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4 A expressão em artes visuais: cores e formas Sueli Heloisa Doriguetto Ferreira Introdução Nesse capítulo será abordado o conteúdo de artes visuais na construção do conhecimento escolar, tendo como foco as poéticas em artes visuais: cores e formas. Nessa produção, caminharemos inicialmente fundamentando as poéticas visuais e como desenvolvê-las com as crianças da Educação Infantil nos anos iniciais do Ensino Fundamental, enquanto conhecimento de artes. Trilharemos caminhos a serem percorridos pelo professor no desvelamento dessas poéticas para as crianças, buscando incorporá-las nos tempos e espaços da escola, de forma interdisciplinar e criativa, privilegiando o olhar da criança e não do adulto que tem o papel de mediador da construção do conhecimento e não de finalizador de ideias. Apresentaremos, também, propostas de estimulação da expressão plástica das crianças por meio de leituras e releituras das obras de diferentes artistas e do trabalho com textos diferentes. A sala de aula pode ser transformada em espaço de criação, produção e conhecimento – a proposta de trabalho na escola deve promover a interação, o diálogo e o desejo de aprender de seus alunos, perpassando por diferentes saberes. Objetivos Após o estudo deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: conceituar poéticas visuais; trabalhar poéticas visuais com crianças da Educação Infantil aos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo como conhecimento teórico o RCNEI e o PCN de Arte; compreender os indicadores que fazem da escola um lugar de aprendizado e compartilhamernto de saberes no campo da Arte; identificar caminhos a serem percorridos pelo professor, no desvelamento dessas poéticas para as crianças, buscando incorporá-las nos tempos e espaços da escola, de forma interdisciplinar; apresentar propostas de estimulação da expressão plástica das crianças por meio de leituras e releituras das obras de diferentes artistas. Esquema 4.1 Iniciando a discussão sobre Artes Visuais 4.2 Reflexões sobre o conteúdo de Artes Visuais 4.3 Possibilidades de poéticas visuais na construção dos trabalhos dos alunos 4.4 A arte como Conhecimento 4.5 Desenvolvendo um trabalho significativo em Artes Visuais 4.6 Considerações finais 4.1 Iniciando a discussão sobre Artes Visuais Para trilhar o conhecimento pela aprendizagem de artes, desvelando o processo criativo que existe em você, como também as poéticas em construção pelas crianças, seus futuros alunos, alguns conhecimentos específicos sobre o ensino de Arte Visuais se faz necessário. A Arte, enquanto conteúdo escolar, pertence a área das ciências humanas, possui uma linguagem própria e uma contextualização específica. Está dividida em arte como expressão e arte como cultura. No entanto, essa divisão não a fragmenta mas sim a complementa porque a arte é uma atividade integradora de sentidos e conhecimentos. De acordo com Camargo (1989, p. 14), “é natural que as obras de arte mostrem o mundo interno do autor, o mundo externo e a interação dos dois”. Por mundo interno, entendemos desejos, emoções, sentimentos, intuição que perpassam os nossos sentidos; e, sobre o mundo externo, entendemos as experiências que vivenciamos no dia a dia, que adquirimos por meio da cultura. Na interação entre ambos, o artista cria sua arte. De acordo com Ana Mae Barbosa (2016), em entrevista à revista Época, “A arte como expressão é a capacidade de os indivíduos interpretarem suas ideias através das diferentes linguagens e formas. A arte como cultura trabalha o conhecimento da história, dos artistas que contribuem para a transformação da arte.” Esses conhecimentos são de grande valor para que o aluno incorpore saberes sobre seu país e sobre o mundo, respeitando a cultura do outro e sensibilizando-se com ela. Ainda de acordo com Barbosa (2016), “Não se conhece um país sem conhecer a sua história e a sua arte”. Curiosidade! Você sabe quem é Ana Mae Barbosa? Ana Mae Barbosa é uma educadora brasileira que muito vem contribuindo com a arte- educação no Brasil. As mudanças no currículo de Artes a partir da LDBN 9394/96 devem muito a ela, pois foi considerada como uma referência, para que a arte fosse incorporada nos currículos escolares. Barbosa concebe um abordagem triangular, considerando – o fazer, o ver e analisar e a contextualização – num olhar diferente da arte tradicional desenvolvida nas escolas brasileiras. Para a educadora, a arte não pode ser desvinculada da cultura. Artes visuais é uma divisão do estudo da Arte e acompanha a história da humanidade desde a Pré-história, possibilitando a quem observa, estuda ou analisa uma obra de arte colocar-se no lugar do artista e buscar compreender os diferentes tempos e espaços de sua criação, buscando entender o que ele está tentando nos dizer. Para Camargo (1989, p.14), ”Arte e educação são produtos culturais e precisam ser entendidos no contexto das culturas em que surgem. Não há uma noção de arte e educação válida pada todas as culturas e todos os meios socias.” Portanto precisamos nos sensibilizar e entender a cultura do outro. Para iniciarmos esse capítulo, é preciso que você pense sobre essa perspectiva do ensino da artes, em especial, artes visuais, que será nosso objeto de estudo. Portanto gostaria de manter um diálogo inicial com você, a partir de algumas refexões. Parada para reflexão Pense: Essa é a primeira vez que você se depara com um questionamento sobre o estudo de poéticas visuais ? Onde encontramos artes visuais? Pesquisando na Web Para melhor compreensão do que vamos estudar, proponho a você que assista ao clip da música Aquarela de Toquinho e Vinícius de Morais que se encontra no endereço a seguir. 1) Perceba como, nele, a imaginação da criança vai sendo aguçada. 2) Observe as cores, as formas, as linhas, os pontos que vão se transformando em desenhos, a suavidade da música, a contexto todo. 3) Qual a relação desse todo com artes visuais? Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=S7rliH6s4pI Esse clip da música Aquarela, está repleto de artes visuais. Nele, você deve ter visualizado: desenho, cor, forma, avanços tecnológicos e transformações estéticas por meio de artes gráficas, vídeo e computação. Todo esse conjunto de ações faz parte de artes visuais. O estético e o artístico sempre fizeram parte da explicação do mundo de diferentes formas em variadas culturas vivenciadas pelo artista que a constrói ou por quem a aprecia. Assim, artes visuais como o próprio nome diz, está relacionada ao sentido da visão, tendo a visualidade como sua principal forma de apreciação. O aluno poderá ser estimulado de diferentes formas, como presenciaram no clip da música Aquarela, onde as formas e cores representaram diferentes expressões visuais. Pesquisando na Web Você sabe qual a importância de desenhar e colorir para as crianças? Pesquise sobre essa temática, em um site de busca (www.google.com.br). Certamente você encontrou diferentes respostas, não é mesmo?! https://www.youtube.com/watch?v=S7rliH6s4pI http://www.google.com.br/ Veja uma resposta possível: Para a criança o ato de colorir desenhos é tão natural como chorar, dormir ou comer. Os pequenos desenham formas aleatórias, rabiscam, pintam com todas as cores possíveis sem se preocupar com combinação, estética ou beleza. Para eles, o ato de colorir é extremamente importante, e os incentiva ao desenvolvimento de várias capacidades.(ACRILEX, 2016, p. 1). Embora o contexto de artes visuais esteja presente em nosso cotidiano, ela enquanto conteúdo escolar precisa ser estudada e compreendida por nós professores. Ao desenvolver artes visuais com crianças da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, temos que ter alguns conhecimentos teóricos, específicos ao conteúdo de Arte Visuais. Eles precisam ser compreendidos paraque possamos ter coerência com o conteúdo que vamos ministrar e segurança ao aguçar, em nossos alunos, alguns questionamentos. Nessa capítulo, estudaremos sobre a importância das artes visuais que será nosso objeto de reflexão durante todo o tempo. Para tanto, por artes visuais vamos utilizar o conceito do PCN de Artes. As artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance). (BRASIL,1997, p. 45). No dia a dia da escola de Educação Infantil e anos inicias do Ensino Fundamental, essas formas de artes visuais estarão sempre presentes mas, outras formas, também poderão ser desenvolvidas porque fazem parte do nosso cotidiano como a novela, a moda, a decoração, o paisagismo e até mesmo o web design (trabalho desenvolvido pelos profissionais que criam sites e outros elementos para web). Para que aconteça a mediação entre o conhecimento do aluno e o conhecimento cultural da humanidade, o professor de arte precisa ser o interlocutor, que possibilitará essa interação, visando estimular a sensibilidade do aluno, possibilitando a ele pensar, perceber e chegar a diferentes conclusões, fazendo uso das linguagens artísticas, aguçando sua sensibilidade, procurando assim, favorecer o seu potencial criador. Cada uma dessas formas, isto é, modo de visualizar um trabalho artístico, oportuniza que diferentes possibilidades estéticas possam surgir, combinando contornos, cores, espaços, criando diferentes formas de comunicação como puderam vivenciar no clip da música Aquarela. 4.2 Reflexões sobre o conteúdo de Artes Visuais Para continuar nosso diálogo sobre artes visuais enquanto disciplina, conheça um pouco mais sobre ela. Falar sobre o conteúdo de artes visuais nos currículos brasileiros é ainda muito novo. Veja a notícia “Lei inclui artes visuais, dança, música e teatro no currículo da educação básica”, do site Agência Senado: Foi publicada nesta quarta-feira (3/5/16) a Lei 13.278/2016, que inclui as artes visuais, a dança, a música e o teatro nos currículos dos diversos níveis da educação básica. A nova lei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB — Lei 9.394/1996) estabelecendo prazo de cinco anos para que os sistemas de ensino promovam a formação de professores para implantar esses componentes curriculares no ensino infantil, fundamental e médio. (LEI, 2016, p. 1). Somente em “maio de 2016”, as artes visuais e também o teatro e a dança foram incorporados como ensino obrigatório ao currículo do ensino básico da LDBN 9394/96. Até a presente data, somente o ensino da Música era componente obrigatório, mas não exclusivo, do ensino da arte. Agora, vamos ler o posicionamento de Ana Mae Barbosa em entrevista às correspondentes Beatriz Morrone e Flávia Oshima, da revista Época, em 16 de maio de 2016, sobre artes visuais. É absolutamente importante o contato com a arte por crianças e adolescentes. Primeiro, porque no processo de conhecimento da arte são envolvidos, além da inteligência e do raciocínio, o afetivo e o emocional, que estão sempre fora do currículo escolar. A minha geração fez sua educação emocional a partir de filmes de Hollywood, o que é uma barbaridade. Não se conversava sobre sentimentos na escola. Segundo, porque a arte estimula o desenvolvimento da inteligência racional, medida pelo teste de QI. O pesquisador Janes Catteral estudou a influência da aprendizagem de arte na inteligência, que será aplicada a qualquer outra disciplina. Além disso, grande parte da produção artística é feita no coletivo. Isso desenvolve o trabalho em grupo e a criatividade. (BARBOSA, 2016). Pesquisando na Web Vale a pena ler a reportagem na íntegra! Para isso, acesse: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/05/importancia-do-ensino-das-artes-na- escola.html Buscar uma educação, utilizando as linguagens desenvolvidas por meio da arte, revelam outras possibilidades no desvelar dos conteúdos ministrados pela escola. O conhecimento sensível nos faz buscar uma educação voltada para os sentidos, em que por meio da descoberta das nossas variadas sensações: cores, formas, sabores, texturas, odores, podemos redescobrir prazeres que fazem parte de nossa vida, portanto nos leva ao conhecimento. O homem, enquanto sujeito histórico, manifestou-se, construiu e evoluiu a partir de sua concepção de vida sensível no contato com a natureza, observando-a, construindo artefatos para seu bem-estar, transformando-a em prol de sua sobrevivência, tornando-se assim um ser social e fazedor de cultura. Como registro, foi deixando suas marcas retratadas em diferentes construções artísticas. Portanto, vamos nos reportar aos personagens que fazem parte deste contexto. Por cultura entendemos todo esse conhecimento deixado por nossos