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Indaial – 2019 LegisLação TrabaLhisTa, empresariaL e ConsumerisTa Profª. Tatiana C. dos Reis Filagrana Profª. Sônia Adriana Weege 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profª. Tatiana C. dos Reis Filagrana Profª. Sônia Adriana Weege Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F478l Filagrana, Tatiana Conceição dos Reis Legislação trabalhista, empresarial e consumerista. / Tatiana Conceição dos Reis Filagrana; Sônia Adriana Weege. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 185 p.; il. ISBN 978-85-515-0355-3 1. Legislação trabalhista. - Brasil. 2. Legislação empresarial. – Brasil. 3. Legislação consumerista. – Brasil. I. Weege, Sônia Adriana. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 342.14 III apresenTação Prezado acadêmico! O presente livro didático foi escrito para que você possa entender e se aperfeiçoar nas disciplinas de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Direito do Trabalho. A Unidade 1 deste livro apresenta temas relevantes do Direito Empresarial, referentes aos fundamentos históricos e constitucionais, fontes, teorias, princípios e conceitos fundamentais, atividade empresarial. Trataremos também sobre conceito de empresa, empresário, estabelecimento, os registros dos comércios e os tipos de sociedades. A Unidade 2 apresenta temas referentes ao Direito do Consumidor, tendo como pontos centrais: base constitucional; princípios; conceitos básicos; direitos básicos do consumidor, responsabilidade pelo fato, do produto e do serviço; responsabilidade por vício do produto e do serviço; da desconsideração da personalidade jurídica; práticas comerciais; oferta. publicidade; as práticas abusivas; proteção comercial; cláusulas abusivas e contratos de adesão. Por fim, na Unidade 3 deste livro iremos analisar temas de suma importância no Direito do Trabalho, tais como: conceito, origens e evolução; fontes e princípios do direito do trabalho; direito do trabalho e direitos fundamentais do trabalhador; relação de emprego; contrato de trabalho; empregado e empregador; jornada de trabalho, duração e intervalos; férias; alteração, suspensão e interrupção do contrato de trabalho e prescrição e decadência. Temos certeza de que sua leitura será enriquecedora e satisfatória! Boa leitura e bons estudos! Tatiana C. dos Reis Filagrana IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – DIREITO EMPRESARIAL ......................................................................................... 1 TÓPICO 1– EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL ...................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL ......................................................... 5 2.1 CONCEITO DE DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL) ..................................................... 8 3 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO ............................................................................................. 11 4 TEORIA DA EMPRESA ...................................................................................................................... 14 5 FONTES FORMAIS DO DIREITO EMPRESARIAL ..................................................................... 17 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20 TÓPICO 2 – CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO ...................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 O MENOR COMO EMPRESÁRIO ................................................................................................... 22 3 IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE ............................................................................................ 24 3.1 INCAPACIDADE SUPERVENIENTE .......................................................................................... 27 4 NOME EMPRESARIAL ....................................................................................................................... 27 4.1 FIRMA ............................................................................................................................................... 29 4.2. DENOMINAÇÃO ........................................................................................................................... 29 5 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL ........................................................................................... 30 6 REGISTRO EMPRESARIAL .............................................................................................................. 31 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – SOCIEDADE ..................................................................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 HISTÓRICO ........................................................................................................................................... 36 3 CONCEITO ............................................................................................................................................ 37 4 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES .......................................................................................... 39 5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS ...................................................................................... 40 5.1 SOCIEDADE EM COMUM ............................................................................................................ 40 5.2 SOCIEDADE EM COMUM (IRREGULAR OU DE FATO) ........................................................ 41 6 LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADEDOS SÓCIOS ...................................... 43 7 A CAPACIDADE DE SER TITULAR DE DIREITOS E DEVERES DAS SOCIEDADES DE FATO E A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE PROCESSUAL ATIVA .................................. 44 8 SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO ......................................................................... 45 9 SOCIEDADES PERSONIFICADAS ................................................................................................. 46 9.1 SOCIEDADES SIMPLES ................................................................................................................. 46 9.1.1 Sociedades simples (em sentido estrito) .............................................................................. 47 9.1.2 Cooperativas ............................................................................................................................ 47 10 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ....................................................................................................... 50 11 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO ........................................................................................... 50 sumário VIII 12 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES ................................................................................. 51 13 SOCIEDADES LIMITADAS ............................................................................................................ 52 14 SOCIEDADES POR AÇÕES ............................................................................................................. 53 15 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES............................................................................ 53 16 SOCIEDADES ANÔNIMAS ............................................................................................................ 54 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 55 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 58 UNIDADE 2 – LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA ........................................................................... 59 TÓPICO 1 – CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, ....................................................... 61 PRODUTOS E SERVIÇOS ..................................................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61 2 DIFERENÇAS ENTRE OS SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO ................................... 62 2.1 RELAÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO JURÍDICA ............................................................................. 62 2.2 RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO ....................................................................................... 63 2.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR ................................................................................................... 64 3 CONCEITO DE FORNECEDOR ....................................................................................................... 68 4 CONCEITO DE PRODUTOS E SERVIÇOS.................................................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 77 TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA................................................ 79 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79 2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ............................................................................................ 79 3 PROTEÇÃO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA ........................................................................... 82 4 PROTEÇÃO E NECESSIDADE ........................................................................................................ 82 5 TRANSPARÊNCIA ............................................................................................................................... 83 6 HARMONIA .......................................................................................................................................... 84 7 VULNERABILIDADE .......................................................................................................................... 84 8 INTERVENÇÃO DO ESTADO .......................................................................................................... 85 9 BOA-FÉ ................................................................................................................................................... 85 10 DEVER DE INFORMAR ................................................................................................................... 86 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 87 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 90 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 91 TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA ............................. 93 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93 2 PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO ................................................................................ 94 3 POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO ..............................................................................100 4 OFERTA E PUBLICIDADE ...............................................................................................................103 5 OFERTA ...............................................................................................................................................104 6 PUBLICIDADE ....................................................................................................................................105 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................107 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108 TÓPICO 4 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 TEORIAS: MAIOR E MENOR .........................................................................................................110 IX 3 PROTEÇÃO COMERCIAL ...............................................................................................................111 4 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS .........................................................................................111 5 CLÁUSULAS ABUSIVAS .................................................................................................................113 6 CONTRATOS DE ADESÃO .............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116UNIDADE 3 – LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ...............................................................................117 TÓPICO 1 – CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS ....119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO .........................................................120 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO ..............................................................................120 4 DISTINÇÃO DE TRABALHADOR E EMPREGADO ................................................................122 5 CONCEITO DE EMPREGADOR ....................................................................................................123 6 CRITÉRIOS DE CARACERIZAÇÃO DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA ................................124 7 MODALIDADES ESPECIAIS DE TRABALHO ...........................................................................126 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129 TÓPICO 2 – CONTRATOS TRABALHISTAS .................................................................................131 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131 2 CARACTERÍSTICAS DO CONTRARO DE TRABALHO .........................................................131 2.1 CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO ...........................................................................132 2.2 CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO.......................................................................132 2.3 CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO .........................................................................133 2.4 CONTRATO DE TRABALHO EVENTUAL ..............................................................................134 3 SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO .....................................135 3.1 INTERRUPAÇÃO ..........................................................................................................................135 3.2 SUSPENSÃO ...................................................................................................................................137 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141 TÓPICO 3 – REMUNERAÇÃO X SALÁRIO ...................................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 REMUNERAÇÃO ...............................................................................................................................144 3 SALÁRIO ..............................................................................................................................................144 3.1 SALÁRIO MÍNIMO .......................................................................................................................146 4 EQUIPARAÇÃO DE SALÁRIO .......................................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................151 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................152 TÓPICO 4 – VERBAS TRABALHISTAS ...........................................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 FÉRIAS ..................................................................................................................................................154 2.1 PERÍODO AQUISITIVO ...............................................................................................................155 2.2 DA PERDA DO DIREITO ÀS FÉRIAS ........................................................................................155 2.3 PERÍODO CONCESSIVO .............................................................................................................156 2.4 DO PRAZO PARA PAGAMENTO ..............................................................................................157 2.5 DAS FÉRIAS COLETIVAS ............................................................................................................157 X 3 AVISO PRÉVIO ...................................................................................................................................158 3.1 AVISO PRÉVIO TRABALHADO.................................................................................................158 3.2 AVISO PRÉVIO INDENIZADO ...................................................................................................159 4 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO .....................................................................................................159 5 FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – FGTS ..................................................160 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................167 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................172 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................175 1 UNIDADE 1 DIREITO EMPRESARIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • ampliar a compreensão referente aos aspectos do Direito Empresarial; • compreender a nova estrutura do Direito Empresarial, mediante as alterações jurídicas; • adquirir uma visão geral a respeito dos temas do Direito Empresarial. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL TÓPICO 2 – CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO TÓPICO 3 – SOCIEDADE 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! No presente tópico será apresentada a evolução histórica do Direito Comercial. Traçaremos uma linha do tempo e analisaremos os motivos pelos quais o Direito que antes era denominado exclusivamente de Direito Comercial, passou a ser citado como Direito Empresarial. Analisaremos as alterações da legislação empresarial, ao longo dos anos e suas peculiaridades, em decorrência desta “transformação” de nomenclaturas. É de suma importância que nós saibamos e tenhamos claro que não foram somente feitas alterações de nomenclaturas, mas também a forma como se passou a “negociar”, no âmbito comercial. Verificaremos que os atos comerciais praticados inicialmente eram através de escambo (troca de mercadorias) o que, muito tempo depois, com a criação da moeda, na Lídia (atualmente Turquia), passou a ser através de pecúnia. Do mesmo modo, constataremos que, embora tenha havido uma alteração de parte do Código Comercial, através da edição da Lei nº 10.406/02, este ainda está em vigor, no que tange ao Direito Marítimo, contudo não visto mais como Código,mas sim, uma lei complementar que trata de tal assunto. Em relação ao terceiro livro do Código Comercial, Lei nº 556, de 1850, Das Quebras, esse foi derrogado pela primeira Lei Falimentar de 1890. Assim, se questionarmos hoje se existe um Código Comercial, podemos responder que sim, mas que ele não está unificado em um livro (objeto físico) somente, mas sim, esparso no Código Civil (Direito da Empresa) e Leis Extravagantes. Em 1850, quando foi editado o Código Comercial, Lei nº 556, havia uma divisão clara entre o que eram considerados atos de natureza comercial, e os atos de natureza eminentemente civis. Esta divisão era em decorrência da Teoria dos Atos de Comércio, teoria esta reafirmada no Regulamento 737, editado no mesmo ano do Código Comercial Brasileiro, que em seu Art. 19, delineava quais seriam os atos especificamente comerciais. Esta Teoria dos Atos de Comércio foi trazida pelo Código Francês, de 1808, que serviu de influência ao nosso Código Comercial brasileiro. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 4 Porém, em decorrência da Teoria dos Atos de Comércio não abarcarem determinadas atividades negociais, com o passar dos anos, acaba tornando- se obsoleta, não atendendo mais ao fim a que se destinava anteriormente, na edição do Código Comercial brasileiro. Essa teoria passa a ser questionada e insustentável, frente à nova realidade comercial que estava se abrindo junto à sociedade. Os juristas começam então a manifestarem-se a favor da unificação dos atos de comércio e civis, não os distinguindo mais, pois já não fazia mais sentido, esta distinção conceitual. Mamede (2013, p. 3) faz referência a tal posicionamento jurídico: Desde cedo surgiram juristas defendendo a reunificação do Direito Privado brasileiro; já em 1859, o grande professor baiano Teixeira de Freitas, a quem se pediu a elaboração de um projeto de Código Civil, afirmava que a distinção entre as duas disciplinas não se sustentava, pois, o ato civil e o ato comercial mantinham a mesma submissão à Parte Geral do Código Civil, ao Direito das Obrigações e Contratos. A distinção estava limitada aos costumes do comércio, que orientavam as práticas mercantis, mas não os atos civis. Não havia uma especialidade que justificasse a coexistência de duas disciplinas jurídicas, vez que o respeito aos costumes de cada área social é elemento comum de todas as disciplinas, orientando a atuação individual nos espaços em que não se tenha norma expressa. Muitas dessas práticas e dos institutos delas decorrentes, ademais, foram sendo assimiladas por não comerciantes, a exemplo da emissão de títulos de crédito. Neste sentido, surge a necessidade dos atos negociais serem vistos sob outro ângulo e protegidos legalmente de forma diferente. Assim, com a alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02, os atos negociais passam a não ser diferenciados como atos de comércio ou atos civis, mas sim, atos que fazem parte do Direito Empresarial. O Código Civil, alterado, traz a Teoria da Empresa. Com o advento da Teoria da Empresa tem-se uma visão mais ampla sobre atividades comerciais, que agora são denominadas de empresariais. O empresário passa a ser o centro das negociações, o objeto da legislação empresarial volta-se para a atividade empresarial em si, ou seja, a forma como o empresário lida com suas atividades e seus negócios. O pilar principal da Teoria da Empresa, segundo Mamede (2013, p. 35), é a atividade, a ação organizada na esfera econômica, o que a doutrina convencionou chamar de empresarialidade ou elemento de empresa, que pode ser definida como sendo a organização racional dos fatores de produção. E a atividade assim desenvolvida, tenderá a não guardar vinculo de pessoalidade com seu titular, imprimindo certa impessoalidade ao seu exercício. Assim, nesta Unidade 1 identificaremos o foco atual da legislação empresarial e as consequências desta alteração para o Direito Empresarial, antes denominado Direito Comercial. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 5 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL Vamos analisar o que se passou com nossa legislação empresarial até os dias atuais? Embarque nesse túnel do tempo... O Direito Empresarial, anteriormente denominado de Direito Comercial, passou por inúmeras transformações ao logo dos tempos, embora a propriedade e as atividades negociais sempre foram controladas juridicamente através das leis e regulamentos. No século XXV a.C. foi realizada uma reforma jurídica, onde se coibia a usura e os monopólios, na cidade de Lagash, na Suméria (Iraque), outrossim, temos como uma das legislações mais antigas e conhecidas, as Leis de Ur Nammu, século XXI a.C., que vigia na Suméria (que conhecemos atualmente como Iraque), na cidade de Ur, proibiam o cultivo em terras de propriedade alheia, limitavam juros e tabelavam os preços, no mesmo sentido, posteriormente, as Leis de Lipt Ishtar, século XX a.C., as Leis de Eshnunna e as Leis de Hamurábi, estas do século XVIII a.C. Observamos que a atividade negocial passou por inúmeras alterações. Inicialmente, tínhamos a prática do escambo (troca de bens por outros bens) e, depois de muitos anos, com a criação da moeda, os bens passam a ser comercializados através de pecúnia. FIGURA 1 - ESCAMBO FONTE: <http://twixar.me/7fJ1>. Acesso em: 19 mar. 2019. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 6 FIGURA 2 - CRIAÇÃO DA MOEDA FONTE: <http://twixar.me/qfJ1>. Acesso em: 19 mar. 2019. “Surgem, então, no século VII a.C., as primeiras moedas com características das atuais: são pequenas peças de metal com peso e valor definidos e com a impressão do cunho oficial, isto é, a marca de quem as emitiu e garante o seu valor. As moedas refletem a mentalidade de um povo e de sua época. Nelas podem ser observados aspectos políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. É pelas impressões encontradas nas moedas que conhecemos, hoje, a efígie de personalidades que viveram há muitos séculos. Provavelmente, a primeira figura histórica a ter sua efígie registrada numa moeda foi Alexandre, o Grande, da Macedônia, por volta do ano 330 a.C.” Disponível em: <http://portaldaeconomia.com.br/moedas/dinheironomundo.shtml>. Acesso em: 22 fev. 2019. ATENCAO Segundo Coelho (2013, p. 25), “Alguns povos da Antiguidade, como os fenícios, destacaram-se intensificando as trocas e, com isto, estimularam a produção de bens destinados à venda”. Na Idade Média, temos duas situações: o feudalismo, caracterizado pela divisão das propriedades rurais em grandes estruturas políticas, atraindo uma atenção especial. E, o comércio que trazia uma força considerável para o crescimento das cidades que ali eram formadas. Nas cidades da Idade Média, considerando o crescimento considerável do comércio, começam a ser formadas as corporações de ofício de artesãos e comerciantes, com o intuito de proteger e regulamentar a atividade mercantil. Nessa fase ocorre a consolidação dos costumes, que passa a denominar-se de Consuetudos. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 7 Gomes (2013, p. 34) ressalta que, nas antigas corporações de ofício existentes sobretudo na Europa Ocidental no final da Idade Média e início da Idade Moderna, as normas comerciais, representadas pelos regulamentos internos dessas corporações, aplicavam-se exclusivamente aos seus inscritos conforme as respetivas categorias profissionais, possuindo nítido caráter subjetivo. De acordo com Mamede (2013, p. 2), “essas consolidações marcam o início do Direito Mercantil, na medida em que são as primeiras normas integralmente dedicadas ao comércio”. As consolidações dos costumes foram de suma importância para o Direito Mercantil, tanto é assim que passaram a ser referências para o que denominamos hoje de Códigos Comerciais. Aponta-se que o Código Comercial francês, de 1808, foi o mais influente, sendo um marco para as demais legislações mercantis. NOTA “Exemplos de normas dedicadas ao comércio provenientes dos Consuetudos:Consulato Del Mare (Espanha, século X), as Consuetudines (Gênova, 1056), O Constitutum usus (Pisa, 1161), o Liber consuetudinum (Milão, 2016), as decisões da Rota Genovesa sobre comércio marítimo, o Capitulare Nauticum (Veneza, 1255), a Tabula Amalfitana, também chamada de Capitula et Ordinationes Curiae Maritimae Nobilis Civilitatis Amalphe (Amalfi, século XIII), Ordinamenta et Consuetudo Maris Edita per Consules Civitatis Trani (Trani, século XIV) e Guidon de la Mer (Rouen, século XVI)” (MAMEDE, 2013, p. 2). Observa-se que o comércio sempre esteve em posição de destaque perante as civilizações, tendo em vista que as atividades negociais serviram de crescimento econômico para as nações que estavam em formação. Como menciona Gomes (2013, p. 29): [...] O comércio baseia-se na produção em excedente gerado para essa finalidade e assim denominado mercadoria, e que inicialmente era objeto de troca por outras mercadorias, em prática conhecida como escambo tendo sido posteriormente adotado um padrão objetivo de trocas – a moeda. [...] por ser baseado na troca, o comércio é uma atividade tipicamente social, que exige a interação entre as partes envolvidas. Essa interação somente pode ser proporcionada pela vida em sociedade. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 8 IMPORTANT E Comércio é sinônimo de civilização e vida em sociedade (GOMES, 2013). O Código Comercial francês, em 1808, trazia em seu escopo uma teoria que distingue os atos propriamente comerciais e os atos de natureza civil, selecionando assim, a legislação a ser utilizada em cada caso, ou seja, ao tratarmos de um ato negocial de natureza comercial, utilizaríamos o Código Comercial para dirimir eventuais litígios, se o ato tivesse natureza civil, a legislação civil seria utilizada, neste caso. Esta teoria serviu de base para o Código Comercial brasileiro, editado em 1850, por D. Pedro II, que deixou de ser aplicado, em 2003, quando entrou em vigor o Código Civil, alterado pela Lei nº 10.406/02. Mamede (2013, p. 3) expõe: Nos alvores do século XXI, com a edição da Lei 10.406/02, em 10 de janeiro de 2002, a unificação foi enfim concretizada. Reconheceu- se que os atos jurídicos civis e comerciais têm a mesma natureza, estando submetidos à Parte Geral do Código Civil, bem como às regras ali dispostas sobre as Obrigações e os Contratos. Isso implicou a necessidade de se substituir a antiga teoria do ato de comércio por uma nova referência para as relações negociais. A opção escolhida foi a teoria da empresa. Dessa forma, a Lei nº 10.406/02 unificou os atos de comércio e atos civis, pois chegou-se à conclusão de que ambas tinham a mesma natureza jurídica. Surgiu, então, a Teoria da Empresa. 2.1 CONCEITO DE DIREITO COMERCIAL (EMPRESARIAL) Vamos analisar a questão conceitual e as características do Direito Empresarial? Primeiramente, necessário explicarmos que o Direito antes era somente denominado Comercial, pois seu foco era nos atos comerciais, tanto é assim, que dividia estes atos dos atos civis, fundamentando tal distinção na Teoria dos Atos de Comércio. Importante frisarmos que o Direito Comercial surge através dos usos e costumes e era aplicável aos membros de determinada corporação de comerciantes. Coelho (2013, p. 27) ressalta: TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 9 No início do século XIX, em Franca, Napoleão, com a ambição de regular a totalidade das relações sociais, patrocina a edição de dois monumentais diplomas jurídicos: o Código Civil (1804) e o Comercial (1808). [...] A delimitação do campo de incidência do Código Comercial era feita, no sistema francês, pela teoria dos atos de comércio. Sempre que alguém explorava atividade econômica que o direito considera ato de comércio (mercancia) submetia-se às obrigações do Código Comercial (escrituração de livros, por exemplo) e passava a usufruir da proteção por ele liberada (direito à prorrogação dos prazos de vencimento das obrigações em caso de necessidade, instituto denominado concordata). De acordo com o Código Comercial brasileiro de 1850, Lei nº 556, o objeto do Direito Comercial era o exercício efetivo do comércio, ou seja, a mercancia deveria ser a atividade fim daquela pessoa, tendo como seu fundamento a Teoria dos Atos de Comércio. Referenciando o notável saber jurídico de Gomes (2013, p. 35), a respeito da Teoria dos Atos de Comércio, temos que: Sob a vigência da Teoria dos Atos de Comércio, prevalecia o caráter objetivo do ato econômico em si, de modo que se a atividade econômica que constituía o objeto adotado pelo comerciante estivesse elencada no rol normativo dos atos de comércio, a sua inscrição no registro de comércio seria obrigatória e a sua submissão às normas do Direito Comercial, absoluta, sendo de pouca importância as proporções econômicas de seu negócio ou o modo como estivesse organizado. E, mais, assinala Gomes (2013, p. 35): Assim, constata-se que o comércio podia ser praticado por qualquer pessoa capaz, desde que não expressamente proibida por lei, fosse ela pessoa natural ou pessoa jurídica, e atendesse a certos requisitos legais de ordem objetiva. No primeiro caso, tínhamos o comerciante individual (que, como veremos adiante, foi substituído pelo empresário individual); no segundo, a sociedade comercial (que, em sentido genérico, foi substituída pela sociedade empresarial), tendo ainda e, posteriormente, surgido a empresa individual de responsabilidade limitada, não existente naquela ocasião. Porém, observou-se uma fragilidade tangente ao conceito de comércio, sob a ótica da teoria dos atos de comércio, pois existiam práticas negociais que não estavam inseridas no Código Comercial, mas que, pela sua natureza deveriam estar inseridas: prestação de serviços, negociação de imóveis, agricultura ou extrativismo. Assim, surge a Teoria da Empresa, normatizada no Código Civil brasileiro, alterado pela Lei 10.406/02, que altera o fundamento da atividade econômica e sua organização, este Direito passa a ser denominado de Direito Empresarial, onde o foco é a empresa que é mais abrangente que o objeto do Direito Comercial, nos moldes do Código Comercial brasileiro, Lei nº 556/1850. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 10 Mister transcrevermos o entendimento doutrinário de Gomes (2013, p. 35): Conceitua-se empresa como toda atividade econômica, exercida de forma organizada, que visa à produção ou à circulação de bens ou de serviços, em uma mudança de foco em relação ao conceito tradicional de comércio, na medida em que a Teoria da Empresa abrange também parte da atividade de prestação de serviços, até então restrita ao âmbito do direito civil. Temos que o Direito Empresarial se caracteriza por ser um ramo do direito privado, entretanto, impende salientarmos que o mesmo é autônomo em relação ao Direito Civil. Tem-se que o Direito Empresarial, como é visto atualmente, é uma especialização do Direito Civil, no sentido de que se dedica a regulamentar as relações comerciais e suas implicações jurídicas. Cabe invocarmos a lição de Fran Martins (2001, p. 23): Ramo do direito privado, apesar de conter certas normas do direito público (nas sociedades, na falência, no direito dos transportes), o direito comercial não se confunde com o civil, não obstante os números pontos de contato existentes entre ambos. Regulando as atividades profissionais do comerciante e os atos por lei considerados comerciais, ficam fora do âmbito do direito mercantil as relações jurídicas relativas à família, à sucessão e ao estado da pessoa, que são regidas pela lei civil. Afigura-se, assim, o direito comercial como um direito de tendências profissionais, enquanto o civil é de tendência individualista, procurando reger as relações jurídicas das pessoas como tais e não como profissionais. Inicia-se uma nova fase no Direito Comercial, que passa a ser denominada Direito Empresarial, trazendo em seu escopo, a Teoria da Empresa. ATENCAO Evolução das Consolidações MercantisTeoria dos Atos de Comércio Teoria da Empresa DICAS Vídeo: Direito empresarial, direito comercial e direito de empresa, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=evFAPNms8pU. Acesso em: 22 fev. 2019. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 11 3 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO Vamos analisar juntos quais as teorias que serviram de base para o Código Comercial brasileiro de 1850? A Teoria dos Atos de Comércio, positivada no Código Comercial francês, de 1807, mencionava para que determinada pessoa fosse considerada comerciante teria que realizar a atividade negocial de forma habitual e profissional, o que se denominava de Mercancia. Citamos o entendimento de Teixeira (2014, p. 30): [...] atos de comércio ou mercancia pressupunham habitualidade, atuação contínua no exercício da atividade comercial. Conforme o art. 19 do então vigente Decreto (Regulamento) nº 737/1850, considerava- se mercancia: a compra e venda ou troca com o fim de revender por atacado ou a granel na mesma espécie ou manufaturados ou com o objetivo de alugar; as operações bancárias, de corretagem e de câmbio; as empresas de fábrica, de comissão, de depósito, de expedição, de consignação, de transportes de mercadorias e de espetáculos públicos; os seguros, fretamentos e demais contratos do comércio marítimo; armação e expedição de navios. O objetivo do Direito Comercial era regulamentar a atividade dos comerciantes, as negociações de quem comprava para revender. Gomes (2013, p. 34), assinala as determinações dos Atos de Comércio: [...] a Teoria dos Atos de Comércio determinava a aplicação de normas comerciais aos atos legalmente definidos como atos de comércio, atribuindo assim, um caráter objetivo ao direito comercial. Desse modo, uma pessoa (natural ou jurídica) se encontrava submetida às regras do direito comercial pela Teoria dos Atos de Comércio se exercesse determinadas atividades específicas, no caso do Brasil, relacionadas no art. 19 do já revogado Regulamento 737/185, correspondendo à chamada Mercancia, que podia ser definida como a prática reiterada dos atos de comércio. Assim, identificamos que os atos de comércio, também denominado de mercancia, eram aquelas negociações feitas de forma habitual e profissional. A Teoria dos Atos de Comércio, positivada de forma expressa pelo Código Comercial francês, em 1807, serviu de base para nosso Código Comercial, Lei nº 556, editado em 1850. O Código Comercial francês, em 1807, conceituava de forma expressa o que eram atos de comércio, em seu Art. 110-1 (TEIXEIRA, 2014): Art. 110-1, Código Comercial francês (1807): ato de comércio é a compra com intenção de revender. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 12 Posteriormente, o Decreto nº 737/1850, em seu art. 19, conceituou a mercancia: Art. 19. Considera-se mercancia: § 1º A compra e venda ou troca de efeitos moveis, ou semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; § 2º As operações de câmbio, banco e corretagem; § 3º As empresas de fabricas; de comissões; de depósitos; de expedição, consignação, e transporte de mercadorias; de espetáculos públicos; § 4º Os seguros, fretamentos, risco, e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; § 5º A armação e expedição de navios (BRASIL, 1850). Cumpre citarmos que, doutrinariamente, os atos de comércio classificavam- se em três grupos: atos de comércio por natureza; atos de comércio por força de lei e atos de comércio por conexão. Conceitualmente, nos explica Cometti (2013, p. 19), Atos de comércio por natureza são aqueles que decorrem diretamente da atividade mercantil, por exemplo, a compra e venda. Atos de comércio por força de lei são atos que não seriam de natureza comercial, mas, por imposição legal, são considerados atos de comércio. É o caso das operações de banco ou transporte de mercadoria, que consistem na prestação de serviços. Os atos de comércio por conexão são atos não comerciais, mas por estarem relacionados a uma atividade comercial, são considerados comerciais. Outrossim, o Código Comercial Brasileiro, de 1850, mencionava que, seria necessário que o comerciante tivesse efetuado sua matricula perante o Tribunal do Comércio para que pudesse ter uma proteção legal, considerando que a mercancia era sua profissão habitual (TEIXEIRA, 2014). No mesmo sentido, conceitua Franco (2012, p. 40): “O ato de comércio é ato jurídico, qualificado pelo fato particular de consubstanciar aqueles destinados à criação e circulação da riqueza mobiliária e, como tal, conceitualmente voluntário e dirigido a produzir efeitos no âmbito regulado pelo direito comercial”. Relevante registrarmos que, inicialmente o Direito Comercial era baseado nos usos e costumes dos povos. Conforme expõe Cometti (2013, p. 17): Nesta primeira fase, o direito comercial caracterizou-se como um direito: a) costumeiro, em que os usos e costumes geralmente observados pelos mercadores constituíam a sua principal fonte; b) internacional, uma vez que os usos e costumes mercantis eram aplicados geralmente em toda Europa, nas grandes feiras; e c) corporativo, pois suas normas eram aplicadas pelo tribunal das corporações (juízo consular) no julgamento de controvérsias existentes entre seus próprios membros. O direito comercial é, nesse momento, um direito de classe. