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Editora Appris Ltda. 1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870 C766 2017 Conversando sobre luto com adultos e crianças : a ciranda do viver/morrer / Aparecida Malandrin Andriatte e Gisele Gressler (Orgs.). – 1. ed. – Curitiba: Appris, 2017. 107 p. ; 21 cm (Artêra). Inclui bibliografias ISBN 978-85-473-0635-9 1. Morte na literatura. 2.Luto. 3. Luto em crianças. 4. Adolescentes e morte. 5. Literatura infantiI. Andriatte, Aparecida Malandrin, org. II. Gressler, Gisele, org. III. Título. IV. Série. CDD 23. ed. – 869 Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/ http://www.editoraappris.com.br/ FICHA TÉCNICA EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho Marli Caetano Sara C. de Andrade Coelho COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - Ad hoc. Edmeire C. Pereira – Ad hoc. Iraneide da Silva – Ad hoc. Jacques de Lima Ferreira – Ad hoc. Marilda Aparecida Behrens - Ad hoc. EDITORAÇÃO Lucas Andrade | Thamires Santos ASSESSORIA EDITORIAL Bruna Fernanda Martins DIAGRAMAÇÃO Thamires Santos CAPA Thamires Santos ILUSTRAÇÕES Denise Sampaio de Alencar REVISÃO Andrea Bassoto Gatto GERÊNCIA COMERCIAL Eliane de Andrade GERÊNCIA DE MARKETING Sandra Silveira GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle GERÊNCIA ADMINISTRATIVA Diogo Barros COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira | Igor do Nascimento Souza LIVRARIAS E EVENTOS Milene Salles | Estevão Misael CONVERSÃO PARA E-PUB Carlos Eduardo H. Pereira COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE DIREÇÃO CIENTIFICA Dra. Marilda A. Behrens – PUCPR Dra. Patrícia L. Torres – PUCPR CONSULTORES Dra. Ademilde Silveira Sartori – UDESC Dra. Iara Cordeiro de Melo Franco – PUC Minas Dr. Ángel H. Facundo – Univ. Externado de Colômbia Dr. João Augusto Mattar Neto – PUC-SP Dra. Ariana Maria de Almeida Matos Cosme – Universidade do Porto/Portugal Dr. José Manuel Moran Costas – Universidade Anhembi Morumbi Dr. Artieres Estevão Romeiro- Universidade Técnica Particular de Loja/ Equador Dra. Lúcia Amante – Univ. Aberta/Portugal Dr. Bento Duarte da Silva – Universidade do Minho/Portugal Dra. Lucia Maria Martins Giraffa – PUCRS Dr. Claudio Rama – Univ. de la Empresa/Uruguai Dr. Marco Antonio da Silva – UERJ Dra. Cristiane de Oliveira Busato Smith – Arizona State University /EUA Dra. Maria Altina da Silva Ramos – Universidade do Minho/Portugal Dra. Dulce Márcia Cruz – UFSC Dra. Maria Joana Mader Joaquim – HC-UFPR Dr. Edméa Santos – UERJ Dr. Reginaldo Rodrigues da Costa - PUCPR Dra. Eliane Schlemmer – Unisinos Dra. Romilda Teodora Ens – PUCPR Dra. Ercilia Maria Angeli Teixeira de Paula – UEM Dr. Rui Trindade – Univ. do Porto/Portugal Dra. Evelise Maria Labatut Portilho – PUCPR Dra. Sonia Ana Charchut Leszczynski – UTFPR Dra. Evelyn de Almeida Orlando – PUCPR Dra. Vani Moreira Kenski – USP Dr. Francisco Antonio Pereira Fialho – UFSC Nosso carinho para Nelson Albissú,* Que usou sua existência para costurar com palavras os elos da ciranda do viver Escreveu sobre fatos e sonhos – tradições e inovações – velhos e crianças – vida e morte... Tornou-se vivente dentro de nós e em cada uma de suas obras, enquanto forem lidas ou representadas... fazendo girar a Roda do Viver/Morrer. (*Escritor e dramaturgo que se dedicou ao idoso e à criança. agosto de 1948 dezembro de 2016) PREFÁCIO A música, a poesia brasileira têm se mostrado ricas e representativas da criatividade, dos sentimentos, da cultura de nosso povo. “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul de papel Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu”. Nos versos tão conhecidos de Toquinho e Vinicius tomamos contato com o caminhar que, por vezes, é possível entre a realidade subjetiva, objetiva e compartilhada. Entre nossa imaginação e nosso viver cotidiano. A poesia, as palavras, colocam-nos em contato com vários aspectos vitais da natureza humana. Um deles, tão marcante, sabemos: é a necessidade de ilusão, imaginação, sonhos e projetos, que marcam nosso viver com perspectivas de futuro. Essa é uma marca decisória quando focalizamos o valor à vida e a razão de viver. “Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida De uma América a outra eu consigo passar num segundo Giro um simples compasso eu faço o mundo Um menino caminha e caminhando chega num muro E ali logo em frente o futuro está”. Da ilusão à desilusão, do imaginário ao simbólico, do princípio do prazer ao princípio da realidade, há um longo percurso a ser percorrido no caminho rumo à maturidade. “Oh, Deus, permita que eu esteja vivo no momento de minha morte...”. Assim D. W. Winnicott, pediatra, psicanalista e pensador, escreveu quando tentava integrar questões de problemas de saúde, problemas cardíacos que o acompanharam nos últimos anos de sua vida. Frase do que seria sua autobiografia, mas à qual ele não deu continuidade... Ele escreveu sobre o que conjecturava acontecer quando estivesse morrendo: “Estou morto. O que aconteceu quando morri? Meu pedido tinha sido ouvido. Estava vivo no momento de morrer. Isso era tudo que eu havia pedido, e o que eu obtive”. Vida e morte: encontramos o paradoxo. Se estamos mais perto da morte, estamos mais perto da vida. É o que constatamos conforme vamos amadurecendo. Perdas ocorrem desde o início de nossas vidas, das mais corriqueiras até as mais marcantes e, por vezes, traumatizantes. Nesse caminho, a capacidade de transitar entre as realidades subjetiva e objetiva faz a diferença. Encontrar acontecimentos, sentimentos e pensamentos decorrentes. A capacidade para imaginar nos dá melhores condições de suportar a realidade em seus vários e diferentes aspectos. Nessa direção encontramos as palavras. Desde o inicio as palavras nos dão um entorno que pode ter o lugar de um colo, um gesto que nos sustenta e nos brinda com o sentimento de continuidade do existir. Essa foi e é uma contribuição trazida pela Psicologia, pela Psicanálise. A capacidade para a tristeza é uma conquista possível já no primeiro ano de vida. Encontramos outro paradoxo. O que poderia ser compreendido por pais como alvo de preocupação, nós, especialistas dessa área do conhecimento, afirmamos que é uma aquisição do desenvolvimento da criança, alvo de celebração. Tem o significado de a criança iniciar sua noção da responsabilidade pelo que lhe acontece e até pelo que ocorre com os outros, e pouco a pouco o caminho da constituição dos limites de sua responsabilidade. “Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo Que descolorirá E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo Que descolorirá Giro um simples compasso e num circulo eu faço o mundo Que descolorirá”. No início de nossas vidas temos a onipotência criativa. A magia da imaginação. Os contos de fadas, as histórias infantis, os mitos... Temos a crença que criamos o mundo e com essa crença de inclusão imaginária sentimos que a vida vale a pena ser vivida, e temos esperança de encontrar o que buscamos. Na magia do Carnaval, príncipes e princesas e tantos personagens desfilam na avenida com possibilidade de fazer parte dos mais diferentes enredos, e com essa experiência a possibilidade de fortalecer e nutrir a experiência e o gosto de viver.e está escrita de trás para frente: ESPELHO. 2Fundado em 1914, o time de futebol do Palmeiras, nos primórdios, chamava-se:Palestra Itália. 3Exéquias. Cerimônias ou honras fúnebres. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 4Melancolia.1. Estado mórbido de tristeza e depressão. 2. Tristeza, pesar. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 5Também conhecida como“boneca russa”, a matrioska é caracterizada por reunir uma série de bonecas de tamanhos variados. que são colocadas uma dentro das outras. De acordo com a cultura russa, as matrioskas simbolizam a ideia de maternidade,fertilidade,amor e amizade. Disponível em: . Acesso em: 5 nov. 2016. https://www.significados.com.br/matrioska%3e Capa Sumário Introdução Capítulo 1 – A Morte e o Luto para Crianças – Virar uma Estrela Capítulo 2 – A Morte e o Luto para Adolescentes – A Roda do Viver Capítulo 3 – A Morte para o Adulto – Encontrando Sinais Capítulo 4 –A Maior Dor do Mundo Capítulo 5 – A Morte e o Luto para o Idoso – A Última Volta Capítulo 6 – Outros Lutos Capítulo 7 – Um Tempo para Despedida Conclusão“É melhor ser alegre, que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz no coração Mas pra fazer um samba com beleza É preciso um bocado de tristeza Senão não se faz um samba não”. Mais uma vez os versos do poeta Vinicius de Moraes vislumbrando o valor da tristeza, conquista da integração que nos proporciona condição de maior criatividade no viver. É também nos primeiros anos de vida que podemos encontrar a capacidade para ficarmos sós. Outro paradoxo. Na presença de alguém, constituímos a condição de nos sentirmos acompanhados nas ausências e na solidão. “O bom samba é uma forma de oração Porque o samba é a tristeza que balança E a tristeza tem sempre uma esperança De um dia não ser mais triste não”. Trazer a morte para a nossa realidade do dia a dia nos aproxima de nossa vulnerabilidade, da fragilidade da condição humana, mas também nos aproxima de nossa força e vitalidade, da vontade que temos em viver. