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METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES Dra. Ana Kalassa El Banat GUIA DA DISCIPLINA 1 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. DESAFIOS PARA A PRÁTICA DA ARTE NA EDUCAÇÃO “A arte demonstra que o ordinário é extraordinário”. Amedée Ozenfant, 1970. Objetivo: Compreender a complexidade de ações e pensamentos envolvidos na arte e seu ensino. Conhecer os principais desafios para a prática da arte educação. Introdução: Ao falarmos de ensino de arte a primeira coisa que vem a cabeça é a ideia de dom. Mas o que seria o dom? Se usarmos um simples dicionário online encontraremos que dom é “Qualidade inata, natural; aptidão, talento: tem o dom da pintura.” Outro exemplo do uso do termo é uma frase muito usada no senso comum: “Ele tem o dom de cantar, etc.” Mas, se esse for o nosso ponto de partida, a conclusão mais óbvia é que a arte não poderia ser ensinada. Ela seria uma capacidade inata apenas para alguns poucos privilegiados que vieram ao mundo com uma habilidade especial para dominar as técnicas artísticas. Entretanto é preciso diferenciar o que é arte, o que é a capacidade para se emocionar com a arte e qual o papel do ensino de arte, seja na educação formal, seja na informal. 1.1. Conceito de arte e patrimônio cultural Vamos começar por uma reflexão sobre a arte e sua natureza. A arte é uma parcela do que chamamos de cultura que, em geral, recebe certo reconhecimento social, valorização e requer, em muitos casos, de ações de preservação. A arte faz parte da vida, é fácil identificar sua presença ao nosso redor. Se eu pedir a você que fale o nome de uma obra de arte tenho certeza de que você saberá uma série deles de memória. Mas e se eu pedir a você que conceitue arte, será igualmente fácil? Penso que não. Se eu pergunto: qual o conceito de arte? Como resposta, em geral, receberei frases como: Arte é expressão. Arte é comunicação. Arte é uma habilidade ou ainda arte é um dom, mas todas são respostas muito vagas, e nem todas têm a mesma conotação. Por que isso acontece? 2 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Você sabia que a obra de arte que é considerada como a mais conhecida no Ocidente é a Mona Lisa, pintada por Leonardo Da Vinci, em 1503? Leonardo da Vinci. Mona Lisa. 1503-06. Pintura à óleo sobre madeira. Museu do Louvre. Paris. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa ● Além dela você pode conhecer as 16 obras mais conhecidas no Ocidente no artigo: As 16 pinturas mais famosas do mundo. Disponível em: https://www.culturagenial.com/pinturas-mais- famosas-do-mundo/. ● E as 11 obras abstratas mais conhecidas em: https://www.culturagenial.com/abstracionismo-obras-mais- famosas/ O que chamamos arte está relacionado a um conjunto de objetos, produções, formas e outros que são socialmente reconhecidos como extraordinários, isto é, que superam o ordinário, o comum, o cotidiano e ganham destaque, em grande medida, por gerarem um sentido de admiração (que é diferente de beleza). Mas, ainda assim é importante destacar o termo socialmente reconhecida. O que isso significa? Que é a sociedade na forma de historiadores, teóricos, artistas, museólogos entre outros profissionais, incluindo aí os professores que, junto com as instituições: museus, galerias, espaços culturais e mesmo escolas dizem à sociedade o que está sendo considerado arte. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa https://www.culturagenial.com/pinturas-mais-famosas-do-mundo/ https://www.culturagenial.com/pinturas-mais-famosas-do-mundo/ 3 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O que é considerado arte hoje não necessariamente era considerado assim no passado e não temos nenhuma garantia de que será ainda pensado como arte em um futuro não muito distante. Como elemento da cultura a arte está ligada à vida, aos valores, expectativas e percepções dos diferentes locais e tempos. Então agora mesmo, o que nós apontamos como arte nos artigos acima não necessariamente seriam considerados arte em outros lugares como, por exemplo, para os Maoris da Nova Zelândia ou para o povo Inuit, do Ártico. Isso acontece mesmo que nós aceitemos a produção deles como arte. Escultura em madeira Maori. Fonte: http://viajarverde.com.br/nova-zelandia-traz-cultura-maori-para-o-rio-de-janeiro/ Arte Inuit. Canadá. Fonte: https://www.easyvoyage.co.uk/canada/inuit-art-3602 https://www.easyvoyage.co.uk/canada/inuit-art-3602 4 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Você sabia que muitos objetos que consideramos arte hoje não eram considerados assim quando foram produzidos? Exemplos como da arte pré- histórica ou da arte africana indicam que a motivação para criação das obras foi o ritual mágico ou religioso e não apenas um desejo de produzir obras belas. Somos nós, a partir de nossa cultura, nosso lugar no mundo, no tempo e no espaço que as consideramos excepcionais e as nominamos como arte. E, a partir daí as colocamos em museus e galerias, escrevemos livros que as explicam, catalogam, analisam, divulgam e preservam. Vênus de Willendorf. Áustria. 23.000 anos. Período gravetiano. Estatueta de 11,1cm de altura, descoberta em 08 de agosto de 1908. Fonte: https://netnature.wordpress.com/2016/12/07/as-deusas-venus- do-paleolitico/ 5 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Máscara Africana – Tribo Tchokwe Masculina República do Congo. Fonte: https://coracaoafricano2532014.wordpress.com/tag/mwana-pwo/ Para seguirmos com nossa reflexão é preciso esclarecer ainda como conceituamos cultura. Esse conceito também não é único e tão pouco há consenso sobre ele, entretanto as posições mais contemporâneas pensam cultura como toda forma de ação humana no mundo, incluindo todos os modos de preparar certa comida, construir certas formas de residência, tipos de vestimenta e suas formas de confecção e até mesmo a maneira como tratamos a paisagem e a natureza. Ainda que se use um dicionário simples online temos: A cultura é o conjunto de formas e expressões que caracterizarão no tempo uma sociedade determinada. Pelo conjunto de formas e expressões, entende- se e inclui os costumes, crenças, práticas comuns, regras, normas, códigos, vestimenta, religião, rituais e maneiras de ser que predominam na maioria das pessoas que a integram. (Conceito de cultura) Todos possuem cultura. Não há quem não produza, participe, usufrua de alguma forma da cultura, mas há certas formas culturais que se destacam por sua especificidade, por sua capacidade de trazer ao mundo novas ideias e possibilidades que são consideradas, pela sociedade, como patrimônio. Esse patrimônio pode ser local, regional, nacional ou mesmo um patrimônio da humanidade. As manifestações artísticas são parte fundamental do 6 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância patrimônio cultural de um povo, comunidade, popilação. Mais especificamente podemos definir patrimônio cultural como: O patrimônio cultural é composto por monumentos, conjuntos de construções e sítios arqueológicos, de fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas. Esta composição está definida na Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, elaborada na Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris (França), em 1972, e ratificada pelo Decreto No. 80.978, de 12 de dezembro de 1977. (FONTE: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/29). Você sabia que a rodacom fotografias (publicadas em jornais, revistas), literatura, pinturas, quadrinhos, desenhos, esculturas, peças de teatro, dança, computador, televisão, filmes, imagens publicitárias (cartazes, outdoors, anúncios, charges) entre outros. A escola e os professores são os mediadores que devem oferecer perspectivas teóricas e práticas, discussões e experiências com atividades que promovam o entendimento de formas de expressão, das tradicionais e novas técnicas artísticas. (CASTILHO; FERNANDES)18 Por essas qualidades ela deve estar presente na formação escolar. Por aquilo que ela – atividade artística – propicia, pelo conhecimento e reinvenção do mundo que fazem parte da construção da consciência tanto das crianças, como de jovens e de adultos. E isso vale tanto no que diz respeito ao fazer arte como ao apreciar a arte. 18 Idem. 36 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. DIRETRIZES NACIONAIS PARA O ENSINO DAS ARTES Objetivo: Nesse texto trataremos especialmente do referencial curricular nacional da educação infantil e do parâmetro curricular nacional arte - anos iniciais do ensino fundamental. Introdução: Na apresentação do Referencial Curricular, em relação às artes visuais, temos: [...] As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido às sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional. [...] A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às artes visuais. (BRASIL, 1998, p.85). Esse caráter significativo, segundo o Referencial, acentua-se pela presença natural e cotidiana das ações artísticas no universo da criança, reconhecendo o desenhar, o pintar, o cortar, o modelar, o gesticular e o mover o corpo com ou sem som, o cantar e outras formas de expressão sensíveis como pertencentes ao campo das artes. 6.1. Ensino de Arte Ainda na introdução do Referencial a arte é reforçada como linguagem e, como tal, passível de ser comunicada e expressa em relações culturais e sociais, dentre as quais a atividade escolar está inserida. Na sequência, o texto procura demonstrar a existência de largos espaços entre a teoria e a prática da arte na educação; mas o sentido de desenvolvimento estético, apesar de citado em toda a sequência do texto não é esclarecido. Se relembrarmos nossas aulas de arte, durante o período em que fomos alunos, quantos de nós poderemos dizer que vivemos experiências significativas que pudessem ser qualificadas de estéticas? E, qual seria a especificidade dessas experiências vividas por meio da arte? Nos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental encontramos algumas referências interessantes e esclarecedoras. 37 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O que distingue essencialmente a criação artística das outras modalidades de conhecimento humano é a qualidade de comunicação entre os seres humanos que a obra de arte propicia, por uma utilização particular das formas de linguagem. (Brasil, 1997, p. 37). Assim percebemos que a chave de compreensão proposta é o entendimento de que nossa relação com o mundo se dá de muitas formas diferentes, além da lógica e racional, e que essas outras formas de interação homem/ mundo, também devem ser objetos da educação porque formam uma vivência plena das relações sociais entre o indivíduo, consigo mesmo e com outros sujeitos. Assim, a comunicação artística com o mundo é parte daquilo que as crianças devem apreender dentro do processo educacional. Mais adiante, o texto dos Parâmetros ressalta “[...] A experiência estética é a chave da comunicação artística”. (Idem, p. 39). Essa experiência estética em educação, segundo o PCN é uma experiência em que o canal privilegiado de compreensão é “[...] a qualidade da experiência sensível da percepção”. Ou seja, onde o processo do conhecimento seja formado a partir de relações artísticas vivenciadas no fazer ou fruir arte, reinventando a realidade sob novas formas. Um exemplo dessa reinvenção é uma história que corre nos livros de história da arte. Matisse, pintor francês do início do século XX, reconhecido por sua participação na vanguarda artística de nome Fauvismo teria sido abordado durante uma exposição de seus trabalhos. O inquisidor, diante de um quadro seu teria dito algo como: “ – Mas, uma mulher não é verde! ”. A essa questão, o artista teria respondido: “- Mas, isso não é uma mulher, é uma pintura”. É sobre esse caráter de construção de uma nova realidade, que é apresentada ao mundo perante os diferentes meios de que a arte dispõe e reinventa, que as aulas de arte devem ser organizadas, para criar esse sentido estético para a educação. 38 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fazendo novamente um paralelo com nossas vivências enquanto educadores e alunos, podemos dizer que, se podemos prever exatamente qual será o resultado final de uma proposta de trabalho pedida aos alunos, se oferecemos apenas um pedaço de papel em branco, sem qualquer desafio à expressão da criança, não há espaço para a reinvenção, para a criação, para a inovação. Pintar contornos pré-estabelecidos por outros, realizar sempre o mesmo tipo de atividade de desenho ou modelagem, ouvir apenas as músicas que estão tocando no rádio e na televisão, não podem ser consideradas atividades desafiadoras à inteligência infantil, como lembra o próprio referencial. 6.2. A prática da arte segundo o Referencial Curricular – Artes Visuais Dentre as formas de expressão apontadas pelo Referencial para as Artes, nossa disciplina concentrar-se-á em duas: as artes visuais e a música. Em relação às artes visuais, depois de defini-las como motores para a “[...] integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos” (BRASIL. RCNEI, 1998, p. 85), sinaliza para a presença das realizações artísticas na sociedade, como parte integrante do cotidiano da criança vinculada à sua realidade. As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis. (BRASIL. RCNEI, 1998, p. 85) O texto, que trabalha as práticas de artes visuais, chama a atenção para a existência de um descompasso entre a produção “teórica e a prática pedagógica existente” (Idem, p. 87). Sua preocupação está em sinalizar a falta de reflexão crítica em práticas que classifica como decorativista. 