Mas, no que concerne ao repouso, lazer e
férias, é correto afirmar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos:
a) Possui previsão com relação às férias, mas nada consta sobre o repouso.
b) Possui, entre outras, previsão de férias remuneradas periódicas.
c) Contempla que todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação
razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
d) Possui previsão com relação ao repouso, mas nada consta sobre as férias.
e) Não possui qualquer previsão.
2. (FGV – 2022). Após a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 10 de dezembro
de 1948, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhecendo
a dignidade como direito a toda categoria humana, além de outros direitos iguais e
inalienáveis cujo fundamento é a liberdade e a justiça. Assim sendo, tendo por norte a
aludida Declaração e a nossa Constituição da República de 1988, analise os tópicos a
seguir.
I. Segundo prescreve a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, todos os
homens nascem livres e iguais em dignidade e direito. Dotados de razão e consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
II. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em determinado dispositivo, estabelece
que ninguém pode ser exilado.
III. No ordenamento constitucional brasileiro vigente, o princípio do primado do trabalho
é a base da ordem social. A falta de trabalho (direito social) afeta a igualdade entre
os homens, dando azo às desigualdades sociais.
IV. A Declaração Universal prevê a possibilidade de que toda pessoa tem o direito de
abandonar o país em que se encontra e o direito de retornar ao seu país.
V. Toda pessoa individual tem direito à propriedade, a coletiva não, conforme consta
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.Está correto somente o que se afirma em:
a) I, II e IV;
b) I, II e V;
c) I, III e IV;
d) II, III e IV;
e) II, III e V.
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3. (Sobre Ética e moral UFMT- 2015). Sobre como a ética pode ser compreendida,
considere:
I. Reflexão sobre as ações e as práticas relacionadas com a vida em sociedade.
II. Reflexão sobre a determinação natural sem a ação humana em comunidade.
III. Reflexão sobre a conduta social de cada pessoa.
Está correto o que se afirma em:
a) II e III
b) I e II e III
a) I e II
b) I e III
c) Nenhuma das alternativas
4. (CESPE- 2010). Acerca da relação entre ética e moral, assinale a opção correta.
a) O entendimento ético discorre filosoficamente, em épocas diferentes e por vários
pensadores, dando conceitos e formas de alusão ao termo ética.
b) Durante as Idades Média e Moderna, a ética era considerada uma ciência, portanto,
era ensinada como disciplina escolar. Na Idade Contemporânea, a ética assumiu uma
nova conotação, desvinculando-se da ciência e da filosofia e sendo vinculada às
práticas sociais.
c) A simples existência da moral significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o
significado dos valores morais.
d) A ética não tem por objetivo procurar o fundamento do valor que norteia o
comportamento, tendo em vista a historicidade presente nos valores.
e) O conhecimento do dever está desvinculado da noção de ética, pois este é
consequência da percepção, pelo sujeito, de que ele é um ser racional e, portanto, está
obrigado a obedecer ao imperativo categórico: a necessidade de se respeitar todos os
seres racionais na qualidade de fins em si mesmos.
5. (CEV-URCA- 2019). Templos são invadidos e profanados. Em outros casos, há
agressões verbais, destruição de imagens sacras e até ataques incendiários ou
tentativas de homicídio. O cenário preocupa adeptos de diversas religiões e, em pelo
menos oito Estados, o Ministério Público investiga ocorrências recentes de intolerância.
Entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou uma denúncia a
cada 15 horas, mostram dados do Ministério dos Direitos Humanos (MDH)”. Felipe Resk,
José Maria Tomazela e Jonathas Cotrim, O Estado de São Paulo, 12 novembro 2017 |
03h00.
Sobre o tema da intolerância religiosa marque a alternativa correta:
Alternativas
a) O direito à liberdade de expressão garante que todos podem dizer o que se deseja
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acerca de crenças ou religiões, ainda que isso possa ofender ou desrespeitar a fé de
outras pessoas.
b) Segundo as leis brasileiras a intolerância religiosa não é considerada crime no país;
c) Apesar de poder ter elementos de violência, a intolerância religiosa não é tratada
como crime de ódio;
d) A intolerância pode ser punida com penas que vão de 10 a 15 anos de prisão
e) E Realizar atos de violência e vandalismo em geral contra templos religiosos é
intolerância religiosa.
6. De acordo com o que foi apresentado, complete
A tolerância _______________ é uma característica importante dos
ensinamentos __________________, e o exemplo começa com a presença
de _____________________ entre as pessoas, pois de acordo com o
__________________, quando deixou o céu para servir na terra, demonstrou
__________________________ com a cultura humana caracterizada pelo
pecado e pela imperfeição. Jesus também mostrou interesse em alcançar outras
culturas por meio do testemunho, por exemplo, dirigindo-se à samaritana (Evangelho
Segundo João), que pertencia a um grupo _________________________
desprezado pelos judeus na época.
a) Cultural, Cristãos, Jesus Cristo, Novo Testamento, Tolerância, étnico.
b) Cultural, Budistas, Jesus Cristo, Novo Testamento, Tolerância, étnico.
c) Cultural, Cristãos, Maomé, Novo Testamento, Tolerância, étnico.
d) Cultural, Cristãos, Jesus Cristo, Alcorão, Tolerância, étnico.
e) Cultural, ateístas, Jesus Cristo, Novo Testamento, intolerância, étnico.
7. De acordo com o estudado, sobre cronologia da Dignidade Humana, identifique e
classifique a sequencia correta:
1) Código do rei Sumério Hamurabi
2) Código de Manu – Índia. (Coletânea de normas)
3) Grécia Antiga
4) Estoicismo
5) Cristianismo fundado por Jesus e difundido pela igreja Cristã.
( ) Seu objeto de defesa era fraternidade entre os homens e o reconhecimento universal
de princípios morais, eternos e imutáveis decorrentes dos direitos inerentes ao homem
e da igualdade da natureza humana.
( ) Dispunha de alguns direitos, tais como o direito à vida, à família, à honra, à dignidade,
cuidado e proteção aos grupos vulneráveis como órfãos, viúvas e demais fracos com
intuito de promover justiça.
( ) Normas que abrangem vários aspectos da sociedade em versos poéticos. É
considerado a primeira organização da sociedade (religiosa e política).
( ) A construção do conceito de dignidade humana foi um processo que, no campo
da religião, teve início com o fortalecimento da fé monoteísta, da qual a religião cristã
também é um tipo. (MARTINS, 2003).
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( ) Os gregos não expressaram diretamente o conceito de dignidade humana, mas a
importância de seu pensamento na civilização ocidental vem da ideia de uma pessoa
com base normativa e universal, filosófica e racional, em oposição ao pensamento
mítico.
a) 1, 2, 3, 4, 5
b) 4, 1, 2, 5, 3
c) 1, 3, 5, 2, 4
d) 2, 5, 1, 3, 4
e) 1, 2, 3, 5, 4
8. (ENEM). Martin Luther King era:
a) Deputado
b) Pastor
c) Senador
d) Presidente
e) Matemático
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A COMPREENSÃO DA PESSOA
HUMANA EM TODAS AS SUAS
DIMENSÕES: SOMÁTICA,
PSICOAFETIVA, SOCIAL,
ECOLÓGICOPLANETÁRIA E
ESPIRITUAL
41
Nesta unidade falaremos sobre algumas das dimensões que caracterizam a
personalidade humana. Quando falamos de dimensões humanas ou dimensões da
personalidade humanas, estamos fazendo menção às diferentes áreas da existência
humana. Assim, o estudo dessas dimensões é importante, pois é onde se desenvolve
a complexidade do ser humano, cuja existência inclui poderes e possibilidades muito
mais diversificados do que aquelas encontradas nos demais animais.
3.1 DIMENSÃO SOMÁTICA
O corpo é principalmente o ponto de partida da antropologia filosófica, porque é
a forma imediata da presença humana (no espaço e no tempo) no mundo. Podemos
pensar no corpo como a união da alma e do corpo; o que nos torna humanos e divinos;
aquilo que no discurso religioso retratado na Bíblia (criacionismo) nos torna obra de
Deus.
O corpo biológico, um organismo vivo mecanicamente estruturado, tem seus
próprios pré-requisitos e necessidades básicas para a existência humana, como
comida, bebida, sono, mas há algo mais no corpo além daquilo que vemos no homem-
animal: este corpo tem uma linguagem, e se existe linguagem, existem sentimentos
O corpo humano é denominado próprio, ou seja, a compreensão do corpo como
instrumento pelo qual a pessoa não apenas permanece no mundo, mas também está
no mundo e dá sentido ao mundo.
Quanto à pessoa, Frankl (2011) a entende como indivíduo não apenas no sentido
estrito da palavra (individuam), “unidade”, mas também (in-sumável), “totalidade” e
como tal não é um assunto à subdivisão ou a qualquer divisão, pois é uma unidade
tridimensional, biopsicosespiritual, sendo cada instância interdependente e indivisível.
Peter (1999) ecoou a compreensão humana de Frankl, dizendo:
Figura 8: O corpo humano
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3XWxoZt. Acesso em 24 fev. 2023.
[...] a dimensão somática, a psíquica e a noética tor-
nam-se ontologicamente diversas, porém antropologi-
camente inseparáveis, na medida em que a dimensão
superior (a noética) unifica e agrupa em torno do pró-
prio núcleo a globalidade do ser humano (PETER, 1999,
p.38).
42
De acordo com Frankl (2008) o ser humano é um ser eminentemente espiritual e
em uma constante busca por sentido para a vida e aponta três diferentes formas para
alcançar este objetivo:
1. criando um trabalho ou praticando um ato;
2. experimentando algo ou encontrando alguém;
3. pelaatitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável”, essa
noodinâmica é manifesta em valores.
O primeiro deles são os valores criativos (ativos), manifestados pelo sentido dado
ao trabalho e pelo potencial criativo de cada indivíduo através da tarefa no movimento
de doação de si ao mundo. O trabalho, neste sentido, não se trata de quanto o ser
humano pode produzir, mas de como o faz, tendo em conta a criatividade, o altruísmo, a
dedicação e a realização que são existencialmente mais importantes que os resultados
económicos.
Assim, como mostrado acima, a ética cristã considera a Bíblia como uma bússola
orientadora e considera-a a vontade revelada do Transcendente (Deus). Enquanto a
ética secular ou geral tem como base costumes, símbolos e práticas.
3.2 DIMENSÃO PSICOAFETIVA
Chamamos esse processo de dimensão psicoafetiva. Nesse processo, a autocrítica
é de grande importância no autoconhecimento de descobertas, autoaceitação,
integração e autoconstrução. Esta dimensão trata e valoriza a si mesmo, e não aos
outros.
O autoconhecimento e a autocrítica são extremamente importantes para o
desenvolvimento da dimensão psicoafetiva. Sem eles, uma pessoa não é capaz de
analisar diversas situações que lhe dizem respeito, inclusive como administrar seus
próprios conflitos e os conflitos com outras pessoas. (Processo de personalização):
"Quem sou eu?" - É um esforço para se tornar pessoa: aparecer, ser dono, aceitar-se,
integrar-se, trabalhar sobre si mesmo. É a minha relação comigo mesmo.
Figura 9: Autocrítica como ferramenta de conhecimento
Fonte: Disponível em: https://mude.vc/socrates/. Acesso em: 18 mar. 2023.
A capacidade de se criticar e enxergar os próprios erros e imperfeições, que nem
sempre são considerados importantes e dignos de atenção, analisá-los e entender
como melhorar.
O autoconhecimento é muito importante para essa análise pessoal. Desta forma,
43
3.3 DIMENSÃO SOCIAL
O homem é um ser social que age de acordo com valores, normas e costumes
assimilados da sua cultura, comunica e partilha direitos e obrigações na sociedade.
Nessa perspectiva, a dimensão social pode ser entendida como o processo de
socialização de um indivíduo.
De forma geral, pode-se dizer que todos precisam se sentir membros de algum
grupo ou comunidade, onde suas necessidades materiais, emocionais e profissionais
sejam satisfeitas nesse contexto, e assim poder cumprir seus papéis sociais e simbólicos
na o grupo.
A dimensão social refere-se à área das relações, interações e valores que já são
herdados – e renovados – e podem ser alterados em processos educativos que criem
novas relações e interações.
Platão (428-348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) compreendem e trabalham a
dimensão social do homem de maneiras muito diferentes. Segundo Platão, a dimensão
social nada mais é do que um fenômeno acidental, enquanto Aristóteles diz que esta
dimensão é uma propriedade essencial. Essa diferença decorre de sua compreensão
diferente do ser humano.
Segundo São Tomás de Aquino (1225-1274), assim como Aristóteles, ele afirma
que o homem é por natureza um ser social, vivendo em grupo ou sociedade, ainda mais
do que todos os outros animais que nascem da necessidade natural.
o processo torna-se melhor e mais convincente.
O autoconhecimento ajuda a compreender o processo e sua realização sem
destruir ou sabotar o que há de bom na pessoa. Em geral, se esta ferramenta não
estiver presente no processo, as “punições” auto impostas podem ser muito cruéis e
traumáticas. Principalmente se a pessoa já possui problemas emocionais relacionados
ao perfeccionismo ou à necessidade de aprovação. A autocrítica e o autoconhecimento
apoiam, portanto, o desenvolvimento de projetos de vida independentes e livres.
Figura 10: A dimensão Social
Fonte: Disponível em: https://shre.ink/row1. Acesso em: 18 mar. 2023.
44
Não é mais possível captar o ser humano em partes separadas, destacadas, caindo em
visões parciais e/ou unidimensionais. Esta visão não capta a riqueza dos seres humanos.
É importante investir num ser integral, saber integrar e sintetizar a pessoa humana nas
suas dimensões social e emocional, bem como espiritual e racional. É importante atuar
cultivando esses aspectos com equilíbrio (MAGDALENA, 2021, p.9)
VAMOS PENSAR?
3.4 DIMENSÃO EMOCIONAL OU AFETIVA DO SER HUMANO
Dimensão afetiva trata-se do mundo interior, das emoções, dos vínculos afetivos
e de outras partes que facilitam a comunicação social. Representam a nossa forma
de pensar mais básica e fundamental, ou seja, esta forma mais importante de nos
relacionarmos com o mundo.
As emoções e os afetos são importantes para o nosso bem-estar como indivíduos,
e mantê-los sob controlo é a chave para o nosso sucesso na sociedade: uma pessoa
emocionalmente frustrada tem dificuldade em realizar tarefas nas quais, de outra
forma, se destacaria.
Por outro lado, a vida emocional costuma ser definida pelas interações com
outras pessoas, principalmente na infância e na adolescência, fases em que se inicia o
desenvolvimento humano. Infelizmente, esse nosso lado nem sempre recebe a atenção
que merece e muitas vezes atrapalha aspectos mais complexos ou sofisticados do
nosso pensamento.
O comportamento emocionalmente inteligente é trabalhado e enfatizado nesta
dimensão. Este é um comportamento diferente do comportamento passivo ou agressivo.
O comportamento emocionalmente assertivo é uma forma de respeitar os próprios
direitos e os direitos dos outros, mas sem marginalização, ou seja, a capacidade de se
impor.
O comportamento passivo é definido principalmente pela dificuldade do indivíduo
em negar algo, pois é mais fácil ceder aos desejos dos outros do que aos próprios.
Além disso, você pensa que está tomando decisões erradas quando permite que
outros as tomem por você. Evitar o confronto e a falta de contato visual são sinais de
comportamento passivo.
Por outro lado, o comportamento agressivo ocorre quando as emoções não estão
sob controle. Por exemplo, quando alguém zomba dos direitos dos outros e sempre
assume a liderança. Toma decisões pelos outros, tem defesas curtas quando apenas as
suas próprias necessidades estão em jogo, levanta a voz para conseguir o que deseja.
Sim, esse comportamento se limita a ameaças, menosprezo e intimidação.
Portanto, ser emocionalmente confiante significa ser capaz de expressar
abertamente seus pensamentos ou sentimentos, sem se rebaixar ou desrespeitar os
outros. É saber receber críticas e fazê-lo de forma construtiva, respeitando pontos de
vista opostos e expressando desagrado quando eles ocorrem. Assertividade significa
dizer não quando você não quer alguma coisa; é considerar e respeitar seus sentimentos
e valores. A confiança emocional envolve autoconsciência e autoconsciência, saber
como e quando estabelecer limites.
45
3.5 DIMENSÃO AMBIENTAL/ ECOLOGICOPLANETÁRIA
Esta dimensão refere-se a aspectos específicos das limitações dos recursos
naturais da Terra. A atividade humana sempre dependeu dos fenômenos naturais
e das capacidades do planeta. Portanto, a dimensão ambiental (ou ecológica) do
desenvolvimento sustentável deve ser respeitada. Esta dimensão inclui a observação
dos períodos de tempo da Terra, a conservação dos recursos energéticos e das
contribuições naturais, a fim de minimizar a poluição ambiental. Esta preocupação com
o meio ambiente, que hoje vai além das intenções das gerações atuais, significa um
benefício para as gerações futuras.
Este caos ecológico pode atualmente ser descrito como uma situação social e
ecológica tão degradante que nos últimos séculos a vida na Terra tem sido ameaçada
porque a capacidade de renovar recursos não acompanhou a taxa de extração. É,
portanto, necessário refletir novos conceitos, novas visões e novos sonhos, o que não
exclui recursos científicos e técnicos importantes, ou seja, o contrato social entre as
pessoas e o contrato natural com a natureza e a Mãe Terra (BOFF, 2012, p. 15).
Por fim,a dimensão ecológica pode ser entendida como desenvolvimento
sustentável, tanto no sentido de garantir os direitos da geração presente sem prejudicar
as gerações futuras, através de um ambiente ecologicamente equilibrado. Resumindo:
1 – qualidade de vida e longevidade decente não podem existir em um ambiente
degradado ou vivendo no limite;
2 – a vida humana não pode existir sem a proteção adequada da sustentabilidade
ecológica em tempo;
3 – não havendo respeito ao meio ambiente, não há garantia de futuro para a
espécie humana.
Portanto, sobre dimensão ecológica ou ambiental, entende-se que a existência
A ética cristã inclui o controle emocional sobre si mesmo e sobre os outros e
é responsável pela implementação dos valores éticos ensinados nos Evangelhos
(PARANHOS, 2018).
É importante notar também que o pluralismo religioso inclui diversas variantes de
“ética religiosa”, tais como:
Portanto, a ética religiosa trata do realismo moral, onde o comportamento correto
vem da vontade do Transcendente. Mas nem todos aceitam que o comportamento
considerado correto seja feito com base em algum livro sagrado, mas também numa
base racional (filosófica), não necessariamente religiosa.
Ética hindu. A ética hindu é aquela que se caracteriza
pela busca da paz, para isso é necessário que o ser hu-
mano tenha autocontrole, tenha compaixão por todos
os seres vivos e fique longe da violência permanecendo
puro e sincero. Ética muçulmana. A ética muçulmana
é responsável por garantir o cumprimento dos man-
damentos do Alcorão. Também procura que os se-
res humanos sigam os passos de Maomé, um profeta
muçulmano que é considerado um exemplo a seguir
(MARTINES. 2018, p.7).
46
da espécie humana está intrinsecamente ligada à manutenção e cuidado do meio
ambiente para garantir as condições mínimas de sobrevivência e bem-estar para as
presentes e futuras gerações (BOFF, 2012, p. 47).
A velha visão de mundo defendia a ideia de crescimento contínuo e descontrolado, uso
irracional de recursos, descumprimento da legislação, produção intransigente, etc. A res-
posta imediata e esse modelo foram os problemas sociais, ecológicos e econômicos que
essas atividades traziam, porque elas são social e ecologicamente injustas, desequilibra-
das e acima de tudo perigosas para a continuidade da vida no planeta.
