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A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Cassio Gonçalves de Azevedo 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A constituição subjetiva, tal como concebida por Lacan, se dá em uma 
relação inextricável ao mundo da linguagem. O Outro, como o simbólico, 
condiciona o sujeito tanto no que se refere à sua “estrutura”, que é 
radicalmente dividida, quanto na sua posição, intervalar, bem como no que diz 
respeito às suas possibilidades. 
Nesta etapa, iniciaremos por duas operações lógicas que configuram o 
sujeito e o desejo que o institui, na relação particular quanto ao Outro. São 
elas:a alienação e a separação. Lacan as teoriza como dois tempos na 
constituição subjetiva, porém em termos lógicos, isto é, não como 
cronologicamente dispostos, um após o outro, mas logicamente articulados. 
Essas duas operações constituintes nos encadearão na esteira do 
conceito de objeto α, que vai adquirindo diferentes conotações na elaboração 
lacaniana, de modo a assumir a função de enodamento da estrutura psíquica, 
na medida em que participa dos três registros desenvolvidos por Lacan: o real, 
o simbólico e o imaginário. 
Veremos um pouco a respeito desses três registros, destacando que o 
objeto α participa das três instâncias de forma diferente, porém destacando seu 
estatuto radical de objeto inexistente, isto é, de real, de impossível. 
Chegaremos, assim, ao sujeito tal como nos aparece na clínica, entre os 
significantes, como sujeito não do enunciado ou da materialidade do 
significante, mas da enunciação. 
Na seção Na Prática, refletiremos sobre as incidências mais imediatas 
dessos conceitos aqui esboçados e na seção Finalizando retomaremos um 
pouco do conteúdo estudado. 
TEMA 1 – ALIENAÇÃO 
É comum que se atribua ao sujeito a causalidade de algum 
comportamento ou atitude. Costuma-se então dizer, por exemplo, que é o 
sujeito que causa um determinado sintoma. Conforme discute Cabas n’O 
sujeito na psicanálise de Freud a Lacan, existe inclusive o debate a respeito de 
um novo sujeito que estaria na base da constituição de novos sintomas, isto é, 
de “novas formas de subjetividade” que levam a “novas formas do sintoma”. O 
autor é taxativo e categórico ao rechaçar essa tendência, afirmando que, em 
 
 
3 
primeiro lugar, “o sujeito não é causa. Quando muito, ele é causado. Segundo, 
porque um sujeito é uma função e não uma instância (ou seja: uma instância 
psíquica). E, terceiro, porque essa função carece de conteúdo próprio” (Cabas, 
2009, p. 10). 
Ora, dizer que o sujeito é causado ao invés de causa significa dizer que 
ele não é causa de si próprio, que ele é, portanto, constituído por meio da 
relação do humano com o universo da linguagem, causado pelo Outro, pelo 
simbólico. Reproduziremos, aqui, dois parágrafos na íntegra do texto Posição 
do inconsciente, de 1964, inserido nos Escritos de Lacan. 
O efeito de linguagem é a causa introduzida no sujeito. Por esse 
efeito, ele não é causa dele mesmo, mas traz em si o germe da causa 
que o cinde. Pois, sua causa é o significante sem o qual não haveria 
nenhum sujeito no real. Mas esse sujeito é o que o significante 
representa, e este não pode representar nada senão para um outro 
significante: ao que se reduz, por conseguinte, o sujeito que escuta. 
Com o sujeito, portanto, não se fala. Isso fala dele, e é aí que ele se 
apreende, e tão mais forçosamente quanto, antes de – pelo simples 
fato de isso se dirigir a ele – desaparecer como sujeito sob o 
significante em que se transforma, ele não é absolutamente nada. 
Mas esse nada se sustenta por seu advento, produzido agora pelo 
apelo, feito no Outro, ao segundo significante. (Lacan, 1998, p. 849) 
Vemos aqui, portanto e desde já, que a “a alienação reside na divisão do 
sujeito que acabamos de designar em sua causa (Lacan, 1998, p. 855), ou 
seja, que a causa do sujeito é o significante que o funda na medida em que o 
cinde, o divide, e que não pode representá-lo senão para outro significante; em 
outras palavras, que só pode representá-lo indiretamente como que por uma 
procuração. Lacan toma de empréstimo noções da lógica e da teoria dos 
conjuntos para formalizar a operação de alienação como o efeito da reunião 
entre dois conjuntos: o campo do ser e o do sentido. A figura a seguir ilustra a 
operação da alienação ao significante, operação constituinte do sujeito em 
questão. 
 
