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Agentes Bloqueadores Adrenérgicos I. INTRODUÇÃO Agentes bloqueadores adrenérgicos, tam bém chdcm.2Láosadrenolíticos esimpatolíticos, são fármacos que inibem seletivamente determinadas respostas do estímulo simpático ou bloqueiam os efeitos produzidos por agentes simpatomiméti- cos. Efeitos adrenolíticos são, contudo, obtidos com fármacos que agem por diferentes mecanis mos e em sítios distintos (Fig. 17.5), tais como os que se seguem: 1. Interagem com receptores específicos, como no caso de bloqueadores a e j8-adrenérgicos. Os primeiros bloqueiam os efei tos do estímulo de receptores a e os últimos, os efeitos do estímulo de receptores 2. Impedem a liberação de levarterenol dos seus sítios de armazenamento; são agentes blo queadores de neurônios adrenérgicos. Os mais conhecidos são: betanidina, bretílio, debriso- quina, guanetidina e xilocolina; 3. Interferem no armazenamento de cateco- laminas. A reserpina, representante deste grupo, será estudada no Cap. 22, como agente anti- hipertensivo; 4. Inibem as enzimas envolvidas na biossín- tese do levarterenol. Entre tais fármacos, temos a metildopa e a metirosina, que são inibidores da dopa-descarboxilase e da tirosina-hidroxilase, respectivamente. Estes e fármacos relacionados serão vistos no próximo capítulo. Os fármacos estudados neste capítulo são empregados principal mente como agentes anti- hipertensivos. Os agentes bloqueadores a-adrenérgicos possuem vários usos terapêuticos: alívio de di versas doenças periféricas (estágios iniciais da síndrome de Raynaud, acrocianose, flebite, enre- gelamento, flebotrombose), diagnóstico de feo- cromocitoma e tratamento de alguns outros qua dros patológicos. Agentes bloqueadores /3-adrenérgicos são empregados em certos tipos de arritmias cardía cas, angina do peito e hipertensão essencial. Alguns bloqueadores de neurônios adrenér gicos são úteis no tratamento de hipertensão. II. HISTÓRICO Os agentes bloqueadores adrenérgicos são de introdução recente na terapêutica. Foram desco bertos neste século. Os primeiros foram os alca lóides do esporão do centeio, cuja atividade foi relatada por Dale nos seus clássicos estudos, em 1906. Entretanto, o esporão do centeio, obtido da Clavicepspurpurea, fungo parasita do centeio, foi usado por parteiras na Idade Média e até mesmo antes de Cristo para induzir ao parto. Após a descoberta de Dale, amplo programa de pesqui sas químicas finalmente resultou no isolamento do primeiro alcalóide do esporão do centeio, em 1922, por Stoll e colaboradores. Posteriormente outros alcalóides foram isolados da mesma fonte; hoje são conhecidos mais de 20 alcalóides do es porão do centeio e seus estereoisômeros. Todos os que possuem atividade anti-hipertensiva são derivados peptídicos do ácido lisérgico. A diidroergotamina foi preparada por Stoll e Hof- man, em 1943, por hidrogenação catalítica da er- gotamina. Os agentes bloqueadores adrenérgicos sinté ticos surgiram em 1930, quando se observou pela primeira vez que alguns éteres dialquilaminoal- quílicos de fenóis alquilados, tais como gravitol e tastromina, apresentavam atividades farmacoló- gicas semelhantes, embora mais fracas, às dos alcalóides do esporão do centeio. A síntese e o ensaio de centenas de compos tos análogos resultaram na introdução, em 1933, Mobile User 336 q u ím ic a f a r m a c ê u tic a por Fourneau e Bovet, de derivados do benzodio- xano, tais como piperoxano, isóstero substituído do gravitol. A tolazolina e a fentolamina foram introduzidas em 1946. No ano seguinte, as haloal- quilaminas, ensaiadas por Nickerson e Good man, encontraram seu lugar na terapêutica. Em bora mais de 1.500 substâncias desta série tenham sido sintetizadas e testadas, a única comerciali zada hoje em dia é a fenoxibenzamina. A hidralazina foi introduzida, em 1950, por Druey, seguida da azapetina, em 1951. A atividade bloqueadora adrenérgica da xilo- colina foi descoberta por Hey, em 1952, no