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Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
 
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de
acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de
seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as
Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
 
 
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
C766
2017
Conversando sobre luto com adultos e crianças : a ciranda do
viver/morrer / Aparecida Malandrin Andriatte e Gisele Gressler (Orgs.).
– 1. ed. – Curitiba: Appris, 2017.
107 p. ; 21 cm (Artêra).
Inclui bibliografias
ISBN 978-85-473-0635-9
1. Morte na literatura. 2.Luto. 3. Luto em crianças. 4. Adolescentes e
morte. 5. Literatura infantiI. Andriatte, Aparecida Malandrin, org. II.
Gressler, Gisele, org. III. Título. IV. Série.
 CDD 23. ed. – 869
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 
http://www.editoraappris.com.br/
 
http://www.editoraappris.com.br/
 
FICHA TÉCNICA
EDITORIAL
Augusto V. de A. Coelho
Marli Caetano 
Sara C. de Andrade Coelho 
COMITÊ EDITORIAL
Andréa Barbosa Gouveia - Ad hoc. 
Edmeire C. Pereira – Ad hoc. 
Iraneide da Silva – Ad hoc.
Jacques de Lima Ferreira – Ad hoc.
Marilda Aparecida Behrens - Ad hoc.
EDITORAÇÃO Lucas Andrade | Thamires Santos 
ASSESSORIA EDITORIAL Bruna Fernanda Martins
DIAGRAMAÇÃO Thamires Santos
 CAPA Thamires Santos
ILUSTRAÇÕES Denise Sampaio de Alencar
REVISÃO Andrea Bassoto Gatto
GERÊNCIA COMERCIAL Eliane de Andrade 
GERÊNCIA DE MARKETING Sandra Silveira
GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle 
GERÊNCIA ADMINISTRATIVA Diogo Barros
COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira | Igor do Nascimento Souza
LIVRARIAS E EVENTOS Milene Salles | Estevão Misael
CONVERSÃO PARA E-PUB Carlos Eduardo H. Pereira 
 
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E
TRANSDISCIPLINARIDADE 
DIREÇÃO
CIENTIFICA
Dra. Marilda A. Behrens – PUCPR 
Dra. Patrícia L. Torres – PUCPR 
CONSULTORES Dra. Ademilde Silveira Sartori –
UDESC 
Dra. Iara Cordeiro de Melo
Franco – PUC Minas
Dr. Ángel H. Facundo – Univ.
Externado de Colômbia 
Dr. João Augusto Mattar Neto
– PUC-SP
Dra. Ariana Maria de Almeida
Matos Cosme – Universidade do
Porto/Portugal 
Dr. José Manuel Moran Costas
– Universidade Anhembi
Morumbi
Dr. Artieres Estevão Romeiro-
Universidade 
Técnica Particular de Loja/ Equador
Dra. Lúcia Amante – Univ.
Aberta/Portugal
Dr. Bento Duarte da Silva –
Universidade 
do Minho/Portugal
Dra. Lucia Maria Martins
Giraffa – PUCRS
Dr. Claudio Rama – Univ. de la
Empresa/Uruguai
Dr. Marco Antonio da Silva –
UERJ
Dra. Cristiane de Oliveira Busato
Smith – 
Arizona State University /EUA
Dra. Maria Altina da Silva
Ramos – Universidade do
Minho/Portugal
Dra. Dulce Márcia Cruz – UFSC Dra. Maria Joana Mader
Joaquim – HC-UFPR
Dr. Edméa Santos – UERJ Dr. Reginaldo Rodrigues da
Costa - PUCPR
Dra. Eliane Schlemmer – Unisinos Dra. Romilda Teodora Ens –
PUCPR
Dra. Ercilia Maria Angeli Teixeira de
Paula – UEM
Dr. Rui Trindade – Univ. do
Porto/Portugal
Dra. Evelise Maria Labatut Portilho
– PUCPR
Dra. Sonia Ana Charchut
Leszczynski – UTFPR
Dra. Evelyn de Almeida Orlando –
PUCPR
Dra. Vani Moreira Kenski –
USP
Dr. Francisco Antonio Pereira
Fialho – UFSC 
Nosso carinho para Nelson Albissú,*
Que usou sua existência para costurar 
com palavras os elos da ciranda do viver
Escreveu sobre fatos e sonhos – tradições e inovações – velhos e crianças – vida e morte...
Tornou-se vivente dentro de nós e em cada uma de suas obras, enquanto forem lidas ou
representadas... fazendo girar a Roda do Viver/Morrer.
(*Escritor e dramaturgo que se dedicou ao idoso e à criança.
 agosto de 1948 dezembro de 2016)
 
 
PREFÁCIO
A música, a poesia brasileira têm se mostrado ricas e
representativas da criatividade, dos sentimentos, da cultura de
nosso povo.
“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul de papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu”.
Nos versos tão conhecidos de Toquinho e Vinicius tomamos
contato com o caminhar que, por vezes, é possível entre a realidade
subjetiva, objetiva e compartilhada. Entre nossa imaginação e nosso
viver cotidiano.
A poesia, as palavras, colocam-nos em contato com vários
aspectos vitais da natureza humana. Um deles, tão marcante,
sabemos: é a necessidade de ilusão, imaginação, sonhos e
projetos, que marcam nosso viver com perspectivas de futuro. Essa
é uma marca decisória quando focalizamos o valor à vida e a razão
de viver.
“Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente o futuro está”.
Da ilusão à desilusão, do imaginário ao simbólico, do princípio do
prazer ao princípio da realidade, há um longo percurso a ser
percorrido no caminho rumo à maturidade.
“Oh, Deus, permita que eu esteja vivo no momento de minha
morte...”. Assim D. W. Winnicott, pediatra, psicanalista e pensador,
escreveu quando tentava integrar questões de problemas de saúde,
problemas cardíacos que o acompanharam nos últimos anos de sua
vida. Frase do que seria sua autobiografia, mas à qual ele não deu
continuidade... Ele escreveu sobre o que conjecturava acontecer
quando estivesse morrendo: “Estou morto. O que aconteceu quando
morri? Meu pedido tinha sido ouvido. Estava vivo no momento de
morrer. Isso era tudo que eu havia pedido, e o que eu obtive”.
Vida e morte: encontramos o paradoxo. Se estamos mais perto
da morte, estamos mais perto da vida. É o que constatamos
conforme vamos amadurecendo. Perdas ocorrem desde o início de
nossas vidas, das mais corriqueiras até as mais marcantes e, por
vezes, traumatizantes. Nesse caminho, a capacidade de transitar
entre as realidades subjetiva e objetiva faz a diferença. Encontrar
acontecimentos, sentimentos e pensamentos decorrentes. A
capacidade para imaginar nos dá melhores condições de suportar a
realidade em seus vários e diferentes aspectos.
Nessa direção encontramos as palavras. Desde o inicio as
palavras nos dão um entorno que pode ter o lugar de um colo, um
gesto que nos sustenta e nos brinda com o sentimento de
continuidade do existir. Essa foi e é uma contribuição trazida pela
Psicologia, pela Psicanálise.
A capacidade para a tristeza é uma conquista possível já no
primeiro ano de vida. Encontramos outro paradoxo. O que poderia
ser compreendido por pais como alvo de preocupação, nós,
especialistas dessa área do conhecimento, afirmamos que é uma
aquisição do desenvolvimento da criança, alvo de celebração. Tem o
significado de a criança iniciar sua noção da responsabilidade pelo
que lhe acontece e até pelo que ocorre com os outros, e pouco a
pouco o caminho da constituição dos limites de sua
responsabilidade.
“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num circulo eu faço o mundo
Que descolorirá”.
No início de nossas vidas temos a onipotência criativa. A magia
da imaginação. Os contos de fadas, as histórias infantis, os mitos...
Temos a crença que criamos o mundo e com essa crença de
inclusão imaginária sentimos que a vida vale a pena ser vivida, e
temos esperança de encontrar o que buscamos. Na magia do
Carnaval, príncipes e princesas e tantos personagens desfilam na
avenida com possibilidade de fazer parte dos mais diferentes
enredos, e com essa experiência a possibilidade de fortalecer e
nutrir a experiência e o gosto de viver.e está escrita de trás para frente: ESPELHO.
2Fundado em 1914, o time de futebol do Palmeiras, nos primórdios, chamava-se:Palestra Itália.
3Exéquias. Cerimônias ou honras fúnebres. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1993.
4Melancolia.1. Estado mórbido de tristeza e depressão. 2. Tristeza, pesar. Minidicionário Aurélio da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
5Também conhecida como“boneca russa”, a matrioska é caracterizada por reunir uma série de bonecas de tamanhos
variados. que são colocadas uma dentro das outras. De acordo com a cultura russa, as matrioskas simbolizam a ideia
de maternidade,fertilidade,amor e amizade. Disponível em: . Acesso
em: 5 nov. 2016.
https://www.significados.com.br/matrioska%3e
	Capa
	Sumário
	Introdução
	Capítulo 1 – A Morte e o Luto para Crianças – Virar uma Estrela
	Capítulo 2 – A Morte e o Luto para Adolescentes – A Roda do Viver
	Capítulo 3 – A Morte para o Adulto – Encontrando Sinais
	Capítulo 4 –A Maior Dor do Mundo
	Capítulo 5 – A Morte e o Luto para o Idoso – A Última Volta
	Capítulo 6 – Outros Lutos
	Capítulo 7 – Um Tempo para Despedida
	Conclusão“É melhor ser alegre, que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não”.
Mais uma vez os versos do poeta Vinicius de Moraes
vislumbrando o valor da tristeza, conquista da integração que nos
proporciona condição de maior criatividade no viver.
É também nos primeiros anos de vida que podemos encontrar a
capacidade para ficarmos sós. Outro paradoxo. Na presença de
alguém, constituímos a condição de nos sentirmos acompanhados
nas ausências e na solidão.
“O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não”.
Trazer a morte para a nossa realidade do dia a dia nos aproxima
de nossa vulnerabilidade, da fragilidade da condição humana, mas
também nos aproxima de nossa força e vitalidade, da vontade que
temos em viver.
“A vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro pela vida”.
Olhando por esse prisma, este livro é um rico presente. Pontes
entre a vida e a morte, em diferentes idades e contextos. A tristeza
que tem a esperança de encontrar a alegria. Os tons preto e branco
que tem a esperança de encontrar o colorido. Diz o ditado popular
que uma dor compartilhada dói menos. Acredito que essa é uma
verdade, tantas vezes cantada em verso e prosa. Concordando com
o poeta Vinicius de Moraes, a vida é a arte do encontro, apesar de
tantos desencontros e perdas inevitáveis.
Para finalizar, quero pedir emprestadas as palavras de Zé da
Luz, em sua poesia ‘80 anos”:
“80 anos de idade, saudade da meninice
Tão longe da mocidade tão pertinho da velhice
Feliz daquele que aguenta sem descansar na subida
Ir do 1º aos 80 degrau da escada da vida
Quase um século de existência
Seguindo a estrada do bem
Não me acusa a consciência ter feito mal a ninguém
Desconhecendo a riqueza inimigo da vaidade
Vivo na minha pobreza rico de felicidade
Mesmo já na curva do caminho me considero feliz
No conforto do carinho dos amigos que eu fiz
Só uma coisa só uma coisa somente me confrange o coração
É a saudade impertinente das bandas do meu sertão
Se hoje já na velhice
Sinto a esperança já morta
Me lembro da meninice e a lembrança me conforta
Coração não envelhece afirma um velho rifão
Ama, sofre, adoece
Mas é sempre coração
Pois enquanto o tempo passa meu coração não se cansa
De fazer com que eu faça traquinagem de criança
Não me lastimo da sorte a velhice não me espanta
Carro de boi lá no norte quanto mais velho mais canta
E assim sempre cantando
Vou a velhice iludindo
SE VIM PRA VIDA CHORANDO
SIGO PRA MORTE SORRINDO”.
Profª Drª Ivonise Fernandes da Motta
Profª do curso de graduação e pós graduação 
do Departamento de Psicologia Clínica IPUSP.
Psicóloga clínica, psicoterapeuta de 
crianças, adolescentes e adultos.
São Paulo, 22 de fevereiro de 2017.
 