 
 
4 
Figura 1 - O grafo da alienação 
 
Fonte: Lacan, 1985, p. 200. 
A coisa toda se passa de modo que o sujeito, ao aderir um significante 
do campo do Outro, isto é, valores e normas culturais, por exemplo, que lhe 
são estrangeiros o faz cedendo parte de si, que fica de fora, de modo que a 
operação de alienação implica uma perda no campo do a ser, na medida em 
que esse significante lhe é estranho e tampouco é produzido por si. 
O sujeito não domina nem pode modificar os valores culturais aos 
quais é convocado a aderir. É nessa direção que vai o famoso 
comentário feito por J. A. Miller (Lacan, 1964/2008, p. 210) no interior 
do Seminário 11: "[...] a alienação de um sujeito que recebeu a 
definição de ser nascido na, constituído por e ordenado a um campo 
que lhe é exterior". Assim, a entrada no universo simbólico envolve 
uma profunda alteração na natureza do ser: “Para ser pars [parte], ele 
realmente sacrificaria grande parte de seus interesses” (Lacan, 
1964/2008, p. 857). O sujeito então se vê condenado a emergir no 
campo do sentido. (Lustoza; Zanola, 2019, p. 125) 
Assim, o ser perde algo de si ao aderir um significante que o levará a 
outro e assim sucessivamente, num deslizamento infinito, de modo que o 
sujeito, para Lacan, será a questão que daí emerge, o quem sou? que o campo 
do simbólico não recobre e tampouco responde. 
O sujeito adere então ao S1, o significante primeiro, em relação ao qual 
o S2 vem socorrer, conferir um sentido. Assim inagura-se a bateria em que se 
insere sempre mais um significante, enquanto que a porção não incorporada ao 
 
 
5 
regime do significante, que é a do sujeito do inconsciente, segue deslizando em 
uma ordem heteróclita à ordem dos significantes, sem que seja efetivamente 
significado. 
 
TEMA 2 – SEPARAÇÃO 
Lacan utiliza a frase A bolsa ou a vida!, para exemplificar o tipo de 
operação que se constitui na alienação: “A bolsa ou a vida! Se escolho a bolsa, 
perco as duas. Se escolho a vida, tenho a vida sem a bolsa, isto é, uma vida 
decepada. Vejo que me fiz suficientemente compreender” (Lacan, 1985, p. 
201). Em outras palavras, não se pode escolher a bolsa porque se perde a vida 
e, consequentemente, a bolsa. Só resta optar pela vida e perder a bolsa. 
De modo análogo, o sujeito não pode escolher o ser sem perder o ser e 
o sentido, porque nada garante até então seu ser senão o sentido que se lhe 
afigura como tal. Ao escolher o campo do sentido para lhe fundamentar algum 
sentimento de ser, o sujeito perde no campo do ser, na medida em que no 
campo do sentido o significante só o representa, o sustenta enquanto ser para 
outro significante, ou seja, indireta e parcialmente. Perde-se assim um pouco 
do ser para se aderir ao mundo da linguagem. 
Essa perda de ser, fruto da identificação do indivíduo com o campo 
simbólico do Outro, é a negatividade mesma que Lacan identifica como sendo 
o sujeito da questão, do inconsciente. Na sua fundação, oriunda da relação que 
se estabelece com a ordem do significante, o sujeito aparece, pacialmente, no 
campo do simbólico, representado por um significante (S1) para outro 
significante (S2), ao mesmo tempo que desaparece, (S), sujeito barrado e 
resistente à significação. 
Essa porção barrada do sujeito, resistente à significação, vai se 
confrontar novamente em uma interseccção mas desta vez diferente. Se, na 
alienação, o sujeito deve optar por um dos vetores do conjunto e acaba 
escolhendo a inscrição no simbólico, cedendo para isso parte do seu ser, a 
intersecçãoque se opera na separação é de superposição, mas em relação ao 
que falta nos dois conjuntos. Isso se dá porque na separação a falta a ser, 
resultante da alienação, vem a se somar, por assim dizer, à falta no campo do 
Outro, entrevista, como vimos, nos espaços de falta de sentido, aos pontos de 
opacidade do discurso do Outro. 
 