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Olhando por esse prisma, este livro é um rico presente. Pontes entre a vida e a morte, em diferentes idades e contextos. A tristeza que tem a esperança de encontrar a alegria. Os tons preto e branco que tem a esperança de encontrar o colorido. Diz o ditado popular que uma dor compartilhada dói menos. Acredito que essa é uma verdade, tantas vezes cantada em verso e prosa. Concordando com o poeta Vinicius de Moraes, a vida é a arte do encontro, apesar de tantos desencontros e perdas inevitáveis. Para finalizar, quero pedir emprestadas as palavras de Zé da Luz, em sua poesia ‘80 anos”: “80 anos de idade, saudade da meninice Tão longe da mocidade tão pertinho da velhice Feliz daquele que aguenta sem descansar na subida Ir do 1º aos 80 degrau da escada da vida Quase um século de existência Seguindo a estrada do bem Não me acusa a consciência ter feito mal a ninguém Desconhecendo a riqueza inimigo da vaidade Vivo na minha pobreza rico de felicidade Mesmo já na curva do caminho me considero feliz No conforto do carinho dos amigos que eu fiz Só uma coisa só uma coisa somente me confrange o coração É a saudade impertinente das bandas do meu sertão Se hoje já na velhice Sinto a esperança já morta Me lembro da meninice e a lembrança me conforta Coração não envelhece afirma um velho rifão Ama, sofre, adoece Mas é sempre coração Pois enquanto o tempo passa meu coração não se cansa De fazer com que eu faça traquinagem de criança Não me lastimo da sorte a velhice não me espanta Carro de boi lá no norte quanto mais velho mais canta E assim sempre cantando Vou a velhice iludindo SE VIM PRA VIDA CHORANDO SIGO PRA MORTE SORRINDO”. Profª Drª Ivonise Fernandes da Motta Profª do curso de graduação e pós graduação do Departamento de Psicologia Clínica IPUSP. Psicóloga clínica, psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. São Paulo, 22 de fevereiro de 2017. APRESENTAÇÃO Somos um grupo de profissionais que se envolve fundamentalmente com o perceber, sentir,compreender, falar,expressar,captar, ensinar...Em função da dinâmica desse trabalho que procura cuidar do viver precisamos estar sempre nos desenvolvendo, estudando: dentro e fora de nós, como são os seres humanos... Em um desses estudos fomos nos envolvendo e percebendo a grande necessidade de pais, professores, crianças, avós... enfim, de todos os viventes para enfrentar a etapa final da vida humana: o morrer. Estávamos estudando sobre o “Luto e Melancolia” (1917[1915]), texto do grande estudioso Sigmund Freud, quando tomadas pela percepção da importância desse tema para a atualidade, que tanta dificuldade tem em lidar com a tristeza, pensamos em conversar com pessoas que necessitam e querem refletir um pouco mais sobre o misterioso final de nossas vidas. Dessa maneira, muitas ideias foram surgindo. De modo geral, brotavam de experiências clínicas, acadêmicas e teóricas, mas todas com um profundo toque pessoal. A morte em nossas vivências... que queremos compartilhar com vocês! SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 – A MORTE E O LUTO PARA CRIANÇAS – VIRAR UMA ESTRELA GISELE GRESSLER 1.1 A MÚSICA QUE TOCA O CORAÇÃO GISELE GRESSLER 1.2 COMO NASCE UM FANTASMA APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE 1.3 O CHEIRINHO DO VOVÔ MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A MIRANDA 1.4 ONDE ESTÁ SEU PAI LEDA GOMES 1.5 UMA VOVÓ MISTERIOSA MARYROSE FERNANDES BOLGAR CAPÍTULO 2 – A MORTE E O LUTO PARA ADOLESCENTES – A RODA DO VIVER APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE 2.1 A RODA DO TEMPO DE HELENA APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE CAPÍTULO 3 – A MORTE PARA O ADULTO – ENCONTRANDO SINAIS GISELE GRESSLER 3.1 UM ABRAÇO PARA SEMPRE GISELE GRESSLER CAPÍTULO 4 – A MAIOR DOR DO MUNDO APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE 4.1 QUANDO O CÉU ENCONTRA O MAR GISELE GRESSLER CAPÍTULO 5 – A MORTE E O LUTO PARA O IDOSO – A ÚLTIMA VOLTA ALAIDE DOS S. OLIVEIRA PENAQUIO E MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A. MIRANDA 5.1 A VIDA PELAS VIOLETAS ALAIDE DOS S. OLIVEIRA PENAQUIO 5.2 UM QUINTAL PARA RECORDAR! APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE 5.3 TRICOTANDO A VIDA MARIA EMÍLIA MENEGUELLI A. MIRANDA CAPÍTULO 6 – OUTROS LUTOS 6.1 O LUTO PELA PÁTRIA MARYROSE FERNANDES BOLGAR 6.1.1 UM NOVO PAÍS PARA CARLA E RICARDO MARYROSE FERNANDES BOLGAR 6.2 O LUTO PELO BICHO DE ESTIMAÇÃO LEDA GOMES 6.2.1 A MENININHA E A CACHORRINHA LEDA GOMES 6.2.2 O OLHAR DE DIANA EM TODAS AS PASTORAS APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE CAPÍTULO 7 – UM TEMPO PARA DESPEDIDA APARECIDA MALANDRIN ANDRIATTE 7.1 TÃO MITO E TÃO VERDADE GISELE GRESSLER CONCLUSÃO REFERÊNCIAS AUTORAS INTRODUÇÃO Ao longo de vários anos de trabalho em Psicologia Clínica e Psicanálise nos deparamos com inúmeros casos de luto. Conjunturas de perdas por morte de: pais, filhos, irmãos, amigos e até animais de estimação. Há outras por afastamentos, abandonos ou demissões, como é o caso de quem vai morar em outro estado ou país, perde o emprego ou condição financeira. Se por um lado sabemos que as perdas fazem parte da condição humana, por outro vemos como é difícil enfrentar esses momentos. As pessoas, em sua individualidade, têm seu modo peculiar de enfrentar as experiências do viver, e assim presenciamos inúmeras ocasiões nas quais o luto não pode ser elaborado de forma adequada. Os equívocos mais frequentes envolvem: a negação do fato, a omissão e distorção dos afetos e o endeusamento da pessoa morta, tornando-se esta uma espécie de santa, ou um ser perseguidor... verdadeiro fantasma. A negação se dá quando não se pode falar de quem morreu, do que a pessoa gostava ou como era. Escondem-se todos os sinais da existência do indivíduo que partiu. Faz-se de conta que a pessoa nunca existiu. Na omissão e na distorção dos afetos, não é permitido falar dos sentimentos inerentes à situação de perda. Chorar? Só escondido. E quando percebido, não é justificado pela motivação real, o luto. E, por fim, o endeusamento da pessoa que faleceu, quando ela morta assume características de perfeição absoluta. Seus pertences são tratados como objetos sagrados, permanecendo intocados em um altar, numa verdadeira adoração. Ou, na situação oposta, quando quem morre vira um fantasma e há um temor constante de se falar dele, suas memórias não podem ser evocadas, pois é assustador retirá-lo do mundo do sobrenatural. Em nossos tempos, com tantas maneiras de se evitar o contato com a frustração – a troca do usado pelo novo, antes mesmo de se tornar velho, a vertiginosa substituição da tristeza, com sua profundidade por um tipo de divertimento exagerado – a aceitação real e profunda da morte, com a inevitabilidade da finitude humana, tem se tornado cada vez mais difícil. O homem tem evoluído muito nos últimos tempos em termos tecnológicos. Há 30 anos eram inimagináveis algumas invenções da pós-modernidade: internet, impressora 3D, smartphones... Na medicina, também temos avançado muito, com exames de imagem de alta precisão e medicações que tornaram o câncer e a AIDS não mais um decreto de morte iminente. Mas, apesar de tamanha evolução, as pessoas MORREM! Diantedessa constatação nos percebemos frágeis e impotentes para controlar o relógio do tempo vital. É difícil falar e pensar sobre o que nos espera sem aviso, previsão ou controle. Preferimos falar de saúde, beleza, alimentação saudável, esportes, dicas para se viver mais e melhor. Deixa-se a vida seguir sem se pensar no fim. E quando o inevitável acontece, o que temos percebido é uma abreviação do ritual de despedida, velórios rápidos ou inexistentes e um retorno acelerado à rotina. Os vestígios da morte são rapidamente apagados, os ritos abreviados e as expressões emocionais quase repudiadas... Para muitos, falar da perda produz tristeza. Será? Entendemos que a tristeza, nessas situações, é inerente ao fato. Falar poderá dar sentido ao que sentimos, preencher um vazio, explicar a dor e a saudade. Pior do que estar triste é estar triste sozinho, sem entender o que está acontecendo. A tristeza é uma rica expressão da experiência emocional humana e abafá-la é uma violência e pode adoecer o ser... Pensando em todas essas questões, propomos algumas estórias que trazem a ideia de que na vida participamos de uma engrenagem muito maior, que transcende a nossa existência e está sempre em movimento, como uma grande ciranda em que entramos e saímos, mas que nunca para de girar... CAPÍTULO 1 A MORTE E O LUTO PARA CRIANÇAS – VIRAR UMA ESTRELA Gisele Gressler Muitas vezes, quando morre alguém, principalmente para as crianças menores, não é explicado o que aconteceu. Pode-se pensar que a criança não vai entender ou que ficará muito triste com a notícia. Será? Uma