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CONCRETO | Logística concreta Da central dosadora à obra, o construtor deve conhecer o processo de transporte de concreto. Essas informações o ajudam a fazer um planejamento otimizado para que o material chegue às fôrmas nas melhores condições Além de ser, normalmente, o material de maior volume consumido em uma obra, o concreto, por possuir função estrutural, exige cuidados especiais do construtor, da especificação à cura. No caso do concreto dosado em central, principalmente o processo de transporte do material deve ser acompanhado com atenção, para que se obtenham as melhores condições de uso. A responsabilidade pelo transporte da central até a obra, naturalmente, é do fornecedor. Os procedimentos a serem seguidos são regulamentados por norma – a NBR 7212, que prescreve a execução de concreto dosado em central. Ela traz as orientações para as corretas operações de armazenamento dos componentes do concreto, dosagem e mistura, transporte até a obra e, no recebimento, execução do controle da qualidade. O recebimento do concreto já é responsabilidade do construtor. Após conferir as características do material, ele deve fazer sua aceitação ou a rejeição. Dentro do canteiro,o correto planejamento do transporte de concreto do caminhão-betoneira até o local de aplicação, além de reduzir o tempo do processo, pode evitar alterações na composição do material – que poderiam acarretar patologias futuras na estrutura. As concreteiras "Nenhuma empresa tem equipamento ocioso", afirma Arcindo Vaquero y Major, consultor técnico da Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem).A frase resume o ritmo em que as concreteiras trabalham diariamente. Como cada betoneira e cada bomba têm sua grade diária completamente preenchida com as concretagens pré-agendadas, mesmo pequenos atrasos em uma obra podem causar atrasos em cadeia, prejudicando os demais atendimentos do fornecedor. "É importante começar bem o dia, pois atrasos no início da manhã irão se acumular até o final da tarde", explica Vaquero y Major. Por isso, uma recomendação inicial da Abesc é que o construtor prepare uma boa programação de execução do serviço,que leve em consideração aspectos como número de viagens, intervalos entre os caminhões,volume transportado. "Não adianta mandar, de uma vez, 50 m3 de concreto se o cliente trabalhar com uma grua que consegue transportar apenas 10 m3/h", diz o consultor da Abesc. Sua recomendação se justifica: o tempo máximo estipulado por norma para transporte de concreto da central dosadora à obra é de 90 minutos. Se estourado o prazo, o construtor é obrigado a recusar o caminhão.Como o foco dos serviços das concreteiras está no fornecimento do concreto,o retorno do material "vencido" é uma preocupação a mais para a empresa. Em razão do prazo sempre apertado das concreteiras, são privilegiados os pedidos feitos com maior antecedência. Pedidos em cima da hora têm maior probabilidade de não serem atendidos. Outras "falhas" podem gerar atrasos na concretagem.As execuções dos sistemas de fôrmas, do escoramento e das armaduras não podem ter problemas, pois durante a concretagem haverá uma grande exigência de esforços, devido ao peso do material despejado. A quantidade suficiente de equipamento necessário para o procedimento garante que não haja atrasos. "Uma obra, por exemplo, em que o vibrador queima e não se tem equipamento reserva, vai andar mais devagar", conta o consultor da Abesc. A facilidade de acesso das betoneiras é outro fator importante para a agilidade da aplicação do concreto. "De preferência, elas devem entrar no canteiro e, lá dentro, precisam ter espaço suficiente para realizar manobras", recomenda o professor da Escola Politécnica da USP, Ubiraci Espinelli Lemes de Souza. O supervisor técnico de concreto da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Rubens Curti, também lembra que, caso seja usado caminhão-lança, o solo onde ele estacionará deve ser firme, pois ele se fixa ao chão com "patolas". Com a utilização O máximo de velocidade na concretagem com grua é obtida quando se trabalha com dois silos. Enquanto o primeiro concreta a laje, o segundo é carregado pela betoneira desse veículo,é preciso estar atento, também, à manutenção de uma distância segura de fios elétricos de alta tensão. "Não é necessário nem o contato físico entre a lança e o fio.Basta a proximidade para se criar um arco voltaico, que, além de queimar os equipamentos, pode matar o operador", explica Vaquero y Major, da Abesc. Recebimento Ao receber o caminhão-betoneira da concreteira, o construtor – ou a empresa designada para fazê-lo – seguirá alguns procedimentos para realizar a aceitação ou rejeição do concreto. O primeiro passo é a conferência do lacre da betoneira, que assegura que o material contido naquele caminhão está da forma como saiu da central dosadora. O lacre passou a ser exigido, há alguns anos, em razão de furtos de concreto por funcionários das concreteiras. Em seguida, o profissional que receber deve checar os dados da nota fiscal, especialmente o horário em que o caminhão saiu da central, o volume transportado e a especificação do concreto. Visualmente, é possível, também, checar o tipo de agregado utilizado. Nesse momento também é realizado o teste de abatimento de concreto (também conhecido como slump). Nele, preenche-se um cone, até a boca, com o concreto recém- chegado.Erguese o cone e verifica-se o abatimento do concreto.O slump mínimo do concreto que pode ser transportado por um caminhão-betoneira é de 80 mm ±10. Isso significa que a diferença de alturas entre os pontos mais altos do cone e do concreto abatido é de 80 mm,com uma variação permitida de até 10 mm a mais ou a menos. Caso o slump do material entregue for menor do que o solicitado, ainda é possível corrigir o erro acrescentando água.No entanto, se esse índice for maior, não é possível retirar água