 
APRESENTAÇÃO
Somos um grupo de profissionais que se envolve
fundamentalmente com o perceber, sentir,compreender,
falar,expressar,captar, ensinar...Em função da dinâmica desse
trabalho que procura cuidar do viver precisamos estar sempre nos
desenvolvendo, estudando: dentro e fora de nós, como são os seres
humanos... Em um desses estudos fomos nos envolvendo e
percebendo a grande necessidade de pais, professores, crianças,
avós... enfim, de todos os viventes para enfrentar a etapa final da
vida humana: o morrer.
Estávamos estudando sobre o “Luto e Melancolia” (1917[1915]),
texto do grande estudioso Sigmund Freud, quando tomadas pela
percepção da importância desse tema para a atualidade, que tanta
dificuldade tem em lidar com a tristeza, pensamos em conversar
com pessoas que necessitam e querem refletir um pouco mais
sobre o misterioso final de nossas vidas.
Dessa maneira, muitas ideias foram surgindo. De modo geral,
brotavam de experiências clínicas, acadêmicas e teóricas, mas
todas com um profundo toque pessoal.
A morte em nossas vivências... que queremos compartilhar com
vocês!
 
 
 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 – A MORTE E O LUTO PARA
CRIANÇAS – VIRAR UMA ESTRELA
GISELE GRESSLER
1.1 A MÚSICA QUE TOCA O CORAÇÃO 
GISELE GRESSLER
1.2 COMO NASCE UM FANTASMA 
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
1.3 O CHEIRINHO DO VOVÔ 
MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A MIRANDA
1.4 ONDE ESTÁ SEU PAI 
LEDA GOMES
1.5 UMA VOVÓ MISTERIOSA 
MARYROSE FERNANDES BOLGAR
CAPÍTULO 2 – A MORTE E O LUTO PARA
ADOLESCENTES – A RODA DO VIVER
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
2.1 A RODA DO TEMPO DE HELENA 
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
CAPÍTULO 3 – A MORTE PARA O ADULTO –
ENCONTRANDO SINAIS 
GISELE GRESSLER
3.1 UM ABRAÇO PARA SEMPRE 
GISELE GRESSLER
CAPÍTULO 4 – A MAIOR DOR DO MUNDO
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
4.1 QUANDO O CÉU ENCONTRA O MAR 
GISELE GRESSLER
CAPÍTULO 5 – A MORTE E O LUTO PARA O
IDOSO – A ÚLTIMA VOLTA
ALAIDE DOS S. OLIVEIRA PENAQUIO E MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A. MIRANDA
5.1 A VIDA PELAS VIOLETAS 
ALAIDE DOS S. OLIVEIRA PENAQUIO
5.2 UM QUINTAL PARA RECORDAR! 
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
5.3 TRICOTANDO A VIDA 
MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A. MIRANDA
CAPÍTULO 6 – OUTROS LUTOS
6.1 O LUTO PELA PÁTRIA 
MARYROSE FERNANDES BOLGAR
6.1.1 UM NOVO PAÍS PARA CARLA E RICARDO 
MARYROSE FERNANDES BOLGAR
6.2 O LUTO PELO BICHO DE ESTIMAÇÃO 
LEDA GOMES
6.2.1 A MENININHA E A CACHORRINHA 
LEDA GOMES
6.2.2 O OLHAR DE DIANA EM TODAS AS PASTORAS
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
CAPÍTULO 7 – UM TEMPO PARA
DESPEDIDA
APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE
7.1 TÃO MITO E TÃO VERDADE 
GISELE GRESSLER
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AUTORAS
INTRODUÇÃO
Ao longo de vários anos de trabalho em Psicologia Clínica e
Psicanálise nos deparamos com inúmeros casos de luto.
Conjunturas de perdas por morte de: pais, filhos, irmãos, amigos e
até animais de estimação. Há outras por afastamentos, abandonos
ou demissões, como é o caso de quem vai morar em outro estado
ou país, perde o emprego ou condição financeira.
Se por um lado sabemos que as perdas fazem parte da condição
humana, por outro vemos como é difícil enfrentar esses momentos.
As pessoas, em sua individualidade, têm seu modo peculiar de
enfrentar as experiências do viver, e assim presenciamos inúmeras
ocasiões nas quais o luto não pode ser elaborado de forma
adequada.
Os equívocos mais frequentes envolvem: a negação do fato, a
omissão e distorção dos afetos e o endeusamento da pessoa morta,
tornando-se esta uma espécie de santa, ou um ser perseguidor...
verdadeiro fantasma.
A negação se dá quando não se pode falar de quem morreu, do
que a pessoa gostava ou como era. Escondem-se todos os sinais
da existência do indivíduo que partiu. Faz-se de conta que a pessoa
nunca existiu.
Na omissão e na distorção dos afetos, não é permitido falar dos
sentimentos inerentes à situação de perda. Chorar? Só escondido.
E quando percebido, não é justificado pela motivação real, o luto.
E, por fim, o endeusamento da pessoa que faleceu, quando ela
morta assume características de perfeição absoluta. Seus pertences
são tratados como objetos sagrados, permanecendo intocados em
um altar, numa verdadeira adoração. Ou, na situação oposta,
quando quem morre vira um fantasma e há um temor constante de
se falar dele, suas memórias não podem ser evocadas, pois é
assustador retirá-lo do mundo do sobrenatural.
Em nossos tempos, com tantas maneiras de se evitar o contato
com a frustração – a troca do usado pelo novo, antes mesmo de se
tornar velho, a vertiginosa substituição da tristeza, com sua
profundidade por um tipo de divertimento exagerado – a aceitação
real e profunda da morte, com a inevitabilidade da finitude humana,
tem se tornado cada vez mais difícil.
O homem tem evoluído muito nos últimos tempos em termos
tecnológicos. Há 30 anos eram inimagináveis algumas invenções da
pós-modernidade: internet, impressora 3D, smartphones...
Na medicina, também temos avançado muito, com exames de
imagem de alta precisão e medicações que tornaram o câncer e a
AIDS não mais um decreto de morte iminente.
Mas, apesar de tamanha evolução, as pessoas MORREM!
Diantedessa constatação nos percebemos frágeis e impotentes
para controlar o relógio do tempo vital. É difícil falar e pensar sobre
o que nos espera sem aviso, previsão ou controle.
Preferimos falar de saúde, beleza, alimentação saudável,
esportes, dicas para se viver mais e melhor.
Deixa-se a vida seguir sem se pensar no fim.
E quando o inevitável acontece, o que temos percebido é uma
abreviação do ritual de despedida, velórios rápidos ou inexistentes e
um retorno acelerado à rotina. Os vestígios da morte são
rapidamente apagados, os ritos abreviados e as expressões
emocionais quase repudiadas...
Para muitos, falar da perda produz tristeza. Será?
Entendemos que a tristeza, nessas situações, é inerente ao fato.
Falar poderá dar sentido ao que sentimos, preencher um vazio,
explicar a dor e a saudade. Pior do que estar triste é estar triste
sozinho, sem entender o que está acontecendo. A tristeza é uma
rica expressão da experiência emocional humana e abafá-la é uma
violência e pode adoecer o ser...
Pensando em todas essas questões, propomos algumas estórias
que trazem a ideia de que na vida participamos de uma engrenagem
muito maior, que transcende a nossa existência e está sempre em
movimento, como uma grande ciranda em que entramos e saímos,
mas que nunca para de girar...
 
