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Aula 4: Governança Corporativa Metas Apresentar ao estudante os conceitos fundamentais da Governança Corporativa, sua importância para as organizações e um breve histórico sobre o tema. Objetivos Ao fim desta aula, esperamos que você consiga: 1. Definir e compreender o que é Governança Corporativa; 2. Identificar e classificar os princípios da Governança Corporativa; 3. Identificar os principais atores da Governança Corporativa; 4. Conhecer a história e as organizações relacionadas com a Governança Corporativa Introdução: Uma estrutura de governança para as organizações Saudações, estudante de Ciências Contábeis! Nessa aula, você irá conhecer a Governança Corporativa: conceito, princípios e a história desse instituto. Outra informação importante que você receberá está relacionada com os institutos de governança corporativa. Você aprenderá a identificar cada um deles e o seu papel na governança. Além disso, verificará como este tema é importante para as empresas e, obviamente, relaciona-se com a Auditoria. Outro tema importante desta nossa aula: o contato inicial com Compliance (ou Conformidade). Este tema tem sido muito frequente nas empresas, principalmente, em seguimentos específicos. Vamos aprender um pouco mais sobre governança corporativa! 1.1 Fundamentos da Governança Corporativa De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, o qual você conhecerá um pouco melhor mais à frente, “Ao longo do século 20, a economia dos diferentes países tornou-se cada vez mais marcada pela integração aos dinamismos do comércio internacional, assim como pela expansão das transações financeiras em escala global. Neste contexto, as companhias foram objeto de sensíveis transformações, uma vez que o acentuado ritmo de crescimento de suas atividades promoveu uma readequação de sua estrutura de controle, decorrente da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. A origem dos debates sobre governança corporativa remete a conflitos inerentes à propriedade dispersa e à divergência entre os interesses dos sócios, executivos e o melhor interesse da empresa”. Ou seja, à medida em que as empresas cresciam, foram contratados gestores para conduzir os negócios, ampliaram os números de seus sócios ou acionistas e o relacionamento entre esses diversos atores, por vezes, apresentavam (e ainda podem apresentar) conflitos. Além disso, durante a primeira década do século 21, a Governança Corporativa ganhou ainda mais destaque por conta de eventos negativos no ambiente de negócios norte- americano, especificamente, em empresas como a Enron, a WorldCom e a Tyco. Lamentavelmente, esses escândalos eram relacionados com a informação contábil e a atuação das empresas de auditoria independente. Em resposta a tais eventos, congresso norte-americano aprovou a Lei Sarbanes-Oxley (SOx), com importantes definições sobre práticas de governança corporativa. Ainda de acordo com o IBGC, ao longo do tempo foi percebido que os investidores estavam dispostos a pagar um valor maior na compra de ações de empresas que adotassem boas práticas de governança corporativa e que tais práticas não apenas favorecessem os interesses de seus proprietários, mas também a longevidade das empresas. A Teoria do Agente-Principal Jensen e Meckling (1976) publicaram pesquisas realizadas em empresas norte-americanas e britânicas, apresentando o problema de agente-principal, que deu origem à chamada Teoria da Firma ou Teoria do Agente-Principal. De acordo com tal Teoria, o problema do agente-principal surge quando o sócio (o principal) contrata outra pessoa (o agente) para que administre a empresa em seu lugar. Segundo essa Teoria, os executivos da empresa e conselheiros contratados pelos acionistas tenderiam a agir de forma a maximizar ou ampliar seus próprios benefícios (salários maiores, mais poder, dentre outros), agindo em mais em interesse próprio e não segundo os interesses da empresa, de todos os acionistas e demais partes interessadas. Procurando minimizar ou reduzir esse problema, os citados autores sugeriram que as empresas e seus acionistas deveriam adotar um conjunto de medidas que alinhe os interesses dos envolvidos, objetivando, acima de tudo, o interesse da organização. Assim, foram propostas medidas que incluíam práticas de monitoramento, controle e ampla divulgação de informações. A este conjunto de práticas deu-se o nome de Governança Corporativa. A Governança Corporativa, de acordo com o IBGC, pode ser conceituada como um “sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”. Vamos refletir um