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HISTÓRIA II O Segundo Reinado (II) - Política Externa e Crise do Império ASSUNTO 14 1. Introdução Do ponto de vista internacional, o Segundo Reinado é marcado por dois importantes acontecimentos: A Questão Christie (1861-1865) e a Guerra do Paraguai (1885-70). Ambas demonstram a projeção política do Estado brasileiro, sustentada economicamente pela expansão da cafeicultura. Entretanto, o fim da Guerra do Paraguai mergulhou o Brasil em uma grave crise financeira, abrindo espaço para a contestação do Estado imperial e do governo de D. Pedro II. 2. A Questão Christie (1861-1865) O embaixador inglês no Brasil, William Dougal Christie era conhecido por sua arrogância no trato com os brasileiros, característica que se tornou evidente em dois incidentes ocorridos no Brasil: • Em 1861, um navio inglês naufragou no Rio Grande do Sul e teve sua carga saqueada. Christie exigiu do governo brasileiro uma indenização no valor de 3.200 libras esterlinas e o acompanhamento de um oficial inglês nas investigações. • No ano seguinte, oficiais da marinha inglesa bêbados foram presos por realizarem arruaças no Rio de Janeiro. Christie exigiu novamente a indenização, o afastamento dos policias que prenderam os ingleses e um pedido oficial de desculpas do governo brasileiro à marinha inglesa. • As hostilidades entre brasileiros e ingleses podiam ser vistas nas ruas com ataques de brasileiros a ingleses, principalmente a partir da apreensão de três navios mercantes brasileiros na Baía de Guanabara. A ordem foi dada por Christie uma vez que D. Pedro II não havia cumprido com suas exigências. D. Pedro II pagou a indenização exigida por Christie e solicitou a arbitragem da Bélgica para avaliar a situação. O rei Leopoldo I deu ganho de causa ao Brasil e determinou que a Inglaterra deveria desculpar-se da prepotência de Christie. Como a Inglaterra recusou-se a pedir desculpas, D. Pedro II rompeu relações diplomáticas com a Inglaterra em 1863. Mas em 1865, os dois países se reaproximaram – os interesses na Guerra do Paraguai foram determinantes para colocar as hostilidades em segundo plano. 3. A Questão Platina A disputa pela hegemonia na Bacia Platina tem um longo histórico. Desde a fundação da Colônia de Sacramento (1680), portugueses e espanhóis em conflito já demonstravam a importância comercial e estratégica da bacia, que permite uma grande penetração no interior do território. Quando em 1816, D. João VI ordenou a invasão da Cisplatina diante da pretensão argentina de incorporar a área, a Questão Platina ganhava mais um episódio. O Brasil estabeleceu o controle sobre a Província Cisplatina até 1825 quando esta declarou sua independência, dando origem ao atual Uruguai. Mas ainda não era o último episódio dessa longa tensão. 3.1. Os interesses dos Países Na segunda metade do XIX, Brasil e Inglaterra defendiam a liberdade de navegação na região, com o intuito de facilitar o escoamento dos produtos desses países. Já a Argentina ainda pretendia estabelecer o controle sobre o Uruguai, revivendo as fronteiras do antigo Vice-Reino da Prata. Assim, consolidaria a hegemonia sobre a navegação na Bacia Platina. Entretanto, é importante destacar as rivalidades internas na Argentina que opunham os unitaristas de Buenos Aires e os federalistas das províncias do interior. Os primeiros defendiam a centralização do poder na capital enquanto seus opositores defendiam a ampliação da autonomia provincial O Uruguai refletia a disputa entre os projetos do Brasil e Argentina, por meio da existência de duas grandes facções partidárias: os blancos (representantes dos criadores de gado e produtores de charque próximos à Argentina) e os colorados (representantes dos comerciantes que recebiam apoio do Brasil). O Paraguai tornou-se independente em 1811, sob a liderança de Gas- par Rodrigues de Francia. A partir de então, o avanço econômico tornou-se uma das prioridades dos governos de Gaspar de Francia (1811-40) e do seu sobrinho Carlos Antônio Lopes (1840-62). Caracterizaram-se por medidas como a expropriação de terras da Igreja Católica e da aristocracia local para fins de reforma agrária, investimentos na ampliação da atividade industrial (barcos, papel, louças etc.) e ferroviária. A redução do número de analfabetos também era uma preocupação dos governantes, embora no campo político os governos ditatoriais reprimiessem com violência os opositores. Entretanto, o Paraguai apresentava uma restrição – a falta de saída para o mar tornava-o extremamente dependente de países como a Argentina para escoar seus produtos. Desde 1862, o Paraguai era governado por Solano López (filho do presidente anterior Carlos López), que procurava articular o plano de construção do “Grande Paraguai”. O projeto expansionista de Solano López incluía a incorporação das províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes, parte do Mato Grosso, o Rio Grande do Sul e o Uruguai. 3.2 A intervenção brasileira contra Oribe e Rosas (1851-1852) Em 1851, o blanco Manoel Oribe assumiu a presidência do Uruguai e, com o apoio do presidente argentino Juan Manuel Rosas, ordenou o bloqueio do porto de Montevidéu ao Brasil. Posteriormente, blancos ainda invadiram o Rio Grande do Sul, assassinaram estancieiros e roubaram milhares de cabeças de gado. Esse foi o argumento para que D. Pedro II ordenasse a invasão do Uruguai por tropas lideradas pelo então barão de Caxias, com o apoio das tropas do general argentino Urquiza (governador das províncias de Entre-Rios e Corrientes e líder dos federalistas argentinos, rivais dos unitaristas representados por Rosas). Oribe foi derrubado, dando lugar ao colorado Frutuoso Rivera. Em 1852, os argentinos foram derrotados na batalha de Monte Caseros e Rosas foi deposto. Em seu lugar, assumiu o general Urquiza. Dessa maneira, o Brasil utilizou seu aparato militar para garantir seus interesses na região. EsPCEx – Vol. 3 205 HISTÓRIA II Assunto 14 3.3 A intervenção brasileira contra Aguirre (1864) Em 1864, os blancos retornaram à presidência uruguaia com a eleição de Atanásio Aguirre, que contava com o apoio do presidente paraguaio Solano López. Mais uma vez, uruguaios invadiram o território do Rio Grande do Sul e confiscaram propriedades de brasileiros, principalmente dos que viviam no Uruguai. D. Pedro II ainda enviou uma missão diplomática ao Uruguai que não foi bem-sucedida. Posteriormente, o imperador brasileiro ordenou uma nova invasão ao Uruguai, sob a liderança do general Mena Barreto e do vice-almirante Tamandaré, que derrubou Aguirre, dando lugar ao colorado Frutuoso Rivera. Aguirre era aliado do governante paraguaio Solano López. Indignado com uma nova intervenção militar brasileira alterando o equilíbrio político na região, Solano López capturou, em terras paraguaias, o navio Brasileiro Marquês de Olinda, declarando guerra ao Brasil em 13 de novembro de 1864. Posteriormente, o Mato Grosso do Sul seria invadido, dando início à Guerra do Paraguai. Obs.: A produção historiográfica das décadas de 1960 e 1970 percebia a Guerra do Paraguai como um resultado direto da política imperialista inglesa, que se apropriou do Brasil como instrumento de seus interesses. Solano López teria sido o idealizador de uma política de desenvolvimento antiimperialista, visando o crescimento autônomo da economia paraguaia. Porém as pesquisas mais recentes demonstram que as relações entre Paraguai e Inglaterra não eram tão odiosas assim, uma vez que o país contou com capital britânico em diversas atividades. Além disso, as relações entre Brasil e Inglaterra às vésperas da guerra estavam estremecidas devido à Questão Christie. E se a Inglaterra ofereceu muito mais recursos para o financiamento da guerra para o Brasil e seus aliados, isso se deve ao fato de que os investidores britânicos perceberam prontamente a maior chance de vitória brasileira. Ou seja,pelo surgimento de um novo movimento messiânico nos moldes de Canudos. A comunidade do Contestado era liderada pelo beato José Maria e reuniu, de acordo com diversos historiadores, mais de 50 mil pessoas. Parte desses camponeses é oriunda de comunidades expulsas da região do Contestado pela empresa Brazil Railways, responsável pela construção de uma ferrovia que uniria São Paulo a Porto Alegre e que cruzava a região. Após o término da construção da ferrovia, aproximadamente 8 mil trabalhadores da empresa ficaram desempregados e desalojados, ampliando os quadros da comunidade. EsPCEx – Vol. 3 A República Velha (II) - Revoltas Sociais PERNAMBUCO ALAGOAS Patamoté Juazeiro Uauá Canudos Brejinho Monte Santo Jeremoabo Massacará Cumbe Bom Conselho Pombal Tucano Queimadas Natuba SERGIPE Rio Itapicuru Itapicuru BAHIA O reino do sertão Canudos e sua área de influência OCEANO ATLÂNTICO Salvador 218 D is po ni ve l em : A República Velha (II) - Revoltas Sociais Logicamente, a comunidade do Contestado despertava as mesmas hostilidades que Canudos – os grandes proprietários, o Estado e a Igreja Católica eram seus principais opositores. Em 1916, tropas comandadas pelo general Setembrino de Carvalho foram responsáveis pela violenta destruição da comunidade do Contestado. 4. O Cangaço Esse movimento é classificado por muitos especialistas como pertencente ao banditismo social, ou seja, indivíduos que optaram pela criminalidade diante das graves condições de vida. A grande seca de 1877 fez com que muitas fazendas pecuaristas do interior do Nordeste tivessem sua produção desarticulada e, com isso, muitos jagunços e vaqueiros se desprenderam de suas atividades tradicionais. Muitos se dedicaram a saques e assassinatos encomendados, aterrorizando o sertão ao longo da República Oligárquica (1894-1930) e do início da Era Vargas (1930-1945). Nascia o movimento do Cangaço. Virgulino Ferreira da Silva, conhecido pelo apelido “Lampião”, comandou o grupo de cangaceiros mais expressivo, junto a sua companheira “Maria Bonita”. Somente em 1938, durante o governo Vargas, os homens de Lampião foram executados pelas tropas conhecidas como “volantes”. 5. A Revolta da Vacina (RJ/1904) Entre 1903 e 1906, o engenheiro Francisco Pereira Passos foi prefeito do Rio de Janeiro, com o intuito de modernizar e melhorar as condições sanitárias da capital federal. A modernização pretendia transformar o centro do Rio de Janeiro na “Paris dos trópicos”, trazendo os “ares da civilização europeia” para o Brasil, uma vez que a cidade era a porta de entrada de turistas de várias partes do mundo. O rápido crescimento demográfico do centro não foi acompanhado pela ampliação da infra-estrutura urbana. Não havia condições de coleta e destinação do esgoto sanitário, as ruas apertadas dificultavam o deslocamento de pessoas e de automóveis. A população mais humilde precisava morar no centro, próximo aos locais de trabalho, e alugava espaços em casarões antigos, mal cuidados e superlotados – os “cortiços”. Diante destas péssimas condições sanitárias, doenças como a febre amarela e a varíola proliferavam. As mortes por conta de tais doenças deram ao Rio de Janeiro o título de “túmulo do turista”. A Reforma Passos – como ficou chamado o conjunto de ações do prefeito – incluiu o “Projeto Bota - Abaixo”, que previa a demolição dos casarões antigos, incluindo os cortiços. Como não houve preocupação dos órgãos governamentais com o destino dos desalojados, estes partiram para os subúrbios e encostas de morros, originando diversas favelas. Outra medida importante foi a abertura da moderna Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), que daria passagem aos automóveis e abriria o centro do Rio de Janeiro para o progresso, atraindo lojas e serviços sofisticados. Faltava ainda reduzir as infestações das doenças. Por isso, o sanitarista e secretário municipal de saúde Oswaldo Cruz, lançou um programa de vacinação obrigatória contra a varíola, sem qualquer esclarecimento para uma população que já estava indignada com a violência da demolição dos cortiços. Os agentes sanitários invadiam as casas junto às autoridades policiais, causando uma onda de protestos que ficou conhecida como a Revolta da Vacina. Em novembro de 1904, populares entraram em confronto com as forças policiais depredando órgãos públicos e os bondes recém-instalados pela Reforma Passos, gerando a morte de centenas de manifestantes. HISTÓRIA II Assunto 16 Charge satirizando a campanha de vacinação obrigatória implementada por Oswaldo Cruz Diante das agitações populares, Oswaldo Cruz foi obrigado a recuar, decretando o fim da obrigatoriedade da vacinação. 5. A Revolta da Chibata (RJ/1910) Em 1910, no Rio de Janeiro, marinheiros liderados por João Cândido (conhecido pelo apelido “Almirante Negro” sublevaram encouraçados da Marinha no Rio de Janeiro como o São Paulo e o Minas Gerais e enviaram um ultimato ao presidente Hermes da Fonseca (1910-1914): caso os castigos corporais à chibata não fossem abolidos da Marinha, o Rio de Janeiro seria bombardeado. Estávamos a pouco mais de 20 anos do fim da escravidão, mas a mentalidade escravocrata pairava ainda em inúmeros oficiais. Quando ocorriam infrações, era comum aplicar chibatadas como castigo aos marinheiros negros. Estes reclamavam ainda do preconceito na distribuição das promoções e da impossibilidade do ingresso na Escola Naval para formação de oficiais. O estopim do levante foram as 250 chibatas aplicadas no marinheiro Marcelino Rodrigues. Diante da ameaça de bombardeio, o presidente Hermes da Fonseca decretou o fim dos castigos corporais e concedeu anistia aos revoltosos. Porém, alguns dias depois, ocorreu um novo levante, desta vez dos marinheiros da ilha das Cobras (Rio de Janeiro). O governo foi rigoroso no trato aos envolvidos nos dois levantes. Vários foram presos e mortos. João Cândido foi um dos sobreviventes, sendo anistiado em 1912. 6. A Greve Geral de 1917 O operariado brasileiro vem ampliando seus quadros desde a segunda metade do século XIX, em meio ao surto industrial conhecido como “Era Mauá”. Ao longo das décadas de 1910 e 1920, outro surto industrial, relacionado à substituição de importações por conta da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), promoveu novo aumento do número de trabalhadores industriais. Entretanto, eram péssimas as condições de trabalho da massa de operários, incluindo a exploração do trabalho infantil e feminino (geralmente as mulheres recebiam salários inferiores aos homens para o exercício da mesma atividade), altas jornadas de trabalho sem qualquer descanso ou férias remuneradas, demissões arbitrárias sem indenização, além de condições insalubres de trabalho. EsPCEx – Vol. 3 219 © W ik im ed ia C o m m o n s HISTÓRIA II Assunto 16 Não havia qualquer proteção do Estado ao trabalhador e mesmo liberdade para a organização dos sindicatos. Nesse ambiente, ideologias de luta contra a exploração dos empresários e a favor da melhoria das condições de trabalho como o Anarquismo, difundiam-se entre os trabalhadores. O Anarquismo foi propagado por imigrantes europeus, preferidos por muitos empresários por geralmente conhecerem a atividade industrial. O sindicato seria, para os anarquistas, o principal instrumento de luta contra a exploração capitalista, originando o anarcosindicalismo. Em 1917, a morte do operário Antônio Martínez foi o estopim para a eclosão da Greve Geral de 1917 em São Paulo. Mais de 40 mil trabalhadores aderiram ao movimento que paralisou as atividades em indústrias importantes como a Tecelagem Mariângela, pertencente à família Matarazzo, e a Cia. Cervejaria Antártica. Como era comum durante a República Oligárquica, as forças policiais eram solicitadas para reprimiros movimentos grevistas, ou seja, agitações operárias eram vistas como “caso de polícia”. Mas, diante da mobilização dos operários, empresários acabaram apresentando concessões, como o aumento salarial de 20%, por perceberem que as greves prejudicavam suas atividades. A maior parte dos grevistas aceitou as condições, pondo fim ao movimento. Obs.: Em março de 1922, um grupo de operários e intelectuais fundou o Partido Comunista Brasileiro, influenciado pelo sucesso da Revolução Russa (1917) e pelas sucessivas derrotas das graves anarquistas. Entretanto, poucos meses depois, o partido teve a licença de funcionamento cassada embora muitos dos seus militantes, na clandestinidade, atuassem entre os trabalhadores através do Bloco Operário Camponês (BOC). A Lei do Adolfo Gordo de 1907 era uma das respostas que o governo brasileiro apresentou ao crescente movimento operário no Brasil. Pela lei, de autoria do deputado Adolfo Gordo, eram extraditados os imigrantes envolvidos com o comunismo ou anarquismo no Brasil. 01 (CN) “Só mesmo a palavra ‘sofrência’ Que meu dicionário não tem, Mistura de dor, paciência, Que é riso e que é pranto também, Define o Nordeste que canta, O canto chorado da vida, Reclamam no Sul, chuva tanta, Errou de lugar na caída...” Billy Blanco O Nordeste, dos chamados coronéis, apresentou, entre suas principais características no final do século XIX e início do século XX, a formação de grupos de jagunços e cangaceiros ou, ainda, a presença de líderes religiosos denominados de beatos. Assinale a alternativa que apresenta o fator determinante da formação de jagunços, cangaceiros e beatos: (A) A situação de miséria gerada pelas condições climáticas impostas pelo meio geográfico, como a aridez agravada pela falta de chuvas. (B) A situação de miséria gerada pelo salário de fome imposto pelos coronéis, pela subnutrição e pelas condições geográficas hostis. (C) A crise econômica gerada unicamente pela situação geográfica da região afetando, principalmente, os latifundiários que buscavam compensações através da violência. EsPCEx – Vol. 3 (D) A crise política surgida a partir da disputa entre os coronéis do interior do Nordeste e das famílias tradicionais das principais capitais nordestinas. (E) A crise política originada com o advento da República, visto que o sertanejo nordestino que era monarquista convicto repudiava o regime republicano, alegando que o mesmo era elitista. 02 (PUC-RIO) Durante a Primeira República (1889-1930), houve, na sociedade brasileira, revoltas que, a despeito das diferenças, expressaram a insatisfação e a crítica de grupos populares quanto aos mecanismos de exclusão social e política e às estratégias de expansão dos interesses oligárquicos, então vigentes. Assinale a afirmativa que identifica corretamente revoltas dessa natureza: (A) Guerra de Canudos e Revolta da Vacina; (B) Revolta Federalista e Guerra do Contestado; (C) Revolta da Vacina e Revolta da Armada; (D) Revolta da Chibata e Revolta Federalista; (E) Guerra do Contestado e Revolta da Armada. 03 (UFPI) Leia o texto a seguir. “A imagem mais corrente do operariado na Primeira República é a do italiano anarquista. Caricata, ela reúne dois componentes fundamentais: por um lado, a associação automática entre trabalhador e imigrante - este, por sua vez, reduzido ao italiano; por outro, a atribuição de um ideário único, o anarquismo, àquele momento histórico.” Cláudio Batalha. “O movimento operário na Primeira República”. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p.7 A partir do texto e dos seus conhecimentos, assinale a alternativa correta sobre o movimento operário no Brasil da Primeira República. (A) A cooptação dos trabalhadores pelo Estado, que cedeu a algumas das reivindicações trabalhistas, caracterizou todo o período. (B) As formas de organização dos trabalhadores, bem como as correntes político-ideológicas que os influenciaram, foram marcadas pela heterogeneidade. (C) Os trabalhadores brasileiros não participavam dele por medo da repressão, limitando-se o movimento, portanto, aos ambientes e à ação de imigrantes. (D) A ideologia que inspirava os vários movimentos foi toda baseada no anarquismo, e as reivindicações eram endereçadas aos empresários, mas não ao Estado. (E) As únicas cidades brasileiras que foram palco do movimento foram São Paulo e Rio de Janeiro, porque somente elas apresentavam um desenvolvimento industrial no período. 04 (FATEC) O presidente Rodrigues Alves (1902-1906) governou o Brasil com a preocupação de fazer da capital federal um símbolo de modernidade e do Brasil uma nação inserida na ordem civilizada internacional. Foi, portanto, em seu governo que a capital, (A) Rio de Janeiro, viveu importantes transformações no setor de transportes, com a construção da Estrada de Ferro Mauá. (B) Bahia, viveu a construção do novo porto, que permitia receber navios de grande calado. (C) Brasília, passou por transformações urbanas, entre elas a construção da Avenida Central. (D) Rio de Janeiro, passou por uma onda modernizadora que incluiu ações contra a febre amarela e a varíola. (E) Bahia, teve seus casarões postos abaixo, e, onde antes existiam cortiços, modernos edifícios foram construídos. 220 A República Velha (II) - Revoltas Sociais 05 (UECE) “Nossos caboclos do mato são fáceis de se fanatizar e, se for exato o que se ouve, é necessária a ação enérgica”. A advertência feita ao governador do Estado de Santa Catarina, Vidal Ramos em 1912 é do Cel. Campos Moraes. Ele considerava perigoso para o poder local o ajuntamento de sertanejos pobres em torno do Curandeiro José Maria. MACHADO, Paulo Pinheiro. “Lideranças do Contestado: a formação e atuação de chefias caboclas (1912-1916)”. Campinas: Editora da Unicamp, 2004, p.13. Analise o texto anterior e assinale o correto. (A) O fragmento acima se refere à Guerra do Constestado que, para a imprensa e as autoridades militares, era uma reedição do fanatismo de Canudos. (B) O movimento do Contestado foi, sem dúvida, religioso com caracte- rísticas messiânicas, mas só ingressavam no grupo meninas virgens e meninos puros, para a construção de uma nova Jerusalém. (C) José Maria, o líder do Contestado, era um missionário franciscano, alemão que atuou no Planalto Catarinense, entre 1890 e 1930. (D) A população do Contestado era muito religiosa, louvava a monarquia e o retorno da Casa Real de Bragança ao trono Brasileiro. 06 (UERJ) HISTÓRIA II Assunto 16 (C) Seus membros realizavam protestos contra a mecanização da agricultura e a monocultura. (D) Seguiam um líder messiânico que defendia o retorno da Monarquia e o comunismo agrário. (E) Tratava-se de um movimento separatista que recusava a hegemonia da região Sul 08 (UFPEL) TEXTO I João Cândido é o marinheiro assinalado. Apesar do mito da passividade do povo brasileiro frente às injustiças e violências institucionalizadas, nossa história está repleta de revoltas. TEXTO II “O pânico já estava generalizado. Só em um dia ocorreram 12 composições especiais para Petrópolis levando 3.000 pessoas. [...] A guarnição dos navios revoltados intimou as Fortalezas de Santa Cruz, Laje e São João a não atirarem sobre as belonaves, sob pena de os fortes serem arrasados. [...] A noite caiu e a cidade conheceu um novo senhor, João Cândido, simples marinheiro.” Greve Geral de 1917: multidão de operários descendo a Ladeira do Carmo Disponivel em: TEXTO III “Há muito tempo, Nas águas da Guanabara, O Dragão do Mar reapareceu, MOREL, Edmar. [...]. Rio de Janeiro: Graal, 1979. Ao longo do século XX, o movimento operário brasileiro se organizou e lutou de diferentes formas. Em 1917, ocorreu em São Paulo e no Rio de Janeiro a primeira greve geral na história desse movimento. A orientação ideológica das lideranças dessagreve e uma de suas reivindicações estão indicadas, respectivamente, em: (A) socialista - fim dos castigos corporais (B) comunista - luta por melhores salários (C) liberal - intervenção do Estado na economia (D) anarcossindicalista - diminuição da jornada de trabalho 07 (UFPR) Ora entendidos como bandidos, ora como verdadeiros heróis, no início do século XX, homens e mulheres das classes populares impunham suas leis e afrontavam o poder no Nordeste brasileiro, sendo destacados na história, na literatura e no cinema. Ainda hoje são forte referência no cancioneiro popular. Sobre esse movimento popular e seus integrantes, é correto afirmar: (A) Defendiam o movimento integralista, cujo objetivo era o povoamento efetivo dos sertões. (B) Eram chamados de cangaceiros, e seu movimento caracterizava-se como uma forma de banditismo social. Na figura de um bravo feiticeiro A quem a História não esqueceu. Conhecido como Navegante Negro, Tinha a dignidade de um mestre-sala E, ao acenar pelo mar, na alegria das regatas, Foi saudado no porto Pelas mocinhas francesas Jovens polacas e por batalhões de mulatas”. A letra “O Mestre Sala dos Mares” foi composta em 1975 por João Bosco e Aldir Blanc, e devido a censura, teve substituído no texto original “bravo marinheiro” e “Almirante Negro” por “bravo feiticeiro” e “Navegante Negro”. Os documentos apresentados referem-se à: (A) Revolta da Armada na República da Espada, porém a alteração no poema foi determinada pelo governo Médici. (B) Revolta da Chibata na República Velha, enquanto a censura à canção ocorreu na Ditadura Militar. (C) Revolta dos “Dezoito do Forte de Copacabana” na República do “Café- com-Leite”, ao passo que a restrição à letra da música foi determinada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, no governo de Vargas. EsPCEx – Vol. 3 221 D is po ni ve l em : HISTÓRIA II Assunto 16 (D) Revolução Praieira no Segundo Reinado, contudo a modificação no poema ocorreu no governo Geisel. (E) Revolução Federalista na Primeira República, mas a substituição dos termos originais da música se deu durante a “abertura” pós Ditadura Militar. 