antepassados, cuja aquisição, amplia saberes de diversas áreas, constituindo o conhecimento do homem pela ciência e pelas artes em geral. Estão elencados nas seguintes categorias: bens naturais – florestas, matas, rios, cachoeiras, clima entre outros; bens materiais– achados arqueológicos; http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/05/importancia-do-ensino-das-artes-na-escola.html http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/05/importancia-do-ensino-das-artes-na-escola.html edificações rurais e urbanas; objetos de arte, documentos e bens imateriais – manifestações folclóricas e religiosas, música, dança, teatro, literatura entre outros. (FERREIRA, 2014, p. 89). Buscar uma educação voltada para os sentidos, por meio das nossas variadas sensações: tato, olfato, visão, audição e paladar nos faz perceber cores, formas, sabores, texturas, odores, redescobrindo prazeres que fazem parte de nossa vida. Tudo isso nos leva ao conhecimento. A criança ao desenhar, ao descobrir cores, ao colorir experenciando materiais diferentes está colocando na tela sua forma de ver e perceber o mundo que a cerca. Parada para reflexão Quando ainda não havia o sistema numérico e a escrita, para que o pastor pudesse ter o controle de seu rebanho, ele utilizava sinais para fazer a contagem. Marcava com desenhos cada animal que possuía e assim fazia seu controle. E, quando ia pastorear o rebanho, marcava com pedras, paus, representando cada animal que fosse para o pastoreio e, ao retornar no final do dia, ia retirando cada símbolo e tinha o controle dos animais. Pense: Como as crianças que ainda não tem o domínio da escrita representariam tal situação? A humanidade foi evoluindo e diferentes saberes foram sendo vivenciados pelo homem! Nessa perspectiva, o PCN de Artes nos informa que O mundo atual caracteriza-se por uma utilização da visualidade em quantidades inigualáveis na história, criando um universo de exposição múltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educação para saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, ideias e qualidades. Por isso o estudo das visualidades pode ser integrado nos projetos educacionais. Tal aprendizagem pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente (BRASIL,1997, p,45). Quando pensamos em educação em artes, devemos considerar uma proposta educacional em que existe uma preocupação com o processo de escolarização dos alunos, vendo nas artes visuais as possibilidades de ajudar esse aluno a avançar em conhecimentos, ou seja, o modo como passam a perceber tal conhecimento, analisando, vivenciando e construindo saberes. No contexto educativo, o termo artes visuais substituiu a designação artes plásticas para nomear a grande visualidade. Isso porque a concepção ampliou-se de artes plásticas – que abrangia as belas-artes– para artes visuais, por incorporar várias manifestações visuais como: desenho, pintura, escultura, gravura e artes gráficas, vídeo, cinema, televisão, grafite animação. (PEREIRA, 2014, p. 9). Por artes visuais, elencamos todas as formas visuais de comunicarmos com o mundo. Neste sentido, diferentes linguagens devem ser trabalhadas em sala de aula. O estudo da Arte atual contempla a educação vista como cultura visual e ainda a continuidade da Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa (estudada nos capítulos anteriores), por meio da LDB 9394/96 e dos documentos: RCNEI (1998) para a Educação Infantil, PCNs de Artes (1997) para o Ensino Fundamental e PCNEM (1998) para o Ensino Médio, constituindo assim estudo em toda a educação básica. Relembrando Você se lembra da proposta Triangular no ensino da ARTE? A Abordagem Triangular concebe a arte como expressão e como cultura. Foi sistematizada por Ana Mae Barbosa, entre os anos de 1987 e 1993, no contexto do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC), e experimentada nas escolas da Rede Municipal de ensino da Cidade de São Paulo, quando Paulo Freire era Secretário de Educação do Município. É considerada uma das principais referências do ensino/aprendizagem do ensino da Arte no Brasil. Tanto o RCNEI quanto o PCN de Artes incorporam essa proposta por ela englobar ao mesmo tempo a produção artística, a releitura e a reflexão! Na Educação Infantil, o ensino de artes deve ser desenvolvido em forma de artes visuais, como uma linguagem que tem estrutura e característica próprias, cuja aprendizagem acontece por meio dos seguintes aspectos de acordo com o RCNEI (1998): Fazer artístico – centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de trabalhos de arte por meio de práticas artísticas, propiciando o desenvolvimento de um percurso de criação pessoal; Apreciação – percepção do sentido que o objeto propõe, articulando tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e suportes utilizados, visando desenvolver, por meio da observação e da fruição, a capacidade de construção de sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras de arte e de seus produtores; Reflexão – considerada tanto no fazer artístico como na apreciação, é um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias produções e as dos artistas. (BRASIL.1998, p.89). Os blocos de conteúdos de artes visuais de acordo com o PCN de Artes para as séries iniciais do Ensino Fundamental são: expressão e comunicação na prática dos alunos em artes visuais; as artes visuais como objeto de apreciação significativa; as artes visuais como produto cultural e histórico. Ensinar ARTES então é: Figura 1: Ensino de artes. 