39 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Outra crítica do Referencial é em relação ao uso da arte apenas como reforço a outros conteúdos, sem uma identidade própria. Os desenhos mimeografados, velhos conhecidos de todos, também são lembrados como formas estereotipadas. Ao mesmo tempo em que realiza essas críticas, o texto aponta para os avanços no campo da psicologia, da filosofia e da própria arte, chamando a atenção para a obra de Herbert Read, Lowenfeld, discutidas nas nossas aulas anteriores. Assim, o Referencial propõe que a arte deve ser abordada em toda a sua complexidade cultural, dos trabalhos artísticos reconhecidos pelos museus, às estampas, rótulos, gibis e outros de circulação cultural mais ampla. Valoriza ainda as “impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e de fazer artístico” (Idem, p.89) das próprias crianças, como construções de significaçãoque aproximam a criança do conhecimento. As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito da arte. Nesse sentido, as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e características próprias [...]. (BRASIL. RCNEI, 1998, p. 89) Concebendo as artes visuais como linguagem que deve ser apreendida pela criança em sua formação escolar, aponta três aspectos que devem ser articulados na prática pedagógica: o fazer artístico, a apreciação e a reflexão sobre a arte. Esse fazer é concebido como “[...] centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de trabalhos de arte por meio de práticas artísticas, propiciando o desenvolvimento de um percurso de criação pessoal” (Idem, Ibidem). A apreciação, por sua vez, é apresentada como: [...] percepção do sentido que o objeto propõe, articulando-o tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e suportes utilizados, visando desenvolver, por meio da observação e da fruição, a capacidade de construção de sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras de arte e de seus produtores (Idem, Ibidem). A fruição da arte é ressaltada, em nota de rodapé, como processo de articulação entre “[...] emoção, sensação e prazer que advém da ação que a criança realiza ao 40 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância se apropriar dos sentidos e emoções gerados no contato com as produções artísticas” (Idem, Ibidem). A reflexão é apresentada, não como um momento à parte, mas como integrante tanto da experiência do fazer, como do apreciar arte. É concebida como um “[...] pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias produções e as dos artistas” (Idem, Ibidem). 6.2.1. O Parâmetro Curricular Nacional para as Artes Visuais Ao analisarmos o PCN voltado às Artes Visuais no Ensino Fundamental - anos iniciais, percebemos que as diretrizes indicam uma ampliação das ações voltadas à arte. Essa ampliação diz respeito tanto aos aspectos técnicos quanto aos conhecimentos envolvidos na apreciação e na contextualização. Para que essa ampliação de conhecimentos se torne realidade o PCN divide as ações de ensino /aprendizagem em três eixos: O primeiro é "Expressão e comunicação na prática dos alunos em artes visuais". Nesse eixo temos como fundamentos: As artes visuais no fazer dos alunos: desenho, pintura, colagem, escultura, gravura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia, histórias em quadrinhos, produções informatizadas. Criação e construção de formas plásticas e visuais em espaços diversos (bidimensional e tridimensional). Observação e análise das formas que produz e do processo pessoal nas Suas correlações com as produções dos colegas. Consideração dos elementos básicos da linguagem visual em suas articulações nas imagens produzidas (relações entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio). 41 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Reconhecimento e utilização dos elementos da linguagem visual representando, expressando e comunicando por imagens: desenho, pintura, gravura, modelagem, escultura, colagem, construção, fotografia, cinema, vídeo, televisão, informática, eletrografia. Contato e reconhecimento das propriedades expressivas e construtivas dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas na produção de formas visuais. Experimentação, utilização e pesquisa de materiais e técnicas artísticas (pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila, goivas) e outros meios (máquinas fotográficas, vídeos, aparelhos de computação e de reprografia). Seleção e tomada de decisões com relação a materiais, técnicas, instrumentos na construção das formas visuais. pp 45-46. Podemos observar que a ênfase das ações está em fazer com que os alunos experimentem a prática da arte, investindo de forma consciente no desenvolvimento da linguagem ligada à arte, aprofundando os conhecimentos necessários para a comunicação artística. O segundo eixo diz respeito "As artes visuais como objeto de apreciação significativa". Nesse eixo encontramos os fundamentos: Convivência com produções visuais (originais e reproduzidas) e suas concepções estéticas nas diferentes culturas (regional, nacional e internacional). Identificação dos significados expressivos e comunicativos das formas visuais. Contato sensível, reconhecimento e análise de formas visuais presentes na natureza e nas diversas culturas. Reconhecimento e experimentação de leitura dos elementos básicos da linguagem visual, em suas articulações nas imagens apresentadas pelas diferentes culturas (relações entre ponto, linha, plano, cor, textura, forma, volume, luz, ritmo, movimento, equilíbrio). Contato sensível, reconhecimento, observação e experimentação de leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da imagem: fotografia, cartaz, televisão, vídeo, histórias em quadrinhos, telas de computador, publicações, publicidade, desenho industrial, desenho animado. 42 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Identificação e reconhecimento de algumas técnicas e procedimentos artísticos presentes nas obras visuais. Fala, escrita e outros registros (gráfico, audiográfico, pictórico, sonoro, dramático, videográfico) sobre as questões trabalhadas na apreciação de imagens. pp. 46-47. A partir desse eixo podemos perceber a importância que o PCN reserva à leitura de imagens, propondo essa leitura como um processo que compreende tanto os aspectos da linguagem quanto os aspectos sensíveis de significação que são atribuídos a partir da relação entre a arte e o estudante. O terceiro eixo é "As artes visuais como produto cultural e histórico". Os fundamentos desses eixos são: Observação, estudo e compreensão de diferentes obras de artes visuais, artistas e movimentos artísticos produzidos em diversas culturas (regional, nacional e internacional) e em diferentes tempos da história. Reconhecimento da importância das artes visuais na sociedade e na vida dos indivíduos. Identificação de produtores em artes visuais como agentes sociais de diferentes épocas e culturas: aspectos das vidas e alguns produtos artísticos. Pesquisa e frequência junto das fontes vivas (artistas) e obras para reconhecimento e reflexão sobre a arte presente no entorno. Contato frequente, leitura e discussão de textos simples, imagens e informações orais sobre artistas, suas biografias e suas produções. Reconhecimento e valorização social da organização de sistemas para documentação, preservação e divulgação de bens culturais. Frequência e utilização das fontes de informação e comunicação artística presentes nas culturas (museus, mostras, exposições, galerias, ateliês, oficinas). Elaboração de registros pessoais para sistematização e assimilação das experiências com formas visuais, informantes, narradores e fontes de informação. p. 47. Com eles o PCN apresenta a necessidade de, progressivamente, ampliar a autonomia dos estudantes para que sejam capazes de pesquisar sobre arte e de organizar esses conhecimentos. 43 MetodologiaDo Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Dessa forma o PCN mantém uma ligação entre o trabalho na Educação Infantil e as atividades que serão realizadas a partir do Ensino Fundamental, incentivando uma sequência de desenvolvimento estético para o estudante. Pesquise na internet casos reais de empresas que utilizaram alguma teoria organizacional para resolver seus problemas. Para ler na íntegra o livro: FUNDAMENTOS ESTÉTICOS DA EDUCAÇÃO, de João Francisco Duarte Jr. https://books.google.com.br/books?id=8aMGeB0v0ZcC&printsec=frontcover&d q=inauthor:%22Jo%C3%A3o+Francisco+Duarte+Junior%22&hl=pt- BR&sa=X&ei=8QgdUr3sFZOY9QSXjYCQBA#v=onepage&q&f=false Para conhecer o REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL. VOL. III: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf Para conhecer o PARÂMETRO CURRICULAR NACIONAL - ARTE - ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf Para saber mais sobre a leitura de imagens. PLATAFORMA DO LETRAMENTO. Textos e vídeo com a professora Lúcia Santaella apresentando o tema. Para ver o vídeo clique na seta apresentação e siga até a página 3: http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-especial/784/lendo- imagens.html https://books.google.com.br/books?id=8aMGeB0v0ZcC&printsec=frontcover&dq=inauthor:%22Jo%C3%A3o+Francisco+Duarte+Junior%22&hl=pt-BR&sa=X&ei=8QgdUr3sFZOY9QSXjYCQBA#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=8aMGeB0v0ZcC&printsec=frontcover&dq=inauthor:%22Jo%C3%A3o+Francisco+Duarte+Junior%22&hl=pt-BR&sa=X&ei=8QgdUr3sFZOY9QSXjYCQBA#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=8aMGeB0v0ZcC&printsec=frontcover&dq=inauthor:%22Jo%C3%A3o+Francisco+Duarte+Junior%22&hl=pt-BR&sa=X&ei=8QgdUr3sFZOY9QSXjYCQBA#v=onepage&q&f=false http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-especial/784/lendo-imagens.html http://www.plataformadoletramento.org.br/acervo-especial/784/lendo-imagens.html 44 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Finalizamos aqui nossa segunda semana de estudos. Espero que tenha aproveitado bastante e que esteja motivado a colocar muito mais arte nas suas vivências pessoais e profissionais. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena P. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. CANDA, Cilene Nascimento; BATISTA, Carla Meira Pires. Qual o lugar da arte no currículo escolar? R. cient. /FAP, Curitiba, v.4, n.2 p.107-119, jul. /dez. 2009. p. 109. Disponível em: http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cil ene_Canda_Carla_Batista.pdf Último acesso em julho de 2022. CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo. Questão estética no ensino de artes no ensino fundamental. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4% 20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%2 0NO%20ENSINO.pdf Último acesso em: junho 2022. CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino das Artes Visuais mapeando o processo criativo. Santa Maria: Editora da UFSM, 2008. Entrevista: João Duarte Jr. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 12 - n. 3 - p. 362-367 / set-dez 2012. Disponível em: http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 FRÓIS, João Pedro. Educação Estética e Artística: abordagens transdisciplinares. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. Parâmetros curriculares nacionais: arte / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. Referencial curricular nacional para a educação infantil - volume III. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. TROJAN, Rose Meri. Estética da sensibilidade como princípio curricular. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 122, p. 425-443, maio/ago. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v34n122/22512.pdf. (Também disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 http://www.scielo.br/pdf/cp/v34n122/22512.pdf http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 45 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. A BNCC – BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E AS ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Conhecer as indicações da BNCC para as artes e comparar com as indicações do RCNEI. Introdução A BNCC - Base Nacional Curricular para educação infantil e fundamental foi homologada em dezembro de 2008 e discorre sobre o que crianças e jovens aprenderão na educação básica. Nessa aula trataremos de como a arte é apresentada nesse documento em comparação com o RCNEI. 7.1. A Arte na EI segundo a BNCC e o RCNEI A BNCC divide os conhecimentos específicos da educação infantil em “campos de experiências”. Entre eles há um que aborda especificamente as linguagens artísticas: “Traços, sons, cores e formas”. Os objetivos de aprendizagem desse campo são divididos por faixa etária: 46 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Objetivos de Aprendizagem. Campos de Experencias. Traços, sons, cores e formas. Base Nacional Comum Curricular. P 39. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp- content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf A partir dessa indicação observamos que a ênfase apresentada na BNCC é para a experimentação de materiais e suportes da arte, investindo na experiência estéticas das crianças e na descoberta lúdica dos sentidos. Ao compararmos com o que indica o RCNEI observamos que o eixo da “reflexão” sobre a arte não teve espaço na BNCC e o da apreciação é pouco desenvolvido. No RCNEI, as artes visuais são apresentadas como linguagem, desenvolvida a partir da interrelação entre os eixos do fazer artístico, da apreciação e da reflexão. RCNEI. 