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O Ensino de Literatura 
e a BNCC do Ensino 
Fundamental
Texto de Abílio Pacheco
Estudantes: Amanda Martins, Beatriz Manso, Sofia Soares, Fernanda Cotrim e 
Hanna Pedroza
Considerações Iniciais
● O capítulo vai abordar considerações sobre a BNCC e suas controvérsias, 
com o objetivo de informar educadores e professores.
● Haverá a leitura da Introdução e Estrutura da BNCC de Língua Portuguesa 
para que após possa se debater sobre o Ensino de Literatura no Ensino 
Fundamental, com foco nos anos finais.
● A BNCC de história também será analisada.
● A leitura das duas BNCC’s irá evidenciar déficits no conteúdo, divórcio entre 
as disciplinas, desníveis e defasagens epistemológicas entre as áreas de 
conhecimento. A ausência de proposta de diálogo interdisciplinar é agravada 
pela diferença significativa de conteúdos demandados numa e na outra 
disciplina.
Base Nacional Curricular Comum
● A BNCC passou por duas 
reformulações antes da versão 
atual (2017) e as mudanças 
ocorreram junto a mudança de 
contexto político.
● Isso ocorreu no governo Dilma, 
em que a BNCC foi entregue para 
reformuladores empresariais que 
dominavam a Secretaria de 
Educação Básica do MEC.
● Também ocorreu na 
reimplementação do governo 
neo-liberal, que visa atender 
demandas do setor privado e vê 
a educação como mercadoria. 
Além de ter motivado a feição 
reacionária da sociedade. Esses 
dois fatores foram levados em 
conta para a mudança.
“O golpe de 2016 e a entrega do MEC à coligação liberal- 
conservadora representada pelo DEM-PSDB, 
escancarou-se a utilização das teses da reforma 
empresarial da educação em sua forma mais radical. Aos 
poucos, a versão inicial da BNCC foi sendo moldada às 
teses dos novos ocupantes do MEC até chegar a esta 
terceira versão.” (2017 - online) 
- Dr. Luiz Carlos Freitas
Base Nacional Curricular Comum
● Durante a última votação da BNCC, houve audiências públicas e o CNE 
(Conselho Nacional de Educação) disse considerar relevante a participação 
da sociedade no debate. Entretanto, essa áurea de democracia foi 
questionada já que o presidente do CNE afirmou que todas as manifestações 
seriam consideradas “sem julgamentos de valores ou posicionamentos”.
● A ausência de professores na audiência junto ao fator do governo Temer 
levaram a manifestações em Florianópolis durante a audiência. Segundo a 
educadora Glaci Weber, as inscrições abriram e fecharam rapidamente para 
evitar a participação deles.
“Se o respeito aos direitos humanos é um dos critérios de 
avaliação da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio 
(ENEM), como pode o educador e o responsável por 
políticas educacionais não “filtrar” demandas sociais 
racistas, fascistas e misóginas, por exemplo?” 
- Pacheco
Base Nacional Curricular Comum
O primeiro parágrafo da BNCC apresenta:
“É um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e 
progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver 
ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham 
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade 
com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento 
normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, [...] e está orientado 
pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana 
integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como 
fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN)”.
Base Nacional Curricular Comum
● O que a BNCC não informa é que, segundo a Assessoria de Comunicação 
Social do MEC, ela irá definir cerca de 60% dos componentes curriculares 
que deverão ser ensinados em todo o país. Os outros 40% as redes 
municipais e estaduais deverão adequar às especificidades de cada região.
● Eles indicam muitos temas que devem ser trabalhados e informam que temas 
contemporâneos devem ser integrados pelos educadores. Porém, é quase 
impossível integrar estes últimos, pela limitação de temas, sobra nada ou 
quase nada para ser abordado.
● Dessa forma, a incorporação de temas aos currículos é refreada e a 
flexibilidade apresentada limita a autonomia sugerida.
Base Nacional Curricular Comum
Sobre a organização da 
BNCC
Ela é constituída por 3 
etapas: Educação Infantil, 
Ensino Fundamental e Ensino 
Médio.
O Ensino Fundamental é 
dividido em anos iniciais e 
anos finais.
O ensino fundamental é 
organizado em 4 áreas de 
conhecimento: Linguagens, 
Matemática, Ciências da 
Natureza e Ciências Humanas.
