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DEPENDÊNCIA QUÍMICA P R O F . T H A L E S T H A U M A T U R G O Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED Prof. Thales Thaumaturgo| Dependencia Química 2PSIQUIATRIA 2 PROF. THALES THAUMATURGO INTRODUÇÃO @estrategiamed @thales.thaumaturgo /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed Seja bem-vindo, Estrategista! O tema Dependência Química representa mais de 20% do conteúdo de Psiquiatria nas provas de Residência. E, embora seja um tema muito vasto, estudaremos, de forma direcionada, os principais tópicos cobrados pelas provas, com amplo destaque e maior aprofundamento em dois tópicos: abstinência alcoólica e cessação do tabagismo. Também dê atenção especial ao modelo de “Prochaska e DiClemente” e ao questionário Cage. Bons estudos! Medicina livre, venda proibida. 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Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 4 CAPÍTULO CAPÍTULO 1.0 ESTÁGIOS MOTIVACIONAIS DE "PROCHASKA E DICLEMENTE" Os estágios motivacionais de Prochaska e DiClemente são um modelo teórico-comportamental para avaliar e classificar o grau de motivação do paciente, nesse contexto, dependente químico, em aderir às mudanças necessárias e realizar seu tratamento. Prochaska e Diclemente Estágio Motivacional Características Pré-contemplação (I won’t) O paciente nega o problema, não cogita a mudança e não se preocupa com o assunto. Contemplação (I might) O paciente assume que tem um problema, é ambivalente e considera mudar no futuro breve. Preparação (I will) Começa a planejar mudanças, cria condições, revisa tentativas prévias. Ação (I am) Implementa mudanças verdadeiras, engaja-se em seu objetivo e dedica tempo a ele. Manutenção (I have) Processo de continuidade da abstinência, para manter os ganhos e prevenir recaídas. Caso haja sucesso ao longo do tempo, alcança-se a terminação (termination). Recaída Falha na manutenção, com retomada do comportamento anterior ou retorno a qualquer dos estágios anteriores. Fonte: Shutterstock. 2.1 ETANOL O alcoolismo é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Segundo estimativas nacionais, publicadas em 2017 pelo III Levantamento Nacional sobre uso de Drogas pela População Brasileira (III LNUD), dentre a população de 12 a 65 anos, o álcool é a droga lícita mais consumida, sendo utilizado por 66% dos brasileiros durante a vida. Cerca 1,5% da amostra foi considerada dependente, o que equivale a aproximadamente 2,3 milhões de pessoas, em uma proporção estimada em 3 homens para 1 mulher. 2.0 DROGAS DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 5 Critérios da intoxicação por álcool, adaptados do DSM-5 A Ingestão recente de álcool. B Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e problemáticas desenvolvidas durante ou logo após a ingestão de álcool. C Um (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos durante ou logo após o uso de álcool: 1 Fala arrastada. 2 Incoordenação. 3 Instabilidade na marcha. 4 Nistagmo. 5 Comprometimento da atenção ou da memória. 6 Estupor ou coma. American Psychiatric Association, 2014. O manejo clínico consiste em manter o indivíduo em ambiente calmo, posicioná-lo em decúbito lateral, para que não haja broncoaspiração decorrentes de vômitos e administrar 300mg de tiamina via parenteral. É fundamental lembrar que a administração de tiamina deve ocorrer, preferencialmente, antes da reposição de glicose ou hidroeletrolítica, que deverá ser realizada apenas se houver necessidade. Caso o paciente se apresente com agitação psicomotora intensa, agressividade ou sintomas psicóticos, o uso cauteloso do antipsicótico típico haloperidol pode ser empregado, pela via intramuscular, para controle dos sintomas. Drogas como benzodiazepínicos, prometazina e antipsicóticos devem ser evitadas, devido ao risco de rebaixamento do nível de consciência e possível depressão respiratória. Os antipsicóticos podem provocar convulsões e arritmias cardíacas. 2.2 INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA A intoxicação alcoólica, na maioria das vezes, apresenta um curso benigno e autolimitado, durando algumas horas e resolvendo-se por completo sem deixar quaisquer consequências físicas severas. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 6 2.3 ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA A síndrome de abstinência alcoólica (SAA) pode se iniciar entre 6 e 48 horas depois do último consumo de álcool ou mesmo de sua redução brusca. Sua duração varia entre 2 a 7 dias. Seus principais sintomas são tremores de extremidades, geralmente as primeiras manifestações, e outros indícios de hiperatividade autonômica, como náuseas, hipertermia, sudorese, taquipneia, taquicardia e hipertensão, além de ansiedade, irritabilidade, insônia e agitação psicomotora. Critérios da abstinência de álcool, adaptados do DSM-5-TR A Cessação (ou redução) do uso pesado e prolongado de álcool. B Dois (ou mais) dos seguintes sintomas: 1 Hiperatividade autonômica (sudorese ou frequência cardíaca maior que 100bpm). 2 Tremor aumentado nas mãos. 3 Insônia. 4 Náusea ou vômitos. 5 Nistagmo. 6 Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias. 7 Agitação psicomotora. 8 Ansiedade. 9 Convulsões tônico-clônicas generalizadas. American Psychiatric Association, 2022 Etilistas crônicos, indivíduos desnutridos ou pós-bariátricos, podem desenvolver um quadro de encefalopatia conhecido como síndrome de Wernicke-Korsakoff (SWK), caracterizado por amnésia anterógrada, confabulações (criação de falsas memórias), alucinações, oftalmoparesia, ataxia e confusão mental (tríade clássica). A causa é a deficiência de tiamina (B1). Sua profilaxia e tratamento consistem na reposição de vitamina B1, que é cofator de enzimas importantes no metabolismo energético, além de contribuir com a transmissão sináptica. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 7 2.3.1 DELIRIUM TREMENS (DT) Em 10% dos pacientes com SAA, após 1 a 4 dias de curso, agravam-se os sintomas, especialmente os tremores, com a caracterização do delirium tremens, em que ocorre alteração do nível de consciência, sintomas psicóticos, além de episódios convulsivos em uma parcela dos doentes. O DT dura em média 1 a 2 semanas, contudo, pode se prolongar por até 2 dois meses, e temmortalidade estimada entre 5% e 20%, acometendo especialmente àqueles com fatores de risco, como idosos, pacientes com doenças crônicas ou com histórico prévio de SAA. 2.3.2 TRATAMENTO DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Para se determinar onde deverá ser realizado o tratamento, classificamos a SAA em: Nível I ou leve a moderado: tratamento domiciliar, ambulatorial ou em hospital-dia. Nível II ou grave: internação. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 8 O tratamento farmacológico da SAA e suas complicações é baseado no uso de benzodiazepínicos, de acordo com a necessidade clínica. Em casos leves e moderados, o diazepam poderá ser utilizado, entre 20 e 60 mg ao dia, ou o lorazepam, entre 4 e 8 mg ao dia, sendo retirado lentamente após uma semana ou de acordo com a estabilidade clínica do paciente. Carbamazepina é uma droga de segunda linha, e pode ser útil em casos leves a moderados. 1 2 Níveis da Síndrome de Abstinência Alcoólica Os sinais e sintomas da abstinência alcoólica são de instensidade leves ou moderados, sem prejuízo da capacidade de critíca ou sintomas psicóticos, presença de um bom suporte social e familiar, acesso à saúde quando necessário, sem presença de complicações clínicas ou comorbidades relevantes. Os sinais e sintomas da abstinência alcoólica são graves, geralmente incluesm perda do juizo crítico, sintomas psicóticos ou convulsões. O suporte familiar e social não tem sido capaz de promover os cuidados adequados ao paciente, que geralmente apresenta complicações decorrentes do uso de álcool e comorbidades clínicas ou psiquiátricas. Nos casos graves, incluindo-se o DT, em que os pacientes encontram-se hospitalizados, doses maiores de benzodiazepínicos poderão ser utilizadas, de acordo com a intensidade dos sintomas. Raramente, nos casos graves e refratários, pode haver associação de benzodiazepínico com fenobarbital ou propofol. O lorazepam é a medicação de escolha para os pacientes com doença hepática, pois apresenta menor toxicidade do que os demais benzodiazepínicos. Em todos os casos, deve ocorrer a prescrição diária de tiamina 300 mg, preferencialmente por via parenteral, pelos primeiros 7 a 14 dias. O uso do antipsicótico haloperidol poderá ser cuidadosamente empregado na ocorrência refratária de agressividade, agitação psicomotora ou sintomas psicóticos. Seu uso reduz o limiar convulsivo. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 9 2.3.3 DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA Fonte: Shutterstock. O dependente é aquele que consome regularmente álcool, por ao menos 12 meses, envolve-se em episódios frequentes de uso compulsivo ou incontrolável, manifesta fissura, tolerância, ressaca ou abstinência, e normalmente desenvolve consequências físicas em razão do consumo da droga. Além disso, tem prejuízos graves ou duradouros em sua vida pessoal, social ou profissional. O questionário CAGE é uma ferramenta de rastreio de problemas relacionados ao uso de álcool, composto por quatro perguntas: 1. (Cut down) Você já tentou diminuir ou cortar a bebida? 2. (Annoyed) Você já ficou incomodado ou irritado com outros porque criticam o seu consumo? 3. (Guilty) Você já se sentiu culpado por causa do seu jeito de beber? 4. (Eye-opener) Você já teve que beber para aliviar ou reduzir os efeitos de uma ressaca? O CAGE tem sensibilidade e especificidade superiores a 80% na detecção de problemas relacionados ao uso de álcool quando 2 ou mais perguntas obtiveram resposta positiva. Apesar disso, o diagnóstico deve ser confirmado ou afastado após avaliação clínica. O tratamento medicamentoso baseia-se na prescrição de fármacos que reduzem a fissura, ou que diminuam o prazer de consumir a substância, ou, então, causem efeitos aversivos e desagradáveis haja o consumo. As principais substâncias disponíveis para esse fim são o dissulfiram, a naltrexona e o acamprosato (não disponível no Brasil). O dissulfiram inativa a enzima aldeído desidrogenase, causando um acúmulo de acetaldeído, o que gera o “efeito antabuse”, que produz taquiarritmias, precordialgia, cefaleia, ruborização da face, ansiedade, desmaio e convulsões. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 10 Etanol Acetaldeído Efeito Antabuse Álcool desidrogenase Dissulfiram inativa a aldeído desidrogenase 2.4 ANSIOLÍTICOS, HIPNÓTICOS E SEDATIVOS Fonte: Shutterstock. Drogas classificadas como ansiolíticas, hipnóticas ou sedativas são substâncias com mecanismo de ação semelhante, que agem como depressoras do SNC. Os principais exemplos são os benzodiazepínicos, as drogas Z e os barbitúricos, que atuam como agonistas dos receptores de ácido gama-aminobutírico (GABA) tipo “A”, reduzindo a excitação neuronal. 2.4.1 INTOXICAÇÃO POR ANSIOLÍTICOS, HIPNÓTICOS E SEDATIVOS A clínica da intoxicação por essas substâncias é similar à intoxicação por etanol, pois o mecanismo tóxico é semelhante. O DSM-5- TR sugere, para a avaliação do diagnóstico diferencial, que a presença de odor etílico é indicativo de intoxicação por álcool. O manejo da intoxicação aguda por essas substâncias varia conforme a gravidade do quadro: • Intoxicação leve a moderada: suporte à vida, monitorar e observar. • Intoxicação grave: suporte à vida. Se houver depressão respiratória ou coma, administra-se o antídoto flumazenil (ineficaz se intoxicação por barbitúricos) , e o tratamento é de suporte. 2.4.2 DEPENDÊNCIA DE SEDATIVOS, HIPNÓTICOS OU ANSIOLÍTICOS Neste tipo de dependência, é fundamental criar vínculo com o paciente, acolhê-lo, orientá-lo, motivá-lo e acompanhá-lo ao longo do tempo. Apoio psicológico e social podem ser muito úteis para uma parcela dos pacientes. Triar e tratar condições psiquiátricas, frequentemente comórbidas, é fundamental para o sucesso terapêutico. A prescrição médica responsável é fator de grande impacto para prevenir abusos e dependência na comunidade. O manejo medicamentoso da dependência se dá através da substituição de uma droga de meia-vida curta pela utilização de benzodiazepínico de longo efeito, como o clonazepam ou diazepam. Após a estabilização clínica, deve-se reduzir lentamente a dosagem da droga empregada, ao longo de semanas ou meses. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 11 2.5 OPIOIDES • ÓPIO • MORFINA • CODEÍNA • TEBAÍNA • HEROÍNA (DIACETILMORFINA) • OXICODONA • HIDROXICODONA • OXIMORFONA • HIDROXIMORFONA Opiáceos NATURAIS, extraídos diretamente do ópio: • METADONA • MEPERIDINA • PETIDINA • FENTANIL • TRAMADOL Opioides SEMISSINTÉTICOS, que são parcialmente modificados: Opioides SINTÉTICOS: O ópio é uma substância leitosa obtida da papoula (Papaver somniferum), de onde se extraem alcaloides como a morfina, codeína e papaverina. Os opioides, conhecidos como narcóticos, são sedativos, hipnóticos e depressores do SNC, e podem ser classificados em: Essas drogas produzem efeitos quando se ligam a receptores específicos no SNC: Mu (m) – analgesia, sedação, depressão respiratória e constipação. Kappa (k) – analgesia, sedação, miose e alterações no humor. Delta (s) – analgesia e alterações no humor. Épsilon (e) – sedação. Rô (p) - analgesia, alucinações. 2.6 INTOXICAÇÃO POR OPIOIDES Estrategista, fique muito atento à tríade clássica da intoxicação por opioides, composta por depressão respiratória, rebaixamento do nível de consciência ou coma e miose. O manejo clínico deve ser realizado em ambiente hospitalar, com o rápido estabelecimento de medidas de suporte à vida e uso do antídoto específico naloxona. Opioide ComaMiose Depressãorespiratória Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 12 Na intoxicação pelas demais drogas depressoras do SNC ocorre um quadro clínico semelhante, contudo a miose é tipicamente causada por opioides. A ausência de miose ou a falta de resposta clínica quando se administra naloxona são indicativos de que o quadro é causado por drogas não opioides. 2.6.1 ABSTINÊNCIA E DEPENDÊNCIA DE OPIOIDES A síndrome de abstinência inicia-se em horas ou poucos dias após o último consumo. A duração pode variar de 10 a 15 dias, mas, em casos graves ou inadequadamente tratados, pode estender-se por vários meses. Critérios da abstinência de Opioides, adaptados do DSM-5-TR A Presença de qualquer um dos seguintes: 1 Cessação (ou redução) do uso pesado e prolongado de opioides. 2 Administração de um antagonista após um período de uso de opioides. B Três (ou mais) dos seguintes sintomas: 1 Humor disfórico. 2 Náusea ou vômito. 3 Dores musculares. 4 Lacrimejamento ou rinorreia. 5 Midríase, piloereção ou sudorese. 6 Diarreia. 7 Bocejos. 8 Febre. 9 Insônia. Tanto a síndrome de abstinência quanto a dependência por opioides devem ser tratadas com o emprego de um agente opioide de meia-vida longa, preferencialmente metadona ou buprenorfina. Codeína e tramadol são opções secundárias. Após a estabilização clínica, a droga empregada deve ser reduzida lentamente, ao longo de meses. Clonidina, um agonista adrenérgico, pode ser útil para redução da intensidade dos sintomas da abstinência. American Psychiatric Association, 2022. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 13 CAPÍTULO 3.0 DROGAS ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Fonte: Shutterstock. As anfetaminas, cocaína e crack são drogas estimulantes do SNC e exercem seus efeitos tóxicos ao promoverem o aumento do tônus de monoaminas como a dopamina, serotonina e a noradrenalina, que ativam o circuito de recompensa cerebral no sistema límbico, causando sensação de prazer e bem-estar, podendo levar à dependência física e psicológica. 3.1 INTOXICAÇÃO POR ESTIMULANTES Os principais sintomas clínicos são: agitação psicomotora, taquicardia, hipertensão, hipertermia, sudorese excessiva, hiperreflexia, midríase, cefaleia, náuseas e vômitos. Para os pacientes que apresentam agitação psicomotora, agressividade ou sintomas psicóticos, a medicação de primeira escolha é um benzodiazepínico. Haloperidol, um antipsicótico típico, pode ser utilizado nos pacientes que não responderam ao benzodiazepínico. Mas cuidado! Antipsicóticos podem precipitar episódios convulsivos. Em casos graves, podem ocorrer arritmias cardíacas, dor torácica, infarto agudo do miocárdio (IAM), rebaixamento do nível de consciência, sintomas psicóticos, delirium, convulsões, rabdomiólise (por excitação motora), insuficiência renal aguda, acidente vascular encefálico. O manejo envolve uso de benzodiazepínicos, que produzem sedação e reduzem a excitação do paciente, promovendo a redução da pressão arterial, melhora a taquicardia, prevenindo episódios convulsivos e a rabdomiólise. 