4.3 Possibilidades de poéticas visuais na construção dos trabalhos dos alunos. O educador é um parteiro. O parteiro não gera a criança, Mas ajuda a criança a nascer. O educador não gera a expressão da criança, Mas ajuda a florescer. O educador humilde, que não impõe seus gostos nem sua visão de mundo, vê frutificar a expressão pessoal de seus alunos. (CAMARGO, 1989, p.14) É com esse olhar do artista que dou continuidade ao nosso estudo, trazendo para vocês algumas possibilidades de trabalho com Arte. Você já observou uma criança desenhando? Já dialogou com ela sobre seu desenho? É uma atividade muito comum na escola desde a Educação Infantil. Esse ato representa a fixação no papel dos movimentos das mãos, braços, outras vezes de outras partes do corpo. Quanto menores em idade, mais força as ENSINO DE ARTES ATUAL Segundo o RCNEI, FAZER ARTÍSTICO, APRECIAÇÃO, REFLEXÃO Segundo o PCN DE ARTES, FAZER ARTÍSTICO, APRECIAÇÃO, REFLEXÃO Segundo a proposta TRIANGULAR de Ana Mae Barbosa: PRODUÇÃO ARTÍSTICA, RELEITURA E REFLEXÃO ORIENTADAS crianças colocam nas mãos para desenhar, porque ainda não tem o controle do próprio corpo. Artes visuais é considerada uma atividade interessante na vida das crianças, elas vão representando na folha, no cimento, nas paredes enfim num determinado espaço, formas distintas por meio de lápis de cor, giz colorido, pincel, caneta hidrocor, as suas figuras: garatujas, sol, casinha, a família, o animal de estimação entre outros, que vão aparecendo das mais diversificadas formas e tamanhos. De acordo com Fontana (1997, p.144), “o desenho pode ser visto como possibilidade de expressão, como incentivo a criatividade”. Numa folha de papel ou outro material qualquer, os alunos vão representando diferentes objetos sob o olhar do professor que deve ter um conhecimento mínimo de artes para analisar a forma de expressão, a criatividade, o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo, a capacidade de atenção e concentração, os conhecimentos sobre cores, formas entre outras habilidades e fazer dessas descobertas um ponto de partida par ajudar seu aluno. Assim, podemos pensar em Arte Visual como uma importante linguagem de expressão e comunicação, presente no universo da criança, pois ao representar suas criações artísticas, ela traz expressas as experiências do seu dia a dia. O professor precisa oportunizar que a criança tenha contato com materiais de diversas texturas, cores e formas, ou seja, não apenas folha de papel e lápis de cor, possibilitando, por exemplo, desenhar no chão, no cimentado, na areia e em outros espaços que a escola possua. Assim, ela utilizará materiais de diversas naturezas, como folhas, flores, gravetos, pedras; e, ainda, poderá pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo com as mãos, com os dedos, com pinceis de diversos tamanhos, desenhar utilizando recortes de papel, de revista de tecidos e outros materiais, modelar com barro e massinhas; construir brinquedos e outros objetos com material reciclável. O professor precisa conhecer e saber desenvolver com seu aluno o fazer artístico, utilizando diversificadas técnicas e matérias, misturando combinações, linguagens, elementos das artes visuais (linha, cor, superfície, volume, textura, etc.), combinações dos elementos (espaço, tempo, luz, estrutura linear, etc.). Não esquecendo de sempre, também, ao desenvolver a arte como conhecimento, conhecer o assunto, a estética, a ética, a visão de mundo e sociedade que está subjacente à obra a ser estudada. Lembramos da importância da capacitação continuada do professor sobre artes visuais para crianças, recebendo da instituição em que atua (e mesmo procurando se atualizar, por conta própria) um suporte com pelo menos uma fundamentação mínima, para que ele possa desenvolver seu trabalho. Todo trabalho desenvolvido pelos alunos precisa de uma contextualização sobre o que será estudado, partindo de um projeto específico que pode ser desenvolvido por sala ou por série. Esses trabalhos precisam ser guardados numa pasta, portfólio ou de outra forma que o professor encontrar. Como exemplo, trazemos as poéticas realizadas por crianças após um passeio ao Sítio Paleontológico de Peirópolis (Uberaba – MG), veja: Figura 2: Passeio a Peirópolis no museu do dinossauro. Fonte: Ferreira (2014). Os dinossauros desenhados são réplicas que existem no museu e no jardim de Peirópolis. Com material diversificado, como tinta guache, lápis de cor, casca de lápis, giz de cera, foram representadas as poéticas por duas crianças de idades distintas. É ideal que o professor também tenha sua pasta com uma fundamentação teórica, algumas reflexões sobre arte de autores que abordam o tema arte-educação em diferentes contextos de produção de conhecimento, podendo ter como referência o RCNEI e o PCNdo ensino da Arte. Também é importante ter arquivado os projetos a serem desenvolvidos durante o ano letivo. 4.4 A arte como conhecimento A arte como conhecimento retrata o estudo de uma obra de arte do artista a partir da percepção do interlocutor. São analisados as observações, as indagações, os sentimentos que foram representados do cotidiano vivido e percebido pelo artista, dando um significado de vida para a sua obra. Curiosidade! Esse olhar cheio de indagações começou com o homem primitivo, por meio da arte rupestre – pintura realizada nas cavernas. Eles pintavam nas paredes das cavernas suas percepções, seus medos, suas alegrias, representando as mudanças dos fenômenos da natureza, a fartura ou a escassez da caça, e, ainda, os animais, as festas, enfim o seu dia a dia, uma forma de comunicação que proporcionou ao historiador o conhecimento daquela época. Um legado de comunicação que deu origem a pintura, a escultura, e outras modalidades de arte! A arte como conhecimento no contexto escolar faz parte do conteúdo de artes visuais e estuda as diferentes obras de arte dos artistas, trazendo-a para nosso cotidiano. De acordo com a proposta Triangular de Ana Mae Barbosa estuda-se: A produção, a releitura e a reflexão. Pesquisando na Web Vamos conhecer um pouco sobre a obra “Os Retirantes” de Cândido Portinari? Esse artista brasileiro, em muitas de suas obras, retrata o povo brasileiro. Acesso o endereço a seguir: http://www.doispensamentos.com.br/site/?p=61 Na tela Os Retirantes, o autor retrata o drama do povo nordestino. Nela vem representada a pintura de uma família em fuga da seca, da desnutrição, da fome, da vida miserável que viviam, enfim da morte. É uma tela pintada com cores escuras, figuras de pessoas com expressão de dor, de morte, de desesperança, de indignação.Com cores bem definidas, o artista coloca sentimento e vida na tela. Assim, vemos a importância do conhecimento da obra de arte que deve ser compreendida e contextualizada antes de ser trabalhada com as crianças. Não deve ser esquecida, pelo professor, a importância de levar em consideração o conhecimento de cada faixa etária de seu aluno, a sua percepção em manipulação de objetos. Ao apreciar uma obra de arte o espectador