criança que costuma buscar o amparo do pai ficará desolada por perdê-lo, mas também extremamente confusa se não souber o motivo. A ausência de explicação só amplia o sofrimento, com grandes doses de confusão. Nesses casos, perdemos a oportunidade de explicar às crianças que a morte faz parte da vida, que ela acontece a todo ser vivo e que, apesar de triste, será vivida na companhia das pessoas que ama. A infância é o período da vida em que mais recebemos apoio da família. Portanto, devemos aproveitar essa fase para preparar o indivíduo para lidar com a finitude, que pode acontecer a qualquer momento. Não é verdade que a morte espera que um indivíduo cresça para se manifestar. Algum falecimento pode acontecer enquanto se é criança, e isso é inevitável... Às vezes é dito para a criança que a pessoa “virou uma estrelinha”. Tal comentário atende parcialmente a necessidade de materializar alguém que não é mais visível. As crianças que têm um pensamento concreto sentem-se mais tranquilas com a explicação, que tenta localizar geograficamente quem não está mais presente. O conceito de morte é abstrato e só poderá ser efetivamente compreendido na adolescência. Pensamos que uma maneira mais completa de falar sobre a morte na infância é localizar a pessoa que morreu não no céu distante, mas dentro do coração da criança. Estabelecendo contato com características, hábitos e atitudes, podemos tornar a pessoa morta, viva para criança; presente, apesar de ausente. Mostrar fotos, vídeos, contar histórias, hábitos e expressões nos aproximam de quem não podemos mais tocar, mas podemos sentir vivos dentro de nós. Todas as memórias das perdas que uma pessoa enfrenta estarão presentes dentro dela até o dia de sua morte, quando ela também estará viva na memória dos que ficarem. A isso chamamos SAUDADE. 1.1 A MÚSICA QUE TOCA O CORAÇÃO Gisele Gressler Era uma vez uma formiga chamada Juju. Ela era uma formiga muito feliz e vivia numa família com seu pai, sua mãe, e um irmão mais velho, o Nino. Desde cedo aprendeu que o trabalho era muito importante, e mesmo criança gostava de ajudar nos cuidados da casa. Ainda que não fossem como a família das cigarras, que se divertiam cantando por muito tempo, os pais de Juju muitas vezes interrompiam o trabalho para ouvir o canto dos bem-te-vis que moravam no mesmo quintal. Eram pausas rápidas, mas muito prazeirosas. Juju via nos olhos de seu pai um brilho diferente. Ele ficava emocionado com a música dos vizinhos pássaros. Um dia, quando Juju cortava um pedaço verdinho de alface da horta ao lado do formigueiro, Nino chegou ofegante e falou: — Juju, vamos depressa. Mamãe está chamando. Os dois foram correndo, mas já era tarde demais... Papai Juca havia sido atropelado pela roda do carrinho de mão de seu Tomé, dono de todas as terras que cercavam o formigueiro. Nino perguntou: — Mas mamãe, como isso aconteceu? Papai sempre desviou desse carrinho... — Sim meu filho... É verdade. Só que com o tempo a gente perde a agilidade, vai mais devagar... E ele não conseguiu escapar – explicou a mãe em lágrimas aos filhos. Nos dias que se seguiram, Juju não tinha vontade de se levantar para trabalhar. A vida parecia ter perdido o sentido. Ela se perguntava: “Por que trabalhar, construir, se vamos todos morrer?”. Apesar de tanta tristeza e dúvida, aos poucos retomou sua rotina e voltou a cuidar da casa e de seu trabalho. Era preciso reunir alimentos, pois o inverno se aproximava. Em uma manhã, no jardim, Juju ouviu um som que chamou sua atenção. Inicialmente, não se lembrou por que aquela música a havia feito parar de cortar as folhas que preparava para o almoço. De repente, veio na sua mente a cena de seu pai emocionado e feliz ao ouvir o som do bem-te-vi. Percebeu que era aquela mesma música que então ouvia, e naquele momento experimentou uma sensação boa, que preencheu um vazio que sentia desde a hora em que soubera da morte de seu pai. Agora ela sentia que não estava sozinha. Sentia que seu pai estava com ela, pela música, naquele momento de emoção. Ouvir o bem-te-vi a fez voltar a sorrir. 1.2 COMO NASCE UM FANTASMA Aparecida Malandrin Andriatte Clarinha é filha única de um casal amoroso e trabalhador. Um dia, algo começa a mudar e o pai de Clarinha vai ficando amuado e sem vontade de brincar. Os dias passam e o papai na cama a descansar. Clarinha vê a mãe triste e o pai sem trabalhar... Até que certa noite, levam Clarinha para casa da vovó... Lá ela fica sem saber da mamãe e do papai. Para ela foi um longo tempo... Um ano ou mais. Mas, na verdade, passaram-se poucos dias... Numa manhã, a mãe de Clarinha surge abatida e diz para filha, no meio de um abraço, que o papai morava no céu... Elas voltam para casa e Clarinha passa a subir e descer as escadas... Agitada, não para de pular... Pula os degraus querendo alcançar o céu! Mas ninguém entende o que pode ser. Os adultos acreditam que as crianças não conseguem entender e, portanto, de nada vale falar sobre o morrer. Isso é um engano, pois criança sente saudade e esse mistério todo, ela tenta compreender... A tristeza na criança pode virar agitação! Em Clarinha virou o sobe e desce na escada. Ela passou a ter pesadelos e sonhou com o João e o pé de feijão; que ambos sobem ao céu para encontrar o Ogro Gigante... Acorda desesperada... A mamãe pergunta: “Que pesadelo foi esse?”. E Clarinha, assustada, responde: “Vi um monstro... Um verdadeiro fantasma!”. Os fantasmas são os sentimentos confusos e inexplicáveis que Clarinha tem que enfrentar por não saber exatamente o que fazer com a tristeza e a saudade do papai. Muito dessa angústia é a consequência de se omitir a verdade, que a criança intui e pode captar. A morte vira fantasma se a gente não pode falar ou pensar... Não se pode elaborar e, então, o medo de fantasma passa a dominar... Como podemos ajudar Clarinha a enfrentar tal situação? Você tem uma sugestão? Desenhe ou escreva no retângulo abaixo como ajudar Clarinha. 1.3 O CHEIRINHO DO VOVÔ Maria Emília Meneguelli A. Miranda Moranguinho era uma garotinha sensível e bem curiosa. Tinha uma ligação especial com seu avô Miguel. Quando o vovô, que morava bem longe, ia passar alguns dias na casa dela, inventavam de passear... E saíam caminhando pela cidade, fazendo amigos. Quando o vovô Miguel ia embora para sua cidade, Moranguinho chamava sua mãe para fazer os caminhos que ela fazia com seu avô. Nessespasseios, cumprimentava pessoas que a sua mãe nem tinha amizade: o pipoqueiro, o doceiro, o jornaleiro e a Sra. Maricota, dona das verduras. A mãe de Moranguinho estranhava tantas amizades, pois não tinha tanta intimidade com toda aquela gente, e então perguntava: “Como você conhece tanta gente?”. E Moranguinho logo dizia, num tom de segredo entre ela e o vovô: “São nossos amigos, meus e de meu avô”, e concluía com uma piscadinha marota, como quando estava com seu vovô. Foi um jeito que Moranguinho arrumou de se sentir muito, muito mais perto do vovô. Encurtava distâncias pela familiaridade que estabelecia com os amigos em comum. Sentia muita falta quando o vovô ia embora e seu esconderijo era debaixo da escada, brincando de casinha... trazia seu vovô. Os anos se passaram... e um dia o vovô morreu. Que saudade doída causava a ausência do vô! Foi, então, que Moranguinho arrumou um jeito de acalmar seu coração: ao chegar à casa da vovó, corria em disparada para ficar pertinho da cama do casal. Cheirava que cheirava o cantinho em que o vovô passara seus últimos dias... E lá, num cantinho da cama, encontrava o cheirinho do querido vovô Miguel. E, assim, sossegava seu coração. A mãe de Moranguinho percebeu alguma relação e perguntou- lhe: “O que está fazendo aí, filha?”. Em meio à surpresa e emoção, de pronto ela respondeu: “Estou pertinho do vovô!”. “Como assim?”, perguntou a mamãe, já tomada de emoção. Moranguinho, decidida, respondeu: “O vovô morreu, mas posso ficar pertinho dele quando eu sentir o cheiro dele por aqui...”. Acredito, sim, que a saudade é o amor que fica perfumando nossas lembranças! 1.4 ONDE ESTÁ SEU PAI? Leda Gomes Essa história se passou há muito tempo e é verdadeira. O pai de Laura teve câncer, e foi piorando, piorando, até que morreu, quando tinha 63 anos. Ele morreu em casa, cercado pelos seus, e descansou. Quando, por fim, fez silêncio, numa noite, por volta de meia-noite, ele faleceu. E todos ficaram em paz. Moravam num sobrado e ele ficava em seu quarto, na parte de cima da casa. Ele foi ficando cada vez mais magro, sem cabelo; ele estava realmente impressionante e tinha muita dor, e a mãe de Márcia não deixava que as crianças subissem. Passado mais ou menos um mês de sua morte, Laura foi à casa de sua prima, Élida, que tinha três enteados e um filho, hoje adultos. Mas naquela ocasião eram todos crianças. A mais nova das enteadas, Leia, devia ter uns quatro anos. Um pouco depois que Laura estava na casa da prima, ela teve com Leia uma conversa muito interessante. Leia chegou perto de Laura e disse: “A Aninha (uma gatinha) morreu. você sabia?”