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GUSTAVO RIBEIRO ROCHA GUSTAVO RIBEIRO ROCHA JOSÉ MARIA ROCHA FILHO JOSÉ MARIA ROCHA FILHO teoria geral da empresa, direito societário, títulos de crédito, falência e recuperação de empresas História do Direito Comercial – um breve relato • Como utilizar o Código Comercial e a legislação esparsa• A Teoria dos Atos de Comércio versus a Teoria da Empresa • Empresa, microempresa e empresa de pequeno porte • O empresário • Registro público de empresas mercantis e registro da propriedade industrial • Escrituração mercantil • Nome empresarial • Marcas • Estabelecimento comercial e título de estabelecimento • Invenções, modelos e desenhos • Concorrência desleal • Sociedades simples e sociedades empresárias • História do Direito Cambial – um breve relato • Declarações cambiárias • Vencimento e pagamento • Protesto cambial • Da ação cambial • Letra de câmbio e nota promissória • Cheque • Duplicata • História do Direito Falimentar brasileiro – conceitos preliminares • Disposições comuns à falência e à recuperação • Da falência • O processo falimentar – fase preliminar • Do processo de falência – fase de sindicância • Da verificação e classificação dos créditos • Do processo falimentar – fase de liquidação • Da recuperação judicial • Da recuperação extrajudicial direito • administração de empresas • ciências contábeis alunos • professores • profissionais indicado para os cursos: recomendado a: ISBN DIREITO DIREITO COMERCIAL COMERCIAL Curso de Curso de Curso de 11ª ED. revista, atualizada e ampliada + exercícios de fixação. JOSÉ MARIA ROCHA FILHO Ex-Professor de Direi- to Comercial das Facul- dades “Milton Campos”; Membro do Instituto Bra- sileiro de Direito Comer- cial Comparado e Biblio- teca Tullio Ascarelli; Ex- -Superintendente de Re- gistro do Comércio e ex- -Procurador da Junta Co- mercial do Estado de Mi- nas Gerais; Advogado GUSTAVO RIBEIRO ROCHA Mestre em Direito Em- presarial pela Faculdade de Direito “Milton Cam- pos”; Professor de Direito Empresarial das Facul- dades “Milton Campos” e Dom Helder Escola de Direito; Advogado. 2024 teoria geral da empresa, direito societário, títulos de crédito, falência e recuperação de empresas Gustavo Ribeiro Rocha José Maria Rocha Filho 11ª ed. teoria geral da empresa, direito societário, títulos de crédito, falência e recuperação de empresas 2024 Edição revista, ampliada e atualizada conforme Lei n. 14.382/2022; Lei n. 14.478/2022; Instrução Normativa n. 79/2022, do DREI; Ofício Circular 4823/2022, do DREI; Instrução Normativa n. 88/2022, do DREI. + exercícios de fixação edição revista, atualizada e ampliada Rocha, Gustavo Ribeiro R672 Curso de direito comercial / Gustavo Ribeiro Rocha. - 11. ed. – Belo Horizonte, São Paulo : D’Plácido, 2024. 810 p. ISBN 1. Direito. 2. Direito Comercial. I. Título. CDDir: 342.2 Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária responsável: Fernanda Gomes de Souza CRB-6/2472 Doutor Cláudio Roberto Cintra Bezerra Brandão Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco – Brasil Doutora Sílvia Isabel dos Anjos Caetano Alves Professora da Universidade de Lisboa – Portugal Doutor Georges Martyn Professor da Universidade de Ghent – Flanders/Bélgica Doutora Agata Cecília Amato Mangiameli Professora da Universidade de Roma II – Itália Doutora Ana Elisa Liberatore Silva Bechara Professora Titular da USP – Brasil Doutor Stelio Mangiameli Professor da Universidade de Teramo – Itália Doutor José Geraldo de Sousa Junior Professor Titular da Universidade de Brasília – Brasil Doutor Joaquim Portes de Cerqueira César Doutor em Direito Constitucional pela PUC/SP – Brasil Doutor Thomas Law Doutor em Direito Comercial pela PUC/SP – Brasil Doutor Marcelo Figueiredo Professor da PUC/SP – Brasil Doutor João Grandino Rodas Professor Titular da USP – Brasil Conselho Editorial W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R I N S T A G R A M / E D I T O R A D P L A C I D O Editor Chefe Plácido Arraes Editor Tales Leon de Marco Produtora Editorial Bárbara Rodrigues Capa, projeto gráfico Nathália Torres Diagramação Christiane Morais de Oliveira Bárbara Rodrigues Letícia Robini Enzo Zaqueu Prates Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido. Belo Horizonte Av. Brasil, 1843, Savassi, Belo Horizonte, MG – CEP 30140-007 Tel.: 31 3261 2801 São Paulo Av. Paulista, 2444, 8º andar, cj 82, Bela Vista – São Paulo, SP – CEP 01310-933 Copyright © 2014, D’ Plácido Editora. Copyright © 2014, Gustavo Ribeiro Rocha. Copyright © 2014, José Maria Rocha Filho. Ao Professor Jorge Lasmar, Amigo e grande incentivador deste trabalho. Aos meus pais, José Maria da Rocha (in memoriam) e Manoela Rodrigues Rocha (in memoriam). À Elaine, minha esposa, e aos nossos filhos: Gustavo, Pauline e Nicole. Aos meus pais, Elaine e José Maria. Neste momento, registro uma gratidão especial a ele, pela honrosa oportunidade de concretizarmos, em conjunto, este novo projeto. À Anita, minha esposa, e aos nossos filhos: Vitor e Clara. Inspira este trabalho, primordial e essencialmente, o anelo de servir. Tanto ao primeiro quanto ao segundo autor. E ao encetá-lo, recordou-se o primeiro, com gratidão, dos muitos e magníficos ensinamentos do grande humanista e pensador argentino, Carlos Bernardo González Pecotche. Dentre eles, o que adverte ser “a liberdade de pensar a mais sagrada de todas as liberdades”, sendo necessário, para alcançá-la, “trocar o crer pelo saber”. Ensinou-lhe assim aquele Mestre que “a única concessão possível ao ato de crer é a que espontaneamente surge como antecipação do saber.” É dizer: “só deve ser admitido aquilo que ainda não se conhece, mas ape- nas pelo tempo necessário e suficiente para sua verificação pela própria razão e sensibilidade”. Por outras palavras, saber é o resultado da “experimentação do que se estuda e estudo do que se experimenta”. Pensar... Eis a lição, válida para qualquer classe ou hierarquia de conhe- cimento que se queira alcançar. Assim, ao se fazer, para ele, a possibilidade de colaborar na formação de novos profissionais do Direito, ocorreu-lhe oferecer-lhes um modelo teórico e, ao mesmo tempo, dar-lhes uma orientação prática. Era a forma de fazê-los pensar. Era a forma de convidá-los a fazer esforços mais proveitosos. Era a forma de convidá-los a comprovar, por si mesmos, o que o professor evidenciava à sua razão; era a forma de estimulá-los a adquirir sua própria experiência. Recordou-se nesta altura, também com gratidão, da lição do grande jurista mineiro Amílcar de Castro: “o melhor lente nem sempre é o mais culto e sim o que se mostra bom intermediário entre os livros e os alunos, sabendo transmitir facilmente a estes o que naqueles for selecionado com paciência e consciência”. Assim, então, orientou, tanto quanto possível, de 1986 a 2011, o inter- câmbio com seus alunos da Faculdade de Direito Milton Campos. Aqui, portanto, nada mais que a reprodução – enriquecida agora pelo segundo autor, que o substituiu naquela Faculdade – desse intercâmbio de informações sobre o Direito Comercial, com vistas a colaborar com todos que, de uma forma ou de outra, trilham os mesmos caminhos. NOTA DOS AUTORES O objetivo, poder-se-á ver, foi – e continua sendo – o de tentar abrir o entendimento de cada um, para que a informação possa ser efetivamente captada, assimilada e, por fim, usada criativamente. E aos que, de uma forma ou de outra, tornaram possível a oportunidade de desenvolver esta obra, nossa eterna gratidão. Os Autores. SUMÁRIO PREFÁCIO HISTÓRICO, DE 2004 25 ADVERTÊNCIA 27 Capítulo 1 HISTÓRIA DO DIREITO COMERCIAL – um breve relato 29 1. INTRODUÇÃO 31 2. ABRANGÊNCIA DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 32 3. CONCEITO DE COMÉRCIO 36 4. EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 39 5. DIVISÃO DO DIREITO PRIVADO 56 6. OBJETO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIALainda tanto a autonomia dos privados exigida por um ideário liberal”17, o que nos permite afirmar que permanecia perceptível a herança patrimonialista lusitana18, com a ausência de limites claros entre o pú- blico e o privado, além de um imenso volume de leis que atribuem inúmeras funções ao Estado brasileiro, para que este assuma o protagonismo, para ser o “provedor” da vida de cada cidadão brasileiro19, com clara orientação paternalista. Doce (anos 1940), da Petrobrás (anos 1950), da Eletrobrás (anos 1960) e da Telebrás (anos 1970). Além disso, a Constituição da República de 1988 dispõe sobre monopólios estatais – ainda que abrandados pela Emenda Constitucional n. 9/1995 –, e as participações em pessoas jurídicas de direito privado, tal como se vê na atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, via BNDESPAR. Em meados de 2020, o Estado brasileiro era sócio, via BNDESPAR, em diversas sociedades empresárias, desde as mais conhecidas Petróleo Brasileiro S.A. Petrobrás e Vale S/A, nos setores de petróleo, gás e mineração, passando pelo setor energético, v.g., Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, chegando até a ter participação no setor imobiliário (MRV Engenharia e Participações S.A.), de papel e celulose (Suzano S.A.) e de bens de consumo (Bombril S.A.). Disponível em Acesso em 2/7/2020. 17 LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 17. 18 Lustosa da Costa é taxativo quanto a isso: “Da Coroa portuguesa à administração colonial, do Reino Unido ao Império brasileiro, da Independência à República, da política dos governadores da República Velha ao Estado Novo de Vargas, mantiveram-se intactos o regime patrimonialista e o poder do estamento.” In: Lustosa da Costa, Frederico. Relações Estado-Sociedade no Brasil: Repre- sentações para Uso de Reformadores. Revista de Ciências Sociais, vol. 52, no 1, Rio de Janeiro, 2009, pp. 161 a 199. 19 Tais constatações permitem afirmar que, no Brasil – apesar dos movimentos que podem ser alinhados às tendências liberais, identificados ao longo de nossa história, primeiro em defesa da independência, v.g., Inconfidência Mineira (1789) e a Revolução Pernambucana de 1817 (Revolução dos Padres) e depois, em defesa da República, com alguns políticos se declarando liberais, assim como alguns partidos políticos –, houve apenas lampejos de liberalismo em momentos pontuais, tais como nas duas primeiras décadas do século XX e na última década dele, durante o curto governo do Presidente Itamar Franco (1992-1994), com a transição ao seu sucessor, Presidente Fernando Henrique Cardoso, que juntos, foram responsáveis pelo Plano Real, visando à estabilização da economia, diminuição de gastos públicos e equilíbrio das contas públicas. Nesses anos da década de 1990, houve privatizações de estatais, abertura ao capital estrangeiro, e o movimento de criação e intensificação das agências reguladoras, o que pode ser considerado um ponto de mudança do Estado interventor para regulador das atividades econômicas. Porém, nunca houve, efetivamente, a consolidação de um Estado liberal brasileiro, com um Estado necessário, mas com poderes limitados e funções que se ativessem à manutenção das instituições básicas (vida, saúde, liberdade e propriedade privada), mostrando-se um governo no seu papel como um meio, um instrumento, “nem um distribuidor de favores e doações nem um senhor ou um deus para ser cegamente servido e idolatrado”, conforme alerta Friedman, logo na introdução de sua obra Capitalismo e Liberdade. Isso não é, nem nunca foi, a realidade brasileira. O que se vê é uma “economia mista” – expressão usada por Mises –, significando que o Governo atua na área econômica, com participação em sociedades empresárias e, até mesmo, participando da gestão delas. O referido autor austríaco relata que essa realidade é a de muitos países, mesmo os tidos como mais liberais, pois, segundo ele, o programa liberal não é totalmente executado, o que costuma se revelar em um socialismo moderado (MISES, Ludwig von. Liberalismo - segundo a tradição clássica. 2 ed. Trad. Haydn Coutinho Pimenta. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 34). 45 A consideração das características político-econômicas do Brasil, desde o ano 1.500, é importante para o entendimento da evolução histórica do comércio e do Direito Comercial em nosso País; afinal, conforme alertam importantes economistas, tanto da Escola Austríaca – Mises afirma que “eventos políticos são a consequência inevitável da mudança das políticas econômicas”20 –, como também da Escola de Chicago – Friedman ensina que “existe uma relação íntima entre economia e política”21 –, para entendermos a economia, o mercado, o empreen- dedorismo e as Leis de um país, é preciso relacionar isso com política daquele Estado e as tentativas de intervenção, maiores ou menores, para distorção do mercado ou impedimento de seu funcionamento normal. O ano de 1822 nos traz, em setembro, a Independência de Portugal e, no ano seguinte, a convocação da Assembléia Constituinte e Legislativa que, instalada, promulgou a famosa “Lei de 20 de outubro”, determinando que continuassem em vigor, no Império, as leis portuguesas vigentes em 25 de abril de 1821. Entre elas, a “Lei da Boa Razão”, de 18/8/1769, que permitiu a invocação de normas legais “das nações cristãs, iluminadas e polidas, que com elas estavam resplandecendo na boa, depurada e sã jurisprudência”. É dizer: era possível, agora, a invocação do Direito estrangeiro como subsidiário do lusitano, que passava a ser também brasileiro. Aí, a importância, para nós, da “Lei da Boa Razão”. Mas, na questão econômica, é certo que as mudanças tenderiam a ser mais lentas e gradativas, conforme explica Carvalho: “À época da independência, a economia colonial podia ser descrita de maneira simplificada. Era composta por: grandes latifúndios vol- tados para a produção de mercadorias exportáveis, como o açúcar, o tabaco, o algodão; fazendas dedicadas à produção agropecuária para o mercado interno (cereais, leite e carne) e à criação de gado, estas últimas sobretudo no norte e no sul; e centros mineradores já em fase de decadência. Acrescente-se ainda grande número de pequenas propriedades voltadas para a agricultura e a pecuária de subsistência. Nas cidades costeiras, capitais de províncias, predominavam o grande e o pequeno comércio. Os comerciantes mais ricos eram os que se dedicavam ao tráfico de escravos.”22 À vista, porém, daquele sentimento, em 1832, a Regência nomeou uma comissão de comerciantes para se desincumbir da tarefa de elaborar um projeto de Código Comercial para o Brasil. Em 1834, ele foi enviado à Câmara. Foram muitas dúvidas e debates suscitados e vale destacar os questionamentos feitos pelo então Senador Mineiro Bernardo Pereira de Vasconcelos: 20 MISES, Ludwig von. As seis lições. Trad. Maria Luiza Borges. 9ª ed., São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2018, p. 153. 21 FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. Rio de Janeiro: LTC, 2014, p. 4. 22 CARVALHO, José Murilo de. Fundamentos da sociedade e política brasileiras. In: Sistema Político Brasileiro: uma introdução. São Paulo: Unesp, 2007, p.19-31. 46 “E o que são os negócios comerciais? Dizem os nossos compêndios porque se aprende na aula do comércio – que o comércio consiste em vender e revender para se fazer lucro; – mas será comércio só vender e revender? Não haverá muitos outros atos acessórios, que se devam considerar como comércio?”23. Conforme sugere Lopes, aparentemente “temia-se uma colonização de todo o direito privado pelo direito comercial”24, vez que os debates envolviam os comerciantes brasileiros, o grande número de comerciantes estrangeiros, os que praticavam a mercancia no interior e os que se concentravamno litoral, dedicados ao comércio marítimo, o que causou inúmeros debates ao longo dos anos 1840. Mas somente em 25/6/1850 foi sancionada a Lei n. 556, que promulgou o Código Comercial brasileiro, verdadeiro monumento de técnica legislativa. Serviram-lhe de parâmetro (fonte) o Código Napoleônico, de 1807; o espanhol, de 1829; e o português, de 1833. E no próprio ano de 1850 foi ele regulamentado. Essa lei adjetiva ficou conhecida com o nome de “Regulamento 737”, outro monumento de nossa legislação, que já não está em vigor. Daquela data até hoje, o Código Comercial vem sofrendo profundas mo- dificações, via leis esparsas. Já não existem, desde 1875, os Tribunais do Comércio, cuja competência, judicante, passou ao Judiciário; as sociedades anônimas têm lei específica; as normas sobre as quebras (falências) sofrem profundas modificações, só para exemplificar. Consequentemente, trata-se de lei que, há muito, está a exigir total revisão. Anteprojetos já foram elaborados, mas até hoje e, pelo visto, por mais um bom tempo, continuaremos com a que está em vigor ou, pelo menos, parte dela, vez que a Lei n. 10.406, de 2002, disciplinando-a de modo diferente, acabou revogando, expressamente, a primeira parte (arts. 1º ao 456) do nosso Código Comercial. Da mesma forma, a economia brasileira sofreu profundas modificações nos últimos dois séculos, especialmente a partir do início da década de 1930, pois a crise de 1929 e a Segunda Guerra Mundial fizeram com que o Brasil intensificasse o movimento de substituição de importações pela produção dos bens. Carvalho25 exemplifica com a implantação da indústria automobilística nos anos 1950, e com a produção de máquinas e equipamentos, vinte anos mais tarde, o que evidenciou um traço diferente na economia nacional, deixando de ser essencialmente agríco- la – sem que isso signifique desconsiderar o importante papel do agronegócio –, dividindo espaço com a fabricação e exportação de bens industrializados, além dos serviços. Tais mudanças estão diretamente ligadas ao êxodo rural ocorrido nas últimas décadas, vez que, atualmente, a maioria da população brasileira reside e trabalha nos centros urbanos, em atividades industriais, comerciais e de prestação de serviços. 