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 13 IMPORTANT E O comerciante, de acordo com a definição tradicional, era toda pessoa que praticava – profissionalmente – atividades de produção de bens ou atos de intermediação na venda e compra de mercadorias, com intuito de lucro, ou seja, que executava atos definidos pela lei como atos de comércio (GOMES, 2013). Porém, ao passar dos anos, percebeu-se a insuficiência e fragilidade da Teoria dos Atos de Comércio, no sentido de que não se consegue distinguir claramente os atos de comércio e atos civis, como determinava a legislação francesa e, posteriormente, a legislação brasileira. Até porque surgem “novas formas” de comercialização, por exemplo a prestação de serviços. Impulsionando assim, uma nova teoria, a Teoria da Empresa. Mencionamos o entendimento de Franco (2012, p. 37), a esse respeito: No conjunto encontram-se outros atos e atividades que, embora pertencentes a setores econômicos distintos daqueles destinados ao comércio, pelo fato de concorrerem para a realização de operações comerciais, são assim considerados submetidos à normatividade especifica deste direito. A debilidade da Teoria dos Atos de Comércio se encontra na classificação de tais atos. Mamede (2013, p. 4) exemplifica de forma muita concisa apontando o porquê desta teoria não ter sido reafirmada nas legislações posteriores sobre o assunto: Assim, quem montasse uma pequena birosca à beira mar para vender latinhas de cerveja e lucrar poucas centenas de reais por mês era comerciante e estava submetido ao Direito Comercial: compra e venda de efeitos moveis. Em contraste, uma grande imobiliária, que faturasse milhões por mês, não era considerada comerciante, pois sua atuação não estava incluída na relação do art. 19 do Regulamento. Assim, com o surgimento da Teoria da Empresa, fundamento do Direito Empresarial, após a alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02, a empresa passa a ser vista sob um ângulo mais significativo e mais abrangente, pois abarca atividades negociais que antes não eram tratadas como tais, como por exemplo, a prestação de serviços. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 14 TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO: analisa-se os atos em si, a venda e revenda de mercadorias (mercancia), como pratica habitual e profissional. TEORIA DA EMPRESA: analisa-se a forma como os produtos são produzidos e colocados em circulação. A empresa dissocia-se da figura do empresário, há a impessoalidade. ATENCAO 4 TEORIA DA EMPRESA O que muda com a Teoria da Empresa? A Teoria da Empresa surge na Itália, com o Código Civilde 1942 e, ao contrário da Teoria dos Atos de Comércio, onde o foco era o fato de exercer o comércio de forma habitual e profissional, esta teoria de origem italiana tem como fundamento regulamentar o Direito Comercial, que passa a denominar-se Direito Empresarial, através da atividade econômica organizada exercida pelas empresas. No Brasil, com a alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.402/02, adota- se a Teoria da Empresa, por influência do Código Civil italiano. Importante frisar que, para a Teoria da Empresa não há um vínculo entre o empresário e sua atividade econômica. Existe uma separação, clara entre a pessoa do empresário e da atividade econômica que este exerce. De acordo com Gomes (2013, p.35), “Conceitua-se empresa como toda atividade econômica, exercida de forma organizada, que visa a produção ou à circulação de bens ou de serviços”. Mamede (2013, p. 4) destaca, a respeito da empresa: [...] enquanto isso, um novo fenômeno ganhava importância no mundo: a empresa, uma nova forma de atuação no mercado, suplantando o que antes se tinha por comércio, percebendo oportunidades, identificando demandas, organizando recursos diversos e, com isso, auferindo vantagens econômicas significativas. Observamos que o art. 966 do Código Civil brasileiro conceitua empresário como aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção de bens ou serviços. Analisamos que há um contraste em relação ao objetivo da Teoria dos Atos de Comércio e da Teoria da Empresa, eis que, nesta última, o foco não é somente na venda e revenda de produtos, mas na produção e circulação de mercadorias. Na Teoria da Empresa, a forma que são produzidas e circulam as mercadorias é que merecem proteção e regulamentação por parte da legislação empresarial. Além disso, é de suma relevância citarmos que assegurar a continuidade da atividade TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 15 empresarial é o objetivo primordial para Teoria da Empresa, encontrando tal objetivo embasado no Princípio da Preservação da Empresa. Por este princípio, a atividade empresária não deve cessar, nem mesmo quando quem a fundou tenha se afastado ou sido afastado da empresa ou tenha morrido. ESTUDOS FU TUROS A continuidade da empresa e a substituição de sócios será abordada na Unidade 3, no tópico referente à dissolução, liquidação e extinção das sociedades. Identificamos que a atividade econômica e a forma como se dá a produção e circulação de mercadorias é que norteia a Teoria da Empresa. Como destaca Gomes (2013, p. 36): Está clara a inovação conceitual promovida pela Teoria da Empresa, na medida em que não se mais se considera o ato jurídico em si, se mercantil ou civil, como fator norteador da incidência das normas, respectivamente, do direito comercial ou do direito civil, mas a função ou atividade econômica desenvolvida pelo empresário e a própria organização dos meios de produção característica da empresa e atribuída pelo empresário aos meios de produção. Para que pudéssemos compreender melhor a respeito da atividade empresarial, jurista italiano Alberto Asquini dividiu em quatro perfis o exercício desta atividade, analisando a empresa, perante o direito civil italiano, sob os seguintes aspectos: perfil subjetivo, perfil objetivo, perfil funcional e perfil corporativo. Para Asquini (1996, p. 103) “empresa é um negócio econômico que se apresenta de diversas maneiras”. Passamos a analisá-los: a) Perfil subjetivo: a empresa é o empresário, sendo este titular de direitos e obrigações. Cabe fazermos um apontamento a respeito da palavra empresário, conceituado no art. 966 do Código Civil, pois temos o empresário individual e o sócio quotista, que não se confunde com o conceito de empresário. Transcrevemos as observações de Mamede (2013, p. 5) sobre tal assunto: UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 16 É preciso redobrado cuidado com a palavra empresário, colocada no artigo 966 do Código Civil, pois se aplica tanto àquele que, individualmente, se registra na junta comercial para o exercício de uma empresa, quanto à sociedade empresária, isto é, à pessoa jurídica que foi constituída para o exercício da empresa. No primeiro caso, é comum falar-se em empresário individual, expressão redundante que, todavia, afasta as dúvidas de que resultam do uso coloquial da palavra empresário, erroneamente identificado com a figura do sócio quotista ou acionista de uma sociedade. O sócio, no entanto, não é, juridicamente, um empresário; é apenas um titula de um direito pessoal com expressão patrimonial econômica: uma ou mais frações ideais do patrimônio social, frações essas que são chamadas de quotas, nas sociedades contratuais e na sociedade cooperativa, e de ações, nas sociedades anônimas e nas sociedades em comandita por ações. De acordo com o Art. 966 do Código Civil (2002), considera-se empresário aquele profissional que, efetivamente exerce “atividade econômica organizada para a produção de bens ou de serviços”. É importante citar o entendimento de Coelho (2013, p. 31-32) a respeito da atividade empresarial: [...] A noção do exercício profissional de certa atividade é associada, na doutrina, a considerações de três ordens. A primeira diz respeito à habitualidade. Não se considera profissional quem realiza tarefas de modo esporádico. Não será empresário, por conseguinte, aquele que organizar episodicamente a produção de certa mercadoria, mesmo destinando-a à venda no mercado. Se está apenas fazendo um teste, com o objetivo de verificar se tem apreço ou desapreço pela vida empresarial ou para socorrer situação emergencial em suas finanças, e não se torna habitual o exercício da atividade, então ele não é empresário. O segundo aspecto do profissionalismo é a pessoalidade. O empresário, no exercício da atividade empresarial, deve contratar empregados. São estes que, materialmente falando, produzem ou fazem circular bens ou serviços. O requisito da pessoalidade explica porque não é o empregado considerado empresário. Enquanto este último, na condição de profissional, exerce atividade empresarial pessoalmente os empregados, quando produzem ou circulam bens ou serviços, fazem-no em nome do empregador. Dessa forma, analisamos que o empresário é aquele que exerce suas atividades negociais de forma pessoal e profissional, frente à sua empresa, de forma organizada, sendo que o mesmo tem sua personalidade dissociada de tal empresa. b) Perfil objetivo: entende-se empresa como um conjunto de bens (estabelecimento comercial). Quando falamos de bens, devemos entender tanto os bens materiais como os imateriais, incorpóreos e corpóreos. Refere-se ao patrimônio, isto é o estabelecimento comercial, conceituado no Art.1142 da Lei nº 10.406/2002 do Código Civil Brasileiro (2002, s.p.): “Considera- TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO EMPRESARIAL 17 se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. c) Perfil funcional: a empresa é vista sob o ponto de vista da atividade que realiza (produção e circulação de bens e serviços). Teixeira (2014, p. 48), conceitua: “A empresa significa a atividade empresarial, sendo uma organização produtiva a partir da coordenação pelo empresário dos fatores de produção (capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia) para alcançar sua finalidade (que é o lucro)”. d) Perfil corporativo: analisa-se a empresa sob o aspecto institucional, formada por todos que compõem a empresa (empresário, colaboradores e prestadores de serviço). Assim, consoante à Teoria da Empresa resta claro que as atividades consideradas e regulamentadas pela legislação empresarial são as que se referem a produção de bens, circulação de bens, sem esquecermos, da prestação de serviços. Por fim, temos, segundo entendimento de Teixeira (2014, p. 48) que: [...] a palavra empresa significa atividade, que por sua vez é exercida pelo empresário. Essaatividade é o conjunto de atos coordenados pelo empresário. Mas, modernamente, a expressão empresa, como atividade econômica, contempla a soma de todos os perfis apontados por Asquini. 5 FONTES FORMAIS DO DIREITO EMPRESARIAL As fontes são as bases do Direito, onde ele nasce, ou como aponta Teixeira (2014, p. 35): “Fontes do Direito são as maneiras pelas quais se estabelecem as regras jurídicas. [...] é a origem das normas jurídicas”. Da mesma forma, definimos que as fontes formais do direito são aquelas que dão origem ao regramento jurídico (GOMES, 2013). As fontes formais do Direito Empresarial são divididas em primárias e secundárias, antes da alteração do Código Civil, pela Lei nº 10.406/02 (FRANCO, 2012): a) Fontes primárias ou diretas: o Código Comercial brasileiro, as leis suplementares, regulamentos baixados pelo Poder Público e tratados e convenções internacionais. b) Fontes subsidiárias, secundárias ou indiretas: leis civis, os usos comerciais e a jurisprudência. Após a revogação de grande parte do Código Comercial em decorrência da alteração do Código Civil, feita pela Lei nº 10.406/02, temos como fontes: UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 18 a) a Constituição Federal de 1988; b) a Legislação Extravagante; c) as Leis Civis, contudo estas deveram ser utilizadas de forma subsidiaria, conforme preconiza o Art. 291 do Código Comercial, ou seja, somente perante a omissão das leis comerciais, referente as matérias especificas; d) a Jurisprudência; e) a Analogia; f) os Usos e práticas comerciais; g) os princípios gerais de direito; h) os Tratados e Convenções Internacionais. Os usos e costumes já foram a principal fonte do Direito Empresarial, aliás, esses foram a base para tal Direito. ATENCAO 19 Neste tópico, você aprendeu que: • As normas jurídicas de controle dos empreendimentos são tão antigas quanto o Direito. • A legislaçao mais antiga conhecida: Leis de Ur Nanmu, século XXI a.C., vigentes na Suméria, na cidade de Ur. Trazem normas que proíbem o cultivo em terras de propriedade alheia, limitam juros e tabelam preços. • Houve uma reforma jurídica realizada na cidade de Lagash, na Suméria (hoje Iraque), no século XXV a.C., na qual o soberano, chamado Ur Uinim Enmigina (Urukagina), limitava a usura e os monopólios. • A USURA está intimamente ligada à cobrança excessiva de juros. • MONOPOLIO trata-se de uma única empresa deter o mercado de um determinado produto ou serviço, conseguindo portanto influenciar o preço do bem que comercializa. • A moeda foi inventada pelos lídios. Lidia ficava onde hoje é o planalto central da Turquia. • Na Idade Média, a atenção social voltou-se para o campo, onde a divisão da propriedade rural em grandes estruturas políticas caracterizou o feudalismo. • As cidades continuram a existir e o comércio também. Para a mútua proteção, artesãos e comerciantes organizaram-se em corporações de ofício. Elas tomaram para si a função de regulamentar a atividade mercantil, o que fizeram por meio de consolidação de costumes, chamadas de consuetudos. • Essas consolidações marcaram o início do Direito Mercantil, pois foram as primeiras normas dedicadas ao comércio. • Quando o feudalismo foi superado, tais normas serviram de base para os Códigos Comerciais. RESUMO DO TÓPICO 1 20 1 Segundo o art. 966 do Código Civil, é considerado empresário: a) ( ) Quem é sócio de sociedade empresária dotada de personalidade jurídica. b) ( ) Quem é titular do controle de sociedade empresária dotada de personalidade jurídica. c) ( ) Quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. d) ( ) Quem exerce profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística. e) ( ) Quem assume a função de administrador em sociedade limitada ou sociedade anônima. 2 Diferencie a Teoria da Empresa, adotada pelo Código Civil Brasileiro e a Teoria dos Atos de Comércio, adotada pelo Código comercial brasileiro. 3 Com relação ao estabelecimento empresarial, assinale a alternativa incorreta: a) ( ) É o complexo de bens organizado para o exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária. b) ( ) Refere-se tão somente à sede física da sociedade empresária. c) ( ) Desponta a noção de aviamento. d) ( ) Inclui, também, bens incorpóreos, imateriais e intangíveis. e) ( ) É integrado pela propriedade intelectual. AUTOATIVIDADE 21 TÓPICO 2 CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No presente tópico iremos analisar o que, de acordo com a legislação empresarial, denominados de empresário e o motivo de sua atividade ser observada sob outro ângulo. O empresário, com a Teoria da Empresa, passa a ser visto em conjunto com a atividade que exerce. Observamos que, “o exercício de atividade econômica de forma organizada é que encerra toda a essência conceitual da empresa” (GOMES, 2013, p. 41). No mesmo sentido, iremos analisar a capacidade jurídica de ser empresário. E, assim, temos que, “o exercício da capacidade empresarial por pessoa natural, em seu próprio nome, como regra geral, exige que ela tenha capacidade civil plena e não esteja legalmente impedida, conforme art. 972, do CC/2002” (GOMES, 2013, p. 45 ). Outro assunto importante a ser trabalhado neste tópico é a respeito do nome empresarial, como este é protegido, perante a legislação empresarial e as implicações dessas normas frente à atividade empresarial. Em relação ao estabelecimento e registro da empresa iremos observar quanto esses aspectos são importantes, até mesmo no que se refere à definição do tipo societário e quais as obrigações intrínsecas a tais tipos societários. “A Constituição Federal assegura, de forma inequívoca, proteção ao empresário e à atividade empresarial, primeiramente por meio do disposto no art. 5º, XIII: É livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (GOMES, 2013, p. 45). Essas reflexões serão de suma importância para que possamos entender as alterações trazidas pela Lei nº 10.406/02, do Código Civil Brasileiro, que, revogando parte do Código Comercial, inseriu em um de seus livros, o Direito Empresarial. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 22 2 O MENOR COMO EMPRESÁRIO E a capacidade para ser empresário? Todos temos? Os menores de idade podem ser empresários? A capacidade empresarial está intrinsecamente ligada à capacidade civil, entretanto, existirão algumas exceções, que veremos neste tópico, que, mesmo não sendo plenamente capaz, determinada pessoa poderá ser empresário, seguindo algumas determinações legais. “Qualquer pessoa pode exercer a atividade empresarial, desde que esteja em pleno gozo da sua capacidade civil, e não esteja impedida por lei – art. 972 do Código Civil” (TEIXEIRA, 2014, p. 68). “O Art. 966 do Código Civil brasileiro de 2002 é reflexo do Art. 2.082 do Código Civil italiano de 1942, que dispõe: “É empreendedor quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim da produção ou da troca de bens e serviços” (TEIXEIRA, 2014, p. 45). Portanto, podemos assinalar que, inclusive a Constituição Federal protege o empresário e sua empresa, contudo, ele deverá respeitar a legislação vigente a respeito, principalmente no que tange ao registro, tendo em vista ser uma atividade profissional e organizada. “A Constituição Federal assegura, de forma inequívoca, proteção ao empresário e à atividade empresarial, primeiramente por meio do disposto no Art. 5º, XIII: “É livre o exercício de qualquer trabalho, oficio ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (GOMES, 2013, p. 45). O mesmo autor sintetiza: “[...] a atividade empresarial exige profissionalidade, representada pelo registro de empresário, da empresa individual de responsabilidade limitada e da sociedade empresária no Registro de Empresas” (GOMES, 2013, p. 45). “[...] O empresário podeser tanto uma pessoa física, como também uma pessoa jurídica. Sendo uma pessoa física, o empresário é chamado de empresário individual; sendo uma pessoa jurídica, o empresário pode ser tanto uma empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), como uma sociedade empresária” (COMETTI, 2013, p. 20). ATENCAO Ao tratar de capacidade civil temos, segundo Teixeira (2014, p. 55), “a capacidade civil ocorre quando a pessoa atinge a maioridade (18 anos) e a sanidade mental (interpretação dos arts. 1º a 5º do CC”. TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO 23 Assim, assinalamos que, em regra, para que possamos ser empresários, temos que ter alcançado a maioridade plena, “[...] o mesmo Código estabelece em seu art. 5º que a capacidade civil plena é adquirida, como regra geral, a parir dos dezoito anos completos” (GOMES, 2013, p. 45). “[...] no caso de uma sociedade empresaria, sendo esta sempre uma pessoa jurídica, quem exerce a atividade é a própria sociedade, e não os sócios que a integram, daí o fato de não ser necessária a capacidade civil plena para tornar-se sócio, sendo-a exigida tão somente para o exercício da administração social” (GOMES, 2013, p. 45). ATENCAO Todavia, observando as citações referendadas acima sobre maioridade, temos que existem exceções, vejamos: “Uma exceção à maioridade, para efeitos de capacidade empresarial, está prevista no art. 5º, inc. V, do Código Civil (quando trata das hipóteses de emancipação), que apenas acontece quando menor, com 16 anos completos, tiver um estabelecimento comercial/empresarial, com economia própria. Assim, a incapacidade do menor com 16 anos cessará, pois será emancipado em razão do seu estabelecimento empresarial” (TEIXEIRA, 2014, p. 68). IMPORTANT E “[...] se o menor tem autonomia econômica, o juiz deve reconhecer essa autonomia para que uma situação de fato passe a ser de direito, devendo assim ser levado a registro” (FERREIRA, 1962, p. 109-113, apud TEIXEIRA, 2014, p. 68). Assim, apontamos que, mesmo menor, ele poderá ser empresário, tendo em vista a sua emancipação e também em outras hipóteses: [...] ou ainda: a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; b) pelo casamento; c) pelo exercício de emprego público efetivo; d) pela colação de grau em curso de ensino superior (GOMES, 2013, p. 45). UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 24 Entretanto, havia uma preocupação em relação ao menor empresário pertinente ao de se este viesse a praticar atos negociais e, que, porventura prejudicasse terceiros. Neste sentido, o Código Civil estabeleceu que, se este menor tivesse sido autorizado por quem de direito pudesse autorizar, os atos deste menor seriam considerados. Cuidar-se-ia aqui de incapacidade relativa (art. 4º do CC). Porém, se exercer a empresa com autorização do progenitor que estiver no exercício da guarda e do poder familiar, desde que provada por escritura pública, responderá integralmente pelos atos praticados (art. 5º, parágrafo único, V, do CC), não podendo alegar, como se admitia antes, o benefício da restituição (FRANCO, 2012, p. 69). E, ainda continua a autora : “Da mesma forma, a par disto, se dolosamente ocultou sua idade, declarando-se maior, independentemente do fato de exercer ou não o comércio com economia própria, será responsabilizado (Art. 180 do Código Civil apud FRANCO, 2012, p. 69). Neste sentido, temos que o menor poderá sim ser empresário, podendo inclusive sofrer as sanções previstas na legislação empresarial, sendo responsável por seus atos negociais, essa responsabilização ocorre tendo em vista ao Princípio da Boa Fé contratual que menciona que os terceiros devem ser resguardados, quando estes forem terceiros de boa-fé. DICAS Vídeo: Capacidade e Impedimentos do Empresário. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=dU5lzGBDlaM. Vídeo: Direito Empresarial 1/5. Empresário - Caracterização e Inscrição. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PnTeggqAwX8. 3 IMPEDIMENTOS E INCAPACIDADE Os impedidos de exercer atividade empresarial diferem dos impedimentos civis, eis que uma pessoa poderá ser considerada plenamente capaz, mas não pode atuar frente às atividades empresariais. Vamos analisar quem são estas pessoas impedidas de exercer atividade empresarial, embora plenamente capazes? TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO 25 • falido não reabilitado; • funcionário público; • militar; • devedor do INSS. a) Falido não reabilitado: Lei nº 11.101/2005, Art. 102, caput, cc art. 181, § 1º A decisão que decreta a falência já impossibilita o devedor de exercer qualquer atividade empresarial. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei. Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro. Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: I - a inabilitação para o exercício de atividade empresarial; II - o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a esta Lei; III - a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio. § 1º Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal. § 2º Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo registro em nome dos inabilitados. Esse impedimento refere-se ao fato de que devem ser resguardados o patrimônio que o falido ainda tenha e que servirá para pagamento de suas dívidas. b) Funcionário Público: Lei nº 8.112/90, Art. 117, inc. X. RJU - Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Art. 117 Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008. Esse impedimento advém para coibir os “favorecimentos” que poderiam ocorrer para a empresa deste funcionário público, em detrimento de outras empresas, porém o funcionário público poderá ser sócio quotista, desde que não exerça a administração da empresa. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 26 “[...] o funcionário público pode até ser acionista ou cotista de uma sociedade, mas não pode ser administrador (de sociedade com personalidade jurídica ou não), bem como não pode exercer atividade empresarial como empresário individual. Ou seja, não pode estar à frente do negócio” (TEIXEIRA, 2014, p. 70). c) Militar: Código Penal Militar – Decreto-lei nº 1.001/69, Art. 204 CPM – Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969 Art. 204 Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada: Pena – suspensão do exercício do posto, de seis meses a dois anos, ou reforma. Como podemos observar, caso um militar venha a exercer atividades empresariais, o mesmo incorrerá em crime, respondendo pela legislação atinente ao caso. d) Devedor do INSS: Lei nº 8.212/91,Art. 95, § 2º, alínea d LOSS - Lei nº 8.212 de 24 de Julho de 1991 Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Art. 95. Caput. Revogado. (Redação dada pela Lei nº 9.983, de 2000). [...] § 2º A empresa que transgredir as normas desta Lei, além das outras sanções previstas, sujeitar-se-á, nas condições em que dispuser o regulamento: [...] e) à interdição para o exercício do comércio, se for sociedade mercantil ou comerciante individual. Quanto aos devedores do INSS o impedimento ocorre na participação de licitações, bem como o encerramento da atividade empresarial, de forma legal. IMPORTANT E “Os estrangeiros podem exercer atividade empresarial, salvo nos casos excepcionados pela Constituição Federal de 1988, que estabelece impedimentos. A Constituição Federal, por exemplo, fixa impedimentos aos estrangeiros quanto à exploração de recursos minerais (CF, Art. 176, § 1º) ou ser proprietário de empresa jornalística (CF, Art. 222). (TEIXEIRA, 2014, p. 71). TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO 27 3.1 INCAPACIDADE SUPERVENIENTE A incapacidade abordada neste item refere-se àquela que, durante o exercício da atividade empresarial, o empresário passa a ser incapaz. Este empresário poderá continuar no exercício de suas funções empresariais? O empresário poderá continuar exercendo sim, suas atividades empresariais, mesmo passando a ser incapaz, cumprindo determinados requisitos legais, que se referem à sua representação. Incapacidade superveniente do empresário (aquela que ocorre posteriormente ao início da atividade, pois até então ele era capaz) não impede a continuidade do exercício da empresa pelo agora incapaz. Para tanto, é necessária uma autorização judicial com a nomeação de um representante, no caso seus pais ou autor da herança (Código Civil, Art. 974, caput) (TEIXEIRA, 2014, p. 71). “Quanto à incapacidade de sócio de uma sociedade empresária, a Junta Comercial deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes requisitos: o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; o capital social deve ser totalmente integralizado; e o sócio relativamente incapaz deve ser assistido, se absolutamente incapaz, deve ser representado por seus representantes legais” (TEIXEIRA, 2014, p. 71). ATENCAO Porém, importante mencionarmos que, caso o representante ou assistente ficar impossibilitado de exercer a atividade empresarial para qual foi designado, poderá nomear um gerente para lhe substituir, com a aprovação judicial, sem que fique imune às suas responsabilidades, conforme Art. 975 CC, caput. (TEIXEIRA, 2014). 4 NOME EMPRESARIAL O nome de uma empresa é sua identificação social e para tanto, precisa ser protegida, bem como, possui obrigações atinentes à sua atividade empresarial. O empresário, seja pessoa física ou jurídica, tem um nome empresarial, que é aquele com que se apresenta nas relações de fundo econômico. Quando se trata de empresário individual, o nome empresarial pode não coincidir com o civil; e, mesmo, quando coincidentes, têm o nome UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 28 civil e o empresarial naturezas diversas. A pessoa jurídica empresária, por sua vez, não tem outro nome além do empresarial. O Código Civil reconhece no nome, civil ou empresarial, a manifestação de um direito da personalidade da pessoa física ou jurídica (Artigos. 16, 52 e 1.164) (COELHO, 2013, p. 98). IMPORTANT E “Como elemento de identificação do empresário, o nome empresarial não se confunde com outros elementos identificadores que habitam o comércio e a empresa, os quais têm, também, proteção jurídica, assim a marca, o nome de domínio e o título de estabelecimento. Enquanto o nome empresarial identifica o sujeito que exerce a empresa, o empresário, a marca identifica, direta ou indiretamente, produtos ou serviços, o nome de domínio identifica a página na rede mundial de computadores e o título do estabelecimento, o ponto” (COELHO, 2013, p. 98). O nome empresarial é protegido pela legislação empresarial, sendo que o mesmo deve ser único, não podendo haver duas ou mais empresas com o mesmo nome. Ademais, o nome identifica o tipo societário e o objeto social da empresa. “[...] é considerado crime de concorrência desleal usar indevidamente nome empresarial alheio (Lei nº 9.279/96, art. 195, inc. V)” (TEIXEIRA, 2014, p. 83). E, ainda, para complementar: “[...] o nome empresarial não pode ser igual a outro já inscrito (CC, art. 1.163). Nos casos em que isso acontecer, será necessário realizar alguma alteração para se obter distinção” (TEIXEIRA, 2014, p. 83). “Pela regra geral, a proteção ao nome empresarial é válida no território do Estado-membro em que foi registrado. Em casos excepcionais, previstos a legislação, a proteção ao nome empresarial pode ter caráter nacional e, inclusive, internacional (CC, Art. 1.166 apud TEIXEIRA, 2014, p. 83). ATENCAO Dessa forma, vamos analisar as espécies de nomes empresariais: firma e denominação social. TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO 29 4.1 FIRMA A firma é constituída pelo nome civil do empresário individual ou pelo nome dos sócios da empresa, ex.: João da Silva ME. A firma tem por base o nome civil do empresário ou dos sócios da sociedade; aí falar-se em razão social, pois dá a conhecer, ao menos em parte, a composição societária. É o que ocorre com empresário, que deverá adotar firma individual baseada no seu nome civil, expressando uma razão empresarial. Também a firma social deverá expressar a razão social: deve refletir a realidade da composição societária, compondo-se do nome de um ou mais sócios responsáveis pela sociedade, no todo ou em parte, hipótese que deverá constar o patronímico (sobrenome). Trata-se do princípio da veracidade (MAMEDE, 2013, p. 53). Importante mencionarmos que o nome da pessoa física deverá constar na inscrição, perante a Junta Comercial. E, ainda, a firma deverá ser utilizada por sócios de responsabilidade ilimitada, sempre constando o nome de pelo menos um deles. 4.2. DENOMINAÇÃO A denominação é utilizada quando se quer identificar o objeto da empresa em seu nome empresarial. Ex.: Macedônia Indústria de Calçados Ltda. “[...] a denominação deve designar o objeto da empresa e pode adotar por base o nome civil ou qualquer outra expressão linguística (que a doutrina costuma chamar de elemento fantasia)” (COELHO, 2013, p. 99). Dessa forma, verificamos que as funções da firma e denominação são diferentes, eis que a firma é utilizada em casos de empresa individual ou nome de dos sócios que compõem a empresa; já a denominação é utilizada para determinar o objeto social da empresa. DICAS Vídeo: Nome Empresarial: Denominação e Firma Social. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RjyRLTBBBus. Vídeo: Qual é a diferença entre Marca e Nome Empresarial? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RsHKrtRp8tY. UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 30 5 ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL Como mencionamos e de acordo com o artigo 1.142 da Lei nº 10.406/02 da legislação empresarial, “Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária” (Código Civil Brasileiro, 2002, s.p.) Importante mencionarmos que os bens são divididos em corpóreos/ materiais e incorpóreos/imateriais. IMPORTANT E “[...] o estabelecimento é o instrumento para o empresário exercer sua atividade; é a base física da empresa (mas pode ser virtual, ...). Normalmente, é o local onde os clientes do empresário se dirigem para realizar negócios (TEIXEIRA, 2014, p. 77). Os bens corpóreos ou materiais são os bens tangíveis, ou como a doutrina menciona, corporificados. “Os bens materiais/corpóreos são aqueles que se caracterizam por ocupar espaço no mundo exterior, por exemplo, as mercadorias, as instalações, as máquinas, entre outros” (TEIXEIRA,2014, p. 77). Pertinente aos bens incorpóreos ou imateriais são os bens de natureza abstrata, intangíveis. “Os bens imateriais/incorpóreos são coisas que não ocupam lugar no mundo exterior, sendo resultado da elaboração abstrata humana, como os títulos dos estabelecimentos, as marcas, as patentes, os desenhos industriais etc.” (TEIXEIRA, 2014, p. 77). “A empresa é uma atividade exercida pelo empresário. Para ele poder exercer sua atividade, é necessário um estabelecimento em que estarão conjugados bens na intenção de alcançar o lucro (mas pode-se dizer que, para o exercício de uma atividade intelectual, também se requer um estabelecimento)” (TEIXEIRA, 2014, p. 77). ATENCAO TÓPICO 2 | CAPACIDADE DE SER EMPRESÁRIO 31 DICAS Leia o artigo: Estabelecimento Empresarial, de autoria de Emerson Souza Gomes. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_ artigos_leitura&artigo_id=5383. 6 REGISTRO EMPRESARIAL Para que possamos considerar que uma empresa está atuando no mercado devidamente, necessário que a mesma esteja registrada nos órgãos competentes, dependendo do tipo societário. Uma das obrigações elementares para o exercício da empresa é o registro do empresário (pessoa natural, física) ou da sociedade empresária (pessoa jurídica). Esse registro é regulado pelos artigos 967 a 970 do Código Civil e pela Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que disciplinam o chamado Registro Público de Empresas Mercantis, que está a cargo das Juntas Comerciais que atuam sob a supervisão, orientação e coordenação do Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC), órgão integrante do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, responsável pelo controle e pelas normas do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (Sinrem) (MAMEDE, 2013, p. 8). Para as empresas que possuem como objeto atividades eminentemente empresariais, o registro é feito na Junta Comercial. Já as empresas que se dedicam às atividades intelectuais, estas deverão ser registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (TEIXEIRA, 2014). Colacionamos o Art. 1150, do Código Civil: O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária (BRASIL, 2002, s.p.). IMPORTANT E “Quanto ao prazo, para apresentação dos documentos para a realização do registro deve ser feita em 30 dias a partir da assinatura do ato constitutivo, sob pena de responsabilidade por perdas e danos” (C.C, art. 1.151, §§ 1º e 3º apud TEIXEIRA, 2014, p. 73). UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 32 Compete às Juntas Comerciais, de acordo com o art. 8º, da Lei nº 8.934/94: Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe: I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei; II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as normas legais pertinentes; III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e intérpretes comerciais; IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem como as resoluções de caráter administrativo necessárias ao fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e regimentais; V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins; VI - o assentamento dos usos e práticas mercantis. Art. 9º A estrutura básica das juntas comerciais será integrada pelos seguintes órgãos: I - a Presidência, como órgão diretivo e representativo; II - o Plenário, como órgão deliberativo superior; III - as Turmas, como órgãos deliberativos inferiores; IV - a Secretaria-geral, como órgão administrativo; V - a Procuradoria, como órgão de fiscalização e de consulta jurídica. § 1º As juntas comerciais poderão ter uma assessoria técnica, com a competência de preparar e relatar os documentos a serem submetidos à sua deliberação, cujos membros deverão ser bacharéis em Direito, Economistas, Contadores ou Administradores. § 2º As juntas comerciais, por seu plenário, poderão resolver pela criação de delegacias, órgãos locais do registro do comércio, nos termos da legislação estadual respectiva (BRASIL, 1994, s.p.). Neste sentido, compete ao DNRC, fiscalizar, supervisionar, estabelecer normas, solucionar dúvidas, atuando Junto às Juntas Comerciais (TEIXEIRA, 74). Outrossim, referente ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas, este possui seu embasamento legal na Lei nº 6.015/73. Art. 114 Lei nº 6.015/73: No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos: I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas. III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 9.096, de 1995). Parágrafo único. No mesmo cartório será feito o registro dos jornais, periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias a que se refere o art. 8º da Lei nº 5.250, de 9-2-1967 (BRASIL, 1973, s.p.) 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • NOME EMPRESARIAL é o nome protegido por lei, é o nome sob o qual a empresa mercantil exerce sua atividade e se obriga nos atos a ela pertinentes, compreendendo os seguintes tipos: ° Firma ou razão social; ° Denominação social. Serve também para identificar o tipo jurídico da empresa. • Para formar o nome empresarial, a sociedade por cotas de responsabilidade limitada poderá adotar RAZÃO SOCIAL ou DENOMINAÇÃO SOCIAL, sempre seguidas, qualquer delas, da expressão "limitada', por extenso ou abreviadamente. • A RAZÃO SOCIAL é constituída pelo nome civil completo ou abreviado de um, de alguns – nesses casos acrescida a expressão "e companhia" ou "e Cia.", para indicar a existência de outros sócios –, ou de todos os sócios, além da palavra "limitada", por extenso ou abreviada. • A DENOMINAÇÃO SOCIAL é formada por expressões de fantasia incomuns (termos criados) e/ou por palavras de uso comum ou vulgar livremente escolhidas pelo sócios, seguidas da palavra "limitada", abreviada ou por extenso. Omitida a palavra "limitada", os sócios passam a responder ilimitadamente pela empresa. 34 1 Quanto ao direito de empresa, assinale a alternativa correta: a) ( ) A obrigatoriedade de inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede só se torna efetiva após o início de sua atividade. b) ( ) A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. Está excluído de tais benefícios o empresário rural. c) ( ) Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. d) ( ) Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, ainda que tenham se casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. 2 Assinale a alternativa correta no que se refere ao estabelecimento empresarial: a) ( ) É definido como o local em que o empresário exerce seu comércio. b) ( ) É sinônimo de fundo de comércio e se caracteriza como conjunto de bens de que se utiliza o empresário para exercer sua atividade. c) ( ) É integrado por bens corpóreos e incorpóreos do patrimônio da empresa e de seus sócios; d) ( ) Goza de proteção nacional, uma vez registrado no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual. e) ( ) É pessoa jurídica de direito privado, distinta da pessoa do comerciante individual. AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 3 SOCIEDADE UNIDADE1 1 INTRODUÇÃO No presente tópico iremos analisar os tipos societários em si: suas semelhanças e diferenças. As sociedades diferem-se em relação às atividades e sua forma de constituição. A sociedade simples é a pessoa jurídica que realiza atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (§ único do artigo 966). Exemplo típico de sociedade econômica não-empresária é aquela constituída por profissionais do mesmo ramo como, por exemplo, a dos advogados, médicos ou engenheiros, configurando-se como sociedade simples (artigos 966 e 981) cujo contrato social é inscrito no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, salvo quando se tratar de sociedade de advogados que se inscreve apenas na OAB (artigo 16 da Lei 8.906/94). E, ainda: Cabe salientar que, nos termos do artigo 983, as sociedades simples, assim como as sociedades empresárias, poderão ser constituídas sob qualquer tipo societário (nome coletivo, comandita, limitada). No mesmo sentido, iremos analisar a forma como ocorre a desconsideração da personalidade jurídica de tais sociedades, com embasamento nas teorias, maior e menor, inclusive de forma inversa. Por fim, iremos tratar a respeito da dissolução dos tipos societários frente ao Princípio da Preservação da Empresa. 