Base Nacional Curricular Comum
Cada uma das quatro áreas de conhecimento apresenta “competências 
específicas da área” e “componentes curriculares”.
Cada componente curricular apresenta um conjunto de habilidades. 
Essas habilidades estão relacionadas a diferentes objetos de 
conhecimento – aqui entendidos como conteúdos, conceitos e processos 
–, que são organizados em unidades temáticas.
BNCC DE lÍNGUA PORTUGUESA
❏ Na área de linguagens, Literatura não é uma competência. 
A área de linguagens é composta por: Língua Portuguesa, Arte, 
Educação Física e Língua Inglesa.
❖ O que isso significa? 
- Omissão? Lacuna?
- Interdisciplinaridade, delimitação e liberdade para o 
professor?
A palavra “interdisciplinar” assim como seu conceito não são 
protagonistas. Em toda BNCC aparece 3 vezes.
Eixos da área de língua portuguesa 
● LEITURA
● PRODUÇÃO DE TEXTOS
● ORALIDADE
● ANÁLISE LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA
❖ Quando e como aparece algo 
ligado à literatura?
“estudos de natureza teórica e metalinguística – sobre a 
língua, sobre a literatura, sobre a norma padrão e outras 
variedades da língua – não devem nesse nível de ensino ser 
tomados como um fim em si mesmo, devendo estar envolvidos 
em práticas de reflexão que permitam aos estudantes 
ampliarem suas capacidades de uso da língua/linguagens (em 
leitura e em produção) em práticas situadas de linguagem.” 
(BNCC P73)
CAMPO ARTÍSTICO-LITERÁRIO – O que está em jogo neste campo é possibilitar às 
crianças, adolescentes e jovens dos Anos Finais do Ensino Fundamental o 
contato com as manifestações artísticas e produções culturais em geral, e com 
a arte literária em especial, e oferecer as condições para que eles possam 
compreendê-las e frui-las de maneira significativa e, gradativamente, crítica. 
Trata-se, assim, de ampliar e diversificar as práticas relativas à leitura, à 
compreensão, à fruição e ao compartilhamento das manifestações 
artístico-literárias, representativas da diversidade cultural, linguística e 
semiótica, por meio: - da compreensão das finalidades, das práticas e dos 
interesses que movem a esfera artística e a esfera literária, bem como das 
linguagens e mídias que dão forma e sustentação às suas manifestações; - da 
experimentação da arte e da literatura como expedientes que permitem 
(re)conhecer diferentes maneiras de ser, pensar, (re)agir, sentir e, pelo 
confronto com o que é diverso, desenvolver uma atitude de valorização e de 
respeito pela diversidade; - do desenvolvimento de habilidades que garantam a 
compreensão, a apreciação, a produção e o compartilhamento de textos dos 
diversos gêneros, em diferentes mídias, que circulam nas esferas literária e 
artística. Para que a experiência da literatura – e da arte em geral – possa 
alcançar seu potencial transformador e humanizador, é preciso promover a 
formação de um leitor que não apenas compreenda os sentidos dos textos, mas 
também que seja capaz de frui-los. Um sujeito que desenvolve critérios de 
escolha e preferências (por autores, estilos, gêneros) e que compartilha 
impressões e críticas com outros leitores-fruidores. (BNCC P.158)
LEITORES FRUIDORES 
Algumas críticas:
❏ A literatura é para ser apenas prazerosa;
“No âmbito do Campo artístico-literário, trata-se de possibilitar o contato 
com as manifestações artísticas em geral, e, de forma particular e especial, 
com a arte literária e de oferecer as condições para que se possa reconhecer, 
valorizar e fruir essas manifestações.Está em jogo a continuidade da 
formação do leitor literário, com especial destaque para o desenvolvimento da 
fruição, de modo a evidenciar a condição estética desse tipo de leitura e de 
escrita. Para que a função utilitária da literatura – e da arte em geral – 
possa dar lugar à sua dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora, é 
preciso supor – e, portanto, garantir a formação de – um leitor-fruidor, ou 
seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de 
“desvendar” suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas 
e de firmar pactos de leitura.” (BNCC PG 140)
❏ A ênfase na função estética;
❏ Confronto com o diverso, conhecimento da diversidade;
“Por fim, destaque-se a relevância desse campo para o exercício da empatia e do 
diálogo, tendo em vista a potência da arte e da literatura como expedientes que 
permitem o contato com diversificados valores, comportamentos, crenças, desejos e 
conflitos, o que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e 
estar no mundo e, pelo reconhecimento do que é diverso, compreender a si mesmo e 
desenvolver uma atitude de respeito e valorização do que é diferente.” (BNCC P141)
“(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de 
diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas 
de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e 
considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.” (BNCC P159)
“o texto literário também serve para compreensão da própria realidade, ou seja, da 
própria época, do próprio espaço social, da própria cultura, dos próprios modos de 
vida... Um outro problema reside no fato de cultura e sociedade brasileiras serem 
resultados de processos culturais violentos que resultaram em um povo multi-étnico e 
miscigenado. Logo, a própria ideia de “outro” e de “próprio” não encontra um terreno 
sólido em que se sustentar.”