A importância da dimensão ecológica do planeta, também conhecida como capital na-
tural, pode assim ser dividida em três subdimensões, nomeadamente: ciência ambiental
(inclui a ecologia em geral); qualidade do ar e da água (poluição), proteção da saúde
humana, redução da poluição química e do smog; conservação e gestão responsável
dos recursos naturais renováveis e não renováveis.
FIQUE ATENTO
3.6 A DIMENSÃO ESPIRITUAL OU MORAL DO HOMEM
Um dos aspectos mais difíceis para o homem é definir o que está relacionado ao
seu sentido de transcendência, ou seja, os valores e aspectos da existência moral, a
natureza que se orienta pela necessidade de responder à questão do bem e do mal.
O que significa viver bem? O que significa fazer o que é errado? Como os humanos
deveriam se organizar para tornar o mundo um lugar melhor para si e para outras
espécies? Que responsabilidade sua capacidade de raciocínio traz para as pessoas?
Estas questões sempre acompanharam as pessoas na sua jornada para
descobrir a verdade fundamental do universo. A responsabilidade de respondê-las
cabe a filósofos, crentes e artistas, inseridos em diversos contextos históricos e culturais,
tentando propor um código ético e moral, ou seja, um modo de vida “adequado”. De
acordo com os planos de um ser transcendente, lei ou tradição.
A dimensão moral ou espiritual de uma pessoa está, portanto, relacionada com
a sua capacidade de se sentir parte de uma visão de mundo harmoniosa, ou seja, de
encontrar o seu lugar na ordem das coisas que não pode ser encontrada apenas pela
razão ou pela vida.
Segundo Franklin (2008), o sentido da vida humana está justamente no movimento
(noodinâmica), quando um indivíduo tem uma tarefa, quando se abre ao mundo e aos
outros, ou quando enfrenta o sofrimento inevitável da existência e é assimilado de uma
forma positiva, de uma forma honesta.
Franklin também enfatiza que o sentido da vida não é único, estático ou rígido, pois
a cada dia surgem novas e diferentes situações e o próprio indivíduo deve responder
à vida de acordo com o surgimento de diferentes situações e interpretar sua própria
existência através da consciência. Franklin diz neste senso:
O que é, então, um ser humano? É o ser que sempre
decide o que ele é. É o ser que inventou as câmaras de
gás; mas é também aquele ser que entrou nas câma-
ras de gás, ereto, com uma oração nos lábios (FRANKL,
2008, p. 112).
47
Através da dimensão espiritual, a humanidade é capaz de perceber o propósito da
vida, entender sua ligação com o ser divino e se desenvolver espiritualmente, considerar
seu propósito no mundo, sua relação consigo mesmo e com os outros seres, e ainda,
com o universo.
Indicamos o livro de Frankl, V. E. (1989b). Um sentido para a vida São Paulo: San-
tuário. Neste livro, considera-se que um religioso pode tomar sua vida como
uma tarefa a ser realizada, experimentar uma relação com o transcendente. A
vida revela nestes homens a imagem daquele que lhes dá uma missão. Essa
é o homem em sua dimensão religiosa ou espiritual. Assista o vídeo: As nove
dimensões do ser humano integral. Disponível em: https://shre.ink/roJZ. Acesso
em: 20 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS
48
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (FGV- 2019). A Constituição Federal de 1988 reconheceu a dignidade da pessoa
humana e os direitos ampliados da cidadania (civis, políticos, econômicos, sociais,
culturais e ambientais) como fundamentos do Estado Democrático de Direito.
Esse reconhecimento se relaciona a um processo mais amplo, que remonta à Declaração
Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948.
A esse respeito, analise as afirmativas a seguir.
I. Essas mudanças no comportamento social estão ligadas à compreensão de que os
Direitos Humanos são um patrimônio universal.
II. Essas mudanças no comportamento social estão ligadas à defesa de um modelo
escolar nacionalista pautado pelo ensino moral e cívico.
III. Essas mudanças no comportamento social estão ligadas à produção de mecanismos
que garantem uma educação inclusiva e tolerante.
Está correto o que se afirma em:
a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
2. A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências
humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor. Afetividade
compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e
os sentimentos.
Em relação à definição de cada vivência afetiva, relacione a Coluna 1 à Coluna 2.
Coluna 1
1. Humor ou estado de ânimo.
2. Emoções.
3. Paixões.
Coluna 2
( ) Estado afetivo intenso, de curta duração, originado geralmente como a reação do
indivíduo a certas excitações internas ou externas, conscientes ou inconscientes.
( ) Tônus afetivo do indivíduo. Estado emocional basal e difuso em que se encontra e
pessoa em determinado momento.
49
( ) Estado afetivo extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um
todo, captando e dirigindo a atenção e o interesse do indivíduo em uma só direção.
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) 1 – 2 – 3.
b) 2 – 1 – 3.
c) 3 – 2 – 1.
d) 1 – 3 – 2.
e) 2 – 3 – 1.
3. É o processo de personalização das descobertas, da aceitação de si, da integração e
do trabalho para a construção de si. Essa dimensão trata e avalia a nós mesmos, e não
uma avaliação com os outros.
A assertiva acima refere-se à:
a) Dimensão Psicoafetiva
b) Dimensão Somática
c) Dimensão Espiritual
d) Dimensão ambiental/ Ecologicoplanetária
e) Dimensão Emocional
4. (AMEOSC- 2021). Tanto a afetividade como a racionalidade desenvolvem-sea partir
das interações sociais, desde a infância e durante a vida toda. Como representam
a base da moral, esta base também se desenvolve. Quanto ao respeito próprio, sua
necessidade está presente em crianças ainda bem pequenas. Uma criança que
passa por violências, por constantes humilhações, estará inclinada a se desvalorizar,
a ter muito pouca confiança em si mesma; vale dizer que sua afetividade será
provavelmente muito marcada por essas experiências negativas. Vários autores já
apontaram as desastrosas consequências dos sentimentos de humilhação e vergonha
para o equilíbrio psicológico. Isso não significa que sempre se devam fazer avaliações
positivas das condutas das crianças. Pelo contrário. Se a criança perceber que, seja
qual for sua realização, ela recebe elogios, chegará facilmente à conclusão de que tais
elogios são falsos, sem valor. E pior ainda: acabará justamente por atribuir pouco valor
a si mesma por pensar que os elogios representam uma forma de consolá-la por seus
fracassos reais. Portanto, não se trata em absoluto de, a todo momento, dar sinais de
admiração à criança, ou de induzi-la a pensar que é perfeita.
A crítica de suas ações é necessária. Trata-se, isto sim, de dar-lhe todas as possibilidades
de ter êxito no que empreender, e demonstrar interesse por esses empreendimentos,
ajudando-a a realizá-los. (...)
(http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro082.pdf) - (p.15/6)
Os juízos e condutas morais também se desenvolvem com a idade, já que estão
50
assentados:
a) No equilíbrio psicossocial.
b) Nas fases da infância.
c) No elogio e na confiança.
d) Na afetividade e na racionalidade.
e) No desequilíbrio emocional
5. _____________________Trata do mundo interno, dos sentimentos, dos laços
afetivos e outras unidades que facilitam a interação social. Eles representam nossa
maneira mais primitiva e rudimentar de pensar, ou seja, nossa forma mais essencial de
nos conectarmos com o mundo.
Sobre o fragmento do texto acima, marque a alternativa correta:
a) Dimensão Espiritual
b) Dimensão Afetiva
c) Dimensão social
d) Dimensão ambiental/ Ecologicoplanetária
e) Dimensão Emocional
6. (Processo da personalização) Para o desenvolvimento da dimensão psicoafetiva, é de
suma importância _________________________________. Sem eles o homem
é incapaz de analisar as diferentes situações que o envolvem, englobando a maneira
de administrar seus próprios conflitos e dos conflitos com os outros.
a) Nivelamento e precisão
b) Livre associação e fala
c) Regulação e autocrítica
d) Motivação e autocrítica
e) Autoconhecimento e a autocrítica
7. [...] tem a ver com sua capacidade de se sentir parte de uma visão harmoniosa do
mundo, ou seja, de encontrar seu lugar na ordem das coisas, algo que não pode ser
encontrado por meio da vida cognitiva ou vida social apenas.
a) Dimensão moral ou espiritual do ser humano
b) Dimensão social
c) Dimensão emocional
d) Dimensão Psicoafetiva
e) Autoconhecimento e autocrítica
8. (CESGRANRIO- 2018). Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a Pegada Ecológica
são indicadores úteis para a avaliação do desenvolvimento sustentável dos países.
Esses dois índices:
a) têm uma correlação positiva, em grande parte dos países em desenvolvimento,
51
apontando que a degradação ambiental pode ser um dos motivos para o baixo
desenvolvimento humano
b) têm uma correlação positiva, em grande parte dos países desenvolvidos, apontando
que esse desenvolvimento pode ter ocorrido às custas da degradação ambiental.
c) têm uma correlação negativa, na maior parte dos países, apontando que, quanto
maior o desenvolvimento humano, menor será a pegada ecológica.
d) têm uma correlação nula na maior parte dos países, indicando que o maior
desenvolvimento está relacionado a um impacto ambiental nulo.
e) não devem ser analisados em conjunto, pois eles se referem a dimensões da
sustentabilidade que não se relacionam.
52
A UNIVERSALIDADE
DA PROPOSTA ÉTICA
DO CRISTIANISMO
53
4.1 ECUMENISMO: DIÁLOGO E AÇÃO
A intolerância religiosa pode ser surpreendente, mas inúmeros conflitos violentos
e guerras foram e continuam a ser travados em nome de uma ou outra crença religiosa.
Este é um problema extremamente complexo porque tais confrontos geralmente não
são causados apenas por razões religiosas, mas são agravados por razões económicas,
sociais, políticas e culturais que variam de acordo com a experiência histórica.
Existem muitos exemplos de conflitos religiosos e políticos e são facilmente notados
por vários meios de comunicação, por exemplo entre judeus e cristãos, entre cristãos e
islamistas, nos últimos milhares de mortes causadas pela Inquisição (Igreja Católica),
contra aqueles que são considerados e condenados como hereges, guerras e disputas
históricas entre católicos e protestantes como resultado da Reforma e Contrarreforma
nos séculos XVI-XVII século, impondo o cristianismo ou o catolicismo aos índios e negros
trazidos como escravos da África.
Hoje, alguns destes grandes conflitos continuam, por exemplo, entre muçulmanos
e cristãos ou entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Mas a intolerância
religiosa também se manifesta em pequenos conflitos cotidianos, quando pessoas são
rejeitadas por não pensarem religiosamente o mesmo que aqueles que se opõem a
elas, ou quando templos e símbolos de religiões consideradas inimigas são destruídos,
ou mesmo quando alguém critica a posição da religião, ele classifica sua fé e a fé dos
outros como sem sentido.
Face à intolerância religiosa, o filósofo francês Voltaire disse no século XVIII: “É
verdade que estes horrores absurdos não contaminam a terra todos os dias, mas
eram frequentes e poderiam facilmente ter formado uma parte muito maior do que os
Evangelhos condenar.”
Se na maioria dos conceitos religiosos a divindade (divindade) é representada
pela sua benevolência, então como a Bondade, a Justiça, o Perdão podem ser deixados
de lado e um indivíduo se beneficiar do mal, da injustiça e da intolerância praticados
em seu nome? Por que a religião de José deveria ser melhor que a de Maria? Por que a
sua religião deveria ser melhor que a minha? A intolerância para com outras pessoas
que são diferentes de nós leva à discriminação, ao preconceito, ao conflito, à violência
e até à guerra. As diferenças religiosas resolvidas desta forma são expressões de anti-
religiosidade.
Neste caso, a tolerância religiosa é uma garantia de que todos podem escolher
a sua opção religiosa. Ou simplesmente não escolha. Essa é a garantia da lei. É a
possibilidade de um mundo menos controverso. Historicamente, existem muitas religiões
que compartilham muitas semelhanças.
A ignorância destas relações é uma fonte de intolerância. E arrogância, quando
alguém se considera dono da verdade divina.
É por isso que existem movimentos para o diálogo entre as diferentes religiões,
para a construção da tolerância religiosa. Essa perspectiva é chamada de ecumenismo.
O termo "ecumene" (ecumenismo; ecumênico) vem do grego "oikoumene"
("oikuomene"), que significa "mundo habitado". Na raiz está a palavra “oikos” (casa).
Ecumene tem a mesma origem etimológica de “ecologia”, “ecossistema” e “política”.
Fale sobre casa; o mundo em que vivemos.
O termo ecumenismo refere-se à universalidade do corpo de Cristo. É a união
54
de todas as partes da igreja invisível de Jesus Cristo. Ao promover o ecumenismo,
procuramos unir todas as partes deste corpo, independentemente da religião.
No esforço de destacar os elementos que caracterizam e expressam a importância
e a urgência do diálogo inter-religioso, a Igreja Católica Apostólica Romana, motivada
pelos seus documentos e autoridade papais, tentou aproximar-se de outras religiões,
como na promulgação da declaração "Nostra Aetate", adotada pelo Concílio Vaticano
II em 1965. Esta declaração representa os sinais e intenções de cooperação com o
objetivo de criar uma relação mais estreita entre a Igreja e as religiões, com o objetivo
final deconstruir pontes entre as diferentes tradições através do diálogo e do respeito
através de pontos de contato.
Na década de 1980, foi realizado um evento inter-religioso em Assis, Itália, onde a
Igreja Católica convidou vários representantes de várias religiões mundiais. A cidade de
Assis foi o lugar onde nasceu e viveu São Francisco de Assis, para que cada representante
pudesse cumprir a sua profissão de fé e rezar fervorosamente pela paz da humanidade.
Na época, este acontecimento teve a configuração de um diálogo inter-religioso
e foi continuado anos depois (1993 e 2002) pelo Papa João Paulo II e (2011) de Bento XVI.
Também é importante lembrar que todos esses encontros inter-religiosos tiveram um
contexto social relacionado com a época. Por exemplo, a Guerra Fria ocorreu em 1986, a
Guerra dos Balcãs em 1993 e o Memorial à Importância da Paz entre as Nações de 2002,
após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.
Figura 11: Papa João Paulo II no Encontro Inter-religioso pela paz em Assis, Itália, em 27/10/1986
Fonte: CNS/L’Osservatore Romano. (1986, online)
Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e da convi-
vência comum: https://shre.ink/ro0n. Acesso em: 10 abr. 2023.
Para aprofundamento na temática em voga indicamos o livro de Marlon R. Flu-
ck: Diálogo inter-religioso sob a ótica cristã. Disponível em: https://shre.ink/ro6P.
Acesso em: 10 abr. 2023.
A partir da visão cristã o autor pressupõe que todas as religiões tem semelhan-
ças que desempenhem um papel relevante na vida social e política na vida dos
seres humanos.
BUSQUE POR MAIS
55
Declaração Nostra Aetate sobre a Igreja e AA demais religiões não cristãs: ht-
tps://shre.ink/ro60. Acesso em: 10 abr. 2023.
4.2 AÇÃO E REAÇÃO À ÉTICA DO CRISTIANISMO NO MUNDO
O surgimento da ética cristã, que se espalhou tão rapidamente no mundo antigo
conhecido, deve-se ao facto de os modelos éticos terem sido aplicados exclusivamente
às classes dominantes, especialmente na Grécia antiga. A difusão da ética cristã é
explicada pelo fato de a cidadania moral se estender a todos, inclusive aos escravos.
Os ensinamentos cristãos revolucionaram o pensamento ético moderno e trouxeram o
conceito de bondade religiosa para o pensamento ocidental. (ENCARTA, 2001).
No cenário internacional, os evangélicos têm trabalhado para promover esforços
de unidade em diversas áreas. Em 1951, a World Evangelical Fellowship (WEF) foi
organizada. A adesão ao WEF está aberta a comunidades evangélicas nacionais que
adoptem declarações de fé ortodoxas. O WEF ajuda na educação teológica em todo o
mundo, apoia o trabalho humanitário e os ministérios bíblicos e evangelísticos.
Segundo Chalita (2002, p. 92), as mensagens e os sermões cristãos foram
“construídos a partir de elementos retirados da vida cotidiana do homem comum e
simples, e como resultado tiveram uma grande aceitação e uma certa ‘resposta
perigosa’ entre as pessoas" uma população mais humilde, convencida de que Jesus era
o Messias que esperavam." Contudo, Marilena Chauí (2002) enfatiza outra característica
relevante do cristianismo.
De acordo com as doutrinas da ética cristã, todos os homens dependem somente
de Deus, e somente pela sua graça podem alcançar um favor transcendente. Vale
ressaltar o que Chalita (2002) aponta sobre os mandamentos morais proclamados por
Jesus Cristo “a bondade de um só Deus e pai de todos sem distinção; a fraternidade
à luz do amor e da caridade; pátria celestial; quase reforma; pureza de sentimentos”
(CHALITA, 2002, p. 92).
Assim, os mandamentos dados por Deus são a base relevante necessária para
que o homem tenha padrões éticos num mundo onde os valores morais são cada vez
mais raros. Portanto, numa sociedade marcada pelo relativismo, os valores que ainda
existem são violados a cada momento. A ética cristã, de acordo com esta crença,
enfatiza a necessidade de tomar os postulados bíblicos como postulados éticos, porque
não encontramos tais fundamentos no homem, mas no transcendente.
Diferentemente de outras religiões da antiguidade, que
eram nacionais e políticas, o cristianismo nasce como
religião de indivíduos que não se definem por seu per-
tencimento a uma nação ou Estado, mas por sua fé em
único Deus. (Chauí, 2002. p. 168)
56
A ética cristã transcende o formalismo e a casuística; enquanto o formalismo e a casuísti-
ca provêm da luta entre o bem e a realidade, a ética cristã pode provir da reconciliação já
ocorrida entre o mundo e Deus e o ser humano Jesus Cristo, da aceitação do ser humano
real por Deus (BONHOEFFER, 2002, p.53).
Assim, de acordo com o Cristianismo, a ética cristã só pode ser vivida e praticada acei-
tando os ensinamentos de Jesus Cristo em sua igreja. Através da atividade da Igreja de
Cristo no mundo, este é transformado num lugar melhor.
VAMOS PENSAR?
4.3 O PAPEL RELEVANTE DO CRISTIANISMO NA INCLUSÃO SOCIAL UNIVERSAL
Sabe-se que as pessoas procuram um relacionamento com um santo que, ao
mesmo tempo, lhes permita enfrentar as dificuldades do dia a dia, as ajude a resolver
problemas e fortaleça a esperança e a resiliência.
Desde o início houve a necessidade do homem entrar em contato com as coisas
sobrenaturais, pois a religião em geral sempre esteve presente na vida humana e é uma
busca pela conexão com o sagrado, com o sobrenatural e muitas vezes traz inspiração
para enfrentar suas dificuldades e adversidade.
O estilo de vida dos primeiros cristãos foi moldado pelos ideais de comunidade,
os cristãos chamavam-se e referiam-se uns aos outros como irmãos e ajudavam-se
mutuamente (Atos 2). À medida que as comunidades cristãs se expandiram, tentaram
replicar as práticas locais para outras comunidades.
As organizações dessas novas comunidades foram estruturadas hierarquicamente,
adotando assim a mesma complexidade administrativa do Império Romano, que
repercutiu para dar origem às estruturas administrativas da Igreja Católica, com padres,
bispos e um líder supremo denominado Papa (CHALITA, 2002).
Vale ressaltar que justamente pela influência do cristianismo, a ideia de cuidar
dos deficientes, das viúvas e dos órfãos de forma caritativa e humanizada se difundiu
como um dever cristão seguindo o exemplo de Jesus e dos apóstolos (Mt. 14. 14-16; Gál.
1.10).
O surgimento da ética cristã, que se espalhou tão rapidamente no mundo antigo
conhecido, deve-se ao facto de os modelos éticos serem aplicados exclusivamente
às classes dominantes, principalmente na Grécia antiga. A difusão da ética cristã é
explicada pelo fato de a cidadania moral se estender a todos, inclusive aos escravos.