1996. P. 89. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf 47 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância E os objetivos e a apreciação da arte já encaminham o aprendizado, segundo o RCNEI, para a percepção da linguagem e prática de leitura visual, como produção de significado, enfatizando que a criação de sentido é construída na interrelação com as experiências pessoas de cada criança. RCNEI. 1996. P. 91. [grifo nosso] Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. Assim sendo, o RCNEI, não deve ser esquecido no momento de organização das propostas de ensino de arte. 7.2. A música na BNCC e no RCNEI O mesmo vai ocorrer em relação à musicalização, que é uma importante aliada do professor de educação infantil, e que tem uma ênfase muito mais destacada no RCNEI: “ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mão etc., são atividades que despertam, estimulam e http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf48 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva”. (RCNEI. 1996) Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados” (RCNEI. 1996, p. 48). Dessa forma percebemos que o que está sendo valorizado é a compreensão da “música como linguagem e forma de conhecimento”. A música desenvolve a “expressão, o equilíbrio, autoestima e autoconhecimento, além de um poderoso meio de integração social” (RCNEI. 1996, p. 49) e pode colaborar para a aprendizagem em outros campos do conhecimento como na alfabetização. Segundo o RCNEI os objetivos da música na E.I. são divididos por idades: Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Vol III. P. 55. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf 49 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Vol III. P. 55. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf Por sua vez os conteúdos indicados para o trabalho com música pedem o desenvolvimento da linguagem musical para que as crianças cultivem habilidades de comunicação e expressão. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Vol III. P. 57. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf 50 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A BNCC efetiva o direito da criança a um desenvolvimento saudável, lúdico e integrado, mas em relação à arte, precisa ser apoiada pelas conquistas do RCNEI, que preconiza a arte como linguagem e a capacidade de apreciação e reflexão desde a primeira infância. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc- 20dez-site.pdf. BRASIL. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Vol III. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. 51 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. A BNCC E A ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL - ANOS INICIAIS Objetivo: Compreender as indicações da BNCC para a arte nos anos iniciais do E. Fundamental. Introdução: A arte é apresentada, na BNCC, entre as linguagens e, dentro do campo da arte são apresentas 4 linguagens artísticas distintas: Artes visuais, a Dança, a Música e o Teatro. “Essas linguagens articulam saberes referentes a produtos e fenômenos artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre formas artísticas” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). Nosso material focará nas Artes Visuais. 8.1. A arte nos anos iniciais A principal característica da arte nessa etapa é seu potencial de expressão: “A sensibilidade, a intuição, o pensamento, as emoções e as subjetividades se manifestam como formas de expressão no processo de aprendizagem em Arte” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). Um aspecto de destaque na BNCC é sua indicação de que a arte pode colaborar com o desenvolvimento de uma cultura de tolerância pela “interação crítica dos alunos com a complexidade do mundo, além de favorecer o respeito às diferenças e o diálogo intercultural, pluriétnico e plurilíngue, importantes para o exercício da cidadania” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). A partir dessa reflexão propõe a apresentação de múltiplas formas de arte aos estudantes, especialmente as ligadas a cultura popular e aos circuitos alternativos. Outro aspecto importante é o destaque sobre a necessidade de desenvolver a autonomia dos estudantes para o processo de criação. “A aprendizagem de Arte precisa alcançar a experiência e a vivência artísticas como prática social, permitindo que os alunos sejam protagonistas e criadores” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). Há uma ênfase sobre a prática da arte, ainda que objetivos e ações de leitura e contextualização da arte sejam presentes. Veja os quadros gerais que apresentam os objetos de conhecimento de cada linguagem artística e suas habilidades: 52 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 53 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Destacamos especialmente as artes visuais: Ao analisarmos a proposta da BNCC destacam-se as dimensões da arte como criação: “refere-se ao fazer artístico, quando os sujeitos criam, produzem e constroem. Trata-se de uma atitude intencional e investigativa que confere materialidade estética a sentimentos, ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e produções artísticas individuais ou coletivas” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). Outra dimensão é a crítica que “refere-se às impressões que impulsionam os sujeitos em direção a novas compreensões do espaço em que vivem, com base no estabelecimento de relações, por meio do estudo e da pesquisa, entre as diversas experiências e manifestações artísticas e culturais vividas e conhecidas” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). 54 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A dimensão estesia: “refere-se à experiência sensível dos sujeitos em relação ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às imagens, ao próprio corpo e aos diferentes materiais” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210), enfatizando o protagonismo das crianças na experimentação artística. A dimensão seguinte é a expressão que “refere-se às possibilidades de exteriorizar e manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, tanto em âmbito individual quanto coletivo” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). A dimensão da fruição: “refere-se ao deleite, ao prazer, ao estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante a participação em práticas artísticas e culturais”. E a última dimensão é a de reflexão que está associada ao “processo de construir argumentos e ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos e culturais. É a atitude de perceber, analisar e interpretar as manifestações artísticas e culturais, seja como criador, seja como leitor” (BRASIL, 2018. pp. 191- 210). Para ampliarmos nossa capacidade de realizar a leitura de imagem e consequentemente a apreciação da arte precisamos conhecer um pouco das estratégias que são utilizadas como procedimentos de leitura. Escolhi apresentar nessa disciplina o “Image Watching”, mas há várias outras estratégias de leitura e, em verdade, cada educador, ao longo de sua formação e atuação, desenvolve suas próprias formas de organização da apreciação que devem ser coerentes com a realidade dos grupos com que essa ação didática esteja sendo desenvolvida. 8.2. Image Watching O sistema de crítica de arte, Image Watching, foi criado por Robert William Ott, [nos anos 1980], então professor do Departamento de Educação Artística da Penn State University, na Pensilvânia, EUA. Sua proposta apresenta seis etapas a serem realizadas numa sequência contínua dentro da qual etapas de reconhecimento e ampliação de saberes são alcançados. Sua boa adaptação a estudantes ou professores em início de carreira ou de áreas distintas é uma das vantagens desse método.55 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A gênese do sistema Image Watching foi, além do reconhecimento da importância da atividade crítica, a tentativa de solucionar desafios. Como professor do Departamento de Arte-Educação, Ott foi responsável pelas disciplinas de prática de ensino com estágio supervisionado e museu e educação. Seus alunos eram inscritos ou no curso de bacharelado em artes, de arte-educação, ou de formação de professores para as primeiras séries do ensino fundamental. Tinha sob sua responsabilidade uma clientela heterogênea em relação ao conhecimento sobre arte e vivências artísticas e museologia. REFERÊNCIA: RIZZI, Cristina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Disponível em: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 Ott usou os termos que nomeiam as etapas de leitura no gerúndio como forma de enfatizar o significado processual dessa operação, por isso: aquecimento/Sensibilização, descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando, que é a culminância do processo. A primeira etapa, de Aquecimento/Sensibilização, visa criar uma predisposição à apreciação. Aquecimento/Sensibilização quando o indivíduo deve predispor-se à performance da apreciação, preparando seu potencial de percepção e de fruição, em uma atmosfera favorável à criação. REFERÊNCIA: RIZZI, Cristina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Disponível em: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 A segunda etapa: Descrevendo impõe uma postura objetiva para o olhar atento, capaz de indicar, com alguma precisão, o que está sendo visto, enquanto a terceira: Analisando nos desafia a buscar as questões estéticas e de percepção para compreender os processos técnicos e de formação de sentido da imagem. http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 56 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Descrevendo é o momento em que a percepção é priorizada e a enumeração do que está sendo visto é efetuada. Analisando enfoca e desenvolve os aspectos conceituais da leitura da obra de arte, utilizando para a análise formal da obra percebida conceitos da Crítica e da Estética. REFERÊNCIA: RIZZI, Cristina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Disponível em: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 A quarta etapa: Interpretando é o momento em que é possível a cada leitor estabelecer vínculos com a imagem, relacionando aquilo que é visto com o que já foi vivenciado para propor sentido contemporâneos a imagem. A quinta etapa: Fundamentando é o momento da pesquisa nos livros, sites, artigos que tratam da imagem, do assunto, da vida e obra do artista/criador ou de temas transversais que possam auxiliar na ampliação de saberes ligados a obra que está em discussão. Interpretando é o momento das respostas pessoais à obra de arte, objeto da apreciação, quando as pessoas expressam suas sensações, emoções e ideias a partir do contato com a materialidade da obra, seu vocabulário, gramática e sintaxe. Fundamentando acrescenta uma extensão que não era encontrada na época em outros sistemas de crítica. É o momento de trazer o conhecimento adicional disponível no campo da História da Arte, a respeito da obra e do artista que estão sendo objeto de conhecimento. A intenção é de ampliação do conhecimento e não de convencimento do aluno a respeito do valor da obra de arte. REFERÊNCIA: RIZZI, Cristina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Disponível em: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 A última etapa: Revelando, é a finalização do processo. Nele é esperado que o leitor coloque em prática as estratégias de criação, processos técnicos, a poética artística ou uma proposição de um percurso de criação onde possa demonstrar sua compreensão da leitura. Mas, isso não significa ter de copiar a imagem lida nem de recriar essa mesma imagem. Essa etapa final pode ser realizada em qualquer linguagem ou meio expressivo e pode http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 57 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância deixar ver a obra lida ou não. Isto é, pode se descolar totalmente dela. Isso vai depender totalmente do impulso criador de quem participou do processo. Revelando é entendido como o momento de culminância do processo de ensino da arte através da crítica de arte. Neste momento, o aluno tem a oportunidade de revelar, através do Fazer Artístico, o processo de construção de conhecimento por ele vivenciado. REFERÊNCIA: RIZZI, Cristina. Contemporaneidade (mas não onipotência) do Sistema de Leitura de Obra de Arte Image Watching. Disponível em: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 A partir dessas dimensões, e mirando o desenvolvimento das competências da área, a arte participa da educação integrando conhecimentos, na construção de uma interdisciplinaridade que efetive o aprendizado integral da criança. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc- 20dez-site.pdf. BRASIL. Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil. Vol III. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=15 http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000053.pdf. 58 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. AVALIAÇÃO FORMATIVA E CONTINUADA NAS ARTES Objetivo: Nesse texto discutiremos aspectos importantes para a efetivação de uma proposta de avaliação que corresponda às expectativas da avaliação como parte de um processo de formação contínua para professores e estudantes. Introdução: A primeira ação é a conceituação do que seria avaliar: Avaliar é uma ação pedagógica guiada pela atribuição de valor apurada e responsável que o professor realiza das atividades dos alunos. Avaliar é também considerar o modo de ensinar os conteúdos que estão em jogo nas situações de aprendizagem. Avaliar implica conhecer como os conteúdos de Arte são assimilados pelos estudantes a cada momento da escolaridade e reconhecer os limites e a flexibilidade necessários para dar oportunidade à coexistência de distintos níveis de aprendizagem em um mesmo grupo de alunos. Para isso, o professor deve saber o que é adequado dentro de um campo largo de aprendizagem para cada nível escolar, ou seja, o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área. (BRASIL. PCN - Arte, 1998) Tanto para as artes visuais como para a música a indicação de avaliação do Referencial e do PCN é a avaliação formativa. A avaliação formativa é apresentada como uma possibilidade de acompanhamento constante do aluno, levando em consideração os processos que são vivenciados pelos estudantes, e nasce de um trabalho intencional, consciente do professor. 9.1. Diretrizes para a avaliação em artes Segundo o Parâmetro Curricular Nacional é preciso compreender em que momentose com que direção essa avaliação poderá ser realizada, destacando: avaliação diagnóstica, avaliação do processo e avaliação do produto resultante. A avaliação no processo de ensino e aprendizagem de arte precisa ser realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo na área e tem três momentos para sua concretização: 59 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A avaliação pode diagnosticar o nível de conhecimento artístico e estético dos alunos, nesse caso costuma ser prévia a uma atividade; A avaliação pode ser realizada durante a própria situação de aprendizagem, quando o professor identifica como o aluno interage com os conteúdos e transforma seus conhecimentos; A avaliação pode ser realizada ao término de um conjunto de atividades que compõem uma unidade didática para analisar como a aprendizagem ocorreu. (BRASIL. PCN - Arte, 1998) O objetivo de se realizar a avaliação formativa é que esta deve ser um instrumento para o reconhecimento dos caminhos de aprendizagem percorridos pelo estudante e pelo grupo e servirá como apoio para a reorganização de objetivos, conteúdos, procedimentos, atividades, quando necessário e também como forma de acompanhar e conhecer cada estudante e grupo e suas necessidades. Dentro do processo pedagógico que acontece em qualquer disciplina, a avaliação é um momento importante tanto para alunos e professores, quanto para a família e os gestores escolares que acompanham o processo de ensino e aprendizagem. A avaliação deve ser realizada obedecendo a critérios pré-estabelecidos, adequados ao conteúdo estudado, aos objetivos de aprendizagem e a etapa de desenvolvimento do grupo. Além disso, o aluno precisa conhecer quais critérios serão utilizados para avaliá-lo. Tradicionalmente a avaliação é quantitativa: de forma objetiva a nota obtida corresponde à quantidade de conhecimento que o aluno demonstra no momento da avaliação, o que não significa, necessariamente, um aprendizado efetivo e duradouro. Mas essa abordagem, felizmente, vem sofrendo alterações na prática e na legislação. Na Lei de Diretrizes e Bases de 1996 esse novo enfoque do processo avaliativo já aparece. "Art. 24, seção V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais". 60 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nessa abordagem o processo avaliativo acontece continuamente com critérios de avaliação que demonstram como está o processo de desenvolvimento do aluno, o resultado – produto final - servirá para perceber como o aprendizado está acontecendo, ele não será o foco da avaliação, pelo contrário, ajudará o professor a avaliar também os resultados do seu trabalho, podendo readequar – ou não – as estratégias e conteúdos em sala de aula, conforme a necessidade. Especialmente a partir do Ensino fundamental cabe promover também situações de autoavaliação para desenvolver a reflexão do aluno sobre seu papel de estudante. É interessante que a autoavaliação seja orientada, pois uma estrutura totalmente aberta não garantirá que o aluno reconheça os pontos relevantes de seu percurso de aprendizagem. Dentro de um roteiro flexível, o aluno poderá expressar suas ideias e posteriormente comparar, reconhecer semelhanças e diferenças entre suas observações e as dos colegas. Esse roteiro pode ser preparado pelo professor, mas com a participação dos estudantes, a partir de questionamentos como: quais pontos estudados podem demonstrar o quanto e o que aprendemos? Como podemos demonstrar o que foi aprendido? Ao pensar sobre o que demonstra efetivamente os processos de aprendizagem, tanto professores como estudantes adquirem novas competências em relação aos critérios de avaliação e sua organização. Quanto aos conteúdos trabalhados, a avaliação poderá ser feita por meio da criação de cartazes, imagens, portfólios, dramatizações ou composições musicais articuladas pelos alunos, assim como por pequenos textos ou falas em que eles abordem sobre os conteúdos estudados. O professor deve observar se o aluno articula uma resposta pessoal com base nos conteúdos estudados, que apresente coerência e correspondência dentro de suas possibilidades de aprendizado. Pode ainda observar se houve um processo de reflexão sobre o tema e se o estudante foi capaz de estabelecer relações entre os temas estudados e sua própria vida, a realidade da qual participa ou aspectos da cultura escolar aos quais esteja ligado. 61 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Outro ponto de destaque para realizar a avaliação qualitativa é a capacidade de pesquisar, associar e organizar informações em relação aos temas estudados e se o estudante foi capaz de socializar sua aprendizagem com os colegas a partir das experiências realizadas no coletivo. Entretanto, não há critérios pré-estabelecidos que correspondam a toda situação de aprendizagem. Cada proposta pedirá por um olhar atento e por um processo reflexivo que apresente critérios específicos para a situação em questão. Nesse texto estudamos os processos envolvidos na efetivação de propostas de avaliação formativas e contínuas para as artes na educação, que sejam qualitativas e se adaptem a cada situação de ensino/aprendizagem específicas, superando a avaliação meramente quantitativa e que envolva processos reflexivos para professores e estudantes. ● Para conhecer mais sobre MÚSICA NA ESCOLA: A ORQUESTRA E SEUS INSTRUMENTOS: https://www.youtube.com/watch?v=nSJeBqxJ6tc ● Neste vídeo o maestro Edilson Venturelli, da Orquestra Sinfônica Heliópolis, e os alunos do Instituto Baccarelli, em São Paulo mostram como funciona uma orquestra e explicam a origem e a mecânica de cada um dos instrumentos que a compõem (a família das cordas, a dos metais, a das madeiras e os instrumentos de percussão). ● Para conhecer um projeto em que catadores de lixo criam ORQUESTRA COM INSTRUMENTOS DE OBJETOS RECICLADOS: https://www.youtube.com/watch?v=_21MpYU8SJw ● Para conhecer mais sobre as relações entre Arte & Matemática - 08 - Matemática da Música: https://www.youtube.com/watch?v=6mHjdQpzxyI ● Para conhecer mais sobre as relações entre Arte & Matemática - 07 - Música Nas Esferas: https://www.youtube.com/watch?v=lVmuC9w8Iis https://www.youtube.com/watch?v=nSJeBqxJ6tc https://www.youtube.com/watch?v=_21MpYU8SJw https://www.youtube.com/watch?v=6mHjdQpzxyI https://www.youtube.com/watch?v=lVmuC9w8Iis 62 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Finalizamos aqui o estudo do nosso componente curricular. Espero que tenha aproveitado nosso tempo de estudo e que esse tenha sido apenas o início de sua aproximação com a arte na educação. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. vol. III. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetro Curricular Nacional - Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Cia das Letras, 1989. 1. DESAFIOS PARA A PRÁTICA DA ARTE NA EDUCAÇÃO 1.1. Conceito de arte e patrimônio cultural 1.2. Arte na educação 2. ARTE NA ESCOLA – UM POUCO DESSA HÍSTORIA... 3. A LEITURA DE IMAGEM NO CONTEXTO DA PROPOSTA TRIANGULAR 3.1. As leituras das crianças do Jardim B 4. ESTÉTICA E EDUCAÇÃO ESTÉTICA 4.1. Educação estética e experiência estética na educação 4.2. Relações entre arte e estética5. EXPERIÊNCIA ESTÉTICA NA SALA DE AULA 5.1. Experiência Estética 6. DIRETRIZES NACIONAIS PARA O ENSINO DAS ARTES 6.1. Ensino de Arte 6.2. A prática da arte segundo o Referencial Curricular – Artes Visuais 6.2.1. O Parâmetro Curricular Nacional para as Artes Visuais 7. A BNCC – BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E AS ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 7.1. A Arte na EI segundo a BNCC e o RCNEI 7.2. A música na BNCC e no RCNEI 8. A BNCC E A ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL - ANOS INICIAIS 8.1. A arte nos anos iniciais 8.2. Image Watching 9. AVALIAÇÃO FORMATIVA E CONTINUADA NAS ARTES 9.1. Diretrizes para a avaliação em artesde capoeira está inscrita na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO, desde 2014? E o Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará), desde 2013? Além deles são considerados patrimônios da humanidade o Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife, o Yaokwa, ritual do povo enawene nawe para a manutenção da ordem social e cósmica, as expressões orais e gráficas dos wajapis e o Samba de roda do Recôncavo Baiano. A UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura é o órgão internacional que orienta programas de proteção ao patrimônio mundial. Pesquise mais sobre os patrimônios culturais brasileiros reconhecidos pela UNESCO em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world- heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/#c1414250 Consulte também o artigo: Os 14 Patrimônios Culturais da Humanidade que ficam no Brasil - Construções históricas e até uma cidade inteira estão na lista de patrimônios tombados pela Unesco em http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Conven%C3%A7%C3%A3o1972.pdf http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Conven%C3%A7%C3%A3o1972.pdf http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/frevo/#c1415508 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/yaokwa-ritual-do-povo-enawene-nawe/#c1415500 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/yaokwa-ritual-do-povo-enawene-nawe/#c1415500 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/expressoes-orais-e-graficas-dos-wajapis/#c1414260 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/#c1414252 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/samba-de-roda-do-reconcavo-baiano/#c1414252 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/#c1414250 http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/intangible-cultural-heritage-list-brazil/#c1414250 7 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/patrimonios-culturais-da- humanidade-unesco-brasil/ Há órgãos instituídos nas diversas instâncias que são responsáveis por registrar ou no caso da arquitetura, tombar, as formas culturais, materiais ou imateriais que são consideradas tão importantes para nossa identidade que devem ser preservadas, valorizadas e difundidas. Você conhece os órgãos de preservação do patrimônio? Entre os órgãos que fazem a gestão do patrimônio nacional estão o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), esfera federal e, por exemplo, o Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, na esfera estadual. Cada estado tem um órgão ligado a Secretaria de Estado da Cultura e algumas cidades têm órgão ligados à Secretaria de Cultura, como é o caso de Santos, cidade que possui o CONDEPASA - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos. Mas, como a arte participa da educação e por quê? 1.2. Arte na educação “Criar arte é ver o mundo como que pela primeira vez. É buscar a origem, o gesto que o fundou. É reaprender cada coisa, cada objeto, é dar novos significados às coisas já existentes, é reinventar, reconduzir, reconstruir”. Frederico de Morais, 1989. Como ensinar arte? Os documentos oficiais, que orientam as diretrizes educacionais, são unânimes em afirmar a importância da arte para o desenvolvimento pleno do indivíduo e de suas capacidades de relacionar-se com o mundo a sua volta. Fala-se muito sobre uma educação estética, uma educação para o reconhecimento e o domínio de múltiplas linguagens, mas pouco se pratica dessa multiplicidade. https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/patrimonios-culturais-da-humanidade-unesco-brasil/ https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/patrimonios-culturais-da-humanidade-unesco-brasil/ 8 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Cunha chama nossa atenção para a importância da arte para a criança e de como as crianças estão próximas dos artistas: A arte faz de conta. Crianças, artistas, fazem de conta que um rabisco, um objeto, um fragmento, um pensamento se transforme em uma outra coisa. Tanto as crianças, quanto àqueles adultos que persistem em deslocar a ordem estabelecida do mundo, compartilham de um pensamento similar, no sentido de que ambos propõem simulacros ou fingem que uma coisa é outra coisa. Artistas e crianças, percebem o mundo e dão sentido a ele através de formas singulares. Utilizam seus sentidos de forma mais aguçada do que a maioria dos adultos que deixaram para trás esta capacidade humana de ver, imaginar e simbolizar. (CUNHA)1 Para que todo esse potencial aflore é preciso apresentar a arte para a criança, deixá-la apropriar-se de seus processos e princípios. A principal tendência para o ensino de arte na atualidade apresenta a necessidade de que o professor seja um mediador entre a criança e o universo artístico e para isso as propostas devem relacionar três eixos ou ações que devem ser organizadas pelo professor. Esses eixos são: o fazer artístico, a leitura de obras de arte e a contextualização da arte. Vamos conhecer um pouco do caráter e a contribuição de cada um desses eixos? Iniciaremos pela prática da arte. Sintetizando podemos dizer que o fazer ou produção artística é uma oportunidade para o aluno desenvolver um percurso próprio de criação na prática da Arte. Um momento para que ele crie segundo as suas experiências, possibilidades e expectativas. 