curso de um estudo sobre agentes colinérgicos. A modi ficação estrutural da molécula de xilocolina resul tou no bretílio, em 1959. A guanetidina foi intro duzida em 1960. Os agentes bloqueadores /S-adrenérgicos tornaram-se conhecidos em fins da década de 1950, quando Powell e Slater verificaram que o dicloroisoproterenol (DCI) bloqueava as pro priedades miocárdio-estimulantes da isoprena- lina. A modificação molecular do DCI, que não é usado clinicamente, mas apenas como ferramenta de trabalho experimental, resultou em agentes menos tóxicos, tais como pronetalol (1962), pro- pranolol (1964) e outros agentes de utilidade. IIL CLASSIFICAÇÃO Os fármacos estudados neste capítulo podem ser divididos em três classes: agentes bloqueado res a-adrenérgicos, agentes bloqueadores ^-adrenérgicos e agentes bloqueadores de neurô nios adrenérgicos. A primeira classe consiste de substâncias estruturalmente não relacionadas ao levarterenol. A segunda classe, por sua vez, constitui-se de análogos estruturais da isoprena- lina, estimulante j8-adrenérgico. Os componentes da terceira classe mostram ligeira semelhança es trutural com as aminas simpatomiméticas. Há fármacos, como a ibidomida (em fase experimen tal) e o labetalol, por exemplo, que são bloquea dores a e j8-adrenérgicos. A. Agentes bloqueadores a-adrenérgicos Nesta classe estão incluídos: {a) alcalóides indoletilamínicos: corinantina, diidroergocristina (Iskevert), diidroergotamina, ioimbina (loim- bina); (b) imidazolinas: fentolamina, tolazolina; (c) derivados do benzodioxano: butamoxano, di- bozano, piperoxano, proroxano; (d) /3-haloalquilaminas: dibenamina, fenoxibenzami na; (e) dibenzazepinas: azapetina (retirada do comércio em alguns países); (f) hidrazinoftalazi- nas e análogos: budralazina, diidralazina, endra- lazina, hidralazina, oxadralazina, propildazina, todralazina; (g) compostos diversos: azepexol, clorpromazina, epronizol, fenspirida, haloperi- dol, indoramina, labetalol, moxisilita (timoxa- mina), solipertina, zolertina (Tabela 18.1). Estes fármacos, em sua maioria, são usados na forma de cloridratos, embora alguns sejam empregados na forma de fosfato, mesilato, sulfato ou tartarato, que se apresentam como substâncias cristalinas, em geral brancas e solúveis em água. Os alcalóides do esporão do centeio variam quanto à sua atividade farmacológica. Os alcalói des naturais, tais como os do grupo da ergotamina (ergotamina e ergosina) e do grupo da ergotoxina (ergocristina, ergocriptina e ergocornina), têm atividade bloqueadora a-adrenérgica moderada e ação vasoconstritora bem caracterizada, motivo pelo qual são usados no tratamento da enxaqueca, como é o caso da ergotamina. A ergometrina e derivados semi-sintéticos (metilergometrina) não exercem atividade blo queadora a-adrenérgica, mas possuem ligeira ação vasoconstritora e acentuadas ações oxitóci- cas; assim, a ergometrina e a metilergometrina são oxitócicas e a metisergida e a metergolina — que são antagonistas da serotonina — atuam como profiláticas da enxaqueca. Os derivados diidrogenados, tais como a dii droergotamina, são mais eficazes como bloquea dores a-adrenérgicos do que seus similares, apre sentando ação vasoconstritora menor, além de não serem oxitócicos. Por este motivo, o medi camento Hydergine, mistura equiproporcional de mesilatos de diidroergocornina, diidroergocris tina e diidroergocriptina, encontra emprego prin cipalmente no tratamento de vasculopatias espásticas periféricas. Um derivado semi- sintético recém-introduzido na terapêutica é a ni- cergolina (Sermion); produz vasodilatação perifé rica e central. Maleato de metisergida Pó cristalino branco a branco-amarelado ou branco-avermelhado, inodoro ou quase inodoro, pouco solúvel em água. É usado na enxaqueca, mas apenas como agente profilático, pois não tem ação nos ataques agudos. Apresenta, porém, vários efeitos adversos, alguns bastante graves, e diversas contra-indicações. A dose diária é de4 a 6 mg, em porções