 
6 
Uma falta é, pelo sujeito, encontrada no Outro, na intimação mesma 
que lhe faz o Outro por seu discurso. Nos intervalos do discurso do 
Outro, surge na experiência da criança, o seguinte, que é 
radicalmente destacável - ele me diz isso, mas o que é que ele quer? 
Nesse intervalo cortando os significantes, que faz parte da estrutura 
mesma do significante, está a morada do que, em outros registros de 
meu desenvolvimento, chamei de metonímia. É de lá que se inclina, é 
lá que se desliza, é lá que foge como o furão, o que chamamos 
desejo. O desejo do Outro é apreendido pelo sujeito naquilo que não 
cola, nas faltas do discurso do Outro, e todos os porquês? da criança 
testemunham menos de uma avidez da razão das coisas do que 
constituem uma colocação em prova do adulto, um por que será que 
você me diz isso? sempre re-suscitado de seu fundo, que é o enigma 
do desejo do adulto. (Lacan, 1964/1985, p. 203) 
A operação de separação, portanto, institui no sujeito dividido o desejo 
enquanto desejo do Outro, na medida em que o enigma do desejo do Outro 
vem a causar o desejo do sujeito. Para que este, o sujeito, se descubra 
enquanto desejante, ele há que se confrontar com uma falta no campo do 
Outro. Ou seja, o sujeito descobre uma falta no campo do Outro a partir da qual 
pode também se desvencilhar das identificações primordiais, representadas 
pela cópulas dos significantes, S1 e S2, e, desse modo, ascender seu desejo a 
uma nova potência, enlaçando-o nesse vácuo que se localiza ali mesmo, entre 
os significantes, nos espaços em que o sentido, no campo do outro, falha e se 
abre para novas possibilidades que não a alienação primordial. 
Com a queda dessa identificação primordial, institui-se uma hiância 
na relação do sujeito com o campo do Outro a partir da qual o sujeito 
desenvolve um contato dialético com o universo simbólico. É a partir 
da instauração dessa queda que Lacan pensará por que o sujeito é 
não todo alienado ao campo de suas identificações simbólicas e 
separado de uma nociva relação dual com o Outro materno, 
desenvolvendo-se enquanto sujeito desejante a partir da inscrição 
desse ponto de falta. (Zanola; Lustoza, 2019) 
Importante então notarmos que, se na alienação o Outro nos é oferecido 
com a ilusão de que é completo, de que poderemos com ele dar sustentação 
ao nosso ser, na segunda operação, a da separação, ele se nos apresenta 
como faltante. Essa falta no campo do Outro, portanto, se conjuga à falta a ser 
do sujeito quando da sua entrada no campo do simbólico, com seus 
significantes parciais, e o que daí se depreende, no ensino de Lacan, é o objeto 
causa do desejo, o objeto α. 
 
 
 
 
 