utiliza-se da imaginação, da análise intuitiva e do raciocínio, como também o faz o artista ao idealizá-la. Em campos opostos, as compreensões estéticas, cognitivas e artísticas fazem-se presentes. Autor e apreciador se unem em momentos distintos diante da mesma obra gerando formas diferentes de interpretação. (FERREIRA, 2014, p.75). Temos, a seguir, um exemplo de atividade desenvolvida com alunos de forma interdisciplinar, envolvendo a releitura de obras de arte de Portinari com alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental. Esse tema foi também desenvolvido sob a forma de oficina "Brincadeiras preferidas através da Infância de Portinari". Essa atividade foi dividida nas seguintes partes: introdução da biografia do artista, focando a série em que pintou suas brincadeiras preferidas; uma obra do pintor – “Futebol”; como produção plástica, a releitura das obras e pesquisa de brincadeiras infantis e a criação de brinquedos de sucata. Em seguida, enfatizou-se o trabalho infantil. Para isso, foi realizada a leitura e interpretação do poema “Meninos Carvoeiros” (1921) de Manoel Bandeira e, logo depois, o olhar de Portinari sobre os meninos de Brodósqui. Foi realizada a releitura da obra com sombreado, de lápis. O tema "Brincando com Portinari", foi desenvolvido com a releitura de suas telas, culminou com pinturas no galpão da escola, realizada pelos alunos de duas professoras (FERREIRA, 2014, p.90). A tela (Figura 6) a seguir é uma releitura da obra . http://www.doispensamentos.com.br/site/?p=61 Figura 3: Releitura de Portinari. Fonte: Ferreira (2014). Ao desenvolver essa atividade, foi levada em consideração a releitura da obra “Meninos pulando carniça” de 1957, do autor Portinari, informações recebidas por meio de textos, obras de arte, pesquisas (mundo externo), um conhecimento cultural que, em interação com o mundo interno (emoções, sentimentos, possibilidades), gerou o prazer em realizar as atividades propostas. Ponto-chave Nesse sentido, o aluno, ao desenvolver esse projeto interdisciplinar sobre Portinari, por meio das atividades realizadas, não se limitou ao conhecimento de reprodução de ideias e conceitos prontos. Ele reelaborou, criou novas atividades artísticas se posicionando, representando simbolicamente suas percepções com o gesto, com o corpo, de forma visual, enfim, utilizando seu ponto de vista em conformidade com o ponto de vista dos demais colegas. Foram trabalhadas as categorias e técnicas da linguagem visual: o desenho, a pintura, a escultura, a fotografia. Os alunos utilizaram o próprio corpo, desenvolvendo conhecimentos prévios sobre o autor em linguagem oral e escrita, habilidades de atenção, percepção, imaginação, observação, memória, representação figurativa, abstração. As práticas pedagógicas desenvolvidas com linguagens artísticas estão expressas nas ações das crianças, em seus desenhos, revelando mais do que traçados, pinceladas ou rabiscos. Estão cheias de sentimentos, do contexto cultural, de valores sociais acompanhados do fazer pedagógico do professor. O professor deve respeitar esses valores trazidos pela criança, para tanto deverá desenvolver o conteúdo por temas que permeiam esses conhecimentos. O aluno deverá ser incentivado a buscar, em suas memórias, elementos que contextualizem a construção do conhecimento e de aprendizagens que tragam, para ele, significado. Para mais uma contextualização, vejamos o exemplo de atividade de releitura, realizada sobre a obra de arte de Tarsila do Amaral: “Abaporu” (1928) a partir de um projeto incluindo o conteúdo de Ciências (O corpo humano). Pesquisando na Web Acesse o endereço a seguir para conhecer a obra de Tarsila do Amaral Abaporu, e seu significado. http://www.significados.com.br/abaporu/ Observe a Figura 7 a seguir. Figura 4:Releitura da tela Abaporu. Fonte: Ferreira (2014). O conhecimento adquirido pelo aluno, entrelaçado com a releitura da obra analisada, traz novos saberes, novas percepções porque, ao desenvolver essa atividade, a criança utiliza- se de diferentes linguagens, incorporando-as à obra da autora, enriquecido pelo conhecimento registrado na obra analisada. A leitura de imagens nessas representações oferece às crianças novos repertórios que serão incorporados ao seu repertório pessoal. A nova representação – releitura – é fruto do diálogo entre o que as crianças já haviam construído e aquilo que foi possível construir depois da experiência com as imagens da obra. (PONTES, 2001, p. 43). Assim sendo, antes da representação da releitura citada, o professor deve conhecer a obra, para que ele possa levar as crianças a terem diversificadas observações a partir da tela. http://www.significados.com.br/abaporu/ Por exemplo, ao estudar em Língua Portuguesa, poderemos também conhecer a biografia da Tarsila do Amaral, o contexto histórico em que viveu, a representação de suas telas. Os alunos poderão ainda fazer releituras de suas obras com diferentes materiais, desenvolver projetos interdisciplinares, e tudo isso dependerá do conhecimento que o professor possui. Por intermédio desse trabalho interdisciplinar, dessa herança cultural que predispõe o aluno a um contato direto com as telas da pintora, o professor deverá utilizar uma metodologia condizente com a faixa etária dos alunos, “com a realidade atual reelaborando os conhecimentos culturais mediante as necessidades que ora a humanidade necessite, estabelecendonova ordem cognitiva com o mundo e com a pessoa humana”. (BRASIL. 