pouco sobre esse conceito? Governança Corporativa é um Sistema Como um sistema, a governança corporativa se relaciona com elementos e atores internos e externos. Um sistema formado por políticas, procedimentos, regras, códigos. Governança Corporativa é aplicada para as empresas e demais organizações A Governança Corporativa é aplicada para a própria organização, mas também integra outras instituições que com ela se relacionam, como fornecedores, clientes, funcionários, concorrentes etc. Embora a Governança Corporativa tenha surgido para o ambiente das empresas, ela tem sido cada vez mais estimulada para outros tipos de organizações como instituições de terceiro setor. Além disso, a Governança Corporativa pode ser aplicada tanto para empresas de grande porte, como médio ou menor porte (ainda que seja adaptada ao seu porte). Governança Corporativa: direção, monitoramento e incentivo A Governança Corporativa, como um sistema, possibilita uma melhor direção para a organização, bem como o seu constante monitoramento. Além disso, a Governança Corporativa estimula e incentiva uma gestão que procure maximizar os interesses da organização. Governança Corporativa envolve o relacionamento entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas Por meio da Governança Corporativa a empresa procura minimizar os conflitos entre os diversos atores da organização e seus acionistas, promovendo o ambiente mais favorável para todos que dela participam. Um outro conceito que devemos considerar sobre Governança Corporativa é o apresentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em suas RECOMENDAÇÕES DA CVM SOBRE GOVERNANÇA CORPORATIVA (2002): “Governança corporativa é o conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital”. Como vimos, para a CVM, a Governança Corporativa tem como objetivo otimizar o desempenho de uma companhia, visa proteger todos os atores que se relacionam com a empresa e ainda possibilitar aquisição de recursos. Assim como fizemos com o conceito apresentado pelo IBGC, vamos refletir também o conceito fornecido pela CVM? Governança Corporativa como otimizadora do desempenho As empresas que adotam as práticas de Governança Corporativa têm como objetivo otimizar o desempenho de um modo geral, contemplando desempenho financeiro, desempenho operacional, por exemplo. Ou seja, há uma identificação com o desempenho. Governança Corporativa e a proteção de todas as partes interessadas (investidores, empregados e credores) Apesar de a CVM citar essas três categorias (investidores, empregados e credores), as empresas têm outros atores que compõem as partes interessadas: fornecedores, clientes, concorrentes, parceiros, instituições governamentais, órgãos reguladores, financiadores, a própria sociedade, dentre possíveis outros. Com a Governança Corporativa, a empresa procuraevitar conflitos entre as partes, protegendo todas elas, umas das outras. Essa proteção é fundamental para que existam as relações mais equilibradas possíveis e, deste modo, um ambiente mais equitativo para todos. Governança Corporativa como facilitador de acesso a capital Uma empresa que adote a Governança Corporativa tem mais acesso a recursos de terceiros, seja por meio do sistema bancário ou pelo mercado de capitais. Há bancos e financiadoras que concedem linhas mais baratas para empresas que tenham Governança Corporativa. No mercado de ações, empresas que possuem governança corporativa são mais bem classificadas nos segmentos de listagem da bolsa de valores brasileira (a B3) e, deste modo, são mais atrativas para os investidores e com melhor valor de negociação de suas ações. (Inserir Box Para saber Mais e figura ( ) As empresas brasileiras que comercializam suas ações na bolsa de valores, B3, podem ser classificadas em segmentos especiais, em função da sua adesão e comprometimento com a governança corporativa. Isto é, quanto maior for sua governança corporativa, mais especializado será o segmento ao qual ela fará parte na B3. Conforme pode ser verificado no site da B3, os segmentos Bovespa Mais, Bovespa Mais Nível 2, Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2 foram criados no momento em que se percebeu que, para desenvolver o mercado de capitais brasileiro, era necessário ter segmentos adequados aos diferentes perfis das empresas. Todos esses segmentos prezam por regras de governança corporativa diferenciadas. Tais regras excedem às obrigações que as companhias precisam seguir pela legislação societária e têm como finalidade a melhoria na avaliação das empresas que decidem aderir a um desses segmentos, de forma