Os ensinamentos cristãos revolucionaram o pensamento ético moderno e trouxeram o
conceito de bondade religiosa para o pensamento ocidental (ENCARTA, 2001).
Ao longo da Idade Média e até ao século XVI, o Cristianismo, bem como os
preceitos da ética e da filosofia moral, foram representados na Europa Ocidental pela
Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, a supremacia desta instituição está em
crise. Esta crise é provocada por alguns fatores, entre os quais podemos destacar: a
comercialização de práticas religiosas, como a venda de relíquias e indulgências; a
riqueza de muitos bispos; condenação por usura; e interferência papal nos assuntos
internos das monarquias nacionais.
A atuação da Igreja Católica passou a representar um obstáculo à burguesia
comercial surgida nos séculos XV e XVI, pois toda atividade comercial é baseada no
57
lucro e a condenação da usura marginalizava a burguesia do ponto de vista da ética
cristã católica, o que os impede de progredir socialmente. A invenção das técnicas de
impressão por Johann Gutenberg, as traduções da Bíblia do latim para diversas línguas
também estiveram ligadas a esses fatores, fatos que aceleraram a crise da Igreja
Católica.
Enquanto isso, surgiram movimentos de renovação religiosa, na Alemanha “o
monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) iniciou um movimento contra a Igreja
conhecido como Reforma Protestante” (CHALITA,2002, p. 183). Lutero criticou as práticas
corruptas do clero da Igreja Católica.
Na Suíça, o francês João Calvino (1509-1564) destaca-se no movimento da
Reforma Protestante como o reformador de Genebra, onde fundou uma república
teocrática, um coletivo onde as pessoas viviam apenas para a glória de Deus. (CHALITA,
2002). A doutrina calvinista, porém, era caracterizada pela valorização do trabalho e
pela prosperidade dele resultante, a riqueza tornou-se sinal da bênção divina.
Uma ética religiosa calvinista aboliria as barreiras teológicas medievais ao lucro
impostas pela Igreja Católica, dando ao lucro, à burguesia comercial emergente e ao
capitalismo, alguma credibilidade (WEBER, 2001).
O período de emergência do modo de produção capitalista em substituição ao
feudalismo ocorreu simultaneamente com a ascensão do protestantismo na Europa. As
ideias básicas do protestantismo baseavam-se no ascetismo religioso.
Quando se trata de cuidar das pessoas de forma mais ampla, a Igreja sempre
esteve à frente do seu tempo porque nunca perdeu o contato com a missão de cuidar,
apoiar e confortar aqueles que sofrem no mundo, como Jesus ensinou.
Nos séculos XV e XVI, a Igreja Cristã, baseada na moral cristã, modificou os
ensinamentos da educação infantil numa época em que o cuidado e o pensamento
eram essencialmente religiosos. Embora controversos, os métodos e ideias da época
foram considerados extremamente inovadores. Com os avanços na filosofia e na
ciência, o conhecimento e os métodos de educação melhoraram, permitindo que as
instituições religiosas inovassem em suas práticas.
O Cristianismo tem uma visão fundamentalmente holística (inclusiva). No domínio
do cuidado das pessoas, incluindo a educação, a Igreja sempre esteve à frente do seu
tempo porque nunca perdeu o contato com a sua vocação de cuidar, apoiar e pensar
e mudar sempre o mundo para melhor, de acordo com os ensinamentos de Jesus.
Ao longo da história, à medida que o progresso científico mudou conceitos
e práticas em saúde, educação e participação social, evoluímos para uma lógica
integrativa, passando de uma visão biomédica para uma visão biopsicossocial.
Embora hoje não se trate mais de caridade, mas de direitos, a Igreja Cristã continua
a ser um exemplo de inovação e de amor, como tem sido ao longo da história.
A história do ecumenismo remonta a vários séculos, mas chegou aos nossos
dias e representa uma necessidade mais que urgente para a Igreja brasileira. Não
considerar a Unidade do Corpo de Cristo significa negligenciar a prática do amor de
Deus. Contudo, a unidade dos cristãos não se baseia apenas no amor mútuo, mas
também, fundamentalmente, na verdade da Palavra de Deus.
58
A influência do Cristianismo ao longo da história é inegável. O conceito de dignidade hu-
mana foi construído diretamente desde a sua criação. Mesmo após a queda do Império
Romano, os principais pilares da civilização ocidental, sejam eles materiais ou intelectu-
ais, foram preservados através do Cristianismo.
FIQUE ATENTO
59
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (FUNDEP-2019). O surgimento do pluralismo religioso no contexto das sociedades
modernas levou ao surgimento do diálogo inter-religioso. Para que esse diálogo
aconteça, é necessária a:
a) relativização das certezas religiosas.
b) justificação das moralidades religiosas.
c) unificação das cosmovisões religiosas.
d) absolutização das convicções religiosas.
e) sincretismo religioso.
2. (UFF- 2008). Nos séculos XVI e XVII os conflitos religiosos se disseminaram por toda a
Europa provocando guerras e impondo um ambiente de perseguição e fanatismo.
Diante desse contexto, o aparecimento de alternativas de paz envolveu o “princípio de
tolerância” que pode ser associado à seguinte opção:
a) as crenças e opiniões devem ser expressas somente na intimidade;
b) os seres humanos devem respeitar as crenças e opiniões uns dos outros;
c) o Estado tem o dever de impedir que os seres humanos adotem crenças e opiniões
falsas;
d) a opinião verdadeira tem o direito de se impor a todos os seres humanos;
e) a minoria deve adotar as opiniões e crenças da maioria.
3. (IBADE-2020). “Faz alguns anos, uma frase de Saint-Exupéry foi muito significativa para
a minha geração: “Amar, além do encontro de um com o outro, é também olhar juntos
na mesma direção”. Para frente e para mais longe, sem solipsismos. Hoje poderíamos
dizer que o que fundamentalmente nos convoca é a salvação do planeta e da pessoa
humana.”
TEIXEIRA, Faustino (Org.). O diálogo inter-religioso como afirmação da vida. São Paulo: Paulinas, 1997. p. 23
O trecho acima destaca um elemento importante para a construção de pontos comuns
entre as religiões: o diálogo. Entretanto, o texto dá uma outra dimensão, alimentando-
se do sonho, mas, no plano concreto, de uma humanidade plena e fraterna.
O texto alude diretamente para a(o):
a) Nova evangelização.
b) Diálogo inter-religioso.
c) Diálogo ecumênico.
d) Ecumenismo.
e) Reconhecimento da alteridade e da condição humana.
60
4. Acerca dos processos de exclusão e inclusão social, assinale a alternativa correta.
a) A exclusão social, a pobreza e a desigualdade econômica são sinônimos que
descrevem o processo em que um indivíduo é impedido de participar plenamente da
sociedade.
b) A inclusão social é um processo que garante que pessoas em risco de vulnerabilidade
e exclusão social sejam incluídas, o que só pode ser alcançado por meio da participação
econômica.
c) A exclusão social pode ser definida como a participação inadequada de um indivíduo
na sociedade, devido a múltiplas privações decorrentes da falta de oportunidades
pessoais, sociais, políticas ou financeiras.
d) Questões de religião, etnia, gênero ou idade não estão relacionadas aos processos
de exclusão e inclusão social, pois estão dissociadas da privação material.
e) A exclusão social significa ausência de recursos financeiros ou rendimentos.
5. (ENEM). A maior parte das agressões e manifestações discriminatórias contra as
religiões de matrizes africanas ocorrem em locais públicos (57%). É na rua, na via pública,
que tiveram lugar mais de 2/3 das agressões, geralmente em locais próximos às casas
de culto dessas religiões. O transporte público também é apontado como um local
em que os adeptos das religiões de matrizes africanas são discriminados, geralmente
quando se encontram paramentados por conta dos preceitos religiosos.
REGO, L. F.; FONSECA, D. P. R.; GIACOMINI, S. M.. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2014.
As práticas descritas no texto são incompatíveis com a dinâmica de uma sociedade
laica e democrática porque:
a) asseguram as expressões multiculturais.
b) promovem a diversidade de etnias.
c) falseiam os dogmas teológicos.
d) estimulam os rituais sincréticos.
e) restringem a liberdade de credo.
6. (NUCEPE- 2015). O Cristianismo é uma religião monoteísta que coloca em primeiro
plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus-Cristo, considerado
pelos cristãos, como o Salvador da humanidade. Considerando este breve enunciado,
marque a alternativa INCORRETA quanto às características do Cristianismo.
a) Os livros canônicos são constituídos pelos textos que compõem o Antigo Testamento
e os vinte e sete textos gregos do Novo Testamento.
b) Muitos espíritos viram e veem na Bíblia e, muito particularmente no Novo Testamento,
a Palavra de Deus.
c) Embora conheçamos nomes de mais de sessenta Evangelhos, há apenas quatro
dentre eles, que foram reconhecidos como canônicos: Mateus; Marcos; Lucas e João.
d) Ao longo dos séculos, o Cristianismo se desenvolveu em três vertentes principais: a
Ortodoxia Oriental, o Catolicismo Romano e o Protestantismo/Evangélico.
61
e) Os Cristãos atribuem sua origem ao Patriarca Moisés, que saiu de Ur da Caldeia em
direção à terra prometida, dando origem também ao Judaísmo e ao Islamismo.
7. (ACAFE- 2008). A difusão do cristianismo teve início durante o Império Romano.
Apesar da sistemática perseguição, foi crescendo e conquistando adeptos no Império.Em 313, o imperador Constantino, através do Edito de Milão, concedeu liberdade de culto
aos cristãos em todo o Império.
Acerca do cristianismo no Império Romano, analise as afirmações a seguir.
I. As perseguições aos cristãos tiveram início no governo de Nero. Dentre as inúmeras
causas das perseguições, está a oposição dos cristãos ao culto à pessoa do
Imperador Romano.
II. O crescimento do cristianismo foi um dos fatores de desagregação de Roma, pois se
opunha à escravidão e ao militarismo, sustentáculos do Império Romano.
III. O cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, quando o imperador
Teodósio decretou o Edito de Tessalônica.
IV. Estudos recentes da historiografia europeia comprovaram que, apesar das
perseguições aos cristãos, eles nunca foram utilizados em espetáculos públicos e
em lutas com gladiadores.
V. Foi no Império Romano do Oriente que o cristianismo teve seu apogeu com a criação
da Igreja Ortodoxa Grega, que uniu os cristãos da Europa Central e da Ásia.
Estão corretas as afirmações:
a) I - II - III
b) I - III - IV
c) II - IV - V
d) III – V
e) I – IV
8. (FUNCAB - 2014). O cristianismo introduziu novos valores e princípios éticos na vida
dos povos. Uma das ideias fundamentais da ética cristã é a de que:
a) as "intenções invisíveis" não são julgadas moralmente, já que o dever moral se refere
apenas às ações visíveis do homem.
b) a virtude humana compreende a força, a bravura e a tenacidade.
c) os seres humanos são naturalmente virtuosos e capazes de fazer o bem ao próximo
por vontade consciente.
d) a virtude é a obrigação de cumprir os mandamentos ou ditames da razão.
e) a virtude se define tão somente pela relação entre indivíduos de um mesmo país ou
região.
62
A TEOLOGIA DA
LIBERTAÇÃO COMO
PRÁXIS ÉTICA DE
TRANSFORMAÇÃO
RELIGIOSA E SOCIAL
63
5.1 O QUE É A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO?
Figura 12: Teologia da libertação em foco
Fonte: Disponível em: https://shre.ink/roPu. Acesso em: 20 abr. 2023.
A teologia da libertação é uma nova teologia nascida na periferia da Igreja
Católica como resposta à contradição que existe na América Latina entre a pobreza
extrema e a fé cristã da maioria da sua população. Não se originou em centros de
pesquisa metropolitanos estabelecidos e renomados.
A teologia da libertação viu a fidelidade mais singular à pessoa de Jesus Cristo na
Igreja dos pobres. Nela encontramos Deus que ouve o chamado do povo (Êx 3:7b), esta
experiência da igreja tornou-se uma base prática para o seu apoio teológico. (BOFF,
2011)
Para T.d.L. esta situação de pobreza fere o espírito do evangelho e ofende a Deus.
Na América Latina existe um discurso entre o evangelho e a igualdade e a justiça social
na sociedade. Com o tempo, os principais sujeitos defendidos na teologia da libertação
foram indivíduos das classes mais baixas da sociedade
Segundo Boff (2010), a teologia da libertação nasceu numa fé confrontada com a
injustiça cometida aos pobres” (BOFF, 2010, p. 14). Fala-se de uma escolha preferencial
pelos pobres, como fez Jesus Cristo. Cuidar dos pobres foi uma delas, com base no que
Jesus Cristo fez em sua carreira ministerial descrita nos Evangelhos. Os teólogos latino-
americanos posicionam-se como sucessores desta tradição, o que lhes dá referência e
inspiração (LÖWY, 2000, p. 123).
Baseia-se na premissa de que é necessário libertar as pessoas oprimidas não
apenas no sentido espiritual, mas promover um evangelho integral que cuide da alma e
do corpo e promova a educação e a qualidade de vida. Assim, a proposição da teologia
da libertação é proporcionar ao indivíduo a salvação completa.
Todos são criaturas de Deus e merecem a mesma atenção, assim como Jesus
quando anunciou vida e vida em abundância (João 10:10) tanto para os ladrões, os
pobres, as prostitutas, as viúvas, os deficientes, mas também para os professores,
religiosos e outros com condições sociais de vida mais favoráveis.
Com a visão de alcançar a todos, a Teologia da libertação fortalece as ações pastorais
ou capelanias, o que eram antigamente um serviço a mais de um líder religioso prestados
aos doentes, presos ou órfãos, na atualidade as ações pastorais ou capelaniais passam a
ter um serviço mais atuante e plural.
VAMOS PENSAR?
64
Em dois anos de pandemia milhares de famílias foram de alguma forma afetadas. Seja
com a perda de um ente querido, ou sofren.
A Teologia da Libertação nasceu na Igreja Católica como resposta à contradição existen-
te na América Latina entre a pobreza extrema e à fé cristã de maioria de sua população.
Para a T.d.L esta situação de pobreza fere o espírito do Evangelho, ofendendo a Deus. “A
Teologia da Libertação encontrou seu nascedouro na fé confrontada com a injustiça feita
aos pobres” (BOFF, 2010, p. 14).
FIQUE ATENTO
Indicamos o vídeo O canal da Teologia da Libertação. Disponível em: https://you-
tu.be/27zTAI6ai3o. Acesso em: 20 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS
Segundo Gibellini (1998), podem ser identificadas três fases distintas de
sua construção na história da teologia da libertação: preparação, formulação e
sistematização. Boff (1996, pp. 18-19) aponta quatro fases na história da teologia da
libertação, a primeira: Gravidez e nascimento, a segunda propagação e crescimento, a
terceira; consolidação e quarto: revisão e novo impulso.
Leigos e diversos líderes religiosos, em cooperação com órgãos governamentais e
instituições sem fins lucrativos, desenvolvem assistência religiosa e biopsicossocial para
diversos indivíduos e contextos, como indígenas, imigrantes, presos, estudantes e jovens,
doentes, idosos, pescadores, pessoas com deficiência, empresários e trabalhadores no
espaço político e cultural (SANTOS, 2015).
Em 1968, Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da teologia da libertação, apresentou
o primeiro rascunho desta orientação teológica. Este esboço foi publicado em 1969 sob
o título: "Hacia una teología de la liberacion" (GUTIÉRREZ, 1969).
Parte da sua ideologia é uma crítica ao sistema capitalista, que muitos confundem
com o movimento marxista (comunista), revelando que este produz a idolatria do
dinheiro, e uma crítica à ideologia do desenvolvimento económico. Este último é criticado
pela Teologia da Libertação (T.d.L) porque, em vez de trazer soluções para problemas
como o desemprego e a desigualdade social, cria consequências negativas para os
pobres.
Devido a esta preferência pelos pobres, a teologia da libertação exige
frequentemente a reestruturação das estruturas sociais, governamentais e económicas.
Os pobres não são apenas cuidados, mas também conduzidos ao florescimento
humano.
Os teólogos da libertação não rejeitam o progresso económico, o que fazem é
5.2 A DINÂMICA LIBERTÁRIA DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
65
Para a teologia da libertação, o compromisso com os pobres é o segundo ato
da sua teologia, sendo o primeiro ato a experiência da fé, sendo, portanto, classificado
como teologia autêntica, uma vez que a experiência da fé é característica de toda
teologia autêntica o primeiro encontro (GIBELLINI, 1998, p. 350).
Ainda segundo Gibellini, o discurso da teologia da libertação é estruturado por
quatro elementos, sendo três deles a mediação e um deles uma possibilidade existencial
prévia. A possibilidade possibilitada por esta linha de pensamento teológico é uma
possibilidade política, ética e evangélica.
É político porque um estudioso desta linha ou um teólogo não é politicamente
neutro, está situado ao lado dos oprimidos; esta possibilidade é ética porque o seu
nascimento ocorre através da investigação ética. Esta opção é evangélica, porque é
apoiada e motivada pelo Evangelho, como Mateus 25,35-41:
A Teologia da Libertação percebe que amar a Deus não significa somente
contemplá-lo. O amor a Deus é demonstrado através do serviço aos pobres. “O serviço
solidário ao oprimido significa então um ato de amor ao Cristo sofredor, uma liturgia
que agrada a Deus” (BOFF, 2010, p. 15).
Este entendimento é extraído das próprias escrituras bíblicas,notamos como o
texto citado acima afirma esta colocação. Segundo Gibellini (1998, p. 353), para Paulo
Freire, que é uma figura de grande expressão no campo pedagógico e que influenciou
muito a prática pastoral da Teologia da Libertação, a educação tem um papel superior
ao da alfabetização. Este papel é o de promover a libertação através do conhecimento,
despertando a consciência das pessoas para a realidade em que vivem.
A doutrina social da Igreja, encontra-se na intersecção da vida e da consciência
cristã com as mais diversas situações do mundo e manifesta-se nos esforços de
indivíduos, famílias, figuras culturais e sociais, políticos e estadistas para sua formalização
e aplicabilidade histórica. A sua meta é o desenvolvimento humano integral,
5.3 A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO
RELIGIOSA E SOCIAL
analisar os resultados gerados pelo desenvolvimento no que diz respeito à vida dos
pobres. Por exemplo, o desenvolvimento do agro capitalismo, em que os seres humanos
são trocados por ovelhas ou gado e, portanto, são obrigados a abandonar o ambiente
rural e ir para os centros urbanos.
Essa saída forçada do meio rural causou muitos problemas, um deles foi a
mudança nas relações de trabalho, onde os proprietários de terras, que antes não
tinham patrões, tornaram-se proletários num meio urbano que viviam uma realidade
bem diferente daquela em que viviam.
Pois tive fome e me deste de comer. Tive sede e me
deste de beber. Era forasteiro e me acolheste. Estive nu
e me vestiste doente e me visitaste, preso e vieste ver-
-me. Então os justos lhe responderão: Senhor, quando
foi que te vimos forasteiro e te recolhemos ou nu e te
vestimos? Quando foi que ti vimos doente ou preso e
fomos te ver? Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade
em verdade vos digo: cada vez que o fizeste a um des-
ses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizeste.
66
Destarte, o papel da igreja em Anunciar o Evangelho à sociedade quer seja
no âmbito político, na área econômica, jurídica e cultural, a Igreja busca atualizar a
mensagem de Jesus Cristo ao longo da história. Dessa forma, colaborar na criação do
bem comum, iluminar as relações sociais por meio da sua crença.
Vale destacar o que os bispos católicos latino-americanos na III Conferência Geral
do episcopado Latino-Americano, realizado em Puebla, em 1979, trataram e registraram:
De acordo com De Souza; Ferreira (2020), nessa Conferência foi elaborado um
prospecto em torno de suas decisões de grande relevância em cinco pontos: 1) Solicitação
para que o Documento de Puebla fosse prospectivo e abrangente; 2) Sugestão para
que na evangelização houvesse uma associação dialética entre ortodoxia e ortopráxis.