. Laura respondeu: “Sim, eu fiquei sabendo”. Leia: “Quer ver onde ela está?”. Laura: “Ah, quero sim!”. Leia, então, pegou Laura pela mão e levou-a até o quintal. Aquela casa tinha um quintal imenso, cheio de árvores. Em frente a uma determinada árvore, Leia parou, e apontando para o chão, disse: “A Aninha está aqui, nesta árvore”. Laura: “Ela está aqui, tá bem”. Leia: “Como ela está agora?”. Laura: “Veja, ela está na terra. Daqui a pouco os pelos vão cair e os bichinhos que tem na terra vão, aos pouquinhos, fazer com que a Aninha suma e se misture com a terra”. E, olhando fixo na direção de Laura, Leia disparou: “E o seu pai?”. E Laura, subitamente entendendo o motivo da visita ao “túmulo” da Aninha, respondeu: “Meu pai está num lugar chamado cemitério. Eles colocam o corpo numa caixa bem grande, chamada caixão, enterram, e depois de algum tempo acontece como com a Aninha, o corpo vai desaparecer”. Leia olhou bem para Laura, parecendo satisfeita, e disse: “Tá bom”. E se foi, correndo, brincar pelo quintal. Não sei se Leia se lembra dessa conversa. O fato é que Laura nunca mais a esqueceu. E ela significa para Laura o quanto os adultos devem ser verdadeiros e simples em suas respostas para as perguntas das crianças. Da mesma forma que são verdadeiras e simples suas perguntas. 1.5 UMA VOVÓ MISTERIOSA Maryrose Fernandes Bolgar Para as vovós biológicas e de coração Anabelle nasceu no ano seguinte do falecimento da sua avó materna. Ela recebeu esse nome porque é a combinação do nome de suas duas avós: uma chamava-se Ana e a outra, Isabel. A mãe dela dizia que seu nascimento trouxe a alegria de volta e veio mostrar para a família que a vida continuava. O vovô de Anabelle resolveu, então, casar-se novamente, assim teria uma nova companheira e a menina poderia ter uma vovó, como suas irmãs haviam tido. Sendo assim, a vovó que ela conheceu foi a segunda esposa de seu avô. Anabelle gostava muito da vovó. Todas as vezes que ela ia visitá- la, a vovó preparava macarrão feito em casa e torta de morango, porque sabia que a menina gostava. Ela também levava a menina para viajar para conhecer suas amigas e brincar com os netos delas. Anabelle achava estranho que às vezes sua mãe ficava muito triste. Ela tirava uma blusa verde do guarda-roupa, abraçava-a e chorava por muito tempo. A menina ficava preocupada: “Será que tinha feito alguma coisa que havia deixado sua mãe triste?”, porque as crianças às vezes pensam que são responsáveis pela felicidade dos pais. Também, sua mãe não parecia muito feliz quando ia visitar a vovó. Certo dia, quando Anabelle já estava com quase sete anos, resolveu ver os álbuns de fotos da família. Percebeu, então, que em várias fotos aparecia uma senhora de cabelo branco, com saia azul marinho e camisa branca, ao lado da sua mãe e do avô. Correu perguntar para sua mãe e irmãs quem era aquela senhora que aparecia em quase todas as fotos, antes do seu nascimento. Para sua surpresa, sua mãe respondeu que era a mãe dela, que tinha morrido antes de Anabelle nascer. A menina ficou muito chocada, chorou o dia inteiro, inconformada porque sua família não havia contado a verdade para ela. Também ficou preocupada: “Será que conseguiria continuar a gostar da sua vovó do mesmo jeito, depois de saber que ela era sua vovó substituta?”. Quem trouxe a solução para o dilema de Anabelle foi seu avô. Naquele dia, quando o vovô foi visitá-la, conversou com ela e disse que compreendia a sua tristeza, por não ter conhecido sua avó, mas que a família não havia contado porque achavam que ela era muito pequena para saber a verdade. E disse que a partir daquele dia, contaria para Anabelle tudo o que ela gostaria de saber sobre a vovó que não havia conhecido. A menina perguntou ao vovô se conseguiria gostar da vovó como sempre havia gostado, agora que sabia a verdade. O vovô respondeu que tinha certeza de que sim, pois Anabelle era amorosa e sempre apreciara estar com a vovó. Desse dia em diante, a menina passou a fazer muitas perguntas sobre a vovó que não conhecera. Aos poucos, foi construindo a imagem da vovó na sua mente, apreciar a pessoa acolhedora que ela fora e se orgulhar por ter recebido o nome dela. Também ficou aliviada em perceber que havia continuado a gostar do mesmo jeito da sua vovó substituta, que sempre havia sido amorosa com ela. CAPÍTULO 2 A MORTE E O LUTO PARA ADOLESCENTES – A RODA DO VIVER Aparecida Malandrin Andriatte Os mistérios da vida se encontram envolvidos nos véus dos séculos que cada geração precisa desvendar. Na natureza tudo se transforma e esse processo quase sempre é assustador. Como uma roda viva a girar, sem explicar essa dor... Quando uma criança vai se desvestindo da infância para se cobrir com a adolescência fica particularmente assustada. A explosão hormonal, as desilusões inevitáveis e o contato cada dia mais realístico com as perdas de pessoas amadas: reais ou internalizadas, fazem-nas estremecer. Nem sempre podem ser acolhidas nesses momentos, pois para essa escuta é preciso ter uma orelha de ouvir silêncios e “malcriações” como manifestações profundas de angústia e dor! O adulto que pode ouvir, olhar, acolher e acalmar... Entra na roda do tempo e dá um sentido ao girar, aliviando o sofrimento, pois nesse momento um vínculo novo se faz. Um vínculo de tecer juntos... O vínculo do con-fiar... Que traz como resultado um mundomais humano assentado na história viva, feita da experiência de amar! 2.1 A RODA DO TEMPO DE HELENA Aparecida Malandrin Andriatte O outono desperta em uma manhã preguiçosa... Helena acorda e se vê meio enjoada... Não daqueles enjôos de estômago que acabam em dor de barriga. Mas um enjoo por dentro... enjoo por tudo. E isso ela nunca sentira, porém já ouvira falar... Helena não quer ir para a escola e não quer brincar. Não quer falar de games e internet... e nem com sua amiga no Face entrar! Está sofrendo de um mal e seu mal é enjoar. Com muito esforço deixa aquele estado que abocanha seu corpo: entre a cama e o sonho – o chão e a realidade. Põe-se de pé e tudo parece rodar! Roda que roda e no seu espelho seu rosto encara. Surpreende- se ao ver pipocas estourar... Ficou pintada de espinhas e em sua cabeça algo começa a buzinar. Quem é essa daí? Será Helena? É ou não é? E tudo aquilo passa a assustar... Quer gritar, quer pedir, quer falar... Mas só consegue mesmo é enjoar! Lembra-se, enfim, de chamar por alguém, mas alguém não responde. Percebe que sozinha tem que lidar com a enjoação. Que nojo! Que situação! Respira e do espelho se afasta. Espelhos não são bons em certas ocasiões... Lembra-se da Branca de Neve, que poucas e boas passa por causa do tal OLHEPSE1 Senta-se na cama e segura sua cabeça, que sente Ocaaaa-Ocaaa-Ocaaa a rodar... Ouve um eco lá do fundo do seu mundo a falar: “Helena, o tempo passou e você está a mudar!”. Mudar? Olhou de si para si e viu uma pernona compriiida e um pé bem grandão! Que esquisito! Eu não sei quem são esses, não! Onde estão os meus pés? Minhas mãos? Que sensação! Pequeno, grandão, pareço camaleão... ... E meu coração? Ah! Esse bate apertado e com uma estranha emoção, num incômodo grandão! Qual é? Para escutar... É arrastadaaa e encompridadaaada... Melosaaa e melada de fazer dó... É tristeza bem triste por sua avó. O que tens meu coração? Lembra-te! Helena, morreu a nossa vovó... Um soluço trouxe o rosto da avó, que no dia anterior falecera. Mas Helena não sabia nada... nada de lidar com o morrer. Só lembrava que seus pais achavam melhor ela não ver a vozinha pelo sopro da morte imobilizada. Mas como vou viver sem me despedir da minha vovozinha? Coitada! Helena, desapontada, fica tão arrasada por não poder participar das cerimônias e sua avó enterrar... Seus pais querem que ela seja poupada! Mas impedir para proteger? Não ajuda a crescer! Pensa em sua avó, que lhe contava estórias, e agora tudo está a mudar... Tempos difíceis aqueles! Quantas transformações... que sente como malvadas! De repente, o papai deixa de ser o super-herói, a mamãe sai... E quando volta, está amadastrada e ela. Helena, toda desengonçada! Vai se dando conta de que tudo, tudo muda, e está é enlutada. Sente que seu mundo desaba. Percebe o que nunca sonhara e que agora deve aceitar: que a natureza se modifica e isso é inevitável no viver... E assim se dá a transformação: o feto vira bebê; o bebê, criança, a criança, em Helena; Helena, mamãe; mamãe, em vovó; quando, então, a história termina. Termina para os olhos e começa para o mistério... Na engrenagem da vida, a roda gira e transfigura os nossos dias... E o que Helena quer é impossível acontecer... Quer porque quer deixar de crescer... Quer, também, que sua infância dure a eternidade... E não concebe que seu corpo, seus pais e seu mundo possa perder! Como podemos ajudar Helena a pensar sobre essa nova vida que ela está a rejeitar? O tempo possui um segredo que acalma o nosso viver... O segredo do tempo é que tudo nasce, cresce, vive e morre... Numa roda que não para de girar... Essa roda é infinita e não se cansa de fazer e refazer o “Belo Humano”, e sempre, sempre, sobreviver! CAPÍTULO 3 A MORTE PARA O ADULTO – ENCONTRANDO SINAIS Gisele Gressler Uma pessoa com quem convivemos por muito tempo marca nossa vida de muitas maneiras. São impressões registradas, mas nem sempre valorizadas. Por exemplo, as pessoas têm um cheiro característico que muitas vezes passa despercebido, mas quando elas morrem fica impregnado em seus objetos pessoais. Costumam usar expressões, ditados, histórias, que são repetidas ao longo de uma vida e que, ao ouvirmos, lembramo-nos daquela pessoa. São suas marcas. Isso também acontece com comidas, cores, músicas, gestos, olhares, ideias... Quantas coisas não estão contidas na singularidade de cada um de nós? Conseguir acessar esse repertório de memórias preenche parcialmente a falta que sentimos da pessoa amada, fisicamente perdida, mas presente a todo o momento em que podemos encontrar os sinais da sua existência. 