1 CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Como vai a Arte na Educação Infantil? Disponível em: http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html. http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html 9 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A etapa da produção é a oportunidade de o aluno testar, conhecer e escolher diferentes cores, formatos, gestos, movimentos corporais e sons. É o momento de mostrar suas escolhas, mudar de ideia, decidir novamente. "O estudante deve ter a chance de experimentar com diferentes formas e procedimentos para desenvolver um percurso próprio", diz Rosa Lavelberg. "O caminho é favorecer a criação com propostas instigantes. Assim, a produção dialoga com diferentes referências e alimenta a poética pessoal", diz Mirian Celeste Martins, do programa de pós- graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie, na capital paulista. (SANTOMAURO)2 E, o que isso quer dizer? Que desenhar, pintar, modelar, ou fotografar deve ser uma experiência importante, criativa, em que a criança faz uma busca pessoal por sentido usando da linguagem visual. Por meio da arte a criança tem a oportunidade de organizar o seu mundo interior, suas experiências e intenções. Mas, para fazer isso ela depende do aprendizado dessa linguagem. Da mesma forma que aprendemos a ler e escrever a língua mãe ou outra língua, precisamos aprender a nos expressar visualmente e é aí que entra o segundo eixo: a leitura de imagem. Mas, o que seria isso? O momento em que as imagens são apresentadas e olhamos para elas com interesse renovado, pela organização didática dessa experiência. Olhamos com atenção para as imagens da arte para perceber como foram realizadas, quais aspectos da linguagem o artistausou, como são as cores, as formas e etc. para aprendermos a tirar partido dessas soluções e as utilizarmos também. A leitura de imagem também é chamada de apreciação ou fruição e pode ser sintetizada como a oportunidade para a ampliação do repertório dos estudantes, mas seu papel é bem mais amplo. 2 SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Arte. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer- cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 10 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Durante as atividades de apreciação, a turma aumenta o repertório. Ao ampliar a variedade de produções que conhece e ao analisar, o aluno estabelece ligações com o que já sabe e "constrói conhecimentos", como diz Marisa Szpigel. Essa parte do trabalho é feita em visitas a instituições culturais3, teatros e espaços para shows e outras apresentações artísticas que permitam desenvolver o pensamento crítico e perceber como a arte afeta cada um. (SANTOMAURO)4 O terceiro eixo desse tripé é constituído pela possibilidade de reflexão e/ou contextualização da arte. Toda imagem tem uma história. Ela foi realizada por alguém, em algum lugar e com algum tipo de propósito. A pesquisa procura revelar aspectos da obra com os quais podemos nos relacionar hoje, a partir da das nossas experiências atuais, atribuindo novos significados a essa obra. Já a fase da reflexão é uma espécie de complemento da apreciação. A diferença é sutil: ela tem lugar quando o estudante analisa o que viu e ouviu. Sabendo que aquele objeto artístico foi criado em determinado contexto e que faz parte de uma história, torna-se capaz de entender os significados atribuídos a ele. Daí a importância das discussões em classe (e da leitura de críticas e resenhas) para todos observarem que há outras maneiras de entender a arte. Registros escritos também favorecem a expressão de ideias. (SANTOMAURO)5 Essa é apenas uma introdução a prática da arte, mas essa análise das relações entre teoria e prática serão tema de todo o componente, de forma mais ou menos direta. No próximo texto vamos conhecer um pouco sobre as mudanças históricas envolvidas no ensino da arte relacionado essas mudanças às tendências pedagógicas. 3 As visitas a exposições e outros locais culturais não são a única forma de contato com a arte para realizar a apreciação. Essa leitura também pode ser realizada pela apresentação de imagens projetadas ou impressas de obras na própria sala de aula. 4 SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Arte. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1509/o-que- ensinar-em-arte 5 Idem. https://novaescola.org.br/conteudo/1509/o-que-ensinar-em-arte https://novaescola.org.br/conteudo/1509/o-que-ensinar-em-arte 11 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. ARTE NA ESCOLA – UM POUCO DESSA HÍSTORIA... “A função da arte é o aprimoramento da consciência humana”. Herbert Read, 1957. Antes de falarmos sobre objetivos, métodos e estratégias para a arte na educação precisamos conhecer um pouco sobre a história do ensino da arte. Historicamente a relação entre o ensino da arte e as tendências pedagógicas pode ser dividido em cinco momentos. O primeiro é marcado pela influência da pedagogia tradicional. Segundo FERRAZ e FUSARI (1993, p. 30) as aulas sobre a influência da pedagogia tradicional usaram o desenho como principal conteúdo do ensino da arte, optando por uma ênfase utilitária, de preparação para o trabalho. A presença do desenho nas escolas primárias e secundárias “[...] fazia analogias com o trabalho, valorizando o traço, o contorno, a repetição de modelos, que vinham geralmente de fora do país; o desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico” (Idem, p. 30). Esses conteúdos serviam tanto para preparação para o serviço industrial como para o artesanal. E, nas “escolas normais”, de preparação de professores, incluía-se o “desenho pedagógico”, com o objetivo de ilustrar as aulas. A aprendizagem era realizada por meio de atividades com ênfase na repetição, no exercício da mão, na memorização, no refinamento do gosto e no senso de moral. Apesar da introdução, a partir dos anos 1950, da música, canto orfeônico e trabalhos manuais, a relação com a aprendizagem continuou a ser “[...] reprodutivista, desvinculando-se da realidade social e das diferenças individuais” (FERRAZ; FUSARI, 1993. p. 31), centrado no professor. Muitas dessas características de ensino e aprendizagem continuam presentes na escola atual, apesar das diversas mudanças pelas quais a educação tem passado como a ênfase no desenho, a repetição de modelos, o desenho pedagógico, o destaque às habilidades manuais e os conteúdos técnicos. 12 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A segunda grande tendência no Brasil foi a Pedagogia Nova também conhecida como movimento Escola Nova. Segundo FERRAZ e FUSARI (1993, p. 31), esse movimento, originário da Europa e Estados Unidos ainda no século XIX, repercutiu no Brasil nos anos 1930, mas ganhou destaque a partir dos anos 1950 e 1960, com escolas experimentais. Os teóricos de referência dessa tendência foram os americanos John Dewey e Victor Lowenfeld, assim como o inglês Herbert Read. As ideias presentes a essas teorias reforçaram a importância da arte como expressão: [... ] como um dado subjetivo e individual em todas as atividades, que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo de trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia. (FERRAZ; FUSARI, 1993. P. 31). Em 1948, Augusto Rodrigues inicia a criação de uma “escolinha de arte” no Rio de Janeiro; com base nos princípios da Escola Nova. Buscava-se que a criança, por meio da arte, tivesse comportamentos mais criativos e “mais harmoniosos”, vendo a criança em seu aspecto global. A ênfase não era dada sobre o resultado ou produto artístico, mas sobre o processo vivenciado a partir de experiências com arte, um “aprender fazendo”. A influência dessa forma de conceber as relações de aprendizagem na arte está presente até hoje na educação, por exemplo, no uso do desenho livre e na negação das influências exercidas por professores e pelos outros alunos, tanto sobre o processo, como sobre o resultado final ou produto resultante das investidas artísticas da criança. A terceira tendência que repercutiu no Brasil é a Tecnicista que surgiu entre os anos 1960 e 1970. Nessa forma de pedagogia tanto aluno como professor ocupam papéis secundários. Em primeiro lugar está o sistema técnico de organização do curso e da aula, muito conhecido pelo uso de apostilas e materiais didáticos confeccionados a priori. (FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 32). 13 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No contexto tecnicista a arte também recebe um tratamento padronizado. Os objetivos da aprendizagem valorizam a capacidade de “saber construir”, saber executar técnicas e atividades com uso de materiais diversificados e ênfase no produto que será obtido por meio da habilidade. “[...] Faz parte ainda desse contexto tecnicista o uso abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma ‘modernização’ do ensino.” (FERRAZ; FUSARI, 1993. P. 32). Valoriza também o do livro didático como foco da aprendizagem, que teve seu auge entre os anos 1970 e 1980. Sua influência permanece,por exemplo, quando o professor planeja uma sequência de propostas técnicas, enfatizando o domínio de habilidades manuais dissociados das relações de linguagem, teoria ou filosofia da arte. A quarta ação pedagógica repercute ainda nos anos 1960, com as ideias desenvolvidas por Paulo Freire para a educação brasileira. Sua proposta é voltada ao “diálogo educador-educando e visando à consciência crítica” (FERRAZ; FUSARI. 1993, p. 33) e serviram de inspiração para muitos educadores, inclusive Ana Mae Barbosa, a educadora que foi um marco para as mudanças no ensino de Arte que repercutem até os dias atuais. As ideias organizadas por Ana Mae ficaram conhecidas com o nome de Proposta Triangular por basearem-se em um tripé: fazer arte, leitura de obra de arte e história da arte. Esta proposta foi desenvolvida nos anos 1990, no MAC - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e no Rio Grande do Sul, pela fundação Iochpe e Universidade Federal. Suas ideias migraram para as aulas de arte do ensino básico, sofrendo transformações, acréscimos e mesmo deturpações. 14 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fonte: RANGEL. Releitura não é cópia: refletindo uma das possibilidades do fazer artístico. Disponível em: http://www.revistas.udesc.br/index.php/nupeart/article/view/2534/1895 A quinta ideia importante é o sócioconstrutivismo. Esta teoria privilegia a noção de “construção” do conhecimento, nas relações entre sujeito e objeto, buscando superar as concepções que focam apenas o empirismo (condições ligadas às percepções). Essa postura pedagógica se opõe a rigidez e padronização de avaliações, relações pedagógicas e a restrição de materiais didáticos. http://www.revistas.udesc.br/index.php/nupeart/article/view/2534/1895 15 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A aprendizagem acontece principalmente pela resolução de problemas, criação e interpretação de problemas e convívio com dúvidas. Critérios são criados para a formação de boas situações de aprendizagem. Nesse contexto, a construção e a interação são fatores de aprendizagem. No final dos anos 1990, a Proposta Triangular e os estudos sócioconstrutivistas influenciaram a criação, tanto do Referencial Nacional da Educação Infantil (1997), como dos Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental e Médio (1998) das diferentes áreas do conhecimento, incluindo a arte como um campo de conhecimento e não mais como atividade ou apenas habilidade a ser desenvolvida. Essa mudança resultou na valorização da arte como uma linguagem que contribui para a formação dos estudantes, na ampliação de suas possibilidades expressivas, comunicativas e de atribuição de sentido crítico e analítico a participação no campo da cultura. Esses materiais chamam a atenção de professores e gestores, há quase meio século, para a necessidade de renovação do ensino da arte. Recentemente a BNCC - Base Nacional Curricular foi homologada, discorrendo sobre o que crianças e jovens aprenderão na educação básica, incluindo arte. O texto para a educação infantil e fundamental foi homologado em dezembro de 2017 e o conteúdo relacionado ao Ensino Médio, em 2018. Ainda assim os desafios para a implantação de uma arte-educação com significado para os estudantes e de qualidade na vivência de docentes e discentes está longe de ser alcançada, permanecendo como um potencial a ser plenamente desenvolvido. Essas duas últimas tendências dividem, atualmente, o campo de forças do ensino de arte com a Cultura Visual (que conheceremos com mais