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4472364_4428454_A Importancia da Economia de Subsistencia na Formacao da Pop Copiar

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A influência da Economia de Subsistência como um Ciclo Econômico dentro do Brasil Colonial
VANNUCCI, Rafael Licenciando/Bacharelado em História - Uninter
RU 4472364
Este artigo analisa a importância da economia de subsistência na formação da população brasileira, abordando como essa prática econômica influenciou a constituição das comunidades locais, a organização social e a cultura no Brasil.
A economia de subsistência foi essencial na adaptação e sobrevivência dos povos, especialmente no contexto colonial, onde o foco das metrópoles estava na exploração de riquezas naturais e recursos humanos. Baseando-se nas ideias de Caio Prado Junior, discutimos o papel da economia de subsistência na resistência e na autonomia das populações locais, que contribuíram para o desenvolvimento de uma identidade nacional brasileira.
A formação da sociedade brasileira é marcada pela combinação de diversos elementos culturais, sociais e econômicos. Durante o período colonial, o Brasil foi inicialmente explorado pela Coroa Portuguesa para a obtenção de riquezas a serem enviadas para a metrópole. No entanto, fora do eixo das grandes plantações e da exploração mineral, houve uma prática econômica que desempenhou papel crucial: a economia de subsistência. Esta modalidade de economia, baseada na produção de bens para o consumo próprio e local, foi responsável pela sobrevivência de comunidades e pela criação de uma base social que, aos poucos, configurou a população brasileira.
A economia de subsistência, centrada na produção agrícola para consumo próprio e familiar, foi essencial para a sobrevivência e desenvolvimento de diversos grupos no Brasil colonial e no Brasil pós-independência. Em um país marcado por ciclos econômicos voltados à exportação, como o açúcar, o ouro e o café, a economia de subsistência formou uma base que sustentava a população excluída dos centros urbanos e das grandes propriedades rurais. A análise de Caio Prado Júnior (2011) é fundamental para entender como esta economia marginalizada contribuiu para a estruturação da sociedade brasileira.
Este artigo explora a forma como a economia de subsistência contribuiu para a formação da identidade nacional brasileira no contexto do período colonial. Analisando a estrutura social e econômica exploratória da colônia portuguesa e sua influência sobre a sociedade brasileira, o estudo se baseia nas perspectivas de Caio Prado Júnior para compreender como as práticas de subsistência se desenvolveram em resposta à exploração econômica das riquezas naturais e contribuíram para o estabelecimento de uma cultura e identidade brasileiras autônomas e resilientes.
Segundo Caio Prado Junior (1976), “a sociedade colonial brasileira organizou-se quase exclusivamente em função do comércio externo” (p. 101). Contudo, nas áreas menos conectadas ao comércio internacional, a economia de subsistência tornou-se a forma predominante de organização econômica, e isso possibilitou uma certa autonomia e identidade para essas populações. Neste contexto, este artigo busca discutir a importância da economia de subsistência para o
desenvolvimento da sociedade brasileira, enfatizando as implicações sociais e culturais desse sistema.
Durante o período colonial, o sistema econômico do Brasil foi amplamente direcionado para a exportação de produtos agrícolas e minerais para a metrópole, Portugal. O abastecimento interno da colônia era frequentemente negligenciado, o que impactava diretamente as condições de vida da população local. Nesse contexto, os camponeses brasileiros, com uma produção voltada para a subsistência, desenvolveram estratégias de resistência e adaptação que acabaram contribuindo para a formação de uma identidade cultural própria. De acordo com Fabiano Coelho, essa luta dos camponeses contra o controle e a exploração colonial teve papel crucial na construção da identidade nacional (COELHO, 2017).
O sistema de abastecimento colonial priorizava o fornecimento de produtos para a exportação, com foco em gêneros como o açúcar, o ouro e o café. Isso resultava na exploração das terras e no uso de mão-de-obra escrava, com pouco espaço para a produção interna voltada às necessidades da população local. Coelho observa que "o abastecimento das regiões internas era frequentemente ignorado pelas autoridades coloniais, deixando a sobrevivência dos camponeses em segundo plano" (COELHO, 2017, p. 55). Dessa forma, os pequenos agricultores se viram obrigados a cultivar para sua própria subsistência, criando uma estrutura econômica paralela àquela que favorecia os interesses coloniais.