voluntária. Adicionalmente, essas regras atraem possíveis investidores. Agora que já sabemos dois conceitos importantes para Governança Corporativa, vamos conhecer os princípios que regem este tema. 1.2 Princípios de Governança Corporativa A literatura que trata do tema reconhece quatro princípios básicos de Governança Corporativa, os quais serão apresentados com base no que prega o IBGC: Transparência: trata-se do desejo ou intenção de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômico- financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da organização; Equidade: consiste no tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas; Prestação de Contas: define que os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis; Responsabilidade corporativa: tal princípio afirma que agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos. Na prática, a Governança Corporativa busca operacionalizar tais princípios com algumas ações como, por exemplo: permitir imediatamente que os acionistas detentores de ações preferenciais elejam um membro do conselho de administração, por indicação e escolha próprias; assembleias gerais sendo realizadas em data e hora que não dificultem o acesso dos acionistas; conselho de administração insere na pauta matérias relevantes e oportunas sugeridas por acionistas minoritários, independentemente do percentual exigido por lei para convocação de assembleias geral de acionistas; definindo que os cargos de presidente do conselho de administração e presidente da diretoria (executivo principal) devem ser exercidos por pessoas diferentes etc. 1.3 Quem são os responsáveis pela Governança de uma organização? Quando observamos uma pequena empresa, é muito fácil identificar quem está sendo o responsável por conduzir a governança naquela instituição. Em geral, é o próprio “dono” (proprietário) da empresa. À medida que o porte da empresa vai se tornando maior, mais robusto, essa governança não deve estar centralizada em uma pessoa única. A governança deve ser compartilhada pelos responsáveis ou agentes da governança. Como afirma o IBGC (2015, p. 17), os agentes de governança têm papel relevante no fortalecimento e na disseminação do propósito, dos princípios e dos valores da organização. A liderança e o comprometimento dos administradores e demais executivos são fatores determinantes para a formação de um ambiente. Fonte: IBGC, 2015, p. 19 (Fim da Figura) Os sócios, aqueles que detêm o capital da organização, exercem sua responsabilidade na governança em momentos como: a participação nas assembleias de acionistas de forma diligente e informada, a votação consciente durante as decisões, conhecimento dos pareceres e documentos elaborados pelos órgãos de controle da sociedade, dentre outras. A participação do sócio na organização é fundamental para que os objetivos estratégicos da companhia possam se concretizar. O conselho de administração é o órgão colegiado encarregado do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico. Ele exerce o papel de guardião dos princípios, valores, objeto social e do sistema de governança da organização, sendo seu principal componente. A composição do Conselho de administração (CA) deve contar com perfis especializados e interdisciplinares. Uma prática recomendada é que conte com número ímpar de conselheiros, entre 5 e 11 componentes. Os conselheiros devem agir de forma independente, sem conflitos de interesses. Observação: O Comitê de Auditoria, um órgão de assessoramento do conselho de administração, auxilia no controle sobre a qualidade de demonstrações financeiras e controles internos, visando a confiabilidade e integridade das informações para proteger a organização e todos as partes interessadas O comitê de auditoria deve contar somente com conselheiros e que o coordenador seja um conselheiro independente. Caso isso não seja possível, o comitê deve ser composto de forma que um conselheiro seja o coordenador e a maioria de seus membros também sejam conselheiros. Importante ressaltar que pelo menos um dos membros do comitê de auditoria deve ter experiência comprovada em assuntos contábeis, controles internos, informações e operações financeiras, e auditoria independente. Diretoria, de acordo com o IBGC, é o órgão responsável pela gestão da organização, cujo principal objetivo é fazer com que a organização cumpra seu objeto e sua função social. Ela executa a estratégia e as diretrizes gerais aprovadas pelo conselho de administração, administra os ativos da organização e conduz seus negócios. Por meio de processos e políticas formalizados, a diretoria viabiliza