1997, p.45). Concomitantemente à obra, deverão ser desenvolvidas outras atividades, contextualizando o conteúdo estudado, em forma de música, jogos, painel ilustrado com gravuras, o desenvolvimento do corpo também sobre cores, formas e texturas, e, também, atividades que demandam o cuidado com a higiene corporal. Assim, o conhecimento expresso traz vida, reconstrução, criticidade. Nesse sentido, a arte passa a fazer parte deste saber elaborado e não mais como um simples componente curricular. Nesta seleção de trabalhos organizados entre a criança e o professor, deverá ser visível o desenvolvimento, as aprendizagens adquiridas e os novos conhecimentos atingidos e alcançados. Segundo Pillotto (2007, p.113), faz-se necessário "que o professor adote métodos para educar e educar-se pela via do sensível, destacando aspectos que contribuem para esse fim: intuição, emoção, criação, percepção, sensibilidade, sobretudo". O professor, neste contexto, tem uma função imprescindível na formação humana e no despertar da sensibilidade de seus alunos. Ele deverá ser o mediador, intervindo sempre que necessário durante a realização das atividades de arte propostas e desenvolvidas em sala de aula ou no contexto escolar. Assim poderá ter a possibilidade de descobrir novas formas de propor atividades significativas e acompanhar o desenvolvimento dos mesmos. Neste sentido, alunos e professores aprendem e o professor encontrará outras formas, de analisar elementos significativos do desenvolvimento infantil até então despercebidos. Neste espaço, nas relações entre professor/aluno, aluno/aluno, todo aprendizado não acontece de forma neutra, mas sim por meio das mais diversas experiências ali vivenciadas. Nesta troca de conhecimentos, o processo ensino-aprendizagem é contínuo. Como explica Biasoli (1999 apud Lelis, 2004, p. 69) A sala de aula – espaço cênico – é o local onde o trabalho do professor se torna mais evidente, ou seja, é ali que se realiza uma situação de ensino formal e sistematizado, que o professor, numa relação conjunta de ação e re-ação com os alunos – relação pedagógica -, concretiza a maneira de ser dessa relação. É nesse espaço que o professor se mostra em seu papel de educador e se posiciona quanto à suas concepções, estabelece seus objetivos, desenvolve os conteúdos de sua disciplina, criando e recriando, à sua maneira, uma forma de executar e avaliar seu ensino. Fica evidenciada a importância do papel do professor enquanto multiplicador de conhecimentos, influenciando diretamente a construção da expressão criadora do aluno. Nesta expectativa, o direcionamento, a abordagem dos conteúdos, a utilização dos espaços internos da escola e a busca de alternativas para que o ensino aconteça com significado e valorização devem fazer parte do dia a dia do professor no que se refere ao ensino de arte. A educação em artes visuais requer trabalho continuamente informado sobre os conteúdos e experiências relacionados aos materiais, às técnicas e às formas visuais de diversos momentos da história, inclusive contemporâneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artístico pessoal e grupal. (BRASIL.1997, p.45). As transformações ocorridas na própria Arte a partir do século XX constituem o núcleo de todo pensamento e prática artística no âmbito escolar, visando à ampliação da compreensão acerca da arte-educação proposta pela LDB 9394/96 como conteúdo a ser estudado nas escolas brasileiras. Vejam, a seguir, obras de crianças, a partir da releitura do quadro de Portinari: Figura 5: Releituras do quadro de Portinari “Meninos Soltando Pipa”. Foto: Ferreira (2014). Estas obras são a reitura da obra de Portinari, “Meninos soltando pipa”, realizadas pelas crianças, após o trabalho com as obras do autor. Pesquisando na Web Quer conhecer um pouco mais? Veja o vídeo a partir de obras de Portinari, sobre o universo da infância, criado e editado por Cria Mineira, para abertura dos jogos eletrônicos Zip&Del. https://www.youtube.com/watch?v=UFUW-U0pC70 Outra sugestão: Conheça no site da ACRILEX algumas possibilidades de criação com as obras de Portinari. Acesse o site: http://www.acrilex.com.br/educadores.asp?conteudo=113&visivel=sim&mes=41 https://www.youtube.com/watch?v=UFUW-U0pC70 http://www.acrilex.com.br/educadores.asp?conteudo=113&visivel=sim&mes=41 4.5 Desenvolvendo um trabalho significativo em Arte Visuais Faremos agora uma análise significativa de algumas ilustrações de crianças em idade de cursar Educação Infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental. A categoria de análise escolhida foi: para o projeto Eu e minha turma. Figura 6: Desenhos infantis. Fonte: Ferreira (2014). Eu e minha turma foi escolhido como exemplo, por ser um conteúdo desenvolvido independente da etapa/série em que o aluno se encontra. Este conteúdo pode ser estudado na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, no início do ano letivo. Está relacionado a identidade do aluno, o seu relacionar-se com o outro e com o mundo (a natureza). Esse tema torna-se importante, por ser a inserção da criança no contexto escolar, muitas vezes, o primeiro contato fora do convívio familiar. Essa modificação em seu cotidiano provoca mudanças em sua rotina, pela necessidade de ela ter que se incluir no convívio com as diferentes pessoas e aprender a conviver harmoniosamente com todos, para que seja aceita pelo novo grupo social que passará a ocupar. (FERREIRA, 2014, p.90). O começo do ano letivo é sempre cheio de expectativa para os alunos e professores. As novas turmas integram alunos antigos na escola, alunos novatos, professores novos se misturam aos do ano anterior, portanto é preciso um acolhimento, normas de trabalho, conhecimento do grupo e a organização pelo novo grupo da criação das regras de convívio social. Para as crianças da Educação Infantil, muitas vezes esse é o primeiro contato fora do convívio social da família. É um momento muito novo para a criança e familiares. Portanto, esse acolhimento requer um trabalho pedagógico por parte dos professores e da escola no espaço escolar e, em especial, na sala de aula, de receptividade, de confiança, para que ao aluno sinta-se protegido e acolhido no novo ambiente. Para que esse momento se torne significativo, um projeto interdisciplinar pode ser desenvolvido, envolvendo toda a escola e em especial, pode ir sendo delimitado a um projeto da sala de aula, de acordo com as necessidades de cada turma, envolvendo atividades que possam intercalar os conteúdos a serem estudados e também proporcionar interação e conhecimento do grupo. Exemplificando Podemos iniciar as poéticas visuais pelo nome do aluno, a sua primeira identidade e a lista de chamada da turma. Várias atividades podem ser elencadas como: construção do crachá com o nome; jogos dos nomes, lista; álbum ilustrado, confeccionado pelo aluno com o título Minha História, contendo: fotografia do aluno e de sua família, entrevista com a família, pesquisa sobre a sua árvore genealógica, sobre quem escolheu o nome, sobre o significado do nome. Desenho livre, ilustração