3.1 UM ABRAÇO PARA SEMPRE Gisele Gressler Diante da tela de seu computador, Cristina contempla a foto enviada por seu irmão. É o registro de um último abraço entre ela e o pai, falecido há dois anos. Naturalmente vêm a dor e a saudade, a vontade de reviver aquele momento pelo menos mais uma vez. Mas a vida segue, o telefone toca, é hora do jantar. Passado o tempo necessário para organizar a bagunça que fazemos para preparar uma refeição, chega o filho mais novo, de seis anos, para mostrar a lição de casa. A tarefa era responder duas perguntas. A primeira: “Escreva o que mais gosta de fazer com seus amigos”. Ele pergunta: — Irmão é amigo, né, mãe? — Sim filho. — Então, tá certo. Ele entrega a folha para a mãe. No papel, com letras riscadas fortemente, lê-se: “Gosto de jogar videogame com meu irmão”. E a segunda pergunta: “O que você gosta de fazer sem os amigos?”. E a resposta: “Abraçar a minha mãe!”. Com lágrimas nos olhos, Cristina abraça apertado seu filho, que ainda não compreende tanta emoção, pois eles repetem o gesto de amor apreendido muitos anos atrás. Um abraço entre mãe e filho contém os abraços dados entre a mãe e seu pai, sua mãe, entre os avós e seus pais, e por tantas gerações quanto podemos retroceder. A nossa presença e as nossas atitudes marcam a trajetória de toda nossa descendência. Eterno se torna o homem que ensina por intermédio de seus atos, construindo, assim, uma linhagem que repete e perpetua seus gestos de amor. CAPÍTULO 4 A MAIOR DOR DO MUNDO Aparecida Malandrin Andriatte Pode-se enterrar uma filha, sim. Ela já o fizera antes. Mas não se regressa nunca dessa despedida. Ninguém pede mais a atenção de uma mãe que um filho morto. (Mia Couto. 2012; p. 17) Para Bruno, Gilmar e Tiago. É impossível quantificar qual seria a maior dor que um ser humano precisa sentir, pois é a sensibilidade de cada pessoa que irá determinar... Contudo, existe um consenso de que a maior dor emocional é a dor pela perda de um filho, pois ela seria antinatural... O ciclo do viver não cumpriu todas as etapas. Um bebê: os braços vazios da mãe, que não tem mais o que segurar... Uma criança: os risos congelados pela dor que lacram o rosto da mãe na imobilidade que nunca esquecerá completamente... Um jovem: os gritos de realização eternamente castrados. Os netos que não virão – uma família ceifada e uma geração interrompida... Qual o consolo? Talvez... lembrar que a vida não é contada em tempo... mas em profundidade das experiências emocionais. Existir com o outro a cada momento no intervalo que a vida é... o mais intensamente possível. Esse intervalo pode ser brevíssimo ou longo, não se sabe... se demais! O que conta é a qualidade do con-viver... O consolo pode vir pela consciência de que a morte faz parte de um processo natural: não existir – existir – não existir... que nós todos temos que enfrentar! 4.1 QUANDO O CÉU ENCONTRA O MAR Gisele Gressler Algumas situações não deveriam acontecer na vida das pessoas; são tristes, muito tristes. Esta história fala de uma delas e se passou há muitos anos. Gilmar, o menino que tem mar no nome e a cor do céu em dias bons nos olhos, é o segundo filho de um jovem casal. Tem em seu irmão dois anos mais velho um herói a ser imitado, como costuma acontecer aos primogênitos. Sua família vive de forma modesta, mas cultiva muitos sonhos de sucessoe prosperidade por meio do trabalho. O menino cresce e se desenvolve bem, apesar de alguns episódios de náuseas e vômitos. Vai à escola, tem amigos e brinca numa casinha construída na árvore, no quintal da casa da família. Ali, ele e o irmão passam horas brincando, imaginando um mundo de fantasias e heróis, como é comum às crianças de oito e dez anos. Com o passar do tempo, os sintomas de Gilmar tornam-se mais intensos. Ele apresenta cansaço e perda de peso. Seus pais, preocupados, esgotam as possibilidades de investigação médica oferecidas na cidade onde moram. Então, ouvem o que na época era uma sentença de morte: câncer, Gilmar tem um tumor no cerebelo. É necessário viajar para uma cidade maior, com outras possibilidades, para o tratamento. A família carece de recursos financeiros, mas conservam muitas esperanças. Então contam com a ajuda de amigos e parentes. A devotada mãe e Gilmar partem para uma nova fase, enquanto o irmão e o pai permanecem, tentando seguir com a rotina. Seguiram-se longos e poucos meses de quimioterapia sem sucesso. Gilmar falece pouco antes de completar nove anos de idade, dois meses antes do Natal, quando imaginava ganhar um brinquedo famoso entre os meninos na época, o Forte Apache. Seu irmão seguiu frequentando diariamente a casa na árvore. Pode ser que lá, no alto, próximo ao céu, ele sentisse que estava mais perto do irmão. Algum tempo depois sua família levou a um orfanato o sonhado Forte Apache, e lá se emocionaram com meninos brincando encantados. Não era Gilmar, mas era seu sonho realizado e compartilhado com outras crianças tão sonhadoras quanto ele. CAPÍTULO 5 A MORTE E O LUTO PARA O IDOSO – A ÚLTIMA VOLTA Alaide dos S. Oliveira Penaquio e Maria Emília Meneguelli A. Miranda “Todas as coisas têm o seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o tempo que a cada uma foi prescrito. Há tempo de nascer, e tempo de morrer. Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há tempo de edificar, e tempo de destruir.” Eclesiastes (3, 1-3) O morrer não tem idade, não tem época e nos deparamos com um vazio que parece invadir o nosso peito. Quando temos tempo para nos despedirmos das pessoas que amamos, não podemos evitar a dor. O fim é sempre um processo muito doloroso. Não podemos mudar esse percurso, mas podemos dar sentido a todo esse sofrimento. Carpinejar (2014) diz: “Na dor encontramos uma honestidade que não há em nenhum outro sentimento”. Sabemos que essa dor é necessária, mas muitas vezes queremos nos isolar, chorar em nosso canto e até mesmo nem entrar em contato com as coisas que nos lembrem daquela pessoa tão querida. Mas ao nos lembrarmos dos conhecimentos e atitudes a serem seguidas ou quando tocamos seus objetos, olhamos fotos, também percebemos que é uma maneira de estarmos juntos. O sofrimento da pessoa que ora está se separando de nós é também uma forma de amor por nós, daí passamos a querer a separação e entendemos que a dor sem sofrimento é saudade, e saudade é o amor que fica para sempre revivendo dentro de nós. Por mais angustiante que seja uma perda, temos a capacidade de nos regenerar e seguir em frente. Quando já saboreamos o fruto, o que de melhor podemos fazer é aproveitar sua semente e replantá-la. É a dor que enterramos, mas sem sofrimento, pois acreditamos que vai brotar. Quando perdemos alguém que completou seu ciclo de vida, construiu sua história, seu círculo de amigos, sua família, achamos que é mais fácil lidar com essa finitude. Será que é verdade? São tantas lembranças, conversas, sonhos e realizações. Quantos passeios, brigas e abraços? Depois, tudo fica por conta da saudade... Nesse momento, precisamos aprender a fazer as pazes com a tristeza e a dor. Esse tempo passou e não volta mais. A vida é feita de perdas e ganhos. Quando estamos longe da pessoa querida, tudo fica triste, pois as experiências sem a pessoa que amamos se tornam saudade. 