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Fundamentos Histórico- Teórico-Metodológicos do Serviço Social (60 e 80) Professora Esp. Irení Alves de Oliveira EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP O48f Oliveira, Irení Alves de Fundamentos histórico-teórico-metodológicos do Serviço Social (60 e 80) / Irení Alves de Oliveira. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 138 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-37-3 1. Serviço social. 2. Fundamentos do serviço social. I. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância III. Título. CDD : 23 ed. 361.3 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 AUTORA Professora Irení Alves de Oliveira ● Especialista em Docência no Ensino Superior (2016) ● Tecnóloga em Marketing (2016) ● Bacharel em Serviço Social (2015) ● Pós-Graduanda em Design Thinking e Criatividade nas Organizações ● Professora Formadora EAD ● Supervisora Acadêmica de Estágio Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/6087805875284804 Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acom- panhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Caro(a) aluno(a), é com imensa satisfação que apresento a disciplina de Funda- mentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social: década de 60 e 80 e convido você a se apropriar dos conteúdos que serão abordados ao longo das quatro unidades, em que serão destacados assuntos relevantes, tanto neste processo formativo quanto quando estiver atuando como assistente social. A construção deste material tem como objetivo destacar a formação e o trabalho profissional na contemporaneidade, preparando você para entender sobre o projeto profis- sional e o assistente social na luta de classes. Desta forma, na Unidade I você irá estudar três pontos importantes sobre o trabalho do assistente social e destaco que no primeiro ponto, logo no início, são abordados três aspectos relevantes que possibilitarão a reflexão sobre o trabalho que os profissionais precisam desenvolver e sobre a questão social mediante ao mercado de trabalho. Também serão apresentados o trabalho e o Serviço social, bem como o processo de trabalho que todos estão inseridos. Por fim serão apresentadas as mudanças sociais ou, como abordado por Iamamoto, as transformações societárias que, de certa forma, ampliaram o mercado de trabalho para os assistentes sociais. Já na Unidade II será destacado sobre a formação profissional, serão abordadas algumas reflexões iniciais na contemporaneidade, destacando os desafios que a categoria enfrentou ao reconstruir o projeto de formação. Entre os anos 1960 a 1980, a profissão passou por um processo de ruptura com a prática conservadora enraizada nas práticas profissionais, necessitando rever o projeto de formação. Durante esse percurso houve conquistas, mas também dilemas que são relevantes para que se possa entender todos os fatos históricos que envolvem o projeto de formação profissional; atualmente destacam-se algumas exigências e perspectivas sobre a formação. É evidente que nesse percurso o debate sobre os temas abordados no movimento de reconceituação foi importante para entender a política de prática acadêmica que foi muito bem apresentada no método de BH. Na sequência, será estudado na Unidade III que, para entender o projeto profissão, foi preciso buscar a concepção de mundo, entendendo as quatros notas e os tipos de con- cepção. Você deve estar se perguntando o porquê de estudar isso. Ora, caro(a) aluno(a), o Serviço Social por si só traz uma bagagem histórica que fundamenta as bases teóricas e metodológicas da profissão. Para entender tudo que está ao redor da profissão, é preciso entender o contexto histórico e a concepção de mundo sobre o processo histórico que tem o ser humano como ponto principal. Fique tranquilo(a), pois esse assunto está descrito na primeira parte da unidade. Depois estudará sobre a crítica que Marx fez em seu livro o Capital - volume 01 sobre a economia política que envolve a relação capital X trabalho. Em seguida entenderá o conceito de trabalho e práxis, de forma separada. Por fim, o projeto profissional e o motivo da emancipação humana ser considerada para além do direito e da cidadania burguesa. E em nossa Unidade IV entenderá sobre o termo “quefazer profissional”, porque e quando surgiu esta dúvida e como o fazer profissional é realizado atualmente. Em seguida serão apresentados os quatro projetos considerados importantes. O primeiro é o que funda- menta as bases teóricas, éticas, políticas e metodológicas da profissão e, por este motivo, foram escolhidas as dimensões ético-política e teórico-metodológico frente aos diferentes projetos. Para finalizar, destacamos quatros pontos importantes para refletir sobre alguns questionamentos, com a finalidade de encontrar respostas sobre a profissão. Espero que o conteúdo desta apostila contribua no seu crescimento enquanto futuro(a) assistente social. Bons estudos e até a próxima. Prof.ª Irení Alves de Oliveira SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 4 O Trabalho Profissional na Contemporaneidade UNIDADE II ...................................................................................................33 Formação Profissional na Contemporaneidade UNIDADE III ..................................................................................................no governo e nas relações com a classe trabalhadora. Essas transformações são iminentes, acompanhado a um claro ajuste de fundos públicos, favorecendo a sociedade capitalista, sendo propícios à reprodução do trabalho, retraindo os investimentos governamentais para a seguridade social e o emprego. Esse processo reflete na reorganização da política industrial e neoliberal caracterizada pelo modelo de regulação econômica internacional fordista/keynesiana, como mostrar refração clara no processo de trabalho (IAMAMOTO, 2012). Caro(a) aluno(a), é por meio desse contexto que se pode entender o debate em todos os campos culturais pós-modernismo que começou na década de 1970. Observado no mundo contemporâneo, o enfrentamento da crise e o próprio processo de acumulação capitalista, que a autora destaca como as mudanças no mundo do trabalho, apresentando novos desafios e considerando a formação profissional de assistentes sociais como algo importante. Nas palavras de Harvey (1992) a dificuldade em conter as contradições inerentes ao capitalismo é entendida como a rigidez do capital fixo, ou seja, este sistema acaba tendo o controle do trabalho e do mercado, com isso tem-se o aumento nos indicadores em relação a produtividade e a elevação da taxa de lucro do capital, além do apoio do Estado que por sua vez reduz os fundos fiscais para apoiar o chamado “estado de bem-estar”, sendo responsável por fornecer e implementar comportamentos sociais que podem corrigir a exclusão social e as condições para o bem coletivo, legitimando o próprio Estado. Desta forma, Iamamoto (2012) destaca que é preciso buscar reverter o efeito desse processo que acaba causando diversos problemas sociais, em outras palavras, é o mo- mento de racionalizar a produção e a industrialização, analisando os ajustes estruturais e 38UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade fortalecendo o trabalho, questionando sobre a produção e o consumo em massa advinda pelo padrão fordista, que traz não apenas a mudança tecnológica, mas a introdução de novas linhas de produtos, mercados e liquidez regional de capital, tendo funcionários fáceis de controlar, a consolidação de capital e medidas destinadas a acelerar o turnover. Para Harvey (1992), a flexibilidade do fluxo de trabalho; mercado de trabalho; produtos e métodos de consumo são características do departamento de produção, novo método de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados, especialmente altas taxas de juros para fortalecer negócios, tecnologia e inovação organizacional. Com isso, a acumulação flexível envolve mudanças rápidas e o desenvolvimento desequilibrado entre departamentos e regiões, criando um extenso movimento para o emprego, bem como novas indústrias subdesenvolvidas. Neste aspecto, Tapia (1994) destaca que as grandes empresas acabaram estabe- lecendo um processo horizontal com um modelo mais enxuto, que criou uma rede ao seu redor com pequenas médias e um processo mais mecanizado. Esse formato estabelecido em muitas empresas, principalmente de médio e grande porte, acarretou o processo de exclusão da mão-de-obra qualificada e, consequentemente, gerou o desemprego e a pre- carização nas relações de trabalho. A partir dessas estruturas implantadas na sociedade, a partir do sistema capitalista, é que há grandes implicações na construção estrutural no mundo do trabalho. SAIBA MAIS O processo de transformações, que vêm ocorrendo no “mundo do trabalho”, altera subs- tancialmente a demanda de qualificação de profissionais de Serviço Social, tornando necessário que adquiram uma centralidade no processo de formação profissional, por- que têm uma centralidade na contemporaneidade da vida social Fonte: Iamamoto (2012, p. 180). O desenvolvimento da formação profissional permite que os assistentes sociais compreendam criticamente a tendência atual de expansão capitalista e sua influência nas mudanças de funções tradicionalmente atribuídas à indústria e tipo treinamento necessário 39UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade para produção e nova modernização, bem como as formas de gestão do trabalho. Isso ilustra a mudança nas condições de trabalho e vida dos colaboradores considerado como alvo dos serviços profissionais, bem como as demandas alocadas no ambiente empresarial, por exemplo. É evidente que esses fatores são considerados como desafios na reconstrução do projeto de formação profissional, que deve estar claro quanto às mudanças referem-se à conversão da atuação no campo da política social, por meio do ajuste nas diretrizes e ações governamentais para responder uma crise compatível com os padrões neoliberais das organizações internacionais, especialmente do fundo monetário internacional. De acordo com Chauí (1995), a declaração neoliberal se encaixa como uma luva na política brasileira revivida aos preceitos da privatização, considerada como uma tradição autoritária exclusiva do estado. Com isso, temos uma sociedade hierárquica na qual há uma relação de controle quanto aos direitos sociais, o que pode caracterizar como um desafio na reconstrução da formação profissional. Não ter entendimento quanto aos pontos tratados até aqui pode gerar dificuldades no momento da atuação. 1.2 Conquistas e Dilemas no Projeto Profissional nos Anos 1980 Caro(a) aluno(a), considerando o debate sobre formação profissional na década de 1980 é que irei apresentar as principais conquistas e os problemas enfrentados pela categoria. Para entender esses pontos, aprofundarei nas teorias da Iamamoto, uma grande referência para compreender o processo formativo. Iamamoto (2012, p. 185) destaca que “os rumos assumidos pelo amplo debate efetuado na década de 1980 apontaram, ainda, para o privilégio - ainda que a não exclusivi- dade - de uma teoria social crítica, desveladora dos fundamentos da produção e reprodução da questão social”. Ou seja, desenvolver um perfil que pudesse configurar as habilidades 40UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade técnicas e políticas em resposta do fazer profissional de forma mais eficaz e competente, reunindo forças sociais para defender cabalmente a democracia. A primeira conquista a ser destacada é sobre a base do processo formativo que tem afirmado a necessidade de orientar a formação profissional para estabelecer uma imagem profissional com habilidades teóricas e críticas, adotando um método consistente em rela- ção ao enfrentamento dos problemas sociais enraizados na sociedade fundamentada em teorias de grandes filósofos. A outra conquista foi a construção de um novo Código de Ética Profissional, que está em vigor até os dias atuais, interligado ao processo de formação profissional dos as- sistentes sociais. Dentro das discussões sobre a formação profissional também se encontra como eixo necessário o contexto histórico, teórico e metodológico do Serviço Social que tem como base explicar o processo constitutivo da profissão. Tem como objetivo principal a compreensão da relação entre o Estado, a sociedade e o mundo do trabalho. Cabe destacar que a história social é considerada algo determinante para a trajetória do Serviço Social, expressamente ligado à prática e à teórica, Entende-se que a profissão está condicionada à totalidade, principalmente nas variantes relações que envolvem a produção/ reprodução da vida social, que, de certa forma, acaba sistematizando as ações profissionais. Em relação aos dilemas enfrentados pela categoria, refere-se primeiramente ao dis- tanciamento sobre as bases teóricas sistemáticas e metodológicas que envolvem a prática profissional cotidianamente. Como destacado por Martinelli (1993), o anseio de trabalhar com as mediações nos campos de atuação pode possibilitar ao profissional refletir de forma isolada, elevandoos níveis da singularidade em relação ao fazer profissional, o que torna o desenvolvimento no seu aspecto mais amplo. Para não cair nessa armadilha é preciso compreender as dimensões de forma mais universal, buscando a lógica que as particularida- des devem ser tidas na singularidade após uma análise do contexto social atual. Outro dilema encontrado é dentro do âmbito do ensino, que pode encontrar uma lacuna em relação às estratégias e táticas sobre a instrumentalização da ação profissional. Nesse sentido, é preciso compreender a dificuldade em relação ao fazer profissional, pois a falta desse entendimento poderá levar aos mitos do tecnicismo e à dificuldade ao realizar o fazer profissional. E, por fim, o último problema está relacionado diretamente ao manuseio prático dos profissionais em investir na produção e pesquisa acadêmica, sabendo que os assistentes sociais atuam nos diversos campos sócio-ocupacionais, mas não investem na pesquisa o 41UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade que pode dificultar no fazer profissional, principalmente ao entender os problemas sociais que fazem parte da atuação profissional cotidiana. 1.3 O Projeto de Formação Profissional na Contemporaneidade: Exigências e Perspectivas Caro(a) aluno(a), compreender as contradições postas na sociedade é a premissa para estabelecer o projeto de formação profissional, comprometido com a formulação e implementação de políticas sociais, além de acompanhar a dinâmica do mundo do trabalho e seu mercado. Uma das exigências que podem ser vistas na reconstrução do projeto da formação profissional é a iniciativa aos assistentes sociais de progredir nas condições de vida da classe trabalhadora e suas formas de luta e organização, além de captar os problemas explícitos na sociedade. Para isso, é importante que os profissionais não demonstrem interesses voltados somente para a organização em que estão inseridos, mas que busquem a articulação entre os trabalhadores no sentido de garantir os direitos. Para isso, é preciso buscar um desejo intenso quanto ao fazer profissional e evitar criar resistência mediante a situação posta no momento da atuação, estando preparado em relação aos problemas sociais que devem ser enfrentados. De acordo com a Iamamoto (2012, p. 198), “isso implica a ruptura com o papel tutelar, por vezes escondido em um discurso de sua negação - que demarca as ações burocratizadas, tecnicistas e tradicionais do assistente social”. Ou seja, a falta por busca de conhecimento mediante a situação posta ao profissional pode levá-lo ao status de negação e/ou realizar atividades que não são condizentes ao assistente social. Com isso o profissio- nal acaba se dispondo de uma relação de afastamento com o usuário por estar diante de 42UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade um fato estranho. Nesse sentido, exige-se que o profissional busque pelo conhecimento, que, de certa forma, o levará a outro patamar, além de saber o que está exposto no seu co- tidiano e entender a dinâmica na sociedade, o que torna essencial na atuação profissional. Sendo assim, compreender a prática e o projeto de formação profissional pode fazer toda a diferença. No que se refere à perspectiva do projeto de formação profissional, é preciso en- tender que as condições apresentadas para os novos assistentes sociais é o que fará a diferença para que consigam constituir uma nova cidadania como estratégia política que administre uma cultura pública e democrática, não recorrendo ao individualismo. Nesse aspecto, pode-se considerar que a cidadania se concentra na integração da política gradual no direito de exercer em sociedade. Esse processo é explicado na busca pela conversão de espaço, atualmente regis- trado na área de política social, ampliando sua possibilidade de ser ocupado pela sociedade civil. Ampliar os canais de intervenção da população na gestão de materiais é opor-se à tendência de privatização das relações sociais; persistir na história política do Brasil é a forma de minimizar os assuntos públicos. O maior grau de Estado emerge e o maior grau de privatização da sociedade. Neste sentido, Iamamoto (2012) enfatiza que o Serviço Social tem condições e po- tenciais que privilegiam a prática, pois está intimamente relacionado ao cotidiano da classe trabalhadora. Para reproduzir a prática profissional no caminho traçado requer estudos frequentes e conhecimento para fornecer subsídios necessários no momento da atuação profissional. Nesse sentido, é preciso que os profissionais estejam engajados nos assuntos abordados nas universidades e participem de eventos que possam agregar entendimento ao que se pretende almejar, tendo embasamento teórico que permite a excelência na exe- cução do trabalho, contribuindo no novo desenvolvimento histórico. 43UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 2. O DEBATE CONTEMPORÂNEO DA RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: AMPLIAÇÃO E APROFUNDAMENTO DO MARXISMO Caro(a) aluno(a), compreender as particularidades do Serviço Social brasileiro é fundamental no processo de formação profissional, principalmente no âmbito da herança marxista, em consonância com o Movimento de Reconceituação, conforme refletido pela categoria profissional latino-americano entre os anos de 1965 a 1975. Nesse sentido, apresentarei de forma breve os principais fatos históricos do Movi- mento de Reconceituação que, de certa forma, são considerados por Iamamoto (2012) como um legado para a profissão; destacando que as temáticas foram a bases para os fundamentos históricos e teóricos do Serviço Social e a renovação da categoria na contemporaneidade. É importante destacar que a profissão é entendida como um produto histórico, logo, adquire o sentido de compreensibilidade na história da sociedade, sendo parte e expressão dela. Por este motivo o Serviço Social é considerado como uma profissão especializada no trabalho coletivo, inscrita na divisão social e técnica do trabalho, passando a dar ênfase na necessidade histórica advinda das relações sociais. Portanto, o seu significado deriva da relação entre classes a partir das diversas expressões da questão social. Cabe ao profissional de Serviço Social decifrar os problemas sociais causados pela sociedade capitalista. A partir deste viés é que vamos nos aprofundar, entendendo o legado da profissão. 44UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 2.1 Movimento de Reconceituação: o Legado da Profissão O processo de formação profissional em Serviço Social na América Latina surge no Chile, no ano de 1925. Segundo Castro (2000), a primeira escola de Serviço Social, funda- da por Alejandro Del Río, tem a sua origem unificada à ação do Estado e da Igreja católica, porém com uma ligação mais densa na expansão estatal. A lógica era formular um plano claro para a classe dominante, parte da fase aguda da luta de classes, graves dificuldades financeiras e crise nacional. Nessa mesma perspectiva é que a escola de Serviço Social é fundada em outros países, como no Brasil, em 1936, no Uruguai e Peru, em 1937, e na Argentina, em 1940. Acredito que você deve estar se perguntando o que o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social tem a ver com o Movimento de Reconceituação. Ora, caro(a) aluno(a), a proposta por trás das primeiras escolas de Serviço Social era atender as necessidades do Estado e da sociedade capitalista por meio das interven- ções na luta de classes, ou seja, atendendo aos interesses dominantes, tendo uma postura conservadora e tradicionalista. Postura essa que só muda com o processo de renovação do Serviço Social, na segunda metade da década de 1960, com o Movimento de Reconceitua- ção do Serviço Social na América latina, expressando crítica ao Serviço Social tradicional. De acordo com Faleiros (1987, p. 51), “a ruptura com o Serviço Social tradicionalse inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora e explora- dora”. O processo de ruptura do Serviço Social tradicional foi tão denso que durou quase duas décadas. Acosta (2008) destaca que o Movimento de Conceituação aconteceu no Brasil, em Porto Alegre, no ano de 1965, no I Seminário Regional Latino-Americano de Ser- viço Social, consequentemente nos seminários dos demais países, como Uruguai (1966); Argentina (1967), Chile (1969), Bolívia (1970), repetindo em Porto Alegre (1972). 45UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade Segundo Iamamoto (2012, p. 205), “o movimento de reconceituação, tal como se expressou em sua tônica dominante na América Latina, representou um marco decisivo no desencadeamento do processo de revisão crítica do Serviço Social no continente”, princi- palmente pelo fato dos profissionais se aproximarem da teoria marxista, sendo necessário que a categoria debatesse sobre as bases teóricas da profissão. Todo movimento tem como fonte a emancipação de direitos. Na busca por conquis- tá-los, pode extrair pontos positivos ou negativos, principalmente quando esse movimento envolve uma categoria profissional que atua diretamente na sociedade. Para entender me- lhor, destaquei quatro conquistas e três equívocos com o Movimento de Reconceituação, baseada nas teorias de Netto (2005b). QUADRO 1 - CONQUISTA E EQUÍVOCOS CONQUISTA 01 A articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana: sabe-se que, entre os assistentes sociais latino-americanos, um ativo intercâmbio veio ocorrendo desde 1940; esta interação, todavia, realizava-se notadamente sob a inspiração de instituições confessionais que instrumentalizavam o Serviço Social ou, a partir de 1950, sob a tutela de organização dos Estados Americanos (OEA); com a Recon- ceituação se põe na ordem do dia um intercâmbio e uma interação profissional di- ferentes, apoiados no explícito reconhecimento da urgência de fundar uma articula- ção profissional continental que respondesse às problemáticas comuns da América Latina, uma unidade construída autonomamente, sem as tutelas confessionais ou imperialistas. Em poucas palavras, a continentalidade reivindicada era a de Martí e Vasconcelos, não a de Monroe ou Roosevelt. CONQUISTA 02 A explicitação da dimensão política da ação profissional: como toda expressão con- servadora, o tradicionalismo do Serviço Social ocultava a dimensão política da ação profissional numa pretensa assepsia ideológica. O tradicionalismo profissional foi, sempre, visceralmente político, tão visceral quanto inconfessado. Coube à Recon- ceituação, desde os seus primeiros passos, trazer à luz do dia a dimensão política que é constitutiva de qualquer intervenção social; e porque em geral o fez pela esquerda, o tradicionalismo que jamais recusaram a politização pela direita comba- teu-a incansavelmente. CONQUISTA 03 A interlocução crítica com as ciências sociais: o “Serviço Social tradicional” cons- truía como um receptáculo passivo, um vazadouro acrítico dos produtos das ciên- cias sociais acadêmicas (notadamente norte-americanas); a Reconceituação, incor- porando a crítica do tradicionalismo, lançou as bases para uma nova interlocução do Serviço Social com as ciências sociais, abrindo-se a novos influxos (inclusive da tradição marxista) e sintonizando-se com tendências diversificadas do pensamento social então contemporâneo. 46UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade CONQUISTA 04 A inauguração do pluralismo profissional: o monolitismo próprio do tradicionalismo foi subvertido pela Reconceituação com ela, rompeu-se o viés segundo o qual a pro- fissionalidade implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas, a Reconceituação concedeu carta de cidadania a diferentes concepções acerca da natureza, do objetivo, das funções, dos objetivos e das práticas do Serviço Social, inclusive como resultado do recurso a diversificadas matrizes teórico-metodológi- cas. EQUÍVOCOS 01 A correta denúncia do conservadorismo próprio do tradicionalismo, disfarçado em “apoliticismo” conduziu, muitas vezes, a um ativismo político que obscurece as fron- teiras entre a profissão e o militanismo de onde, por vezes, a hipostasia das dimen- sões políticas do exercício profissional, posto então como um ofício heroico e/ou messiânico. EQUÍVOCOS 02 A recusa às “teorias importadas” (resposta, num primeiro momento, ao hegemonis- mo das ciências sociais acadêmicas norte-amercicanas) derivou numa relativização da universalidade teórica que, no limite, infirmava a validade da teorização produ- zida noutras latitudes, redudando na valorização da produção teórica “autóctane”, presumidamente mais “adequada” às nossas particularidades histórico-sociais. EQUÍVOCOS 03 O confucionismo ideológico, que procurava “sintetizar” as inquietudes da esquerda cristã e das novas gerações revolucionárias “não-orgtodoxas” e “não-tradicionais” (uma vez que, na generalidade dos casos, a esquerda “tradicional” ou “ortodoxa”, quase sempre conotada pela pertinência aos Partidos Comunistas latino-america- nos, pouco participou do processo), acabou por engendrar a eclética mistura de Ca- milo Torres, Guevara e Paulo Freire com Louis Althusser e Mao Tse-Tung. Curiosa e paradoxalmente, a Reconceituação, que abriu o diálogo do Serviço Social como a tradição marxista, recolheu desta, quase sempre, o que nela havia de menos vivo e criativo. Fonte: Netto (2005b, p. 11-13). Caro(a) aluno(a), é evidente que o Movimento de Reconceituação teve outras con- quistas e até mesmo equívocos, mas vamos nos atentar a esses apresentados, entendendo o quão importante foi para a categoria, considerado como um marco, principalmente pelo fato da profissão romper com o conservadorismo e tradicionalismo que estava enraizado no processo formativo profissional. Certamente ainda há muito para melhorar, mas não podemos esquecer do que já foi conquistado. 47UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 2.1.1 O movimento de reconceituação no Brasil No ano de 1964 começa no Brasil a ditadura militar, durando até o ano de 1985 e deixando uma herança desastrosa na população. Com um regime opressor não foi difícil de entender que o Movimento de Reconceituação iniciasse no território brasileiro, tendo im- pacto peculiar na “renovação do Serviço Social com exigências próprias do projeto ditatorial e permitiu a consolidação de um perfil de profissionais bastante diverso do tradicionalismo” (NETTO, 2005b, p. 16). No entanto, não foi somente com o regime opressor da ditadura militar que a renovação do Serviço Social aconteceu, mas um misto de fatores históricos advindo do quadro da autocracia burguesa, além da relação complexa que a categoria adquiriu desde o surgimento da profissão levando legitimidade a colapso da forma tradicional e conserva- dora, levando a categoria a busca pela identidade profissional além da “fundamentação e legitimação para as suas concepções profissionais” (NETTO, 2005b, p. 141). De acordo com Iamamoto (2004), a identidade profissional é formada a partir de um certo pano de fundo histórico e tem novas conotações com o desenvolvimento das sociedades nacionais. Se a imagem dos judeus, da justiça moderna e da caridade, em sua trajetória, marca o serviço social, então se desvelou o movimento de revisão do setor em nível latino-americano, denominado Movimento de Reconceituação do Serviço Social, con- siderado como um marco para a profissão que está bem presente na literatura profissional mais recente como forma de entender um fato histórico e divisor de águas para a profissão. Neste sentido Netto (2005a, p. 17) destaca que É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentirno Brasil as ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma crítica radical do tradicionalismo - e essas ressonâncias reverberam tanto mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, como claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem dos anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário-sindical e o 48UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade protagonismo dos chamados novos sujeitos sociais, abriu novas perspectivas para os assistentes sociais que pretendiam a ruptura com o tradicionalismo. E estes assistentes sociais investiram fortemente em dois planos: na organi- zação da categoria profissional e na formação acadêmica. Nesse aspecto, a formação profissional requer um suporte teórico e metodológico sólido, necessário à reconstrução da prática e ao estabelecimento de estratégias de ação, mas também à preparação no campo da investigação para melhorar a qualificação cien- tífica dos assistentes sociais e do eixo privilegiado da produção, principalmente na teoria das questões relacionadas ao seu campo de atuação e à realidade social mais ampla. Para os assistentes sociais, a concretização dessa visão também precisa superar a óbvia indefinição da profissão, formulando o currículo, o que tende a exprimir uma variedade de disciplinas, porque os temas básicos ou eixos claros não as consideram. Nesse sentido, a definição do Serviço Social desempenha um papel decisivo na formação acadêmica e um “sólido suporte teórico-metodológico, necessário à reconstrução da prática” (IAMAMOTO, 2004, p. 164). Certamente, as condições históricas que aconteceram no Brasil entre as décadas de 1960 a 1980 devem ser consideradas como algo importante para a categoria profis- sional, pois foi a partir desses fatores que tivemos a crítica ao tradicionalismo baseada na restauração das conquistas do escotismo, apropriado a descrever o desenvolvimento de um Serviço Social crítico no país tendo o Movimento de Reconceituação com a base fundamental para uma análise marxiana. 2.1.2 A perspectiva crítico-dialética De acordo com Iamamoto (2012, p. 210), “o encontro do Serviço Social com a perspectiva crítico-dialética deu-se por meio do filtro da prática político-partidária, por meio 49UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade dela muitas inquietudes foram transferidas da militância política para a prática profissional”. Ou seja, a categoria precisou mudar o seu posicionamento mediante à preocupação que a categoria estava vivenciando, precisando estabelecer na identidade a prática profissional. A autora supracitada enfatiza que a primeira aproximação com a crítico-dialética levou ao compromisso político dos profissionais, que mostra a necessidade de uma pers- pectiva de classe ao analisar os papéis sociais, principalmente a profissão inserida na so- ciedade. Essa perspectiva é apenas a prática e a política provarão que não são suficientes para mostrar o patrimônio intelectual do Serviço Social e sua prática nos jogos da relação com o poder do Estado com o movimento da classe social. Tais requisitos não dependem apenas do comportamento moral político, mas tam- bém assumem que existe uma consciência teórica que pode descrever o processo social e a consciência teórica que surge das relações econômicas e da luta do povo, exigindo da categoria um conhecimento científico amplo e crítico por meio dos debates teóricos que levam à construção de uma teoria que atenta aos profissionais. Iamamoto (2012, p. 2012) destaca que houve “outra característica desse encontro do Serviço Social com a tradição marxista decorre dos condutos teóricos pelos quais se processou tal aproximação”, mas não se destinou aos recursos clássicos e atuais e não teve uma abordagem concisa quanto à teoria crítica do marxismo oficial. Em vez disso, buscou em outras fontes pela militância política, apreciando outras abordagens teóricas, moldando a reconceituação por meio dos múltiplos “marxismo”, ou seja, houve uma aproximação da teoria de Marxista, mas sem o Marx. Neste sentido, o movimento de reconceitualização se viu preso à uma antiga contra- dição “epistemologia de esquerda e direita”. Essa fantasia potencial também é a produção de consciência teórica pela luta de classes, dirigida direta e unilateralmente pela vontade política, destacando dois dilemas dentro da prática profissional: o fatalismo – inspirado pela explicação da vida social naturalizada, além da subjetividade humana – e o messia- nismo – ligado a um propósito individual com a perspectiva voluntária, sem divulgação de movimentos sociais que integram a prática profissional a este movimento. Essas são algumas das características advindas do Movimento de Reconceituação. No Brasil não foi diferente em relação às expressões isoladas e da subjetividade humana. É evidente que o processo de ruptura com o conservadorismo não aconteceu da noite para o dia, foi preciso muito estudo, estabelecendo um extenso processo de aprofundamento teórico, que aconteceu com os documentos dos seminários (Araxá, em 1967, Teresópolis, em 1970, Sumaré, em 1978, e Alto da Boa Vista, em 1984). Iamamo- 50UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade to (2012) enfatiza que o desenvolvimento crítico é causado pela história inédita e pelas condições profissionais da sociedade brasileira, criando o ponto de ruptura que pode ser localizado em dois importantes campos: na crítica marxista ao próprio marxismo e na base do marxismo e do fundamento do conservadorismo e ajuste de interpretação da história profissional. 