7 
TEMA 3 – O OBJETO α 
O único conceits que Lacan assumiu como sendo próprio dele foi o de 
objeto α, pequeno α. No entanto, este tem seus antecedentes na elaboração 
freudiana, desde o conceito de das Ding, A Coisa, passando pela falta de 
objeto inerente à pulsão, dissecada por Freud no texto d’As pulsões e suas 
vicissitudes, de 1915. 
Quando Freud desenvolve o conceito de pulsão, um dos quatro 
elementos que a compõem, o objeto, é definido por ele como sendo 
indiferente, o que é uma maneira de dizer que todo e qualquer objeto 
pode ocupar o lugar de objeto da pulsão. No seminário sobre Os 
quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan destaca essa 
passagem do texto freudiano sobre “as pulsões e suas vicissitudes”: 
“Para o que é do objeto da pulsão, que bem se saiba que ele não 
tem, falando propriamente, nenhuma importância. Ele é totalmente 
indiferente.” Lacan deu um nome a essa falta — objeto α — e 
afirmou, ainda, que esse objeto α tinha sido a sua única invenção 
teórica. Para Lacan, o objeto α é “apenas a presença de um cavo, de 
um vazio, ocupável, nos diz Freud, por não importa que objeto, e cuja 
instância só conhecemos na forma de objeto perdido, α minúsculo” 
(Jorge, 2008, p. 139). 
Trata-se, portanto, de um objeto que não existe e que o sujeito se 
empenha em buscar, que move a estrutura psíquica causando-lhe o desejo: na 
medida em que faz a manutenção da falta, ele causa o desejo. Freud, desde o 
texto Projeto para uma psicologia científica, de 1895, tratava do primeiro objeto 
de satisfação que o bebê acessara por meio dos cuidados recebidos pelo outro 
que dele se empenha em cuidar. Essas primeiras experiências de satisfações 
deixariam traços mnêmicos do psiquismo infantil e seriam essas primeiras 
experiências de satisfações que esse sujeito buscaria reencontrar nas 
sucessivas experiências de sua vida. 
Lacan destaca que é em torno desse objeto, que ocupa para o sujeito 
o lugar do primeiro exterior, de uma impressão à qual nada no campo 
das percepções pode corresponder, que se orienta todo seu 
encaminhamento desejante. É esse objeto, das Ding, que representa 
o Outro absoluto para o sujeito, que se trata no fundo de reencontrar. 
Mas esse objeto é, por sua natureza, perdido como tal e jamais será 
reencontrado. Como aponta Moustapha Safouan, o modelo erógeno 
de Freud, o do beijo que o bebê queria receber de seus próprios 
lábios, mostra que “não é a separação em relação ao objeto que 
engendra a procura”, mas que “se trata de uma divisão que está na 
raiz do investimento e da constituição do objeto e que faz com que 
encontrar esse objeto seja sempre reencontrá-lo... sem encontrá-lo”. 
Ao contrário, este objeto é um “objeto fundamentalmente perdido, 
cuja perda é sinônimo de sua própria objetividade.” (Jorge, 2008, p. 
141) 
 
 
8 
Assim, o sujeito se empenharia na busca de satisfações por meio de 
objetos eleitos conforme sua história pessoal, imaginária e simbolicamente 
determinados, mas visando sempre a uma satisfação mítica, primordial e 
completa. Porém, os objetos que encontra não o satisfazem dessa forma, mas 
apenas parcialmente. Esse objeto vai adquirindo diferentes conotações na 
elaboração lacaniana, de modo a assumir a função de enodamento da 
estrutura psíquica, na medida em que participa dos três registros desenvolvidos 
por Lacan: o real, o simbólico e o imaginário. 
Assim, o objeto α tem várias aparências imaginárias — grafadas por 
Lacan como i(α), ou seja, imagens de α —, que podem ser 
construídas para cada sujeito por intermédio do simbólico, dos 
significantes do Outro referentes às inserções históricas singulares de 
cada um. Mas a dimensão que mais importa e que o configura 
propriamente enquanto objeto α é o seu estatuto real, que lhe confere 
sua ex-sistência — ex-sistência que designa o que está fora do 
registro do simbólico. E o nome dessa dimensão real do objeto α, 
Lacan empenhou-se em mostrar que foi chamado por Freud de das 
Ding, a Coisa. (Jorge, 2008, p. 140) 
O ser humano busca assim a Coisa, aquilo que traria uma satisfação 
completa, mas o que encontra é o objeto α, ou seja, se depara com uma 
insatisfação real, com um resto de insatisfação que os objetos do mundo 
sensível não são capazes de recobrir. 
TEMA 4 – REAL, SIMBÓLICO E IMAGINÁRIO 
Lacan inicia seu percurso dissecando o Eu e o registro do imaginário 
avança com a linguística pelo registro do inconsciente estruturado como 
linguagem, o simbólico, e vai se aproximado gradativamente e cada vez mais 
do real. E o que é o real? Ora, o real não é a realidade que, em psicanálise, 
nos remete ao modo que um ser humano encara as coisas já todo permeado 
pela sua própria fantasia, ou seja, enviesado. Em termos freudianos, a 
realidade humana é a realidade psíquica ou o real mediado pelo imaginário e 
pelo simbólico. 
O real como tal nos remete àquilo que não faz sentido, da ordem do 
impossível, aquilo que não se conforma com as expectativasdo sujeito, que 
não atende suas vontades e ambições, que não se enquandra e que é, em 
suma, traumático, mais ou menos como aquilo que fizesse um buraco nas 
malhas de uma cadeia simbólica e imaginariamente constituída para dar forma 
ao mundo. Já o simbólico, por tudo que vimos em relação ao próprio 
 