e dissemina os propósitos, princípios e valores da organização. Este órgão é responsável pela elaboração e implementação de todos os processos operacionais e financeiros, inclusive os relacionados à gestão de riscos e de comunicação com o mercado e demais partes interessadas. Conselho Fiscal, ainda de acordo com o que prescreve o IBGC, é parte integrante do sistema de governança das organizações brasileiras. Pode ser permanente ou não, conforme dispuser o estatuto. Representa um mecanismo de fiscalização independente dos administradores parareporte aos sócios, instalado por decisão da assembleia geral, cujo objetivo é preservar o valor da organização. Os conselheiros fiscais possuem poder de atuação individual, apesar do caráter colegiado do órgão. Auditoria independente, embora não seja responsável pela governança da organização que está auditando, exerce um papel essencial no sistema de governança corporativa das organizações. Segundo o IBGC, apoiado no trabalho da auditoria independente, o conselho de administração e a diretoria são responsáveis por assegurar a integridade das demonstrações financeiras da organização, preparadas de acordo com as práticas contábeis vigentes das respectivas jurisdições em que a organização mantenha suas atividades. A atribuição principal do auditor independente é emitir, observadas as disposições aplicáveis, opinião sobre se as demonstrações financeiras preparadas pela administração representam adequadamente, em todos os seus aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da organização A Auditoria Interna tem a responsabilidade de monitorar, avaliar e realizar recomendações visando a aperfeiçoar os controles internos e as normas e procedimentos estabelecidos pelos administradores. As organizações devem possuir uma função de auditoria interna, própria ou terceirizada. A diretoria e, particularmente, o diretor-presidente também são diretamente beneficiados pela melhoria do ambiente de controles decorrente de uma atuação ativa da auditoria interna (IBGC, p. 90). Atividade 1 Complete as lacunas indicadas abaixo, indicando um dos princípios da governança corporativa estudados nesta aula. O Princípio ___________________________ estabelece que os stakeholders tenham acesso a informações que sejam de seu interesse. Pelo Princípio ________________________, o tratamento deve ser justo, isonômico, imparcial. A intenção é que impedir que uma parte interessada seja mais favorecida que a outra pelas tomadas de decisão. Também conhecido como “accountability”, o Princípio ___________________________ trata da prestação de contas referente aos resultados financeiros da empresa e das ações (e suas respectivas consequências) de gestores e diretores. O principal objetivo desse princípio é impedir o abuso de poder e aumentar a confiança entre as partes interessadas. Considerando que os agentes de GC são responsáveis por zelar pela viabilidade econômica e financeira da empresa, temos o Princípio ________________________________. Resposta: Transparência / Equidade / Prestação de Contas / Responsabilidade Corporativa Atividade 2 A Governança Corporativa prevê a existência de órgãos de fiscalização e controle em sua estrutura. Considerando a existência do Conselho Fiscal e do Comitê de Auditoria, diferencie esses dois agentes da governança corporativa. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Atividade 3 Convido você a observar atentamente, mais uma vez, a Figura 1 disponível nesta aula. Observe onde está a participação direta dos auditores no contexto do sistema de governança corporativa. Informe a sua opinião sobre a participação dos auditores (internos e independentes) na governança corporativa. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 1.4. Instituição relacionada com a Governança Corporativa no Brasil Ao longo de todo o conteúdo desta aula, você identificou uma sigla que foi bastante utilizada: IBGC. Vamos então conhecer um pouco mais sobre quem é tal sigla? O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa é uma organização sem fins lucrativos, referência nacional e internacional em governança corporativa. O IBGC contribui para o desempenho sustentável das organizações por meio da geração e disseminação de conhecimento das melhores práticas em governança corporativa, influenciando e representando os mais diversos agentes, visando uma sociedade melhor. Fundado em 27 de novembro de 1995, em São Paulo, o IBGC desenvolve programas de capacitação e certificação profissionais, eventos e também atua regionalmente por meio de sete capítulos nos estados de