divididas. AGENTES BLOQUEADORES ADRENÉRGICOS Tabela 18.1 Agentes bloqueadores a-adrenérgicos e fármacos relacionados 337 Nome oficial ergometrina (ergonovina) Nome comercial Nome químico Estrutura Ergonovina Ergotrate 9,10-didesidro-iV-[(S)- -2-hidroxi-l-metil- etil]-6-metilergolino- -8^-carboxamida \ y metilergometrina (metilergonovina) Methergin Metilergometrina Metil Ergonovina 9 ,10-didesidro-/V-[(5)- -l-(hidroximetil)pro- pil]-6-metilergolino- -8j3-carboxamida /I f CH. '^« 3 ; metisergida Deserila Sandomigran 9,10-didesidro-iV-[I- -(hidroximetil)propil]- -1,6-di m eti lergoli no- -8^-carboxamida / ■ CH 3 I fenoxibenzamina tolazolina iV-(2-cloroetil)-N-(l- -metil-2-fenoxietiI)- benzenometanamina 2-benzil-2-imidazolina 338 QUÍMICA FARMACÊUTICA Tabela 18.1 (cont.) Agentes bloqueadores a-adrenérgicos e fármacos relacionados Nome oficial Nome comercial Nome químico Estrutura fentolamina Regí tina m - [N-(2-iinidazolin-2- -ilmetil)-p-toluidi- no]fenol hidralazina (apressína) 1 -hidrazinoftalazina Tartarato de ergotamina Cristais incolores ou pó cristalino branco a branco-amarelado, pouco solúvel em água. É o fármaco de escolha no tratamento de ataques agudos de enxaqueca. Pode ser administrado pelas vias subcutânea, intramuscular, sublingual ou por inalação; por via oral é pouco absorvido. Não é aconselhável o seu emprego na profilaxia da enxaqueca, por ser vasoconstritor periférico potente e causar dependência, se usado por tempo prolongado. Em doses altas produz náuseas, vô mito, diarréia e outros efeitos adversos. A dose varia de 0,25 a 2 mg, segundo a via de administra ção. Mesilato de diidroergotamina Pó branco, amarelado ou levemente verme lho, pouco solúvel em água. Tem o mesmo em prego e efeitos adversos iguais aos do tartarato de ergotamina, embora a ação vasoconstritora seja menos intensa. A dose habitual, por via intramus cular ou intravenosa, é de 1 mg no início do ataque de enxaqueca, repetida uma hora depois, caso necessário. Fentolamina Comercializada na forma de cloridrato e me silato, pós cristalinos brancos, inodoros, solúveis em água. O mesilato é mais hidrossolúvel e mais estável, sendo administrado por injeção, ao passo que o cloridrato o é na forma de comprimidos. A fentolamina é empregada como agente.auxiliar de diagnóstico no feocromocitoma e como agente anti-hipertensivo. E contra-indicada para pacien tes com angina do peito. Cloridrato de fenoxibenzamina Pó cristalino branco, inodoro, solúvel em água. É útil no controle do feocromocitoma e de moléstias vasculares periféricas. E contra- indicado em doenças cardíacas e cerebrovascula- res. A dose inicial é de 10 mg/dia, sendo acrescida de 10 mg a cada quatro dias, até que o efeito terapêutico desejado se manifeste. B. Agentes bloqueadores j3-adrenérgicos Os fármacos mais amplamente utilizados desta classe estão relacionados na Tabela 18.2. Em geral, eles atuam sobre os receptores j8i e ^2- Todavia, acebutolol, atenolol, bucindolol, buni- trolol, butaxamina (butoxamina), metoprolol e nadolol, entre outros, atuam somente sobre o re ceptor Por provocar cegueira e psoríase irre versível, o practolol foi recentemente retirado do comércio. Também disponíveis, alguns em fase expe rimental, estão os seguintes: afurolol, befunolol, betaxolol, bevantolol, bometolol, bopindolol, bu- cumolol, bufetolol, bufuralol, bunolol, buprano- lol, butidrina (Betabloc), butocrolol, butofilolol, carazolol, carpindolol, carteolol, celiprolol, clembuterol, crinolol, dexpropranolol, diacetolol, doberol, etoxamina, exaprolol, fembutol, idro- pranolol, indenolol, iprocrolol, labetalol, levobu- nolol, medroxalol, mepindolol, metalol, metipra- nolol, metoxamina (metoxamedrina), moprolol, morolol, nadoxolol, nafetolol, nifenalol, oxpreno- lol (Slow-Trasicor), pamatolol, pargolol, pembu- AGENTES BLOQUEADORES ADRENERGICOS 339 Tabela 18.2 Agentes bloqueadores )8-adrenérgicos Nome oficial Nome comercial Nome químico Estrutura isoprenalina (isoprotere- nol) Aleudrin Isuprel