detalhes em outra aula), cujo representante de maior alcance no Brasil é o espanhol Hernández (2000), defendendo a ideia de educar para a compreensão da cultura visual. Em síntese é uma área de estudo que se ocupa da diversidade do universo de imagens. Busca entender a própria produção visual como prática social, cultural e política. O fundamento do estudo com base na cultura visual é que “a visão é uma construção cultural, que é aprendida e cultivada, não simplesmente dada pela natureza e que, por conseguinte, tem um percurso histórico que precisa ser avaliado”. (PEGORARO) 16 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Como metodologia a Cultura Visual lança mão da interpretação crítica. Uma investigação dos valores da imagem em meio ao contexto da cultura e das artes, por meio de questionamentos que propiciam essa investigação. Isso significa: aprender a fazer questionamentos que revelem as implicações culturais e as relações de poder implícitas e explícitas em que determinadas produções – da arte ou do mundo - estão sendo produzidas e consumidas. Nesse contexto o professor precisa aprender a construir questões que estimulem a capacidade de análise e interpretação para que o estudante produza significados que o ajudem a exprimir seu universo pessoal e as especificidades de sua experiência com a linguagem, valorizando e ampliando sua capacidade de comunicação. - Para conhecer mais sobre "TENDÊNCIAS E CONCEPÇÕES DO ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA: UM ESTUDO A PARTIR DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA E SÓCIO-EPISTEMOLÓGICA DA ARTE/EDUCAÇÃO": http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf - AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE ARTES: http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3%A7 %C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf - Para saber mais sobre a história do ensino de arte no Brasil - vídeo em que a educadora Ana Mae Barbosa resgata aspectos importantes da história desse ensino: https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s- 5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 Para finalizarmos esse estudo dos aspectos históricos podemos ainda pontuar que entre os maiores desafios que enfrentamos hoje temos três aspectos fundamentais que serão abordados em aulas específicas: a inclusão da arte contemporânea na sala de aula, a valorização das matrizes culturais indígenas e africanas em sua contribuição para a formação da cultura brasileira e como abordar as questões de educação patrimonial na sala de aula. No próximo texto vamos conhecer mais sobre a Proposta Triangular e sua relação com a leitura de imagem. http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf http://ead.bauru.sp.gov.br/efront/www/content/lessons/41/Apresenta%C3%A7%C3%A3o%20Arte%20-%20Coordenadoras%20Pedag%C3%B3gicas.pdf https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 17 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. A LEITURA DE IMAGEM NO CONTEXTO DA PROPOSTA TRIANGULAR “Numa obra de arte bem-sucedida a forma é inseparável do conteúdo. A aparência não é arbitrária. Mas não há fórmula que permita assegurar sua unidade: ela é particular a cada obra e é isso que faz seu valor”. John Berger, 1970. Em “A biblioteca à noite” Alberto Mangel fala sobre a famosa Biblioteca de Alexandria, que existiu no antigo Egito, criada no século III a. C, possivelmente. Vamos analisar esse trecho fazendo uma comparação para compreender o que acontece também com os objetos que chamamos de arte ao serem revisitados pelo processo de leitura de imagem. Alexandria e seus estudiosos, porém, jamais se enganaram quanto a verdadeira natureza do passado: sabiam que ele era a fonte de um presente em constante mutação, no qual novos leitores se dedicavam a velhos livros que se tornavam novosno processo de leitura. Cada leitor existe com objetivo de assegurar uma modesta imortalidade à determinado livro. a leitura é, nesse sentido, um rito de renascimento. (Alberto Manguel, 2006). Uma obra de arte, seja ela qual for, foi criada por alguém em um certo momento de sua vida, quando vivia em algum lugar. Isso significa dizer que ela está de alguma forma ligada a um tempo e a um certo espaço e carrega consigo aspectos técnicos, de linguagem e significado que estão ligados e esse tempo e lugar de sua origem. O próprio artista e aqueles que a viram nesse mesmo tempo têm dela uma certa possibilidade de interpretação. Entretanto, a obra goza de uma condição muito particular. Mesmo depois de muito tempo que seu autor já não esteja mais vivo há uma boa possibilidade de que a obra ainda exista e, nesse caso, cada um que a observar com atenção e buscar nela um sentido, uma ideia, a quem nós chamaremos de apreciador, poderá também tirar dela uma nova interpretação. É desse renascimento que Manguel nos fala no texto acima, da possibilidade de (re)significação de que a leitura é dotada, assim como a arte. Esse fenômeno tem uma 18 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância parte de sua vida interna, entre aspectos intelectuais, emocionais e psicológicos, mas se desdobra sobre a própria vida e se derrama para a transformação da realidade a medida que todo apreciador é alguém que age no mundo e o amplia enquanto tece suas vivências. Nova biblioteca de Alexandria. Egito. Reconstruída em 2002. “Esta biblioteca faz referência a maior biblioteca já conhecida da humanidade e símbolo da concentração de conhecimento humano a Biblioteca de Alexandria da antiguidade, construída pelo faraó Ptolomeu II, no século III a.C. Nesta época ela reunia cerca de 700000 rolos de pergaminhos e seu objetivo era “adquirir um exemplar de cada manuscrito existente na face da Terra””. Fonte: https://www.bibliotecasdobrasil.com/2013/04/nova-biblioteca-de-alexandria.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria 19 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para pensarmos a prática da leitura de imagem é importante relembrar que esse tipo de ação didática surge a partir da introdução da Proposta Triangular no ensino da arte: Ana Mae Barbosa é a educadora responsável pela organização da chamada Proposta Triangular. Sua abordagem para a arte e a leitura de imagem na Educação Infantil pode ser compreendida no trecho transcrito a seguir apresentado originalmente no livro Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais (2010, p.287-294) dessa educadora. Nesse livro ela nos apresenta as conclusões de pesquisas importantes que indicam os fundamentos a partir de onde nossa leitura da imagem se realiza. Vale conhecer o texto da autora para entender o princípio em que se baseia essa análise das imagens da arte. Vale a pena ler um trecho do que ela desafia a compreender. 3.1. As leituras das crianças do Jardim B A partir de um projeto maior – Resgatando brincadeiras infantis – busquei uma forma diferenciada de trabalhar com jogos e brincadeiras em sala de aula. Para isso, selecionei três reproduções de pinturas de dois artistas nacionais e um estrangeiro que apresentam brincadeiras infantis como tema para que as crianças fizessem suas leituras a partir dessas imagens. Na sala de aula, com as crianças sentadas em roda, apresentei as reproduções das três obras; cada um deles em momento diferente do projeto. Primeiro eu mostrava a obra ao mesmo tempo para todas as crianças e deixava que elas falassem suas impressões sobre a mesma. Em seguida, eu passava a imagem para que cada criança a olhasse em suas mãos e, individualmente fizesse comentários sobre ela. Nesse momento todas as crianças presentes falavam sobre a imagem. Nenhum dos alunos negou-se a expressar suas opiniões sobre as pinturas, o que possibilitou que esses momentos fossem riquíssimos. Meus objetivos com essa proposta foram: proporcionar às crianças o contato com reproduções de obras de arte, nesse caso, pinturas, de diferentes autores e também possibilitar à turma um olhar reflexivo frente a essas produções, pois a partir desse exercício elas poderiam se tornar capazes de “compreender e avaliar todo tipo de imagens. ” (BARBOSA, 1995, p.14) A primeira imagem apresentada foi uma reprodução da pintura de Milton da Costa, Roda (figura 1) de 1942, a qual retrata um grupo de meninas brincando de roda em 20 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância um espaço externo. Assim que apresentei a obra para as crianças, perguntei-lhes o que elas estavam vendo, o que essas pessoas estão fazendo, onde elas estão... Apresento agora algumas das leituras das crianças frente à imagem: Figura 1 - Roda, Milton da Costa, 1942. Fonte: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/ Galeria/2004_espaco_ludico.html acesso março 2015. “Elas estão rezando porque é de noite”. (Gabriel) “Elas primeiro construíram uma barraca, depois foram brincar de roda”. (Ana) “Elas estão dançando”. (Nathali) Sobre a leitura que as crianças fizeram em relação a essa imagem foi possível perceber que na leitura de Nathali, por exemplo, ficou evidente o quanto essa significação atribuída por ela – “Elas estão dançando” – está relacionada com sua realidade, com sua vivencia, tendo em vista que ela foi a única a fazer a relação da Roda como sendo uma dança. Penso que, provavelmente, isso se deve ao fato de ela fazer balé duas vezes por semana e a cena apresentada na obra assemelhar- se a alguma das coreografias aprendida, fazendo-a relacionar as duas situações: a brincadeira de roda e o dançar. A influência das aulas de dança na leitura de Nathali também aparece no sentido que ela atribuiu à obra Na rua que apresentarei em outro momento desse texto, mais adiante. Assim também, é interessante pensar na leitura de Gabriel essa imagem de arte: “eles estão rezando, porque é de noite”; o aluno provavelmente atribuiu esse significado a obra porque o hábito de rezar deve fazer parte de seu dia a dia a ser realizado à noite, antes de dormir. A segunda imagem foi uma pintura de Auguste Renoir intitulada Gabriele e Jean (figura 2), de 1895, que representa uma mulher e uma criança brincando com uma boneca e algumas miniaturas de animais de brinquedo sobre uma mesa no interior de uma casa. Depois de apresentar a imagem, fiz os seguintes questionamentos http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/Galeria/2004_espaco_ludico.html http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Areas_de_Atuacao/Cultura/Galeria/2004_espaco_ludico.html 21 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância para as crianças: Quais cores tem na tela? De que essas pessoas estão brincando? Que títulos vocês dariam para essa obra? Figura 2 - Pierre Auguste Renoir – “Gabriele e Jean”, 1895. Fonte: http://fineartamerica.com/featured/renoir-gabrielle-and-jean-granger.html Acesso março de 2015 Estas foram suas leituras: “Uma mãe e um bebê brincando de celeiro”. (Ana) “A mãe tá brincando com o bebê”. (Carolina) “A mãe e a filhinha tão brincando. Ela tá fazendo assim (mostra o movimento com a mão) com a boneca”. (Nathali) “A mulher e a criança, que não é um bebê, é um menino, tão brincando de celeiro”. (Gabriel) “A mãe e a filha tão brincando de fazenda”. Julia) Foi interessante perceber na leitura das crianças sobre essa obra que somente uma delas disse que quem estava brincando com a mulher ou a mãe era um menino. Olhar para a criança da pintura e indicá-la como uma menina – o que aconteceu com a maioria das crianças – talveztenha ocorrido pelo fato de a criança que está representada nessa pintura ter os cabelos quase na altura do ombro e usar vestimenta de época (1895), o que deixa dúvidas sobre seu sexo, e, ainda, por ser esta criança quem está segurando a boneca. Como normalmente e socialmente são as meninas que brincam de boneca, a maioria das crianças da turma do Jardim B rapidamente concluiu que aquela criança era uma menina. http://fineartamerica.com/featured/renoir-gabrielle-and-jean-granger.html 22 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No momento em que deixei as crianças expor suas opiniões não quis intervir com questionamentos, pois como a situação ocorreu na rodinha, pensei que esse tipo de mediação pudesse influenciar a opinião das outras crianças, e o meu interesse naquele momento era perceber qual a significação que as crianças iriam atribuir para a obra, nesse primeiro contato com ela. É importante o professor intervir com o intuito de fazer a criança pensar sobre a opinião e aprofundá-la, mas esse não era o objetivo nesse momento. A última imagem que apresentei para as crianças foi Na Rua (1940) de Carlos Scliar (figura 3). Ela mostra crianças brincando de jogar bola de gude na rua. Deixei que as crianças expusessem suas opiniões. Elas atribuíram os seguintes significados para essa obra: Figura 3 – Carlos Scliar – Na rua – 1940 Fonte: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9898/carlos-scliar - Acesso março de 2015. “Eles tão brincando de bolinha e as mulheres tão olhando”. (Julia) “São chineses”. Gabriel “Eles estão jogando bolinha de gude”. (Gabriela) “Os meninos tão jogando e as meninas tão se vestindo para ir no balé. ” (Nathali) “Eu acho que eles são escravos e estão jogando bolinha e tão tristes”. (Helena) A significação, por exemplo, de Nathali expressou a partir dessa obra-Os meninos tão jogando e as meninas tão se vestindo para ir no balé – demonstra o quanto os sentidos atribuídos a uma imagem estão comprometidos com o contexto e com vivencias de cada leitor, tendo em vista que ela, fez aulas de balé, estando a dança http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9898/carlos-scliar 23 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância muito presente em sua vida. Talvez por esse motivo ela enxergou na obra meninas que estavam se arrumando para ir ao balé, algo que normalmente ela faz. Foi curioso perceber que nessa obra não há, ao menos não explicitamente, meninas representadas, só meninos. Mas analisando a obra e buscando atribuir sentido a ela, percebi que há uma pessoa que está afastada e, por esse motivo, não é possível visualizar com clareza seu rosto nem tampouco sua vestimenta. Assim, não é possível definir com certeza se essa pessoa está usando vestido, saia, calça ou bermuda, o que instaura a dúvida no leitor que não pode afirmar se a figura representada é um menino ou menina. Para Nathali é uma menina. Ao analisar as significações das crianças, pude perceber que elas foram bem diversificadas, especialmente para esta última imagem. Tal diversidade de leituras revela que cada indivíduo explicitamente, ou não, relaciona o visto com o vivido ao fazer análises desse tipo. Também foi possível notar que suas leituras partiram do que estava posto nas imagens, mesmo que em um primeiro momento nos cause estranhamento. Como, por exemplo, quando o aluno Gabriel visualiza “chineses” na obra se Scliar, contudo, sua leitura não foi aleatória, tendo em vista que o estilo da pintura do artista faz com que os olhos dos meninos representados remetam aos olhos de pessoas dessa etnia. Desta forma, a leitura realizada por esse aluno torna- se ainda mais compreensível e instigante, ao levarmos em consideração que, segundo a teoria semiótica, a leitura de qualquer imagem deve sempre partir dos elementos presentes na imagem. 