23 LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 29. 24 LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 29. 25 CARVALHO, José Murilo de. Fundamentos da sociedade e política brasileiras. In: Sistema Político Brasileiro: uma introdução. São Paulo: Unesp, 2007, p.19-31. 47 Também é importante pontuar, nesse contexto, mesmo que brevemente, as questões de Ordem Econômica Constitucional, dispostas nos arts. 170 a 192, da Constituição da República de 1988. Não é nossa intenção propor um apro- fundamento dos estudos de Direito Constitucional – vez que o presente Curso não se destina a isso –, mas cumpre notar que, naqueles artigos, especialmente no art. 170, há importantes princípios, relacionados à atividade empresarial. Por isso, destaca-se o art. 170 dispõe, in verbis: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho hu- mano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento dife- renciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte consti- tuídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” Da leitura do referido artigo, podemos perceber que a Ordem Econômica brasileira deve ter como fundamentos a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa – em estrita consonância com o art. 1° da Carta Magna, que os elencam como princípios fundamentais do próprio Estado brasileiro –, com o objetivo de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. Mais: em seu parágrafo único, está expressa a vedação à limitação ao livre exercício de atividade econômica, tanto por pessoa natural, como também por pessoa jurídica, salvo nos casos em que a Lei vedar ou restringir, expressamente. Não obstante, “mesmo a previsão de ressalvas legais à garantia de livre empreendimento (liberdade de exercer qualquer atividade econômica) tem limites”26, pois os impedimentos e restrições não devem ser desarrazoados, desproporcionais, sob pena de afronta 26 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São Paulo: Atlas, 2013, p. 40. 48 às garantias previstas na Constituição. Beccaria já alertava quanto a isso, no sé- culo XVIII: “cada cidadão deve ter a convicção de poder fazer tudo o que não contraria as leis, sem temer outro inconveniente além daquele que pode resultar da ação mesma”.27 Afinal, devemos sempre ter em mente que a riqueza é produzida pelas pessoas que, exercendo sua liberdade, inventam, produzem, compram, vendem, poupam parte de sua renda para posteriores negócios e investimentos etc., exercendo individualmente, dentre outros direitos, o de propriedade, com interações vo- luntárias que propiciam o que se pode chamar de cooperação em larga escala28. Mas, no atual estágio do Brasil, é clara a mistura de ideias: um Estado menor, garantindo as liberdades individuais, consagradas no art. 5°, da CR/88, v.g., igualdade, liberdade, propriedade, vida privada etc., convivendo com um Estado protagonista, conforme se vê nos arts. 6° e 7°, da CR/88, que tratam dos direitos sociais. Entretanto, é indubitável que nossa atual Constituição estabelece “diretrizes voltadas também para o eficiente funcionamento do mercado, de forma a viabilizar o pleno exercício privado da atividade empresarial”29. Essas diretivas poderiam sugerir uma aparente contradição, ao propor, simultaneamente, uma forma econômica capitalista – valorizando a proprieda- de privada dos meios de produção e a livre iniciativa –, e o intervencionismo sistemático estatal, visando resultados socializadores, característica que remete à Constituição de Weimar, na Alemanha, de 1919, por ser um marco constitu- cional relativo à inserção da ordem econômica em seu texto, relacionando-a à existência digna30. Mas, antes de uma reflexão sobre tais aspectos, oportuno ter em mente o alerta do Ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, feito no encerramento do Congresso Brasileiro de Direito Comercial, em São Paulo, em 2014: “Precisamos superar o preconceito e a desconfiança que ainda exis- tem no Brasil em relação ao empreededorismo e à iniciativa privada. Temos um capitalismo envergonhado. Ser progressista significa querer distribuir as riquezas de forma mais justa. Mas a história provou que, ao menos no atual estágio da condição humana, a iniciativa privada 27 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Trad. Lucia Guidicini e Alessandro Berti Contessa. 2 ed. 3 tir. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 56. 28 PALMER, Tom G. Por que ser libertário?. In: Por que liberdade? Trad. Matheus Pacini, rev. Vi- nícius Cintra. Ottawa, IL, USA: Students for Liberty & The Atlas Network/ Jameson Books Inc.. 2013, p. 5-13. 29 PIMENTA, Eduardo Goulart. Direito societário. 2 ed. atual. e ampl., Belo Horizonte: Expert. 2020, p. 36. 30Constituição de Weimar, art. 151, caput: “A organização da vida econômica deve cor- responder aos princípios da justiça e ter como objetivo a garantia de uma existência humana digna a todos. Dentro destes limites, a liberdade econômica do indivíduo deve ser assegurada” (tradução livre). Texto original: “Die Ordnung des Wirtschaftslebens muss den Grundsätzen der Gerechtigkeit mit dem Ziele der Gewährleistung eines mens- chenwürdigen Daseins für alle entsprechen. In diesen Grenzen ist die wirtschaftliche Freiheit des einzelnen zu sichern”. 49 é melhor geradora de riquezas do que o Estado. Trata-se de uma constatação e não de uma opção ideológica. Precisamos aceitar esta realidade e pensar a vida a partir dela.”31 A partir disso, insta perguntar: falar em propriedade privada e livre ini- ciativa implica ausência completa de intervenção estatal? Pensamos que não. A livre iniciativa, em nosso atual Ordenamento jurídico, não pode ser tratada como laissez-faire32, pois em que pese o sistema capitalista, nossa Constituição da República de 1988 positiva, concomitantemente, princípios sociais. Assim, a propriedade privada deve ser protegida, mas deve cumprir uma função social, com seu uso adequado e racional, em respeito à comunidade onde se insere, a fim de harmonizar tais princípios com a existência digna, que é a finalidade da Ordem Econômica, prevista na CR/1988, de forma que os interesses públicos e privados – aparentemente dissonantes –, sejam harmonizados, visando garantir direitos individuais, valorizando a justiça social. Como fazer isso? Pensamos que conciliando interesses do empresário com a sociedade em geral, seja seus empregados, seus clientes, seus concorrentes etc., sem que a livre iniciativa seja tratada como sinônimo de liberdade econômica33 absoluta; não, nos moldes de nossa atual Constituição da República. Mesmo porque não se tratam de princípios absolutos, de forma que devem ser pon- derados com as questões públicas, para “neutralizar ou reduzir as distorções que possam advir do abuso da liberdade de iniciativa”34. Somado a isso, é fácil perceber que os princípios, dispostos no mencionado art. 170, não guardam “homoge- neidade funcional”. Ademais, o art. 173 dispõe que o Estado poderá promover a exploração direta de atividade econômica “quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo”. Assim, pensamos que o desafio brasileiro, nos termos de nossa atual Constituição da República, é buscar a harmonização desses princípios, indi- viduais e sociais (propriedade privada dos meios de produção x função social 31 BARROSO, Luis Roberto. Estado e livre iniciativa na experiência constitucional brasileira. Apon- tamentos para a conferência de encerramento do Congresso Brasileiro de Direito Comercial, São Paulo, 11 de abril de 2014. 32 Laissez-faire é uma expressão francesa que pode ser traduzida como “deixar fazer”, di- retamente associada à economia liberal, que propõe que Estado não deve interferir no funcionamento do mercado, limitando-se a proteger, basicamente, a Lei e a ordem. 33 Mises explica que o sistema de liberdade econômica “é a economia de mercado, é o sistema em que a cooperação dos indivíduos na divisão social do trabalho se realiza pelo mercado”, em que todos prestam serviços entre si, em diferentes funções e carreiras, frisando que o mercado não é um lugar, mas, sim, “um processo, é a forma pela qual, ao vender e comprar, ao produzir e consumir, as pessoas estão contribuindo para o funcionamento global da sociedade”, podendo, inclusive, mudarem seu status ao longo desse processo, de forma que “num sistema desprovido de mercado, em que o governo determina tudo, todas essas outras liberdades [de expressão, de pensamento, de culto, de imprensa etc.] são ilusórias, ainda que postas em forma de lei e inscritas na constituição”. In: MISES, Ludwig von. As seis lições. Trad. Maria Luiza Borges. 9ª ed., São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2018, p. 55/56. 34 BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212. 50 da propriedade; liberdade contratual x dirigismo contratual), sempre tendo em conta o alerta de Barroso, no sentido de que o Estado não pode pretender subverter os papéis de cada um na Economia e pretender que a iniciativa pri- vada renuncie ao lucro e, em lugar dele, “oriente sua atividade para a consecução dos princípios-fins [v.g., existência digna, diminuição das desigualdades sociais etc. ] da ordem econômica como um todo, com sacrifício da livre-iniciativa”, pois isso seria dirigismo. E continua seu raciocínio, exemplificando: “O Poder Público não pode supor, e.g., que uma empresa esteja obrigada a admitir um número x de empregados, independentemente de suas necessidades, apenas para promover o pleno emprego. Ou ainda que o setor privado deva compulsoriamente doar produtos para aqueles que não têm condições de adquiri-los, ou que se instalem fábricas obrigatoriamente em determinadas regiões do País, de modo a impulsionar seu desenvolvimento.”35 Mamede faz importante alerta: “A submissão da empresa ao regime jurídico do Direito Privado não é apenas uma simples localização temática ou, menos ainda, uma questão meramente teórica. É um princípio jurídico que subsiste à sombra dos princípios da livre iniciativa e da propriedade privada. [...] A lógica jurídica e econômica da empresa corresponde ao espaço privado da sociedade, não ao seu espaço público. A empresa atende, imediatamente, aos interesses de seus titulares, servindo à busca do lucro. Apenas mediatamente submete-se ao interesse público.”36 Podemos concluir que o Estado deve respeitar esses limites, de forma que o Direito deve proteger a empresa e o mercado, para que não se tenha a transferência indiscriminada, desproporcional, dos deveres públicos ao par- ticular, como se este fosse o responsável por garantir e executar os interesses públicos. A função social, frise-se, não deve ser confundida com o fim social do empresário, que é a obtenção do lucro, de forma lícita. Conforme exposto anteriormente, ao pensarmos na função social que o empresário desempenha, não devemos relacionar tal tema à ideia de que aquele deva abrir mão do lucro para servir ao povo altruisticamente37; mas se refere ao respeito à coletividade, que pode ser evidenciado na atuação positiva do empresário (pessoa natural ou jurídica) para o desenvolvimento da economia, a partir da geração de empregos, da contratação de fornecedores e prestadores de serviços, da produção e/ou circulação de bens ou de serviços, da inovação, mas usando esses recursos da 35 BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212. 36 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São Paulo: Atlas, 2013, p. 42. 37 MISES, Ludwig von. Intervencionismo, Uma Análise Econômica. 2 ed. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 80. 51 forma como lhe aprouver e em prol de sua atividade econômica; tudo isso revela o importante papel do empresário para a sociedade, para a coletividade, tanto que se tem o princípio da preservação da empresa, justamente para garantir essa função social de uma sociedade empresária. Mas, sempre tendo em mente que a liberdade de iniciativa deve se sobrepor à burocracia, pois o fim almejado pelos empresários é o lucro, enquanto o ambiente burocrático, conforme alerta Mises, tende a causar gastos supérfluos, em razão da dificuldade de se fazer avaliações, próprias de uma organização empresarial, tal como sua contabilidade e escrituração a fim de se calcular os lucros e perdas, por exemplo, bem como dos critérios formais de seleção, nomeação e promoção das pessoas envolvidas, distintosdos que são feitos pela iniciativa privada38. O empresário deve exercer sua empresa com liberdade, sem ter que se preocupar mais com os desejos e caprichos formais a ele impostos – para evitar sanções negativas –, do que com sua atuação econômica na busca pelo lucro, conforme alerta Mises, sob pena o empresário burocratizar o seu negócio39. Afinal, ensina o festejado economista, “nenhuma empresa privada, qualquer que seja o tamanho, pode tornar-se burocrática, na medida em que é total e unicamente operada em bases lucrativas” (sic), de maneira que se o empresário tiver que atender a “preconceitos políticos e à suscetibilidade de todos os tipos”, vale dizer, cedendo ao intervencionismo simplesmente para ter que “evitar que seja continuamente importunada por vários órgãos estatais”, com o tempo, ele perceberá que “não está mais em condições de basear seus cálculos sobre o sólido princípio de lucros e perdas”40. Dessa forma, estando mais claros os papéis do Público (Estado) e do Privado (empresários e empreendedores) na questão econômica, oportuna a observação de Gomes: “Nesse contexto, assumem grande importância a livre-iniciativa e a livre concorrência, revelando-se como princípios norteadores do desenvol- vimento regular da atividade empresarial pelo setor privado no país.”41 Resta claro que a atividade empresarial e o próprio Direito Comercial se fundam na liberdade de iniciativa – observados os limites da licitude –, por serem garantias constitucionais que devem não somente nortear as Leis infra- constitucionais, como também favorecer e promover o empreendedorismo no 38 MISES, Ludwig von. Liberalismo segundo a tradição clássica. 2 ed., trad. Haydn Coutinho Pimenta São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 120/122. 39 Há autores, contudo, que defendem o contrário, alegando que, no século XXI, o empresário deve agir pautado pela sustentabilidade, aceitação social, redução das desigualdades etc., a fim de aumentar a própria reputação. (NALINI, José Renato. Ética empresarial. In: Coletânea da atividade negocial/ org.: André Guilherme Lemos Jorge et al. – São Paulo: Universidade Nove de Julho - UNINOVE, 2019, p. 221/227). 40 MISES, Ludwig von. Liberalismo segundo a tradição clássica. 2 ed., trad. Haydn Coutinho Pimenta São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 122. 41 GOMES, Fábio Bellote. Manual de Direito Empresarial. 4 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013, p. 46. 52 Brasil. Afinal, “no plano da Constituição de 1988, a liberdade é consagrada, principio- logicamente, como fundamento da República Federativa do Brasil e como fundamento da ordem econômica”42, que se revela de diferentes formas na atividade negocial, v.g., liberdade de iniciativa, liberdade de comércio e indústria, liberdade de concorrência, liberdade contratual etc.. E, conforme alerta Pimenta, a empresa e o mercado livre “dependem da intervenção normativa sobre o funcionamento deles, de modo a corrigir suas inevitáveis falhas e moldar-lhes o exercício conforme os valores prevalentes à época”43. O Estado é importante para determinar o que Friedman denomina “regras do jogo” – o mercado deve ser impessoal, sem rivalidades pessoais, para ser competitivo realmente –, mas sem que aquele tenha que par- ticipar diretamente do jogo, atuando como um árbitro e mantendo as regras em vigor, de forma a evitar a coerção de um indivíduo por outro, a propiciar a execução dos contratos que foram celebrados voluntariamente, a evitar a criação e manutenção de monopólios – para garantir, efetivamente, a liberdade de troca, de outros atuarem no mesmo ramo –, etc.44. Pensamos que, visando garantir essa ideia, o Constituinte inseriu os incisos do art. 170, destacados acima, para que, a partir de seu entendimento e aplica- ção adequada, o operador do Direito possa definir, claramente, quais seriam as práticas econômicas e empresariais nocivas ao modelo Constitucional e quais normas infraconstitucionais tendem a assegurar o modelo Constitucional, vez que, nos termos do art. 173, da CR/88, é poder-dever do Estado reprimir abusos do poder econômico e atos de concorrência desleal, não só do Direito Comer- cial, como também do Direito Econômico. Assim, ao se falar, por exemplo, em garantir o direito subjetivo à livre concorrência, surge concomitantemente, o dever jurídico de não agir de forma desleal, anticoncorrencial, afetando não só os concorrentes diretos, como também o mercado, o consumidor. Voltando os olhos mais especialmente ao Direito Comercial, um impor- tante princípio é o da livre iniciativa, que nas palavras do Ministro Barroso, “pode ser decomposto em alguns elementos que lhe dão conteúdo, todos eles desdobrados no teto constitucional”45, vinculando-o à propriedade privada (CR/88, art. 5°, XXII), à liberdade de empresa, à livre concorrência e à liberdade para contratar (CR/88, art. 5°, II). Várias dessas questões serão trabalhadas ao longo dos próximos Capítulos deste Curso, mas a título meramente exemplificativo e didático, vejamos o quadro abaixo: 42 GRAU, Eros Roberto. Princípios da ordem econômica e empresa. In: Coletânea da atividade negocial/ org.: André Guilherme Lemos Jorge et al. – São Paulo: Universidade Nove de Julho - UNINOVE, 2019, p. 20. 