CAPÍTULO 1
A MORTE E O LUTO PARA
CRIANÇAS – 
VIRAR UMA ESTRELA
Gisele Gressler
Muitas vezes, quando morre alguém, principalmente para as
crianças menores, não é explicado o que aconteceu. Pode-se
pensar que a criança não vai entender ou que ficará muito triste com
a notícia. Será? Uma criança que costuma buscar o amparo do pai
ficará desolada por perdê-lo, mas também extremamente confusa se
não souber o motivo. A ausência de explicação só amplia o
sofrimento, com grandes doses de confusão.
Nesses casos, perdemos a oportunidade de explicar às crianças
que a morte faz parte da vida, que ela acontece a todo ser vivo e
que, apesar de triste, será vivida na companhia das pessoas que
ama.
A infância é o período da vida em que mais recebemos apoio da
família. Portanto, devemos aproveitar essa fase para preparar o
indivíduo para lidar com a finitude, que pode acontecer a qualquer
momento. Não é verdade que a morte espera que um indivíduo
cresça para se manifestar. Algum falecimento pode acontecer
enquanto se é criança, e isso é inevitável...
Às vezes é dito para a criança que a pessoa “virou uma
estrelinha”. Tal comentário atende parcialmente a necessidade de
materializar alguém que não é mais visível. As crianças que têm um
pensamento concreto sentem-se mais tranquilas com a explicação,
que tenta localizar geograficamente quem não está mais presente. O
conceito de morte é abstrato e só poderá ser efetivamente
compreendido na adolescência.
Pensamos que uma maneira mais completa de falar sobre a
morte na infância é localizar a pessoa que morreu não no céu
distante, mas dentro do coração da criança. Estabelecendo contato
com características, hábitos e atitudes, podemos tornar a pessoa
morta, viva para criança; presente, apesar de ausente. Mostrar fotos,
vídeos, contar histórias, hábitos e expressões nos aproximam de
quem não podemos mais tocar, mas podemos sentir vivos dentro de
nós.
Todas as memórias das perdas que uma pessoa enfrenta estarão
presentes dentro dela até o dia de sua morte, quando ela também
estará viva na memória dos que ficarem. A isso chamamos
SAUDADE.
 
1.1
A MÚSICA QUE TOCA O CORAÇÃO
Gisele Gressler
 
 
 
Era uma vez uma formiga chamada Juju.
Ela era uma formiga muito feliz e vivia numa família com seu pai,
sua mãe, e um irmão mais velho, o Nino.
Desde cedo aprendeu que o trabalho era muito importante, e
mesmo criança gostava de ajudar nos cuidados da casa.
Ainda que não fossem como a família das cigarras, que se
divertiam cantando por muito tempo, os pais de Juju muitas vezes
interrompiam o trabalho para ouvir o canto dos bem-te-vis que
moravam no mesmo quintal.
Eram pausas rápidas, mas muito prazeirosas. Juju via nos olhos
de seu pai um brilho diferente. Ele ficava emocionado com a música
dos vizinhos pássaros.
Um dia, quando Juju cortava um pedaço verdinho de alface da
horta ao lado do formigueiro, Nino chegou ofegante e falou:
— Juju, vamos depressa. Mamãe está chamando.
Os dois foram correndo, mas já era tarde demais...
Papai Juca havia sido atropelado pela roda do carrinho de mão
de seu Tomé, dono de todas as terras que cercavam o formigueiro.
Nino perguntou:
— Mas mamãe, como isso aconteceu? Papai sempre desviou
desse carrinho...
— Sim meu filho... É verdade. Só que com o tempo a gente perde
a agilidade, vai mais devagar... E ele não conseguiu escapar –
explicou a mãe em lágrimas aos filhos.
Nos dias que se seguiram, Juju não tinha vontade de se levantar
para trabalhar. A vida parecia ter perdido o sentido. Ela se
perguntava: “Por que trabalhar, construir, se vamos todos morrer?”.
Apesar de tanta tristeza e dúvida, aos poucos retomou sua rotina
e voltou a cuidar da casa e de seu trabalho. Era preciso reunir
alimentos, pois o inverno se aproximava.
Em uma manhã, no jardim, Juju ouviu um som que chamou sua
atenção.
Inicialmente, não se lembrou por que aquela música a havia feito
parar de cortar as folhas que preparava para o almoço.
De repente, veio na sua mente a cena de seu pai emocionado e
feliz ao ouvir o som do bem-te-vi. Percebeu que era aquela mesma
música que então ouvia, e naquele momento experimentou uma
sensação boa, que preencheu um vazio que sentia desde a hora em
que soubera da morte de seu pai.
Agora ela sentia que não estava sozinha. Sentia que seu pai
estava com ela, pela música, naquele momento de emoção.
Ouvir o bem-te-vi a fez voltar a sorrir.
 
1.2
COMO NASCE UM FANTASMA
Aparecida Malandrin Andriatte
Clarinha é filha única de um casal amoroso e trabalhador. Um
dia, algo começa a mudar e o pai de Clarinha vai ficando amuado e
sem vontade de brincar.
Os dias passam e o papai na cama a descansar. Clarinha vê a
mãe triste e o pai sem trabalhar... Até que certa noite, levam
Clarinha para casa da vovó... Lá ela fica sem saber da mamãe e do
papai. Para ela foi um longo tempo... Um ano ou mais. Mas, na
verdade, passaram-se poucos dias... Numa manhã, a mãe de
Clarinha surge abatida e diz para filha, no meio de um abraço, que o
papai morava no céu... Elas voltam para casa e Clarinha passa a
subir e descer as escadas... Agitada, não para de pular...
Pula os degraus querendo alcançar o céu! Mas ninguém entende
o que pode ser. Os adultos acreditam que as crianças não
conseguem entender e, portanto, de nada vale falar sobre o morrer.
Isso é um engano, pois criança sente saudade e esse mistério todo,
ela tenta compreender...
A tristeza na criança pode virar agitação! Em Clarinha virou o
sobe e desce na escada. Ela passou a ter pesadelos e sonhou com
o João e o pé de feijão; que ambos sobem ao céu para encontrar o
Ogro Gigante... Acorda desesperada...
A mamãe pergunta: “Que pesadelo foi esse?”. E Clarinha,
assustada, responde: “Vi um monstro... Um verdadeiro fantasma!”.
Os fantasmas são os sentimentos confusos e inexplicáveis que
Clarinha tem que enfrentar por não saber exatamente o que fazer
com a tristeza e a saudade do papai. Muito dessa angústia é a
consequência de se omitir a verdade, que a criança intui e pode
captar.
A morte vira fantasma se a gente não pode falar ou pensar... Não
se pode elaborar e, então, o medo de fantasma passa a dominar...
Como podemos ajudar Clarinha a enfrentar tal situação? Você
tem uma sugestão?
Desenhe ou escreva no retângulo abaixo como ajudar Clarinha.
 
1.3
O CHEIRINHO DO VOVÔ
Maria Emília Meneguelli A. Miranda
 
 
 
Moranguinho era uma garotinha sensível e bem curiosa. Tinha
uma ligação especial com seu avô Miguel. Quando o vovô, que
morava bem longe, ia passar alguns dias na casa dela, inventavam
de passear... E saíam caminhando pela cidade, fazendo amigos.
Quando o vovô Miguel ia embora para sua cidade, Moranguinho
chamava sua mãe para fazer os caminhos que ela fazia com seu
avô. Nessespasseios, cumprimentava pessoas que a sua mãe nem
tinha amizade: o pipoqueiro, o doceiro, o jornaleiro e a Sra. Maricota,
dona das verduras. A mãe de Moranguinho estranhava tantas
amizades, pois não tinha tanta intimidade com toda aquela gente, e
então perguntava: “Como você conhece tanta gente?”. E
Moranguinho logo dizia, num tom de segredo entre ela e o vovô:
“São nossos amigos, meus e de meu avô”, e concluía com uma
piscadinha marota, como quando estava com seu vovô.
Foi um jeito que Moranguinho arrumou de se sentir muito, muito
mais perto do vovô. Encurtava distâncias pela familiaridade que
estabelecia com os amigos em comum. Sentia muita falta quando o
vovô ia embora e seu esconderijo era debaixo da escada, brincando
de casinha... trazia seu vovô.
 
Os anos se passaram... e um dia o vovô morreu. Que saudade
doída causava a ausência do vô! Foi, então, que Moranguinho
arrumou um jeito de acalmar seu coração: ao chegar à casa da
vovó, corria em disparada para ficar pertinho da cama do casal.
Cheirava que cheirava o cantinho em que o vovô passara seus
últimos dias... E lá, num cantinho da cama, encontrava o cheirinho
do querido vovô Miguel. E, assim, sossegava seu coração.
A mãe de Moranguinho percebeu alguma relação e perguntou-
lhe: “O que está fazendo aí, filha?”.
Em meio à surpresa e emoção, de pronto ela respondeu: “Estou
pertinho do vovô!”. “Como assim?”, perguntou a mamãe, já tomada
de emoção.
Moranguinho, decidida, respondeu: “O vovô morreu, mas posso
ficar pertinho dele quando eu sentir o cheiro dele por aqui...”.
Acredito, sim, que a saudade é o amor que fica perfumando
nossas lembranças!
 