3) A construção de uma América Latina mais justa, fraterna e solidária 4) o anúncio
dos direitos humanos como uma meta da evangelização. 5) O anuncio consensual dos
Bispos em que os meio de Evangelização devem ser a pastoral urbana, os homens da
grande cidade, os intelectuais e também os jovens.
No Brasil, a forma encontrada para propagar estas ideias foram as Comunidades
Eclesiásticas de Base (CEBs) que tinham como objetivo buscar transformar a realidade
de determinadas pessoas e suas respectivas comunidades.
Os meios de realização deste propósito eram as organizações de mães, os grupos
de estudos bíblicos e outras organizações de cunho pastoral, todas essas iniciativas
buscavam resolver problemas em conjunto, tendo seu caráter social transformador
que ia de encontro ao regime político instalado no país (CALDART, 2000).
3.2. Se a Igreja se faz presente na defesa ou na promo-
ção da dignidade do homem, o faz na linha de sua mis-
são, que, mesmo sendo de caráter religioso e não social
ou político, não pode deixar de considerar o homem na
integridade de seu ser. O Senhor delineou na parábo-
la do bom samaritano o modelo da atenção a todas
as ne-cessidades humanas, e declarou que, em última
análise, se identificará com os deserdados - enfermos,
encarce¬rados, famintos, solitários - a quem se tenha
estendida a mão. A Igreja aprendeu nestas e noutras
páginas do Evangelho "5' que sua missão evangeli-
zadora possui como parte indispensável a ação pela
justiça, e as tarefas de promoção do homem e que
entre evangelização e pro¬moção humana existem la-
ços bem fortes de ordem an-tropológica,, teológica e
de caridade; de modo que "a evangelização não seria
completa se não se levasse em conta a interpelação
recíproca que no curso dos tempos se estabelece entre
o Evangelho e a vida concreta pessoal e social do ho-
mem (EN 29).
67
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Acerca de diferentes teologias, julgue a afirmativa que se aplica à Teologia da
Libertação:
a) tem, em seu ideário, a crítica ao sistema socialista.
b) produz a idolatria ao Estado, e a crítica à ideologia do controle estatal e da planificação
da economia.
c) é um movimento político e social que busca interpretar o evangelho de Jesus Cristo
através das experiências vividas do povo oprimido.
d) tem origem na Europa.
e) é voltada para a classe média.
2. (AMEOSC). Segundo Paulo Freire, ao fazer-se opressora, a realidade implica na
existência dos que oprimem e dos que são oprimidos. Estes, a quem cabe realmente
lutar por sua libertação juntamente com os que com eles em verdade se solidarizam,
precisam:
a)Buscar a práxis autêntica na dialética entre egoísmo e opressão.
b) Funcionar como uma força de imersão das consciências oprimidas.
c) Ganhar a consciência crítica da opressão, na práxis desta busca.
d) Libertar-se de sua força através do ativismo e da ação-reflexão.
e) Abandonar a condição de oprimido pela militância
3. (UPENET- IAUPE). Sobre a prestação de assistência religiosa prevista na Constituição
Federal de 1988 – CF/88, analise as proposições a seguir:
I. É assegurada nas entidades civis de internação coletiva, na forma da lei.
II. É assegurada nas entidades militares de internação coletiva, na forma da lei.
III. É assegurada apenas para determinados grupos religiosos, na forma da lei.
IV. Não pode ser prestada em estabelecimentos prisionais em geral, considerando-se a
liberdade de crença prevista na própria CF/88.
Está CORRETO, apenas, o que se afirma em:
a) I.
b) II.
c) I e II.
d) III.
e) III e IV.
4. (AOCP) Analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas.
I. É vedado a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de
68
internação coletiva.
II. Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos
imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
III. É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
IV. Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo necessária autorização da autoridade competente.
a) Apenas I, II e III.
b) Apenas II e III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas III e IV.
e) I, II, III e IV.
5. Considerado o pai da Teologia da Libertação.
a) Sigmund Freud
b) Gustavo Gutiérrez
c) Karl Marx
d) João Paulo II
e) Billy Grahan
6. No Brasil, a forma encontrada para propagar estas ideias foram as Comunidades
Eclesiásticas de Base (CEBs) que tinham como objetivo:
a) Buscar transformar a realidade de determinadas pessoas e suas respectivas
comunidades.
b) Fazer proselitismo
c) Confirmar o imperialismo
d) A disseminação de ideologias
e) desqualificar os teólogos libertários
7. (VUNESP). “A doutrina social é parte integrante do ministério de evangelização
da Igreja”. Segundo o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, são elementos que
correspondem aos apelos da evangelização e da promoção da vida do homem:
a) a ética econômica, a biodiversidade, o BREXIT e o Tratado de Latrão.
b) o matrimônio, as universidades,o investimento pessoal e os dividendos financeiros.
c) a justiça, a libertação, o desenvolvimento, as relações entre os povos e a paz.
d) a defesa das minorias, a corrida espacial, a biotecnologia e a infraestrutura rural.
e) a biomassa, as ideologias, o comércio exterior e os ilícitos transnacionais.
8. A assertiva “a Teologia da Libertação encontrou seu nascedouro na fé confrontada
com a injustiça feita aos pobres” é de que autor?
69
a) Leonardo Boff
b) Bento XVI
c) Gustavo Gutiérrez
d) Reverendo Moon
e) Martin Luther King
70
A DELIMITAÇÃO DA ÉTICA
CRISTÃ NOS CENÁRIOS DE
TRANSFORMAÇÕES
POLÍTICO-SOCIAIS. TÓPICOS
DE BIOÉTICA E CRISTIANISMO
71
O dinamismo da sociedade é constante pode ser chamada atualmente de
sociedade Pós-moderna. A pós-modernidade caracteriza-se basicamente pela quebra
de paradigmas, tradições, e modelos estabelecidos. Ela não se refere a um movimento
organizado e sim ideológico que encontra suas bases nos momentos da história que a
antecederam, a saber – o iluminismo e a modernidade.
Sobre o iluminismo, de acordo com Imannuel Kant,
Na verdade, a modernidade surgiu durante o Iluminismo, que tinha como palavra
de ordem a razão como única luz. Nos tempos modernos existia uma verdade universal
e absoluta, uma verdade que surgia da análise exata da razão. A verdade tornou-se um
produto de laboratório. Nada poderia escapar ao escrutínio do conhecimento, incluindo
a fé. Nos tempos modernos surgiu a chamada religião da razão ou religião natural.
O pós-modernismo refere-se ao período que começou essencialmente na década
de 1970, quando novas formas de ver o mundo começaram a se espalhar. A queda do
Muro de Berlim em 1989 tornou-se um dos símbolos do pós-modernismo, cuja principal
característica é a destruição de padrões e tradições.
O pós-modernismo é contra a maioria das ideias defendidas na modernidade. Por
exemplo, no pós-modernismo não existe mais uma verdade universal e absoluta. Todos
são incentivados a buscar de alguma forma o contato com o sobrenatural, contato que
pode vir através do intelecto ou da experiência.
O espírito pós-moderno pode ser visto na mídia em geral, na cultura, na arte,
na televisão, no cinema, na moda, na arquitetura, etc. Todos são influenciados pelo
pensamento e pela filosofia pós-modernos. Por onde quer que andemos, o que ouvimos,
o que dizemos, tudo é de alguma forma moldado por este tempo.
O pós-modernismo relativiza tudo e acaba deixando a pessoa sem esperança,
sem apoio, sem saída. A falta de vínculos leva a raça humana ao caos, ao abismo e à
destruição. A ausência de limites, de parâmetros, de modelos tem contribuído para a
degradação moral, ética e social do ser humano, cada vez mais perdido na sua própria
existência.
Portanto, neste momento histórico, a Igreja Cristã se encontra frente a frente com
uma sociedade voltada para o pragmatismo diante do desafio de manter seus padrões
éticos e morais. Considerando o discurso ideológico desta época, o maior desafio da
igreja cristã é provavelmente a conciliação da ética cristã com as filosofias e conceitos
desta época, pois a pós-modernidade é marcada pela quebra de paradigmas,
pelo abandono de tradições, quebra, estresse, ansiedade, ativismo, isolamento e
individualismo social.
6.1 A COSMOVISÃO ÉTICO-CRISTÃ EM UMA SOCIEDADE DINÂMICA
O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade
de que ele próprio é culpado. A menoridade é incapa-
cidade de se servir do entendimento sem a orientação
de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua
causa não reside na falta de entendimento, mas na fal-
ta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo
sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tem a cora-
gem de te servires do teu próprio entendimento (KANT,
1995a, p. A 481-482).
72
O pós-modernismo dá ao homem a ilusão de que pode formular a sua própria
verdade, que pode sentir a realidade e tirar as suas próprias conclusões, que pode ser
escravo dos seus instintos mais perversos sem se sentir culpado. O pós-modernismo
cria desertores éticos, se todos fizerem o que querem, o mundo atingirá o auge do seu
caos. Como disse Schaeffer (2002, p. 71), “não é necessário conhecer o pensamento da
época para ser influenciado por ele”.
Moreland e Lane (2005, p. 185) definem o pós-modernismo como “representando
uma forma de relativismo cultural sobre coisas como realidade, verdade, razão, valor,
significado linguístico, eu e outras ideias”.
Jansey (2003, pp. 160,170) diz que “a pós-modernidade era inerente à modernidade.
O pós-modernismo era então uma mistura de conhecimentos, um momento muito
rico na produção cultural”. Jansey (2003, p. 170) prossegue argumentando que o pós-
modernismo se baseou em uma série de correntes filosóficas, formadas por uma nova
forma de ser e de fazer as coisas que diferia da modernidade, portanto o termo pós-
modernismo não se refere apenas a um momento que apareceu em um curto período
de tempo depois da modernidade e antes um movimento que contrariava tudo o que
se defendia na época. O pós-modernismo “rompeu com o conhecimento absoluto e
relativizado” (ibid., p. 170).
Ramos (2003), falando sobre a influência desta época em nossas vidas, argumenta
que a pós-modernidade afeta nossa existência e desafia a igreja em seu papel como
difusora do evangelho. É impossível viver no pós-modernismo sem sermos influenciados
direta ou indiretamente por ele de alguma forma, porque, gostemos ou não, somos
produtos do nosso tempo. A nossa visão do mundo, a nossa forma de pensar, a nossa
forma de ser e agir, a nossa atitude face aos desafios são inevitavelmente influenciadas
e moldadas pelas formas do nosso tempo.
A influência da pós-modernidade alcança os diversos sistemas sociais: cultura,
política, economia, religião, tecnologia, etc. Estas forças afetam indiretamente as
tradições, os valores, o modo de pensar e agir, nos levando, ao que Ramos chama de
“sociedade cosmopolita global” A visão pós-moderna nada vê além da fragmentação,
ampliando inclusive as formas de crença.
Nietzsche nasceu e cresceu no meio de uma família religiosa, seu pai e seus
avós eram pastores luteranos, mas mesmo assim ele desviou-se na sua adolescência.
Fez uma faculdade de filologia e tornou-se professor na Universidade na Basiléia. Ele
proferiu a famosa frase: “Deus está morto”. Com esta frase, Nietzsche queria ressaltar a
forte influência perdida pelo cristianismo na cultura ocidental.
Para Nietzsche (1844-1890), tudo se limitava a uma perspectiva que se encontra
Considerando que uma cosmovisão representa a maneira como cada indivíduo vê e
interpreta o mundo ao seu redor. A cosmovisão cristã deve distinguir o "todo". Não é no-
vidade que muitos pensadores cristãos trabalham para sistematizar ideias para apre-
sentar a fé cristã de forma organizada e racional. A rica história do pensamento cristão
está repleta de pessoas que demonstraram a continuidade racional do cristianismo sem
abandonar o calor da fé.
FIQUE ATENTO
73
dentro de nós mesmos. A verdade seria algo que nós mesmos criamos, e a moralidade
reduziria-se à uma questão de costumes locais. Os valores não estão firmados sobre
um reino transcendente, os valores são criados e sustentados pela mente humana.
Grenz, comentando o que Nietzsche defendia, disse:
A razão, de acordo com os iluministas, não poderia coadunar com o pensamento
teológico ou com a fé. Por isso, o Iluminismo rompeu com a visão teológica da Idade
média, e passou a usar a razão como crivo e como fonte. O iluminismo, então, trouxe
novas respostas, baseadas agora na razão. A realidade e os problemas da vida
começaram a ser observados por outros ângulos.
Na base do conceito nietzshiano da “vontade de potên-
cia” acha-se sua inferência de que o instinto cardeal de
todas as coisas vivas é o desejo de “dar vazão” à sua
força. Assim, a ‘vontade de potência” é o motivo pri-
mordial para o comportamento humano. Nosso dese-
jo é poder desfrutar integralmente de todas as nossas
capacidades. Queremos3.4 Dimensão emocional ou afetiva do ser humano ..................................................................................................................................................................................................44
3.5 Dimensão ambiental/ Ecologicoplanetária ...............................................................................................................................................................................................................45
3.6 A Dimensão Espiritual ou Moral do Homem ...............................................................................................................................................................................................................46
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................48
A COMPREENSÃO DA PESSOA HUMANA EM TODAS AS SUAS DIMENSÕES: SOMÁTICA, PSICOAFETIVA, SOCIAL, ECOLÓGICO-
PLANETÁRIA E ESPIRITUAL
UNIDADE 4
4.1 Ecumenismo: Diálogo e ação ................................................................................................................................................................................................................................................53
4.2 Ação e reação à ética do cristianismo no mundo ...............................................................................................................................................................................................55
4.3 O papel relevante do cristianismo na inclusão social universal .................................................................................................................................................................56
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................59
A UNIVERSALIDADE DA PROPOSTA ÉTICA DO CRISTIANISMO
5.1 O que é a Teologia da Libertação?.....................................................................................................................................................................................................................................63
5.2 A Dinâmica Libertária da Teologia da Libertação .................................................................................................................................................................................................64
5.3 A Teologia da Libertação como agente de transformação religiosa e social ..................................................................................................................................65
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................67
A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO COMO PRÁXIS ÉTICA DE TRANSFORMAÇÃO RELIGIOSA E SOCIAL
UNIDADE 5
6.1 A cosmovisão ético-cristã em uma sociedade dinâmica ................................................................................................................................................................................71
6.2 Contribuições da ética cristã na sociedade do século XXI ...........................................................................................................................................................................73
6.3 O cristianismo como fonte da moralidade e da biótica cristã ....................................................................................................................................................................74
6.4 Bioética no contexto da fé ......................................................................................................................................................................................................................................................77
FIXANDO O CONTEÚDO.........................................................................................................................................................................................................................................................................80
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO........................................................................................................................................................................83
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................................................................................84
A DELIMITAÇÃO DA ÉTICA CRISTÃ NOS CENÁRIOS DE TRANSFORMAÇÕES POLÍTICO-SOCIAIS. TÓPICOS DE BIOÉTICA E
CRISTIANISMO
UNIDADE 6
8
UNIDADE 1
Na primeira unidade vamos trabalhar o conceito de ética na perspectiva cristã.
Inicialmente iremos abordar o conceito de ética geral e após isso vamos conhecer
mergulhar na retórica ético- cristã e suas bases.
UNIDADE 2
Na unidade 2 iremos conhecer refletir sobre a consciência ético-cristã fundada nos
direitos humanos e sua aplicabilidade, a partir da declaração Universal dos Direitos
Humanos.
UNIDADE 3
.Nesta unidade vamos enfocar nos conceitos da ética cristã na compreensão da
pessoa humana em suas múltiplas dimensões como: somática, psicoafetiva, social,
ecológico planetária e espiritual e a aplicabilidade da doutrina social ao ser humano
integral.
UNIDADE 4
Nesta unidade iremos refletir sobre a universalidade e historicidade da
proposta ética do cristianismo num mundo dinâmico. A urgente necessidade
do diálogo e o papel relevante do cristianismo na inclusão social universal.
UNIDADE 5
Nesta unidade iremos abordar o surgimento de Teologias emergentes, como a
Teologia da Libertação, como instrumento de transformação social. Iremos trabalhar
o conceito da TL e suas ramificações.
C
O
NF
IR
A
NO
LI
VR
O
UNIDADE 6
Nessa última unidade iremos refletir sobre os limites da cosmovisão cristã em
temas sociais emergentes como a Bioética, refletindo no grande elenco de assuntos
propostos pela biótica em um mundo extremamente acelerado e moderno.
9
A NORMATIVIDADE DO
DISCURSO ÉTICO-
CRISTÃO.
FUNDAMENTAÇÕES
ÉTICAS DO CRISTIANISMO
10
O estudo da ética cristã tem atraído muito interesse nos últimos anos. A ética
cristã nos séculos 20 e 21 concentra-se principalmente na justiça social. No Cristianismo,
a compreensão de que as mudanças sociais não são apenas tangíveis, mas também
necessárias e urgentes, se quisermos sobreviver com dignidade na terra, está a assumir
formas cada vez mais fortes.
Porém, para quem escreve e trabalha nesta área, muito do que é escrito e
criado pode parecer confuso ou inacessível. Uma razão que pode ser apontada é que
grande parte do material nesta área provém de discussões entre teólogos, filósofos e
estudiosos que escrevem para grupos específicos, ou seja, estudantes que já sabem o
suficiente sobre tais assuntos para compreendê-los. Na verdade, não existem muitas
apresentações claramente definidas dos vários elementos da ética cristã.
A religião é um fenômeno que atua na sociedade diretamente por meio de atitudes
e indiretamente por meio de construções do imaginário. Ética e prática, a prática é
baseada em princípios nos quais uma pessoa acredita por razões de sobrevivência.
Portanto, quando alguém se depara com um problema ético, não há como não enfrentá-
lo e contorná-lo para evitar um relacionamento com Deus. O problema ético não espera
pelo pensamento, está sempre presente, porque viver significa agir, tal comoser criadores não meramente
criaturas (GRENZ, 1997, p.138)
A pós-modernidade é um tempo de riscos e de oportunidades, por isso faz-se
necessário a Igreja de Cristo se posicionar adequadamente. Amorese citando o Dr.
Guiness, em uma de suas palestras em Lausane II, em Monila, julho de 1989, disse:
“A modernidade, ou a civilização mundial emergente representa a maior grande
oportunidade e o maior grande desafio que a Igreja jamais enfrentou desde os tempos
apostólicos” (GUINESS,1989, apud, Amorese, 1998, p.16).
Nessa esteira de pensamento, pode-se dizer que se trata de um tempo que se
abre para uma consciência crescente da descontinuidade, da não-linearidade, um
tempo superficial, fútil, épico e ardente. Onde o cheio provoca o oco, a saciedade gera a
angústia, o permanente é trocado pelo atual, o "mais novo", o "mais moderno". Revelando
a sua marca primordial: a paradoxalidade.
A era da informatização trouxe-nos a construção de um novo mundo formado
por coisas ilusórias, por sons, imagens, textos que “rolam” pela net sem qualquer diretriz
ou controle. Este mundo não é visível, palpável ou possível de se sentir. E são as pessoas
que contribuem para a ampliação cada vez maior deste “novo mundo” do ciberespaço.
No seu artigo “Cenários do Novo Mundo”, Raquel Raw (2006) diz que este espaço é um
espaço de velocidade e ao mesmo tempo de confinamento. As pessoas têm tudo o que
querem e na hora que querem, porém, não têm o mais importante: a presença pessoal
humana.
As pessoas deste mundo estão 24h conectadas por meio do advento da internet,
que conecta pessoas imediatamente em qualquer parte do mundo, quebrando as
barreiras da distancia da informação.