43 PIMENTA, Eduardo Goulart. Direito societário. 2 ed. atual. e ampl., Belo Horizonte: Expert. 2020, p. 28. 44 FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. Rio de Janeiro: LTC, 2014. 45 BARROSO, Luis Roberto. A Ordem Econômica Constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços. Revista de Direito Administrativo. v. 226, Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 187-212. 53 Princípio Constitucional Ato analisado Norma Infraconstitucional Propriedade Privada (CR/88, art. 170, II) Proteção conferida ao titular de marca ou de patente;46 Proteção à responsabilidade limi- tada de sócio;47 Lei n°. 9.279/96 Lei n°. 10.406/2002 Lei n°. 6.404/1976 Função social da propriedade (CR/88, art. 170, III) Proteção conferida ao ponto co- mercial, na locação comercial;48 Preservação da empresa;49 Lei n°. 8.245/91 Lei n°. 10.406/2002 Livre concorrência (CR/88, art. 170, IV) Criação da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada;50 Proteção ao nome empresarial e à marca;51 Lei n°. 10.406/2002 Lei n°. 10.406/2002 e Lei n°. 9.279/96 Outros atos tem sua situação mais complexa e entrelaçada com um ou mais princípios, tal como acontece com a proteção às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte52. A priori, tal proteção poderia ser considerada contrária à livre concorrência, mas esse choque seria apenas aparente, pois a intenção é proteger as pessoas que possuem menores condições de competitividade no mercado, se comparadas aos grandes empresários e conglomerados, para que, dessa maneira, seja efetivada a liberdade de concorrência e de iniciativa. Orientados por esses princípios, consagrados a partir de 1988, vencidos o preconceito e a desconfiança em relação à iniciativa privada, podemos passar à nossa atual legislação. Com isso – o advento do Código Civil de 200253 – mudou-se o foco do Direito Comercial brasileiro: o que interessa, agora, é a empresa (atividade 46 Sobre Marcas e Patentes, veja-se especialmente os Capítulos 9 e 11. 47 Sobre a proteção à responsabilidade limitada do sócio, veja-se especialmente os Capítulos 5 e 13. 48 Sobre a proteção conferida ao ponto comercial, na locação comercial, veja-se especialmente o Capítulo10. 49 Sobre a preservação da empresa, veja-se especialmente os Capítulos 10 e 13. 50 Sobre a EIRELI, veja-se especialmente o Capítulo 5. 51 Sobre a proteção ao nome empresarial e à marca, veja-se especialmente os Capítulos 8 e 9. 52 Sobre Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, veja-se especialmente o Capítulo 4. 53 O Código Civil brasileiro, de 2002, em seu Livro II, pode ser entendido, em síntese, como uma cópia do pensamento fascista de Benito Mussolini, que, tal como alertado pelo festeja- do Prof. Wille Duarte Costa, no prefáciohistórico desta obra, não gostava de comerciantes e da atividade mercantil. Afinal, dentre as características atribuídas ao regime fascista, por estudiosos do tema – v.g., Renzo de Felice e Emilio Gentile –, estão a busca por um Estado forte, em contraposição ao liberalismo, à mentalidade liberal – criticada por Alfredo Rocco, jurista que foi ministro da justiça de Benito Mussolini –, com adoção de medidas populistas, direcionadas a combater o livre mercado; organização da classe trabalhadora, com forte apoio 54 econômica organizada), exercida, profissionalmente, por um empresário ou por uma sociedade empresária (para a produção ou a circulação de bens ou de serviços) e não mais a prática de atos de comércio. Mas, apesar dessa mudança de foco, a Lei n. 10.406/2002 não definiu a empresa; definiu o empresário e a sociedade empre- sária. De qualquer forma, com essa mudança de foco, nosso Direito Comercial se afastou da “teoria dos atos de comércio”, criada pelos franceses, e abraçou a “teoria da empresa”, criada pelos italianos; saiu da chamada fase “objetivista”, determinada pelo Regulamento n. 737, e entrou, novamente, na fase “subjetivis- ta”; uma fase “subjetivista mais que moderna” (para não se confundir com a fase “subjetivista moderna”, própria do processo de evolução do Direito Comercial no mundo), uma fase subjetivista contemporânea, diferente, com característica própria, onde a figura central, na verdade, é o empresário e a sociedade empresária, sujeitos de direito; não a empresa, que não é sujeito, mas objeto, vez que exercida por um empresário ou por uma sociedade empresária. Por outras palavras, não é a empresa quem faz a produção ou a circulação de bens ou serviços; é o empresário ou a sociedade empresária, por intermédio da empresa. O sujeito, pois, não há dúvida, é o empresário ou a sociedade empresária (Lei n. 10.406/2002, arts. 966 e 982). Aí, portanto, o porquê de termos falado em fase subjetivista mais que moderna, contemporânea, diferente. E aí, também, a razão de muitos quererem, agora, chamar o Direito Comercial de “Direito Empresarial”. De notar, entretanto, que o Código Civil brasileiro, de 2002, não fez essa alteração de nome e nem a autorizou; apenas chamou a si, por opção do legislador, a competência para disciplinar uma parte da matéria comercial; parte que ele denominou “direito de empresa”; não, “direito empresarial”. Apenas isso; nada mais. Mesmo porque não está definido, ali, todo o objeto, todo o conteúdo do Direito Comercial. O que, no Código Civil de 2002, se chama “direito de empresa” é apenas uma pequena parte do conteúdo do Direito Comercial brasileiro. Por conseguinte, inadmissível para nós, pelo simples fato de ter vindo à luz o Código Civil de 2002, a pretendida alteração do nome desse ramo do Direito. No primeiro semestre de 2019 foi editada a Medida Provisória n. 881, com o objetivo de “instituir a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabelecer garantias de livre mercado, conforme determina o art. 170 da Constituição Federal”, conforme se vê em sua exposição de motivos, que também enalteceu que “a liberdade econômica é cientificamente um fator necessário e preponderante para o desenvolvimento e crescimento econômico de um país”, de forma a valorizar o empre- endedorismo, a livre iniciativa, a presunção de boa-fé na atividade econômica, no intuito de diminuir a intervenção do Estado, especialmente nas atividades consideradas de baixo risco de causar danos. aos sindicatos, para que atuem junto ao Governo, que tende a implementar uma legislação trabalhista com grande proteção ao trabalhador, para evitar a ameaça do grande capital; e, finalmente, a idolatria por um líder com imagem vinculada à classe operária. Diante dessas características, é fácil concluir que o pensamento fascista não valorizava o comerciante e a atividade comercial. Afinal, conforme destaca o economista Mises, o programa econômico da Itália de Mussolini era “totalmente antiliberal e a política econômica totalmente intervencionista” (MISES, Ludwig von. Liberalismo - segundo a tradição clássica. 2 ed. Trad. Haydn Coutinho Pimenta. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, p. 75). 55 Dentre as propostas mais relacionadas aos temas de Direito Comercial, estavam a reforma de regras referentes à Empresa Individual de Responsabili- dade Limitada (EIRELI), mudanças relacionadas às sociedades anônimas e ao mercado de capitais, favorecendo a adesão de empresários de menor porte, a criação da sociedade limitada unipessoal, bem como alterações relacionadas ao Registro Público de Empresas Mercantis. Após os debates do Congresso Nacional, a referida Medida Provisória n. 881 foi sancionada, em 20 de setembro de 2019 (Lei n. 13.874/2019), mais conhecida como “Lei da Liberdade Econômica”. A essência da nova Lei pode ser vista logo em seu art. 1°, que destaca: • “proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica” (art. 1º, caput); • “atuação do Estado como agente normativo e regulador, nos termos do inciso IV do caput do art. 1º, do parágrafo único do art. 170 e do caput do art. 174 da Constituição Federal” (art. 1º, caput); • interpretação “em favor da liberdade econômica, da boa-fé e do respeito aos contratos, aos investimentos e à propriedade todas as normas de ordenação pública sobre atividades econômicas privadas” (art. 1º, § 2º). Para tanto, foram expressos os princípios que norteiam a Liberdade Eco- nômica, no art. 2º, in verbis: “I - a liberdade como uma garantia no exercício de atividades econômicas; II - a boa-fé do particular perante o poder público; III - a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o exercício de atividades econômicas; e IV - o reconhecimento da vulnerabilidade do particular perante o Estado. Parágrafo único. Regulamento disporá sobre os critérios de aferição para afastamento do inciso IV do caput deste artigo, limitados a questões de má-fé, hipersuficiência ou reincidência.” Há outras questões relevantes, relacionadas ao Código Civil, tal como o art. 7°, sobre as mudanças relacionadas ao instituto da desconsideração da personalidade jurídica, e que são tratadas em tópico específico, no Capítulo 13, item 8.3. Mas, o referido art. 7° apresenta outras alterações importantes, relativas ao art. 421, do Código Civil, que enaltece os princípios da liberdade contratual e da função social dos contratos54, que se relacionada à importância do contrato para a sociedade; bem como a inserção do art. 421-A, que trata interpretação dos contratos. Trata, também, da distinção patrimonial da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, com a inserção do § 7º, ao art. 980-A, analisadas em tópico específico, no Capítulo 5, 54 CC, art. 421: “A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.” 56 item 6.2., além de instituir a sociedade limitada unipessoal, que será abordada no Capítulo 13, item 6.6., todos deste Curso. Tais mudanças, dentre outras inseridas pela Lei da Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/2019), visam à melhoria do ambiente de negócios no Brasil, o que é imprescindível para o desenvolvimento econômico e social, “porque são os empreendedores que geram emprego e renda para a população, e não o Estado”55, conforme importante alerta de Ramos. Pode-se concluir, pois, que o chamado Direito Comercial – também de- nominado empresarial, de negócios, mercantil etc. –, está em constante mutação, apesar de manter, ao longo de séculos, suas características e sua autonomia. Con- forme sintetizado por Adeodato, “a dinâmica da empresa é diretamente proporcional às modificações aceleradas por que passa a economia”56, sendo um fenômeno que pode ser considerado iniciado na Idade Média – como um direito próprio dos comer- ciantes –, passando pela revolução burguesa e evoluindodesde a teoria francesa dos atos de comércio até a teoria italiana da empresa, indo muito além da mera mudança na nomenclatura ou na denominação desse ramo do Direito Privado. 5. DIVISÃO DO DIREITO PRIVADO Como já sabemos, o Direito Comercial surgiu porque o Direito Comum (Civil) não foi capaz de satisfazer as necessidades mercantis. Consequentemente, a divisão ou dicotomia do Direito Privado se deu em função de necessidades sociais. Considerando que o Direito Co- mum ou Civil não tinha o sentido prático, a versatilidade, o informalismo que o comércio exigia, os comerciantes, por intermédio de suas corporações, criaram um Direito próprio, capaz de atender às suas necessidades. Assim se explica ou se justifica, pois, a divisão do Direito Privado, que não raras vezes é combatida, com veemência, por muitos e famosos doutrinadores, que a con- sideram contrária à lógica e à ciência. Mas já que houve a divisão, como justificar, hoje, a autonomia do Direito Comercial diante do Direito Civil? É fácil; muito fácil. Basta lembrar que: a) o Direito Civil se ocupa de atos isolados, trabalhando, por isso mesmo, com o método dedutivo, isto é, parte de fatos ou princípios e, assim, com base em uma ou mais premissas, deduz, chega a uma conclusão necessária ao caso concreto, em virtude da correta aplicação das regras lógicas; b) o Direito Comercial, por sua vez, cuida dos negócios em massa, traba- lhando, então, com o método indutivo, que é uma operação mental que 55 RAMOS, André Santa Cruz. A Lei da Liberdade Econômica e as mudanças na Legislação de Registro Empresarial. In: Estudos Jurídicos: Constitucional e Empresarial, p. 45-54. São Carlos/SP: Rima, 2020. 56 ADEODATO, João Maurício. Os futuros da empresa. In: Coletânea da atividade negocial/ org.: André Guilherme Lemos Jorge et al. – São Paulo: Universidade Nove de Julho - UNI- NOVE, 2019, p. 51. 57 consiste em estabelecer uma proposição geral com base no conhecimento de certo número de dados singulares ou de proposições de menor ge- neralidade. Vale dizer: ele sugere, induz, incita, faz conexão ou interação, junta por acoplamento. E essa autonomia jurídica do Direito Comercial/Empresarial, registre-se, está expressa no Código Civil brasileiro de 2002, que fez, em parte, a unificação legislativa do Direito Civil e do Direito Comercial. Nele, a matéria comercial/ empresarial, que o legislador resolveu denominar “Direito de Empresa”, está disciplinada no Livro II da Parte Especial, tem 230 artigos (do 966 ao 1.195) e não se confunde, de forma alguma, com a matéria civil, disciplinada nos demais artigos da Lei n. 10.406, de 2002. Não tivesse ele autonomia jurídica, não haveria razão para esse tratamento diferenciado, na mesma lei. A divisão do Direito Privado, então, está presente em nosso País, muito embora seja grande o movimento no sentido de unificá-lo. Se tal acontecer, ou seja, se houver essa unificação, o Direito Comercial, ou Empresarial, perderá sua autonomia jurídica? Deixará de existir? A resposta é negativa. O Direito Comercial/Empresarial, mesmo havendo efetiva unificação do Direito Privado, continuará a existir, enquanto disciplina científica, didática, autônoma. Apenas o Código Comercial desaparecerá. Nada mais. Aliás, boa parte dele já desapareceu, conforme registrado no item 4, retro. Nem por isso o Direito Comercial/Empresarial perdeu sua autonomia jurídica; nem por isso deixou de existir. Qual é a causa desse movimento? Embora muitos não aceitem, a verdadeira razão do crescimento desse desejo de unificar o Direito Privado decorre do fato de, a cada dia, mais e mais atividades civis (não empresariais) passarem para o campo de abrangência do Direito Comercial/Empresarial. Exemplo disso foi a sujeição das incorporadoras de imóveis à falência (Lei n. 4.591/64, art. 43, III), que só é admitida para os comerciantes, e o fato de ter-se declarado comercial a empresa de construção civil (Lei n. 4.068/62). Por outras palavras, a cada dia o Direito Comercial/Empresarial aumenta sua influência; invade o campo de abrangência do Direito Civil. E, registre-se, não se verifica movimento em sentido contrário, ou seja, uma atividade comer- cial/empresarial passar a ser civil (não empresarial). E que não se diga que, com o advento da Lei nº 10.406, a sociedade cooperativa migrou para o campo de abrangência do Direito Civil. Não; ela sempre teve natureza civil (Lei nº 5.764/71: art. 4º). Só o seu registro, por força, equivocadamente, do disposto no art. 18 dessa mesma Lei nº 5.764/71, era feito na Junta Comercial. Mas isso não lhe dava ou dá natureza comercial ou mercantil. Portanto, não houve essa migração. Da mesma forma, as sociedades que se dedicam ou já se dedicavam às atividades artísticas (que, por força do disposto no artigo 19, § 3º, do revogado Regulamento nº 737, de 1850, sempre se registraram na Junta Comercial) continuarão, com certeza, 58 vinculadas ao Registro Público de Empresas Mercantis, vez que, se não tiverem, tratarão de introduzir e evidenciar, em seus atos orgânicos, a existência de um ou mais elementos de empresa, o que autorizará seu registro na Junta Comercial. E a unificação legislativa obtida por meio da Lei n. 10.406, citada, só fez confirmar essa assertiva, como evidenciado no item 2, deste capítulo. Se assim é, podemos afirmar, esse movimento de unificação não é deter- minado pelo Direito Civil, mas pelo próprio Direito Comercial/Empresarial. Mas é possível uma unificação total, plena, no Brasil? Sim, desde que eliminemos as grandes diferenças que evidenciam os limites das atividades comerciais/empresariais e civis (não empresariais). Profundas modi- ficações, portanto, haverão de ser feitas na legislação, de modo a tornar os institutos, de um e de outro, compatíveis. Não poderá existir, por exemplo, a insolvência co- mercial (falência) ao lado da insolvência civil, como ocorre nos dias atuais. Se assim não se fizer, ainda que as matérias sejam disciplinadas por uma única lei, não haverá, de fato, unificação; não se acabará, na realidade, com a divisão do Direito Privado. Essa pretendida unificação, portanto, será muito difícil de ser conseguida, no Brasil. 