5.1 A VIDA PELAS VIOLETAS Alaide dos S. Oliveira Penaquio Então a vida nos reserva muitas passagens... de idas e vindas e de perdas e ganhos. Havia uma garota chamada Maria e que era muito feliz. Possuía uma família carinhosa, cuidadosa e era muito mimada pelos pais. E assim ela cresceu, estudou, fez amigos e foi construir sua vida, sua história e sua família. Os seus pais sempre foram prestativos e a apoiavam em todas as coisas que ela queria fazer. Seu pai gostava muito de fazer comida. Uma delícia! Fazia cada prato tão gostoso... E ele gostava de reunir a família e os amigos. Nessas reuniões, acabava também alimentando a alma deles. Sua mãe não gostava de cozinhar, mas adorava cuidar de plantas, e na casa tinha muitas violetas, que eram cuidadas com amor e carinho. As violetas recepcionavam as pessoas com sua beleza e cor. E assim foram passando os anos e Maria já era uma mulher. Num certo momento, seu pai foi fazer uns exames de rotina e apareceram algumas alterações. A partir desse momento ele começou a não se sentir bem, não queria mais cozinhar, conversar, foi ficando sem ânimo, foi se isolando e acabou morrendo. A família ficou sem chão, pois não sabia como lidar com todo esse vazio. Que tristeza! Não sabiam como viver sem a pessoa que os supria de tanto amor e carinho. Foram se acomodando, organizando-se, falando muito sobre ele, e tiveram que fazer as pazes com a dor e a solidão. Enquanto essa dor ainda os acompanhava, a mãe de Maria teve uma dor no peito muito forte, foram correndo para o médico, mas a mamãe estava tão triste que deixou a vida ir. Nossa! A vida parecia que tinha acabado! Não se via sentido em mais nada... Mas Maria tinha uma filha de três anos e precisava encontrar forças para continuar. Procurou lembrar de todos os seus ensinamentos para poder ser um pouco do que eles representaram para sua vida. Às vezes, pensava que iria enlouquecer com a falta que faziam. Como encontrar um novo sentido para a vida? Sua mãe havia deixado muitas violetas. O tempo foi passando e Maria continuou cuidando daquelas plantinhas. E as violetas iam se multiplicando, na quantidade, nos tamanhos e nas cores. Algumas murchavam, outras morriam, mas todos que viam ficavam encantados com a beleza das violetas. Maria acabou criando uma área, com todos os tipos de violetas. E sabe de uma coisa? Ela e a filha plantaram, replantaram, adubaram... E as violetas iam crescendo... E elas acabaram sendo as cultivadoras de violetas. E a sua filha mexendo na terra... Quanto aprendizado! Essa foi uma maneira que Maria encontrou para poder continuar a vida. Não se consegue mudar esse percurso, entretanto, é possível dar sentido a todo esse sofrimento, fazendo com as violetas da vovó um jardim que alegra o viver. 5.2 UM QUINTAL PARA RECORDAR! Aparecida Malandrin Andriatte Seu Nestor completou oitenta e cinco anos e cuida de seu mágico quintal há muito tempo... Na frente da casa, seu colorido jardim, com majestosas rosas, rechonchudas dálias, perfumadas camélias e instáveis bem-me-quer-mal-me-quer, e margaridas... Esse singelo jardim lembra a seu Nestor sobre sua vida no interior, quando ajudava seu pai na colheita do café... No apertado corredor de sua casa – estratégica ligação do jardim com o pomar... vasos de chão e de ar, com antúrios e samambaias. Umas folhagens sem flor, como fitas verdes e brancas, em homenagem ao Palestra2. Mas o que realmente o encanta é o fundo do quintal e que, para ele, é o mais rico dos pomares que poderia formar... Na divisa com o vizinho, Seu Irineu... duas ou três vistosas bananeiras, uma orgulhosa goiabeira, onde os bem-te-vis vêm cantar... E vêm também os sanhaços e os sabiás! E o canto do passado é entoado sem parar... Seu Nestor, como um grande capitão, passa em revista sua horta de cebolinhas, salsinhas, couves e rabanetes. A hortelã é que está custando a viçar. Sua rotina é intensa e rica em ocupações... Ele se alimenta todos os dias nesse pomar dos sentidos... Experimenta cores, sabores e aromas que são os presentes que colhe como seu labor... E cuida de muitos seres: da joaninha até seu netinho Paulino, que sempre vem lhe visitar... Seu Nestor zela por tudo a sua volta, como sempre cuidou da vida e do seu viver... Todavia... em uma manhã de primavera, as flores despertaram, mas seu Nestor... não acordou! Encantou no sono que a todos envolve... Contudo, seu quintal continuou na rotina habitual. Quando o Outono chegou e seu neto foi colher as laranjas do quintal, uma doce lágrima rolou... Entretanto, ele logo se consolou e pôde perceber que o vovô continuava vivendo enquanto vivesse aquele quintal! E os quintais que ele tinha plantado dentro de todas as pessoas que ele, com seu amor, haviam cultivado! E nesse quintal de dentro era sempre época de doces laranjas e doces lembranças... 5.3 TRICOTANDO A VIDA Maria Emília Meneguelli A. Miranda Nasce uma menina e em seus dias ela vai tricotando, tricotando... Em sua infância, buscava compensar a falta de sua mãe que já havia morrido... Usava sua boa memória e criatividade para tecer com os fios da esperança e da generosidade suas blusas e suas amizades! Em sua estrutura lépida e franzina, era rápida e se dispunha a cuidar de crianças de uma creche, e com elas brincava e pulava corda para despistar a tristeza, aproveitando tudo o que é dado pela natureza. Um dia ela foi para a escola para aprender macramê... Porém, incomodava-se com o tempo ocioso que a professora deixava, nos quais alguns teciam “fuxicos”. Então resolveu ensinar tricô enquanto esperava... Assim, foi contratada para ser professora ao invés de receber aulas. Ela não concebia a perda de tempo. Aproveitava todo o momento para estreitar suas relações, tricotando carinho com os filhos já crescidos e os netos encaminhados, fazendo cafuné na neta enquanto descansavam... Tinha uma grande preocupação de passar suas receitas de cozinha e artesanato: do doce de leite ao licor de laranja; do ponto arroz às montagens em patchwork. Queria perpetuar suas descobertas e sabedorias... Percebia que o fim se aproximava e, então, buscava abraçar a todos, transmitindo o passado e as tradições de um jeito doce e delicado, com as cores/emoções que teciam seus tricôs/afetos. Durante o ciclo de sua vida não faltaram empenho e responsabilidade. Ela fez tudo com intensidade, buscava suprir suas carências com contato humano, fraterno... de verdade! Tivemos tempo de nos despedir de vovó... e seu padecimento antes de morrer parece ter sido um jeito de nos ajudar a consentir que partisse. Seria muito egoísmo ficar com ela sofrendo tanto... Aceitamos que vovó seguisse, pois ela nunca podia perder seu tempo. Cumpriu todo seu ciclo do viver e não queria dar trabalho! Uma vida plena e produtiva, com frutos de gentes e artes... Partiu para a eternidade, onde todos nós vamos tecer um dia... Hoje sentimos dor, mas ela é necessária nas despedidas. A dor colocada em palavras ajuda a enfrentar esse mistério da existência. Desse modo se deu o arremate de uma vida! Viver é como tricotar, bordar, costurar... Quando arrematar é o fim, é hora de ir para outro lugar. CAPÍTULO 6 OUTROS LUTOS 6.1 O LUTO PELA PÁTRIA Maryrose Fernandes Bolgar Segundo o Ministério das Relações Exteriores, baseado em informações fornecidas pelas embaixadas e consulados brasileiros, é estimado que, aproximadamente, de dois a três milhões de brasileiros estavam residindo em outros países entre 2008 e 2011. (ASSIS, 2014, p. 36), O número, amplamente divulgado por meios de comunicação e hoje atualizado em 2.547.079 de pessoas, segundo o Itamaraty, chama a atenção para um fenômeno inédito no Brasil. Os brasileiros passam a se somar a milhões de outros imigrantes que igualmente apostaram na imigração para os Estados Unidos como forma de alterar aspectos importantes de suas vidas. Mas, diferentemente dos imigrantes que até meados do século XX lotavam os navios aportados na Europa e Ásia em direção ao Novo Continente, os imigrantes atualmente conseguem aterrizar nos Estados Unidos depois de algumas horas de vôo e suas cartas não demoram meses até chegar às pequenas cidades de onde partiram. Assim que desembarcam é possível chamar ao telefone alguém de sua terra natal, da mesma forma que é possível obter notícias diárias sobre seu país, através do computador e aparelho de TV”. (BRAGA, 1999, p. 21). Buscar mecanismos que preparem as crianças para a mudança se constitui uma necessidade, para que imigrar não se torne uma experiência traumática para elas. Também é importante instrumentalizá-las para preservarem o contato com o país de origem, pois se sabe que os processos de imigração mais bem- sucedidos são aqueles que integram os aspectos da cultura de origem com aspectos que se adquiriu no país receptor. 6.1.1 UM NOVO PAÍS PARA CARLA E RICARDO Maryrose Fernandes Bolgar Para todas as meninas e meninos que acompanharam seus pais na aventura de viver numa outra cidade, país ou continente. Carla e Ricardo são irmãos. Eles são muito diferentes, mas são bons amigos e fazem muitas coisas juntos. Mas, nem sempre eles foram tão companheiros. Vou lhe contar o que aconteceu e por que eles se tornaram tão próximos. Eles nasceram numa cidade pequena, onde quase toda a família residia. Conheciam muitas pessoas e tinham vários amigos. Nos fins de semana visitavam familiares e amigos, e brincavam no quintal das avós com os primos. Carla e Ricardo faziam parceria com os primos e brigavam muito um com o outro. Quando Carla e Ricardo tinham nove e onze anos, a empresa onde o pai deles trabalhava precisou que ele fosse trabalhar num país muito, muito distante de onde eles moravam, onde o inverno dura quase seis meses e a neve deixa tudo branco e preto, mas, em contrapartida, a primavera, o verão e o outono são muito coloridos. Como nesse país as pessoas falam uma língua diferente, Carla e Ricardo foram aprender o novo idioma. Eles acharam tudo muito complicado e ficaram muito preocupados: “Como é que eles iriam conversar com os colegas, a professora, fazer lição de casa e provas sem falar aquela língua tão difícil?”