Ceará, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Atualmente, o IBGC hospeda as atividades da Global Reporting Initiative (GRI) no Brasil, integra a rede de Institutos de Gobierno Corporativo de Latino America (IGCLA) e o Global Network of Director Institutes (GNDI), grupo que congrega institutos relacionados à governança e conselho de administração ao redor do mundo. O IBGC publica periodicamente materiais, como o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, e realiza capacitações e treinamentos relacionados com temas da governança corporativa, todos indicados em seu endereço na rede mundial de computadores (ibgc.og.br). O IBGC conta com diversas instituições entre seus associados, como o Banco Itaú Unibanco, a B3, Bradesco, Embraer, Santander, CPFL Energia. 1.4 Usuários da Governança corporativa Como podemos notar, manter uma estrutura de governança corporativa completa requer recursos bastante expressivos. Por este motivo é que, de um modo geral, essa estrutura é exigida somente de grandes organizações, por exemplo, as empresas de capital aberto. Contudo, outras organizações que não negociam suas ações na bolsa também podem fazer uso da governança corporativa. Vamos conhecê-las? Cooperativas: De acordo com o próprio IBGC, as Sociedades de pessoas, constituídas para prestar serviços aos associados, as cooperativas têm sua distribuição de resultados vinculada às operações efetuadas pelo associado com a cooperativa e desvinculada da participação no capital, assim como possuem seus direitos políticos vinculados unicamente às pessoas, não importando a participação no capital. Assim, as cooperativas são parte relevante da economia brasileira e a adoção de práticas de governança pode contribuir para aprimorar sua administração e os relacionamentos entre todos os agentes desse sistema (cooperados, administradores, funcionários e a sociedade), reduzindo possíveis conflitos e riscos inerentes a esse tipo de organização. Terceiro Setor: segundo o IBGC, as Organizações sem fins lucrativos são as que buscam contribuir para uma sociedade melhor e mais justa. Conforme o Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais, “o aprimoramento da governança é um esforço contínuo que, no Brasil, não findou com a lei das OSCIP”, é preciso expandir “as boas práticas de governança para todas as organizações da sociedade civil, estabelecendo assim as bases do que poderá ser o sistema de autorregulação do terceiro setor”. Ainda segundo o guia, “seus principais agentes - sejam eles financiadores ou executores de projetos - podem e devem adotar práticas que sirvam de exemplo para os demais, reforçando a legitimidade do setor”. Portanto, Governança Corporativa é algo que pode e deve ser ampliado para além dos ambientes empresariais, visando uma gestão mais participativa, transparente, equilibrada. Na prática, vários podem ser os benefícios da implantação da governança corporativa nas organizações,vejamos alguns exemplos: - acesso mais fácil e barato a crédito e/ou capital: bancos e investidores sentem mais confiança e segurança em emprestar e/ou investir em empresas que atuem com os mais altos padrões de governança corporativa (veja as empresas que compõem o segmento do Novo Mercado na Bolsa de Valores brasileira); - imagem perante à sociedade: uma instituição que tenha governança corporativa reflete uma imagem de maior justiça, transparência e gestão perante seu público de interesse; - elevação do valor da organização: as práticas de governança corporativa estimulam uma gestão que compartilha a responsabilidade pela proteção e elevação do valor do capital da organização, devido a atuação de cada agente: auditoria, conselhos, diretores, administradores, sócios. “Compliance” ou Integridade ou Conformidade. Provavelmente você já ouviu pelo menos um desses termos. Estes termos possuem forte relação com a Governança Corporativa e devem ser compreendidos como um guia de princípios e valores que compõem a identidade da organização, com foco em sua longevidade. O IBGC ensina que autonomia, independência e conhecimento técnico são características essenciais para os profissionais especializados na gestão da área de “compliance”. Por mais que o sistema coordenado por esse profissional de “compliance” preveja a participação de outros departamentos da companhia, como comunicação e recursos humanos, por exemplo, é responsabilidade dele zelar pelo atendimento a leis e regulamentos. Nesse sentido, de acordo com as orientações do IBGC, um sistema de “compliance” efetivo deve: https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=22110 