01 (CN) “Vocês se acodem comigo para conseguir a cura de suas doenças, uma ideia, um conselho para seus padecimentos. As autoridades não fazem nada e não querem que ninguém faça (...). Eles têm cobiça por terras, por gente, por amigos e por compadres. Os mandões estão trazendo gente de lá de fora e dão tudo aos estrangeiros (...) Os gaviões estão chegando e querem os pintinhos (...) Aprontem-se que vai haver guerra feia.” Pregação do “monge” José Maria Diversos movimentos populares ocorreram durante a República Velha envolvendo a população civil e militar, e as camadas urbanas e rurais. Sobre a Guerra do Contestado, podemos afirmar que: (A) a cidade transformou-se numa das mais povoadas da região, com aproximadamente 30 mil habitantes, com um sistema comunitário sem cobrança de impostos e autoridade policial. (B) a miséria, a fome, a doença, a perda de terras e roças, as secas e as arbitrariedades dos “coronéis” geraram o Contestado. Os sertanejos do Contestado eram aqueles que pegavam em armas, saqueavam e assaltavam. (C) nessa região, rica em madeira e mate, era muito grande o número de sertanejos sem-terra e famintos que viviam sob a dura exploração dos fazendeiros e influenciados por doutrinas místicas. (D) os cortiços e casebres dos bairros centrais foram demolidos. A população pobre que morava nesses locais foi desalojada e expulsa do centro, e passou a morar em barracos do morro ou em bairros distantes, na periferia. (E) o governo estadual decidiu invadir o Contestado com suas tropas. No entanto, a comunidade era tão bem estruturada que as tropas foram insuficientes para dominá-la. Foi preciso haver intervenção do governo federal na luta. 02 (CN) “O ambiente era o pior possível. Calor intolerável, dentro de um barracão coberto de zinco, sem janelas nem ventilação. Poeira (...) saturada de miasmas, de pó de drogas moídas. Os cacos de vidro espelhados pelo chão representavam outro pesadelo para as crianças, porque muitas trabalhavam descalças.” Apud Saga, V. 5. São Paulo: Abril Cultural, 1981, p. 155. Com o desenvolvimento industrial no Brasil, durante a República Velha, formaram-se duas novas classes: a burguesia industrial e a classe operária que irá se organizar para lutar por melhores salários e leis trabalhistas. A força do movimento operário nessa época explica-se: (A) pela legislação brasileira que regulamentava as relações trabalhistas concedendo uma série de benefícios para a classe trabalhadora, logo criando as condições políticas para que os mesmo passassem a lutar pelos seus direitos. (B) pelas condições impostas pelo capital estrangeiro que para fazer investimentos no Brasil passa a exigir dos industriais brasileiros uma política trabalhista como as que estavam sendo desenvolvidas na Europa. EsPCEx – Vol. 3 (C) pela própria origem dos trabalhadores visto que muitos movimentos políticos operários da Europa, onde os trabalhadores tinham uma tradição de luta pela melhoria de suas condições de vida. (D) devido ao movimento comunista que inicia as suas atividades no início do século no meio rural, aproveitando-se das contradições sociais existentes geradas pela política do coronelismo. (E) devido à presença dos anarquistas que pregavam a existência de um Estado forte como única forma de se conseguir a liberdade humana e com ela a conquista por melhores condições de vida. 03 (CN) Observe o texto que se segue, relacionado ao Rio de Janeiro do início do século, quando a cidade era a capital da recém criada república: “A Revolta da Vacina permanece como exemplo quase único na história do país de movimento popular de êxito baseado na defesa do direito dos cidadãos... Mesmo que a vitória não tenha sido traduzida em mudanças políticas imediatas... ela certamente deixou entre os que dela participaram um sentimento profundo de orgulho e auto-estima, passo importante na formação da cidadania...” CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados – o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, pg. 138 Sobre a Revolta da Vacina e os demais fatos históricos que compuseram a etapa de governo do Presidente Rodrigues Alves (1902-06), apenas uma das afirmativas a seguir é incorreta. Assinale-a. (A) Em 1903 teve início na capital federal uma campanha sistemática de desinfecção de habitações e de interdição das residências mais pobres – consideradas focos de moléstias infecto-contagiosas – cujo auge foi a determinação governamental de vacinar, em massa, a população. (B) Os projetos de vacinação e de desinfecção residencial na capital federal podem ser considerados medidas complementares às atividades de remodelação urbanística do Rio de Janeiro, tarefa na qual se destacou o Prefeito Pereira Passos. (C) Além da varíola, outras doenças – como a febre amarela, a peste bubônica e a malária – grassavam livremente no Rio de Janeiro desde o final do século passado, em caráter endêmico ou epidêmico, fazendo tantas vítimas que levaram a capital federal a ser considerada um lugar arriscado. (D) No combate à endemias e no comando das campanhas da vacinação destacou-se o célebre sanitarista Oswaldo Cruz que, apesar das hostilidades despertadas pela sua ação saneadora, conseguiu inegáveis êxitos. (E) O desenvolvimento positivo da reforma urbanística e das campanhas de saneamento levaram a um fortalecimento do prestígio do Presidente Rodrigues Alves, notadamente entre as camadas mais populares, principais beneficiadas pelas atividades de desinfecção e urbanização. 04 (UFG) A Guerra de Canudos (1896-1897) é emblemática no debate sobre a formação da nação no período republicano. A República recém- proclamada enfrentou um Brasil desconhecido:o sertão e os sertanejos. A guerra, tragicamente, significou um aprendizado para os brasileiros demonstrando que a (A) fragmentação e as grandes distâncias das regiões litorâneas impediram a organização e o crescimento das comunidades sertanejas. (B) unidade cultural do país é fruto de um longo processo de gestação iniciado com a ocupação do litoral e o fabrico do açúcar. (C) presença da Igreja Católica no sertão representava um elo entre a comunidade e as autoridades republicanas. (D) frágil base política em que se assentava o governo republicano foi incapaz de reconhecer a questão social e cultural suscitada por Canudos. (E) resistência política dos monarquistas organizados no arraial de Canudos era uma ameaça à ordem republicana. 222 HISTÓRIA II A República Velha (III) - Revolução de 1930 ASSUNTO 17 1. Introdução Em módulo passado, foi possível que o controle político oligárquico afastava segmentos emergentes como o operariado. Como resultado, surgiu a eclosão de diversos movimentos sociais, em sua maioria, combatidos com violência pelos agentes do Estado. Neste módulo, será analisada a projeção de outros grupos na década de 1920 – os jovens oficiais do Exército, artistas e membros da classe média. Mobilizados, tais grupos contribuíram diretamente para o desgaste da República Oligárquica, gerando a necessidade de alteração nos rumos do governo brasileiro. 2. O tenentismo O tenentismo é a expressão da indignação da jovem oficialidade do Exército brasileiro (principalmente tenentes e capitães) recém-saída da Escola Militar de Realengo com os “vícios da república”, conforme afirmavam. Criticavam a hegemonia política oligárquica, sustentada pelas fraudes e manipulações eleitorais e acusavam seus altos oficiais de estarem a serviço das elites locais. Apresentavam-se como os responsáveis pela regeneração das instituições republicanas, diante da “incapacidade” de atuação políticas das massas populares. A regeneração seria obtida por meio de uma revolução antioligárquica comandada pelos tenentes que implantariam o voto secreto e um governo centralizado, restringindo a autonomia dos estados. Segundo os tenentes, o federalismo beneficiava apenas os segmentos aristocráticos estaduais, as oligarquias. 2.1 A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana (RJ/1922) Este movimento é considerado pelos historiadores o primeiro levante tenentista. Está relacionado ao afastamento do ex-presidente marechal Hermes da Fonseca da chefia do Clube Militar pelo presidente Epitácio Pessoa (1919-1922). Hermes da Fonseca respondeu a supostas críticas feitas pelo futuro presidente Artur Bernardes (1922-1926) publicadas no jornal Correio da Manhã, mesmo após técnicos comprovarem que as cartas eram falsas. A demissão do ex-presidente fez com que oficiais tomassem o forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, sob a liderança do capitão Euclides da Fonseca. Em seguida, dezessete oficiais do Exército partiram para derrubar o presidente Epitácio Pessoa. No caminho, receberam a adesão do civil Otávio Correia, dando origem ao movimento dos 18 do Forte de Copacabana (1922). A repressão das tropas oficiais resultou na morte dos revoltosos, com exceção dos tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O idealismo, presente da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, se tornaria uma das principais características do movimento tenentista. 2.2 A Revolução Paulista (1924) Tenentes liderados pelo general Isidoro Dias Lopes cercaram, em 1924, a cidade de São Paulo com o intuito de forçar a renúncia do presidente Artur Bernardes, a convocação de uma Constituinte e a instituição do voto secreto. Apesar da fuga do governador de São Paulo Carlos de Campos, os revoltosos fugiram rumo ao Sul do Brasil, diante da chegada das tropas federais. Formaram assim a Coluna Paulista. 2.3 A Coluna Prestes (1925-1927) No Paraná, a Coluna Paulista encontrou-se com a Coluna Gaúcha liderada pelo capitão Luis Carlos Prestes e que havia partido do Rio Grande do Sul. Nascia a Coluna Prestes, que marchou por cerca de 25 mil quilômetros do interior do território para propagar os ideais da revolta entre a população do interior do Brasil. Porém, as propostas exclusivamente políticas não incluíam reformas sociais e dificultavam a inclusão da massa de populares de modo que, em 1927, os rebeldes partiram para o exílio na Bolívia. Apesar das restrições, o tenentismo disseminou no Brasil a ideia de uma revolução nacional. O incômodo causado pelos rebeldes determinou a decretação do “estado de sítio” e a consequente suspensão de garantias individuais como a liberdade de expressão e associação no governo do presidente Artur Bernardes. Obs.: A Semana de Arte Moderna de 1922 Apesar de não ser considerada uma revolta, a Semana de Arte Moderna é uma evidência das transformações sociais que o Brasil passava. Marco da difusão do modernismo no Brasil revelava a defesa de vários artistas como Mário de Andrade e Tarsila do Amaral da ruptura com o tradicionalismo estético. Padrões que vinculavam os artistas aos segmentos aristocráticos, afastando-os de temas sociais relevantes ao progresso da sociedade. Anunciava a vinculação dos artistas ao mundo moderno, urbano industrial, preocupado com temáticas nacionais, valores que aos poucos tomavam conta do imaginário de segmentos da classe média que se desenvolvia a reboque do crescimento de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro desde o final do XIX. Realizada no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de Arte Moderna foi palco de diversos discursos políticos de artistas indignados com o controle político oligárquico, as fraudes eleitorais e o “voto de cabresto”. Defendiam o voto secreto e feminino, propostas que pouco depois fizeram parte do ideário do Partido Democrático (PD). Fundado em 1926, o partido canalizava as aspirações da classe média, principalmente em São Paulo. É de se imaginar que os críticos de arte da época, em sua grande maioria, criticaram duramente às novas propostas estéticas e temáticas apresentadas pelos artistas ao longo da Semana de Arte Moderna. 3. O Governo do Presidente Washington Luís (1926-1930) e a Revolução de 1930 Natural do Rio de Janeiro, Washington Luís teve uma carreira política sólida em São Paulo, por isso, era dito “político paulista”. Ficou conhecido pelo lema “Governar é abrir estradas”, sendo responsável pela construção da Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis. No campo político, foi responsável pela revogação do “estado de sítio” adotado pelo presidente Artur Bernardes (1922-1926), embora tenha adotado a Lei Celerada (1927) que proibia qualquer propaganda ou organização tenentista e operária. No campo econômico, a Crise de 1929 afetou drasticamente a economia brasileira, uma vez que a recessão provocada pela falência de empresas norte-americanas e pela quebra de Bolsa de Nova York, EsPCEx – Vol. 3 223 HISTÓRIA II Assunto 17 fez com que as compras de café fossem drasticamente reduzidas. A brutal desvalorização do café afetava o principal produto de exportação brasileiro. A crise restringiu a oferta de crédito internacional para compra dos estoques, obrigando Washington Luís a decretar o fim da política de valorização do café. O resultado foi trágico: diversos cafeicultores faliram. Neste quadro, se aproximavam as eleições de 1929. O indicado esperado era o presidente do estado de Minas Gerais Antônio Carlos, de acordo com a política do “café com leite”. Entretanto, diante da crise de 1929, Washington Luís mostrou-se preocupado com o afastamento dos paulistas da presidência e indicou outro paulista – Júlio Prestes. A ruptura do “café com leite”, fez com que Minas Gerais compusesse junto a outras oligarquias dissidentes (Rio Grande do Sul e Paraíba) a Aliança Liberal. O movimento lançou a candidatura do gaúcho Getúlio Dornelles Vargas à presidência e do paraibano João Pessoa ao cargo de vice. Paraatrair o apoio dos Tenentes, da classe média urbana e do operariado, a Aliança Liberal apresentou uma série de propostas como leis trabalhistas, voto secreto e feminino. Apesar da amplitude da Aliança Liberal, Júlio Prestes venceu as eleições. O inconformismo de Vargas com o resultado da eleição contrastava com o discurso de João Pessoa que afirmou: “Prefiro dez Júlio Prestes a uma revolução” no Brasil. Representante das oligarquias, João Pessoa temia uma insurreição popular em meio à revolução. Pouco tempo depois, João Pessoa foi assassinado por questões pessoais em uma confeitaria em Recife. A radicalização do discurso de Vargas, após a morte de João Pessoa, em defesa de uma revolução, encontrava apoio em expressivos políticos como Lindolfo Collor e Oswaldo Aranha, além de líderes tenentistas como Juarez Távora e Miguel Costa. Muitos estavam inconformados como a “política da degola” feita por Washington Luís, afastando os políticos que apoiaram a Aliança Liberal. Em 3 de outubro de 1930, tropas do Exército lideradas pelos generais Mena Barreto e Tasso Fragoso, pelo tenente-coronel Góies Monteiro e pelo almirante Isaías de Noronha partiram do Rio Grande do Sul e do Nordeste em direção ao Rio de Janeiro, depondo, no dia 24 do mesmo mês, o presidente Washington Luís e afastando Júlio Prestes. O alto comando da Revolução de 1930, que finalizou a hegemonia política paulista, entregou provisoriamente a presidência a Getúlio Vargas até que fossem organizadas novas eleições. Obs.: Pouco tempo antes da eclosão da Revolução de 1930, o mineiro Antônio Carlos declarou: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. A preocupação de Antônio Carlos estava relacionada à ascensão de grupos como o operariado e a classe média à margem do Estado o que poderia gerar uma grande revolução popular com resultados imprevisíveis. Era necessário transformar as instituições do Estado, com o intuito de realizar concessões a tais grupos. Assim, seria possível afastar o temor da mobilização das massas. 01 (ENEM) São Paulo, 18 de agosto de 1929. Carlos [Drummond de Andrade], Achei graça e gozei com o seu entusiasmo pela candidatura Getúlio Vargas – João Pessoa. É. Mas veja como estamos... trocados. Esse entusiasmo devia ser meu e sou eu que conservo o ceticismo que deveria ser de você. [...]. Eu... eu contemplo numa torcida apenas simpática a candidatura Getúlio Vargas, que antes desejara tanto. Mas pra mim, presentemente, essa candidatura (única aceitável, está claro) fica manchada por essas EsPCEx – Vol. 3 pazes fragílimas de governistas mineiros, gaúchos, paraibanos [...], com democráticos paulistas (que pararam de atacar o Bernardes) e oposicionistas cariocas e gaúchos. Tudo isso não me entristece. Continuo reconhecendo a existência de males necessários, porém me afasta do meu país e da candidatura Getúlio Vargas. Repito: única aceitável. Mário [de Andrade] LEMOS, Renato. Bem traŲadas linhas: a história do Brasil em cartas pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 305. Acerca da crise política ocorrida em fins da Primeira República, a carta do paulista Mário de Andrade ao mineiro Carlos Drummond de Andrade revela (A) a simpatia de Drummond pela candidatura Vargas e o desencanto de Mário de Andrade com as composições políticas sustentadas por Vargas. (B) a veneração de Drummond e Mário de Andrade ao gaúcho Getúlio Vargas, que se aliou à oligarquia cafeeira de São Paulo. (C) a concordância entre Mário de Andrade e Drummond quanto ao caráter inovador de Vargas, que fez uma ampla aliança para derrotar a oligarquia mineira. (D) a discordância entre Mário de Andrade e Drummond sobre a importância da aliança entre Vargas e o paulista Júlio Prestes nas eleições presidenciais. (E) o otimismo de Mário de Andrade em relação a Getúlio Vargas, que se recusara a fazer alianças políticas para vencer as eleições. 02 (UFSCAR) Em julho de 1924, a elite paulista buscava fugir da capital bombardeada a esmo pelas forças legalistas, descendo a serra em seus automóveis ou em táxis. [...] O bombardeio desencadeado pelas forças legais ao governo constituía o principal motivo do pânico. Situadas em uma posição elevada do Alto da Penha, um bairro ainda periférico, lançavam tiros de canhão contra a cidade, com uma imprecisão espantosa. FAUSTO, Boris. Negócios e ócios. Histórias da imigraŲão, 1997. Os acontecimentos descritos no texto referem-se à: (A) Revolta dos Tenentes. (D) Intentona Comunista. (B) Revolução Constitucionalista. (E) Revolta da Armada. (C) Deposição de Washington Luís. 03 (CN) As duas forças tenentistas uniram-se e decidiram percorrer o interior do país, procurando o apoio do povo para nova revolta contra o governo. Nascia, assim, a chamada Coluna Prestes. Sobre a influência desta coluna na revolta tenentista, podemos afirmar que: (A) apesar de não conseguir provocar revoltas capazes de ameaçar seriamente o governo, manteve acesa a esperança revolucionária de libertar o país do domínio da velha oligarquia. (B) apesar da disposição dos tenentes sulistas, sua possibilidade de vitória era pequena, pois as forças legalistas eram bem mais numerosas e equipadas. Após muitas derrotas uniram-se à Coluna Paulista. (C) tropas fiéis ao governo imediatamente cercaram a Coluna Prestes, no início do movimento, isolando os rebeldes e deixando os mesmos sem condições para resistir levando com isso a dissolução da Coluna em 1925. (D) a maioria das propostas do tenentismo contava com a simpatia de grande parte das camadas populares, dos produtores rurais que não pertenciam à oligarquia dominante e de alguns empresários. (E) a revolta conseguiu ameaçar seriamente o governo e este empreendeu feroz perseguição aos tenentes. A luta durou uma década até decidirem ingressar no Paraguai e desfazer a tropa. 224 Highlight A República Velha (III) - Revolução de 1930 04 (PUC-PR) O governo de Washington Luís, entre várias dificuldades, teve também de enfrentar os efeitos: (A) da campanha contra seu ministro Oswaldo Cruz a respeito da obrigatoriedade da vacina contra a varíola. (B) da inflação provocada pela política do Encilhamento. (C) das restrições às importações provocadas pela Primeira Guerra Mundial. (D) da crise de 1929 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. (E) das revoluções em São Paulo e Minas Gerais que reivindicavam melhores salários-mínimos. 05 (PUC-RS) “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. A frase, atribuída ao governador de Minas Gerais Antônio Carlos de Andrada, deixa entrever a ideologia política da Revolução de 30, promovida pelos interesses (A) da burguesia cafeicultora de São Paulo, com vistas à valorização do café. (B) do operariado, com o objetivo de aprofundar a industrialização. (C) dos partidos de direita fascistas, no intuito de estabelecer um Estado forte. (D) das oligarquias dissidentes, aliadas ao tenentismo pela reforma do Estado. (E) da burguesia industrial, na busca de uma política de livre iniciativa. 06 (UFC) Leia a frase a seguir. “Contra todos os importadores de consciência enlatada.” ANDRADE, Oswald de. “Manifesto antropófago”. Revista de Antropofagia, São Paulo, ano I, n. 1, mai. 1928. O Movimento Antropofágico, lançado em 1928, celebrizou-se pela radicalização de alguns princípios apregoados durante a Semana de Arte Moderna (1922). Sobre ele, é correto dizer que: (A) defendia a apropriação crítica das ideias estrangeiras, em prol da constituição de uma cultura brasileira. (B) simpatizava, politicamente, com o nazismo e o fascismo, ascendentes na Europa, e desaprovava o comunismo. (C) aliou-se ao Movimento Verde-Amarelo, de Plínio Salgado e Menotti del Picchia, na defesa de uma cultura xenófoba. (D) propunha a necessidade do isolamento cultural do país, para proteger- -se da influência externa, que poderia transformar nossos valores. (E) propugnava uma culturaassentada nos valores do homem do campo, verdadeiro ícone da brasilidade, recusando os valores do mundo urbano. 07 (UERJ) CommemoraŲão do Centenario da Independencia do Brasil. Exposição Nacional de setembro a dezembro de 1922. Rio de Janeiro. PEREIRA, R. F. Revista do estudante. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2002. HISTÓRIA II Assunto 17 O ano de 1922 foi um marco na transformação da sociedade brasileira, durante o qual se assistiu a diversos movimentos de contestação da ordem, além das comemorações do Centenário da Independência. Caracterizam a década de 1920 os seguintes acontecimentos históricos: (A) eclosão da Revolta da Vacina e crescimento da Aliança Liberal. (B) instalação da Semana de Arte Moderna e organização dos sindicatos corporativistas. (C) início da reforma urbana do Rio de Janeiro e instituição da Política dos Governadores. (D) rebelião tenentista do Forte de Copacabana e fundação do primeiro partido comunista brasileiro. 08 (UFPE) Leia as afirmativas abaixo, referentes aos anos vinte do século passado, no Brasil. I. Os anos vinte reforçaram o poder das oligarquias e não envolveram lutas por reivindicações políticas democráticas. II. O movimento tenentista expressava as insatisfações políticas do momento apenas do ponto de vista da estratégia militar. III. O movimento modernista significou, entre outras coisas, uma reflexão sobre a identidade cultural brasileira, apesar das influências europeias modernistas. IV. Apesar da importância da cultura do café, já existiam, nos anos 20, investimentos em diversos setores da economia brasileira. V. Os anos 20 representaram a ascensão dos comunistas dentro do movimento operário da Primeira República. Estão corretas apenas: (A) 1, 2 e 4. (B) 2, 3 e 4. (C) 1 e 3. (D) 3, 4 e 5. (E) 1 e 5. 