1.4
ONDE ESTÁ SEU PAI?
Leda Gomes
 
 
Essa história se passou há muito tempo e é verdadeira.
O pai de Laura teve câncer, e foi piorando, piorando, até que
morreu, quando tinha 63 anos. Ele morreu em casa, cercado pelos
seus, e descansou. Quando, por fim, fez silêncio, numa noite, por
volta de meia-noite, ele faleceu. E todos ficaram em paz.
Moravam num sobrado e ele ficava em seu quarto, na parte de
cima da casa. Ele foi ficando cada vez mais magro, sem cabelo; ele
estava realmente impressionante e tinha muita dor, e a mãe de
Márcia não deixava que as crianças subissem.
Passado mais ou menos um mês de sua morte, Laura foi à casa
de sua prima, Élida, que tinha três enteados e um filho, hoje adultos.
Mas naquela ocasião eram todos crianças. A mais nova das
enteadas, Leia, devia ter uns quatro anos.
Um pouco depois que Laura estava na casa da prima, ela teve
com Leia uma conversa muito interessante.
Leia chegou perto de Laura e disse: “A Aninha (uma gatinha)
morreu. você sabia?”.
Laura respondeu: “Sim, eu fiquei sabendo”.
Leia: “Quer ver onde ela está?”.
Laura: “Ah, quero sim!”.
Leia, então, pegou Laura pela mão e levou-a até o quintal.
Aquela casa tinha um quintal imenso, cheio de árvores. Em frente a
uma determinada árvore, Leia parou, e apontando para o chão,
disse: “A Aninha está aqui, nesta árvore”.
Laura: “Ela está aqui, tá bem”.
Leia: “Como ela está agora?”.
Laura: “Veja, ela está na terra. Daqui a pouco os pelos vão cair e
os bichinhos que tem na terra vão, aos pouquinhos, fazer com que a
Aninha suma e se misture com a terra”.
E, olhando fixo na direção de Laura, Leia disparou: “E o seu
pai?”.
E Laura, subitamente entendendo o motivo da visita ao “túmulo”
da Aninha, respondeu: “Meu pai está num lugar chamado cemitério.
Eles colocam o corpo numa caixa bem grande, chamada caixão,
enterram, e depois de algum tempo acontece como com a Aninha, o
corpo vai desaparecer”.
Leia olhou bem para Laura, parecendo satisfeita, e disse: “Tá
bom”. E se foi, correndo, brincar pelo quintal.
Não sei se Leia se lembra dessa conversa. O fato é que Laura
nunca mais a esqueceu. E ela significa para Laura o quanto os
adultos devem ser verdadeiros e simples em suas respostas para as
perguntas das crianças. Da mesma forma que são verdadeiras e
simples suas perguntas.
1.5
UMA VOVÓ MISTERIOSA
Maryrose Fernandes Bolgar
Para as vovós biológicas e de coração
 
 
 
Anabelle nasceu no ano seguinte do falecimento da sua avó
materna. Ela recebeu esse nome porque é a combinação do nome
de suas duas avós: uma chamava-se Ana e a outra, Isabel. A mãe
dela dizia que seu nascimento trouxe a alegria de volta e veio
mostrar para a família que a vida continuava.
O vovô de Anabelle resolveu, então, casar-se novamente, assim
teria uma nova companheira e a menina poderia ter uma vovó, como
suas irmãs haviam tido. Sendo assim, a vovó que ela conheceu foi a
segunda esposa de seu avô.
Anabelle gostava muito da vovó. Todas as vezes que ela ia visitá-
la, a vovó preparava macarrão feito em casa e torta de morango,
porque sabia que a menina gostava. Ela também levava a menina
para viajar para conhecer suas amigas e brincar com os netos delas.
Anabelle achava estranho que às vezes sua mãe ficava muito
triste. Ela tirava uma blusa verde do guarda-roupa, abraçava-a e
chorava por muito tempo. A menina ficava preocupada: “Será que
tinha feito alguma coisa que havia deixado sua mãe triste?”, porque
as crianças às vezes pensam que são responsáveis pela felicidade
dos pais. Também, sua mãe não parecia muito feliz quando ia visitar
a vovó.
Certo dia, quando Anabelle já estava com quase sete anos,
resolveu ver os álbuns de fotos da família. Percebeu, então, que em
várias fotos aparecia uma senhora de cabelo branco, com saia azul
marinho e camisa branca, ao lado da sua mãe e do avô. Correu
perguntar para sua mãe e irmãs quem era aquela senhora que
aparecia em quase todas as fotos, antes do seu nascimento. Para
sua surpresa, sua mãe respondeu que era a mãe dela, que tinha
morrido antes de Anabelle nascer.
A menina ficou muito chocada, chorou o dia inteiro, inconformada
porque sua família não havia contado a verdade para ela. Também
ficou preocupada: “Será que conseguiria continuar a gostar da sua
vovó do mesmo jeito, depois de saber que ela era sua vovó
substituta?”.
Quem trouxe a solução para o dilema de Anabelle foi seu avô.
Naquele dia, quando o vovô foi visitá-la, conversou com ela e disse
que compreendia a sua tristeza, por não ter conhecido sua avó, mas
que a família não havia contado porque achavam que ela era muito
pequena para saber a verdade. E disse que a partir daquele dia,
contaria para Anabelle tudo o que ela gostaria de saber sobre a vovó
que não havia conhecido.
A menina perguntou ao vovô se conseguiria gostar da vovó como
sempre havia gostado, agora que sabia a verdade. O vovô
respondeu que tinha certeza de que sim, pois Anabelle era amorosa
e sempre apreciara estar com a vovó.
Desse dia em diante, a menina passou a fazer muitas perguntas
sobre a vovó que não conhecera. Aos poucos, foi construindo a
imagem da vovó na sua mente, apreciar a pessoa acolhedora que
ela fora e se orgulhar por ter recebido o nome dela. Também ficou
aliviada em perceber que havia continuado a gostar do mesmo jeito
da sua vovó substituta, que sempre havia sido amorosa com ela.
 
CAPÍTULO 2
A MORTE E O LUTO PARA
ADOLESCENTES – 
A RODA DO VIVER
Aparecida Malandrin Andriatte
Os mistérios da vida se encontram envolvidos nos véus dos
séculos que cada geração precisa desvendar.
Na natureza tudo se transforma e esse processo quase sempre é
assustador.
Como uma roda viva a girar, sem explicar essa dor...
Quando uma criança vai se desvestindo da infância para se
cobrir com a adolescência fica particularmente assustada.
A explosão hormonal, as desilusões inevitáveis e o contato cada
dia mais realístico com as perdas de pessoas amadas: reais ou
internalizadas, fazem-nas estremecer.
Nem sempre podem ser acolhidas nesses momentos, pois para
essa escuta é preciso ter uma orelha de ouvir silêncios e
“malcriações” como manifestações profundas de angústia e dor!
O adulto que pode ouvir, olhar, acolher e acalmar... Entra na roda
do tempo e dá um sentido ao girar, aliviando o sofrimento, pois
nesse momento um vínculo novo se faz.
Um vínculo de tecer juntos... O vínculo do con-fiar... Que traz
como resultado um mundomais humano assentado na história viva,
feita da experiência de amar! 
2.1
A RODA DO TEMPO DE HELENA
Aparecida Malandrin Andriatte
 
 
 
O outono desperta em uma manhã preguiçosa... Helena acorda e
se vê meio enjoada... Não daqueles enjôos de estômago que
acabam em dor de barriga. Mas um enjoo por dentro... enjoo por
tudo. E isso ela nunca sentira, porém já ouvira falar...
Helena não quer ir para a escola e não quer brincar.
Não quer falar de games e internet... e nem com sua amiga no
Face entrar! Está sofrendo de um mal e seu mal é enjoar.
Com muito esforço deixa aquele estado que abocanha seu
corpo: entre a cama e o sonho – o chão e a realidade. Põe-se de pé
e tudo parece rodar!
Roda que roda e no seu espelho seu rosto encara. Surpreende-
se ao ver pipocas estourar... Ficou pintada de espinhas e em sua
cabeça algo começa a buzinar.
Quem é essa daí? Será Helena? É ou não é? E tudo aquilo
passa a assustar...
Quer gritar, quer pedir, quer falar... Mas só consegue mesmo é
enjoar!
Lembra-se, enfim, de chamar por alguém, mas alguém não
responde. Percebe que sozinha tem que lidar com a enjoação.
Que nojo! Que situação!
Respira e do espelho se afasta. Espelhos não são bons em
certas ocasiões... Lembra-se da Branca de Neve, que poucas e
boas passa por causa do tal OLHEPSE1 Senta-se na cama e
segura sua cabeça, que sente Ocaaaa-Ocaaa-Ocaaa a rodar...
Ouve um eco lá do fundo do seu mundo a falar: “Helena, o tempo
passou e você está a mudar!”.
Mudar? Olhou de si para si e viu uma pernona compriiida e um
pé bem grandão! Que esquisito! Eu não sei quem são esses, não!
Onde estão os meus pés? Minhas mãos? Que sensação!
Pequeno, grandão, pareço camaleão...
... E meu coração? Ah! Esse bate apertado e com uma estranha
emoção, num incômodo grandão! Qual é? Para escutar... É
arrastadaaa e encompridadaaada... Melosaaa e melada de fazer
dó... É tristeza bem triste por sua avó.
O que tens meu coração?
Lembra-te! Helena, morreu a nossa vovó... Um soluço trouxe o
rosto da avó, que no dia anterior falecera.
Mas Helena não sabia nada... nada de lidar com o morrer.
Só lembrava que seus pais achavam melhor ela não ver a
vozinha pelo sopro da morte imobilizada.
Mas como vou viver sem me despedir da minha vovozinha?
Coitada!
Helena, desapontada, fica tão arrasada por não poder participar
das cerimônias e sua avó enterrar... Seus pais querem que ela seja
poupada! Mas impedir para proteger? Não ajuda a crescer!
Pensa em sua avó, que lhe contava estórias, e agora tudo está a
mudar... Tempos difíceis aqueles! Quantas transformações... que
sente como malvadas!
De repente, o papai deixa de ser o super-herói, a mamãe sai... E
quando volta, está amadastrada e ela. Helena, toda desengonçada!
Vai se dando conta de que tudo, tudo muda, e está é enlutada.
Sente que seu mundo desaba. Percebe o que nunca sonhara e que
agora deve aceitar: que a natureza se modifica e isso é inevitável no
viver...
E assim se dá a transformação: o feto vira bebê; o bebê, criança,
a criança, em Helena; Helena, mamãe; mamãe, em vovó; quando,
então, a história termina.
Termina para os olhos e começa para o mistério... Na
engrenagem da vida, a roda gira e transfigura os nossos dias... E o
que Helena quer é impossível acontecer... Quer porque quer deixar
de crescer...
Quer, também, que sua infância dure a eternidade... E não
concebe que seu corpo, seus pais e seu mundo possa perder!
Como podemos ajudar Helena a pensar sobre essa nova vida
que ela está a rejeitar?
O tempo possui um segredo que acalma o nosso viver...
O segredo do tempo é que tudo nasce, cresce, vive e morre...
Numa roda que não para de girar... Essa roda é infinita e não se
cansa de fazer e refazer o “Belo Humano”, e sempre, sempre,
sobreviver!
 