Gondim (2002, p.30) diz que “a pós-modernidade esvaziou a religião formal, mas
não conseguiu matar a sede de espiritualidade das pessoas”. A pós-modernidade
valida à busca pelo sobrenatural que acontece através da religião.
Infelizmente grande parte da sociedade hoje está sendo regida pelo caudilho
do eu, onde o individualismo é grifado; o sentido de coletividade foi esquecido, não
6.2 CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA CRISTÃ NA SOCIEDADE DO SÉCULO XXI
74
existe uma sincera e ardente preocupação com o próximo; cada vez mais as pessoas
se tornam narcisistas,
O slogan dessa decaída sociedade é: “cada um por si e Deus por todos”, cada um
tem de se virar sozinho, e é justamente esse individualismo exasperado que corrói os
relacionamentos humanos, e o que é pior, a cada dia que se passa mais e mais pessoas
tem sido baleada pelos trabucos desse mal. Cada um vive como se jamais precisasse
do outro, às vezes, se prega a necessidade do grupo, mas cada um age individualmente.
A ética refere-se a um padrão de conduta do indivíduo como ser humano social.
Vale lembrar que Moreland e Lane (2005, p.483) definem ética “como o estudo filosófico
da moralidade a qual se ocupa com nossas crenças e avaliações sobre motivação,
atitude, caráter e conduta, e se isto está certo ou errado”. Libanio (2001, p.98) diz que
a pós-modernidade oferece-nos um caos ético, se não existe um padrão de conduta
absoluto a partir do qual as pessoas devem se medir, como será possível haver ordem?
Schaeffer (2002, p.130) fala sobre a necessidade de padrões ou modelos para o bem da
sociedade. ‘’Uma vez que os velhos modelos sociológicos foram jogados fora, é preciso
criar novos, do contrário a sociedade se -dissolverá de vez”.
Mondim (2002, p.44), disse que “a pós-modernidade gerou pessoas desobrigadas
eticamente, criando o caos moral, em que não se encontra mais uma âncora para se
avaliarem escolhas”.
Falando sobre a origem da consciência moral, a qual os homens se veem
subordinados, Mondin cita Durkheim dizendo:
Para muitos, a honestidade, o pudor, a decência, os limites, a verdade, a
sinceridade, o amor e o altruísmo soam como coisas de um tempo primitivo. Ser ético
hoje é sinônimo de ser antiquado, pois o progresso acontece às custas do insucesso e
do prejuízo dos outros. Como vencer na vida sem que alguém seja prejudicado?
6.3 O CRISTIANISMO COMO FONTE DA MORALIDADE E DA
BIOÉTICA CRISTÃ
A sociedade exerce pressão sobre a consciência indi-
vidual; portanto, a aceitação de um conjunto de regras
de conduta que certa sociedade reconhece como vá-
lidas não depende da livre vontade do individual, mas
da necessidade de evitar a sentença que condena todo
ato contrário ao standart ético; a sociedade vem a ser
assim, a origem sagrada dos valores, a origem úni-
ca da moralidade; a consciência individual não é ou-
tra coisa senão epifenômeno da Consciência coletiva
(DURKHEIM, 1952, apud, Mondin, p. 168, 2003).
75
Se na pós-modernidade o homem pudesse ver a ética e a moral a partir da visão
de Emanuel Kant, que segundo Grenz (1997) acreditava que a nossa vida moral ou
ética deveria ser orientada por aqueles princípios dignos de serem imitados por outras
pessoas, isto é, será que as pessoas deveriam agir para comigo assim como, à vezes eu
ajo para com algumas pessoas? Jesus Cristo já havia observado este princípio quando
disse: “Portanto, tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também a
eles, pois esta é a lei e os profetas”.
Para o homem moderno a relação e a interação virtual tornaram-se mais viável,
primeiro porque poupa tempo e esforços, não precisa nem sair de casa; e segundo porque
esta virtualidade “protege” de alguns dos infortúnios relacionais, tais como: a frustração,
o desamor, a indiferença, o atrito, a decepção... Novas formas de sociabilidade estão
sendo cunhadas com a era tecnológica. O computador tem isolado o indivíduo, o seu
único “contato” com a realidade tem sido através de uma tela de 14,15 ou 17 polegadas.
O pós-modernismo vem aliado ao capitalismo selvagem, movido pela berrante
desigualdade social, onde alguns tem muito, outros tem pouco. O capitalismo é a
característica marcante do nosso tempo. O “ter” ocupou o lugar do “ser”. Com frequência
se ouve falar de um tempo em que as pessoas eram medidas por aquilo que elas eram
e não por aquilo que elas tinham; o caráter era um quesito indispensável para um
“homem de verdade”, a sua palavra valia mais do que um contrato no papel.
O que parece é que atualmente, o “ter” sobrepujou o “ser”, o capitalismo selvagem
minimizou o homem, reduziu-o a um ser que para ser reconhecido precisa de posses,
status na sociedade, etc. O que parece é que os homens, neste mundo capitalista,
não têm valor se a sua única patente for a integridade do caráter. Devido ao tempo o
homem pós-moderno é altamente materialista. Vivemos na época da “sacralização do
material”, do efêmero, do transitório e da dessacralização do eterno e do permanente.
Os limites não estão sendo respeitados a sociedade cada vez mais se torna
uma sociedade sem limites, desordenada e confusa. O ser humano tende a sempre
assumir posições extremas, por isso respeitar limites sempre é um desafio. Por exemplo,
não são poucos os indivíduos que resolvem beber uma cerveja, muitos o fazem até
embriagarem-se, e depois ainda se arriscam na direção de um veículo, pondo em risco
a sua vida e a vida dos transeuntes.
Fazem isso porque não estão prestando atenção nos limites previamente
demarcados, que dizem: “se dirigir não beba, se beber não dirija”. Querendo ou não os
limites cooperam muito para a boa convivência das pessoas, o que seria do mundo se
Para que você possa se aprofundar e conhecer um pouco mais sobre o tema
bioética e fé cristã, deixamos a indicação do livro Bioética à luz da reflexão cristã
católica, de Geni Maria Ross, onde ela faz considerações de grande relevância
sobre temas da bioética relacionados à vida humana e como o impacto dos
avanços científicos e das tecnologias na sociedade atual (fertilização artificial,
clonagem e uso de células tronco) tem mudado a rotina e conceitos da socie-
dade. Disponível em: https://shre.ink/rSHq. Acesso em: 20 abr. 2023.
O vídeo: Palestra Bioética e fé cristã: https://shre.ink/rSHx. Acesso em: 20 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS76
todos transgredissem os limites?
Neste tempo, os ensinos do cristianismo pó meio da sua ética, com os pés no chão,
com a cabeça no lugar, são capazes de enxergar os problemas, encará-los de frente
e propor soluções. O primeiro passo para a mudança é a consciência. A inconsciência
inibe qualquer transformação.
Um cristianismo consciente sempre estará disposto a repensar suas estruturas e
modelos ao invés de tratá-los como instituições. Institucionalizar modelos e projetos é o
caminho mais próximo para se perder oportunidades. Colson e Pearcey (2000, p.57-58)
enfatizaram:
Devemos ser homens e mulheres que, como Kuyper, enxergam que essa é uma
guerra de princípios. Não é possível atender a geração de hoje usando paradigmas
obsoletos, não é possível tratar problemas novos com soluções arcaicas, tempos novos,
exigem propostas novas.
A Igreja cristã está inserida num mundo onde as pessoas sofrem com a
impessoalidade e com a indiferença, males que marcam profundamente a vida do
ser. Mendes (1992, p.12) disse que “vivemos no século da impessoalidade. Não somos
ninguém. Não passamos de meros objetos ou força de trabalho”, somos medidos pela
nossa capacidade de produção. Ninguém se preocupa com as dores e sofrimentos do
outro, é cada um por si e Deus por todos.
Os homens estão doentes em seus relacionamentos sociais, familiares, espirituais,
em sua vida em geral, andam a mercê do acaso e se desesperam com a falta do amparo,
de acolhida. Gondim (2002, p.76) disse que “as Igrejas evangélicas devem recuperar o
sentido de amparar as pessoas e ajudá-las a decidir com a sabedoria de Deus”.
Durante muito tempo se pensou que esses espaços deveriam ser controlados
por instâncias externas ao sujeito, especialmente as religiões e as normas jurídicas. O
corpo e a vida eram “propriedade” das autoridades eclesiásticas, que definiam nos
mínimos detalhes aquilo que se podia ou não podia fazer. E, como esses deveres eram
estabelecidos em forma de interditos, acabaram por adquirir um caráter negativo.
Aos poucos foi ganhando força a tese de que a gestão do corpo é de competência e
responsabilidade do indivíduo (“sou o dono do meu corpo e da minha vida”). A partir
de então, esses espaços tornaram-se âmbito da gestão privada, sem intervenção do
Estado e da Igreja.
A sexualidade e o cuidado pela própria vida pertencem ao âmbito da autonomia
e, portanto, seus problemas morais restringem-se a questões da consciência. Fala-
se de sexualidade responsável, paternidade responsável etc. Essa orientação avança
sobre as legislações civis.
Essa mudança supôs uma revolução no interior do desenvolvimento histórico da
civilização contemporânea. Muitos fiéis, principalmente as autoridades eclesiásticas, a
entendem como uma usurpação do controle do espaço do corpo e da vida por parte
da secularização. Como disciplina de racionalidade intramundana, a Bioética questiona
Devemos ser homens e mulheres que ousarão arreba-
tar o cristianismo da prisão de sua mentalidade en-
clausurada, de seus santuários seguros e estabelecê-
-los mais uma vez como o grande sistema de vida e
força cultural que reconhece o Criador como soberano
sobre tudo [...]
77
o ideal moral das religiões. Não estranha que teólogos, magistério eclesiástico e
biogeneticistas vivam às turras.
A maioria dos teólogos antenados à Bioética assumiu o espírito do Concílio de
elaborar uma teologia inserida nas culturas, no pluralismo da sociedade civil e do Estado
laico que promove a autonomia e a responsabilidade dos indivíduos. Autonomia como
afirmação da liberdade humana acima de qualquer lei que não seja intrínseca a ela. É a
passagem de uma moral de interditos para a uma ética da responsabilidade originada
na experiência da liberdade. As ações humanas devem ser fruto da responsabilidade e
liberdade. Isso não significa que as normas sejam supérfluas. Ao contrário, pressupõe que
seu verdadeiro sentido seja compreendido e que seja uma opção madura, consciente,
discernida.
A autonomia da consciência moral não elimina a teonomia. A abertura à
transcendência e sua consequente fundamentação religiosa são inegociáveis, pois o
mundo nasceu do propósito do amor de Deus. Quer-se, como isso, fundamentar a ética
de inspiração cristã em raízes mais teológicas, vinculada à espiritualidade (enraizadas
na teonomia, diria Paul Tillich).
Teonomia não significa submissão passiva a uma lei divina imposta por uma
autoridade. Ao contrário, significa a razão autônoma unida à sua própria profundidade
e origem. Os julgamentos morais se dão sobre casos problemáticos de consciências
duvidosas. Cada ato deve ser examinado isoladamente, pois em cada caso basta
avaliar a obediência à lei. Ou seja, um ato é moral pela sua relação com a obrigação.
No contexto da religião, a salvação é tarefa individual e passa pela obediência
às normas promulgadas pela autoridade bíblica. A razão e a consciência servem para
confirmá-las. Por último, somente a fé confere à ética seu conteúdo verdadeiro. As
normas morais da Sagrada Escritura são respostas inatacáveis para as questões e as
dúvidas do homem de hoje. Logo, somente a religião pode vencer a crise moral que
contamina a sociedade.
A bioética trata de seres humanos com suas dimensões antropológicas, físicas,
espirituais, com capacidade de decidir moralmente. A liberdade verdadeira é um sinal
privilegiado da imagem divina no homem. Pois Deus deixou o homem entregue à sua
própria decisão» (Ec.11 9), para que busque por si mesmo o seu Criador e livremente
decida, sabendo que haverá uma prestação de contas.
Exige, portanto, a dignidade do homem que ele proceda segundo a própria
consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido desde dentro e não levado
por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa. Cada um deve dar conta da
própria vida perante o tribunal de Deus, segundo o bem ou o mal que tiver praticado (2
Cor 5: 10).
O s atos só têm caráter moral quando neles intervém a liberdade. Tal moralidade
diminui à medida que diminui a possibilidade do exercício da liberdade. Como exigir
responsabilidades morais de liberdades impedidas em seu exercício? Pessoas privadas
de liberdade podem ser responsabilizadas moralmente por seus atos? O exercício da
liberdade exige condições de ordem econômica, social, política e cultural. Escolher
moralmente é optar racionalmente, com conhecimento, por uma alternativa em meio
a outras e assumir as consequências de tal decisão
6.4 BIOÉTICA NO CONTEXTO DA FÉ
78
O princípio ordenador de toda moral cristã é o amor (1Jo. 4: 8, 16). Toda decisão
ética de inspiração cristã brota do amor clarividente. Ou seja, não deveria brotar
de uma docilidade cega a normas heterônomas pelo mero fato de serem ditadas
pela hierarquia eclesiástica. O amor exerce força iluminadora sobre a inteligência
possibilitando conhecimento necessário ao discernimento.
A Eutanásia na ótica da igreja
Em abril de 2001, a Holanda tornou-se o primeiro país do mundo a adotar, por
lei, a eutanásia ativa, dentro de certos requesitos. Diante de situações que incluíam
a eutanásia clandestina naquele país, uma consulta pública foi realizada e 92% dos
holandeses considerou a eutanásia um procedimento normal e humano em casos de
sofrimento insuportável. Vale lembrar que a eutanásia passiva se refere a omissão, ou
seja, o ato de descontinuar o uso de medidas para sustentar a vida ou prolongá-la em
casos julgados sem esperança, em alguns casos com a permissão do paciente.
A eutanásia é a ação de tirar a vida de uma pessoa em estado incurável ou em
situação terminal, acelerando o processo de morte e com isso evitando o sofrimento.
Etimologicamente, a palavra vem do grego (eu thanatos) que significa boa morte,
morte doce, morte honesta, morte honrada, morte apropriada, morte piedosa ou
misericordiosa, morte caridosa, morte digna, morte gentil, morte fácil, morte sem dor
e sofrimento, crime de caridade, ou simplesmente o direito de matar (MELO, 2009, s. 41apud CASABONA, 1994, s. 420; SÁ, 2001, s. 66; ALVES, 2001, s. 27; OLIVEIRA, F. 1997, s. 22).
Nessa forma de entender, pode-se inferir que não apenas os pacientes incuráveis
ou em estado terminal possam executar a Eutanásia, mas também por quem entende
que pode fazê-lo a fim de evitar o sofrimento por meio de uma morte honrosa.
Para os cristãos, o sofrimento não é motivo para deixar a vida porque na sua
crença existe a esperança acima da cura física, da salvação de suas almas, algo
impossível de alcançar caso aja antecipação da sua morte.
A Bíblia mostra apresenta um Jesus Cristo curando, pregando e falando sobre
o amor e a vida eterna, Jesus disse que os sofrimentos deste mundo são passageiros,
então o homem deve buscar a vida eterna encontrada somente no Salvador Jesus
Cristo. Este é o pensamento cristão sobre a eutanásia.
• As células-tronco na ótica da igreja e suas implicações
A pesquisa com células-tronco é uma área de inovação que tem crescido em
importância sendo conhecida também como clonagem terapêutica. As células-tronco
são intensamente estudadas porque no futuro podem atuar como células substitutas
Debates tem sido travado em torno das questões de bioética, como, o aborto, a eugenia, a
fertilização in vitro, a clonagem, a pré-seleção de sexo, as pesquisas com células-tronco,
a eutanásia e a responsabilidade moral e civil dos cientistas, etc. Há uma forte politização
das partes envolvidas. De um lado, grupos pró-vida de atitudes intransigentes e conde-
natórias, provocando reações indignadas daqueles que suspeitam da religião como freio
dos avanços científicos e da intromissão eclesiástica em assuntos de competência civil.
De que forma essas reflexões sobre a bioética e a fé poderiam fazer parte do seu plano
de ensino? Quais métodos e metodologia utilizariam? Coloque essas ideias em um plano
e posteriormente aplique em sala de aula.
VAMOS PENSAR?
79
em tecidos danificados ou doentes, como no mal de Alzheimer, no mal de Parkinson,
doenças cardíacas e nas doenças neuromusculares em geral, ou até mesmo no lugar
de células que o corpo produz em deficiência, como por exemplo, a diabetes.
Ainda que no caso de transplantes de órgãos a fila seria eliminada uma vez que
o paciente não precisaria mais aguardar a morte de um doador, é claro que o embrião
morre nesse processo, surgindo então vários questionamentos sobre esta prática.
Segundo (Pereira, 2002, p. 65), a definição de célula progenitora é "com capacidade
de autorrenovação ilimitada/de longo prazo, capaz de produzir pelo menos um tipo
celular altamente diferenciado", ou seja, "tem a capacidade de dividir " em células auto
idênticas ou em diferentes tipos de células".
Segundo a visão da igreja, praticamente não há problemas relacionados à ética
cristã com relação a células-tronco adultas, porque a igreja respeita a dignidade
humana. Ao contrário das células-tronco embrionárias, o uso de embriões para coleta de
células-tronco para a igreja, apresenta um sério problema ético, porque a vida tem um
valor sagrado e, portanto, inviolável desde a concepção até o resultado momentâneo.
Esta posição é ratificada pelo explícito Magistério da Igreja, que na encíclica
Evangelium Vitae, referindo-se já às instruções da Congregação para a Doutrina da Fé
Donum vitae, A Igreja sempre doutrinou que é necessário garantir ao fruto do gênero
humano, desde o primeiro momento de sua existência, é o respeito incondicional e
moralmente digno pelo homem em sua totalidade e em sua unidade física e mental.
Vários problemas de ordem ética podem ser levantados, como por exemplo: Seria
válido, criar uma vida apenas para prolongar outra vida por algum tempo, e descartar
a nova vida criada sem que ela atinja também, os verdadeiros objetivos para sua
existência? Nesse caso pode-se considerar que não se está buscando a vida de outrem
para salvar uma vida já existente, mas se está criando uma outra vida originada da
própria vida a receber o beneficio.
Nas questões teológicas devemos lembrar que a Lei espiritual diz: “Não matarás”.
Sabidamente essa lei é jurídica, ética e teológica ao mesmo tempo.
Levando em consideração a finalidade terapêutica e que o próprio paciente fornece o
material para a clonagem, e ainda que a vida proveniente será descartada após retirar-
-se dela as células desejadas, haveria alguma maneira de justificar a morte programada
do embrião?
VAMOS PENSAR?
Teonomia: A palavra Teonomia consiste nas partículas "Teo" e "Nomia". "Theo" refere-se à
palavra grega "Theos", que significa literalmente "Deus". E a partícula "Nomia" refere-se ao
grego "Nomos", que significa ipsis litteris "lei". Lei de Deus.
Eutanásia pode ser definida como o ato de antecipar a morte.
Distanásia pode ser definida como morte lenta com sofrimento.
Ortotanásia se refere à morte natural sem antecipação ou prolongamento.
GLOSSÁRIO
80
1. Para o filósofo Immanuel Kant, o Iluminismo foi um processo de “esclarecimento”.
Sendo assim, a sociedade saiu da “menoridade”, graças à liberdade de pensamento e
ao uso da razão, elementos essenciais para que o homem alcançasse a sua:
a) Liberdade religiosa.
b) Intelectualidade.
c) Maioridade cristã.
d) Maioridade.
e) Doutrinação
2. Qual é a palavra-chave usada para compreender o Iluminismo?
a) Fé.
b) Razão.
c) Paciência.
d) Sabedoria.
e) Religião
3. Marque a alternativa que contenha algumas das características do Iluminismo.
a) Uso da razão; crítica ao autoritarismo; oposição ao fanatismo; crítica à autoridade
religiosa; uso das doutrinas religiosas contestar a ciência.
b) Uso da razão; crítica ao autoritarismo; oposição à ciência; crítica à autoridade
religiosa; uso da fé para contestar o conhecimento científico.
c) Uso da razão; crítica ao autoritarismo; oposição ao fanatismo; crítica à autoridade
religiosa; uso da ciência para contestar as doutrinas religiosas.
d) Abandono da razão; crítica à ciência; oposição à filosofia; crítica à autoridade
religiosa.
e) Abandono da razão; crítica à ciência; oposição à filosofia; apoio à autoridade religiosa.