Medihaler-Iso Neo-Epinine Novadren Veja Tabela 17.1 ' diclorisoprote- renol 3,4-dicloro-a-[[( 1 -metiletil)ami- no] metil] benzenometanol H sotalol Sotacor N-(4-[ l-hidroxi-2- [(1 -metil- e til)ami no]eti 1 ]fenil ] meta- nossulfonamida metoprolol Seloken (±)- I-[4-(2-metoxietil)feno- xi]-3-[(l-metiletil)amino]- -2-propanol V OH ,OH practolol atenolol Eraldin Atenol A^-[4-[2-hidroxi-3-[( 1-metil- etil)amino]propoxi ]fenil] - acetamida 4-[2'hidroxi-3-[( 1-metiJetil)- amino]propoxi]benzenoace- tamida H-,N OH aiprenolol acebutolol propranolol Aptine Inderal Propranolol I-[(l-metiletil)amino]-3-[2-(2- -propenil)fenoxi]-2-propanol N-[3-acetil-4-[2-hidroxi-3- - [(1 -metiletil)ami nojpropo- xí]fenii] butanamida 1 -(isopropilamino)-3-( 1 -nafti- loxi)-2-propanol Mobile User 340 QUÍMICA FARMACÊUTICA Tabela 18.2 (cont.) Ágentes bloqueadores j3-adrenérgícos Nome oficial Nome comercial Nome químico Estrutura pindolol Visken timolol nadolol Corgard l-(li/-indol-4-iloxi)-3-[( 1- metiletil)amino]-2-propanol 5-( —)- l-(ré>rí-butiIamino)-3-f(4- -morfolino-1,2,5-tiadiazol-3- -il)oxi]-2-propanol c/j-5-[3-[( 1, l-dimetiletil)ami- no]-2-hidroxipropoxi]-1,2,3,4- -tetraidro-2,3-naftalenodiol OH . tolol, primidolol, prinodolol, procinolol, proneta- lol (retirado do comércio por ser carcinogênico em camundongos), soquinolol, sulfinalol, tazolol, tiprenolol, tolamolol (retirado dos ensaios clíni cos por aumentar incidência de tumores em ani mais), toliprolol, trimepranol, tulobuterol, xipra- nolol. Quase todos estes bloqueadores adrenérgi- cos atuam sobre os receptores /3i e 8̂2. Os agentes bloqueadores /3-adrenérgicos são ariletanolaminas e ariloxipropanolaminas. Podem ser representados pela fórmula geral indicada na Fig. 18.1, na qual R pode ser outro anel ou substi- tuintes adequados, de forma a possibilitar a ocor rência de interações hidrofóbicas, ou outras, com o sítio receptor, enquanto R' é H ou CH 3. Em R . /CH3 -C H -C H 2 -N H -I-C -R ' Óh ‘ B Fig. 18.1 Fórmula geral dos agentes bloqueadores i-iircnérsicos. resumo, a porção farmacofórica dos agentes blo queadores )8-adrenérgicos consiste em um sis tema aromático (substituído) (A) ligado direta- meiite ou através de ponte metilênica à porção a-hidroxietilamínica (B) e a um resíduo alquílico substituído no grupo amino (C). Os /8-bloqueadores são usados principal mente em hipertensão e certas arritmias; são tam bém úteis no tratamento de ataques de enxa queca. Contudo, podem causar vários efeitos ad versos, entre os quais os seguintes; asma, insufi ciência cardíaca, hipoglicemia, bradicardia grave, claudicação intermitente e fenômeno de Ray- naud. Clorídrato de propranolol Pó cristalino branco ou esbranquiçado, ino doro, com sabor amargo, solúvel em água e em etanol. É agente antianginoso, antiarrítmico e va- sodilatador periférico de emprego generalizado. Tem a propriedade de reduzir a dor e aumentar a tolerância ao exercício em pacientes vítimas de angina do peito; contudo, pode provocar insufi ciência cardíaca congestiva. Na terapia antiarrít- mica sua utilidade é limitada, sendo particular- Mobile User AGENTES BLOQUEADORES ADRENÉRGICOS 341 OH + (I) Fig. 18.2 Síntese do propranolol. mente recomendado nos casos de intoxicação di- gitálica. O isômero (-) é cerca de 60 a 80 vezes mais ativo do que o (+). O propranolol é sintetizado mediante reação de 1-naftoI (I) com epicloridrina (II) e tratamento do intermediário (III) com isopropilamina (Fig. 18.2). Maleato de timolol É usado no tratamento de angina do peito por cardiopatia isquêmica e na hipertensão arterial essencial. Pesquisas recentes indicaram que é mais eficaz na redução da pressão intra-ocular que a pilocarpina e a epinefrina e causa menos efeitos adversos que estas. Daí estar sendo em pregado, com êxito, no tratamento de glaucoma de ângulo aberto.C. Agentes bloqueadores de neurônios adrenérgicos Os mais empregados estão relacionados na Tabela 18.3. São quimicamente relacionados às aminas simpatomiméticas, mas