24 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os sentidos atribuídos Como pudemos observar, no item anterior, as leituras das crianças em relação à mesma imagem foram diversificadas. Isso não é de se estranhar, uma vez que, de acordo com Pillar: O olhar de cada indivíduo está impregnado com experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias, interpretações, etc. O que se vê não é o dado real, mas aquilo que se consegue captar e interpretar acerca do visto, o que nos é significativo. (2001, p.13). A partir da afirmação da autora, pude perceber que as crianças fizeram essas leituras, e nas outras, devido aos elementos que estavam presentes nas imagens e também em virtude de suas vivencias e lembranças. Uma vez que o ato de olhar está comprometido com o passado, tendo em vista que, segundo Rossi (2003, p.19) “o significado surge a partir do mundo do leitor, pois não existe interpretação desconectada do mundo que se vive”. Dessa forma, duas pessoas podem ler a mesma imagem e chagar a conclusões completamente diferentes. Essas diferentes atribuições de significado se devem, também, ao fato de que, conforme a teoria semiótica, o sentido não está pronto e acabado nos textos, mas ele surgirá na relação entre o destinador (nesse caso as obras de arte) e o destinatário (as crianças). A esse respeito, Oliveira afirma que “a semiótica [...] fundamenta que o significado não está nas coisas, na ordem do mundo, mas na ordem da cultura [...]” (2008, p.28). Nessa perspectiva, o sentido não está nos objetos, mas na relação que o leitor estabelece com eles. Assim, o significado de determinado objeto ou imagem dificilmente será o mesmo para duas pessoas. Ema vez que, na busca por dar sentido ao mundo e ao que vê, cada leitor utiliza-se de seus conhecimentos prévios e suas vivencias. Algumas considerações Finalizo este texto reiterando a importância da Abordagem Triangular para a educação das Artes Visuais e para a formação dos alunos, especialmente, para esse texto, a relevância de uma Abordagem que possibilite aos educandos um momento para apreciar imagens e pensar sobre o que estão vendo, tendo em vista que na atualidade vivemos rodeados por imagens e não fomos educados para pensar criticamente sobre elas. Em relação a quantidade de imagens com as quais convivemos na atualidade, Rossi afirma que “hoje vivemos na chamada civilização da imagem” (2003, p.9). Dessa forma, somente a partir da análise crítica dessas imagens temos consciência de que 25 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “somos destinatários de mensagens que pretendem impor valores, ideias e comportamentos que não escolhemos. ” (Ibid.) A leitura crítica realizada pelos alunos frente às imagens, como já fiz referência anteriormente, partirá de suas competências de leitura e de seus repertórios. Dessa forma é de fundamental importância que os professores explorem, respeitem e valorizem as suas diferentes leituras. Pesquise na internet casos reais de empresas que utilizaram alguma teoria organizacional para resolver seus problemas. Para ler na íntegra o livro: O QUE É ARTE, de Jorge Coli: http://pt.slideshare.net/sdv-producoes/jorge-coli-o-que-arte-13212602 Para conhecer mais sobre "TENDÊNCIAS E CONCEPÇÕES DO ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO ESCOLAR BRASILEIRA: UM ESTUDO A PARTIR DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA E SÓCIO-EPISTEMOLÓGICA DA ARTE/EDUCAÇÃO": http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE ARTES: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3057_1891.pdf Para saber mais sobre a história do ensino de arte no Brasil - vídeo em que a educadora Ana Mae Barbosa resgata aspectos importantes da história desse ensino: https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 Para conhecer técnicas e materiais para a prática da arte, parte do livro "300 PROPOSTAS DE ARTES VISUAIS" de Ana Tatit e Maria Silvia Machado: https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover&hl= pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false http://pt.slideshare.net/sdv-producoes/jorge-coli-o-que-arte-13212602 http://30reuniao.anped.org.br/grupo_estudos/GE01-3073--Int.pdf http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3057_1891.pdf https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 https://www.youtube.com/watch?v=kN5QKUllhX8&list=PLSsDcxd3Owkq9s-5EfG8z7QFbCsyagcnE&index=6 https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books?id=klS88LTYQFkC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false 26 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Finalizamos assim nossa primeira semana. Espero que tenha ficado instigado(a) a conhecer mais sobre a arte na educação e, principalmente, a colocar em prática, na sua atuação como educador esses conhecimentos. BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da. Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais. Rio de Janeiro: Cortez, 2010. COLI, Jorge. O que é arte. Brasiliense. Coleção primeiros passos. Disponível em: https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli-o- que-c3a9-arte.pdf. Acesso em 11/01/2022. Conceito de cultura. Disponível em: https://queconceito.com.br/cultura Acesso em 03/01/2022. CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Como vai a Arte na Educação Infantil? Disponível em: http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como- vai-arte-na-educacao.html FERRAZ; FUSARI, M.H.C.T. e FUSARI, M.F.R. Metodologia do ensino da arte. São Paulo: Cortez, 1993. PEGORARO, Éverly. Estudos da Cultura Visual e Estudos Culturais: aproximações e divergências. Disponível em: http://confibercom.org/anais2011/pdf/112.pdf. Último acesso em janeiro 2022. SANTOMAURO, Beatriz. O que ensinar em Arte. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar- imaginacao-427722.shtml?page=0 - Último acesso em janeiro 2022. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. Brasiliense. Coleção primeiros passos. Disponível em: http://www.netmundi.org/home/wp- content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que- %C3%A9-Cultura.pdf. Acesso em 12/01/2022. https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli-o-que-c3a9-arte.pdf https://designdeinterioresinap.files.wordpress.com/2011/02/jorge-coli-o-que-c3a9-arte.pdf https://queconceito.com.br/cultura http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://brincarjogarepensar.blogspot.com.br/2009/10/como-vai-arte-na-educacao.html http://confibercom.org/anais2011/pdf/112.pdf http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer-cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=0 http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads/2017/04/Cole%C3%A7%C3%A3o-Primeiros-Passos-O-Que-%C3%A9-Cultura.pdf 27 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. ESTÉTICA E EDUCAÇÃO ESTÉTICA “O prazer estético implica uma atividade de conhecimento, embora distinta do conhecimento conceitual”. Luiz Costa Lima, 1979. Objetivo: Compreender os fundamentos de educação estética e sua relação com o ensino de arte. Conhecer as diretrizes nacionais para a Educação infantil e Ensino Fundamental em relação à arte. Introdução: Nessa segunda semana vamos compreender melhor a relação entre arte, estética, experiência estética e educação estética refletindo sobre suas consequências para a sala de aula, relacionando ainda essa abordagem às orientações apresentadas nas diretrizes oficiais do Ministério da Educação por meio do Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil e Parâmetro Curricular Nacional - Arte. 4.1. Educação estética e experiência estética na educação Trojan, em seu texto: “Estética da sensibilidade como princípio curricular” atenta que: [...] é com surpresa que encontramos, em todos os documentos normativos das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, a estética como um dos princípios norteadores da organização do currículo escolar. (TROJAN, 2004)6. As diretrizes propostas pela União receberam tratamentos diferenciados de acordo com as etapas em que a Educação Básica está dividida e, desta organização, surgiu um conjunto de documentos próprios a cada etapa: Ensino Fundamental, Educação Infantil e Ensino Médio, por resoluções aprovadas entre 1998 e 1999. Sobre a presença da arte nos documentos próprios à Educação Infantil, Trojan (2004) acrescenta: [...] a resolução referente à Educação Infantil [...] a respeito dos princípios estéticos, repete, no seu artigo 3º, inc. I, letra c, quase o mesmo texto do respectivo artigo referente às diretrizes do Ensino Fundamental, com a diferença de incluir a 6 TROJAN. Estética da sensibilidade como princípio curricular. Disponível em: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/481/485 28 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ‘ludicidade’ como um dos adjetivos que qualifica essa estética. Ou seja, indica como um dos princípios norteadores, os ‘princípios estéticos da sensibilidade, da ludicidade e da diversidade de manifestações artísticas e culturais’7. Os pareceres que justificam e orientam essas diretrizes acrescentam sobre a presença da arte na Educação Infantil, que a mesma deve propiciar aos alunos experiências planejadas intencionalmente que democratizem o acesso de todos aos bens culturais e educacionais, evidenciando como objetivo a criação de qualidade de vida e justiça social. [...]. As situações planejadas intencionalmente devem prever momentos de atividades espontâneas e outras dirigidas, com objetivos claros, que aconteçam num ambiente iluminado pelos princípios éticos, políticos e estéticos das propostas pedagógicas. (Parecer CEB,22/98, p.10 In TROJAN, 2004). Trojan (2004) chama a atenção para percebermos como a estética foi eleita para compor o tripé sobre o qual toda a educação brasileira está legalmente amparada – estética, ética e política – mas como, apesar disso, tem sua importância menosprezada diante dos outros dois componentes. A arte é o veículo por excelência da presença da estética na educação, ainda que não seja o único, por isso, o trabalho com arte na educação deve levar em conta essa relação. Assim poderíamos sintetizar que a presença da arte na escola visa garantir a existência da formação estética do indivíduo. Mas, o que seria uma educação estética? Numa compreensão sócio-histórica a educação estética é o contato com a arte, que adequadamente vivido e assimilado, se insere no processo mais íntimo do desenvolvimento pessoal; promove a auto-realização e ajuda o aluno a desenvolver melhor as suas potencialidades. O objetivo da educação estética é ensinar a capacidade de perceber e entender arte e a beleza em geral (LEONTIEV In FRÓIS, 2000). 7 Resolução CEB n. 1 de 7 de abril de 1999, CNE, referente ao Parecer CEB n. 22/98, aprovado em 17/12/99. 29 Metodologia Do Ensino De Artes UniversidadeSanta Cecília - Educação a Distância E quais efeitos podemos esperar de uma educação estética? A educação estética oportuniza uma experiência que não é uma simples manifestação da sensibilidade desconectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de relações significativas e universais; propicia a oportunidade de interpretar os elementos das linguagens artísticas e preparar a criança para romper as fronteiras da sua vida cotidiana. É fundamental para a formação da criança, busca a interação com a vasta gama de textos e imagens, sons e movimentos, tanto no espaço da escola como fora da escola, de maneira a possibilitar a apreensão e compreensão da cultura na sua totalidade e a socialização do saber em arte. Esse processo de revelar e construir nosso olhar, audição e movimentos, de apontar novos significados e sentidos. (CASTILHO; FERNANDES)8 A palavra estética, apesar de sua presença constante na linguagem cotidiana como conotação para o belo, tem seu sentido na educação ainda bastante obscuro e, por sua amplitude, requer de nós alguns novos conhecimentos e mais algumas reflexões. 