4. O movimento conhecido como Ilustração ou Iluminismo marcou uma revolução
intelectual, ocorrida na sociedade europeia ao longo do século XVIII. O Iluminismo, em
seu âmbito intelectual, expressou a:
a) negação do humanismo renascentista baseado no experimentalismo, na física e na
matemática.
b) aceitação do dogmatismo católico e da escolástica medieval.
c) defesa dos pressupostos políticos e das práticas econômicas do Estado do Antigo
Regime.
d) consolidação do racionalismo como fundamento do conhecimento humano.
e) supremacia da ideia de providência divina para a explicação dos fenômenos naturais.
FIXANDO O CONTEÚDO
81
5. Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um importante e polêmico pensador contemporâneo,
particularmente por sua famosa frase “Deus está morto”. Em que sentido podemos
interpretar a proclamação dessa morte? (UEG GO/2018)
a) Não fomos nós que matamos Deus, ele nos abandonou na medida em que não
aceitamos o fato de que essa vida só poderá ser justificada no além, uma vez que o
devir não tem finalidade.
b) A morte de Deus serve de alerta ao homem de que nada é infinito e eterno, e que o
homem e sua existência são momentos fugazes que devem ser vividos intensamente.
c) A morte de Deus não se refere apenas ao Deus cristão, mas remete à falta de
fundamento no conhecimento, na ética, na política e na religião, cabendo ao homem
inventar novos valores.
d) O Deus que morre é o Deus cristão, mas ainda vive o deus-natureza, no qual o homem
encontrará uma justificativa e um consolo para sua existência sem sentido.
e) O Deus que morre é o deus-mercado, que tudo nivela à condição de mercadoria,
entretanto o Deus cristão poderá ainda nos salvar, desde que nos abandonemos à
experiência de fé.
6. “Síntese de conhecimento e ação multidisciplinar para responder aos problemas
morais no vasto campo da vida e da área da saúde. ... trata-se de ter os fundamentos
filosóficos, teóricos e metodológicosque podem unir abordagens normativas da
Medicina, do Direito, da Teologia e outros campos do conhecimento com a opinião da
comunidade sobre essas questões.”. (FAUEL, 2020)
O texto está relacionado a:
a) Bioética
b) Código de ética dos profissionais de saúde
c) Biossegurança
d) Biotecnologia
e) Biologia
7. Considerando os princípios da Bioética, é correto afirmar que fazer o bem aos outros
significa:
a) Benemerência
b) Benevolência
c) Autonomia
d) Beneficência
e) Indulgência
8. Convicção é a crença de estar na posse da verdade absoluta. Essa crença pressupõe
que há verdades absolutas, que foram encontrados métodos perfeitos para chegar
a elas e que todo aquele que tem convicções se serve desses métodos perfeitos.
Esses três pressupostos demonstram que o homem das convicções está na idade da
inocência, e é uma criança, por adulto que seja quanto ao mais. Mas milênios viveram
nesses pressupostos infantis, e deles jorraram as mais poderosas fontes de força
82
da humanidade. Se, entretanto, todos aqueles que faziam uma ideia tão alta de sua
convicção houvessem dedicado apenas metade de sua força para investigar por que
caminho haviam chegado a ela: que aspecto pacífico teria a história da humanidade!
(Unesp SP/2018)
Nesse excerto, Nietzsche,
a) defende a fé religiosa como alicerce para o pensamento crítico.
b) valoriza a posse da verdade absoluta como meio para a realização da paz.
c) valoriza uma postura crítica de autorreflexão, em oposição ao dogmatismo.
d) defende o inatismo metafísico contra as teses empiristas sobre o conhecimento.
e) identifica a maturidade intelectual com a capacidade de conhecer a verdade
absoluta.
83
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 1
UNIDADE 3
UNIDADE 5
UNIDADE 2
UNIDADE 4
UNIDADE 6
QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 C
QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 A
QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 E
QUESTÃO 1 B
QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 E
QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 D
QUESTÃO 1 A
QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 E
QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 A
QUESTÃO 1 C
QUESTÃO 2 C
QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 B
QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 A
QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 B
QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 D
QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 E
QUESTÃO 8 C
84
BARTH, K. Comunidade cristã e comunidade civil. In: BARTH, K. Dádiva e louvor: ensaios
teológicos de Karl Barth. ALTMANN, W. (Org.). São Leopoldo: Sinodal, 2006, p. 289-315.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
BÍBLIA SAGRADA. Edição Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
BITTAR, E. C. B. Curso de Ética Jurídica. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BOBBIO, N. Dicionário de Política. 7ª ed., Brasília, DF, Editora Universidade de Brasília, 1995,
págs. 353-355.
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87
graduacaoead.faculdadeunica.com.brantes da
experiência religiosa Deus já existe.
Contudo, a vida e as ações são confrontadas com a questão da finalidade
da ação, que é ao mesmo tempo controlada pela questão do seu significado. Este
questionamento estabelece uma crise do sentido da vida e uma relação irreversível
com Deus (BARTH, 2006, p. 87–88).
A ética faz parte da filosofia porque reflete conceitos como a vida, o universo, as
pessoas e seu destino, e estabelece os princípios e valores que norteiam as pessoas e
as sociedades. Uma pessoa é considerada ética se seguir princípios e crenças. Portanto,
diz-se que tal pessoa tem caráter e bom caráter.
A palavra ética pode ser amplamente definida como fazer o bem ou o mal de
acordo com as convicções e princípios internos de um indivíduo, ou seja, suas crenças,
e não a prática social estabelecida. Mas “correto” pode ter vários pontos de vista, tais
como o que seria apropriado para a legislação, o que seria apropriado para a sociedade
em que vivemos e o que seria apropriado para uma pessoa enquanto pessoa. O filósofo
alemão Emanuel Kant (1724-1804) em suas teorias em sua Crítica da Razão Pura (1781)
apresenta a ideia de que a ética não deve seguir um ponto fixo como a legislação, mas
requer consideração na tomada de decisões.
Kant também se refere a uma comunidade ética, onde o indivíduo tenta tomar a
Figura 1: Ética cristã na prática
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3y8iW6p. Acesso em: 24 fev. 2023
11
sua decisão de acordo com o interesse comum do grupo e uma espécie de compromisso,
embora todos mantenham o seu dever privado de concordar entre todas as coisas em
prol da ordem, da justiça e dos interesses de sociedade. Com base nas pesquisas em
ética, pode-se considerar uma visão utilitarista, onde a veracidade de uma afirmação
pressupõe que ela seja útil, encontrando satisfação.
No que diz respeito à ética do Cristianismo, os princípios e valores do indivíduo
são orientados pelo Cristianismo, onde a fé e a Bíblia são consideradas a autoridade
pela qual os cidadãos podem tomar decisões éticas na comunidade com ações que se
relacionam, percebendo que não há fé sem boas obras, assim como não há boas obras
sem fé.
Nesta primeira unidade, conduzimos discussões que fornecem o apoio necessário
para o diálogo inter-religioso.
O termo ética é muito utilizado no meio social, o que pode dar a impressão
de que todos conhecem o seu significado, quando na verdade ainda não existe um
estudo conclusivo sobre o termo. Álvaro Valls (1994, p. 7) está ciente deste fato e explica
que o termo é tradicionalmente entendido como um estudo ou reflexão, científica,
filosófica ou mesmo teológica, sobre os hábitos e ações humanas. Insatisfeito, ele
acredita que ainda é possível concebê-lo como sinônimo de costumes considerados
corretos pela sociedade, ou mesmo como a própria realização de determinado tipo de
comportamento.
Para Vázquez:
Para Vázquez (2003) a ética é uma teoria comportamental do homem que analisa
sua conduta em meio à sociedade. Ele ainda deixa claro que a ética traz consigo uma
função fundamental, qual seja a de explicar, esclarecer ou investigar uma determinada
realidade, daí por que muitos se referem a ela como ciência.
No contexto da ética estudam-se as transformações sociais que possuem o condão
de influenciar ou justificar normas de conduta incidentes sobre os relacionamentos
interpessoais do ser humano. O termo moral ou moralidade vem da palavra latina
"mores", que originalmente significava "maneira" e depois significava "modo de ser",
"caráter". Portanto, as duas palavras têm quase o mesmo significado.
O termo "ética" no contexto acadêmico está ligado à filosofia moral, ou seja,
conhecimento que reflete o alcance da ação humana, enquanto "moralidade"volta-
se para os vários códigos morais específicos. A moral responde à pergunta "O que
devemos fazer?" "Por que deveríamos fazer?" A ética trata das escolhas morais práticas
que as pessoas fazem, bem como dos objetivos e princípios ideais que reconhecem
como sendo exigidos delas (GARDNER, 1965).
Para os gregos, o ideal ético era ou uma busca teórica e prática da Boa Ideia, da
qual participariam de alguma forma as realidades mundanas (Platão), ou consistia
1.1 CONCEITO GERAL DE ÉTICA
Ética vem do grego "ethos", que significa analogamen-
te “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida
também adquirida ou conquistada pelo homem. Cer-
tamente, moral vem do latim mos ou mores, “costume”
ou “costumes”, no sentido de conjunto de normas ou
regras adquiridas por hábito (VÁZQUEZ, 2003, p. 24).
12
na felicidade entendida como uma vida bem ordenada, uma vida virtuosa, em que
se preferiam as faculdades superiores do homem e não se desprezavam as demais,
porque o homem, ser sintético e composto, precisava de muitas coisas (Aristóteles).
Para outros gregos, o ideal ético vivido segundo a natureza, na harmonia cósmica.
(Os teólogos cristãos mais tarde adotaram essa ideia variante para significar que viver
de acordo com a natureza seria o mesmo que viver de acordo com as leis que Deus nos
deu por meio da natureza.).
Os estoicos davam mais ênfase a essa vida natural. Já os epicuristas defendiam
que a vida deveria ser voltada para o prazer: para o bem-estar. Tudo o que traz alegria
é bom. Ora, quando o excesso de certos prazeres é prejudicial, acabam por produzir
descontentamento, um certo prazer, uma certa sabedoria e um certo refinamento, até
uma certa temperança ou moderação, eram os requisitos da própria vida de prazer. No
cristianismo, os ideais éticos estão conectados diretamente com os ideais e princípios
religiosos.
Segundo Cordi (2003, p. 62), “ética é a consideração sistemática do comportamento
moral. Examina, analisa e explica a moralidade de uma determinada sociedade”.
Para este autor, a moralidade é tanto um conjunto de normas que ditam como o
comportamento deve ser e as ações realizadas de acordo ou não com tais normas.
A forma como a consciência individual responde às normas depende da correlação
de elementos (formação pessoal, caráter, temperamento), bem como dos fatores e
instituições sociais (administração política, organização social, sistema econômico,
instituições culturais, meios de comunicação de massa) que podem reforçá-las nas
oportunidades ou dificultar a prática da moralidade.
A tomada de decisões cotidianas é baseada no sistema de valores de uma
determinada empresa. Portanto, a escolha de fazer o bem em vez do mal é baseada
em princípios morais, pois caso contrário a interação social seria quase impossível. Se
cada um estabelecesse as suas próprias regras, surgiriam vários atritos e problemas na
sociedade, criando o caos e impedindo a convivência harmoniosa.
Assim, pode-se dizer que os valores têm caráter social e histórico, pois geralmente
vêm do passado e são transmitidos de geração em geração, e aparecem aos indivíduos
como normas que devem ser respeitadas em prol do povo. Tudo.
Podem ser leis, regulamentos escritos, políticas operacionais e várias outras
formas de coerção que expressam valores estabelecidos. Porém, cabe ressaltar que
sua formação é histórica, os valores podem variar de acordo com a cultura, época,
religião, local e estrutura social.
Observe o seguinte exemplo que indica a internalização das normas: Imaginemos
que um motorista de automóvel em uma via pública pare espontaneamente seu carro
em frente à faixa de segurança e assim permita que os pedestres atravessem a rua, ele
respeitará as pessoas e o meio ambiente do código de trânsito, portanto caracteriza-se
como comportamento moral.
Porém, se ele parou o carro apenas por medo de multa, seu comportamento se
limitou a obedecer à lei. Você notou a diferença?
Uma das ideias kantianas mais repercutidas a respeito da avaliação da
moralidade na ação é que para ele o fator mais importante e determinante é o motivo
1.2 CONCEITO DE MORAL
13
Como já foi dito, a ética refere-se ao padrão de comportamento de um indivíduo
como pessoa social. SegundoMoreland e Lane (2005, p. 483), a ética é caracterizada
como o estudo da moralidade em um contexto filosófico, preocupado com nossas
crenças e julgamentos sobre motivação, atitude, caráter e comportamento em termos
do que é considerado certo ou errado".
Libanio (2001, p. 98) enfatiza que a ética é uma janela de acesso que nos abre
para o bem. O pós-modernismo apresenta-nos um caos ético. Se não existe um padrão
absoluto de comportamento pelo qual as pessoas sejam avaliadas, como é possível
consertar as coisas?
Francis Schaeffer (2002, p. 130) enfatiza a necessidade de padrões ou modelos em
benefício da sociedade, uma vez descartados os velhos modelos sociológicos, novos
devem ser criados e absorvidos ou a sociedade acabará por entrar em colapso.
A esse respeito, Mondim (2002, p. 44) destaca que a pós-modernidade criou um
povo eticamente desconectado, o que criou um caos moral onde não há mais uma
âncora para a análise das escolhas.
1.3 CONCEITO DE ÉTICA CRISTÃ
do ator, e não as consequências de suas ações. Às vezes fazemos o que é certo, mas
pelas razões erradas, o que, segundo Kant, torna as nossas ações moralmente inúteis.
Nesta forma de pensar, portanto, apenas as ações praticadas por um senso de dever
têm valor moral. Distinguem-se da ação que está de acordo com o mero dever, isto
é, da ação que está de acordo com o que devemos fazer, mas que não surge de um
sentido de dever.
Portanto, a ética como ciência pode ser entendida como um ramo da filosofia que
estuda os fundamentos da moralidade aceitos na sociedade. A moralidade, portanto,
refere-se ao comportamento social em relação às regras estabelecidas.
Estas regras podem variar de cultura para cultura e podem ser variadas e
modificadas sistematicamente. Tudo depende da referência autorizada, que é a base
das normas de comportamento social.
Segundo meu dicionário online, imoral é aquilo que vai contra a moralidade, aquilo
que nega a moralidade atual; enquanto amoral se refere àqueles que não têm moral,
não sabem qual é o comportamento aceitável na sociedade e, portanto, são incapazes
de distinguir entre o certo e o errado.
Um exemplo disso: se um homem inadvertidamente anda nu em praça pública,
seu comportamento é considerado imoral, mas se um índio trazido de sua distante tribo
da floresta faz o mesmo, não viola a norma vigente, viola sua ignorância sobre eles,
portanto, seu comportamento é amoral.
Para que você possa conhecer um pouco mais sobre ética e moral fica para você
a indicação do livro de Yves de La Taille, Moral e Ética: Dimensões intelectuais e
afetivas. Que está disponível na Biblioteca Virtual Única: Disponível em: https://
shre.ink/roAF. Acesso em: 22 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS
14
Figura 2: Desdobramentos da Ética Cristã
Fonte: Disponível em https://bit.ly/41mSTpe. Acesso em: 20 jan. 2023
A ética preocupa-se com as escolhas morais práticas que as pessoas fazem, bem
como com os objetivos e princípios ideais que reconhecem como requisitos. Trata de
hábitos e comportamentos na medida em que cada um é responsável pelas próprias
decisões e escolhas extremamente complexas. A ética pode ser derivada como um
estudo crítico da moralidade, abrindo assim a possibilidade de considerá-la como um
ramo da filosofia que visa o estudo sistemático da vida moral.
A análise da vida moral (por exemplo, liberdade, bem, mal, dever) lança luz
sobre questões metafísicas e teológicas; mas os pressupostos metafísicos e teológicos
considerados pelos moralistas quando estudam o campo da ética também afetam a
sua compreensão e análise da vida moral.
Vale lembrar que Agostinho, um dos representantes da história da Igreja,
considerou seriamente e relacionou a influência da fé e do amor cristão em relação às
exigências da vida social humana em termos de responsabilidade social, separando o
pensamento ético, político e científico de sua cultura e transformando-a no serviço de
Deus com amor. A tarefa do campo da ética cristã é, portanto, olhar para a vida moral
de uma pessoa a partir da perspectiva da fé cristã.
Reifler (2003), apresenta algumas definições sobre ética cristã.
Para o autor acima, a ética é a bússola que orienta as ações do cristão e não
pode ser confundida com costumes. Estes, por sua vez, são variáveis, descritivos e
dependentes das circunstâncias.
O estudo da ética baseia-se no pressuposto de que o homem é livre e responsável.
Ciência que trata dos princípios e das práticas daquilo
que é considerado apropriado ou inapropriado tendo
por base fundamental as Escrituras Sagradas, pois dela
emana as verdades que devem nortear nosso viver;
Estudo ordenado de como viveu o Senhor Jesus Cris-
to, assim tal estudo pode ser aplicado a situações co-
tidianas; Exemplo dos ensinamentos morais deixados
por Jesus e tais exemplos são como diretrizes as quais
moldam a conduta do ser humano em todos os âm-
bitos de sua vida, tendo o constante auxilio do Espírito
Santo; Ciência da conduta humana, determinada pela
conduta divina (REIFLER, 2003, p.17).
15
Também pressupõe que as escolhas morais não são uma simples questão de acaso;
eles não são aleatórios e completamente imprevisíveis.
A ética refere-se a todas as atividades humanas que devem ser devidamente
elogiadas ou culpadas. Ele se interessa pelas formas de comportamento decorrentes
do hábito, da ignorância, na medida em que o homem é responsável por suas próprias
decisões e escolhas extremamente complexas.
A definição da ética como um estudo moralmente crítico sugere uma ligação com a filo-
sofia, visando o estudo sistemático da vida moral. A análise da vida moral (por exemplo,
liberdade, bem, mal, dever) lança luz sobre questões metafísicas e teológicas; mas, por
outro lado, os pressupostos metafísicos e teológicos que os moralistas apresentam ao
estudar o campo da ética também afetam a sua compreensão e análise da vida moral.
Um moralista cristão estuda ética e faz suposições sobre a natureza do homem, do uni-
verso e de Deus. Ele procura compreender a vida moral, a liberdade, o dever, a bondade,
o objetivo final da moralidade de acordo com esta crença, e as suas conclusões sobre os
deveres do homem e o verdadeiro bem são em grande parte determinadas pelo conte-
údo desta crença.
FIQUE ATENTO
Segundo (LIMA, 2002), a ética e a moral secular baseiam-se em verdades relativas.
Por outro lado, a ética cristã baseia-se nas verdades absolutas incorporadas na Bíblia.
A ética judaica sempre entendeu que o mundo, desde a sua criação por Deus,
contém uma estrutura moral básica. Quando Brunner (1941, p.553), como Lutero, afirma
que certas instituições são necessárias para o bom funcionamento da vida coletiva,
sua lista dessas instituições é visivelmente condicionada culturalmente.
• A Igreja Primitiva
Nos primórdios da fé cristã, a igreja dedicou grande esforço para manter a sua
própria casa em ordem (por exemplo, evitando escândalos públicos) e como refletir a
sua relação com um Deus generoso em práticas de generosidade, muitas das quais
representavam o que poderíamos hoje chame um sistema de bem-estar para aqueles
dentro (e às vezes fora) da igreja.