do concreto, e, portanto, ele deve ser recusado. "A água diminui a resistência do concreto", afirma Curti. Em cidades e regiões com relevo mais acidentado, como São Paulo e Belo Horizonte, a grande quantidade de aclives pode exigir do fornecedor um artifício na produção do concreto. A massa mais plástica, em aclives, tende a escapar do caminhão-betoneira e cair na rua. Para que isso não aconteça, o concreto sai da central com um slump menor do que o solicitado. Ao chegar ao canteiro, mais água é adicionada à mistura, aumentando o slump do material. Para não haver problemas, alerta Vaquero y Major, da Abesc, esse procedimento deve ser acordado e documentado entre construtor e fornecedor. "O registro pode ser feito em contrato ou em nota fiscal", afirma. Finalmente, o último ensaio a ser realizado é o de resistência do concreto recebido. São moldados corpos- de-prova, que serão ensaiados ao final de 28 dias. Somente nesse momento o concreto será aceito. O mapeamento da concretagem – associação da área concretada ao caminhão que entregou o material – é útil caso ocorra algum problema nesse momento. "Os reparos podem ser feitos localmente", afirma o supervisor da ABCP. O transporte do concreto com jerica ou carrinho de mão é pouco usado em situações que exigem rapidez, como a concretagem de uma laje. O rendimento em andares mais elevados, segundo estudos, é de apenas 3 m3/h, em média. Projeto de canteiro Depois da chegada à obra, o transporte do concreto vira responsabilidade da construtora. Para essa etapa, o indicado é que o transporte do material seja considerado no projeto do canteiro. "O canteiro é a linha de montagem da construção", afirma o professor Ubiraci Espinelli, da USP. Ele explica que, quanto menos transporte horizontal de concreto, menos perdas o construtor tem. "Transporte não agrega valor." Por isso, as distâncias a serempercorridas, no caso de transporte com jericas ou carrinhos de mão, devem ser as mais curtas possíveis. Além disso, o piso por onde passarão os carrinhos deve ser regularizado.A vibração pode provocar a separação dos componentes da mistura, prejudicando a consistência do material e podendo acarretar patologias futuras na estrutura. Como os carrinhos podem "trombar" durante a concretagem, o planejamento do fluxo de trânsito permite racionalizar a movimentação e otimizar o tempo de descarregamento. "Passarelas inteligentes, nas lajes, evitam o encontro dos carrinhos que chegam e que saem", lembra Curti, da ABCP. A concretagem com carrinho de mão ou jerica é pouco utilizada. O índice de produtividade, segundo a ABCP, nos pavimentos mais baixos, oscila entre 7 e 10 m3 por hora.Nos pavimentos mais altos, o valor cai para cerca de 3 m3/h. Entretanto, a escolha do método de concretagem pode depender de outros fatores, como tempo disponível para a execução dos pavimentos, equipamentos da construtora, características do canteiro. Os índices de produtividade do sistema de gruas e caçambas giram em torno de 3,5 m3/h; o sistema bombeado permite a concretagem de cerca de 10 m3/h. A norma NBR 7212, além de estipular o tempo máximo de 90 minutos de transporte do concreto da central até a obra, fixa também o tempo máximo para que o concreto seja aplicado. Em, no máximo, 150 minutos, a mistura deve estar completamente depositada nas fôrmas. O transporte realizado com grua exige, basicamente, o uso de duas caçambas. Enquanto a primeira concreta o pavimento, a segunda é carregada pela betoneira; depois, faz-se a troca. Em dias de concretagem,a grua é destacada apenas para esse serviço. Por isso, o mais adequado é fazer uma programação de forma que o recebimento de outros materiais não seja prejudicado, como no caso de paletes de blocos de concreto ou armaduras de aço. No caso da concretagem bombeada, a maior preocupação apontada pelo professor Ubiraci Espinelli diz respeito às perdas resultantes das sobras de concreto na tubulação. Ele exemplifica: tomando uma tubulação de Ø 8'' e 80 m de comprimento – para uma concretagem no 20o andar –, a sobra pode chegar a até 2,5 m3. "Em uma laje com 50 m3, a perda seria, por exemplo, de 5%", explica Espinelli. Projetando o transporte A REM Construtora terá um prazo curto para entregar o Edifício Gran Parc, na esquina das ruas Inhambu e Inajaroba, na Vila Nova Conceição, em São Paulo. Os 18 pavimentos, mais térreo e três subsolos, deverão ser finalizados em 20 meses. "Precisamos de ciclos de produção rápidos", afirma o coordenador de obras da construtora, Adriano Bastos. O planejamento é de se produzir um pavimento a cada sete dias, tomando um dia a concretagem das vigas e lajes, e metade disso, a dos pilares. Por isso, antes do início da obra, a construtora dedicou parte de seu tempo ao projeto de transporte de concreto no canteiro. A empresa aproveitará a grua que já possui e três caçambas, uma delas como equipamento reserva. Para a primeira fase da obra – fundações e subsolos – a concretagem será feita com caminhão-lança da calçada, devido à impossibilidade de entrada dos veículos no canteiro. Na segunda fase da obra, um recuo de 4 m x 6 m será utilizado como ponto de descarregamento de concreto e outros materiais. A entrada dos caminhões se dará pela rua Inhambu e a saída, pela Inajaroba. "Nossa idéia era, também, não atrapalhar o trânsito das pessoas na calçada, já que, por ser ao lado do Parque do Ibirapuera, o passeio é bastante utilizado por quem faz caminhada", explica Bastos. A bola, ou "biriba", é usada no final do bombeamento para a limpeza do concreto restante na tubulação. O volume desse concreto, apesar de pequeno, pode ser reaplicado em sapatas, calçadas e outras partes da obra. De preferência, o canteiro de obras deve ter espaço suficiente para que o caminhãolança e a betoneira entrem e manobrem com facilidade. Se não for possível, o construtor é responsável pelas autorizações junto aos órgãos de trânsito Revista Téchne, Ed. 114. Setembro de 2006.