❏ Como falar de literatura sem dizer o que é a literatura?
como falar de literatura sem dizer o que é literatura?
“o eixo Educação literária não pretende “ensinar literatura” aos alunos-leitores, 
mas o texto da BNCC não esclarece o que venha ser isso. Imediatamente poderíamos 
entender que não se trata de ensinar produção ou criação literária. Entretanto, a 
unidade temática “experiências estéticas”, com o “objeto de conhecimento: processos 
de criação”, apresenta como habilidade a ser desenvolvida em todos os nove anos, 
exatamente a criação literária.” 
“Cabe ao educador procurar abrir espaços fechados pela BNCC. Nela o ensino de 
literatura é voltado prioritariamente para a fruição estética e, mesmo quando 
sugere a dimensão social, sempre aponta para a compreensão do outro. A 
literatura precisa ser compreendida como forma de conhecimento sobre o mundo, 
não apenas fruição estética mas também como forma de saber. O texto literário 
também pode ser lido como um repositório de informações históricas, sociais, 
políticas e econômicas. Não apenas de outros tempos e outros lugares mas 
principalmente do tempo presente. O texto literário pode ser lido pelos alunos 
em sua articulação com a História.”
BNCC DE HISTÓRIA
“é importante destacar que a narrativa literária (não só romances e contos, mas 
também as narrativas orais), bem como a literatura de um modo geral, mesmo não tendo 
sido incorporada de modo pacífico entre os pesquisadores de História (como afirma 
Sena Junior, s/d) e mesmo não havendo entre os historiadores um consenso absoluto, 
ela hoje é considerada uma das formas de compreensão da História.”
DEMANDA DA BNCC DE HISTÓRIA:
“O exercício da interpretação – de um texto, de um objeto, de uma obra literária, 
artística ou de um mito – é fundamental na formação do pensamento crítico. Exige 
observação e conhecimento da estrutura do objeto e das suas relações com modelos e 
formas (semelhantes ou diferentes) inseridas no tempo e no espaço. Interpretações 
variadas sobre um BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 400 mesmo objeto tornam mais clara, 
explícita, a relação sujeito/objeto e, ao mesmo tempo, estimulam a identificação das 
hipóteses levantadas e dos argumentos selecionados para a comprovação das diferentes 
proposições.” (BNCC P399)
DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM (ANOS FINAIS ef):
1.Pela identificação dos eventos considerados importantes na história do 
Ocidente (África, Europa e América, especialmente o Brasil), ordenando-os de 
forma cronológica e localizando-os no espaço geográfico. 
2. Pelo desenvolvimento das condições necessárias para que os alunos 
selecionem, compreendam e reflitam sobre os significados da produção, 
circulação e utilização de documentos (materiais ou imateriais), elaborando 
críticas sobre formas já consolidadas de registro e de memória, por meio de 
uma ou várias linguagens. 
3. Pelo reconhecimento e pela interpretação de diferentes versões de um 
mesmo fenômeno, reconhecendo as hipóteses e avaliando os argumentos 
apresentados com vistas ao desenvolvimento de habilidades necessárias para a 
elaboração de proposições próprias. 