36 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 2 HISTÓRICO Mas, afinal, o que é sociedade perante a legislação empresarial atual? Incialmente, faremos um breve apanhado histórico para entendermos as alterações trazidas pela legislação, comercial e empresarial. Temos que todos somos livres para nos “associarmos” a outrem para constituir uma “sociedade”, dentro dos limites legais, obviamente. Entre nós vige o princípio da livre iniciativa: estamos livres para ações econômicas e jurídicas, respeitando os limites entre o que a lei proíbe (o que não se deve fazer) e o que a lei determina (o que se deve fazer). Assim, cotidianamente, estabelecemos relações jurídicas, designadamente contratos, constituindo vínculos jurídicos para com os quais estamos obrigados (MAMEDE, 2013, p. 30). Mas será que foi sempre assim? Havia esse respeito ao Princípio da Livre Iniciativa? É o que veremos. Historicamente, em Roma, quando o “pater familias” (pai: dono da família) falecia, não havia divisão de bens, mas os herdeiros reuniam-se para cuidar daqueles bens deixados. [...] os primeiros documentos que tratam de sociedades podem ser encontrados na Antiguidade, sobretudo no direito romano, em que a morte do pater famílias não ocasionava necessariamente a divisão de seus bens entre seus herdeiros. Pelo contrário, os herdeiros se uniam e, em conjunto, passavam a administrar e explorar os bens do de cujus. Criavam, assim, a societas fratrum, que unia os herdeiros do pater famílias na exploração de seus bens, mas sem que esse contrato desse origem a uma pessoa jurídica. A societas romana vinculava somente seus sócios, não produzindo efeitos perante terceiros (COMETTI, 2013, p. 62). DICAS Pater Familias: “Primitivamente, a vida familiar é dominada pela onipotência do pai que se exerce legalmente sobre os escravos da casa, e também sobre a mulher e os filhos. O pater familias pode, a seu bel-prazer, reconhecer os filhos que a mulher lhe dá (neste caso, no momento do nascimento, pega na criança e levanta-a num gesto que lhe confere legitimidade), ou expô-los fora de casa, abandonando-os a quem os queira, o que, na prática, equivalia a condená-los à morte ou, quando muito, à escravatura”. (Civilização romana/ Paterfamilias. Saiba mais, acessando: https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_ romana/Paterfamilias. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 37 A societas, formada pelos herdeiros de cujus, em romana, não era uma sociedade como conhecemos atualmente, mas era uma forma organizada de “comunhão” ou “copropriedade”. Importante mencionar que a societas não possuía personalidade jurídica, por esse motivo, os sócios contratavam terceiros independentemente, sem que a responsabilidade por tais contratos fosse da sociedade. Até porque esse somente obrigava a esses sócios. A doutrina situa sua origem no consortium ercto non cito (forma de copropriedade comum indivisa) e em experiências associativas ligadas à práxis das relações internacionais da iurisdictio peregrina (século II a.C.) mediante recurso à iudicia bona fidei. Elemente essencial era a fraternitas, resultante do vínculo familiar. [...] este era “o consorcio que se instalava entre os herdeiros quando o pai falecia intestato e se apresentava como uma legitima natural sociedade (Gaio) (FRANCO, 2012, p. 178). Era uma “sociedade” baseada em colaboração, cooperação em busca de um fim comum: cuidar dos bens de cujus, sem grandes investimentos. Poderiam comprar ou alienar bens, mas, em caso de compra, estes eram mantidos para todos, em copropriedade. Entretanto, com o passar dos anos, tal sociedade foi perdendo o sentido, pois já havia a necessidade de dividir aquele bem em quotas partes, para que também, cada um de seus herdeiros pudesse administrar sua parte, visando sempre a um bem comum. O foco não é mais o vínculo natural familiar, mas a affectio societatis. Por fim, de suma importância sabermos que a primeira sociedade regular criada foi a sociedade anônima, que efetivamente, possuía e ainda possui personalidade jurídica. Ocorreu na Inglaterra, século XVIII, para empreendimentos de vulto (exploração de petróleo e a criação de ferrovias) (TEIXEIRA, 2014). 3 CONCEITO Vamos analisar o conceito de sociedade? Podemos afirmar que sociedade nada mais é que uma união entre pessoas através de uma relação contratual, formando assim, um ente que possui personalidade jurídica, que é capaz de contratar com terceiros, sendo que traz uma demanda de responsabilidades e direitos. “Sociedade é um ente que tem natureza contratual, ou seja, é um contrato” (TEIXEIRA, 2014, p. 224). Vamos distinguir pessoa física e jurídica, inicialmente: 38 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL Pessoa física ou natural: sinteticamente, é o ser humano, detentor de direitos e deveres (personalidade jurídica). “Art. 2o Código Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Pessoa jurídica: denominada de pessoa moral ou coletiva (MONTEIRO apud GARCIA, 2015, p. 82). Esta pessoa também possui direitos e deveres, por ser imbuído de personalidade jurídica. As pessoas jurídicas surgem com esse desiderato, de conjugação de esforços para realizar objetivos inatingíveis individualmente, decorrendo, ainda, da tendência natural do ser humano para o convívio em sociedade. Podem ser entendidas como entes formados para a realização de certos fins, sendo reconhecidas pelo ordenamento jurídico como sujeitos de direito (GARCIA, 2015, p. 82). IMPORTANT E “[...] as pessoas jurídicas podem ser de direito pulico (interno e externo, por ex., União, Estados, Municípios, Autarquias, ONU etc.) e de direito privado (associações, fundações, partidos políticos entidades religiosas, empresas individuais de responsabilidade limitada, sociedades) (TEIXEIRA, 2014, p. 224). E, pertinente ao contrato, este é um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas), com o objetivo de constituir uma relação jurídica. “Contrato significa o acordo (ato) de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica de direito patrimonial” (TEIXEIRA, 2014, p. 225). E, ainda, de acordo com o art. 981 do Código Civil: “Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. “[...] quando trata da partilha dos resultados, está se referindo aos resultados decorrentes da exploração da atividade econômica. Esses resultadospodem ser lucros ou prejuízos” (TEIXEIRA, 2014, p. 225). ATENCAO TÓPICO 3 | SOCIEDADE 39 Dessa forma, podemos sintetizar que o contrato possui por finalidade auferir lucros entre os sócios que se obrigam perante o mesmo, para isso, as partes desenvolvem atividades específicas, devendo sempre ter um condão licito, para que possa ser um objeto aceito juridicamente. 4 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES Neste tópico iremos analisar os tipos societários, como são formados, seus atos constitutivos, o comportamento dos sócios dessas sociedades, a divisão de suas cotas, nas sociedades: • sociedades em comum; • sociedades em conta de participação; • sociedades simples empresárias; • sociedade em nome coletivo; • sociedade em comandita simples; • sociedades Limitadas; • sociedades por ações. Vamos aprimorar nossos conhecimentos obtidos até aqui? TABELA 1 - ESQUEMA DE DIVISÃO DE SOCIEDADES Sociedade Sem personalidade jurídica Sociedade Simples Personificada Sociedade Empresária Contrato de Sociedade (em sentido estrito) Sociedade em Comum Sociedade em Conta de Participação Sociedade Simples (em sentido estrito) Sociedade em Nome Coletivo Sociedade em Comandita Simples Sociedade Limitada Sociedade Cooperativa Sociedade em Nome Coletivo Sociedade em Comandita Simples Sociedade Limitada Sociedade Anônima Sociedade em Comandita por Ações FONTE: Mamede (2013, p. 40) 40 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS As sociedades não personificadas são as sociedades que não possuem personalidade jurídica, tendo em vista que não foram registradas nos órgãos competentes. São elas: Sociedades em Comum e Sociedades em Conta de Participação. 5.1 SOCIEDADE EM COMUM A Sociedade em comum refere-se ao início dos trâmites para que uma sociedade possa ser constituída, ou seja, é o período em que oficialmente, ainda não há sociedade (não possui registro, portanto, sem personalidade jurídica), mas que já há intenção das partes em formar uma sociedade. A sociedade em comum foi pensada pelo legislador como um momento anterior à personificação da sociedade, pois, logo no início da norma, usa uma oração subordinada: enquanto não inscritos os atos constitutivos (artigo 986 do Código Civil). Portanto a aplicação dos artigos 986 e 990 aos contratos de sociedade que foram ajustados para existirem sem personificação, isto é, quando os contratantes não têm intenção imediata ou remota de constituírem pessoa jurídica, exige alguma cautela, evitando enganos: trata-se da interpretação analógica e extensiva, fora da situação especifica que foi visada pelo legislador (MAMEDE, 2013, p. 32). IMPORTANT E “A contratação da sociedade antecede o registro. Desde quando as partes ajustaram entre si que irão constituir uma pessoa jurídica para explorar uma atividade negocial, já há um contrato de sociedade: a sociedade em comum” (MAMEDE, 2013, p. 32). Dessa forma, temos que a sociedade em comum é a fase inicial do acordo de vontades entre as partes em querer efetivamente constituir uma sociedade, devidamente registrada nos órgãos competentes. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 41 NOTA ESQUEMA DE ESTUDO: SOCIEDADE EM COMUM: enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto nestas regras, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. PROVA: Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. PATRIMÔNIO: Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum. BENS SOCIAIS: Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS: Na sociedade em comum, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no Art. 1.024 do Código Civil, aquele que contratou pela sociedade. Base: artigos 986 a 990 do Código Civil. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/ guia/sociedade-em-comum.htm>. Acesso em: 25 fev. 2019. 5.2 SOCIEDADE EM COMUM (IRREGULAR OU DE FATO) A partir do Art. 986 o Código Civil de 2002 passa a tratar, com outra denominação, da sociedade de fato ou sociedade irregular. A questão terminológica não é totalmente tranquila, e talvez daí tenha vindo à preferência do legislador pelo termo sociedade em comum. Primeiro, poderíamos indagar o porquê de se falar em sociedades de fato e não em associações de fato. Será que também essas figuras sem personalidade, por falta de registro, não seriam irregulares ou de fato? Claro que sim. Vale dizer: a rigor, o termo sociedade aqui não é usado de forma técnica, e sim em seu sentido mais amplo ou genérico. Ainda na mesma seara, há quem diferencie as sociedades de fato, nas quais não há contrato social, dos irregulares, onde existem os contratos, mas não o registro. A distinção, porém, é despicienda. Mesmo sem contrato social pode haver uma reunião de pessoas trabalhando para a consecução de objetivos lícitos. Logo, o fator realmente importante para separar os dois momentos cruciais na existência desses entes é o registro. Sem ele, não há personalidade jurídica. 42 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL Embora a existência jurídica não esteja plenamente reconhecida, a existência fática pode ser facilmente demonstrada pelos terceiros que se relacionarem com esses entes. Através de qualquer meio de prova – qualquer documento, ou mesmo por intermédio de testemunhas – o interessado poderá demonstrar a existência da sociedade em comum. Já para os sócios, nas relações internas e externas, a única prova admitida para o mesmo fim é a escrita (de acordo com o Art. 987). A partir daqui, começamos a perceber que a lei não só reconhece a existência fática das sociedades em comum como pressupõe que elas irão se relacionar com terceiros, ou mesmo que haverá relações humanas – entre os sócios – em seu seio. Interessante, pois, avaliar qual o significado da já proclamada ausência de personalidade jurídica. Com a revitalização do termo personalidade pelo NCC, inclusive com o destaque dos direitos da personalidade no Capítulo II do Código Civil, referente às pessoas naturais, a palavra precisa ser corretamente dimensionada em cada um de seus sentidos. Tradicionalmente, personalidade jurídica vem sendo entendida como a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Para guardar similitude com o novo texto do art. 1º, melhor seria falar de uma possibilidade genérica de adquirir direitos e contrair deveres. Afinal, o termo obrigação tecnicamente é mais bem empregado com o significado de relação, nexo ou liame. Enfim, ter personalidade significa, resumidamente, poder ser sujeito de direitos; figurar no polo ativo ou passivo de uma relação obrigacional.. Noutro aspecto, entretanto, a personalidade está intimamente relacionada ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, da CF), é que irão surgir os direitos da personalidade, ligados diretamente às pessoas naturais. Dentro desse segundo contexto é que o NCC inseriu o art. 52, mandando aplicar às pessoas jurídicas, no que couber, as normas protetivas do direito da personalidade. Traçadas as duas vertentes principais atinentes ao sentido de personalidade jurídica, é de se perguntar se em algum dos dois aspectos as sociedades de fato são efetivamente atingidas por não terem registro. Ou, para esmiuçar o questionamento: as sociedades de fato são sujeitas de direitos e deveres? Podem gozar da proteção dada às pessoas jurídicas no tocante aos direitos de personalidade? Para procurarmos responder a essas perguntas é necessária uma incursão no terreno da responsabilidade civil e mesmo no direitoprocessual. Vejamos. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 43 6 LEGITIMIDADE PASSIVA E RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS Indubitavelmente, as sociedades comuns não personificadas possuem responsabilidade perante terceiros. Isso quer se trate de responsabilidade contratual ou de culpa aquiliana. Tal assertiva, até certo ponto óbvia, serve para destacar que o fato de não ter personalidade jurídica não afeta a possibilidade de as sociedades irregulares serem sujeitos de direito, ao menos no polo passivo. Em outras letras, ninguém questiona que elas são capazes de deveres, na ordem civil. Para afastar qualquer dúvida quanto à responsabilidade desses entes nas relações consumeristas, a Lei nº 8.078/90, ao conceituar a figura do fornecedor, também os incluiu na norma do “caput”, do art. 3º. Responderá pelos ilícitos civis, e de forma objetiva nas relações de consumo, o chamado patrimônio especial, a que faz menção o art. 988, do NCC. A correta exegese do artigo é aquela que entende como patrimônio especial o formado por uma “comunhão de interesses dos sócios, ou uma forma de propriedade condominial no que se refere a este patrimônio, de tal forma que os sócios se tornem proprietários condominiais de coisa comum”. Claro está, portanto, que o termo especial não significa autônomo em relação aos bens dos sócios. Ainda assim, temos a formação de uma universitas iuris, já que os bens em comum estão agregados por força de lei e são compostos da parte ativa e também do passivo. Cabe, a esta altura, indagar se a responsabilidade dos sócios seria, além de ilimitada, subsidiária ou não. Invocava-se, como apoio legal a esta tese, o art. 350 do Código Comercial, que trazia norma semelhante à do art. 1.024 do NCC. O art. 990, também do Código de 2002, faz referência à norma do 1.024, não com a clareza que seria de se esperar. Pela atual redação, pode se dar a impressão de que apenas o sócio que contratou com a sociedade está impedido de invocar o benefício de ordem. Contudo, a parte inicial do art. 990 não deixa dúvida do contrário, “na medida em que sendo solidária e ilimitada a responsabilidade de todos os sócios, a todos os sócios deveria ser negado o benefício de ordem, e, não somente o que tenha representado a sociedade na transação com terceiros”. Desta feita, nada obstante a existência de um acervo de bens pertencente à sociedade de fato, claro está que os sócios não podem exigir que sejam eles excutidos antes de seus bens particulares. Afinal, não vigora aqui a distinção patrimonial típica das pessoas jurídicas. E pela falta de diferenciação entre o patrimônio particular dos sócios e o patrimônio especial, o fato é que todos os sócios devem responder de forma solidária, inclusive com bens particulares. Isso inclusive em nome dos princípios da socialidade e da boa-fé objetiva, que nortearam toda a codificação. A crítica – de lege ferenda – aqui consignada é no sentido de se excluir a parte final da norma, a fim de eliminar qualquer confusão na sua exegese. 44 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 7 A CAPACIDADE DE SER TITULAR DE DIREITOS E DEVERES DAS SOCIEDADES DE FATO E A QUESTÃO DA LEGITIMIDADE PROCESSUAL ATIVA Já deixamos firmada a possibilidade de as sociedades irregulares contraírem deveres, uma das facetas da personalidade enquanto aptidão para ser sujeito de relação jurídica. Indaga-se, agora, se essas sociedades também podem figurar no polo ativo de uma relação jurídica obrigacional, ou seja, como titulares de direitos subjetivos, por exemplo, de um direito de crédito. O questionamento aparece em função do § 2º, do art. 20, do Código de 1916, não repetido no Código de 2002. A norma da legislação antiga trazia uma limitação ao exercício do direito de ação por parte das sociedades em comum e era assim comentada: “não estando registrada, a sociedade não tem personalidade jurídica, nem personalidade própria. E se não tem personalidade, como poderá figurar em juízo para acionar seus membros ou terceiros? Não é possível”. Ao aplicar o citado § 2º, estaríamos impedindo, por exemplo, que uma sociedade irregular pudesse acionar um fornecedor que descumprisse a entrega de determinado produto, ou um consumidor seu que não lhe pagasse. A limitação não implicaria, de qualquer modo, a inexistência do direito subjetivo material. Por uma questão lógica, se as sociedades de fato podem ser sujeitos de relação jurídica, podem ocupar, em termos de relação obrigacional – decorrente da lei ou do contrato – qualquer um dos dois polos. Não é aqui, na definição de personalidade como aptidão de ser capaz de direitos e deveres, que a ausência de personalidade repercute. Tanto assim que nunca se cogitou na possibilidade de alguém retomar o que voluntariamente tivesse pago a uma sociedade irregular. O ponto em que a norma revogada verdadeiramente atingia as sociedades em comum era naquele outrora previsto no art. 75 do Código de 1916, também não repetido no Código atual. Portanto, partindo da premissa de que as sociedades de fato podiam ser titulares de direitos subjetivos, no caso de violação destes seus direitos surgiria, logicamente, a pretensão. Entretanto, por expressa vedação legal, elas estariam proibidas de obter a atuação do poder jurisdicional para deduzir sua pretensão em juízo. Em resumo: a falta de personalidade jurídica trazia uma limitação ao exercício do direito de ação, por expressa determinação legal. Com o Código de Processo Civil de 1973, a questão ganhou outro contorno. Isso porque o seu art. 12, VII, fez referência à representação em juízo das sociedades sem personalidade jurídica, tanto na forma passiva como na forma ativa. Ora, tal dispositivo passou a contemplar de forma explícita a legitimidade ativa daquela espécie de sociedade para atuar em juízo. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 45 O aparente conflito de normas já era, outrora, solucionado em favor da legitimidade ativa: O aludido art. 20 do Código Civil de 1916, hoje revogado, já não podia prevalecer diante do disposto no supracitado art. 12, inciso VII, do Código de Processo Civil, uma vez que ambos emanam de legislação ordinária e a lei posterior revoga a anterior quando seja com ela incompatível, conforme preceitua o art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução ao Código Civil (BRASIL, 2016). Pois bem, com a revogação do § 2º, do art. 20 do Código de 1916, não pode haver mais dúvida acerca da legitimidade ativa. Somente a lei pode limitar algum direito. Mesmo para aqueles que entediam que a norma limitativa de direito material havia subsistido em face da regra processual, hoje não existe mais motivo para se sustentar a impossibilidade de as sociedades de fato acionarem seus membros ou terceiros. Afinal, como sujeitos de relação jurídica, embora não possuam personalidade, são titulares de direitos e deveres e, até mesmo por deferência constitucional (art. 5º, XXXV), têm o direito de invocar a proteção estatal quando do surgimento de uma pretensão. Consequentemente, se a pretensão surgir pela violação de um direito de personalidade extensível às pessoas jurídicas – ofensa ao nome, v.g. – não haverá óbice ao ajuizamento de ação embasada no art. 52, do NCC. Vale dizer: as sociedades de fato também gozam, como as suas congêneres registradas, no que couber de proteção aos direitos da personalidade. 8 SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO A Sociedade em Conta de Participação, assim como a sociedade em comum, também é um tipo societário que não possui personalidade jurídica, exonerando-se de responsabilidade, perante terceiros, em seu próprio nome. São pessoas que se unem para realizar um empreendimento comum. Mas como é formada a Sociedade em Conta de Participação? Na Sociedade em Conta de Participação existem dois tipos de sócios: ostensivo e oculto (participante). O sócio ostensivo é quem efetivamente atua na sociedade, respondendo ilimitadamente perante as obrigações contraídas com terceiros, isso quer dizer, que seus bens respondem por quaisquer “danos” que esse tipo de atividadeprodutiva vier a causar. Pertinente aos sócios participantes, estes somente respondem de forma limitada o ilimitadamente perante os sócios ostensivos, caso haja um acordo por escrito entre eles, e não em relação aos terceiros. A responsabilidade do sócio oculto ou participante é em relação ao sócio ostensivo. 46 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL Outro ponto importante é que o contrato realizado entre sócio ostensivo e oculto não será registrado na Junta Comercial, eis que para esse tipo societário não há a caracterização de personalidade jurídica, contudo, as partes poderão registrá-lo no Registro de Títulos e Documentos, será uma garantia para os envolvidos. IMPORTANT E “[...] a sociedade em conta de participação, disciplinada pelos arts.991 a 996 do CC/2002, destaca-se por não apresentar personalidade jurídica, traduzindo-se em uma típica “conta de participação”, destinada à realização de determinada atividade especifica a partir de recursos financeiros disponibilizados por um ou mais sócios capitalistas” (GOMES, 2013, p. 99). 9 SOCIEDADES PERSONIFICADAS As sociedades personificadas são as sociedades que possuem personalidade jurídica, que advém do registro da sociedade nos órgãos responsáveis. As sociedades personificadas dividem-se em sociedades simples e empresarias. Vamos analisar cada uma? DICAS Assista ao vídeo: Sociedades personificadas. Disponível em: <https://www. youtube.com/watch?v=mwl4_9GLDok>. 9.1 SOCIEDADES SIMPLES A Sociedade Simples é o tipo societário que possui personalidade jurídica, entretanto não exerce atividade empresarial. “A sociedade simples é a espécie de sociedade personificada que explora sua atividade de modo não empresarial, não se submetendo ao regime jurídico do direito empresarial” (COMETTI, 2013, p. 76). TÓPICO 3 | SOCIEDADE 47 9.1.1 Sociedades simples (em sentido estrito) As sociedades simples em sentido estrito referem-se a um tipo societário onde profissionais se “associam” para desenvolverem atividades intelectuais de natureza cientifica, literária ou artística. Nesse sentido conceitua o art. 966, § único do Código Civil (2002, s.p.): “Art. 966 [...] Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Assim, por não ter essa personalidade jurídica, também não possui o direito de requerer a recuperação de empresas, prevista na legislação empresarial. IMPORTANT E “O vocábulo “simples” tem o sentido de ser uma sociedade menos complexa, haja vista seu objeto social estar relacionado à atividade intelectual (artística literária ou cientifica), portanto, negócios que envolveriam cifras menores. Isto é, seria um tipo societário simplificado, o que não é uma verdade absoluta tendo em vista que certas atividades intelectuais muitas vezes gozam de ampla estrutura organizacional e/ou com inúmeros sócios, como, por exemplo as sociedades de auditorias” (TEIXEIRA, 2014, p. 244). 9.1.2 Cooperativas Outro tipo de sociedade simples são as cooperativas. As cooperativas visam satisfazer os interesses dos cooperados, os lucros são divididos entre os cooperados, buscando sempre proporcionar vantagens econômicas aos mesmos. Uma associação de pessoas que se organizam com o propósito de se ajudarem mutuamente e que tem por finalidade a prestação de serviços a seus associados, de tal modo que possibilite o exercício de atividade econômica comum, que, na oferta de bens e serviços, minimize custos, elimine o intermediário etc. (VERÇOSA apud FRANCO, 2012, p. 238). E, ainda, o mesmo autor afirma: “As cooperativas não têm objeto econômico próprio, pois são destinadas à viabilização das atividades de seus associados”, podendo “prestar-se tanto ao interesse dos produtores como dos consumidores (cooperativas de compra)” (VERÇOSA apud FRANCO, 2012, p. 238). 48 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL NOTA ESQUEMA DE ESTUDO: COMO FUNCIONAM AS COOPERATIVAS? Júlio César Zanluca As Sociedades Cooperativas estão reguladas pela Lei Nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que definiu a Política Nacional de Cooperativismo e instituiu o regi me jurídico das Cooperativas. Cooperativa é uma associação de pessoas com interesses comuns, economicamente organizada de forma democrática, isto é, contan do com a participação livre de todos e respeitando direitos e deveres de cada um de seus cooperados, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA SOCIEDADE COOPERATIVA A Sociedade Cooperativa apresenta os seguintes traços característicos: 1) É uma sociedade de pessoas. 2) O objetivo principal é a prestação de serviços. 3) Pode ter um número ilimitado de cooperados. 4) O controle é democrático: uma pessoa = um voto. 5) Nas assembleias, o “quórum” é baseado no número de cooperados. 6) Não é permitida a transferência das quotas-par te a terceiros, estranhos à sociedade, ainda que por herança. 7) Retorno proporcional ao valor das operações. 8) Não está sujeita à falência. 9) Constitui-se por intermédio da assembleia dos fundadores ou por instrumento público, e seu atos constitutivos devem ser arquivados na Jun ta Comercial e publicados. 10) Deve ostentar a expressão “cooperativa” em sua denominação, sendo vedado o uso da expres são “banco”. 11) Neutralidade política e não discriminação religiosa, social e racial. 12) Indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade. Saliente-se que a cooperativa existe com o intuito de prestar serviços a seus associados, de tal forma que possibilite o exercício de uma atividade comum econômica, sem que tenha ela fito de lucro. FORMAÇÃO DO QUADRO SOCIAL E ASSOCIADOS O ingresso nas Cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços prestados pela mesma, desde que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas no estatuto (art. 29 da Lei nº 5.764/71). CAPITAL SOCIAL O capital social será fixado em estatuto e dividido em quotas-parte que serão integralizadas pelos associados, observado o seguinte: a) o valor das quotas-parte não poderá ser superior ao salário mínimo; b) o valor do capital é variável e pode ser consti tuído com bens e serviços; c) nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço) do total das quotas-parte, salvo nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento finan ceiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a serem comercializados, beneficiados ou transformados ou ainda, no caso de pessoas jurídicas de direito público nas Cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicação; d) as quotas-parte não podem ser transferidas a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 49 DENOMINAÇÃO SOCIAL Neste tipo societário será sempre obrigatória a ado ção da expressão “Cooperativa” na denominação, sen do vedada a utilização da expressão “Banco”. ADMINISTRAÇÃO A Sociedade Cooperativa será administrada por uma diretoria ou conselho de administração ou ainda outros órgãos necessários à administração previstos no esta tuto, composto exclusivamente de associados eleitos pela assembleia geral, com mandato nunca superior a quatro anos sendo obrigatória a renovação de, no míni mo, 1/3 do conselho de administração. FORMA CONSTITUTIVA A Sociedade Cooperativa constitui-se por deliberação da assembleia geral dos fundadores, constantes da respectiva ata ou por instrumento público. OBRIGATORIEDADE DE ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL As Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação determinam que a escrituração contábil é obrigatória, para qualquer tipo de cooperativa. Portanto, mesmo uma pequena cooperativa (por exemplo, uma cooperativa de pescadores), deve escriturar seu movimento econômico e financeiro. COOPERATIVA DE TRABALHO Considera-se Cooperativa de Trabalhoa sociedade constituída por trabalhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia e autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho. A regulamentação das Cooperativas de Trabalhos é determinada pela Lei 12.690/2012. COOPERATIVAS SOCIAIS A Lei nº 9.867/1999 dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais, constituídas com a finalidade de inserir as pessoas em desvantagem no mercado econômico, por meio do trabalho, fundamentadas no interesse geral da comunidade em promover a pessoa humana e a integração social dos cidadãos. COOPERATIVAS DE CRÉDITO As Cooperativas de Crédito têm por objetivo fomentar as atividades do cooperado via assistência creditícia. É ato próprio de uma cooperativa de crédito a captação de recursos, a realização de empréstimos aos cooperados bem como a efetivação de aplicações financeiras no mercado, o que propicia melhores condições de financiamento aos associados. TRIBUTAÇÃO IRPJ Os resultados (sobras) decorrentes dos atos cooperativos não são tributáveis pelo IRPJ, conforme Lei 5.764/71, art. 3. SOCIEDADES COOPERATIVAS DE CONSUMO – TRIBUTAÇÃO INTEGRAL DOS RESULTADOS As Sociedades Cooperativas de consumo, que tenham por objeto a compra e fornecimento de bens aos consumidores, sujeitam-se, a partir de 1998, às mesmas normas de incidência dos impostos e contribuições de competência da União, aplicáveis às demais pessoas jurídicas, mesmo que suas vendas sejam efetuadas integralmente a associados (art. 69 da Lei 9.532/97). COOPERATIVAS DE CRÉDITO – OPÇÃO OBRIGATÓRIA PELO LUCRO REAL As Cooperativas de Crédito, cuja atividade está sob controle do Banco Central do Brasil, são obrigatoriamente tributadas pelo Lucro Real, conforme Lei 9.718/98, art. 14. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/cooperativas.htm. Acesso em: 25 fev. 2019. 50 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 10 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS As sociedades empresárias são as que exercem atividade empresarial, de forma organizada, com fins lucrativos e profissionalismo. A sociedade empresária, como espécie de sociedade personificada, adquirirá personalidade jurídica com a inscrição de seus atos constitutivos no Registro Público de Empresas Mercantis, isto é, na Junta Comercial de sua respectiva sede. Para ser constituída, a sociedade empresária deverá obrigatoriamente adotar um dos tipos societários regulados pelo Código Civil, nos arts. 1039 a 1092, com exceção da cooperativa (CC, art. 982, parágrafo único, apud COMETTI, 2013, p. 77). “[...] a sociedade será da espécie empresária sempre que explorar atividade com profissionalismo, fins lucrativos e de modo organizado” (COMETTI, 2013, p. 77). ATENCAO 11 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO A Sociedade em Nome Coletivo está regulamentada no Código Civil, nos artigos 1039 a 1044, entretanto, poderão ser regulamentadas também pelas determinações legais das sociedades simples, na omissão dos artigos citados acima. Importante mencionar que esse tipo societário é um tanto quanto raro em nossa vida cotidiana. Os sócios respondem de forma solidaria e ilimitada perante terceiros com quem contratam, tangente às obrigações desse tipo societário. Outro ponto importante é que a administração somente poderá ser exercida por sócios. Pertinente ao nome empresarial, este será sempre vir acompanhado da expressão “e companhia”, conforme artigo 1157, do Código Civil (2002, s.p.) Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua abreviatura. Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes, figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo. TÓPICO 3 | SOCIEDADE 51 IMPORTANT E Definição de Sociedade em Nome Coletivo Sociedade em nome coletivo é aquela em que todos os sócios devem ser, necessariamente, pessoas físicas e respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, entretanto, poderão estipular limites de responsabilidade pelas obrigações sociais entre si, mas que não terão qualquer eficácia perante credores. A administração da sociedade cabe exclusivamente aos sócios, sendo vedada a nomeação de terceiros para tal função. A sociedade em nome coletivo deve adotar firma social, não sendo permitido o uso de denominação social. 12 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES As sociedades em Comandita Simples estão regulamentadas nos artigos 1045 a 1051 do Código Civil, entretanto, em caso de lacuna nestes artigos, as determinações a serem utilizadas deverão ser as mesmas da sociedade em nome coletivo. Neste tipo societário, os sócios ao divididos em duas categorias: sócio comanditado e sócio comanditário. Mas qual a diferença entre eles? Ao sócio comanditado caberá a responsabilidade subsidiaria, solidaria e ilimitada. Já ao sócio comanditário, a sua responsabilidade será subsidiária, limitada ao valor de suas quotas e solidaria. Podendo este ser pessoa física ou jurídica, ao contrário do sócio comanditado que poderá ser somente pessoa física (COMETTI, 2013). De suma importância ressaltarmos que, quanto ao nome empresarial, este deverá ser firma ou razão social, composto apenas pelo nome civil dos sócios comanditários. “Artigo 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado” (BRASIL, 2002, s.p.). 52 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL Definição de Sociedade em Comandita Simples Sociedade em comandita simples é aquela constituída por sócios que possuem responsabilidade ilimitada e solidária pelas obrigações sociais e sócios que respondem apenas pela integralização de suas respectivas cotas, sendo estes denominados de comanditários e aqueles de comanditados. A sociedade deve ser administrada por sócio comanditado. Na ausência de sócio que detenha a qualidade de comanditado, os sócios comanditários deverão nomear um administrador provisório, que não assumirá a condição de sócio, para realizar os atos de administração, durante o prazo de cento e oitenta dias. O sócio comanditário que praticar atos de gestão e fizer uso da firma social estará sujeito às responsabilidades de sócio comanditário, ou seja, solidária e ilimitadamente. ATENCAO 13 SOCIEDADES LIMITADAS A Sociedade Limitada é a mais comum em nosso cotidiano. Anterior a alteração do Código \civil pela Lei nº 10.406, em 2002, esse tipo societário era conhecido como: “Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada”, conforme assim determinava o Decreto nº 3.708/19. A expressão limitada nesse tipo societário refere-se ao fato de que os sócios possuem responsabilidade perante terceiros, de forma limitada ao valor de suas cotas, contudo, respondem de forma solidaria pela integralização do capital social. Art. 1.052, do Código Civil: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. IMPORTANT E “Alguns situam a origem mais remota das sociedades limitadas nas private companies do direito inglês, cuja origem data de meados dos 1800 (a partir de 1844). A característica básica destas companhias, reconhecidas como legais pelo Comapnies Act de 1.900 e regulamentada em seguida pelo Companies Act de 1.907 (em vigor a partir de 1908), a par de não terem aceso ao mercado de capitais era a de não poderem ultrapassar o número máximo de 50 (cinquenta) sócios. Porém, a modalidade nada mais era que uma sociedade anônima fechada, faltando-lhe a maleabilidade e a presença do affectio societatis,própria das sociedades limitadas” (FRANCO, 2012, p. 245). TÓPICO 3 | SOCIEDADE 53 14 SOCIEDADES POR AÇÕES As sociedades por ações são classificadas em: Sociedade em Comandita por Ações e Sociedades Anônimas. Independentemente de seu objeto, as sociedades por ações são sempre sociedades empresarias (art. 2º, § 1º, Lei 6.404/1976), sendo que tal classificação decorre da força de lei, não havendo nenhum respaldo quanto ao objeto social que possa ser invocado para amparar tal sistemática. Assim, uma sociedade que tenha por objeto a prestação de serviços (exceto as sociedades uni profissionais), desde que constituída sob a forma de sociedade anônima, terá a natureza de sociedade empresária, devendo, por conseguinte, seus atos constitutivos serem arquivados na Junta Comercial (GOMES, 2013, p. 140). SOCIEDADE POR AÇÕES Trata-se de sociedade empresária que existe nas espécies anônimas e comandita por ações. Possui capital social dividido em ações, estando a responsabilidade de cada acionista (sócio) limitada ao preço de emissão da ação. Possui legislação especial (Lei nº 6.404/76) que trata de suas particularidades, como a constituição, requisitos, funcionamento etc. Fundamentação: • Artigo 982, parágrafo único, do Código Civil • Lei nº 6.404/76 REFERÊNCIA: SANCHES, Alessandro. Prática jurídica empresarial. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ATENCAO 15 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES A Sociedade em Comandita por Ações está prevista nos artigos 1090 à 1092 do Código Civil e na Lei nº 6.404/76, nos artigos 280 a 284. Nesse tipo societário a responsabilidade do gerente (acionista diretor) é ilimitada perante terceiros, tangente às obrigações assumidas pela sociedade. Pertinente ao nome empresarial, o artigo 1.161 do Código Civil (BRASIL, 2002, s.p.) determina que esta sociedade poderá adotar firma ou denominação. Sendo que em caso de firma, o nome civil será do diretor acionista: “Art. 1.161. A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da expressão ‘comandita por ações". E, ainda: 54 UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL Art. 1.091, Código Civil: Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. § 1º Se houver mais de um diretor, serão solidariamente responsáveis, depois de esgotados os bens sociais. § 2º Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por deliberação de acionistas que representem no mínimo dois terços do capital social. § 3o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos, responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração”. Art. 1.092, Código Civil: Nos contratos bilaterais, nenhum dos contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Se, depois de concluído o contrato sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio, capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a parte, a quem incumbe fazer prestação em primeiro lugar, recusar-se a esta, até que a outra satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. Parágrafo único. A parte lesada pelo inadimplemento pode requerer a rescisão do contrato com perdas e danos (BRASIL, 2002, s.p.). 