A resistência dos camponeses ao sistema colonial foi marcada pela sua luta para garantir o próprio sustento e preservar suas práticas culturais e agrícolas, o que, para Coelho, representa uma das bases para a formação da identidade brasileira. Ele destaca que "essa resistência camponesa, ainda que invisível aos olhos da elite colonial, foi fundamental para a consolidação de um sentimento de autonomia e de pertencimento entre os brasileiros" (COELHO, 2017, p. 76). A identidade que se formou a partir dessa luta é caracterizada pela valorização do trabalho agrícola, da cooperação e da resiliência, valores que se tornariam símbolos da cultura nacional.
O modelo colonial brasileiro, conforme aponta Prado Junior, foi estruturado para atender aos interesses mercantilistas da metrópole, o que resultou em um sistema que, em grande parte, negligenciava as necessidades locais da população. De acordo com Prado Junior (1976), "as populações e atividades marginais ao comércio colonial eram praticamente ignoradas pela metrópole" (p. 115). Isso contribuiu para o desenvolvimento de uma economia de subsistência, que supria as demandas básicas das comunidades, permitindo que populações afastadas dos centros de exploração tivessem acesso a alimentos, vestuário e outros itens de consumo próprio.
Além de atender às necessidades de sobrevivência, a economia de subsistência também exerceu um papel importante na criação de uma identidade cultural. No isolamento das comunidades, formaram-se tradições, costumes e relações sociais que moldaram a diversidade cultural do Brasil. A economia de subsistência fomentou práticas comunitárias, relações de solidariedade e a utilização sustentável dos recursos naturais, elementos que contribuíram para a formação de uma cultura popular rica e diversificada.
Para Prado Junior, o isolamento e a economia de subsistência “permitiram que as populações locais desenvolvessem uma cultura própria, distinta da cultura europeia imposta pela metrópole” (1976, p. 120). Nesse contexto, a economia de subsistência ajudou a criar uma base social que,
apesar de fragmentada e marginalizada, resistia à homogeneização cultural imposta pelos colonizadores
A colonização portuguesa no Brasil foi profundamente marcada pela exploração das riquezas naturais, especialmente no que se refere aos ciclos econômicos do açúcar, ouro e, posteriormente, do café. Desde o início da colonização, a estrutura social e econômica estava orientada para o enriquecimento da metrópole, deixando uma vasta maioria da população em uma condição de subsistência. Essa condição, no entanto, foi determinante para o surgimento de uma identidade nacional, desenvolvida à margem das atividades econômicas de exportação. Segundo Caio Prado Júnior, a economia de subsistência representava "uma resposta à exploração colonial, criando alternativas de sobrevivência e preservação cultural para aqueles excluídos dos benefícios diretos dos ciclos econômicos" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 45).
A colônia brasileira foi estruturada para servir como fonte de matérias-primas e produtos agrícolas que enriquecessem a coroa portuguesa. Esse sistema de exploração levou ao desenvolvimento de grandes latifúndios, voltados exclusivamente à produção de bens para exportação, ignorando as necessidades das populações locais. Prado Júnior (2011) observa que "o sistema colonial não se preocupava em promover uma economia interna voltada para o bem-estar da população, mas sim em asseguraros interesses comerciais da metrópole" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 92). Dessa forma, a maior parte da população dependia da agricultura de subsistência, que garantiu a sobrevivência dos pequenos produtores e comunidades marginalizadas.
Prado Júnior argumenta que a economia de subsistência também representou uma forma de resistência cultural, pois permitiu que essas comunidades preservassem aspectos de suas identidades culturais e sociais, em contraste com o modelo europeu imposto pela metrópole. Ele destaca que "os grupos que viviam à margem da economia de exportação foram, paradoxalmente, os que mais contribuíram para a formação de uma cultura genuinamente brasileira, livre das imposições da colonização" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 150). Dessa forma, a economia de subsistência possibilitou que culturas africanas, indígenas e populares fossem preservadas e adaptadas às realidades locais, formando um mosaico cultural distinto.