da própria história Ilustração de letra de música com desenhos, ilustração de álbuns confeccionados com a ajuda do professor, com ilustração de materiais diversificados como linhas coloridas de lã e barbante, gravuras, recortes, confecção de escultura de papel colorido, de barro, de massinha; modelagem, pintura, desenhos, ilustração da própria história; releitura de obra de arte – de fotos - que retratam a família, as brincadeiras infantis; esculturas de massinha, de papel colorido, de argila; ilustrações detextos, de música e poemas referentes à identidade,e nomes, construção de painel da turma com a listagem da turma, desenhos, pesquisas, com gravuras de revistas; autorretrato do rosto e também de corpo inteiro; filmes infantis abordando o tema família, entre outras. Essas atividades podem ser realizadas de forma individual, relacionada a família do aluno, e em grupo, quando relacionada as outras atividades elencadas, dependo da atividade a ser realizada. Para as crianças da Educação Infantil, o desenho é um registro de suas ideias, mas não necessariamente uma representação real da realidade. De acordo com Shineider (2007, p. 22), “na primeira infância, aproximadamente até os oito anos de idade, as crianças estão mais preocupadas com os objetos que desenham e que estes sejam claramente reconhecíveis, do que estejam “corretamente” desenhadas sobre determinado ponto de vista”. Portanto é necessário que o professor se atente para essa realidade, sabendo compreender o desenho realizado por seus alunos. Ampliando o conhecimento É importante salientar que entendemos por poéticas visuais as linguagens artísticas como desenhos, colagens, pinturas, esculturas, fotografias, representações de poemas – utilizadas pelos alunos em seus trabalhos, aos quais se integram ao texto verbal. A seguir, trazemos alguns exemplos de poéticas realizadas em nossa Dissertação de Mestrado: Poéticas Visuais nos portfólios de alunos da educação básica (páginas 98 a 105). Esses trabalhos foram realizados em sala de aula, de forma individual ou coletiva dependendo da propostade trabalho do professor. Veja: Atividade 1: Figura 12 – Autorretrato Fonte - CRM10. Foto: Isabela Doriguetto, 2013. Nas poéticas observadas, percebemos a afirmativa de Shineider (2007, p. 22), “na primeira infância, aproximadamente até os oito anos de idade, as crianças estão mais preocupadas com os objetos que desenham e que estes sejam claramente reconhecíveis, do que estejam “corretamente” desenhadas sobre determinado ponto de vista”. Desenhar é uma das formas de registrar o seu entorno e não realmente como ele se representa. Inicialmente pelas figuras desordenadas para em seguida irem adquirindo formas diferenciadas. Ainda segundo Schneider (2007, p. 23), “os conceitos representativos se desenvolvem num processo de representação gradual”. Na medida em que a criança vai se desenvolvendo nos aspectos físicos, cognitivos, social e psicomotor, suas representações vão adquirindo formas mais definidas. O desenho é uma das primeiras representações do mundo pela criança. Como foi para nossos antepassados, também é para ela: uma das formas de comunicação, de simbolizar o seu entorno e a percepção que tem dele. Em uma das primeiras descrições em forma de desenho realizada pelo CRM1, o mais novo de todos os autores dos portfólios analisados apresenta seu autorretrato (Fig. 12). Pelo trabalho realizado pela criança, identificamos características propícias para uma criança que acabara de completar cinco anos de idade. Já existe uma representação da figura humana por meio de um boneco com a cabeça em formato de círculo da qual saíram os membros superiores e inferiores. Observamos também que existe outra célula em circular, terminando o rosto sem a preocupação de que estes sejam fieis a representação real. Desde muito cedo, as crianças fazem uso do desenho como forma de linguagem para se expressar. Percebemos por parte das atividades propostas nos portfólios, a preocupação para que as crianças deixassem representadas as marcas que expressavam sua identidade, seus gostos, desejos e emoções. Para o desenvolvimento dessa categoria, os alunos trabalharam a partir de músicas e do poema “Identidade”, de Pedro Bandeira (1985).[...] Exemplo 2: Figura 13 – Quem sou eu. Fonte - CRM10. Foto: Isabela Doriguetto, 2013. Também nas expressões deixadas pelos alunos do Ensino fundamental sobre a identidade, diferentes atividades com maior abrangência e detalhes foram encontradas. Inicialmente desenhos representando a fecundação (ciclo da vida) e a identidade, no contexto social intitulado "Quem sou eu" (Figura 13). Percebemos que a pessoa foi entendida como um ser que possui uma identidade única. "Cada um de nós, sabendo ou não, é um cidadão do mundo. A experiência humana é muito mais ampla que a dos valores ou formas de uma cultura em particular" (UNIUBE. 2012. p. 19). Com o conhecimento desenvolvido em rede, conteúdos de Ciência, História e Geografia foram tecidos juntos, dando a esse aluno um embasamento teórico para representar com significado as ilustrações encontradas em seus portfólios. Na rotina do tempo e do espaço cotidiano, percebidos nas atividades, notamos que as práticas desenvolvidas com linguagens artísticas estão expressas nas ações da criança, mas acompanhadas do fazer pedagógico do professor. O conhecimento representado demanda conceitos historicamente construídos e valores sociais, entre outros. Ao desenvolver o conteúdo por temas que permeiam as redes de conhecimentos, o aluno estará sendo incentivado a buscar, em suas memórias, elementos que solidifiquem a construção do conhecimento e aprendizagens que tragam para ele significado. [...] Essas poéticas visuais trouxeram implícitas situações vivenciadas pelas crianças, pois na medida em que avançavam em idade e conhecimento, acresciam mais e mais detalhes às atividades realizadas, seja retratando o seu cotidiano, seja ele próprio pelo seu autorretrato, seja nas atividades com os colegas. Nessa fase em que se encontram, por volta dos oito ou nove anos, segundo Schneider (2007, p. 22), a expectativa das crianças se tornam muito mais amplas. Elas não querem que seus desenhos sejam apenas identificáveis, mas também visualmente realistas." Por isso, os traços dos desenhos são mais definidos, facilitando maior compreensão por parte do leitor.