16 SOCIEDADES ANÔNIMAS As sociedades anônimas são regulamentadas por lei própria, Lei nº 6.404/76, conhecida por Lei das S.A. Este tipo societário sempre será sociedade empresária. A sociedade anônima é sempre empresária, mesmo que seu objeto seja atividade econômica civil (CC, art. 982, parágrafo único; LSA, art. 2º, § 1º). Uma companhia constituída só por dentistas para a prestação de serviços de odontologia pelos próprios acionistas, embora tenha por objeto uma atividade não empresarial (CC, art. 966, parágrafo único), será empresária e estará sujeita ao regime jurídico-comercial, pela só adoção do tipo societário, o que, salvo no caso das cooperativas, não ocorre com as demais sociedades tipificadas em lei que podem, em função da natureza de sua atividade, ser simples ou empresárias (COELHO, 2013, p. 221). IMPORTANT E “Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa” (BRASIL, 2002, s.p.). TÓPICO 3 | SOCIEDADE 55 LEITURA COMPLEMENTAR SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Angelo Mestriner A Sociedade Empresária se caracteriza pela reunião de duas ou mais pessoas para exercer uma atividade econômica. Estas pessoas podem ser tanto físicas quanto jurídicas. Fábio Ulhoa nos alerta quanto à utilização da palavra “empresária”: Sociedade empresária é a pessoa jurídica que explora uma empresa. Atente-se que o adjetivo “empresária” conota ser a própria sociedade (e não os seus sócios) a titular da atividade econômica. Não se trata, com efeito, de sociedade empresarial, correspondente à sociedade de empresários, mas da identificação da pessoa jurídica como o agente econômico organizador da empresa. Essa sutiliza terminológica, na verdade, justifica-se para o direito societário, em razão do princípio da autonomia da pessoa jurídica, o seu mais importante fundamento. Empresário, para todos os efeitos de direito, é a sociedade, e não os seus sócios. É incorreto considerar os integrantes da sociedade empresária como os titulares da empresa, porque essa qualidade é a da pessoa jurídica, e não dos seus membros (CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL Vol. 2, 2010, p. 23). No Direito Empresarial, é importante observar que o termo empresa refere- se à atividade e o termo empresário refere-se a própria sociedade. Nas palavras de Fábio Ulhoa: A pessoa jurídica empresária é cotidianamente denominada "empresa", e os seus sócios são chamados "empresários". Em termos técnicos, contudo, empresa é a atividade, e não a pessoa que a explora; e empresário não é o sócio da sociedade empresarial, mas a própria sociedade. É necessário, assim, acentuar, de modo enfático, que o integrante de uma sociedade empresária (o sócio) não é empresário; não está, por conseguinte, sujeito às normas que definem os direitos e deveres do empresário Curso de Direito Comercial Vol. 1, 2006 (p. 62-63). A caracterização da pessoa do Empresário está prevista no art. 966 do Código Civil, que diz: Art. 966 - Considera-se empresário quem exerce profissionalmen te atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. A palavra PROFISSIONALISMO e ORGANIZADO do art. 966 merece nossa atenção, pois, para ser considerado empresário é obrigatório UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL 56 haver profissionalismo, ou seja, deve haver a perda da pessoalidade e a inclusão da habitualidade, pois, através dela, a atividade econômica é exercida de forma reiterada, constante. Por exemplo, o fato de eu ter um carro e querer vendê- lo, não faz de mim a pessoa do Empresário, pois, não há habitualidade, nem profissionalismo neste ato, diferentemente de uma loja especializada em vender veículos usados, cuja principal função é vender carros no seu dia a dia, de forma reiterada e profissional. Já a palavra organizada, refere-se à Atividade Organizada, que para o Direito Empresarial é aquela que conjuga quatro fatores de produção, a saber: capital, mão de obra, insumos e tecnologia. O capital refere-se ao patrimônio da empresa. Hoje uma sociedade sem a formação do capital é inadmissível. A mão de obra caracteriza-se pela contratação dos empregados, são estes profissionais que vão exercer a atividade diretamente. Os insumos são tudo aquilo que é necessário para um processo produtivo, ou seja, tudo aquilo que eu emprego no exercício da atividadeeconômica para produzir alguma coisa é insumo. A tecnologia refere-se ao empresário, pois ele quem detém o monopólio das informações, os meios necessários para a produção de um produto ou serviço. A sociedade empresária constitui seus próprios direitos e obrigações, e estes, diferem-se dos direitos e obrigações dos sócios. As sociedades empresárias são sempre personalizadas, no entanto, isso não significa que o sócio sempre responderá limitadamente, pois, em alguns casos, como por exemplo, a sociedade empresária em nome coletivo, os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais. Já na sociedade empresária Limitada ou de Sociedade Anônima (SA), os sócios ou acionistas têm suas responsabilidades limitadas, salvo em casos excepcionais (responsabilização tributária do administrador de uma sociedade limitada). Então, se a sociedade empresária não pagar seus credores, eles deverão entrar com uma ação judicial contra a Pessoa Jurídica, será o nome dela que estará na petição inicial e dependendo do tipo de sociedade, os sócios poderão responder de forma limitada ou ilimitada. [...] FONTE: <http://eueodireito.blogspot.com/2013/02/direito-empresarial-sociedade.html>. Acesso em: 20 mar. 2019. 57 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Sociedade é um ente que tem natureza contratual, ou seja, é um contrato. • A societas não possuíam personalidade jurídica, por esse motivo, os sócios contratavam com terceiros independentemente, sem que a responsabilidade por tais contratos fosse da sociedade. • A finalidade deixa de ser aquela de gerir bens em regime de copropriedade, sendo substituída por aquela de atingir um objetivo ou uma finalidade em comum. O vínculo natural familiar “fraterno” dá lugar à affectio societatis, resultante da vontade de colaboração na realização de um objetivo comum (FRANCO, 2012, p. 179). • “É um acordo de vontades entre duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas), com o objetivo de constituir uma relação jurídica. “Contrato significa o acordo (ato) de duas ou mais partes para constituir, regular ou extinguir entre elas uma relação jurídica de direito patrimonial” (TEIXEIRA, 2014, p. 225). 58 1 É correto afirmar que nas sociedades limitadas: a) ( ) A responsabilidade da sociedade é limitada ao valor total do capital social. b) ( ) Os sócios respondem solidariamente pelas dívidas da sociedade, ainda que o capital social esteja integralizado. c) ( ) A sociedade simples que adotar a forma de limitada será considerada sociedade empresária. d) ( ) A responsabilidade dos sócios é solidária e limitada ao valor das quotas não integralizadas. e) ( ) A responsabilidade dos sócios é solidaria e limitada ao valor que faltar a ser integralizado no capital social. 2 Como surgiu a affectio societatis. Explique. AUTOATIVIDADE 59 UNIDADE 2 LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a base constitucional, os conceitos e direitos básicos do consumidor; • analisar os princípios que norteiam a legislação consumerista, bem como sua aplicação perante o Código de Defesa do Consumidor; • adquirir uma visão geral a respeito dos temas: responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, responsabilidade por vício do produto e do serviço, desconsideração da personalidade jurídica, práticas comer- ciais e cláusulas abusivas, proteção comercial, contratos de adesão, oferta e publicidade. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA TÓPICO 3 – RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA TÓPICO 4 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 60 61 TÓPICO 1 CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Na presente Unidade 2 analisaremos os conceitos primordiais que perfazem a legislação consumerista, tais como: consumidor, fornecedor, produto e serviço. Serão apontadas a base constitucional que ensejou a promulgação do Código de Defesa do Consumidor. Salutar mencionar que o conceito de consumidor passou por inúmeras mudanças através dos entendimentos legais e jurisprudenciais até a consolidação no Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Assim, haverá relação jurídica de consumo sempre que se puder identificar num dos polos da relação ao consumidor, no outro, o fornecedor, ambos transacionado produtos e serviços (NUNES, 2015). No mesmo sentido, analisaremos os princípios que embasam a relação consumerista, sendo os principais: dignidade, proteção à vida, saúde e segurança, proteção e necessidade, transparência, harmonia, vulnerabilidade, liberdade de escolha, intervenção do estado, boa-fé, igualdade nas contratações, dever de informar, proteção contra publicidade enganosa ou abusiva, proibição de práticas abusivas e cláusulas abusivas, princípio da conservação, modificação de cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais, direito de revisão, prevenção e reparação dos danos materiais e morais e, acesso à justiça. Outro assunto importante a ser trabalhado nesta unidade é a respeito da responsabilidade na legislação consumerista que, difere do entabulado pelo Código Civil, eis que, em regra, a responsabilidade é objetiva, como será visto no decorrer desta Unidade 2. Outrossim, será abordada a desconsideração da personalidade jurídica, que sofreu inovações perante o Código de Processo Civil, alterado em 2015, mas que já vinha sendo este instituto aplicado pelo Código de Defesa do Consumidor, desde sua promulgação, em 1990. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 62 Por fim, serão analisadas as questões referentes às abusividades contratuais, bem como os conceitos de oferta e publicidade e suas implicações legais. Essas reflexões serão de suma importância para que possamos entender o que preconiza o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. 2 DIFERENÇAS ENTRE OS SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO As relações de consumo são baseadas primordialmente no Princípio da Boa Fé, principio que norteia todos os ramos do Direito. Analisa-se que as relações de consumo têm o cunho profícuo de “circulação”, não somente de mercadorias, mas também serviços disponibilizados neste grande mercado de consumo. Para tanto, é importante que saibamos as diferenças e as ligações existentes entre as pessoas que compõem as relações consumeristas, bem como, o que faz com que tais relações existam, quais sejam: consumidor, fornecedor, produto e serviço. Passamos a estudar cada uma delas! 2.1 RELAÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO JURÍDICA O consumo em si, surge com força maior a partir da Revolução Industrial do aço e do carvão, eis que, a população passa a migrar da zona rural para urbana. E, sendo assim, residindo em centros urbanos maiores, as pessoas passam a ter “mais necessidades materiais”, consequentemente, consumindo mais. Salienta-se que, anteriormente a grande preocupação era o aspecto quantitativo e, não qualitativo. “Ao vulnerável da relação apresentada cabe: • aderir ao contrato previamente elaborado pelo fornecedor – contrato de adesão, ou • adquirir produto confeccionado com material de origem e qualidade desconhecidas na maioria das vezes” (BOLZAN, 2015, p. 31). ATENCAO TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 63 Importante observar que o Direito Civil, anterior à edição do Código de Defesa do Consumidor não protegia o consumidor, eis que suas diretrizes eram: autonomia das vontades, pacta sunt servanda e responsabilidade subjetiva; entretanto, com o Código de Defesa do Consumidor, tem-se como base: normas de ordem pública e de interesse social, intervenção estatal e responsabilidade objetiva (BOLZAN, 2015, p. 31). 2.2 RELAÇÃOJURÍDICA DE CONSUMO Antes de iniciarmos nossos estudos pertinentes aos conceitos de consumidor, fornecedor, produtos e serviços é de suma importância que saibamos distinguir uma relação social e uma relação jurídica. Tem-se que as relações sociais são as relações que não possuem implicações jurídicas. Para sua conceituação, parte-se da atividade social do homem. Vivendo em sociedade, necessariamente nos relacionamentos com nossos semelhantes, ensejando relações sociais. Muitas dessas relações são de natureza afetiva, cultural, religiosa, recreativa, vale dizer, sem relevância jurídica; outras, entretanto, têm natureza econômica, familiar, funcional, pública, etc., exigindo, pela relevância social, disciplina jurídica. As relações sociais reguladas pelo Direito tornam- se relações jurídicas. [...] Podemos, então, conceituar relação jurídica como toda relação social disciplinada pelo Direito. Preferem outros defini-la como toda relação da vida social que produz consequências jurídicas (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 57). Portanto, uma relação social apenas se tornará jurídica quando efetivamente gerar consequências jurídicas. E, quanto às relações de consumo, como surgem? As relações de consumo surgem a partir do momento em que os elementos formadores de tal relação estiverem presentes, quais sejam: consumidor e fornecedor (elementos subjetivos) visando a um objeto – aquisição de um produto ou serviço (elementos objetivos). Assim, salutar mencionar que “consumidor e fornecedor, além de produto ou serviço, são conceitos relacionais e dependentes, ou seja, só existira um consumidor se também existir um fornecedor, bem como um produto ou serviço” (MIRAGEM, 2010, p. 84). Dessa forma, tem-se que os elementos da relação de consumo concentram- se nos sujeitos, ou seja, consumidor e fornecedor e; no objeto, quais sejam, produtos e serviços. Colaciona-se o entendimento de Denari (1996, p. 189-190) a respeito da elação jurídica de consumo UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 64 No polo ativo da relação jurídica de consumo figura o fornecedor, assim entendido o operador econômico, pessoa física ou jurídica, que participa do ciclo produtivo-distributivo, desenvolvendo atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (cf. art. 3º). No polo passivo da mesma relação se encontra o consumidor, pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário (cf. art. 2º). ESTUDOS FU TUROS Iremos estudar, no decorrer deste livro didático, a respeito da desconsideração da personalidade jurídica e suas implicações na legislação consumerista. 2.3 CONCEITO DE CONSUMIDOR Até aqui analisamos os pilares que embasam a relação social, quando ela passa a interessar o “mundo jurídico”, transformando-a em relação jurídica e, por fim, como ocorre a relação de consumo. Vejamos agora o que é consumidor para legislação. O Código de Defesa do Consumidor define consumidor, em seu art. 2º. Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Do conceito trazido pelo Código de Defesa do Consumidor temos que, incialmente, destacar alguns pontos, tais como: o que seria destinatário final e a diferença entre bens de consumo e bens de produção. E, por fim, quem são os consumidores equiparados. “Os bens de consumo são adquiridos para o consumo final e os bens de produção integram a cadeia produtiva” (BOLZAN, 2015, p. 88). Assim, a legislação consumerista protege somente os direitos dos consumidores os que adquirem produtos ou utilizam serviços como destinatários finais, desde que sejam bens de consumo. E, tratando-se de aquisições de bens de produção, a legislação aplicada será o Código Civil. TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 65 TEORIAS SOBRE O CONCEITO DE CONSUMIDOR a) Teoria Finalista Pela teoria Finalista, o destinatário final é todo aquele que utiliza o bem como consumidor final fático e econômico. Consumidor final fático é quem adquire bem ou serviço para o seu uso pessoal; o aspecto econômico indica que o bem ou serviço adquirido não será utilizado em qualquer finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na pessoa do adquirente. Claudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim explicam a teoria finalista definindo o conceito de “destinatário final” do art. 2º do CDC: “O destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como insumo da sua produção.” (em, “comentários ao código de Defesa do Consumidor”, 2º Ed., São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 83/84). Para os finalistas, consumidor seria apenas aquele que adquire o bem para utilizá- lo em proveito próprio, satisfazendo uma necessidade pessoal e não para revenda ou então para acrescentá-lo à cadeia de produção. De tal modo, aquele que poderia ser considerado “fornecedor/produtor” pelo art. 3º do CDC, também poderia ser considerado “consumidor”, quando da relação jurídica caracterizarem-se os elementos acima mencionados. Neste prisma, o conceito de “vulnerabilidade” cravado na lei consumerista não se aplica. A crítica a esta definição se dá em relação ao modo de aplicação ao Código quando o consumidor é pessoa jurídica. Embora este efetivamente seja destinatário final, acabaríamos desconsiderando o objetivo do lei consumerista, ou seja, a defesa da parte vulnerável, que se encontra em patamar de desvantagem diante das relações do mercado de consumo. A adoção da teoria finalista supõe entendimento que despreze o princípio de defesa à parte vulnerável (art. 4º, I, CDC). b) Teoria Maximalista Pela teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o produto para o seu uso, independente de destinação econômica conferida ao mesmo. Tal teoria confere uma interpretação abrangente ao artigo 2º do CDC, podendo o consumidor ser tanto uma pessoa física que adquire o bem para o uso pessoal, quanto uma grande indústria, que pretende conferir ao bem desdobramentos econômicos, ou seja, utilizá-lo nas suas atividades produtivas. Com efeito, Jorge Alberto Quadros de Carvalho Silva ao tratar da corrente maximalista, apresenta as seguintes considerações: “Consumidor é quem adquire no mercado de consumo o produto ou serviço; aquele em razão de quem é interrompida a cadeia de produção e circulação de certos bens e serviços, para usufruir ele mesmo, ou terceiro a quem os ceda, das respectivas funções – ainda que esses bens e serviços possam ser empregados, indiretamente, no exercício de sua empresa ou profissão, isto é, ainda que venham a ser interligados, acessoriamente, à sua atividade produtiva ou profissional, coletiva ou individual, voltada ou não para o lucro (destinatário final fático)”. Se comparada com a teoria anteriormente explicada, percebemos que a Maximalista considera consumidor aquele que adquire produto ou serviço, ainda que sejam integrados em sua cadeia produtiva. ATENCAO UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 66 Cláudia Lima Marques faz importantes exemplificações em sua obra sobre a amplitude da teoria maximalista: “A definição do art. 2º (CDC) deve ser interpretada o mais extensamente possível, segundo esta corrente, para que as normas do CDC possam ser aplicadas a um númerocada vez maior de relações no mercado. Consideram que a definição do art. 2º é puramente objetiva, não importando se a pessoa física ou jurídica tem ou não fim de lucro quando adquire um produto ou utiliza um serviço. Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele que retira do mercado e o utiliza, o consome, por exemplo, a fábrica de toalhas que compra algodão para transformar, a fábrica de celulose que compra carros para o transporte de visitantes, o advogado que compra uma máquina de escrever para seu escritório, ou mesmo o Estado quando adquire canetas para uso nas repartições e, é claro, a dona de casa que adquire produtos alimentícios para a família”. Neste trecho percebemos que para a autora, a interpretação do Artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor deve ser para entender consumidor final, entendido como quem utiliza o produto adquirido para articulação dos seus meios de produção, seja qual for a modalidade. Entende-se que de tal modo haveria fim à cadeia de consumo daquele (bem ou serviço adquirido), sendo que o surgimento de um novo não representa continuidade. Ao que parece, a aquisição de produto para revenda no mercado de consumo é única hipótese que desclassificaria o sujeito da relação jurídica como consumidor para fins de aplicação da Lei aqui abordada. Nesta interpretação desconsidera-se também o conceito de vulnerabilidade. Atualmente há entendimento do STJ sobre quem é “Destinatário final fático” – conhecido como Teoria Finalista Mitigada – e o acesso é possível pelo: (Resp. 476.428, 3ª Turma e Resp. 660.026, 4ª Turma). FONTE: GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor – comentado pelos autores do anteprojeto. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. FIGURA 1 - ESTRUTURA DO CONCEITO DE CONSUMIDOR Consumidor * CORRENTES: * Finalista * Maximalista Pessoa Produto/Serviço Física Jurídica Adquire Utiliza FONTE: <http://twixar.me/0My1>. Acesso em: 8 mar. 2019. TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 67 IMPORTANT E CONSUMIDOR Paulo Cesar Pinto O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º, define consumidor como toda pessoa física ou jurídica que adquire produto ou utiliza serviço como destinatário final. O que é ser destinatário final? É a pessoa que adquire o produto para consumo próprio ou de sua família. Neste sentido, está excluída a pessoa que adquire produto como insumo para implementar em seu ramo de trabalho. Exemplo 1 – “uma cabelereira que adquire um secador de cabelos para utilizar em seu salão de belezas não é considerada consumidora, pois ela não é destinatária final, o destinatário final será o cliente do salão, o secador não será para seu uso pessoal ou de sua família, mas sim para ser utilizado como ferramenta de seu trabalho”. Exemplo 2 – “uma cabelereira que tendo seu secador no salão de beleza, adquire outro secador para seu uso pessoal ou de sua família, neste caso, como comprou o aparelho para uso pessoal, ela é consumidora, porque é destinatária final”. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 2º parágrafo único, artigo 17 e artigo 29, prevê mais uma forma de consumidor, é o consumidor por equiparação. Consumidor por equiparação é toda coletividade, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Vamos exemplificar: Exemplo 1 - “uma empresa de água não toma os cuidados necessários para garantir a qualidade do produto, pondo em risco toda a coletividade”. Não se sabe quantas pessoas foram atingidas, nem quem pode estar sendo lesado pela má qualidade da água, assim mesmo toda essa coletividade está amparada pelo código. Exemplo 2 – “uma empregada doméstica que ao ligar o liquidificador da patroa (que é a consumidora) perde um dedo devido um acidente com o aparelho”. A empregada neste caso também está protegida pelo CDC, pois, apesar de ter sido a patroa quem adquiriu o liquidificador o defeito do produto a atingiu, tornando-a consumidora por equiparação. Exemplo 3 – “uma imobiliária de uma cidade litorânea anuncia pela imprensa a venda de um loteamento cujos lotes ficam de frente para o mar, mas na realidade somente alguns poucos lotes tem essa característica, pois os demais ficam de frente para um morro”. Está claro que a imobiliária fez propaganda enganosa, assim, toda a coletividade é consumidora por equiparação, pois o número de pessoas atingidas por essa publicidade é indeterminável. Desta forma todos que ajuizarem ação contra a imobiliária estarão no exercício de um legítimo direito por serem consumidores por equiparação. Exemplo 4 – “uma pessoa compra maionese, faz uma salada e serve para alguns amigos. A maionese estava estragada e todos passam mal”. Todos os amigos são consumidores por equiparação, pois foram atingidos pelo defeito do produto. Exemplo 5 - “uma pessoa compra uma televisão e a dá de presente a um amigo, este amigo, feliz da vida, recebe a televisão e a leva pra casa, porém ao ligar o aparelho este não funciona”. Esse amigo que recebeu o aparelho de TV é consumidor por equiparação e pode pleitear junto ao fornecedor providências para que conserte o aparelho ou o substitua. FONTE: <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7852/Relacoes-de-consumo>. Acesso em: 8 mar. 2019. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 68 DICAS LIVROS - Vamos ler um pouco mais sobre Direito do Consumidor! 3 CONCEITO DE FORNECEDOR Consoante ao que estudamos até aqui, temos que o fornecedor é uma das partes de suma importância na relação consumerista, eis que ele tem o condão de compor tal relação. A análise que se faz para conceituarmos fornecedor, refere-se à atividade que ele exerce dentro da relação consumerista. O art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, conceitua fornecedor como: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. No mesmo sentido, grandes doutrinadores conceituam fornecedor. Miragem (2009, p. 98) preleciona: TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 69 Com relação ao elemento dinâmico da definição (desenvolvimento de atividade), o CDC buscou relacionar ampla gama de ações, com relação ao fornecimento de produtos e à prestação de serviços. Neste sentido, é correto indicar que são os fornecedores, para os efeitos do CDC, todos os membros da cadeia de fornecimento, o que será relevante ao definir-se a extensão de seus deveres jurídicos, sobretudo em matéria de responsabilidade civil. E, ainda, Cavalieri Filho (2012, p. 73) menciona: “Fornecedor é gênero – quer no que respeita ao sujeito em si (pessoa física e jurídica; pública ou privada; nacional ou estrangeira), quer no que se refere às atividades que desenvolve – e não por acaso”. Da mesma forma, um ícone no Direito do Consumidor, Marques (2002, p.103) aduz: O art. 3º do CDC bem especifica que o sistema de proteção do consumidor considera como fornecedores todos os que participam da cadeia de fornecimento de produtos e da cadeia de fornecimento de serviços [...], não importando sua relação direta ou indireta, contratual e extracontratual, com o consumidor. Verifica-se, em suma, que o fornecedor é aquele que fornece produtos e presta serviços a terceiros, sendo que nossos tribunais têm entendido que a finalidade de lucro está intrínseca. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI61403,61044-+consu midor+e+o+fornecedor+no+Codigo+de+Defesa+do+Consumidor>. Acesso em: 8 mar. 2019. ATENCAO Importante ressaltar que o profissional liberal pode ser considerado fornecedor, eis que estão presentes os requisitos conceituais, quais sejam: pessoa que atua com habitualidade e possui finalidade de lucro. Ex.: prestador de serviço – encanador, eletricistaetc. Da mesma forma, o CDC especificou as pessoas jurídicas que podem ser consideradas fornecedoras, isto é: pessoa jurídica privada, pessoa jurídica pública, pessoa jurídica nacional, pessoa jurídica estrangeira e entes despersonalizados. Com relação aos entes despersonalizados, são aquelas sociedades que não possuem personalidade jurídica (pessoas jurídicas de fato), ou seja, aquelas que não possuem seus atos constitutivos registrados no cartório oficial competente. A lei não quis também afastar tais entidades, pois em não havendo personalidade UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 70 jurídica, em regra, estas não poderiam ser sujeitos de direitos nem obrigações e, com isso, não poderiam ser demandadas em juízo no caso de futuros danos ao consumidor. O CDC afastou esse problema incluindo-as no rol de fornecedor (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 20-?). Assim, tem-se que, as pessoas físicas, desde eu sejam profissionais liberais também podem ser consideradas fornecedoras, bem como os entes despersonalizados, desde que estejam presentes os requisitos ensejadores desta relação (consumidor – fornecedor), ou seja, habitualidade e finalidade de obtenção de lucro. Além das pessoas jurídicas. Por fim, não menos importante, temos que analisar a teoria criada por Leonardo Roscoe Bessa referente ao fornecedor equiparado. Segundo Bessa (2011, p. 1024), “o CDC ao lado do conceito genérico de fornecedor (caput, art. 3º), indica e detalha, em outras passagens, atividades que estão sujeitas ao CDC. Talvez, o melhor exemplo seja o relativo aos bancos de dados e cadastros de consumidores (art. 43, CDC). E, exemplifica ainda, o mesmo autor, o anunciante no caso é um fornecedor equiparado e está sujeito, portanto, à disciplina do CDC”. E, Marques (2010, p. 104) complementa definindo fornecedor equiparado como Aquele terceiro na relação de consumo, um terceiro apenas intermediário ou ajudante da relação de consumo principal, mas que atua frente a um consumidor (aquele que tem seus dados cadastrados como mau pagador e não efetuou sequer uma compra) ou a um grupo de consumidores (por exemplo, um grupo formado por uma relação de consumo principal, como a de seguro de vida em grupo organizado pelo empregador e pago por este), como se o fornecedor fosse (comunica o registro no banco de dados, comunica que é estipulante no seguro de vida em grupo etc.). IMPORTANT E O STJ (Superior Tribunal de Justiça) discorda dessa teoria. Entende que o veículo de comunicação que veicula publicidade enganosa ou abusiva e, nos termos da teoria em comento, seria um exemplo de fornecedor equiparado, não vem sendo responsabilizado, conforme entendimento expresso no REsp 1.157.228: “A responsabilidade pela qualidade do produto ou serviço anunciado ao consumidor é do fornecedor respectivo, assim conceituado nos termos do art. 3º da Lei n. 8.078/1990, não se estendendo à empresa de comunicação que veicula a propaganda por meio de apresentador durante programa de televisão, denominada ‘publicidade de palco’” (REsp. 1.157.228, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª T., DJe 27-4-2011). TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 71 4 CONCEITO DE PRODUTOS E SERVIÇOS A relação jurídica de consumo é formada pelos elementos objetivo e subjetivo. Sendo o elemento subjetivo formado pelo consumidor e fornecedor e; o elemento objetivo, formado por produtos e serviços. “A ideia de produto está ligada aos bens, resultado da produção no mercado de consumo das sociedades capitalistas contemporâneas” (NUNES, 2015, p. 137). O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) preleciona em seu §1º, art. 3º que “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”. Outros grandes autores conceituaram de forma ampla e clara o que é produto e, por consequência, para elucidar melhor nosso estudo, devemos citá-los. Na visão de Filomeno (2010, p. 52), “produto (entenda-se ‘bens’) é qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo, e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente, como destinatário final”. Para Cavalieri Filho (2011, p. 74), “produto é utilizado em seu sentido econômico e universal, isto é, aquilo que resulta do processo de produção ou fabricação”. E, para complementar, Marques (2010, p. 100) define produto como “qualquer bem, consumível fisicamente ou não, móvel ou imóvel, novo ou usado, material ou imaterial, fungível ou infungível, principal ou acessório”. Produto gratuito ou amostra grátis O recebimento, mesmo que autorizado da amostra grátis subordina o fornecedor tal qual em uma relação de consumo, pois este é um dos casos em que surge a figura do consumidor por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, da citada lei: “Art. 2º […] Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. ” Logo, a relação que se estabelece com o fornecedor por qualquer pessoa que recebeu uma amostra grátis, então, está sujeita às regras relativas aos vícios, defeitos, prazos de garantias e demais disposições da legislação consumerista em virtude do produto recebido. FONTE: <https://jusday.jusbrasil.com.br/artigos/485608129/direito-do-consumidor-amostra- gratis>. Acesso em: 8 mar. 2019. ATENCAO E, serviços, o que seria de acordo com o Código de Defesa do Consumidor? Pertinente aos serviços, estes, em linhas gerais são definidos como qualquer atividade fornecida ou prestada no mercado de consumo (NUNES, 2015 p. 142). UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 72 O Código de Defesa do Consumidor conceitua serviços, em seu §2º, art. 3º, sendo “serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. Devemos analisar o conceito de serviço sob três aspectos: exigência de remuneração, exclusão das relações trabalhistas e rol exemplificativo de serviços, com destaque para a inclusão dos serviços bancários. No que tange à remuneração, esta não necessariamente precisa ser de forma direta, mas também pode ser indiretamente. Ex.: estacionamento gratuito em shopping center (na verdade não é gratuito, pois sua remuneração está embutida nos diversos produtos vendidos nesses centros de compras). O Superior Tribunal de Justiça também acolheu a tese da remuneração indireta como requisito suficiente para caracterizar o serviço objeto da relação de consumo, conforme posicionamento inserto no Recurso Especial 566.468, no qual entendeu que “para caracterização da relação de consumo, o serviço pode ser prestado pelo fornecedor mediante remuneração obtida de forma indireta” (Ministro Relator Jorge Scartezzini, 4ª T., DJ 17-12-2004). ATENCAO Portanto, os serviços podem ser: remunerado diretamente; remunerado indiretamente e gratuito sem qualquer onerosidade. Um exemplo de serviço prestado de forma gratuita seria quando um “médico que atenda uma pessoa que está passando mal na rua e nada cobre por isso enquadra-se na hipótese legal de não recebimento de remuneração” (NUNES, 2000 p. 102). E, o serviço público é ou não objeto da relação de consumo? BOLZAN (2015, p. 103) enquadra a figura dos concessionários ou permissionários de serviços públicos no conceito de fornecedor. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Ainda com base no artigo 3º, II do CDC, é possível enquadrar o serviço público no conceito de serviço: “Art. 3º § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 73 no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. Basicamente, exige ser um serviço remunerado, tal como é o serviço público. Partindo do artigo quarto do Código de Defesa do Consumidor, temos menções expressas da incidência do CDC aos serviços públicos: Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo [...]. Já o artigo sexto fala sobre os direitos básicos do consumidor: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Interação entre o Código de Defesa do Consumidor e a Lei 9.897: Art. 22 Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. BOLZAN (2015, p. 105) explica que, por força do artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor, doutrinadores consumeristas renomados entendem que o serviço público não pode ser interrompido. Porém, há um conflito quando comparados o artigo 22 do CDC e a Lei nº 9.897, sobre a prestação de serviços públicos. A Lei nº 9.897/95 dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos, previsto no art. 175 da Constituição Federal. Seu artigo sexto contradiz o artigo 22 do CDC e admite a interrupção do serviço público em alguns casos, por exemplo: Art. 6º § 3º - Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 74 Bolzan (2015, p. 105) diz que é muito comum, no nosso país, que os prestadores de serviço ignorem o artigo sexto no que diz respeito à descontinuidade do serviço sem aviso prévio, menciona o autor, que “O STJ, apesar de admitir a interrupção por força do inadimplemento, não admite em alguns casos, como por exemplo se afetar a dignidade da pessoa humana ou unidades públicas essenciais, como hospitais ou escolas”. O STJ também não admite a interrupção de serviços se essa afetar direitos inadiáveis da coletividade, como a segurança pública. “Há casos em que municípios não pagam a conta de energia e a operadora suspende a iluminação em determinado bairro, o que não é permitido pois afeta um direito inadiável da coletividade, como é o caso da segurança pública” exemplifica Bolzan (2015, p. 105). O professor Fabrício Bolzan (2015, p. 98) defende uma posição intermediária em seus livros ‘Direito do Consumidor Esquematizado’ e ‘Direito Administrativo para Concurso’. Apesar de já ter defendido que, por ser essencial o serviço público não poderia ser interrompido, passamos a analisar e perceber que nenhuma empresa se habilitaria a um procedimento licitatório para participar de uma concessão de serviço público se não tivesse esse poder de barganha, ou seja, poder interromper o serviço público como forma de forçar o pagamento daquela conta. Cumpre observar que é importante que tenhamos claro, os direitos e deveres dos consumidores frente aos serviços públicos e a forma como são disponibilizados e cobrados. O meio termo que nós defendemos é que o concessionário do serviço público não pode interromper o serviço até demonstrar que o número de inadimplentes foi tamanho que afetou o equilíbrio econômico- financeiro do contrato, ou seja, quando a Lei 8.987 diz que é possível interromper o serviço por inadimplemento do usuário, ela fundamenta a interrupção considerado o interesse da coletividade. Então, na nossa visão, a partir do momento em que a empresa concessionária comprova que o número de inadimplentes foi tamanho a ponto de comprometer a boa prestação de serviço público para essa coletividade, aí sim é permitido interromper esse serviço do consumidor inadimplente. Antes disso, na nossa visão, não há fundamentação para interromper (BOLZAN, 2017, s.p.). DICAS VÍDEO: O Consumidor e Serviços Públicos – Serviços Públicos e CDC. Disponível em:<http://www.conteudojuridico.com.br/aula-em-video,o-consumidor-e-servicos- publicos-servicos-publicos-e-cdc-lindonjon-bezerra-aula-3-saber-direito,39191.html>. TÓPICO 1 | CONCEITO: CONSUMIDOR, FORNECEDOR, PRODUTOS E SERVIÇOS 75 IMPORTANT E O CONCEITO DE DESTINATÁRIO FINAL PARA FINS DE APLICAÇÃO DO CDC Marcos Boechat O artigo 2º, "caput", do Código de Defesa do Consumidor dispõe que: "consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". Acerca da expressão "destinatário final" nesse conceito, formaram-se na doutrina duas teorias, quais sejam: a Maximalista e a Finalista. Pela Teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o produto para o seu uso, independente da destinação econômica conferida ao mesmo. Tal teoria confere uma interpretação abrangente ao artigo 2° do CDC, podendo o consumidor ser tanto uma pessoa física que adquire o bem para o seu uso pessoal quanto uma grande indústria, que pretende conferir ao bem adquirido desdobramento econômico, ou seja, utilizá-lo nas suas atividades produtivas. Pela Teoria Finalista (ou subjetivista), destinatário final é todo aquele que utiliza o bem como consumidor final, de fato e econômico. De fato, porque o bem será para o seu uso pessoal, consumidor final econômico porque o bem adquirido não será utilizado ou aplicado em qualquer finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na pessoa do adquirente. Cláudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim defendem a teoria finalista, definindo o conceito de "destinatário final" do art. 2º do CDC: "O destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como insumo da sua produção." (In: "Comentários ao Código de Defesa do Consumidor", 2. ed., São Paulo, Editora Revista do Tribunais, 2006, p. 83/84). Ambas as teorias, contudo, não são indenes de críticas. A teoria maximalista é criticada pela sua excessiva abrangência, uma vez que o CDC se destinaria à defesa dos consumidores hipossuficientes e vulneráveis, e a teoria finalista é atacada por ser muito restritiva, excluindo de sua incidência figuras da relação de consumo que também poderiam ser consideradas hipossuficientes, como a pequena empresa e o profissional liberal. Neste aspecto, cumpre esclarecer que se define a vulnerabilidade analisando-se todos os aspectos da relação estabelecida e não somente o aspecto econômico. O adquirente do produto ou serviço pode ser vulnerável em relação ao fornecedor pela dependência do produto; pela natureza adesiva do contrato imposto; pelo monopólio da produção do bem ou sua qualidade insuperável; pela extremada necessidade do bem ou serviço; pelas exigências da modernidade atinentes à atividade, dentre vários outros fatores. O STJ, em geral, tem manifestado o entendimento pela Teoria Finalista Mitigada, ou seja, considera-se consumidor tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal quanto os profissionaisliberais e os pequenos empreendimentos que conferem ao bem adquirido a participação no implemento de sua unidade produtiva, desde que, nesse caso, demonstrada a hipossuficiência, sob pena da relação estabelecida passar a ser regida pelo Código Civil. Logo, importa dizer que uma pessoa jurídica, para postular em juízo na qualidade de consumidora, deverá comprovar o seu estado de hipossuficiência e vulnerabilidade ao adquirir um bem ou serviço e desde que estes não tenham ligação direta com os insumos ou matérias-primas necessárias à efetivação de seus produtos, segundo a teoria finalista mitigada. FONTE: <http://www.esinf.com.br/texto-de-apoio-detalhes/?id=5>. Acesso em: 8 mar. 2019. 76 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Os conceitos e as diferenças entre os sujeitos da relação de consumo: Consumidor, fornecedor, produtos e serviços. • As teorias a respeito do conceito de consumidor: Teoria Maximalista; Finalista e Mitigada. • Diferenciamos Relação Social e Relação Jurídica. • Observamos os conceitos de fornecedor equiparado. 