A produção de subsistência possibilitou que os camponeses brasileiros desenvolvessem uma identidade cultural enraizada em tradições locais, que não apenas resistia à exploração, mas também desafiava a ordem estabelecida. Coelho aponta que "essa identidade cultural foi construída a partir de práticas de solidariedade, de resistência e de preservação das tradições, mesmo em um ambiente de exploração constante" (COELHO, 2017, p. 98). Assim, a luta dos camponeses pelo abastecimento próprio não foi apenas uma questão de sobrevivência, mas também de preservação de uma cultura e modo de vida que estavam ameaçados pela lógica econômica colonial.
Durante o período colonial, o Brasil foi palco de intensos processos de adaptação cultural e desenvolvimento de práticas alimentares próprias, que resultaram na formação de uma identidade brasileira. Em meio aos alimentos que sustentavam as populações locais, a farinha de mandioca se destacou como um elemento essencial e se tornou um símbolo cultural. Na perspectiva de Manoela Pedrosa, a farinha teve um papel determinante na coesão e na construção de uma identidade alimentar comum no Brasil colonial, representando uma verdadeira síntese das influências indígenas, africanas e europeias (PEDROSA, 2015).
A farinha de mandioca, produzida a partir de técnicas indígenas, rapidamente se difundiu entre as populações africanas e europeias que se estabeleceram no Brasil. A autora Manoela Pedrosa afirma que "a farinha foi um dos primeiros produtos alimentares a transcender barreiras étnicas e sociais, sendo consumida de forma generalizada por diferentes grupos durante o período colonial" (PEDROSA, 2015, p. 44). Ela servia tanto como alimento de subsistência para trabalhadores rurais e escravos quanto como componente básico das refeições dos colonos. Por sua durabilidade e versatilidade, a farinha se tornou o principal alimento em muitas áreas, particularmente nas regiões menos integradas aos centros econômicos.
A introdução da mandioca como produto alimentício pelos povos indígenas foi fundamental para a adaptação das populações coloniais ao ambiente brasileiro. Segundo Pedrosa, "a mandioca, e em particular a farinha dela derivada, foi incorporada ao cotidiano de maneira que refletia o encontro e a adaptação das práticas alimentares dos diferentes grupos no Brasil colonial" (PEDROSA, 2015, p. 68). A autora ressalta que o consumo da farinha simboliza um processo de "tropicalização" da cultura alimentar, no qual os colonizadores e escravos africanos passaram a utilizar ingredientes locais, apropriando-se de técnicas indígenas e contribuindo para a criação de uma culinária única.
A disseminação do consumo da farinha de mandioca foi um dos primeiros passos na formação de uma identidade cultural brasileira, que começava a se destacar das práticas europeias. Pedrosa destaca que "a farinha se tornou um símbolo da resiliência e da capacidade de adaptação das populações locais, que criaram, a partir desse alimento, uma cultura própria e uma base alimentar que perdura até os dias de hoje" (PEDROSA, 2015, p. 112). Essa prática alimentar comum ajudou a unir diferentes grupos sociais, criando um senso de pertencimento e identidade compartilhada em um contexto de intensas divisões sociais e étnicas.
A farinha de mandioca representa mais do que um alimento básico: ela é um símbolo da adaptação cultural e da construção de uma identidade brasileira durante o período colonial.
Na perspectiva de Manoela Pedrosa, o consumo da farinha exemplifica o surgimento de uma cultura alimentar própria, que unia diversos grupos sob práticas e valores comuns. A farinha tornou- se um elemento essencial dessa identidade compartilhada, marcando a formação de uma cultura brasileira que valorizava a adaptação e a integração de diferentes tradições.
Com base nas análises de Caio Prado Júnior, argumenta-se que, embora a economia colonial brasileira tenha sido organizada para atender aos interesses metropolitanos, a economia de subsistência gerou um desenvolvimento geográfico autônomo em vastas áreas do território. Tal estrutura contribuiu para a configuração de espaços sociais e culturais que se tornaram fundamentais para a formação de uma identidade nacional.
A formação geográfica do Brasil colonial foi profundamente influenciada pelas dinâmicas econômicas voltadas à subsistência, especialmente em regiões distantes dos centros de produção para exportação, como as plantações de cana-de-açúcar e as minas de ouro. Na visão de Caio Prado Júnior, essas regiões de subsistência, desenvolvidas à margem das estruturas econômicas oficiais, formaram bases geográficas e sociais que resistiram ao domínio colonial e favoreceram o surgimento de uma cultura local própria (PRADO JÚNIOR, 2011). Ao analisar essa formação geográfica, é possível perceber que a economia de subsistência foi fundamental para a organização espacial e cultural do Brasil colonial.