6. OBJETO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL Vimos, de forma abrangente, que o Direito Comercial brasileiro abarcava as atividades de intermediação e de produção. Mas nem todas, à vista da não coincidência dos conceitos econômico e jurídico de comércio. Se houvesse essa coincidência, a definição do objeto do Direito Comercial decorreria do conceito econômico e social de comércio. Já que assim não era e já que adotávamos a “teoria dos atos de comércio”, havia, invariavelmente, a necessidade de se de- terminar o que era matéria comercial, para diferenciá-la de matéria civil. Então, perguntava-se: o que é matéria comercial? Ou: qual é o objeto do Direito Comercial? Com o advento da Lei n. 10.406, de 2002, passamos a adotar a “Teoria da Empresa” e, em função dela, para sabermos se estamos diante de um empresário ou de uma sociedade empresária, precisamos verificar não o “gênero” da atividade, mas a “forma” de exercício dessa atividade, conforme será estudado mais adiante. Mesmo assim, considerando que o Direito Comercial é um “complexo de normas jurídicas de Direito Privado que, historicamente, se formou a latere do Direito Civil, com base nos estilos criados e respeitados pelos comerciantes”, a conclusão só pode ser a seguinte: a definição de matéria comercial ou do objeto do Direito Comercial só pode estar na “lei comercial”. Por quê? Porque desde que se tornou um direito eminentemente escrito, legislado, é a “lei comercial”, com exclusividade, que explica o conteúdo do Direito Comercial; que determina ou define o objeto do Direito Comercial, a matéria comercial. Ao contrário, se houvesse a coincidência a que se fez referência, seria a matéria comercial a que determinaria o conteúdo da “lei comercial”, tomada em sentido amplo. Como assim não acontece, o conceito de objetodo Direito Comercial ou de matéria comercial é de Direito Positivo. Por outras palavras, é a lei que define, em cada 59 país, qual é o objeto de seu Direito Comercial. Basta lembrar que, juridica- mente, comércio é um “conjunto de atos a que, num determinado país, numa determinada conjuntura histórica, se aplica o Direito Comercial desse país”. Consequentemente, é por intermédio da “lei comercial/empresarial” que se faz a distinção entre matéria comercial/empresária e matéria civil (não empresária). Prova disso é que, no Código Civil de 2002, à matéria comercial ali definida – a que o legislador, recorde-se, chamou “Direito de Empresa” – foi dedicado um livro específico, possibilitando-nos, assim, fazer, sem maiores dificuldades, a distinção. 7. FONTES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL Quando se indaga sobre as fontes de um Direito, busca-se sua origem, sua causa, sua procedência, seu nascedouro. Vale dizer: os modos pelos quais surgiram aquelas normas jurídicas. Porém, há autores que entendem a expressão fontes do direito como uma “metáfora cheia de ambiguidades”57, por certa confusão, no emprego de tal expressão, com a origem histórica, sociológica, costumeira, jurisprudencial etc., o que leva a diferentes formas de classificá-las, v.g., fontes formais e não formais (ou materiais), fontes primárias e secundárias etc.. Não obstante, entendemos que o que se busca é o modo de formação da norma, especialmente, nesta obra, da norma comercial, em que pese a ideia defendida por alguns de que não “existem fontes “próprias” do direito comercial”58, por serem fontes do Direito simplesmente. Contudo, pensamos diferentemente, e defendemos a possibilidade de identificação das fontes do direito comercial. Mesmo porque, ao se pensar nas fontes do Direito, é importante ter critérios claros para saber definir, “a cada instante, o que deve competir ao Estado, à sociedade privada, ao indivíduo”59, a fim de se ter um conjunto coerente e a definição dos limites do papel do Estado. Passemos às chamadas fontes primárias e secundárias, ou subsidiárias, por entendermos que explicam melhor o tema, em razão da hierarquia das fontes, proposta por tal critério. Fontes do Direito Comercial/Empresarial, portanto, são os modos pelos quais surgiram as normas jurídicas de natureza comercial/empresarial Conforme já analisado, o Direito Comercial surgiu de forma fragmentária, na Idade Média, em função de o Direito Civil não ter sido versátil o suficiente para acompanhar o desenvolvimento do tráfico mercantil. Assim, o Direito Comercial nasceu a latere do Direito Civil; não do Direito Civil. Se assim é, indaga-se: o Direito Civil é ou pode ser considerado como fonte do Direito Comercial? 57 FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução em estudo do Direito. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 225. 58 SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007, p. 82. 59 FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução em estudo do Direito. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 227. 60 A resposta, pelo acima exposto, será negativa, muito embora haja quem60 diga seja ele fonte subsidiária, secundária, pelo fato de suprir as lacunas ou omissões do Direito Comercial, que é fragmentário. Tal entendimento, porém, não nos parece correto. E nem mesmo o fato de a Lei n. 10.406, de 10.1.2002, que instituiu o Código Civil brasileiro, ter chamado a si a competência para tratar dos assuntos de que cogitavam os arts. 1º a 456 de nosso vetusto Código Comercial impõe uma mudança de opi- nião. Basta pensar no conceito de fonte e no como e porque surgiu o Direito Comercial, para se perceber nossa filiação à corrente oposta. Ademais, como direito comum, o Direito Civil se aplica a todas as relações de direito privado, quando não for afastado pelas regras do direito especial. E as regras jurídicas comerciais/empresariais, vimos, constituem um direito especial, ainda que estabelecidas ao lado das regras civis. São elas que definem o que é matéria comercial/empresarial, a ela (matéria comercial/empresarial) se aplicando com exclusividade. Sobre essa diferença e, a fim de exemplificar isso, mister notar a explicação de Lopes: “Primeiro, vale lembrar que é relativamente fácil para os juristas naturalizarem as instituições do direito civil. Casamento, sucessões, contratos e promessas, obrigações por atos ilícitos, estado das pessoas, tudo isso parece compatível com uma filosofia natural; são categorias que parecem refletir verdades a priori, categorias do espírito jurídico. Dessa forma, mudanças nos institutos jurídicos civis são dificultadas por essa naturalização pela qual passaram a partir dos séculos XVI e XVII. O mesmo não se dá com as categorias do direito comercial. Títulos de crédito, obrigações cartulárias, abstratas e literais não são facilmente confundidas com aquelas coisas “que a natureza ensina aos homens e aos animais”; sociedades com responsabilidade limitada, ou ilimitada, cuja participação pode ser representada por cotas ou ações, em forma de comanditas ou simples, tampouco se prestam a um entendimento muito natural. São mais claramente matérias de razão artificial.”61 Logo, a verdadeira e principal fonte do Direito Comercial/Empresarial é a “lei comercial/empresarial”. No Brasil, então, são fontes principais: o Código Comercial (Lei n. 556, de 25.6.1850) e todas as demais leis que se lhe seguiram e que tratam de matéria comercial/empresarial, como é o caso, agora, da Lei n. 10.406, de 10.1.2002, que disciplina, em seu livro II, parte especial, o “Direito de Empresa”. Mas esse fato, insiste-se, não determina que o Direito Civil seja fonte do Direito Comercial/ 60 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial: empresa comercial, empresários individuais, micro- empresas, sociedades empresárias, fundo de comércio. Ed. rev. E atual. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 43. E BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial, v. 1 – Teoria geral do direito comercial, direito societário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 47. 61 LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 9. 61 Empresarial. O Direito Comercial/Empresarial, permita-se a repetição, não nasceu do Direito Civil, mas a latere do Direito Civil. E considerando que o Direito Comercial foi, no início, um direito costu- meiro ou consuetudinário, conserva ele, até hoje, como fonte subsidiária, os usos e costumes comerciais. Tal entendimento é adotado, também, por outros autores62, que defendem a importância das práticas mercantis para a interpretação das normas e aplicação do Direito. E, junto dos usos e costumes, como fonte secundária, há quem elenque a doutrina, a analogia, a jurisprudência e os princípios gerais de Direito. Mas, não há consenso acerca delas: enquanto há quem rechace a ideia da doutrina como fonte, por ser apenas meio para auxiliar o processo de compreensão, outros a defendem como fonte63. O mesmo fenômeno pode ser identificado com relação aos princípios gerais de Direito64, a jurisprudência65 e a analogia66. Por isso, enfatizamos a questão dos usos e costumes como fonte secundária. 8. USOS E COSTUMES COMERCIAIS Um uso e costume nasce, individual e espontaneamente, num deter- minado lugar. Somente depois se torna geral. Assim sendo, pode ser um uso local, regional ou nacional e até mesmo um uso internacional, dependendo da expansão alcançada. Mas para que a prática seja reconhecida como um uso ou costume, é preciso que ela seja uniforme, constante e utilizada por certo tempo. Só assim será um uso e costume, que deve ser exercido de boa-fé e segundo os princípios básicos da lei comercial/empresarial, não podendo, nunca, se contrapor à lei, se esta for imperativa. Não podem os usos e costumes comerciais, pois, ser contra legem. Mesmo assim, pode-se substituir uma lei por um uso e costume comercial, se assim quiserem as partes. Mas não bastaesse querer. É preciso que a lei não 62 GOMES, Fábio Bellote. Manual de Direito Empresarial. 4ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 33. 63 SILVA defende a doutrina como fonte e explica que FAZZIO JR. e GOMES a rechaçam, enquanto VENOSA defende a doutrina como fonte. SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007, p. 89/90. Fran Martins não elenca a doutrina como fonte, in: MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 43. 64 SILVA explica que ROCCO rechaça, enquanto VENOSA defende os princípios gerais de Direito como fonte. SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007, p. 90. Fran Martins os defende como fonte, in: MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 43. 65 SILVA explica que FAZZIO JR. e GOMES a rechaçam, enquanto VENOSA defende a jurisprudência como fonte. SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007, p. 90. Fran Martins a defende como fonte, in: MAR- TINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 43. 66 SILVA explica que FRANÇA a rechaça, enquanto GOMES defende a analogia como fonte. SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa – Teoria da empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007, p. 90. Fran Martins a defende como fonte, in: MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 43. 62 seja imperativa, de ordem pública, cabendo a quem invocar o uso e costume provar sua existência e sua vigência. Diante disso, cabe perguntar: Pode o cheque “pré-datado” ser considerado um uso ou costume comercial? Técnica e juridicamente, não. Para o nosso direito (Lei n. 7.357, de 2.9.1985), cheque é “ordem de pagamento à vista” e, como tal, não tem condições – sob pena de total desvirtuamento de sua natureza – de ser “pós-datado”, ou seja, emitido com data futura, datado para depois, e, menos ainda, por razões óbvias, “pré-datado” (nome vulgar do cheque “pós-datado”), já que, no prefixo pré, a ideia de anterioridade, antecedência. A prática, no entanto, sabe-se, é muito utilizada no comércio, no meio empresarial. Isso, porém, não autoriza seu registro – dessa prática – como uso ou costume comercial, vez que, percebe-se, é uma prática que não atende a um princípio básico da lei comercial/empresarial brasileira; ou, mais precisamente, da Lei do Cheque. E a Súmula n. 37067, do Superior Tribunal de Justiça, não muda essa nossa com- preensão. Baseando-se no princípio de que “os contratos, os acordos de vontade, devem ser observados”, vez que as partes são servas do pacto que as vincula (pacta sunt servanda), em tal súmula se afirma, corretamente, que a apresentação anteci- pada de um cheque que foi dado em garantia de dívida gera dano moral. Nada mais que isso. Ela não mudou a Lei do Cheque – nem poderia, porque uma lei só pode ser modificada por outra lei – e nem autorizou classificar o chamado cheque “pré-datado” como uso e costume mercantil. Como se prova a existência e a vigência de um uso ou costume comercial? A maneira mais correta de fazê-lo seria obter da Junta Comercial da circunscrição territorial respectiva certidão nesse sentido, porque, nos termos do art. 8º, VI, da Lei Federal n. 8.934, de 18.11.1994, cabe às Juntas Comer- ciais, com exclusividade, executar o assentamento ou o registro dos usos e práticas mercantis. E nos parágrafos do art. 87 do Decreto Federal n. 1.800, de 30.1.1996, que regulamentou a Lei n. 8.934, citada, as exigências para se fazer tal assentamento. Não existindo o registro, o interessado deverá usar os demais meios de prova admitidos em Direito. Pode não haver o registro? Claro que sim. Principalmente nos dias atuais, à vista do avanço tecnológico e da rapidez com que se processam, consequentemente, as relações comerciais/ empresariais. Tanto isso é verdade que, na Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, que foi criada em 5 de julho de 1893, só existe, até hoje, um único uso e costume comercial registrado: o uso e costume relativo ao cheque visado, levado a efeito em 8/3/1965 e já em desuso, pode-se dizer, à vista dos cheques especiais e cartões magnéticos, entre outros instrumentos criados pelo homem. Tudo em função da dinamicidade do comércio, da rapidez com que ele evolui. 67 STJ, Súmula 370: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.” 63 Ademais, a mencionada Lei n. 7.357, de 2.9.1985, recepcionou a ideia do cheque visado e incorporou-a, por seu art. 7º, ao seu texto. Assim, embora nem tanto utilizado mais, já não se pode dizer, na atualidade, que o cheque visado é um uso ou costume comercial, pura e simplesmente. Hoje, no Brasil, é um instituto de Direito Positivo. E já que o Direito Comercial/Empresarial mantém, tradicionalmente, os usos e costumes como fontes subsidiárias, vejamos sua classificação: usos propriamente ditos ou usos de direito – os que são imperativos e têm força de lei. É dizer: a lei determina, no caso, a utilização do uso e costume do lugar. A eficácia desses usos e costumes, pois, decorre da lei e não da vontade das partes; usos interpretativos ou convencionais – os que não são imperativos e recebem eficácia da simples vontade das partes. Decorrem, portanto, da prática espontânea dos comerciantes; de sua utilização – a seu critério – em suas relações comerciais/empresariais. 9. TRANSCRIÇÃO DO ASSENTAMENTO DO USO E COSTUME RELATIVO AO CHEQUE VISADO, FEITO PELA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS “Atendendo ao que foi requerido pela Associação de Bancos do Estado de Minas Gerais em agosto de 1963, depois de publicados no órgão oficial do Estado, Minas Gerais, em 11, 12 e 13 de junho de 1964, sem qualquer impugnação, ouvidos dois comerciantes e um corretor de fundos públicos da Bolsa de Títulos desta Capital, Senhores Eduardo Simões, Waldemar Rocha e Heitor Picchioni, diretores da Associação Comercial de Minas, e cumpridas as demais disposições regulamentares, foi aprovado na sessão de 8 de março, da Junta Co- mercial, o seguinte assentamento, para validade em todo o Estado: Assentamento n. 1 É já consagrado nos meios comerciais, em suas relações com os estabelecimentos bancários: 1º) o uso do cheque visado, a pedido do sacador ou do favorecido (portador), quando não é reclamado o seu imediato pagamento; 2º) o uso bancário de bloquear a quantia sacada, debitando o sacador, a fim de garantir o pagamento do cheque visado, mesmo que, antes de sua cobertura pelo sacado, sejam apresentados cheques comuns, dentro do prazo de validade, contado da data de sua emissão; 3º) o prazo, considerando o que alude n. 2, é de trinta dias, quando emitido no lugar ou praça de pagamento, e de cento e vinte dias, quando emitido o cheque em lugar ou praça diversa; 64 4º) decorridos os prazos de que trata o n. 3 e não apresentado para pagamento o cheque visado, é costume restabelecer, por meio de estorno contábil, a quantia bloqueada, no crédito do sacador. Registre-se e publique-se. Belo Horizonte, 8 de março de 1965 Lauro Gomes Vidal, Presidente.” 