 
 
CAPÍTULO 3
A MORTE PARA O ADULTO – 
ENCONTRANDO SINAIS
Gisele Gressler
Uma pessoa com quem convivemos por muito tempo marca
nossa vida de muitas maneiras. São impressões registradas, mas
nem sempre valorizadas.
Por exemplo, as pessoas têm um cheiro característico que
muitas vezes passa despercebido, mas quando elas morrem fica
impregnado em seus objetos pessoais.
Costumam usar expressões, ditados, histórias, que são repetidas
ao longo de uma vida e que, ao ouvirmos, lembramo-nos daquela
pessoa. São suas marcas.
Isso também acontece com comidas, cores, músicas, gestos,
olhares, ideias... Quantas coisas não estão contidas na
singularidade de cada um de nós?
Conseguir acessar esse repertório de memórias preenche
parcialmente a falta que sentimos da pessoa amada, fisicamente
perdida, mas presente a todo o momento em que podemos
encontrar os sinais da sua existência.
 
3.1
UM ABRAÇO PARA SEMPRE
Gisele Gressler
 
 
 
Diante da tela de seu computador, Cristina contempla a foto
enviada por seu irmão. É o registro de um último abraço entre ela e
o pai, falecido há dois anos.
Naturalmente vêm a dor e a saudade, a vontade de reviver
aquele momento pelo menos mais uma vez.
Mas a vida segue, o telefone toca, é hora do jantar.
Passado o tempo necessário para organizar a bagunça que
fazemos para preparar uma refeição, chega o filho mais novo, de
seis anos, para mostrar a lição de casa.
A tarefa era responder duas perguntas. A primeira: “Escreva o
que mais gosta de fazer com seus amigos”.
Ele pergunta:
— Irmão é amigo, né, mãe?
— Sim filho.
— Então, tá certo.
Ele entrega a folha para a mãe. No papel, com letras riscadas
fortemente, lê-se: “Gosto de jogar videogame com meu irmão”.
E a segunda pergunta: “O que você gosta de fazer sem os
amigos?”.
E a resposta: “Abraçar a minha mãe!”.
Com lágrimas nos olhos, Cristina abraça apertado seu filho, que
ainda não compreende tanta emoção, pois eles repetem o gesto de
amor apreendido muitos anos atrás.
Um abraço entre mãe e filho contém os abraços dados entre a
mãe e seu pai, sua mãe, entre os avós e seus pais, e por tantas
gerações quanto podemos retroceder.
A nossa presença e as nossas atitudes marcam a trajetória de
toda nossa descendência.
Eterno se torna o homem que ensina por intermédio de seus
atos, construindo, assim, uma linhagem que repete e perpetua seus
gestos de amor.
CAPÍTULO 4
A MAIOR DOR DO MUNDO
Aparecida Malandrin Andriatte
Pode-se enterrar uma filha, sim. Ela já o fizera antes. Mas não se regressa nunca dessa
despedida. Ninguém pede mais a atenção de uma mãe que um filho morto.
(Mia Couto. 2012; p. 17)
Para Bruno, Gilmar e Tiago.
É impossível quantificar qual seria a maior dor que um ser
humano precisa sentir, pois é a sensibilidade de cada pessoa que
irá determinar... Contudo, existe um consenso de que a maior dor
emocional é a dor pela perda de um filho, pois ela seria antinatural...
O ciclo do viver não cumpriu todas as etapas.
Um bebê: os braços vazios da mãe, que não tem mais o que
segurar...
Uma criança: os risos congelados pela dor que lacram o rosto da
mãe na imobilidade que nunca esquecerá completamente...
Um jovem: os gritos de realização eternamente castrados. Os
netos que não virão – uma família ceifada e uma geração
interrompida...
Qual o consolo? Talvez... lembrar que a vida não é contada em
tempo... mas em profundidade das experiências emocionais. Existir
com o outro a cada momento no intervalo que a vida é... o mais
intensamente possível. Esse intervalo pode ser brevíssimo ou longo,
não se sabe... se demais!
O que conta é a qualidade do con-viver... O consolo pode vir pela
consciência de que a morte faz parte de um processo natural: não
existir – existir – não existir... que nós todos temos que enfrentar!
4.1
QUANDO O CÉU ENCONTRA O MAR
Gisele Gressler
 
 
 
Algumas situações não deveriam acontecer na vida das pessoas;
são tristes, muito tristes.
Esta história fala de uma delas e se passou há muitos anos.
Gilmar, o menino que tem mar no nome e a cor do céu em dias
bons nos olhos, é o segundo filho de um jovem casal. Tem em seu
irmão dois anos mais velho um herói a ser imitado, como costuma
acontecer aos primogênitos.
Sua família vive de forma modesta, mas cultiva muitos sonhos de
sucessoe prosperidade por meio do trabalho.
O menino cresce e se desenvolve bem, apesar de alguns
episódios de náuseas e vômitos. Vai à escola, tem amigos e brinca
numa casinha construída na árvore, no quintal da casa da família.
Ali, ele e o irmão passam horas brincando, imaginando um mundo
de fantasias e heróis, como é comum às crianças de oito e dez
anos.
Com o passar do tempo, os sintomas de Gilmar tornam-se mais
intensos. Ele apresenta cansaço e perda de peso. Seus pais,
preocupados, esgotam as possibilidades de investigação médica
oferecidas na cidade onde moram. Então, ouvem o que na época
era uma sentença de morte: câncer, Gilmar tem um tumor no
cerebelo.
É necessário viajar para uma cidade maior, com outras
possibilidades, para o tratamento. A família carece de recursos
financeiros, mas conservam muitas esperanças. Então contam com
a ajuda de amigos e parentes. A devotada mãe e Gilmar partem
para uma nova fase, enquanto o irmão e o pai permanecem,
tentando seguir com a rotina.
Seguiram-se longos e poucos meses de quimioterapia sem
sucesso.
Gilmar falece pouco antes de completar nove anos de idade, dois
meses antes do Natal, quando imaginava ganhar um brinquedo
famoso entre os meninos na época, o Forte Apache.
Seu irmão seguiu frequentando diariamente a casa na árvore.
Pode ser que lá, no alto, próximo ao céu, ele sentisse que estava
mais perto do irmão.
Algum tempo depois sua família levou a um orfanato o sonhado
Forte Apache, e lá se emocionaram com meninos brincando
encantados. Não era Gilmar, mas era seu sonho realizado e
compartilhado com outras crianças tão sonhadoras quanto ele.
 
 
CAPÍTULO 5
A MORTE E O LUTO PARA O
IDOSO – 
A ÚLTIMA VOLTA
Alaide dos S. Oliveira Penaquio e 
Maria Emília Meneguelli A. Miranda
“Todas as coisas têm o seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o tempo que a
cada uma foi prescrito. Há tempo de nascer, e tempo de morrer. Há tempo de plantar, e tempo de
arrancar o que se plantou. Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há tempo de edificar, e tempo de
destruir.”
Eclesiastes (3, 1-3)
O morrer não tem idade, não tem época e nos deparamos com
um vazio que parece invadir o nosso peito. Quando temos tempo
para nos despedirmos das pessoas que amamos, não podemos
evitar a dor. O fim é sempre um processo muito doloroso. Não
podemos mudar esse percurso, mas podemos dar sentido a todo
esse sofrimento. Carpinejar (2014) diz: “Na dor encontramos uma
honestidade que não há em nenhum outro sentimento”.
Sabemos que essa dor é necessária, mas muitas vezes
queremos nos isolar, chorar em nosso canto e até mesmo nem
entrar em contato com as coisas que nos lembrem daquela pessoa
tão querida. Mas ao nos lembrarmos dos conhecimentos e atitudes
a serem seguidas ou quando tocamos seus objetos, olhamos fotos,
também percebemos que é uma maneira de estarmos juntos. O
sofrimento da pessoa que ora está se separando de nós é também
uma forma de amor por nós, daí passamos a querer a separação e
entendemos que a dor sem sofrimento é saudade, e saudade é o
amor que fica para sempre revivendo dentro de nós. Por mais
angustiante que seja uma perda, temos a capacidade de nos
regenerar e seguir em frente. Quando já saboreamos o fruto, o que
de melhor podemos fazer é aproveitar sua semente e replantá-la. É
a dor que enterramos, mas sem sofrimento, pois acreditamos que
vai brotar.
Quando perdemos alguém que completou seu ciclo de vida,
construiu sua história, seu círculo de amigos, sua família, achamos
que é mais fácil lidar com essa finitude.
Será que é verdade? São tantas lembranças, conversas, sonhos
e realizações. Quantos passeios, brigas e abraços? Depois, tudo
fica por conta da saudade... Nesse momento, precisamos aprender
a fazer as pazes com a tristeza e a dor. Esse tempo passou e não
volta mais. A vida é feita de perdas e ganhos.
Quando estamos longe da pessoa querida, tudo fica triste, pois
as experiências sem a pessoa que amamos se tornam saudade.
5.1
A VIDA PELAS VIOLETAS
Alaide dos S. Oliveira Penaquio
 
 
 