Embora a Igreja não exercesse poder nem tivesse amplas responsabilidades
públicas, a ética da comunidade era a sua preocupação natural. Os primeiros professores
e pregadores da igreja consideravam cuidadosamente a relação entre ricos e pobres, a
ética do sexo e do casamento e como se relacionar com a autoridade civil. Vemos aqui
apenas alguns indivíduos representativos entre eles. Está dividido em três vertentes: os
primeiros apóstolos e seus seguidores (séculos I e II); pais apostólicos (séculos III e IV),
como Tertuliano, Orígenes e Justino. E o período de aproximação com o neoplatonismo
de Plotino, a patrística (final do século IV ao século IX), com a figura central de Santo
Agostinho. Finalmente, a escolástica do século X ao século XVI foi influenciada pela obra
de São Tomás de Aquino.
O Cristianismo ensina aos seus seguidores princípios bíblicospara que eles
possam optar por segui-los em qualquer situação. Esta decisão também inclui costumes
1.4 APONTAMENTOS SOBRE AS BASES ÉTICAS DO CRISTIANISMO
16
e hábitos.
Segundo Dutra (2011, s/p), países desenvolvidos como Suécia, Inglaterra, Suíça,
Dinamarca, Estados Unidos da América, Finlândia, Alemanha, Noruega, Islândia, Nova
Zelândia, Austrália, cuja parcela populacional de cristãos protestantes é de 87% ,
59%, 40%, 89%, 57%, 85%, 43%, 88%, 94%, 41%, 44%, têm menor criminalidade e também
corrupção.
A maioria de seus governantes tem orientação cristã. Consequentemente,
a maioria de suas leis e costumes baseiam-se na Bíblia. Além disso, estes países
apresentam um elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O autor afirma que
os valores bíblicos absolutos são eficazes na correção das possíveis causas da crise
ética que a humanidade atravessa.
• A autoridade da Bíblia para o cristão
O Deus soberano (transcendente e imanente) escolheu revelar-se à humanidade.
O que a Bíblia afirma é o ponto de partida do fundamento ético do cristão, porque é
somente a partir da revelação que ele adquire uma compreensão do mundo, da
humanidade e do que considera certo ou errado. Assim, a ética cristã defende o fato de
que o transcendental, segundo a Bíblia, apareceu como Deus, o Criador de tudo, e nós
somos sua imagem e semelhança.
Os cristãos têm afirmado historicamente que a Bíblia é inerente e infalível.
Infalível porque acredita que não comete erros e infalível porque é incapaz de errar.
Afirmar que a Bíblia é totalmente confiável em todos os seus ensinamentos (doutrinas)
De acordo com Erickson (2015),
Na esteira dessa afirmação fica claro que para os cristãos as Escrituras são
de origem divina, onde o Transcendente também se deu a conhecer por meio da
história, do universo, da humanidade, de Cristo e das Escrituras. Defendem ainda que a
autenticidade da Bíblia é confirmada por evidências internas e externas.
Assim, para o cristianismo tradicional, a Bíblia é "inerrante" em suas doutrinas, e
seus adeptos normalmente aplicam os textos bíblicos às suas vidas diárias, passando
do texto para a existência/prática.
Historicamente, a igreja tem se apegado a inerrância
da Bíblia. Embora até tempos recentes não se tivesse
enunciado uma teoria completa, sempre houve, ao lon-
go dos anos da história da igreja, uma crença geral na
completa fidedignidade da Bíblia (ERICKSON, 2015, p.82).
[…] A totalidade das Escrituras é a Palavra de Deus em
virtude da inspiração divina dos seus autores huma-
nos. A Palavra de Deus, na forma da Bíblia, é um registro
inspirado de eventos e verdades da autorrevelação de
Deus. (HORTON, 2006, p.85-86).
17
A ética cristã tem origem naquilo que Deus diz através da sua Palavra (a Bíblia).
Para um cristão professo, a Bíblia é, portanto, uma régua de comportamento diante de
Deus e diante das pessoas. De acordo com os ensinamentos de Jesus, a ética cristã se
encontra nestas palavras: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a
tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. A segunda é: amarás o
teu próximo como a ti mesmo. Não há mandamento maior do que este" (Mateus 22.37).
Figura 3: O Bom Samaritano – generosidade e o altruísmo com desconhecidos
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3SqCOL6. Acesso em: 20 jan. 2023
Sabidamente a filosofia da individualidade está presente em vários âmbitos de
nossa sociedade e tem se permeado de forma espantosa. Em face dessa realidade,
a ética cristã busca apresentar normas comportamentais inescapáveis. Tais normas
são imprescindíveis caso o seguidor do cristianismo queira ter uma bússola para as
decisões, tanto na sua vida particular como em sua vida profissional.
A retórica ético-cristã considera, portanto, como sagrado os escritos bíblicos.
Destina-se a balizar a conduta para garantir a integridade do comportamento
cristão. A base moral da ética cristã é a Bíblia Sagrada. Portanto, sua natureza não é
mutável nem é relativa. Assim, a ética cristã não está separada da moral e do bom
comportamento, que vêm dos ensinamentos bíblicos.
Com o surgimento da religião cristã, de modo exponencial o mundo foi impactado
e influenciado a ponto de tornar-se uma das maiores religiões no planeta ao longo
da história. Sendo por meio do cristianismo que o ser humano passou a ser valorizado
como pessoa, sendo precursora na construção do conceito de dignidade humana.
Com a queda do Império Romano em 476 d.C, o cristianismo preservou os
principais pilares da civilização ocidental, tanto material quanto intelectualmente.
Na Idade Média, os mosteiros se tornaram o grande celeiro cultural e intelectual da
sociedade e, por meio da teologia, surgiram na Europa os primeiros centros acadêmicos
que se tornaram universidades no continente Europeu.
A ética cristã é um grupo de valores e princípios morais associados ao cristianismo
histórico e dele obtém suporte teológico e filosófico para seus preceitos. A ética cristã atua
como mediadora da mudança social, baseada em diversos pressupostos e conceitos
que acredita originarem-se do único Deus verdadeiro revelado na Bíblia Sagrada. Vale
ressaltar que ela regulamenta o relacionamento do homem com seus semelhantes e
com sigo mesmo. Augustus Nicodemus, [S.I}, aponta em seu artigo Fundamentos da
Ética Cristã alguns deles, a saber:
1.5 A RETÓRICA ÉTICO-CRISTÃ E SUA PERSPECTIVA DE
TRANSFORMAÇÃO E INCLUSÃO
18
Assim, o comportamento ético cristão consiste em uma atitude firme e leal aos
princípios basilares exarados na Bíblia, por maiores que sejam as circunstâncias e
dificuldades do momento. .A ação ética é sempre evidente em relação ao outro. Nesse
sentido, é possível compreender o quão desafiadora pode ser essa postura em nossa
época, por ser tão fortemente marcada pelo individualismo, egoísmo e hedonismo.
1. A existência de um Deus verdadeiro e criador do céu e
da terra - a ética cristã baseia-se na suposição de que
o Deus revelado na Bíblia é o único Deus verdadeiro e,
como criador do mundo e da humanidade o fiel deve
crer e reconhecê-lo como tal, sendo a sua soberana
vontade respeitada e incondicionalmente obedecida.
2. A condição da humanidade é a decadência - A ética
cristã, sistematizando e sintetizando os deveres morais
e práticos das pessoas, leva em consideração o fato
de que elas mesmas não podem reconhecer a vonta-
de de Deus, muito menos segui-la. Alienação de Deus,
originalmente causada pela desobediência do primeiro
casal. As normas propostas pela ética cristã referem-
-se ao renascimento espiritual de uma pessoa para se
comportar eticamente diante do Criador.
3. O homem não é moralmente neutro, mas tende a to-
mar decisões contra Deus, seu próximo. Esta suposição
é uma consequência inevitável da anterior. As pessoas
em seu estado natural (em oposição ao estado de re-
generação) são intuitivamente movidas principalmen-
te pela ganância e egoísmo [...](Nicodemus, [S.I]).
O papel do grupo, tanto enfatizado, é relevante para a
socialização de pessoas que cometeram crimes, para a
promoção de sua saúde, para prevenir que atuem com
violência e para a sua reabilitação. Nesse sentido, uma
discussão trazida por muitos artigos é a formação de
redes de proteção e de apoio social. No trabalho religio-
so destaca-se o papel das comunidades morais, dan-
do forma ao grupo e desenvolvendo ações de preven-
ção e de reabilitação que operam exitosamente como
controle social. A comunidade provê suporte e espaço
Várias denominações cristãs atuam ao nível da organização coletiva da
sociedade, no domínio da educação, da saúde e da assistência social, onde gerem
diversos projetos. Nesse sentido, as ações dos grupos religiosos são relevantes numa
sociedade que não consegue satisfazer todas as necessidades sociais do indivíduo.
Ribeiro e Minayo (2014) citam diversos estudos que comentam o papel da religião
na promoção da saúde, na prevenção da violência e na reabilitação de pessoas em
situaçãode vulnerabilidade social. Para estes autores, o compromisso e a prática
religiosa influenciam direta ou indiretamente o desfecho das situações de doença e a
redução da delinquência e da criminalidade, nomeadamente através da criação de
grupos de apoio:
1.6 A PRÁXIS DA ÉTICA CRISTÃ NO SOCIAL
19
De acordo com Tiago, no Novo Testamento, o Evangelho deve ser vivido de
maneira prática, Ele diz que a fé sem obras é morta. (Tiago .2.26). A ética cristã na pratica
condena a passividade de quem se diz devoto do cristianismo. Então podemos inferir
que a evidencia do cristianismo é a fé prática.
para a reafirmação de crenças, reforçando ou substi-
tuindo a sociabilidade que o indivíduo havia construído
no grupo ao qual pertencia anteriormente. Em territó-
rios de grande desigualdade social, frequentemente, o
grupo religioso possibilita a coesão social ou mesmo a
sobrevivência frente a contextos desfavoráveis (RIBEI-
RO; MINAYO, 2014, p.1786).
Figura 4: Voluntários da Convenção Batista Brasileira na Cristalândia em São Paulo
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ISlJq8. Acesso em: 20 jan. 2023
As religiões são ferramentas relevantes para a socialização dentro de uma comunidade
porque permitem que as pessoas se relacionem com o sagrado e ao mesmo tempo se
identifiquem com essa comunidade, levando a uma melhor compreensão e adaptação à
realidade em que estão inseridas. Como você acha que poderia atuar como elemento de
integração e apoio social para enfrentar e resolver os problemas do cotidiano?
VAMOS PENSAR?
20
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (INSTITUTO OACP – 2020). O fenômeno religioso tem muitas facetas e é heterogêneo
por se basear em diversas fontes e interesses relacionados à condição humana. Sobre
o fenômeno religioso, assinale a alternativa correta.
a) A religião é uma das dimensões da mitologia e serve ao indivíduo e à coletividade
como fonte de concepções sobre o mundo.
b) Na base da religião, estão a vontade de crer das pessoas e a construção de uma
manifestação coletiva com base nessa crença.
c) A religião é um sistema de símbolos que provoca motivações fortes e neuroses
duradouras nos indivíduos.
d) A religião é uma instituição social que existe ao longo da história e nas mais diversas
sociedades, mas cujo fim está próximo.
e) Autores da Sociologia e da Antropologia atribuíram diferentes razões para a formação
das religiões, como a possibilidade de sucesso e a vontade humana de poder.
2. (CESPE – CEBRASPE- 2013). Considerando os conceitos de ética e moral, assinale a
opção correta.
a) A moral é um elemento da cultura de um povo, que deve ser respeitada sem sofrer
transformações históricas. Portanto, a ética não pode questionar a cultura e suas
concepções sobre o agir e o viver humano.
b) Fundamentalmente, a ética é uma experiência e a moral, uma reflexão.
c) A ética é heterônoma e uma questão de adaptação às regras exteriores da convivência
social, por conveniência ou por receio de repreensões sociais.
d) A moral é autônoma e uma questão de questionamento sobre o sentido da moralidade
humana em geral.
e) Enquanto a moral é uma prática que segue os costumes de uma cultura, a ética é
uma parte da filosofia e busca investigar criticamente o sentido da moralidade humana
em geral.
3. (CESP- 2010). Acerca da relação entre ética e moral, assinale a opção correta.
a) A partir do estudo da ética, pode-se considerar uma visão utilitarista, em que a
verdade de uma proposição consiste no fato de que ela é útil, tendo alguma espécie de
êxito ou satisfação.
b) A ética reflexiva se dedica exclusivamente à reflexão sobre os deveres das pessoas
contidos nos códigos específicos dos grupos sociais.
c) A ética é equivalente a moral porque ambos os preceitos investigam os princípios
fundamentais do comportamento humano.
d) A ética é temporal, enquanto a moral é permanente.
e) A simples existência da moral significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o
21
A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é o (a):
a) constrangimento por olhares de reprovação.
b) costume importo aos filhos por coação.
c) consciência da obrigação moral.
d) pessoa habitante da mesma casa.
e) temor de possível castigo.
5. (COVEST-COPSET/ 2013). “A ética cristã vinculou a ética aos padrões da divindade, à
aproximação com Deus”. Esse trecho autoriza o leitor a concluir que:
a) Foi a ética cristã que se encarregou de inter-relacionar a ética e os padrões divinos.
b) Com o advento da ética cristã, os padrões éticos da divindade foram, de fato,
aproximados de Deus.
c) A partir da ética cristã, os vínculos entre a ética e os padrões da divindade foram-se
enfraquecendo.
d) A aproximação com Deus obrigou a ética cristã a atrelar a ética aos padrões da
divindade.
e) Conduzir o Homem a aproximar-se de Deus e a adotar os padrões da divindade é a
missão da ética cristã.
6. Complete os espaços com a sequência correta
Embora alguns cristãos considerem a autoridade da ________________ (ou
significado dos valores morais.
4. (ENEM PPL -2016).
22
partes dela) como fundamental, na realidade essa visão representa uma afirmação
________________ que sempre mais ou menos declaradamente envolve um
relacionamento _______________ entre uma autoridade reivindicada pela Bíblia
e a autoridade reivindicada por uma Igreja ou por algum outro tipo de denominação.
Outros consideram a autoridade da Bíblia na melhor das hipóteses,
_________________, uma vez que os mesmos têm a _________________
como o árbitro e nesse caso, autoridade primária.
a) Razão, dogmática, dialético, secundária, Bíblia
b) Bíblia, secundária, dialético, dogmática, razão
c) Bíblia, dogmática, dialético, primária, razão
d) Bíblia, dogmática, dialético, secundária, razão
e) Razão, dogmática, dialético, secundária, Experiência
7. Ribeiro e Minayo (2014) citam diversos estudos que comentam sobre o papel da
___________________ na promoção da saúde, na prevenção da violência e na
reabilitação de pessoas em risco _____________. Para esses autores, o compromisso
e a _______________ religiosa influenciam direta ou indiretamente no desfecho
de situações de doenças e na _______________ da delinquência e criminalidade,
principalmente através da ___________________ de grupos de apoio:
Escolha a sequencia correta:
a) formação, social, prática, redução, religião
b) religião, potencial, prática, redução, formação
c) religião, social, prática, redução, desinformação
d) formação, social, abandono, redução, religião
e) religião, social, prática, redução, formação
8. Tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão do comportamento cristão.
O fundamento moral da Ética Cristã ___________________________.
a) As Escrituras Sagradas
b) Os discursos
c) A política
d) A razão
e) A Filosofia
23
CONSCIÊNCIA
ÉTICA CRISTÀ FUNDADA
NOS DIREITOS HUMANOS
24
O conceito de direitos humanos é conhecido como moderno, mas o seu princípio é
tão antigo quanto a própria humanidade. Certos direitos e liberdades são fundamentais
para a existência humana. Estes não são privilégios ou presentes oferecidos a critério
daqueles que estão no poder ou daqueles que estão no poder. Nem podem ser abolidos
por qualquer poder arbitrário. Eles não podem ser recusados e não serão perdidos se a
pessoa cometer um crime ou infringir alguma lei.
A nível internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra no seu
preâmbulo a necessidade de proteger a dignidade humana através da proclamação
dos direitos consagrados neste diploma e consagrados no seu art. 1. que “todos os seres
humanos nascem livres e iguais, em dignidade e em direitos”.
Portanto, a dignidade de uma pessoa não consiste apenas no facto de, ao
contrário de outras coisas, ela ser percebida e considerada como um fim em si mesma
e nunca como um meio para um determinado resultado. Além disso, graças à vontade
racional, só o homem vive em condiçõesde autonomia.
Os seres humanos diferem dos animais na capacidade de pensar, raciocinar,
compreender profundamente a realidade circundante e na capacidade de usar a
criatividade para criar soluções com base no que observamos.
Desde o nascimento devem ser garantidas a todos as condições mínimas para se
tornarem úteis à humanidade e a oportunidade de receberem os benefícios que a vida
em sociedade pode oferecer. Essas condições e oportunidades adquiridas no processo
histórico da civilização humana, que estão relacionadas à capacidade natural de cada
pessoa de se organizar socialmente, são chamadas de direitos humanos.
Os direitos humanos são conquistas inalienáveis da sociedade internacional, cujos
Figura 5: Dimensões da Pessoa Humana
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3IsiSTE. Acesso em: 20 jan. 2023
Para se aprofundar no conceito de dignidade humana indicamos o livro de Fer-
nanda Manegatti: Doutrina Social da Igreja. Disponível em: https://shre.ink/rour.
Acesso em: 20 abr 2023.
BUSQUE POR MAIS
25
valores centrais são a dignidade humana. Os ensinamentos cristãos difundidos por todo
o cristianismo glorificaram a humanidade ao ensinarem a fé, o amor, a tolerância e a
solidariedade, e os povos de Jesus de Nazaré, Simão Pedro e Paulo foram as referências
teóricas mais importantes dos ensinamentos cristãos.
A história dos direitos humanos é marcada por lutas e mortes para que hoje a
humanidade possa pelo menos ter uma declaração formulada.
Evento e data Descrição
Magna Carta Liberta-
tum de 1215
(Idade Média)
É considerada a mais célebre das cartas franquias medievais da-
das pelos reis aos vassalos e que consolidavam a concessão de
direitos aos nobres. Seu propósito era estabelecer um modus vi-
vendi entre monarca e barões, no qual se garantiam determinados
direitos de supremacia do rei em troca de certos direitos de liber-
dade dos barões.
Petition of Rights em
1628
Enfatizou o princípio da legalidade em todos os atos do reino.
Habeas Corpus
Amendment Act de
1679.
Era um mandado judicial para os casos de prisão arbitrária. No
entanto, ainda não havia formalização documental, o que veio a
ocorrer com a referida lei, oficialmente intitulada de “uma lei para
melhor garantir a liberdade do súdito e para prevenção das pres-
sões no ultramar”
Na Inglaterra, houve
revoluções em 1688 e
1689.
Primeira Revolução
burguesa
Marcadas pela perda de poderes pelo rei e pela dominação do
Parlamento pelos burgueses.
A Declaração de 1689 garantiu o direito de petição a todo súdito,
assim como estabeleceu a ilegalidade de todas as prisões e perse-
guições realizadas contra o exercício desse direto.
A Declaração Inglesa de Direitos foi estabelecida em um período
histórico de profunda intolerância religiosa, na qual o rei francês
absolutista, Luís XIV, havia, em 1685, revogado o Édito de Nantes
de 1598. Este estabelecia o acordo que reconhecia a liberdade de
consciência aos protestantes franceses, assim como uma limitada
liberdade de culto e a igualdade civil com os católicos.
América do Norte,
1776, a Inglaterra pos-
suía treze colônias, as
quais, influenciadas
pelo que acontecia na
Inglaterra.
Revolução proclamando sua independência em 1776.