10. PARTICULARIDADES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL Conhecendo-se os traços peculiares do Direito Comercial/Empresarial, que tem natureza e estrutura de Direito Privado – já o sabemos –, podemos diferen- ciá-lo facilmente dos demais ramos de Direito, especialmente do Direito Civil: Cosmopolitismo – decorre da ideia de lucro, que não conhece fronteiras e que é a meta de todo comerciante/empresário. Não é sem sentido, pois, que se busca a unificação comercial da Europa (UE), da América (ALCA) e aqui, no sul, se busca implementar o “Mercosul”. Já em vigor, na atualidade, diversas convenções internacionais regulando relações comerciais/empresariais marítimas e aéreas, sem falar na Lei Uniforme de Genebra, que regea letra de câmbio e a nota promissória; Individualismo – outra característica explicada pela ideia de lucro, que está diretamente ligada ao interesse pessoal, particular, individual; Onerosidade – se o objetivo do comerciante/empresário é o lucro, não há como admitir seja a gratuidade uma peculiaridade do Direito Comercial/Empresarial. Ele só pode ser oneroso; Informalismo – se o Direito Comercial/Empresarial visa regular as operações em massa, o informalismo se impõe, pena de se abortar a rapidez que o tráfico mercantil/empresarial exige; Fragmentarismo – à vista de sua origem fragmentária e por ser, dessa forma, um conjunto de normas que apresenta várias lacunas; Solidariedade presumida – que sempre foi implícita no Direito Comer- cial/Empresarial, à vista da rapidez com que se processam as operações realizadas em massa, o que exige segurança nos negócios. Tal particula- ridade, no entanto, não vale, no Brasil, à vista da regra inserida no art. 265 da Lei n. 10.406, que repete, neste particular, o art. 896 de nosso antigo Código Civil: “a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes”. Outras existem, mas essas são mais que suficientes para bem caracterizar o Direito Comercial/Empresarial. 65 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 1. A que ramo do Direito pertence o Direito Comercial/Empresarial? 2. Como e por que surgiu o Direito Comercial? 3. Atualmente, qual é a abrangência do Direito Comercial/Empresarial brasileiro? 4. Economicamente, como se define o comércio? E juridicamente? 5. Em que fase histórica, e como, começou a se cristalizar o Direito Comercial? 6. Como se explica a divisão do Direito Privado? 7. Como se explica ou se justifica a autonomia do Direito Comercial/Empre- sarial diante do Direito Civil? 8. O que é matéria comercial/empresarial? 9. Por que se diz que a doutrina unificadora do Direito Privado não é deter- minada pelo Direito Civil? 10. Quais são as fontes do Direito Comercial/Empresarial? 11. O Direito Civil pode ser considerado como fonte do Direito Comercial/ Empresarial? Por quê? 12. Como surgem os usos e costumes comerciais? Como são/devem ser exercidos? 13. O que se exige para a formação de um uso ou costume comercial? 14. Como se classificam os usos e costumes comerciais, e como fazer o enquadramento de um uso ou costume comercial nessa classificação? 15. O que é necessário para que se registre um uso ou costume comercial? 16. Qual o ônus para quem invoca um uso ou costume comercial? 17. Os usos e costumes podem ser contra a lei? Se negativa sua resposta, como explicar a substituição de uma lei por um uso ou costume comercial? Ou essa substituição não pode ocorrer? 18. Quais são as peculiaridades do Direito Comercial/Empresarial? Explique-as. 19. Qual a importância da distinção entre os papéis do Estado e do particular para se entender o Direito Comercial brasileiro? 20. Explique por que os aspectos econômicos são relevantes para o entendi- mento da evolução do direito Comercial.58 7. FONTES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 59 8. USOS E COSTUMES COMERCIAIS 61 9. TRANSCRIÇÃO DO ASSENTAMENTO DO USO E COSTUME RELATIVO AO CHEQUE VISADO, FEITO PELA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE MINAS GERAIS 63 10. PARTICULARIDADES DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL 64 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 65 Capítulo 2 COMO UTILIZAR O CÓDIGO COMERCIAL E A LEGISLAÇÃO ESPARSA 67 1. UMA PEQUENA ADVERTÊNCIA 69 2. COMO SE LÊ UM LIVRO 69 3. ESTRUTURA DO CÓDIGO COMERCIAL 69 Capítulo 3 A TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO versus A TEORIA DA EMPRESA 73 1. INTRODUÇÃO 75 2. SISTEMAS LEGISLATIVOS 80 3. ATIVIDADE MERCANTIL E ATIVIDADE CIVIL – DIFERENÇA 82 4. SITUAÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA, DA FIRMA INDIVIDUAL E DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA 85 5. EMPRESAS CIVIS/SOCIEDADES SIMPLES 87 6. EMPRESAS COMERCIAIS/SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 90 7. REGISTRO DE EMPRESAS 92 8. CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS DE COMÉRCIO 94 9. TEORIA DOS ATOS MISTOS OU BIFRONTES 94 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 95 Capítulo 4 EMPRESA, MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE 97 1. INTRODUÇÃO 99 2. NOÇÃO JURÍDICA DE EMPRESA 99 3. ESPÉCIES DE EMPRESA 101 4. COMO CONCEITUAR A EMPRESA 102 5. PROJETO DE LEI SOBRE EMPRESA MERCANTIL 105 6. A MICROEMPRESA E A EMPRESA DE PEQUENO PORTE 111 7. CONCEITO DE MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE: EVOLUÇÃO 112 8. NOVA E ATUAL SITUAÇÃO DA MICROEMPRESA E DA EMPRESA DE PEQUENO PORTE E O MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL 118 9. MODELO DE DECLARAÇÃO PARA ENQUADRAMENTO OU DESENQUADRAMENTO: SUGESTÃO 129 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 129 Capítulo 5 O EMPRESÁRIO 131 1. CONCEITO DE EMPRESÁRIO 133 2. ESPÉCIES DE EMPRESÁRIO 134 3. CONCEITO DE COMERCIANTE 135 4. EMPRESÁRIO/COMERCIANTE - DIFERENÇA 137 5. REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESÁRIA 137 5.1. Capacidade 138 5.2. Incapacidade 139 5.2.1. O menor empresário 140 5.2.2. Autorização para dar continuidade a uma empresa 143 5.2.3. O menor como sócio de sociedade 145 5.2.4. Os interditos 147 5.3. Impedidos de ser empresários 148 5.3.1. Alcance do Impedimento 150 5.3.2. Pode o falido exercer atividade empresária? 152 5.3.3. O exercício de atividade empresarial pelo estrangeiro 153 5.4. O exercício da atividade empresarial pelo analfabeto 156 6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI) 156 6.1. Projeto de Lei, de 1991, sobre Empresa Individual de Responsabilidade Limitada 157 6.2. Como ficou, no Brasil, a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) 160 6.3. Sociedade individual de advogado 163 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 169 Capítulo 6 REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS E REGISTRO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 175 1. INTRODUÇÃO 177 2. REGISTROS PÚBLICOS À DISPOSIÇÃO DOS EMPRESÁRIOS 177 3. O REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS 179 4. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO DO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS 179 4.1. O Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) 180 4.2. A nova estrutura do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins 180 4.3. As Juntas Comerciais 184 4.4. A Junta Comercial do Estado de Minas Gerais (JUCEMG) 186 4.5. Questões judiciais - Competência para conhecimento 187 4.6. Efeitos e conteúdo do Registro Público de Empresas Mercantis 188 4.7. O regime sumário 188 4.8. Contrato social padrão 189 5. O REGISTRO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL 190 5.1. O Código da Propriedade Industrial 191 5.2. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) 191 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 192 Capítulo 7 ESCRITURAÇÃO MERCANTIL 195 1. INTRODUÇÃO 197 2. CONTABILIDADE E ESCRITURAÇÃO 198 3. MÉTODOS DE ESCRITURAÇÃO 199 3.1. O método das Partidas Simples 199 3.2. O método das Partidas Dobradas 199 4. A ESCRITURAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO 200 5. OBRIGAÇÕES COMUNS A TODOS EMPRESÁRIOS E SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 202 6. O “SEGREDO DOS LIVROS” 202 7. LIVROS COMERCIAIS 205 7.1. Livro obrigatório comum 205 7.2. Livros facultativos 206 7.3. Valor probante dos livros comerciais 207 7.4. Exibição judicial dos livros comerciais 208 7.5. Onde devem ser exibidos os livros comerciais 209 8. LIVROS FISCAIS 209 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 210 Capítulo 8 NOME EMPRESARIAL 213 1. INTRODUÇÃO 215 2. REGISTRO E PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL 215 3. NATUREZA JURÍDICA DO NOME EMPRESARIAL 217 4. ESPÉCIES DE NOME EMPRESARIAL 217 5. COMO SE FORMA UMA FIRMA OU RAZÃO COMERCIAL/EMPRESARIAL 218 5.1. Sistema da liberdade plena 218 5.2. Sistema da veracidade ou da autenticidade 219 5.3. Sistema das firmas derivadas ou eclético ou misto 223 6. COMO SE FORMA UMA DENOMINAÇÃO SOCIAL 223 7. NOMES DAS SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESÁRIAS 226 8. DISTINÇÃO ENTRE FIRMA OU RAZÃO E DENOMINAÇÃO SOCIAL 229 9. VANTAGEM DA DENOMINAÇÃO SOCIAL 230 10. NOME HÍBRIDO 230 11. NOMES EMPRESARIAIS NÃO REGISTRÁVEIS 232 12. ALIENABILIDADE DO NOME EMPRESARIAL 233 13. “COLIDÊNCIA” DE NOMES EMPRESARIAIS 234 14. NOME EMPRESARIAL E MARCA: CONFLITO 235 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 239 Capítulo 9 MARCAS 243 1. INTRODUÇÃO 245 2. CONCEITO DE MARCA 245 3. ANÁLISE DA LEI N. 9.279/96 - ARTS. 122 A 182 245 3.1. Marca: onde usar e espécies 246 3.2. Formas de apresentação de uma marca 248 3.3. Quem pode pedir o registro de uma marca 249 3.4. O que pode ser registrado como marca 249 3.5. O que não pode ser registrado como marca 249 3.6. Requisitos básicos para o registro 252 3.7. Marcas procedentes do exterior 253 3.8. Pedido de registro de uma marca 253 3.9. Registro de marca figurativa ou mista – Uma exigência a mais 253 3.10. Onde se faz o registro de uma marca 255 3.11. Efeitos do registro da marca 255 3.12. Sistemas legislativos 256 3.13. Obrigações do titular da marca e perda dos direitos 256 3.14. Duração de um registro de marca ou de sua proteção 256 3.15. Cessão, alteração de nome e de endereço do titular e contrato de exploração de marca 257 3.16. Quando se perde um registro de marca 260 3.17. Nulidade do registro 261 3.18. Contrato de licenciamento de marca 263 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 268 Capítulo 10 ESTABELECIMENTO COMERCIAL E TÍTULO DE ESTABELECIMENTO 271 1. INTRODUÇÃO 273 2. ESTABELECIMENTO COMERCIAL 273 2.1. Conceito 273 2.2. Fundo de comércio, azienda e fundo de negócio 274 2.3. Composição do estabelecimento comercial 274 2.4. Natureza jurídica do estabelecimento comercial 276 2.5. Elementos do estabelecimento comercial 277 2.5.1. O capital 277 2.5.2. O trabalho 284 2.5.3. A organização 284 3. TÍTULO DE ESTABELECIMENTO 285 4. CONTRATO DE ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO 286 4.1. Modelo de contrato de alienação do estabelecimento 290 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 294 Capítulo 11 INVENÇÕES, MODELOS E DESENHOS 297 1. INTRODUÇÃO 299 2. ANÁLISE DA LEI N. 9.279/96 - ARTS. 6º A 121 300 2.1. Autor da invenção ou do modelo de utilidade 300 2.2. O que é patenteável 302 2.3. Direito de Prioridade 303 2.4. Pedido de patente 303 2.5. Duração da patente 304 2.6. Proteção conferida pela Patente 306 2.7. Nulidade da patente 306 2.8. Cessão da patente 306 2.9. Licenças para exploração da patente 306 2.10. Patente de interesse da defesa nacional 307 2.11. Desapropriação de uma patente 308 2.12. Certificado de adição de invenção 308 2.13. Extinção da patente 308 2.14. Invenção e modelo de utilidade realizado por empregado ou prestador de serviço 309 2.15. Desenho industrial 310 3. MODELO DE RELATÓRIO DESCRITIVO 311 4. MODELO DE CONTRATO PARA EXPLORAÇÃO DE PATENTE 314 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 317 Capítulo 12 CONCORRÊNCIA DESLEAL 319 1. INTRODUÇÃO 321 2. AVIAMENTO 321 3. CLIENTELA 321 4. AVIAMENTO E CLIENTELA – NATUREZA JURÍDICA 323 5. CESSÃO DA CLIENTELA 323 6. TIPOS DE CLIENTELA 324 7. CONCORRÊNCIA DESLEAL 325 7.1. Um breve histórico 325 7.2. Conceito de concorrência desleal 325 7.3. A concorrência desleal no Brasil 326 7.4. Atos de concorrência desleal 327 7.5. Medidas legais para combater a contrafação 331 8. CONVENÇÕES DE NÃO-CONCORRÊNCIA 333 8.1. Convenções lícitas 333 8.2. Convenções ilícitas 334 8.3. Convenções de exclusividade334 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 335 Capítulo 13 SOCIEDADES SIMPLES E SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 337 1. CONCEITO DE SOCIEDADE 339 2. O SIGNIFICADO JURÍDICO DA PALAVRA “SOCIEDADE” 339 3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES 340 3.1. Segundo a responsabilidade dos sócios 340 3.2. Segundo a personificação 341 3.3. Segundo a forma do capital 341 3.4. Segundo a estrutura econômica 342 4. SOCIEDADE REGULAR E SOCIEDADE IRREGULAR OU EM COMUM 343 4.1. Sociedade regular ou de direito 343 4.2. Sociedade irregular, de fato ou em comum 343 5. SOCIEDADES SIMPLES 343 5.1. Sociedade Cooperativa 351 6. SOCIEDADES EMPRESÁRIAS – CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS 352 6.1. Sociedade em comandita simples 352 6.2. Sociedade em nome coletivo 352 6.3. Sociedade em conta de participação 353 6.4. Sociedade em comandita por ações 354 6.5. Sociedade anônima 354 6.6. Sociedade anônima do futebol 355 6.7. Sociedade limitada 357 7. FORMAÇÃO DA SOCIEDADE 361 7.1. Teorias anticontratualistas 362 7.2. Teorias contratualistas 363 7.3. Teoria institucionalista 364 8. A PERSONALIDADE JURÍDICA 365 8.1. Efeitos da aquisição da personalidade jurídica 366 8.2. Pessoa jurídica 367 8.3. Desconsideração da personalidade jurídica 367 9. CONTRATO DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA 384 9.1. Introdução 384 9.2. Elementos comuns 384 9.3. Elementos específicos 385 9.4. Estrutura do contrato social 385 9.5. Constituição de uma sociedade anônima 387 10. O CAPITAL SOCIAL 392 10.1. Natureza jurídica da contribuição dos sócios 392 10.2. Intangibilidade do capital social 396 10.3. Do aumento e diminuição do capital social 397 11. A MAIORIA DE CAPITAL SOCIAL E A ALTERAÇÃO DO CONTRATO 400 11.1. Do abuso do direito de voto 402 11.2. Do voto plural 404 12. A CONDIÇÃO DE SÓCIO 406 12.1. Aquisição da qualidade de sócio 407 12.2. Amplitude da responsabilidade do sócio 407 12.3. Do Acionista Controlador 411 12.4. Do acordo de sócios 416 12.5. Resolução da sociedade em relação ao sócio e dissolução parcial da sociedade 417 12.5.1. Data-base para apuração dos haveres 424 13. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE 427 13.1. A Administração da Sociedade Anônima 430 14. SOCIEDADE ENTRE CÔNJUGES 455 15. QUOTA SOCIAL 456 15.1. Natureza jurídica 456 15.2. Cessão de quotas 456 15.3. Penhora de quotas 457 15.4. Penhor de quotas 459 15.5. Quotas sem valor nominal 460 15.6. Quotas preferenciais 460 15.7. Aquisição de quotas pela própria sociedade 460 16. AÇÕES E OUTROS VALORES MOBILIÁRIOS 461 16.1. Ações 464 16.2. Transferência de ações 466 16.2.1. Aquisição de ações pela própria Companhia 468 16.3. Direitos que as ações conferem 469 16.4. Outros valores mobiliários 470 16.4.1. Debêntures 470 16.4.2. Partes Beneficiárias 471 16.4.3. Bônus De Subscrição 471 16.4.4. Criptoativos 472 17. ENCERRAMENTO TEMPORÁRIO DAS ATIVIDADES 475 17.1. Previsão legal 475 17.2. Aplicação prática 476 18. TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 476 19. SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADORAS E CONTROLADAS 478 20. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA 481 20.1 O caso CEMIG 483 21. DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DE UMA SOCIEDADE 485 22. COMO FAZER O REGISTRO DE UM EMPRESÁRIO E DE UMA SOCIEDADE EMPRESÁRIA 488 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 489 Capítulo 14 HISTÓRIA DO DIREITO CAMBIAL – um breve relato 501 1. O CRÉDITO E OS TÍTULOS DE CRÉDITO 503 2. ELEMENTOS COMUNS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO 505 3. DISPOSIÇÕES GERAIS 509 3.1. A Lei Uniforme de Genebra e o Decreto n. 2.044/1908 510 3.1.1. Das reservas adotadas no Brasil 510 4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO 513 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 514 Capítulo 15 DECLARAÇÕES CAMBIÁRIAS 517 1. INTRODUÇÃO 519 2. DECLARAÇÕES NECESSÁRIAS E EVENTUAIS 519 2.1. Saque ou emissão 519 2.2. Aceite 519 2.3. Endosso 522 2.3.1. Modalidades 524 2.3.2. Responsabilidade do endossante 529 2.4. Aval 532 2.4.1. Aval e fiança 534 2.4.2. Aval antecipado 534 2.4.3. Aval parcial 535 2.4.4. Aval posterior ao vencimento 536 2.4.5. Aval simultâneo e sucessivo 536 2.4.6. Responsabilidade e direito do avalista 538 2.4.7. Aval no Código Civil 540 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 541 Capítulo 16 VENCIMENTO E PAGAMENTO 547 1. VENCIMENTO 549 1.1. Vencimento ordinário 549 1.2. Vencimento extraordinário 550 2. PAGAMENTO 551 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 553 Capítulo 17 PROTESTO CAMBIAL 555 1. CONCEITO 557 2. EFEITOS 559 3. PROCEDIMENTO 560 4. DA CLÁUSULA “SEM PROTESTO” OU “SEM DESPESAS” 563 5. PROTESTO PARA FINS FALIMENTARES 563 6. SUSTAÇÃO E CANCELAMENTO DO PROTESTO 564 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 565 Capítulo 18 DA AÇÃO CAMBIAL 567 1. DA EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL 569 1.1. Do prazo prescricional 571 2. DA COBRANÇA EXTRACAMBIÁRIA 573 2.1. Da ação monitória 573 2.2. Da ação de enriquecimento sem causa (locupletamento) 576 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 577 Capítulo 19 LETRA DE CÂMBIO E NOTA PROMISSÓRIA 579 1. INTRODUÇÃO 581 2. LETRA DE CÂMBIO 581 2.1. Requisitos da letra de câmbio 582 2.2. O sacado 584 3. NOTA PROMISSÓRIA 585 3.1. Requisitos da nota promissória 585 3.2. O emitente 588 3.3. Nota promissória vinculada a contrato 588 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 589 Capítulo 20 CHEQUE 593 1. INTRODUÇÃO 595 2. REQUISITOS DO CHEQUE 596 3. DECLARAÇÕES CAMBIAIS 598 4. MODALIDADES 600 5. APRESENTAÇÃO E PAGAMENTO 601 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 603 Capítulo 21 DUPLICATA 607 1. INTRODUÇÃO 609 2. REQUISITOS DA DUPLICATA 612 3. INTERVENIENTES 615 4. DO VENCIMENTO 616 5. DO PROTESTO E DA COBRANÇA 616 6. DUPLICATA SIMULADA (FRIA) 619 7. DUPLICATA ESCRITURAL 621 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 624 Capítulo 22 HISTÓRIA DO DIREITO FALIMENTAR BRASILEIRO – conceitos preliminares 627 1. HISTÓRICO 629 2. CONCEITOS PRELIMINARES 632 2.1. Noção jurídica de empresa e de empresário 632 2.2. Noção básica da falência 635 2.3. Noção básica da recuperação 636 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 638 Capítulo 23 DISPOSIÇÕES COMUNS À FALÊNCIA E À RECUPERAÇÃO 641 1. HISTÓRICO 643 2. JUÍZO COMPETENTE 643 3. ÓRGÃOS COMUNS 645 3.1. O Juiz 646 3.2. O Ministério Público 647 3.3. O Administrador Judicial 647 3.4. O Comitê de Credores 653 3.5. A Assembleia-Geral de Credores 655 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 660 Capítulo 24 DA FALÊNCIA 665 1. FINALIDADES DA FALÊNCIA 667 2. NATUREZA JURÍDICA DA FALÊNCIA 671 3. FASES DO PROCESSO FALIMENTAR 672 3.1. Fase preliminar 672 3.2. Fase de sindicância, informativa ou investigatória 673 3.3. Fase de liquidação 673 4. SUJEITO PASSIVO DA FALÊNCIA E DA RECUPERAÇÃO 673 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 684 Capítulo 25 O PROCESSO FALIMENTAR – fase preliminar 687 1. INTRODUÇÃO 689 2. PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA 689 2.1. Condição empresarial do devedor 689 2.2. Estado de insolvência ou impontualidade 689 2.3. Decretação judicial da falência 693 2.3.1 Dos recursos 696 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 698 Capítulo 26 DO PROCESSO DE FALÊNCIA – fase de sindicância 703 1. INTRODUÇÃO 705 2. DA INABILITAÇÃO PARA SER EMPRESÁRIO, EM RAZÃO DA FALÊNCIA 705 3. DOS DEVERES DO FALIDO 707 4. EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO ÀS OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR 708 4.1. Efeitos da falência quanto ao patrimônio da falida 711 4.1.1. Da ação restituitória e dos embargos de terceiros 712 4.2. Efeitos da falência quanto aos contratos da falida 718 4.3. Dos atos ineficazes 726 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 730 Capítulo 27 DA VERIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS 733 1. INTRODUÇÃO 735 2. DOS CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS 735 3. DOS CRÉDITOS CONCURSAIS 737 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 745 Capítulo 28 DO PROCESSO FALIMENTAR – fase de liquidação 747 1. INTRODUÇÃO 749 2. DA REALIZAÇÃO DO ATIVO 749 3. DO PAGAMENTO DO PASSIVO 753 4. DO ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA E DA EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO 754 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 757 Capítulo 29 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 759 1. INTRODUÇÃO 761 2. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 762 3. FASE POSTULATÓRIA 763 3.1. Requisitos para o requerimento da recuperação 763 3.2. Da legitimação ativa e deferimento do pedido 767 4. FASE DELIBERATIVA 770 4.1. Do plano de recuperaçãojudicial 771 5. FASE EXECUTÓRIA 784 6. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA 786 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 789 Capítulo 30 DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 791 1. INTRODUÇÃO 793 2. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 793 3. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO 794 3.1. Homologação facultativa 794 3.2. Homologação obrigatória 795 4. CREDORES NÃO ABRANGIDOS PELA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 796 EXERCÍCIOS PARA FIXAÇÃO 797 REFERÊNCIAS 799 SOBRE OS AUTORES 809 25 O Professor José Maria Rocha Filho está entre os que foram meus me- lhores alunos na Faculdade de Direito da UFMG. Atento e dedicado, sempre demonstrou grande prazer em estudar Direito Comercial, deste tendo uma visão como poucos têm. Foi por isso que, trazendo para o livro sua larga ex- periência no trato da matéria, sua obra cresce e valoriza-se, principalmente pela segurança que nos oferece. O tratamento que ele dá à disciplina busca esclarecer que a unificação legislativa ditada pelo Código Civil brasileiro não tirou, de forma alguma, a autonomia do Direito Comercial que, diante dos princípios da disciplina mercantil, o Direito Civil ditado pela Comissão elaboradora do novo Código Civil não conseguiu chegar a uma unificação que consideramos impossível. É que não houve unificação lógica, didática e nem científica. E unificação legislativa não tem sentido em um Código. Por que, então, não introduziram, para economizar tempo, normas do Direito Penal, do Direito Administrativo, do Direito do Trabalho e outras? Foi por isso que o Autor chama de Direito Comercial/Empresarial a disciplina. Acertadamente, como também entendemos, esclareceu que a pretensão da Comissão elaboradora do anteprojeto do Código Civil não conseguiu, e achamos que não conseguirá, acabar com a autonomia do Direito Comercial. Entendemos, até, que aquela Comissão repudiou as seculares expressões conhecidas como comércio, comercial, comerciante e mercantil. Na ânsia de apresentar uma novidade, a Comissão elaboradora do anteprojeto copiou o Codice Civile italiano de 1942, nascido sob a influência de Mussolini, ditador que odiava os comerciantes e a atividade mercantil por eles exercida. Quando trata das fontes do Direito Comercial/Empresarial, o Autor indaga se o Direito Civil é ou pode ser considerado como fonte do Direito Comer- cial. A resposta ele próprio dá de forma inteligente, negando o fato. Disse ele ser negativa a resposta, pois “muito embora haja quem diga seja ele (o Direito Civil) fonte subsidiária, secundária, pelo fato de suprir as lacunas ou omissões do Direito Comercial, que é fragmentário”, tal entendimento não lhe parece correto. Com bastante segurança explica: “Ademais, como direito comum, o Direito Civil se aplica a todas as relações de direito privado, quando não for PREFÁCIO HISTÓRICO, DE 2004 26 afastado pelas regras do direito especial, ainda que estabelecidas ao lado das regras civis. São elas que definem o que é matéria comercial/empresarial, a ela (matéria comercial/empresarial) se aplicando com exclusividade”. Tratando de assuntos relacionados com assentamento dos usos e costumes, ele é perfeito, pela experiência adquirida como Superintendente de Registro do Comércio e Procurador da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais. O livro é em tudo didático e o Autor, por isso mesmo, procura utili- zar-se de uma linguagem própria para compreensão daqueles que se iniciam no estudo da matéria. A fim de evitar confusão com a linguagem do Código Civil, ele se esforça no estudo das sociedades mercantis e firmas individuais, penetrando no estudo das empresas civis e sociedades simples, das empresas comerciais e sociedades empresárias e, principalmente, do registro de empresas. Para melhorar os estudos, apresenta ao final de cada capítulo o que chama de “exercício para fixação”. Com isto, formula uma série de perguntas para que o estudioso possa responder. Basta treinar que a fixação ocorrerá. Mas são importantes suas lições sobre a participação na atividade mercantil do menor, do incapaz, do proibido, do falido e do estrangeiro. Seus esclareci- mentos são em tudo muito seguros. Não se descuidou de apresentar modelos do texto de Projeto de Lei, regulamentando atividade mercantil, como o Projeto de Lei sobre Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. O livro dá um excelente tratamento à Propriedade Industrial, abordan- do as invenções, desenhos e modelos registráveis. Orienta muito bem sobre patente, sua proteção, nulidade, cessão, licenças e tudo mais que diz respeito a tal instituto jurídico. Não esqueceu o Autor de tratar da concorrência desleal, do aviamento e da clientela. Por fim, trata das sociedades, sua classificação, formação, sociedade regular e irregular, sociedades empresárias, formação das sociedades, seus contratos, sociedades coligadas, controladoras e controladas, bem assim da transformação, fusão e cisão de sociedades empresárias. Se as sociedades foram criadas, tratou finalmente da dissolução, liquidação e extinção das sociedades. Não temos dúvida em recomendar este livro a todos aqueles que querem aprofundar nos conceitos gerais do Direito Comercial, fazendo uma distinção dos princípios puros da ciência comercial daquilo que o novo Código Civil pretende, sem alcançar. Então, este livro é em tudo útil aos que não têm maior experiência no trato da matéria comercial. Wille Duarte Costa1 1 Doutor em Direito Comercial pela UFMG. Do Instituto Brasileiro de Direito Comercial Comparado e Biblioteca Tullio Ascarelli, da USP. 27 Com o advento da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil brasileiro e que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, surgiu o pensamento de que houve a unificação dos Direitos Civil e Comercial e que este último passou a se chamar, a partir de então, Direito Empresarial. Não nos incluímos entre os que assim pensam. Primeiro, porque não existiria razão para se ter dois nomes distintos – Direito Civil e Direito Empresarial –, se a unificação tivesse mesmo acontecido. Segundo, porque se fez apenas uma unificação legisla- tiva, que é uma opção do legislador e que não traz como consequência a perda da autonomia jurídica, pelo Direito Comercial. Ademais, essa unificação, além de ser apenas legislativa, abrange só uma pequena parte do Direito Comercial brasileiro, a que, na Lei n. 10.406, citada, se chamou “Direito de Empresa”. Por isso, não vemos motivo para se trocar o nome “Direito Comercial” por “Direito Empresarial”. Como se poderá constatar, no decorrer deste curso, o Direito Comercial não perdeu sua peculiar autonomia e nem se pôs fim, no Brasil, com o atual Código Civil, à divisão do Direito Privado. Assim e apesar de, na grande maioria das grades escolares, ter-se operado a mudança, continuaremos a tratar essa ciência pelo seu nome original e tradicional – Direito Comercial –, que transmite, sem dúvida alguma, uma ideia muito mais palpável, concreta, de seu conteúdo. Isso não significa, porém, que não poderemos introduzir no texto o vocábulo “empresarial”. Faremos isso sim; e se não o fizéssemos, desatenderíamos, com certeza, orientações de cunho didático. ADVERTÊNCIA Capítulo 1 Neste capítulo, você verá: Introdução • Abrangência do Direito Comercial/Empre- sarial • Conceito de comércio • Evolução do Direito Co- mercial/Empresarial • Divisão do Direito Privado • Obje- to do Direito Comercial/Empresarial • Fontes do Direito Comercial/Empresarial • Usos e costumes comerciais • Transcrição do assentamento do uso e costume relativo ao cheque visado, feito pela Junta Comercial do Estado De Minas Gerais • Particularidades do Direito Comercial/ Empresarial • Exercícios para fixação HISTÓRIA DO DIREITO COMERCIAL um breve relato 31 1. INTRODUÇÃO Quando se fala em Direito Comercial, ou Empresarial, que ideia ocorre a quem trilha, pela primeira vez, os seus caminhos? Uma, parece-nos, pode ser formada a partir do conteúdo do próprio nome da matéria. Consultando-se o dicionário2 , verifica-se queDireito é um substantivo masculino singular que, dentre outras acepções, significa “o que é justo e con- forme com a lei e a justiça”; “ciência das normas obrigatórias que disciplinam as relações dos homens numa sociedade”. Já os vocábulos comercial/empresarial são adjetivos que exprimem o que é “relativo ao comércio”; “conveniente ou adequado para o comércio”; “relativo à empresa”. Logicamente, então, o Direito Comercial, ou Empresarial, partindo-se desses conceitos, deve ser um conjunto de normas obrigatórias que disciplinam as relações comerciais/empresariais, que disciplinam as relações jurídicas dos comerciantes, dos empresários, e, como tal, deve ser o Direito do comércio/ da empresa ou dos comerciantes/empresários. Deve ser um Direito criado para disciplinar a atividade do comerciante/empresário, ou seja, o comér- cio, a empresa. Um Direito, portanto, especial e internacional. Especial, por regulamentar, única e exclusivamente, as relações comerciais/empresariais; e internacional, porque se aplicaria a todo e qualquer comerciante/empresário, onde quer que ele estivesse. E por que teria surgido esse Direito? Quando e como isso aconteceu? Dizem os historiadores da ciência da qual se trata que o Direito Comercial surgiu em função de o Direito Comum (Direito Civil) não ter tido condições de satisfazer as necessidades do comércio. E isso aconteceu na chamada Idade Média, período que vai do começo do século V até meados do século XV. Mais ainda: o Direito Comercial nasceu de forma fragmentária, já que tem sua origem nos usos e costumes mercantis/comerciais da época, sendo, portanto, a esse tempo, um Direito consuetudinário, costumeiro. Permanece ele assim até hoje? Veremos que não. À medida que avançarmos no estudo da matéria, constataremos que o Direito Comercial/Empresarial não é, na atualidade, um Direito criado pura e simplesmente para regular a atividade mercantil/ empresarial e para resolver as divergências entre os comerciantes/empresários. Também, não é um Direito internacional, mas um Direito interno. E, com o passar do tempo, deixou de ser um Direito costumeiro para tornar-se um Direito eminentemente legislado, escrito. Conserva, no entanto, a condição de Direito especial. 