 
9 
significante, é o registro psíquico da ordem do duplo sentido, enquanto o 
imaginário, na medida em que desde o princípio vem dar consistência 
imagética a um corpo despedaçado, é o registro do sentido (Jorge, 2008). 
O objeto α participa dos três registros, porém no imaginário é como i(α), 
ou seja, imagem de α, um objeto que não cessa de se escrever, em outras 
palavras, é tomado pelo indivíduo como necessário e definitivo, um objeto 
idealizado. No caso do simbólico, esse objeto é contingencial, isto é, cessa de 
não se escrever, de modo que pode ser alterado, haja vista que o registro 
simbólico é o do duplo sentido. Ora o objeto é, ora não é (Jorge, 2008). 
Já o objeto α no registro do real não cessa de não se escrever, ou seja, 
ele não existe e não se inscreve na estrutura psíquica, ele é da ordem do 
impossível. Assim, temos três faces objetais para cada registro psíquico. 
Figura 2 – As três faces objetais 
 
Real 
 
 
o objeto não cessa de não se escrever 
 
não sentido 
 
Simbólico 
 
 
o objeto cessa de não se escrever 
 
duplo sentido 
 
Imaginário 
 
o objeto não cessa de se escrever 
 
 
sentido 
Fonte: elaborado com base em Jorge, 2008, p. 146. 
O esquema acima reproduzido nos auxilia a compreender por quais vias 
se estabelecem as relações de objeto em cada um dos registros, porém cabe-
nos ressaltar que o objeto α, na sua essência teórica radical, é da ordem do 
real, ou seja, ele não existe e é, assim, causa do desejo enquanto tal. 
Lacan vai desenvolvendo sua teoria sobre os três registros ou instâncias 
psíquicas e culmina com o nó borromeano, demonstrando que a estrutura 
psíquica humana podia se valer dessa estrutura para ser representada. 
Muitos anos depois, no seminário RSI, Lacan irá mostrar que os três 
registros real-simbólico-imaginário não podem ser isolados, uma vez 
que se apresentam unidos de modo indissolúvel na topologia do nó 
borromeano ou cadeia borromeana, tipo de nodulação em que os 
elos, pelo menos três, estão amarrados uns aos outros de forma tal 
que, se cortarmos apenas um deles, todos os outros se desligam 
simultaneamente. Lacan afirmou que o nó borromeano lhe caiu “como 
 
 
10 
um anel no dedo” na medida em que através dele pôde demonstrar 
algo que seria impossível expressar com palavras: a propriedade (ou 
a qualidade) borromeana demonstra o fato de que tudo começa no 
três, de que é preciso pelo menos três para que a estrutura se dê [...] 
O nó borromeano produziu em Lacan um fascínio em tudo 
semelhante àquele produzido em Freud pela imagem da cabeça de 
Janus. (Jorge, 2008, p. 94-95) 
O que daí resultou é a figura seguinte e que já nos indica que os três 
registros ou instâncias se amarram justamente em torno de um ponto 
específico e inapreensível, e esse ponto é justamente o objeto α. 
 
Figura 3 – Nó borromeano 
 
TEMA 5 – O SUJEITO DA ENUNCIAÇÃO 
Se o sujeito do inconsciente, como vimos, é não todo inscrito pelo 
simbólico; se, como diz Lacan, com o sujeito “não se fala” já que “isso fala dele” 
(Lacan, 1998, p. 849); se o sujeito é, em suma, um efeito de real (Cabas, 2009, 
p. 73); se ele se aloja entre os significantes, como apreendê-lo, por exemplo, 
na clínica psicanalítica? De que modo ele comparece? Como abordá-lo? 
 