01 (UFRS) A respeito dos antecedentes da denominada Revolução de 1930, é correto afirmar que: I. o governador Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul, manteve o apoio ao governo federal, embora estivesse envolvido nas articulações políticas que levaram à criação da Aliança Liberal. II. existia na política nacional uma tradição de rotatividade na ocupação dos cargos do Executivo federal, o que permitia a representação de todas as regiões do país, sem favorecimento dos Estados mais fortes, como São Paulo ou Minas Gerais. III. o assassinato do político paraibano João Pessoa foi o fato catalisador que precipitou as articulações dos golpistas, visando à deposição do presidente Washington Luís. Quais estão corretas? (A) Apenas II. (B) Apenas I e II. (C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III. EsPCEx – Vol. 3 225 HISTÓRIA II Assunto 17 02 (UNITAU) O germe da crise oligárquica na República Velha encontra-se na industrialização e no crescimento da vida urbana, que fizeram surgir: (A) novas forças sociais e políticas. (B) o regime militar. (C) a influência de valores políticos externos, vindos com os imigrantes. (D) a inserção do Brasil como prioridade da revolução comunista internacional. (E) as grandes periferias urbanas formadas por imigrantes vindos do interior. 03 (FGV) 7 de julho [1922] - Com um saldo de 17 mortos, todos entre os rebeldes, tropas leais ao presidente Epitácio Pessoa sufocaram hoje uma revolta de oficiais que há dois dias haviam tomado o Forte de Copacabana. Eles protestavam contra o fechamento do Clube Militar e a prisão de seu presidente (e também ex-presidente da República) Hermes da Fonseca. Jayme Brener, Jornal do século XX Sobre o tenentismo, é correto afirmar que: (A) apesar das divergências ideológicas em relação às correntes revolucionárias – como o anarquismo, o movimento dos oficiais fez uma série de alianças com o movimento operário, como na greve geral de 1917. (B) esse movimento não tinha uma clara proposta de reformulação política e defendia um poder centralizado e a purificação das instituições republicanas, além da diminuição do poder das oligarquias regionais. (C) foi um movimento inspirado no nazifascismo, que defendia o fortalecimento das instituições liberais-democráticas, como as eleições gerais e diretas, ao mesmo tempo em que apoiavam o federalismo. (D) teve como principal liderança em São Paulo o capitão Luis Carlos Prestes, mais tarde organizador da Ação Integralista Brasileira – AIB, defensor de uma ordem centralizada e de uma economia internacionalizada. (E) a ação de julho de 1922 foi contida com facilidade pelas tropas leais ao governo federal e se constituiu na única ação importante relacionada com os militares rebeldes, que passaram a apoiar uma saída negociada para a crise. 04 (PUC-RS) Responder à questão com base nas afirmativas a seguir, sobre o Movimento Tenentista. I. O tenentismo foi um movimento político com características refor- mistas, que lutava contra o poder das oligarquias regionais e contra o coronelismo. II. Se no plano político o tenentismo tinha ideias progressistas, como a defesa do voto secreto e a criação de uma justiça eleitoral autônoma, no plano econômico defendia o fortalecimento da agricultura e da pecuária de exportação. III. O tenentismo foi um movimento elitista, por recusar-se a mobilizar as classes populares na cidade e no campo, bem como por afastar-se do movimento operário. IV. O caráter difuso das ideias políticas tenentistas permitiu que dele emergissem líderes de movimentos políticos tão opostos quanto o Partido Comunista Brasileiro e a Ação Integralista Brasileira. Pela análise das alternativas, conclui-se que somente estão corretas: (A) I e II. (D) II e IV. (B) I, III e IV. (E) III e IV. (C) II e III. 05 (CN) “João Pessoa, João Pessoa, Bravo filho do Sertão Toda a pátria espera um dia, A sua ressurreição.” Hino a João Pessoa – Eduardo Souto e Oswaldo Santiago “De sul a norte, Todos viram a intrepidez, De um Brasil heroico e forte a raiar no dia três. Na Paraíba, Terra santa, terra boa, Finalmente está vingada, salve o grande João Pessoa. Doutor Barbado deu o fora, foi-se embora, Não volta mais. Não volta mais.” O Barbado foi-se – Lamartine Bado Os dois trechos acima referem-se ao episódio que ficou conhecido como: (A) Revolução de 1930, que ficou motivada pela junção de colunas militares originadas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, com ataques de tropas federais ao forte de Copacabana e à reeleição de Washington Luís. (B) Movimento Tenentista que foi motivado pela formação da Aliança Nacional Libertadora, com a união de grupos rivais para dar combate à Coluna Prestes, e à eclosão de movimentos insurgentes em São Paulo. (C) Revolução de 1930 que foi motivada pelo assassinato de João Pessoa, com formação de uma frente única composta por setores oligárquicos descontentes e pelos tenentes, entre outros, e pela eclosão de insurgência no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. (D) Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo que foi motivada pela oposição a um governo federal que além de se recusar a promulgar uma nova constituição, exerceu o poder, todo o tempo, sob estado de sítio, por meio dos chamados interventores ataques integralistas ao Palácio do Catete. (E) Revolução de 1930 que foi motivada pela aliança de Borges Medeiros com João Neves da Fontoura para eleger Júlio prestes e pela recusa de Washington Luís em criar nova política de valorização do café diante dos efeitos da crise de 1929 e do Plano Cohen. EsPCEx – Vol. 3 226 HISTÓRIA II Era Vargas (I) ASSUNTO 18 1. Introdução A Revolução de 1930 desestabilizou a hegemonia política de São Paulo, a partir da mobilização de forças do Exército Brasileiro lideradas pelo general Góes Monteiro com apoio de oligarquias dissidentes, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A presidência foi provisoriamente de Getúlio Vargas, que procurou, nos primeiros anos, conciliaros interesses dos diversos grupos que apoiaram sua ascensão – além dos grupos oligárquicos mencionados e das forças militares próximas ao pensamento tenentista, destaque para a classe média e para o operariado. 2. O Governo Provisório de Getúlio Vargas (1930-1934) Assim que assumiu a presidência, Vargas ordenou o fechamento do Congresso e das Assembleias Legislativas estaduais e municipais. Suspendeu-se a Constituição de 1891, de modo que Vargas passou a governar por decretos-lei. Vargas afastou os governadores dos estados, indicando tenentes para comandar as unidades da federação na qualidade de interventores. Assim, o presidente se aproximava dos propósitos centralistas dos tenentes, agregados no Clube 3 de Outubro. Em 1931, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, comandado inicialmente por Lindolfo Collor. Ao contrário da República Oligárquica, o governo varguista passou a assumir a direção das relações entre trabalhadores e empresários, atendendo a uma proposta do movimento operário. O governo criou o Conselho Nacional do Café (1931), reeditando a política de valorização do café através da compra dos estoques para reduzir a oferta do produto no mercado. A desvalorização do café fez com que Vargas optasse pela queima de mais de 80 mil sacas do produto para minimizar os gastos com a estocagem. A dificuldade do governo em obter crédito para compra dos estoques obrigou Vargas a uma forte emissão de papel moeda, o que gerou desvalorização monetária. Para estimular a agroexportação, foram criados institutos como o do Açúcar e Álcool, o do Pinho e Erva Mate e o do Tabaco. A proteção ao latifúndio exportador conservava a estrutura fundiária brasileira após uma revolução que se dizia modernizadora. 2.1 A Revolução Constitucionalista de 1932 Os paulistas estavam indignados com a ausência de Constituição e com o fato de que, após dois anos de governo Vargas, as discussões referentes à convocação da constituinte eram adiadas. A nomeação de interventores também irritava os paulistas, uma vez que Vargas havia indicado para o estado o tenente pernambucano João Alberto, acusado pelos mesmos de não representar os seus interesses estado. Apesar de Vargas ter substituído João Alberto pelo civil paulista Pedro de Toledo, a perda da hegemonia política após a Revolução de 1930 fazia com que diversos grupos no estado defendessem a eclosão de uma revolução para novamente projetar São Paulo no cenário nacional. A campanha a favor da constitucionalização do Brasil em São Paulo foi conduzida pela Frente Única Paulista. Em 1932, os estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo foram mortos em uma manifestação contra o governo – as iniciais de seus nomes (MMDC) transformaram-se no símbolo da luta dos paulistas. No dia 9 de julho de 1932, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, que recebeu a adesão de grande contingente da população paulista que ofertava recursos para sustentar a campanha em postos espalhados pela capital. Fábricas se dedicaram à produção para o confronto. As tropas lideradas pelo general Isidoro Dias Lopes invadiram Minas Gerais, na esperança de receberem o apoio de outros estados. Entretanto, os paulistas não receberam o apoio esperado e, isolados, foram reprimidos pelas tropas federais em poucos meses. Apesar da vitória, Vargas convocou eleições para formação de uma Assembleia Constituinte em 1933. 2.2 A Constituição de 1934 Entre os vários artigos da nova constituição brasileira podemos citar: • República Presidencialista e Federativa; • Nacionalização da exploração de minas e águas; • Voto secreto e feminino; • Extinção do cargo de vice-presidente; • Legislação trabalhista: proibição à exploração do trabalho a menores de 14 anos e da exploração do trabalho feminino, criação de salários mínimos regionais, férias e descanso semanal remunerado, indenização ao trabalhador em caso de demissão sem justa causa, jornada de trabalho de 40 horas semanais (8 horas por dia), criação da Justiça Trabalhista, criação de sindicatos que dependeriam de autorização do Ministério do Trabalho e licença maternidade de 90 dias. A Constituição incorporava propostas defendidas tanto pela classe média quanto pelo operariado. Estabelecia que todos as eleições seriam diretas, com exceção da escolha do primeiro presidente. Os deputados escolheram Getúlio Vargas para governar o Brasil a partir de 1934. De certo modo, Vargas se aproximava de diversos grupos sociais – tenentes, classe média, oligarquias rurais e cafeicultores. O presidente assumia a lógica do “Estado de Compromisso”, colocando-se como interlocutor dos interesses dos vários segmentos da sociedade. 2.3 O Governo Constitucional de Vargas (1934-1937) O período entre-guerras (1918-1939) na Europa foi marcado por uma forte polarização ideológica entre dois grupos em ascensão – os comunistas e os fascistas. O sucesso da Revolução Russa e do governo soviético proliferou a ideologia comunista entre intelectuais e operários, preocupando muitos empresários, militares e outros grupos contrários à “proletarização” da Europa. Muitos desses grupos apoiaram iniciativas autoritárias e repressivas como o fascismo italiano e alemão para conter o avanço do comunismo. Tal polarização refletiu-se no Brasil. Em 1932, o advogado e jornalista Plínio Salgado criou a Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento fascista que defendia a perseguição aos comunistas, a implantação de um Estado Totalitário e o nacionalismo exagerado (xenofobia). Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, os integralistas defendiam a agressão física como forma de combate aos opositores, utilizavam “camisas verdes”, o sigma maiúsculo ( ) como símbolo e a saudação “Anauê” (“salve”, em tupi). EsPCEx – Vol. 3 227 Highlight HISTÓRIA II Assunto 18 Cartaz Integralista Contra a escalada do fascismo no Brasil, foi formada a Aliança Nacional Libertadora em 1935. Aglutinava militares, membros da classe média, operários e intelectuais que defendiam medidas como a ampliação das leis trabalhistas, nacionalização de diversas empresas estrangeiras, proteção aos pequenos e médios proprietários de terra e a constituição de um governo popular. A ANL foi acusada de ser um movimento comunista devido ao seu líder de honra, Luis Carlos Prestes, que à época havia se convertido ao marxismo, compondo a cúpula do Partido Comunista Brasileiro, então atuando na clandestinidade. Em 1935, militares comunistas ligados à ANL iniciaram uma revolta armada em quartéis de Natal, Recife e Rio de Janeiro que ficou conhecida como Intentona Comunista. A falta de articulação entre os revoltosos nos diferentes locais de conflito facilitou a repressão feita pelas tropas governistas que fecharam a ANL e prenderam diversos envolvidos como Agildo Barata, Álvaro de Sousa, Prestes e sua companheira Olga Benário. Extraditada para a Alemanha, Olga foi morta em um campo de concentração. Apesar da Intentona ter sido desarticulada, esta serviu ao propósito de Vargas de continuar no comando do governo diante da aproximação das eleições de 1937 (não havia reeleição presidencial no Brasil até 1998). Nessas eleições, destacaram-se Armando Sales de Oliveira, apoiado pelos paulistas, e José Américo de Almeida, apoiado pelos getulistas. No mesmo ano, Vargas apresentou aos brasileiros o Plano Cohen, um suposto plano para realização de uma revolução nacional que culminaria com a ascensão dos comunistas e com o assassinato de diversas personalidades políticas importantes. Assim, utilizando o argumento do “perigo comunista” e da necessidade de defesa da “segurança nacional”, Vargas decretou “Estado de Sítio”, a suspensão das eleições por tempo indeterminado, o recesso do Congresso, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, fechamento de todos os partidos políticos e suspensão da Constituiçãode 1934. Criava-se um regime ditatorial que ficou conhecido como Estado Novo. Mais tarde descobriu-se que o plano era falso, tendo sido redigido pelo capitão Olympio Mourão Filho, membro da AIB, que desde sua fundação havia se aproximado de Vargas com o intuito de utilizá-lo como veículo para implantação de um Estado totalitário no Brasil. 01 (CEFET-CE) A Ação Integralista Brasileira (AIB), chefiada por Plínio Salgado, era de caráter: (A) socialista (B) anarquista (C) liberal (D) democrático (E) fascista 02 (UFPEL) E a tal façanha de amarrar os cavalos no obelisco? (Fonseca, Roberto. História do Rio Grande do Sul para jovens. Porto Alegre: AGE, 2002.) Disponivel em Acesso em 11 de março de 2016. A charge refere-se ao simbólico episódio, ocorrido com as tropas de Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, no movimento denominado: (A) Revolução de 1923. (B) Revolução Constitucionalista. (C) Estado Novo. (D) Queremismo. (E) Revolução de 1930. 03 (UFPI) Os acontecimentos históricos ocorrem, sempre, em conexão com outros acontecimentos, de modo que, quando falamos de uma época estamos nos referindo a um ambiente dentro do qual os acontecimentos expressam limitam as ações dos sujeitos. Pode-se dar o seguinte exemplo para essa afirmação: em 1932, sob a liderança do literato Plínio Salgado, foi organizado, no Brasil, um movimento político cuja inspiração vinha da Europa, sendo profundamente influenciado por um movimento político europeu em ascensão na época, o qual apresentava como uma de suas metas prioritárias combater um outro movimento político em expansão na Europa. Os três movimentos referidos são, respectivamente: (A) O integralismo, o fascismo e o nazismo. (B) O liberalismo, o socialismo e o comunismo. (C) O integralismo, o nazifascismo e o comunismo. (D) O expansionismo, o nacionalismo e anarquismo. (E) O anarquismo, o comunismo e o integralismo. EsPCEx – Vol. 3 228 D is po ni ve l em : Era Vargas (I) 04 (UNIFESP) A política do Estado brasileiro, depois da Revolução de 1930, nas palavras do cientista político Décio Saes, “será combatida, pelo seu caráter ‘intervencionista’ e pelo ‘artificialismo’ dos seus efeitos; de outro lado, a política de reconhecimento das classes trabalhadoras urbanas será criticada pelo seu caráter ‘demagógico’, ‘massista’ e ‘antielitista’. História Geral da CivilizaŲão Brasileira, III, 3, 1981, p. 463. As críticas ao Estado brasileiro pós-1930 eram formuladas por setores que defendiam: (A) os interesses dos usineiros e, no plano político, o coronelismo. (B) posições afinadas com o operariado e, no plano político, o populismo. (C) os interesses agroexportadores e, no plano político, o liberalismo. (D) as burguesias comercial e financeira e, no plano político, o conservadorismo. (E) posições identificadas com as classes médias e, no plano político, o tenentismo. 05 (CESGRANRIO) O regime político, conhecido como Estado Novo, implantado por golpe do próprio Presidente Getúlio Vargas, em 1937, pode ser associado à(ao): (A) radicalização política do período representada pela Aliança Nacional Libertadora, de orientação comunista, e a Ação Integralista Brasileira, de orientação fascista. (B) modernização econômica do país e seu conflito com as principais potências capitalistas do mundo, que tentavam tentaram barrar seu desenvolvimento. (C) ascensão dos militares à direção dos principais órgãos públicos, porque já se delineava o quadro da Segunda Guerra Mundial. (D) democratização da sociedade brasileira em decorrência da ascensão de novos grupos sociais, como os operários. (E) retorno das oligarquias agrárias ao poder, restaurando-se a Federação nos mesmos moldes da República Velha. 06 (ENEM) A figura de Getúlio Vargas, como personagem histórica, é bastante polêmica, devido à complexidade e à magnitude de suas ações como presidente do Brasil durante um longo período de quinze anos (1930- 1945). Foram anos de grandes e importantes mudanças para o país e para o mundo. Pode-se perceber o destaque dado a Getúlio Vargas pelo simples fato de este período ser conhecido no Brasil como a “Era Vargas”. Entretanto, Vargas não é visto de forma favorável por todos. Se muitos o consideram como um fervoroso nacionalista, um progressista ativo e o “Pai dos Pobres”, existem outros tantos que o definem como ditador oportunista, um intervencionista e amigo das elites. Provavelmente você percebeu que as duas opiniões sobre Vargas são opostas, defendendo valores praticamente antagônicos. As diferentes interpretações do papel de uma personalidade histórica podem ser explicadas, conforme uma das opções a seguir. Assinale-a: HISTÓRIA II Assunto 18 (A) Um dos grupos está totalmente errado, uma vez que a permanência no poder depende de ideias coerentes e de uma política contínua. (B) O grupo que acusa Vargas de ser ditador está totalmente errado. Ele nunca teve uma orientação ideológica favorável aos regimes politicamente fechados e só tomou medidas duras forçado pelas circunstâncias. (C) Os dois grupos estão certos. Cada um mostra Vargas da forma que serve melhor aos seus interesses, pois ele foi um governante apático e fraco - uma verdadeira marionete nas mãos das elites da época. (D) O grupo que defende Vargas como um autêntico nacionalista está totalmente enganado. Poucas medidas nacionalizantes foram tomadas para iludir os brasileiros, devido à política populista do varguismo, e ele fazia tudo para agradar aos grupos estrangeiros. (E) Os dois grupos estão errados, por assumirem características parciais, e às vezes conjunturais, como sendo posturas definitivas e absolutas. 07 (FGV) O general Góes Monteiro, Ministro da Guerra de Getúlio Vargas, afirmava em uma carta dirigida ao presidente, em 1934: “O desenvolvimento das idéias sociais preponderantemente nacionalistas e o combate ao estadualismo (provincialismo, regionalismo, nativismo) exagerado não devem ser desprezados, assim como a organização racional e sindical do trabalho e da produção, o desenvolvimento das comunicações, a formação das reservas territoriais e milícias cívicas, etc., para conseguir-se a disciplina intelectual desejada e fazer desaparecer a luta de classes, pela unidade de vistas e a convergência de forças para a cooperação geral, a fim de alcançar o ideal comum à nacionalidade”. No trecho dessa carta estão expressos pontos centrais do regime instalado após a Revolução de 1930, entre elas: (A) organização de milícias estaduais, regulamentação das relações trabalhistas e educação. (B) estímulo à autonomia dos Estados, organização de milícias estaduais e nacionalismo. (C) organização de milícias estaduais, centralização política e educação. (D) centralização política, regulamentação das relações trabalhistas e nacionalismo. (E) estímulo à autonomia dos Estados, regulamentação das relações trabalhistas e educação. 08 (FATEC) A Revolução de 1930, ponto de partida de uma nova fase da História brasileira, atingiu principalmente São Paulo, que perdeu sua tradicional hegemonia política realizada pela “Política do café-com-leite”. O sistema de interventorias, posto em prática pelo governo provisório, em nada melhorou o relacionamento deste com São Paulo. Como consequência disso, ocorreu: (A) a Revolução Constitucionalista a favor da imediata constitucionalização do país, o que abriria possibilidades de retorno dos paulistas ao poder. (B) a Intentona Comunista, liberada pela extrema-esquerda cujo lema era “Deus, Pátria, Família”. (C) a Intentona Integralista, que chegou a ocupar o palácio presidencial, controlando o poder por quatro dias. (D) convocação imediata da Assembleia Constituinte, que colocaria em prática a Constituição de 1935. (E) o movimento tenentista, cujos revoltosos de Minas Geraisexigiam a formação de um governo provisório, a eleição de uma Constituinte e a adoção do voto secreto. EsPCEx – Vol. 3 229 HISTÓRIA II Assunto 18 01 (CN) Observe a imagem abaixo, relacionada a um grupo político que, nos anos de 1930, reproduzia o fascismo e o nacionalismo no Brasil e responda a questão a seguir. 03 (FGV) “Em plena Avenida Rio Branco, nas tardes de sábado, pegávamos à força alguns atrevidos integralistas que se apresentavam fantasiados de camisa verde e os despojávamos das calças, largando-os depois, em plena via pública, apenas em fraldas de camisas. Não queriam eles andar de camisas verdes? Nós lhe fazíamos a vontade...” A cena anterior descrita refere-se aos: Agildo Barata Assinale a opção cuja representação da imagem apresenta, respectivamente, o grupo político e suas respectivas ações políticas: (A) Integralistas que, dentre suas ações política, destaca-se a tentativa de tomada de poder, no movimento que ficou conhecido como Plano Cohen. (B) Comunistas que buscaram, através de uma campanha dentro dos quartéis, derrubar Vargas do poder, a partir do movimento que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista. (C) Integralistas que, entre as diversas ações políticas executadas no Brasil, pode-se citar a tentativa de tomada do poder durante o Estado Novo. (D) Comunistas que, entre outras ações políticas, tentaram tomar o poder no Brasil, através do movimento que ficou conhecido como Intentona Comunista. (E) Integralistas que, diante da resistência de Vargas em outorgar uma nova Constituição, iniciaram um movimento que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista. 02 (FAAP) O Rio Grande, Sem correr o menor risco, Amarrou, por telegrama, Os cavalos no obelisco. A marcha de Lamartine Babo fala, com humor, da Revolução: (A) de 1889 - que depôs D. Pedro II (B) de 1891 - que resultou na renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca (C) de 1930 - que depôs Washington Luiz (D) de 1932 - em que São Paulo exigia uma Carta Constitucional (E) de 1964 - que depôs João Goulart (A) enfrentamentos durante os comícios entre os integrantes da frente tenentista com a militância da Aliança Nacional Libertadora (ANL). (B) confrontos de rua entre os integralistas e os tenentistas. (C) enfrentamentos públicos entre os integrantes da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e os integralistas. (D) enfrentamos entre os militantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN), dirigida por Agildo Barata, e os integralistas de Plínio Salgado. (E) confrontos públicos entre militares tenentistas e os comunistas da Aliança Libertadora Nacional (ALN). 