2 MICHAELIS 2000: Moderno Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Reader´s Digest; São Paulo: Melhoramentos, 2000 2v. 32 2. ABRANGÊNCIA DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL Até o advento da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, afirmávamos: o Direito Comercial abarca as atividades de intermediação e as de produção. Toda e qualquer atividade de intermediação e de produção? Infelizmente, não. No Brasil, estão excluídas, dizíamos, a atividade agrícola e, com algumas exceções, a imobiliária. Excluídos também estão, afirmávamos, os profissionais liberais, desde que não adotassem, estes e os que se dedicavam àquelas atividades, forma empresarial mercantil. Hoje, porém, a situação é outra. É que, ao definir o empresário (art. 966) e a sociedade empresária (art. 982) e ao determinar sua inscrição obrigatória no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais (arts. 967 e 1.150), o Código Civil brasileiro de 2002 acabou estabelecendo que somente as sociedades chamadas simples – entre as quais a cooperativa (art. 982, parágrafo único) –, as associações e as fundações (que, ad- verte-se, não são sociedades simples e muito menos empresárias), as organizações religiosas e os partidos políticos não estarão sujeitas àquele Registro e, assim, ampliou, sem dúvida, o campo de abrangência do Direito Comercial/Empresarial brasileiro. Senão, vejamos: Se empresário é “quem exerce profissionalmente atividade econômica organi- zada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (art. 966); se “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística” (art. 966, parágrafo único) e se “salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro e, simples, as demais” (art. 982), a conclusão, pelo que foi dito antes, só pode ser no sentido de que somente as sociedades que se dediquem a essas últimas atividades (intelectuais, de natureza científica, literária ou artística) não deverão ser registradas no Registro Público de Empresas Mercantis (Juntas Comerciais). Mesmo assim, se seu exercício não “constituir elemento de empresa” (art. 966, parágrafo único). Se essa condição for verificada, dita sociedade deixará de ser simples, se tornará empresária e, como tal, deverá ser registrada na Junta Comercial. Fica, porém, uma questão, não resolvida, pensamos, pela Lei n. 10.406: quando é que o exercício dessas atividades constituirá, ou não, elemento de empresa? Impossível responder, servindo-se apenas das disposições da mencionada Lei n.10.406, vez que ela não definiu a empresa; definiu empresário e sociedade empresária. Quando, então, haverá elemento de empresa? Quando houver risco, atendimento de necessidades alheias, finalidade lucrativa e utilização do trabalho alheio, dentre outros? E não seria empresário quem (não exercendo 33 atividade intelectual, de natureza literária, artística ou científica) utilizasse ape- nas sua própria força de trabalho? Ou que exercesse uma atividade totalmente mecanizada, informatizada? Por quê? Pelo fato de a Lei n. 10.406 não ter definido empresa, o tema comporta diferentes compreensões e, à vista disso, com certa frequência a questão é sub- metida ao Judiciário, em função, repita-se, de não se ter definido a empresa e em função dos interesses em jogo. Este tema será tratado oportunamente, de maneira mais adequada e aprofundada, no Capítulo 13, desta obra. Abstraindo-nos dessa questão, que não vem ao caso agora, o certo é que, conforme está disposto no Código Civil brasileiro, as sociedades agrícolas (em que pese a disposição do art. 984, que revela ser isso uma “faculdade”) e as imobiliárias – que estavam, ambas, fora do campo de abrangência do Direito Comercial brasileiro –, assim como qualquer outra em que fique patente o exercício profissional de atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (v.g. as prestadoras de serviços), passaram a integrar o rol das sociedades empresárias (antes mercantis ou comerciais) e, como tal, deverão ser registradas na Junta Comercial. Isso fica mais patente ainda quando vamos ao art. 971 da Lei n. 10.406 e verificamos que ele abre ao produtor rural (essa expressão, à vista do disposto nos arts. 966 e 967, seria preferível àquela outra, “empresário rural”, contida no art. 971), ao rurícola, enfim, a possibilidade de ele se inscrever no Regis- tro Público de Empresas Mercantis, “caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Em seguida, no art. 984, a Lei n. 10.406, dá o mesmo tratamento à “sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural”. Por outras palavras, inscrevendo-se no Registro Público de Empresas Mercantis, ela “ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária”. Por que a expressão “produtor rural”, ou mesmo “rurícola”, seria preferível àquela outra –“empresário rural” –, contida no art. 971, citado? Primeiro, porque “produtor rural”, ou “rurícola”, é, na verdade, aquele que, com o trabalho agropecuário impessoal e profissional, cria, aperfeiçoa e dis- tribui, industrializados ou não, produtos naturais, alimentícios, atendendo, assim, necessidades alheias, exigências do mercado. Trata-se, então, não resta dúvida, de um empresário, nos exatos termos do art. 966 da Lei n. 10.406, citada. “Empresário de fato”, embora essa expressão, à vista do disposto na Lei n. 10.406, de 2002, e como será explicado mais à frente, não fique bem. É que, pelo atual Código Civil brasileiro (art. 971), essa sua condição de empresário é precária, vez queela só será aperfeiçoada quando ele obtiver seu registro como tal, nos termos do art. 967 do mesmo diploma legal. Essa exigência, ao que tudo indica, é para que ele, “produtor rural” ou “ruríco- la”, possa invocar em seu favor os benefícios que essa e outras leis põem à disposição do empresário ou de uma sociedade empresária. Essa, parece, a única forma de entender a parte final dos mencionados arts. 971 e 984: ficar “equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro” e ficar 34 “equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária”. Por outras pa- lavras, para o legislador de 2002, uma pessoa – física ou jurídica – somente será empresária, para fins de pleitear os benefícios postos à disposição de um empresário ou de uma sociedade empresária, se obtiver o registro como tal, na Junta Comercial. Segundo, porque a própria Lei n. 10.406 já o denomina, desde logo, “empresário”, reconhecendo, assim, como foi dito acima, que o “produtor rural” ou “rurícola” é um empresário. E o é por “exercer, pro- fissionalmente, uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços”. Isso é o que o constitui empresário; não, a sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. Logo, não há razão para se afirmar, depois, que ele, registrando-se, “ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro”. Por oportuno, cabe perguntar: o que é equiparar? Equiparar é “comparar pessoas ou coisas, considerando-as iguais”. Como, então, igualar a “empresário” a pessoa que já é considerada “empresária” pela própria lei? A única explicação cabível, pois, para essa res- salva é a que foi dada há pouco. Ou seja: tendo o registro, essa pessoa – física ou jurídica – poderá pleitear os benefícios que essa e outras leis põem à disposição do empresário e da sociedade empresária, tal como definidos pela Lei n. 10.406, citada. Terceiro, porque, pelo mencionado art. 971, o “produtor rural” ou “rurícola”, a seu exclusivo critério, pode ou não ser equiparado a “empresário sujeito a registro”, ou seja, capaz de ter a lei ao seu lado; capaz de pleitear, com base nela, os benefícios que ela liberaliza. Como conseguirá essa equiparação? Requerendo sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, reza o art. 971, citado. Assim sendo, qual produtor rural, qual ru- rícola ou que sociedade que tenha por objeto atividade própria de produtor rural, tal como aqui foi explicado, deixará, à vista dessa nova ordem jurídica, de se inscrever no Registro Público de Empresas Mercantis? Mesmo porque, cabe enfatizar, não se pode chamar de “produtor rural” ou “rurícola” a pes- soa que planta para sua própria e exclusiva subsistência; subsistência própria e de sua família. Essa pessoa, efetivamente, não é um “produtor rural”; não é um “rurícola”, na exata extensão desses termos. Por conseguinte, não é empresária e nem tem, em princípio, interesse em sê-lo. Em que pese tais considerações, os Enunciados 201 e 202, surgidos na III Jornada de Direito Civil, realizada entre fim de 2003 e meados de 2004, mantiveram a confusão. Eis a redação que lhes foi dada: Enunciado 201 - O empresário rural e a sociedade empresária rural, inscritos no registro público de empresas mercantis, estão sujeitos à falência e podem requerer concordata. Enunciado 202 - O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao re- gime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. 35 O primeiro, por tudo que dissemos antes, revela-se desnecessário, espe- cialmente ao dar ao “produtor rural” ou “rurícola” – pessoa física ou jurídica – o direito de “requerer concordata”. Embora nossa atual lei falimentar seja de 2005, há muito já se sabia que o instituto da concordata desapareceria de nosso Ordenamento Jurídico. Ademais, se o “produtor rural” ou “rurícola”, pessoa física ou jurídica, eram, nos termos do art. 966 do Código Civil, considerados empresários, obviamente se sujeitavam à lei falimentar em vigor. O segundo estabelece que seu registro na Junta Comercial é “facultativo e de natureza constitutiva”, contrariando frontalmente o art. 966 do Código Civil que es- tabelece: “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Isso, conforme já dissemos, é o que o constitui empresário; não, a sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. Cumpre notar, também, que os Enunciados evidenciam contradição intrínseca: se apenas os “produtores rurais” ou “rurícolas” inscritos no registro público de empresas mercantis estão sujeitos à falência, podendo, então, re- querer recuperação, e se tais institutos não se aplicam aos “produtores rurais” ou “rurícolas” que não optam pelo registro, na verdade, portanto, não serão “produtores rurais” ou “rurícolas”; serão pessoas que plantam para sua própria e exclusiva subsistência; subsistência própria e de sua família, conforme expli- cado item 2), como aceitar que ele seja facultativo? O registro do “produtor rural” ou “rurícola”, em obediência ao disposto no art. 967, do Código Civil, também é obrigatório. Afinal, se ele não se registrar perante a Junta Comercial não poderá, v.g., ser efetivamente chamado “produtor rural” ou “rurícola” e, como tal, não poderá requerer recuperação judicial, pois não atenderá ao dis- posto no caput do art. 48, da Lei n. 11.101/2005, que condiciona o pedido à comprovação do exercício regular – vale dizer, devidamente registrado perante a Junta Comercial – há mais de dois anos3. Contudo, em 2013 – alguns anos, pois, após o advento da Lei n. 11.101/2005 –, houve o acréscimo do § 2º no art. 48, da mencionada Lei, incluído pela Lei nº 12.873, admitindo que a prova do exercício de atividade rural, por pessoa jurídica, superior a dois anos, pode ser feita através da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica – DIPJ, que tenha sido entregue tempestivamente, o que, de certa forma, confirma que o registro perante a Junta Comercial é declaratório; mas, concomitantemente relativiza sua obrigatoriedade, nesse caso. Em consonância com a ideia de desnecessidade do registro perante a Junta Comercial para se fazer prova da condição empresarial, cumpre notar que em julho de 2019 foi editado o enunciado n. 97, pelo Conselho da Justiça Federal, durante a III Jornada de Direito Comercial, in verbis: 3 Essa situação vem sendo alterada ao longo dos anos, conforme se vê do julgamento do REsp 1.800.032-MT, julgado em 5/11/2019, em que o Superior Tribunal de Justiça decidiu que o registro não precisa ter mais de dois anos, mas, sim, o exercício da atividade. E, em 2020, o tema foi considerado na reforma da Lei n. 11.101. 36 Enunciado 97 – O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há mais de dois anos no Registro Público de Empresas Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a comprovação da inscrição anterior ao pedido. Tal enunciado corrobora, pois, o disposto no art. 48, §2º, da Lei n. 11.101/2005. Então, não resta dúvida que as sociedades agrícolas, assim como as imo- biliárias, passaram a integrar o rol das sociedades empresárias. Assim, somente as sociedades de profissionais liberais, as que exerçam atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística (observada a limitação imposta pelo art. 966, parágrafo único, do Código Civil – excluída, é claro, a socieda- de de advogados, por força do disposto nos arts. 15 e 16 da Lei n. 8.906, de 4/7/1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil –) e as cooperativas, que integram o rol das sociedades simples e, como tal, a exemplo das associações, fundações, organizações religiosas e partidos políticos, deverãoser inscritas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 45 c/c arts. 966, 967, 982, 998 e 1.150). E é claro que os profissionais liberais (pessoas físicas, naturais), para exercerem, individualmente, sem sócio, sua atividade, não precisarão e nem poderão – por não serem pessoas jurídicas (o art. 44 da Lei n. 10.406 não lhes dá essa condição) – se inscrever no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Deverão apenas, como já acontece hoje, ter registro no órgão incumbido de fiscalizar sua profissão (OAB, CRM, CREA, CRC etc.). Por conseguinte e com o advento do Código Civil de 2002, o Direito Comercial/Empresarial brasileiro passou a abranger toda e qualquer “atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”, que, a teor dos arts. 966 e 982 do Código Civil, deve ser exercida, profissionalmente, por empresário ou sociedade empresária ou, a teor do disposto na Lei n. 12.441, de 2011, por “empresa individual de responsabilidade limitada”. Voltaremos ao assunto, nos Capítulos 3 e 5. 3. CONCEITO DE COMÉRCIO O comércio pode ser entendido, como fato social e econômico, como sendo uma atividade desenvolvida pelo ser humano, em que se evidencia a circulação da riqueza produzida, aumentando-lhe a utilidade. Como foi possível chegar a essa conclusão? A história nos dá conta de que, em fase primitiva da sociedade, o homem produzia para seu próprio sustento. Assim, o que lhe sobrava, o que colhia/ produzia em excesso, ele trocava pelo que lhe faltava, pelo que havia colhido/ produzido com escassez. O comum, pois, era a permuta dos produtos do trabalho 37 individual. Permuta que era efetuada diretamente de produtor a consumidor. Imperava, portanto, a economia de troca ou escambo. Com o passar dos tempos, esse mecanismo das trocas em espécie foi se tornando cada vez mais complexo e surgiu, então, a “mercadoria-padrão”, para servir de intermediária no processo circulatório, para facilitar ou promover a troca. Para tanto, conchas, animais e, mais tarde, pedras e metais preciosos come- çaram a servir de denominador comum de valor, facilitando ou promovendo a troca. Estava inventada, assim, a moeda. E, consequentemente, a economia de troca ou escambo evolui, imediatamente, para a economia de mercado ou monetária. O homem passou, portanto, a não mais produzir para seu próprio sustento, para a troca pura e simples. Passou a produzir para vender, adquirir moeda e aplicá-la em novo ciclo de produção, depois de satisfeitas suas necessidades básicas. Iniciado estava o processo de especialização em uma só linha de pro- dução, ao mesmo tempo em que o comércio se aparelhava, dessa forma, para desempenhar sua função econômica e social. Percebe-se pelo relato que, de fato, o comércio nada mais é que uma atividade humana e que, em seus fundamentos, nítida está a ideia de troca. Essa atividade humana dependia, pois, da liberdade que cada ser humano tinha para decidir o que cultivar ou produzir, por vontade própria, buscando o lucro, sem planejamento ou intervenção estatal. No continente africano de séculos atrás “os mercados evoluíram de forma natural no momento em que comerciantes se encontraram em locais convenientes, normalmente em uma encruzilhada”4, o que, na verdade, ocorreu de forma semelhante em outros locais do planeta, com a criação de “leis” voluntárias. Como, então, conceituar o comércio, econômica e juridicamente? Economicamente, com o eminente Professor Alfredo Rocco,5 podemos dizer que “é aquele ramo da produção econômica que faz aumentar o valor dos produtos pela interposição entre produtores e consumidores, a fim de facilitar a troca das mercadorias”. Dois elementos, essenciais, exsurgem desse conceito: a interposição (ou intermediação ou mediação), que é uma atividade humana, e a troca. Consequentemente e nessa ordem de ideias, só haverá comércio, economi- camente, se houver a interposição entre o produtor e o consumidor (aumentando, por conseguinte, o valor dos produtos) e a troca, facilitada por essa interposição. Logicamente, e de forma sintética, forçoso é reconhecer que, economicamente, o comércio “é o emprego da atividade humana para promover e facilitar a troca”, desde que essa atividade humana faça aumentar o valor dos produtos e desde que se entenda essa troca como “o último ato de uma série de atos de produção” (invenção, operações agrícolas, manufatureiras, transporte, etc.), 4 OKEDIRAN, Olumayowa. A esperança africana na liberdade. In: Por que liberdade? Trad. Ma- theus Pacini, rev. Vinícius Cintra. Ottawa, IL, USA: Students for Liberty & The Atlas Network/ Jameson Books Inc.. 2013, p. 64-70. 5 ROCCO, Alfredo. Princípios do direito comercial. São Paulo: Saraiva, 1931. 