Então a vida nos reserva muitas passagens... de idas e vindas e
de perdas e ganhos.
Havia uma garota chamada Maria e que era muito feliz. Possuía
uma família carinhosa, cuidadosa e era muito mimada pelos pais. E
assim ela cresceu, estudou, fez amigos e foi construir sua vida, sua
história e sua família.
Os seus pais sempre foram prestativos e a apoiavam em todas
as coisas que ela queria fazer. Seu pai gostava muito de fazer
comida. Uma delícia! Fazia cada prato tão gostoso... E ele gostava
de reunir a família e os amigos. Nessas reuniões, acabava também
alimentando a alma deles. Sua mãe não gostava de cozinhar, mas
adorava cuidar de plantas, e na casa tinha muitas violetas, que eram
cuidadas com amor e carinho. As violetas recepcionavam as
pessoas com sua beleza e cor.
E assim foram passando os anos e Maria já era uma mulher.
Num certo momento, seu pai foi fazer uns exames de rotina e
apareceram algumas alterações. A partir desse momento ele
começou a não se sentir bem, não queria mais cozinhar, conversar,
foi ficando sem ânimo, foi se isolando e acabou morrendo.
A família ficou sem chão, pois não sabia como lidar com todo
esse vazio. Que tristeza! Não sabiam como viver sem a pessoa que
os supria de tanto amor e carinho. Foram se acomodando,
organizando-se, falando muito sobre ele, e tiveram que fazer as
pazes com a dor e a solidão.
Enquanto essa dor ainda os acompanhava, a mãe de Maria teve
uma dor no peito muito forte, foram correndo para o médico, mas a
mamãe estava tão triste que deixou a vida ir.
Nossa! A vida parecia que tinha acabado! Não se via sentido em
mais nada... Mas Maria tinha uma filha de três anos e precisava
encontrar forças para continuar. Procurou lembrar de todos os seus
ensinamentos para poder ser um pouco do que eles representaram
para sua vida.
Às vezes, pensava que iria enlouquecer com a falta que faziam.
Como encontrar um novo sentido para a vida?
Sua mãe havia deixado muitas violetas. O tempo foi passando e
Maria continuou cuidando daquelas plantinhas. E as violetas iam se
multiplicando, na quantidade, nos tamanhos e nas cores. Algumas
murchavam, outras morriam, mas todos que viam ficavam
encantados com a beleza das violetas.
Maria acabou criando uma área, com todos os tipos de violetas.
E sabe de uma coisa? Ela e a filha plantaram, replantaram,
adubaram... E as violetas iam crescendo... E elas acabaram sendo
as cultivadoras de violetas. E a sua filha mexendo na terra... Quanto
aprendizado!
Essa foi uma maneira que Maria encontrou para poder continuar
a vida. Não se consegue mudar esse percurso, entretanto, é
possível dar sentido a todo esse sofrimento, fazendo com as
violetas da vovó um jardim que alegra o viver.
 
 
5.2
UM QUINTAL PARA RECORDAR!
Aparecida Malandrin Andriatte
 
 
 
Seu Nestor completou oitenta e cinco anos e cuida de seu
mágico quintal há muito tempo... Na frente da casa, seu colorido
jardim, com majestosas rosas, rechonchudas dálias, perfumadas
camélias e instáveis bem-me-quer-mal-me-quer, e margaridas...
Esse singelo jardim lembra a seu Nestor sobre sua vida no interior,
quando ajudava seu pai na colheita do café...
No apertado corredor de sua casa – estratégica ligação do jardim
com o pomar... vasos de chão e de ar, com antúrios e samambaias.
Umas folhagens sem flor, como fitas verdes e brancas, em
homenagem ao Palestra2.
Mas o que realmente o encanta é o fundo do quintal e que, para
ele, é o mais rico dos pomares que poderia formar... Na divisa com o
vizinho, Seu Irineu... duas ou três vistosas bananeiras, uma
orgulhosa goiabeira, onde os bem-te-vis vêm cantar... E vêm
também os sanhaços e os sabiás! E o canto do passado é entoado
sem parar... Seu Nestor, como um grande capitão, passa em revista
sua horta de cebolinhas, salsinhas, couves e rabanetes. A hortelã é
que está custando a viçar. Sua rotina é intensa e rica em
ocupações... Ele se alimenta todos os dias nesse pomar dos
sentidos... Experimenta cores, sabores e aromas que são os
presentes que colhe como seu labor... E cuida de muitos seres: da
joaninha até seu netinho Paulino, que sempre vem lhe visitar...
Seu Nestor zela por tudo a sua volta, como sempre cuidou da
vida e do seu viver...
Todavia... em uma manhã de primavera, as flores despertaram,
mas seu Nestor... não acordou! Encantou no sono que a todos
envolve... Contudo, seu quintal continuou na rotina habitual. Quando
o Outono chegou e seu neto foi colher as laranjas do quintal, uma
doce lágrima rolou... Entretanto, ele logo se consolou e pôde
perceber que o vovô continuava vivendo enquanto vivesse aquele
quintal! E os quintais que ele tinha plantado dentro de todas as
pessoas que ele, com seu amor, haviam cultivado! E nesse quintal
de dentro era sempre época de doces laranjas e doces
lembranças...
 
5.3
TRICOTANDO A VIDA
Maria Emília Meneguelli A. Miranda
 
 
 
Nasce uma menina e em seus dias ela vai tricotando,
tricotando... Em sua infância, buscava compensar a falta de sua
mãe que já havia morrido... Usava sua boa memória e criatividade
para tecer com os fios da esperança e da generosidade suas blusas
e suas amizades! Em sua estrutura lépida e franzina, era rápida e se
dispunha a cuidar de crianças de uma creche, e com elas brincava e
pulava corda para despistar a tristeza, aproveitando tudo o que é
dado pela natureza.
Um dia ela foi para a escola para aprender macramê... Porém,
incomodava-se com o tempo ocioso que a professora deixava, nos
quais alguns teciam “fuxicos”. Então resolveu ensinar tricô enquanto
esperava... Assim, foi contratada para ser professora ao invés de
receber aulas.
Ela não concebia a perda de tempo. Aproveitava todo o momento
para estreitar suas relações, tricotando carinho com os filhos já
crescidos e os netos encaminhados, fazendo cafuné na neta
enquanto descansavam...
Tinha uma grande preocupação de passar suas receitas de
cozinha e artesanato: do doce de leite ao licor de laranja; do ponto
arroz às montagens em patchwork. Queria perpetuar suas
descobertas e sabedorias...
Percebia que o fim se aproximava e, então, buscava abraçar a
todos, transmitindo o passado e as tradições de um jeito doce e
delicado, com as cores/emoções que teciam seus tricôs/afetos.
Durante o ciclo de sua vida não faltaram empenho e
responsabilidade. Ela fez tudo com intensidade, buscava suprir suas
carências com contato humano, fraterno... de verdade!
Tivemos tempo de nos despedir de vovó... e seu padecimento
antes de morrer parece ter sido um jeito de nos ajudar a consentir
que partisse. Seria muito egoísmo ficar com ela sofrendo tanto...
Aceitamos que vovó seguisse, pois ela nunca podia perder seu
tempo. Cumpriu todo seu ciclo do viver e não queria dar trabalho!
Uma vida plena e produtiva, com frutos de gentes e artes... Partiu
para a eternidade, onde todos nós vamos tecer um dia... Hoje
sentimos dor, mas ela é necessária nas despedidas. A dor colocada
em palavras ajuda a enfrentar esse mistério da existência. Desse
modo se deu o arremate de uma vida!
Viver é como tricotar, bordar, costurar... Quando arrematar é o
fim, é hora de ir para outro lugar.
 
 
CAPÍTULO 6
OUTROS LUTOS
6.1
O LUTO PELA PÁTRIA
Maryrose Fernandes Bolgar
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, baseado em
informações fornecidas pelas embaixadas e consulados brasileiros,
é estimado que, aproximadamente, de dois a três milhões de
brasileiros estavam residindo em outros países entre 2008 e 2011.
(ASSIS, 2014, p. 36), O número, amplamente divulgado por meios
de comunicação e hoje atualizado em 2.547.079 de pessoas,
segundo o Itamaraty, chama a atenção para um fenômeno inédito
no Brasil.
Os brasileiros passam a se somar a milhões de outros imigrantes que
igualmente apostaram na imigração para os Estados Unidos como forma de
alterar aspectos importantes de suas vidas. Mas, diferentemente dos
imigrantes que até meados do século XX lotavam os navios aportados na
Europa e Ásia em direção ao Novo Continente, os imigrantes atualmente
conseguem aterrizar nos Estados Unidos depois de algumas horas de vôo e
suas cartas não demoram meses até chegar às pequenas cidades de onde
partiram. Assim que desembarcam é possível chamar ao telefone alguém de
sua terra natal, da mesma forma que é possível obter notícias diárias sobre
seu país, através do computador e aparelho de TV”. (BRAGA, 1999, p. 21).
Buscar mecanismos que preparem as crianças para a mudança
se constitui uma necessidade, para que imigrar não se torne uma
experiência traumática para elas. Também é importante
instrumentalizá-las para preservarem o contato com o país de
origem, pois se sabe que os processos de imigração mais bem-
sucedidos são aqueles que integram os aspectos da cultura de
origem com aspectos que se adquiriu no país receptor.
 
6.1.1
UM NOVO PAÍS PARA CARLA E
RICARDO
Maryrose Fernandes Bolgar
Para todas as meninas e meninos que 
acompanharam seus pais na aventura de viver 
numa outra cidade, país ou continente.
 