04 (UERJ) Jornal do Século, 26 nov. 2000. Na década de 1930, para combater o governo estabelecido por Getúlio Vargas, os paulistas pegaram em armas. Os cartazes acima fazem parte da sua propaganda, pedindo a colaboração da população no esforço de guerra. A Revolução de 1932 ocorre na seguinte conjuntura política nacional: (A) aprovação do novo Código Eleitoral sem o voto secreto. (B) perda da hegemonia política pela oligarquia paulista em nível federal. (C) intervenção do poder federal no governo de São Paulo por meio da política dos governadores. (D) aliança entre o Partido Popular Progressista e produtores rurais intermediada por militares tenentistas. EsPCEx – Vol. 3 230 Era Vargas (I) 05 (UNESP) Depois de muitos movimentos operários; lutas e reivindica- ções trabalhistas, os sindicatos foram legalizados: (A) no decurso da Revolução Paulista de 1924. (B) por meio do Ato Institucional número 5 de 1968. (C) no Governo Provisório de Vargas (1930-1934). (D) durante a Campanha do Contestado. (E) nos primórdios da República Oligárquica. 06 (CESGRANRIO) A crise social e política que abalou a estabilidade da República Velha (1889 -1930) quebrou a hegemonia das oligarquias no poder e preparou o terreno para a Revolução de 1930 foi motivada pelo(a): (A) aprofundamento das cisões oligárquicas, pelas rebeliões tenentistas, pela insatisfação das classes médias urbanas excluídas da representação política e pela pressão reivindicatória das classes operárias. (B) aliança política entre a burguesia industrial, as classes médias urbanas e o operariado fabril contra o sistema liberal e democrático da República Velha, controlado pelas oligarquias agrárias. (C) quebra do compromisso político entre as oligarquias agrárias e os trabalhadores rurais, o que, durante toda a República Velha, impediu o desenvolvimento dos setores industriais e a organização do movimento operário. (D) fortalecimento da união entre as oligarquias paulistas e mineiras na indicação de Júlio Prestes à sucessão presidencial em 1930, o que desagradou as oposições constituídas pelas classes médias urbanas e operariado, defensores de Getúlio Vargas. (E) descontentamento da burguesia industrial com o tratamento dado pelas oligarquias ao movimento operário – “caso de polícia” – e sua decisão de apoiar a Revolução de 1930 e a legislação trabalhista. 07 (UNIRIO) A Revolução de 1930 marcou o fim da República Velha e inaugurou uma nova forma de atuação do Estado frente às transformações da sociedade brasileira, como exemplifica o: (A) atendimento de demandas de diferentes setores sociais, como ope- rários e empresários. (B) afastamento do Estado da gestão da economia. (C) abandono dos setores produtores agrícolas tradicionais. (D) controle da alta hierarquia militar sobre os principais órgãos estatais. (E) apoio às oligarquias dominantes nos Estados. HISTÓRIA II Assunto 18 08 (FGV) Qual das afirmações a seguir não é verdadeira, no que se refere ao Brasil de 1937 a 1945: (A) Durante o Estado Novo, houve aporte de financiamentos externos, principalmente norte-americanos, para manter o regime brasileiro no concerto das nações democráticas contra o nazi-fascismo. (B) O regime do Estado Novo estendeu a cidadania social aos trabalhadores sindicalizados e estimulou o crescimento da indústria. (C) Getúlio Vargas acabou na prática com o regime do Estado Novo no primeiro semestre de 1945, quando decretou a liberdade de organização partidária, a anistia aos presos políticos e a realização de eleições. (D) Foi uma incoerência do Brasil ter entrado na Segunda Guerra contra o fascismo, quando o regime do Estado Novo era fascista, tendo como base os camisas-verdes do Partido Integralista. (E) As primeiras exigências para a redemocratização do país durante o Estado Novo partiram do Manifesto dos Mineiros de 1943 e das manifestações da UNE em 1944. 09 (UFPE) A Constituição promulgada em 16 de julho de 1934 resultou de intensos debates que se prolongaram por oito meses. Entre suas principais inovações não se inclui: (A) A legislação trabalhista, a nacionalização das minas e quedas d’água. (B) O salário mínimo para os trabalhadores, os deputados classistas e o direito da União em monopolizar determinadas atividades econômicas. (C) A criação das justiças Eleitoral e do Trabalho. (D) A inviolabilidade dos direitos à liberdade, à segurança e à propriedade dos cidadãos como também a liberdade de consciência e de crença. (E) O cerceamento de todas as garantias individuais e a proibição do direito de voto das mulheres. 10 (FUVEST) O Brasil recuperou-se de forma relativamente rápida dos efeitos da crise de 1929 porque: (A) o governo de Getúlio Vargas promoveu medidas de incentivo econômico, com empréstimos obtidos no exterior. (B) o país, não tendo uma economia capitalista desenvolvida, ficou menos sujeito aos efeitos da crise. (C) houve redução do consumo de bens e, com isso, foi possível equilibrar as finanças públicas. (D) acordos internacionais, fixando um preço mínimo para o café, facilitaram a retomada da economia. (E) um efeito combinado positivo resultou da diversificação das exportações e do crescimento industrial.EsPCEx – Vol. 3 231 19 HISTÓRIA II ASSUNTO 1. Introdução Vargas soube aproveitar bem as repercussões da Intentona Comunista de 1935. Afinal, em nome do “perigo vermelho”, criava um governo ditatorial que, a partir da suspensão das eleições por tempo indeterminado, garantia-o no comando do Executivo federal por alguns anos. Importante notar que Vargas procurou, por meio da presença de elementos trabalhistas e nacionalistas em seu discurso, se aproximar dos grupos urbanos emergentes como a classe média e o operariado. Assim, garantiria apoio que o sustentasse por anos na presidência. Aqui se fala da gênese de uma característica fundamental de discursos de presidentes como Juan Domingo Perón na Argentina e Getúlio Vargas no Brasil – o populismo. Muitos historiadores apontam a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929 como elementos que geraram uma grave crítica ao capitalismo liberal e, consequentemente, ao Estado liberal-democrático. Afinal de contas, a corrida armamentista e a Segunda Revolução Industrial demonstraram que o liberalismo democrático não havia eliminado ou reduzido as diferenciações sociais, gerando ainda um conflito de ordem mundial. Já a Crise de 1929 foi causada em grande parte pela não-intervenção do Estado norte americano (então controlado pelos republicanos) na economia para regular produção e consumo. A crítica ao liberalismo e à democracia fez com que soluções autoritárias fossem defendidas por intelectuais e homens do Estado, como solução para os impasses que as décadas de 1920 e 1930 apresentavam: grande diferenciação social e recessão econômica. 2. A Constituição de 1937 A nova constituição brasileira foi redigida por Francisco Campos, sob inspiração da constituição polonesa, notadamente fascista. Por isto, ganhou o apelido de “Constituição Polaca”. Entre as suas principais características, é possível citar: • A supremacia do poder Executivo que organizaria a elaboração das leis e controlaria o judiciário; • o presidente poderia prender, exilar e suspender as imunidades parlamentares (estado de emergência); • A adoção da pena de morte e da censura aos meios de comunicação. Vargas voltou a indicar interventores para estados e municípios e ordenou a queima das bandeiras e símbolos estaduais. Getúlio Vargas lendo a Constituição de 1937 EsPCEx – Vol. 3 3. A Intentona Integralista (1938) Os integralistas participaram da articulação do golpe de 1937 que deu origem ao Estado Novo, mas foram surpreendidos com a ordem de Vargas, apoiado pelos generais Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra, de fechamento de todas as agremiações políticas, o que incluía a AIB. Em 11 de maio de 1938, integralistas comandados por Belmiro Valverde e Severo Fournier invadiram os jardins do Palácio da Guanabara, mas foram violentamente reprimidos pelas tropas federais. 4. O Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) Sob o argumento da racionalização da administração pública, Vargas criou o DASP em 1938. O DASP centralizava o aparato burocrático e valorizava as indicações técnicas de funcionários para os órgãos administrativos, procurando evitar as indicações meramente políticas. Assim, estabeleceu-se o acesso aos cargos por meio de concursos públicos e provas de habilitação. 5. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e a política cultural do Estado Novo O DIP, criado em 1939, era o órgão responsável pela fiscalização das matérias e notícias que iriam ser divulgadas, exercendo um controle ideológico a partir de restrições aos meios de comunicação. Difundindo a ideologia do Estado Novo junto às camadas populares, o DIP possuía os setores de divulgação, radiodifusão, teatro, cinema, turismo e imprensa. Cabia ao DIP centralizar a propaganda interna e externa, fazer censura, organizar manifestações cívicas e festas patrióticas, permitindo ao governo exercer o controle da informação e da vida cultural do país. O rádio, meio de comunicação de massa, foi altamente estimulado pelo governo Vargas, principalmente por meio do programa oficial – “Hora do Brasil”. Por este programa, o DIP procurava construir uma imagem positiva de Vargas, além de difundir valores como o nacionalismo e a importância do trabalho para o desenvolvimento nacional. Uns dos elementos mais perseguidos pelo DIP foi a “cultura da malandragem”. Músicos como Wilson Baptista tiveram diversas músicas censuradas uma vez que a figura do “malandro”, indivíduo que pouco trabalhava e vivia nos bares e rodas de samba do Rio de Janeiro, negava o valor do trabalho, proposto pelo DIP. O alcance do Estado Novo atingiu ainda os desfiles de Escola de Samba, regulamentados por Vargas. Os desfiles eram realizados no domingo de carnaval, na Praça Onze. Em 1942, com as obras da avenida Presidente Vargas, o desfile mudou de local, sob os olhares atentos do DIP e sob a “proteção” das forças policiais. Durante o Estado Novo, a “chanchada” foi uma produção cinematográfica altamente estimulada e tinha como expoente o ator Grande Otelo. Fez muito sucesso a partir da década de 1940, atingindo multidões de fãs nas décadas de 1950 e 1960. Afinal, fazer a população se divertir reduziria as críticas às restrições democráticas. Era Vargas (II) 232 D is po ni ve l em : . Era Vargas (II) Cartaz do filme A Baronesa Transviada com Grande Otelo e Dercy Gonçalves Obs.: Aquarela do Brasil e o “Samba Exaltação” Ary Barroso ficou conhecido como o compositor da ufanista “Aquarela do Brasil”, samba marco da inauguração do ideário popular de exaltação das belezas naturais e do povo brasileiro. Apesar de não ter sido produzido sob encomenda do governo, o samba serviu aos objetivos do Estado Novo na tentativa de criação de uma identidade nacional, mesmo que não seja de maneira proposital – nascia o “samba exaltação”. Brasil, meu Brasil brasileiro Meu mulato inzoneiro Vou cantar-te nos meus versos Percebe-se na letra do samba a preocupação em valorizar o espírito do povo brasileiro – o “mulato inzoneiro”. 6. A consolidação das leis trabalhistas (1943) e o “controle das massas” As várias leis trabalhistas foram compiladas em 1943, dando origem à Consolidação das Leis Trabalhistas, em vigor até os dias atuais. O documento foi inspirado na “Carta del Lavoro”, proposta por Benito Mussolini na Itália e instituía diversas proteções ao trabalhador. Entretanto, vale ressaltar que um dos principais objetivos do Estado Novo era neutralizar a forte influência política do movimento operário. Para isto, os sindicatos eram obrigados a se vincular ao Ministério do Trabalho, obedecendo suas decisões. Quando em 1940, foi criado o imposto sindical, a situação tornou-se ainda mais grave. Por ano, o trabalhador tem compulsoriamente descontado um dia de seu trabalho. O valor é destinado ao Ministério do Trabalho que o repassa para os sindicatos. Desta maneira, para conseguir recursos, os sindicatos tornavam-se entidades facilmente manipuláveis pelos aparelhos de Estado. Ainda deixavam sua marca os “pelegos”, indivíduos extremamente atuantes nos sindicatos, mas que defendiam as propostas apresentadas pelo governo. Por meio do discurso de exaltação da importância do trabalho de todos para o crescimento nacional, Vargas transformava os grevistas não apenas em inimigos dos empresários, mas de toda a nação. Negava-se assim o ideal da “luta de classes” apresentado por Karl Marx em nome do interesse geral da “nação”. Este corporativismo era outra apreensão que Vargas fazia em relação ao fascismo italiano, compondo seu discurso populista. HISTÓRIA II Assunto 19 Obs.: Apesar das diversas aproximações existentes entre Vargas e o fascismo (o discurso corporativista, a perseguição aos comunistas, a Constituição de 1937 e as restrições aos direitos democráticos), não é possível classificar oa Guerra do Paraguai é fruto muito mais das disputas entre os quatro países envolvidos – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – do que da ação dos interesses ingleses. 3.4 A Guerra do Paraguai (1865-70) A ofensiva paraguaia determinou a aproximação entre Brasil, Argentina (governada por Bartolomeu Mitre) e Uruguai – nascia a Tríplice Aliança. O Brasil contava, no início do conflito, com cerca de 18 mil combatentes em seus quadros (o Exército paraguaio contava com mais de 70 mil homens). A Guarda Nacional resistiu à convocação. O Exército deu início ao recrutamento dos “Voluntários da Pátria”– indivíduos que se alistavam nas tropas brasileiras, embora existam relatos de violência no recrutamento, principalmente no caso de negros. A Marinha brasileira também foi extremamente atuante, aproveitando- se da fragilidade da marinha paraguaia, praticamente destruída na Batalha do Riachuelo (1865) pelo almirante Barroso. A partir dessa batalha, começava uma segunda fase para a guerra – a ofensiva aliada ao Paraguai. Em 1866, as forças aliadas comandadas pelo general Luís Osório avançaram por terra para tomar a fortaleza do Curupaiti, sem a devida proteção da Marinha brasileira, então comandada pelo almirante Tamandaré. A derrota na Batalha do Curupaiti (1866) gerou a morte de mais de 4 mil soldados aliados e a retirada da forças uruguaias do confronto. D. Pedro II entregou o comando do conflito ao então marquês de Caxias (futuro duque de Caxias) que tratou de reorganizar o Exército por meio de treinamento, compra de equipamentos modernos e melhoria das condições de higiene, uma vez que a cólera fazia vítimas em ambos os lados. Pouco depois, a Argentina também se retirou do conflito devido ao levante dos federalistas contra o unitarista Bartolomeu Mitre. Após a ascensão de Caxias, o Exército brasileiro conseguiu expressivas vitórias como em Humaitá (1866). As vitórias em Passos da Pátria e Tuiuti vieram em 1867. Em dezembro desse ano, diversas regiões paraguaias foram batidas – Itororó, Avaí, Angosturas e Lomas Valentinas (era a “dezembrada”). Em 1869, a ofensiva brasileira chegou a Assunção, quando Caxias foi substituído pelo conde d’Eu, marido da princesa Isabel, filha de D. Pedro II. Solano López fugiu, mas foi morto em 1o de março de 1870 no Cerro-Corá. Guerra do Paraguai e as perdas paraguaias O saldo da guerra foi trágico para o Paraguai. A morte de cerca de 50% da população, em sua maioria homens com mais de 25 anos, determinou a falta de braços para a economia. Diversas indústrias e ferrovias foram destruídas. A reconstrução do país foi em grande parte financiada pelo capital britânico. O país ainda deveria pagar uma pesada indenização aos aliados, suspensa somente na década de na década de 1940 por Argentina e Brasil. O endividamento ocorreu também nos países aliados, embora o Brasil tenha assumido a maior parte dos empréstimos, em virtude de seu grande envolvimento nas diversas batalhas. As sucessivas remessas de dinheiro para o pagamento da dívida junto aos bancos ingleses fez com que o Brasil conhecesse uma grave crise financeira decorrente da falta de papel-moeda para operações como investimentos, compras, pagamento de salários em face da expansão do trabalho imigrante, aluguéis, entre outras. A Guerra do Paraguai também foi fundamental para o desenvolvimento do Exército, que passou a exigir participação nos assuntos políticos. Tal fato será determinante para a crise da monarquia e a proclamação da república pela alta cúpula do Exército liderada pelo marechal Deodoro da Fonseca. COSTA, Luís César Amad; MELLO, Leonel Itaussu A. de. História do Brasil. – São Paulo: Scipione, 1999. p. 208. EsPCEx – Vol. 3 Bolívia Corumbá Albuquerque Forte Coimbra Coxin Brasil Chaco Território declarado argentino pelo Tratado da Tríplice Aliança Miranda Nioaque Paraguai Laguna Dourados Cerro Corá Assunção Itaroró Avaí Humaitá Riachuelo Corrientes Argentina Jataí São Borja Itaqui Uruguaiana Batalha Máxima extensão do controle paraguaio Avanço das tropas paraguaias Área litigiosa entre Argentina e Paraguai Área litigiosa entre Brasil e Paraguai Atuais fronteiras entre os países Porto Alegre Uruguai Buenos Aires Montevidéu 206 D is po ni ve l em : O Segundo Reinado (II) - Política Externa e Crise do Império HISTÓRIA II Assunto 14 De fato, a Guerra do Paraguai pode ser interpretada como um “divisor de águas”. Afinal, os tempos de prosperidade provocada pela expansão da cafeicultura contrastavam com a crise financeira que tomou conta do país. Mais importante do que isso é a análise das transformações sociais ao longo do extenso do Segundo Reinado. A Guerra do Paraguai foi importante por permitir a projeção de um importante grupo – o Exército. A modernização das atividades econômicas fez crescerem grupos como o empresariado e a classe média urbana. Os cafeicultores paulistas se projetaram já a partir da década de 1870 como segmento econômico do Brasil. Esses grupos encontravam dificuldades para incluir suas propostas políticas nas ações governamentais, afinal de contas, D. Pedro II permanecia próximo à aristocracia cafeeira de regiões como o Vale do Paraíba, base do partido conservador. Em outras palavras, a crise do Império é fruto do processo de isolamento da monarquia, diante da projeção de tais grupos. Separadamente, serão analisadas as várias questões que resultaram na Proclamação da República 4. A Questão Militar A situação do Exército ao longo das primeiras décadas do reinado de D. Pedro II era extremamente difícil. Os baixos investimentos (a Marinha e a Guarda Nacional canalizavam as atenções governamentais), a restrita participação política e a proibição da manifestação pública de críticas incomodavam diversos oficiais. A situação se agravou depois da Guerra do Paraguai (1865-1870). As vitórias sobre os soldados paraguaios e os investimentos realizados trouxeram prestígio e modernização ao Exército, que passou a defender a sua atuação enquanto agente transformador da política brasileira – era a “ideia da salvação nacional”. A politização do Exército incluía a defesa da ampliação de sua atuação política e do abolicionismo, resultado da participação de muitos negros na Guerra do Paraguai. Vários oficiais, gradativamente, alteraram sua concepção sobre a escravidão, atacando uma das bases do Império. E se o Império não incluía as propostas dos oficiais, tomava corpo entre estes o republicanismo, assimilado a partir do contato dos militares brasileiros com soldados das repúblicas da Argentina e Uruguai. O Positivismo foi outra ideologia que atingiu o Exército, principalmente a jovem oficialidade. O sistema criado pelo francês Auguste Comte, foi difundido no Brasil pelo tenente-coronel Benjamin Constant e por Miguel Lemos (membro da Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, convertida em Igreja Positivista em 1881) e possuía como lema principal “ordem e progresso”. A ordem, vista como chave para o progresso (relacionado ao crescimento intelectual, científico e urbano-industrial), seria obtida por meio da adoção de uma república ditatorial e centralizadora, comandada pelos oficiais do Exército. À medida que essas três ideologias se difundiam no imaginário dos oficiais, as tensões entre o Exército e a monarquia se agravavam. Logo surgiram os embates mais graves entre oficiais do Exército e o governo monárquico. Em 1883, o tenente-coronel Sena Madureira foi advertido após criticar a obrigatoriedade do pagamento do Montepio Militar. No ano seguinte, Sena Madureira foi exonerado do comando da Escola de Tiro do Rio de Janeiro por homenagear o jangadeiro cearense Francisco Nascimento, que havia sido preso por se recusar a transportar escravos.Estado Novo como um governo fascista. Afinal, elementos como o militarismo, o nacionalismo exagerado e xenófobo, o unipartidarismo (não existiam partidos políticos no Estado Novo) e o expansionismo não estavam presentes nas ações propostas por Vargas. 7. A política industrialista do Estado Novo Pela primeira vez, o Estado assumia estrategicamente a industrialização do Brasil, que se distanciava dos surtos da segunda metade do século XIX (a “Era Mauá”) e da Primeira Guerra Mundial. Estes surtos eram obras, principalmente, da iniciativa do capital privado nacional, que preferencialmente optava pela produção de tecidos e alimentos. Com Vargas, o Estado assumiu o papel de principal investidor, atuando, por meio de empresas estatais, no setor de base – a escassa produção de energia, minerais e aço era um dos principais limites ao avanço da industrialização no Brasil. Surgiam assim empresas como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN – 1942), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD – 1942), a Companhia Nacional de Álcalis (1943), A Fábrica Nacional de Motores (FNM – 1943) e a Companhia Hidroelétrica de São Francisco (CHESF – 1945). Em 1938, foi criado o Conselho Nacional do Petróleo que no ano seguinte, foi responsável pela perfuração do primeiro poço em Lobato, no estado da Bahia. E para centralizar e tornar mais eficiente a gestão dos vários órgãos públicos implementados, Vargas criou o Departamento de Administração do Serviço Público (DASP). A industrialização do Brasil contou ainda com uma conjuntura favorável marcada pela(o): • Crise de 1929 que deslocou investimentos outrora aplicados na cafeicultura para setores menos sensíveis às oscilações do mercado internacional como gêneros industriais; • constantes emissões de papel moeda desde o compra dos estoques de café que desvalorizou o cruzeiro, encarecendo os produtos importados e barateando os produtos nacionais no mercado internacional; • controle do movimento operário que permitiu a redução das greves e a atrofia dos salários que não eram reajustados no mesmo ritmo da inflação; • Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que reduziu a oferta de industrializados importados no Brasil (substituição de importações) e ainda ampliou a venda de produtos brasileiros no mercado europeu, permitindo à economia o acúmulo de divisas. 8. A Política de “boa vizinhança” Implementada durante os governos de Franklin Delano Roosevelt nos Estados Unidos (1933 a 1945), essa política tornou-se a estratégia de relacionamento com a América Latina no período. Sua principal característica foi o abandono da prática intervencionista que prevalecera nas relações dos Estados Unidos com a América Latina desde o final do século XIX (o “Big Stick”). A partir de então, adotou-se a negociação diplomática e a colaboração econômica e militar com o objetivo de impedir a influência europeia na região (justificada pela projeção de movimentos como o fascismo e o socialismo ao longo do entreguerras) e assegurar a liderança norte-americana. Já no plano econômico, a política de “boa vizinhança” convinha aos esforços dos Estados Unidos para se recuperar dos efeitos da Crise de 1929 sobre sua economia, ampliando os mercados consumidores na América. EsPCEx – Vol. 3 233 D is po ni ve l . HISTÓRIA II Assunto 19 No plano cultural, a política de “boa vizinhança” escolheu o cinema como veículo para aproximação com os países da América Latina e Carmem Miranda foi, sem dúvida, a protagonista. Em 1941, Walt Disney esteve em visita ao Rio de Janeiro como embaixador desta política, encontrando-se com o presidente Getúlio Vargas. O resultado, em 1942, foi o filme “Alô Amigos!” que trazia a figura do papagaio Zé Carioca, visão estereotipada do brasileiro em torno da imagem do “malandro carioca” a uma viagem ao Brasil com o Pato Donald. 