38 porque a troca direta de produtor a consumidor, vimos, não é, economica- mente, ato de comércio, não se confunde com o comércio, efetivamente, por não se fazer presente, no caso, a intermediação, essa atividade humana que faz aumentar o valor dos produtos; é apenas um escambo (milho por feijão, v.g.). Se fosse comércio, já o teríamos desde aquela fase primitiva. Para se chegar ao conceito jurídico é preciso ter em mente que o conceito econômico, porém, não se ajusta ao pertencente ao Direito. É que muitas ativi- dades relacionadas com a circulação da riqueza – e, pois, atividades de interme- diação – não eram consideradas, pelo Direito, como mercantis ou comerciais. Economicamente, porém, eram verdadeiros atos de comércio. Exemplo disso, no Brasil, até a entrada em vigor da Lei n. 10.406, de 2002, era a atividade de compra e venda de imóveis. Outras não se encaixavam no conceito econô- mico, mas eram abarcadas pelo conceito jurídico. O emitir ou sacar uma nota promissória ou uma letra de câmbio, ou mesmo avalizar qualquer delas, era, pelo conceito jurídico, um ato de comércio. Por isso, não se tem, até hoje, um conceito jurídico próprio para o co- mércio, abrangendo toda sua extensão. Vidari, um dos grandes comercialistas dos tempos modernos, assim o definiu, juridicamente, no dizer do Professor Rubens Requião6: “é o complexo de atos de intromissão entre o produtor e o consumi- dor que, exercido habitualmente com fim de lucro, realiza, promove ou facilita a circulação dos produtos da natureza e da indústria, para tornar mais fácil e pronta a procura e a oferta.” É um belo conceito, mas não resolve o problema. Façamos sua análise. Segundo Vidari, para se ter o comércio, juridicamente, são necessárias três coisas: intromissão ou intermediação, habitualidade ou profissionalidade ou conti- nuidade e finalidade lucrativa. Sem elas, vê-se, não há comércio, no seu entender. Mas, se o aval em uma letra de câmbio era ato de comércio, onde estaria nesse caso, por exemplo, a finalidade lucrativa? Ademais, o aval poderia ter sido dado para um fim não comercial e, além disso, pelo que consta, na maioria dos casos não se dá um aval buscando lucro. Logo, a finalidade lucrativa não é tão importante assim; não é essencial para se caracterizar, juridicamente, o comércio. Afinal, no comércio, pode não haver lucro em dado momento. Pode haver prejuízo; mas nem por isso o ato de comércio praticado deixou de sê-lo. Da mesma forma, a habitualidade, a profissionalidade, a continui- dade, para fins de caracterização jurídica do comércio. Esse elemento era importante, isto sim, para a definição de comerciante; não, do comércio. E se assim era, não podia prosperar a ideia, inicial, de que o Direito Comercial seria o Direito do comércio ou dos comerciantes, visto que não comer- ciantes ou civis também podiam praticar um ato de comércio (emitir uma nota promissória, por exemplo, para fins civis), a eles se aplicando, portanto, 6 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2005, 26 ed., p. 5. 39 a norma específica, do Direito Comercial. A questão, pois, era tormentosa e pensar sobre ela nos faz entender melhor o porquê de o legislador pátrio, na Lei n. 10.406, de 2002, ter preferido adotar a “teoriada empresa” ao invés de permanecer com a “teoria dos atos de comércio”. Resultado: chegou-se à conclusão de que, no sentido jurídico, o comércio nada mais é que “o conjunto ou complexo de atividades a que, num determinado país e numa determinada conjuntura histórica, se aplica o Direito Comercial desse país”. Por outras palavras, serão comerciais/empresariais, num determi- nado país e numa determinada época, as atividades assim definidas pelo Direito Comercial/Empresarial daquele país. E o advento da Lei n. 10.406, de 2002, não altera essa conclusão; ao contrário, dá-lhe força, vez que define: no Brasil, haverá atividade empresarial sempre que alguém – pessoa física ou jurídica – exercer, profissionalmente, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 4. EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL/EMPRESARIAL Já sabemos que o Direito Comercial surgiu na Idade Média, de forma fragmentária – porque baseado nos usos e costumes e, pois, sem consistência científica –, em função de o Direito Comum não ter sido capaz de satisfazer as necessidades do comércio e dos comerciantes. Mas como foi o processo de seu surgimento? Valendo-nos mais uma vez dos historiadores, podemos dizer que as pri- meiras regras a respeito de atividades econômicas foram encontradas no Código do Rei Manu, na Índia, e no Código do Rei Hamurabi, que foi esculpido, muito provavelmente, entre 1850 e 1750 A. C., sendo, por isso mesmo, tido, por alguns, como a primeira codificação de leis comerciais. Mas não há neles, no entanto, um corpo sistemático a que se possa chamar Direito Comercial. Há algumas regras a respeito da atividade. Aquele “corpo sistemático” veio aparecer anos depois. Nesse interregno, os fenícios – comerciantes por natureza – editaram normas a respeito do comércio marítimo. Nelas, regras sobre o alijamento (lançamento de navio ou carga ao mar), a Lex Rhodia de Iactu, e sobre câmbio marítimo, denominadas Foenicus Nauticum. Mas também elas não chegaram a constituir aquele “corpo sistemático” a que se fez referência. E nem os romanos o constituíram. Aliás, admitiram as normas fenícias, ou seja, do povo que habitou as planícies costeiras a leste do Mediterrâneo, onde hoje é o Líbano. Em Roma, é bom dizer, a atividade comercial era conside- rada degradante e, assim, não havia muito interesse em sua regulamentação. Mamede destaca que a Jurisprudência romana não criou nada mais do que 40 algumas regras dispersas, tendo em vista que os romanos não valorizavam o comércio, por ser uma atividade pouco exaltada por eles, sendo destinada a escravos, servos e estrangeiros7. Mesmo porque os senadores e patrícios (nobres romanos) eram proibidos de exercê-la. Apesar disso, porém, ao se aproximar a decadência de Roma, as profundas transformações de sua estrutura econômica deixam transparecer um crescimento da atividade mercantil, que é interrompido pela invasão dos bárbaros e pelo fracionamento do império. Somente depois do século XI é que assistiremos a uma nova fase de crescimento econômico na Europa. A esse tempo, o Direito Civil romano, que era internacional, já havia cedido espaço para o Direito territorial, local, já com características de Direito Privado, mas com forte influência, ainda, das antigas fórmulas jurídicas e do Direito Canônico, que condenava, de forma vigorosa, as atividades lucrativas. Era pecado obter lucro; emprestar com usura ou juros. O ambiente social e jurídico, pois, era hostil à mercancia. Por isso, os comerciantes se uniram e criaram as suas famosas corporações, para se oporem àquela situação. Enriquecidas e organizadas, as corporações de mercadores adquiriram grande sucesso e poderes políticos e militares, conquis- tando, consequentemente, a autonomia de já consagrados centros comerciais, tais como Gênova, Veneza e Florença. E o exemplo se repete em toda a Europa Ocidental, de modo especial na própria Itália e na Alemanha, onde ficou célebre a Liga Hanseática, ou seja, a liga alemã de cidades comerciais. Foi exatamente nesse período da história que começou a surgir, como um corpo sistemático e como consequência natural e lógica das regras das corporações (em especial, dos assentos jurisprudenciais de seus juízes: os cônsules), o Direito Comercial. Por outros termos, os comerciantes criaram, para si e entre si, um direito costumeiro, que era aplicado no âmbito de suas corporações pelos juízes eleitos (os cônsules) por suas assembleias. A esse juízo consular, portanto, muito deve a sistematização das regras do mercado. E ganharam notoriedade os seguintes repositórios de decisões consulares: Rôles d’Oleron (França), Consuetudines (Gênova) e Capitulare Nauticum (Veneza). A esse tempo, o já consagrado “corpo sistemático” de regras jurídicas a respeito da atividade comercial era um Direito a serviço do comerciante, sujeito ativo da rela- ção estabelecida e, por isso mesmo, denominou-se essa fase como sendo a subjetivista do Direito Comercial, que era, então, um Direito corporativo, profissional, especial, consuetudinário e autônomo em relação ao Direito territorial e civil da época. Mas tal foi o sucesso do Juízo Consular, que julgava segundo os usos e costumes e sob a inspiração da equidade, sem falar no poder político e social das corporações, que, aos poucos, foi abarcando as demandas existentes entre comerciantes e não comerciantes. O povo preferia a justiça das corporações. 7 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 7 ed.. São Paulo: Atlas, 2013, p.16. 41 Floresceu, consequentemente, no Estado, o pensamento da necessidade de se delimitar o conceito de matéria de comércio para se determinar, assim, a com- petência judiciária do juízo consular. Afinal, argumentaram os representantes do Estado, nem tudo na vida do comerciante era absorvido por sua profissão. E, pois, nem todas as demandas podiam ser submetidas ao Juízo Consular. Assim, passou a ser considerada matéria de comércio apenas “a compra e venda de mercadoria para revenda e a sucessiva revenda; os negócios de moe- da através de bancos; e as letras de câmbio, por sua conexão com os negócios comerciais propriamente ditos”. Tinha início a fase objetivista do Direito Comercial. Por que objetivista? Porque já não se levava em consideração o sujeito, mas o objeto, a atividade, o ato de comércio. Consequentemente, o Juízo Consular só podia ser invocado por comerciantes matriculados e, mesmo assim, se se estivesse diante de um ato de comércio, tal como havia sido definido. Logo a seguir, uma nova fase começou a ser engendrada. É que pelo fato de o direito outorgado pelo Estado ser precário e sofrer sua justiça as injunções das conveniências políticas, sociais e econômicas, o povo continuava a preferir o Juízo Consular, impondo, por esse caminho, o alargamento de sua competência. Com isso, a autoridade dos juízes consulares – que no início só alcançava os comerciantes inscritos ou matriculados na corporação – chegou até aos comer- ciantes não matriculados. Mais ainda: praticado um ato de comércio, qualquer que fosse seu autor, teria ele, em função do conceito objetivo do Direito Comercial, acesso ao direito especial dos comerciantes. Conciliavam, assim, fase subjetiva com objetiva, formando aquela que se chamou eclética, por conter elementos colhidos do sistema subjetivo e do objetivo, com acentuada tendência para o último. Chegamos a 1807 e o Direito Comercial passa a ser conhecido como a Disciplina dos Atos de Comércio. É que, nesse ano, veio à luz o Código Napo- leônico (originariamente publicado, em 21 de março de 1804, com o nome de “Código Civil dos Franceses”, foi renomeado, em 1807, para “Código Napoleônico”), que adotou, declaradamente, o conceito objetivista. Vale dizer: adotou a teoria dos atos de comércio. E por quê? Porque, não fosse assim, estaria negado o ideal de “igualdade de todos perante a lei”, da Revolução Francesa. Não fosse assim, continuaria existindo, emFrança, o privilégio de classe, já que os comerciantes teriam uma justiça própria, um direito próprio. Por isso o Código de Comércio passou a ser um estatuto disciplinador dos atos de comércio. Consequentemente, todos os cidadãos a ele estavam sujeitos. Tal diretriz, é óbvio, foi largamente copiada por outros países e a base do Direito Comercial foi deslocada da figura do comerciante (sujeito) para a dos atos de comércio (objeto), mesmo não tendo os comercialistas, até hoje, conseguido definir, com precisão, o que seja ato de comércio. Exatamente por isso, os comercialistas deram início a novas cogitações, principalmente depois do significativo crescimento da economia capitalista. E enalteceram a figura do empresário e da empresa, que passou a ser vista como “a organização dos fatores de produção, para a criação ou oferta de bens e/ou 42 serviços”. Os atos de comércio passaram, então, a ser definidos como “todo e qualquer ato de um comerciante que seja relativo a sua atividade comercial”. Com isso, tanto o comerciante (sujeito) como o ato de comércio (objeto) passaram a ter importância para o Direito Comercial quando se referiam à exploração de uma empresa. Por outras palavras, isoladamente, eles nada valiam. O que importava era a empresa mercantil ou comercial, aqui entendida como um organismo econômico que criava ou oferecia (sujeito, portanto) bens e/ou serviços. Esse novo conceito ganhou força com a edição do Código Comercial alemão de 1897, e, assim, o Direito Comercial passou a ser conhecido como o Direito das empresas mercantis ou comerciais. Não, Direito Empresarial. Esta, pelas razões expostas, a fase a que se chamou de subjetiva moderna. Aí, em síntese, o processo de evolução do Direito Comercial. E no Brasil, o que aconteceu a respeito? No Brasil-Colônia imperava, como não podia deixar de ser, a legislação portuguesa, com todas as influências possíveis do Direito Romano e Canônico. A situação só começou a mudar com a vinda da família real para o Brasil, à vista das medidas adotadas por Napoleão Bonaparte contra Portugal. E com ela vieram a “Abertura dos Portos” – tida por alguns historiadores como uma medida “óbvia” e “inevitável”, por força da ocupação francesa em Portugal, mas também como contrapartida econômica em favor da Inglater- ra, pela proteção da Coroa Portuguesa contra Napoleão; mas, ainda assim, a “mais importante de todas as medidas que tomaria [D. João] nos seus treze anos de Brasil”, pouco mais de uma semana após aportar em Salvador8 –, autorizando a importação de produtos transportados em navios estrangeiros de países que mantinham boas relações com a Coroa, e uma série de leis e alvarás, além da criação da Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, para estimular as atividades produtivas, bem como a concessão de liberdade de comércio e indústria manufatureira, que “combinada com a abertura dos portos, representava na prática o fim do sistema colonial”9. GOMES cita registros de es- trangeiros que, ao chegarem ao Brasil, em 1808, identificaram falta de moeda corrente, poucos bens sendo comercializados (escravos, ferro, sal, tecidos de lã, chapéus, panos de algodão estampados, peixe salgado e manteiga) com a pre- dominância do escambo, realidade que “restringia muito as oportunidades que os novos comerciantes tentavam explorar no país recém-aberto ao comércio internacional”10. Nesse cenário colonial, entre os anos de 1500 a 1808, em 8 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 96 e 103/104. 9 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 189. 10 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 115. 43 razão das restrições ilimitadas impostas por Portugal, que dificultavam e/ou impediam a geração e circulação de riqueza – v.g., limitações aos direitos de locomoção, de produção, de fazer negócios, de comprar e vender bens variados –, como o comércio poderia se manter e se ampliar? A resposta é clara: seria impossível, pois ao não se garantir o direito ao comércio, retira-se também o direito de escolha de com quem negociar11. Por isso, destacamos esse momento da chegada da Coroa Portuguesa como um marco para o comércio no Brasil, e, consequentemente, para o Direito Comercial. Após essas medidas, especialmente a Abertura dos Portos, “os portos brasi- leiros se viram atulhados de produtos ingleses, numa escala nunca antes imaginada”12 , alterando significativamente o cenário comercial brasileiro13, que era, até aquele momento, uma terra proibida para os estrangeiros, mas que passou a receber navios de outros países – especialmente os ingleses – e estimular o comércio e o surgimento de indústrias. Paralelamente, cria-se o Banco do Brasil. E à medida que o tempo passava, crescia, na Colônia, um sentimento de naciona- lismo, de soberania, da necessidade de um Direito próprio. Vê-se, portanto, que desde a chegada dos portugueses ao Brasil até esse momento de nossa história colonial, era evidente o forte intervencionismo14 na economia – o controle estatal advinha de Portugal, com claros traços paternalistas (a Coroa Portuguesa decidia pelo Brasil) e protecionistas (com o isolamento do mercado interno brasileiro), advindos da monarquia absolutista; Lopes destaca que apesar do Di- reito Comercial ter sua origem nos costumes, ao longo desse período colonial, “mudanças foram realizadas ao longo dos anos, indicando o quanto a jurisdição mercantil se tornara assunto de Estado e quanto já estava submetida ao poder político da Coroa”15. O referido autor também destaca que essa situação não se interrompeu após 182216, pois mesmo com a Independência e com a Constituição de 1824, o 11 COSSAER, Lode; WEGGE, Maarten. Como você sabe? Conhecimento e a presunção de liberdade. In: Por que liberdade? Trad. Matheus Pacini, rev. Vinícius Cintra. Ottawa, IL, USA: Students for Liberty & The Atlas Network/ Jameson Books Inc.. 2013, p. 71-81. 12 GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 179. 13 GOMES cita que “em 1809, um ano depois da abertura dos portos, já existiam mais de cem empresas comerciais britânicas operando no Rio.” In: GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. 2 ed.. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p. 184. 14 Segundo o economista austríaco Mises, o intervencionismo revela um governo “desejoso de interferir nos fenômenos de mercado”, de forma que “o governo não somente fracassa em proteger o funcionamento harmonioso da economia de mercado, como também interfere em vários fenômenos de mercado: interfere nos preços, nos padrões salariais, nas taxas de juro e de lucro”, restringindo, assim, a supremacia do consumidor, que é o personagem central. In: Mises, Ludwig von. As seis lições. Trad. Maria Luiza Borges. 9 ed., São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2018, p. 84/85. 15 LOPES, José Reinaldo de Lima. A formação do direito comercial brasileiro. Cadernos Direito GV, v.4, n. 6. São Paulo: FGV, 2007, p. 16. 16 Nos séculos posteriores, há diversos exemplos de intervenção estatal na economia de nosso País, tais como a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio 44 direito mercantil brasileiro permanecia “um ramo relativamente definido de direito privado, mas no qual não se notava