3.2 ABSTINÊNCIA E DEPENDÊNCIA DE PSICOESTIMULANTES Os sintomas típicos da síndrome de abstinência de estimulantes são principalmente psíquicos, como ansiedade, humor deprimido ou irritável, lentificação psicomotora e alterações do sono. Podem surgir poucas horas após o último uso em usuários pesados, atingindo um ápice entre 2 e 4 dias, com duração de semanas até vários meses, especialmente em dependentes que usam as substâncias por via injetável. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 14 O manejo dos sintomas agudos da síndrome de abstinência de estimulantes é baseado principalmente em medidas ambientais, como repouso, alimentação e hidratação adequadas, manter o paciente perto de seu núcleo familiar para ser acolhido, monitorado e incentivado e identificar e tratar possíveis comorbidades. Em caso de sintomas graves, o uso de benzodiazepínicos pode ser considerado. O uso off-label de antidepressivos, estabilizadores do humor e antipsicóticos é frequentemente empregado na tentativa de reduzir a impulsividade e a fissura. 3.3 TABAGISMO Fonte: Shutterstock. A dependência de tabaco é uma das mais prevalentes de todo o mundo, sendo a principal causa de morte evitável do mundo. Além disso, o tabagismo passivo é a terceira causa de morte evitável no mundo. Segundo o III LNUD, cerca de 3,2% dos brasileiros são dependentes do tabaco, o que representa, aproximadamente, 5 milhões de pessoas. O estudo também estima que um terço da população já tenha consumido cigarros industrializados. Critérios da abstinência de ESTIMULANTES, adaptados do DSM-5-TR A Cessação (ou redução) do uso prolongado de substância tipo anfetamina, cocaína ou outro estimulante. B Humor disfórico e duas (ou mais) das seguintes alterações: 1 Fadiga. 2 Sonhos vívidos e desagradáveis. 3 Insônia ou hipersonia. 4 Aumento do apetite. 5 Retardo ou agitação psicomotora. American Psychiatric Association, 2022 3.3.1 ABSTINÊNCIA E DEPENDÊNCIA DE TABACO Os sintomas de abstinência de tabaco surgem quando um fumante tenta reduzir ou cessar seu consumo. Os sintomas iniciam-se entre horas e poucos dias após a última tragada, atingindo o auge dentro de 48 horas. A duração pode estender-se por vários meses. O tratamento do tabagismo envolve medidas não farmacológicas e farmacológicas. Observe abaixo os 3 modelos de abordagem: Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 15 Abordagem breve/mínima ou “PAAP” – Perguntar, Avaliar, Aconselhar e Preparar: consiste em dedicar 3 minutos a incen- tivar o fumante a abandonar o fumo, podendo ser aplicada por qualquer profissional de saúde em qualquer contexto. Abordagem básica ou “PAAPA” – Perguntar, Avaliar, Aconselhar, Preparar e Acompanhar: dura entre 3 e 5 minutos e fornece orientações necessárias para uma correta tentativa de abandono do tabagismo, elaboração de um planejamento breve e proposta de um acompanhamento clínico. → Para aqueles que não estão dispostos a parar de fumar em breve (30 dias), recomenda-se nova abordagem no próximo contato. → Para aqueles dispostos a parar de fumar, inicia-se a preparação com orientação de estratégias comportamen- tais e abordagem estruturada. Abordagem intensiva/estruturada - os fumantes que estiverem engajados participarão de um tratamento de 12 meses: serão avaliados, entrevistados, estratificados com teste de Fagerström e grau de motivação. Esses pacientes participarão de aconselhamento para compreender a dependência e a abstinência. Realizarão sessões de terapia cognitivo-comportamental individuais ou coletivas (4 semanais, 2 quinzenais e, posteriormente, mensais até completar 1 ano), e receberão fármacos específicos para o abandono do tabagismo, pois a associação dos métodos farmacológico e não farmacológico aumenta as chances de sucesso. Apesar disso, para aqueles que com 1 ou mais condições a seguir podem ser empregadas apenas as medidas não farmacológicas: • Relato de ausência de sintomas de abstinência; • Número de cigarros consumidos diariamente igual ou inferior a 5; • Consumo do primeiro cigarro do dia igual ou