 
 
Carla e Ricardo são irmãos. Eles são muito diferentes, mas são
bons amigos e fazem muitas coisas juntos. Mas, nem sempre eles
foram tão companheiros. Vou lhe contar o que aconteceu e por que
eles se tornaram tão próximos.
Eles nasceram numa cidade pequena, onde quase toda a família
residia. Conheciam muitas pessoas e tinham vários amigos.
Nos fins de semana visitavam familiares e amigos, e brincavam
no quintal das avós com os primos. Carla e Ricardo faziam parceria
com os primos e brigavam muito um com o outro.
Quando Carla e Ricardo tinham nove e onze anos, a empresa
onde o pai deles trabalhava precisou que ele fosse trabalhar num
país muito, muito distante de onde eles moravam, onde o inverno
dura quase seis meses e a neve deixa tudo branco e preto, mas, em
contrapartida, a primavera, o verão e o outono são muito coloridos.
Como nesse país as pessoas falam uma língua diferente, Carla e
Ricardo foram aprender o novo idioma. Eles acharam tudo muito
complicado e ficaram muito preocupados: “Como é que eles iriam
conversar com os colegas, a professora, fazer lição de casa e
provas sem falar aquela língua tão difícil?”.
No dia da mudança toda a família e os amigos foram no
aeroporto se despedir da família de Carla e Ricardo. Os familiares e
amigos choraram ao se despedirem, porque não haviam aprendido
ainda a viver distante deles. Carla e Ricardo acharam tudo muito
estranho, mas quando estavam dentro do avião e viram todos que
eles gostavam ficar tão longe, começaram a chorar também…
No dia seguinte, depois de muitas horas de viagem, chegaram ao
país que seria, então, a nova casa para eles. Como chegaram ao
verão, ficaram quase dois meses conhecendo o novo espaço,
aprendendo inglês e como se comportar nessa nova cidade.
Tudo foi muito difícil nos primeiros meses. Quando iam almoçar
sempre pediam um tipo de comida, mas recebiam outra, porque as
pessoas não entendiam o que eles falavam.
Na escola cada um recebeu um guia, que era um colega da
classe, que ensinava para eles onde ficavam as salas de aula,
porque a escola era muito grande e a diretora ficava com medo que
Carla e Ricardo se perdessem.
Carla e Ricardo receberam também a ajuda de uma professora,
que os ajudavam a fazer os exercícios de sala de aula e a lição de
casa.
Os irmãos chegavam muito cansados em casa, pois o cérebro
deles tinha que trabalhar dobrado para aprender tanta coisa nova.
Os primeiros colegas de Carla e Ricardo foram os amigos que
tinham ido de outros países também. Embora um não
compreendesse o que o outro falasse direito, eles podiam brincar e
usar o computador juntos.
Para diminuir as saudades da família e dos amigos, Carla usava
o computador. Ela ficava sabendo tudo que estava acontecendo na
cidade onde havia morado e dividia o que estava aprendendo com
eles também.
Ricardo, por sua vez, passava muito do seu tempo livre
assistindo a desenhos, para aprender mais rápido o novo idioma e
conversava com a família e os amigos por telefone só de vez em
quando...
Para que Carla e Ricardo não se sentissem sozinhos, a
professora de Ciências sugeriuque os pais deles comprassem um
hamster, a quem eles deram o nome de Fedida, assim eles teriam
companhia quando estivessem em casa, e a professora cuidaria do
hamster quando eles fossem visitar a família.
Após seis meses que Carla e Ricardo haviam se mudado, eles
foram visitar as pessoas queridas que haviam deixado em seu país
e festejar a chegada de um novo ano. Para a surpresa deles,
estavam todos esperando no aeroporto, porque estavam com
saudades…
Carla e Ricardo puderam perceber que é possível continuar
fazendo parte da família e manter os amigos mesmo vivendo longe.
Poucos amigos e parentes se afastaram deles. Somente aquelas
pessoas que não podiam tolerar a dor de estar longe de quem se
ama.
Após as festas, Carla e Ricardo retornaram para sua nova casa e
tudo ficou mais fácil. Como já sabiam falar um pouco da nova
língua, podiam comer o que haviam pedido e, sobretudo, fazer
novos amigos, com quem podiam brincar e estar junto, até que as
próximas férias chegassem.
Carla e Ricardo ficaram mais próximos, passaram a conversar
mais e a ajudar um ao outro. Eles passaram a apreciar a nova casa
e a escola, sentindo-se a cada dia mais contentes e confiantes no
novo país e na nova vida que estavam construindo.
 
6.2
O LUTO PELO BICHO DE ESTIMAÇÃO
Leda Gomes
Ter um bicho de estimação pode ser uma grande lição do ciclo
vital completo para uma criança. Há uma pesquisa que diz que as
crianças escolheriam seu bicho de estimação para contar um
segredo ou um problema. (MCNICHOLAS; COLLIS, 2001 apud
PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009).
Acompanhar a vida de um bichinho, desde filhote até a velhice e
a morte, educa a criança para o cuidado, a tolerância, a
responsabilidade, o companheirismo e o amor.
A morte de um bicho de estimação é uma oportunidade de
conversar com a criança sobre a morte e o morrer, sobre a finitude
de tudo o que é vivo.
Não falar da morte é tentar, de maneira inútil, maquiá-la. Dentro
dessa tentativa já ouvimos várias histórias. Como a do hamster que
viveu nove anos, um recorde para a espécie, que vive em média
três anos. A façanha foi possível porque a mãe tratava de substituir
o animal morto, rapidamente, sem que o filho pudesse perceber a
troca.
Crianças precisam de respostas claras, objetivas, concretas e na
medida exata do que perguntam. É preciso que elas saibam que o
bichinho está doente, ou velho, e que vai morrer. Se necessário,
explique para a criança que o animal está tão velho quanto o vovô
ou o bisavô.
Deixe a criança perguntar ou falar o que quiser e responda a
tudo o que for perguntado. E caso o animal seja enterrado ou
cremado, é importante que a criança esteja presente na ocasião.
Converse com a criança sobre os sentimentos dela e ajude-a a
nomeá-los, caso ela não consiga fazer isso.
Diga que você também está triste com a morte do bichinho e que
é certo ficar triste, que não tem problema chorar, e que ficar triste
por um tempo é o que fazem as pessoas que gostam de seus
bichinhos.
Respeite o tempo da criança. Se ela quiser ficar um tempo sem
outro bicho, concorde; caso ela queira logo um novo bichinho, e se
for possível, atenda-a.
O sofrimento que a morte de um bichinho traz é nada se
comparado com todas as alegrias e a companhia que eles nos
fazem ao longo da vida.
 
6.2.1
A MENININHA E A CACHORRINHA
Leda Gomes
Para Tulipa, Tino Gato, Michu, Greta, Rodolfo, Samanta, Rafi, Lea, Furacão, Lara, Yuri, Sofia, Lobo,
Geni, Nininha,__________________
(você pode incluir o nome de um bichinho querido que você perdeu)
 
 
 
Era uma vez... É sempre assim que as estórias começam, e esta
também vai começar assim.
Era uma vez uma menininha que não tinha irmãs, nem irmãos,
era filha única. A menininha sempre brincava sozinha e era feliz
brincando assim, mas de uma coisa ela sentia falta: ela queria ter
um cachorrinho. Vivia pedindo para sua mãe, que sempre lhe dizia
não, pois cachorro faz barulho, faz sujeira e estraga as coisas.
O que a mãe da menininha não esperava é que, ao levar a
menininha para a escola, começassem a ser seguidas por uma
cachorrinha. Elas iam e a cachorrinha ia atrás; elas voltavam horas
depois e lá vinha a cachorrinha seguindo as duas de volta para
casa.
Além do pai e da mãe, a menininha morava com seu tio, que era
um homem muito ligado em bichinhos de estimação. Num belo dia,
o tio da menininha pegou a cachorrinha da rua e levou-a para dentro
de casa. A mãe da menininha bem que tentou reclamar, mas foi voto
vencido.
A cachorrinha estava toda suja, tinha pulgas e estava muito
maltratada, mas o tio da menininha cuidou dela, deu banho, deu
comida e pouco tempo depois a cachorrinha estava linda. E como
era boazinha!
Essa cachorrinha foi a companhia constante da menininha
durante muitos anos. Ela ficou doente, foi operada e foi cuidada pela
menininha, que então já era uma moça.
Até que, quando a menininha, agora uma moça, já estava na
faculdade, a cachorrinha morreu. É claro que a menininha, ou
melhor, a moça, ficou muito, muito triste com a morte da
cachorrinha, afinal, ela havia sido sua companheira durante sua
meninice, sua adolescência e o começo de sua juventude.
Mas a cachorrinha ensinou tanto para a menininha... Ensinou o
significado da amizade, da fidelidade, do companheirismo, do
cuidado com quem amamos. E ela abriu as portas de sua casa para
muitos outros amigos de quatro patas que viriam depois.
É por isso que hoje, adulta, a menininha se lembra com carinho e
saudade da cachorrinha, e sempre que alguém diz que não tem
bicho porque quando eles morrem as pessoas ficam tristes, ela
responde: “E toda a felicidade que eles nos dão?”.
6.2.2
O OLHAR DE DIANA EM TODAS AS
PASTORAS
Aparecida Malandrin Andriatte
 
 
 
Um dos primeiros fatos no baú da infância de Tony é a lembrança
de uma bela cachorra pastora alemã. Seu porte era altivo e tinha
uma capa de pelos pretos sobre seu corpo cinza esverdeado...
Possuía dentes afiados e ouvidos apurados... E no fundo de seus
olhos todo o carinho por sua família humana.
Numa manhã de feriado, eles levaram as mudanças da vovó e
Diana, fiel companheira, quis acompanhar o papai... Contudo,
naquela confusão, algo aconteceu e Diana se perdeu... Puxa! Todos
ficaram transtornados e Tony chorava num cantinho o seu medo de
nunca mais ver sua cachorra querida, sua doce Diana... O papai
refez todo o caminho sem parar de olhar, fez tudo com muita
atenção, mas não encontrou a Diana.
Uma semana se passou e Diana não voltou... Foi uma tristeza,
uma comoção!
Da varanda de casa, tia Lourdinha avistou um cão perdido no
trilho de um terreno. Firmou o olhar. Era ou não a Diana? Num grito
estridente, chamou por Diana e logo ela atendeu. Estava tão
magrinha a coitada que quase não podia andar. Quanto teria
sofrido? Que fome teria passado? Mas, finalmente, sua família
humana ela encontrou... Foi uma festa animada, que a todos
envolveu. E Diana fazia suas exibições: andava com dois pés, dava
sua pata para mostrar o quanto era inteligente, lambia o papai com
gratidão, e a mamãe defendia, mostrando que a preferia. Estavam
todos felizes!
Passaram-se alguns meses e ela já estava reestabelecida e em
pleno vigor... Mas há homens muito maus que assassinam gente e
animais até por prazer. E fizeram uma grande maldade: deram uma
bolinha de carne com vidro moído dentro, que Diana comeu e,
então, por dois dias sofreu.
Tony e sua irmã Chiquinha a espreitavam pela janela quanto,
então, Diana gemeu... Era o gemido da morte, que a levou para
sempre. E foi a primeira vez que Tony percebeu o que era o morrer.
Ele e Chiquinha se confortaram num abraço, que até hoje serve
de consolo.
 