 
11 
Ora, ainda que seja um dos efeitos de real, o sujeito se faz sentir por 
meio do simbólico, isto é, das palavras, dos significantes e, como vimos, 
também por intermédio deles é que se escuta e se intervém. 
Não obstante, o sujeito do inconsciente, relegado ao espaço entre os 
significantes, comparece muito mais nos efeitos de enunciação do que de 
enunciado. É muito mais nos efeitos de corte dos significantes, por exemplo, na 
pontuação quando da linguagem escrita e na enunciação quando da oralidade 
que ele poderá comparecer, subvertendo, muitas vezes, o enunciado. 
A pontuação, sendo na escrita o elemento que estabiliza o sentido, 
presentifica-se na fala por meio da enunciação, na dependência da 
qual é facultado a um mesmo enunciado apresentar os sentidos mais 
díspares, desde que pronunciado de maneiras diferentes. Assim 
como a pontuação o faz na escrita, a enunciação, na fala, altera os 
enunciados e, desse modo, revela o sujeito da enunciação, levando à 
constatação de que a enunciação jamais possa ser reduzida a 
qualquer enunciado. (Jorge, 2008, p. 82) 
Sobre a ironia Jorge (2008) afirma, por exemplo, que é possível dizer 
exatamente o contrário do que se fala, isso em função da expressão do rosto e 
da entonação (enunciação). 
Assim, o sujeito do inconsciente, não obstante sua clausura entre os 
significantes, expressa sua espirituosidade a despeito da palavra, subjugando-
a e subvertendo-a desde ali onde ele reside. 
NA PRÁTICA 
O objeto α participa dos três registros, porém no imaginário é como i(α), 
ou seja, imagem de α, um objeto que não cessa de se escrever, em outras 
palavras, é tomado pelo indivíduo como necessário e definitivo, um objeto 
idealizado. No caso do simbólico, esse objeto é contingencial, isto é, cessa de 
não se escrever, de modo que pode ser alterado, haja vista que o registro 
simbólico é o do duplo sentido. Ora o objeto é, ora não é (Jorge, 2008). 
Já o objeto α no registro do real não cessa de não se escrever, ou seja, 
ele não existe e não se inscreve na estrutura psíquica, ele é da ordem do 
impossível. Esse é o estatuto do objeto α enquanto tal, propriamente dito, o do 
real, impossível. 
Mas em termos práticos, a título de exemplo, como apreender isso? 
Pensemos no objeto de amor, que pode assumir as três configurações 
que vimos, a depender do registro psíquico pelo qual é, predominantemente, 
 
 
12 
tomado. Se o for pelo registro do imaginário, i(α), o objeto será tomado como 
necessário, perfeito e total, isto é, pelas vias imaginárias do sentido do tipo que 
não cessa de se escrever. 
Se for tomado no registro do simbólico, será tido como contingente, isto 
é, pode ser essa pessoa ou não, ou pode ser que seja por enquanto, sendo 
que no futuro poderá não ser mais. Trata-se do duplo sentido em que o objeto 
cessa de não se escrever. 
Já se o objeto estiver na sua radical alteridade real, o que temos é um 
objeto que não existe, isto é, que não cessa de não se escrever, impossível, 
portanto. Uma pessoa que tomaria o objeto por essa via radical não esperaria 
encontrar no mundo o par ideal, nem que fosse por um tempo, digamos, ao 
acaso, pois estaria tomamando o objeto pelo seu estatuto de real, isto é, como 
impossível. 
FINALIZANDO 
Iniciamos pela compreensão de que o sujeito, em psicanálise, não é 
causa de nada, mas é causado e que sua causa reside na relação da 
humanidade com a linguagem, isto é, com o campo do simbólico, do Outro, 
como o chamou Lacan. 
A primeira operação que efetua a causa do sujeito, sua causação, é a 
alienação que, como vimos, é alienação ao significante como operador do 
Outro. Vimos que a “a alienação reside na divisão do sujeito que acabamos de 
designar em sua causa” (Lacan, 1998, p. 855), ou seja, que a causa do sujeito 
é sua adesão ao significante que o funda na medida em que o cinde, o divide, 
na medida em que não pode representá-lo senão para outro significante, isto é, 
que só pode representá-lo indiretamente. 
Lacan toma de empréstimo noções da lógica e da teoria dos conjuntos 
para formalizar a operação de alienação como o efeito da reunião entre dois 
conjuntos: o campo do ser e o do sentido. Ele utiliza a frase A bolsa ou a vida 
para exemplificar o tipo de operação que se constitui na alienação: “A bolsa ou 
a vida! Se escolho a bolsa, perco as duas. Se escolho avida, tenho a vida sem 
a bolsa, isto é, uma vida decepada. Vejo que me fiz suficientemente 
compreender” (Lacan, 1985, p. 201). Em outras palavras, não se pode escolher 
a bolsa porque se perde a vida e, consequentemente, a bolsa. Só resta optar 
pela vida e perder a bolsa. 
 