(BNCC P418)
Nesse contexto, um dos importantes objetivos de História no Ensino 
Fundamental é estimular a autonomia de pensamento e a capacidade de 
reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época e o lugar nos 
quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e 
condutas. A percepção de que existe uma grande diversidade de sujeitos 
e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e a formação 
para a cidadania. A busca de autonomia também exige reconhecimento das 
bases da epistemologia da História, a saber: a natureza compartilhada 
do sujeito e do objeto de conhecimento, o conceito de tempo histórico 
em seus diferentes ritmos e durações, a concepção de documento como 
suporte das relações sociais, as várias linguagens por meio das quais o 
ser humano se apropria do mundo. Enfim, percepções capazes de responder 
aos desafios da prática historiadora presente dentro e fora da sala de 
aula.
(BNCC P400-401)
“O que se espera do aluno na BNCC de História para a 
interpretação de uma obra literária é muito mais do 
que é oferecido ao mesmo aluno na BNCC de Língua 
Portuguesa, no eixo Educação Literária(ou mesmo no 
eixo Leitura)”
“Enquanto no aprendizado literário na BNCC de Língua 
Portuguesa, os alunos estão fruindo o texto e conhecendo o 
“outro”, o estudante dos anos finais de História está 
estudando aspectos da cultura Grega e Romana (6º ano), O 
Renascimento, a reforma religiosa e a expansão marítima (7º 
ano), Iluminismo, Revolução Francesa, a independência do 
Brasil e “A produção do imaginário nacional brasileiro: 
cultura popular, representações visuais, letras e o 
romantismo no Brasil” (8º ano), Abolição da escravatura, 
questão indígena até 1964, questões de gênero e protagonismo 
feminino, [30] Totalitarismos e conflitos mundiais, Ditadura 
civil-militar e outras questões de “história recente” (9º 
ano). Conteúdos que impregnam os textos literários, os quais 
poderiam e deveriam ser dispostos para leitura dos alunos. 
Especialmente dos dois últimos anos do Ensino Fundamental.” 
O espaço do texto literário na Base Nacional Comum 
Curricular na etapa do Ensino Fundamental 
Texto de: Ana Paula Teixeira Porto e Luana Teixeira 
Porto
Literatura e escola
O ensino de literatura e a leitura 
no Brasil são temas historicamente 
problemáticos. Os dados alarmantes 
do PISA e do SAEB evidenciam uma 
crise de leitura dos estudantes na 
Educação Básica.
Literatura e escola
Relacionado ao ensino de literatura, são levantadas ao longo dos anos críticas 
associadas a diversos fatores, como:
a) Ao processo de didatização do texto literário;
b) Ao estudo do texto literário por meio da periodização literária;
c) À seleção de obras para leitura na escola;
d) À abordagem do texto literário sem levar em conta a sua natureza intertextual e 
plurissignificativa;
e) Ao estudar literatura baseado no exame de fragmentosde texto, ao invés da leitura 
integral da obra; 
f) Ao descompasso entre a recente produção em teoria e crítica literária e o ensino de 
literatura nas salas de aula. 
Literatura e escola
Tais aspectos assinalados, que revelam a precariedade do ensino de 
literatura e a abordagem inadequada do texto literário em aulas de leitura, 
indicam que há uma divergência entre os documentos que norteiam o 
ensino no Brasil e aquilo que estudos críticos consideram adequado em 
relação à presença do texto literário na sala de aula.
Um dos documentos norteadores, encontra-se a recente Base Nacional 
Comum Curricular - BNCC, aprovada em 2017, que apresenta as habilidades 
e competências a serem reveladas na Educação Básica, nos níveis da 
Educação Infantil e Ensino Fundamental.
A formação de leitores de literatura nas escolas
Pensando em uma perspectiva intercultural e interdisciplinar para a formação de 
leitores (não somente leitores de literatura) nos contextos escolares, algumas 
considerações precisam ser feitas:
● Diversidade de tipos de textos literários na formação do aluno leitor (Parâmetros 
Curriculares Nacionais – PCNs - 1997; 2000);
● Promoção do conhecimento de gêneros textuais como papel da escola;
● Também vale ressaltar que “quando os alunos não têm contato sistemático com 
bons materiais de leitura e com adultos leitores, quando não participam de 
práticas onde ler é indispensável, a escola deve oferecer materiais de qualidade, 
modelos de leitores proficientes e práticas de leitura eficazes”. (PCNS, 1997, p. 
37)
A formação de leitores de literatura nas escolas
É importante que os professores trabalhem com textos literários de 
culturas e nacionalidades diversas de modo a promover interação entre eles, 
favorecendo uma perspectiva intercultural. 