Durante o período colonial, a ocupação do território brasileiro foi impulsionada por duas dinâmicas principais: a exploração para exportação e a subsistência das populações locais. A economia de exportação, focada em produtos como o açúcar e o ouro, determinou a localização dos centros urbanos e das grandes plantações. No entanto, para além dessas áreas, surgiu uma economia de subsistência que garantiu a ocupação de regiões menos acessíveis e distantes dos interesses econômicos diretos da metrópole. Segundo Prado Júnior, "a subsistência permitiu a fixação de populações em áreas onde o sistema colonial não via interesse imediato, criando um tecido social e territorial que se desenvolvia paralelamente ao modelo exploratório" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 76).
A economia de subsistência foi responsável pela criação de núcleos autônomos em várias regiões do Brasil, como o sertão nordestino, o interior paulista e as áreas amazônicas. Prado Júnior destaca que "a independência econômica dessas regiões, distantes do controle direto da metrópole, resultou na criação de uma estrutura social e econômica autônoma, que desafiava as imposições coloniais e permitia o desenvolvimento de uma identidade local própria" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 132). Em grande parte dessas áreas, a produção agrícola familiar e a pequena pecuária criaram espaços autossuficientes, onde os costumes e as tradições locais puderam se consolidar, formando uma base cultural distinta. A economia de subsistência também representava uma forma de resistência ao modelo geográfico e econômico colonial imposto pela metrópole. Em vez de depender exclusivamente das grandes plantações e das exportações para sobreviver, vastas populações adotaram práticas agrícolas locais, apropriando-se de técnicas indígenas e adaptando-se às condições geográficas do Brasil. Para Prado Júnior, "a economia de subsistência se tornou uma resposta ao domínio colonial, pois permitia que as comunidades locais sobrevivessem fora da economia oficial, criando uma organização espacial descentralizada e resistente à exploração metropolitana" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 158). Esse padrão de desenvolvimento geográfico contribuiu para a formação de uma sociedadediversa e heterogênea, que não dependia completamente dos interesses econômicos da metrópole
A partir das dinâmicas de subsistência, formaram-se territórios e práticas culturais que contribuíram para a construção de uma identidade nacional distinta. Ao criar formas de vida e organização territorial fora da estrutura colonial, os habitantes dessas regiões estabeleceram uma base cultural que se tornaria essencial para a formação da sociedade brasileira. Prado Júnior afirma que "a resistência cultural e geográfica gerada pela subsistência não apenas sustentou populações marginalizadas pela economia oficial, mas também criou uma consciência regional e uma cultura própria, que mais tarde integrariam a identidade nacional brasileira" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 189).
A formação da identidade nacional brasileira durante o período colonial é um processo complexo, envolvendo tanto a desconstrução das estruturas herdadas de Portugal quanto a emergência de novos modelos de organização social e cultural. Uma das principais dinâmicas dessa transformação foi a dissolução do modelo das sesmarias, terras concedidas pela coroa portuguesa para o cultivo agrícola, e sua substituição por formas mais flexíveis de posse de terra que facilitavam o desenvolvimento de uma economia de subsistência. Este processo, por sua vez, contribuiu para a criação de um sentimento de pertencimento ao Brasil, afastando as identidades regionais da lógica colonial e aproximando-as de um novo modelo cultural e político. Historicamente, esse movimento foi analisado por vários historiadores brasileiros, que apontam como a economia de subsistência
teve um papel essencial na formação de uma identidade cultural autônoma e no surgimento de uma estrutura pré-federativa.
Durante os primeiros séculos de colonização, o sistema de sesmarias foi essencial para organizar a produção agrícola no Brasil. No entanto, esse modelo era voltado, principalmente, para a exportação de produtos como açúcar e, mais tarde, café, em favor da metrópole portuguesa. Para o historiador José Carlos Reis, "as sesmarias representavam uma estrutura rígida de apropriação das terras, que favorecia a lógica colonial de exploração das riquezas naturais em detrimento do desenvolvimento de uma economia local autossuficiente" (REIS, 1998, p. 112). As grandes propriedades distribuídas por esse sistema refletiam a centralização e o controle da produção, que favoreciam os interesses da coroa portuguesa, mas impediam o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento mais amplo entre os colonos.