77 AUTOATIVIDADE 1 Pertinente ao conceito de consumidor, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. b) ( ) Consumidor é somente a pessoa jurídica que adquire produto ou serviço como destinatário final. c) ( ) Consumidor é somente a pessoa física que adquire produto como destinatário, não necessariamente, final. d) ( ) Consumidor é toda pessoa física ou pessoa jurídica que somente adquire produto , não incluindo os serviços. 2 De acordo com a legislação consumerista, como caracterizamos fornecedor por equiparação? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Aquele que não está mencionado como parte na relação jurídica consumerista. b) ( ) Aquele que efetivamente, de forma direta faz parte da relação jurídica consumerista. c) ( ) Aquele terceiro na relação de consumo que atua frente a um consumidor ou a um grupo de consumidores, como se o fornecedor fosse. d) ( ) Aquele que, mesmo sendo terceiro envolvido, assume toda responsabilidade. 78 79 TÓPICO 2 PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No tópico anterior mencionamos a respeito dos conceitos de consumidor, bem como analisamos as teorias que ensejaram este referido conceito, quais sejam: Teoria Maximalista, Finalista e Mitigada. Verificamos que a teoria utilizada pelo STJ é a Teoria Mitigada, que conceitua consumidor aquele que “[...] considerando que a pessoa jurídica ou pessoa empresária pode ser considerada consumidora, mesmo na hipótese de adquirir produto ou serviço e emprega-lo com insumo ou reemprega-lo no mercado de consumo, ou seja, sem ser destinatário final” (BELACHE, 2015, s.p.). Observamos que, assim como existem consumidores por equiparação, temos também os fornecedores por equiparação. E, por fim, analisamos as diferenças conceituais de produtos e serviços, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor. Nesse Tópico 2 vamos estudar a respeito dos princípios norteadores da legislação consumerista. Sendo importante ressaltar que, princípios são a base de todo e qualquer ramo do Direito e, assim, não poderíamos deixar de analisar tais princípios sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor. 2 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA A dignidade da pessoa humana, mais especificamente no âmbito da legislação consumerista, é um princípio que irradia para todos os ramos do Direito, tamanha é a sua importância. O princípio da dignidade, no Direito do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.), está elencado no art. 4º, do Código de Defesa do Consumidor. Colaciona-se: UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 80 Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. O princípio da dignidade da pessoa humana foi sendo “construído” ao longo dos anos, eis que, na antiguidade, apenas as pessoas com o status social elevado é que seriam dignos, ou seja, a dignidade estava atrelada à comunidade a qual o cidadão estava inserido. Com o passar dos anos, este conceito foi sendo modificado, tornando-se a base da nossa Carta Magna, elencado no art. 1º, III. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana remonta à ideia de proteção, sendo a base atualmente, de todo o sistema constitucional brasileiro. Salutar mencionar que o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana está intrinsecamente ligado aos direitos fundamentais, tendo em vista que estes também conquistaram seu espaço de acordo com a evolução da sociedade e, consequentemente das leis. Ressalta-se que a dignidade remonta um valor supremo do ser humano, ou seja, é a base para o Direito moderno. Dworkin (1998, p. 307-310) ao tratar do conteúdo da dignidade da pessoa humana, menciona que o ser humano não poderá jamais ser tratado como objeto, isto é, como mero instrumento para realização dos fins alheios, eis que as pessoas nunca poderão ser tratadas de tal forma que se venha a negar a importância distintiva de suas próprias vidas. ATENCAO Assim, temos que a dignidade da pessoa humana, apesar de não existir um conceito definitivo, mas trata-se de um princípio que norteia todos os demais, eis que é a base, inclusive para nossa Constituição Federal de 1988. TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 81 UNI DIREITOS FUNDAMENTAIS Os direitos fundamentais foram sendo reconhecidos à medida em que o Estado também foi evoluindo, formando um Estado Democrático. A evolução dos direitos fundamentais seguiu alinhada ao reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Sarlet (2015, p. 36-37) observa que as gerações (ou dimensões) passam a ser analisadas com uma maior relevância a partir da consagração dos direitos fundamentais pelas primeiras Constituições, tendo em vista às transformações geradas pelo reconhecimento de novas necessidades básicas, de modo especial em virtude da evolução do Estado Liberal (Estado formal de Direito) para o moderno Estado de Direito (Estado social e democrático [material] de Direito), bem como as mutações decorrentes do processo de industrialização e seus reflexos, pelo impacto tecnológico e científico, pelo processo de descolonização e tantos outros fatores direta ou indiretamente relevantes neste contexto e que poderiam ser considerados. Na tentativa de conceituar direitos fundamentais, Martínez (1995) leciona que os direitos fundamentais são representantes de um sistema de valores concreto, de um sistema cultural que deve orientar o sentido de uma vida estatal contida em uma Constituição. Nessa linha de raciocínio, Dimoulis e Martins (2007, p. 54) exprimem que, direitos fundamentais são direito público-subjetivos de pessoas (física ou jurídicas), contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual. Na Constituição Federal de 1988 são encontradas em diversas partes do texto constitucional, destacando-se o título II: “Dos direitos e garantias fundamentais”, que regulamenta direitos individuais, coletivos, sociais e políticos. Assim, tem-se que direitos fundamentais sãodireitos de suma importância para vida em sociedade, cabendo ao Estado respeitá-los e protegê-los. Conforme aponta Sarlet (2007, p. 56), os direitos fundamentais traduzem valores que o Estado deve respeitar, mas, acima de tudo, promover e proteger para que assim, alcance todo o ordenamento jurídico – público e privado – deixando de ser conceituados como sendo direitos subjetivos públicos, isto é, direitos oponíveis pelos seus titulares (particulares) apenas em relação ao Estado. Ressalta-se que, a religião e a filosofia do mundo antigo influenciaram no entendimento de que o homem possui direitos inalienáveis e naturais, tais como, os valores da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da igualdade (SARLET, 2015, p. 38). A Reforma Protestante foi de suma importância no surgimento dos direitos fundamentais, eis que, a partir deste fato histórico houve a reivindicação da liberdade religiosa e de culto em diversos países da Europa. FONTE: FILAGRANA, Tatiana C. dos Reis. O princípio da dignidade da pessoa humana frente aos direitos fundamentais elencados na Constituição Federal de 1988. Revista Humus, v. 7, n. 22, 2018. UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 82 3 PROTEÇÃO À VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA A proteção à vida, saúde e segurança são direitos que emanam do Princípio da Dignidade. Salutar mencionarmos que o art. 4º do Código de Defesa do Consumidor assegura de forma expressa a sadia qualidade de vida com saúde do consumidor e sua segurança. Importante citar Nunes (2017, p. 175), quando menciona, a respeito da legislação consumerista, vejamos: Quando se refere à melhoria de qualidade de vida, está apontando não só o conforto material, resultado do direito de aquisição de produtos e serviços, especialmente os essenciais (serviços públicos de transporte, agua e eletricidade, gás, os medicamentos e mesmo imóveis etc.), mas também o desfrute de prazeres ligados ao lazer (garantido no texto constitucional – art. 6º, caput) e ao bem estar moral ou psicológico. IMPORTANT E “Tem-se dito que se a Lei nº 8.078/90 se tivesse limitado a seus primeiros sete artigos, ainda assim o consumidor poderia receber uma ampla proteção, pois eles refletem concretamente os princípios constitucionais de proteção ao consumidor e bastaria aos interpretes compreender seus significados. Isso é verdade e mais: ver-se-á que as normas posteriormente estipuladas no CDC concretizam mais ainda esses princípios e direitos básicos” (NUNES, 2017, p. 174). 4 PROTEÇÃO E NECESSIDADE A legislação consumerista surge exatamente para proteger o consumidor, sendo que o art. 1º contempla esse caráter protecionista e de interesse social. Transcrevemos: “Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias” (BRASIL, 1990, s.p.). A necessidade do consumidor ser protegido se dá em razão de que o Código Civil trata as relações contratuais como se todos estivessem no mesmo patamar, o que não condiz com a realidade, tendo em vista que o consumidor é vulnerável à vontade do fornecedor (lato sensu), sendo hipossuficiente nas relações consumeristas. Assim, surge a necessidade de proteção a essas pessoas para que consigam realizar seus contratos com segurança e de acordo com a lei. Exemplificamos: TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 83 Nos casos de medicamentos únicos para doenças graves, nos serviços públicos, no suprimento de alimentos básicos etc., justifica-se a intervenção direta para garantir o suprimento ao consumidor. Até no aumento exagerado de preços isso ode acontecer, desde que se trate de caso de necessidade (NUNES, 2017, p. 175). “Esse princípio da garantia do suprimento das necessidades do consumidor está em consonância com o princípio maior básico que lhe dá sentido, que é o da liberdade de agir e escolher, garantido no texto constitucional (art. 1º, III, art. 3º, I, art. 5º, caput, entre outros)” (NUNES, 2017, p. 175). ATENCAO 5 TRANSPARÊNCIA O princípio da transparência interliga-se diretamente ao da informação, tendo em vista que é direito do consumidor conhecer os produtos e serviços que lhe são oferecidos. Pelo princípio da transparência, positivado em nosso ordenamento jurídico no art. 6°, III, da Lei 8078/90, assegura-se ao consumidor a plena ciência da exata extensão das obrigações assumidas perante o fornecedor. Assim, deve o fornecedor transmitir efetivamente ao consumidor todas as informações indispensáveis à decisão de consumir ou não o produto ou serviço, de maneira clara, correta e precisa. Elucida Coelho (1996, p. 55), “de acordo com o princípio da transparência, não basta ao empresário abster-se de falsear a verdade, deve ele transmitir ao consumidor em potencial todas as informações indispensáveis à decisão de consumir ou não o fornecimento”. O princípio da transparência é “inovação no sistema jurídico brasileiro”, especificamente no CDC, pois a parte ao negociar tem que demonstrar clareza, tendo o fornecedor ou prestadores de serviços, que exibir idoneidade nos negócios, e na capacitação técnica, ademais, a transparência deve integrar-se com outros princípios como a boa-fé, embora haja inibição na aplicação da transparência, o paradigma mercadológico deve ser a concorrência para melhor satisfação do consumidor (MARQUES, 2002). UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 84 6 HARMONIA O princípio da harmonização encontra-se de forma explicita no art. 4º, III CDC, tendo como objetivo primordial a compatibilização dos interesses e direitos dos consumidores com o desenvolvimento econômico e tecnológico dos fornecedores. IMPORTANT E “O que torna o referido princípio mais dinâmico e interessante é o fato de estar previsto no Capítulo atinente à Política Nacional das Relações de Consumo, a qual engloba todo o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, composto por Órgãos de defesa do Consumidor como o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor e os diversos PROCON estaduais e municipais. Isso significa que essas entidades devem observar, respeitar, implementar, promover e viabilizar a harmonização das relações de consumo entre consumidores e fornecedores” (GUBEISSI, 2011, s.p.). Outrossim, importante observar que os princípios, por sua vez, são normas dotadas de alto grau de abstração e alta carga valorativa, regendo todo o sistema jurídico. A dinâmica de aplicação dos princípios é diferente da observada nas regras, pois havendo conflito entre princípios, um não excluirá o outro; apenas afastará sua incidência a fim de regular determinado caso concreto. Isso importa em dizer que um princípio apenas preponderará sobre o outro, sem, contudo, anulá-lo. (GUBEISSI, 2011). 7 VULNERABILIDADE Consoante os princípios que estamos estudando, passamos a analisar um princípio de suma importância que é o da vulnerabilidade. A vulnerabilidade refere-se à fragilidade do consumidor, sendo tal fragilidade decorrente de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico. Nunes (2015, p. 106) corrobora: [...] o consumidor é a parte fraca da relação jurídica de consumo. Essa fraqueza, essa fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos: um de ordem técnica e outro de cunho econômico. O primeiro está ligado aos meios de produção, cujo conhecimento é monopólio do fornecedor. E quando se fala em meios de produção não se está apenas referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a fabricação de produtos e prestação de serviços que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de que maneira produzir, de sorte que o consumidor está à mercê daquilo que é produzido. TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 85 8 INTERVENÇÃO DO ESTADO A intervenção do Estado se faz necessária, tendo em vista a proteção do consumidor para lhe asseguraro acesso aos produtos e serviços essenciais, mas garantir a qualidade e adequação de tais produtos e serviços. Está previsto nos artigos 5º, XXXII, e 170, ambos da Constituição Federal, que determina que o Estado tem o dever de promover a defesa do consumidor, e no artigo 4º, II, e alíneas do CDC. Com base neste princípio o Estado tem obrigação de atuar nas relações de consumo coma finalidade de proteger a parte mais fraca, a saber, o consumidor, por meios legislativos e administrativos, e para garantir o respeito aos interesses deste. “O Estado não pode, ao promulgar norma de caráter geral e abstrato, vedar, limitar ou dificultar o desenvolvimento da atividade econômica ou mesmo interferir na livre iniciativa sob o pretexto da proteção do consumidor. O ferir dos direitos dos consumidores não deve ser respeitado, entretanto a promulgação das leis não deve ser um obstáculo ao crescimento das sociedades empresariais. A limitação do agir do Estado não significa que este vai deixar de atuar, ou mesmo que o consumidor vai ficar desprotegido, mas sim que outros princípios também devem ser observados pelo ente no momento que busca a proteção ou a preservação dos direitos”. FONTE: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/principal.php?n_link=revista_ artigos_leitura&artigo_id=17716>. Acesso em: 8 mar. 2019. ATENCAO 9 BOA-FÉ O princípio da boa-fé, no Código de Defesa do Consumidor, previsto no art. 4º, visa viabilizar os ditames constitucionais da ordem econômica equilibrando os interesses tangentes à proteção do consumidor e o desenvolvimento econômico e psicológico. Outro ponto importante, é distinguirmos boa-fé objetiva e subjetiva. Para Plínio Lacerda Martins (2002, p. 132), “a noção de boa-fé objetiva constitui novo princípio a conduta dos contraentes nos contratos atuais”, pois, não só no direito do consumidor, como em todo o direito obrigacional, são nesses instrumentos de negociação que se vislumbra com maior facilidade o desequilíbrio entre os contraentes. Em matéria consumerista, a aplicação desse princípio se torna ainda mais evidente, porquanto é inegável que a maioria das relações entre consumidores e UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 86 fornecedores se firma através de contratos, e o Código de Defesa do Consumidor veio a consagrar o princípio da boa-fé objetiva, até mesmo antes do Novo Código Civil, como cláusula geral, visando a otimizar o comportamento contratual dos contraentes, principalmente o do fornecedor de produtos e serviços, que com o crescente desenvolvimento tecnológico, o crescimento da demanda do mercado de consumo e a falta de cultura jurídica da população de um modo geral, a cada dia se torna parte mais forte nesse tipo de relação, o que, via de consequência, resulta no desequilíbrio da relação jurídica que se forma (VILELA GUGLINSKI, 2011). 10 DEVER DE INFORMAR Observamos que o princípio da informação reza que todas as informações a respeito dos produtos e serviços deverão ser prestadas ao consumidor de forma clara e precisa, conforme preconizado no art. 31, da legislação consumerista. Colaciona-se: Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009). MARQUES (2006, p. 715) identifica o princípio da transparência, no art. 4º, caput, do CDC. Define o mesmo como, “informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado. Trata-se de lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor”. (Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006). IMPORTANT E O dever de informação deve ser apreendido, antes de mais nada, como uma premissa principiológica da hermenêutica contratual brasileira. Aqui invoco a contribuição de José Reinaldo de Lima Lopes, para quem no art. 6º, II e III do CDC, temos direitos básicos. O inciso II, por exemplo, traz a educação como direito básico. A educação como direito básico, conforme o art. 6º, II, se constitui em um pressuposto de interpretação para a aplicação do direito. O inciso III traz o direito à informação. Pressupondo que o consumidor tem direito à educação e à informação, em caso de conflito deve-se indagar se o fornecedor lhe deu a educação/informação para o consumo. TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 87 LEITURA COMPLEMENTAR A BOA-FÉ NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Vitor Vilela Guglinski Prescreve o art. 4º do diploma consumerista in verbis: “Art. 4º - A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, a respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de sua qualidade de vida, bem como a transferência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.” Da simples leitura do dispositivo legal supratranscrito, percebe-se, logo no inciso I, que o Código de Defesa do Consumidor consagrou o princípio da vulnerabilidade, reconhecendo o consumidor como a parte mais frágil na relação de consumo. Na verdade, isso ocorreu em conformidade com a Resolução da ONU 39/248 de 1985, que estabeleceu em seu art. 1º que o consumidor é a parte mais fraca, denotando, então, tal reconhecimento em âmbito mundial. A explicação para tanto se verifica no fato de que o consumidor é aquele que acaba por submeter-se ao poder de controle dos titulares dos bens de produção, ou seja, dos empresários, pois não tem, aquele, os conhecimentos técnicos necessários a elucidar quaisquer questões que envolvam o produto adquirido ou o serviço prestado, sejam elas referentes à produção, vícios, oferta, modo de execução do serviço etc., tendo em vista a especificidade que lhes é inerente. O que se objetivou com o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor foi, antes de qualquer coisa, a facilitação de sua defesa. No tocante ao inciso III, nota-se que a preocupação primária do legislador foi a de harmonizar os interesses de consumidores e fornecedores, isso porque a harmonia e o equilíbrio são fatores indispensáveis para que haja a tão esperada justiça. Não há como negar que o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor mostra-se altamente protecionista, se comparado à legislação consumerista francesa, por exemplo, que, aliás, lá possui a denominação de Código do Consumo (Code de la Consomation), pois tutela não somente os interesses UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 88 dos consumidores, como também os interesses dos fornecedores. Da mesma forma, pode se notar que o legislador pátrio não se preocupou tão somente com os interesses dos consumidores, mas sim de todos os fatores que propiciam o desenvolvimento do mercado de consumo. Tal conclusão é no mínimo lógica, uma vez que, para que haja desenvolvimento econômico e tecnológico, é preciso que haja quem consuma, ou seja, quem diga se os produtos e serviços colocados no mercado de consumo estejam atendendo a demanda de forma satisfativa, ou seja, a crítica do consumidor aos produtos e serviços acaba por obrigar as empresas a investirem em novastécnicas de produção, técnicas de marketing, merchandising etc.. Todavia, como já foi visto anteriormente, a estática da lei codificada nem sempre permite que a justiça seja sentida. E é essa mentalidade que o nosso Código de Defesa do Consumidor procurou incorporar, pois a experiência pós-Revolução Industrial mostra que as transformações sociais se tornaram tão grandes e sequenciais que o Estado, em seu labor jurídico, acaba por quedar-se diante das mesmas, pois as demais ciências, que não a jurídica, pelo menos em sua devastadora maioria são despidas da burocracia, tão característica do direito. Por isso é que a boa-fé objetiva veio, na lei consumerista brasileira, como cláusula geral, regra padrão de conduta, um princípio ao qual se pode socorrer na falta da lei, porquanto é ele maior que a norma, é um princípio, um mandamento nuclear, cujo respectivo desrespeito colocará todo um sistema em xeque, posto que lhe é o norteador. Como já dito anteriormente, nos contratos é que se torna ainda mais evidente a aplicação desse princípio, pois a cláusula geral de boa-fé foi adotada pelo Código do Consumidor, implicitamente, devendo reputar-se inserida e existente em todas as relações jurídicas de consumo, mesmo que não inserida de forma expressa no contrato. Nesse sentido, vale aqui citar o art. 51, inciso IV do diploma legal acima referido, que diz in verbis: “Art. 51 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.” Segundo os autores do anteprojeto do código, a verificação da presença de boa-fé na conclusão do negócio jurídico cabe ao magistrado, no intuito de constatar se determinada cláusula contratual é ou não válida perante o dispositivo supra transcrito. Já no que diz respeito à equidade, esta constitui TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 89 regra de julgamento apenas nos casos prescritos em lei, consoante prescrição do art. 127 do Código de Processo Civil. Sendo assim, nesses casos o juiz não julgará com base na equidade, mas tão somente observará o que está de acordo com a equidade e a boa-fé. Traço interessante encontrado no Código de Defesa do Consumidor brasileiro, intimamente ligado ao princípio aqui estudado, diz respeito ao direito à informação previsto no artigo 6º, III do diploma legal acima citado. Nesse sentido, ensina Tereza Negreiros que “o mais típico dever acessório derivado do princípio da boa-fé é o dever de informar”. Na verdade isso se verifica porque em uma relação de consumo não só a obrigação principal é objeto de tutela, mas sim o interesse global, ou seja, ao adquirir um produto ou serviço o consumidor tem o direito de acesso a todas as informações acerca do que está adquirindo. 90 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Analisamos os princípios basilares da relação de consumo: ° Dignidade. ° Proteção à vida, saúde e segurança. ° Proteção e necessidade. ° Transparência. ° Harmonia. ° Vulnerabilidade. ° Intervenção do Estado. ° Boa-fé. ° Dever de informar. 91 AUTOATIVIDADE 1 Considerando os princípios e direitos básicos que regem o Código de Defesa do Consumidor, assinale a alternativa correta: a) ( ) O conceito de hipossuficiência consumerista restringe-se a análise da situação socioeconômica do consumidor perante o fornecedor, permitindo, inclusive, a inversão do ônus probatório. b) ( ) A boa-fé objetiva é uma causa limitadora do exercício, antes lícito, hoje abusivo, dos direitos subjetivos, e, ainda caracteriza-se por ser fonte de deveres anexos contratuais. c) ( ) Por ser os princípios da hipossuficiência e da vulnerabilidade conceitos jurídicos pode-se afirmar que todo consumidor vulnerável é, logicamente, hipossuficiente. d) ( ) A regra do pacta sunt servanda se aplica as relações de consumo e encontra-se prevista expressamente no CDC. 2 Acerca das relações consumeristas, pode-se afirmar: a) ( ) “Serviço", para o direito do consumidor, significa toda e qualquer atividade oferecida no mercado de consumo, mediante remuneração. b) ( ) O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária. c) ( ) O Código de Defesa do consumidor consagrou a teoria do risco integral para fundamentar a responsabilidade civil objetiva dos fornecedores pelos danos causados aos consumidores. d) ( ) O consumidor dispõe de 7 (sete) dias para desistir ou trocar o produto comprado, desde que tenha ocorrido no estabelecimento físico do fornecedor. e) ( ) A reparação por danos materiais por vício oculto do produto pelo fornecedor exclui, automaticamente, eventual reparação por dano moral. 92 93 TÓPICO 3 RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, convidamos você, acadêmico, a analisar todas as implicações jurídicas referentes à responsabilidade na legislação consumerista. Consoante o crescente consumo após a Revolução Industrial, quando se onde passou a priorizar a qualidade em detrimento da qualidade dos produtos e serviços fornecidos no mercado, surge a necessidade de definir um modelo de responsabilização do fornecedor. Assim, surge a responsabilidade objetiva na legislação consumerista, que independe de dolo ou culpa. Filomeno (2010, p. 192-193) preleciona: A eleição da responsabilidade objetiva como a regra no Código de Defesa do Consumidor deveu-se, em suma, aos seguintes fatores: a produção em massa; a vulnerabilidade do consumidor; a insuficiência da responsabilidade subjetiva; o fornecedor há de responder pelos riscos que seus produtos acarretam; em decorrência de antecedentes legislativos. IMPORTANT E “A responsabilidade pelo risco é uma imputação mais intensa desde o ponto de vista social a respeito de uma determinada esfera de riscos, de uma distribuição de riscos de danos inerentes a uma determinada atividade segundo os padrões ou medidas, não dá imputabilidade de culpa, senão da assunção de risco àquele que o cria ou domina, ainda que somente em geral” (LARENZ, 2011, p. 354). 94 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 2 PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO A responsabilidade elo fato do produto encontra-se no art. 12, do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990). Segue: Art. 12, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Importante ressaltarmos que a responsabilidade dos fornecedores é solidária, tendo em vista a cadeia de fornecedores que contribuiu para a ocorrência do dano. Ademais, o art. 25, §1º do Código de Defesa do Consumidor preleciona essa responsabilidade solidária dos fornecedores: “Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores” (BRASIL, 1990, s.p.). Assim, destacamos que ao tratarmos de responsabilidade de fornecedores, havendo mais de um responsável pelo dano ocorrido ao consumidor, todos são responsáveis, de forma solidaria. IMPORTANT E Exemplo: A montadora de veículos é responsável pelo carro que montou. Entretanto, se houver dúvida sobre quem inseriu indevidamente determinada peça no veículo adquirido – montadora ou concessionaria -, o consumidor que sofreu um acidente de consumo poderá acionar qualquer um dos dois fornecedores dessa cadeia ou atémesmo ambos, sob o fundamento do princípio da responsabilidade solidaria” (BOLZAN, 2015, p. 314). O mesmo art. 12 (BRASIL, 1990, s.p.) define o que é produto defeituoso, vejamos: § 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 95 Assim, temos que, defeito, para o Código de Defesa do Consumidor, refere-se à quando o produto não oferece a segurança esperada pelo mesmo. Circunstâncias relevantes do produto defeituoso: a apresentação; o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; época em que foi colocado em circulação (BOLZAN, 2015, p. 315). ATENCAO DICAS O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), ao tratar da responsabilidade civil do fornecedor pelos defeitos de produtos (art. 12) e de serviços (art. 14), prevê expressamente que a responsabilidade de reparação pelos danos causados aos consumidores, em face dos produtos ou serviços colocados no mercado de consumo, independe da existência de culpa, logo trata-se de responsabilidade objetiva. Para saber a respeito da reparação dos danos causados e dos excludentes de responsabilidade, leia o texto a seguir. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE EM FACE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Nehemias Domingos de Melo [...] Das excludentes expressamente previstas no Código Como expresso alhures, o Código de Defesa do Consumidor previu, de maneira expressa, as eximentes elencadas em seu corpo normativo (art. 12, § 3°, no que diz respeito produtos e art. 14, § 3°, no que diz respeito serviços). Em face desta expressa determinação legal, diversos doutrinadores entendem que não cabe perquirir sobre outras possíveis causas excludentes da responsabilidade do fornecedor. Outros defendem que não se pode ir além das eximentes expressamente tratadas na lei consumerista porque a responsabilidade civil definida pelo Código de Defesa do Consumidor abraçou a teoria do risco integral, com o que, com a devida vênia, não concordamos. De toda sorte, abordaremos cada uma das excludentes expressamente prevista no Código de Defesa do Consumidor, sua amplitude e compreensão dentro do contexto da moderna doutrina consumerista brasileira. Não colocação do produto no mercado É importante destacar inicialmente que há uma presunção legal de que o produto colocado em circulação foi introduzido na cadeia de consumo pelo fornecedor, contudo, esta presunção pode ser ilidida pela contraprova. 96 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA A toda evidência que, se o fornecedor enquanto fabricante, construtor, produtor ou importador, não introduziu no mercado de consumo o produto viciado ou defeituoso, não poderá ser responsabilizado pelos danos dele decorrente. Situações que podem ser excepcionadas são aquelas decorrentes de roubo ou furto de produto defeituoso, desde que não se possa culpar o fornecedor em virtude da culpa in vigilando ou in eligendo. Outra situação possível de exemplificar como excludente é a que se refere a produtos falsificados, em que marca e sinais são adulterados e colocados em produtos que são comercializados em detrimento, tanto do fornecedor quanto do consumidor. Ao fazer suas considerações sobre as causas de exclusão da responsabilidade ora em comento, Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin preleciona que “é até supérfluo dizer que inexiste responsabilidade quando os responsáveis legais não colocaram o produto no mercado”, porque não haveria nexo causal entre o prejuízo sofrido pelo consumidor e a atividade do fornecedor, concluindo ao depois, que esta regra fica mais evidente quando se trata de “produtos falsificados que trazem a marca do responsável legal ou, ainda, para os produtos que, por ato ilícito (roubo ou furto, por exemplo), foram lançados no mercado”. O magistrado Rizzatto Nunes considera que no primeiro exemplo não haveria excludente porquanto sempre seria possível enquadrar o fato na culpa in vigilando ou in eligendo, quando então, não caberia indagar sobre a culpa já que a responsabilidade é objetiva. Para aquele mestre, a única exceção é no que diz respeito aos produtos falsificados, até por tornar o fornecedor parte ilegítima para figurar no polo passivo, porquanto é o vendedor quem deve ser responsabilizado, tanto na órbita do direito penal quanto civil. Nosso entendimento segue na direção de que, se o fornecedor não colocou o produto no mercado de consumo, não poderá ser responsabilizado pelos eventuais danos causados a consumidores porquanto a lei é clara ao fixar que o fornecedor poderá ser exonerado se provar que “não colocou o produto no mercado” (art. 12, § 3°, I, da lei 8.078/90). Logo, se o produto foi colocado no mercado de consumo à revelia do fornecedor, seja por ter sido furtado ou roubado, seja por ser produto falsificado ou pirateado, e depois venha a causar danos à consumidores, a toda evidência, não haverá de ser responsabilizado o fornecedor que em nada contribuiu para o evento danoso que se procure reparar. Inexistência do defeito apontado O dever de indenizar, quando falamos do fato do produto ou de serviço, tem como pressupostos a existência de um “defeito” e a ocorrência de um “dano” relacionado ao defeito apontado. Por conseguinte, se o produto não apresentar nenhum defeito que possa diminuir-lhe as qualidades ou quantidades, não causando nenhum dano ao consumidor, não se poderá falar em indenização. Preleciona o jovem desembargador Paulo de Tarso Vieira Sanseverino que “não basta que os danos sofridos pelo consumidor tenham sido causados por um determinado produto ou serviço. É fundamental ainda que esse produto ou serviço apresente um defeito, que seja a causa dos prejuízos sofridos pelo consumidor”, para depois concluir que “o defeito do produto ou do serviço aparece como um dos principais pressupostos da responsabilidade do fornecedor por acidentes de consumo”. Conforme o escólio de Fábio Ulhoa Coelho, no caso de inexistência de defeitos, caberia ao “empresário demonstrar que o produto fornecido ao mercado não apresentava qualquer impropriedade, seja na concepção, execução ou comercialização”. Significa dizer que, à luz do Código de Defesa do Consumidor, principalmente em se tratando de fato do produto ou do serviço, a responsabilização do fornecedor é objetiva. Consequentemente, o consumidor, em ação de responsabilidade civil decorrente de acidente de consumo, somente precisará provar a existência do dano e o nexo causal que o liga ao produto ou serviço que adquiriu. TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 97 Da culpa exclusiva da vítima ou de terceiro As hipóteses assinaladas no inciso III, § 3° do artigo 12, da Lei n° 8.078/90, assim como no inciso II, § 2° do artigo 14, exclui a responsabilidade do fornecedor, se ficar provado que o acidente de consumo se deu em razão da culpa exclusiva da vítima ou por ação exclusiva de terceiro, porquanto não haveria nexo de causalidade entre o dano sofrido pelo consumidor e a atividade do fornecedor do produto ou serviço. Neste caso o que o Código prevê é a possibilidade de exclusão de responsabilidade decorrente do uso inadequado de produto seja pelo próprio adquirente, seja por terceira pessoa. Mas não é somente o uso inadequado que poderá exonerar o fornecedor do dever de indenizar, pois poderão ocorrer também outras hipóteses, tais como: o consumidor ser negligente ao manusear o produto; não seguir as instruções de uso; entregar o produto para uso a pessoa não recomendada; consumir o produto com validade vencida, dentre outras. Conta-se que nos Estados Unidos da América, uma senhora, após dar banho em seu gatinho, o teria colocado para secar dentro do forno micro-ondas. Resultado da experiência: o gatinho teria explodido.Nestas circunstâncias, resta evidente a irresponsabilidade do fornecedor pelo ocorrido, que somente aconteceu em face do uso do produto para fins que não é recomendado. Com relação aos serviços vejamos a relação de transportes. A responsabilidade do transportador é objetiva, secundo o art. 734 do Código Civil. Além disso, a relação entre o transportado e o transportador é uma relação de consumo logo se aplica, subsidiariamente, o Código de Defesa do Consumidor que prevê que a responsabilidade é objetiva em face de danos ocorridos por falha na prestação dos serviços. Apesar de não haver dúvidas quanto ao fato da responsabilidade ser objetiva com relação às empresas de transportes, não se pode responsabilizar, por exemplo, as empresas ferroviárias pelos acidentes ocorridos com os chamados “surfistas ferroviários”. Nos dois exemplos apresentados é forçoso reconhecer que, se o usuário por moto próprio resolve exacerbar os riscos, expondo-se a acidentes que, em condições normais, o produto ou serviço não ofereceria, não se pode responsabilizar o responsável pela atividade na exata medida em que, tendo ocorrido acidente, o mesmo não decorreu dos riscos da atividade oferecida, mas sim em face do uso inadequado promovido pelo próprio acidentado. Já fizemos este alerta, porém cabe repetir: O Código de Defesa do Consumidor não proíbe o fornecimento ou comercialização de produtos ou serviços perigosos, apenas exige do fornecedor que sejam ofertadas ao consumidor, de forma clara, correta, ostensiva, precisa e em língua portuguesa, com todas as informações de uso adequado do produto ou serviço (art. 31 do CDC). Se o consumidor é negligente, não se pode premiar sua falta de diligência, responsabilizando que não contribuiu para o evento danoso. No que diz respeito ao terceiro, necessário se faz que seja pessoa estranha à relação de consumo, entabulada entre o consumidor e o fornecedor. Isto é, não pode ser enquadrado como terceiro o empregado, o preposto ou o representante autônomo; Da mesma forma o comerciante varejista ou atacadista de que trata o Código de Defesa do Consumidor (art. 13), não poderá ser considerado terceiro porque é parte integrante do ciclo de fornecimento do produto ou do serviço. Esclareça-se por fim que, pelo disposto no art. 34, do mesmo diploma legal, o fornecedor de produtos ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos, assim como, a norma do art. 7°, § único e o art. 25, § 1° estipula que, na eventualidade de mais de um causador do dano, todos deverão responder solidariamente. Assim, também por este prisma, o comerciante não pode ser considerado terceiro. FONTE: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=186&n_ link=revista_artigos_leitura>. Acesso em: 1 abr. 2019. 98 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA Pertinente à responsabilização dos fornecedores pelo fato do serviço, temos que o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, preconiza: Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos (BRASIL, 1990). O mesmo Art. 14 (BRASIL, 1990) define o que é serviço defeituoso, vejamos: Art. 14, § 1º CDC: O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. Assim, como o produto defeituoso, o serviço também defeituoso também está atrelado à falta de segurança que este deveria oferecer e não ofereceu. Circunstâncias relevantes do serviço defeituoso: a apresentação; o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; época em que foi colocado em circulação (BOLZAN, 2015, p. 334). ATENCAO Uma observação de suma importância é em relação as inovações tecnológicas, tendo em vista que ao serem utilizadas, os serviços não são considerados defeituosos. Como informado no Art. 14, § 2º da Lei nº 8.078, (BRASIL, 1990) “o serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas”. Com relação às excludentes de responsabilidade, temos que: Art. 14, § 3º CDC: O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa (BRASIL, 1990). TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 99 DICAS Sugerimos a leitura de “O fato do produto e do serviço e o acidente de consumo”, de Rizzatto Nunes, para avançarmos nossa compreensão a respeito do estabelecimento da responsabilidade de indenizar. A BASE DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: O FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO E O ACIDENTE DE CONSUMO Rizzatto Nunes [...] Registro, por fim, e apenas corroborando tudo o que foi dito, que o CDC intitula a seção que cuida do tema como "Da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço", porque a norma, dentro do regramento da responsabilidade objetiva, é dirigida mesmo ao fato do produto ou serviço em si. É o "fato" do produto e do serviço causadores do dano o que importa. Costuma-se também falar em “acidente de consumo” para referir ao fato do produto ou do serviço. Algumas observações são necessárias a respeito disso. A expressão "acidente de consumo", muito embora largamente utilizada, pode confundir, porque haverá casos de defeito em que a palavra "acidente" não fica muito adequada. Assim, por exemplo, fazer lançamento equivocado no cadastro de devedores do Serviço de Proteção ao Crédito é defeito do serviço, gerando responsabilidade pelo pagamento de indenização por danos materiais, morais e à imagem. Porém, não se assemelha em nada a um "acidente"; comer algum alimento e depois sofrer intoxicação por bactéria que lá estava gera, da mesma maneira, dano, mas ainda assim não se assemelha propriamente a acidente. De outro lado, a lei fala em "fato" do produto. A palavra fato permite uma conexão com a ideia de acontecimento, o que implica, portanto, qualquer acontecimento. Lembro, de todo modo, que se tem usado tanto "fato" do produto e do serviço quanto "acidente de consumo" para definir o defeito. Porém, o mais adequado é guardar a expressão "acidente de consumo" para as hipóteses em que tenha ocorrido mesmo um acidente: queda de avião, batida do veículo por falha do freio, quebra da roda- gigante no parque de diversões, etc., e deixar fato ou defeito para as demais ocorrências danosas. Em qualquer hipótese, aplica-se a lei. O estabelecimento da responsabilidade de indenizar nasce, portanto, do nexo de causalidade existente entre o consumidor (lesado), o produto e/ou serviço e o dano efetivamente ocorrido. Fica, assim, demonstrada, a teoria — e a realidade — fundante da responsabilidade civil objetiva estatuída no CDC, assim como as amplas garantias indenizatórias em favor do consumidor que sofreu o dano — ou seus familiares ou, ainda, o consumidor equiparado e seus familiares. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI244495,51045-A+base+da+resp onsabilidade+objetiva+no+Codigo+de+Defesa+do+Consumidor>. Acesso em: 1 abr. 2019. 100 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 3 POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO Considerando tudo o que estudamos até aqui, iremos agora analisar a respeito do que o Código de Defesa do Consumidor considera vício do produto e serviço. Vamos lá, foco nos estudos! A responsabilidade dos fornecedores pelo vício do produto ou serviço encontra-se no art. 18 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.). Segue: Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondemsolidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. Ressaltamos que, no vício do produto e serviços, a análise é feita sobre dois aspectos: a) vício de qualidade e; b) vício de quantidade. Observa-se que os vícios de qualidade tornam impróprios ou inadequados os produtos. IMPORTANT E VICIOS DE QUALIDADE: • Tornar o produto impróprio para consumo. • Tornar o produto inadequado ao consumo. • Diminuir o valor do produto. • Produto em desacordo com as informações da oferta. Sendo produtos impróprios ao consumo, Art. 18, §6º CDC: Art. 18, § 6º CDC: São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam (BRASIL, 1990). TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 101 Outro ponto importante é a respeito das opções concedidas pelo Código de Defesa do Consumidor, diante do vício de qualidade do produto, elencado no art. 18, §1º. § 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4º Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1º deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1º deste artigo (BRASIL, 1990). Dispõe-se que, ao consumidor é facultado escolher quaisquer das opções mencionadas no Art. 18, §1º, sem que tenha que “obedecer” a uma ordem. E, agora, vamos estudar sobre a responsabilidade pelos vícios no serviço. O Art. 20 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990) elenca essa responsabilidade: Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. O §2º do art. 20 do Código de Defesa do Consumidor define o que é serviço improprio, sendo: § 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade (BRASIL, 1990). 102 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA Da mesma forma que a responsabilidade pelo vício do produto é objetiva, assim também ocorre com os vícios dos serviços: “Art. 23 CDC. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade” (BRASIL, 1990, s.p.). IMPORTANT E A RESPONSABILIDADE CIVIL DE SITES INTERMEDIADORES Mariana Antunes Vieira [....] É muito comum, no contexto do e-commerce, a atuação de sites intermediadores, que se intitulam como meros aproximadores dos consumidores e fornecedores, facilitando a compra e venda virtual. Um site intermediador muito utilizado pelos brasileiros em suas negociações é o Mercado Livre. De acordo com o conceito trazido pelo site wikipédia.org (2015) “o Mercado Livre é uma empresa de tecnologia que oferece soluções de comércio eletrônico para que pessoas e empresas possam comprar, vender, pagar, anunciar e enviar produtos por meio da Internet”, ou seja, ele atua possibilitando a compra e venda virtual em sua totalidade e em troca aufere lucro com a sua utilização como intermediador. Percebe-se que o site ocupa uma posição de intermediador, auxiliando tanto os consumidores quanto os fornecedores para que a relação de consumo seja efetivada. Esses sites intermediadores, em tese, geram uma maior segurança aos consumidores e fornecedores, por se tratarem de sítios eletrônicos que submetem seus usuários à um processo mais burocrático de efetivação de cadastros. Entretanto, mesmo com os benefícios trazidos por esses tipos de site, são comuns as situações em que consumidores se acham lesados, enfrentando prejuízos como a não entrega dos produtos adquiridos ou o recebimento de algo diverso do ofertado, a demora e até mesmo a entrega de produtos ou serviços com vícios de qualidade ou quantidade. Isto posto, é importante averiguar se a empresa intermediadora terá alguma responsabilidade por tais inconvenientes, e caso a resposta seja positiva, como se dará a responsabilização. Nos termos e condições gerais de uso do site Mercado Livre, é determinado que: O Mercado Livre não é fornecedor de quaisquer produtos ou serviços anunciados no site […] O Mercado Livre não se responsabiliza, por conseguinte, pela existência, quantidade, qualidade, estado, integridade ou legitimidade dos produtos oferecidos, adquiridos ou alienados pelos Usuários, assim como pela capacidade para contratar dos Usuários ou pela veracidade dos dados pessoais por eles inseridos em seus cadastros. O termo tenta eximir o site de qualquer responsabilidade civil, no entanto, por se tratar de um contrato de adesão (os contratos eletrônicos interativos são contratos de adesão) não pode trazer cláusulas restritivas ou exclusivas de direito. O próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 25 determina que é vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar por vícios e fatos dos produtos ou serviços, sendo inadmissíveis as cláusulas que afirmam a não responsabilização do sítio eletrônico intermediador. Assim, fica evidente que a cláusula retratada não é válida, não tendo nenhuma aplicabilidade prática. É fácil perceber que os sites intermediadores, como o Mercado Livre, se enquadram perfeitamente no conceito de fornecedor de serviços e os seus usuários no de consumidores, ficando sujeitos às regras do CDC quanto á responsabilização pelos serviços prestados. TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 103 Com tudo isso, é evidente que o posicionamento majoritário recentemente adotado pelos tribunais superiores consiste em afirmar a legitimidade passiva dos sites intermediadores em ações de indenização por danos sofridos pelo consumidor, uma vez que são fornecedores de serviço, respondendo objetivamente segundo o Código de Defesa do Consumidor. FONTE:<http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-civil-e-o-comercio-eletronico,591157.html>. Acesso em: 1 abr. 2019. 4 OFERTA E PUBLICIDADE Agora iremos analisar a respeito da oferta e da publicidade, ou seja, a ligação que existe entre elas. A oferta refere-se aos métodos utilizados para colocar os produtos ou serviços no comercio. Benjamin (1991, p. 273) define a oferta como “sinônimo de marketing, significando todos os métodos, técnicas e instrumentos que aproximam o consumidor dos produtos e serviços colocados à sua disposição no mercado pelos fornecedores. Qualquer dessas técnicas, desde que suficientemente precisa, pode transformar-se em veículo eficiente de oferta vinculante”. Rocha (1992, p. 55) menciona que a oferta poderá manifestar-se por algumas espécies: a) Oferta determinada pode ser dirigida a uma única pessoa, chamada, então, de oferta individual, ou, a várias pessoas, facilmente identificadas por uma relação jurídica base (v.g., a todos os portadores de um determinado cartão de credito, ou a todos os professores de uma dada universidade), denominada de oferta coletiva. b) Oferta indeterminada é aquela feita ao público e o seu traço característico é, justamente, a indeterminação dos destinatários. A oferta indeterminada interessa-nos mais do que outras espécies porque ela seria o principal ato pré-contratual nos contratos de consumo”. A publicidade é a manifestação da oferta, com o objetivo precípuo de promover comercialmente os produtos e serviços disponibilizados no mercado de consumo. Os elementos que definem a publicidade são: necessidade de veicular a informação e objetivo comercial da publicidade. Vamos estudar todos esses pontos? 104 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA 5 OFERTA A oferta está elencada no Art. 30 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.), sendo: Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Observa-se que o Art. 30 do CDC menciona que “a oferta poderá ser veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação” (BOLZAN, 2015, p. 444). Assim, temos que os requisitos da oferta caracterizam-se pela precisão da informação ou publicidade e veiculação da oferta. Um ponto de suma importância a ser analisado é quando afirmamos que a oferta vincula, ou seja, o que é exteriorizado através da publicidade, deverá ser cumprido, sob pena de sanção pela legislação consumerista. Benjamin (1991, p. 2015) preleciona as maneiras que os produtos e serviços podem ser vinculados: “a) primeiro, obrigando o fornecedor, mesmo que se negue a contratar; b) segundo, introduzindo-se (e prevalecendo) em contrato eventualmente celebrado, inclusive quando seu texto o diga de modo diverso, pretendendo afastar o caráter vinculante”. No caso de descumprimento da oferta por parte do fornecedor, o consumidor tem as seguintes alternativas: I) exigir o seu cumprimento forçado; II) aceitar outro produto ou serviço equivalente; III) rescindir o contrato, com a devolução atualizada do que pagou com direito a perdas. Saiba mais, acessando: http://www.advogadosdosul.adv.br/site/index. php/artigos-jornais/sobre-a-oferta-no-cdc.html. Acesso em: 5 abr. 2019. ATENCAO Pertinente à responsabilidade que norteará a oferta, temos que se trata da responsabilidade objetiva, respeitando-se primordialmente, o princípio da boa- fé, por ser o regulamentador das relações de consumo. TÓPICO 3 | RESPONSABILIDADE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA 105 6 PUBLICIDADE A publicidade tem por objetivo primordial promover os produtos e serviços comercialmente. Sendo seus elementos: necessidade de veicular a informação e objetivo comercial da publicidade. O Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, s.p.) define publicidade em: Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Publicidade e propaganda são institutos distintos que tem como única semelhança o fato de se utilizarem de meios de divulgação em massa, como televisão, rádio, jornais, revistas e portais de internet. Enquanto a propaganda teria como objetivo a difusão de uma ideia ou de uma ideologia a publicidade faz a divulgação comercial direta ou indireta de produtos ou serviços. FONTE:http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_ leitura&artigo_id=1082. ATENCAO Importante observarmos que a publicidade ilícita poderá ser dividida em: enganosa e abusiva. O Art. 37, do Código de Defesa do Consumidor define tais tipos de publicidade: Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. 106 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA § 3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço (BRASIL, 1990). Assim, temos que, de acordo com a legislação consumerista, publicidade enganosa por comissão é quando se afirma ou se mostra algo inexistente. E, publicidade enganosa por omissão é quando se deixa de informar dado essencial. Em contrapartida, a publicidade abusiva é aquela que traz informações que ferem valores da coletividade. Segundo Nunes (2017, p. 482): “O caráter da abusividade não tem necessariamente relação direta com o produto ou serviço oferecido, mas sim com os efeitos da propaganda que possam causar algum mal ou constrangimento ao consumidor”. Portanto, a publicidade abusiva é aquela que se realiza com fins contrários à ordem pública, ao direito, à ética e à moral. Ela procura aparentar obediência às normas tradicionais da comunicação social, mas, sob a sua camuflagem, é realmente prejudicial aos interesses dos consumidores e do meio social em que vivem. DICAS VÍDEO: PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA NO CDC – Disponível em: http:// fatojuridico.com/2015-2/. 107 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A importância primordial sobre a responsabilidade dos fornecedores pelo fato do produto e serviço. • Definição de produtos e serviços impróprios. • Responsabilidade solidaria dos fornecedores. • A responsabilidade pelo vício do produto e serviço. • Definição de vício diante do Código de Defesa do Consumidor. • Responsabilidade objetiva dos fornecedores. • Excludentes de responsabilidade dos fornecedores. • Oferta. • Vinculação da oferta. • O que poderá ser exigido quando a oferta não é cumprida. • Publicidade. • Enganosa. • Por comissão. • Por omissão. • Abusiva. 108 1 Em caso de vicio do produto, o consumidor poderá exigir sua substituição por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, se o fornecedor não resolver o problema em: a) ( ) 15 dias. b) ( ) 30 dias. c) ( ) 5 anos. d) ( ) 10 anos. 2 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A ignorância do comerciante sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos o exime de reponsabilidade. b) ( ) A garantia contratual de adequação do serviçodepende de termo expresso e deverá ter em destaque clausula limitativa da garantia legal. c) ( ) O abuso de direito praticado em detrimento do consumidor é fundamento para que o juiz desconsidere a personalidade jurídica do fornecedor. d) ( ) Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição pelo período de cinco anos contados da data de fabricação do produto. AUTOATIVIDADE 109 TÓPICO 4 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Importante observarmos que a pessoa jurídica é distinta da pessoa de seus sócios e, sendo assim, os bens da pessoa jurídica não devem confundir-se com os bens dos sócios. A Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica (Disregard of Legal Entity), teve origem no direito alemão, sintetizada por Rolf Serick. A doutrina define: A teoria da desconsideração da personalidade jurídica legitima, portanto, a retirada do manto protetor que a personalidade de uma empresa possui para atingir o patrimônio do sócio fraudador em caso de eventual ação proposta em razão de prejuízos causados em nome da entidade “fraudadora (BOLZAN, 2015, p. 423). Em nossa legislação, o Código de Defesa do Consumidor contempla tal desconsideração no Art. 28. Vejamos: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração” (BRASIL, 1990, s.p.). E, no Código Civil, encontra-se no Art. 50: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica (BRASIL, 2002). 110 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA E, quais seriam os requisitos para requerermos a desconsideração da personalidade jurídica? Vamos a eles: • Abuso da personalidade jurídica, em decorrência do desvio de finalidade e confusão patrimonial. • Requerimento da parte ou Ministério Público. Portanto, toda vez que a personalidade jurídica for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, requeremos a desconsideração da personalidade jurídica. 2 TEORIAS: MAIOR E MENOR As teorias maior e menor nos informam os aspectos do instituto da desconsideração da personalidade jurídica. Doutrinadores definem as teorias maior e menor: A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica possui duas formulações, a objetiva e a subjetiva. A primeira delas trata da confusão patrimonial, situação que possui maior facilidade de ser comprovada. Já a formulação subjetiva pressupõe a fraude e o abuso de direito, elementos estes com maior dificuldade de serem comprovados, pois a intenção que o sócio possui em frustrar os interesses do credor deve ser demonstrada. Para esta teoria, o simples inadimplemento de obrigações para com os credores não configura a desconsideração. A teoria maior não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade, ou a demonstração de confusão patrimonial (NEVES, p. 145, 2015). Em contrapartida, a definição de teoria menor: A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica é muito menos ordenada do que a teoria maior, pois a seu bom emprego pressupõe o simples inadimplemento para com os credores, sem ao menos analisar os reais motivos que levaram a sociedade a deixar de se obrigar perante terceiros. Também é aplicada a teoria menor nos casos de insolvência ou falência da pessoa jurídica, pouco importando se o sócio utilizou fraudulentamente o instituto, se houve abuso de direito, tampouco se foi configurada a confusão patrimonial; a preocupação maior é não frustrar o credor da sociedade (AMARAL, 2016. p. 205). TÓPICO 4 | DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 111 IMPORTANT E O Código Civil adotou a teoria maior da desconsideração nas modalidades subjetiva e objetiva, em seu art. 50. O Código de Defesa do Consumidor adotou a teoria menor, bastando a insolvência do fornecedor para legitimar a desconsideração da personalidade jurídica. 3 PROTEÇÃO COMERCIAL As relações contratuais, anterior ao surgimento do Código de Defesa do Consumidor eram tuteladas pelo Código Civil, onde havia uma bilateralidade nas obrigações assumidas. Com o consumismo crescente passaram a existir várias modalidades de contratos de consumo e, com isso a necessidade de uma maior proteção ao consumidor, surge assim, em 1990, o Código de Defesa do Consumidor. 4 PRÁTICAS COMERCIAIS ABUSIVAS As práticas comerciais abusivas referem-se ao comportamento que estiver em desacordo com a boa-fé. Benjamim (1991, p. 375) define, como sendo “a desconformidade com os padrões mercadológicos de boa conduta em relação ao consumidor”. No mesmo sentido, Cavalieri Filho (2012, p. 149): Práticas abusivas são ações ou condutas do fornecedor em desconformidade com os padrões de boa conduta nas relações de consumo. São práticas que, no exercício da atividade empresarial, excedem os limites dos bons costumes comerciais e, principalmente, da boa-fé, pelo que caracterizam o abuso do direito, considerando ilícito pelo art. 187 do código civil. Por isso são proibidas. O Código de Defesa do Consumidor, em seu Art. 39 preconiza: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; 112 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); IX - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério; IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) X - (Vetado). X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Incluído pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999 XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento desua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. (Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999) XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. (Incluído pela Lei nº 13.425, de 2017) (BRASIL, 1990). As práticas abusivas não estão disciplinadas somente no Art. 39 do CDC, mas em todo o código. São práticas abusivas: a colocação no mercado de produto ou serviço com alto grau de nocividade ou periculosidade (artigo 10); a falta de componentes e peças de reposição adequadas (artigo 21); a comercialização de produtos ou serviços impróprios (artigo 18, parágrafo 6º, e 20, parágrafo 2º); a cobrança irregular de dívidas de consumo (artigo 42); a utilização de cláusula contratual abusiva (artigo 51); dentre outras. FONTE: <https://www.conjur.com.br/2018-mai-12/julio-oliveira-relacao-cliente-fornecedor- conceito-justa-causa>. Acesso em: 1 abr. 2019. ATENCAO TÓPICO 4 | DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 113 5 CLÁUSULAS ABUSIVAS As cláusulas abusivas são aquelas clausulas que oneram de forma excessiva o consumidor e, por esse motivo devem ser declaradas nulas pelo magistrado. O Art. 51 do Código de Defesa do Consumidor traz em seu escopo um rol exemplificativo de cláusulas abusivas: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias (BRASIL, 1990, s.p.). A doutrina preleciona: São cláusulas abusivas as que caracterizam lesão enorme ou violação ao princípio da boa-fé objetiva, funcionando estes dois princípios como cláusulas gerais do Direito, a atingir situações não reguladas expressamente na lei ou no contrato. Norma de Direito Judicial impõe aos juízes torná-las operativas, fixando a cada caso a regra de conduta devida (AGUIAR JR, 1994, s.p.). E, ainda: No regime jurídico do CDC, as cláusulas abusivas são nulas de pleno direito porque contrariam a ordem pública de proteção ao consumidor. Isso quer dizer que as nulidades podem ser reconhecidas a qualquer tempo e grau de jurisdição, devendo o juiz ou tribunal pronunciá-las ex officio, porque normas de ordem pública insuscetíveis de preclusão (NERY JR, s.d., s.p.). 114 UNIDADE 2 | LEGISLAÇÃO CONSUMEIRISTA A legislação consumerista objetiva a proteção do consumidor em todas as fases da relação de consumo, expressamente garantindo a sua posição de vulnerabilidade perante o fornecedor. Nos contratos de consumo, a lei proíbe que ao consumidor sejam impostas cláusulas consideradas abusivas, que o coloquem em situação de desvantagem perante o fornecedor contratante. A abusividade decorre da afronta ao princípio da boa-fé objetiva, norma fundamental que permeia as relações firmadas entre consumidores e fornecedores. FONTE:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=11277&revista_caderno=10>. Acesso em: 1 abr. 2019. ATENCAO 6 CONTRATOS DE ADESÃO Salutar mencionarmos que o contrato de adesão é um instrumento cujas cláusulas são preestabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte, ou seja, o fornecedor. Não existe um “acordo de vontades”, por isso tais contratos tem uma atenção especial por parte da legislação consumerista. Nos contratos de adesão não há espaço para negociação tangente aos termos do contrato. O fornecedor elabora o contrato como um todo, e o consumidor, representando a parte vulnerável do negócio, pode apenas aceitar este contrato ou não, sendo que o ato de aceitá-lo é representado através da sua adesão ao contrato. Os contratos de adesão estão elencados no Art. 54 do Código de Defesa do Consumidor. Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo (BRASIL, 1990). IMPORTANT E O Contrato de adesão pode se mostrar bastante perigoso, haja vista que, por inexistir discussão para elaboração do contrato, o fornecedor acaba que inserindo cláusulas manifestamente vantajosas ao seu favor e desvantajosas para o consumidor, por exemplo: cláusula que desonerem o fornecedor de uma responsabilidade pelo fato ou vício do produto ou serviço, cláusula de juros abusivos, cláusula de eleição de foro em favor do estipulante e dentre outros (MIRAGEM, 2009, p.122). 115 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A desconsideração da personalidade jurídica surge no direito alemão. • O patrimônio da pessoa jurídica é distinto do patrimônio dos sócios. • Em algumas situações requeremos a desconsideração da personalidade jurídica. • Teorias que embasam o pedido de desconsideração da personalidade jurídica: teoria maior e menor. ° Proteção comercial. ° Práticas comerciais abusivas. ° Cláusulas abusivas. ° Contratos de adesão. 116 1 São vedadas as práticas comerciais consideradas abusivas pelo art. 39 do CDC e as práticas previstas no artigo podem ser tanto contratuais, como pré-contratuais e pós contratuais. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. 2 No sistema protetivo do consumidor: a) ( ) Os serviços públicos são excluídos, já que o objeto de leis próprias. b) ( ) O acesso ao poder judiciário é sempre gratuito aos consumidores, para facilitação da defesa de seus interesses. c) ( ) Haverá, sempre, a inversão do ônus probatório em benefício do consumidor, em face de sua presumida hipossuficiência, que é absoluta. d) ( ) As cláusulas de eleição de foro são tidas por inexistentes em qualquer hipótese, não gerando efeitos jurídicos. e) ( ) É garantido o direito de modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. 3 Ao tratar da desconsideração da pessoa jurídica, o CDC estabelece que as sociedades integrantes dos grupos societários, as sociedades controladas e as consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações previstas no código. a) ( )Certo. b) ( ) Errado. 4 Acerca dos direitos do consumidor, julgue os itens seguintes: Segundo a jurisprudência do STJ, a toeira menor da desconsideração da personalidade jurídica incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. a) ( ) Certo. b) ( ) Errado. AUTOATIVIDADE 117 UNIDADE 3 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a base constitucional, os conceitos e direitos básicos do direito do trabalho; • analisar os princípios que norteiam a legislação trabalhista, bem como sua aplicação perante a Consolidação das Leis Trabalhistas; • adquirir uma visão geral a respeito dos conceitos: empregado, empre- gador, trabalhador, vínculo trabalhista, contrato de trabalho e direitos trabalhistas; • conhecer as verbas rescisórias que o empregado tem direito ao ter seu contrato de trabalho rescindido. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITO DO DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS TÓPICO 2 – CONTRATOS TRABALHISTAS TÓPICO 3 – REMUNERAÇÃO x SALÁRIO TÓPICO 4 – VERBAS TRABALHISTAS 118 119 TÓPICO 1 CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO No presente tópico analisaremos os conceitos primordiais que perfazem a legislação trabalhista. Serão examinadas, também, a área do Direito em que ela se situa e a divisão interna que caracteriza o ramo justrabalhista. O trabalho durante a evolução da humanidade foi caminhando para o que temos hoje. Antes um trabalho desonroso, sem qualquer benefício para o trabalhador, hoje regras de proteção para evitar que o trabalhador, sendo a parte mais fraca dessa relação, seja prejudicado. O Direito do Trabalho, como sistema jurídico coordenado, tem na relação empregatícia sua categoria básica, a partir da qual se constroem os princípios, regras e institutos essenciais desse ramo jurídico especializado, demarcando sua característica própria e distintiva perante os ramos jurídicos correlatados” (DELGADO, 2017). Portanto, analisaremos, além do seu conceito, os princípios do Direito do Trabalho e sua natureza jurídica, que é um ramo jurídico especializado, que regula a relação laborativa da sociedade, é necessário que se tenha a compreensão de suas características essenciais. Passamos a estudar! UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 120 2 CONCEITO E FUNÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO A Justiça do Trabalho foi efetivamente criada no dia 1º de maio do ano de 1941, pelo Decreto-lei nº 1.237. Antes disso, porém, já existiam no país as Juntas de Conciliação e Julgamento, criadas em 1932, porém foi apenas em 1946 que a Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário. O Direito do Trabalho é ramo que cuida das relação trabalhistas, relações entre empregado e empregador. Não engloba todos os trabalhadores, por exemplo, os trabalhadores eventuais, estagiários, autônomos, além dos servidores públicos. Esses terão regras próprias. “O direito do Trabalho visa à realização de valores sociais, não econômicos, com o objetivo de preservar um valor universal, que é a dignidade da pessoa humana” (GURGEL, 2010, s.p.), princípio previsto da nossa Constituição Federal. A caracterização da relação empregatícia é, portanto, procedimento essencial ao Direito do Trabalho, à medida que propiciará o encontro da relação jurídica básica que deu origem e assegura desenvolvimento aos princípios, regras e institutos justrabalhistas e que é regulada por esse ramo jurídico especial (DELGADO, 2017, p. 289). Porém, é preciso saber a diferença entre trabalhador e empregado, portanto, estudaremos adiante. Antes vamos analisar os princípios que regem o Direito do Trabalho. 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO Os princípios têm a ideia de começo, de onde vem algo. No direito, os princípios facilitam a interpretação das normas, auxiliando o legislador e o aplicador das normas postas. O doutrinador Francisco de Amaral (2005, p .445) leciona que “os princípios são norteadores para uma regulamentação jurídica, isto é, são critérios para ação e, também, constituição de normas jurídicas, visando unificar o sistema de normas”. Em resumo, são diretrizes básicas a serem seguidas. Os princípios têm natureza normativa, ou seja, são capazes de regular um caso concreto, servindo de base para uma decisão judicial. Entre uma norma e um princípio, este último deve prevalecer. A CLT, em sua ascendência visionária, já diz isso desde 1943, no parágrafo único do art. 8º. A moderna doutrina (pós-positivista) chega a classificar as normas em duas categorias: normas-princípio e normas-disposição (CISNEIROS, 2016, p. 25). Temos diversos princípios que regem o Direito do Trabalho. Trataremos dos principais. TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS 121 a) PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO OPERÁRIO OU PRO MISERO Sabemos que o empregado em relação ao empregador sempre será a parte mais fraca dessa relação. Portanto, esse princípio nos traz que, se houver alguma dúvida, a interpretação que deve prevalecer é a mais favorável ao empregado. b) PRINCÍPIO DA NORMA MAIS FAVORÁVEL Amauri Mascaro (1977, p. 235, apud OLIVEIRA JÚNIOR, 2017, s.p.) revela que, ao contrário do direito comum, o direito do trabalho, quando houver muitas normas sobre a mesma matéria, a pirâmide para se chegar à conclusão de qual norma aplicar, não serão a Constituição Federal, leis federais, convenções coletivas ou regulamento da empresa, obrigatoriamente, mas, sim, aquela norma que forma mais favorável dentre as várias diferentes em vigor. Mais uma vez o princípio busca beneficiar o empregado nas relações empregatícias, por ser a parte que é mais fraco nessa relação. c) PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DAS GARANTIAS LEGAIS DO TRABALHADOR Esse princípio afirma que o trabalhador não pode renunciar direitos durante o contrato de trabalho. Podemos citar como exemplo o direito às férias que está previsto na nossa legislação. O trabalhador não poderá renunciar a esse direito. “O empregado não pode, em regra, “negociar” individualmente a diminuição ou eliminação de um direito, tampouco “renunciar”. A negociação é fruto de uma transação (concessões recíprocas), enquanto que a renúncia deriva de um ato unilateral” (CISNEIROS, 2016, p. 30). Para se ter garantia, o Ministério do Trabalho fiscaliza para que não haja coação por parte dos empregadores. d) PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE SALARIAL “O salário é alvo de garantias legais, que vão desde a impenhorabilidade (art. 833, IV, do CPC/2015, correspondente ao art. 649, IV, do CPC/1973 c/c OJ 153 da SDI-2) e a proteção de descontos patronais (art. 462 da CLT), até a própria irredutibilidade (art. 7º, VI, da CF)” (CISNEIROS, 2016, p. 33). Portanto, o empregador não pode reduzir o salário do empregado, por ser uma garantia constitucional. O salário tem caráter alimentar, assim o empregado não pode ter prejuízo caso venha ser diminuído o valor de seus rendimentos mensais. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 122 e) PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO Esse princípio busca proteger o contrato de trabalho, que em regra devem ser feitos por prazo indeterminado. f) PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE “O contrato de trabalho é um “contrato realidade” (expressão consagrada pelo saudoso Orlando Gomes), podendo ser pactuado expressa ou tacitamente – art. 442 da CLT. A sua existência não depende de forma específica. O princípio da primazia da realidade reina soberano no Direito do Trabalho, sempre na proteção do obreiro” (CISNEIROS, 2016, p. 34). É a busca da verdade em benefício do empregado. UNI Um bom exemplo do princípio da primazia da realidade se encontrana Súmula 437, IV, do TST, que trata dos empregados com jornada de 6 horas, mas que realizam horas extras. Ora, quem trabalha 6 horas tem direito a apenas 15 minutos de intervalo intrajornada, diferentemente daquele que labora mais de 6 horas, que tem direito a no mínimo 1 hora de intervalo. A concessão do intervalo, diz a referida Súmula, deve levar em conta a jornada real. ITEM IV DA SÚMULA 437 TST – Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT. Observe-se que empregador e empresa são conceitos que guardam entre si uma relação de gênero e espécie, uma vez que empregador é uma qualificação jurídica ampla, e empresa é uma das formas, a principal, dessa qualificação, ao lado de outras, que abrangem instituições sem fins lucrativos – evidentemente não empresariais – (CISNEIROS, 2016, p. 34). 4 DISTINÇÃO DE TRABALHADOR E EMPREGADO Todo empregado é um trabalhador, mas nem todo trabalhador é um empregado, ou seja, o trabalhador somente será empregado quando preencher os quatro requisitos a saber: pessoalidade, não eventualidade, subordinação e remuneração, que será estudado no próximo tópico. Com relação ao conceito de empregado, a Consolidação das Leis do Trabalho traz em seu artigo 3º, vejamos: "toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário", portanto, empregado é o trabalhador subordinado, que recebe ordens, é pessoa física que trabalha todos os dias ou periodicamente, ou seja, não é um TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS 123 trabalhador que presta seus serviços apenas de vez em quando (esporadicamente) e é assalariado. Desta forma, EMPREGADO é toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Imaginemos uma fazenda (que passaremos a chamar de propriedade rural) em que um animal do rebanho bovino apresente certo comportamento indicando que possivelmente está com a saúde debilitada. Para tentar resolver a situação, o proprietário contrata um médico-veterinário para examinar animal e fazer o diagnóstico e definir o tratamento. Sabendo que o tratamento durará alguns dias, o peão que trabalha na propriedade rural cuidará diariamente do animal conforme orientação do médico-veterinário. Este simples caso permite-nos visualizar a diferença entre trabalhador e empregado. ATENCAO Portanto, com o exemplo prático fica mais simples fazer a diferença entre os dois conceitos. Analisaremos agora os requisitos citados acima para ser enquadrado no termo “empregado”. 5 CONCEITO DE EMPREGADOR A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que “considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços” (art. 2º). A empresa é comumente conceituada como uma atividade organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços destinados ao mercado, com objetivo de lucro. No âmbito do Direito do Trabalho, a CLT expressamente estabelece a exigência de que ela assuma os riscos do negócio. Assim, a empresa deve assumir tanto os resultados positivos quanto os negativos do empreendimento, não podendo estes últimos serem transferidos ao empregado. O conceito legal de empregador abarca, ainda, as autarquias que não estejam submetidas a regime próprio (art. 7º, alínea d, da CLT), as empresas públicas, as sociedades de economia mista e “outras entidades que explorem atividade econômica”, pessoas jurídicas de direito privado, mas com participação majoritária do Estado (art. 173, parágrafo 1º, da CF). Entre essas outras entidades enquadram-se as fundações públicas, inclusive de direito público, que adotam regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CAMINO, 2004, p. 213). UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 124 ATENCAO Temos ainda no parágrafo 1º do Art. 2º da CLT os equiparados aos empregadores, vejamos: Art. 2º ... § 1º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. Portanto, não serão empregadores somente as empresas, mas também os profissionais liberais, associações, entidades etc. Todos esses poderão empregar. 6 CRITÉRIOS DE CARACERIZAÇÃO DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA Agora que já sabemos o conceito de empregado e empregador vamos aprender o que é uma relação de emprego. Romar (2018, p. 128) descreve muito bem esse conceito: A relação de emprego é uma espécie de relação de trabalho, que se baseia no nexo entre empregador e empregado, caracterizado pela prestação pessoal de serviços, de forma não eventual e subordinada, mediante o pagamento de salário. É a relação jurídica que tem como fato social original o trabalho subordinado, prestado com pessoalidade, mediante remuneração, e que tem como disciplina jurídica o conjunto humano não eventual e de normas que compõem o Direito do Trabalho. Para que fique claro o entendimento da relação de emprego devemos analisar primeiramente as suas características: a) Pessoalidade O trabalho prestado deve ser pessoal, ou seja, a própria pessoa deve desenvolver, não poderá terceirizar o serviço para que outro o execute. Assim, podemos afirmar que o que se contrata não é o serviço como resultado, mas o serviço prestado pessoalmente por alguém. Observe-se que empregador e empresa são conceitos que guardam entre si uma relação de gênero e espécie, uma vez que empregador é uma qualificação jurídica ampla, e empresa é uma das formas, a principal, dessa qualificação, ao lado de outras, que abrangem instituições sem fins lucrativos –evidentemente não empresariais – (NASCIMENTO, NASCIMENTO, 2014, p. 504). TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS 125 b) A não eventualidade O serviço prestado deve ser contínuo, não eventual. “As obrigações das partes se prolongam no tempo, com efeitos contínuos” (ROMAR, 2018, p. 131). Importante esclarecer que o serviço não precisa ser prestado todos os dias. Apenas que ele tenha um caráter de permanência, não importando o tempo de duração, não podendo ser um trabalho esporádico. c) A subordinação A subordinação nada mais é do que “a sujeição do empregado às ordens do empregador, é o estado de dependência do trabalhador em relação ao seu empregador” (ROMAR, 2018, p. 133). Após a entrada em vigor da Lei 12.551/2011, o legislador passou a reconhecer que não se distingue entre trabalho realizado no estabelecimento do empregador, o executado no domicílio do empregado, e o realizado a distância, desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego, prevendo que os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio (art. 6º, parágrafo único, CLT) (ROMAR, 2018, p. 134). ATENCAO d) Onerosidade (ou remuneração) Todo trabalho prestado deve ser pago, não importando o quanto a ser pago, porém para caracterizar a relação de emprego é necessário que haja uma contraprestação. De um lado se tem o trabalho prestado e de outro o pagamento (remuneração). Mauricio Delgado (2017, p. 322) acrescenta: À medida que se sabe que o salário pode ser pago em dinheiro ou parcialmente em utilidades 9art. 458, CLT), pode ser pago por dia, semana, quinzena ou mês (art. 459, CLT), pode ser calculado segundo modalidade fica ou formula variável de computo (art. 483, “g”, CLT), à medida que, assim, a contraprestação econômica do empregador aoempregado pode assumir formas distintas e variadas na prática empregatícia concreta, percebe-se, que, do ponto de vista objetivo, a onerosidade dificilmente se oculta em uma dada relação de trabalho investigada: de uma forma ou de outra, a contraprestação onerosa despontará ao longo da prestação do trabalho. Veja que o trabalho na relação de emprego, é de natureza produtiva, portanto, não há que se falar em gratuidade. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 126 e) Alteridade A alteridade nada mais é do que o risco pertencer apenas ao empregador. Muitos doutrinadores não consideram a alteridade como um requisito, porém de acordo com Renzeti Filho (2015, p. 22) “está previsto no caput do artigo 2º da CLT que determina que o empregador é aquele que assume os riscos da atividade econômica”. 