CAPÍTULO 7
UM TEMPO PARA DESPEDIDA
Aparecida Malandrin Andriatte
Quando nos relacionamos com a vida, ela nos apresenta seus
encantos e a cada dia vamos repetindo encontros e sentimentos...
Do que o bebê mais gosta é que todos os dias sejam iguais: que a
mamãe apareça e o atenda sempre da mesma maneira em suas
necessidades, que o bercinho e o ursinho se encontrem sempre lá,
onde ele espera que estejam. Tudo muito, muitofamiliar. E assim se
constroem os dias, as semanas e os meses, quando, então,
fazemos aniversário. Esse dia é diferente, um dia para celebrar a
vida. Os homens gostam tanto de celebrações... Constroem
símbolos, templos e poemas, nos quais eternizam suas emoções.
Os ritos são repetições especiais. Eles foram se construindo
durante o desenvolvimento da humanidade e algumas funções
sempre têm. E se pensarmos bem, os ritos ajudam o homem a
viver... Ritos de vários tipos, desde o nascer até o morrer. Mas, na
atualidade, a velocidade anda engolindo as nossas emoções e com
tanta pressa vão se extinguindo as celebrações.
Uns ficam exagerados, como os casamentos que parecem
superproduções. Os noivos, como atores, precisam aparecer muito
bem produzidos e o tempo é contado para postar as fotos no Face
sem borrar a maquiagem... Esse rito é superbadalado, mas não deixa
de ser afobado...
A pressa invadiu, não por acaso, o rito final do viver. O das
exéquias3, que envolve o velório e o enterro de quem faleceu...
Esse rito tão importante parece ter se tornado um incômodo para os
viventes, pois a rotina acaba por se quebrar. Nesse dia não é
possível ir trabalhar ou estudar. É muito importante ter contato com
a tristeza e a dor, visitar os amigos ou parentes que perderam um
grande amor. Pode ser também que esse amor seja bem próximo de
nosso coração.
Esse dia é bem esquisito e por isso o homem parece temê-lo
demais, pois ele traz profundas reflexões... Nossos antepassados
perceberam que era muito importante ter um tempo para a dor e a
despedida de quem parte para o mistério e por isso construíram o
velório e o cemitério.
Eles simbolizam que a rotina com aquela pessoa se findou e
para nossa mente poder se desapegar do costume de amar todo dia
aquele ser, precisamos de um tempo para as despedidas e saber
onde vai morar para sempre aquela pessoa querida.
É que nosso mundo interior é diferente do de fora. Por fora nós
acompanhamos a correria, mas no mundo dos sentimentos é tudo
muito lento. E durante um ano, até fazer aniversário, aquela triste
despedida... Os dias vão se repetindo sem a pessoa que morreu... E
ela, então, pode ser guardada como saudade... passando a ser
esquecida da rotina diária.
Para poder elaborar uma perda tão sentida é muito importante
das celebrações participar. Um tempo para as despedidas, isso
significa nos respeitar. O essencial é saber que o luto é um processo
normal e que tem um tempo aproximado para durar... Se tudo correr
bem, sofremos mais intensamente a perda do nosso ente querido
nos primeiros tempos. E, então, aquela dor tão funda vai se
amansando e se calando, deixando de ser dor e virando saudade.
Esse processo dura aproximadamente um ano e isso é normal. Vai
passando devagar, até que todas as datas do ciclo de um ano sem a
presença da pessoa perdida sejam vividas.
Todavia, se essa dor continuar da mesma forma anos e anos a
fio, algo não está bem, e já não se trata da perda da pessoa, mas de
um sentimento interno que não pode sossegar. Nesse caso, então,
deve se tratar de um luto mais complexo, que pode se tornar
melancolia4. O melhor é procurar o auxílio de um profissional, para
que essa dor interna possa ser tratada num processo psicoterápico,
e então elaborada. Desse modo busca-se acalmar aos poucos o
sofrimento causado pelo luto. Podemos aprender a nos tornar mais
fortes, pois a dor elaborada fortifica a vida.
 
 
7.1
TÃO MITO E TÃO VERDADE
Gisele Gressler
 
 
 
Antígona é a protagonista de uma peça teatral escrita por
Sófocles. Ela luta contra o rei Creonte pelo direito de enterrar seu
irmão. Essa personagem da mitologia grega acreditava no direito
dos parentes de enterrarem seus entes, uma vez que os rituais de
passagem eram importantes para que a alma não ficasse vagando
eternamente sem destino. Desse modo, Antígona se imortalizou
como a irmã amorosa que lutou pelo direito de sepultar seus
parentes.
Em determinados momentos, parece que a mitologia rascunha a
vida de algumas pessoas.
A história que vou contar ocorreu há pouco tempo, mas muitas
outras semelhantes acontecem com frequência.
Em uma sexta-feira de tempo nublado, um grupo de sete amigos
prepara uma saída de barco para pescar. Vão para o mar onde
tantas outras vezes estiveram em divertidas pescarias. As
despedidas são rápidas, pois o passeio durará apenas algumas
horas. Entretanto, o tempo muda e, com ele, os planos… Uma
imprevista tempestade os arrebata!
Infelizmente, o barco naufraga sem deixar sobreviventes. Depois
de alguns dias de muita angústia e alguma esperança, os corpos
vão sendo resgatados.
Porém, dois homens não são encontrados. Há uma pequena
probabilidade de encontrá-los com vida que, com o passar do
tempo, vai desaparecendo.
Depois de muitos dias de incertezas e profundo desespero, a
mãe diz: “Agora eu só queria poder enterrar o meu filho!”. A espera
de encontrar um filho vivo dá lugar à espera de encontrar um filho
morto...
Foi quando um sábio que ouviu a súplica da mãe disse: “Procure
pensar que o mar será o cemitério e a areia do fundo a lápide que
está agora abraçando o seu filho numa comunhão com a natureza”.
Sempre é preciso encontrar uma maneira de localizar os nossos
entes queridos quando não mais podemos tocá-los. Destinar
espaços para a última morada do corpo é um alento para os
viventes e um ato de profundo respeito para com os que partiram.
 
CONCLUSÃO
Tantas são as vidas, quantas seriam as histórias para se contar!
Cada ser deixa seu registro impresso no coração do semelhante.
Dentro da família lembranças... Uma geração dentro da outra –
como num abraço de Matrioska5, que vai eternizando o ser e suas
marcas pessoais.
Um olhar do avô no neto. Um sorriso da mãe na filha. O ouvido
para música, igualzinho a um tio o sobrinho tem.
As línguas transmitidas entre os povos por gerações... e, assim,
tantas tradições!
Um nasce – cria-transmite – imprime e falece, mas não morre
totalmente. Sempre fica uma semente de algo construído e, dessa
forma, então, a grande construção da civilização humana continua
“sobre os ombros” das gerações e nossa cultura se imortaliza...
 
 
REFERÊNCIAS
ASSIS, G. DE OLIVEIRA. Gender and migration from invisibility to agency: The routes of
Brazilian women from transnational towns to the United States. Women’s Studies
International Forum, v. 46, p. 33-44, 2014.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Padre Matos Soares. 10. ed. São Paulo:
Paulinas, 1955.
BRAGA, A. C. M. Brasileiros nos Estados Unidos: um estudo sobre imigrantes em
Massachusetts. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CARPINEJAR, F. Me ajude a chorar. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
COUTO, MIA. A confissão da leoa. Alfragide, Portugal: Editorial Caminho, 2012.
FREUD, S. Luto e melancolia (1917[1915]). São Paulo: Cosac Naify, 2011.
MCNICHOLAS, J. & COLLIS, G. M. Children’s representations of pets in their social
networks. Child: care, health & development. In: PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. &
FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 10. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. p. 279-
294.
 
AUTORAS
 
Alaide dos S. Oliveira Penaquio
Psicóloga clínica, especialista e 
pós-graduada em Psicologia Hospitalar.
 
Aparecida Malandrin Andriatte
Membro associado da SBPSP, mestre em Psicologia da Saúde, psicóloga,
pedagoga, professora universitária.
 
Gisele Gressler
Psicóloga clínica, especialista em Psicoterapia Psicanalítica pelo Ceapia
(RS). Organizadora do livro Você sabe o que eu sinto?, Editora Revinter, 2003.
 
Leda Gomes
Psicóloga, mestre em Psicologia da Saúde, professora universitária.
 
Maria Emília Meneguelli A. Miranda
Psicóloga clínica, especialista em Psicanálise pelo Instituto Sedes
Sapientiae.
 
Maryrose Fernandes Bolgar
Psicóloga, mestre em Aconselhamento em Saúde Mental, em formação em
Psicoterapia Psicanalítica pelo Chicago Institute of Psychoanalysis.
Denise Sampaio de Alencar
Designer gráfica e ilustradora formada pela Belas Artes 
e pós-graduada pelo Instituto Europeo di Design (SP).
1Esta palavra sofreu uma inversão

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