 
13 
De modo análogo, o sujeito não pode escolher o ser sem perder o ser e 
o sentido, porque nada garante até então seu ser senão o sentido que se lhe 
afigura como tal. Ao escolher o campo do sentido para lhe fundamentar algum 
sentimento de ser, o sujeito perde no campo do ser, na medida em que no 
campo do sentido o significante só o representa, o sustenta enquanto ser para 
outro significante, ou seja, indireta e parcialmente. Perde-se assim um pouco 
do ser para se aderir ao mundo da linguagem. 
Essa porção barrada do sujeito, resistente à significação, vai se 
confrontar novamente em uma interseccção mas desta vez diferente. Se na 
alienação o sujeito deve optar por um dos vetores do conjunto e acaba 
escolhendo a inscrição no simbólico, cedendo para isso parte do seu ser, a 
intersecção que se opera na separação é de superposição, mas em relação ao 
que falta nos dois conjuntos. Isso se dá porque na separação a falta a ser, 
resultante da alienação, vem a se somar, por assim dizer, à falta no campo do 
Outro, entrevista, como vimos, nos espaços de falta de sentido, aos pontos de 
opacidade do discurso do Outro. 
Na medida em que no campo do Outro se pode sempre inserir um novo 
significante, isso se dá na medida em que o Outro carece de um significante 
que represente em si própria a coisa representada, ou seja, ele é faltante. Essa 
falta do Outro, assimilada pela porção recalcada do sujeito, isto é, aquela 
resistente à significação, é o que institui, no sujeito, seu desejo como desejo do 
Outro. Vale lembrar, com Lacan, que 
o desejo do Outro é apreendido pelo sujeito naquilo que não cola, nas 
faltas do discurso do Outro, e todos os porquês? da criança 
testemunham menos de uma avidez da razão das coisas do que 
constituem uma colocação em prova do adulto, um por que será que 
você me diz isso? sempre re-suscitado de seu fundo, que é o enigma 
do desejo do adulto. (Lacan, 1964/1985, p. 203) 
Chegamos assim ao tema do desejo e, nele, sobre o seu objeto, o objeto 
do desejo ou objeto α. Vimos que Lacan reconheceu como seu conceito próprio 
mas que descende da elucubração de Freud sobre as primeiras experiências 
de satisfação que o sujeito experimenta bem como sobre a falta inerente do 
objeto fixo como objeto da pulsão. 
Trata-se de um objeto que não existe e que o sujeito se empenha em 
buscar, que move a estrutura psíquica causando-lhe o desejo, na medida em 
que faz a manutenção da falta. O sujeito se empenharia na busca de 
satisfações por meio de objetos eleitos conforme sua história pessoal, 
 
 
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imaginária e simbolicamente determinados, mas visando sempre a uma 
satisfação mítica, primordial e completa, isto é, a Coisa. Porém, os objetos que 
encontra não o satisfazem dessa forma, mas apenas parcialmente. Esse objeto 
vai adquirindo diferentes conotações na elaboração lacaniana, de modo a 
assumir a função de enodamento da estrutura psíquica, na medida em que 
participa dos três registros desenvolvidos por Lacan: o real, o simbólico e o 
imaginário. 
Chegamos assim ao nó borromeano e seu enodamento em torno do 
objeto α e finalizamos destacando um pouco sobre a emergência do sujeito do 
inconsciente sob a forma de angústia, como um efeito do real. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
CABAS, A.G. O sujeito na psicanálise de Freud a Lacan: da questão do 
sujeito ao sujeito em questão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. 
JORGE, M.A.C. Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan. As bases 
conceituais. 5.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 
LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. 
LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da 
psicanálise. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. 
LUSTOZA, R.Z.; ZANOLA, P.C. Alienação e separação no Seminário 11 de 
Lacan: uma proposta de interpretação. Revista Tempo Psicanalítico. v.51, 
n.2, Rio de Janeiro, jul./dez. 2019, p. 121-139.

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