[...] Exemplo 3: Dando continuidade às observações dos portfólios, ainda na categoria 1, trouxemos abaixo a representação da família. Pela figura 15, a criança de 5 anos representou sua família composta por ele, a mãe e o pai. Também há o desenho de um cachorrinho branco, possivelmente seu animal de estimação. Ao desenhá-lo demonstrou a relação de carinho pelo animal, colocando-o como membro familiar. A figura materna está representada a esquerda pelo desenho de cabelos claros, no centro em tamanho maior, a figura paterna, ao seu lado. As descrições são compatíveis com fotos da família que se encontram em outras atividades de seu portfólio. Figura 15 – Representação da família Fonte - CRM09. Foto: Isabela Doriguetto, 2013. Ao realizar essas descrições citadas sobre sua identidade, as crianças demonstraram realizar sua leitura de mundo e, conforme Pontes (2001 p. 124), "têm maior autonomia de representações, pois já conquistaram habilidade de lidar com os materiais buscados e de elaborar cada vez mais o significado de suas representações". [...] Pesquisando na Web Caso queira ler a dissertação na íntegra, ela está disponível no site: www.uniube.br/propepe/ppg/educacao/arquivos/2014/.../Dissertacao-SueliHeloisa3.pd http://www.uniube.br/propepe/ppg/educacao/arquivos/2014/.../Dissertacao-SueliHeloisa3.pd Com todas essas atividades realizadas, proponho agora a você que pense com um novo olhar sobre a importância das atividades envolvendo as poéticas visuais para as crianças e como é fundamental essa visão do professor para o trabalho interdisciplinar instigando, fazendo o aluno a pensar sobre uma nova visão de homem, mundo e sociedade. 4.6 Considerações finais As poéticas visuais na construção dos trabalhos dos alunos devem acontecer de forma interdisciplinar,por onde conteúdos escolares e arte interajam de forma estética e significativa, abrangendo diferentes linguagens: verbal, estética, ética perpassando por uma linguagem artística para expressar aprendizado, emoções e sentimentos. A arte visual de acordo com o RCNEI- Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e PCN de Arte para os anos inicias do Ensino Fundamental tem como eixo norteador a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa: a produção artística, a releitura e a reflexão. O professor para poder desenvolver esse conteúdo precisa ter uma fundamentação teórica que pode ser desenvolvida em capacitação continuada na instituição ou por ele mesmo. Deve desenvolver a possibilidade de ler, inventar, reinventar, reescrever suas ações porque ele é autor de sua prática pedagógica e conhecedor das necessidades de seu aluno. A educação pela arte nos leva a superação de nossas ações, nos desafia a todo instante com questões que precisam de superação. De acordo com o RCNEI e PCN o conteúdo de artes visuais, além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance). (BRASIL.1997. p.45). A arte como Conhecimento nos mostra que o conhecimento humano é inacabado. Que o homem desde a pré-história sempre buscou entender os desafios que exigiam dele superações. Inicialmente, por meio das pinturas rupestres nos deixou suas marcas no interior das cavernas com símbolos que representavam seus desafios e medos. Esses desenhos iniciais deram origem a pintura, a escultura e a fotografia. Portanto a arte é uma fonte de conhecimento que retrata a história do homem no decorrer da história da humanidade em contextos sócio históricos distintos construídos e reconstruídos pelo homem. Assim pensando o professor ao trabalhar com seus alunos diferentes obras de artes de autores distintos deve levar em consideração esse contexto e buscar compreender qual a mensagem do autor ao realizar determinada obra. Desde a Educação Infantil esse trabalho deve ser desenvolvido, está bem claro no RCNEI, no eixo de conhecimento: artes visuais. A expressão em artes visuais: cores e formas, proporciona diferentes possibilidades de trabalho e o diferencial será a contextualização e a criatividade do professor ao trabalhar com as crianças, sem impor seu jeito, seus desenhos, o modelo perfeito e suas verdades de adulto. Resumo Neste capítulo, estudamos como deve ser trabalhado o conteúdo de artes visuais da Educação Infantil as séries iniciais do Ensino Fundamental, utilizando como conhecimento teórico o RCNEI e o PCN de Arte. As artes visuais devem ser trabalhadas como os demais conteúdos escolares, buscando uma concepção de arte que ajude na formação integral do aluno, que agregue conhecimento, de forma contextualizada, interdisciplinar. A arte como adorno, desenvolvida pela escola tradicional, deve dar lugar a uma proposta pedagógica que interaja arte e educação e as diferentes linguagens artísticas que podem ser utilizadas nos trabalhos desenvolvidos com os alunos sob a coordenação do professor. . Por artes visuais, entendemos as linguagens tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), mas também outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação) que se interagem com as diferentes linguagens. A artes visuais devem ser entendidas como expressão de sensibilidade e como conhecimento cultural. O professor precisa ter um conhecimento de arte para poder desenvolver o conteúdo com seus alunos. Pode ser por capacitação pela escola e por ele mesmo. O professor ao analisar as poéticas visuais dos trabalhos de seus alunos precisa perceber o sentido que está expresso no material construído, estudado, desenvolvido sendo o mediador entre o aluno e o conhecimento. Referências AMARAL, T. Abapuru, óleo sobre tela, 85 cm x73 cm, 1928. Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires (MALBA). Disponível em . Acesso em: 22 jan. 2014. ACRILEX: Revista Manual do Educador. Disponível em: . Acesso em 09 ago.2016 ______: Revista Manual do Educador. Disponível em: http://www.acrilex.com.br/educadores.asp?conteudo=113&visivel=sim&mes=41 .Acesso em: 23.ago.2016 BARBOSA, Ana Mae. COUTINHO, R. G. Ensino da Arte no Brasil: aspectos históricos e metodológicos. São Paulo: UNESP/REDEFOR, 2011/2012. Disponível em: . Acesso em: 18 jan. 2012 _______, Ana Mae. A importância do ensino das artes na escola. 2016. 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