9. A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial Em relação à Segunda Guerra Mundial, o Brasil adotou uma política oscilante, fruto da divisão entre os principais políticos do Estado Novo. Enquanto Francisco Campos (então Ministro da Justiça) e o chefe da Polícia Secreta Filinto Müller eram partidários do fascismo, o ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha liderava o grupo dos defensores dos Aliados. As pressões de segmentos da sociedade brasileira como dos militantes da União Nacional dos Estudantes (a UNE, criada em 1937 com a anuência do próprio Vargas que pretendia controlar os movimentos estudantis) e dos EUA fizeram com que Vargas demitisse Francisco Campos e Filinto Müller, demonstrando sua opção pelos Aliados. Vargas havia feito, em 1941, um acordo com o presidente norte-americano Franklin Roosevelt que permitia a instalação de bases aeronavais dos EUA em Natal (“Trampolim da Vitória”) em troca de empréstimos a longo prazo, investidos na construção da CSN. A aproximação de Vargas com os Aliados teve como consequência o afundamento de navios brasileiros por submarinos alemães, acarretando na morte de centenas de brasileiros. Em 1942, Vargas declarou guerra ao Eixo, embora o Brasil só tenha enviado a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e a Força Aérea Brasileira (FAB), em 1944. Sob o comando do general Mascarenhas de Morais, as tropas brasileiras atuaram em conjunto com o 5º Exército dos Estados Unidos nas campanhas da Itália. Destaque para a atuação nas regiões de Monte Castelo, Castelnuovo e Montese. Cartaz do Dip da participação do Brasil na Segunda Guerra 10. A Redemocratização do Brasil A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial revelou uma contradição: o Brasil, um regime ditatorial, lutou ao lado da democracia norte-americana contra as ditaduras do Eixo. À medida que os Aliados avançavam, os ideais liberais e democráticos se difundiam em escala planetária chegando mesmo ao Brasil. Em 1943, advogados mineiros ligados à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançaram o Manifesto dos Mineiros que exigia a redemocratização do Brasil. Em 1945, o 1º Congresso Brasileiro de Escritores lançou uma declaração assinada por autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Sérgio Buarque de Holanda que exigia o direito à participação política de todos. Muitos militares que lutaram na guerra, ao retornar, também exigiam o fim da ditadura. Ao perceber as pressões de diversos segmentos da sociedade, Vargas anunciou a redemocratização em 1945. Concedeu anistia aos presos políticos como Luis Carlos Prestes, que foi libertado. Vargas convocou eleições gerais e autorizou a formação de partidos políticos. Entre os partidos estavam o(a): • UDN (União Democrática Nacional) – formada por empresários, militares e membros da classe média partidários do liberalismo político e econômico, constituindo assim a base da oposição a Vargas. Lançou a candidatura à presidência do brigadeiro Eduardo Gomes (sobrevivente da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana); • PCB (Partido Comunista Brasileiro) – retornando da clandestinidade, lançou a candidatura de Yedo Fiúza; • PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – vinculado aos sindicatos próximos a Vargas, nomeado presidente do partido; • PSD (Partido Social Democrático) – formado por proprietários de terra, alguns militares e empresários partidários de Vargas. O PSD, com apoio do PTB, lançou a candidatura do Ministro da Guerra de Vargas, o marechal Eurico Gaspar Dutra. Obs.: Curiosamente, Prestes, em discurso no estádio do Pacaembu no dia 15 de julho de 1945, defendeu a permanência de Getúlio após a redemocratização, seguindo uma orientação da União Soviética. Segundo os soviéticos, Vargas era o veículo para a implantação de um governo de frente popular nacionalista e anti-imperialista. No segundo semestre de 1945, partidários do PTB com apoios de membros do PCB lançaram a campanha do “Queremismo”, cujo lema era “Queremos Getúlio”. Ao mesmo tempo, o discursovarguista ganhava um tom cada vem mais nacionalista, materializado na Lei Malaia de junho de 1945, que procurava restringir a atuação de trustes no Brasil. Acreditando que a presença de Vargas era uma ameaça à realização das eleições gerais, militares comandados pelo general Góes Monteiro e pelo marechal Eurico Gaspar Dutra e com o apoio da UDN afastaram-no da presidência. O pretexto para o golpe foi a nomeação de Benjamim Vargas (irmão de Getúlio), para a chefia de polícia do Distrito Federal. Os militares cercaram o Palácio da Guanabara, obrigando Vargas a renunciar. A presidência da república foi assumida por José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal que garantiu a realização das eleições, vencidas por Dutra. EsPCEx – Vol. 3 234 D is po ni ve l em : . Era Vargas (II) HISTÓRIA II Assunto 19 01 (CN) O Estado Novo, período que se seguiu ao golpe de Getúlio Vargas (10 nov.1937 até 29 nov.1945), caracterizou-se: (A) pela centralização político-administrativa, eliminação da autonomia dos Estados, extinção dos partidos políticos. (B) pela proliferação de partidos políticos, revogação da censura, descentralização político-administrativa. (C) pelo apoio ao comunismo internacional. (D) pelo Movimento Tenentista e reconhecimento das eleições diretas. (E) pela formação de uma Assembleia Constituinte que votaria a Constituição de 1937, conhecida como a mais liberal da República. 02 (CN) Em 1945, as Forças Armadas Brasileiras retornaram das frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial. A Marinha do Brasil executou a função de patrulhar o litoral brasileiro e escoltar comboios em águas 04 (UERJ) Brasil, És o teu berço dourado O índio civilizado E abençoado por Deus Brasil, Gigante de um continente És terra de toda gente E orgulho dos filhos teus O destino que te traz Liberdade, amor e paz BRASIL! internacionais. O evento bélico que fez o presidente Vargas declarar guerra contra as forças do Eixo foi: (A) o ataque aéreo japonês à base norte-americana de Pearl Harbor. (B) a invasão de submarinos alemães em costas brasileiras, infringindo o acordo de neutralidade do Brasil. (C) a apreensão de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães que patrulhavam a costa africana. (D) o ataque do submarino alemão que afundou navios mercantes brasileiros. (E) a invasão de tropas alemães em Portugal, forçando o Brasil a declarar guerra à Alemanha devido a acordos de mútua ajuda luso-brasileiros. 03 (UERJ) No progresso em que te agitas Torrão de viva beleza De fartura e de riqueza E de mil coisas bonitas E porque tu tens de tudo Porque te conservas mudo Na tua modéstia imerso Meu Brasil, Eu que te amo Neste samba te proclamo Majestade do universo Benedito Lacerda / Aldo Cabral ”Ajude a esmagar o eixo comprando BÔNUS de GUERRA”. Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Uma das ações do governo brasileiro, relacionada à sua participação na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que pode ser percebida no cartaz da época, foi: (A) liberalização comercial. (B) aproximação com os Aliados. (C) privatização da indústria bélica. (D) promulgação de leis trabalhistas. A partir da letra deste samba, gravado por Francisco Alves e Dalva de Oliveira, em agosto de 1939, percebemos a construção de uma imagem para o Brasil que não correspondia totalmente às características da sociedade brasileira nas décadas de 30 e 40. Dentre essas características, aquela que se relaciona à conjuntura da época é: (A) liberalismo como base da política nacional. (B) reforma agrária como solução para os problemas econômicos. (C) política assimilacionista como forma de integração do indígena. (D) crescimento econômico como decorrência da política industrialista. 05 (UFF) Segundo alguns autores, a instauração no país, em novembro de 1937, do regime conhecido como Estado Novo representou um “redescobrimento do Brasil”. MUNAKATA, Kazumi. A legislação trabalhista no Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1981. EsPCEx – Vol. 3 235 HISTÓRIA II Assunto 19 Assinale a opção que melhor apresenta o aspecto do Estado Novo ilustrado pela charge: (A) A definição de uma nova cidadania baseada no trabalho organizado em sindicatos plurais, por categoria profissional. (B) A definição de uma nova cidadania identificada ao trabalho organizado nos moldes do corporativismo autoritário estatal. (C) O modo pelo qual o Estado Novo orientou sua política de trabalho, aprisionando os operários ao Estado por meio de um documento formal. (D) A subordinação dos trabalhadores ao empresariado a partir da concessão da Carteira de Trabalho. (E) A consolidação da democracia mediante um registro formal de cidadania. 06 (UFMG) Leia estas duas letras de samba, comparando-as: Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho De ser tão vadio. Sei que eles falam Deste meu proceder Eu vejo quem trabalha Andar no miserê. 07 (FUVEST) Na história da República brasileira, a expressão “Estado Novo” identifica: (A) o período de 1930 a 1945, em que Getúlio Vargas governou o país de forma ditatorial, só com o apoio dos militares, sem a interferência de outros poderes. (B) O período de 1950 a 1954, em que Getúlio Vargas governou com poderes ditatoriais, sem garantia dos direitos constitucionais. (C) o período de 1937 a 1945, em que Getúlio Vargas fechou o Poder Legislativo, suspendeu as liberdades civis e governou por meio de decretos-leis. (D) o período de 1945 a 1964, conhecido como o da redemocratização, quando foi restabelecida a plenitude dos poderes da República e das liberdades civis. (E) o período de 1930 a 1934, quando se afirmou o respeito aos princípios democráticos, graças à Revolução Constitucionalista de São Paulo. 08 (CN) Entre 1937 e 1945, ocorreu o Estado Novo, que foi o governo ditatorial de Getúlio Vargas. Dentre as principais realizações econômicas deste momento, podem-se citar a: (A) Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobras; (B) Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras; (C) Petrobras e a Fábrica Nacional de Motores; (D) Companhia Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional; (E) Fábrica Nacional de Motores e Companhia Siderúrgica Nacional. “LenŲo no pescoŲo” (1933), de Wilson Batista. Quem trabalha é que tem razão Eu digo e não tenho medo de errar O bonde São Januário Leva mais um operário: Sou eu que vou trabalhar. Antigamente eu não tinha juízo Mas resolvi garantir meu futuro Vejam vocês: Sou feliz, vivo muito bem A boemia não dá camisa a ninguém É, digo bem. “O bonde São Januário” (1940), de Wilson Batista e Ataulfo Alves. A partir dessa leitura comparativa e considerando-se o período em que foram escritas, bem como outros conhecimentos sobre o assunto, é correto afirmar que, nas duas letras, se torna evidente: (A) o aumento do poder de compra dos salários no período, com a garantia da estabilidade da moeda pelo Governo. (B) a liberdade criativa do artista popular, o que possibilitava um debate aberto de temas polêmicos da realidade nacional. (C) a adequação da produção musical urbana ao contexto político, caracterizado pelo crescente intervencionismo estatal. (D) o crescimento da capacidade de poupança, como consequência do poder de pressão de sindicatos autônomos. 01 (UNIFESP) “O Secretariado do CSN (Conselho de Segurança Nacional), em 11.05.1939, admite a indústria estatal como solução para o problema em decorrência da imperiosa força maior e em caráter transitório.” Com base no texto, pode-se afirmar que: (A) o regime do Estado Novo decidiu-se pela construção da siderúrgica de Volta Redonda, por causa da pressão do Exército brasileiro, então sob controle de generais progressistas.(B) Getúlio Vargas aproveitou-se das circunstâncias favoráveis da época, como a iminência da guerra entre as potências capitalistas, para implantar no país a indústria de base. (C) o Exército acabou por concordar com a criação de uma indústria estatal de base, em troca de sua permanência no poder e da garantia dada por Getúlio Vargas de que o Brasil não entraria em guerra. (D) o país estava seguindo uma tendência dominante naquele momento, estimulada pelos Estados Unidos, visando criar infraestrutura econômica para absorver seus produtos. (E) o projeto visando criar a primeira companhia estatal brasileira, no ramo da siderurgia, resultava tanto da abundância do minério de ferro no país quanto da pressão da opinião pública nesse sentido. 02 (UERJ) I. Quem trabalha é quem tem razão Eu digo e não tenho medo de errar O bonde de São Januário Leva mais um operário Sou eu que vou trabalhar EsPCEx – Vol. 3 Wilson Batista / Ataulfo Alves - 1940 236 Era Vargas (II) II. 04 (FGV) HISTÓRIA II Assunto 19 III. IV. E se é grande o céu, a terra e o mar O seu povo bom não é menor [...] Quem vê o Brasil que não tem fim Não chega a saber por que razão Este país tão grande assim Cabe inteirinho em meu coração! João de Barro / Alberto Ribeiro / Alcir Pires Vermelho - 1940 Para nos orientar No Brasil não falta nada Mas precisa trabalhar [...] E quem for pai de quatro filhos O presidente manda premiar É negócio casar. Ataulfo Alves / Felisberto Martins - 1941 Acertei no milhar Ganhei 500 contos Não vou mais trabalhar E me dê toda a roupa velha aos pobres E a mobília podemos quebrar. Wilson Batista / Geraldo Pereira - 1940 Foi regulamentada a atividade dos jogadores estrangeiros no Brasil, não pelas entidades do futebol e sim pelo DIP. De fato. Segundo a imprensa carioca, “os jogadores estrangeiros só poderão ingressar no futebol brasileiro desde que tenham contrato firmado com um clube nacional, sendo o documento visado pelo consulado, no país de origem”. Assim, o controle pelo Departamento será perfeito, pois ele ficará de posse da 2a via do contrato, ao mesmo tempo, a do documento de entrada em nosso país, exigido pela lei, o que provará a situação legal do profissional. O que se deprende é que os profissionais estrangeiros continuarão a ser equiparados aos artistas contratados. Findo o prazo de permanência, estipulado em contrato, são obrigados a retornar aos seus países. A Gazeta, 03 dez. 1940. Além do apresentado, esse departamento tinha ainda como funções: (A) centralizar a censura e popularizar a imagem do presidente Vargas. (B) controlar a ação dos sindicatos e estabelecer metas para a educação básica. (C) definir programas de assistência social e organizar a Juventude Brasileira. (D) gerir o imposto sindical e garantir a autonomia e a liberdade dos sindicatos. (E) reprimir os opositores do regime ditatorial e assessorar os interventores estaduais. 05 (UERJ) A leitura desses fragmentos permite depreender valores sociais e políticos predominantes no país na Era Vargas (1930-1945). Utilizando-se da música em seu favor, o governo Vargas adotou a seguinte postura: (A) popularizou o chorinho e determinou a produção de chanchadas. (B) estimulou o teatro de revista e reprimiu a música clássica nas escolas. (C) valorizou o samba-exaltação e oficializou o desfile das escolas de samba. (D) permitiu a ascensão do jongo e impôs caráter didático aos sambas- enredo. 1937 Führer Getúlio von Vargas 1941 Cidadão Getúlio Delano Vargas 1945 Camarada Getúlio Vargasvitch 03 (PUC-SP) No Brasil, a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – foi criada pelo Decreto 5452, de 1943, em meio ao governo de Getúlio Vargas, para reunir e sistematizar as leis trabalhistas existentes no país. Tais leis representaram a: (A) conquista evidente do movimento operário sindical e partidariamente organizado desde 1917, defensor de projetos socialistas e responsável pela ascensão de Vargas ao poder. (B) participação do Estado como árbitro na mediação das relações entre patrões e trabalhadores de 1930 em diante, permitindo a Vargas propor a racionalização e a despolitização das reivindicações trabalhistas. (C) inspiração notadamente fascista, que orientou o Estado Novo desde sua implantação em 1937, desviando Vargas das intenções nacionalistas presentes no início de seu governo. (D) atuação controladora do Estado brasileiro sobre os sindicatos e associações de trabalhadores, permitindo a Vargas criar, a partir de 1934, o primeiro partido político de massas da história brasileira. (E) pressão norte-americana, que se tornou mais clara após 1945, para que Vargas controlasse os grupos anárquicos e socialistas presentes nos movimentos operário e camponês. Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Os desenhos que retratam Getúlio Vargas sugerem mudanças nas suas opções políticas ou ideológicas, ao longo das décadas de 1930 e 1940. Pode-se dizer que, na sequência de 37 a 45, eles caracterizam, respectivamente: (A) simpatia pelo fascismo e aproximação com a Alemanha – aliança com os EUA e afastamento do Eixo – guinada à esquerda e fundação do PTB. (B) nacionalismo e intervencionismo estatal – apoio ao imperialismo norte-americano e fundação de novos partidos – internacionalismo e criação da CLT. (C) influência do peronismo e aproximação com a Argentina – militarismo e disputa por hegemonia na América Latina – aliança com Prestes e apoio dos comunistas. (D) ditadura estadonovista e aproximação com o fascismo italiano – populismo e estatização de empresas – apoio à política stalinista para a América Latina e legalização do PCB. EsPCEx – Vol. 3 237 20 HISTÓRIA II ASSUNTO 1. Introdução O afastamento de Vargas em 1945 significou o retorno da normalidade democrática no Brasil, a reboque da difusão do ideário liberal em virtude da queda das ditaduras do Eixo. Fora do Brasil, o fim da Segunda Guerra Mundial marcava o início da polarização mundial entre EUA e URSS. A Guerra Fria opunha dois modelos políticos e econômicos – o capitalismo liberal norte-americano e o socialismo soviético – em uma grande disputa geopolítica por áreas de influência. O conflito (indireto) entre as duas superpotências não deixou de influenciar os rumos da política brasileira – muitos políticos, diante da tensão provocada pelo “perigo vermelho”, utilizaram-se do discurso populista de aproximação às massas populares como estratégia de consolidação política. 2. Marechal Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) As eleições realizadas em 2 de dezembro de 1945 deram a vitória ao ex-ministro de Vargas, general Eurico Gaspar Dutra, que contava com apoio do PTB. Vargas apoiou a eleição de Dutra que, em troca, apoiou a eleição de Vargas para o Senado gaúcho. A Constituição de 1946 foi promulgada pela Assembleia Constituinte, eleita em 1945, e refletia a aproximação do Brasil ao ideário liberal. Entre suas principais características, é possível apontar: • Restauração do equilíbrio e da autonomia dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; • mandato presidencial de cinco anos; • fim da censura e da pena de morte a partir da restauração das garantias individuais; • direito de greve aos trabalhadores (as greves deveriam ser autorizadas pela Justiça Trabalhista); • direito de voto (secreto) para homens e mulheres alfabetizados com mais de 18 anos. As constantes emissões de papel-moeda da Era Vargas foram responsáveis pela ampliação da inflação que não era repassada integralmente para os salários na forma de reajustes. Esse fato teve como resultado a ampliação das manifestações de trabalhadores, como a greve de 1946 que paralisou cerca de 100 mil trabalhadores em São Paulo. Paralelamente, diante da difusão domodelo soviético, o PCB expandia sua influência, contando com mais de 200 mil filiados e com um expressivo resultado nas eleições de 1945 – 14 deputados e um senador pela capital, Luis Carlos Prestes. O crescimento do PCB preocupava grupos conservadores no Brasil – dos liberais da UDN, passando pelos antigos getulistas do PSD e do PTB. Assim, em 1947, a Justiça Eleitoral cassou o registro de funcionamento do PCB e os mandatos de todos os políticos. Era o alinhamento do Brasil aos EUA, na lógica da Guerra Fria. Com Dutra, o Brasil rompeu relações diplomáticas com todos os países comunistas, aproveitando uma visita do presidente norte-americano Harry Truman ao Brasil. O ideário liberal refletiu-se ainda no campo econômico, com a abertura para importações. Inicialmente, o objetivo era aumentar a importação de equipamentos para modernizar a produção industrial, além de matérias- primas e combustível. Mas com o tempo, o que se viu foi a entrada de grandes levas de produtos como roupas, alimentos e eletrodomésticos. O grande volume de importações promoveu o esgotamento das divisas acumuladas durante a Era Vargas com a elevação das exportações ao longo da Segunda Guerra Mundial. Obs: A essa época, muitas pessoas já importavam televisores, mas a primeira emissora da América Latina, a TV Tupi de São Paulo, só foi inaugurada em 18 de setembro de 1950. O Brasil assimilava o consumismo típico do estilo de vida norte-americano (american way of life). O descontrole obrigou o governo Dutra a intervir na economia promovendo restrições à importação de bens supérfluos, o que estimulou a recuperação da produção industrial. Por outro lado, adotou o Plano SALTE (1947), por meio do qual o Estado pretendia priorizar os investimentos em saúde, alimentação, transporte e energia (a sigla que denomina o plano é formada pelas iniciais dos setores priorizados). Entretanto, a escassez de divisas fez com que o plano se limitasse à pavimentação da Rodovia Rio-São Paulo e à instalação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Diante dos restritos resultados econômicos, aproximavam-se as eleições de 1950. Os principais candidatos foram Eduardo Gomes (novamente representando a UDN) e Cristiano Machado (PSD) e Getúlio Vargas (PTB). A campanha de Vargas, embalada pela marcha “Bota o retrato do velho outra vez”, mobilizou os getulistas do PTB e até do PSD (diversos políticos do partido abandonaram o candidato Cristiano Machado para dar apoio a Vargas). Pela primeira vez, Getúlio chegava à presidência pelo voto popular. 3. Getúlio Vargas (1951-1954) A posse de Vargas não foi tão fácil quanto parece. A UDN pretendia impedir sua posse, alegando que o presidente não teve a maioria dos votos (Vargas foi eleito com 48,7% da preferência de eleitorado). Militares legalistas, como o general Henrique Lott, impediram a tentativa de golpe, garantindo a posse de Vargas. EsPCEx – Vol. 3 República Populista (I) 238 D is p on ív el e m : . República Populista (I) As tensões entre capitalistas e comunistas haviam se agravado a nível internacional com a Revolução Chinesa (1949) e a Guerra da Coreia (1950-1953). No plano interno, a preocupação com a difusão do comunismo e do nacionalismo também se acirrou. Nesse cenário, Vargas criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) em 1952, com o intuito de ampliar os investimentos na produção industrial, transporte e energia. Em 1951, enviou um projeto ao Congresso que previa a construção de uma empresa estatal que controlasse a prospecção, a exploração e o refino de petróleo no Brasil. Contra o projeto, levantaram-se partidários da UDN, com amplo apoio de grandes empresas petrolíferas interessadas em investir nesse ramo de atividade no Brasil. Em resposta, Vargas, com apoio de membros da classe média, militares, líderes operários e outros grupos nacionalistas, organizaram a campanha “O petróleo é nosso”. Pressionado, o Congresso aprovou em 1953 a criação da Petrobras, empresa de capital misto, mas controlada pelo Estado. O populismo varguista vencia mais uma batalha. Políticos em defesa da campanha “O Petróleo é nosso”. No ano de 1953, o Brasil completou dez anos sem reajustes salariais expressivos, levando cerca de 300 mil operários a pararem suas atividades. A mobilização dos trabalhadores levou o então ministro do Trabalho João Goulart (conhecido como “Jango”) a propor a duplicação do salário- -mínimo. A oposição se levantou de maneira contundente, obrigando Vargas a demitir João Goulart em 1954. Entretanto, no dia 1º de maio do mesmo ano, Vargas anunciou o reajuste proposto por Jango, gerando uma profunda radicalização dos discursos de oposição. Obs.: É um engano atribuir ao governo Vargas uma vertente exclusivamente nacionalista. No início de seu governo, Vargas obteve uma linha de crédito do presidente norte-americano Dwight Eisenhower no valor de 400 milhões de dólares, que seriam investidos em melhorias infra- estruturais. Entretanto, o nacionalismo varguista, percebido na criação da Petrobras, incomodou o governo norte-americano, que em 1953, após ter liberado apenas 180 milhões, cortou a linha de crédito. Esse fato ajuda a explicar a maior aproximação do discurso de Vargas ao trabalhismo e ao nacionalismo a partir de 1953. A oposição a Vargas era articulada pela UDN e tinha como seu principal interlocutor o político e jornalista Carlos Lacerda. Por intermédio do jornal Tribuna da Imprensa, Lacerda sistematizou uma campanha de difamação do presidente, acusado diversas vezes de corrupção. No dia 5 de agosto de 1954, Lacerda e o major da Aeronáutica Rubens Vaz (responsável por sua segurança) foram atacados por pistoleiros no episódio que ficou conhecido como o Atentado da Rua Tonelero, em Copacabana no Rio de Janeiro. Lacerda foi ferido no pé, mas o major HISTÓRIA II Assunto 20 faleceu com um tiro no peito. As investigações apontaram o envolvimento de Gregório Fortunato (chefe da guarda de Vargas), levando oficiais do Exército e da Aeronáutica a exigirem a renúncia de Vargas, que respondeu: “Se vêm para me depor, encontrarão meu cadáver”. Pouco depois de proferir a frase, Getúlio Vargas se matou com um tiro no coração no Palácio do Catete, deixando uma “carta-testamento”, contendo sua percepção a respeito de sua ação como presidente do Brasil. “Lutei contra a espoliação do Brasil, Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.” Trecho da carta-testamento de Getúlio Vargas. 