2.2 O Debate Brasileiro Contemporâneo e a Tradição Marxista Caro(a) aluno(a), não existe dúvida de que a história do Serviço Social, de certa forma, assumiu gradativamente o debate do quadro de crise brasileira. Mas foi a partir da ditadura militar que surgiu a contribuição decisiva na luta pela ampliação da fundação metodológica e teórica da profissão. De acordo com Iamamoto (2012), houve um marco simbólico que reposicionou a direção da categoria, acontecido no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em São Paulo, “Convenções do Anhembi”, em 1979. Nessa reorganização, a comissão de honra composta pelos ministros de estado consiste em trabalhadores brasileiros; na reu- nião de encerramento, ministros, metalúrgicos e líderes do movimento popular. A Proposta era expandir pela maioria dos membros do Congresso a reflexão sobre as posições dos profissionais que acreditam que a fusão é essencial, capacitação profissional para a luta dos trabalhadores na busca pela conquista dos espaços sócio-ocupacionais. Nesse aspecto, a autora supracitada considera que o Serviço Social é marcado pelo caráter crítico, tanto na interação com as forças sociais quanto os movimentos pre- sentes no cotidiano da atuação profissional, independente se estão ligadas às vertentes não-marxistas e/ou marxistas. De qualquer forma, a vertente marxista passou a fazer parte dos debates no seio da categoria. Isso indica que à medida que o Serviço Social modifica a direção ao “marxismo” é purificado o ecletismo original e revelado o conteúdo oculto. A 51UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade primeira aproximação pode ser entendida como análise e intervenção profissional mais sólida, portanto, expande o aprofundamento do marxismo no Serviço Social brasileiro e a sua teoria passa a ter resultados reais para a categoria. Se o Movimento de Reconceitualização proporcionou uma aproximação com a teo- ria marxista, logo, o trabalho provém de uma derivação clara do marxismo. Sobre a análise do Serviço Social no Brasil na década de 1980, é possível considerar uma colisão com a tradição marxista, ou seja, a produção de Marx estabelece pensar em uma sociedadeque de lado tem o capitalismo, que utiliza da mão-de-obra para fortalecer a produção e reprodução da matéria, e do outro lado temos o Estado, que cria mecanismo para atender os problemas sociais, voltado para os interesses estatais. Desta forma, o encontro do Serviço Social com a teoria marxista é considerado im- portante para a categoria profissional, rompendo com os laços tradicionais e uma herança conservadora. Principalmente pela vertente marxista ser considerada como uma teoria crí- tica, que envolve ao mesmo tempo a análise histórica da profissão na sociedade brasileira, promovendo uma análise mais profunda sobre os fundamentos teórico-metodológicos do Serviço Social. Iamamoto (2012) apresenta dois eixos importantes de grande debate para a cate- goria profissão em relação a teoria marxista, sendo eles: a) a crítica teórico-metodológica tanto do conservadorismo como do marxismo vulgar, colocando a polêmica em torno das relações entre teoria, história e método, com claras derivações no âmbito da formação profissional, abordando pontos essenciais para que a categoria pudesse discutir; e b) a construção da análise da trajetória histórica do Serviço Social no Brasil. Com essas temá- ticas fica evidente que a profissão precisou estabelecer, nas raízes da profissão, estudos mais concretos e sólidos com desenvolvimento mais profundo, reconstruindo a história da profissão a partir da evolução e mudança na sociedade, entendo que todos os fatores histó- ricos foram e são fundamentais para entender o processo formativo na contemporaneidade. 52UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 3. POLÍTICA DE PRÁTICA ACADÊMICA: O MÉTODO BH Caro(a) aluno(a), para entender sobre a política de prática acadêmica, faz-se necessário destacar sobre a análise que a Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora (UFJF) realizou após a aprovação da nova proposta do currículo mínimo, considerando que prática passou a fazer parte de um vasto processo em relação a proposta da formação profissional, construída de forma coletiva e envolvendo diferentes etapas. O objetivo era entender a ampla ligação no ensino teórico e prático, além da pesquisa e extensão, que se resume em uma sequência de debates ao longos dos anos 1970/80, tendo o envolvimento dos professores e alunos como forma de melhorar o projeto acadêmico e profissional a partir das transformações na sociedade, como forma de enten- der a nova dinâmica da sociedade capitalista no mundo contemporâneo. Com a nova proposta do currículo mínimo para o curso de Serviço Social, no ano de 1996, a UFJF se antecipou em implementar as políticas de prática acadêmica em con- soante às diretrizes curriculares da ABEPSS, sendo a base para o entendimento da nova formação profissional. 53UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 3.1 Os Fundamentos da Política de Prática Acadêmica Um dos elementos essenciais da formação é a base para formular a política da prática acadêmica, é a particularidade do sistema universitário, a sua natureza pública, como local privilegiado de formação profissional. Há uma visão que as instituições de ensino superior devem desempenhar papel fundamental pela busca do conhecimento e qualificações especializadas para atender às necessidades do mercado de trabalho e neste sentido as universidades assumem um papel importante na sociedade. Segundo Iamamoto (2012), a nova proposta do currículo de graduação em Serviço Social elaborado pela antiga Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS) – atual Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) – é fruto de um grande acúmulo de debate sobre a formação profissional. Para isso foram necessárias muitas trocas de experiências para obter os resultados acadêmicos esperados. A proposta para desenvolver o projeto de formação ocorreu por meio do reconhe- cimento do Serviço Social como uma profissão especializada no trabalho coletivo, sendo parte fundamental da divisão técnica social do trabalho. A questão social é considerada como a base fundamental para a profissão, tendo como proposta relevante entender as teorias metodológicas que permitem decifrar o seu processo social, um elo indissociável entre co- nhecimento e realidade, analisados a partir das atividades realizadas na ação profissional. Com isso, o assistente social consegue encontrar situações específicas a partir do objeto de trabalho, considerando as situações postas na sociedade para compreender o fenômeno social específico com o qual os profissionais precisam lidar diariamente de acordo com a realidade vivenciada, podendo desencadear a possibilidade de mudança, decifrando o processo sociais, seja nas decisões gerais ou como sua expressão específica, superando a lacuna entre os discursos teóricos gerais sobre a sociedade e o capitalismo. É importante destacar que há uma preocupação dentro da categoria em relação à prática acadêmica, que está relacionada ao ensino a partir das três dimensões: teórico- 54UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade -metodológico, ético-político e técnico-operativo, sendo que estão relacionadas à atividade de cunho curricular, considerada de caráter obrigatório, aqui podemos destacar a atividade - estágio que é considerada como um espaço privilegiado de contato direto do acadêmico com o cotidiano profissional, onde vivencia a experiência profissional (assunto que vamos nos aprofundar mais a frente). A proposta de formação profissional em Serviço Social é também a criação do perfil profissional a partir das qualificações, teorias e práticas, entendendo os métodos e funda- mentos da instrumentalidade técnica. O objetivo é reconhecer o ensino prático, com base nas três dimensões mencionadas, entendendo que a formação também envolve o ensino e a pesquisa. Os trabalhos acadêmicos são peça fundamental para entender o processo de formação, expandindo a perspectiva interdisciplinar, sendo fundamental o entendimento que o Serviço Social não deve ser considerado como trabalho, mas é incluído na divisão social e técnica na realidade histórica do país. Caro(a) aluno(a), é preciso entender que os problemas sociais também devem fazer parte do processo formativo e entender que as lutas sociais, as políticas sociais públicas e os serviços privados não devem ser entendidos de forma isoladas, pois é a partir do entendimento desses fatores com bases teóricas que se pode chegar ao desenvolvimento, implementação e reformulação de fatores de intervenção política. A necessidade de realizar pesquisa deve surgir sempre que se depara com um problema social; a busca pelo conhecimento sobre a realidade deve ser inesgotável, tendo sempre uma postura investigativa permanente na prática profissional, mantendo sempre a postura de um profissional investigativo referente ao exercício profissional e as demandas que se deparar no cotidiano. Portanto, pode-se considerar que a política da prática acadê- mica inclui diferentes dimensões na vida universitária, sendo elas o ensino teórico e prático, pesquisa e extensão. 55UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 3.2 As Dimensões da Política de Prática Acadêmica Caro(a) aluno(a), a política de prática acadêmica é regida pela integração do ensino (teoria e prática), pesquisa e extensão, por meio das disciplinas contempladas no currículo e prática de centro temático de pesquisa, tornando-se o núcleo estratégia de expressão das três dimensões, consideradas indissociáveis dentro da prática nas instituições universitá- rias e para entender sobre as três dinâmicas destacarei a seguir baseado nas teorias da Iamamoto (2012). ● Extensão: é um processo educacional, cultural e científico que esclarece que ensino e pesquisa são indissociáveis e promovem essa relação, a transição entre universidadee sociedade. Uma série de atividades que estabelece uma conexão orgânica entre eles e os interesses e necessidades das universidades e da sociedade organizada em seus vários níveis. Portanto, uma das caracte- rísticas salientes das extensões é atender às necessidades sociais por meio de projetos e atividades de ensino e pesquisa, permitindo que as universidades cruzem fronteiras internas. Expansão da reificação e expansão do escopo público da organização Universidade – para a comunidade – democratizar e reverter atividades de fortalecimento da esfera pública. Portanto, a extensão não se limita em laboratórios ou em estruturas burocráticas das Universidade, imposta à população de alto a baixo, sem interesses e necessidades dos dife- rentes segmentos de mercado envolvidos, nem pode ser uma substituição para responsabilidades relacionadas ao poder público municipal e estadual. ● Pesquisa: desempenha um papel fundamental no processo de formação profissional de assistentes sociais, atividades privilegiadas de consolidação a conexão entre a educação universitária e a realidade social e método teórico e tamanho real da soldagem, nesse sentido o trabalho social é indissociável de 56UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade seus componentes éticos e políticos. Visto que o serviço social é uma profissão, a dimensão-hipótese da intervenção real tem base de metodologia teórica, com um recurso para explicar a vida social, para este fim possuir o legado de metodologia teórica deixado pelas ciências sociais e pela comunidade científica os direitos humanos e teoria social crítica como esclarecimento a realidade. É importante entender que a pesquisa só se concretiza quando se tem situações concretas consideradas essenciais para superar a perspectiva teórica da com- petência profissional e a matriz do pensamento. ● Ensino teórico-prático: a proposta de ensino profissional para embasar o novo currículo, estabelece uma organização para o ensino da teoria e prática do serviço social em três núcleos complementares da fundação, eles vêm juntos a um conjunto de conhecimentos necessários em diferentes níveis, compreender o trabalho dos assistentes sociais na sociedade presente é preciso entender o núcleo da teoria da vida e as bases metodológicas da sociedade, o cerne da base da história social da sociedade e o núcleo da base de trabalho profissional. Portanto é importante privilegiar o ensino teórico prático, bem como os grupos de pesquisas temáticas, o estágio de supervisão, trabalho de conclusão de cur- so, as oficinas por meio das disciplinas de pesquisa, estratégias e tecnologias em serviço Social. Entender as dimensões da extensão; pesquisa e ensino – teórico e prático – faz toda a diferença no processo formativo profissional, principalmente quando são destacados os métodos teóricos, metodológicos e operacionais por meio dos núcleos temáticos como forma de atender às demandas do mercado de trabalho, identificando novas necessidades sociais, o que torna expansão e diversificação do espaço de ocupação do Serviço Social. Você deve estar se perguntando o que são os núcleos temáticos. Ora, caro(a) aluno(a), os núcleos temáticos são os recursos que incorporam a extensão, pesquisa e ensino, conhecidos como instâncias pedagógicas. Normalmente são os professores do corpo docente, responsáveis pela organização da prática acadêmica re- lacionado ao estágio supervisionado obrigatório, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), as oficinas práticas e os seminários, voltado para as Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social redigido pelo Projeto Pedagógico do Curso (PPC). De acordo com a Iama- moto (2012, p. 282 - 283), os núcleos temáticos reúnem os seguintes requisitos referente à extensão, pesquisa e ensino teórico-prático. 57UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade a) Ao nível da extensão: programas, projetos e atividades de extensão uni- versitária. b) Ao nível da pesquisa: os projetos de pesquisa curriculares; realizados sob a orientação da disciplina de Pesquisa em Serviço Social; os projetos de pesquisas docentes e a iniciação científica. c) Ao nível do ensi- no teórico-prático: o estágio supervisionado, atividade curricular obrigatória que implica a inserção do aluno no espaço sócio-ocupacional, tendo em vista a capacitação para o exercício do trabalho profissional, o que requer supervi- são acadêmica e profissional sistemática; o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), monografia requerida como exigência para expedição de diploma e obtenção do grau de bacharel; as oficinas de prática, instâncias que propi- ciam aos discentes, nos períodos iniciais da sua vida universitária, oportuni- dades de ampliação de sua formação cultural e artística, de conhecimento e pesquisa sobre a questão social e uma aproximação à realidade profissional; as oficinas de supervisão, que realizam o acompanhamento acadêmico do estagiário, um dos recursos de integração entre o conteúdo das disciplinas curriculares e o estágio supervisionado, conforme os objetivos pedagógicos definidos por período do curso. Aos elementos supra referidos se acrescem as atividades complementares nas três dimensões citadas, envolvendo semi- nários, palestras, cursos, monitorias etc. (grifo nosso). Ou seja, o núcleo temático envolve as três dimensões por se tratar de requisitos importantes no processo formativo, como as atividades de extensão que prepara o aluno do curso de Serviço Social para o desenvolvimento de programas e projetos que são consi- derados importantes para o profissional. Depois temos o estágio supervisionado curricular obrigatório que, além de ser uma conquista, prepara o(a) estagiário(a) na criação do perfil profissional. E, por fim, o Trabalho de Conclusão de Curso, considerado como um trabalho importante para obtenção do diploma, assuntos que vamos entender melhor a seguir. 3.3 Processo Formativo na Contemporaneidade Caro(a) aluno(a), o Serviço Social passou por grandes mudanças em relação à atuação profissional, uma profissão advinda das práticas assistencialistas promovidas 58UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade pelas ações da igreja católica. Durante a Era Vargas passou a ser reconhecida como pro- fissão, tendo a primeira escola de Serviço Social no ano de 1936, porém deveria atender os interesses estatal e da sociedade capitalista. Mediante a tantos problemas sociais e um Estado totalmente autoritário (regime militar) é que a categoria profissional começou a repensar nas práticas profissionais. A partir do Movimento de Reconceituação é que houve as primeiras discussões sobre o processo formativo e as bases teóricas da profissão. Diante de todo esse breve resgate histórico é que destacarei o processo formativo na contemporaneidade, com foco no estágio supervisionado obrigatório e o trabalho de conclusão de curso. Acredito que você deve estar se perguntando por que iremos priorizar somente esses dois pontos. As demais disciplinas não são importantes? Caro(a) aluno(a), entenda que todas as disciplinas que compõem a matriz curricular do seu curso são importantes e, acredite, em algum momento irá desfrutar de alguma teoria ou prática vivenciada. Sendo assim, não deixe de estudar, ler e se aprofundar as obras dos autores referência, como a Marilda Villela Iamamoto, José Paulo Netto, Vicente de Paula Faleiros, Maria Lúcia Martinelli, Yolanda Guerra, Maria Cecília Minayo, Ivanete Boschetti, entre outros autores que auxiliam no processo formativo. Ah, não esqueça de acessar as resoluções do Serviço Social no site do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)! Mas, aqui, destacarei o Estágio supervisionado obrigatório e o TCC, porque compõem as três dimensões que estudamos anteriormente. Pois bem, antes de adentrar no assunto referente ao Estágio e ao TCC destacarei sobre as diretrizes curriculares do curso de Serviço Social.De acordo com a ABEPSS (s.d.), o processo de solidificação das diretrizes curriculares aconteceu no ano de 1996, advindo do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), realizado em 1979, conhecido como Congresso da Virada, após a criação das bases do Currículo Mínimo, que aconteceu no ano de 1982, considerado um marco para o processo formativo. No entanto, somente na convenção geral da ABESS (antiga ABEPSS), no ano de 1993, que houve a necessidade de revisar o currículo mínimo, de 1982, no entanto só foi efetivado no ano de 1996. REFLITA Entre 1994 e 1996 ocorreram diversos momentos coletivos envolvendo a comunidade acadêmica e toda a categoria profissional em um amplo e democrático debate sobre as Diretrizes Curriculares. Segundo o documento da ABESS/CEDEPSS de 1996 foram: 200 oficinas locais, em 67 unidades de formação acadêmicas filiadas à ABESS, 25 ofi- cinas regionais e 02 nacionais. Fonte: ABEPSS (s.d., on-line). 59UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade Segundo a ABEPSS (1996, p. 3), a proposta de Diretrizes Curriculares de 1996 tem “base na compreensão de que uma revisão curricular supõe uma profunda avaliação do processo de formação profissional face às exigências da contemporaneidade”. Dessa for- ma, foi promulgada a Lei 9394/1996, considerando apropriado o processo de padronização e definição das Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social. De acordo com a ABEPSS (s.d.), no ano de 1999 as Diretrizes Curriculares fo- ram elaboradas por uma equipe especialista, compondo as competências e habilidades, princípios da formação profissional, a nova lógica curricular, os tópicos de estudo, estágio supervisionado, trabalho de conclusão de curso (TCC) e as atividades complementares. Por fim e em vigência, há as diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social (Resolução nº 15, de 13 de março de 2002) aprovada pelo MEC (apresentada na íntegra no Material Complementar. Sugiro a leitura). O Estágio Supervisionado e o Trabalho de Conclusão de Curso devem ser desenvolvidos durante o processo de formação a partir do desdobramento dos componentes curriculares, concomitante ao período letivo escolar. O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se configura a par- tir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão será feita conjuntamente por professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de estágio elaborados em conjunto pelas uni- dades de ensino e organizações que oferecem estágio (ABEPSS, 2002). Considerando a informação apresentada, entende-se que ambos precisam ser realizados durante o curso em Serviço Social. Ou seja, caro(a) aluno(a), até o final deste curso você terá a oportunidade de realizar o estágio supervisionado curricular obrigatório e o trabalho de conclusão de curso (TCC). Acredito que são importantes e fundamentais para o processo formativo, principalmente pelo fato de ambos oportunizarem relacionar teoria e prática, aplicando todo o conhecimento adquirido nas outras disciplinas. Agora você entende por que o destaque foi para o estágio e o trabalho de conclusão de curso! É a partir do estágio e do TCC que você entenderá todo o processo formativo, ou seja, as metodologias estudadas, as bases teóricas e os instrumentos utilizados para compreender o trabalho profissional do Serviço Social na sociedade. Segundo Iamamoto (2012), o estágio supervisionado é uma atividade que faz parte do curso, considerada como obrigatória e sendo realizada por estagiários que estão em processo formativo e devidamente matriculados no curso de Serviço Social em uma unidade de ensino credenciada. A carga horária estabelecida pela universidade deve ser cumprida de acordo com as normativas e previsto no Projeto Pedagógico do Curso, poden- do ser realizada em qualquer campo de atuação profissional que tenha um assistente social 60UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade devidamente contratado no quadro de funcionários. Também é possível realizar projetos de extensão, recebendo as supervisões de assistente sociais. Os estagiários devidamente matriculados na(s) disciplina(s) de estágio deverão ser acompanhados por professor(es) da instituição de ensino em todo o processo, normalmente conhecido como supervisor acadêmico. O assistente social deverá inserir o(a) estagiário(a) e acompanhá-lo durante o cumprimento da carga horária, induzindo-o à reflexão sobre a teoria e prática. Em relação ao supervisor de campo, esse profissional deverá sistematizar as atividades que o(a) estagiário(a) irá realizar a partir do que foi acordado na unidade de ensino. Ele tem como função acompanhar todas as atividades acordadas, refletindo, juntamente com o(a) estagiário(a), sobre as bases teóricas e práticas para a criação do perfil profissional. Já o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um requisito fundamental para obter o diploma de graduação em Serviço Social, esse é o trabalho que os alunos precisam apre- sentar e sistematizar todo o conhecimento adquirido durante os anos anteriores. Destacando o resultado do processo de investigação da pesquisa teórica e prática, esse é o momento de uma formação profissional, por meio de uma temática que resume o processo formativo e a linha de pesquisa, refletindo nas experiências adquiridas com o estágio, sendo compreendido por meio de uma metodologia bibliográfica ou de campo (IAMAMOTO, 2012, p. 286) Caro(a) aluno(a), o motivo de abordar sobre o estágio supervisionado obrigatório e o trabalho de conclusão de curso (TCC) foi para entender o quão enriquecedor é para o(a) aluno(a) de Serviço Social. É por meio deles que tudo o que estudar poderá fazer sentido. Repito mais uma vez, fará toda a diferença no seu processo formativo, não é à toa que o estágio e TCC são considerados uma conquista no processo formativo. Mas fique tranquilo(a), no momento certo você irá entendê-los melhor. 61UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da segunda unidade e, é com alegria que des- taco a importância de estudar o processo formativo na contemporaneidade, as mudanças que, ao longo da trajetória histórica da profissão, nos proporcionaram grandes conquistas e aprendizados e o quão importante foi o Movimento de Reconceituação. Não podemos deixar de agradecer aos profissionais que lutaram e conquistaram o processo formativo que nos deparamos atualmente. Profissionais que entre os anos de 1960 a 1980 realizaram grandes debates que fundamentam as bases teóricas, metodológi- cas e técnicas da profissão e aprendemos no processo formativo. A partir dessa informação, vamos recapitular alguns pontos importantes estuda- dos nesta unidade, sabendo que foi dividida em três partes. Na primeira parte abordamos sobre a formação profissional na contemporaneidade, destacando pontos importantes que fortaleceram a profissão. Foi preciso romper com a visão endógena que acabou enfra- quecendo a categoria, permitindo que os assistentes sociais pudessem compreender, de forma crítica, as tendências atuais e a expansão do capitalismo e a sua influência nas mudanças da sociedade. Também foi destacado sobre o debate de formação profissional na década de 1980, apresentando as principais conquistas e os problemas enfrentados pela categoria e as exigências e perspectivas sobre o processo formativo, destacando os novos profissionais. Na segunda parte foi destacado sobre os debates, dando foco ao Movimento de Reconceituação, com ênfase no Brasil, movimento este que é considerado um marco para a categoria, principalmente por ter discutido sobre o processo formativo. Também foi destaca- do no debate a base teórica, tendo como dimensão marxistaa perspectiva crítica-dialética e a tradição marxista nos debates contemporâneos. Já na terceira e última parte desta unidade você, caro(a) aluno(a), estudou sobre a políticas de prática acadêmica, com foco no método da Universidade Federal de Juiz de Fora. Entendeu os fundamentos e as dimensões da política de prática acadêmica do Serviço Social a partir das atualizações na diretriz curricular, que aconteceu nos anos 1996, 1999 e 2002, vigente até os dias atuais. Essas atualizações na diretriz curricular do curso de Serviço Social foram uma conquista para o processo formativo. 62UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade LEITURA COMPLEMENTAR DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL RESOLUÇÃO Nº 15, DE 13 DE MARÇO DE 2002 Estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social. O Presiden- te da Câmara de Educação Superior, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o disposto na Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e ainda o Parecer CNE/CES 492/2001, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 9 de julho de 2001, e o Parecer CNE/CES 1.363/2001, homologado em 25 de janeiro de 2002, resolve: Art. 1º As Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, integrantes dos Pareceres CNE/CES 492/2001 e 1.363/2001, deverão orientar a formulação do projeto pedagógico do referido curso. Art. 2º O projeto pedagógico de formação profissional a ser oferecida pelo curso de Serviço Social deverá explicitar: a) o perfil dos formandos; b) as competências e habilidades gerais e específicas a serem desenvolvidas; c) a organização do curso; d) os conteúdos curriculares; e) o formato do estágio supervisionado e do Trabalho de Conclusão do Curso; f) as atividades complementares previstas. Art. 3º A carga horária do curso de Serviço Social deverá obedecer ao disposto em Resolução própria que normatiza a oferta de curso de bacharelado. Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. ARTHUR ROQUETE DE MACEDO 1- Perfil dos Formandos Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implemen- tando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o 63UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado de trabalho. 2 - Competências e Habilidades A) Gerais A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-me- todológica e ético política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-operativas, com vistas à • compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; • identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social; • utilização dos recursos da informática. B) ESPECÍFICAS A formação profissional deverá desenvolver a capacidade de • elaborar, executar e avaliar planos, programas e projetos na área social; • contribuir para viabilizar a participação dos usuários nas decisões institucionais; • planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; • realizar pesquisas que subsidiem formulação de políticas e ações profissionais; • prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública, empresas privadas e movimentos sociais em matéria relacionada às políticas so- ciais e à garantia dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; • orientar a população na identificação de recursos para atendimento e defesa de seus direitos; • realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre matéria de Serviço Social. 3 - Organização do Curso • Flexibilidade dos currículos plenos, integrando o ensino das disciplinas com outros componentes curriculares, tais como: oficinas, seminários temáticos, estágio, atividades complementares; • rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais o profissional se defronta; • estabelecimento das dimensões investigativa e interpretativa como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teo- ria e realidade; • presença da interdisciplinaridade no projeto de formação profissional; • exercício do pluralismo teórico-metodológico como elemento próprio da vida acadêmica e profissional; • respeito à ética profissional; • indissociabilidade entre a supervisão acadêmi- ca e profissional na atividade de estágio. 64UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 4 - Conteúdos Curriculares A organização curricular deve superar as fragmentações do processo de ensino e aprendizagem, abrindo novos caminhos para a construção de conhecimentos como experiência concreta no decorrer da formação profissional. Sustenta-se no tripé dos co- nhecimentos constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional, quais sejam: • núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos para conhecer o ser social; • núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira, que remete à compreensão das características históricas particulares que presidem a sua formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas diversidades regionais e locais; • núcleo de fun- damentos do trabalho profissional, que compreende os elementos constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória histórica, teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio supervisionado. Os núcleos englobam um conjunto de conhecimentos e habilidades que se especifica em atividades acadêmicas, enquanto conhecimentos necessários à formação profissional. Essas ativida- des, a serem definidas pelos colegiados, se desdobram em disciplinas, seminários temáti- cos, oficinas/laboratórios, atividades complementares e outros componentes curriculares. 5 - Estágio Supervisionado e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) O Estágio Supervisionado e o Trabalho de Conclusão de Curso devem ser desen- volvidos durante o processo de formação a partir do desdobramento dos componentes curriculares, concomitante ao período letivo escolar. O Estágio Supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão será feita conjuntamente por professor supervisor e por profissional do campo, com base em planos de estágio elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio. 6- Atividades Complementares As atividades complementares, dentre as quais podem ser destacadas a monitoria, visitas monitoradas, iniciação científica, projeto de extensão, participação em seminários, publicação de produção científica e outras atividades definidas no plano acadêmico do curso. Fonte: ABEPSS (2002). 65UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO 01 Título: Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos Autor: Marilda Villela Iamamoto Editora: Cortez Sinopse: Este livro oferece aos assistentes sociais uma síntese crítica das problemáticas centrais da profissão, iluminadas por um foco teórico singular e tratadas com a sua reconhecida compe- tência.Painel das grandes polêmicas dos anos oitenta, a herança conservadora do Serviço Social e sua ultrapassagem, a profissão e a divisão social do trabalho, a questão social e a era do monopólio, a formação profissional e suas perspectivas, esta obra é mais que um documento, contém elementos programáticos para permitir ao Serviço Social enfrentar, com êxito, os desafios do futuro. LIVRO 02 Título: Ditadura e Serviço social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64 Autor: José Paulo Netto Editora: Cortez Sinopse: O que ocorreu no Serviço Social brasileiro nos anos 1960 a 1980? Que processos determinaram a extraordinária re- novação experimentada por ele? Como e por que os assistentes sociais desenvolveram, neste período, concepções e propostas tão diferentes? Quais as relações entre esta renovação e a ditadu- ra militar? Como a teorização do Serviço Social se relaciona com a cultura e a sociedade brasileiras? Este livro pretende responder a estas indagações de forma rigorosa e original. José Paulo Netto oferece um texto severo, combativo, em uma obra polêmica. FILME/VÍDEO 01 Título: Os estagiários Ano: 2013 Sinopse: Quando são demitidos, dois homens na casa dos 40 começam a procurar por um novo trabalho. Apesar de não sabe- rem nada de tecnologia, eles são contratados como estagiários no Google, local em que convivem com chefes vinte anos mais novos do que eles. 66UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade FILME/VÍDEO 02 Título: Um senhor estagiário Ano: 2015 Sinopse: Começar um novo emprego pode ser um grande desa- fio, especialmente para alguém aposentado. Tentando voltar ao mercado de trabalho, o viúvo Ben Whittaker, de 70 anos, aproveita a oportunidade para se tornar um estagiário sênior em um site de moda. Ben logo se torna popular entre seus colegas de trabalho mais jovens, incluindo Jules Ostin, a chefe e fundadora da em- presa. O charme, a sabedoria e o senso de humor de Whittaker o ajudam a desenvolver um vínculo especial e uma bela amizade com Jules. 67 Plano de Estudo: ● Concepção de mundo; ● Crítica da Economia Política e o Serviço Social; ● Serviço Social, práxis e trabalho; ● O Projeto Ético - Político do Serviço Social brasileiro: emancipação humana, para além dos direitos e da cidadania burgueses. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender a concepção de mundo; ● Analisar a crítica da economia política para o Serviço Social; ● Entender o Serviço Social a práxis e o trabalho; ● Contextualizar sobre o Projeto Ético do Serviço Social Brasileiro. UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 68UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta terceira unidade você irá compreender o Projeto Ético Pro- fissional do Serviço Social brasileiro e a formação na sociedade capitalista. Para entender todo contexto, esta unidade será dividida em quatro partes. Primeiramente será apresen- tada a concepção de mundo – seu significado para alguns autores e a relevância para o Serviço Social –, depois compreenderá a crítica da economia política a partir das teorias de Marx e o Serviço Social neste contexto. Em seguida serão apresentados alguns conceitos do que é o trabalho na vida do homem, a concepção da práxis e o Serviço Social dentro desse contexto. Por fim, o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro. Portanto, na primeira parte será apresentada a concepção de mundo a partir das quatro notas, destacadas por Gramsci, em sua obra Caderno do Cárcere - volume 01, e os tipos de concepção de mundo, apresentados por Dilthey. Após esses entendimentos, será destacada a concepção de mundo para o Serviço Social, tendo o entendimento de que tudo está ligado ao processo histórico. Na segunda parte, estudaremos sobre a crítica da economia política que Marx, em seu livro O Capital - volume 01, apresenta sobre o processo de produção ao capital, tendo outros estudiosos a missão de dar continuidade aos estudos de Marx atualmente. Dentro desse contexto é que o Serviço Social assume o compromisso com a sociedade, principalmente com a classe trabalhadora. Na terceira parte são destacados os principais conceitos sobre o trabalho na vida do homem, utilizaremos autores considerados fundamentais para o Serviço Social. Em seguida destacarei sobre o conceito de práxis, apresentando as formas e os níveis, para depois compreender essa concepção para o Serviço Social, que é fundamental para o profissional entender a importância da práxis no momento da atuação. Por fim, na quarta parte dessa unidade, considero importante para você, aluno(a), entender a importância do Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social, em que momento esse projeto surgiu, quais são as bases que o fundamentam, a importância de entender o projeto societário e profissional e a emancipação humana que é considera para além do direito e como a sociedade capitalista está organizada. Bons estudos! 69UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 1. CONCEPÇÃO DE MUNDO Entender a concepção de mundo é de extrema relevância para a atuação pro- fissional, principalmente pelo fato da conexão com o processo histórico; fator este que sempre precisamos analisar para dar um parecer mais preciso sobre determinada situação/ problema na sociedade. Mas, para entender esse conceito, analisaremos a teoria de Dilthey (1977), que afirma que a concepção de mundo não é um produto do pensamento e não decorre do puro desejo de compreender. A compreensão da realidade decorre do conjunto das ideias que traz o mistério da vida, levada a uma conexão consciente e necessária para os problemas e soluções a partir da concepção de mundo. Isso o autor considera como produto da história, ou seja, é por meio da história que o ser humano adquire a capacidade da consciência humana, a visão da vida e do mundo em consonância com a época a ser analisada e/ou vivida, tendo a concepção de mundo. Para o autor supracitado a vida é apresentada de forma singular semeada por toda a terra. É considerada como a base da concepção do mundo ao empreender propicia respostas ao mistério da vida. Com isso, a imagem do mundo se torna a base para valorizar a vida e compreender o mundo e, de acordo com a mesma legitimidade da avaliação da vida e a compreensão do mundo, produzem uma disposição suprema da consciência, seja ela crítica ou não. 70UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Segundo Gramsci (2004), o ser humano pode ter consciência de algo de forma grupal ou por si próprio. Mesmo no mais simples desempenho de qualquer atividade inte- lectual a concepção do mundo é incluída, seja no momento da crítica ou simplesmente da consciência, por exemplo, é possível pensar sem ter consciência crítica. Neste aspecto, ao participar de uma concepção de mundo, imposta por grupos sociais, o ser humano pode ter consciência de algo que foi posto a ele e/ou elaborar a própria concepção de mundo de uma maneira mais consciente e crítica. Para isso, é preciso entender a concepção de mundo posta a ele, ou seja, é preciso entender a história que está inserida, tendo consciên- cia crítica em relação à própria decisão. Assim, torna-se o guia dos próprios pensamentos e não aceita as imposições dos grupos sociais, com isso, temos um paradoxo atrelado à concepção de mundo. A estrutura da concepção de mundo e sua diferenciação na forma singular entram em momentos imprevisíveis, como: as mudanças na vida, nos tempos, modificações no contexto da ciência, o gênio das nações e dos indivíduos, o interesse pelos problemas, asideias de- rivadas de contextos históricos, a compensação pela localização histórica sempre adequada a formações de classe mundial, reagrupando experiências, emoções e ideias importantes, componentes e significado geral. No entanto, uma vez que a legitimidade dita a profundidade da estrutura, a regularidade lógica não é agregação, mas forma (DILTHEY, 1977). É importante destacar que a concepção de mundo é desenvolvida sob diferentes condições, como: clima, raça e a nação determinada pela história e formação estatal, sendo desenvolvida em condições diversas e muitas vezes especializadas. O fato é que a forma do conceito de mundo se desenvolve na vida do ser humano, que luta entre si com base no controle e poder, a partir do entendimento do contexto histórico. 71UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 1.1 As Quatro Notas da Concepção de Mundo Com a finalidade de contextualizar as quatro notas da concepção de mundo, vamos nos aprofundar nas bases teóricas de Gramsci (2004), facilmente encontrado no volume 1 do Caderno do Cárcere. Primeira nota: do ponto de vista da concepção de mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, todos os elementos sociais com a mesma forma de pensar e agir. As massas ou coletivos são considerados submissos, a questão é: qual é o tipo histórico de submissão entre as massas das quais participamos? Quando o conceito de mundo não é crítico e coerente, mas acidental e decomposto? O fato é que pertencemos às múltiplas massas, nossas próprias personalidades, até certo ponto, contêm elementos do homem das cavernas e os mais modernos e progressistas princípios científicos. Em todos os estágios históricos, um localista próximo e uma intuição para a filosofia do futuro são as caracte- rísticas de um ser humano globalmente unificado. Portanto, criticar o conceito de mundo significa unificá-lo, torná-lo coerente e elevá-lo ao nível que o pensamento do mundo mais desenvolvido pode alcançar, portanto, também significa, até certo ponto, criticar todas as filosofias que ainda existem. Segunda nota: não se pode separar a filosofia da história, nem se pode separar a cultura da história sem compreender a sua história. O conceito deste mundo, certos problemas trazidos pela realidade são destaques de hoje, como pensar em enfrentar um problema que, muitas vezes, estava fora de alcance e intransponível no passado. O pre- sente é o ponto determinante para entender o passado, isso significa que as situações que enfrentamos na vida são o que nos determina no mundo. Mediante à análise de entender a história, passado e presente, é preciso ter em mente que existem as classes sociais, tendo 72UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital os dominantes e os dominados. Para compreender esse contexto é preciso conhecer a cultura e a filosofia advinda de um contexto histórico. Terceira nota: se cada linguagem contiver elementos quanto ao conceito de mun- do e de cultura, o maior ou menor também pode ser julgado de acordo com a língua de cada um, reduzindo a visão do mundo. Pessoas que falam apenas dialetos ou entendem a língua nativa em vários graus, inevitavelmente participam de um certo grau de intuições limitadas, sem esforço, rígidas e desatualizadas relacionadas às tendências ideológicas que dominam a história mundial. Seus interesses serão limitados, seja por uma corporação e/ou pela economia, universal ou não. Nem sempre é possível aprender outras línguas para se manter em contato com a vida cultural diferente, os estrangeiros devem, pelo menos, ser proficientes em sua língua nativa. Uma grande cultura pode ser traduzida para a linguagem de outra grande cultura, a saber as ricas e diversas línguas nacionais da história podem ser traduzidas a qualquer outra grande cultura, que deve ser expressa em todo o mundo, mas usando dialetos, não se pode fazer a mesma coisa. Quarta nota: criar uma cultura não é apenas fazer descobertas primitivas, também significa que o mais importante é divulgar criticamente a verdade que foi descoberta, por meio da socialização, pode-se dizer, portanto, transformá-lo na base de ações importantes, elementos de coordenação e ordem intelectual e moral. Fazer um grupo de pessoas pensar coerentemente na realidade atual é um fato filosófico, mais importante e mais primitivo do que a descoberta, o gênio filosófico com novas verdades ainda é legado de pequenos grupos intelectuais que, muitas vezes, precisam entender sobre a concepção de mundo para compreender o legado dos pequenos grupos. 73UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 1.2 Tipos De Concepção de Mundo De acordo com Dilthey (1977), a concepção do mundo está ligada a alguns concei- tos. Para entender cada um, é importante destacar a distinção da concepção do mundo em relação às regiões culturais, pois além de ser considerada a base, consiste na coexistência econômica, social, na lei e no Estado. Há uma divisão de trabalho em todos os lugares, as pessoas são numeradas de forma ímpar, dando uma contribuição definitiva em uma determinada posição da história. A vontade está presa nas tarefas atribuídas e restritas, que mostram a conexão teleológica do domínio. REFLITA A ciência, mediante o conhecimento, suscita na conexão prática da vida uma regulação racional do trabalho; encontra-se assim na mais estreita relação com a práxis, e como também está submetida à lei da divisão do trabalho, cada investigador impõe-se a si uma tarefa limitada num domínio determinado e num lugar definido do trabalho cogniti- vo. Mais ainda, a própria filosofia está sujeita, nas suas funções, a esta divisão do tra- balho. Pelo contrário, o génio religioso, poético ou metafísico vive numa região em que está subtraído à vinculação social, ao trabalho em tarefas restritas, à sua subordinação ao acessível dentro dos limites do tempo e da situação histórica. Toda a consideração de semelhante vinculação falsificou a sua compreensão da vida, que se deve contrapor ao dado de um modo inteiramente ingénuo e soberano. Torna-se já inverdade em virtude da circunscrição do olhar, da consideração de uma situação temporal – por uma tendência qualquer. Em semelhante região da liberdade brotam e desenvolvem-se as valiosas e poderosas concepções do mundo. Fonte: Dilthey (1977, p. 20-21). 74UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital A concepção de mundo pode diferenciar a partir das regulamentações de Leis, da sua estrutura posta na sociedade e os tipos religiosos, artísticos e metafísicos que apresen- tarei a seguir, a partir dos conceitos de Dilthey (1977). ● Concepção religiosa: surge no mundo a partir de uma conexão vital com o ser humano, considerado como um recurso de dominação que vai além do ho- mem primitivo, como: caçador, cultivador e trabalhador, que, por si só, já causa mudanças no mundo exterior por meio da produção. A concepção religiosa tem como base observar para si forças de seres superiores, pregando a boa relação e união com essas forças, tendo no espírito religioso a concepção de estar sempre correto, entendo que a alma progressiva conhece a fixação da alma no mundo supersensível. Considerado como um produto histórico, a religião, ape- sar de impor disciplina na vida, mantém uma posição de que não está vinculada a tradições de origens obscuras e duvidosas. Em síntese, “a religião, as coisas e os homens recebem o seu significado por meio da fé na presença de uma força supra-sensível neles operante” (DILTHEY, 1977, p. 25). ● Concepção artística: uma obra de arte significa algo único, em certo sentido, é elaborada a partir da relação entre ser produzida como uma expressão ideal de referência de67 O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Professora Esp. Irení Alves de Oliveira UNIDADE IV ................................................................................................ 103 O Assistente Social na Luta de Classes 4 Plano de Estudo: ● O Serviço Social na Contemporaneidade; ● Trabalho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; ● Demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários. Objetivos da Aprendizagem: ● Contextualizar o Serviço Social na contemporaneidade, entendendo as mudanças e os desafios profissional; ● Compreender o termo trabalho e o Serviço Social e o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; ● Destacar as principais demandas e respostas no que se refere a categoria profissional aos projetos societários. UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 5UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade você irá se debruçar sobre o trabalho profissional do assistente social na contemporaneidade. Para entender esse assunto, é preciso dividir em três tópicos, sendo eles: o Serviço Social na contemporaneidade; Traba- lho e Serviço Social: o redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes; e as demandas e respostas da categoria profissional aos projetos societários, em que serão explanados temas importantes, referentes ao fazer profissional. Portanto, na primeira parte você estudará sobre os desafios que o assistente social vivencia cotidianamente; aqui serão destacados três aspectos reflexivos sobre a profissão, levando a busca do entendimento sobre a questão social e o mercado de trabalho. É ne- cessário fazer um breve resgate histórico sobre a origem do termo “questão social” para entender as desigualdades sociais no Brasil e, assim, compreender o mercado de trabalho profissional, principalmente do assistente social. Afinal, foi por meio dos problemas sociais que houve a ampliação de diversos campos de atuação, porém também propiciou as mu- danças nos campos de atuação e o surgimento de grandes desafios no fazer profissional. Já na segunda parte será estudada a origem o termo “trabalho”. Esse é um ponto importante para compreender o Serviço Social na sociedade e como a profissão está inse- rida e inscrita na divisão social e técnica do trabalho através da prática profissional. A partir desse entendimento, o processo de trabalho passa a fazer parte da vida do homem em meio a sociedade. Assim, você irá entender o processo de trabalho do assistente social, para depois compreender sobre o redimensionamento da profissão antes das transformações societárias, que se voltam para as mudanças no mercado de trabalho profissional. E, por fim, a terceira parte abordará as demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade. Serão destacados alguns pontos reflexivos con- siderados pela grande autora Iamamoto, como ocultos no VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, enfatizando que os profissionais precisam compreender as condições de trabalho ao buscar respostas para o fazer profissional. Espero que tenha um excelente estudo! 6UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 1. O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE No contexto contemporâneo, a revolução tecnológica acabou estabelecendo novos padrões de produção e gestão, tendo, por trás de todo esse avanço, a grande hegemonia, conhecida como capital financeiro. Com isso, houve um aumento do desemprego, além de gerar o subemprego. Nesse aspecto, a acumulação de capital não se configura como sinônimo de equidade e sim das diversas expressões da questão social. De um lado temos a concentração do lucro e poder, do outro, o pauperismo e a luta pela sobrevivência. Mediante a esse cenário, os assistentes sociais são desafiados diariamente nos mais diversos campos de atuação. Primeiro, pelo aumento da demanda voltada para os serviços sociais; segundo, pela diminuição dos recursos, principalmente na esfera pública, criando padrões cada vez mais rigorosos sobre a possibilidade da população ter acesso aos direitos. Isso nos leva a refletir sobre três aspectos acerca da profissão. Primeiro, para entender o Serviço Social na contemporaneidade é necessário li- bertar-se da visão interna e centralizadora que aprisiona muitos profissionais. Para isso, é necessário ampliar os horizontes, observando as mudanças do cotidiano na relação entre Estado e a sociedade; não perdendo as características da profissão e, ao mesmo tempo, rompendo com o pensamento conservador e endógeno. Ou seja, no aspecto de ajuda na forma evolutiva da caridade e da filantropia baseado nas obras de Tomás de Aquino e Vicente de Paula (MONTANÕ, 2007). 7UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Segundo, entender a profissão nos dias atuais e as mudanças na sociedade, princi- palmente no âmbito do trabalho, mas especificamente na estrutura de produção refletida na nova forma de organização e gestão do trabalho. O Serviço Social é uma profissão espe- cializada e inscrita na divisão social e técnica do trabalho, compreende que os assistentes sociais têm um Código de Ética Profissional, sendo considerado um profissional autônomo e qualificado. Terceiro, considerar o Serviço Social como trabalho é o mesmo que favorecer a produção e reprodução da vida social. Antunes (2006) destaca que a satisfação no tra- balho não está voltada para as relações sociais e sim na necessidade da produção de objetos, constituindo a materialidade e subjetividade das classes que vivem do trabalho. Ao confirmar a primazia do trabalho na sociedade e ao indagar o papel do Serviço Social no processo de produção e reprodução da vida social, existe um ponto de partida e um norte. Porém essa não é a prioridade do mercado, mas sim privilegiar a distribuição de riquezas dentro do sistema capitalista, considerado o “portador de valor-trabalho e de mais-valia. O trabalho é, pois, uma atividade que se inscreve na esfera da produção e reprodução da vida material” (IAMAMOTO, 2012, p. 25). Em síntese, um dos maiores desafios enfrentados pelos assistentes sociais atual- mente é interpretar a realidade e desenvolver um trabalho criativo, capaz de preservar os direitos a partir das demandas que surgem no cotidiano. Em qualquer situação é preciso ser um profissional com objetivos claros, não apenas um executor de tarefas. É olhar para além da profissão, rompendo com qualquer visão rotineira e burocrática que envolve os profissionais de Serviço Social, entendendo que a questão social é o seu objeto de trabalho nos diversos espaços sócio-ocupacionais no mercado de trabalho que está inserido. 1.1 Questão Social e o Mercado de Trabalho Caro(a) aluno(a), acredito que já tenha estudado em outras disciplinas sobre a questão social, pois bem, vamos recapitular sua origem. De acordo com Castel (1998), o termo questão social foi mencionado pela primeira vez no ano de 1831 no jornal legitimista 8UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade La Quotidienne. Chamou a atenção do governo francês ao enfatizar a necessidade de en- tender além do poder do capitalismo, destacando que existia uma “questão social” carente buscando por respostas emergentes. Ou seja, o Estado precisava atender o pauperismo que a classe trabalhadora estava vivenciando em decorrência do processo de industrialização. Mas por que foi preciso recapitular a origem do termo questão social? Ora, caro(a) aluno(a), ter em mente a origem do termo “questão social” faz toda a diferença, primeiro porque o processo de industrializaçãovida, dar cor e conectar-se de forma simétrica à proporção de som e ritmos, é um processo e eventos da alma. A criação artística em si não tem nada em comum com a visão de mundo, no entanto, a relação entre a cor da pele do artista e suas obras levou a uma relação secundária entre as obras de arte e concepção do mundo. O movimento histórico da relação entre a arte e as ideias do mundo reside em que o tipo de arte se aprofunda no físico de um artista, fazendo parte do seu contexto histórico. ● Concepção metafísica: todo o processo de geração e consolidação de uma concepção de mundo leva a demandas para aumentar sua consciência de eficácia universal. As diferenças surgem baseadas nas características racionais do trabalho metafísico, alguns marcam estágios de desenvolvimento, como dogmatismo e crítica, outros abrangem todo o curso de porquê uma carreira ser derivada da metafísica, ou seja, revela os conteúdos contidos na compreensão da realidade e na valorização da vida e das coisas. O objetivo é a possibilidade de resolver os problemas colocando a base da metafísica, tropeçando no empi- rismo, racionalismo, realismo e idealismo advindo da ideia básica é claramente 75UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital expressa, ou seja, a tese de uma ideia geralmente começa a partir da teoria da concepção de mundo determinando como funciona. A consciência histórica permite-nos superar as diferenças restringidas pelas condições de orientação, formando assim um sistema unificado com validade universal. Caro(a) aluno(a), entender os tipos de concepção de mundo faz toda a diferença para a atuação profissional, visto que a origem da profissão se deu por meio das ações da igreja católica que busca uma conexão vital com o ser humano por meio da fé, fato esse que não faz parte da atuação profissional, mas que precisamos entender por fazer parte da concepção de mundo, que, por sua vez, é produto da história. Já a concepção artística, por ser a referência da vida, que está ligada ao contexto histórico, é o que se refere ao entender este conceito. Por fim, a concepção metafísica leva à compreensão maior, ou seja, em relação ao universo que busca a lógica do empirismo, realismo, racionalismo e idealismo para entender o que está posto na sociedade. 1.3 Concepção de Mundo e Serviço Social Com base nas informações apresentadas sobre a concepção de mundo e para entender a perspectiva do Serviço Social, irei tomar como base para fundamentar esses conceitos as ideias da Vasconcellos (2017). Tomou para si o comprometimento com o prin- cípio, propósito e objetivo da libertação humana, o assistente social tem, em suas bases teóricas, a necessidade de transformar a realidade do indivíduo em seu meio social que se destina ao conceito de mundo e ao significado interior da existência e do comportamen- to humano. Nesse aspecto, quando o indivíduo se torna parte da história é considerado imutável na realidade objetiva, ou seja, deixa de existir qualquer possibilidade e qualquer 76UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital ação. Neste sentido, nos faz cair na incapacidade total, a impressão de estar paralisado em circunstâncias incompreensíveis e inevitáveis. Mediante à ideia de que a concepção do mundo é o produto da história e se analisarmos a sociedade capitalista, logo teremos o conceito de que o desemprego e a exploração do trabalho são a base para o aumento de riqueza, tendo consonância com o pauperismo. Ao compreender as bases teóricas de Lukács (1969) entendemos que um indivíduo age de forma subjetiva, imaginando o significado de suas atividades por meio do processo de alienação do capital, caindo em uma visão de mundo, que não há sentido, e todas as atividades se reduzem a uma aparência simples que imprime completamente o estado puro. Não é incomum que o tédio se torne um monstro quando se perde o objetivo e a esperança. Segundo Vasconcelos (2017), se, por um lado, o desenvolvimento intelectual da classe trabalhadora não pode determinar mecanicamente sua emancipação, se não há teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário, afinal, a classe trabalhadora pode determinar-se mutuamente na relação de oposição e luta. É possível que um dos trabalha- dores com o apoio de outros trabalhadores ascendam à condição de classe de hegemonia. De acordo com Carnoy (1988), a hegemonia pode se expressar na sociedade como uma forma e/ou um meio principal, ou seja, como um conjunto de sistemas, ideologias, práticas e agentes, incluindo intelectuais, que constitui uma cultura de valores dominantes e que busca, na luta de classes, a garantia de seus direitos. Nesse ponto, as instituições, que constituem um sistema hegemônico, são significativas, principalmente quando é es- tabelecido, no contexto, um equilíbrio entre as classes, estendendo o poder e controle à sociedade civil por meio dessas mesmas instituições. Neste aspecto, além do poder e da lógica do modo de produção, a explicação sobre como a classe trabalhadora e a sociedade capitalista está organizada e tem ligação com o poder da consciência e da ideologia. Em relação a consciência é entendo como algo que podemos chegar a um consenso e/ou entendimento sobre as relações sociais capitalistas e estratégias, considerada como a base para obter o consentimento positivo das massas por meio da auto-organização da classe trabalhadora e dentro desse contexto é que o assistente social precisa estar inserido. Já a ideologia está ligada às normas reguladoras, envolvendo a política, religião, economia e cultura como meio de garantir os interesses indi- viduais, coletivos e/ou de uma pequena parcela da sociedade, o que nos leva a considerar que esses pontos são importante e que o assistente social precisa entender para expressar a sua posição de forma crítica fundamentada em bases teóricas e concretas. Profissionais que tomam como referência os projetos de anticapitalismo e eman- cipação, ao se dirigirem aos intelectuais em processo de autoformação permanente da sociedade do capital, podem dar uma contribuição moderada para fazer a teoria penetrar nas massas, tornando a teoria um poder que só pode ser alcançado com a prática, a crítica 77UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital fundamental, a criatividade e a autoconsciência. Na dialética, esse processo corre o risco permanente de ser facilmente alinhado e se desenvolve no âmbito do próprio movimento de alienação do capitalismo. Diante dessa complexidade, os trabalhadores e assistentes sociais, que optam por projetos profissionais como assalariados, enfrentam problemas diretamente relacionados à formação da subjetividade de cada indivíduo social, conscientes ou não do seu papel. Entre os que têm tais condições pelo seu nível superior, por exemplo, os assistentes sociais que desempenham o papel fundamental na vida do ser humano e na promoção do desenvolvimento social, têm melhores condições do que outros para determinar quais caminhos favorecem as práticas democráticas e emancipatórias e quais são os obstáculos intransponíveis. Pode-se, a partir dos próprios intelectuais, proporcionar uma vantagem relativa ao processo de ruptura (VASCONCELOS, 2017). Neste sentido, a contradição fundamental entre trabalho e capital está relacionado na produção social da sociedade e voltado para as condições da exploração do trabalho, a riqueza e meios de produção básico, ocupado pela propriedade privada que conduz à autonomia relativa dos assistentes sociais. Com isso, a atuação dos assistentes sociais acaba tendo o sentido de contribuir para a formação, mobilização e organização dos trabalhadores na busca da libertação humana, promovendoa melhoria e a reconstrução das condições dos trabalhadores na sociedade capitalista, portanto, os assistentes sociais passa a ter a função social de atuar sobre a essência da personalidade dos trabalhadores transmitindo costumes, valores, nor- mas, princípios, padrões sociais, conhecimentos e informações de acordo com o conteúdo veiculado ao direito, com base na garantia que norteia a classe trabalhadora através das atividades profissionais. Em síntese, como estudamos, a concepção de mundo está ligada à história, e tem o ser humano como base fundamental para compreender tal conceito. A partir desse entendimento o indivíduo consegue ter consciência, seja ela crítica ou não. Por meio desta informação é que o Serviço Social se encontra; primeiro, compreende o contexto histórico que o indivíduo está inserido e segundo, intervém no problema que afeta a vida desse indivíduo. Se analisarmos a concepção de mundo que envolve o Serviço Social não podemos deixar de pensar na relação entre o trabalhador e o capital, relação que deu origem à profissão que tem como objeto de estudo as expressões da questão social. Entender todo este contexto é o que faz a diferença no momento da atuação, principalmente de que a concepção de mundo está ligada à história. 78UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 2. CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA E O SERVIÇO SOCIAL De acordo com Lukács (2003) nas circunstâncias históricas para uma classe, o conhecimento exato da sociedade passa a ser condição direta para sua autoafirmação na luta, quando para esta classe o autoconhecimento significa o conhecimento correto de toda a sociedade. No que diz respeito ao conhecimento, quando esta classe é um sujeito e um objeto, a teoria é, portanto, imediata e apropriadamente envolvida no processo de revolução social, esta é a premissa de que teoria e prática são unificadas e a função revolucionária da teoria se torna possível. Neste aspecto, conhecer as condições postas na sociedade é o que faz a diferença na luta pelos direitos, sendo o conhecimento a base fundamental. Partindo deste preceito e para entender a crítica da economia política é que vamos nos aprofundar nas bases teórica de Marx (1989) e Netto - Braz (2006). 79UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 2.1 Economia Política de Forma Clássica O termo “economia política” se originou do grego “Politeia e Oikonamika”, no ano de 1615, sendo discutido somente nos primeiros 20 anos do século XIX. Isso passou a designar uma certa instituição teórica, mas não significou que a economia política tornou-se um campo teórico e sistematizado. Entre os maiores representantes da economia política clássica, Smith e Ricardo, embora seus conceitos teóricos sejam diferentes, aparentemente apresentam duas características principais de teorias expostas por duzentos anos (NETTO; BRAZ, 2006, p. 29). O primeiro relaciona-se com a essência da teoria: não é um sujeito especializado e participativo, tentando recortar os objetos específicos da realidade social e analisá-los de forma autônoma. Os dois autores mencionados e alguns autores antes deles focalizaram sua atenção em questões relacionadas a trabalho, valor e dinheiro, interessado em ques- tões de relações sociais. Essas questões apontam claramente as constantes mudanças na sociedade de forma irrefutável, desde a generalização das relações de mercado e sua expansão para o mundo do trabalho. A segunda característica da economia política clássica está relacionada à maneira como os autores tratam as principais categorias e instituições econômicas, principalmente referente à moeda, capital, lucros, salários, mercados, propriedade privada, entre outros. Para os autores, as categorias naturais e instituições são descobertas pela razão humana e estabelecidas na vida social, elas permanecerão eternas em sua estrutura básica. Essas características, indicam o compromisso sócio-político da economia políti- ca clássica, com isso, o liberalismo clássico constitui a arma ideológica da luta entre a burguesia e o Estado autocrático e o antigo regime. Aos olhos dos teóricos, os interesses da burguesia revolucionária e a burguesia revolucionária enfrentam os beneficiários do sistema feudal. 80UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Segundo Netto e Braz (2006), entre esses teóricos, a influência do naturalismo jurídico e do liberalismo não é uma sorte, mas eles mostram que suas realizações inte- lectuais fazem parte do quadro mais amplo da ilustração. Como todos sabemos, esse é o processo da burguesia se movendo em direção à construção de seu domínio; um capítulo importante frente ao sistema feudal, marcou um enorme progresso histórico. Neste aspecto a economia política clássica exprime a ideologia da burguesia, nessa época esta classe estava na vanguarda da luta social e liderou um processo revolucionário que destruiu o antigo regime, a razão era nada mais do que a maior e mais nova ciência mais típica, a sociedade burguesa. Portanto, a economia política clássica com o programa da revolução burguesa não transformou seus grandes representantes, como Smith e Ricardo, em defensores cegos e acríticos da nova ordem social emergente. No que diz respeito à revolução burguesa da época, ela exprimia o desejo de libertação da humanidade. Esses clássicos têm uma visão ampla que lhes permite expor com profunda objetividade os problemas suscitados pelo surgimento da nova sociedade. A objetividade das questões teóricas sociais é diferente da neutralidade, precisamente porque não são neutras e defendem uma ordem social mais livre e avançada que o feudalismo, por isso os clássicos podem enfrentar a nova economia e a sociedade sem restrições e a causa do problema e o aumento do lucro e a reprodução do trabalho. 2.2 A Crítica da Economia Política e o Serviço Social Ao longo do século XX, a sociedade capitalista passou por grandes mudanças e processos não estudados por Karl Marx, considerados como fenômenos do sistema ca- pitalista. Esses fenômenos e processos foram objetos de análise e pesquisas inspirados em Marx, estudos que visam esclarecer e integrar-se ao sistema teórico estabelecido pelo autor em seu livro O Capital, fazendo uma crítica à economia política a partir do processo de 81UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital produção do capital. No processo de expandir a reserva de conhecimento, muitos avanços e novas descobertas foram feitas, iremos aprofundar nisso a seguir. Segundo Netto e Braz (2006), Marx aproximou-se das ideias revolucionárias que germinavam no movimento operário europeu pouco depois de haver concluído o seu curso de filosofia (1841) e de 1844 até a sua morte, todos os seus esforços foram dirigidos para contribuir na organização do proletariado para que este, rompendo com a dominação de classe da burguesia, realizasse a emancipação humana. Os autores supracitados destacam que, para Marx, o sucesso do protagonista da revolução proletária depende em grande medida de uma compreensão estreita com a rea- lidade social. Nesse aspecto, Marx acreditava que a ação revolucionária seria mais eficaz, não se baseando no conceito de utopia, mas em uma teoria social que reproduz idealmente os movimentos reais e objetivos da sociedade capitalista. De acordo com Marx (1989, p. 961), “a estrutura econômica da sociedade capitalis- ta surgiu da estrutura econômica da sociedade feudal. A dissolução desta última liberou os elementos daquela”, que tem o trabalhador como produtor direto somente após a libertação dos “servos” tornando-se vendedores de mão de obra para o aumento do lucrodo capital. O Movimento histórico que transformou produtores em trabalhadores se destaca da se- guinte forma: de um lado temos os assalariados, que se consideram livres da escravidão; por outro lado, esses trabalhadores recém-libertados só podem se tornar seus próprios vendedores após terem sido roubados todos os seus meios de produção. Portanto o ponto inicial do desenvolvimento dos trabalhadores assalariados e capitalistas é a “conquista dos trabalhadores”. Neste aspecto, para Netto e Braz (2006), a pesquisa de Marx esclareceu o surgi- mento, a consolidação e o desenvolvimento da sociedade capitalista e a teoria social das condições de crise. Os resultados mostram que a sociedade burguesa não é uma orga- nização social destinada a constituir o fim da evolução humana; mas histórica e efêmera, a forma de organização social contém contradições e tendências que podem superá-la, criando um outro tipo de sociedade, a sociedade comunista que não marca o fim da histó- ria, mas é apenas o ponto de partida de uma nova história, uma história estabelecida por humanos libertados. 82UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital SAIBA MAIS O capital não é uma bíblia, nem sequer talvez um método, mas, como o próprio subtítulo que Marx lhe deu, uma “contribuição à crítica da economia política”. Esse é o caminho e certamente como crítica ele não aborda, senão tangencialmente, algumas das princi- pais estruturas do capitalismo contemporâneo, seus problemas e pontos de superação. Mas, como um dos textos fundamentais da modernidade, ele abre as portas para sua compreensão no contexto das lutas de classes de nosso tempo, tarefa para que são chamadas as mulheres e os homens empenhados na transformação, esse trabalho de Sísifo ao qual estamos condenados até o raiar de uma nova era. Fonte: Marx (1989, p. 6). De acordo com Vasconcelos (2017), a sociedade capitalista é considerada como um movimento social histórico. Ao refletir sobre a teoria de Marx, observa-se que aponta a pobreza como um “fator essencial” da ordem social burguesa. Mas calma, caro(a) aluno(a), Marx faz uma crítica à sociedade capitalista e ao seu modo de produzir riqueza. Neste aspecto, para a autora, na ordem social dominante, não há como encontrar uma solução para a pobreza, portanto, do ponto de vista do capital, a restrição é eliminar o sofrimento e transformar os “pobres” cada vez mais pobres, porém atender ao mínimo para a sobrevivência. E, para que essa visão seja modificada, é preciso rever a estrutura capitalista imposta na sociedade, isso significa que o objetivo da erradicação da pobreza precisa estabelecer uma nova ordem social, não a exploração da regra, classe, raça e gênero, mas a consciência de que todos têm o direito de riqueza e não é preciso explorar a classe trabalhadora para aumentar a riqueza. Nesse aspecto o assistente social atua, tendo o compromisso com a sociedade por meio do Código de Ética Profissional. Desse modo, pode-se entender por que o programa social na democracia bur- guesa visa eliminar o sofrimento e não a pobreza. Eliminar o sofrimento como insistem as instituições do capital internacional e o banco mundial, aderindo à prática dos países periféricos transformando a situação de grande número de trabalhadores. Isso tem um efeito no sistema, afinal, os pobres consomem mais do que os capitalistas, o que levou a um aumento dos fundos públicos e arruinou o capital. Portanto, sem reduzir o excedente populacional, a eliminação do sofrimento permite que uma grande força de trabalho desafie uma parte do mercado de trabalho, o que leva a 83UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital uma redução ainda maior nos salários pagos a cada vez menos trabalhadores qualificados, gerando o exército industrial de reserva. Nesse sentido, não há como determinar as novas expressões da questão social, visto que os problemas sociais decorrem das determinadas leis gerais da acumulação, e adquirem novas dimensões e manifestações com o desenvolvimento da acumulação e as mudanças experimentadas pelo próprio capitalismo. Portanto, tomar as soluções dos problemas sociais (mesmo as soluções dos problemas sociais reivindicados por alguns assistentes sociais e outros profissionais) como meta da sociedade do capital, razão pela qual a sociedade precisa mudar, mesmo que pensemos que é possível manter e replicar sem acumular capital sem usar trabalho (NETTO; BRAZ, 2007). Assim, segundo Vasconcelos (2017), no contexto da sociedade capitalista, ainda que se trate de uma questão social multideterminada, implica também a troca midiática de componentes históricos, políticos e culturais, fundamentalmente determinante na explo- ração do trabalho pelo capital. Portanto, sem eliminar a exploração do trabalho, toda luta contra seu impacto político, econômico, social e humano, inclusive os chamados proble- mas sociais, mais cedo ou mais tarde mostrará as limitações dos sintomas enfrentados, consequências e impactos. Ou seja, realizar reformas e permanecer em uma sociedade que depende do homem para viver da exploração do homem. Mas deve ficar claro que a exploração existe em diferentes formas históricas de organização social. Caro(a) aluno(a), é importante destacar que a crítica de Marx sobre a economia política foi uma verdadeira revolução teórica, na investigação e análise decisivas da lei do fluxo de capitais. Ele usou todo o poder da preparação científica, da cultura e da inteligência para lançar as bases da compreensão e desenvolvimento da sociedade burguesa. Neste sentido, a economia política clássica forneceu conhecimento teórico para a estrutura e dinâmica econômica da sociedade burguesa, a análise das leis do movimento do capital e da descoberta do marxismo na segunda metade do século XIX é válida até hoje, pois por mais de 150 anos, nossa sociedade ainda está subordinada ao capitalismo. Portanto, o próprio trabalho do marxismo só é possível pela existência da econo- mia política clássica antes, por conter elementos que foram historicamente processados e considerados na perspectiva de uma nova metodologia, elementos que predizem o fluxo e o controle do capital e que cabe ao assistente social entender. 84UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 3. SERVIÇO SOCIAL, PRÁXIS E TRABALHO Caro(a) aluno(a), o trabalho faz parte da vida do homem desde a origem do mundo e com o passar do tempo grandes filósofos começaram a estudar esse conceito, analisando todo o processo histórico da sociedade a partir da ascensão do capitalismo. Um exemplo clássico são as teorias de Karl Marx, que, até os dias atuais, são referências para estudio- sos e profissionais. A partir dos estudos de Karl Marx, mais especificamente no seu método –materia- lismo histórico dialético –, é que foram revelados os fatos absolutos; históricos; a política e o social, de forma que o homem pudesse refletir sobre a sua própria história, tornando um participante do desenvolvimento da humanidade, buscando uma visão transformadora com base na defesa da prática revolucionária. Com isso, esse filósofo deu início aos estudos da práxis, que não podem ser uma mera redução do trabalho, pelo contrário, deverão ser humanizadas, garantindo as pos- sibilidades concretas dos seres humanos para que se desenvolva de forma criativa, sem estar ligado na disciplina do trabalho, com a finalidade de uma redução da jornada de trabalho considerada como pré-requisito. Através das informações apresentadas, vamos nos aprofundar de forma breve nos conceitos a seguir. 85UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiroe Formação na Sociedade do Capital 3.1 O Trabalho Caro(a) aluno(a), a concepção do trabalho aparece em um sentido muito preciso, considerada como uma atividade humana que transforma a natureza em mercadorias, con- siderada necessária para a reprodução social. Nesse sentido, Lessa (2002) destaca que a categoria fundadora do mundo do trabalho deu-se pela existência humana, tendo o trabalho como uma atividade que transforma a essência natural do indivíduo e toda a sociedade da qual participa, é considerada como a autoconstrução e melhoria do ser humano, permitindo que as classes sociais fica cada vez mais desenvolvidas. O trabalho é um elemento constituinte da existência social, que, por sua vez, não se reduz e nem se esgota no trabalho. Quanto mais as pessoas se desenvolvem na sociedade mais sua objetividade pode transcender no espaço, diretamente relacionado ao trabalho. O desenvolvimento da existência social significa o surgimento da racionalidade, sensibilidade e atividades, que criam seus próprios objetos com base no trabalho necessário. Nesse aspecto, a existência social não é apenas trabalho e sim a criação da objetivação para além do universo, considerada como uma categoria teórica mais abrangente, ou seja, uma categoria prática que envolve o trabalho. Na verdade, esse é seu modelo, mas o conteúdo incluído ultrapassa todo o assunto de objetificação humana (NETTO; BRAZ, 2006). Para Lessa (2002) a concepção do trabalho só existe no mundo humano, consi- derada como uma categoria exclusiva para o desenvolvimento em meio a sociedade, o autor destaca que o trabalho sempre fez parte da sociedade. Desta forma, a função que o trabalho executa no interior da reprodução social é um processo unificado e, apenas nesta dimensão, passa a ser considerada como algo fundamental no mundo do homem. Neste aspecto, o trabalho é entendido como o fundador do mundo humano. Essa declaração é essencial para a compreensão da existência social, a comunicação entre o homem e a natureza se realiza na prática e é planejada pela consciência, portanto, a escolha entre as alternativas pode ser um objeto, mudando a realidade e criando novas situações. 86UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Além disso, se o trabalho promover a construção e transformação do mundo e atuar por meio da compreensão de outros saberes e habilidades, novas demandas serão geradas. De acordo com Lukács (1979, p. 87) “o trabalho é, antes de tudo, em termos gené- ticos, o ponto de partida da humanização do homem, de refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo”. Além do que, o tra- balho foi processado como âmbito único do desenvolvimento, todas as outras formas de atividades de pessoas ligadas a diferentes valores só podem ser o trabalho autônomo que pode atingir um nível superior após o trabalho. Segundo Marx (1989), o trabalho é a categoria central na vida do homem, consi- derada como formador de valor de uso, mas não deve ser entendida como condição da existência humana e sim um elemento da sua existência em meio a sociedade, tendo o papel de mediar as trocas orgânicas entre o homem e a natureza, ou seja, entre a vida humana e o meio do trabalho. Nesse sentido, temos o processo de trabalho que utiliza do material natural e se adapta às necessidades humanas, assim, modificando sua forma e atendendo aos interesses da sociedade capitalista que utiliza da consciência comum para aumentar o seu lucro e poder. “a consciência comum pensa os atos práticos, mas não faz da práxis – como atividade social transformadora – seu objeto; não produz – nem pode produzir, como veremos uma teoria da práxis” (VÁZQUEZ, 1980, p. 10). 3.2 A Práxis Caro(a) aluno(a), se pesquisar na internet o termo “práxis”, observará que seu significado está voltado para a “prática”, mas se analisarmos o sentido desse termo na teoria marxista o conceito muda. De acordo com alguns estudos realizados, me deparei que o termo práxis para Marx tem o significado de atividade livre e criativa em que o homem é capaz de produzir e criar algo que transforma o seu mundo e seu processo histórico. 87UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Isso porque, para o filósofo, o homem não deve ficar à mercê do sistema capitalista, e, como já destacado, deve buscar uma visão transformadora com base na defesa da prática revolucionária. A partir disso, o conceito da práxis refere-se a uma dimensão da prática, uma atividade do personagem utilitário e prático, ligada às necessidades atuais. Neste sentido, Vázquez (1980, p. 245) destaca que “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”, ou seja, a prática é uma atividade consciente, o que significa não só o propósito da atividade, mas também o seu subjetivo. Com isso, a prática passa a ter um significado que vai além de uma atividade social, algo que transforma e muda as leis naturais por meio da criação e, consequentemente, o homem que, ao produzir algo, muda a si mesmo. A matéria-prima das atividades pode mudar, resultando em diversas formas de práxis, como: produtivo, artístico, experimental, político e teórico, que vamos analisar a seguir por meio de um quadro informativo. QUADRO 1 - AS FORMAS DE PRÁXIS Produtivo Dentre as formas fundamentais de práxis está a atividade prática produtiva, ou relação material e transformadora que o homem estabelece por meio de seu trabalho com a natureza. Graças ao trabalho, o homem supera a resistência dos materiais e forças naturais e cria um mundo de objetos úteis que satisfazem certas necessidades. Mas como o homem é um ser social, esse processo só se realiza sob certas condições so- ciais, isto é, no quadro de certas relações que os homens contraem como agentes de produção nesse processo, e que Marx denomina precisamente relações de produção. Artístico Outra forma de práxis é a produção ou criação de obras de arte. Assim como o traba- lho humano é a transformação de um material no qual uma determinada forma é im- pressa, exigida não por uma necessidade prático-utilitária, mas por uma necessidade humana geral de expressão e comunicação. Na medida em que a atividade artística não é limitada pela utilidade material que o produto da obra deve satisfazer, ela pode levar o processo de humanização que de forma limitada já ocorre no trabalho huma- no até suas últimas consequências. Por isso, a prática artística permite a criação de objetos que elevam a capacidade de expressão a um grau superior e a objetificação humana já revelada nos produtos do trabalho. O trabalho artístico é, antes de tudo, a criação de uma nova realidade e uma vez que o homem se afirma criando ou huma- nizando tudo o que toca, à práxis artística ampliando e enriquecendo a realidade já humanizada com suas criações é uma práxis essencial para o homem. 88UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Experimental Entre as formas de atividade práxis realizadas sobre um determinado assunto, é tam- bém necessário incluir a atividade científica experimental que satisfaça, em primeiro lugar, as necessidades da investigação teórica e, em particular, as de teste de hipóte- ses. Essa forma de práxis é aquela que se manifesta quando o pesquisador atua sobre um objeto material, modificando as condições em que um fenômeno opera à vontade. Esse é o significado da experimentação como práxis científica. O pesquisador produz fenômenos que são uma reprodução daqueles que ocorrem em um ambiente natural, mas os produz precisamente para poder estudá-los em um ambiente artificial em la- boratório sem as impurezas e perturbações que ocorrem no ambiente natural e que, por esse motivo, torna seu estudo difícil. Na medida em que se trata de produzir certos fenômenosusando o instrumento físico apropriado, a atividade científica experimental é obviamente uma forma de prática. É uma atividade objetiva que dá origem a um produto ou resultado real e objetivo. Político Essa atividade prática do homem oferece várias modalidades, nele se inserem os diversos atos que visam a sua transformação como ser social e, portanto, a mudar suas relações econômicas, políticas e sociais. Na medida em que sua atividade toma por objeto não um indivíduo isolado, mas grupos ou classes sociais, e mesmo toda a sociedade, pode ser chamada de práxis social, embora em um sentido amplo todas as práticas tenham um caráter social, pois só o homem Ele pode realizá-lo contratando certas relações sociais e, ainda, porque a modificação prática do objeto não humano se traduz, por sua vez, em uma transformação do homem como ser social. Teórica A atividade teórica como um todo, também considera ao longo de seu desenvolvimento histórico, ela só existe pela e em relação à prática, pois nela encontra seu fundamen- to, seus fins e o critério de verdade, como tentaremos mostrar mais adiante. Mas por mais próximas que sejam as relações entre uma atividade e outra, a atividade teórica em si não mostra as características que consideramos proativas na práxis e, portanto, não devemos colocá-la no mesmo plano das formas de atividade prática de antes. nós examinamos. Em nossa opinião, a atividade teórica não é em si uma forma de práxis. Fonte: Vázquez (1980, 253-261). De acordo com o autor supracitado, além das formas existem os níveis de práxis em que de um lado tem-se a práxis criadora e reiterativa e do outro reflexiva e espontânea, que apresentarei a seguir. Práxis criadora: a prática criativa pressupõe que haja uma relação estreita entre as dimensões subjetiva e objetiva, ou seja, entre o que planejamos e realizamos. Isso sig- nifica idealizar e implementar ideias, no entanto, esse processo é simultâneo e inseparável, seu jeito, seu resultado. Portanto, o projeto e sua implementação precisam ser alterados e corrigidos pelo caminho, é por isso que confirmamos que se trata de um processo. Práxis reiterativa: a repetibilidade é sua característica e por causa da repetição sob essas circunstâncias, pensa e completa entre objetivos e subjetividade. Essa ruptura significa resultados obtidos por meio de processos repetidos e da prática criativa. É operado aqui com base no modelo previamente construído; em outros casos a situação é diferente 89UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital de quando foi originalmente criado. Nesse caso, tudo que precisa fazer é repetir ou imitar outras ações. Práxis espontânea e práxis reflexiva: a consciência que antes é chamada de prática não se extingue da práxis espontânea ou reflexiva, por isso ambas as práxis não serão apresentadas de forma separada, pois a atividade espontânea está presente no seio da atividade reflexiva e, para qualificar a prática como espontânea ou reflexiva, deve ser levado em consideração o grau de consciência que se tem de uma atividade prática que está sendo desenvolvida. É importante levar em consideração as formas e os níveis da práxis, pois, ao analisar um determinado conjunto de objetivações humanas, deve-se ir além do que está exposto, compreendendo que a práxis está ligada à consciência de um determinado fato, podendo transformar o ser social. 3.3 Serviço Social Como Práxis Caro(a) aluno(a), como destacado anteriormente por diversos intelectuais, o tra- balho é o ponto de partida da humanização e fundador no mundo do homem; considerada como categoria central na vida do homem e uma atividade que transforma a natureza em mercadorias; um elemento constituinte da existência social e uma categoria exclusiva dos homens, entre outros fatores que transforma a vida em meio a sociedade. Entender a importância do trabalho na vida do homem faz toda a diferença quando atua como assistente social, principalmente ao diferenciar a práxis da categoria com a do trabalhador. Nesse sentido, Costa (1999) destaca ser fundamental a compreensão e distinção de ambas práxis, pois é por meio desse entendimento que o assistente social poderá atuar frente às diversas expressões da questão social. 90UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital Portanto, a autora supracitada destaca que o trabalhador muda uma matéria da natureza por meio do processo de trabalho, muitas vezes não pensa, simplesmente age por meio da linha de produção, podendo usar um pedaço de ferro para transformar algo, tendo leis fixas como objetivos para segui-las. Já o assistente social atua sobre o comportamento de indivíduos, forma e o conteúdo de agir nas relações sociais também dependem dos próprios pensamentos e sentimentos do indivíduo por meio da reação individual de cada fato histórico. Além dos assistentes sociais atuarem sobre os indivíduos para fortalecê-los e incentivá-los a agirem em uma determinada situação. Logo, a práxis do assistente social não deve ser comparada com a dos demais trabalhadores, visto que a matéria que trans- forma o meio de trabalho é diferente. O assistente social transforma as relações sociais e estas são qualitativa- mente (ontologicamente) diferentes da matéria natural. Por isso a práxis do assistente social é, no dia a dia, completamente diferente da práxis do operá- rio. Não apenas seu local social é muito distinto (o operário trabalha na fábri- ca ou na agricultura e o assistente social, na enorme maioria das vezes, em órgãos públicos ou ONGs), mas a própria atividade é em tudo muito distinta. Essa é a razão de a preparação profissional de um assistente social ser tão distinta da de um operário. Os conhecimentos e as habilidades requeridas são muito diversas, em cada caso. E isto decorre do fato de que eles atuam sobre uma matéria e atendem a necessidades sociais em tudo distintas (LES- SA, 2012, p. 67). Neste sentido, comparar a práxis do assistente social com os demais trabalhadores pode ser um equívoco, não apresentando bons resultados ideológicos. Mas é importante entender essa distinção, pois o maior público atendido pelos assistentes sociais são os trabalhadores e entender o papel de cada um na sociedade faz toda a diferença que acaba aproximando o assistente social dos seus usuários ao invés de afastar. O assistente social, portanto, não apenas não “trabalha” como o operário, como ainda é um “trabalhador” distinto do operário. O que os aproxima é ape- nas a forma de sua inserção no mercado de trabalho, o fato de serem assala- riados. Mas, por baixo dessa semelhança superficial, há enormes distinções ontológicas: suas práxis são muito distintas; atendem a funções sociais muito diferenciadas e, além disso, pertencem a distintas classes sociais (LESSA, 2012, p. 72). Portanto, não tem sentido comparar a atuação dos assistentes sociais com os de- mais trabalhadores, muito menos com outros profissionais, como: psicólogos, pedagogos, advogados, médicos, entre outros, pois a prática ontologicamente é diferente e os assis- tentes sociais atuam sobre as relações sociais nas mais diversas expressões da questão social advindas da sociedade capitalista. De acordo com Vasconcelos (2017) é na sociedade capitalista que o trabalho se torna um modelo prático da exploração estimulada pela burguesia como forma de obter lucros. Neste sentido, os trabalhadores reproduzem esse modelo prático em diferentes 91UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital níveis e em todas as instâncias da vida social, incluindo profissionais de ensino superior, que fazem parte da classe trabalhadora. Do ponto de vista das necessidades da burguesia e da acumulação, o Serviço Social foi criado para atenderàs suas necessidades, com isso os profissionais são considerados trabalhadores assalariados, atuando sobre a renda das mercadorias na produção e no trabalho. Podemos então perceber que os assistentes sociais em instituições públicas ou em empresas privadas, de um modo ou de outro, com uma mediação ou outra, vivem da riqueza produzida pelos operários. Por isso, tal como to- das as outras “classes de transição”, os assistentes sociais são assalariados porém não são operários. E, pela mesma razão, diferente da totalidade da “classe de transição”, o proletariado é a única classe que vive da riqueza por ela produzida. É por essa razão, e não por qualquer outra, que os operários conformam a única classe que nada tem a perder com a superação da socie- dade capitalista a “não ser seus grilhões”; por isso os operários são, ao fim e ao cabo, a única classe social historicamente comprometida com a supera- ção da propriedade privada (LESSA, 2012, p. 72). Portanto, não podemos considerar o Serviço Social como trabalho que vive da riqueza produzida, mas uma categoria capaz de atender as necessidades da classe traba- lhadora. Caro(a) aluno(a), o Serviço Social como práxis é considerado de forma consciente, planejado e avaliado, é parte e expressão da prática social que inclui o trabalho, as ativi- dades fundadoras da existência social e a base das atividades econômicas, no entanto a alienação e exploração modificaram a sociedade que criaram e produziram os problemas sociais, fatores indispensáveis na sociedade capitalista. Em síntese, os assistentes sociais devem atuar de forma propositiva, entendendo a importância do trabalho na vida do ser humano. Mas, enquanto categoria regida por um Código de Ética e com um Projeto Ético Político, precisa ter em mente que o Serviço Social como práxis deve ter consciência do todo, exercer a profissão ao nível da práxis de forma criativa e reflexiva, tendo na criticidade um fator importante para compreender as relações sociais e os diversos problemas postos na sociedade. O Serviço Social como práxis tem o papel de buscar uma visão transformadora com base na prática revolucionária, tendo o Projeto Ético Político como o ponto de partida. 92UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 4. O PROJETO ÉTICO - POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: EMANCIPAÇÃO HUMANA, PARA ALÉM DOS DIREITOS E DA CIDADANIA BURGUESES Caro(a) aluno(a), a incorporação do Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro aconteceu a partir do ano de 1990, e logo após tivemos o novo Código de Ética Profissional, de 1993, e a nova Lei nº 8.662/1993, que regulamenta a profissão vigente até a presente data; e as diretrizes curriculares, em 1996, materializando o projeto profissional. Consideradas o tripé que dá visibilidade teórica e ético-política, destacando a profissão na divisão social e técnica do trabalho, no âmbito das relações sociais por meio da teoria social marxiana. Como destacado na segunda unidade entre os anos de 1960 a 1980 a categoria realizou debates por meio de congressos e outros encontros para que a ruptura com o conservadorismo acontecesse, por meio do processo histórico de luta pela hegemonia é que o Projeto Ético Político se constituiu e o que vamos nos aprofundar a seguir. 93UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital 4.1 Uma Breve Contextualização do Projeto Ético-Político Como destacado, o Projeto Ético Político da profissão é resultado de um processo histórico e luta pela constituição da hegemonia por meio de debates que reuniram diversos assistentes sociais da época para o avanço da profissão. Ao analisar esse processo his- tórico, mais especificamente entre os anos de 1960 a 1980 fica evidente que foram quase 30 anos de muitas discussões e reflexões acerca da profissão até se chegar a intenção de ruptura, configurando definitivamente o rompimento com o conservadorismo. De acordo com Netto (2005), houve três momentos marcantes para a profissão, até se chegar ao Projeto Ético Político, que foi a perspectiva modernizadora, e tinha como propósito adequar o Serviço Social em relação ao instrumento de intervenção. As discus- sões acerca da perspectiva modernizadora se deram por meio dos textos dos seminários de Araxá e Teresópolis. O segundo foi a reatualização do conservadorismo, que se aprofunda na he- rança histórica e conservadora da profissão, substituindo as bases teórico-metodológicas, tendo como referência o crítico-dialético, inspirado na fenomenologia. Por fim, a intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional, diferente das anteriores, apresenta uma crítica sistemática ao desempenho tradicional e os estudos teóricos, metodológicos e ideológicos que envolvem a profissão, com o desejo de romper com qualquer herança do pensamento conservador. Utilizando da teoria marxista para entender a sociedade capitalista, a luta da classe trabalhadora e seus interesses imediatos, fato que aconteceu no período da ditadura militar. O Projeto de Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro considera a profissão como um produto histórico, que se constitui em uma forma de trabalho coletivo na divisão social e técnica do trabalho e seu significado social e ideológico pertence ao leque das relações sociais entre suas diversas classes sociais. O projeto de intenção de ruptura 94UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital do país foi formulado no contexto de uma transição democrática em um contrato de cima para baixo da classe dominante, acordado pelos militares. O projeto foi resultado da ampla mobilização da classe trabalhadora do ambiente social no final dos anos 1970, mas foi na década de 1980 que combinou a consolidação teó- rica e política da ruptura do Serviço Social no Brasil e a expressou nas seguintes categorias de organizações: política sindical, formação acadêmica e prática profissional. As consequências dos ajustes estruturais no campo das infraestruturas e supe- restruturas afetaram os assistentes sociais, incluindo os assalariados, os participantes do trabalho coletivo, a divisão social e técnica do trabalho e o trabalho profissional, que têm base social em muitas manifestações dos problemas sociais da história da indústria. O debate profissional precisa percebê-lo interna e externamente, a fim de analisar as deci- sões que o influenciam e moldam, conquistar a hegemonia, por meio do projeto de ruptura com o conservadorismo, tendo a direção sociopolítica profissional por meio de diferentes processos de lutas sociais. O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro expressa o reco- nhecimento das demandas e anseios da massa trabalhadora e está vinculado a um projeto societário arraigado na vida social brasileira que contradiz a oposição da sociedade capita- lista. Com isso, temos o projeto profissional, que propõe o campo da conquista no quadro progressista da luta social e democrática do país, portanto o projeto societário e profissional é importante, que analisaremos a seguir. 