É de total relevância a abordagem da literatura com o enfoque na 
linguagem de sua composição e no diálogo com outras linguagens, 
tendência já apontada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o 
Ensino Médio (2000);
O perfil do professor
● Um professor leitor e proficiente 
(Berenblum, 2006) ;
● Que não se prenda somente aos 
clássicos, mas que esteja em contato 
com textos literários mais recentes e 
populares;
● Que motive a leitura de clássicos aos 
alunos por meio de textos que sejam 
mais atrativos para eles.
A simplificação da literatura
Pelo fato do ensino de 
literatura ser inadequado e que, 
em muitos casos, acaba se 
tornando enfadonho, há leitores 
que concebem a literatura como 
uma mercadoria que necessita de 
simplificação e que precisa da 
rapidez narrativa que se encontra 
no cinema e na televisão. 
A simplificação da literatura
Bosi argumenta que há um gosto por textos que sejam mais simples e superficiais: 
“O indivíduo-massa, a personalidade construída a partir da generalização da 
mercadoria, quando entre no universo da escrita (o que é um fenômeno deste século), o 
faz com vistas ao seu destinatário, que é o leitor-massa, faminto de uma literatura que 
seja especular e espetacular. Autor e leitor perseguem a representação do show da vida, 
incrementado e amplificado. Autor-massa e leitor-massa buscam a projeção direta do 
prazer ou do terror, do paraíso do consumo ou do inferno do crime - uma literatura 
transparente, no limite sem mediações, uma literatura de efeitos imediatos e especiais, 
que se equipare ao cinema documentário, ao jornal televisivo, à reportagem ao vivo (...) o 
filme, imagem em movimento, teria tornado supérflua, para não dizer indigesta, a 
descrição miúda (...) Uma cena de um minuto supriria, no cinema, o que o romancista 
levou mais de uma dezena de páginas para compor e comunicar ao seu leitor.”
- Alfredo Bosi, 1994.
A simplificação da literatura
Portanto, a partir deste contexto de desafios à prática docente, 
fica evidente que o maior desafio está em encontrar metodologias 
que aproximem o aluno do texto, de modo que ele aprenda a 
apreciar a literatura, propondo sentido e vendo sentido no que lê.
A BNCC e o espaço do 
texto literário na etapa
do Ensino Fundamental
“(...) se inicia uma nova era na educação brasileira e que se 
alinha a aos melhores e mais qualificados sistemas educacionais do 
mundo.” (2017, p. 2)
O documento insiste na concepção de que é preciso haver 
um currículo comum para todos, apresentando um…
“projeto de uma base unificadora e homogeneizadora, 
sob o argumento de que a qualidade da educação depende 
desse projeto.” (LOPES, 2018, p. 26).
“A partir dessas competências, são eleitos os 
componentes curriculares obrigatórios em uma 
seleção que lembram as disciplinas 
tradicionais sem oferecer inovações. “ 
(p.17)
“(...) a assunção de que a educação 
precisa, pragmaticamente, ser útil para 
algo que virá. Assim, ela é marquetizada, 
um bem a ser trocado no mercado futuro.” 
(MACEDO, 2018, p. 28)
Sob essa perspectiva, Macedo aponta:
“não sejamos ingênuos, [há] interesses comerciais muito 
fortes, num país em que a população em idade escolar é de 
aproximadamente 45 milhões de pessoas (IBGE, 2010). Em 2018, 
apenas em recursos do tesouro nacional, consta do orçamento 
o valor de 100 milhões de reais para a implementação da 
Base. Ela cria um mercado homogêneo para livros didáticos, 
ambientes instrucionais informatizados, cursos para 
capacitação de professores, operado por empresas nacionais, 
mas também por conglomerados internacionais.” (MACEDO, 2018, 
p. 31)
“O Eixo Leitura compreende as práticas de linguagem que decorrem da 
interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com os textos escritos, 
orais e multissemióticos e de sua interpretação, sendo exemplos as 
leituras para: fruição estética de textos e obras literárias; 
pesquisa e embasamento de trabalhos escolares e acadêmicos; 
realização de procedimentos; conhecimento, discussão e debate sobre 
temas sociais relevantes; sustentar a reivindicação de algo no 
contexto de atuação da vida pública; ter mais conhecimento que 
permita o desenvolvimento de projetos pessoais, dentre outras 
possibilidades. “ (BRASIL, BNCC, 2017, p. 69) 
A BNCC não faz menções claras a abordagem da literatura e 
seus diferentes gêneros, mas enumera os diferentes gêneros 
de letramento digital como…
★ Comentário.