4. De Getúlio Vargas a Juscelino Kubitschek (1954-1956) Os que acreditavam que o afastamento de Vargas levaria à ascensão de um governo de oposição foram surpreendidos pela resposta das massas populares ao suicídio de Vargas. A sede da UDN foi atacada assim como a embaixada dos EUA no Brasil, de modo que a comoção nacional obrigou a oposição a Vargas recuar. Com a morte de Getúlio Vargas, assumiu a presidência o vice Café Filho (1954-1955). Em seu governo, ocorreram as eleições de 1955, vencidas por Juscelino Kubitschek (PSD). O candidato à vice-presidência vitorioso foi João Goulart (PTB), que herdava os votos dos “órfãos de Vargas”. Porém, Café Filho foi afastado em 1955 por problemas cardíacos, sendo substituído pelo presidente da Câmara dos Deputados Carlos Luz (1955). Acusado de articular um golpe contra a posse de Kubitschek com apoio da UDN, foi afastado pelo general legalista Henrique Lott. A presidência foi assumida por Nereu Ramos (presidente do Senado) que garantiu a posse de Kubitschek e João Goulart em 31 de janeiro de 1956. 5. Juscelino Kubitschek (1956-1961) A posse de Juscelino realmente foi difícil. Militaresda Aeronáutica, indignados por conta da morte do major Rubens Vaz, rebelaram-se em Jacareacanga no Pará, em 1956. Pretendiam impedir a posse de Juscelino, mas foram reprimidos pelas forças legalistas. O presidente ordenou a anistia de todos os revoltosos, numa clara atitude conciliatória. Ao incorporar elementos das Forças Armadas em importantes cargos da burocracia estatal, Juscelino obtinha uma considerável estabilidade política, impulsionada ainda pela aliança com João Goulart. A aproximação dos getulistas trouxe o apoio das massas ao presidente. Entretanto, a tônica do governo JK foi o nacional desenvolvimentismo, que defendia um crescimento acelerado da economia brasileira em torno do lema: “50 anos em 5”. O Plano de Metas apresentado pelo presidente propôs metas de desenvolvimento para educação, alimentação, transporte, energia e indústrias. O desenvolvimentismo de JK seria mantido por meio da combinação de três tipos de capitais – capital privado nacional (aplicado na produção de alimentos agrícolas e na produção industrial de bens de consumo não duráveis), capital estatal (aplicado na expansão da malha rodoviária, no sistema Furnas e na hidrelétrica de Três Marias) e capital privado estrangeiro (aplicado na forma de crédito e na entrada de multinacionais ligadas à produção de bens de consumo duráveis). EsPCEx – Vol. 3 239 D is po ní ve l em : HISTÓRIA II Assunto 20 Instalavam-se no Brasil empresas como a Volkswagen, Ford, GM, General Eletrics (GE) entre outras, diversificando e modernizando o parque produtivo nacional. Juscelino na inauguração da Volskwagen em 1959 Para dar conta do cumprimento do Plano de Metas, JK criou diversos grupos técnicos de trabalho, ligados diretamente à presidência. Os grupos eram responsáveis pela elaboração de projetos de leis e deslocamento dos financiamentos e muitas vezes atropelavam as instituições burocráticas, dando mais agilidade à administração pública. Entre os grupos, destacaram-se o Grupo de Estudos da Indústria de Construção Naval (Geicon) e o Grupo de Estudos da Indústria Automobilística (Geia). Este último foi o propulsor da expansão da malha rodoviária, para atender à produção de automóveis no Brasil. A “meta síntese” das realizações de JK foi a construção de Brasília. Inaugurada em 1960, a nova capital do Brasil foi planejada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer e atendia a duas preocupações do governo: • a capital no interior estaria mais protegida do que no Rio de Janeiro (litoral) em caso de ataque estrangeiro; • a necessidade de ocupação do interior do território, que deveria se integrar às demais regiões do Brasil. Do ponto de vista político, a transferência da capital para Brasília reduzia as pressões de centros urbanos tradicionais como Rio de Janeiro e São Paulo nas instituições do governo federal. Obs.: Com a transferência da capital para Brasília, o município do Rio de Janeiro foi transformado no estado da Guanabara, enquanto o estado do Rio de Janeiro passou a ter capital em Niterói. Somente em 1974 os dois estados foram unificados – o estado do Rio de Janeiro passou a ter capital no município do Rio de Janeiro. A década de 1950 ficou conhecida como os “Anos Dourados”. A euforia provocada pelo crescimento econômico e pela expansão da oferta de bens de consumo criava um clima de otimismo na população brasileira. A bossa nova, nascida em 1958 dos versos e acordes de João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Morais, entre outros, embalou esse clima eufórico. O primeiro Campeonato Mundial de futebol, em 1958, também contribuiu para o otimismo nos anos 1950. Entre as consequências do Plano de Metas, destacam-se: • diversificação do parque produtivo com a introdução das indústrias de bens de consumo duráveis; • expansão da malha rodoviária; • endividamento externo e ampliação da dívida pública; • ampliação da desigualdade regional devido ao predomínio dos investimentos no eixo Sul-Sudeste. JK ainda criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) que pretendia atrair investimentos para a região, contendo a migração de nordestinos para o Sudeste. Entretanto, a SUDENE não garantiu seus objetivos; • inflação, provocada pela grande procura por bens de consumo. Em 1959, JK rompeu relações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), após ter solicitado um novo empréstimo. Preocupado com o descontrole nas contas do Estado, o FMI solicitou o corte de gastos públicos, o que prejudicaria o andamento do Plano de Metas – esse foi o motivo do afastamento em relação ao fundo. 01 (FGV) A gestão do presidente Eurico Gaspar Dutra foi marcada pela adoção de medidas que visavam a modernização das instituições político- -administrativas. Entre essas mudanças, pode ser destacada: (A) a aprovação de uma nova constituição que, embora seguisse princípios liberais e democráticos, mantinha a proibição ao direito de voto das mulheres. (B) a aproximação com a União Soviética, em função do enorme prestígio dos parlamentares ligados ao PCB. (C) a extinção do corporativismo, com a regulamentação de centrais sindicais livres da tutela do Estado. (D) a implantação de um plano de metas (Plano Salte) que visava atender às necessidades da industrialização e do abastecimento doméstico. (E) a que visava atender às necessidades da industrialização e do abastecimento doméstico e a recusa de participação na Organização dos Estados Americanos (OEA), por considerá-la um instrumento de consolidação da hegemonia norte-americana na América Latina. 02 (UNESP) A Segunda Guerra Mundial e as transformações subsequentes abalaram profundamente o equilíbrio de poderes até então existente, abrindo caminho para uma nova ordem político-econômica e militar, com evidentes implicações no Terceiro Mundo. Nesse contexto, a política externa do governo Eurico Gaspar Dutra expressava: (A) favorecimento ao bloco socialista. (B) alinhamento à política norte-americana. (C) postura neutralista. (D) visão terceiro-mundista de resistência ao imperialismo. (E) posição de defesa da autodeterminação latino-americana. EsPCEx – Vol. 3 240 D is po ní ve l em : . Farei 50 de progresso em 5 governos República Populista (I) HISTÓRIA II Assunto 20 03 (CN) Observe a figura abaixo: A charge acima representa o governo de: (A) Jânio Quadros, o qual se caracterizou por uma política baseada no estímulo à entrada de empresas estrangeiras principalmente no ramo automobilístico. (B) Juscelino Kubitschek, o qual se caracterizou pela abertura ao mercado externo, principalmente no que se refere à importação de automóveis. (C) Jânio Quadros, que procurou desenvolver uma política de desenvolvimento industrial, destacando-se a construção de empresas automobilísticas de capital nacional. (D) Juscelino Kubitschek, que adotou uma política nacional desenvolvi- mentista da qual a indústria automobilística foi o produto de maior êxito e visibilidade. (E) João Goulart, que assumiu o país com a finalidade de estimular um desenvolvimentismo denominado Plano de Metas, o qual priorizava as camadas mais baixas da população. 04 (CN) “O petróleo é nosso” Esse jargão popular tem sua origem em um movimento que envolveu vários setores da sociedade brasileira, fortalecendo a política nacionalista de Getúlio Vargas, com a criação da Petrobras (1953) e visava, naquele momento, entre outros fatores: (A) privilegiar o parque industrial automobilístico, aumentando o consumo da gasolina e óleo diesel provenientes de seus aliados internacionais. (B) criar novas tecnologias de refino e perfuração do subsolo, intensificando a importação do petróleo norte-americano. (C) construir um centro de experiências científicase tecnológicas importando a matéria-prima das potências estrangeiras. (D) amenizar o problema das reservas financeiras do país consumidas pela importação do petróleo estrangeiro. (E) aumentar o mercado de trabalho e ampliar o consumo interno de petróleo produzido pelas empresas multinacionais. 05 (ESPM) Leia as afirmativas relativas ao governo de Getúlio Vargas, entre 1951 e 1954, e responda: I. Procurando retomar suas antigas linhas nacionalista e intervencionista, Vargas voltou-se em especial para a petroquímica, siderurgia, transporte, energia e técnicas agrícolas. II. Em 1952, foi fundado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), diretamente orientado para o propósito de acelerar o processo de diversificação industrial. III. Entre os adversários civis do governo, estava a maioria dos integrantes do PSD (Partido Social Democrático) em que se destaca Carlos Lacerda, que a partir do seu jornal Última Hora iniciou violenta campanha antigetulista. (A) Todas as afirmativas são verdadeiras. (B) As afirmativas I e II são verdadeiras. (C) As afirmativas I e III são verdadeiras. (D) As afirmativas II e III são verdadeiras. (E) Todas as afirmativas são falsas. 06 (PUC-RIO) Durante o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), o setor socioeconômico caracterizou-se pelo desenvol- vimentismo, expressado pelo Plano de Metas, que continha trinta e um objetivos estratégicos para o desenvolvimento do país. Com base no exposto, examine as afirmativas a seguir. I. A energia, a educação e a indústria básica foram três dos setores estratégicos do governo JK. II. A agricultura de exportação foi o setor econômico de maior expansão durante os anos JK, permitindo acumulação de divisas estrangeiras. III. O desenvolvimento industrial foi possível pela conjugação de investimentos estatais e privados, dentre os quais merece destaque a presença de capital estrangeiro. IV. A construção da nova capital – Brasília – foi considerada a meta síntese, pois expressava, de um lado, os esforços de integração do território brasileiro e, de outro, a modernidade do momento vivido. Estão corretas: (A) Somente as afirmativas I e II e III. (B) Somente as afirmativas II e IV. (C) Somente as afirmativas I, III e IV. (D) Somente as afirmativas II, III e IV. (E) Todas as afirmativas. 07 (UERJ) A Culpa é do Governo Bossa-nova mesmo é ser presidente desta terra descoberta por Cabral. Para tanto basta ser tão simplesmente simpático... risonho... original. Juca Chaves Retrato do Velho Bota o retrato do velho outra vez Bota no mesmo lugar O sorriso do velhinho Faz a gente se animar, oi. (...) O sorriso do velhinho Faz a gente trabalhar. Marino Pinto e Haroldo Lobo Os estilos de governar de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek são abordados nas letras de música acima. Um elemento comum das políticas econômicas deses dois governos está indicado na seguinte alternativa: (A) trabalhismo. (B) monetarismo. (C) industrialismo. (D) corporativismo. EsPCEx – Vol. 3 241 HISTÓRIA II Assunto 20 08 (PUC-RS) O contexto político que levaria à crise do segundo governo Vargas e ao suicídio do presidente, em 24 de agosto de 1954, estava relacionado com: (A) a campanha do Partido Comunista Brasileiro contra um Estado excessivamente liberal. (B) a pressão dos sindicalistas pela aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho. (C) a oposição popular à criação da Petrobras. (D) a mobilização geral contra o endividamento do governo junto aos estados. (E) a oposição dos liberais da UDN e de Lacerda na imprensa. 01 Observe a figura abaixo: A charge, do início dos anos cinquenta, satiriza qual episódio da história brasileira? (A) A ascensão de Eurico Gaspar Dutra à presidência da república, cujo governo apresentou entre outras características, o alinhamento com os Estados Unidos durante a Guerra Fria. (B) A deposição de Getúlio Vargas após o término da Segunda Guerra Mundial pelo movimento denominado Queremismo que defendia o retorno do país à normalidade democrática. (C) A saída de Eurico Gaspar Dutra do poder, representando o fim de uma política denominada Plano de Metas na qual, entre outras características, estava o desenvolvimento dos transportes no Brasil. (D) A ascensão de Getúlio Vargas à presidência da república apoiado pelo empresariado vinculado às “multinacionais” estrangeiras, que tinham por base a União Democrática Nacional. (E) O retorno de Getúlio Vargas à presidência da república, cujo governo caracterizou-se, entre outros aspectos, pela campanha de nacionalização do Petróleo, a qual atinge o seu auge com a criação da Petrobrás em 1953. 02 (CN) Bossa nova Mesmo é ser presidente, Nesta terra descoberta por Cabral. Para tanto basta ser tão simplesmente, Simpático, risonho, original... Presidente Bossa nova –Juca Chaves A Bossa Nova, surgida no final de década de 50, concluiu um período na História do país que ficaria conhecido como os anos dourados. As novidades deste período relacionava-se à política desenvolvimentista do presidente (A) Getúlio Vargas, que buscou incansavelmente, como um de seus objetivos, nacionalizar o setor mineral e principais agentes do desenvolvimento econômico. (B) Juscelino Kubitschek, que tinha como objetivo acelerar o desenvolvimento econômico, em particular o das indústrias, ainda que por meio de uma política inflacionária e de abertura para o capital estrangeiro. (C) Café Filho que desencadeou um surto de progresso industrial e agrícola, com a redistribuição de terras, resolvendo todos os problemas estruturais do campo assim como o aumento do número de emprego nos centros urbanos. (D) João Goulart que buscou e forma incansável transformar os camponeses em trabalhadores assalariados com a conseqüente elevação da produtividade agrícola e dos investimentos no setor. (E) Jânio Quadros que entre os seus objetivos estava o de possibilitar o desenvolvimento agrícola, por meio de um vigoroso monopólio nacional dos chamados setores de ponta da nossa economia, obtendo grande apoio da burguesia da nossa economia, obtendo grande apoio da burguesia nacional. 03 (CN) O modelo de industrialização do Brasil iniciado em 1930 passou por algumas modificações na década de 1950, a partir do Plano de Metas do governo Juscelino Kubitscheck. Assinale a alternativa que explica essas diferenças. (A) Diferentemente da política do Plano de Metas, a industrialização brasileira no período 1930-1954 era praticamente controlada pelo capital estrangeiro, já que o Estado investia muito pouco e a burguesia nacional ainda era incipiente. (B) O Plano de Metas reorientou a participação do Estado na economia, sem abandoná-la, e fomenta os investimentos do capital estrangeiro, em expansão após os retrocessos causados pela Crise de 1929 e pela II Guerra Mundial. (C) O Plano de Metas aumentou a presença estatal na economia – que antes se restringia ao setor das indústrias de base. Com isso, surgiram as grandes estatais dos setores de bens de consumo duráveis, como no setor automobilístico. (D) O Plano de Metas representava os interesses da burguesia nacional urbana, e por isso procurava restringir tanto a presença estatal na economia quanto a entrada de capitais estrangeiros. (E) O Plano de Metas acabou com as leis trabalhistas do período Vargas, visando atender aos interesses do capital estrangeiro, que se expandia pelo Terceiro Mundo em busca de mão-de-obra barata. 04 (UERJ) FREIRE, Américo e outros. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2004. EsPCEx – Vol. 3 242 República Populista (I) As propagandas, publicadas na revista O Cruzeiro, no período de 1954 a 1964, apresentam bens de consumo que estavam sendo incorporados ao cotidiano de parte da população brasileira. Esses novos padrões de consumo foram favorecidos pelo incentivodo Estado brasileiro à: (A) produção de bens duráveis. (B) pesquisa tecnológica nacional. (C) implantação da indústria pesada. (D) fixação dos preços das mercadorias. HISTÓRIA II Assunto 20 05 (UFF) A partir de 1945 e até a década de 50, observaram-se intensas transformações na esfera política brasileira, impulsionadas pelos resultados da Segunda Guerra Mundial. Dentre tais transformações, destaca-se: (A) o processo de “redemocratização” baseado no multipartidarismo oriundo do fim do Estado Novo. (B) a modernização industrial sob a liderança das oligarquias nordestinas; (C) a manutenção da economia agro-exportadora brasileira com o fim do processo de substituição de importações. (D) a industrialização regional do Vale do Cariri fortalecida pela ação do Estado Novo. (E) a consolidação dos poderes locais determinada pelos projetos de modernização industrial do Governo Dutra. EsPCEx – Vol. 3 243 HISTÓRIA II Assunto 20 EsPCEx – Vol. 3 244Em 1886, o Coronel Cunha Matos foi preso após se pronunciar contra o desvio de verbas do Exército no Piauí. No Rio Grande do Sul, Sena Madureira tornou o caso de sua demissão público no jornal A FederaŲão”. O Ministério da Guerra ordenou que o presidente da província gaúcha marechal Deodoro da Fonseca prendesse Sena Madureira. Como se recusou a obedecer à ordem, Deodoro foi destituído da presidência e da chefia das armas da província. Os protestos aumentaram ainda mais quando Deodoro chegou ao Rio de Janeiro, contando ainda com o apoio de civis como o intelectual baiano Rui Barbosa. D. Pedro II optou por retirar as punições aos militares. mas a cúpula militar já conspirava pela proclamação da República. 5. A Questão Religiosa No ano de 1864, o papa Pio IX lançou a Bulla Syllabus, proibindo a vinculação entre maçonaria e Igreja Católica. Pela bula, maçons não poderiam frequentar a Igreja mesmo se fossem sacerdotes. A forte influência da maçonaria no Brasil fez com que D. Pedro II utilizasse o direito do Beneplácito, presente na Constituição de 1824, para não autorizar a aplicação da bula no Brasil. Porém, em 1874, o bispo de Olinda D. Vital e o bispo de Olinda D. Antônio de Macedo foram presos por desobediência ao Imperador após tentarem aplicar a Bula Syllabus em seus bispados. Em 1875, quando Caxias assumiu o comando do ministério, os bispos foram soltos, mas diversos membros da Igreja Católica protestavam contra a subordinação da Igreja ao Estado por meio do Padroado. Deste modo, muitos eclesiastas se aproximavam da ideia de construção de um Estado laico (desvinculado de instituições religiosas), pensamento tipicamente republicano. 6. A oposição dos segmentos urbanos A ampliação das atividades industriais e de centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo ampliou os quadros da classe média. A partir da Era Mauá, a quantidade de empresários ligados às atividades industriais também aumentou. Mesmo não possuindo número amplo de indivíduos nem mesmo uma organização política eficiente que os identificasse enquanto grupo, os segmentos urbanos criticavam a hegemonia dos segmentos rurais nos quadros da monarquia. Questionavam a vinculação de D. Pedro II às decadentes oligarquias do Vale do Paraíba e do Nordeste e exigiam o fim da escravidão, a proteção à produção nacional e a ampliação dos investimentos governamentais nas atividades industriais. Como não tinham suas propostas atendidas, acabaram aderindo ao movimento republicano. 7. O movimento republicano no Brasil Em 1870, foi criado o Partido Republicano no Rio de Janeiro. Apesar de contar com apoio de segmentos urbanos e de militares, o partido nasceu de uma disputa política entre os principais partidos do Brasil. Em 1868, D. Pedro II atendeu a um pedido do conservador Caxias e afastou o gabinete liberal comandado por Zacarias Góis, que compunha o Ministério da Conciliação (A Liga Progressista). A hegemonia conservadora irritou os liberais que, em 1870, optaram pela fundação do Partido Republicano e no mesmo ano apresentaram o Manifesto Republicano o qual defendia: • fim da vitaliciedade do Senado; • criação de um Estado laico; • instalação de uma República Federativa, garantindo a autonomia das províncias. Obs.: “A centralização, tal qual existe, representa o despotismo, dá força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres, perverte e anarquiza os espíritos (...), suga a riqueza peculiar das províncias, constituído-as satélites obrigadas da Corte.” Trecho do “Manifesto Republicano” (1870) EsPCEx – Vol. 3 207 HISTÓRIA II Assunto 14 Apesar das propostas transformadoras do partido, a influência da aristocracia outrora ligada aos “luzias” fazia com que o partido não criticasse elementos estruturais da economia brasileira como a escravidão e o latifúndio. Dentro do partido existiam duas correntes: os evolucionistas de Quintino Bocayuva e Miguel Lemos (acreditavam que a proclamação da república seria algo natural, sem a necessidade de revolução) e os revolucionários de Silva Jardim. Em 1873, a Convenção de Itu (SP) lançou as diretrizes do Partido Republicano Paulista. O PRP expressava os interesses dos cafeicultores paulistas que haviam recém assumido o posto de principais produtores de café do Brasil. Criticavam a tradicional vinculação de D. Pedro II aos “barões do café” do Vale do Paraíba e, por meio da proclamação da república, pretendiam obter participação política proporcional á sua importância econômica. É importante notar que o partido não expressa a interesses de cunho nacional, e sim de segmentos aristocráticos locais. Dessa maneira, pode ser classificado como um partido oligárquico (oligos = poucos; archia = poder). Ao longo da República Velha (1889-1930), vai-se perceber como partidos oligárquicos comandarão o cenário político nacional. 