https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=22110 1) Coordenar canais de denúncias; 2) Discutir o grau de exposição e evolução dos riscos de “compliance”; 3) Conscientizar a organização sobre a aderência aos princípios éticos, normas de conduta e obrigações aplicáveis, liderando o processo de disseminação da cultura de “compliance”; 4) Executar o monitoramento integrado das atividades de “compliance”; 5) Colaborar na elaboração de um plano de treinamento para todos os colaboradores de partes interessadas; 6) Coordenar as iniciativas de comunicação voltadas para disseminar o tema pela organização; 7) Coordenar a realização de controles e testes para verificar a aderência às políticas e aos procedimentos da organização; 8) Colaborar no processo de investigação de irregularidades, com amplo acesso a documentos e informações de diferentes áreas da organização, de acordo com a política aprovada pelo conselho de administração; 9) Sugerir, com conjunto com o comitê de conduta, a aplicação de sanções previstas em política de consequências; 10) Participar das reuniões do comitê de conduta; 11) Assegurar que as sanções determinadas sejam aplicadas. Conclusão O tema da Governança Corporativa tem despertado muito interesse tanto da comunidade acadêmica como do ambiente de negócios. Reduzir conflitos na gestão das organizações é um desafio de todos os agentes da governança, inclusive dos auditores. Gestores preocupados com transparência, prestação de contas, tratamento equitativo aos envolvidos e que tenham uma responsabilidade corporativa favorecem uma evolução considerável no ambiente de negócios, estimula o mercado de capitais e o valor das entidades. Obviamente, os custos de implementação de um sistema de governança corporativa precisam ser avaliados em relação aos seus benefícios. Sendo assim, faz-se necessário avaliar bem um projeto de implantação de governança corporativa. Contudo, mesmo em instituições de menor porte, muitas das práticas de governança corporativa poderão ser adotadas. A participação dos auditores na governança corporativa possibilita maior credibilidade às informações contábeis que são geradas pelas organizações, maior segurança e proteção dos seus ativos, maior potencial de comunicação das informações financeiras, dentre outros benefícios. Para contadores e contadoras, a governança corporativa oferece novas oportunidades de atuação profissional, mais reconhecimento e possibilidades. Resumo Com esta aula aprendemos um pouco sobre os fundamentos da governança corporativa. Este tema é extremamente relevante para aqueles que atuam com auditoria nas organizações empresariais, em grandes instituições do terceiro setor, dentre outros. Os auditores têm papel importante na governança das organizações, seja para gestores ou para investidores. O desenvolvimento e o aumento da complexidade do ambiente dos negócios, a separação entre os proprietários da empresa e os seus gestores, a participação de outros atores na gestão das empresas foram exigindo novas práticas de governança. Assim surgem as instituições que apoiam e capacitam as empresas para a governança, como o IBGC no Brasil. Os princípios de governança corporativa são mais que simples declarações teóricas. São práticas que devem ser estimuladas em benefício das organizações e da própria sociedade. Vimos também que a atividade de “Compliance” está no escopo da atuação da Auditoria, visando trazer integridade e conformidade às organizações em geral. Assim, O cumprimento/atendimento de leis, regulamentos e normas externas e internas deve ser garantido por um processo de acompanhamento da conformidade (“compliance”) de todas as atividades da organização. Atividade final Pesquise algumas empresas que são reconhecidas pelo mercado como aquelas de alto padrão de governança corporativa e apresente algumas práticas que são adotadas/realizadas que as diferenciam das demais organizações. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Pistas para a Resposta O estudante deverá pesquisar empresas que sejam associadas ao IBGC ou ao Novo Mercado da B3. O estudante deverá fazer também uma investigação quanto às práticas de governança corporativa que são adotadas e realizadas pela empresa pesquisada. Em seguida, escolher algumas dessas práticas e descrevê-las, apontando o diferencial em relação às demais organizações que não fazem uso da governança corporativa. Referências INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. https://www.ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa https://www.ibgc.org.br/conhecimento/governanca-corporativa