★ Carta de leitor.
★ Post em rede social
★ Gif
★ Meme
★ Fanfic
★ Vlogs variados
★ Political remix
★ Charge digital
★ Paródias de diferentes tipos
e mais…
❖ Vídeos-minuto 
❖ E-zine
❖ Fanzine
❖ Fanvídeo
❖ Vidding
❖ Gameplay
❖ Walkthroug
❖ Detonado
❖ Machinima
❖ Trailer honesto
❖ Playlists
 (BRASIL, BNCC, 2017, p. 71). 
“ Nesse ponto, facilmente chega-se à 
conclusão de que a literatura, cada vez 
mais, está carente de políticas públicas 
que a coloquem em relevo.” (p. 19)
“Mostrar-se interessado e envolvido pela 
leitura de livros de literatura, textos de 
divulgação científica e/ou textos 
jornalísticos que circulam em várias 
mídias.” (BRASIL, BNCC, 2017, p. 72).
“O documento ignora a potencialidade do texto 
literário enquanto objeto capaz de promover 
reflexões, transformações, fruição, interesse 
pela leitura, indo na contramão do que já se 
concebe há anos como funções da literatura.” 
(p. 20)
“da consideração da diversidade cultural, de 
maneira a abranger produções e formas de 
expressão diversas, a literatura infantil e 
juvenil, o cânone, o culto, o popular, a cultura 
de massa, a cultura das mídias, as culturas 
juvenis etc., de forma a garantir ampliação de 
repertório, além de interação e trato com o 
diferente.” (BRASIL, BNCC, 2017, p. 73). 
“Envolver-se em práticas de leitura literária que 
possibilitem o desenvolvimento do senso estético 
para fruição, valorizando a literatura e outras 
manifestações artístico-culturais como formas de 
acesso às dimensões lúdicas, de imaginário e 
encantamento, reconhecendo o potencial transformador 
e humanizador da experiência com a literatura.” 
(BRASIL, BNCC, 2017, p. 85). 
a literatura, a bncc 
e o ensino de 
letras
a literatura e sua potencialidade é entendida como:
❖ Objetode conhecimento.
❖ Repositório de culturas e expressões 
identitárias.
❖ Fonte e documento para a História.
❖ Forma de leitura de mundo.
❖ Expressão de visão de mundo. 
❖ Humanização. 
Considerações 
finais
“Ao se fazer uma síntese das proposições 
da BNCC no que tange à formação literária 
dos educandos no ensino fundamental, não 
há como ignorar o quanto essa base 
novamente desprestigia a literatura como 
um direito de todos e como um objeto 
essencial para a formação.” (p. 21)
“A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um 
documento de caráter normativo que define o 
conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens 
essenciais que todos os alunos devem desenvolver 
ao longo das etapas e modalidades da Educação 
Básica, de modo a que tenham assegurados seus 
direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em 
conformidade com o que preceitua o Plano Nacional 
de Educação (PNE).” (BRASIL, BNCC, 2017, p. 7) 
conclusão
O PAPEL DA LITERATURA NA BNCC:
ENSINO, LEITOR, LEITURA E ESCOLA
Texto de: Sarah Ipiranga
Considerações Iniciais
Este artigo pretende estudar a configuração proposta pela BNCC para o ensino 
de literatura (concepção e objetivos), o perfil de leitor construído e as 
mudanças impostas pela descentralização de conteúdos.
● Em 2018, foi homologada a Base Nacional Comum Curricular para o Ensino 
Médio;
● A BNCC privilegia aporte do ensino nos critérios de competência e habilidades, 
que são a base geradora de elaboração do documento;
● Dentro das áreas em que se divide a estrutura curricular (Linguagens e
suas tecnologias, Matemática e suas tecnologias, Ciências da Natureza e 
Ciências Humanas), a literatura permanece, na primeira área referenciada, como 
um campo de atuação (campo artístico-literário);
● Das quase 600 páginas do documento da BNCC, quatro são dedicadas à 
literatura, o que evidencia o papel menor que vem sendo dado ao seu ensino 
desde 1999.