8. O movimento abolicionista Militares do Exército, membros da classe média e empresários urbanos defendiam abertamente a abolição da escravidão, com apoio da Inglaterra. Intelectuais abolicionistas como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Silva Jardim reforçavam a propaganda abolicionista. D. Pedro II não poderia atender de imediato às aspirações destes grupos, em virtude da grande participação política dos escravocratas no governo. Radicais contrários à escravidão (caifazes) como Antônio Bento estimulavam os escravos a se insurgirem contra seus senhores e invadiam fazendas para abrir senzalas, facilitando a fuga. Mas, à medida que os protestos ficavam mais acentuados, principalmente a partir da década de 1870, D. Pedro II percebeu que não era possível ignorar por completo os abolicionistas. Essa contradição deu origem às primeiras leis abolicionistas que, mais do que extinguir a escravidão, pretendiam retardar a decisão do governo imperial e acalmar os apelos dos descontentes. As duas leis com tal fim foram: • A Lei do Ventre Livre (1871): Considerava livres os escravos nascidos a partir da publicação da lei, embora os recém-nascidos ficassem sob a guarda do senhor até os 8 anos de idade, quando este optava entre libertá-lo mediante pagamento de indenização pelo Estado ou utilizar de seu trabalho até os 21 anos de idade. • A Lei Saraiva-Cotegipe ou dos Sexagenários (1885): Libertava os escravos com mais de 60 anos. Poucos, em virtude da baixa expectativa de vida dos escravos. Finalmente, em 13 de maio de 1888 a então Princesa Regente Isabel, filha de D. Pedro II, proclamou a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Sabe-se que a Lei Áurea não previa a integração sócioeconômica dos ex-escravos, gerando uma massa de indivíduos com conhecimento profissional restrito, que exercia funções que remuneravam mal, como agricultura e estiva. Nascia um grupo de indivíduos miseráveis que não tardou a ocupar as primeiras favelas. A mistura cruel entre racismo e exclusão social deixou marcas na sociedade brasileira atual. Do ponto de vista político, a Lei Áurea também provocou uma sensível alteração: indignada pelo fato de não ter recebido qualquer indenização pela perda de seus escravos, a aristocracia escravocrata, que compunha a base política de D. Pedro II, irritou-se, dando origem a um grupo que ficou conhecido como “os republicanos de 13 de maio”. Completava-se o processo de isolamento de D. Pedro II. EsPCEx – Vol. 3 9. A tentativa de reforma de Ouro Preto Em julho de 1889, o visconde de Ouro Preto assumiu a presidência do ministério brasileiro. Com o intuito de conter o avanço do movimento republicano, Ouro Preto apresentou ao Congresso uma série de reformas como a autonomia para províncias e municípios (federalismo), fim da vitaliciedade do Senado, liberdade religiosa e ampliação da oferta de crédito aos produtores rurais. As reformas foram rejeitadas pelo Congresso, de maioria conservadora. O governo optou pelo fechamento do Congresso, que deveria se reunir extraordinariamente em20 de novembro de 1889. A proclamação da república era uma questão de tempo. 10. A Proclamação da República Enfim, em 15 de novembro de 1889, oficiais comandados pelo Marechal Deodoro da Fonseca depuseram o primeiro-ministro visconde do Ouro Preto e proclamaram a república no Brasil, com apoio de membros do PRP e do PR, como Quintino Bocayuva e Aristides Lobo. Os boatos a respeito da ordem dada por Ouro Preto para prender os conspiradores motivaram a ação dos insurgentes. Sem apoio de expressivos segmentos da sociedade, D. Pedro II aceitou a proclamação que, apesar de ter alterado o sistema político nacional, mantinha intactas estruturas como a agroexportação latifundiária e a exclusão social e política da maioria da população. Obs.: Quando indagado sobre a participação popular, Aristides Lobo, nomeado Ministro do Interior por Deodoro, afirmou: “O povo assistiu bestializado”. Com a frase, o político dava uma precisa definição para a ausência da participação popular, no golpe de estado que depôs o imperador. A ProclamaŲão da República de Benedito Calixto 01 (EsPCEx) A participação do Exército Brasileiro, com respaldo em seu prestígio, foi fundamental para a queda do Império e, consequentemente, para a Proclamação da República. O fato que mais contribuiu para o aumento do prestígio militar, no final do século XIX, foi a: (A) Guerra da Tríplice Aliança. (B) Questão escravocrata. (C) Intervenção contra Aguirre. (D) Questão Christie. (E) Intervenção contra Rosas e Oribe. 208 © W ik im ed ia C om m on s O Segundo Reinado (II) - Política Externa e Crise do Império HISTÓRIA II Assunto 14 02 (CN) Em relação aos diversos conflitos ocorridos ao longo do século XIX envolvendo Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, é correto afirmar, entre outros fatores, que: (A) tiveram por objetivo, unicamente, evitar o desenvolvimento industrial paraguaio. (B) foram motivados pelas rivalidades entre liberais republicanos e conservadores que eram apoiados pela monarquia brasileira. (C) tiveram por objetivo consolidar as determinações do Tratado de Madri. (D) foram motivados por disputas pelo controle da bacia do Rio da Prata. (E) se caracterizaram, no confronto entre nações, favoráveis à mão de obra assalariada e estados defensores do sistema escravista. 03 (CN) Durante o Segundo Reinado, as relações externas do Brasil com os vizinhos do Cone Sul foram marcadas por vários conflitos, sendo o mais grave e violento o ocorrido na segunda metade do século XIX, que foi a: (A) guerra contra o Paraguai, a qual foi motivada, entre outros aspectos, pelas disputas em torno do controle da Bacia Platina. (B) Guerra dos Farrapos, que representou um movimento separatista no Sul do Brasil, apoiado pelos governos da Argentina e Uruguai como represália ao expansionismo brasileiro. (C) Guerra do Paraguai, motivada pelos interesses expansionistas paraguaios, que provocou uma alteração na política de não interferência do governo brasileiro em assuntos estrangeiros. (D) Revolução Farroupilha, movimento republicano defensor de um projeto federalista que reunisse os demais Estados do Cone Sul. (E) Questão Aguirre, provocada pela aliança entre Paraguai e Uruguai, contra as pretensões brasileiras e argentinas de controlar as atividades agropecuárias na região. 04 (EsPCEx) O fim do Império Brasileiro foi marcado por contestações ao regime, como, por exemplo, a campanha abolicionista e a campanha republicana. Paralelamente, ocorreram duas outras causas da queda da monarquia: a relação Padroado-Maçonaria e as ideias criadas pelo francês Auguste Comte, corrente filosófica chamada de Positivismo. Esses dois conjuntos geraram, respectivamente, a: (A) crise da sucessão do terceiro imperador e a censura dos livros de filosofia. (B) perseguição às sociedades secretas e o Problema Servil. (C) corrente nacionalista e a rejeição do conde D’Eu como novo monarca. (D) Questão Religiosa e Questão Militar. (E) crise do beneplácito e queda do gabinete militar. 05 (CN) Observe a charge abaixo, leia o texto que a segue e, em seguida, assinale a opção correta. Na charge de Angelo Agostini, o marechal Deodoro da Fonseca é deposto pelo gabinete ministerial do cargo de presidente e comandante de armas do Rio Grande do Sul. Esse foi um dos momentos no episódio que ficou conhecido como a: (A) Questão Religiosa, que contou com auxílio dos militares na luta contra o veto do imperador à Bula Syllabus, que se colocava contra a presença de maçons em ritos da Igreja Católica. (B) Questão Militar, motivada pela punição de militares que se pronunciaram publicamente pelo descaso em que se encontrava o Exército Brasileiro. (C) insubordinação contra os casacas, que não observavam a situação em que se encontrava o Exército Brasileiro, principalmente após a Guerra da Cisplatina. (D) revolta militar, motivada pela punição de militares, como o Tenente- -Coronel Sena Madureira e o Coronel Cunha Matos, que se manifes- taram por meio da imprensa após a campanha contra Aguirre. (E) revolta religiosa, na qual os militares apoiaram D.Pedro II no veto à Bula Syllabus, a qual garantia aos maçons livre acesso às Igrejas Católicas existentes no país. 06 (CN) Entre a Guerra do Paraguai e a Proclamação da República no Brasil, as relações entre o Exército e a ordem monárquica tiveram como característica: (A) uma aproximação entre ambos, dado que a elite monárquica, reconhecendo o papel de Exército na Guerra, passou a valorizá-lo com melhores salários e equipamentos. (B) uma posição oscilante do Exército que, no pós-guerra, distanciou-se da Monarquia, mas, em 1889, foi um de seus principais baluartes contra os republicanos. (C) a permanência dos padrões anteriores de relacionamento, ou seja, o exército continuou sendo valorizado, política e materialmente, pela elite monárquica. (D) aprofundamento da identificação entre Exército e Monarquia, devido à extinção da guarda nacional por D. Pedro II. (E) um progressivo distanciamento, até o rompimento, quando ocorreu a Proclamação da República. 01 (CN) Observe a gravura abaixo, referente a um conflito vivenciando entre Estado e Igreja na segunda metade do século XIX e responda a questão a seguir. VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpolo. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997. p. 257. EsPCEx – Vol. 3 209 D is p on io ve l e m : D is po ni ve l em : HISTÓRIA II Assunto 14 A partir da imagem é correto afirmar que tal conflito teve origem: (A) logo após a promulgação da constituição de 1824, que determinava o direito de o Estado conceder ou negar validade aos decretos eclesiásticos, a partir do que se denominou de Padroado. (B) na instituição do Primeiro Reinado, quando o imperador, que era maçom, tem constantes atritos com a Igreja, principalmente a partir da Bula Syllabus do Papa Pio IX. (C) na proibição feita pelo papa Pio IX, quanto à permanência de membros da maçonaria dentro dos quadros da Igreja, como por exemplo, as irmandades religiosas. (D) com os militares, que não aceitam a ordem dada pelo papa Pio IX, proibindo membros ligados à maçonaria de frequentarem a Igreja Católica. (E) com os liberais e conservadores que, desde a Constituição de 1823, condenavam a interferência do Estado nos negócios da Igreja, a partir do Padroado e do Beneplácito. 02 (CN) O Visconde de Ouro Preto leu sua plataforma política perante a Câmara dos Deputados gerais, a 11 de junho, que por 79 contra 20 votos, recusou-lhe a confiança. O padre João Manoel concluiu o seu aparte com o brado: “Abaixo a Monarquia e vivia a República”, ao que o Visconde retrucou: “Viva a República, não!, viva a Monarquia, que é a forma de governo que a imensa maioriada Nação abraça...”. Dissolvida a Câmara, em 15 de junho, posto que o imperador decidira-se apoiar o seu ministro, convocou-se, imediatamente, eleições (que se verificaram a 31 de agosto) para a formação de outra, a qual, eleita, teve a data de 20 de novembro para iniciar os seus trabalhos. FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos Anos de História do Brasil, BIBLIEX, p.474. O texto acima demonstra o desgaste do império que terá como desfeito o fim do regime monárquico o qual pode-se afirmar que foi o resultado de uma série de fatores de diferentes relevâncias, destacando-se: (A) unicamente o xenofobismo despertado pelo conde d’Eu nos meios nacionalistas que não aceitavam o fato de o trono ser ocupado, após a morte de D. Pedro II, por um príncipe de origem estrangeira. (B) a disputa entre a Igreja e o Estado, sem dúvida, o fator prioritário na queda do regime, pois, após a chamada Questão Religiosa, o poder deste ficou inteiramente insustentável. (C) a maior força política da época: os barões fluminenses, defensores da Abolição como meio para diminuir a crise enfrentada pela produção cafeeira devido à queda dos preços no mercado internacional. (D) a aliança entre exército e burguesia cafeeira que, além da derrubada da monarquia, constituíram uma base social estável para o novo regime, formando os primeiros anos da República em um período de significativa estabilidade interna. (E) a doutrina positivista, defendida pelas elites, que se opunha a um executivo forte e reformista, defendendo a fragmentação do poder dentro do que concerne um sistema federativo de fato. 03 (CN) “Um dos documentos mais curiosos para a história da grande data de 15 de novembro consiste, a nosso ver, no aspecto inalterável da rua do Ouvidor, nos dias 15, 16 e 17, onde, a não ser a passagem das forças e a maior animação das pessoas, dir-se-ia nada ter acontecido. Tão preparado estava o nosso país para a República, tão geral foi o consenso do povo a essa reforma, tão unânimes as decisões que ela obteve, que na rua do Ouvidor, onde toda nossa vida, todas as nossas perturbações se refletem com intensidade, não perdeu absolutamente o seu caráter de ponto de reunião da moda. Nas folhas diárias vêm registrados os bailes, os teatros e a tranquilidade da rua do Ouvidor nos dias 15, 16 e 17. É este documento honrosíssimo para o povo brasileiro e a prova mais evidente de que sabemos esperar que as revoluções estejam maduras para as colhermos sem esforço e sem lutas”. THOME, José. “Crônica do Chic”. In: Revista iIlustrada, Rio de Janeiro, 14 dez. 1889. Com relação ao processo histórico comentado no texto acima, assinale a alternativa incorreta. (A) A Proclamação da República foi feita com pouca participação popular, e foi um movimento mais reformista do que revolucionário, uma vez que permaneceram as características estruturais da sociedade brasileira (economia agroexportadora, com pouca participação política popular). (B) A decretação da abolição da escravatura sem indenização para os antigos proprietários escravistas, reduziu ainda mais as bases de sustentação política do Império Brasileiro, fomentando o movimento republicano. (C) A Guerra do Paraguai (1865-1870) contribuiu para a Proclamação da República por vários aspectos, dentre os quais destaca-se o aumento do republicanismo e do abolicionismo nas Forças Armadas Brasileiras. (D) A penetração do Positivismo no Exército Brasileiro gerou entre os militares um forte sentimento republicano, contribuindo para o movimento de 15 de novembro, que pôs fim ao Império. (E) A Proclamação da República foi resultado de uma remodelação dos grupos sociais dominantes do Brasil. Ela acabou com a hegemonia das oligarquias cafeeiras do oeste paulista – enriquecidas pelo trabalho imigrante. 04 (CN) Estavam explícitos no Manifesto Republicano os princípios que norteariam o Partido Republicano criado após 1870, entre eles a: (A) manutenção do senado vitalício como fator de estabilidade política e do Poder Moderador garantindo a centralização. (B) criação de um Estado centralizado estimulando as atividades industriais e a submissão dos sindicatos operários ao Estado. (C) instalação de um regime republicano federativo com autonomia provincial e a separação entre o Estado e a Igreja. (D) aproximação entre o Estado e a Igreja insatisfeita com a questão religiosa e o estabelecimento da religião católica oficial. (E) criação do Conselho de Estado e a criação das eleições indiretas instituindo o voto censitário. 05 (PUC-RIO) Sobre a crise que afetou o Estado Imperial brasileiro, a partir de 1870, é correto afirmar que: I. A insatisfação de segmentos militares, desde o fim da Guerra do Paraguai, resultava, em larga medida, da percepção que possuíam a respeito do lugar secundário e subordinado que o Exército vinha ocupando no Estado Imperial. II. A crescente crise econômica e financeira decorria, entre outros fatores, da acentuada queda do preço do café no mercado europeu e norte- -americano, em um quadro marcado pela superprodução. III. O descontentamento da burguesia cafeeira do Oeste Novo paulista, em especial a partir da promulgação da Lei dos Sexagenários, resultava, em larga medida, do que considerava como uma excessiva centralização política e administrativa do governo imperial. EsPCEx – Vol. 3 210 O Segundo Reinado (II) - Política Externa e Crise do Império HISTÓRIA II Assunto 14 IV. O desagrado da nascente burguesia industrial originava-se da política monetária ortodoxa e do livre-cambismo que vinham sendo implementados pelos diversos gabinetes imperiais, desde os anos de 1840. V. O agravamento dos conflitos sociais, sobretudo nas cidades, decorria tanto da discussão e votação da Lei do Ventre Livre (1871) quanto da implementação de medidas protetoras dos libertos. Assinale: (A) Se somente as afirmativas I e III estão corretas. (B) Se somente as afirmativas I e V estão corretas. (C) Se somente as afirmativas II e III estão corretas. (D) Se somente as afirmativas II e IV estão corretas. (E) Se somente as afirmativas IV e V estão corretas. EsPCEx – Vol. 3 211 15 HISTÓRIA II ASSUNTO 1. Introdução Os historiadores denominaram os primeiros anos da República brasileira (1889-1930) de Primeira República ou República Velha. Esse período pode ser dividido em duas partes: a República das Espadas (1889- 1894), período em que o Brasil foi governado por oficiais do Exército, e a República Oligárquica (1894-1930), período em que representantes de segmentos aristocráticos estaduais exerceram o comando político nacional. Este módulo analisará os aspectos políticos e econômicos dessas duas fases da República Velha. 2. A República das Espadas (1889-1894) 1.1. O Governo Provisório do marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891) Deodoro assumiu interinamente a presidência da República, enquanto chefe do movimento de 15 de novembro de 1889, até a elaboração de uma nova constituição e a realização de eleições. A presença dos oficiais do Exército era vista pelos demais grupos que apoiaram a proclamação da República como elemento necessário à consolidação do movimento, caso ocorresse qualquer levante monárquico expressivo no Brasil, o que acabou não acontecendo. No dia 16 de novembro de 1889, Deodoro assinou o decreto de banimento da Família Real, para evitar a mobilização dos monarquistas contra a república recém-proclamada. Obs.: Logo após o banimento, D. Pedro II viajou para Portugal onde assistiu às cerimônias do enterro do rei Luís I. Em 1890, partiu para a França, onde faleceu vítima de pneumonia, em 5 de dezembro de 1891. Foi enterrado em Lisboa, mas, com a revogação do decreto de banimento em 1921, seus restos mortais foram transportados para a Catedralde Petrópolis. Outra medida importante foi a suspensão de instituições monárquicas como a Constituição de 1824 e o Padroado, de modo que criava-se um Estado laico a partir da separação entre Igreja Católica e Estado. Extinguiu-se a Câmara dos Deputados e o Senado Vitalício. Para integrar os milhares de imigrantes ao Estado, foi elaborado o programa de naturalização de estrangeiros. As antigas províncias foram transformadas em estados da Federação (federalismo), e foi elaborada a nova bandeira nacional, formada pelo antigo fundo verde e losango dourado, mas sem o brasão da Família Real. Em seu lugar, o globo azul com o lema dos militares positivistas “Ordem e Progresso”. Bandeira do Brasil Império EsPCEx – Vol. 3 No dia 24 de fevereiro foi promulgada a Constituição de 1891, a primeira constituição republicana no Brasil, fortemente inspirada no modelo norte-americano – o país foi denominado República dos Estados Unidos do Brasil. Entre as principais características da Constituição, vale citar: • Adoção de uma República presidencialista e federativa (os estados poderiam escolher seus próprios governantes, elaborar legislações estaduais, cobrar impostos, entre outras atribuições); • o Estado era dividido em Executivo, Legislativo (composto por uma Câmara dos Deputados e um Senado) e Judiciário; • proibição à organização sindical; • fim do voto censitário – adotava-se o sufrágio universal apenas para homens com mais de 21 anos alfabetizados, exceto mendigos, praças (militares que não possuíam patente) e padres. Desse modo, apesar do voto não ser mais censitário, excluía-se a maior parte da população brasileira. Além disso, o voto era aberto (voto que não era secreto), facilitando a prática da manipulação eleitoral (“voto de cabresto”) por parte das elites locais – os “coronéis”. A Constituição de 1891 decretava que todas as eleições seriam diretas com exceção da primeira eleição presidencial. As eleições foram bastante disputadas – a primeira chapa tinha Deodoro como presidente e o almirante Wandenkolk como vice; a segunda chapa tinha o cafeicultor Prudente de Morais como presidente e o marechal Floriano Peixoto como vice. A disputa entre as duas chapas refletia a rivalidade entre o presidente Deodoro e o Congresso Nacional, composto por um grande número de políticos ligados a setores aristocráticos. As oligarquias estaduais defendiam o federalismo, enquanto Deodoro, representante dos militares positivistas, era favorável à criação de um governo centralizado. A forte pressão dos militares praticamente forçou o Congresso a escolher Deodoro como presidente, mas o marechal Floriano foi eleito vice-presidente (à época, escolhia-se em separado presidente e vice). 2.2 O Governo Constitucional do marechal Deodoro da Fonseca (1891) A hostilidade entre o Congresso, comandado pelo Partido Republicano Paulista (PRP) e Deodoro tornava-se cada vez mais crítica. Até que Deodoro decretou “estado de sítio” (suspensão de garantias constitucionais como a liberdade de expressão) e o fechamento do Congresso Nacional, com o intuito de neutralizar as oposições. Contra o golpe de Deodoro, levantou-se o almirante Custódio de Melo que sublevou navios da Marinha, ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, caso Deodoro não renunciasse. Eleito em 25 de fevereiro de 1891, Deodoro renunciou em 23 de novembro do mesmo ano. 2.3 O governo de Floriano Peixoto (1891-1894) Floriano anulou o “estado de sítio” e tabelou o preço dos alimentos para conter a inflação crescente (essas medidas conferiram-lhe grande apoio popular). Contava com o apoio de membros da classe média, de diversos oficiais do Exército e, principalmente, de grupos oligárquicos que enxergavam no moderado centralismo de Floriano fator necessário para a consolidação da República recém-proclamada. A República Velha (I) - Análise Política e Análise Econômica 212 D is po ni ve l em : A República Velha (I) - Análise Política e Análise Econômica De acordo com o artigo 42 da Constituição de 1891, caso o presidente HISTÓRIA II Assunto 15 Ao contrário do que muitos imaginam, Minas Gerais não se projetou se afastasse com menos de dois anos de mandato, o vice assumiria com o intuito de convocar novas eleições. Logo, como Deodoro governou por alguns meses de 1891, Floriano Peixoto deveria convocar novas eleições. Entretanto, alegando que o artigo referia-se apenas a presidentes eleitos pelo voto direto (tanto Floriano quanto Deodoro foram eleitos pelo voto do Congresso), o presidente ignorou a Constituição e completou o mandato de Deodoro. A permanência de Floriano frustrou os planos de Custódio de Melo que pretendia se candidatar à presidência. O almirante recebeu o apoio do contra-almirante Saldanha da Gama e, juntos, organizaram a Revolta da Armada (1893), ocasião em que encouraçados da Marinha situados na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro ameaçaram bombardear diversas posições no Rio de Janeiro caso Floriano não renunciasse (movimento semelhante ao que culminou com a renúncia de Deodoro). Floriano ordenou que as fortalezas de Santa Cruz e São João abrissem fogo contra as embarcações insurgidas, debelando os insurgidos que partiram para o Rio Grande do Sul, onde ocorria outro levante contrário ao presidente. Em 1893, os federalistas gaúchos comandados por Silveira Martins se insurgiram contra a oligarquia local liderada por Júlio de Castilhos, aliado de Floriano. A Revolução Federalista foi sufocada com o apoio de tropas enviadas por Floriano Peixoto. Por atuar firmemente contra os oposicionistas, Floriano ganhou o apelido de “Marechal de Ferro”. Em 1893, foi eleito presidente por voto direto um representante das oligarquias paulistas, Prudente de Morais. Começava a República Oligárquica. 3. A República Oligárquica (1894- 1930) – análise política As oligarquias, grupos aristocráticos que controlavam as instituições políticas estaduais, eram formadas por um grande número de latifundiários e empresários que enfim conseguiam impor seus interesses por meio da direção do Estado brasileiro. Será feita a partir de agora uma análise dos principais mecanismos de controle político realizados nos governos dos presidentes incluídos nesse período, que são: • Prudente de Morais (1894-1898); • Campos Sales (1898-1902); • Rodrigues Alves (1902-1906); • Afonso Pena (1906 – faleceu em 1909); • Nilo Peçanha (1909-1910 / vice de Afonso Pena); • Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914); • Venceslau Brás (1914-1918); • Rodrigues Alves (1918 / faleceu pouco após a posse vítima de gripe espanhola); • Delfim Moreira (1918-1919 / vice de Rodrigues Alves que convocou novas eleições em respeito ao artigo 42 da Constituição de 1891); • Epitácio Pessoa (1919-1922); • Artur Bernardes (1922-1926); • Washington Luis (1926-1930). 