4.2. Relações entre arte e estética O que arte e estética têm em comum? Assim como a pergunta - o que é arte? - A relação entre arte e estética não possui um enunciado direto e único, apesar de estarem diretamente ligadas. Como conceitos nascidos de relações culturais, ambos dependem do desenvolvimento de processos ligados a relações de tempo e espaço e, por isso mesmo, históricos. A Estética é o campo de estudo associado ao belo. Segundo Aranha (1993), o uso comum da palavra estética diz respeito, por exemplo, à beleza física, usada como adjetivo, qualidade atribuída a algo ou alguém. Nas artes, por sua vez, a palavra estética adquire outro sentido, sendo usada como substantivo: estética moderna, estética renascentista etc. Mas, há ainda outro significado, relacionado ao campo da filosofia, que se dedica ao estudo racional do belo, e sobre o sentimento que faz nascer na humanidade. 8 CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo. Questão estética no ensino de artes no ensino fundamental. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20N O%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf 30 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Etimologicamente, a palavra estética vem do grego aisthesis, com o significado de ‘faculdade do sentir’, ‘compreensão pelos sentidos’, ‘percepção totalizante’ ”. (ARANHA, 1993, p. 341). Por muitos séculos, a arte foi considerada a forma por excelência de criação de beleza e, por isso mesmo, ocupa uma posição de importância em relação aos estudos de estética. Entretanto, esse laço entre arte e beleza não pode ser mais aplicado de forma tão direta, quando nos referimos, por exemplo, às manifestações da arte moderna ou contemporânea onde a arte nem sempre trata do belo. Há obras cujo tema é a miséria humana, outras cujos materiais usados para sua criação foram descartados, até mesmo lixo. Então, de que beleza trataria a arte? Nesses casos, arte e estética estão ligados, não porque a arte esteja comprometida com o belo, mas, principalmente, porque o objeto artístico ou obra de arte, ao apresentar-se no mundo para ser visto ou vivenciado, o faz perante a mobilização da percepção, de uma forma particular que a mobiliza por essa qualidade de admiração. A obra, necessariamente, é percebida por meio dos nossos sentidos, e em tais circunstâncias, a vivência da arte torna-se processo de conhecimento. De princípio, é importante afirmar que a estética é eminentemente filosófica, os conceitos sobre estética confundem-se com o conceito de arte, mas se ocupa especificamente do conhecimento sensível. Nesse sentido, a estética estuda as qualidades de formas de representação artísticas perceptíveis pelos sentidos, busca a construção de um discurso reflexivo sobre o fazer artístico e o processo criativo. A reflexão sobre estética é uma vivência, afinal a obra de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra em contato com a vivência do outro indivíduo. Nesse sentido, a Estética se constitui por um discurso reflexivo e autônomo, de natureza filosófica acerca dos aspectos gerais da arte, do fazer e produzir artístico, a estética evidencia particularidade da obra artística, configurando suas nuances entre a produção singular e universal. (CASTILHO; FERNANDES)9 E na educação? Como a vivência estética pode contribuir para o desenvolvimento integral de nossos alunos? Esse será o tema de nosso próximo texto. 9 CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo. Questão estética no ensino de artes no ensino fundamental. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20 NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf 31 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. EXPERIÊNCIA ESTÉTICA NA SALA DE AULA Objetivo: Até aqui, refletimos um pouco sobre o conceito de estética, neste momento falaremos de experiência estética e sua participação no ensino. Introdução: A experiência estética é uma vivência que também poderia ser chamada de experiência de beleza, ou experiência de admiração, por suas relações com a mobilização admirativa da percepção. Você já se perguntou o que seria uma experiência de beleza? Alguma vez você, diante de algo ou alguém, percebeu que havia ficado tão admirado que o tempo parecia ter “parado”? 5.1. Experiência Estética De forma geral, a experiência estética poderia ser definida como esse estado de admiração, rápido, quase instantâneo, fugaz, porque não pode ser contido, tão pouco pode ser repetido (mesmo diante do mesmo objeto ou pessoa). Assim, poderíamos sintetizar a experiência de beleza como uma vivência que experimentamos ao nos relacionarmos com o mundo a nossa volta, por meio de nosso aparato perceptivo, quando nossa atenção é mobilizada pela aparição de algo que mobiliza nossa percepção, conduzindo-nos à sua admiração. E, em que a estética pode contribuir para a educação? João Duarte Jr. defende que a educação seja estética em sua essência: [...] quando defendo uma educação que seja estética em sua essência, em seus fundamentos, penso num auxílio às novas gerações para que não apenas percebam esse jogo primordial corpo-mundo no qual estamos metidos, mas também as ajude a jogá-lo de maneira mais acurada e consciente. Educação estética talvez tenha a ver com um antigo mote da fenomenologia: voltar às coisas mesmas. Isto é: temos 32 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância que partir do irredutível fato de sermos um corpo que procura sobreviver – com prazer e alegria – em meio aos perigos do mundo, e quando temos consciência de que somos capazes de enfrentar e até de tirar proveito dessas ameaças, um sentimento de espanto, de maravilhamento (vale dizer, de beleza) nos sobrevém. A partir de tal maravilhar-se, de tal espantar-se com as coisas e nossas relações primordiais com elas é que se podem então erigir todos os saberes. Todo conhecimentoprincipia no espanto. O corpo na água da piscina, por exemplo, constitui um momento de prazer (mas também de medo), e aprender a dominar o elemento, desenvolvendo as técnicas da natação, do mergulho e do boiar consiste numa educação estésica e estética, a partir da qual se pode também aprender, digamos, física: mecânica dos fluidos, empuxo, essas coisas todas que desde a eureca do Arquimedes se veio desenvolvendo. Para se pensar sobre a vida e o mundo é fundamental que se os sinta e que nos maravilhemos com eles. (Entrevista: João Duarte JR.)10 E, por que seria tão importante realizarmos a educação estética hoje? Num tempo em que o corpo queda passivo frente a telas em que mais do que se apresenta, se recria o mundo, parece, pois, premente à educação recolocar esse corpo em contato com os assombros da realidade concreta, não virtual. (Entrevista: João Duarte JR.)11 Essa abordagem da arte como elemento socializador e da estética como parte do processo da arte também é defendida por Canda e Batista: É importante a compreensão da arte no currículo escolar na busca de implementação de uma educação centrada na formação humana, entendendo o educador como mediador dos conhecimentos, de práticas e de criações individuais e coletivas. As linguagens artísticas presentes no currículo escolar representam uma fonte de vivência através da apreciação artística, do desenvolvimento do senso crítico e das experiências estéticas e consequentemente, como caminho socializador do educando. (CANDA; BATISTA)12 Canda e Batista associam também a educação estética ao desenvolvimento da capacidade criativa como condição humana essencial: 10 Entrevista: João Duarte Jr. Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 12 - n. 3 - p. 362-367 / set-dez 2012. Disponível em: http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 11 Idem. 12 CANDA, Cilene Nascimento; BATISTA, Carla Meira Pires. Qual o lugar da arte no currículo escolar? R. cient. /FAP, Curitiba, v.4, n.2 p.107-119, jul. /dez. 2009. p. 109. Disponível em: http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf http://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rc/article/view/4039/2387 http://www.fap.pr.gov.br/arquivos/File/RevistaCientifica4vol2/07_artigo_Cilene_Canda_Carla_Batista.pdf 33 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Um dos eixos norteadores da discussão do ensino de arte refere-se à compreensão de que o processo de criação não é um privilégio de artistas e sim, um conhecer e um fazer inerente à condição humana, mas que precisa ser estimulado, trabalhado e ressignificado em contextos sociais e educacionais. Assim, a criatividade não está restrita à criação de obras artísticas, mas ao poder de dar sentido para a compreensão de mundo, de criar novos pensamentos e possibilidades de leitura das relações sociais e novas resoluções para antigos problemas. O ato de criar é um potencial do ser humano, a ser desenvolvido em habilidades expressivas, estando ligado à constituição do pensamento e da imaginação. A base da criação é dar forma a algo. Compreender, relacionar, configurar, significar são ações ligadas diretamente ao ato criador. (CANDA; BATISTA)13 Essa condição criativa é a base do desenvolvimento humano. Foi através dos processos criativos e da busca por conhecer e dominar o mundo que o ser humano deixou as cavernas e passou a transformar o meio em que vivia. Com a capacidade de ler o que estava à sua volta e, sobretudo de planejar um futuro diferente, relacionando-o com suas experiências já vividas no passado, nossos ancestrais foram construindo o que somos hoje. O grande instrumento desenvolvido pelo ser humano para o exercício da criatividade é a linguagem. (CANDA; BATISTA)14 Mas, quais os objetivos em fazer uma educação criativa? 1. Oportunizar ao aluno chances de levantar questões, propor interpretações alternativas, avaliar criticamente os fatos, conceitos, princípios, ideias; 2. Dar tempo para o aluno elaborar suas ideias, pois uma ideia criativa não ocorre imediata e espontaneamente; 3. Criar um ambiente de socialização da produção do conhecimento; 4. Estimular no aluno a habilidade de explorar consequências para acontecimentos imaginários ou outros já ocorridos no passado; 5. Encorajar os alunos a se posicionar de maneira crítica sobre temas a aprofundar ou o tipo de metodologia a ser adotada para tal; 6. Proporcionar ao aluno a experimentação, a descoberta, eliminando o medo de errar e consequentemente da crítica, e a sensação de liberdade para inovar e explorar seu medo da avaliação. (CORREA, 2008)15 13 Idem. p. 112. 14 Idem. p. 112. 15CORRÊA, Ayrton Dutra (org.). Ensino das Artes Visuais mapeando o processo criativo. Santa Maria: Editora da UFSM, 2008. 34 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Mas, por que uma educação criativa é importante? "A ótica vygotskyana destaca a importância de ser proporcionada, ao aluno, atividade produtora em detrimento de atividades reprodutoras, pois, nas segundas, ocorre tão somente a repetição de algo já existente, mantendo as experiências produzidas no passado". (CORREA, 2008)16 E, como essa experiência pode ser promovida para que os alunos possam vivenciá- la? Não há uma resposta única para essa pergunta, mas o mais óbvio talvez seja a resposta mais interessante nesse momento do nosso diálogo: - Trazendo arte para dentro da escola e, principalmente, para dentro da sala de aula. Isso significa propiciar situações de aprendizagem em que a arte esteja presente por sua força de organização do conhecimento, como linguagem e expressão de cada indivíduo e do mundo que os circunda. Na prática pedagógica significa incluir, entre os conteúdos com que o professor faz interagir na aprendizagem, uma multiplicidade de formas artísticas, tanto em situações de prática das artes, como em ações de apreciação dessas mesmas manifestações. Aqueles que têm oportunidade de fazer e apreciar arte percebem que esta faze interagir, em si, e no mundo, aspectos da consciência, do inconsciente, da memória, da vontade, da intuição, do olhar, da ação da mão, da ação dos materiais e tantos outros aspectos que fazem da arte uma atividade complexa e indispensável à humanidade. O educador precisa propiciar à criança um diálogo íntimo e profundo com produções culturais, para que ela amplie horizontes particulares, quanto maior for o contato com os bens culturais, à medida que ela compreende e dialoga com a cultura que a cerca, como estão configurados os elementos construtivos e qual é o contexto estético, social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendizado da criança. A experiência estética é uma vivência individual e coletiva, pois a obra de arte não é percebida somente pelos órgãos do sentido, mas é uma atividade interior que entra em contato com a vivência do outro indivíduo. (CASTILHO; FERNANDES)17 E, como isso pode ser transformado em uma prática na sala de aula? 16 Idem. 17 CASTILHO, Ana Lúcia Serrou; FERNANDES, Vera Lúcia Penzo. Questão estética no ensino de artes no ensino fundamental. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20N O%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT4%20PDF/QUEST%C3O%20EST%C9TICA%20NO%20ENSINO%20DE%20ARTES%20NO%20ENSINO.pdf 35 Metodologia Do Ensino De Artes Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Isto pode ocorrer por meio do oferecimento de diferentes possibilidades de leitura de imagens, por meio do contato