Ocorreu no contexto da luta de independência das colônias britâ-
nicas, foi igualmente inspirada no movimento Iluminista do século
18.
Em 1789, ocorreu na
França, Evento Cha-
mado de Revolução
Francesa.
Pautado pelo lema “liberdade, igualdade e fraternidade” e tinha
como objetivo a eliminação de privilégios da nobreza.
Uma das maiores contribuições da Revolução Francesa, senão a
maior, foi o avanço no que diz respeito aos direitos humanos.
Em 1789 – foi promul-
gada a Declaração
dos Direitos do Ho-
mem e do Cidadão
Pela Assembleia Nacional Francesa, definindo os direitos inerentes
à pessoa humana, em relação às práticas discriminatórias, pre-
valeceu a exclusão. As mulheres não foram beneficiadas com a
cidadania, por serem consideradas inferiores aos homens, assim
como frágeis e submissas. Mesmo os homens não foram totalmen-
te contemplados com a cidadania, em razão das restrições do voto
censitário. A escravidão continuou legitimada nas colônias france-
sas até metade do século 19 e os direitos sociais não foram men-
cionados.
26
Declaração dos Di-
reitos da Mulher e da
Cidadã de 1791
Olympe de Gouges (1748-1793), apresentou na Assembleia Na-
cional da França um manifesto sobre a exclusão das mulheres na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Ela era
camponesa francesa, defensora dos ideais da liberdade, da igual-
dade e da fraternidade, escritora, abolicionista, feminista e sufra-
gista, estava à frente nas lutas pelos direitos das mulheres na Re-
volução Francesa. No entanto, foi considerada mulher desnaturada,
condenada como contrarrevolucionária e guilhotinada em 1793.
Declaraçao Universal
dos Direitos Humanos
(1948)
Após a 2ª. Guerra Mundial foi considerado essencial que todos os
seres humanos sejam protegidos por Lei
Constituição da Re-
pública Federativa do
Brasil de 1988 não é
diferente, pois (BAU-
MAN, 2011, p. 123).
Prevê expressamente em seus artigos os princípios de Liberté, Éga-
lité, Fraternité atualmente revisitados para Sécurité, Parité, Réseau
(segurança, paridade, rede)
(BAUMAN, 2011, p. 123).
Quadro 1: Eventos marcantes das declarações dos Direitos Humanos
Fonte: Disponível em: https://shre.ink/roK0. Acesso em: 20 jan. 2023
Em A.T. A legislação mosaica superou todas as anteriores, introduziu os princípios
do direito constitucional e internacional, normas jurídicas gerais como: Não matar
(Êxodo 5,17); não roube (Êxodo 5:19); não dirás falso testemunho contra o teu próximo
(Êxodo 5:20), etc. Além destes, muitos outros na área de suporte de vida, legislação
trabalhista, como descanso semanal, etc.
Foram criadas novas regras, foram abordadas as restrições patrimoniais, a
proibição do confisco de bens e a inviolabilidade do lar, bem como questões como o
adultério e o divórcio, o homicídio, a repressão do charlatanismo, da usura e os pesos e
medidas de justiça que revelaram as diferentes morais das civilizações antigas.
Sentindo a necessidade de uma lei organizada, as pessoas começaram a traduzir
as necessidades sociais em leis, deixando para trás uma era de força física e astúcia
para se protegerem nas cavernas. O reconhecimento da lei é tal que se reflete através
da religião em todas as partes do mundo antigo, o que facilita a sua identificação com
os princípios morais estabelecidos, bem como a sua aceitação e observância.
Neste argumento surge um novo paradoxo, facto confirmado pela concorrência
de dogmas religiosos, conteúdos sagrados e estáticos, leis profanas, características
dinâmicas e evolutivas, pelo contrário, podemos observar a existência de outro
paradoxo: os direitos humanos são absolutamente fundamentais, e a ética e a moral
são traduzidas pela relatividade e pela adaptação aos tempos e às condições espaciais.
27
Os direitos naturais e seus ensinamentos foram caracterizados passo a passo
pelo desenvolvimento da humanidade, que se baseou em situações específicas que
surgiram e moldaram a historicidade. Portanto, os governos são obrigados a resolver
estes conflitos.
A partir de certo ponto, as palavras faladas não eram mais suficientes para
justificar e garantir suas ações, e assim foi criada uma lei escrita, originalmente expressa
em letras de barro e papiro e gravada em ossos de animais.
No terceiro milénio a.C. já estavam assegurados alguns mecanismos legais de
proteção do indivíduo em relação ao Estado. No entanto, é geralmente aceite que a lei
de Hamurabi – o sexto rei da primeira dinastia babilónica – foi provavelmente o primeiro
sistema jurídico escrito no Ocidente. Gravados num único bloco de pedra, estes 282
artigos incluíam uma série de casos legais que ajudaram a resolver reclamações legais
feitas a critério do rei.
De forma geral, este documento estabeleceu princípios que deveriam ser
aplicados naprática pelos sujeitos nas suas relações interpessoais e posteriormente
em relação ao Estado.
Não havia mecanismos limitantes para o poder real. Ele considerou a supremacia
das leis sobre as mudanças de humor dos governantes. Incluía assuntos como:
bruxaria, julgamento de Deus, calúnia e falso testemunho, má conduta de juízes,
etc., e era dedicado aos crimes de roubo, estupro, lesão corporal, contenção, uso de
tortura, punições cruéis, além de reclamações relacionadas a imóveis, arrendamentos,
empréstimos, adiantamentos, pagamentos não monetários, processo de cobrança de
dívidas, impostos, etc.
Relações entre comerciantes e representantes do Estado, relações matrimoniais,
bens comuns, dote, adoção e relações familiares, deserção, recusa, obrigação de
prestação de alimentos, direitos dos filhos e herança. Na prática, manteve-se fiel à
suposição de Talião. Os gregos, principalmente através dos princípios enfatizados pela
democracia direta proposta por Péricles, também contribuíram para a construção de
um edifício jurídico que seguisse os princípios básicos dos direitos humanos.
2.1 O DESENVOLVIMENTO DO HUMANO E SUAS NOVAS EXIGÊNCIAS
Figura 6: Direitos Humanos
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3IQqel3. Acesso em: 20 jan. 2023
28
2.2 PRINCÍPIOS CRISTÃOS ADOTADOS NA DECLARAÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS
Os princípios que o Cristianismo considera, no que diz respeito à autoridade,
legalidade, igualdade, não aceitação dos indivíduos, são evidentes nas mais
importantes declarações modernas de direitos humanos. Embora a justiça baseada nos
ensinamentos cristãos não seja puramente exclusiva, tem desempenhado um papel
muito importante na formação dos sistemas jurídicos internacionais e do pensamento
humano com os seus valores, práticas e doutrinas.
Embora não seja a única religião que prega as boas virtudes humanas, deve-
se notar que o Cristianismo teve um impacto significativo nos sistemas jurídicos dos
Estados. Atualmente, sabe-se que a grande maioria dos Estados não partilha o poder
governamental com os organismos religiosos, embora respeitem a liberdade de religião
e de culto religioso, ou seja, o Estado e a religião atuam cada um em esferas separadas.
A lógica de estruturação dos Estados centra-se na razão, enquanto a religião favorece
a fé.
O Cristianismo é uma religião monoteísta baseada na vida e na doutrina de Jesus
de Nazaré, considerado o Cristo, filho de Deus, Salvador e Senhor do universo.
A tolerância cultural é uma característica importante do ensino cristão, e o
exemplo começa com a presença de Jesus Cristo entre as pessoas, pois segundo o
Novo Testamento, ao deixar o céu para servir na terra, demonstrou tolerância com
a cultura humana caracterizada pelo pecado e pela imperfeição. . . Jesus também
mostrou interesse em chegar a outras culturas através do testemunho, por exemplo,
chegando a uma mulher samaritana (João), que pertencia a um grupo étnico que os
judeus desprezavam na época.
A supremacia do princípio da legalidade, do respeito pela autoridade humana
e dos deveres cívicos também é enfatizada no ensino cristão, especialmente quando
Jesus Cristo disse aos fariseus: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de
Deus”. ; Deus" (Mateus, 23. 15-22).
Assim, ele apela para dois julgamentos diferentes: o julgamento dos assuntos
humanos, segundo o qual parece necessário obedecer às leis humanas; julgamento das
coisas divinas, segundo o qual parece necessário obedecer à lei divina. (BITTAR, 2009,
p. 201). É a compreensão de que cada cidadão é obediente às leis do país sem prejuízo
do respeito por Deus, e que ninguém tem o direito absoluto de respeitar a autoridade
institucional humana em nome dos preceitos religiosos.
O princípio da proporcionalidade ou razoabilidade também pode ser visto nos
ensinamentos do apóstolo Paulo quando escreveu à igreja em Colossos: “Vós, senhores,
fazei tudo o que for justo e justo para com os vossos servos, sabendo que também
tendes um Senhor em paraíso"(Colossenses, 4. 1).
A Cisma do Oriente foi um conflito gerado pela Igreja Católica do Ocidente e do Oriente
isso no século XI. Do latim, a palavra “cisma” (shisma) significa dividir, partir, separar.
FIQUE ATENTO
29
2.3 A DECLARAÇAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS E
A FÉ DIVERSIFICADA
A dignidade da pessoa humana é um tema extremamente atual para o estudo
dos direitos humanos básicos, pois ainda carece de uma definição precisa e de uma
compreensão uniforme nos sistemas jurídicos contemporâneos.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, seus artigos fazem as seguintes
conexões com a religião:
Na Constituição Federal do Brasileira promulgada em 1988, assegura no artigo 5º,
inciso VI que,
Refira-se que o ensinamento cristão tem as suas raízes em Jesus Cristo e é
difundido através do apóstolo Paulo, que procura dar bons exemplos de fé, tolerância,
solidariedade, obediência às leis humanas e divinas e sobretudo o dever de respeito
pelos outros. independentemente da sua situação social e cultural.
Esses valores cristãos podem ser vistos nos textos dos principais documentos
internacionais de direitos humanos, como a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
Em suma, a lei hebraica é histórica, não estatal e sócio religiosa. A santidade vem
do fato de que esse direito foi resultado da revelação de Deus, onde o monoteísmo vem
da adoração a um Deus único e todo-poderoso sobre as nações. Pelo entrelaçamento
jurídico e religioso, este direito tem um caráter sócio religioso que ficou marcado ao
longo da história da sociedade israelense. Sua fonte são por excelência os livros que
compõem o Pentateuco cristão.
“Artigo 2 - Todo ser humano tem capacidade para go-
zar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta De-
claração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nas-
cimento, ou qualquer outra condição. Artigo 18 - Todo
ser humano tem direito à liberdade de pensamento,
consciência e religião; esse direito inclui a liberdade
de mudar de religião ou crença e a liberdade de mani-
festar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática,
pelo culto em público ou em particular” (ONU, 1948, GRI-
FOS DO AUTOR).
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(..)VI - é inviolável a liberdade de consciência e de cren-
ça, sendo assegurado o livre exercício dos cultos reli-
giosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos lo-
cais de culto e a suas liturgias” (BRASIL, 1988).
30
Além destas leis acima mencionadas, também são conhecidas outras, por
exemplo, leis de natureza penal previstas no Código Penal ou leis do Estado que
combatem, entre outras coisas, o preconceito, a discriminação e o racismo.
Segundo Pérez (1986, p. 26), se o homem é uma pessoa porque foi feito assim, e se
as coisas e os animais são impessoais porque foram feitos assim, então a razão última
e a base da categoria é a pessoa humana, o homem não pode ser outra coisa senão
um Ser superior a todos os homens e capaz de conceder razão e liberdade na forma
como fomos criados, isto é, pelo mesmo Deus comum.
É importante notar também que, segundo a interpretação do autor, em 539 a.C., as
forças de Ciro, o Grande, primeiro rei da antiga Pérsia, sitiaram e conquistaram a cidade
de Babilônia. O rei Ciro concedeu liberdade aos escravos em um ato que declarou que
todas as pessoas tinham o direito de escolher sua religião. E ao fazer isso ele estabeleceu
a igualdade racial.
Portanto, alguns homens de cunho religioso ao longo da história, considerados
expoentes no mundo, defenderam oque podemos considerar “direitos humanos”
porque entendiam que sem eles a paz e o progresso nunca seriam alcançados. Cada
um deles mudou o mundo de maneiras significativas, por exemplo:
Martin Luther King Jr., pastor e ativista dos direitos dos negros nos Estados Unidos
na década de 1960, disse: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em
qualquer lugar.
Mahatma Gandhi, que defendeu a não-violência, a resistência pacífica e organizada
contra a opressão, descreveu: “A não-violência é a maior força da humanidade. É mais
poderoso do que a mais poderosa arma de destruição inventada pela engenhosidade
humana.
Nelson Mandela, um cristão não especificado, reconheceu que a religião era um
grande divisor de pessoas e tinha uma visão de um mundo onde a aceitação e a tolerância
eram maiores do que as alternativas. Certa vez, ele disse: “Ninguém nasce odiando o
outro por causa da cor de sua pele, de sua origem ou de sua religião. As pessoas devem
aprender a odiar, e se puderem aprender a odiar, poderão ser ensinadas a amar, pois
o amor é mais natural ao coração humano do que o seu adversário” (MANDELA, 1994,
p.45).
Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência Americana, afirmou
que: “a preservação da vida e da felicidade humanas, e não a sua destruição, é o
primeiro e único objeto legítimo do bom governo”.
Apesar de algumas conquistas após sete décadas desde o estabelecimento
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sua violação ainda é uma realidade
no atual cenário mundial, como a crise humanitária na Venezuela, onde milhares de
venezuelanos migraram para outros países como o Brasil.
2.4 A ÉTICA CRISTA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO
SOCIAL E EXPRESSÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Compreender a separação do poder temporal do poder espiritual é extremamente
importante para uma convivência respeitosa e harmoniosa da sociedade. O mundo
exige respeito pelos princípios do Estado de direito e também respeito pelo homem
como ser legítimo, digno e valioso. A ética privilegiada é o seu reconhecimento como
o principal caminho que conduz à concretização dos princípios do desenvolvimento
social e da dignidade humana.
31
Os direitos humanos afirmados nas principais declarações internacionais são
um exemplo do valor da justiça cristã que influenciou a humanidade através dos
ensinamentos de Jesus Cristo, Pedro e Paulo de Tarso, que são referências teóricas
notáveis da doutrina cristã. Através dos seus ensinamentos, trouxeram ao povo
daquela época uma nova filosofia de vida, baseada na igualdade entre as nações, na
tolerância religiosa, na esperança de salvação (que também significa otimismo), na
solidariedade, no respeito pela lei e pela autoridade humana. Tais ensinamentos foram
de alguma forma assimilados nas declarações de direitos humanos e nas constituições
democráticas.
A Constituição Brasileira de 1988 é um exemplo de dispositivos normativos que
visam proteger a dignidade básica da pessoa humana, conforme já consta em seu
artigo primeiro.
Segundo Pessini (2008, p. 91):
A dignidade da pessoa humana depende ainda de uma definição conceitual
unificada, que seja capaz de assegurar a todos uma aplicação adequada e suficiente
da norma protetiva. Mesmo que a precisão conceitual tenda para uma boa concepção,
é evidente que o esforço doutrinário reforça cada vez mais o sentido da vida humana
em sociedade. Sabe-se que, ao aplicar os atributos da personalidade de uma pessoa
física, nunca se pode prescindir do respeito ao próximo, pois além do mandamento
cristão, também se baseia no princípio do direito.
Uma importante obra sobre o estudo da dignidade da pessoa humana organi-
zada pelo professor Ingo Wolfgang Sarlet intitulada “Dimensões da dignidade da
pessoa humana: construindo um entendimento jurídico-constitucional neces-
sário e possível” (SARLET, 2009) também ajuda a compreender a dimensões da
dignidade, pois é uma expressão que inclui conceitos de diversas interpretações
dependendo do contexto jurídico e social de determinado momento e espaço
territorial. Disponível em: https://shre.ink/rovn. Acesso em: 20 abr. 2023.
Para um olhar mais amplo sobre Jesus o fundador do Cristianismo assista o ví-
deo: Um Olhar Sobre o Jesus Histórico: A Proposta e as Distorções na Mensagem
de Jesus de Nazaré. Disponível em: https://shre.ink/roC0. Acesso em: 20 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS
BUSQUE POR MAIS
Trata-se de um conceito principal, basilar, que apon-
ta para um horizonte de sentido desde a antiguidade
clássica, passando pela cultura judaico-cristã, e na
contemporaneidade fundamenta os documentos mais
importantes da humanidade após a II Guerra Mundial,
entre outros, a Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos.
32
Para que você possa se aprofundar e conhecer um pouco mais sobre a digni-
dade da pessoa humana observados pelas igrejas e religiões no Brasil, indica-
mos o livro Doutrina Social da Igreja, de Larissa Fernandes Menegatti, Intersabe-
res. Disponível em: https://shre.ink/roCF. Acesso em: 20 abr. 2023.
BUSQUE POR MAIS
Sabe-se que os valores da dignidade humana estão consagrados na religião e na
filosofia, tendo o direito como instrumento de proteção. A consciência da humanidade
sobre a necessidade de proteção pode ser percebida no desenvolvimento histórico dos
direitos apresentado por Norberto Bobbio (1995), que procurou enfatizar que os direitos
são construídos através de um processo de luta e consenso histórico.
Não podemos perder de vista que a vida humana, seja ela explicada pela ciência
ou pela religião, merece ser respeitada por todos (o Estado e os membros da sociedade),
independentemente da posição social do seu portador, porque não se pode negar a
ninguém que seja uma questão de dignidade, que é uma característica natural de todo
ser humano, onde não pode ser tratado como um objeto, ou seja, como uma mera
alegria de satisfazer outras pessoas.
2.5 DIFERENÇAS NA APLICABILIDADE DA ÉTICA GERAL E DA ÉTICA
CRISTÀ NA VIDA SOCIAL
A ética secular encontra sua base no costume ou costume. Tal sistema ético
busca a verdade exclusivamente através da razão, baseado nos conceitos dominantes
da época. Desta forma, a ética secular refere-se a costumes ou práticas como seguir a
etiqueta alimentar, tradições e funerais, festas religiosas ou culturais, entre outros.
Já a ética cristã não pode ser entendida apenas como uma mera ciência dos
costumes ou hábitos, a ética cristã não se baseia inteiramente na razão, é muito mais,
vai além de meros padrões determinados pela sociedade.
Existem diferenças significativas entre a ética cristã e a ética secular, que listamos
abaixo:
1. A ética cristã é guiada pela revelação da vontade de Deus dada na Bíblia,
enquanto a ética secular é a ciência dos costumes e da prática. Cabe esclarecer que
a ética cristã se refere à vontade do Transcendente (Senhor Deus), segundo a Bíblia,
único e verdadeiro Criador dos céus e da terra, sobre a qual se constroem princípios e
valores éticos.
2. A ética cristã é prescritiva, enquanto a ética secular é descritiva. Dentro deste
tema, devemos compreender que a ética cristã segue diretrizes fixas e cristalinas.
A religião é um fenômeno que atua na sociedade diretamente por meio de atitudes e
indiretamente por meio de construções do imaginário.
A religião sempre fez parte da vida humana, é através dela que o homem busca o con-
tato com o divino. Lypargneur (1971, p. 101) diz que “a religião traduz o esforço do homem
FIQUE ATENTO
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2.6 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A dignidade da pessoa humana tem um grande valor na autonomia e no direito à
autodeterminação da pessoa, que neste sentido tem um grande impacto nas liberdades
das pessoas e na atuação do Estado, que atualmente é considerado o garantidor e
protetor dos direitos fundamentais, pautado pelas bases constitucionais para prevenir
qualquer violação deste direito.
Quanto ao conceito de dignidade humana, embora aberto, vale destacar a
exposição de Sarlet (2005),