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Na apresentação inicial do campo artístico-literário, no qual o ensino de 
literatura se inclui, a BNCC apresenta como indicativo de percurso uma 
perspectiva generalista: [...] busca-se a ampliação do contato e a análise 
mais fundamentada de manifestações culturais e artísticas em geral 
(BRASIL, 2018, p. 495). 
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Com essa introdução, o documento deixa explícito que a literatura é uma 
arte entre outras, por isso deve ser estudada em diálogo com as práticas de 
linguagem, das quais não se dissocia. Essa posição acompanha uma 
mudança substancial nos modos de apreensão do literário, compreendido 
agora como extensão de um discurso social ‘moderno’, que concebe o uso 
democratizado da leitura, livre de diretrizes formativas e exercida sobre todo 
tipo de textos (COLOMER, 2007, p. 23). Assim, há uma equalização entre os 
textos, sendo o literário uma das expressões entre outras.
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Depois de situar a literatura como uma prática social, a BNCC dá 
continuidade a uma série de objetivos, que, contraditoriamente, nem sempre 
se articulam de maneira coerente. Parece ter havido uma tentativa de 
contemplar todas as vertentes e não fazer opções bem específicas e 
direcionadas:
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
A escrita literária, por sua vez, ainda que não seja o foco central do componente 
de Língua Portuguesa, também se mostra rica em possibilidades expressivas. Já 
exercitada no Ensino Fundamental, pode ser ampliada e aprofundada no Ensino 
Médio, aproveitando o interesse de muitos jovens por manifestações 
esteticamente organizadas comuns às culturas juvenis (BRASIL, 2018, p. 495, 
grifo nosso).
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Percebe-se, claramente, que duas tendências buscam se equilibrar: tradição e 
inovação, disciplina e fruição, clássicos e bestsellers, antigos e novos.
A expressão dessa inclusão está no investimento em uma atualização dos 
modelos de difusão literária (vlogs, sites, páginas virtuais etc.) e do 
aproveitamento disso para a construção de uma compreensão mais ampliada e 
democrática da arte e da participação do aluno em tal constructo.
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Em relação aos clássicos, ou seja, ao cânone literário que sempre foi a base da 
disciplina de literatura (como também a história da literatura), verifica-se uma 
ênfase na sedimentação da sua leitura: “ampliar o repertório de clássicos 
brasileiros e estrangeiros com obras mais complexas que representem desafio 
para os estudantes do ponto de vista dos códigos linguísticos, éticos e estéticos”
(BRASIL, 2018, p. 514).
BNCC: ENSINO, COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
Na especificação do campo artístico-literário (BRASIL, 2018, p. 513-516), também 
há a explicitação das habilidades. Elas representam, na verdade, um conjunto 
de indicações de modos de ver e trabalhar o texto literário. 
Para resumir, fizemos uma lista interpretativa das diretivas mais importantes:
● Ampliação de repertório e incentivo à capacidade de o aluno eleger seu próprio 
corpus de leitura;
● Compreensão intertextual das obras, por meio do acionamento de dispositivos 
de atualização de sentidos;
● Horizontalização das leituras, com seu compartilhamento em redes sociais;
● Valorização da historicidade dos textos e inserção na cadeia de leitura;
● Incentivo às práticas de escrita dos alunos;
● Ampliação da tradição literária: literatura africana, afro-brasileira, indígena e
contemporânea;
● Ênfase na leitura dos clássicos brasileiros e portugueses para percepção dos 
agudos e complexos processos de elaboração literária.
Assim, faz-se necessário redirecionar as aulas e material didático para que 
essa nova compreensão seja efetivada. Alguns procedimentos são, portanto, 
essenciais para que haja uma equivalência entre ações e concepções.
No que reporta à literatura, a mudança deve comportar, sobretudo, a 
compreensão da história a partir dos textos e não ao contrário, leituras mais 
aprofundadas (evitar trabalhar com excertos), compartilhamento de 
experiências de leitura, inserção de novos contextos e outras modalidades 
de escrita e percepção do mundo.
Em relação ao cânone, mesmo privilegiando os clássicos e seu poder de 
formação, o professor precisa estar aberto a manifestações que diferem da 
tradição e perceber o poder da palavra em outros discursos.