A transição do modelo das sesmarias para uma economia mais voltada para a subsistência foi um passo decisivo para a criação de um Brasil com características próprias. Ao longo do período colonial, as populações locais, especialmente camponeses e grupos marginalizados, começaram a adotar práticas agrícolas autossustentáveis, baseadas principalmente na produção de alimentos básicos como milho, arroz, feijão e mandioca. De acordo com o historiador Sérgio Buarque de Holanda, "a economia de subsistência, embora originada em práticas indígenas e africanas, foi fundamental para que os brasileiros começassem a se distanciar do modelo português e desenvolvessem uma relação mais íntima com a terra e a cultura local" (HOLANDA, 2000, p. 83).
Essa transição permitiu que as comunidades camponesas estabelecessem um vínculo mais direto com o território, gerando uma noção de pertencimento que não mais estava atrelada à metrópole. Além disso, a economia de subsistência contribuiu para a criação de redes de solidariedade e cooperação entre as populações rurais, fortalecendo uma identidade regional que transcendeu as estruturas coloniais.
Com a dissolução do sistema das sesmarias e a descentralização das atividades agrícolas, começou a surgir uma organização territorial mais flexível, que poderia ser vista como um embrião do modelo de "estados" federados, tal como seria mais tarde formalizado na independência do Brasil. Para o historiador Caio Prado Júnior, "a fragmentação das grandes propriedades sesmeadas e a ascensão de pequenos proprietários e produtores locais foi uma das primeiras manifestações de uma descentralização política e econômica que viria a ser a base do Brasil pós-colonial" (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 154). Esse processo envolveu uma adaptação das terras para a produção local e regional, rompendo com a centralização portuguesa e criando uma nova configuração territorial, que reforçava a independência e o pertencimento das populações à terra que cultivavam.
A economia de subsistência também foi fundamental para a formação de uma cultura brasileira autônoma, que se distanciava cada vez mais das influências portuguesas. Ao focar na produção para consumo próprio, em vez de se submeter aos ditames da economia colonial de exportação, os colonos brasileiros criaram uma base cultural que refletia as condições e os recursos naturais do Brasil. Segundo a historiadora Manoela Pedrosa, "a economia de subsistência não só ajudou a consolidar uma base alimentar, mas também gerou práticas culturais que refletiam as condições locais, distantes da cultura portuguesa" (PEDROSA, 2015, p. 78). Essa adaptação resultou na criação de um modelo cultural genuinamente brasileiro, no qual a comida, a música e as tradições locais se tornaram símbolos de um Brasil independente da metrópole.
A desconstrução das antigas sesmarias e a transição para um modelo econômico baseado na subsistência foram fundamentais para a formação de uma identidade nacional brasileira. Esse processo contribuiu para a perda da identidade colonial portuguesa, criando um Brasil mais autônomo, com características culturais próprias e um sentimento de pertencimento territorial que se distanciava da lógica imperial. A análise da economia de subsistência e seu impacto na organização social e cultural do Brasil colonial revela a importância das pequenas produções agrícolas para a criação de um modelo pré-federativo que mais tarde influenciaria a formação do país.
Ao longo do período colonial e pós-independência, a economia de subsistência foi fundamental na consolidação de identidades regionais e na estruturação de uma base autônoma e resiliente, que daria suporte ao modelo de federação adotado posteriormente. Ao distanciar-se da lógica colonial de exportação, o Brasil pôde desenvolver um modelo econômico interno, criando as condições para a integração nacional e para o fortalecimento do sentimento de pertencimento.
A economia de subsistência teve um papel vital na história do Brasil. Inicialmente utilizada para sustentar a população fora dos grandes centros coloniais e das atividades de exportação, essa forma de organização econômica possibilitou que uma estrutura social e cultural própria se desenvolvesse. Esse modelo autônomo se consolidou ao longo do tempo, resistindo às influências coloniais e se adaptando às condições locais. Como consequência, as comunidades baseadas na subsistência foram importantes para a formação de um sentimento de nacionalidade e para a organização de um modelo federativo, marcando profundamente a identidade e a geopolítica brasileiras.