7 MODALIDADES ESPECIAIS DE TRABALHO Prezado acadêmico, está pronto para seguir adiante com nossos estudos acerca de legislação? Se sim, vamos lá! A seguir vamos estudar as modalidades de trabalho que não são considerados empregados pela nossa legislação, portanto, são apenas trabalhadores, mas não empregados. a) TRABALHO AUTÔNOMO O trabalhador autônomo não possui o critério de subordinação, que é um dos elementos essenciais para se estabelecer vínculo de emprego. “O prestador de serviços desenvolve o serviço ou obra contratada, de forma autônoma, com profissionalidade e habitualidade, atuando por conta e risco próprio, assumindo o risco da atividade desenvolvida” (RENZETTI, 2015, p. 24). b) TRABALHO EVENTUAL [...] podemos dizer que o trabalho eventual tem a ver com a necessidade ocasional da atividade do trabalhador para o empreendimento. Nesta hipótese, em regra, não há fixação do trabalhador para o empreendimento. Nesta hipótese, em regra, não há fixação do trabalhador a um único tomador, e a natureza do trabalho corresponde a eventos ocasionais, certos determinados e de curta duração (RENZETTI, 2015, p. 24). c) TRABALHO AVULSO “Com a intermediação do sindicato ou do Órgãos de Gestão de Mão de Obra (Ogmo), o trabalhador avulso presta serviços a diversos tomadores, sem se fixar especificamente a nenhum deles. O trabalhador avulso é comumente encontrado no setor portuário” (RENZETTI, 2015, p. 24). Muito embora o inciso XXXIV do art. 7ª da CF/1988 assegure a igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo permanente de emprego e o avulso, este não é empregado. A intenção do constituinte foi simplesmente assegurar ao avulso os mesmos direitos concedidos ao empregado com vínculo permanente de emprego” (RENZETTI, 2015, p. 24). ATENCAO TÓPICO 1 | CONCEITO: DIREITO DO TRABALHO E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS 127 d) TRABALHO VOLUNTÁRIO O trabalho voluntário possui uma legislação própria, a Lei nº 9.608/1988, que disciplina todas as garantias e direitos dos trabalhadores dessa categoria. Em 2016, alguns artigos sofreram alterações, dentre eles estão os três primeiros artigos que são de suma importância para o entendimento. Vejamos: Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa. Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim. Art. 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de seu exercício. Art. 3º O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo único. As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário. Portanto, o trabalhador dessa categoria não recebe remuneração por seus serviços, apenas pode ser ressarcido das despesas que eventualmente tenha. Dentre essas modalidade temos outras, como o estágio. Este também possui lei própria disciplinando (Lei nº 11.788/08) e nada mais é do que a preparação do estudante ao mercado de trabalho. “Somente são estagiários alunos matriculados em instituições ou de ensino público ou particular, podendo ser de nível superior ou nível médio (MINUCI, 2014, s.p.)”. O estágio deve ser compatível com o curso que o estudante está cursando, não podendo ser em áreas distintas. 128 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Empregados, empregadores e trabalhadores possuem conceitos diferentes. • Temos vários princípios que norteiam o Direito do Trabalho. • Existem alguns critérios para a caracterização da relação empregatícia. • Ainda temos modalidades de trabalho que não estão dentro do conceito de empregado. 129 1 Os salários devem ser pagos ao empregado, independentemente de a empresa ter auferido lucros ou prejuízos, uma vez que os riscos da atividade econômica pertencem única e exclusivamente ao empregador. Tal assertiva baseia-se no requisito caracterizador da relação de emprego denominado: a) ( ) Pessoalidade. b) ( ) Alteridade. c) ( ) Não eventualidade. d) ( ) Onerosidade. e) ( ) Subordinação. 2 A relação de trabalho é diversa da relação de emprego, visto que essa última deve conter requisitos previstos na legislação trabalhista para sua configuração. Segundo esses requisitos, haverá relação de emprego, na situação de: a) ( ) Contrato de estágio. b) ( ) Empreiteiro de construção civil autônomo. c) ( ) Trabalho voluntário para instituição de caridade. d) ( ) Acompanhante de idoso, remunerado e com trabalho diário. e) ( ) Associado de cooperativa. AUTOATIVIDADE 130 131 TÓPICO 2 CONTRATOS TRABALHISTAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico. Seguiremos com nosso estudo acerca de legislação. No tópico anterior mencionamos os conceitos básicos do direito do trabalho, bem como os conceitos de empregado, empregador e as suas relações. Verificamos como se dá a relação entre empregado e empregador e ainda aprendemos o que são os princípios e quais são os principais no Direito do Trabalho. Neste Tópico 2 estudaremos os contratos de trabalho, de que forma devem ser confeccionados e quais as modalidade que a lei permite. 2 CARACTERÍSTICAS DO CONTRARO DE TRABALHO O contrato de trabalho é o documento feito entre empresa e empregado que contém as regras e direitos trabalhistas. Nele se estipula a função do trabalhador, carga horária e demais direitos. O artigo 442 disciplina o conceito de contrato de trabalho: Art. 442 - Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. O comportamento dos sujeitos dos contratos de trabalho deve respeitar um conjunto de deveres previstos pelo direito positivo, tanto o empregado como o empregador, e boa-fé, tanto no período pré-negocial como na constância de contratos e na fase da extinção dos contratos, e o comportamento que contrariar o princípio estará em desacordo com o direito. Não é por outra razão que nos contratos individuais de trabalho é nulo todo ato destinado a desvirtuar, impedir ou fraudar as disposições da lei (CLT, art. 9º), nenhum interesse de classe ou particular deve prevalecer sobre o interesse público (CLT, art. 8º, parágrafo único), as relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes em tudo que não contravenha às disposições de proteção ao trabalho (CLT, art. 444), e nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, ainda assim 132 UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente esta garantia (CLT, art. 468). É o motivo, também, pelo qual constitui justacausa para a rescisão justificada do contrato uma série de atos subjetivos do empregado (CLT, art. 482) e do empregador (CLT, art. 463)” (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 440). A legislação trabalhista prevê diversos tipos de contrato, e no momento da contratação a empresa deve analisar qual é a sua necessidade e escolher o que mais lhe convier. Falaremos agora sobre os quatro tipos mais usados. 2.1 CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO Esse contrato de trabalho deve ser uma exceção à regra. O parágrafo 2º do artigo 443 traz as hipóteses em que esse contrato deve ser pactuado: § 2º O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de caráter transitório; c) de contrato de experiência. Ao lado desse conjunto específico, pode-se arrolar uma quarta hipótese normativa de pactuação, consistente nos contratos de duração prefixada tipificados por legislação extravagante à CLT, como ocorre com os contratos de atleta profissional de futebol, artista profissional e outros. “A partir da Lei nº 9.601/98 surgiu uma quinta hipótese de pactuação a termo, abrangente de qualquer profissão ou categoria profissional e não submetida às restrições do art. 443 da CLT: trata-se do contrato provisório, dotado de direitos trabalhistas ainda mais restritos do que os característicos aos demais contratos a termo” (DELGADO, 2017, p. 613). 2.2 CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO Nascimento e Nascimento (2014) afirma que o contrato por prazo indeterminado é o mais comum, sendo aquele em que o empregado comparece em dias e horários pré-determinados à empresa, até que ocorra a rescisão contratual. Ele pode, ainda, ser acordado sob a forma de regime de tempo parcial, que é o contrato em que a jornada de trabalho é reduzida. Essa modalidade de contrato de trabalho deve prevalecer no ordenamento jurídico pelo princípio da continuidade de empregado que já falamos no tópico anterior. Portanto, sempre que possível, a empresa opta por essa modalidade. TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS 133 Prazo Indeterminado Trata-se da modalidade contratual mais comum entre empregado e empregador. Nesse caso não existe evento previsível a pôr termo a relação contratual, facultando a qualquer uma delas mediante prévio aviso a rescisão do contrato Prazo Determinado CLT Lei 9.601/98 Temporário Experiência 2 anos 2 anos 3 meses 90 dias Nos serviços cuja natureza ou transitoriedade justifiquem; Atividades de caráter transitório. Não necessita justificativa, salvo determinação em contrato coletivo de trabalho. Necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente; Acréscimo extraordinário de serviço. Não é necessário justificar a contratação. Direta entre empregado e empregador Direta entre empregado e empregador Por meio de empresa interposta (terceirização) Direta entre empregado e empregador Uma prorrogação, desde que não ultrapasse 2 anos no total Mais de uma prorrogação, desde que observado o limite de 2 anos Uma prorrogação autorizada pelo TEM Uma prorrogação desde que não ultrapasse 90 dias no total Não há formalidade Contrato escrito Contrato escrito Não há formalidade FONTE: Rodrigues (2017, s.p.) 2.3 CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO Os contratos de trabalho temporário são sempre feitos por uma empresa intermediária, portanto, temos nessa relação a empresa que está contratando, a empresa intermediadora e o trabalhador, diferente dos outros tipos de contrato. O prazo normal do contrato pode ser de 180 dias, sendo eles consecutivos ou não. Mas, quando necessário também se pode prorrogar o contrato por no máximo mais 90 dias. Para ser feita a prorrogação, a empresa deve comprovar o motivo, e a se realmente é necessária essa prolongação (FERNANDES, 2019, s.p.). Geralmente, esses contratos são efetuados em datas comemorativas, como Páscoa ou Natal em que o movimento de clientes aumenta e a empresa contrata para atender a essa demanda. Porém, nada impede que sejam feitos em outras datas. QUADRO 1 - CONTRATO DE TRABALHO 134 UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 2.4 CONTRATO DE TRABALHO EVENTUAL Trabalho eventual é aquele que não possui caráter de permanência, sendo esporádico. Também chamado de ocasional, é exigido em caráter absolutamente temporário ou transitório, cujo exercício não se integra à finalidade da empresa. A principal diferença do contrato de trabalho eventual para o temporário é que nesse último gera vínculo de emprego, ou seja, o trabalhador possui carteira profissional devidamente assinada pela empresa, já no trabalho eventual não gera vínculo de emprego. Como podemos verificar temos diversas modalidade de contrato de trabalho. Estudamos os mais usados pelos empregadores. Por fim, é importante sabermos ainda que a Reforma Trabalhista de 2017 incluiu mais alguns modelos de contratos como, por exemplo, o teletrabalho e o contrato intermitente. Teletrabalho Uma prestação de serviços pode ser considerada teletrabalho quando, na maior parte do tempo, o trabalho é realizado num local diferente das dependências do empregador. Para isso, devem ser utilizadas tecnologias de informação e de comunicação (Skype, Google, Hangouts, Zoom, etc.) que não possam se caracterizar como trabalho externo. O comparecimento presencial ocorrido eventualmente, não descaracteriza o regime de teletrabalho. É comum que estes profissionais, uma vez ou outra, tenham a necessidade de participar de reuniões presenciais. A prestação de serviços em regime de teletrabalho deve constar expressamente no contrato individual de trabalho. Existindo acordo entre as partes, a alteração entre o regime presencial e o teletrabalho pode ocorrer, precisando ficar registrado em aditivo contratual. Contrato de trabalho intermitente Existindo subordinação e quando a prestação de serviços não é contínua, o regime de trabalho é considerado intermitente. A alternância de períodos de trabalho e inatividade, podem ser determinados em horas, dias ou meses. Independentemente do tipo de atividade (com exceção para os aeronautas, que possuem legislação própria). Neste caso, é necessário ser especificado o valor da hora de trabalho no contrato de trabalho. Este valor não pode ser inferior ao valor hora do salário mínimo vigente ou ao valor hora do salário de empregados com a mesma função, em regime intermitente ou não. A convocação feita pelo empregador deve ser notificada com três dias de antecedência. O empregado tem um dia útil para responder. A ausência de resposta será considerada uma recusa. Além das formas comuns de rescisão, o contrato de trabalho intermitente pode ser rescindido caso não ocorram solicitações de prestação de serviço por um período de 12 meses. FONTE:<https://www.todacarreira.com/tipos-contratos-trabalho-modalidades-criadas- alteracoes-reforma-trabalhista/ > Acesso em: 7 jun. 2017. ATENCAO TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS 135 Acadêmico, agora que já conhecemos os principais tipos de contratos, passaremos a analisar de que forma o contrato pode ser suspenso ou interrompido. 3 SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO Por causa do princípio da continuidade do trabalho que vimos acima, existem determinadas vezes em que o contrato continua em vigor, porém não há prestação de serviços por parte do trabalhador. Nesses casos chamamos de interrupção ou suspensão. Cisneiros (2016, p. 75), assim define: Suspensão – Durante a suspensão do contrato, as principais obrigações das partes ficam paralisadas, sustadas, sem efeito. O empregado não presta serviços, não se coloca à disposição do empregador. Este, por sua vez, não paga salário. Interrupção – Durante a interrupção do contrato, apenas a principal obrigação do empregado fica paralisada, sustada, sem efeito. O empregado não presta serviços, não se coloca à disposiçãodo empregador. Este, contudo, tem que pagar salário. Veja que a principal diferença entre a suspensão e a interrupção do contrato de trabalho se dá em relação ao pagamento ou não do salário. 3.1 INTERRUPAÇÃO Como já mencionado, no caso da interrupção, o trabalhador não presta serviço, mas recebe salário e o período conta como serviço prestado para fins de aposentadoria. Cessado o motivo ensejador da interrupção, o empregado retornará ao serviço, de imediato, com a garantia de receber todas as vantagens que tenham sido atribuídas à sua categoria. Durante o período em que o contrato estiver interrompido, o empregador só poderá dispensar o empregado por justa causa, bastando que este pratique um ato faltoso (RENZETTI, 2015, p. 89). Sabendo como se dá a interrupção, precisamos saber agora em que casos isso poderá acontecer. Vejamos algumas hipóteses: a) Hipóteses do art. 473 da CLT; Art. 473 CLT.O empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário: I- até 2 (dois) dias consecutivos, em caso de falecimento do cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência econômica; 136 UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA II- até 3 (três) dias consecutivos, em virtude de casamento; III- por um dia, em caso de nascimento de filho no decorrer da primeira semana; IV- por um dia, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada; V- até 2 (dois) dias consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos têrmos da lei respectiva. VI- no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do Serviço Militar referidas na letra "c" do art. 65 da Lei nº 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar). VII- nos dias em que estiver comprovadamente realizando provas de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior. VIII- pelo tempo que se fizer necessário, quando tiver que comparecer a juízo. IX- pelo tempo que se fizer necessário, quando, na qualidade de representante de entidade sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro. X- até 2 (dois) dias para acompanhar consultas médicas e exames complementares durante o período de gravidez de sua esposa ou companheira; XI- por 1 (um) dia por ano para acompanhar filho de até 6 (seis) anos em consulta médica. XII- até 3 (três) dias, em cada 12 (doze) meses de trabalho, em caso de realização de exames preventivos de câncer devidamente comprovada. b) licença paternidade; NOTA O art. 10, parágrafo 1º do ADCT dispõe que o prazo da licença paternidade é de cinco dias. Este prazo também se aplica nos casos de adoção (RENZETTI, 2015, p. 94). c) encargos públicos, como por exemplo jurado, mesário...; d) Art. 142 CLT; Art. 142 CLT. O empregado perceberá, durante as férias, a remuneração que lhe for devida na data da sua concessão § 1º - Quando o salário for pago por hora com jornadas variáveis, apurar-se-á a média do período aquisitivo, aplicando-se o valor do salário na data da concessão das férias. § 2º - Quando o salário for pago por tarefa tomar-se-á por base a média da produção no período aquisitivo do direito a férias, aplicando-se o valor da remuneração da tarefa na data da concessão das férias. § 3º - Quando o salário for pago por percentagem, comissão ou viagem, apurar-se-á a média percebida pelo empregado nos 12 (doze) meses que precederem à concessão das férias. § 4º - A parte do salário paga em utilidades será computada de acordo com a anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS 137 § 5º - Os adicionais por trabalho extraordinário, noturno, insalubre ou perigoso serão computados no salário que servirá de base ao cálculo da remuneração das férias. § 6º - Se, no momento das férias, o empregado não estiver percebendo o mesmo adicional do período aquisitivo, ou quando o valor deste não tiver sido uniforme será computada a média duodecimal recebida naquele período, após a atualização das importâncias pagas, mediante incidência dos percentuais dos reajustamentos salariais supervenientes. (grifo nosso) e) repouso semanal remunerado, feriados civis e religiosos; f) intervalos remunerados para repouso durante a jornada de trabalho; g) licença concedida pelo empregador; h) período em que não houver serviço, por culpa ou responsabilidade da empresa: i) interrupção dos serviços na empresa, resultante de causas acidentais ou de força maior; j) período de redução da jornada durante o aviso prévio; k) tempo necessário para a gestante realizar consultas médicas; l) licença maternidade; m) aborto não criminoso; n) acidente de trabalho ou doença nos primeiros 15 dias. Importante percebermos que são hipóteses muito comuns no dia a dia do trabalhador, e na maioria das vezes são períodos curtos. Agora vejamos os casos de suspensão. 3.2 SUSPENSÃO Renzetti (2016, p. 99) afirma que: Durante a suspensão, praticamente todas as cláusulas perdem a eficácia, logo, não se prestam serviços, não se recebe salário, não de computa o tempo de serviço e não se efetuam o recolhimento relacionados ao contrato. Cessado o motivo ensejador da suspensão, o empregado deverá reapresentar-se ao empregador, sob pena de configurar abandono de emprego. Ao retornar, o empregado terá direito a todas as vantagens que tenham sido atribuídas à sua categoria. Vamos agora a algumas das hipóteses mais comuns de suspensão do contrato de trabalho: a) acidente de trabalho ou doença, a partir do 16º dia; Art. 476 Em caso de seguro-doença ou auxílio-enfermidade, o empregado é considerado em licença não remunerada, durante o prazo desse benefício. 138 UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA UNI No caso acima apresentado, o trabalhador fará jus a dois benefícios regulamentado pelo Direito Previdenciário: o auxílio doença e o auxílio acidentário. b) prestação de serviço militar obrigatório; Art. 472 - O afastamento do empregado em virtude das exigências do serviço militar, ou de outro encargo público, não constituirá motivo para alteração ou rescisão do contrato de trabalho por parte do empregador. c) greve; d) eleição de empregado para o cargo de dirigente sindical; Art. 543 O empregado eleito para cargo de administração sindical ou representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva, não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem transferido para lugar ou mister que lhe dificulte ou torne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais. § 2º - Considera-se de licença não remunerada, salvo assentimento da empresa ou cláusula contratual, o tempo em que o empregado se ausentar do trabalho no desempenho das funções a que se refere este artigo. e) prisão do empregado por ato não relacionado com seu trabalho; UNI Caso o empregado seja condenado por sentença com trânsito em julgado, permanecendo preso, poderá ser demitido por justa causas (RENZETTI, 2016, p. 98). TÓPICO 2 | CONTRATOS TRABALHISTAS 139 f) faltas injustificadas; g) participação em curso de qualificação profissional; Art. 476-A. O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal do empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação. h) aposentadoria por invalidez. Para compreendermos bem a distinção entre a interrupção e a suspensão do contrato de trabalho segue o quadro: QUADRO 2 – INTERRUPÇÃOE SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO INTERRUPÇÃO SUSPENSÃO Sem trabalho/com salário Sem trabalho/ sem salário Não há prestação de serviço Não há prestação de serviço Há contagem de tempo de serviço Não há contagem de tempo de serviço Há recolhimento do FGTS Não há recolhimento do FGTS FONTE: Renzetti (2015, p. 90) 140 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem diversos tipos de contrato de trabalho e conheceu mais a fundo os mais utilizados. • Temos a suspensão e a interrupção do contrato de trabalho, termo utilizado quando o trabalhador não está desempenhando suas funções na empresa. • Podemos suspender ou interromper o contrato de trabalho de formas diferentes. 141 AUTOATIVIDADE 1 Considere as seguintes hipóteses: I- Falta ao serviço não justificada por cinco dias corridos em razão do matrimônio. II- Falta ao serviço não justificada por até três dias consecutivos em razão do falecimento de irmão. III- Gozo de férias. IV- Licença de empregado para atuação como conciliador em Comissão de Conciliação Prévia. Caracterizam hipóteses de interrupção do contrato de trabalho, as indicadas APENAS em: a) ( ) I e II. b) ( ) I, III e IV. c) ( ) III e IV. d) ( ) II e IV. e) ( ) I, II e III. 2 Em algumas situações, os contratos de trabalho podem ser considerados interrompidos, em outras, suspensos. Haverá suspensão em se tratando de: a) ( ) Férias anuais. b) ( ) Licença remunerada por duas semanas em caso de aborto criminoso. c) ( ) Aposentadoria por invalidez. d) ( ) Auxílio doença até o 15º dia. e) ( ) Licença paternidade. 142 143 TÓPICO 3 REMUNERAÇÃO X SALÁRIO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Já sabemos os conceitos de empregado, empregador, trabalhador, bem como como se estabelece os vínculos entre eles. No tópico anterior estudamos os contratos, como eles se formam e de que forma podem der interrompidos ou suspensos. Agora no Tópico 3 vamos diferenciar salário de remuneração, que na verdade é a contraprestação que o empregado recebe do empregador pelos seus serviços prestados. Ter um salário para prover às necessidades mínimas de subsistência é uma questão de dignidade do ser humano. O salário vital é um direito fundamental porque corresponde a uma renda mínima. Tendência, essa, necessária para que numa sociedade justa as pessoas desfavorecidas tenham um mínimo necessário que permita fazer frente aos gastos indispensáveis para a sua manutenção e da sua família (NASCIMENTO, NASCIMENTO, 2014, p. 612). O artigo 457 da Consolidação das Leis Trabalhistas assim menciona: “Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber”. (grifo nosso) Portanto, se faz necessário entender qual é a diferença entre salário e remuneração, o que estudaremos agora. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 144 2 REMUNERAÇÃO Sabendo agora o que significa salário, vamos analisar o que é a remuneração. Remuneração é o conjunto de parcelas pagas ao empregado. A remuneração representa o somatório das parcelas contraprestativas pagas diretamente pelo empregador com as parcelas contraprestativas pagas diretamente por terceiros para o empregado. Essas parcelas pagas por terceiros possuem caráter estritamente remuneratório. O exemplo mais clássico de parcela remuneratória são as gorjetas (RENZETTI, 2015, p. 71). O artigo 457, em seu parágrafo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho define o conceito de gorjeta, portanto, podemos afirmar que faz parte da remuneração. Vejamos a seguir: Art. 457, § 3º CLT. Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos empregados. A distribuição das gorjetas se dá conforme critérios definidos em Acordo Coletivo de Trabalho e/ou Convenção Coletiva de Trabalho. Isso significa que sua distribuição aleatória é proibida. Ocorre, contudo, que, ausente instrumento coletivo, sua distribuição se dá conforme determinação da Assembleia Geral dos Trabalhadores (CAVALCANTI, 2017, p. 103). 3 SALÁRIO Ter um salário é um direito fundamental instituído pela Constituição Federal, pois não há outra forma de subsistência para com o indivíduo. “Salário é o principal direito do empregado. É o conjunto de parcelas contraprestativas pagas diretamente pelo empregador ao empregado pelos serviços por ele prestado” (RENZETTI, 2015, p. 71). O parágrafo 1º do artigo 457 da CLT assim define: § 1º Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador. Nesse ponto, importa frisar o seguinte: • ’importância fixa estipulada’ = salário contratual; • ‘gratificações legais’ = diferentemente das gratificações ajustadas, as gratificações legais são aquelas disciplinadas na própria lei celetista, tais como adicionais, gratificação de função decorrente de promoção e outros; • ‘comissões pagas pelo empregador’ = as comissões estão associadas ao conceito de salário tarefa, que é o salário percebido pelo empregado decorrente de sua produtividade. TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO 145 Assim, não integram salário: as ajudas de custo; o auxílio alimentação (desde que não pago em dinheiro); diárias para viagem (independentemente do valor); prêmios e abonos” (CAVALCANTE, 2017). O salário é o valor fixo pago ao empregado, que normalmente se calcula com base no tempo trabalhado e no tipo de trabalho exercido por ele. Importante deixar claro que o salário pode ser variável, como é no caso dos vendedores e/ou representantes, que recebem apenas comissão pelo serviço prestado. Como se vê, a adoção do conceito de salário é associada à noção de salário regular, normal, periódico, portanto a obrigação salarial principal... Se o adicional de horas extras é incluído no cálculo do salário-hora do empregado será salário, não diferente daquele que remunera horas normais apenas com um valor mais elevado (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 615). Importante ainda mencionarmos o artigo 462 da CLT que traz as proibições do empregador fazer qualquer desconto no salário do empregado. Vejamos: Art. 462 - Ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo. § 1º - Em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde de que esta possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado. § 2º - É vedado à empresa que mantiver armazém para venda de mercadorias aos empregados ou serviços estimados a proporcionar- lhes prestações "in natura" exercer qualquer coação ou induzimento no sentido de que os empregados se utilizem do armazém ou dos serviços § 3º - Sempre que não for possível o acesso dos empregados a armazéns ou serviços não mantidos pela Empresa, é lícito à autoridade competente determinar a adoção de medidas adequadas, visando a que as mercadorias sejam vendidas e os serviços prestados a preços razoáveis, sem intuito de lucro e sempre em benefício das empregados. § 4º - Observado o disposto neste Capítulo, é vedado às empresas limitar, por qualquer forma, a liberdade dos empregados de dispor do seu salário. DICAS Importante fazer a leitura dos artigos 457 ao 467 da CTL, pois estes trazem as regras da remuneração do empregado. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 146 3.1 SALÁRIO MÍNIMO O salário mínimo é uma base do que o empregado deve ganhar. Os valores são atualizados a cada ano e é definido por lei através de decreto. Atualmente, o salário foi instituído em R$ 998,00 (novecentos e noventa e oito reais). “O salário mínimo representa, para o direito do trabalho, uma ideia básica de intervenção jurídica na defesa de um nível de vida abaixo do qual seráimpossível ao homem que trabalha uma existência digna e compatível com as necessidades elementares de sobrevivência humana (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2014, p. 625). O artigo 7º, VII da Constituição Federal (1988) assim transcreve: “garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável”. E a CLT também vai nesse mesmo sentido no artigo 78. Veja que mesmo não recebendo todos os meses o mesmo valor, ainda assim o empregado deverá receber o mínimo instituído por lei. Para ficar ainda mais completo o seu estudo trouxemos o que é salário in natura. Leia: O que é salário in natura ou salário utilidade e quais benefícios o compõe? Blog do RH Segundo a legislação trabalhista, salário é o conjunto de vantagens devido pelo empregador ao trabalho prestado pelo empregado. De forma constitucional, a remuneração do empregado nunca pode ser inferior a um salário-mínimo e deve ser paga, primordialmente, em dinheiro. Contudo, a própria Lei contempla hipótese de pagamento de parcela do salário por outros meios que não o pecuniário, como acontece com o chamado salário in natura ou salário utilidade. No texto de hoje, nós, da Metadados – empresa que desenvolve sistemas para a gestão de RH – vamos abordar do que se trata esse tipo de remuneração e quais benefícios entram nessa definição. Acompanhe: Conceito Salário in natura ou salário utilidade, como o próprio nome sugere, é a parcela do salário do empregado que a empresa paga por meio do fornecimento de bens ou utilidades diversas do dinheiro. Ou seja: é o pagamento feito por meio de outras coisas como alimentação, moradia, vestuário, e outras prestações in natura, como por exemplo a gorjeta. Esse tipo de remuneração tem como objetivo solucionar alguns inconvenientes de empregados que prestam seu serviço em locais distantes TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO 147 ou de difícil acesso, dificultando a compra de bens, o aluguel de casas, dentre outras coisas essenciais. A legislação permite que o empregador forneça algumas utilidades aos seus empregados e as compute como salário para todos os efeitos legais – acréscimo decorrente de férias, 13º salário, aviso prévio, etc. Assim, fala-se do salário in natura ou salário utilidade. Características do salário in natura Natureza retributiva O Direito do Trabalho determina que, para que uma parcela remuneratória seja considerada salário, ela deve consistir na contraprestação de uma atividade realizada pelo empregado, destinando-se a recompensar o trabalho prestado. Portanto, somente se considera salário a efetiva retribuição do trabalho executado, sendo uma parcela desvinculada de qualquer necessidade da empresa. Em outras palavras, o empregado recebe o seu salário por causa do trabalho prestado, e não para executar o seu trabalho. Se a utilidade fornecida pelo empregador se destinar a aperfeiçoar as tarefas a cargo do obreiro, não se trata de salário, mas sim de uma ferramenta de trabalho. Parcela paga com regularidade Outra característica necessária para que se fale em salário in natura é que essa remuneração seja paga ao trabalhador com habitualidade, ou seja, não pode consistir numa prestação eventual ou excepcional ocasionada por uma situação específica da empresa, como horas extras. Não pode ser custeada pelo empregado Outra observação importante a ser feita a respeito do salário in natura é o fato de que essas utilidades não podem ser custeadas pelo empregado. Se o trabalhador arcar com uma parcela — ainda que ínfima — das utilidades fornecidas pela empresa, elas perdem a característica de salário, não sendo computadas no cálculo de outros benefícios como férias, 13º, aviso prévio indenizado etc. Utilidades que podem integrar o salário in natura O artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece como salário, além das prestações em dinheiro, algumas utilidades como habitação, alimentação, vestuário e outras parcelas in natura, que o empregador pode oferecer aos seus empregados por costume ou por previsão no contrato de trabalho. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 148 A partir dessa previsão legal, os profissionais do Direito consideram que a lei permite o fornecimento de outras utilidades além das exemplificadas no citado artigo, desde que – como o próprio nome indica – sejam úteis ao trabalhador. A CLT dispõe em seu artigo 82, que o empregador que fornecer parte do salário mínimo como salário utilidade ou in natura, terá esta parte limitada a 70% (setenta por cento), ou seja, será garantido ao empregado o pagamento em dinheiro de no mínimo 30% (trinta por cento) do salário mínimo. Podemos concluir que tal regra deverá ser aplicada proporcionalmente aos empregados que tiverem salário contratual superior ao salário mínimo. Estão limitados a 20% e 25% do salário respectivamente, a alimentação e a habitação fornecidas como salário utilidade. Para o trabalhador rural, o artigo 9º da Lei nº 5.889/73 estabelece que os descontos do salário utilidade terão como base o salário mínimo, sendo limitado em 20% pela ocupação de moradia e de 25% pelo fornecimento de alimentação, atendidos os preços vigentes na região. Portanto, a lei não proíbe o pagamento do salário utilidade, mas limita este pagamento conforme demonstrado acima. Tais valores, deverão ser expressos em recibo de pagamento, bem como sofrerão todas as incidências trabalhistas e previdenciárias, resguardadas algumas exceções. A lei proíbe ainda que, em caso de fornecimento de habitação coletiva aos empregados, mais de uma família resida na mesma unidade residencial, sob pena de a comodidade deixar de ser computada como salário utilidade. Utilidades não consideradas como salário in natura A Convenção nº 95 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, a lei nº 10.243 de 20 de junho de 2001 deu nova redação ao § 2º do artigo 458 da CLT, não considerando como salário, desde que compreendido a todos os empregados, as seguintes utilidades: - vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do serviço; - educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e material didático; - transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno, em percurso servido ou não por transporte público; - assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; TÓPICO 3 | REMUNERAÇÃO X SALÁRIO 149 - seguros de vida e de acidentes pessoais; - previdência privada; - valor correspondente ao vale-cultura. Com esta lei, o legislador procurou estimular o empregador a proporcionar melhores condições de trabalho ao empregado, desonerando vários itens que até então, eram considerados como salário utilidade. Como já foi dito, o que caracteriza o salário in natura, além da essencialidade das prestações – alimentação, habitação, vestuário etc. –, é o fato de que ele é pago em razão do trabalho e não para que seja possível executá-lo. Logo, verifica-se que a Lei foi coerente ao excluir da categoria do salário utilidade todas as prestações de interesse do empregador, necessárias para a execução dos serviços dos empregados, e das quais os trabalhadores e sua família não retirariam qualquer proveito pessoal, como Equipamento de Proteção Individual (EPI), transporte, fardamento etc. Também não são considerados salário utilidade os benefícios fornecidos pelo empregador como forma de premiar seus funcionários ou motivá-los, e aqueles custeados pelo empregado, ainda que de forma parcial, como os benefícios de plano de saúde, previdência privada, gastos com educação etc. Vedações legais Mais recentemente, o Tribunal Superior do Trabalho editou o enunciado 367 da súmula de sua jurisprudência (julgados repetidos), reafirmando essa proibição e esclarecendo que a habitação, energia elétrica e veículo fornecidos ao empregado,quando indispensáveis à realização de suas atividades (mesmo que também seja usado em atividades particulares do empregado), não se caracterizam como salário. Como foi visto, o salário in natura é um direito do empregado conquistado com o trabalho prestado. Logo, deve consistir numa comodidade para ele, e não numa utilidade para o empregador. FONTE: <https://www.metadados.com.br/blog/o-que-e-salario-in-natura-ou-salario- utilidade-e-quais-beneficios-o-compoe/>. Acesso em: 17 jun. 2019. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 150 4 EQUIPARAÇÃO DE SALÁRIO O artigo 461 da CLT trata da equiparação de salário, ou seja, quando os empregados possuem a mesma função e mesma carga horária, dentro de uma empresa não poderão receber remuneração diferente. Equiparação salarial é a figura jurídica mediante a qual se assegura ao trabalhador idêntico salário ao do colega perante o qual tenha exercido, simultaneamente, função idêntica, na mesma localidade, para o mesmo empregador. A esse colega comparado dá-se o nome de paradigma (ou espelho) e ao trabalhador interessado na equalização confere-se o epíteto de equiparando. Designam-se, ainda, ambos pelas expressões paragonados ou comparados (DELGADO, 2017, p. 926). Podemos afirmar que temos quatro requisitos da equiparação salarial, “... construídos pela comparação entre as situações empregatícias reais vivenciadas por equiparando e paradigma: identidade de função exercida; identidade de empregador; identidade de localidade de exercício das funções; simultaneidade nesse exercício” (DELGADO, 2017, p. 926). (grifo do autor) Portanto, com isso concluímos o terceiro Tópico. Passaremos agora ao último conteúdo. 151 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de salário e remuneração são diferentes. • O salário mínimo é o que a Constituição Federal de 1988 prevê ser o mínimo para um trabalhador receber por seu trabalho desempenhado na empresa. • A equiparação salarial é quando um trabalhador desempenha a mesma função de outro colega, porém recebe menos que este. 152 AUTOATIVIDADE 1 Considerando as disposições legais sobre salários e remuneração, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Ao empregador é vedado efetuar qualquer tipo de desconto nos salários do empregado, inclusive quando resultar de adiantamentos. b) ( ) O pagamento de comissões e percentagens só é exigível depois de ultimada a transação a que se referem. c) ( ) Haverá equiparação de salários em razão de trabalhos prestados com igual valor, com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica, entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não seja superior a três anos. d) ( ) O pagamento de salário não deve ser estipulado por período superior a um mês, inclusive no que concerne a comissões, percentagens e gratificações. e) ( ) As prestações “in natura” que o empregador fornece habitualmente ao empregado, mediante contrato, tais como alimentação, habitação, vestuário, entre outras, não se compreendem no salário para efeitos legais. 2 Nos termos da Consolidação das Leis do Trabalho, integram o salário do empregado a) ( ) As diárias para viagem e os prêmios pagos habitualmente pelo empregador. b) ( ) os prêmios e abonos pagos habitualmente pelo empregador. c) ( ) As diárias que excedem a 50% da remuneração e os abonos pagos habitualmente pelo empregador. d) ( ) Os abonos e as gratificações legais pagas com habitualidade pelo empregador. e) ( ) As gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador. 153 TÓPICO 4 VERBAS TRABALHISTAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Já sabemos os conceitos de empregado, empregador, trabalhador, bem como se estabelecem os vínculos entre eles. Estudamos ainda os contratos, como eles se formam e de que forma podem der interrompidos ou suspensos. E no tópico anterior tratamos da diferença entre salário e remuneração. Agora no Tópico 4 trataremos das verbas trabalhistas, que são as que o empregado tem direito na vigência do contrato, e as rescisórias, que são as verbas de que o empregado tem direito de receber caso seu contrato de trabalho seja interrompido. O empregado ao ser dispensado sem justa causa terá direito trabalhista as seguintes verbas rescisórias: - Aviso prévio (que pode ser trabalhado ou indenizado quando a dispensa é imediata. - 13º salário proporcional (correspondente aos meses trabalhados); - Férias vencidas (quando houver); - Férias proporcionais (contando-se sempre do mês que o empregado começou a trabalhar); - Adicional de 1/3 sobre férias; - Comissões, DSR, horas extras, prêmios, gratificações, adicionais, etc. (quando houver) - Saldo de salários (correspondente aos dias trabalhados do mês); - FGTS, 8% sobre os dias trabalhados e 13º salário; - 40% sobre o total dos valores referentes ao F.G.T.S., inclusive os depositados no banco; - TRCT na forma do código 01, para fins de liberação do FGTS. - Fornecimento da Comunicação de Dispensa, preenchido e assinado pelo empregador para recebimento do Seguro Desemprego (RUGGIERO, 2019, s.p.). Trataremos agora das principais verbas. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 154 2 FÉRIAS Todo empregado tem direito às férias a cada ano trabalhado. Esse direito está previsto em nossa Constituição Federal, portanto, não poderá ser suprimido. “Elas têm por objetivo que o empregado desfrute de um tempo de descanso para reestabelecer as suas energias físicas, o seu equilíbrio emocional, o seu convívio com a família, dentre outros aspectos” (RENZETTI, 2015, p. 101). Art. 7º, XVII, da CF/88: “gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal”. O artigo 138 da CLT prevê: “Durante as férias, o empregado não poderá prestar serviços a outro empregador, salvo se estiver obrigado a fazê-lo em virtude de contrato de trabalho regularmente mantido com aquele”. Portanto o objetivo do legislador foi justamente fazer com que o empregado usufrua das férias para descansar e não para prestar serviço a outro empregador. Lembrando que já mencionamos no tópico anterior que o período em que o empregado estiver de férias o contrato de trabalho fica interrompido. As férias, em nosso ordenamento, classificam -se: a) quanto ao número de empregados, em individuais e coletivas; b) quanto ao vencimento do período aquisitivo, em férias vencidas e proporcionais; c) quanto à duração, em férias de 30, 24, 18 ou 12 dias, conforme o número de faltas injustificadas no período aquisitivo; d) quanto à remuneração, em simples ou em dobro; e) quanto à utilização, em integral e fracionada, esta quando dividida em mais de um período, um dos quais não poderá ser inferior a 10 dias; f) quanto ao regime jurídico, em geral, aplicável a todo empregado, e especial, aplicável a uma categoria (ex., marítimos); g) quanto ao direito de ação, em férias prescritas e não prescritas, aquelas as reclamadas após o prazo de 5 anos contados a partir do fim do período aquisitivo. Como se vê, há diversos aspectos a serem examinados no estudo das férias, cada qual apresentando ângulos de estudo dos mais interessantes (NASCIMENTO, NASCIMENTO, 2014, p. 604). A duração das férias vai depender do número de faltas que o empregado tiver, faltas essas que devem ser injustificadas. Veja a seguir: QUADRO 3 - EXEMPLIFICATIVO Dias de férias Número de faltas injustificadas 30 dias Até 5 24 dias De 6 a 14 18 dias De 15 a 23 12 dias De 24 a 32 Não se concede férias A partir de 33 FONTE: Pereira (2017) TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 155 2.1 PERÍODO AQUISITIVO O período aquisitivo é o tempo que o empregado deve trabalhar para poder usufruir das férias, este corresponde a 12 meses de prestação de serviços. Art. 130 CLT. Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção I- 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes; II- 24 (vinte equatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas; III- 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas; IV- 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas; § 1º- É vedado descontar, do período de férias, as faltas do empregado ao serviço. § 2º- O período das férias será computado, para todos os efeitos, como tempo de serviço. Veja que o artigo em questão menciona casos em que o empregador perde o direito de usufruir integralmente das suas férias, ou seja, os trinta dias corridos. Vamos tratar agora das hipóteses em que o empregado perde esse direito. 2.2 DA PERDA DO DIREITO ÀS FÉRIAS Iniciamos com o artigo que trata das hipóteses da perda do direito às férias: Art. 133 - Não terá direito a férias o empregado que, no curso do período aquisitivo: I- deixar o emprego e não for readmitido dentro de 60 (sessenta) dias subsequentes a sua saída; II- permanecer em gozo de licença, com percepção de salários, por mais de 30 (trinta) dias; III- deixar de trabalhar, com percepção do salário, por mais de 30 (trinta) dias, em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa; IV- tiver percebido da Previdência Social prestações de acidente de trabalho ou de auxílio-doença por mais de 6 (seis) meses, embora descontínuos § 1º- A interrupção da prestação de serviços deverá ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social § 2º- Iniciar-se-á o decurso de novo período aquisitivo quando o empregado, após o implemento de qualquer das condições previstas neste artigo, retornar ao serviço. § 3º - Para os fins previstos no inciso lIl deste artigo a empresa comunicará ao órgão local do Ministério do Trabalho, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, as datas de início e fim da paralisação total ou parcial dos serviços da empresa, e, em igual prazo, comunicará, nos mesmos termos, ao sindicato representativo da categoria profissional, bem como afixará aviso nos respectivos locais de trabalho. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 156 Veja que mesmo sendo um direito garantido constitucionalmente, ainda assim o empregado pode perder esse direito. Agora trataremos do período concessivo. 2.3 PERÍODO CONCESSIVO Após os doze meses trabalhado o empregado adquire o direito as férias, e nesse momento começa a fluir o prazo para o empregador conceder esse direito ao trabalhador. Art. 134 - As férias serão concedidas por ato do empregador, em um só período, nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito. § 1º Desde que haja concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um § 3º É vedado o início das férias no período de dois dias que antecede feriado ou dia de repouso semanal remunerado. Ou seja, após o empregado adquirir o direito a férias o empregador tem mais doze meses para conceder. Veja o esquema prático: FIGURA 1 - PERÍODO DE FÉRIAS Admissão Início Período Aquisitivo 12 Meses Término Período Aquisitivo 12 Meses Término Período Concessivo 12 Meses Término do 2º Período Aquisitivo Início Período Concessivo Início do 2º Período Aquisitivo FONTE: Blog Guia Trabalhista (2016, s.p.) Importante mencionar que após a Reforma Trabalhista de 2017, as férias podem ser fracionadas em até três períodos. Veja o que diz o parágrafo primeiro do artigo 134: "§ 1º Desde que haja concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até três períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a quatorze dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a cinco dias corridos, cada um". TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 157 2.4 DO PRAZO PARA PAGAMENTO Como mencionado acima, a Constituição Federal prevê o pagamento das férias com um acréscimo de 1/3 do salário. Esse valor deve ser pago ao empregado antes no início das férias. Art. 145 - O pagamento da remuneração das férias e, se for o caso, o do abono referido no art. 143 serão efetuados até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período. Parágrafo único - O empregado dará quitação do pagamento, com indicação do início e do termo das férias. Portanto, se o pagamento não for efetuado no prazo correto o empregador deverá pagar em dobro. Art. 137 - Sempre que as férias forem concedidas após o prazo de que trata o art. 134, o empregador pagará em dobro a respectiva remuneração. Importante ainda mencionar que o empregado também terá direito às férias caso seu contrato seja extinto, tornando-a uma verba rescisória. 2.5 DAS FÉRIAS COLETIVAS As férias que tratamos acima são chamadas de individuais, porém temos também as férias coletivas, que Martinez (2016, p. 740) assim define: As férias coletivas, ao contrário das individuais, são impostas aos empregados, não por conta da necessidade de um descanso anual, mas por conveniência dos empregadores, notadamente nas situações em que seja evidenciado excesso de produção ou diminuição da demanda. Elas não respeitam o interstício de doze meses e podem, por isso, ser concedidas a empregados recém-contratados (MARTINEZ, 2016, p. 740). Portanto, as férias coletivas ficam a encargo do empregador concedê-las ou não. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 158 “Os empregados contratados há menos de doze meses gozarão, na oportunidade, férias proporcionais, iniciando-se, então, novo período aquisitivo (vide o art. 140 da CLT). Em outras palavras, independentemente da dimensão (em dias) das férias proporcionais a que tenham direito, os empregados contratados há menos de doze meses gozarão das férias coletivas e, terminadas estas, iniciarão a contagem de novo período de aquisição de férias individuais. Veja-se o seguinte exemplo: Um empregado contratado há quatro meses pode ser compelido a gozar férias coletivas. Nesse caso, se o empregador entender que tais férias devem ter a dimensão correspondente a trinta dias, o referido empregado as fruirá, independentemente do fato de, em rigor, ter direito a apenas dez dias de férias (se for considerada a proporcionalidade dos meses de serviço). Observe-se que, nessa situação, o mencionado empregado receberá o salário correspondente aos trinta dias de paralisação dos serviços, uma vez que esta decorreu de iniciativa do empregador. O acréscimo constitucional de um terço sobre as férias, entretanto, somente lhe será atribuído em relação à proporcionalidade de dias de férias que efetivamente teria (1/3 sobre 10 dias de férias). O restante dos dias sem trabalho lhe será concedido como hipótese de interrupção contratual, observada a regra contida no art. 131, IV, da CLT” (MARTINEZ, 2016, p. 770). ATENCAO 3 AVISO PRÉVIO O aviso prévio é o tempo que um funcionário precisa trabalhar quando pede demissão, e que também é um direito dele ao ser mandado embora. Esse período corresponde a no mínimo 30 dias, e o empregado receberá o pagamento destes dias trabalhados em sua rescisão. De acordo com o tipo de demissão, existem duas possibilidades: aviso prévio trabalhado ou aviso prévio indenizado. No geral, o que muda entre elas são os pagamentos a que você tem direito e a necessidade de trabalhar ou não nos 30 dias seguintes à dispensa. 3.1 AVISO PRÉVIO TRABALHADO Nesse caso o empregado trabalha por 30 dias após o pedido de demissão ou o demissão feita pela empresa. Pode trabalhar duas horas a menos por dia ou então trabalhar normalmente e ao final descontar sete dias, ou seja, trabalhar por 23 dias e não 30. Importante mencionar que o empregado receberá por esses trinta dias normalmente. A rescisão deve ocorrer no 1º dia subsequente ao término desseperíodo. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 159 3.2 AVISO PRÉVIO INDENIZADO No aviso prévio indenizado o empregado não trabalha, mas recebe por esses 30 dias. Na verdade é uma escolha do empregador, e normalmente quando demite o funcionário prefere pagar sem que o empregado trabalhe. O pagamento da rescisão, nesse caso, ocorre até 10 dias após a dispensa. A partir de outubro de 2011, os trabalhadores demitidos sem justa causa têm direito ao aviso prévio proporcional, que garante, além dos 30 dias de aviso, um acréscimo de três dias por cada ano completo trabalhado na empresa, limitado a 90 dias. Ou seja, o funcionário que completar um ano trabalhado, terá direito a mais três dias além dos 30 dias do aviso prévio. 4 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO “O décimo terceiro, também conhecido como gratificação de Natal, foi instituído em 1962. Ele surgiu com o hábito que alguns empregadores tinham de pagar um salário a mais no final do ano como forma de recompensar os trabalhadores que prestaram um bom trabalho durante o ano. Depois de um tempo, o décimo terceiro salário passou a ser obrigatório, com a criação da Lei nº 4.090. Esse encargo é pago pela empresa ao funcionário com carteira assinada (CLT), com o valor corresponde a um salário a mais no final do ano. Mais que uma forma de reforçar o orçamento das famílias em uma época repleta de comemorações especiais, esse dinheiro extra também representa um papel importante na economia do país. O valor extra movimenta grande quantidade de recursos, pois aumenta as vendas nos comércios, gera maior demanda nas indústrias e, ambos, também contribuem para a geração de novos empregos. Só em 2016, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pagamento do décimo terceiro foi responsável por injetar R$ 197 bilhões na economia, o que equivale a 3% do Produto Interno Bruto (PIB)” (TAFNER, 2018, s.p.). Portanto, todo trabalhador tem direito ao 13º salário. O valor é pago geralmente no final do ano e em duas parcelas. Porém, a Lei nº 4.749 determina que a primeira parcela deve ser paga entre o dia 1º de fevereiro até o dia 30 de novembro, já a segunda parcela deve ser dada ao funcionário até o dia 20 de dezembro. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 160 5 FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO – FGTS O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço consiste em recolhimentos pecuniários mensais, em conta bancária vinculada em nome do trabalhador, conforme parâmetro de cálculo estipulado legalmente, podendo ser sacado pelo obreiro em situações tipificadas pela ordem jurídica, sem prejuízo de acréscimo percentual condicionado ao tipo de rescisão de seu contrato laborativo, formando, porém, o conjunto global e indiferenciado de depósitos um fundo social de destinação legalmente especificada (DELGADO, 2017, p. 1440). Portanto, é um direito do empregado enquanto estiver com seu contrato de trabalho ativo. No momento em que for dispensado ele saca esse valor, e o empregador deve pagar uma multa de 40% se a dispensa for sem justa causa. “A chamada ‘demissão sem justa causa’ é uma modalidade de cessação do contrato de trabalho – por iniciativa do empregador – quando este não tem mais interesse na continuidade da prestação de serviços do empregado” (BORGES, 2017). ATENCAO Além do empregado poder sacar o FGTS quando for dispensado temos ainda mais algumas hipóteses em que poderá sacar sem ter sido dispensado. Vejamos quais são elas. Essas condições especiais se resumem a emergências ou necessidades financeiras que o trabalhador pode apresentar em algum momento. Sendo assim, ele poderá sacar o FGTS desde que se qualifique nas seguintes condições (BORGES, 2017): • desastre natural; • após 3 anos sem registro em carteira; • aposentadoria; • idade igual ou superior a 70 anos; • falecimento do trabalhador; • doença grave ou em estágio terminal, câncer e portadores de HIV; • financiamento de casa própria ou quitação de dívida imobiliária. E, por fim, devemos ainda mencionar que o governo atual estuda uma forma de liberar o FGTS para os empregados mesmo não estando em nenhuma das condições acima, para poder movimentar a economia. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 161 Liberação do FGTS à vista? A queda de braço pelos bilhões dos trabalhadores Governo estuda liberar o saque de dinheiro dos trabalhadores em contas do fundo para estimular economia; mas a medida funciona? No dia em que foi divulgada a retração de 0,2% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo estuda liberar o saque de dinheiro dos trabalhadores no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, o FGTS. Também com a intenção de dar estímulo à economia, medida semelhante foi tomada no governo anterior: em dezembro de 2016, o então presidente Michel Temer anunciou liberação para saque de contas inativas, o que totalizou R$ 44 bilhões. A discussão recorrente sobre o uso de recursos do fundo desperta não só o debate pontual sobre os reais efeitos desses saques "fora de época", mas também sobre o papel do FGTS, criado há mais de 50 anos, no contexto atual da economia brasileira. Em 6 perguntas, a BBC News Brasil explica o que está em estudo pelo governo, quem é contra a liberação de recursos do fundo e como o FGTS funciona hoje: 1 Qual é o plano do governo? O ministro Paulo Guedes declarou, no fim de maio, que o governo estuda liberar recursos do FGTS após a aprovação da reforma da Previdência, mas não deu detalhes sobre a medida. A equipe do ministério trabalha com o cenário de uma liberação de pouco mais de R$ 20 bilhões. Ainda não está fechado, contudo, qual será o "desenho" - por exemplo, se a regra de liberação será para contas ativas (contratos em andamento), inativas (contratos que já terminaram), ou mesmo se terá algum tipo de limite. Há inclusive quem defenda que a liberação poderia acontecer antes do fim da tramitação da reforma da Previdência no Congresso - que hoje está no início da tramitação na Câmara e também precisa de aprovação do Senado. A avaliação da equipe de Guedes é que, no governo Temer, a medida foi bem-sucedida. O atual governo também vê com bons olhos a distribuição de 50% do lucro do fundo no ano anterior para os trabalhadores com contas no FGTS, prevista em lei sancionada por Temer em 2017. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 162 Procurada, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia informou apenas que o saque de contas do FGTS "está em estudo". 2 Liberar recursos do fundo ajuda a economia? A injeção de recursos na economia por meio da liberação de recursos do FGTS pode ajudar a economia, mas apenas no curto prazo, dizem especialistas. A economista Vivian Almeida, professora do Ibmec, diz que a liberação de novos saques do FGTS tem efeito limitado se for pensada de forma isolada. "Se você liberar (o saque do FGTS) sem junção com outras reformas, isso vai ter um efeito limitado, com renda transitória, que vai responder àquele momento, com aquelas demandas pontuais e isso não vai se refletir em aumento de renda permanente das famílias", diz. O economista Pedro Fernando Nery, consultor do Senado, também diz que se trata de uma medida de curto prazo. "O essencial é que a gente saiba que não existe pote de ouro ao fim do arco-íris em qualquer lugar. O caminho para o crescimento é mesmo o caminho das reformas." Professora do Curso de Ciências Contábeis da UnB, Lorena Campos explica que a ideia por trás dessa medida é a de que, com mais verba disponível, as famílias ficariam propensas a um consumo maior, o que geraria estímulo à produção e, como consequência, haveria o aumento de empregos e salários. Ela lembra, no entanto, que não é possível ter certeza do que cada família fará com o dinheiro. "Uma vez que há a disponibilidade desse recurso para as famílias, acredita-se que a 'renda extra' seja destinada para consumo, pagamento de dívidas e investimento", diz. Em 2017, durante o governo Temer,25,9 milhões de trabalhadores fizeram o saque de cerca de R$ 44 bilhões de contas inativas do FGTS. Vivian Almeida aponta que a medida "foi responsável por um dinamismo maior no ano de 2017", mas que a experiência mostra que, com medidas muito pontuais, "os efeitos tendem a se dissipar muito rapidamente". 3 Quem é contra liberar o saque de contas do FGTS? A principal voz contra a liberação de saques, que diminui a verba do FGTS, é o setor da construção civil, já que os recursos do fundo são usados para financiar programas de habitação - como o Minha Casa, Minha Vida -, além de saneamento e infraestrutura, com juros menores do que as taxas de mercado. "O FGTS é uma fonte barata de crédito para quem pega os recursos emprestados. Em tese, isso deveria favorecer políticas de habitação e saneamento. Na prática, é como se o trabalhador financiasse empreiteiras", diz Nery. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 163 O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, transmite a posição do setor a respeito de uma nova liberação de saques: "Nós não concordamos e não é por corporativismo. Entendemos que foi uma medida que já na vez passada não foi boa." Martins argumenta que os recursos do FGTS estão, na verdade, concentrados em poucas contas e, por isso, a medida não é eficiente para estimular o consumo da população. "Você pega um monte de dinheiro que está em poucas contas e aí não vai pro consumo, mas sim para a aplicação financeira. O que acontece é que não surte o efeito desejado, como não surtiu." Segundo a CBIC, 45% do saldo das contas inativas do FGTS está concentrado em apenas 2% das contas, que têm valores acima de um salário mínimo. Os outros 98% das contas inativas têm até um salário mínimo cada. "O governo sempre acaba atacando o fundo de garantia", reclama Martins, para quem "o grande problema do FGTS é ser bem administrado". Nery também aponta que também interessa à Caixa, por ser o agente operador do FGTS, que não haja uma grande diminuição nos recursos do fundo. "Como está, quem defende mesmo é o setor da construção civil e a Caixa, que tem o monopólio da administração dos recursos e cobra taxas altas para fazer isso. São centenas de milhões de contas." Como agente operador do FGTS, a Caixa recebe taxa de administração de 1% do total do ativo do fundo no ano. É responsável por controlar as contas ativas e inativas, os saques, gerir aplicações financeiras, entre outros. Em 2017, o banco recebeu mais de R$ 4,9 bilhões para desempenhar essa função. Por meio da assessoria de imprensa, a Caixa informou que "cumpre as determinações contidas na legislação, conforme o que lhe compete no papel de Agente Operador do FGTS", após questionamento sobre se o banco é favorável à liberação de novos saques de contas do fundo. 4 Por que o FGTS foi criado e como funciona hoje? O FGTS foi criado em 1966, durante a ditadura militar, e hoje está previsto como um direito dos trabalhadores na Constituição Federal. O fundo foi criado como alternativa à chamada estabilidade decenal, que previa que o empregado com mais de 10 anos de serviço na mesma empresa não poderia ser despedido se não fosse por "falta grave ou circunstância de força maior, devidamente comprovadas". A ideia era compensar a mudança nas regras que acabaram com essa estabilidade com uma proteção financeira ao trabalhador, criando essa poupança forçada para momentos de necessidade. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 164 Com a criação do FGTS, as empresas passaram a pagar, mensalmente, o equivalente a 8% do valor do salário do trabalhador para a conta dele no fundo. A ideia é criar uma reserva para momentos de necessidade (leia na pergunta 5 as situações em que o trabalhador pode sacar seus recursos). A quantidade de contas supera 780 milhões e o total de ativos do FGTS somava R$ 496,85 bilhões no fim de 2017, segundo o relatório mais recente. De acordo com a Caixa, 84% das contas com saldo têm um valor de até um salário mínimo (R$ 998). O trabalhador tem uma conta para cada emprego formal que tem ou teve. Como os recursos dos trabalhadores depositados no fundo são usados para financiar a juros baixos obras de habitação, saneamento e infraestrutura, o retorno também é menor que o de outras aplicações. O rendimento é de 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), calculada pelo Banco Central. Além de ser operado pela Caixa, o fundo é administrado por um conselho tripartite - ou seja, composto por representantes dos trabalhadores, dos empregadores e representantes do governo federal. 5 Quando o trabalhador pode sacar o FGTS, segundo as regras atuais? Os momentos mais conhecidos de saque do FGTS são a aposentadoria - quando o trabalhador pode tirar toda a verba que tem no fundo - e a demissão sem justa causa. Neste caso, o trabalhador recebe o valor que foi depositado por aquele empregador, com os rendimentos e uma multa de 40% sobre esse valor. A reforma trabalhista sanciona por Michel Temer também criou a possibilidade de rescisão por acordo entre o trabalhador e a empresa. Nesse caso, ele tem direito de sacar 80% do saldo da conta do FGTS e a multa do empregador é de 20% sobre esse valor. Outras situações em que é permitido o saque são: para compra de imóvel; quando o trabalhador fica afastado do regime do FGTS por três anos consecutivos; além de casos em que o trabalhador ou dependentes forem portadores do vírus HIV, de câncer ou quando estiverem em estágio terminal devido a uma doença grave. 6 As regras do FGTS podem mudar? Pelo menos 165 projetos de lei propõem mudanças na Lei nº 8.036, de 1990, que traz as regras para o FGTS, segundo levantamento feito por Nery. A maioria deles propõe permissão para que os trabalhadores usem os recursos do FGTS em outras situações. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 165 Entre as propostas, estão a execução de projeto de acessibilidade em imóvel próprio; custeio de despesas com educação e qualificação profissional; pagamento de cirurgias essenciais à saúde; casos de adoção ou nascimento de filho e mãe trabalhadora responsável pelo sustento da família. Também estão entre as propostas levantadas o pagamento de dívidas inscritas em cadastros de inadimplentes; utilização na geração de energia elétrica com base em fontes renováveis; custeio de tratamento para infertilidade; mulher trabalhadora que estiver em situação de violência doméstica, entre outros. Para que qualquer mudança entre vigor, precisa ser aprovada pelo Congresso e, depois, sancionada pelo presidente. Além da possibilidade de mudanças mais pontuais, tem aumentado a discussão sobre a estrutura do FGTS. A equipe econômica do governo, inclusive, avalia a função do fundo para eventualmente propor mudanças -- e o atual governo, em geral, defende o discurso de que as pessoas devem ter mais liberdade para administrar o próprio dinheiro. Pedro Nery diz que o FGTS "foi perdendo importância" como mecanismo de proteção nos últimos anos e que, quando foi criado, ainda não havia o seguro-desemprego. Ele diz que a baixa remuneração do fundo "gera uma série de problemas, como as tentativas de sacar os recursos antes que se desvalorizem (alta rotatividade)". Para Vivian Almeida, uma eventual mudança significativa no modelo do FGTS é uma alteração na "lógica" do que o trabalhador brasileiro conhece. "A poupança mudar de mão é uma mudança de paradigma, porque é uma população acostumada a ter uma poupança forçada e de repente ela gerencia esse dinheiro", diz. "A gente pode ter impacto que não necessariamente dá para prever, porque estamos falando de um perfil que ainda não é o do trabalhador brasileiro." FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/06/14/liberacao-do-fgts-a-vista-a-queda- de-braco-pelos-bilhoes-dos-trabalhadores.ghtml> Acesso em: 17 jun. 2019. Por fim é importante mencionarmos ainda a Medida Provisória nº 889, de 24 de julho de 2019, que recentemente estabeleceu regras diferenciadas para o saquedo FGTS, conforme calendário anunciado pela Caixa Econômica Federal: UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 166 UNI Calendário de saques para quem tem conta poupança da Caixa Mês de nascimento Data de saque janeiro, fevereiro, março e abril a partir de 13/09/2019 até 31/3/2020 maio, junho, julho e agosto a partir de 27/09/2019 até 31/3/2020 setembro, outubro, novembro e dezembro a partir de 09/10/2019 até 31/3/2020 Calendário para quem não tem conta poupança na Caixa Data de nascimento Início do saque Janeiro a partir de 18/10/2019 até 31/3/2020 Fevereiro a partir de 25/10/2019 até 31/3/2020 Março a partir de 08/11/2019 até 31/3/2020 Abril a partir de 22/11/2019 até 31/3/2020 Maio a partir de 06/12/2019 até 31/3/2020 Junho a partir de 18/12/2019 até 31/3/2020 Julho a partir de 10/01/2020 até 31/3/2020 Agosto a partir de 17/01/2020 até 31/3/2020 Setembro a partir de 24/01/2020 até 31/3/2020 Outubro a partir de 07/02/2020 até 31/3/2020 Novembro a partir de 14/02/2020 até 31/3/2020 Dezembro a partir de 06/03/2020 até 31/3/2020 FONTE: LIS (2019) Com essa medida provisória o trabalhador poderá sacar até R$ 500,00 reais de suas contas ativas ou inativas junto ao FGTS. Além do que, poderá agendar um saque a cada ano nesse mesmo valor no mês de seu aniversário. Porém apenas para o trabalhador que tiver interesse. Vejamos: A mudança é opcional. Os interessados em migrar para a sistemática do saque aniversário poderão comunicar à Caixa, a partir de 1º de outubro de 2019, nos canais a serem divulgados pelo banco. Caso o titular de conta do FGTS não comunique ao banco o interesse em migrar, permanecerá na regra do saque rescisão (LIS, 2019). Portanto, as regras do FSTS podem ser alteradas a qualquer momento, como foi no caso exposto acima. Acadêmico, esperamos que você tenha compreendido um pouco mais sobre a legislação trabalhista e suas implicações. Ficamos à disposição para ajudá-lo no que for necessário. Um grande abraço. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 167 LEITURA COMPLEMENTAR Como complementação sugerimos a leitura do artigo “Mesmo com mudanças na CLT, aviso prévio e verbas rescisórias ainda lideram pedidos na Justiça do Trabalho”, de Marta Cavallini, para finalizarmos o tópico em questão. MESMO COM MUDANÇAS NA CLT, AVISO PRÉVIO E VERBAS RESCISÓRIAS AINDA LIDERAM PEDIDOS NA JUSTIÇA DO TRABALHO Ao contrário de 2016 e 2017, pedido de indenização por dano moral não apareceu entre os 20 temas mais recorrentes em 2018; nova lei trabalhista trouxe risco financeiro a quem entra ação e inibiu pedidos sem procedência. Por Marta Cavallini O Tribunal Superior do Trabalho (TST) divulgou o balanço dos assuntos mais recorrentes nas Varas de Trabalho do país em 2018. Ou seja, os principais temas dos processos novos que chegam à 1ª instância da Justiça do Trabalho. Mesmo com a reforma trabalhista, que entrou em vigor em novembro de 2017, não houve grandes mudanças nos assuntos tratados nos processos, segundo advogados trabalhistas ouvidos pelo G1. O aviso prévio figura em primeiro lugar nos últimos três anos. No aviso prévio, é definido se o funcionário terá de trabalhar por 30 dias ou se será indenizado pelo período em caso de pedir demissão ou ser demitido sem justa causa. A nova lei trabalhista trouxe a demissão por acordo entre empregador e empregado e, com ela, a possibilidade de o aviso prévio ser reduzido pela metade, ou seja, pago pelo período de 15 dias. Nos últimos três anos, outros cinco assuntos ficaram no topo do ranking: multa de 40% do FGTS, férias proporcionais, 13º salário proporcional, multa do artigo 467 da CLT (50% de acréscimo sobre o valor das verbas rescisórias devidas e não pagas perante a Justiça) e multa do artigo 477 da CLT (pagamento do valor do salário em caso de o empregador não anotar a dispensa do empregado na Carteira de Trabalho nem pagar as verbas rescisórias no prazo). UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 168 Assuntos mais recorrentes nas Varas de Trabalho, em ordem decrescente 2018 2017 2016 Aviso prévio Aviso prévio Aviso prévio Multa de 40% do FGTS Multa do artigo 477 da CLT Multa do artigo 477 da CLT Multa do artigo 477 da CLT Multa de 40% do FGTS Multa de 40% do FGTS Férias proporcionais Multa do artigo 467 da CLT Multa do artigo 467 da CLT Multa do artigo 467 da CLT Férias proporcionais Férias proporcionais 13º salário proporcional 13º salário proporcional 13º salário proporcional Horas extras/adicional de horas extras Horas extras/adicional de horas extras Intervalo intrajornada/ adicional de hora extra Saldo de salário Intervalo intrajornada/adicional de hora extra Horas extras/reflexos FGTS/depósito/diferença de recolhimento Adicional de insalubridade Horas extras Intervalo intrajornada/ adicional de hora extra Horas extras/reflexos Adicional de insalubridade Verbas rescisórias Saldo de salário Saldo de salário Carteira de trabalho: anotação/ baixa/retificação Horas extras Horas extras/adicional de horas extras Adicional de insalubridade FGTS/depósito/diferença de recolhimento FGTS/depósito/diferença de recolhimento Horas extras/reflexos Carteira de trabalho: anotação/baixa/retificação Carteira de trabalho: anotação/baixa/retificação Indenização/dobra/terço constitucional Verbas rescisórias Indenização/dobra/terço constitucional Horas extras Indenização/dobra/terço constitucional Verbas rescisórias FGTS Indenização por dano moral Indenização por dano moral Rescisão de contrato/rescisão indireta FGTS Sucumbência - honorários advocatícios FGTS/levantamento/liberação Sucumbência - honorários advocatícios FGTS/levantamento/liberação Honorários advocatícios/ contratuais FGTS/levantamento/liberação FGTS Fonte: Tribunal Superior do Trabalho (TST) TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 169 SAIBA MAIS SOBRE A NOVA LEI TRABALHISTA O especialista em direito e processo do trabalho e sócio do Baraldi Mélega Advogados, Danilo Pieri Pereira, explica que a maioria das pessoas que ingressam na Justiça do Trabalho são ex-empregados demitidos sem justa causa. "Por isso, é natural que as parcelas ligadas à rescisão, como aviso prévio, férias e 13º proporcionais e multa do artigo 477 da CLT, figurem como líderes, ao lado da multa do artigo 467", diz. Para ele, a nova lei trabalhista mexeu em um ponto dentro do ranking. A indenização por dano moral não aparece entre os 20 temas mais recorrentes em 2018. "Certamente deixou de ser tão reivindicada pois, com a reforma trabalhista, a litigância de má-fé passou a ser tratada com maior rigor, além do fato de os autores de ações infundadas virem a ser condenados a pagar honorários de sucumbência ao advogado da parte contrária em razão de pleitos infundados", explica. Ou seja, se o juiz entender que o empregado agiu de má-fé, ele poderá ser multado e terá ainda de indenizar a empresa e pagar honorários do advogado da parte contrária. Antes esse risco financeiro não existia e o trabalhador poderia ganhar um valor ou nada, mas não tinha custos previstos. A nova lei trabalhista estipula ainda tetos nas indenizações por danos morais, dependendo da gravidade das ofensas. O teto varia de 3 a 50 vezes o último salário contratual do ofendido. Segundo Pereira, as empresas também podem vir a ser indenizadas por ofensas praticadas por seus funcionários, hipótese em que a indenização será calculada com base no salário recebido pelo empregado. Para o professor da PUC-SP, Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, os cinco primeiros pedidos possuem relação direta com direitos mínimos do trabalhador. "As multas dos artigos 477 e 467 identificam o não pagamento de verbas rescisórias, e aviso prévio, férias e 13º salários são direitos mínimos constitucionais. Esse quadro demonstra que grande parte dos empregadores não paga verbas rescisórias do contrato de trabalho", diz. "Seria necessário compreender o excesso de pedidos relacionados às verbas rescisórias, ou seja, garantias mínimas do contrato, para que se realizasse alterações legislativas que fossem deencontro aos pedidos das verbas rescisórias. O remédio chamado reforma trabalhista foi dado sem um diagnóstico”, completa. Cai nº de processos recebidos O balanço do TST mostra que houve redução de 34% no recebimento de processos em 2018 – foram 1,75 milhão de processos, contra 2,65 milhões em 2017. UNIDADE 3 | LEGISLAÇÃO TRABALHISTA 170 E queda de 10,8% nos processos julgados – foram 2,44 milhões entre janeiro e dezembro de 2018 ante 2,74 milhões em 2017. O total de processos pendentes de solução era de 1,18 milhão em 31 de dezembro, queda de 35% em relação a 2017. Na fase de execução, foram iniciadas 798,9 mil execuções e encerradas 729,4 mil. Estavam pendentes em 31 de dezembro de 2018, 2,7 milhões de execuções. As iniciadas tiveram uma redução de 5,3%, as encerradas, um aumento de 7,5%. Já as execuções pendentes tiveram um aumento de 0,8% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Movimentação Processual 1º Grau Recebidos 1.748.074 Solucionados 2.446.389 Pendentes de Julgamento 1.180.773 Iniciadas 798.910 Encerradas 729.437 Resíduos 2.700.965 Fase de Conhecimento Fase de Execução Movimentação processual no 1º Grau da Justiça do Trabalho, no período de janeiro a dezembro de 2018 – Foto: Reprodução A nova lei trabalhista trouxe mudanças para o trabalhador que entra com ação na Justiça contra o empregador. Na prática, o processo pode ficar mais caro para o empregado e inibe pedidos sem procedência. • Nova lei trabalhista traz mudanças para trabalhador que entrar na Justiça • Número de ações judiciais dispara na véspera da mudança da lei trabalhista Segundo Pereira, a diminuição dos processos provavelmente está relacionada à introdução de honorários de sucumbência no processo e pela maior restrição do benefício da Justiça gratuita. TÓPICO 4 | VERBAS TRABALHISTAS 171 A nova lei estabelece que quem perder a ação terá de pagar entre 5% e 15% do valor da sentença para os advogados da parte vencedora, que são os chamados honorários de sucumbência. Além disso, para ter acesso à Justiça gratuita, o reclamante tem de provar que o salário dele equivale a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, que hoje corresponde a R$ 5.645,80. E, mesmo sendo beneficiário da Justiça gratuita, o reclamante deverá pagar as custas judiciais e honorários periciais caso receba créditos no processo capazes de suportar esses encargos. Pereira explica que, com a diminuição de casos novos, a Justiça do Trabalho acabou concentrando o trabalho nas execuções, o que resultou no aumento dos encerramentos dos processos. "Até que as cortes superiores firmem posicionamento sobre esses novos pontos da reforma, é natural que haja maior cautela antes de ingressar na Justiça do Trabalho, o que leva naturalmente a essa retração na quantidade de novos processos distribuídos”, diz. Para ele, conforme a jurisprudência for se consolidando e criando maior segurança jurídica, haverá estabilização nos números. Para o advogado Erick Magalhães, sócio do escritório Magalhães & Moreno Advogados, a queda no número de ações ocorreu não somente por causa da reforma trabalhista, mas outros fatores podem ter influenciado, como o crescimento do desemprego no período de 2015 e 2017 e o "boom" de ações trabalhistas pouco antes da reforma, que entrou em vigor no dia 11 de novembro de 2017, para garantir a aplicação da legislação anterior. Magalhães lembra que o trabalhador tem prazo até dois anos para entrar com processo contra o ex-empregador. Para Ricardo Pereira de Freitas Guimarães, professor de direito do trabalho da PUC-SP, as razões para a queda no número de ações são que entre outubro e novembro de 2017 ocorreu um recorde de distribuições da ações devido ao temor pela nova interpretação da lei e o pagamento de honorários advocatícios ao empregador em caso de derrota na Justiça. FONTE: <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2019/02/22/mesmo- com-mudancas-na-clt-aviso-previo-e-verbas-rescisorias-ainda-lideram-pedidos-na-justica-do- trabalho.ghtml>. Acesso em: 11 ago. 2019. 172 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • As diversas verbas trabalhistas/rescisórias que a legislação prevê para o trabalhador que possui um contrato de trabalho com determinada empresa. • As férias a que o trabalhador tem direito a usufruir, desde que cumpra certos requisitos. • O aviso prévio a que o empregado tem direito ao término do seu contrato de trabalho poderá ser indenizado ou trabalhado. 173 AUTOATIVIDADE 1 Iris foi admitida na empresa Centurião Alado em 10/04/2008. No período aquisitivo das férias 2013/2014 ela ausentou-se por oito dias úteis para celebrar seu casamento e viagem de lua de mel; quatro dias úteis para doação voluntária de sangue, todas no ano de 2013; cinco dias úteis por luto em razão de falecimento do seu genitor, dois dias úteis para alistamento eleitoral e quatro dias sem nenhuma justificativa. No período concessivo respectivo das férias de 2013/2014, Iris poderá usufruir destas férias por a) ( ) 30 dias corridos. b) ( ) 24 dias corridos. c) ( ) 18 dias corridos. d) ( ) 12 dias corridos. e) ( ) 7 dias corridos. 2 De acordo com o Regime Jurídico Único (RJU) e a Consolidação de Leis do Trabalho (CLT), julgue os itens subsequentes. O colaborador deve trabalhar doze meses consecutivos para ter direito a um período completo de férias, em condições normais de trabalho, conforme preveem tanto o RJU quanto a CLT. ( ) Certo. ( ) Errado. 174 175 REFERÊNCIAS AGUIAR JR., Ruy Rosado. Cláusulas abusivas no Código do Consumidor. In: Estudos sobre a proteção do consumidor no Brasil e no MERCOSUL. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1994. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11277&revista_ caderno=10. Acesso em: 7 mar. 2019. ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1993. 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