3.1 A política do “café com leite” As duas principais oligarquias eram São Paulo, representada pelo PRP, e Minas Gerais, representada pelo Partido Republicano Mineiro (PRM). Desde 1870, os cafeicultores paulistas compunham a elite econômica nacional uma vez que o oeste do estado tornou-se a principal área produtora de café. no cenário político nacional pela produção de leite e derivados. A projeção do estado devia-se ao fato de que possuía o maior colégio eleitoral, ou seja, a maior quantidade de indivíduos aptos ao voto. Esse pacto oligárquico fez com que o PRP e o PRM se revezassem na presidência. Comumente, os presidentes do período eram paulistas ou mineiros, não necessariamente naturais dos estados, mas representantes de seus interesses (Epitácio Pessoa era paraibano, Hermes da Fonseca era gaúcho e Washington Luis era natural do Rio de Janeiro, mas não deixaram de estar próximos às suas oligarquias). Os presidentes, ora paulistas ora mineiros, eram eleitos com apoio das oligarquias e, em troca, representavamseus interesses, configurando uma aliança nacional que proporcionava o controle do Executivo federal e estadual. 3.2 A Política dos Governadores Assim como a política do “café com leite”, a política dos governadores (ou política dos estados) nasceu no governo do presidente Campos Sales. Determinava uma aliança entre o governo federal e os governos estaduais, controlados pelas várias oligarquias. Por meio dessa política, o presidente garantiria a autonomia dos governos estaduais. Ou seja, na prática, a política dos governadores contribuiu para a consolidação do federalismo no Brasil. Em troca, os governos estaduais garantiriam que as eleições para composição do legislativo federal (deputados e senadores) apresentassem candidatos em sua maioria fiéis às propostas do presidente, minimizando assim a oposição no Congresso Nacional. Para garantia do resultado eleitoral, os governos estaduais utilizavam o apoio das autoridades municipais, em grande parte formada por latifundiários – os “coronéis”. O “voto de cabresto” era baseado na violência física ou na troca de favores entre eleitores coronéis. As fraudes eleitorais também eram uma tônica nas eleições – violação de urnas, voto de indivíduos que não existiam ou que já haviam falecido. Essas práticas garantiam a hegemonia das oligarquias nas várias instâncias do governo. Diante das acusações de fraudes, foi criada a Comissão Verificadora, formada por deputados que validavam o resultado das eleições de modo a evitar que políticos eleitos por fraudes fossem diplomados. Na prática, o que ocorria era que os políticos oposicionistas dificilmente eram diplomados, conferindo certa previsibilidade ao resultado do processo eleitoral uma vez que geralmente os candidatos apoiados pelas oligarquias eram eleitos. 4. O Brasil e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) Em outubro de 1917, o Brasil declarou guerra aos países da Tríplice Aliança, em virtude do ataque dos navios mercantes brasileiros Tijuca, Paraná, Lapa e Macau. Os navios levavam produtos para os países da Entente e foram afundados por submarinos alemães. O Brasil enviou uma missão de médicos e embarcações para patrulhamento no Atlântico, não se envolvendo diretamente em nenhuma grande batalha. Nos tópicos anteriores,foram analisados os aspectos políticos característicos da República Velha. Agora, o foco está nas transformações econômicas da primeira fase da República brasileira. EsPCEx – Vol. 3 213 HISTÓRIA II Assunto 15 5. O ENCILHAMENTO (1890) Do ponto de vista econômico-financeiro, o governo do marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891) destacou-se pelo encilhamento (1890), elaborado pelo então ministro da Fazenda Rui Barbosa. Consistia na emissão de papel-moeda sem lastro-ouro para promover a superação da crise financeira (escassez de dinheiro circulando na economia) provocada pelos altíssimos pagamentos à Inglaterra por conta da Guerra do Paraguai e a maior necessidade de papel-moeda provocada pela expansão do trabalho assalariado e das atividades urbano-industriais. Outro objetivo do encilhamento era o estímulo às indústrias, que receberiam empréstimos para expandir suas atividades. Apesar da boa intenção, o encilhamento mostrou-se um “desastre financeiro” uma vez que a emissão descontrolada promoveu a desvalorização da moeda e, consequentemente, uma grave inflação. Como o governo não possuía uma fiscalização eficiente sobre as atividades das empresas, surgiram diversas “empresas fantasmas”, que existiam apenas no papel para obtenção dos empréstimos e para especulação na Bolsa de Valores. Obs.: O termo “encilhamento” era uma associação entre a forte especulação na Bolsa de Valores e a agitação das apostas nas corridas de cavalo do Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Charge de Angelo Agostini sobre o encilhamento publicada na Revista História Viva (Abril, 2008) – Enquanto os pobres jogam no bicho, os ricos arriscam na Bolsa de Valores 5.1 O funding loan (1898) Após a divulgação das eleições, mesmo antes de tomar posse, Campos Sales (1898-1902) e seu ministro da Fazenda Joaquim Murtinho partiram para a Inglaterra para renegociar o pagamento da dívida externa brasileira – era o funding loan (“empréstimo de consolidação”). A renegociação, feita principalmente ao Banco Rotschild, tinha como objetivo reduzir a inflação e solucionar a crise financeira e a intensa desvalorização monetária agravada pelo encilhamento. As negociações resultaram nos seguintes termos: • suspensão do pagamento da dívida externa brasileira por 3 anos; • suspensão do pagamento dos juros da dívida por 13 anos; • obtenção de um novo empréstimo; • como garantia de pagamento, o Brasil oferecia as receitas da Alfândega do Porto do Rio de Janeiro, da Estrada de Ferro Central do Brasil entre outras, se necessário. Joaquim Murtinho, por solicitação dos credores internacionais, cortou gastos públicos e realizou a queima de papel moeda para reduzir a quantidade de meio circulante, promovendo sua valorização. Na prática, apesar da recessão causada pelas medidas, o funding loan permitiu a superação da crise financeira dos tempos de encilhamento. 6. O Convênio de Taubaté (1906) Nos primeiros anos do século XX, já era evidente a superprodução de café no Brasil e seu principal efeito – a desvalorização do produto que corroia os lucros dos cafeicultores brasileiros e a economia nacional ,dependente da exportação do produto. Esse quadro fez com que os governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, reunidos em Taubaté em 1906, ainda no governo do presidente Rodrigues Alves (1902-1906), aprovassem um conjunto de medidas para superação da crise. Os governos estaduais comprariam os estoques de café que não fossem de imediato comercializados no mercado internacional. Poderiam até mesmo contrair empréstimos internacionais para tal fim. Assim, a oferta de café no mercado seria regulada pelo Estado que venderia os estoques nos momentos de alta do preço. Os impostos sobre os novos cafezais foram elevados para evitar a expansão da produção. Mas a falta de fiscalização provocou a ampliação da produção gerando estoques que apodreciam diante da incapacidade de venda por parte do Estado – era a socialização dos prejuízos. 7. O surto da borracha (XIX-XX) e a questão do Acre (1903) Na virada do século XIX para o século XX, a Segunda Revolução Industrial na Europa e EUA elevou a necessidade do látex para a produção de borracha para equipamentos bélicos e automóveis. A procura pelo látex valorizou o produto e determinou o deslocamento de grande contingente populacional, principalmente de áreas como o Nordeste, para a Região Amazônica em busca do enriquecimento nos seringais. O surto da Borracha foi fundamental para a ocupação da região, evidenciada no crescimento da cidade de Manaus. O Teatro de Manaus, inaugurado em 1896, é um dos grandes símbolos do desenvolvimento da cidade Entretanto, a maior parte das riquezas ficava nas mãos dos seringalistas, os proprietários dos seringais, que muitas vezes forjavam documentos de posse para estabelecer o direito sobre terras invadidas na região. Em 1903, um grupo de seringueiros brasileiros invadiu parte do território boliviano, a província do Acre, para explorar látex, causando um incidente diplomático entre o Brasil e a Bolívia. O incidente foi resolvido, após a ocorrência de confrontos armados entre brasileiros e autoridades bolivianas, pela ação diplomática do barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores do Brasil. Este intermediou a assinatura do Tratado de Petrópolis (1903), o qual estabeleceu que o Brasil compraria o território invadido por 2 milhões de libras e comprometia- EsPCEx – Vol. 3 214 D is p on ív el e m : . D is po ní ve l em : . A República Velha (I)- Análise Política e Análise Econômica HISTÓRIA II Assunto 15 se a construir uma ferrovia que permitisse a conexão entre a Bolívia e o Oceano Atlântico. As obras foram iniciadas em 1907, mas só foram concluídas em 1912. Porém, a partir de 1910, a concorrência da borracha produzida nas colônias britânicas do Sudeste Asiático fez com que a produção brasileira entrasse em declínio. Obs.: A crescente ocupação da Região Amazônica ampliou os contatos entre brasileiros e tribos indígenas até então isoladas. O resultado: a destruição de diversas tribos pelos exploradores que sensibilizou indivíduos como o marechal Cândido Rondon. Por meio da Sociedade de Proteção do Índio (SPI), criada em 1910, no governo do então presidente Nilo Peçanha (1909-1910), Rondon procurou proteger tais comunidades do genocídio. 8. O surto industrial durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) A economia brasileira baseada na agroexportação produzia poucos gêneros industrializados, dependendo em grande parte das importações de bens de consumo principalmente europeus. Porém, ao longo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as exportações de bens de consumo europeus reduziram drasticamente uma vez que o conflito deslocava os segmentos produtivos para vitória na guerra. A redução da oferta de produtos importados fez com que muitos empresários brasileiros investissem na produção industrial, com o intuito de lucrar a partir da diversificação dos investimentos oriundos, em sua maioria, dos lucros do café (capital privado nacional). A substituição dos importados por produtos produzidos no Brasil ocorreu principalmente em áreas como São Paulo e Rio de Janeiro, áreas onde os recursos oriundos do café somavam-se a melhor infraestrutura (estradas, energia, etc.) e o melhor mercado consumidor (concentração demográfica) para gerar boas condições para a difusão da produção industrial. Nessa época, a produção de bens de consumo não duráveis foi priorizada pelos investidores, principalmente tecidos e alimentos. 01 (CN) Com a instalação da República no Brasil, algumas mudanças fundamentais aconteceram. Entre elas, destacam-se: (A) a militarização do poder político e a universalização da cidadania. (B) a descentralização do poder político e um regime presidencialista forte. (C) um poder executivo frágil e a criação de forças públicas estaduais. (D) a aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos e a instituição do voto secreto. (E) a fundação do Banco do Brasil e a descentralização do poder político. 02 (CN) O coronelismo foi importante na manutenção da dominação política das oligarquias durante a República Velha porque os coronéis: (A) eram os únicos aptos a votarem no campo, em virtude do voto ser censitário. Com isso, os estados majoritariamente rurais tinham todos os seus votos controlados pelos coronéis. (B) não se envolviam nas eleições presidenciais em troca da manutenção de seu poder e autonomia em suas regiões. Dessa forma, as oligarquias garantiam a eleição dos candidatos de seu agrado. (C) perderam o controle que tinham sobre o processo eleitoral em virtude do voto ser secreto. No entanto, graças a sua força econômica, podia, influenciar nas eleições por meio do financiamento das campanhas. (D) recebiam favores políticos do Poder Central, e em troca cuidavam para que os votos em sua região fossem para o candidato indicado pelas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais (que controlavam a sucessão presidencial). (E) mantinham no campo uma rígida separação entre as atribuições do poder público e seu poder privado, garantindo assim a idoneidade do processo eleitoral. 03 (MAKENZIE) Não posso mais suportar este Congresso; é mister que ele desapareça para a felicidade do Brasil. Deodoro da Fonseca A afirmação anterior, que antecedeu o golpe do marechal Deodoro, ocorreu porque: (A) tanto quanto Fernando Henrique Cardoso, Deodoro não conseguia aprovar as reformas administrativa e da previdência. (B) o Congresso aprovara a Lei de Responsabilidade, que reduzia as atribuições do presidente, criticado pelo autoritarismo. (C) o governo de Deodoro, marcado por atitudes democráticas e lisura administrativa, gerava a oposição de grupos oligárquicos. (D) eleito pelo povo em pleito direto, Deodoro da Fonseca sofria forte oposição do Legislativo. (E) as bem-sucedidas reformas econômicas de seu governo provocaram a insatisfação de grupos atingidos em seus privilégios. 04 (UFPEL) Analise o documento sobre as eleições no Brasil. “A verdade eleitoral – A moralidade política não permitirá que a verdade saia nua das urnas.” K. Lixto. D. Quixote, 20 fev. 1918. A charge critica o sistema eleitoral no período da(o): (A) República Velha, quando o voto era aberto e não havia Justiça Eleitoral. (B) Estado Novo, quando o autoritarismo de Vargas manipulou o eleitorado. (C) Segunda República, quando as eleições diretas para presidente, por meio do voto “a cabresto”, elegeram Vargas. (D) República do café com leite, dominada pelas oligarquias paulista e mineira, que usavam o voto censitário para se alternarem no poder. (E) Primeira República, quando o PSD e a UDN se valiam da violência e fraudes para alcançar o poder. EsPCEx – Vol. 3 215 D is po ní ve l em : . HISTÓRIA II Assunto 15 05 (CESGRANRIO) Industrializar o Brasil e realizar a independência econômica frente ao capitalismo europeu eram os objetivos da política econômica formulada por Rui Barbosa, ministro da Fazenda, nos primeiros anos da República. Assinale a única das medidas listadas a seguir que está relacionada com essa política econômica: (A) Facilitar as exportações de máquinas e equipamentos. (B) Aumentar os empréstimos à lavoura, principalmente a do café. (C) Impor austeridade aos gastos públicos. (D) Enxugar o meio circulante. (E) Estimular a produção interna de bens de consumo duráveis. 06 (CEFET) O Convênio de Taubaté (1906), firmado entre os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, tinha como objetivo: (A) promover investimentos baseados em capitais externos no país, por meio do controle cambial. (B) estimular o desenvolvimento da indústria de bens de consumo não duráveis na Região Sudeste. (C) criar mecanismos políticos eficazes para a intervenção do Estado no mercado de produção cafeeira. (D) diversificar a produção agrícola brasileira para o atendimento aos pequenos produtores rurais. 01 (FUVEST) No Brasil, a década de 20 foi um período em que: (A) velhos políticos da República, como Rui Barbosa, Pinheiro Machado e Hermes da Fonseca, alcançaram grande projeção nacional. (B) as forças de oposição às chamadas “oligarquias carcomidas” se organizaram, sem contudo apresentar alternativas de mudança. (C) as propostas de reforma permanecendo letra morta, não se configurou nenhuma polarização político-ideológica. (D) a aliança entre os partidos populares e as dissidências oligárquicas culminou com a derrubada da República Velha nas eleições de 1º de março de 1930. (E) ocorreram agitações sociais e políticas, movimentos armados, entre eles a Coluna Prestes, e várias propostas de reforma foram debatidas. 02 (MACKENZIE) A política dos governadores, praticada durante a República Velha, tinha como base de sustentação: (A) a manipulação exclusiva das massas urbanas. (B) o voto do analfabeto, garantido na Constituição de 1891. (C) o coronelismo, que por meio dos “currais eleitorais” garantia a vitória para os candidatos oficiais. (D) o movimento operário, que era atendido em suas reivindicações trabalhistas. (E) a política de valorização do café, que favorecia todos os segmentos da sociedade. 03 (PUC-CAMP) Considere os excertos a seguir. I. “... a classe dos fazendeiros de café se conservava e se eternizava no governo graças a uma máquina eleitoralque se estendia por todo o país, mergulhando suas raízes na terra...” II. “... o Estado (...) é todo ele marcado pelo arbítrio dos governantes contra setores populares que se organizavam para reduzir a exploração...” III. “... a política dos governadores permitia às classes dominantes dos Estados mais poderosos (...) preservar e fortalecer o poder do grupo que dominava o aparelho estatal...” Os governos da Primeira República brasileira ficaram conhecidos como oligárquicos, em virtude de apenas um grupo estar ali representado. Esses governos estão corretamente identificados em: (A) apenas II. (D) apenas II e III. (B) apenas I e II. (E) I, II e III. (C) apenas I e III. 04 (CN) O então presidente Campos Sales, mesmo antes de assumir o governo, em 1898, partiu em viagem para a Europa, a fim de estabelecer conversações com os bancos credores e tentar negociar uma saída para a questão da dívida externa. Acabou por acertar, em junho de 1898, o funding loan, acordo entre o governo brasileiro e os bancos credores, notadamente a casa N.M. Rothschild & Sons, que, entre outras coisas estabelecia: (A) um acordo entre o governo brasileiro e o norte-americano, pelo qual este último concedia um empréstimo ao Brasil e aumentava os preços do café, mediante a diminuição dos impostos sobre esse produto. (B) a penhora, a título de garantia para com os bancos credores, de toda a receita da alfândega de Santos, além de, em caso de necessidade, outras alfândegas, das receitas da Estrada de Ferro Mogiana e até do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro. (C) o empréstimo concedido pelo Grupo Rothschild para que o governo brasileiro pudesse financiar sua produção industrial, ameaçada de colapso devido à crise acentuada da produção cafeeira. (D) a obrigação assumida perante os bancos de sanear a moeda brasileira, isto é, enfraquecê-la pelo estímulo à inflação, com o objetivo de estabilizar a economia do país. (E) o acordo realizado por Campos Sales com os credores externos, pelo qual era suspenso o pagamento dos juros dos empréstimos anteriores, contraindo-se para isso um novo empréstimo. 05 (CN) Em 17 de janeiro de 1890, Deodoro da Fonseca assinou um projeto de reforma financeira elaborado por seu ministro da Fazenda, Rui Barbosa, que ficou conhecido como encilhamento. Quais os aspectos dessa reforma? (A) Primeiro programa econômico da República, constituiu-se numa política de emissão de moeda para possibilitar ao Estado a compra do excedente de café produzido pelos oligarcas. (B) Propunha a taxação de produtos importados por meio da Tarifa Alves Branco, com o objetivo de fomentar a produção nacional. Graças a essa política, o Brasil passou por um surto industrial que, no entanto, não foi suficiente para romper com a orientação agro exportadora. (C) Programa econômico que conciliava abertura ao capital estrangeiro e aumento dos impostos. Foi uma política bem sucedida, na medida em que permitiu ao Brasil a superação das tendências unicamente agro exportadoras. (D) Visava aumentar o meio circulante e fomentar a indústria, por meio da concessão de créditos gerados pela emissão de moeda. No entanto, os resultados práticos foram um aumento da inflação e uma fonte especulativa, causada pela venda dos títulos das empresas recém- -criadas. (E) Política que visava controlar a inflação por meio de medidas recessivas, como a contenção do crédito e da emissão de moeda. Ela teve como resultado o saneamento das contas públicas, que se encontravam desordenadas devido à crise final do Império brasileiro. EsPCEx – Vol. 3 216 A República Velha (I) - Análise Política e Análise Econômica HISTÓRIA II Assunto 15 06 (PUC-MG) Tudo se torceu, tudo se falseou, tudo se confundiu. De um sistema cheio de correspondências complexas e sutis, onde não se podia tocar em qualquer parte, sem modificar a ação das outras, fizeram um atarrancado de ferros velhos, digno de figurar numa exposição industrial de doidos. Rui Barbosa. “Finanças e Política”. Com esse desabafo, o ministro da Fazenda do Governo Provisório da República tenta justificar, perante a opinião pública, o fracasso de sua política financeira. São efeitos imediatos dessa política, exceto: (A) a inflação desenfreada, falência de inúmeras empresas e desvalorização da moeda nacional em relação à libra esterlina. (B) a substituição dos capitais ingleses por norte-americanos para restaurar e equilibrar o combalido sistema financeiro brasileiro. (C) a alta geral do custo de vida, instabilidade financeira e profundo desequilíbrio nas contas externas do país. (D) a enorme especulação gerada pelo surgimento de empresas-fantasma, cujo objetivo era obter facilidade de crédito bancário. EsPCEx – Vol. 3 217 16 HISTÓRIA II ASSUNTO 1. Introdução O controle político das oligarquias excluía a maior parte da população brasileira da assistência do Estado. O resultado foi a eclosão de diversos conflitos sociais, tanto no campo quanto nos centros urbanos, que têm em comum a resposta violenta das forças repressoras. 2. A Guerra de Canudos (BA/1896-97) No sertão nordestino, uma grave seca na década de 1870 agravava a já sofrida existência dos nordestinos. A fome, o descaso das autoridades e a exploração dos latifundiários compunham a dramática rotina dos sertanejos. É nesse ambiente que o cearense Antônio Vicente Mendes Maciel encontrou seus seguidores. O ex-funcionário público, conhecido como Antônio “Conselheiro”, abandonou família e emprego em busca de uma missão, segundo ele, de inspiração divina. Peregrinando pelo sertão, angariou nordestinos que o seguiram para formação de uma comunidade localizada às margens do rio Vaza-Barris, no arraial do Belo Monte. A comunidade de Canudos arregimentou cerca de 30 mil pessoas, onde as famílias produziam para subsistência e comercializavam os excedentes com as comunidades pobres vizinhas. À medida que a comunidade crescia, preocupavam-se tanto os grandes proprietários de terra (que perdiam mão-de-obra barata) quanto a Igreja Católica (que perdia fiéis) e o Estado. Afinal, eram milhares de indivíduos que não respeitavam as determinações constitucionais, nem reconheciam a autoridade governamental. Um dos argumentos do governo para legitimar a destruição de Canudos foi a suposta defesa do monarquismo por Conselheiro. Na verdade, Conselheiro era sebastianista (acreditava no retorno do rei D. Sebastião de Portugal, desaparecido em 1578, pouco antes da eclosão da União Ibérica), fato utilizado para qualificar o movimento como uma ameaça à consolidação da república no Brasil. A guerra para desarticular a comunidade de Canudos foi responsável pelo envio de três expedições do Exército para a região, todas destruídas – a última culminou com a morte do coronel Moreira César. A resistência tenaz dos seguidores de Conselheiro fez com que o Ministro da Guerra, Marechal Carlos Bittencourt, assumisse o comando da guerra, enviando um contingente de mais de 5000 soldados para a região. A ordem: destruir Canudos. Obs.: Segundo o escritor Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5.000 soldados”. Vista geral de Canudos 3. A Guerra do Contestado (RS-SC/1912-16) Numa região contestada pelos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (origem do nome dado à área de conflito), a miséria dos camponeses e a exploração dos latifundiários foram responsáveis