Durante o período colonial, o Brasil era essencialmente uma colônia voltada para a exportação de produtos agrícolas e minerais, uma estrutura que favorecia os interesses da coroa portuguesa em detrimento das necessidades locais. No entanto, a economia de subsistência, desenvolvida em áreas distantes dos grandes centros econômicos, permitiu que as populações coloniais adotassem um modelo de vida autossustentável e desvinculado do controle metropolitano. Segundo o historiador Sérgio Buarque de Holanda, “foi a autonomia econômica proporcionada pela subsistência que permitiu aos habitantes desenvolverem um sentimento de pertencimento ao Brasil, com uma identidade cultural distinta da portuguesa” (HOLANDA, 2000, p. 88). Essa economia era baseada no cultivo de alimentos como milho, feijão e mandioca, produtos essenciais para a sobrevivência de vastas populações rurais.
Ao criar formas de vida e organizaçãosocial que não dependiam da exploração colonial, a economia de subsistência fomentou uma base cultural compartilhada, onde os costumes, as práticas alimentares e as tradições locais se consolidaram como elementos da nacionalidade emergente. As práticas de subsistência permitiram o fortalecimento de vínculos regionais e identitários que mais tarde seriam fundamentais para a formação de uma identidade nacional.
A partir da independência, a estrutura social e econômica herdada do período colonial sofreu alterações significativas. As regiões que haviam desenvolvido uma economia de subsistência ganharam um papel importante na construção do modelo de estados federados, no qual o poder político e administrativo seria descentralizado e redistribuído entre as diversas regiões do país. De acordo com Caio Prado Júnior, “a economia de subsistência foi um dos principais fatores que possibilitaram a autonomia das regiões brasileiras e a formação de estados federados com características culturais e econômicas distintas” (PRADO JÚNIOR, 2011, p. 102).
O sistema federativo permitiu que as regiões, já com estruturas sociais e econômicas autônomas, pudessem exercer uma relativa independência na gestão de seus recursos e na preservação de suas culturas locais. Essa autonomia regional, fortalecida pela economia de subsistência, permitiu que os estados desenvolvessem políticas e identidades próprias, respeitando a diversidade que caracterizava o território brasileiro. A formação de estados federados garantiu, assim, uma maior integração nacional ao mesmo tempo que preservava a diversidade cultural e regional.
A economia de subsistência teve ainda uma importância crucial na preservação e transmissão de práticas culturais que se tornariam centrais na identidade brasileira. Em áreas distantes das grandes plantações e minas, o cotidiano era marcado pelo trabalho comunitário e pelo uso de técnicas agrícolas indígenas e africanas, que constituíam a base da vida local. Conforme Manoela Pedrosa aponta, “a economia de subsistência foi mais do que um meio de sobrevivência; ela foi o alicerce da cultura local, criando uma base sólida para o desenvolvimento de uma identidade nacional” (PEDROSA, 2015, p. 61).
Com o tempo, as práticas associadas à economia de subsistência foram incorporadas à cultura brasileira, expressando-se na música, na culinária e nas festividades locais. Essas tradições, nascidas da subsistência, criaram uma memória cultural que unificava as regiões e fortalecia o sentimento de pertencimento a uma identidade nacional.
A economia de subsistência desempenhou um papel essencial na formação do Brasil, não apenas como um sistema de organização econômica, mas como um agente de construção social, cultural e política. Ela permitiu que as populações locais desenvolvessem um sentimento de pertencimento e identidade nacional, ao mesmo tempo que criava uma estrutura regional autônoma que daria suporte ao modelo federativo. Com a transição do Brasil de colônia a nação independente, a economia de subsistência serviu como um pilar para a formação dos estados federados, garantindo que a diversidade cultural e regional fosse respeitada no processo de construção da nação.
O desenvolvimento da economia de subsistência contribuiu, assim, para um Brasil onde a identidade nacional é marcada pela diversidade e pela integração de diferentes tradições regionais. Esse modelo tornou-se um elemento central na formação de uma sociedade coesa, com bases culturais e sociais que perduram até hoje. Ao refletir sobre o impacto da economia de subsistência, compreendemos como ela foi fundamental para o Brasil, não só na sua organização territorial, mas também na sua formação como povo.
Referências
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
PEDROSA, Manoela. A Economia de Subsistência e a Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Contexto, 2015.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 2011
PEDROSA, Manoela. A Economia de Subsistência e a Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Contexto, 2015.

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