4.2 Projetos Societários e Projeto Profissional De acordo com Netto (1999, p. 2), “os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade”. Ou seja, se constitui em um macro projeto como sugestão para toda a sociedade, mas somente o projeto societário tem essa caracte- rística, em outros projetos coletivos não existe essa amplitude e inclusividade. 95UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital De acordo com Teixeira e Braz (2009, p. 3), “tanto os projetos societários quanto os projetos coletivosvinculam-se a práticas e atividades variadas da sociedade. São as próprias práticas/atividades que determinam a constituição dos projetos em si”. Ou seja, ambos devem ter em sua base uma relação com a prática e a atividade, que está posta na sociedade, levando em consideração o caráter político e ideológico. Assim como apresen- tado no Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro, que tem em sua base a prática e atividade que os profissionais deverão realizar que está atrelada aos três pilares que fideliza o PEP, que são: Código de Ética Profissional; as diretrizes curriculares e a Lei que regulariza a profissão, para entender o que está posto na sociedade e como o projeto deve ser desenvolvido mediante a luta de classes. Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e si- multaneamente, projetos de classe, ainda que refletem mais ou menos forte- mente determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas etc.). Efetivamente, as transformações em curso na ordem capitalista não reduzi- ram a ponderação das classes sociais e do seu antagonismo na dinâmica da sociedade (NETTO, 1999, p. 2-3). Se analisar o contexto histórico da nossa sociedade pode-se considerar que os projetos societários são necessários, pois é por meio deles que existem os demais projetos, considerando que a história da sociedade até os dias de hoje é a história da luta de classes, a classe em luta levantou objeções a interesses antagônicos que transcendem as dimen- sões históricas. É importante destacar que o projeto societário responde aos interesses da classe trabalhadora, dispondo de condições que favorecem o enfrentamento dos problemas postos pela ordem burguesa. Os Projetos profissionais mostram autoimagem profissional e escolhem valores para legitimar a sociedade, definir e priorizar seus objetivos e funções, formular requisitos para exercício, como: teoria, prática e institucionais para o exercício, o comportamento dos profissionais estabelece a base de seu relacionamento com os usuários em outras organizações e instituições profissionais, privadas e sociais (NETTO, 1999, p. 4). Nesse sentido, o autor supracitado destaca que os projetos profissionais também são estruturas dinâmicas que podem responder às mudanças no sistema de demanda social de operação profissional, mudar para aspectos econômicos, históricos e culturais, evolução teórica e prática da própria profissão e mudanças na composição social dos grupos profissionais. Por todos esses motivos, projetos profissionais também serão atualizados e modificados. De acordo com Teixeira e Braz (2009), o projeto profissional está vinculado a um projeto societário e o eixo central está relacionado à direção do desenvolvimento social e as 96UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital disputas entre os projetos societários é o que determina, em última instância, a transforma- ção ou a persistência de uma determinada ordem social. Portanto, os projetos profissionais seriam inimagináveis sem a existência do projeto societário que está presente em qualquer projeto coletivo, incluindo o Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro. 4.3 Emancipação Humana, Para Além dos Direitos e da Cidadania Burgueses O termo emancipação humana foi utilizado por Marx (2010) na sua obra Sobre a questão judaica, publicada em 1844, nos Anais Franco-Alemães, fazendo uma crítica ao Estado Político a partir das publicações dos artigos do jovem hegeliano Bruno Bauer entres os anos de 1842 e 1843, devido os judeus não aceitarei a religião posta pelo Estado, o cristianismo, com isso eram privados dos direitos políticos. O Estado cristão só conhece privilégios. O judeu possui dentro dele o privi- légio de ser judeu. Como judeu ele tem direitos que os cristãos não têm. Por que almeja direitos que ele não tem e dos quais gozam os cristãos? Ao querer emancipar-se do Estado cristão, o judeu pede que o Estado cristão renuncie ao seu preconceito religioso. Acaso ele, o judeu, renuncia ao seu preconceito religioso? Teria ele, portanto, o direito de pedir a alguém tal abdicação da religião? O Estado cristão, por sua própria essência, não pode emancipar o judeu; mas, arremata Bauer, o judeu, por sua própria essência, não pode ser emancipado. Enquanto o Estado for cristão e o judeu judaico, ambos serão igualmente incapazes tanto de conceder quanto de receber a emancipação. O Estado cristão só pode se relacionar com o judeu na qualidade de Estado cristão, isto é, privilegiando, ao permitir o isolamento do judeu em relação aos demais súditos, mas fazendo com que sinta a pressão das demais esferas isoladas, e permitindo que ele sinta tanto mais essa pressão pelo fato de se encontrar em oposição religiosa à religião dominante (MARX, 2010, p. 33-34). 97UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital O termo Estado cristão foi utilizado por Bauer para tratar sobre a emancipação dos judeus, no entanto Marx se apropria desse termo para criticar o Estado, que não deve ter um posicionamento na base religiosa, visto que o Estado é político. Para Marx (2010), não se trata mais de retomar o caminho da Revolução Francesa e entrar no caminho certo, mas de uma revolução inédita e sem precedentes, esta não é apenas uma questão de emancipação política, mas uma questão de alcançar a emancipação humana. Do caráter individual e liberal da emancipação, questionado por Marx parte dos direitos humanos instituídos pela Revolução Francesa, que resultaram em momentos contraditórios: “por um lado, revolucionaram as relações feu- dais; por outro, cercam o indivíduo em seu egoísmo, na sua propriedade, na sua liberdade, perdendo a dimensão da totalidade onde está inserido (LUIZ, 2008, p. 119). Neste sentido, a emancipação política só faz sentido quando vemos a emancipação humana e esse deve ser um passo histórico no caminho da libertação humana. Sabendo que a libertação política é limitada, ou seja, só cria uma democracia formal, declarando direitos e liberdades que não podem realmente existir em uma sociedade burguesa, para Marx (2010), a emancipação política deve ser parcial, não tendo lado privilegiado, o que não acontece na realidade. De acordo com Luiz (2008), a emancipação humana se dá no processo de inferir o círculo dos indivíduos sem considerar a sociedade, transformando suas relações pessoais em uma dimensão social, como uma força social organizada na construção democrática de outra sociedade. Para o autor, a consideração de Marx é radical: “a emancipação humana só poderá ser alcançada fora da sociedade burguesa, com a superação dos interesses individuais, da dominação e da falta de liberdade” (LUIZ, 2008, p. 118). Ao analisar as bases do conceito marxista entende-se que há uma herança deixada pelos predecessores e o alicerce fundamental da emancipação humana é a possibilidade dos seres humanos terem o controle da sua história de forma consciente e sistemática, que para Marx não precisa ser um iluminista, nem um indivíduo liberal, mas alguém que dá forma ao mundo. A emancipação humana só poderá acontecer se o homem estiver disposto a fazer tal mudança. De acordo com Bressan (2009), a emancipação humana começou a ser citada de forma mais aguda no Serviço Social a partir da década de 1990. Tem causado esco- lhas valiosas para o projeto profissional, neste aspecto, uma base ética que fundamenta essas escolhas é a liberdade tida como valor ético, a emancipação e o aprofundamento da democracia conforme regido no Código de Ética Profissional de 1993 nos princípios fundamentais. 98UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital I. Reconhecimento da liberdade como valor éticocentral e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; [...] IV Defesa do aprofundamento da democracia, en- quanto socialização da participação política e da riqueza socialmente pro- duzida (CONSELHO FEDERAL DE ASSISTENTES SOCIAIS, 1993, p. 24, grifos nossos). Neste aspecto, o conceito da emancipação humana que fundamenta o Projeto Ético Político profissional nos revela um projeto que rompe com a realidade existente na socieda- de, conforme criticado por Marx, sendo destacadas a liberdade, a emancipação humana e a democracia como fatores importantes que não encontram espaço na sociedade capitalista. Uma das indagações contidas no PEP é o que os profissionais devem fazer no momento da atuação profissão, ou seja, ter em mente o significado da liberdade, democracia e eman- cipação humana – os valores recebidos e como devem ser produzidos. Identificando que esses valores também remetem ao dever para com uma sociedade futura, entendendo que na sociedade capitalista esses valores são limitados e isto deve estar claro na defesa do projeto profissional. O Projeto Ético Político Profissional do Serviço Social Brasileiro expressa os principais valores ideológicos, como: liberdade, emancipação e democracia, que possibi- lita superar as condições desafiadoras mediante à situação posta na sociedade, como a opressão e dominação, além do trabalho alienado. Entender a emancipação humana, como surgiu e seu significado, vai além dos direitos regidos na Constituição Federal de 1988, pois é por meio da emancipação humana que a sociedade consegue ter uma perspectiva melhor em relação ao futuro e o assistente social enquanto profissional regulamentado e inscrito na divisão social e técnica do trabalho tem o dever de estar à frente. Por esse motivo o projeto profissional precisou existir e fazer parte da categoria profissional e cabe somente a nós, assistentes sociais, lutar pela garantia dos direitos e não retroceder as conquistas já alcançadas. 99UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade. Tenho certeza de que a cada unidade os conteúdos apreendidos vão fazendo mais sentido sobre a profissão e o que o assistente social faz e a sua importância na sociedade. Entender alguns conceitos é relevante e importante, como, por exemplo, os que foram apresentados nesta unidade – a concepção de mundo, que nada mais é do que o processo histórico do ser humano e a peça fundamental para entender a realidade já vivida ou a que está sendo vivida. Isso faz toda a diferença no momento da atuação profissional, visto que os assistentes sociais, para realizar um atendimento e dar o parecer, muitas vezes, precisa fazer resgates históricos da concepção de mundo analisada. Um segundo conceito que considero importante para a categoria profissional é a crítica econômica política feita por Karl Marx em seu livro O Capital - volume 1, e que depois outros estudiosos deram sequência. Entendendo como a sociedade capitalista e a classe trabalhadora funcionavam mediante a um processo de produção do capital, fator importante para que os assistentes sociais entendam, afinal, a categoria tem em sua base teórica a criticidade e a busca pela compreensão do real e do tangível. Outro conceito importante para a categoria é o entendimento do trabalho na vida do homem e a práxis que está voltada à prática, relacionando a atividade consciente e re- volucionária, tendo formas e níveis relevantes para compreender todos e qualquer conceito posto na sociedade e entender tanto o conceito trabalho quanto práxis é relevante para a categoria profissional. Primeiro porque as práticas do assistente social são iguais às dos demais profissionais/trabalhadores e dentre os níveis da práxis o que mais precisa ser utilizado no seio da categoria é a criatividade e a reflexividade. E não podemos deixar de falar sobre o Projeto Ético Político da Profissão do Ser- viço Social brasileiro, que teve a sua origem no ano de 1990 e tem em sua base o Código de Ética Profissional, as Diretrizes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão sendo fundamentada pela liberdade, democracia e emancipação humana pela busca e garantia dos direitos sociais. Espero que esse estudo tenha te ajudado e desejo bons estudos! 100UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital LEITURA COMPLEMENTAR Projeto Ético Político do Serviço Social (...) Os projetos profissionais são impensáveis sem esses pressupostos, são infundados se não os remetemos aos projetos coletivos de maior abrangência: os projetos societários (ou projetos de sociedade). Quer dizer: os projetos societários estão presentes na dinâmica de qualquer projeto coletivo, inclusive em nosso projeto ético-político. Os projetos societários podem ser, em linhas gerais, transformadores ou conser- vadores. Entre os transformadores, há várias posições que têm a ver com as formas (as estratégias) de transformação social. Assim, temos um pressuposto fundante do projeto ético-político: a sua relação ineliminável com os projetos de transformação ou de conserva- ção da ordem social. Dessa forma, nosso projeto filia-se a um ou outro projeto de sociedade não se confundindo com ele. Não há dúvidas de que o projeto ético-político do Serviço Social brasileiro está vinculado a um projeto de transformação da sociedade. Essa vinculação se dá pela pró- pria exigência que a dimensão política da intervenção profissional põe. Ao atuarmos no movimento contraditório das classes, acabamos por imprimir uma direção social às nossas ações profissionais que favorecem a um ou a outro projeto societário. (...) Fonte: Teixeira (2009). 101UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO 01 Título: Código de ética do/a Assistente Social comentado. Autor: Maria Lucia Silva Barroco, Sylvia Helena Terra Editora: Cortez Sinopse: Este livro preenche uma lacuna. Não havia até agora um texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor, de 1993, na sua totalidade. As autoras comentam o Código em seus fundamentos sócio-históricos e ontológicos, bem como em suas reais possibilidades de materialização, no contexto de uma sociabilidade fundada na acumulação e na propriedade privada. LIVRO 02 Título: Economia Política: uma introdução crítica. Autor: José Paulo Netto e Marcelo Braz Editora: Cortez Sinopse: Essa obra permite a compreensão da constituição e do desenvolvimento do modo de produção capitalista, bem como das principais categorias de análise a partir das quais Marx elaborou sua genial crítica. Mantendo-se fiéis à impostação teórico-metodo- lógica do filósofo alemão bem como incorporando às suas lições o que mais fecundo produziu a chamada tradição marxista, os autores fornecem os elementos principais para o debate sobre as condições de existência do capitalismo e, o que é mais importante. de sua superação rumo a uma organização societária onde o ser social possa realmente ver-se emancipado dos processos alienan- tes e potencialmente barbarizantes impostos pelo capital. FILME/VÍDEO 01 Título: Germinal Ano: 1993 Sinopse: durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições mise- ráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os mora- dores de uma grande mineradora, decidem realizar uma greve e se rebelar contra seus chefes, causando o caos. 102UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social Brasileiro e Formação na Sociedade do Capital FILME/VÍDEO 02 Título: O poço Ano: 2019 Sinopse: Exibido pela Netflix, O Poço conta a história deum lugar misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma oportunidade de solidariedade Link do vídeo: Disponível na Netflix 103 Plano de Estudo: ● O que fazer profissional; ● Os quatro projetos profissionais; ● A escolha ético-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais; ● Respostas profissionais: tendências, limites, consequências e possibilidades não exploradas. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender o conceito do quefazer profissional; ● Contextualizar os quatros projetos profissionais ● Conceituar a escolha ética-política e teórico-metodológica frente aos diferentes projetos profissionais; ● Apresentar as respostas profissionais, dentre as tendências, limites, consequências e possibilidades que não foram exploradas. UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 104UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta quarta unidade vamos abordar temas relevantes em relação ao assistente social na luta de classes, temas pelos quais te farão refletir sobre a prática profissional como por exemplo o quefazer profissional; os quatro projetos, o porquê da escolha ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes projetos profissionais e as respostas sobre as tendências, limites, consequências e possibilidades não exploradas e para entender melhor sobre esses temas foi preciso dividir esta unidade em quatro partes e para dar embasamento utilizei como base central a teoria a autora Ana Maria de Vascon- celos em seu livro “a/o assistente social na luta de classes: projetos profissional e mediação teórica-prática” que recomendo a leitura para entender o que foi exposto nesta unidade. Diante disso, destaco de forma breve o que irá encontrar nas quatros partes desta unidade, sendo que na primeira apresentarei sobre a dúvida que se tinha após a regula- mentação da profissão, era um misto de clareza com uma prática voltada para atender aos interesses da sociedade capitalista e do Estado, nesta parte apresenta-se um antes de depois do o quefazer profissional em relação ao Movimento de Reconceituação, um fato que marcou a categoria. Na segunda parte serão apresentados os quatro projetos, sendo que o primeiro é considerado o mais importante, pois aborda conceitos que vai de encontro com o rompimento com a prática conservadora, os outros três projetos estão voltados para a prática profissional, mas ainda encontram resquícios conservadores. Já na terceira unidade serão destacados os motivos que levaram à escolha de duas bases consideradas importantes para a fundamentação do projeto, sendo que o primeiro está baseado nos preceitos éticos contidos no Código de Ética Profissional e o segundo nas bases teóricas que proporcionam ao assistente social entender a realidade posta no cotidiano. E por fim, a quarta parte traz quatro pontos importantes abordados em forma de questionamentos para que possa refletir sobre o fazer profissional para que possa entender toda a dinâmica que envolve o assistente social criando assim respostas no momento do exercício profissional. Espero que os conteúdos contidos nesta unidade possam te fazer refletir e entender o contexto que o assistente social está inserido. Bons estudos! 105UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 1. O "QUEFAZER PROFISSIONAL" O termo “quefazer profissional” surge na Era Vargas, quando a profissão se con- solida/regulamenta, estruturada por meio de um olhar mais perceptivo do que está exposto na sociedade para atender aos interesses da ordem burguesa. Com isso, a inserção do assistente social passa a ser sob o controle e a submissão da classe trabalhadora por meio das instituições sociais criadas pelo Estado, mas que em alguns momentos tinha o envolvimento da igreja católica nas ações realizadas. No entanto, neste período, por mais que a profissão tivesse referências teóricas da Europa voltadas para entender as relações sociais capitalistas, não se tinha grandes investimentos teórico-metodológicos que privilegiasse o técnico-operativo com base argu- mentativa, capaz de entender o processo social como algo mais complexo. Neste sentido os comportamentos tornaram-se neutros, apresentando respostas prontas diante do problema social exposto e, em algumas situações culpabilizando, responsabilizando ou individuali- zando a classe “menos favorecida”, o que de certa forma fortalecia a ordem burguesa. Neste período o “quefazer profissional” era organizado de forma fragmentada em relação ao processo social, a questão social era entendida como algo natural e a cada expressão posta na sociedade aplicava-se os métodos da Mary Richmond (estudo, diag- nóstico, tratamento, avaliação e alta) de forma isolada. Ou seja, eram realizados em uma pessoa e/ou família, entendo que o problema poderia ser apenas um e/ou um conjunto. 106UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Para resolver o problema teria que tratar no individual e, com isso, fragmentava o processo social, separando os fatos ocorridos do contexto histórico. Caro(a) aluno(a), se recapitular a trajetória do Serviço Social no Brasil – desde o processo de industrialização até os dias atuais, observará que a sociedade, de forma geral – Estado, sistema capitalista, processos de trabalho, trabalhadores, profissões e profissio- nais, inclusive o Serviço Social e assistentes sociais –, passaram por grandes mudanças, havendo a necessidade de se atualizar e/ou modernizar a partir do contexto histórico atual. Diante dessas mudanças, tanto o pensar quanto o quefazer profissional precisou passar por esse processo de atualização e modernização que apresentarei no quadro a seguir. QUADRO 1 - O QUEFAZER PROFISSIONAL - ANTES DE DEPOIS Antes dos anos de 1960/1980 Depois dos anos de 1960/1980 *Tratamento de casos, grupos e co- munidades *Terapia comunitária, familiar, de idosos, de trabalhadores apo- sentados ou em processo de aposentadoria, dependentes quí- micos etc. *Utilização de instrumentos; recursos e técnicas como: estudos socioeconômicos, genograma, cadastramentos, operação de sistemas informatizados (comunicação e gerenciamento de in- formações). *Dinâmicas de grupos e processos (des) educativo, tais como: educação ambiental; orientação burocrática de acesso a políti- cas/programas/benefícios e cumprimento de condicionalidades, de regras, códigos de conduta e disciplina empresariais; avalia- ção funcional/para contratação etc. Fonte: Vasconcelos (2017, p. 281). É evidente que houve uma mudança grandiosa em relação ao quefazer profissional, pois antes se tinha um modelo reproduzido no estudo, diagnóstico, tratamento, avaliação e alta baseado no método clínico de Mary Richmond, que tem na base dos estudos o tratamento de doenças na concepção de saúde com falta de doença. Nesse sentido, o Serviço Social de Caso acabou sendo resumido no estudo dos problemas sociais de um indivíduo, ampliando para um caso social apresentando um plano de tratamento, sendo diagnosticado a partir do desenvolvimento e das potencialidades, por meio das entrevistas e acompanhamento para que o indivíduo pudesse resgatar a sua au- toestima e, somente após apresentar uma melhora do comportamento é que o profissional poderia dar alta e se analisasse necessário daria continuidade ao tratamento, dependendo do grau de evolução. 107UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes A partir da intenção de ruptura e o processo de renovação, o estudo “caso social”, que era utilizado no Serviço Social conservador e tradicionalista, deixa de fazer parte do quefazer profissional, porém pode serencontrado no cotidiano dos profissionais que atuam em hospitais emergenciais. Isso pode ser um retrocesso para a categoria, uma vez que esse método não tem uma base profunda em relação ao todo, no entanto cabe ao assis- tente social identificar e melhorar o seu processo de atuação a partir da nova concepção do Serviço Social. Nos dias atuais, o quefazer profissional deve estar incorporado nas diferentes demandas e segmentos da classe trabalhadora, por meio das políticas públicas e na luta contra a opressão e discriminação, além da busca pela democracia e emancipação huma- na, entendendo a dimensão da exploração do trabalho da grande parcela da sociedade e a concentração de riqueza da pequena parcela, tendo a noção de que o usuário do serviço que está inserido é sujeito de direitos. O quefazer profissional atualmente apresenta muitos avanços, tendo o profissional o papel de estudar continuamente, além de pesquisar, planejar e executar políticas públi- cas e sociais. A parte técnica conta com instrumentos importantes, como: laudos; perícias; pareceres; estudos sociais; visitas domiciliares; entrevistas. Além da realização de preen- chimento de cadastro; acolhimentos; orientações; encaminhamentos, terapias (familiares e comunitária); projetos sociais; participação em movimentos sociais, entre outros que fazem parte do quefazer do assistente social. É evidente que as mudanças dentro da categoria profissional, principalmente no quefazer profissional deu-se por meio dos avanços adquiridos ao longo dos debates que aconteceram entre os anos de 1960 a 1980. Considerado por muitos profissionais como um marco para a categoria, que saiu de um método mais centralizado, ampliando os horizontes e entendendo o papel da profissão na sociedade, principalmente pelo fato de que antes buscava atender os interesses da sociedade capitalista e do Estado e hoje busca pela liberdade, democracia e emancipação humana, na luta pela garantia dos direitos. Cabe destacar que o quefazer profissional, assim como os demais atributos do assistente social, precisa estar em constante mudança. Sempre evoluindo e melhorando as forças do que deve ser feito e como deve ser feito, nunca perdendo o compromisso ético, político e metodológico que envolve os profissionais, tendo a capacidade de decifrar a realidade social posta no cotidiano nos diversos campos de atuação. 108UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 2. OS QUATROS PROJETOS PROFISSIONAIS Caro(a) aluno(a), o desenvolvimento do Serviço Social no contexto histórico brasi- leiro foi importante para a consolidação da categoria profissional. Entre os anos de 1960 a 1980 houve muitas atualizações, principalmente na parte teórica e prática que envolve os profissionais; os projetos contribuíram para tal feito por meio de destinos históricos diferentes. Segundo Vasconcelos (2017, p. 293), “as fronteiras teóricas e ético-políticas entre esses projetos são bem delimitadas, a depender das referências teóricas e ético-políticas que os sustentam e que sustentam os sujeitos profissionais”, isso porque os projetos ainda tinham o caráter conservador, com exceção do primeiro projeto – que irei abordar a seguir. Este é considerado pela autora como o único projeto anticapitalista, abordando caracterís- ticas para romper com o conservadorismo. Os demais projetos são importantes quando se analisa a perspectiva do cotidiano e da prática. Em resumo, os projetos apresentados de certa forma destacam características importantes em relação às estratégias, habilidades e recursos essenciais para o profissional. 109UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 2.1 Projeto Com Influência da Tradição Marxista Segundo Netto (1999), este projeto originou-se do processo de enfrentamento e denúncia do conservadorismo, iniciado durante o período de transição das décadas de 1970 para 1980 com a ruptura intencional. Em seu desenvolvimento e no processo de integração política teórica e ética, o projeto foi denominado Projeto Ético Político Profissio- nal do Serviço Social Brasileiro, na década de 1990, estando vigente até a data presente, baseado nos princípios do Código de Ética Profissional do Assistente Social; no processo de formação - Diretrizes curriculares da ABEPSS e na Lei que regulamenta a profissão –, abordando de forma explícita a referência teórica social crítica de Karl Marx. Caro(a) aluno(a), é importante destacar que os 11 princípios contidos no Código de Ética são os referenciais teórico-metodológicos e técnico-operacionais contidos no progra- ma de formação apresentado pela ABEPSS (1996). Podemos compreender os aspectos de socialização, emancipação, revolução e anticapitalismo contidos no projeto, que tem como propósito superar o conservadorismo histórico enraizado na profissão, fortalecendo a ruptura, principalmente com a ordem burguesa, tendo a emancipação humana como um dos objetivos principais para a concretização do Projeto Ético Político. Esse projeto profissional proporciona uma elaboração orgânica e substantiva da pesquisa e geração de conhecimento, pois a pesquisa é o elemento básico do papel da distribuição e integração profissional. Nesse sentido, além do uso adequado do conhe- cimento histórico e da socialização dos resultados da pesquisa realizada por assistentes sociais, é necessário encontrar meios, canais e métodos para sintetizar o progresso como um todo, principalmente nas realizações e nos avanços dos pesquisadores em relação à parte teórica técnico operativo 110UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes todo/a assistente social, no seu campo de trabalho e intervenção, deve de- senvolver uma atitude investigativa: o fato de não ser um/a pesquisador/a em tempo integral não o/a exime de querer de acompanhar os avanços dos conhecimentos pertinentes ao seu campo trabalho, quer de procurar conhe- cer concretamente a realidade da sua área particular de trabalho. Este é o principal modo para qualificar o seu exercício profissional, qualificação que, como se sabe, é uma prescrição do nosso próprio Código de Ética (NETTO, 2009, p. 20). Neste sentido, o projeto profissional impõe vínculos com movimentos, lutas sociais e organizações representativas de trabalhadores de diferentes classes para fortalecer a formação, mobilização e organização dos trabalhadores, apoiando as lutas coletivas anti- capitalistas e emancipatórias. Portanto, por meio do Projeto Ético Político do Serviço Social brasileiro, uma série de teorias, metodologias e referenciais éticos políticos sustentam toda a ação do profissio- nal que busca pela hegemonia da direção social voltada para o Serviço Social. Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro —, que tem sua substância na legislação (Código de Ética, Lei de Regulamentação da Profissão [Lei n. 8.662/1993] e Projeto Formação ABEPSS); na produção de conhecimento que alcança, para além da petição de princípios, ser mediada pela teoria social crítica; nas práticas profissionais e políticas mediadas pelo projeto e na luta política da categoria, capitaneada pelos seus organismos de repre- sentação (Conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO) (VASCONCELOS, 2017, p. 299). Em síntese, esse é o projeto que sempre orientou os debates teóricos e manteve a hegemonia, estando presente na luta política e no processo organizativo profissional. Seu maior desafio é não ter mediado ou estar mediando a maioria das práticas profissionais, in- dependente do campo de atuação, também instaurada na formação profissional, conforme evidenciado em múltiplos estudos sobre a idade da formação e da atuação profissional dos assistentes sociais brasileiros. 2.2 Projeto de “Cariz Tecnocrático” Esse projeto herdou a perspectiva modernizadora dos anos de 1960 a 1970 e “re- novada pela ofensiva neoliberal e reciclada por outrasocasionou o pauperismo e empobrecimento da classe operária, gerando diversos problemas sociais. Isso chamou a atenção da classe burguesa e do Estado, que precisava de algum mecanismo para atender as necessidades emergentes da classe operária, para continuar vendendo a sua força de trabalho. O segundo motivo é que a questão social se tornou o objetivo do trabalho do as- sistente social, e, para analisar as suas variações, principalmente na atualidade, é preciso entender a origem e o contexto em que a questão social passou a ser reconhecida pelo Estado, classe operária e burguesia. Com isso, entender a questão social é captar as múltiplas formas de pressão social, decifrando a realidade do cotidiano, pois pensar nos problemas sociais na contemporanei- dade pode ser um desafio. A globalização econômica reproduz o pauperismo nas diversas formas ao longo da existência do ser social. Sobre a questão social no Brasil, Iamamoto (2009) destaca que a transição do capitalismo competitivo para o monopolista não foi estruturada por uma burguesia com forte tendência para a democracia e o nacionalismo, marcando o país com um sistema restrin- gido e oligárquico. Com isso, a desigualdade social aumenta a ponto de ser considerada indissociável do sistema capitalista, incorporando múltiplas expressões da questão social que se enraizaram na sociedade. Segundo Piana (2009), a questão social no Brasil deve ser considerada como algo grave, pois atinge todos os setores e camadas sociais e está constantemente ameaçada pela pobreza e exclusão. Isso porque a realidade da atual política salarial aumenta esse problema, principalmente ao construir uma sociedade coesa e clara por meio das relações democráticas e interdependentes. Partindo desta lógica, Arcoverde (2000) enfatiza que a questão social no Brasil assume diversas formas e possui características orgânicas relacionadas à desigualdade e injustiça social referente à organização do trabalho e da cidadania. Isso se deu por meio do atual modelo de produção e reprodução que o país adotou com o processo escravista, industrial, Fordista-Taylorismo e a reorganização produtiva. 9UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Dessa forma, a expressão “questão social” passa a ser resultado da relação entre produção e reprodução social causada pela concentração da riqueza. O assistente social tem a missão de decifrar as diversas formas da desigualdade social na atualidade e dar transparência às iniciativas que visam a restauração ou enfrentamento imediato. É um profissional capacitado a formular e implementar propostas por meio das políticas sociais nos órgãos públicos e/ou privados nos mais diversos espaços sócio-ocupacionais. Mas acredito que você agora deve estar se perguntando, o que a questão social tem a ver com o mercado de trabalho profissional? Pois bem, para entender o mercado de trabalho profissional, especificamente do Serviço Social, é preciso ter em mente que o objeto (questão social) que deu base para a profissão foi resultado das demandas ocasionadas pela sociedade capitalista, formando a opressão por meio da produção e reprodução material. Para atender os problemas sociais, foi necessário que profissionais capacitados pudessem atuar nos espaços/serviços promo- vidos pelo Estado para atender os interesses da burguesia. Antes da década de 1980, a maior concentração da atuação profissional estava voltada aos serviços promovidos pelo Estado; após essa década houve uma ampliação nos campos de atuação, tanto público quanto privado. Veja a seguir alguns espaços sócio-ocu- pacionais dos dias atuais. FIGURA 2 - ALGUNS CAMPOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Fonte: a autora. 10UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Conhecer alguns dos espaços de atuação profissional é importante e relevante à categoria, principalmente para você, caro(a) aluno(a), que está no processo de formação profissional. Então, te convido a pesquisar na internet e estudar os campos de atuação apresentados para entender o que o assistente social faz, ou seja, as habilidades e com- petências e os instrumentos de trabalho utilizados nesses espaços de atuação. Ah, e fica à vontade para pesquisar os demais campos de atuação que aqui não foram mencionados, mas que podem te auxiliar e dar um norte quanto a escolha do espaço que pretende atuar. O surgimento de novos campos de atuação é simplesmente pelo fato da sociedade capitalista ter evoluído, fazendo surgir as novas expressões da questão social e a necessi- dade da atuação do assistente social. Porém é preciso entender que as mudanças no mer- cado de trabalho, de certa forma, desafiam a todos os cidadãos diariamente, principalmente os assistentes sociais. Conhecer essas mudanças faz toda a diferença para não se tornar um profissional estagnado, pois é preciso progredir e evoluir, analisando a necessidade da sociedade. FIGURA 3 - MUDANÇAS NO MERCADO DE TRABALHO Para entender melhor sobre as mudanças no mercado de trabalho, vamos analisar alguns pontos apresentados por Iamamoto (2012). Primeiro o serviço público: existe um re- cuo das responsabilidades e ações do Estado na esfera social, refletindo na deterioração do orçamento e prestação de serviços sociais públicos. Isso implica na resolução dos problemas sociais, transferindo-os para a sociedade civil, onde as grandes empresas econômicas pas- sam a se preocupar e intervir nas questões sociais numa perspectiva de “filantropia corpora- tiva”, por meio das Organizações da Sociedade Civil (OSC), conhecida como Organizações não-governamentais (ONG). 11UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Neste aspecto as OSC são consideradas como um campo amplo para os assistentes sociais, assumindo a responsabilidade das políticas públicas e sociais no país, porém neces- sitam de uma série de parcerias para se manter no mercado. Como uma forma de fiscalizar os serviços prestados para a sociedade, o Estado atua muitas vezes como mantenedora dos repasses por meio das verbas públicas, o que chama a atenção da autora supracitada, enfa- tizando a distinção entre o serviço público e estatal. Com isso, temos serviços, considerados públicos, que acabam sendo terceirizados pelas entidades, criadas por pessoas que buscam minimizar os problemas sociais por meio de serviços socioassistenciais. No que se refere à Previdência Social após a reforma, a solução de problemas sociais foi de encontro com a perspectiva da privatização, o que compromete a universalização dos direitos sociais garantidos pela Constituição. O governo reduziu os benefícios para pessoas com renda mínima de 5 a 10 anos e transferiu uma valiosa participação no mercado de seguro social para o setor privado, que é o quinto maior mercado de previdência privada do mundo. Com isso, os serviços passam a ser fragmentados pelos padrões comerciais, tendo o Estado como responsável pelo atendimento ao setor dos mais pobres e excluídos. Outra mudança no mercado de trabalho profissional é no âmbito empresarial, que contrata o assistente social para eliminar as tensões, criando comportamento de produ- ção para a redução do absenteísmo, atuando no relacionamento interpessoal na área de trabalho. Nesse aspecto é preciso ficar atento(a) para não cair nas armadilhas da visão endogenista, atendendo as necessidades da sociedade capitalista. Caro(a) aluno(a), essas mudanças no mercado de trabalho são uma forma de atender aos interesses da sociedade capitalista e do Estado. Esse processo segue desde o surgimento da profissional, o fato é o que os assistentes sociais precisam saber, enquan- to profissionais regulamentados por um Código de Ética e com um Projeto Ético Político (assunto para a terceira unidade), quais são as atitudes que precisam tomar mediante as situações cotidianas. Será que o assistente social precisa decifrarteorias sistêmico- organizacionais, que lhe oferecem cauções para a sua inserção nas instituições diretamente controladas pelo capital” (NETTO, 1996, p. 126). 111UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes De acordo com Silva (2017, p. 68), esse projeto, denominado por Netto como mo- dernizadora, dispõe de um eixo estruturante definido atualmente como “fiel depositária do legado modernizador”. Tem como uma das questões centrais a “integração empreendedora dos indivíduos”, ou seja, possibilita o empoderamento do indivíduo tendo-o de modo central por meio das suas virtudes, “ressaltando traços nitidamente meritocráticos”. Neste sentido, Vasconcelos (2017, p. 301 ) destaca que o conhecimento a ser ad- quirido para o exercício profissional deve estar voltado para o “empoderamento, população de risco, capital humano, capital social, exclusão social, fragilização de vínculos afetivos, famílias vulneráveis, caso social”, concepções de reciclagem e continuidade baseados em conceitos pós-modernos que rejeitam visões holísticas e refletem sugestões neoliberais que auxilia em alcançar o desempenho profissional. Com isso, Silva (2017, p. 68) enfatiza que o “cariz tecnocrata denúncia o profissional a ser formado: o técnico bem adestrado, aqui entendido como aquele que deve conhecer o necessário para sistemicamente e criativamente operar o instituído, dinamicamente adap- tado às fronteiras institucionais”. Ou seja, esse projeto apresenta que a prática precisa ser realizada de forma técnica e mecanizada, seguindo aquilo que foi solicitado pelo empre- gador e atendendo somente o necessário, de forma sistematicamente e organizada. Neste sentido, não se pode retroceder às práticas realizadas com o método da Mary Richmond. Caro(a) aluno(a), não quero aqui enfatizar que esse método não foi importante para a categoria da época, mas atualmente não se deve aplicar, devendo ter o entendimento das bases teóricas na atualidade. Além do destaque sobre o “técnico adestrado”, há outro ponto que marcou esse projeto, que foi a submissão de muitos profissionais à ordem do capital. Segundo Silva (2017, p. 68) não foi encontrada nenhuma indagação sobre a estrutura da ordem burgue- sa, mas as “inevitáveis tensões causadas por desarranjos momentâneos racionalmente e tecnicamente administrados”, o que aproxima esse projeto para uma próxima vertente, respondendo as contradições ontológicas enraizadas na sociedade capitalista. Para Vasconcelos (2017, p. 301), esse ponto deve seguir “noções recicladas e sustentadas em concepções pós-modernas que, recusando a perspectiva de totalidade, refletem propostas neoliberais que facilitam o caminho para uma atuação profissional”. Ou seja, é necessário que os profissionais estejam concentrados nos problemas sociais imediatos com foco no indivíduo e/ou grupo que estejam em situações de vulnerabilidade, tendo a noção que ao mesmo tempo que tem respostas sobre as questões do capital deve disponibilizar acesso aos direitos, fortalecendo o coletivo. 112UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes De acordo com a autora supracitada, um projeto é determinado pela maioria dos profissionais não por causa de uma escolha consciente, mas porque, em alguns casos, eles precisam se definir por meio de uma determinada direção e a escolha do projeto deve estar alinhado com o seu compromisso, no caso dos assistentes sociais com os trabalhadores/ usuários do serviço que está vinculado. É nesse contexto, e entendo a funcionalidade da sociedade capitalista, que o projeto cariz tecnocrático tem permeado, ou seja, na luta de classes, por meio da prática cotidiana, que deve ter a necessidade de buscar nas teorias o saber da prática. Profissão por meio da formação continuada, tendo a certeza do dever cumprido em meio a sociedade,e não devendo ser braços da classe dominante seguindo a prática conservadora. 2.3 Projeto Assentado numa “Vertente Neoconservadora” Segundo Netto (1996), esse projeto é inspirado na epistemologia pós-moderna, seguindo a tendência popular das chamadas ciências sociais. Sua chave é revisar os fundamentos da conquista anti-conservadora na década de 1980, promovendo uma reen- tronização nas práticas tradicionais, dotá-las de um discurso legalizado de caráter cultural, estimular e apoiar os apelos da sociedade civil à cidadania e realizar ações-chave no âmbito das petições de solidariedade e parceria de todos os níveis. Essa perspectiva é a preferida — nem sempre conscientemente — de parte expressiva dos assistentes sociais, principalmente, de grande parte dos que tomam como objeto de investigação e/ou priorizam, na atuação profissional, questões relacionadas à raça, etnia, gênero, geração e orientação sexual (VASCONCELOS, 2017, p. 304). Neste sentido, no âmbito da produção do conhecimento, os assistentes sociais, que se referem num conceito pós-moderno, partem da crítica ao marxismo por não entender ou dar resposta às peculiaridades do indivíduo, influenciando e favorecendo o mesmo posicionamento dos assistentes sociais que escolhem essa mesma direção social nas atividades profissionais. Já na prática profissional, a referência também vem de uma com- preensão não crítica a partir da noção fundamentada de modismos e facilitadores, vendo o Serviço Social Clínico e suas ramificações, que atualmente estão sendo difundidos no campo 113UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes das políticas de assistência social por meio do uso extensivo de terapia comunitária, terapia familiar e ferramentas como o genograma. Neste caso são assistentes sociais que aderem o psicossocial como função e não como campo ou área de atuação (VASCONCELOS, 2017). De acordo com a autora supracitada, esses profissionais que realizam as suas atividades na terapia familiar e comunitária têm como foco o tratamento social e/ou de doenças físicas ou mental de indivíduos e famílias e utilizam a psicologia social como fun- ção em vez do campo de atividade; realizam atividades de maneira humana e entusiástica e frequentemente usam a prevenção de possíveis crises familiares no processo de recupe- ração e revitalização, focalizando e/ou influenciando os indivíduos, não somente no alívio da pobreza e do sofrimento, mas também no desemprego, na violência, a ignorância e a subjetividade incompleta, que são frutos da lógica capitalista. Em outras palavras, esse comportamento intencional não só leva a buscar pela cidadania para compensar a pobreza e o sofrimento, mas também conquista os direitos ocultados pela exploração do trabalho, advinda da produção de riqueza gerada pela so- ciedade capitalista. Ou seja, compensar a pobreza e o sofrimento no sentido de “salvar as coisas bonitas da pobreza” é uma característica típica da mídia burguesa, no sentido de embelezar, ocultar e encobrir a pobreza ou o sofrimento material e espiritual. Uma das maiores contradições do assistente social é afirmar uma opção pelo projeto profissional e reclamar, ao mesmo tempo e/ou como finalidade, ações que buscam: “remover bloqueios” ao desenvolvimento individual; a preven- ção “como um processo restaurador e revitalizador das possíveis crises fami- liares e conjugais” ou pessoais; “liberar potencialidades com base na utiliza- ção de recursos próprios ou do meio”, tendo em vista o “aperfeiçoamento do usuário” e “comportamentos que facilitem a relação entre casais e famílias” (VASCONCELOS, 2017, p. 311). Ora, se sabemos que, numa sociedade capitalista, a verdadeira relação entre os diferentes estratos da classe trabalhadora (os pobres e os miseráveis que entram no mercado de trabalho formal ou informalmente ou separados dele) não funciona e jamais desempenha um papel subjetivo de prosperidade e libertação, sujeito a condições destruti-vas insustentáveis, exploração e mutilação, como discutimos no início. Neste sentido, como encontrar recursos e potencialidades em áreas nas quais a sociedade ainda não investiu? O que nos leva a compreender que o Serviço Social clínico pode até demonstrar um certo desejo de aliviar o sofrimento do ser humano, mas não vai até a raiz deste sofrimento eliminando a causa. O assistente social deve ficar atento às bases teóricas aprendidas para não cair nas armadilhas das práticas tradicionalistas que não pertencem mais ao seio do Serviço Social atual. 114UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 2.4 Projeto que Constitui uma “Vertente Aparentemente Radical” De acordo com Vasconcelos (2017), mesmo partindo dos princípios básicos do Código de Ética, neste caso, de uma perspectiva fragmentada, a intenção do projeto cancela abertamente as qualificações de “teorização sistemática e pesquisa rigorosa” dessa perspectiva. Netto (1996) destaca que há estrutura em múltiplas razões, seja no anticapitalismo romântico, inspiração religiosa ou na glorificação do conhecimento popular do povo. Os valores que clamam pela unidade até os dias atuais estão perdendo o centro do catolicismo, seja na rejeição implacável da universalidade da modernidade, no irraciona- lismo aberto, ou no relativismo mais importante. Neste ponto, parece ser uma das questões centrais desta vertente, ou seja, a refe- rência da religião, tendo como meta a humanização do capitalismo e o reformismo que nem sempre se apresentou de forma clara e consciente na busca de consenso na desigualdade. Segundo Vasconcelos (2017) os assistentes sociais que priorizam esse projeto nem sempre estarão atuando de forma consciente, isso porque poderão ser movidos pe- las coisas, ou por uma fonte de pensamento radical. Se por um lado assumem, investem e priorizam tradições revolucionárias, por outro lado não vão questionar e/ou encobrir a exploração do trabalho e a concentração da riqueza, não vão justificar a propriedade so- cial dos meios básicos de produção, portanto, não estão comprometidos com um sistema econômico sem exploração de classes, raças e gêneros e não há união de pessoas livres e emancipadas. Neste sentido, se levar em conta o pano de fundo ou negar a luta entre os trabalha- dores e o sistema capitalista é a mesmo que negar toda a luta de classes que já aconteceu no contexto histórico. Com isso o movimento de libertação da luta contra o “capitalismo sel- vagem” é visto como o caminho para a libertação, buscando a humanização do capitalismo, não na luta contra este sistema, mas na luta daqueles que necessitam, além da defesa do meio ambiente. Não na tradição do socialismo ecológico, mas na prévia das características das classes, mas na busca pela garantia dos direitos daqueles que reivindicam. Mészáros (2005) destaca que na luta anticapitalista não se pretende promover a despolitização e a compensação da transição de classe do objeto, eles precisam mediar bem 115UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes seu trabalho, porque sua vitória final é por meio da hipoteca do trabalho, como uma atividade humana autorrealizável e educação para a libertação, a menos que acreditemos que não haja generalização do trabalho como atividade humana auto realizável a libertação é possível. De acordo com Vasconcelos (2017), Harvey chamou a atenção para como as lutas setoriais, que não constituem o anticapitalismo, em última instância, endossam o capital. Ao falar sobre os marxistas, eles mencionaram que os obstáculos naturais são a segunda contradição do capitalismo. [...] mas há sempre um perigo em subestimar limites naturais supostamente “puros” em detrimento da concentração sobre a dinâmica capitalista que é a força das mudanças ambientais em primeiro lugar e das relações sociais (de classe em especial) que movem essas dinâmicas em certas direções ambientalmente perversas.A classe capitalista, é óbvio, está sempre feliz, nesse ponto pelo menos, de ter seu papel descolado e mascarado por uma retórica ambientalista que não a toma como criadora do problema. Quando os preços do petróleo subiram no verão de 2008, foi útil reclamar da escassez natural, quando as companhias petrolíferas e os especuladores eram os cul- pados (HARVEY, 2011, p. 69-70 apud VASCONCELOS, 2017, p. 316). Numa perspectiva holística, considerando que existe apenas um projeto de tradição marxista, como o Projeto do Serviço Social Brasileiro, essas questões só podem ser enten- didas em suas múltiplas decisões. Além de seu evidente radicalismo, dado o crescimento obrigatório do capital anualmente para garantir o processo de acumulação, esse processo espalha suas consequências por toda a vida social. Nesse sentido, o projeto profissional deve ser baseado na perspectiva marxista, pois nos permite mergulhar na raiz do problema, obrigando-nos a questionar sobre o en- volvimento dos assistentes sociais e demais profissionais nas consequências humanas, sociais, econômicas, ambientais e culturais da humanidade. 116UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 3. A ESCOLHA ÉTICO-POLÍTICA E TEÓRICO-METODOLÓGICA FRENTE A DIFERENTES PROJETOS PROFISSIONAIS Escolher conscientemente ou se “enquadrar” numa das linhas de desenvolvi- mento indicadas antes, as quais raramente se constituem em projetos claros e definidos como o projeto assentado na perspectiva marxista, não faz de um assistente social melhor ou pior do que qualquer outro indivíduo social/ profissional. A coragem e a boa intenção estão presentes na vida social em tudo, mas elas em si mesmas não garantem objetivações idealizadas, prin- cipalmente, se contrárias e inconvenientes aos interesses do capital (VAS- CONCELOS, 2017, p. 317). Caro(a) aluno(a), não existe projeto certo ou errado, muito menos criticar outro pro- fissional por achar que escolheu o projeto que não vai de encontro com o que a categoria e/ou você escolheu para seguir. Lembre-se, os projetos apresentados foram idealizados por profissionais que se aprofundaram em bases teóricas a partir do contexto histórico da época vivida, cabendo a nós (e incluo você, pois será um(a) futuro(a) assistente social) entender cada projeto, mas não seguir preceitos que não condizem com as bases teóricas e metodológicas da profissão. Como destacado pela autora supracitada, a partir de uma das obras de José Paulo Netto, ter “consciência política não é o mesmo que consciência teórica”, ou seja, é preciso conhecer e se aprofundar nos estudos apreendidos, tendo a consciência das bases teóricas, pois só assim poderá atuar de forma consciente e crítica, sem julgamentos desnecessários. 117UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Como já referimos, aquelas linhas de desenvolvimento do Serviço Social, como afirma Netto, não são excludentes. Como antecipado pelo autor, elas se cruzam, se complementam, se imbricam, se aliam e se interpenetram. A novidade, obscurecida no âmbito da luta pela manutenção da hegemonia do projeto profissional, fica por conta de segmentos da categoria que, afirmando tomar o projeto profissional como referência, no que o fazem ecleticamente, se põem em aliança com perspectivas que negam não só seus princípios fundamentais, mas suas referências teórico-metodológicas e, muito frequen- temente, técnico-operativas (VASCONCELOS, 2017, p. 318). Ou seja, os quatro projetos apresentados, de certa forma, foram importantes para a categoria, pois a finalidade era buscar por um projeto profissional que fosse favorável aos interesses da classe trabalhadora. No entanto deve-se ficar atento para não cair nas armadilhas do conservadorismo, uma prática já rompida pela categoria profissional, mas que encontra requisitos no segundo, terceiro e quarto projetos já apresentados. Neste sentido, o projeto profissional que muitosautores abordam é o projeto com teor marxista e, se recapitular o que foi estudado na segunda unidade desta apostila, obser- vará que desde o Movimento de Reconceituação já era debatido sobre as bases teóricas de Karl Marx, principalmente na análise teórica-crítica voltada para o processo de formação, das bases teóricas e metodológicas e da prática profissional. Para que os assistentes sociais possam atender aos requisitos, é necessário pro- blematizar de forma sistemática as práticas diárias numa perspectiva holística. Para que as possibilidades teóricas sejam mantidas pelos projetos profissionais, baseados em projetos emancipatórios é imprescindível ter o entendimento que não sejam confundidos com falsas promessas, ou seja, que precisa de algo eficaz para que se tenha uma visão mais aberta e persistentes em relação ao marxismo, tendo a “fundamentação histórica-concreta que as atualize e as promova no jogo de forças sociais vivas, organizadas e conscientes dos seus interesses” (VASCONCELOS, 2017, p. 321). De acordo com Netto (1996), somente um ponto de vista teórico crítico é que pode compreender os movimentos históricos envolvidos na transformação social atual, bem como seus efeitos negativos causados pelas diversas expressões da questão social. Além do ponto de vista relacionado aos projetos sociais anticapitalistas sem romantismo utópico, que pode garantir a sociedade um componente libertador e ao profissional meios para entender o contexto como um todo, analisando de forma crítica e analítica, fundamentada nos conceitos teóricos metodológicos de forma ética política. 118UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 3.1 Por que Ética-política e Teórico-metodológica? Caro(a) aluno(a), acredito que você deve estar se perguntando por que da escolha ética-política e teórico-metodológica frente a diferentes projetos profissionais. Ora, ao optar pelo projeto profissional, os assistentes sociais precisaram entender a dimensão da profissional, tendo a escolha ético-política, que destaca o compromisso que a categoria assumiu frente a classes trabalhadora por meio da transformação social, e a teórico-metodológica, relacionada à fundamentação do referencial teórico que envolve a categoria profissional, abordando todo o conhecimentos já adquirido ao longo dos grandes debates idealizados pela categoria, orientando os profissionais em relação à prática e ao fazer profissional. Ambas dimensões são consideradas de extrema relevância para a categoria frente aos diferentes projetos mencionados anteriormente e, ao longo da trajetória do Serviço Social no Brasil, trouxeram grandes reflexões para se chegar ao projeto profissional ideal. SAIBA MAIS Caro(a) aluno(a), o tripé que sustenta o projeto profissional é: Código de Ética Profissio- nal, Lei de Regulamentação da Profissão e as Diretrizes Curriculares. Fonte: a autora. De acordo com a Iamamoto (2012, p. 77), “ o Código de Ética nos indica um rumo ético-político, um horizonte para o exercício profissional”, mas que pode conter um 119UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes grande desafio caso a conduta profissional não se materialize aos princípios éticos no seu cotidiano. Neste sentido, para a autora, o profissional precisa evitar que se “transforme em indicativos abstratos, deslocando do processo social”. Com isso, podemos destacar que a ética deve ser entendida pelo profissional como valor central, tendo o compromisso com a liberdade, a democracia e a emancipação humana, fatos importantes e previstos no Código de Ética. O profissional que seguir esses preceitos terá “repercussões efetivas nas formas de realização do trabalho profissional e nos rumos a ele impressos”. Para a autora supracitada, esse rumo ético-político requer um profissional mais informado, ou seja, com conhecimento de forma crítica, que seja competente e culto em relação à postura mediante as situações relacionadas. Neste sentido, é preciso romper com ideias que não têm relação com o fazer profissional (a autora utiliza o termo “teoricismo”), quebrando com a corrente de ideias e/ou doutrinas que não tiveram êxito na categoria. Poderia até ter sido importante para dar embasamento às teorias utilizadas pelos profissio- nais atualmente, mas não é utilizada de forma pragmatista, o que acaba aprisionando os profissionais na prática de “fazer por fazer” para atender a interesses imediatistas. Por outro lado, o requisito que se deve adotar é de decifrar o processo social, suas desigualdades e a estratégia de ação para enfrentá-los, pressupondo a habilidade teórica a realidade posta no cotidiano, tendo a capacidade técnica e ético-política do “como fazer” a “o quê fazer”, sem ignorar suas raízes em meio ao processo social. REFLITA Os princípios constantes no Código de Ética são focos que vão iluminando os caminhos a serem trilhados, a partir de alguns compromissos fundamentais acordados e assumi- dos coletivamente pela categoria. Então ele não pode ser um documento que se “guarda na gaveta”: é necessário dar-lhe vida por meio dos sujeitos que, internalizando o seu conteúdo, expressam-no por ações que vão tecendo o novo projeto profissional no es- paço ocupacional cotidiano. Fonte: Iamamoto (2012, p. 78). 120UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Caro(a) aluno(a), mediante tudo o que já estudou até aqui e ao recapitular em outras disciplinas, observará que o Serviço Social, ao longo de sua trajetória, não dispõe de métodos e teorias próprias. Por ser uma profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho, é fundamental que se tenha uma matriz teórico-metodológica que possa viabilizar aos profissionais uma leitura crítica da realidade social, fornecendo subsídios e princípios para a intervenção. Tendo em mente que o teórico-metodológico não se trata de um script sobre as estratégias técnicas e o procedimento que o assistente social deve seguir à risca, mas é importante entender a realidade que está posta na prática cotidiana, por meio de uma base teórica que apresenta de forma metodológica as contradições, bem como as tendências e as relações sociais, criando um nível de pensamento e de ideologias que seja considerado fundamental para um posicionamento crítico. Neste sentido, o teórico-metodológico vai além dos procedimentos, técnicas e estratégias que o assistente social pode realizar, que, para Iamamoto (1994, p. 174), refere-se ao “modo de ler, de interpretar, de se relacionar com o ser social; uma relação entre o sujeito cognoscente – que busca compreender e desvendar essa sociedade – e o objeto investigado”. Portanto, está intimamente ligado à forma de explicar a sociedade e os fenômenos que a constitui; isso significa a aplicação da teoria e os ângulos visíveis da leitura social para explicar os problemas sociais. Caro(a) aluno(a), as bases do teórico-metodológico estão previstas na proposta da ABEPSS de 1996, Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, que define a formação profissional, além do ético-político e o técnico-operativa, destacado da seguinte forma: A competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política são requisitos fundamentais que permite ao profissional colocar-se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de trabalho (ABEPSS, 1996, p. 13). É neste sentido que podemos destacar o motivo do Projeto Ético Político com influência na tradição marxista ser o projeto escolhido pela categoria, primeiro porque esse projeto tem em suas bases o tripé profissional – o Código de Ética Profissional, as Diretri- zes Curriculares e a Lei que regulamenta a profissão –, sendo o eixo para as dimensões ético-política e teórico-metodológicae também a técnico-operativa, que não está prevista nos demais projetos. Portanto, o projeto com influência da tradição marxista (Projeto Ético Político) acabou sendo escolhido pela categoria, não simplesmente pelo fato de destacar como um projeto anticapitalista, mas porque aborda as características para romper com o conservadorismo. 121UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Tendo um amadurecimento nas bases: teórico-metodológico e ético-político do Serviço So- cial, que direcionou a categoria para a construção do projeto profissional, comprometidos com os valores da emancipação humana, a liberdade e a democracia, repudiando todas as formas de exploração e preconceito, posicionando em favor da classe trabalhadora. De acordo com Vasconcelos (2017, p. 336), “consolidar o projeto profissional na formação e na prática exige redirecionar a produção de conhecimento da área, tendo em vista a possibilidade de potencialização das lutas sociais”, e isso certamente impactará o co- tidiano dos assistentes sociais. Para realizar esse redirecionamento, é necessário entender o projeto profissional em toda a sua substância, o que requer priorizar ações conscientes, críticas, criativas e reflexivas junto à classe trabalhadora, na produção de conhecimento, seja na prática docente, nos atendimentos com os usuários e/ou na gestão de algum projeto social, sendo necessário conhecer a realidade que está inserido, entendendo a dimensão do projeto profissional mediante à sociedade. 122UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 4. RESPOSTAS PROFISSIONAIS: TENDÊNCIAS, LIMITES, CONSEQUÊNCIAS E POSSIBILIDADES NÃO EXPLORADAS Caro(a) aluno(a), os pontos abordados nesta parte da unidade são um resgate do que já foi apresentado anteriormente, mas olhando para alguns pontos em destaques levando-o(a) à reflexão sobre a prática profissional. Pontos estes muito bem destacados por Vasconcelos (2017), que utilizaremos para nos aprofundar nos limites e consequências que acarretam a profissão, bem como as tendências e possibilidades que ainda não foram exploradas, mas que devem ser avaliadas pelos profissionais engajados com a prática profissional. Assim, apresentarei alguns questionamentos, com a finalidade de que possa bus- car respostas quanto ao fazer profissional, entendendo que a profissão está inscrita na divisão social e ética do trabalho. Por mais que seja uma profissão liberal, faz parte da classe trabalhadora, considerada também como uma assalariada, mas que tem uma práxis social que se difere dos demais trabalhadores e profissionais. Cabe destacar que a postura ética, o aprofundamento teórico e comprometimento com a prática profissional é o que irá diferenciar dos demais profissionais até mesmo dentro da própria categoria e, para isso, é preciso refletir acerca do seu papel na sociedade. 123UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 4.1 Limites e Consequências Caro(a) aluno(a), existe uma cultura dentro da própria categoria, que, devido à pro- fissão possuir o menor valor, deve se submeter aos diversos pedidos advindos de outros setores e/ou da chefia. Mesmo não indo ao encontro do “quefazer profissional” da atualidade, muitos profissionais acabam tendo medo e/ou receio de falar e/ou se expressar como deve- riam. Esse posicionamento, infelizmente, pode se enraizar desde o momento da graduação, se prolongando para o exercício profissional, isso porque há uma disputa de poder, dentro da própria categoria, para se manter no cargo, principalmente cargos elevados. Para que fique claro o contexto acima, seguimos com a seguinte situação: um profissional recém formado se depara com uma chefia burocrática e autoritária, que não possibilite-o a criar, planejar e executar a sua função como deveria dentro de uma deter- minada política/serviço e mediante a uma gestão ultrapassada acaba limitando este profis- sional recém contratado para realizar as funções básicas e/ou a um exercício de práticas assistencialistas, fica nítido que não conhece o que o assistente social de fato faz. Neste caso é importante ter em mente as habilidades e competências, a dimensão teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo e os deveres e obrigações do assis- tente social, além do toda a base teórica e metodológica que rege a profissional deve fazer parte do cotidiano, mostrando a importância do profissional dentro daquela política/serviço e lutando pelo que acredita ser o melhor e isso é claro baseado na garantia dos direitos humanos e sociais. O que nos leva a refletir, será que aceitar todas as solicitações, mesmo que vá contra ao que está previsto no Código de Ética e/ou torcer pela troca da chefia ou ainda não realizar o que lhe é solicitado e criar um combate ou disputa de poder é a melhor solução? 124UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Certamente, gostaria de ter uma resposta pronta ou um manual para lhe auxiliar quando essa situação acontecer, mas, de fato, nós enquanto indivíduos somos livres para escolher “o que” e “como” devemos nos comportar e agir diante de uma situação. Ora, caro(a) aluno(a), não é uma tarefa fácil, mas devemos ter em mente que, o que determina ser um bom assistente social são as escolhas e atitudes que tomamos baseadas no caráter ético e comprometido para com a sociedade. Neste sentido, devemos levar em consideração que, somos profissionais que atuam frente às diversas expressões da questão social e o fato de não compreender a si- tuação vivenciando no cotidiano, poder gerar um desconforto e assim criando um limitador, principalmente se não souber lidar com situações advinda de chefia que cria barreiras em relação ao fazer profissional. Neste ponto, adquirir uma postura pela qual busca por poder ou criar um combate de fato não é o melhor caminho para se chegar a uma solução, para isso, é preciso entender todo contexto e buscar o que é melhor para todos e claro realizar um trabalho transparente e ético. REFLITA Somente por meio de alianças entre os próprios assistentes sociais, incluindo aqueles que possuem cargo elevado, é que podemos enfrentar coletivamente os desafios en- contrados na prática diariamente. Fonte: a autora. De acordo com Vasconcelos (2017) sob a orientação do projeto profissional, face aos inúmeros e complexos conflitos de interesses, o desafio é conscientizar todos os assistentes sociais sobre o seu papel e dar respostas precisas e necessárias. Além de questionar a demanda imediatista, que muitas vezes é atendida devido às exigências da instituição pela qual está inserido. Tendo a ciência que existem muitas contradições no campo da luta de classes e que precisamos entender os problemas decorrentes das diferentes expressões da questão social e alcançando o consenso para atender esses problemas e desenvolver comportamentos e atitudes que acaba conduzindo a lidar com os conflitos inerentes à relação vivenciada. 125UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes É importante ter em mente que os limites podem ser um problema diante desse complexo de interesses e disputas. Nesse caso, o desafio é dificultar os acessos e as ne- cessidades imediatas advindas pelos usuários do serviço que está inserido. É fundamental que se tenha uma postura coerente com o que está previsto no projeto profissional, que, por muitos anos, foi discutido e debatido pela categoria, que tem em sua base o tripé da profissão e a liberdade, democracia e emancipação humana. Acredito que você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com as res- postas pela qual busca sobre a profissional. Ora, é preciso conhecer os limites que surgem desde o processo formativo até o exercício profissional, para entender as consequências encontradas no fazer profissional. No que se refere às consequências encontradas no fazer profissional, podem serentendidas como a resistência que alguns profissionais ainda têm em relação ao projeto profissional, mesmo sabendo que o Serviço Social é legalizado e reconhecido como uma categoria profissional. Isso mostra claramente a falta de conhecimento e entendimento sobre o fazer profissional, pois isso gera impactos grandiosos e consequências não só para o profissional, mas para todos que estão envolvidos. Nesse aspecto é preciso que o assistente social tenha um profundo conhecimen- to sobre o projeto profissional para que possa contribuir com o processo democrático e emancipatório que envolve toda a sociedade. Isso depende somente do profissional, não confundindo a intenção com o que de fato deve ser feito, sempre se fazendo algumas perguntas relevantes como: quais as consequências para a classe trabalhadora, caso eu não siga os preceitos contidos no projeto profissional? Ou ainda, quais as consequências caso não me dedique em aprofundar nas bases teóricas que envolvem o Serviço Social? O fato é que independente dos limites e consequências a serem enfrentados, é de extrema importância conhecer o projeto profissional e ter clareza sobre os princípios conti- dos no Código de Ética Profissional e profundo conhecimento sobre as bases teóricas que envolvem o assistente social; entender que o Serviço Social é uma profissão regulamentada com uma práxis social que atende os requisitos necessários para o fazer profissional, tendo o compromisso com a classe trabalhadora na garantia dos direitos. 126UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes 4.2 Tendências e Possibilidades Não Exploradas No âmbito do sistema capitalista, temos diversos fatores que levaram a classe trabalhadora a lutar pelos seus direitos. Mediante esse contexto de conflitos é que o Serviço Social surgiu para atender os interesses da sociedade capitalista, exercendo as suas atribuições sobre os trabalhadores. Entre os anos de 1960 a 1980 a categoria se viu na necessidade de mudar todo esse contexto em que estava envolvida, rompendo com as práticas conservadoras, buscando, nas bases teóricas marxistas, entender a relação capital X classe trabalhadora. Frente a todo o contexto, buscou por um projeto profissional que pudesse dar um norte ao fazer profissional. De acordo com Vasconcelos (2017), o projeto profissional é uma resposta para a luta de classes e as atividades realizadas atualmente pelos assistentes sociais é fruto da alienação e fragmentação vivenciada pela massa trabalhadora que acarretou diversas ex- pressões da questão social. Isso levou os assistentes sociais a refletirem sobre a tendência teórica que fundamenta a categoria, dando base para a atuação profissional. Desta forma, o projeto profissional faz parte do projeto societário que é considera- do mais abrangente, porém seu foco possibilita entender as tendências emancipadoras e democráticas, a práxis social no capitalismo e as lutas de classes. O assistente social deve entender não o que é possível, mas o que é necessário para a concretização do projeto profissional, pois é por meio desse projeto que o exercício profissional é potencializado e aponta as tendências que envolvem a profissão, além das possibilidades, alternativas e até os limites das atividades realizadas. É importante ter em mente que as tendências da profissão vão além das exigências e dificuldades encontradas durante o exercício profissional. É preciso ter um olhar crítico e reflexivo sobre tudo que envolve a profissão, sendo comprometido com a emancipação 127UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes humana, a democratização e a busca pelo conhecimento; entendendo o seu papel em meio a sociedade, sabendo que, diante de todo os avanços que a categoria conquistou ao longo dos anos, ainda temos possibilidades que não foram exploradas. Sendo assim, cabe aos futuros assistentes sociais decifrar tal realidade. Mas calma! Essa ação não é exclusiva para os futuros assistente sociais e sim para todos aqueles que estão engajados com o projeto profissional, pois, diante desse complexo campo da luta de classes, sempre surgirá algum problema, cabendo à categoria o papel de desvendar, criando novas possibilidades a partir de estudos sistemáticos e qualificados envolvendo os assistentes sociais. Diante disso, é necessário destacar que a prática profissional depende de fatores internos e externos e, embora os assistentes sociais precisam utilizar o sistema como me- canismo básico de seu trabalho assalariado, há um paradoxo. Embora, muitas vezes, os assistentes sociais não confiem nos recursos e materiais disponíveis, o que pode levá-los a serem reféns de uma prática conservadora e neste caso, é preciso ir além dos seus limites. Entendendo que o fazer profissional deve ser baseado nos princípios éticos que envolve a categoria, entendendo que as consequências que nos trouxe até aqui foram fundamentais para a criação de um projeto profissional, destacando que as tendências ad- quiridas aos longo da existência da profissão deu-se por meio de diversos fatores históricos que foram essenciais, para que a profissão tivesse uma base teórica e metodológica. Neste sentido é preciso ter em mente que a profissão de Serviço Social alcançou um patamar elevado, que de certa forma possibilitou mecanismos de trabalho que funda- menta o exercício profissional e ainda continua possibilitando novas práticas e ações que não foram exploradas, mas que poderão ser. 128UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de mais uma unidade e é com grande tristeza que anuncio que esta é a nossa última unidade. Espero que os conteúdos abordados tenham proporcionado muitos saberes, mas também despertado o interesse em buscar em outras bases teóricas mais sobre a profissão, principalmente nos conteúdos abordados até aqui. Se recapitular o que apreendeu nesta unidade, verá um breve resgate histórico so- bre a profissão e perceberá o quão importante é que se faça esses resgate, pois é preciso entender o que aconteceu na profissão, principalmente entre os anos 1960 a 1980, quando tudo começou a fazer sentido, principalmente sobre o exercício profissional que realizamos nos dias atuais. Entender sobre o quefazer profissional foi importante, uma vez que esse ponto foi resgatado na Era Vargas, mas se intensificou após o Movimento de Reconceituação e a busca pelo rompimento com o conservadorismo que durou quase 30 anos, sendo considerado por muitos assistentes sociais como um avanço para a categoria. Mas entender todo o processo é o que dá sentido sobre a forma como os assistentes sociais atuam nos dias de hoje. Um outro ponto que merece destaque são os quatro projetos abordados, que dentre os 30 anos de grandes conquistas foram construídos, mostrando os avanços e consequên- cias ao adotarem e/ou seguirem alguns dos projetos. Destaco que os quatro projetos foram importantes, mas o primeiro é o que dá mais sustentação para que os assistentes sociais consigam atuar frente às expressões da questão social; isso porque apresenta o tripé da profissão, além da democracia, liberdade e emancipação humana, que faz parte de uma conquista maior. E não podemos deixar de destacar sobre a escolha, os motivos que os profissio- nais escolheram as dimensões ético-política e teórico-metodológica frente aos diferentes projetos profissionais e os quatro pontos importantes que nos fazem questionar e refletir sobre o fazer profissional. Isso nos apresenta respostas que nos possibilita ir além da práti- ca profissional, entendendo que estamos inseridos em uma sociedade e que devemos lutar junto à classe trabalhadora, base fundamental para entender o projeto profissional. 129UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes LEITURA COMPLEMENTAR O exercício profissionalmediado pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social: questões candentes. O Serviço Social no Brasil, desde a década de 1960, vem passando por grandes transformações no plano teórico-prático (Iamamoto e Carvalho, 1983; Netto, 1991 e Castro, 1993). Desde o final da década de 1970, vem se desenvolvendo e consolidando um projeto de profissão sintonizado com os interesses, necessidades e demandas históricas da classe trabalhadora, nos seus diferentes segmentos. Entendemos que, na sua origem, este projeto parte da consciência de que a liber- dade, como garantia da autonomia, da emancipação e da plena expansão dos indivíduos sociais, na busca de uma ordem societária sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero, não se conquista e se conserva através de reformas como fins em si mesmos, sejam elas de ordem moral ou econômica. A liberdade, assim como a autonomia, o poder, conquista-se, desenvolve-se, aperfeiçoa-se e conserva-se através de transformações econômicas, políticas e sociais dialéticas, que assegurem (para além da ampliação e con- solidação da cidadania com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos, mesmo considerados como direitos indissociáveis, como podemos apreender no Código de Ética do Assistente Social (CFESS, 1993), uma organização social fundada na “socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida”, o que significa não só a radicali- zação do processo democrático em curso, mas a superação da democracia burguesa por uma humanidade emancipada. Ou seja, uma organização social onde o trabalho explorado seja substituído pelo trabalho associado, o que impõe como consequência uma nova ordem societária, sem ex- ploração/dominação de classe, etnia e gênero. Isso significa, reafirmando a essencialidade de uma ordem social alternativa ao capital no sentido de preservar o homem e a natureza, sustentar como patamar a plena participação de “produtores associados” na tomada de decisão em todos os níveis de controle político, cultural e econômico, mantendo como finalidade a autonomia, a emancipação e o pleno desenvolvimento de cada um, através “da universalização da educação emancipadora e da universalização do trabalho como ativi- dade humana autorrealizadora” (Mészáros, 2005), fruto de uma sociedade fundada, como afirmou Marx, “na livre associação de livres produtores”, “onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”. 130UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes Entretanto, após mais de duas décadas de consolidação do projeto profissional enquanto petição de princípios da categoria dos assistentes sociais brasileiros, o qual tem resultado tanto numa produção de conhecimento/”massa crítica” que favorece sua dire- ção social, quanto na organização e participação de segmentos expressivos da categoria em lutas sociais e na organização da própria categoria, as respostas que a maioria dos assistentes sociais vem dando, histórica e conjunturalmente, às demandas dos diferentes segmentos da classe trabalhadora, os quais clamam por um enfrentamento com a ordem econômica e política dominante, não estão sendo mediadas pelas indicações do projeto profissional, o que, consequentemente, não tem favorecido mais ao trabalho do que ao capital, como anunciado no projeto como possibilidade, diante da prioridade dada pelos assistentes sociais às respostas às requisições institucionais. Assim, parece-nos que traduções práticas do projeto profissional não predominam no âmbito da atividade profissional, seja na formação, na gestão e no planejamento e reali- zação das atividades socioassistenciais e, atualmente, na produção de conhecimento, con- siderada em sentido amplo. Não predominam, principalmente, no que se refere à atividade profissional junto a indivíduos e grupos dos diferentes segmentos da classe trabalhadora, diante de uma preocupação e priorização, consciente/intencional ou não, das requisições institucionais, pelos assistentes sociais, assim como não predominam no processo de for- mação, seja nas faculdades públicas, seja nas privadas. Pôr em destaque as ações desenvolvidas junto a indivíduos e grupos não quer dizer que elas sejam vistas de forma isolada no exercício profissional, processo que, tendo em vista uma prática consciente, crítica, criativa e propositiva, envolve, apreendido o coti- diano profissional como parte e expressão da realidade social, pelo menos: planejamento — investigação/produção de conhecimento —, gestão e viabilização de recursos, ações educativas, articulações políticas, mediações institucionais, avaliação (ver, a seguir, o item “contextualização da atividade”). Do mesmo modo, a atenção direta aos usuários atravessa e é atravessada por processos que envolvem o planejamento, a gestão e a avaliação das próprias políticas e serviços sociais. Apreendido em si mesmo e descolado desses pro- cessos, o contato direto com os usuários — através de entrevista, reunião, visita domiciliar etc. — torna-se burocrático e vazio. Neste contexto, não podemos deixar de destacar o que consideramos uma involução no que se refere ao exercício profissional junto a indivíduos e grupos. Se por um lado, tanto por parte das instituições públicas e privadas/ONGs, o assistente social vem cada vez mais sendo requisitado a prestar assessoria, consultoria na realização de projetos; a assumir a 131UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes gestão de unidades socioassistenciais e assessorar gestores; a assumir que ificação de téc- nicos de nível médio e elementar das instituições em que trabalha; por outro lado, ao ser cada vez mais requisitado a capacitar técnicos de nível elementar, médio ou voluntários com fins de prestar atenção direta aos usuários dos serviços socioassistenciais, o assistente social vê seu papel ser substituído por esses técnicos ou voluntários. São dois processos — gestão e capacitação — que vêm apartando os assistentes sociais da possibilidade de realizar seu po- tencial educativo e formador nos processos de mobilização e organização dos segmentos de trabalhadores, onde estão inseridos profissionalmente. Quanto mais afastados dos usuários, mais os assistentes sociais estarão submetidos e submissos às requisições institucionais e aos interesses específicos de gestores e demais profissionais e menos com condições de dar sua contribuição em processos que favoreçam alianças tanto entre os diferentes segmentos da classe trabalhadora, como “alianças entre os descontentes e os despossuídos” (Harvey, 2011). Isso não significa que estar junto ao usuário garanta a realização pelo assistente social do papel educativo e formador necessário (...) Fonte: Vasconcelos (2017, p. 433 - 457). 132UNIDADE IV O Assistente Social na Luta de Classes MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: A/O Assistente Social na Luta de Classes: Projetos Profis- sional e Mediações Teóricos-Práticas Autor: Ana Maria de Vasconcelos Editora: Cortez Sinopse: É diante da permanente possibilidade de insurgência dos/as trabalhadores/as contra o modo de produção capitalista, que a burguesia nacional e internacional se encontra entre sua ne- cessária vitimização por um lado e criminalização por outro. As/Os assistentes sociais e demais profissionais podem dar sua modesta contribuição aos únicos que portam interesses e necessidades que coincidem com os interesses do gênero humano: os trabalhadores e as trabalhadoras de todo o mundo. FILME/VÍDEO 01 Título: Laranjas e Sol Ano: 2011 Sinopse: Baseado em fatos, o filme conta a história de Margaret Humphreys, uma assistente social do Reino Unido responsável por descobrir um dos maiores esquemas de tráfico infantil da Europa, envolvendo o governo da Grã-Bretanha, que deportava crianças pobres de maneira forçada para países como a Austrália e o Canadá. FILME/VÍDEO02 Título: O Corajoso coração de Irena Sendler Ano: 2009 Sinopse: Em Varsóvia no ano de 1940, A polonesa Irena Sendler é uma católica servidora social que, para evitar deportação, salva milhares de crianças judias da morte durante a Segunda Guerra Mundial. 133 REFERÊNCIAS Lei n º 8.662, de 7 de Junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE. pdf. Acesso em: 12 dez. 2020. ABEPSS. Diretrizes Curriculares da ABEPSS. s.d. Disponível em: http://www.abepss.org. br/diretrizes-curriculares-da-abepss-10. 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VÁZQUEZ, A. S. Filosofía de la práxis. Cidade do México: Editorial Grijalbo, 1980. 138 CONCLUSÃO GERAL Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim do nosso estudo e espero que o conteúdo aprendido nas quatro unidades desta apostila tenha lhe proporcionado o entendimento do trabalho e formação profissional, bem como o projeto profissional e porque os assistentes sociais devem estar envolvidos com a luta de classes. A escolha dos assuntos que foram abordados reflete sobre a formação e o trabalho do assistente social. Tivemos como base autores como Iamamoto e Vasconcelos, que con- tribuíram de forma direta para que os assuntos pudessem ser apresentados a você. Desta forma, vamos recapitular alguns pontos importantes apresentados ao longo das quatro unidades que considero serem relevantes, tanto para o processo formativo quanto para a atuação profissional. O primeiro ponto a ser destacado é sobre a formação e toda a trajetória histórica que envolve esse processo – os dilemas, as conquistas por trás de grandes debates que levaram o processo formativo para outro patamar, envolvendo os acadêmicos e professores a refletir sobre a política de prática acadêmica à nível ensino, pesquisa e extensão. Outra conquista nesse processo foi a oportunidade dos acadêmicos em vivenciarem as experiências do processo de trabalho por meio da prática dos estágios que faz toda a diferença na formação. Sobre o trabalho do assistente social, dentro de toda a discussão acerca do proces- so formativo, também foi debatido sobre a práxis que envolve os assistentes sociais, além do projeto profissional que dá um norte aos profissionais em relação ao entendimento do o que fazer profissional, projeto que tem em suas bases o método marxista, que faz entender sobre a dinâmica entre o capital e o trabalho. A categoria busca pela emancipação humana, a democratização e a liberdade da classe trabalhadora. Tem como referência o Código de Ética, a Lei que regulamenta a profissão, e as Diretrizes curriculares, que dão base para entender sobre as dimensões ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo, consideradas importantes para compreender o processo de trabalho do assistente social em meio a sociedade brasileira. Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigado! +55 (44) 3045 9898 Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR www.unifatecie.edu.br/editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br EduFatecie E D I T O R Aa realidade apresentada pela sociedade, compreendendo que as mudanças são um meio e não um fim; que cabe somente ao assistente social lutar pelos direitos sociais, garantindo o seu espaço no mer- cado de trabalho. É importante destacar que a atuação profissional junto aos Movimentos Sociais além de ser uma competência profissional está prevista a na Lei que regulamenta a profissão (Lei nº 8.662/1993), no art. 04 inciso IX, “prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade” ( CFESS, 1993, p. 45). Assim como previsto no Código de Ética do/a Assistente Social em relação às entidades da categoria e demais Organizações da Sociedade Civil, a qual constituiu no art. 12 - b como um direito do assistente social em “apoiar e/ou par- ticipar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania”. (CFESS, 1993, p. 34). Um outro serviço que o assistente social pode e deve atuar são no campo da asses- soria e consultoria, a qual também está previsto na Lei que regulamenta a profissão no art. 04 inciso -VIII, a qual consiste como competência do assistente social “prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades” ( CFESS, 1993, p. 45). “Assim, definimos assessoria/consultoria como aquela ação que é desenvol- vida por um profissional com conhecimento na área, que toma a realidade como objeto de estudo e detém uma intenção de alteração da realidade. O assessor não é aquele que intervém, deve, sim, propor caminhos e estraté- gias ao profissional ou à equipe que assessora e estes têm autonomia em acatar ou não suas proposições. Portanto, o assessor deve ser alguém estu- dioso, permanentemente atualizado e com capacidade de apresentar clara- mente suas proposições.” (BRAVO & MATOS, 2014, p. 31). Caro(a) aluno(a) se analisar a diferença entre assessoria e consultoria é minima, mas ambas são importantes e faz a diferença no fazer profissional, principalmente porque tanto a consultoria que é mais pontual como a assessoria que remete a ideia de assistir estão ligadas, devendo considerar que não podem ser compreendidas como sinônimo de supervisão, ação extensionista e não é um trabalho precarizado e/ou temporário. Deve-se entender que se trata de uma atribuição privativa do assistente social e que cabe aos profissionais conhecer e se aprofundar tanto o como, onde e quando realizar uma asses- soria e consultoria. Mas, fique tranquilo certamente você irá se aprofundar nestas áreas de atuação, o importante é entender que esses espaço sócio-ocupacionais foram e são fundamentais para a atuação profissional e por meio deles outros locais de trabalhos foram e estão surgindo. 13UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2. TRABALHO E SERVIÇO SOCIAL: O REDIMENSIONAMENTO DA PROFISSÃO ANTE AS TRANSFORMAÇÕES SOCIETÁRIAS RECENTES Caro(a) aluno(a), desde a sua origem, o trabalho tornou-se fundamental na vida do homem em meio a sociedade. Com a ascensão do capitalismo esse conceito foi modifican- do, dando espaço para a produção e reprodução de mercadorias. Dessa forma, tivemos a divisão de classes – de um lado temos o sistema capitalista e a busca pelo aumento de lucro; do outro os trabalhadores, que vendem a força de trabalho para a sua sobrevivência –, gerando problemas sociais que foram as consequências desse cenário, como o paupe- rismo e a luta de classes. Nessa perspectiva é que surge o Serviço Social, uma profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho. Ao longo de sua existência passou por grandes mudanças e conquistas na categoria profissão, principalmente no processo de trabalho mediante às transformações societárias, exigindo dos profissionais que repensassem no fazer profissio- nal, algo que os assistentes sociais precisam realizar constantemente, analisando os fatos ocorridos na sociedade para entender o contexto atual. Dessa forma, vamos analisar, a seguir, o termo trabalho e seu processo em relação ao Serviço Social. 14UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2.1 O Trabalho e Serviço Social O termo “trabalho” originou-se da busca do homem em atender às suas neces- sidades. De acordo com Marx (1989) o trabalho consiste na ação do homem em meio à natureza e ao modificá-la, modifica a si mesmo, ou seja, o trabalho é algo produzido pelo próprio homem, com a finalidade de modificar a natureza e, assim, atender às suas necessidades, considerado como a categoria fundante do mundo e a base dos homens em qualquer sociedade. No entanto, o sentido do trabalho mudou-se com a sociedade capitalista. Lessa (2007) destaca que o trabalho passou a ser usado para produzir mercadorias por meio da exploração da força de trabalho. Nessa perspectiva não é reconhecido como uma forma de realização humana, mas como uma forma de sobrevivência por meio da produção e reprodução a partir do modo de trabalho. É nessa perspectiva que o Serviço Social se originou, ou seja, para atender as necessidades emergentes da classe trabalhadora em prol dos interesses da sociedade capitalista. Porém, com o passar dos anos, a categoria repensou na prática profissional, isso aconteceu a partir do Movimento de Reconceituação e dos seminários (Araxá, Teresó- polis, Sumaré e Alto da Boa Vista) e dos Congressos que reuniram diversos profissionais, conquistando o reconhecimento do Serviço Social como uma profissão inscrita e inserida na divisão social e técnica do trabalho, atuando na perspectiva liberal e autônoma regida por um Código de Ética que regulamenta a profissão. Devemos ter em mente que, assim como a sociedade capitalista mudou a forma de trabalho, a prática profissional do assistente social também sofreu mudanças, principal- mente com a variação das expressões da questão social. A exigência de analisar a prática profissional no contexto das relações de trabalho é porque o assistente social também vende 15UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade a sua força de trabalho, mantendo uma relativa independência na definição de prioridades e estilos de trabalho, e seu controle sobre suas próprias atividades é diferente daquelas em que está engajado, por exemplo, os trabalhadores da linha de produção. Tendo a linguagem como instrumento básico de trabalho, as atividades desenvol- vidas pelos assistentes sociais estão intimamente relacionadas à sua teoria, metodologia, conhecimentos técnicos e formação moral e política. Suas atividades dependem da capa- cidade de ler e monitorar os processos sociais, construindo os relacionamentos e vínculos no âmbito do trabalho. Cabe destacar aqui, caro(a) aluno(a), que a autonomia relativa dos assistentes sociais se deve ao natural, este tipo de especialização do trabalho é para trabalhar com indivíduos em sociedade, não com coisas inertes, eles interferem na reprodução material e social do trabalho por meio da prestação de serviços sociais. Seu trabalho está localizado principalmente no campo do pensamento político, exigindo que os profissionais exerçam as funções de controle quanto à ideologia dominante da classe subordinada, cujos campos de trabalho são interceptados por tensões e interesses de classe. É possível mudar o significado de seu comportamento para uma direção social diferente da direção esperada pelo empregador, como no sentido de estabelecer a cidada- nia para todos; a realização da sociedade, os direitos políticos; a formação de uma cultura pública democrática e o desenvolvimento da esfera pública. Isso decorre das próprias características contraditórias das relações sociais que constituem a sociedade capitalista. Entre eles, atualmente,existem interesses sociais diametralmente opostos que se refratam no âmbito institucional, definem as forças sociais e políticas que lutam pela hegemonia, definem o consenso de classe e estabelecem uma forma de controle social a ele vinculado. Embora a existência do processo de alienação envolvendo mão de obra contratada não possa ser eliminada, é na referida dimensão política na prática profissional que se abre a possibilidade de neutralizar a alienação dessa atividade. Para os trabalhadores, isso é um esforço e um grande desperdício de energia, porque o trabalho é uma mercadoria indi- visível para os trabalhadores. Tomar posse da dimensão criativa e as condições subjetivas do trabalho vão interferir na direção social do seu trabalho e essa é uma luta que deve ser realizada todos os dias. De acordo com Iamamoto (2012), devido às suas qualificações profissionais, o as- sistente social possui relativa autonomia teórica, técnica e ética política na realização das atividades, mas estas dependem dos meios e recursos para a sua realização, não sendo propriedade do assistente social porque está envolvido no trabalho. Alguns dos meios e condi- 16UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade ções necessários são alienados, sendo os métodos e as condições de realização do trabalho, por exemplo, as diretrizes estipuladas pelas políticas sociais públicas ou empresariais. Mas é importante entender que as relações de poderes institucionais e as priori- dades políticas são estabelecidas pela instituição que o profissional presta o serviço, já a mobilização humana e a pressão social são condições externas. Cabe ao assistente social compreender esses fatores, tendo em mente que as políticas sociais e as expressões da questão social relacionadas na área de trabalho não podem ser consideradas como algo externo, pois se tratam das atribuições profissional, devendo estar claro no momento da atuação para não tomar para si o que de fato não faz parte da prática profissional. 2.2 O Processo de Trabalho e o Serviço Social O processo de trabalho é a combinação entre os meios onde o homem se estabelece e a força produzida pelo seu trabalho. Para chegar a esse processo, o homem precisa trans- formar uma determinada matéria, seja ela bruta ou natural, tendo um resultado favorável, de forma que alcance a conversão do produto para a satisfação humana (OLIVEIRA, 2001). Marx (1989) salienta que o processo de trabalho é uma atividade exclusivamente executada pelo homem, com a finalidade de transformar seu objeto de trabalho, adaptando uma matéria natural à necessidade humana, transformando a sua forma original na satisfa- ção plena de outro homem. Nesse aspecto, o processo de trabalho passa por três estágios, primeiro: a atividade realizada tem propósito, segundo: um objeto, e terceiro: os meios em que deverá acontecer todo o processo de trabalho. Para Duarte (1995), o processo de trabalho só alcança uma finalidade a partir do resultado, ou seja, por meio do produto produzido pela mão do homem, que além de satisfa- 17UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade zer a necessidade humana cria um determinado valor de uso em que o trabalho objetiva na produção de uma mercadoria. Consequentemente, o objeto de trabalho está petrificado na força humana e nos resultados atingidos. Esse conceito se dá por meio do trabalho, criado pela produção de um ou mais homens, a fim de atender a uma determinada necessidade. No processo de trabalho as atividades realizadas significam alterar os objetos de trabalho que são projetados para atingir seus objetivos. Nesse sentido, o processo sai no produto, que é considerado como uma espécie de valor de uso. Quando o processo de trabalho gera o valor de uso do produto outros valores de trabalho são inseridos como ma- teriais de produção e os produtos têm o mesmo valor de uso e constituem os materiais de produção da obra. Portanto, o produto não é apenas o resultado, mas também a condição do processo de trabalho. O processo de trabalho se configura em dois tipos: o simples, que são atividades baseadas no objetivo ou trabalho em si, seus objetos no ambiente; e o abstrato, que reflete no valor de troca ou no preço das mercadorias, tendo o sistema capitalista como o detentor de todo o processo de trabalho. REFLITA Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação do sujeito, ou seja, o próprio trabalho que requer meios ou instrumentos para que possa ser efetivado. Em outros termos, todo processo de trabalho implica uma matéria- -prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que po- tenciam a ação do sujeito e objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim, que resulta em um produto. Fonte: Iamamoto (2012, p. 61). No que se refere ao processo de trabalho do Assistente Social, pode considerar que está ligada à divisão social e técnica do trabalho e na atuação do profissional na presta- ção dos serviços sociais. Segundo Iamamoto (2012), o processo de trabalho do Assistente Social foi definido após a reafirmação da proposta de currículo mínimo do curso de Serviço Social, composto por 200 oficinas locais, regionais e nacionais, realizadas pela Associação 18UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Tendo o entendimento que a atuação do Assistente Social faz parte do processo de trabalho constituído historicamente na sociedade de forma coletiva, porém com características particulares de que o serviço ofertado nos espaços de trabalho devem ser particulares aos assistentes sociais. Para pensar no processo de trabalho do Assistente Social, é preciso considerar esta dupla determinação: a do valor de uso e do valor, ou seja, como um processo de produção de produto ou determinação da qualidade do serviço e o processo influente ao nível da produção ou distribuição de valor ou mais-valia. Devendo considerar que o trabalho do assistente social na esfera pública nem sempre teve conexão de forma direta com o trabalho e produção de valor, o que nos chama a atenção para entender o processo de tra- balho nos diversos espaços sócio-ocupacionais. Ou seja, na política de assistência social o processo de trabalho não está ligado diretamente na produção de valor, ao contrário das empresas em que é explícita, no processo de trabalho, a atuação frente à reprodução da força de trabalho. Mas é importante compreender que o processo de trabalho do assistente social se constitui pelo objeto de trabalho, ou seja, as expressões da questão social e o meio de trabalho, bem como os instrumentos utilizados nos diversos espaços de atuação – que, de certa forma, viabilizam os direitos sociais gerando efeito na sociedade. Portanto, com base nesse entendimento, pode-se considerar que o Serviço Social é uma profissão especializada e inserida no processo de trabalho, que presta serviço ao empregador. De certa forma, também vende a sua força de trabalho, mas deve ter em mente que a prestação de serviço deve ser privativa, ou seja, executada somente por um assistente social que se apropria de habilidades e competências privativas. 19UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 2.3 Redimensionamento da Profissão Antes das Transformações Societárias Para entender as profundas mudanças sociais ou as transformações societárias, é necessário considerar a crise do capital, e, para entender esse contexto, vamos nos apro- fundar nos estudos de Netto (2012). Ele destaca, no texto Crise do capital e consequências societárias, que a crise do capital surgiu na década de 1970 e redesenhou a imagem do capitalismo contemporâneo, apresentando novas características. Segundo o autor, as mudanças tiveram relação com o mundo do trabalho produzindo falsas conclusões no quese refere ao fim da classe trabalhadora e o fim do proletariado. No entanto, embora a transformação esteja intrinsecamente relacionada à produção, ela envolve a sociedade como um todo. Além do crescente grau de autonomia controlado pelo Estado, a desregulamen- tação das atividades financeiras também tem levado a fluxos extraordinários no tempo e no espaço e, no campo da produção, esse fluxo permite a formação de capital, uma rede produtiva capaz de conversão rápida. Isso tem impacto na cooperação com a economia do trabalho vivo, aumentando a com- posição orgânica do capital e implicando no crescimento do trabalho excedente. Na verdade, o chamado “mercado de trabalho” sofreu uma reorganização completa e todas as inovações levaram às precárias condições de vida de um grande número de vendedores de mão de obra, a ordem do capital é uma ordem do desemprego, geralmente aceita na informalidade. Segundo o autor supracitado, as mudanças em curso têm interferido na estrutura de classes da sociedade burguesa, que mudou com o desaparecimento das antigas classes e estratos sociais. Mudanças que aparecem no plano das metas econômicas de classe e suas relações, como as mudanças no plano subjetivo da ideologia. Devido a esse proces- so de divisão social e tecnológica do trabalho, a classe trabalhadora passou por grandes transformações. Essa mudança também afetou os níveis médio e tradicional da burguesia. 20UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Outro aspecto que chama a atenção do autor é o imediatismo como realidade, o que desqualifica a distinção entre aparência e essência, ou seja, a realidade e sua comple- xidade de forma curta. Mediante a essas informações pode-se considerar que o movimento pós-moderno se desenvolveu e se tornou um sintoma das mudanças em curso na socieda- de, o que corresponde à própria estrutura obsessiva das mercadorias. No que se refere ao Serviço Social, Iamamoto (2012) enfatiza que os assistentes sociais no órgão público, que é considerado o setor que mais contrata, têm vivenciado o emprego instável, como redução de licitações públicas, demissão de funcionários instáveis e exercício de contenção salário, falta de incentivos à carreira, terceirização, acompanhado de instabilidade, emprego temporário, perda de direitos. O que nos chama a atenção quanto às mudanças no mercado de trabalho (assunto abordado na primeira parte desta unidade) no setor público. De acordo com a análise de Cardoso (2016), face a esse enquadramento e face à tendência de alteração do perfil do mercado de trabalho, a atuação profissional dos as- sistentes sociais adota uma nova configuração e isso gerou demandas por meio do fluxo de capital na crise e da reorganização política das classes subordinadas que enfrentam empregos instáveis e dispersos. Com isso, a demanda por trabalho profissional surge no setor estatal e privado. Nessas duas áreas, a nova imagem do mercado de trabalho ocupa- cional apresenta uma visão de redução da demanda por ocupações do setor público e um aumento no setor privado. 21UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3. DEMANDAS E RESPOSTAS DA CATEGORIA PROFISSIONAL AOS PROJETOS SOCIETÁRIOS O ponto de partida para entender as demandas profissionais no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade é que a prática profissional não tem o poder milagroso de se manifestar, sendo compreendida através da história da sociedade que faz parte. Portanto, expor a prática profissional cotidiana é inseri-la no quadro das relações sociais básicas da sociedade, é entendê-la no tenso jogo das relações entre classes sociais, entre classes e o Estado brasileiro. Nesse aspecto, considerar a primazia da produção social é entender que o papel básico da produção da vida real, ou seja, a produção de indivíduos sociais engajados em atividades de trabalho estabelecidas são formas de compreender as demandas estabele- cidas nas sociedades que compõem uma personalidade social, como expresso no mundo capitalista hoje, também registra os princípios básicos da exclusão social política e aliena- ção. Com isso, para entender a demanda profissional é importante realizar uma análise histórica considerada como a chave da resolução dos problemas sociais. 22UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3.1 Demandas Profissionais: Uma Análise a Partir Do VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais Caro(a) aluno(a), no intuito de explanar sobre as demandas profissionais, é no viés de análise da Iamamoto (2012) é que vamos nos aprofundar em alguns temas abordados no VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, que aconteceu em 1992, no estado de São Paulo, sendo promovido pelo Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, ANAS, ABEPSS e SESSUNE, nos dias 25 e 28 de maio, tendo como tema “O Serviço Social e os desafios da modernidade - os Projetos Sócio-Políticos em confronto na sociedade contemporânea” (DIAS, 2019). Primeiro ponto a ser abordado é sobre a profissão ter um olhar voltado mais para o Estado e menos para a sociedade, com isso destaca-se que a reflexão sobre o fazer profissional acaba tendo prioridade na intervenção do Estado por meio das políticas so- ciais extraindo os efeitos na sociedade, no entanto é preciso entender que as políticas sociais acaba sendo importante para a atuação profissional, o que deixa como reflexão que o Estado não explica a sociedade, visto que os fundamentos do Estado encontra-se na própria sociedade civil e, neste ponto, é importante ter um olhar para a sociedade e aos movimentos das classes sociais. Segundo, é sobre o escopo que pode ser atribuído às demandas profissionais, ou seja, a consideração dos processos e mercados de trabalho do país. Portanto, por exemplo, se não analisamos as mudanças que ocorrem no processo de trabalho e as peculiaridades do mercado de trabalho urbano e rural, como explicar as demandas advindas da sociedade às quais atuamos? 23UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Terceiro, a análise das ações realizadas pelo Estado em que a política acaba sendo determinação da economia, quando entramos na análise de direitos sociais e política so- cial, isentamos o capital, no máximo, ela só pode ser vista da perspectiva da distribuição da riqueza social. Reconhecer que a sociedade capitalista e sua desigualdade são “naturais”, ao analisar as necessidades profissionais parece ser essencial manter uma aliança profun- da entre economia e política. Quarto e último ponto, é a propensão de considerar a sociedade brasileira com uma perspectiva urbana, dificilmente em um debate da categoria, o processo social da agricultura parece estar relacionado a essa questão e as cidades correm o risco de aparecer no antigo dualismo urbano e rural. Essa preocupação acabou sendo baseada no compromisso com a proteção agrícola e urbana enraizada na sociedade brasileira, tentando entender onde o Estado e a sociedade capitalista estão expandindo a reprodução do capital como a aquisição da propriedade da terra, se apropriando das terras e provocando o afastamento dos trabalha- dores que lutam pela terra, alterando as relações de trabalho até no âmbito rural. A partir desses pontos reflexivos, pode-se notar que há uma consistente relação com o processo de precarização enraizada em nossa sociedade, levando o trabalho a um status de falência, simplesmente pelo fato de haver mudanças no mundo do trabalho, alterando as suas relações e, consequentemente, aumentando as demandas no processo de trabalho do assistente social. Essa alteração está mudando o modo de vida da classe trabalhadora, que busca pelo serviço do assistente social devido ao estilo de vida ter so- frido alteração e muitas vezes vivenciando a pobreza extrema. Outro ponto reflexivo a ser considerado é que o Estado, em nome do capital, não só interveio naagricultura, mas em vários departamentos de produção. Mudou o trabalho e o estilo de vida dos trabalhadores da indústria urbana e secundária. 24UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade 3.2 As Condições de Trabalho e Respostas Profissionais A pressão da população usuária sobre a demanda dos serviços está cada vez maior, isso devido ao aumento da pauperização e a falta de recurso em algumas instituições prestadoras de serviços sociais, que acaba inviabilizando o trabalho dos assistentes so- ciais, principalmente nos serviços mais necessitados, como a saúde; educação; habitação e entre outros. Isso aumenta o processo de seleção em relação aos atendimentos, o que torna os direitos sociais pouco acessíveis. Mediante a essa restrição quanto à capacidade de atendimento, o profissional do Serviço Social se vê cada vez mais restringido na atuação, executando um trabalho bu- rocrático, com uma visão de favoritismo, em que tanto o empregador quanto o usuário do serviço acabam tendo a visão “moça boazinha”. Com isso o assistente social acaba tendo dificuldade em exercer o seu trabalho enquanto profissional capacitado e especializado. Para entender sobre a restrição quanto à capacidade no atendimento, a autora Iamamoto (2012) destaca que, antes, os critérios em relação à provisão de cesta básica era o desemprego, no entendo como esse fator tem aumentado muito nos últimos anos e o valor dos alimentos também aumentaram, acabou tendo outros critérios quanto ao rece- bimento do benefício, e um deles é a pobreza extrema. Com isso pode-se considerar que os direitos dos trabalhadores estão se tornando invisíveis; fora os profissionais que ficam impossibilitados de trabalhar pela falta de recursos. Nesse tipo de situação fica evidente o anseio em relação ao papel do assistente social mediante a dificuldade de planejar e executar propostas de trabalho. Essa realidade instável, principalmente no serviço público, os profissionais não de- vem fazer parte e/ou deixar-se abater. Não devemos criar impasses ou desilusões do fazer 25UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade profissional, pelo contrário, os profissionais precisam superar a posição fatalista e aquelas visões idealizadas. Nessa perspectiva, a realidade se torna um obstáculo e isso acaba tornando o trabalho impossível e o motivo é porque se tem uma visão da realidade ideal, que nem sempre condiz com a história atual. Ou seja, tornando impossível os processos econômicos, políticos e culturais que o constituem, nomeadamente seus desafios espor- tivos e oportunidades de emprego e às vezes, acaba sendo esquecido que as mudanças nesta estrutura não dependem apenas do fazer profissional. Cabe destacar que essa não é a única maneira possível em relação à prática profis- sional, existem outras forças sociais e políticas a que podemos nos unir, como profissionais e cidadãos. Essas forças advém da luta pelos direitos sociais já conquistados e a busca pela participação dos usuários e das Organizações da Sociedade Civil. Nós, assistentes sociais, temos dado respostas importantes a esse respeito, ou seja, da direção do nosso campo de trabalho. Tendo em vista a história e a conexão estru- tural do nosso trabalho sob assistência pública é decisivo o papel em garantir os direitos já conquistados pela Constituição Federal, de 1988. Demonstrando, assim, não estar imobilizado, mas, acreditando ser possível exercitar nossa cidadania, zelando pelo apro- fundamento e consolidação do processo democrático, cujo rumo depende, decisivamente, das manifestações por parte da sociedade civil. SAIBA MAIS “O discurso que trata a assistência como um direito partícipe do processo de constitui- ção da cidadania, enfatizando a sua função redistributiva de renda, tem sido repetido, de forma inconseqüente e superficial, por vezes usado como um passe de mágica, capaz de ‘livrar’ o Serviço Social do estigma da pobreza, atribuindo um verniz mais ‘moderno’ à profissão. Esse discurso, ao abstrair do debate a realidade da vida do público que tem sido alvo das políticas assistenciais - carente de condições mínimas de defesa da própria vida - pode ser fonte de ilusões e de desvios de rota, colocando em xeque as pretensões e resultados anunciados”. Fonte: Iamamoto (2012, p. 162 - 163). 26UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade Caro(a) aluno(a), como mencionado anteriormente, pode causar a subdivisão entre política e economia na análise de políticas sociais para o reino da distribuição de riqueza, levando a desigualdade na produção, o que torna os direitos vistos somente no âmbito da política. Resultando em provisões para medidas baseadas em desvios críticos do sistema ao implementar políticas públicas de assistência, ou seja, se ajudar obtenha tratamento “sa- tisfatório” por parte do país a partir dos seguintes métodos: por meio da alocação racional e eficaz de recursos é possível realizar uma avaliação equilibrada da gestão da pobreza e pelo conjunto de medidas própria e burocrática da administração, que pode conduzir a realização a cidadania e a política social e por si só não bastam para torná-la efetiva. É importante destacar que o debate sobre a assistência merece ser aprofundado para que ser capaz de se concentrar em propostas não imaginárias que reconhecem limitações estruturais de qualquer política de ajuda em um país de alta concentração de terra e capital não signifique a exclusão social de grande parte da população e o direito básico de sobreviver. 27UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade e espero que os estudos apreendidos tenham auxiliado quanto ao entendimento do trabalho profissional na contemporaneidade, pois se trata de um assunto que deve ser discutido constantemente pela categoria profissional. As mudanças na sociedade implicam no fazer profissional e ter o entendimento dessas mudanças é o que faz a diferença no momento da atuação nos diversos campos de atuação. Para que os assuntos sejam fixados vamos fazer alguns resgates dos principais pontos abordados nesta unidade, mas quero aqui deixar o convite para que busque outras fontes de pesquisas e leia o livro da autora Iamamoto: O serviço Social na Contempora- neidade: trabalho e formação profissional, pois, além de ser um livro importante para a categoria profissional, foi por meio dele que extrai o conteúdo desta unidade. Acredito ser de grande relevância para o seu processo de formação. Pois bem, na primeira parte da unidade foram apresentados três aspectos reflexivos que considero importantes e que devem sempre acompanhar você no momento da atua- ção, principalmente por ter estudado nas disciplinas de Fundamentos Históricos Teóricos Metodológicos do Serviço Social sobre a origem da profissão, a qual destaca a trajetória dos profissional, principalmente na relação conservadora com base da igreja católica e o rompimento desta doutrina avanço a uma profissão com bases teóricas mais precisas. E ao analisar toda a trajetória e entendo que nos dias atuais o Serviço Social é con- siderado uma profissão liberal regida por um Código de Ética Profissional e com um Projeto Ético Político que auxilia os profissionais no momento da atuação para que não tenha uma postura conservadora, executando tarefas rotineiras e para isso preciso ter compreensão do fazer profissional para que consiga realizar o trabalho rompendo com a visão endógena enraizado na profissão. Entender que a profissão não é sinônimo de “ajuda” é o que irá fazer a diferença no momento da atuação profissional. Mesmo que o mercado de trabalho profissional passe por mudanças e os campos de atuação sejam ampliados devido às diversas demandas ad- vindas da sociedade e, consequentemente, surjam as burocracias, é precisoter em mente que o fazer profissional depende de nós para fazer a diferença na sociedade. 28UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade LEITURA COMPLEMENTAR (...) O Movimento de Reconceituação no Brasil pode ser entendido como um conjunto de características novas que o Serviço Social articulou, rearranjando suas tradições e sua assunção do contributo de tendências do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se da instituição de natureza profissional, dotada de legitimidade prática, com res- postas às demandas sociais, à sua sistematização e validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais (NETTO, 1994). Foi também um processo global que envolveu toda a profissão em decorrência da laicização, implicando a construção de um pluralismo profissional, porém sem atenuar as contradições do cariz comum às suas vertentes. O esforço de validação teórica Netto (1994) procurou dar fundamento sistemático a todos os componentes do processo profis- sional (análises, diagnósticos etc.) e recorreu a um elenco de fontes teóricas, ideológicas e culturais para operar aquela fundamentação. Para além do esforço de validação teórica, cabe destaque, no Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, a instaura- ção do pluralismo teórico, ideológico e político questionando a exclusividade da tradição positivista. Tal questionamento foi possível em face do momento conjuntural. O processo de declínio da ditadura civil-militar abre fendas significadas a outras duas vertentes que, no Seminário de Sumaré, realizado pelo CBCISS, no período entre 20 e 24 de novembro de 1978, se encontra numa situação de abertura, com certeza for- çada (considerando a pressão de profissionais que estavam havia tempos na luta pela redemocratização da sociedade brasileira e pela superação não só do tradicionalismo na profissão, mas também do conservadorismo), para a introdução, explícita do marxismo, que em tempos de chumbo não podia sequer ser nomeado e seus adeptos, reunidos em uma pequena vanguarda que catalisou o chumbo repressivo desse período e que manteve altiva a relevância do pensamento de Marx na e para a profissão. Esse processo não ocorreu sem problemas, e vários estudos já foram realizados a respeito da aproximação e apropriação do marxismo pelo Serviço Social. Cabe destacar o estudo realizado por Netto (1994). O Seminário de Sumaré (1978), realizado sob o apagar das luzes da hegemonia burguesa, manifestou-se principalmente (não mais exclusivamente) por meio da tese de livre-docência de Ana Augusta de Almeida (1978), depois publicada, e apontou uma “nova 29UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade proposta” para o Serviço Social. Na dialética entre continuidade e ruptura com o passado profissional, percebeu-se, nessa perspectiva, que apesar de apresentar elementos renova- dores, ainda ponderava a herança profissional de cunho religioso e conservador do lastro do Serviço Social europeu. E isso num momento em que posturas conservadoras encontravam grandes difi- culdades de cristalização na (auto)representação profissional, em face de dois importantes elementos que rechaçam qualquer tentativa de resgate do tradicionalismo: a laicização profissional e a crescente ponderação de tendências católicas de cunho anticapitalista. No entanto, existiam núcleos no Serviço Social que estavam interessados num empreendimento restaurador. Tais núcleos deveriam operar com o fito de resistir às modifica- ções trazidas pela proposta modernizadora e de aproveitar o insuperável lastro conservador, associado aos novos dilemas prático-operacionais não resolvidos por aquela perspectiva. Por outro lado, procedia também aproveitar o clima sociocultural em que dimensões psicológicas e individuais ganham destaque na trama das relações sociais, permitindo o resgate das tradicionais práticas face to face, além de neutralizar as vertentes que recorriam aos influxos do pensamento crítico-dialético. A nova roupagem do conservadorismo exigia e valorizava a elaboração teórica para as práticas profissionais, criticando os substratos recolhidos das Ciências Sociais. Em síntese, tratava-se da rejeição dos padrões teórico-metodológicos da tradição positivista considerados inadequados para apreender a existência humana. A explicação do “pensamento causal” deveria ser substituída pela compreensão, através de uma vinculação com o pensamento fenomenológico. Os valores da “Reatualização do Conservadorismo” eram os cristãos, e os objetivos constituíam um repúdio às práticas ajustadoras, dando prioridade à “transformação social”, pela via exclusiva do indivíduo (NETTO, 1994). O Seminário de Sumaré (assim como o IV Seminário de Teorização do Serviço Social realizado em Alto da Boa Vista, entre os dias 5 e 9 de novembro de 1984) teve um número representativamente menor de profissionais, em face dos seminários de Araxá e Teresópolis (CBCISS, 1980). Os conferencistas e os temas das conferências em Sumaré também pos- suíam uma característica diferenciada e que até então não tinham tido espaço de debate no interior da profissão, desde as primeiras manifestações do Movimento de Reconceituação. O seminário foi dividido em três direções teóricas e metodológicas: positivismo, fenomenologia e a “dialética”. Houve aqui um novo direcionamento. A modernização da pro- fissão não era mais referendada numa única vertente, sendo que a vertente modernização conservadora participou desse seminário com pouca expressão. 30UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade O caminho para elucidar essa abertura teórica oferecida pelo CBCISS consistiu na movimentação e rearticulação dos assistentes sociais em face do relaxamento da opressão, característica do Estado burguês nesse período, tendo em vista a política de reforma do próprio governo militar, autocrático e burguês. O segmento resistente, questionador e de vanguarda da profissão denunciava a direção modernizadora e conservadora em suas posições e formulações. Por esse motivo, é patente a inflexão do CBCISS, inaugurando a interlocução plural, motivada pelo envol- vimento da profissão no debate e no enfrentamento político, pressionando por mudanças na conjuntura brasileira, ao empurrar para a frente a busca da autonomia da democracia brasileira e de marcar posição na recusa do desalento da perspectiva modernizadora. (...) Fonte: Aquino (2019, p. 572 - 574). 31UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO 01 Título: O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e for- mação profissional. Autor: Marilda Villela Iamamoto. Editora: Cortez. Sinopse: Este livro comporta uma nova e inquietante agenda de questões para o trabalho e para a formação profissional do as- sistente social. O Serviço Social sente hoje os impactos de uma nova conjuntura, que lhe coloca o desafio de repensar a formação profissional em tempos de novas demandas e de investimentos. LIVRO 02 Título: O Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profis- sionais. Autor: Autores diversos. Editora: Editado pelo CFESS e ABEPSS. Sinopse: este livro reúne textos que abordam uma temática es- sencial ao trabalho dos(as) assistentes sociais e para a formação de estudantes de Serviço Social e, certamente, será uma referên- cia obrigatória nos debates sobre as competências e atribuições profissionais no âmbito das políticas sociais e na realização de direitos. FILME/VÍDEO Título: À Procura da felicidade Ano: 2006 Sinopse: Em À Procura da Felicidade, Chris Gardner (Will Smith) é um pai de família que enfrenta sérios problemas financeiros. Apesar de todas as tentativas em manter a família unida, Linda (Thandie Newton), sua esposa, decide partir. Chris agora é pai solteiro e precisa cuidar de Christopher (Jaden Smith),seu filho de apenas 5 anos. Ele tenta usar sua habilidade como vendedor para conseguir um emprego melhor, que lhe dê um salário mais digno. Chris consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Sua esperança é que, ao fim do programa de estágio, ele seja contra- tado e assim tenha um futuro promissor na empresa. Porém seus problemas financeiros não podem esperar que isto aconteça, o que faz com que sejam despejados. Chris e Christopher passam a dormir em abrigos, estações de trem, banheiros e onde quer que consigam um refúgio à noite, mantendo a esperança de que dias melhores virão. 32UNIDADE I O Trabalho Profissional na Contemporaneidade WEB Caro(a) aluno(a), o VII Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais que aconteceu em 1992 foi um marco para a categoria. Mesmo com o áudio baixo, vale a pena assistir. Link: https://www.youtube.com/watch?v=WM7b34IIEGg 33 Plano de Estudo: ● A formação profissional na contemporaneidade. ● O debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do marxismo. ● Política de Prática Acadêmica: o método BH. Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos; ● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação; ● Identificar os aspectos legais da contabilidade; ● Compreender as características da informação e quem as utiliza. UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade Professora Esp. Irení Alves de Oliveira 34UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), esta é a segunda unidade da apostila, que irá estudar sobre o processo formativo contemporâneo. Para a sua compreensão, o assunto foi dividido em três partes, explanando sobre a formação profissional na contemporaneidade; o debate contemporâneo da reconceituação do Serviço Social: ampliação e aprofundamento do marxismo; e a política de prática acadêmica: o método BH. Nesta unidade abordarei assuntos e temas importantes para entender o processo formativo em Serviço Social. Para isso utilizarei como base principal o livro Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional, de Marilda Villela Iamamoto, e, como forma de direcionar você para a leitura e entendimentos, destacarei alguns pontos importantes ao longo das próximas páginas. Na primeira parte você irá estudar sobre a reformulação do currículo mínimo por meio dos debates advindos da categoria, destacando os desafios encontrados para a reconstrução do projeto de formação, as conquistas e dilemas nos anos de 1980 e as exigências e perspectivas do projeto de formação profissional na contemporaneidade. Já na segunda parte será abordado o processo formativo profissional a nível da herança marxista, que esteve em consonância com o Movimento de Reconceituação con- siderado como um legado profissional; destacando o início da formação em Serviço Social, os motivos que levaram esse movimento na categoria, tendo como ênfase o Movimento de Reconceituação no Brasil e a perspectiva crítica dialética que levou a vários debates por meio dos Congressos. Nesta parte será destacado o III Congresso Brasileiro de Serviço Social, que aconteceu no ano de 1979, conhecido como Congresso da Virada. A partir dos temas abordados é necessário repensar no processo formativo. Por fim, a terceira parte, em que será realizada uma análise sobre a prática aca- dêmica da Faculdade de Serviço Social de Juiz de Fora; por meio das resoluções sobre as Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Social, saiu na frente e se fez necessário um movimento por meio dos professores e alunos para entender as diretrizes e a matriz curricu- lar do processo formativo. Assim, buscou-se aprofundar nos fundamentos e as dimensões da política e prática acadêmica para entender o processo formativo na contemporaneidade. Desejo uma boa leitura! 35UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 1. A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE Caro(a) aluno(a), para pensar a formação profissional nos dias atuais, é preciso refletir sobre temas discutidos na atualidade, além de pesquisar e decifrar as novas de- mandas que envolvem o Serviço Social. Mas é necessário que os profissionais busquem se aprofundar em teorias e informações para subsidiar a criação de propostas no ato da atuação profissional, sendo capaz de elaborar programas, projetos e formular e implemen- tar as políticas sociais para atender as necessidades da sociedade. Para entender as discussões da categoria acerca da formação profissional na con- temporaneidade, é preciso ter em mente que houve uma reformulação no currículo a partir de um crítico debate envolvendo as unidades de ensino, por meio dos professores, alunos e profissionais, dirigido pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABEPSS). O objetivo foi a construção e implementação de um novo projeto de formação profissional que atribuísse as três dimensões – ensino, pesquisa e extensão –; o intuito era incorporar o Serviço Social no meio acadêmico. De acordo com a Iamamoto (2012), a proposta do debate foi dar continuidade ao processo formativo, rompendo com qualquer visão endógena que enfraquece a categoria, preservando os avanços já conquistados e identificando as mudanças no mercado do trabalho, principalmente nas relações entre o Estado e a sociedade. Com isso, a forma- ção profissional se manifesta a partir de novas tendências e condições decorrentes do processo social, contribuindo em relação à construção de respostas consideradas sólidas 36UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade que antecipam as particularidades das diversas expressões da questão social no mundo da sociedade capitalista. Esse é um dos requisitos para garantir a atualização da profissão, e é a condição de que sua sociedade necessita, ou seja, a continuidade de sua reprodução no mercado de trabalho capitalista e a ampliação de seu espaço profissional. Nesse aspecto, os requisitos de formação profissional devem estar ligados ao mer- cado de trabalho, detectando os problemas sociais e expressando as necessidades postas na sociedade, principalmente as tendências no processo de acumulação capitalista e política governamental. É importante que as contradições e dificuldades decorrentes das desigualda- des e as lutas de classes sejam pontos de discussões e o meio para entender os aspectos da exploração e dominação do capital, buscando respostas acerca do fazer profissional. Desse modo, a formação profissional passa a ser a condição para a manutenção da sobrevivência do Serviço Social e, assim como qualquer outra profissão, se torna inscrita na divisão social e técnica do trabalho. A reprodução depende de sua utilidade social, ou seja, de sua capacidade de atender as necessidades da sociedade sendo esta a fonte de suas demandas (IAMAMOTO, 2004). Foi a partir destas reflexões que a formação profissional precisou de uma reformu- lação que pudesse ser consistente com o novo estado da demanda profissional no mercado de trabalho, detectando e entendendo as necessidades da sociedade; precisando de profissionais competentes para responder de forma crítica e criativa aos desafios trazidos por profundas mudanças no processo de produção e no país, principalmente no impacto na formação das classes sociais, o que de certa forma apresenta-se com um desafio na reconstrução do projeto da formação profissional. 37UNIDADE II Formação Profissional na Contemporaneidade 1.1 Os Desafios na Reconstrução do Projeto de Formação Profissional Vivenciamos grandes transformações no mundo contemporâneo, entre essas modificações temos o modelo de produção e acumulação capitalista que traz profundas alterações na sociedade e uma reestruturação