. No dia da mudança toda a família e os amigos foram no aeroporto se despedir da família de Carla e Ricardo. Os familiares e amigos choraram ao se despedirem, porque não haviam aprendido ainda a viver distante deles. Carla e Ricardo acharam tudo muito estranho, mas quando estavam dentro do avião e viram todos que eles gostavam ficar tão longe, começaram a chorar também… No dia seguinte, depois de muitas horas de viagem, chegaram ao país que seria, então, a nova casa para eles. Como chegaram ao verão, ficaram quase dois meses conhecendo o novo espaço, aprendendo inglês e como se comportar nessa nova cidade. Tudo foi muito difícil nos primeiros meses. Quando iam almoçar sempre pediam um tipo de comida, mas recebiam outra, porque as pessoas não entendiam o que eles falavam. Na escola cada um recebeu um guia, que era um colega da classe, que ensinava para eles onde ficavam as salas de aula, porque a escola era muito grande e a diretora ficava com medo que Carla e Ricardo se perdessem. Carla e Ricardo receberam também a ajuda de uma professora, que os ajudavam a fazer os exercícios de sala de aula e a lição de casa. Os irmãos chegavam muito cansados em casa, pois o cérebro deles tinha que trabalhar dobrado para aprender tanta coisa nova. Os primeiros colegas de Carla e Ricardo foram os amigos que tinham ido de outros países também. Embora um não compreendesse o que o outro falasse direito, eles podiam brincar e usar o computador juntos. Para diminuir as saudades da família e dos amigos, Carla usava o computador. Ela ficava sabendo tudo que estava acontecendo na cidade onde havia morado e dividia o que estava aprendendo com eles também. Ricardo, por sua vez, passava muito do seu tempo livre assistindo a desenhos, para aprender mais rápido o novo idioma e conversava com a família e os amigos por telefone só de vez em quando... Para que Carla e Ricardo não se sentissem sozinhos, a professora de Ciências sugeriuque os pais deles comprassem um hamster, a quem eles deram o nome de Fedida, assim eles teriam companhia quando estivessem em casa, e a professora cuidaria do hamster quando eles fossem visitar a família. Após seis meses que Carla e Ricardo haviam se mudado, eles foram visitar as pessoas queridas que haviam deixado em seu país e festejar a chegada de um novo ano. Para a surpresa deles, estavam todos esperando no aeroporto, porque estavam com saudades… Carla e Ricardo puderam perceber que é possível continuar fazendo parte da família e manter os amigos mesmo vivendo longe. Poucos amigos e parentes se afastaram deles. Somente aquelas pessoas que não podiam tolerar a dor de estar longe de quem se ama. Após as festas, Carla e Ricardo retornaram para sua nova casa e tudo ficou mais fácil. Como já sabiam falar um pouco da nova língua, podiam comer o que haviam pedido e, sobretudo, fazer novos amigos, com quem podiam brincar e estar junto, até que as próximas férias chegassem. Carla e Ricardo ficaram mais próximos, passaram a conversar mais e a ajudar um ao outro. Eles passaram a apreciar a nova casa e a escola, sentindo-se a cada dia mais contentes e confiantes no novo país e na nova vida que estavam construindo. 6.2 O LUTO PELO BICHO DE ESTIMAÇÃO Leda Gomes Ter um bicho de estimação pode ser uma grande lição do ciclo vital completo para uma criança. Há uma pesquisa que diz que as crianças escolheriam seu bicho de estimação para contar um segredo ou um problema. (MCNICHOLAS; COLLIS, 2001 apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Acompanhar a vida de um bichinho, desde filhote até a velhice e a morte, educa a criança para o cuidado, a tolerância, a responsabilidade, o companheirismo e o amor. A morte de um bicho de estimação é uma oportunidade de conversar com a criança sobre a morte e o morrer, sobre a finitude de tudo o que é vivo. Não falar da morte é tentar, de maneira inútil, maquiá-la. Dentro dessa tentativa já ouvimos várias histórias. Como a do hamster que viveu nove anos, um recorde para a espécie, que vive em média três anos. A façanha foi possível porque a mãe tratava de substituir o animal morto, rapidamente, sem que o filho pudesse perceber a troca. Crianças precisam de respostas claras, objetivas, concretas e na medida exata do que perguntam. É preciso que elas saibam que o bichinho está doente, ou velho, e que vai morrer. Se necessário, explique para a criança que o animal está tão velho quanto o vovô ou o bisavô. Deixe a criança perguntar ou falar o que quiser e responda a tudo o que for perguntado. E caso o animal seja enterrado ou cremado, é importante que a criança esteja presente na ocasião. Converse com a criança sobre os sentimentos dela e ajude-a a nomeá-los, caso ela não consiga fazer isso. Diga que você também está triste com a morte do bichinho e que é certo ficar triste, que não tem problema chorar, e que ficar triste por um tempo é o que fazem as pessoas que gostam de seus bichinhos. Respeite o tempo da criança. Se ela quiser ficar um tempo sem outro bicho, concorde; caso ela queira logo um novo bichinho, e se for possível, atenda-a. O sofrimento que a morte de um bichinho traz é nada se comparado com todas as alegrias e a companhia que eles nos fazem ao longo da vida. 6.2.1 A MENININHA E A CACHORRINHA Leda Gomes Para Tulipa, Tino Gato, Michu, Greta, Rodolfo, Samanta, Rafi, Lea, Furacão, Lara, Yuri, Sofia, Lobo, Geni, Nininha,__________________ (você pode incluir o nome de um bichinho querido que você perdeu) Era uma vez... É sempre assim que as estórias começam, e esta também vai começar assim. Era uma vez uma menininha que não tinha irmãs, nem irmãos, era filha única. A menininha sempre brincava sozinha e era feliz brincando assim, mas de uma coisa ela sentia falta: ela queria ter um cachorrinho. Vivia pedindo para sua mãe, que sempre lhe dizia não, pois cachorro faz barulho, faz sujeira e estraga as coisas. O que a mãe da menininha não esperava é que, ao levar a menininha para a escola, começassem a ser seguidas por uma cachorrinha. Elas iam e a cachorrinha ia atrás; elas voltavam horas depois e lá vinha a cachorrinha seguindo as duas de volta para casa. Além do pai e da mãe, a menininha morava com seu tio, que era um homem muito ligado em bichinhos de estimação. Num belo dia, o tio da menininha pegou a cachorrinha da rua e levou-a para dentro de casa. A mãe da menininha bem que tentou reclamar, mas foi voto vencido. A cachorrinha estava toda suja, tinha pulgas e estava muito maltratada, mas o tio da menininha cuidou dela, deu banho, deu comida e pouco tempo depois a cachorrinha estava linda. E como era boazinha! Essa cachorrinha foi a companhia constante da menininha durante muitos anos. Ela ficou doente, foi operada e foi cuidada pela menininha, que então já era uma moça. Até que, quando a menininha, agora uma moça, já estava na faculdade, a cachorrinha morreu. É claro que a menininha, ou melhor, a moça, ficou muito, muito triste com a morte da cachorrinha, afinal, ela havia sido sua companheira durante sua meninice, sua adolescência e o começo de sua juventude. Mas a cachorrinha ensinou tanto para a menininha... Ensinou o significado da amizade, da fidelidade, do companheirismo, do cuidado com quem amamos. E ela abriu as portas de sua casa para muitos outros amigos de quatro patas que viriam depois. É por isso que hoje, adulta, a menininha se lembra com carinho e saudade da cachorrinha, e sempre que alguém diz que não tem bicho porque quando eles morrem as pessoas ficam tristes, ela responde: “E toda a felicidade que eles nos dão?”. 6.2.2 O OLHAR DE DIANA EM TODAS AS PASTORAS Aparecida Malandrin Andriatte Um dos primeiros fatos no baú da infância de Tony é a lembrança de uma bela cachorra pastora alemã. Seu porte era altivo e tinha uma capa de pelos pretos sobre seu corpo cinza esverdeado... Possuía dentes afiados e ouvidos apurados... E no fundo de seus olhos todo o carinho por sua família humana. Numa manhã de feriado, eles levaram as mudanças da vovó e Diana, fiel companheira, quis acompanhar o papai... Contudo, naquela confusão, algo aconteceu e Diana se perdeu... Puxa! Todos ficaram transtornados e Tony chorava num cantinho o seu medo de nunca mais ver sua cachorra querida, sua doce Diana... O papai refez todo o caminho sem parar de olhar, fez tudo com muita atenção, mas não encontrou a Diana. Uma semana se passou e Diana não voltou... Foi uma tristeza, uma comoção! Da varanda de casa, tia Lourdinha avistou um cão perdido no trilho de um terreno. Firmou o olhar. Era ou não a Diana? Num grito estridente, chamou por Diana e logo ela atendeu. Estava tão magrinha a coitada que quase não podia andar. Quanto teria sofrido? Que fome teria passado? Mas, finalmente, sua família humana ela encontrou... Foi uma festa animada, que a todos envolveu. E Diana fazia suas exibições: andava com dois pés, dava sua pata para mostrar o quanto era inteligente, lambia o papai com gratidão, e a mamãe defendia, mostrando que a preferia. Estavam