superior a 1 hora após acordar; • Fagerström igual ou inferior a 4; • Contraindicações clínicas; • Preferência do paciente por método não medicamentoso. Com relação à abordagem medicamentosa, o PCDT do MS dispõe das seguintes medicações: → Bupropiona, um antidepressivo atípico; e → Terapia de Reposição de Nicotina (TRN), sob as formas de adesivo transdérmico (liberaçãolenta) e goma ou pastilha de mascar (liberação rápida). Observe a seguir as possibilidades terapêuticas: → TRN combinada (TRNc): combinação de drogas nicotínicas, tratamento preferencial devido à maior eficácia. → Bupropiona isolada: preferencial para grande parte dos pacientes com doença psiquiátrica atual ou pregressa. → TRN isolada (TRNi): se contraindicação a uma das apresentações da nicotina ou impossibilidade do uso de bupropiona. → TRNi + bupropiona: em caso de insucesso apenas com métodos isolados. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 16 Estrategista, o atual PCDT não deixa clara a duração total do programa farmacológico. O PCDT de 2016 (revogado pelo texto atual) estimava em até 12 semanas. Estrategista, clonidina e nortriptilina são consideradas, por protocolos de sociedades, drogas de segunda linha. A vareniclina é uma medicação não incorporada pelo MS para o tratamento do tabagismo. Apesar disso, diversos estudos e protocolos clínicos a consideram, não apenas droga de primeira linha, mas abordagem preferencial. CAPÍTULO 4.0 DROGAS PERTURBADORAS Fonte: Shutterstock. 4.1 MACONHA A maconha é a droga ilegal mais consumida em todo o mundo. Segundo o III LNUD, entre 0,3% e 0,6% da população brasileira é dependente, e cerca de 10% das pessoas já a utilizaram em algum momento. A maconha possui centenas de canabinoides, sendo o delta-9-THC seu principal princípio ativo, responsável por suas propriedades psicoativas e alucinógenas. Por sua vez, o canabidiol (CBD) aparenta desempenhar atividades sedativas e ansiolíticas. Estes ativos ligam-se a receptores canabinoides endógenos. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 17 4.1.1 INTOXICAÇÃO POR MACONHA A maconha é considerada uma droga perturbadora, porque pode causar distorções perceptivas, alucinações, paranoia, delírios, ansiedade, além de prejudicar a cognição e coordenação motora. Quanto maior a concentração de THC, mais intensas as manifestações, que podem durar até 12 horas. Critérios da intoxicação por MACONHA, adaptados do DSM-5-TR A Uso recente de Cannabis. B Alterações comportamentais ou psicológicas. C 2 (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos no período de 2 horas após o uso de Cannabis: 1 Conjuntivas hiperemiadas. 2 Apetite aumentado. 3 Boca seca. 4 Taquicardia. American Psychiatric Association, 2022. A maconha não é responsável por intoxicação grave. Isso se explica porque seus receptores podem ser encontrados nos núcleos da base, no cerebelo, nos hipocampos, dentre outras áreas do encéfalo, contudo são pouco presentes no tronco encefálico, o que justifica a ausência de depressão cardiorrespiratória. O manejo clínico é realizado com abordagem comportamental, mantendo o paciente em um local calmo e seguro. O uso de propranolol tem se demonstrado útil no tratamento dos pacientes agudamente intoxicados, por melhorar a ansiedade, reduzir a taquicardia e a pressão arterial e também melhorar a hiperemia conjuntival. Em pacientes agitados, benzodiazepínicos podem ser empregados. Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 18 https://bit.ly/2M1Br83 Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina https://bit.ly/2M1Br83 Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 19 CAPÍTULO 6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim deste resumo, e espero que tenha sido proveitoso para você. Em casos de dúvidas ou sugestões, não hesite em utilizar o fórum ou nos contactar através das redes sociais. Até breve, Professor Thales Thaumaturgo! Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina Estratégia MED PSIQUIATRIA Dependência Química Prof. Thales Thaumaturgo | Resumo Estratégico | 2024 20 Medicina livre, venda proibida. Twitter @livremedicina https://med.estrategiaeducacional.com.br/ https://med.estrategia.com/