De acordo com o documento, cabe ao professor fazer escolhas entre autores e 
obras que se adaptem aos projetos que desenvolvam o hábito da leitura, 
sem deixar de considerar o sentido principal do trabalho com a literatura: a 
formação de leitores literários fluentes e habilidosos. 
Para tanto, deverá haver uma ampliação das práticas de linguagem e 
repertório, numa abordagem que privilegie a produção colaborativa e o 
cruzamento de culturas e saberes.
Da mesma forma, é indispensável que as sequências didáticas sejam 
organizadas de forma a criar espaço para a manifestação do outro e sua 
elaboração cognitiva. Isso requer uma nova maneira de conduzir as aulas, em 
que o professor acompanha o aluno na descoberta do conteúdo.
Essa nova visão traz a dimensão do performativo para a abordagem dos 
processos de leitura. Antes, com força sobretudo no ‘projeto’ mimético das 
palavras, as leituras estariam assentadas num conjunto de invariáveis, daí a 
decodificação ter sido a palavra mais utilizada para referenciar o papel do leitor.
Uma visão assim privilegia um lugar passivo na ativação dos sentidos do texto, 
lugar continuamente perpetuado pela escola, mesmo quando procurava modificar 
as estratégias de trabalho com o texto literário. Isso porque a mudança era 
protocolar, quando devia ser cognitiva e sensorial.
Torna-se, portanto, indispensável que se fuja dos modelos meramente 
informativos de leitura e análise, pois eles não operam uma real transformação 
nos modos de pensar nem ampliam a capacidade de abstração e reflexão.
A partir daí, pode-se pensar nos critérios para a organização/progressão 
curricular. Entretanto, o raciocínioanterior em relação à preparação das aulas 
aqui se repete, pois entender a progressão a partir de itinerários tão horizontais 
pode ocasionar uma certa dispersão nos critérios e na avaliação:
● Inclusão de diversos subgêneros de escrita, num processo de aproximação das 
formas identitárias da juventude, sobretudo o compartilhamento em meio digital 
dos textos produzidos.
● Reforço na compreensão da identidade nacional por meio de livros que 
indiquem a presença de diversas raças e povos na multiculturalidade brasileira.
● Ampliação da leitura dos clássicos de diversas nacionalidades.
● Abordagem dialógica e comparativista na seleção de textos.
● Apreensão diacrônica (histórica) e sincrônica (metalinguística) das obras 
literárias.
● Primazia da leitura das obras em relação aos períodos literários.
● Disseminação de espaços de fruição, como clubes de leitura e oficinas criativas.
O que se verifica, na análise das habilidades e competências do campo 
artístico-literário, é uma mudança na compreensão da própria literatura na 
escola e das funções de professor e de aluno.
O primeiro passa a mediador, e o segundo, a protagonista no processo. 
Quanto ao conteúdo, ele, por si só, não corresponde a uma vivência plena 
do estudado, uma vez que se trata de uma abstração de experiências já 
concretizadas em boa parte no passado.
As propostas do MEC para continuamente aperfeiçoar o ensino têm impacto 
imediato no exercício da sala de aula, uma vez que as escolas, por meio de 
todas as instâncias envolvidas,devem absorver rapidamente as mudanças e 
colocá-las em prática. Infelizmente, muitas das inovações são feitas sem a 
devida consulta aos agentes educacionais (professores, 
coordenadores,alunos, diretores, pais), cabendo a estes apenas a sua 
aplicação. 
Não há tempo para discutir e refletir,o que contraria o campo intelectual em 
que o ensino está inserindo, pois este é o agente das transformações e não 
reflexo delas.
Dentro desse quadro, a proposta da BNCC, que se quer antropológica 
também, procura, institucionalmente, redirecionar o Ensino Médio para a 
percepção do mundo como uma trama cultural e pessoal, na qual indivíduo 
e sociedade estão em processo contínuo de tensão/aceitação/ ruptura. 
Nesse percurso, insere-se a literatura, cujas noções foram 
‘horizontalizadas’, de forma que pudessem ser interpretadas como 
manifestações diversas, democráticas e igualitárias do literário.
Como ainda não ocorreu a implantação definitiva do projeto, com as escolas 
em processo de absorção das mudanças e reconstrução das suas 
estruturas, resta aos professores, mais uma vez, vestir roupa nova para uma 
festa na qual ainda não se sentem convivas.

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