todos felizes! Passaram-se alguns meses e ela já estava reestabelecida e em pleno vigor... Mas há homens muito maus que assassinam gente e animais até por prazer. E fizeram uma grande maldade: deram uma bolinha de carne com vidro moído dentro, que Diana comeu e, então, por dois dias sofreu. Tony e sua irmã Chiquinha a espreitavam pela janela quanto, então, Diana gemeu... Era o gemido da morte, que a levou para sempre. E foi a primeira vez que Tony percebeu o que era o morrer. Ele e Chiquinha se confortaram num abraço, que até hoje serve de consolo. CAPÍTULO 7 UM TEMPO PARA DESPEDIDA Aparecida Malandrin Andriatte Quando nos relacionamos com a vida, ela nos apresenta seus encantos e a cada dia vamos repetindo encontros e sentimentos... Do que o bebê mais gosta é que todos os dias sejam iguais: que a mamãe apareça e o atenda sempre da mesma maneira em suas necessidades, que o bercinho e o ursinho se encontrem sempre lá, onde ele espera que estejam. Tudo muito, muitofamiliar. E assim se constroem os dias, as semanas e os meses, quando, então, fazemos aniversário. Esse dia é diferente, um dia para celebrar a vida. Os homens gostam tanto de celebrações... Constroem símbolos, templos e poemas, nos quais eternizam suas emoções. Os ritos são repetições especiais. Eles foram se construindo durante o desenvolvimento da humanidade e algumas funções sempre têm. E se pensarmos bem, os ritos ajudam o homem a viver... Ritos de vários tipos, desde o nascer até o morrer. Mas, na atualidade, a velocidade anda engolindo as nossas emoções e com tanta pressa vão se extinguindo as celebrações. Uns ficam exagerados, como os casamentos que parecem superproduções. Os noivos, como atores, precisam aparecer muito bem produzidos e o tempo é contado para postar as fotos no Face sem borrar a maquiagem... Esse rito é superbadalado, mas não deixa de ser afobado... A pressa invadiu, não por acaso, o rito final do viver. O das exéquias3, que envolve o velório e o enterro de quem faleceu... Esse rito tão importante parece ter se tornado um incômodo para os viventes, pois a rotina acaba por se quebrar. Nesse dia não é possível ir trabalhar ou estudar. É muito importante ter contato com a tristeza e a dor, visitar os amigos ou parentes que perderam um grande amor. Pode ser também que esse amor seja bem próximo de nosso coração. Esse dia é bem esquisito e por isso o homem parece temê-lo demais, pois ele traz profundas reflexões... Nossos antepassados perceberam que era muito importante ter um tempo para a dor e a despedida de quem parte para o mistério e por isso construíram o velório e o cemitério. Eles simbolizam que a rotina com aquela pessoa se findou e para nossa mente poder se desapegar do costume de amar todo dia aquele ser, precisamos de um tempo para as despedidas e saber onde vai morar para sempre aquela pessoa querida. É que nosso mundo interior é diferente do de fora. Por fora nós acompanhamos a correria, mas no mundo dos sentimentos é tudo muito lento. E durante um ano, até fazer aniversário, aquela triste despedida... Os dias vão se repetindo sem a pessoa que morreu... E ela, então, pode ser guardada como saudade... passando a ser esquecida da rotina diária. Para poder elaborar uma perda tão sentida é muito importante das celebrações participar. Um tempo para as despedidas, isso significa nos respeitar. O essencial é saber que o luto é um processo normal e que tem um tempo aproximado para durar... Se tudo correr bem, sofremos mais intensamente a perda do nosso ente querido nos primeiros tempos. E, então, aquela dor tão funda vai se amansando e se calando, deixando de ser dor e virando saudade. Esse processo dura aproximadamente um ano e isso é normal. Vai passando devagar, até que todas as datas do ciclo de um ano sem a presença da pessoa perdida sejam vividas. Todavia, se essa dor continuar da mesma forma anos e anos a fio, algo não está bem, e já não se trata da perda da pessoa, mas de um sentimento interno que não pode sossegar. Nesse caso, então, deve se tratar de um luto mais complexo, que pode se tornar melancolia4. O melhor é procurar o auxílio de um profissional, para que essa dor interna possa ser tratada num processo psicoterápico, e então elaborada. Desse modo busca-se acalmar aos poucos o sofrimento causado pelo luto. Podemos aprender a nos tornar mais fortes, pois a dor elaborada fortifica a vida. 7.1 TÃO MITO E TÃO VERDADE Gisele Gressler Antígona é a protagonista de uma peça teatral escrita por Sófocles. Ela luta contra o rei Creonte pelo direito de enterrar seu irmão. Essa personagem da mitologia grega acreditava no direito dos parentes de enterrarem seus entes, uma vez que os rituais de passagem eram importantes para que a alma não ficasse vagando eternamente sem destino. Desse modo, Antígona se imortalizou como a irmã amorosa que lutou pelo direito de sepultar seus parentes. Em determinados momentos, parece que a mitologia rascunha a vida de algumas pessoas. A história que vou contar ocorreu há pouco tempo, mas muitas outras semelhantes acontecem com frequência. Em uma sexta-feira de tempo nublado, um grupo de sete amigos prepara uma saída de barco para pescar. Vão para o mar onde tantas outras vezes estiveram em divertidas pescarias. As despedidas são rápidas, pois o passeio durará apenas algumas horas. Entretanto, o tempo muda e, com ele, os planos… Uma imprevista tempestade os arrebata! Infelizmente, o barco naufraga sem deixar sobreviventes. Depois de alguns dias de muita angústia e alguma esperança, os corpos vão sendo resgatados. Porém, dois homens não são encontrados. Há uma pequena probabilidade de encontrá-los com vida que, com o passar do tempo, vai desaparecendo. Depois de muitos dias de incertezas e profundo desespero, a mãe diz: “Agora eu só queria poder enterrar o meu filho!”. A espera de encontrar um filho vivo dá lugar à espera de encontrar um filho morto... Foi quando um sábio que ouviu a súplica da mãe disse: “Procure pensar que o mar será o cemitério e a areia do fundo a lápide que está agora abraçando o seu filho numa comunhão com a natureza”. Sempre é preciso encontrar uma maneira de localizar os nossos entes queridos quando não mais podemos tocá-los. Destinar espaços para a última morada do corpo é um alento para os viventes e um ato de profundo respeito para com os que partiram. CONCLUSÃO Tantas são as vidas, quantas seriam as histórias para se contar! Cada ser deixa seu registro impresso no coração do semelhante. Dentro da família lembranças... Uma geração dentro da outra – como num abraço de Matrioska5, que vai eternizando o ser e suas marcas pessoais. Um olhar do avô no neto. Um sorriso da mãe na filha. O ouvido para música, igualzinho a um tio o sobrinho tem. As línguas transmitidas entre os povos por gerações... e, assim, tantas tradições! Um nasce – cria-transmite – imprime e falece, mas não morre totalmente. Sempre fica uma semente de algo construído e, dessa forma, então, a grande construção da civilização humana continua “sobre os ombros” das gerações e nossa cultura se imortaliza... REFERÊNCIAS ASSIS, G. DE OLIVEIRA. Gender and migration from invisibility to agency: The routes of Brazilian women from transnational towns to the United States. Women’s Studies International Forum, v. 46, p. 33-44, 2014. BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Padre Matos Soares. 10. ed. São Paulo: Paulinas, 1955. BRAGA, A. C. M. Brasileiros nos Estados Unidos: um estudo sobre imigrantes em Massachusetts. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CARPINEJAR, F. Me ajude a chorar. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014. COUTO, MIA. A confissão da leoa. Alfragide, Portugal: Editorial Caminho, 2012. FREUD, S. Luto e melancolia (1917[1915]). São Paulo: Cosac Naify, 2011. MCNICHOLAS, J. & COLLIS, G. M. Children’s representations of pets in their social networks. Child: care, health & development. In: PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. & FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 10. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. p. 279- 294. AUTORAS Alaide dos S. Oliveira Penaquio Psicóloga clínica, especialista e pós-graduada em Psicologia Hospitalar. Aparecida Malandrin Andriatte Membro associado da SBPSP, mestre em Psicologia da Saúde, psicóloga, pedagoga, professora universitária. Gisele Gressler Psicóloga clínica, especialista em Psicoterapia Psicanalítica pelo Ceapia (RS). Organizadora do livro Você sabe o que eu sinto?, Editora Revinter, 2003. Leda Gomes Psicóloga, mestre em Psicologia da Saúde, professora universitária. Maria Emília Meneguelli A. Miranda Psicóloga clínica, especialista em Psicanálise pelo Instituto Sedes Sapientiae. Maryrose Fernandes Bolgar Psicóloga, mestre em Aconselhamento em Saúde Mental, em formação em Psicoterapia Psicanalítica pelo Chicago Institute of Psychoanalysis. Denise Sampaio de Alencar Designer gráfica e ilustradora formada pela Belas Artes e pós-graduada pelo Instituto Europeo di Design (SP). 1Esta palavra sofreu uma inversão