sua porção termi nal é amidínica (na maioria deles) ou constituída de um nitrogênio quaternário (no bretílio). São co mercializados diversos outros derivados da gua- nidina, além dos incluídos na Tabela 18.3: espir- getina, guabenxano, guanabenzo, guanaclina, guanacloro, guanadrel, guanazodina, guancidina, guanclofina, guanfacina, guanisoquina, guanoc- tina, guanoxabenzo, guanoxano, guanoxifeno. Estes derivados da guanidina são representados pela fórmula geral exposta na Fig. 18.3. Sulfato de guanetidina Pó cristalino branco, de odor característico, ligeiramente solúvel em água. É usado no trata mento de hipertensão moderada e grave. Seu efeito adverso é a acentuada hipotensão or- tostática. É contra-indicado nos casos de feocro- mocitoma. IV. MECANISMO DE AÇÃO A ação dos simpatolíticos compreende diver sos mecanismos de ação. Agentes bloqueadores a-adrenérgicos podem agir por um dos seguintes mecanismos: 1. Antagonistas competitivos do levartere- nol. Competem com este hormônio pelo receptor a-adrenérgico. Nesta classe estão incluídos os alcalóides indoletilamínicos (alcalóides do espo- rão do centeio, ioimbina), derivados da imidazo- lina (fentolamina, tolazolina), derivados do ben- zodioxano (butamoxano, piperoxano). 2. Antagonistas não-competitivos do levarte- -NH., HN^ > R------- Fig. 18.3 Fórm ula geral dos derivados da guanidina. 342 QUÍMICA FARMACÊUTICA Tabela 18.3 Agentes bloqueadores de neurônios adrenérgicos Nome oficial Nome comercial Nome químico Estrutura brometo de xilocolina guanetidina tosilato de bretflio debrisoquina betanidina Ismelina Declinax Esbatal brometo do éter 2,6-xilílico da colina [2-(hexaidro-1 (2íí)-azocinil)etil]- guanidina 4*metilbenzenossulfonato de 2-bromo- -/V-etil-N,A-dimetilbenzenometana- mínio 3,4-diidro-2(l//)-isoquinolinocarboxi- midamida A^,A^'-dimetilW"-(fenilmetil)guanidina Süj 5 CH, renol. Este grupo é constituído das ^-haloalquilaminas (fenoxibenzamina). As jS-haloalquilaminas, cuja estrutura fun damental é RR'NCH2CH2X, contêm um grupo facilmente deslocável (Cl, Br, I, mesila, tosila) em posição ̂ em relação a uma função amínica de basicidade adequada. Elas perdem o grupo X e ciclizam formando um íon imônio. Este íon pode então alquilar um ânion carboxilato ou fosfato de macromoléculas diferentes, não necessariamente aquela que contém o grupo receptor a-adrenérgico, conforme ilustra a Fig. 18.4. Houve época em que tal alquilação foi conside rada irreversível, mas posteriormente verificou- se que, com o tempo, ela se desfaz. O efeito da fenoxibenzamina é descrito como sendo uma simpatectomia química, pois ela bloqueia seleti vamente as respostas excitatórias da musculatura lisa e cardíaca. 3. Mecanismo desconhecido. Este grupo é constituído das dibenzazepinas (azapetina) e hi- drazinoftalazinas (hidralazina). Os agentes bloqueadores j8-adrenérgicos agem como antagonistas competitivos do levarte- renol no receptor )8. Segundo Belleau, eles devem seus efeitos inibitórios aos substituintes volumo- R R'' + Rec f c . ,xi-Rec R = R' = -CHj-CôHs R = -CH^-CôHs R' = -CHCCHaj-CH.-O-CôHj Rec dibenamina fenoxibenzamina Fig. 18.4 Interação do intermediário cíclico das 3-haloetilaminas com a substância receptora. AQENTES BLOQUEADORES ADRENÉRGICOS 343 SOS ligados ao átomo de nitrogênio (Fig. 17.10). Ao se ligarem ao anel da adenina do ATP, tais substituintes impedem os processos de transfe rência de próton, muito provavelmente por deslo carem 0 anel da adenina do seu local de ligação na superfície do receptor. Estes agentes são análogos estruturais da isoprenalina e podem, portanto, ocupar o mesmo sítio receptor j8. Ademais, os grupos ligados ao anel aromático fornecem pontos de complexação adicional com aquele receptor através de intera ções hidrofóbicas e de van der Waals. Agentes bloqueadores de neurônios adrenér- gicos impedem a liberação do transmissor quí mico levarterenol de seus locais de armazena mento. 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